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... Aécio Pereira Chagas > A Ciência confirma o Espiritismo? Artigos Temos observado na literatura espírita (livros, revistas, jornais) que constantemente surgem afirmações do tipo "a Ciência moderna confirma o Espiritismo", seguida de citações, a nosso ver, muito duvidosas a respeito de questões científicas. Muitas vezes percebemos no autor uma seriedade de propósitos, porém suas citações nem sempre se apóiam bem no que poderíamos chamar de um "conhecimento científico estabelecido". São citadas obras de divulgação científica que nem sempre primam pelo rigor e, o que é pior, são às vezes escritas com uma "segunda intenção". Perguntará então o leitor: "O que há de errado nos textos de divulgação científica? Será que a Ciência moderna não confirma o Espiritismo?" Neste artigo vamos tecer inicialmente algumas considerações sobre materialismo, espiritualismo, a Ciência e sua divulgação, sobre outros temas decorrentes e, finalmente, tentaremos responder a estas duas questões. 1. Materialismo e espiritualismo Muitos compêndios de Filosofia ensinam que as escolas filosóficas, as visões de mundo, as ideologias, etc., podem se alinhar em dois grandes grupos: o grupo materialista, para os quais tudo é matéria, senso o pensamento uma qualidade da matéria, e o grupo espiritualista ou idealista, para os quais o espírito existe como uma realidade independente da matéria (vide, por exemplo, Dicionário de Filosofia, Durozoi e Roussel, Papirus, 1993). "(…) Com efeito, o espiritualismo é o oposto do materialismo. Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matéria, é espiritualista (…)" (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, Introdução, 75a edição, FEB, pág. 13). As filosofias, as ideologias, dentro de cada um dos dois grupos, estão longe de concordarem entre si em muitos outros pontos, a não ser neste único aspecto de aceitar ou não a existência do espírito. O Espiritismo evidentemente está no segundo grupo e, como já bem apontou Deolindo Amorim (O Espiritismo e as doutrinas espiritualistas, 3a ed., Livraria Ghignone Editora, 1979), o fato de uma doutrina ser espiritualista não significa que está de acordo com o Espiritualismo, a não ser na crença do espírito como algo diferente da matéria. Conforme já tivemos oportunidade de expressar no artigo "O Espiritismo na Academia?" (Revista Internacional de Espiritismo, fevereiro 1994, pp. 20-22, e março 1994, pp. 41-43), dentro do contexto cultural ocidental, no qual estamos inseridos, desde o início do século passado, após a Revolução Francesa, tem havido uma luta

A Ciência Confirma o Espiritismo! (Aécio Pereira Chagas)

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... Acio Pereira Chagas > A Cincia confirma o Espiritismo? Artigos

Temos observado na literatura esprita (livros, revistas, jornais) que constantemente surgem afirmaes do tipo "a Cincia moderna confirma o Espiritismo", seguida de citaes, a nosso ver, muito duvidosas a respeito de questes cientficas. Muitas vezes percebemos no autor uma seriedade de propsitos, porm suas citaes nem sempre se apiam bem no que poderamos chamar de um "conhecimento cientfico estabelecido". So citadas obras de divulgao cientfica que nem sempre primam pelo rigor e, o que pior, so s vezes escritas com uma "segunda inteno". Perguntar ento o leitor: "O que h de errado nos textos de divulgao cientfica? Ser que a Cincia moderna no confirma o Espiritismo?" Neste artigo vamos tecer inicialmente algumas consideraes sobre materialismo, espiritualismo, a Cincia e sua divulgao, sobre outros temas decorrentes e, finalmente, tentaremos responder a estas duas questes. 1. Materialismo e espiritualismo Muitos compndios de Filosofia ensinam que as escolas filosficas, as vises de mundo, as ideologias, etc., podem se alinhar em dois grandes grupos: o grupo materialista, para os quais tudo matria, senso o pensamento uma qualidade da matria, e o grupo espiritualista ou idealista, para os quais o esprito existe como uma realidade independente da matria (vide, por exemplo, Dicionrio de Filosofia, Durozoi e Roussel, Papirus, 1993). "() Com efeito, o espiritualismo o oposto do materialismo. Quem quer que acredite haver em si alguma coisa mais do que matria, espiritualista ()" (Allan Kardec, O Livro dos Espritos, Introduo, 75a edio, FEB, pg. 13). As filosofias, as ideologias, dentro de cada um dos dois grupos, esto longe de concordarem entre si em muitos outros pontos, a no ser neste nico aspecto de aceitar ou no a existncia do esprito. O Espiritismo evidentemente est no segundo grupo e, como j bem apontou Deolindo Amorim (O Espiritismo e as doutrinas espiritualistas, 3a ed., Livraria Ghignone Editora, 1979), o fato de uma doutrina ser espiritualista no significa que est de acordo com o Espiritualismo, a no ser na crena do esprito como algo diferente da matria. Conforme j tivemos oportunidade de expressar no artigo "O Espiritismo na Academia?" (Revista Internacional de Espiritismo, fevereiro 1994, pp. 20-22, e maro 1994, pp. 41-43), dentro do contexto cultural ocidental, no qual estamos inseridos, desde o incio do sculo passado, aps a Revoluo Francesa, tem havido uma luta

ideolgica que pode ser rotulada de materialismo x espiritualismo. No vamos discutir sobre a origem desta luta e como ela est inserida na sociedade, suas conseqncias, etc., o que no caberia aqui. [Nota 1] Mas esta luta tem-se travado nos vrios segmentos da sociedade e da cultura; a ponto de no mais se perceber que ela existe, salvo no aspecto religioso, que costuma ser mais gritante. Do lado materialista a ideologia predominante a que podemos chamar de positivista ou mecanicista, no necessariamente ligada filosofia positivista, formulada por Auguste Comte, a partir de 1830, mas com muita coisa em comum. A ideologia (ou mentalidade) positivista essencialmente de ndole materialista, anticlerical, pretensamente racionalista, valorizando o "conhecimento objetivo", ou seja, o conhecimento apreendido pelos sentidos. J do lado espiritualista, o principal representante tem sido a Igreja Catlica Romana, seguida das diversas igrejas reformadas. No final do sculo passado houve uma "grande batalha" entre essas faces, que se traduziu num debate ideolgico e em coisas mais "prticas", como disputas por ctedras, pelo controle de instituies culturais e acadmicas, etc., visando ao controle do "saber oficial". Com a entrada de uma outra faco do lado materialista, o marxismo, depois da Revoluo Russa de 1917, a balana pendeu para este lado, porm a guerra ainda no acabou, e estamos nela. Os leitores espritas podero ler, com a ateno voltada nesta direo, o extraordinrio livro de Camille Flammarion, Deus na Natureza (Rio, Federao Esprita Brasileira), escrito no sculo passado, onde percebero o debate deste com os positivistas. A Filosofia, as Cincias, as Artes, e a prpria Religio, tm sido usadas como armas nesta luta. No caso das Cincias, tm sido utilizadas teorias cientficas para justificar determinadas posies ideolgicas. Por exemplo, a teoria de Darwin e Wallace, ou seja, a "Teoria da Seleo Natural", formulada para explicar a evoluo biolgica das espcies animais e vegetais, foi utilizada para explicar o desenvolvimento das sociedades humanas, sob o nome de "Darwinismo Social", justificando as desigualdades sociais, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos, dos fins do sculo passado. 2. A palavra cincia e seus significados Passemos agora a um outro tpico: os significados da palavra "Cincia". Vrios so os sentidos que esta palavra pode ter, obviamente relacionados entre si. "Cincia" significa conhecimento, sendo usada com significado geral ("o fruto da rvore da cincia do bem e do mal") ou restrito ("a cincia de fazer papagaios de papel"). Significa um determinado tipo de conhecimento j consagrado como tal, como a Fsica, a Qumica, a Biologia, etc. Significa a atividade atravs da qual se obtm este conhecimento ("fazer cincia" = realizar uma determinada atividade cientfica). Significa tambm o conjunto de pessoas empenhadas na atividade cientfica: "a comunidade cientfica". Quando se diz que a "cincia aceita a tese de que h outros mundos tambm habitados", est se querendo dizer que a comunidade dos cientistas (ou parte dela) aceita esta tese, pois obviamente no h ainda um estudo cientfico, no sentido convencional do termo, sobre outros mundos habitados. Nem sempre porm a comunidade cientfica homognea e coesa. os cientistas so pessoas que em suas atividades profissionais buscam objetividade, preciso, rigor lgico, etc., porm fora dessas atividades so pessoas comuns, com todas idiossincrasias, prenoes e preconceitos do vulgo. Kardec j comenta isto na Introduo de O Livro dos Espritos e em O que o Espiritismo. Bertrand Russell,

