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PRIMEIRO CAPÍTULO GRÁTIS

A Ceia do Senhor — Thomas Watson.pdf

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PRIMEIROCAPTULOGRTISA CEIA DO SENHORTomas WatsonA CEIA DO SENHOR Thomas WatsonTraduzido do original ingls: The Lords SupperOs Puritanos 2015.1.a Edio em Portugus Junho de 2015 1.000 exemplares. proibida a reproduo total ou parcial desta publicao sem a autorizao por escrito do editor, exceto citaes em resenhas.EDITOR: Manoel CanutoTRADUTOR: Valter Graciano MartinsREVISORES: Mrcio Santana Sobrinho, Waldemir MagalhesDESIGNER: Heraldo AlmeidaISBN: 978-85-62828-29-4Gravura da capa: A Scottish Sacrament (leo sobre tela) do pintor Henry John Dobson (1858-1928) que retrata a administrao da Ceia do Senhor em uma igreja presbiteriana escocesa. A pintura est agora na Galeria de Arte Cartwright Hall, em Bradford, Inglaterra.SUMRIOEpstola ao Leitor ............................................................. 7Apresentao do Editor da Verso em Ingls .................... 91.O Mistrio da Ceia do Senhor ..................................112.A Consagrao dos Elementos ................................. 173.Os Benefcios da Ceia do Senhor ............................. 254.O Amor de Cristo Exibido no Sacramento ...............315.O Corpo Partido de Cristo ...................................... 376.O Sangue de Cristo ..................................................417.Autoexame ............................................................... 478.Verdadeira e Falsa F ................................................ 559.Objees Contra o Achegar-se ao Sacramento ......... 6510.Gratido a Deus ...................................................... 7711.Consolao para os Crentes e Advertncias Para os Incrdulos ............................................................81EPSTOLA AO LEITORLeitor cristo,Quandocontemploasantidadeesolenidadedobendi-tosacramento,outracoisanomeocorresenocerta punoemmeuesprito,evejoemmimaobrigao de manter este mistrio na mais elevada venerao. Os elementos do po e vinho so em si mesmos comuns, mas sob estas repre-sentaessimblicasjazemocultasexcelnciasdivinas.Eisaqui a melhor das guloseimas: Deus nos convida sua festa. Eis aqui o fruto da rvore da Vida; eis aqui a casa do banquete onde a bandeira da livre graa gloriosamente exibida: Levou-me casa do banquete, e seu estandarte sobre mim era o amor (Ct 2.4). No sacramento vemos Cristo partido diante de ns, e seu cor-po partido o nico conforto para o corao alquebrado. Enquan-to nos assentamos em torno desta mesa, o precioso condimento de Cristo exala sua fragrncia de mrito e graa. O sacramento tantoumaordenanacuradoraquantoseladora.AquinossoSal-vador conduz seu povo ao Monte da Transfgurao e lhes d um vislumbredoparaso.Quobem-vindodeveserestejubileuda alma,noqualCristosemanifestanoesplendordesuabelezae traa douradas linhas de amor no centro do corao crente. Oh! Que chamas de devoo deveriam arder em nosso cora-o! Quo geis e lpidos deveramos ser, subindo com asas de querubins, quando somos capacitados a encontrar o Prncipe da A CEIA DO SENHOR10Glria, que traz em sua boca o ramo de oliveira de paz e cujos sculos deixam uma marca celestial impressa na alma. O prop-sito deste discurso que se segue exercitar santos ardores de alma quanto participao neste sacramento.No se deve pensar que sufciente ser exteriormente devoto junto mesa de Deus, achegando-se a ele com os