conhecido filsofo deste sculo, menciona em um de seus textos (A perspetiva Cientfica, trad. J. B. Ramos, Cia. Ed. Nacional. 1956): Se algum de vossos amigos for um cientista, acostumado a maior preciso quantitativa em suas experincias, e que possua a mais recndita capacidade de inferir, podereis sujeit-lo a pequena experincia sem dvida significativa. Caso escolherdes em palestra como assunto poltica, teologia, impostos sobre a renda, corretagem, a vaidade das classes trabalhadoras e outros tpicos de natureza semelhante, provocareis sem dvida uma exploso e ireis escut-lo expressar opinies que no forram verificadas, com um dogmatismo que nunca poderia expressar com relao a resultados que fossem fundados em suas pesquisas de laboratrio. 3. A divulgao do conhecimento cientfico O conhecimento cientfico, ou seja, o conhecimento resultante da atividade cientfica, divulgado de vrias maneiras, ou, como chamaremos, nveis. [Nota 2] Vamos considerar apenas a divulgao que gera publicaes (revistas, livros, etc.) ou eventualmente filmes, vdeos, etc. Ento podemos ter os seguintes nveis: 1o nvel a divulgao que um ou vrios pesquisadores fazem de seu trabalho, de suas idias, entre os outros pesquisadores da mesma rea. feita normalmente no jargo prprio e seu entendimento requer um treino adequado naquela rea de conhecimento. So utilizadas revistas especializadas, livros, etc., que tm uma caracterstica toda prpria: o autor e o leitor so pessoas da mesma profisso e, grosso modo, do mesmo nvel de conhecimento, ou seja, ambos so membros da mesma comunidade na qual a publicao circula. 2o nvel O conhecimento divulgada principalmente entre os estudantes de uma dada disciplina. O conhecimento preparado de forma a iniciar os estudantes naquele campo do conhecimento. So geralmente escritos por pessoas com treino naquele campo (cientistas, professores), e utilizam o jargo prprio, porm de uma forma "amenizada". So os materiais didticos na forma de livros, revistas, filmes, etc. Evidentemente o autor e o leitor so pessoas de profisso e nvel de formao diferentes, pois o estudante est se iniciando naquela comunidade, porm ainda no um membro. 3o nvel Divulgao para os "leigos". O conhecimento tambm preparado para ser transmitido aos no especialistas, porm sem a preocupao de formar o futuro especialista, senso s vezes, feito at em forma de lazer. Podem ser escritos por cientistas, professores ou divulgadores. Estes ltimos nem sempre tm um treino naquela rea de conhecimento; so profissionais da escrita (escritores, jornalistas, e outros) que esto mais preocupados na "digestibilidade" do conhecimento pelo "leigo". No 2o e 3o nveis tm papis importantes na preparao do conhecimento. Estes mesmos pontos de vista que externamos poder o leitor tambm os encontrar na interessante matria veiculada na revista Veja, de 21 de dezembro de 1994, pg. 138, da autoria de Neuza Sanches, referente aos textos de Histria do Brasil para estudantes secundrios. Muitas vezes, nesta preparao do conhecimento, verdades so transformadas em meias-verdades, involuntria ou voluntariamente e neste buraco que muitas vezes camos. [Nota 3]

4. Matria e energia Para ilustrar o que dissemos no item anterior, vejamos um caso freqentemente mencionado em textos espritas, e em muitos outros, que "a matria energia condensada de acordo com Einstein, atravs de sua equao E=mc2 ". ESsta afirmao equivocada nunca encontrada em textos de Fsica ou Qumica srios, seja do 1o, 2o ou 3o nveis. Mas em muitos do 3o nvel (e at do 2o), que so, muitas vezes, utilizados como fonte de referncia. Por que estas afirmaes, no nosso entender, so equivocadas? No vamos aqui, por falta de espao, discorrer sobre o que vem a ser energia, no sentido empregado pela Fsica. [Nota 4] O ponto importante que queremos frisar que energia e massa so propriedades da matria. A clebre equao de Einstein, E=mc2, diz que a energia total de um sistema calculada atravs do produto da massa pelo quadrado da velocidade da luz, ou seja, como a maioria das equaes fsicas, relaciona duas propriedades da matria: a massa e a energia. Esta equao, e outras no mbito da teoria da relatividade, vai unificar os princpios de conservao de massa e de energia, que passam agora a ser um s: "princpio de conservao da massa e energia". Por que ento surgiu esta afirmao "a matria energia condensada"? Como falamos acima, no item 1, os grupos empenhados na luta ideolgica que mencionamos procuram buscar apoio na Cincia. E no caso interpretou-se um resultado cientfico luz de uma determinada ideologia, no caso espiritualista, interessada em negar, se possvel, a existncia da matria, ou pelo menos em diminuir sua importncia dentro da viso de mundo dessa ideologia. medida que isto feito (negar a matria), este conjunto de idias se torna "mais verdadeiro". Esta interpretao interessou (e interessa) a muitos grupos espiritualistas, que desta forma tentam mostrar a primazia do esprito sobre a matria, sem usar de outros fenmenos ou argumentos como a mediunidade e a reencarnao. A Doutrina Esprita no necessita deste tipo de "argumento" para afirmar a existncia do esprito e sua primazia sobre a matria, pelo fato de o esprito ser o princpio inteligente. Isto um ponto bsico da Doutrina e suas conseqncias so verificadas na prtica. No pelo fato de o Espiritismo ser espiritualista que necessita negar a existncia da matria. Recordemos a Questo 27 de O Livro dos Espritos (43a edio, FEB): P : "H ento dois elementos gerais do Universo: a matria e o Esprito?" R : "Sim e acima de tudo Deus, o criados, o pai de todas as coisas. Deus, esprito e matria, constituem o princpio de tudo o que existe ()." Emmanuel, este Esprito que nos tem dado tantos ensinamentos e orientaes, disse alhures que "matria luz congelada". Estaria Emmanuel, segundo o que dissemos acima, errado? No. Em primeiro lugar a frase tem um certo sentido metafrico, porm, mesmo considerando-a ao p da letra, ela no est errada, pois a luz matria. A luz, como outras formas de radiaes, um determinado tipo de matria, e como tal apresenta diversas propriedades desta, como a massa e a energia. Muitas vezes se utilizam, no meio esprita, expresses como: "o passe uma transferncia de energia". Tal expresso no incorreta, pois a energia est associada aos fluidos transferidos, o

que fica subtendido. [Nota 5] Esta, como grande parte das expresses coloquiais que utilizamos, carece de preciso, porm se fssemos ser sempre precisos em nossa linguagem usual, acabaramos doidos ou mudos. 5. A Cincia materialista? Retomemos os significados da palavra Cincia, que vimos acima. Costuma-se mencionar que "a Cincia materialista". Mas qual "Cincia"? Dos significados vistos podemos considerar dois: um primeiro, significando conhecimentos especficos (Fsica, Qumica, etc.), e um segundo significando a comunidade cientfica. O primeiro significado nos faz pensar tambm nos significados do termo "materialista". As Cincias da matria (Fsica, Qumica, Biologia, etc.) so "materialistas" porque evidentemente estudam a matria e somente a matria, pois foram feitas para isso. Querer que elas sirvam para outra finalidade, ou seja, estudar aspectos no materiais da Natureza, propor, a nosso ver, uma temerosa aventura. Essas tentativas, algumas registradas na histria, outras no, sempre redundaram em fracasso. Por outro lado o termo materialista, no sentido filosfico (como visto no item 1), no faz muito sentido ao ser aplicado s cincias da matria. Tomando agora o segundo significado do termo cincia a comunidade dos cientistas a pergunta - ttulo deste item: "A Cincia materialista?", bem apropriada. Como tambm j mencionamos, o cientista cientista apenas enquanto exerce sua profisso; for a dela um cidado comum, com todas as idiossincrasias comuns. De fato, a maioria da comunidade cientfica, em mbito mundial, materialista no sentido filosfico do termo, assim como tambm o a maioria dos membros das sociedades aos quais pertencem os grandes contingentes cientficos da atualidade (e isto gostaramos de frisar). E aqui vale lembrar a advertncia de Emmanuel, ou seja, da necessidade de os cientistas se evangelizarem. Em resumo, a Cincia, pelo fato de estudar a matria no deve ser por isso considerada materialista, porm a comunidade cientfica , em sua maioria, materialista. [Nota 6] 6. A Cincia confirma o Espiritismo? Voltemos ento s perguntas iniciais: "O que h de errado nos textos de divulgao cientfica? Ser que a cincia moderna no confirma o Espiritismo?" Cremos que o que foi dito acima j responde, em parte, a estas perguntas, principalmente primeira. Os textos de divulgao cientfica, independentemente da qualidade individual de cada um, o que no vem agora ao caso, costumam trazer em seu bojo alguma coisa a mais que os resultados das investigaes cientficas. Tudo bem, cada um tem o sagrado direito de se expressar. No entanto cada um tem tambm o sagrado direito de aceitar ou no. Este sagrado direito nem sempre exercido e aceitam-se certas afirmaes cegamente. Kardec nos ensinou o que fazer com as mensagens medinicas; vamos aplicar estes critrios tambm nas mensagens dos encarnados. Em resumo, acho que com os textos de divulgao cientfica no h nada de errado; algum est "vendendo seu peixe" e outros simplesmente esto "comprando", sem verificar se o mesmo "est bom ou no".