lbios, quan-do o corao est longe dele: este povo se aproxima de mim, e com sua boca, e com seus lbios me honra, mas seu corao se afastaparalongedemimeseutemorparacomigoconsistes emmandamentosdehomens,emquefoiinstrudo;portanto, eis que continuarei a fazer uma obra maravilhosa no meio deste povo,umaobramaravilhosaeumassombro;porqueasabedo-ria de seus lbios perecer, e o entendimento de seus prudentes seesconder(Is29.13-14).OqueistosenoqueEfraimse achega a Deus com mentiras (Os 11.12)? Os que se achegam a Deus com meras exibies, ele lhes despedir com meros sinais. OsqueprestamaDeusapenasumaobedinciarasaterode contentar-se com uma casca de conforto. A espiritualidade a vida do culto. Se nos achegamos ao sa-cramentoemdevidaordem,veremosaqueleaquemnossasal-masamam:Examine-se,pois,ohomemasimesmo,eassim coma deste po e beba deste clice (1Co 11.28). O Senhor nos dar aqui um antegozo, e reservar a fruio da glria para o reino celestial. Que isto seja efetuado a orao deste que vosso na obra do evangelho,Tomas WatsonLondres, 1665.APRESENTAO DO EDITOR DA VERSO EM INGLSEsta rara obra foi originalmente publicada em 1665 com o ttulo Te Holy Eucharist, ou Te Mystery of the Lords Supper Briefy Explained. Ainda que sucinto, ele digno de perflar com outros escritos de Tomas Watson republicados pela Trust.[1] Para Watson, a Ceia do Senhor era um espelho no qual con-templamosossofrimentosemortedeCristo,eera,emcertos aspectos,ummeiodegraamaisexcelentedoqueapregao da Palavra: Um sacramento um sermo visvel. E nisto o sa-cramento sobressai Palavra pregada. A Palavra uma trombeta que proclama Cristo; o sacramento um espelho que o represen-ta... Deus, para ajudar nossa f, no s nos d a Palavra audvel, mas tambm um sinal visvel. Elecriaqueosacramentoeraumainestimvelddivado Salvadorigreja,emcujocorretousoafdopovodeDeus confrmada e fortalecida e suas almas recebem grande benefcio. Elecriaquesedevemevitardoisextremos.Umdelesa doutrinadatransubstanciao,aqualvaideencontrotanto Escritura quanto razo e profana a instituio da Ceia feita por [1] A Body of Divinity, Te Ten Commandments, e Te Lords Prayer, que, juntos, formam o Watsons Body of Practical Divinity, e, na srie de brochuras puritanas, All Tings for Good, Te Doctrine of Repentance, Te Godly Mans Picture e Te Great Gain of Godliness.A CEIA DO SENHOR12Cristo.OoutrooerrodosqueconsideravamaCeiaapenas como uma sombra vazia sem nenhuma efccia intrnseca para os crentes: Por que a Ceia do Senhor chamada a comunho docorpodeCristo(1Co10.16),senoporquenacelebrao corretadelatemosdocecomunhocomCristo?(...)Fazerdo sacramento apenas uma representao de Cristo apequenar o sacramento, o que redunda em pouco conforto. Esse ponto de vista se fundamenta no ensino de Calvino que considerava o sa-cramento um meio de graa pelo qual, atravs da f, Cristo opera efcazmente no crente. Algunsprotestantespodemestardispostosadissentirdesta posio, mas ningum que ama a nosso Senhor Jesus Cristo dei-xar de ser tocado e abenoado pelo ardor e devoo ao Salvador que se encontram na exposio de Watson. Os editores desejam agradecer ao Sr. Roger N. McDermott quetranscreveucuidadosamenteaobrade Watsondeumac-pia da Bodleian Library, Oxford, e ajudou a prepar-la para sua publicao. O EDITOREdinburghJaneiro de 2004 1O MISTRIO DA CEIA DO SENHOREnquanto comiam, tomou Jesus um po, e, abenoando-o, o partiu, e o deu aos discpulos, dizendo: Tomai, comei; isto o meu corpo. A seguir, tomou um clice e, tendo dado graas, o deu aos discpulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto o meu sangue, o sangue da [nova] aliana, derramado em favor de muitos, para remisso de pecados (Mt 26.26-28).Nestaspalavras,temosainstituiodaCeiadoSenhor. Osgregoschamamosacramentodemusterion:um mistrio. H nela um mistrio de maravilha e um mis-triodemisericrdia.AcelebraodaCeiadoSenhoraco-memoraodamaiorbnoqueomundojdesfrutou,diz Crisstomo.