E a Cincia confirma o Espiritismo? O outro aspecto a considerar que o Espiritismo tambm uma Cincia. O sucesso das cincias em geral significa tambm o sucesso da cincia esprita. O raciocnio pode parecer simplista, em parte devido maneira rpida com que estamos tratando, porm as dificuldades de se entender o que vem a Cincia. Com relao a esta questo o leitor poder compulsar o artigo "O paradigma esprita", do nosso confrade Silvio Seno Chibeni (Reformador, junho 1994, pp. 176-80), bem como as referncias a citadas que, cremos, esclarecero melhor a questo. A nosso ver, este um dos caminhos de confirmao do Espiritismo pela Cincia. O Espiritismo uma cincia que trata de uma ordem diferente de fenmenos que aqueles de que tratam as cincias da matria, como j afirmou Kardec. A comparao dos resultados destas cincias no faz portanto muito sentido, principalmente tendo em vista que os "ltimos resultados cientficos", das cincias da matria, esto entre as coisas mais mutveis que existem. Uma outra linha de comparao que se pode fazer entre Cincia (ainda entendida com conhecimento especfico) e Espiritismo seira atravs do desenvolvimento dos estudos psicolgicos ou dos estudos do ser humano em geral. A Psicologia atual est longe de ser considerada uma cincia madura (ou mesmo Cincia, no pensar de alguns), no entanto muitos estudiosos, quase sempre fora do contexto do que poderamos chamar de "Psicologia Oficial", tm dado contribuies interessante. Os trabalhos de Ian Stevenson (Vinte casos sugestivos de reencarnao, Difusora Cultural, So Paulo, 1978 e Vida antes da vida, Livraria Freitas Bastos, Rio de Janeiro, 1988) e outros, trouxeram resultados notveis. O leitor interessado nesta rea poder consultar o livro Alquimia da Mente, do conhecido escritor esprita Hermnio C. de Miranda (Publicaes Lachtre, Niteri, RJ, 1994), onde muitos outros estudiosos no-espritas tm apresentado contribuies interessantes. Essa rea de estudo, ou seja, o estudo da mente, uma rea comum ao Espiritismo. possvel que num futuro no muito longnquo, os estudos nesta direo chegaro aos mesmos resultados j afirmados pelo Espiritismo, porm, de todo o vasto leque de tentativas de se estudar a mente humana sem considerar a existncia do Esprito, a maior parte tem esbarrado em resultados ou em dificuldades onde se faz necessrio considerar esta hiptese, sem a qual se entra num beco sem sada. Talvez pudssemos atrevidamente "profetizar" que quando a psicologia adotasse o paradigma esprita, estaramos realmente no "incio dos novos tempos". H ainda um outro ponto a observar, ligado s cincias da matria. Muitos estudiosos tm-se envolvido numa determinada linha de pesquisa, que remonta poca das mesas girantes, e que tem por objetivo provar a existncia do Esprito atravs de mtodos fsicos. Apesar de no estar s, em minha obscura opinio, esta linha no chegou e nem chegar a nada, pois os mtodos fsicos so adequados para se estudas a matria (foram feitos para isto). Caso algum evidencie a presena do Esprito atravs de um mtodo fsico, cabe sempre um questionamento metodolgico, e da no se chega a parte alguma. Por outro lado, muitos confrades poderiam ainda argumentar com o fato de Kardec, em suas obras, mencionar vrias vezes que o Espiritismo e a Cincia marchariam lado a lado. Estas afirmaes poderiam causar (e causam) em muitos leitores a impresso de que Kardec falava das cincias da matria. Creio que Kardec tinha em mente a Cincia Esprita, que ele acreditavam com toda a certeza, que ainda estava no comeo e que iria crescer, porm melhor passar a palavra ao prprio Mestre Lions (O que o Espiritismo, Cap. I, Segundo Dilogo O Cptico, Oposio da Cincia, pgs. 77 e 78, 36a ed., FEB):

As cincias vulgares repousam sobre as propriedades da matria, que se pode, vontade, manipular; os fenmenos que ela produz tm por agentes foras materiais. Os do Espiritismo tm, como agentes, inteligncias que tm independncia, livrearbtrio e no esto sujeitas aos nossos caprichos; por isso eles escapam aos nossos processos de laboratrio e aos nossos clculos, e, desde ento ficam fora dos domnios da cincia propriamente dita. A Cincia enganou-se quando quis experimentar os Espritos, como experimenta uma pilha voltaica; foi malsucedida como devia s-lo, porque agiu visando uma analogia que no existe; e depois, sem ir mais longe, concluiu pela negao, juzo temerrio que o tempo se encarregou de ir emendando diariamente, como j tem emendado outros; e, queles que o preferiram, restar a vergonha do erro de se haverem levianamente pronunciado contra o poder infinito do Criador. As corporaes sbias no podem nem jamais podero pronunciar-se nesta questo; ela est to for a dos limites de seu domnio como a de decretar se Deus existe ou no; pois, um erro faz-las juiz dela. Cremos tambm ter respondido, ainda que de maneira incompleta, pergunta ttulo desde artigo. O que nos moveu a percorrer este caminho foi justamente a preocupao com as afirmaes que colocamos no incio. Se no fosse isto, seguiramos o caminho adotado pelo confrade Luiz Signates, expresso no excelente artigo "Cincia versus Religio: o debate vazio" (Reformador, abril de 1994, pg., 118), com o qual concordamos plenamente e que, de um certo modo, converge aos pontos de vista que externamos tambm no artigo j mencionado "O Espiritismo na Academia?" As crticas que aqui fizemos so genricas e no so de modo nenhum, pessoais. Gostaramos que outros pontos de vista fossem tambm colocados. Artigo publicado em Reformador, julho de 1995, pp. 208-11. Digitado por Rodrigo Almeida Gonalves. Notas 1. bem conhecido o caso de um candidato a um importante cargo pblico em nosso pas que foi derrotado "na boca da urna" por se dizer ser ateu. Em muitos pases, inclusive o nosso, muitos candidatos fazem suas campanhas polticas de Bblia na mo. [volta] 2. No vamos considerar a comunicao oral, que tambm satisfaz aos critrios que vamos apresentar, mas seu lado informal confunde-se com o lado formal, do qual estamos tratando.[volta] 3. Ouvi certa vez a expresso "duas meias-verdades no fazem uma verdade inteira" [volta] 4. A palavra energia tem tambm outros significados, o que pode provocar confuses. Vide Xavier Jr. A. L., "Algumas consideraes oportunas sobre a relao EspiritismoCincia", Reformador de agosto de 1995, pp. 244-46.[volta]

5. Estaria Emmanuel utilizando um sentido diferente para a palavra energia? Se ele usou, j no temos o que comentar, pois o sentido da frase agora praticamente literal. Vide a nota 4. [volta] 6. No vamos estender mais sobre esta questo do materialismo na Cincia. O leitor interessado poder consultar o livro A Cincia em Ao, de Claude Chrtien, trad. M. L. Pereira, Papirus Editora, 1994. [volta]

... Acio Pereira Chagas > Polissemias no Espiritismo Artigos

H tempos atrs, compulsando uma gramtica (Gramtica Normativa, Rocha Lima, Jos Olympio Ed.), deparei com este termo: polissemia, nome dado ao fenmeno lingstico em que uma palavra tem vrios significados. Como exemplo pode-se citar: > massa, significa quantidade de matria (Fsica); o material com que se faz po, bolo etc. (mistura de farinha, gua e outros ingredientes); multido, turba. > cabo, posto militar; acidente geogrfico; fim (ao cabo de uma semana terminara sua tarefa); matar (deu cabo de seu desafeto); cabea ou princpio (de cabo a rabo); extremidade por onde se segura um objeto (cabo de vassoura, de panela etc.); corda (cabo de ao). O leitor poder encontrar mais exemplos consultando um dicionrio. Convivemos com este fato e em nossa vida muitos mal-entendidos so conseqncia desta pluralidade de significados. Muitas vezes o sentido de uma palavra dado pelo seu contexto, pelo sentido geral do assunto, da frase dita ou escrita, da expresso de quem a diz etc. Outras vezes, quando estas condies no existem ou no so claras, ficamos ou sem entender ou entendemos aquilo que achamos ser, ou o que queremos que seja. Por exemplo, a frase solta "o cabo avana pelo mar", o que significa? Qual a o sentido da palavra "cabo"?

Quando escrevia este texto vi tambm que esta preocupao no era s minha. O Editorial da Revista Internacional de Espiritismo (abril de 96), A Doutrina e a Semntica, externava as mesmas preocupaes. Kardec, no item I da Introduo de O Livro dos Espritos, fala do significado das palavras, das anfibologias, termo que significa (cf. Dicionrio do Aurlio) duplicidade de sentido em uma construo sinttica, ambigidade. Apesar dos esforos do Codificador, termos com vrios significados surgiram entre os espritas e alguns deles, s vezes, causam confuso. Isto natural em qualquer linguagem, em qualquer idioma. Na linguagem cientfica, que se esmera para no ser ambgua, isto ocorre freqentemente, havendo ento a necessidade de se especificar ou adjetivar os termos ... quando se quer evitar a confuso. Vamos considerar trs palavras que, talvez pelo fato de serem utilizadas dentro e fora do contexto esprita, tornaram-se polissmicas. So elas: fluido, magnetismo e energia. FLUIDO: Esta palavra utilizada na Fsica e no Espiritismo com sentidos bem diferentes. No sculo XIX, fluido, em Fsica, era empregado para designar materiais capazes de penetrar pelos vazios da matria e de se escoar. A eletricidade, o calor, a luz etc., eram tidos como fluidos, alm dos gases e lquidos em geral (ar, gua etc.). Posteriormente estas idias foram abandonadas pelos fsicos, passando o termo fluido a designar somente os gases e os lquidos em geral, e no mais a eletricidade, o calor, a luz etc. Nessa poca, sculo XIX, Kardec, fazendo uma analogia dos "materiais" mencionados e manuseados pelos espritos, com a eletricidade (ento caracterizada pelo fluido eltrico), denomina-os de fluidos, s vezes adjetivados ou no, como o chamado fluido magntico, para designar o fluido utilizado pelos magnetizadores. Com o abandono do termo pelos fsicos para caracterizar a eletricidade, o calor etc., o termo fluido introduzido por Kardec tornou-se interessante, sem perigo de confuso, pois o significado atualmente utilizado em Fsica no tem como ser confundido com o significado utilizado pelo Espiritismo. Parece que Kardec adivinhou ... MAGNETISMO: Este termo surge associado palavra magneto, outro nome dado ao m. O comportamento de atrao e repulso dos corpo imantados, como a bssola, parece ter inspirado muitos pesquisadores, principalmente o famoso mdico e qumico suo Paracelsus (1493 - 1541), a utilizarem a analogia destes com os fenmenos humanos que eles pesquisavam (simpatias e antipatias, induo psquica, cura pela imposio das mos etc.), dando o nome "magnetismo animal". Este nome ganhou grande notoriedade com o famoso mdico austraco Franz Anton Mesmer (1775 1815). Posteriormente, em 1841, o tema foi rebatizado por hipnotismo, pelo mdico escocs James Braid (1795 - 1860). O termo magnetismo seguiu sendo utilizado at hoje, conforme pode-se constatar inclusive na literatura esprita. Magnetismo tem ento dois significados: o primeiro (mais antigo) corresponde ao utilizado em Fsica: estudo dos ms, efeitos das correntes eltricas, eletroms etc. O segundo corresponde ao conjunto de fenmenos humanos caracterizados por uma influncia de um indivduo sobre outro(s), que transcende ao e percepo puramente sensorial (no sei se esta um boa definio, porm creio ser suficiente para os propsitos deste artigo). Apesar da polissemia, no h porque confundir os dois significados. Se o magnetismo humano e/ou animal est ou no relacionado com o magnetismo dos ims e correntes eltricas ( at possvel que esteja) no importa, o ponto principal, atualmente, que ambos so conceitos diferentes e em mbitos diferentes.

ENERGIA: Talvez seja um dos termos polissmicos mais geradores de confuso. A palavra energia (do grego: , significando capacidade de trabalho, dentre outros) j havia sido utilizada por Aristteles, porm introduzida (ou reintroduzida) na Fsica por William Thomson, mais conhecido por Lord Kelvin (1824 - 1907), em 1852, praticamente com o mesmo sentido: capacidade de produzir trabalho. Este o primeiro significado da palavra. Antes disto, em Fsica, usava-se as palavras fora e vis (do latim, tambm significando fora). Ao longo do sculo XIX, o termo energia vai se popularizando entre os fsicos, e depois fora da Fsica. Na poca de Kardec, o termo fora, com o sentido de energia, ainda predominante. Atualmente fora e energia, no contexto da Fsica Clssica, tm significados distintos, o primeiro est associado segunda lei do movimento de Newton (fora = massa acelerao) e o segundo capacidade de produzir trabalho (trabalho = fora deslocamento). Fora e energia so propriedades da matria. Note que Kardec praticamente no utiliza esse ltimo termo. Posteriormente a palavra energia foi tomando outras acepes, sendo ampliado, generalizado, adquirindo outras conotaes. No final do sculo XIX e incio deste, o famoso qumico alemo Wilhelm Ostwald (1853 - 1932) desenvolveu uma doutrina filosfica materialista chamada de Energeticismo. Esta doutrina era uma extenso, ou variante, do empiriocriticismo, nome da filosofia positivista nos pases de lngua alem. Ostwald, baseando-se na cincia da Termodinmica, procura explicar os fenmenos naturais e humanos reduzindo-os s transformaes energticas. Quem leu o livro de Camille Flammarion Deus na Natureza (edio FEB), nota que ele debate com vrios filsofos e cientistas materialistas, Moleschott e Bchner, entre outros. Ostwald um continuador destes, procurando ampliar e melhorar as idias dos mesmos. O prprio desenvolvimento da Cincia no comeo deste sculo acabou por enterrar o Energeticismo, porm esta idia de que matria energia ( e energia, no caso, j no sabemos mais o que ) permaneceu. Muitos vem na expresso "matria energia condensada" um dos ltimos esforos do materialismo para poder explicar o esprito. Talvez por isto muitas pessoas trazem esta idia para o movimento esprita, supondo que esto explicando a existncia do esprito luz da "cincia moderna" (que no cincia e nem moderna). Neste caso tambm podemos afirmar que energia um termo que abrange a matria. Eles no se contrapem, um engloba o outro. Talvez por influncia do Energeticismo, energia passou a designar tambm radiaes, como a luz, as ondas de rdio, a radioatividade etc. Este outro significado do termo, popularizado pelos textos de divulgao cientfica (ver A Cincia confirma o Espiritismo?, Reformador, julho 1995). Encontramos na literatura esprita a expresso: "o passe uma transfuso de energias psquicas" (Emmanuel; O Consolador, psicografia de F. C. Xavier, questo 98, edio FEB). Nesta frase, o sentido do termo energias tem o mesmo sentido do original: capacidade de produzir trabalho, no caso psquico. Talvez, por extenso do termo, considerando que o passe seja visto tambm como uma transferncia de fluidos, os termos energia e fluido passaram a ter o mesmo significado. E encontramos freqentemente na literatura esprita expresses que contm este ltimo significado, como por exemplo: "Quando mais desmaterializado [o perisprito], mais energia possui e mais leve se torna" (Abel Glaser e Caibar Schutel (esprito), Conversando sobre Mediunidade, p. 193, Casa Editora "O Clarim"). Note que aqui o termo energia pode ter tambm o significado de "capacidade de produzir trabalho", porm de qualquer modo sempre oposto idia de matria, diferente do mencionado anteriormente, em que energia abrange matria. O termo energia significando fluido leva-nos a interpretar

de forma diferente a frase "matria energia condensada". Ela pode ser entendida agora como "matria fluido condensado", o que esta de acordo com os ensinamentos de O livro dos Espritos, que diz que a matria uma modificao do fluido csmico universal Para o termo energia h ainda outros significados a serem destacados. Na expresso "Fulano tem uma energia ...", o significado de energia pode ser entendido como vitalidade, vigor (coerente com o sentido usado na Fsica), ou pode ser entendido como personalidade marcante, forte. Em Nutrio o termo energia aparece associado ao seu significado em Fsica. A expresso "alimento energtico" significa um alimento que ao ser metabolizado produzir uma grande quantidade de energia, uma grande capacidade de produzir trabalho, como as gorduras. Temos visto tambm a mesma expresso utilizada com sentido diferente: alimentos como broto de alfafa, broto de feijo designados como "alimentos energticos" em suas embalagens. Pelo que pude entender, a idia a ser transmitida que este alimento um "promotor de vitalidade", rico em vitaminas, em substncias que, no organismo, podem ser precursores de catalisadores bioqumicos e, talvez, em fluidos vitais. Aqui o termo energtico no tem o significado normalmente utilizado em Nutrio. Realmente a coisa confusa. Alguns podem ter a opinio contrria, que as coisas no so assim e que eu que as estou fazendo confusas. Podem achar que estou "fazendo tempestade em copo d'gua". possvel e espero estar. Muitos espritas no levam o Espiritismo a outros campos do saber ou atividades humanas, porm trazem estes ao Espiritismo sem, s vezes, muito critrio. essa a nossa preocupao. Para finalizar quero apenas realar que no estou condenando as pessoas por utilizar este ou aquele termo. As idias precisam ser expressas e nem sempre temos palavras para isto. Desejo apenas lembrar uma lio que Kardec nos deixou atravs de seu trabalho: critrio para escrever e falar, critrio para ler e ouvir. Fontes : Revista Internacional de Espiritismo - set/1996 e Portal do Esprito

... Acio Pereira Chagas > As Provas Cientficas Artigos

Certas pessoas, muitas vezes bem-intencionadas, buscam provas cientficas referentes imortalidade do Esprito, comunicabilidade deste conosco, reencarnao e sobre outros pontos fundamentais da Doutrina Esprita. Isso muito salutar, mas o problema que, entre essas pessoas, algumas passam toda a existncia terrena procurando essas provas, ou melhor, atrs "da prova", e nunca a encontram apesar de terem tido contato com inmeros fatos que a confirmam. Algumas assim agem por um ceticismo crnico, crentes de bem procederem cientificamente, pois acreditam (aqui elas no so cticas) que um "verdadeiro cientista no tem idias preconcebidas". Acho que essas pessoas que passam o tempo todo atrs das provas e continuam insatisfeitas precisam ser informadas do que vem a ser uma "prova cientfica". o que pretendemos mostrar.