[2]Umsacramentoumsermovisvel.Enistoo sacramentosobressaiPalavrapregada.APalavraumatrom-betaqueproclamaCristo;osacramentoumespelhoqueo representa.PERGUNTA:Mas,porqueosacramentodaCeiadoSenhorfoi institudo? Acaso a Palavra no sufciente para conduzir-nos ao cu? [2] Joo Crisstomo (347-407), a boca de ouro; bispo de Constantinopla e notvel pregador. 14A CEIA DO SENHORRESPOSTA: A Palavra para a implantao da f; o sacramento para a confrmao da f. A Palavra nos conduz a Cristo; o sacra-mento nos edifca nele. A palavra a fonte em que somos batiza-dos com o Esprito Santo; o sacramento a mesa onde somos ali-mentados e nutridos. O Senhor condescende nossa fraqueza. Se fssemos formados somente de esprito, no haveria necessidade de po e vinho; todavia, somos criaturas compostas. Por isso Deus, parasocorrernossaf,nosnosdumaPalavraaudvel,mas tambm um sinal visvel. Et sensus fovetur, et fdes frmatur [O sentido alimentado e a f fortalecida]. Recorro aqui palavra de nosso Salvador: Se no virdes sinais e milagres, no crereis (Jo 4.48). Por sermos alimentados por coisas externas, Deus aumenta em ns a f por meio desses smbolos (Gualter).[3]Aquiloqueentrapelosnossosolhosoperaemnsmaisdo que aquilo que entra pelos ouvidos. Uma grave cena de morte nos afeta mais do que uma orao. Assim, quando vemos Cristo partidonopo,comosefossecrucifcadodiantedens,isso afeta mais nosso corao do que a mera pregao da cruz. E assim passo ao texto de Mateus 26.26-28 para dar incio a estes cinco particulares em referncia ao sacramento: 1. O autor; 2. O tempo; 3. O modo; 4. Os participantes; e 5. Os benefcios.1. O autor do sacramento Jesus Cristo.Jesustomouopo.Instituirsacramentospertencepordireito aCristo,eoornamentodesuacoroa.Somenteaqueleque pode outorgar graa pode instituir os sacramentos, os quais so o selo da graa. Sendo Cristo o fundador do sacramento, ele lhe concedeglriaeesplendor.Quandoumreifazumafesta,ele lhe adiciona mais pompa e magnifcncia. Jesus tomou o po, aquele cujo Nome acima de todo nome (Fp 2.9); Deus bendito para todo o sempre.[3]Quia externis ducimur, hisce symbolis fdem in nobis adauget Deus. Rudolf Gualter (1519-86) foi um reformador suo e sucessor de Bullinger em Zurique.15O MISTRIO DA CEIA DO SENHOR2. O tempo em que Cristo instituiu o sacramento. Quanto ao tempo em que Cristo instituiu o sacramento, pode-mos observar duas circunstncias:i.Issosedeuquandohaviamceado(Lc22.20:depoisde cear); ceia que continha mistrio, para mostrar que a meta do sacramentoserprincipalmenteumbanqueteespiritual;no visa a empanturrar os sentidos, e sim a suprir as graas. Isso se deu depois de cear.ii. A outra circunstncia de tempo que Cristo instituiu o sacramentopoucoantesdeseussofrimentos.OSenhorJesus, na noite em que foi trado, tomou o po (1Co 11.23). Ele tinha plena cincia dos problemas que sobreviriam aos seus discpulos; a perplexidade deles no seria pouca por ver seu Senhor e Mestre crucifcado;elogodepoisteriamdebebercomeleumclice amargo;porisso,paraarm-loscontratalmomentoeanimar-lhes o esprito, naquela mesma noite em que foi trado ele lhes d seu corpo e sangue no sacramento.Istopodenossugerirqueemtodaafiomental,especial-menteanteaaproximaodoperigo,necessrioquerecorra-mosCeiadoSenhor.Osacramento,respectivamente,um antdoto contra o temor, e a restaurao da f. Na noite em que foi trado, ele tomou o po (1Co 11.23). 