Vamos utilizar-nos de um exemplo para ilustrar nossos pontos de vista. E o que escolhemos a "teoria atmico-molecular", devido nossa experincia como pesquisador no campo da Qumica. O que se segue um dilogo imaginrio (ou no to imaginrio assim) que tivemos com uma pessoa a princpio ctica. Inicialmente ela nos perguntou: -- "Voc acredita na existncia de tomos e molculas?" -- "No s acredito, mas sei que eles existem", respondi. -- "Como voc pode provar isso?" -- "No lhe posso oferecer nenhuma prova como aquelas apresentadas nos tribunais; inclusive nunca os vi, toquei ou mesmo os senti de alguma maneira, nas formas que penso que sejam. O que me faz saber que os tomos e as molculas existem um conjunto de evidncias experimentais, um conjunto de provas. Nenhuma delas por si suficiente par provar a existncia dos tomos ou das molculas. Vendo a coisa de outra maneira, todo esse conjunto de evidncias experimentais ou de experimentos s pode ser explicado, entendido, racionalizado, por meio da admisso da existncia dos tomos e molculas, e essa mirade de experimentos que constitui "a prova". Cada um dos experimentos, considerados separadamente, pode at ser explicado por outras hipteses ou teorias, mas at hoje ningum encontrou nenhuma outra alternativa que desse conta de todo o conjunto de experimentos considerados, a no ser a "teoria atmicomolecular". Um dado experimento pode ser explicado pela hiptese de que a matria contnua, alguns outros tambm, mas h muitos outros que no. Podemos at inventar hipteses as mais estapafrdias, mas com lgica e bom senso perceberemos que podero

dar conta apenas de alguns poucos fatos. No vou citar aqui os experimentos; nas bibliotecas encontramos centenas e centenas de descries deles. "Ainda mais: como j sei que os tomos e as molculas existem, como cientista no vou mais procurar provas de sua existncia. Vou da para a frente. Vou realizar experimentos nos quais a priori j considero existentes os tomos e molculas, e os resultados tm sido at agora coerentes com isso. Assim procedem tambm os meus colegas cientistas do mundo todo." Da mesma maneira que se faz a pergunta sobre os tomos e as molculas, faz-se tambm com relao existncia dos Espritos e a outros pontos que mencionamos no incio deste artigo. A resposta que daramos a essa pergunta seria a mesma dada sobre os tomos e as molculas: "No s acredito, mas sei que eles existem." -- "Como voc pode provar isso?" -- "No posso lhe oferecer nenhuma prova, como aquelas apresentadas num tribunal; inclusive nunca os vi, toquei ou mesmo os senti de alguma maneira, na forma que penso que tenham. O que me faz saber que os Espritos existem um conjunto de provas (...)." O leitor poder continuar o dilogo, s trocar 'tomos e molculas' por 'Espritos'. Alternativa para 'Espritos' (como a hiptese da matria contnua no lugar dos tomos)? s procurar uma dessas muitas explicaes "parapsicolgicas" que h por a (o inconsciente etc.). Quanto aos novos experimentos, j h uma diferena: so poucos os que vo frente, a maioria ainda est querendo "provar" que o Esprito existe. Se as pessoas que buscam provas sobre esses pontos bsicos da Doutrina Esprita, aps examinarem todo esse conjunto de evidncias que a prpria Doutrina oferece, alm de outras procedentes de fontes no espritas, ainda quiserem "a prova", porque continuam desinformadas sobre a atividade cientfica (ou no a aceitam) ou realmente no querem aceitar nada. Mas isso no acontece apenas com o Espiritismo. Com tomos e molculas hoje em dia no se pode ser ctico, mas com outras coisas... H pouco ouvi: "(...) afinal de contas, a teoria da Evoluo ainda no est cientificamente provada"... Fonte: Revista Reformador, agosto de 1987, pp. 232-33.

... Jos Reis Chaves > Deus e o livre-arbtrio Artigos

O nosso livre-arbtrio est para o nosso intelecto, assim como a nossa fala est para o nosso pensamento. O livre-arbtrio supe a existncia do intelecto, assim como a fala supe a existncia do pensamento. E esses nossos atributos interagem e confundem-se entre si no nosso agir constante. Para Spinoza, o nosso livre-arbtrio limitado, pois depende de nossa conscincia, que nunca totalmente plena. S a de Deus o . E, segundo Santo Agostinho, ele -nos limitado por causa do nosso pecado original. E, na verdade, o pecado original o nosso carma com o qual nascemos. So polmicas essas questes do livre-arbtrio e do seu oposto, o determinismo, pois ambos so relativos. Quanto mais evoludo for o esprito, maior seu livre-arbtrio, e, conseqentemente, maior sua responsabilidade. oportuno aqui nos lembrarmos da frase de Pietro Ubaldi: S h responsabilidade onde h liberdade Com efeito, diante do livre-arbtrio, a Doutrina da Predestinao insustentvel. O Nazareno, com sua frase Eu sou o caminho, mostrou-nos que ns temos que optar por seu Evangelho, mas se o nosso destino j tivesse sido traado por Deus, para que escolheramos esse caminho? O Novo Catecismo da Igreja diz que o vigrio de Cristo na Terra a voz de nossa conscincia. E a pergunta 621 do Livro dos Espritos de Kardec tem, como resposta, que a Lei de Deus est escrita na nossa conscincia. Ora, Deus no teria gravado nela a sua Lei, se no fosse para ela ser seguida por ns, e para isso, ela tem que passar pelo crivo de nossa vontade. E o nosso destino feito por ns mesmos, isto , pelo nosso carma, pois a Lei de Causa e Efeito inexorvel. A toda

ao corresponde uma reao de igual potncia e reversibilidade. Colhemos o que plantamos. E Ningum deixar de pagar at ao ltimo centavo. Mas, tambm, ao pagarmos o ltimo centavo, estaremos quites! Se o mundo est um caos, justamente porque os seres humanos abusam do seu livrearbtrio. E, Infelizmente, os dirigentes de religies, s vezes, no ensinam para os seus fiis que seu ego tem de ser disciplinado e dominado pelo seu eu interior, e no o contrrio. Segundo o ensinamento de Jesus, imprescindvel a renncia a ns mesmos, como condio, sine qua non, ficaremos estagnados espiritual e moralmente. E como, tambm, as explicaes teolgicas tradicionais no satisfazem s indagaes existenciais de muitos sobre a balbrdia do mundo, eles acabam abraando o atesmo Mas a crena racional em Deus sempre uma realidade mais concreta, haja vista o que disseram Voltaire e Einstein, respectivamente: Se Deus no existisse, ns teramos que O inventar e Cada porta do conhecimento que abro, encontro Deus. Autor do livro Quando Chega a Verdade (Ed.Martin Claret), entre outros. E-mail: [email protected].

... Jos Reis Chaves > A Diversidade religiosa Artigos

As pessoas tm graus diferentes de evoluo oriundos de reencarnaes passadas de seus espritos. Cada esprito, pois, vem com seu prprio acervo cultural, inclusive o religioso.

O espiritismo no tem rituais e no faz casamentos. Porm o conhecido mdium baiano psicopictgrafo (de pintura medinica) Jos Medrado, que vai Europa e a outras partes do mundo, vrias vezes por ano, fazer suas pinturas medinicas em redes de TV, a favor do casamento esprita.

Fundador e dirigente da famosa comunidade esprita de Salvador, Cidade da Luz, ele pediu ao Tribunal de Justia da Bahia a instituio do casamento esprita. O espiritismo uma cincia e aceita, pois, a evoluo. Mas alguns meios espritas perseguem os inovadores. E at o chamado olho grande, s vezes, se encontra entre eles. Como se v, os espritas erramos tambm, pois somos seres humanos imperfeitos, como qualquer outra pessoa, em busca da perfeio. O Alamar Rgis, fundador e diretor da Rede Viso Esprita, tambm vtima de muitas dessas perseguies de espritas fundamentalistas. Ele acaba de enviar uma carta Federao Esprita Brasileira (FEB), apelando para o seu presidente e vice-presidente, respectivamente, Nestor Masotti e Altivo Ferreira, pedindo apoio para o casamento esprita que, bvio, no ter carter de sacramento e ser grtis. Essa briga entre respeitados gigantes espritas do mundo, j que aqui no Brasil que o espiritismo, a exemplo do catolicismo, mais se difundiu. Porm at o autor desta coluna, o qual uma figura modesta dentro do espiritismo, mas porque o seu trabalho tem um forte enfoque de Bblia e de mdia, tambm vtima de alguns dirigentes espritas que tentam ignor-lo e isol-lo, quando o espiritismo bblico em toda a acepo da palavra, alm de o Esprito de Verdade ter dito que a maior caridade que podemos fazer com a doutrina esprita a sua divulgao. Diante desses fatos, perguntamos: ser que o espiritismo vai cometer os mesmos erros da Igreja, que, justamente por ignorar, nos tempos passados, a inevitabilidade da diversidade religiosa das pessoas, acabou levando o cristianismo a fracionar-se em mais de 300 igrejas? http://www.apologiaespirita.org

... Jos Reis Chaves > A Mulher no Ovpara Artigos

Existe na nossa sociedade de cultura ocidental judaico-crist um trauma, ou seja, o do pavor que a sociedade tem de ver uma mulher solteira ficar grvida e, conseqentemente, o de ela vir a ter um filho. que o judasmo e o cristianismo sempre condenaram exageradamente a sexualidade fora do casamento. No entanto, antes de haver religies e casamentos no mundo, nossos ancestrais j tinham seus filhos, sem o que no poderamos existir!

Deixando de lado esses traumas de pecados da sexualidade fora do casamento, presentes ainda em nosso inconsciente coletivo, e que foram e so ainda responsveis por tantos abortos, convm dizer aqui que o aborto constitui falta grave contra as leis espirituais divinas e naturais. H dois tipos de vida, ou seja, a vida em estado potencial e a vida atualizada. Um gro de feijo uma vida em estado potencial de um p-de-feijo. Ao ser colocado na terra mida, ele brota e se torna a vida atualizada de um p-de-feijo, mesmo ainda antes de ele chegar superfcie da terra. Tambm com relao aos seres ovparos que nascem de ovos, podemos dizer que essas duas vidas existem. Por exemplo, o ovo galado de galinha uma vida de um pintinho, mas apenas em estado potencial. Esse ovo s vai se tornar uma vida atualizada de um pintainho, depois de ser submetido a uma temperatura apropriada debaixo duma galinha ou numa chocadeira, pelo tempo de 21 dias. Assim, pois, a destruio de um ovo, mesmo galado, no a destruio da vida de uma avezinha, a qual, por enquanto, s existe no ovo em estado potencial. Mas como a mulher no ovpara, a vida do feto nela atualizada dentro dela mesma, desde o instante da concepo. Conseqentemente, se ela elimin-lo, mesmo que ele seja ainda um embrio, ela est destruindo uma vida humana j atualizada, cometendo, pois, um infanticdio e se tornando uma verdadeira assassina do seu prprio filho inocente e indefeso, quando ela, at pelo instinto, deveria proteg-lo!

... Jos Reis Chaves > A reencarnao segundo a Bblia e a cincia Artigos

Queremos, primeiramente, agradecer articulista Cleomar Borges de Oliveira, que neste conceituado rgo de Imprensa Esprita (Nova Era, de Franca, SP), de novembro de 2001, teceu comentrios sobre o livro de nossa modesta autoria, cujo ttulo

encabea esta matria. Agradeo tambm ao meu amigo, o Professor psicobiofsico Henrique Rodrigues, que me deu esse Peridico, que considero de alto nvel. O nosso objetivo no polemizar com a nobre jornalista, mas to-somente esclarecer algumas questes que nos parecem interessantes para os leitores do jornal A Nova Era. O livro A Reencarnao Segundo a Bblia e a cincia uma tese sobre a reencarnao, do ponto de vista bblico e cientfico. Dizendo em outros termos, o autor apenas se props a defender a Teoria da Reencarnao para os catlicos e evanglicos, e no para os espritas que j a aceitam normalmente. Para isso valeu-se desses dois pilares respeitados, a Bblia e a Cincia. Assim, o livro sub examine pontifica por uma verdade esprita, a reencarnao, e no por todas as verdades espritas, mesmo porque, quando o escreveu o seu autor ainda no era esprita, embora j tivesse pela Doutrina Kardecista uma simpatia toda especial. Tambm Jesus e Kardec no disseram tudo. E, quando o autor recorre a outras correntes filosficas religiosas reencarnacionistas, principalmente orientais, o objetivo do autor foi mostrar a universalidade da Doutrina Reencarnacionista, e jamais pensou em subordinar o Pensamento Kardequiano quelas correntes filosficas religiosas, embora elas sejam anteriores ao Kardecismo, o que deve ter levado a ilustre articulista a interpretar de modo diverso o pensamento do autor. Sobre o termo Neo-Espiritismo, de fato se trata de um vocbulo imprprio, no obstante ele circular entre alguns autores incipientes na Doutrina Esprita, como o era o autor, quando escreveu essa obra, e como, alis, ele ainda assim se considera. Mas, a partir da 4 edio dela - ele est na 6 -, essa falha j foi retificada. Quanto ao fato de o autor ser catlico e reencarnacionista, e mesmo de ser catlico e esprita, trata-se de uma coisa muito simples, embora parea contraditria. Simplesmente ele um catlico herege, isto , no aceita todos os dogmas da Igreja. Para no ser um catlico desse gnero, deveria aceit-los todos. Mas os dogmas da Igreja diga-se de passagem esto caindo num esvaziamento muito grande, inclusive entre os prprios telogos. Isto porque eles foram institudos em pocas remotas pelos Conclios, quando a mentalidade da Humanidade era outra, alm de terem sido no s expostos aos cristos, mas impostos. E, assim, se algumas pessoas mais inteligentes e mais cultas repeliamnos, naqueles tempos longnquos, iam para a fogueira. Mas, hoje, no temos mais fogueiras inquisitoriais, e a mentalidade do homem do Sculo XXI mudou. Por outro lado, tambm, nem todo catlico herege necessariamente um desafiador da Igreja, e muito menos, um inimigo dela. Alm do mais, muitas heresias de hoje, como alguns fatos da Igreja o demonstram, sero verdades da Ortodoxia Catlica de amanh. Joo Huss, por exemplo, morreu na fogueira, porque era contra a interrupo da comunho sob as duas espcies de po e vinho. E hoje a Igreja voltou a essa prtica em muitas igrejas, dependendo da determinao do vigrio. E a tudo isso se junte a afirmao do Apstolo Paulo de que as heresias so necessrias. E Jesus era um judeu, sim, mas um judeu herege. Por isso os

sacerdotes passaram a odi-Lo, e acabaram tramando a sua morte na Cruz. H uma frase muito conhecida nos meios espritas: O Espiritismo o Cristianismo redivivo. Mas trata-se do Cristianismo Primitivo, e no deste de nossos dias, e muito menos do da Idade Mdia. E o Cristianismo Primitivo aceitava a reencarnao, j que os expoentes da Teologia Crist, entre eles So Clemente de Alexandria, Orgenes, So Gregrio Nasiazeno e o Papa So Gregrio Magno, eram adeptos da reencarnao. Por isso, quando o autor se diz catlico esprita, hoje, ele considera-se um adepto daquele Cristianismo Primitivo ainda no adulterado por dogmas institudos pelos telogos nos Conclios, ao longo da Histria do Cristianismo, principalmente os de Nicia de 325 e 383. E, segundo as estatsticas, a metade dos catlicos do Brasil esprita, freqentando os centros, e lendo a Literatura Esprita. E outras estatsticas mostram tambm que cerca de 70% dos catlicos crem na reencarnao. O autor considera-se includo nessas estatsticas, embora saiba que o Espiritismo propriamente dito no tem rituais, cerimnias nem Sacramentos. Mas a Doutrina Esprita no possui preconceito contra religio nenhuma. E na sua trilogia de ser Cincia, Filosofia e Religio, arrasta adeptos de outras religies, principalmente por influncia desse seu aspecto religioso. E oportuno que nos lembremos aqui de que Bezerra de Menezes teve como sendo suas ltimas palavras uma piedosa orao feita a Maria Santssima, como ele a chamava. Tambm Luiz Sayo desencarnou-se louvando-a com especial devoo. E queremos deixar claro aqui que o Espiritismo incompatvel com o Catolicismo do ponto de vista dogmtico, e no, bblico. Destarte, o que se diz catlico esprita, como vimos acima, um catlico herege. Mas no o que preconiza a Doutrina Kardecista, quando afirma que o Espiritismo no a religio do futuro, mas o futuro de toda religio? E, realmente, o que est acontecendo. Enquanto que o Espiritismo no se proclama como sendo a verdadeira religio a nica que salva -, ele est infiltrando-se entre os adeptos de outras religies. E a Igreja Catlica, na prtica, muito discretamente, mas a passos firmes, vem aceitando as verdades espritas. E uma delas a sua afirmao de que quem disser que s ela salva, est errado, pois que todos se salvaro. E, por ser a maior religio do Brasil, possui o maior nmero de adeptos com um p nela e outro no Espiritismo. E seu conceito de inferno, tambm, hoje, esprita, pois ela diz que se trata de um estado de conscincia, como o ensina o Espiritismo. O autor do livro em apreo trabalha no sentido de levar para os nossos irmos catlicos as verdades espritas, ao invs de abandonar a Igreja, pois para ele prefervel a busca da unidade da separao, que j prejudicou demais a Humanidade em sua caminhada para a perfeio, considerando justamente como sendo um dos maiores obstculos para essa nossa jornada espiritual evolutiva o fundamentalismo religioso, de qualquer que seja a religio.