3. O modo da instituio, no qual h quatro coisas a serem observadas:i. O ato de tomar o po;ii.O ato de abeno-lo;iii. O ato de parti-lo;iv. O ato de administrar o clice. 16A CEIA DO SENHORi. O ato de tomar o po: Jesus tomou o po. PERGUNTA: O que est implcito na frase tomou o po? RESPOSTA: O ato de Cristo tomar o po do uso comum im-plicava um duplo mistrio.a. Signifcava que Deus, em seu decreto eterno, separou Cris-to para a obra de nossa redeno. Ele era o kechorismenos, separa-do dos pecadores (Hb 7.26).b. O ato de Cristo separar os elementos do po e do vinho comunsrevelavaqueelenosedestinanutriodepessoas comuns. Deve ser divinamente purifcado aquele que toca estas santascoisasdeDeus.Devemserexteriormenteseparadosdo mundo e interiormente santifcados pelo Esprito. PERGUNTA:PorqueCristotomouopo,emvezdeoutro elemento?RESPOSTA: Porque o po o prefgura. Cristo foi tipifcado (a) pelopodaproposio:TambmfezSalomotodososobjetos que convinham casa do SENHOR; o altar de ouro, e a mesa de ouro, sobre a qual estavam os pes da proposio (1Rs 7.48); (b) pelo po que Melquisedeque ofereceu a Abrao. E Melquisedeque, rei de Salm, trouxe po e vinho (Gn 14.18); e (c) pelo po que o anjo trouxe a Elias. E olhou, e eis que sua cabeceira estava um po cozido sobre as brasas (1Rs 19.6). Portanto, Cristo tomou o po em correspondncia ao tipo.Cristotomouopotambmporcausadaanalogia;poo lembra bem de perto: Eu sou o po da vida (Jo 6.48). H uma trplice semelhana.17O MISTRIO DA CEIA DO SENHORa. O po til. Outros confortos servem mais ao deleite que utilidade. A msica deleita aos ouvidos; as cores, aos olhos; mas o po o arrimo da vida. Portanto, Cristo proveitoso. No h subsis-tncia sem ele: quem de mim se alimenta por mim viver (Jo 6.57). b.Oposatisfaz.Seumapessoatemfomeevoclhetraz fores ou quadros, tais coisas no satisfazem; mas o po satisfaz plenamente.AssimJesusCristo,opodaalma,satisfaz;elesa-tisfaz os olhos com beleza, o corao com dulor, a conscincia com paz. c.Opofortalece.Opoquefortaleceocoraodoho-mem(Sl104.15,ACRF).AssimCristo,opodaalma,trans-mite vigor. Ele nos fortalece contra as tentaes, comunica vigor para realizar e suportar trabalho. Ele como o po que o anjo levou ao profeta: Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e com a fora daquela comida caminhou quarenta dias e quarenta noites at Horebe, o monte de Deus (1Rs 19.8).ii.A segunda coisa na instituio Cristo abenoando o po. Ele o abenoou: Pela bno de Cristo, o po comum ad-quiriu uso santo (Gualter).[4] Esta foi a consagrao dos elemen-tos. Cristo, por sua bno, os santifcou e fez deles smbolos de seu corpo e sangue: Consagrar signifca tornar solenes coisas em si mesmas indiferentes aos mistrios religiosos, tal como o sacra-mento do corpo e sangue de Cristo (Chamier, De Eucharistia).[5] Nossa anlise disto continua no prximo captulo.[4]Benedictione Christi panis communis in sacrum mutatus est.[5]Consecratio vocabulum est solenne signifcans id quo per se aliena sunt a mysteriis religiosis, sint sacramenta corporis et sanguinis Christi. A referncia a uma obra de Daniel Chamier publicada em Genebra em 1626. VISITE-NOSOS-PURITANOS.COM