Muita paz para todos ns espritas e no espritas. Belo Horizonte, 21-11-2001. Jos Reis Chaves *Autor do livro, entre outros, "A Face Oculta das Religies", Editora Martin Claret. [email protected] http://www.ajornada.hpg.ig.com.br ... Victor Leonardo da Silva Chaves > Dialtica e Espiritismo Artigos

Constantemente, no meio esprita, assistimos a palestras ou lemos trabalhos, onde o palestrante ou o escritor cita a Dialtica como se fosse uma doutrina que avalizasse a verdade. J tivemos oportunidade de consultar um artigo, cujo autor pretensamente trata da "dialtica esprita". A palavra dialtica vem do grego: prefixo "dia", que significa "atravs", e do termo "logos", que significa "palavra". Dialtica, etimologicamente, seria "arte da discusso", "arte de esclarecer", "arte de enganar", "arte de esclarecer atravs das idias". No curso da histria da Filosofia, o conceito de dialtica j passou por altos e baixo. Plato, os escolsticos e Hegel a exaltaram. Aristteles, os renascentistas e Kant a desdenharam. De meados do Sculo XIX ao XX, seu sentido foi um pouco deturpado com o fito de atender os interesses de correntes ideolgicas. Marx usou a dialtica materialista para criar seu Materialismo Histrico, a fim de explicar a marcha da humanidade sem necessitar de uma Providncia Divina. O conceito de dialtica usado hoje pelos intelectuais um misto da forma idealista de Hegel e da materialista de Marx. O constante "vir-a-ser" dialtico satisfaz ideologia indeterminista tanto do anarquismo, como a do neoliberalismo. Esse pensamento incompatvel com uma doutrina que cr em um Deus criador e providente [vide itens 5.2., 5.4., e 5.5.].

Hegel [1770-1831] graduou-se em pastor luterano. Discordando de pontos doutrinrios, abandonou o pastorado e tornou-se Professor de filosofia. Foi fortemente influenciado pelo Romantismo alemo que fazia apologia da revalorizao do pantesmo pago germnico. Essa a razo porque Hegel apresenta sempre vaga idia de Deus, identificado-O com a natureza, diferindo de um Deus criador e providente. Marx [1818-1883] era francamente materialista. Portanto, sua doutrina no podia explicar os fenmenos naturais determinados por uma Causa externa [Deus]. A teoria dialtica ajudava explicar tudo sem recorrer a determinaes externas aos fatos ou s coisas. O Romantismo surgiu no final do sculo XIX, influenciando arte, cincia, filosofia. Suas manifestaes diferiam conforme o setor, o local e o momento de aparecimento. Por isso, falamos de Romantismo alemo, italiano. Mencionamos tambm Romantismo na Msica, nas artes plsticas, na Arquitetura, etc.. Esse movimento prolongou-se por todo o Sculo XIX, ingressando no Sculo XX sob a forma do Niilismo de Nietzsche e da fenomenologia de Husserl. Ambas influenciaram o Existencialismo Fenomenolgico de Heidegger e o Existencialismo Materialista de Sartre e, mais recentemente o Estruturalismo. Por isso, a Dialtica ficou preservada para explicar todos os fenmenos da vida humana. Ela passou a fazer parte do "esprito da poca" [Zeitgeist] e, assim, perece lgica a fundamentao nela para qualquer demonstrao. Por essa razo, no Movimento Esprita Brasileiro, aparecem pessoas que so influenciadas por esse "esprito da poca" e facilmente introduzem no Espiritismo idias contraditrias a seus princpios. Essa confuso tem vrias causas. A primeira pelo fato dessa palavra ter vrios significados e, por isso, as pessoas podem estar defendendo idias dialticas diferentes, achando que esto em comunho de pensamento. A segunda poltica; na segunda metade do Sculo XX, houve uma expanso do pensamento marxista, o que ajudou a divulgar a doutrina dialtica. A terceira causa o pensamento estruturalista que dominou tambm nessa poca [com apogeu na Dcada de 60, identificando-se com a ideologia de protesto] e foi muito influenciado pelo anarquismo francs. A doutrina dialtica, embora seja uma forma de determinismo causal, induz ao indeterminismo, o que satisfaz aos interesses anarquistas, pois, o constante "vir-a-ser" inevitavelmente induz a uma indeterminao. A segunda e a terceira causas so conseqncias do Romantismo. Das vrias acepes da palavra "dialtica', vamos examinar apenas a "Dialtica Idealista de Hegel" e a "materialista de Marx", por serem essas as formas que provocam esse mistifrio no Movimento Esprita Brasileiro. Hegel alegava que toda afirmao traz dentro de si sua negao, o que evidentemente resulta na negao da primeira afirmao, o que j se torna uma segunda afirmao, contendo dentro de si sua prpria negao. Essa cosmoviso conduz necessariamente a um indeterminismo, pois nada pode ser definitivo, eliminando a possibilidade de uma determinao finalista dada por um Deus providente. Didaticamente essa teoria apresentada como consistindo de tese [posio] que produz sua anttese [oposio]. A

unio dessas duas produz a sntese [composio] que uma nova tese que produzir sua anttese. Marx no aceitou a forma idealista dessa teoria e forneceu-lhe uma explicao materialista. No justificvel neste trabalho, explicarmos a distino precisa entre essas duas formas de pensamento dialtico. Basta que o leitor entenda que dialtica resume-se didaticamente na seqncia infindvel de tese, anttese e sntese. Para exemplificar, faremos essa comparao. Os que aceitam o pensamento dialtico, usam como prova a ascenso, apogeu e declnio de vrias civilizaes do passado. Essas civilizaes ao se estabelecerem traziam dentro de si a sua "negao" ou "anttese", que a aniquilaria futuramente. Marx afirmava que o Capitalismo trazia dentro de si suas contradies, o que o destruiria. A LE 786 mostra o inverso. O nascimento, crescimento e declnio de uma civilizao so providncias de Deus - h um fator externo determinado-os - no h contradies internas. A LE 788 e EE 24.4 afirmam que os povos so individualidades coletivas, tendo uma infncia, uma idade da madureza e uma decrepitude - nascem,crescem e morrem. Especificamente, em EE 24.4 afirmado que cada coisa tem que vir em sua poca prpria, demonstrando que o aparente "vir-a-ser", que seria um indeterminismo, , na verdade, um determinismo finalista [providencial]. Todo o Captulo III do EE demonstra como a evoluo dos mundos, onde reencarnam Espritos, determinada e no ocorrendo ao sabor do indeterminismo dialtico. Portanto, a "contradio", a "anttese", vem do exterior, no est embutida na "tese", h uma determinao finalista [providencial] de um Deus providente. Outro exemplo. A morte a nica coisa certa em nossas vidas. At a velhice duvidosa, pois podemos morrer antes de atingi-la. Depois que nascemos, no fazemos outra coisa se no caminharmos para morte. Essa realidade fatalista induziu alguns pensadores a tentar explicar essa inexorabilidade da morte pela dialtica. A vida traria dentro de si sua oposio que a morte. Para a Doutrina, a essncia a vida espiritual. A passagem pela matria apenas um acidente. Aquilo que entendemos por "vida" [o perodo em que o Esprito est reencarnado na matria] o que transitrio, fugaz. Pelo contrrio, a morte no a negao da vida, mas sua continuao, ou, inversamente, a vida que uma continuao temporria da erraticidade. A morte no existe para a Doutrina. O que entendemos por morte fsica apenas o cumprimento de uma etapa da longa vida de um Esprito. Quando o Esprito reencarna sua morte [desencarnao] j est determinada, cumprindo uma finalidade e no um "vir-a-ser" indeterminado. Kardec chama esse determinismo de finalista de fatalidade, porque naquela poca o binmio determinismo / indeterminismo ainda no estava desenvolvido pela Filosofia. H uma explanao sobre o conceito de "fatalidade" da LE 851 LE 867 e na LE 872 [p.400]. A doutrina dialtica no admite autoridade externa aos fatos ou coisas, determinando-os. Julgamos que no cabe qualquer viso dialtica dentro do Espiritismo. Achamos que as opinies citadas acima, podem decorrer da falta de conhecimento ou pela induo feita pelo pensamento moderno. Seria uma manifestao do "esprito da poca" [Zeitgeist].

Victor Leonardo da Silva Chaves, Mdico e Licenciado em Filosofia

Amlcar Del Chiaro Filho > O Esprita e a Poltica Artigos

Aproximam-se as eleies, e como no poderia deixar de ser, os centros espritas so cortejados por candidatos procura de votos, oferecendo vantagens inmeras e promessas falazes. Quase sempre esbarram numa resistncia frrea, de muitos espritas, que no admitem intromisso poltica nas instituies doutrinrias, no que fazem muito bem.

Infelizmente nem todos tem esse cuidado, e por outro lado, alguns exageram e propem a criao de um partido esprita, para fazer frente aos lobbys religiosos que se formam nos cenrios polticos do pas, procurando alcanar seus propsitos proselitistas. At hoje o bom senso esprita tem prevalecido e nos livramos dessa possibilidade. Entretanto, se as instituies espritas no devem se envolver com a poltica, o esprita cidado e deve exercer os seus direitos polticos com honradez. Aqueles que tem vocao poltica devem procurar exerc-la, mas como lembra o Prof. Herculano Pires, devero revestir-se de honestidade at a medula. muito bom que, a poltica militante, que agita sentimentos, que perturba, que separa pessoas nas suas relaes de amizade e, no raro, at familiares, fique longe das nossas Instituies Doutrinrias, mas j no podemos dizer o mesmo da poltica vista como cincia superior que trabalha por melhores condies de vida, portanto, uma poltica de regras morais para o bem estar do povo, essa bem-vinda. Rui Barbosa, o extraordinrio estadista brasileiro que recebeu o ttulo de guia de Haia, pela sua atuao na Conferncia Internacional, realizada naquela capital, ao ser

admoestado pelo presidente da Assemblia, aps um seu pronunciamento, porque a poltica estava excluda dos debates, ele respondeu: "A poltica, no sentido mais corrente da palavra, essa ningum discute, est-nos absolutamente vedada. Nada temos a ver com os assuntos internacionais, com as contendas que dividem as naes, os litgios de amor prprio, de ambio ou de honra, as questes de influncia, de equilbrio ou de predomnio, aquelas que conduzem ao conflito ou guerra. Quanto a outra, na elevada acepo do termo, a mais alta e nem por isso menos prtica, no que se relaciona com os interesses supremos que unem as naes, umas com as outras, acaso pode ser-nos vedada esta poltica? No, senhores". O que queremos dizer com este trecho do discurso de Rui Barbosa, que a poltica, como concebida por Rui, no vedada aos espritas, porque trata-se da justia social, da convivncia entre as pessoas, do amor fraterno. Trata-se da construo de um mundo melhor, de paz, harmonia e dignidade, onde todos tenham o suficiente para viver, onde no exista fome, pobreza, ignorncia. Onde exista assistncia mdica, emprego, lazer e escolas em todos os nveis, para todos. Onde a criana e o idoso sejam prioridade. Onde a vida seja vivida com dignidade. Essa a poltica a que todos espritas devem estar engajados, e como eleitores, precisamos votar em candidatos que se afinem com essas idias e vivam esses ideais. (Jornal Verdade e Luz N 176 de Setembro de 2000)

... Amlcar Del Chiaro Filho > A grande tarefa do Espiritismo Artigos

Enquanto muitas pessoas procuram o Espiritismo para resolver problemas triviais da vida, embora reconheamos que alguns so especialmente dolorosos, no percebem que a grande tarefa do Espiritismo mostrar a sobrevivncia da alma, e a finalidade evolutiva do existir, assim como a orientao tico-moral, emanada do Evangelho de

Jesus de Nazar. Ao se conscientizar da sobrevivncia, o homem, se liberta do terror com que encara a morte. No entanto, o Espiritismo responsabiliza-o, tambm, pela aplicao do seu aprendizado moral, alargando os horizontes do conhecimento. Devemos considerar que no apenas o Espiritismo que ensina a sobrevivncia, todas as religies o fazem, contudo, o Espiritismo d uma nova dinmica imortalidade, tirando-a de uma situao esttica, para a dinmica. Consideramos, tambm, que a estrutura doutrinria do Espiritismo, no se limita a pregar a sobrevivncia, mas comprova-a atravs das pesquisas. Ao falar da reencarnao, no a apresenta como um dogma de f, mas como lei natural. Quanto ao Evangelho, ele visto, pelo espiritismo, como um cdigo moral, suscetvel de erros, interpolaes, adulteraes, por isso, seguindo os passos de Allan Kardec, aceitamos sem tergiversaes os ensinamentos morais do Evangelho. , sobretudo, um livro humano, portanto, com as limitaes humanas. Nele, encontramos os maravilhosos ensinamentos de Jesus de Nazar, juntamente com textos distorcidos ou interessados em defender idias, nem sempre condizente com o prprio evangelho. O Espiritismo no pode ficar subordinado a imposies dogmticas ou aos convencionalismos humanos. Em Espiritismo no cabe o crer pelo crer, pois a f deve ser racional. Sabemos que para muitos as proposies espritas so assustadoras. Unir f e razo, assim como a religiosidade filosofia e cincia, e transformar a alma ou esprito em objetos de observaes e pesquisas, pode, realmente, desestruturar a mente humana. Os msticos-religiosos, dificilmente aceitam as idias espritas. Aqueles que aprenderam ouvir e aceitar o que lhe dizem, desde crianas, sem questionar, no conseguem entender essa revoluo conceptual. Ao contrrio disso, aqueles que procuram novos rumos para as suas vidas, certamente encontraro no espiritismo roteiro seguro para a emancipao do pensamento. A f esprita, afirma Herculano Pires, como j dizia Allan Kardec, iluminada pela razo, mas a razo esprita, por sua vez, iluminada pela f, de maneira que no pode ser confundida com a razo cptica. Enquanto esta espiritualmente estril, a razo esprita espiritualmente fecunda, abrindo para a mente humana perspectivas cada vez mais amplas de compreenso do homem, do mundo e da vida. (Jornal Verdade e Luz N 169 de Fevereiro de 2000) topo o Seno Chibeni > Os acrscimos e modificaes na 13a edio francesa do Livro dos Espritos

Artigos

Em 1865, saiu a 13a edio francesa de Le Livre des Esprits. Segundo registra a Nota explicativa da reproduo da 2a edio publicada pela FEB em 1998 (ver resenha em Mundo Esprita, fevereiro de 2002, p. 5), Kardec introduziu no texto diversos acrscimos e modificaes. Ao contrrio do que aconteceu com a Errata da 5a edio (ver Mundo Esprita, ... de 2002, p....), essas alteraes se incorporaram definitivamente obra. Esto presentes nas edies correntes em francs, portugus, ingls e esperanto que pudemos consultar, o que evidencia que elas se basearam em alguma edio posterior 12a. (Alis, quase nenhuma traduo de textos espritas indica precisamente o original utilizado um indcio, dentre muitos outros, da falta de rigor editorial.) O objetivo deste artigo traduzir e comentar o trecho da Note explicative referente aos acrscimos e modificaes. Na Nota, esse trecho forma um nico pargrafo; as alteraes so numeradas por letras. Para clareza de exposio, apresentaremos os itens em pargrafos separados, mantendo porm a numerao original. Como as referncias so feitas pelas pginas e linhas da edio francesa, forneceremos entre colchetes e em itlicos informaes que facilitem a localizao em outras edies.

A) pgina 20: modificao da redao das linhas 5, 6 e 7 [perodo final do comentrio de Kardec questo 51]; B) pgina 59: indicao do Livro dos Mdiuns na nota que segue a resposta questo

137; C) pgina 60: indicao do pargrafo II na nota de rodap [no final do comentrio de Kardec questo 139]; D) pgina 107: modificao da redao e acrscimos a partir da linha 4 [item 222, sexto pargrafo do fim para o comeo (essa contagem varia de traduo para traduo), a partir da expresso Outro, no entanto, ela apresenta ... (na traduo de Guillon Ribeiro, FEB)]; E) pgina 252: supresso, conforme a Errata mencionada acima [final da resposta questo 586]; F) pginas 263/264: acrscimo no comentrio de Allan Kardec a partir do 2o pargrafo (O ponto inicial ...) [questo 613; note-se que na traduo de Guillon Ribeiro este ficou sendo o 3o pargrafo do comentrio de Kardec]; G) pgina 377: modificao do 1o sub-ttulo, de Questes morais diversas para As virtudes e os vcios [ttulo da primeira seo do ltimo captulo da 3a parte]; H) pgina 384: correo na redao da resposta questo 911, de eles para elas [note-se que na elegante e correta traduo de Guillon o pronome ficou elptico; referese s formas verbais Querem e ficam]. Conforme fizemos notar em nossa resenha da edio histrica de Le Livre des Esprits publicada pela FEB, o admirvel esforo empreendido pela Union Spirite Franaise et Francophone, que se responsabilizou pelas pesquisas bibliogrficas nas edies guardadas na Biblioteca Nacional da Frana, ficou parcialmente comprometido, no que tange ao tpico que estamos analisando no presente artigo, pela falta de preciso em alguns dos itens dessa lista de acrscimos e modificaes. Examinemos a lista: Itens B, G e H: esto inteiramente claros. Item E: dada a reproduo da Errata no final da edio, a alterao feita aqui tambm pode ser determinada com preciso (ver artigo em Mundo Esprita, ... de 2002, p. ...). Item C: h aqui uma pequena ambigidade: Kardec ter acrescentado a nota de rodap inteira ou apenas, em seu final, o smbolo II ? Item F: tambm aqui h alguma margem para dvida: o acrscimo refere-se a todo o texto do comentrio, a partir do ponto indicado, ou houve um acrscimo dentro dele? (A frase francesa ajout dans le commentaire dAllan Kardec partir... no deixa isso totalmente claro.) Item A: aqui a falta de informao grave: o que precisamente foi modificado? Item D: novamente, ficamos sem saber o que foi modificado e acrescentado no texto de quase uma pgina, a partir do ponto indicado.

Evidentemente, quem realizou as pesquisas nas edies francesas tinha todas as informaes necessrias para sanar as ambigidades e pontos obscuros que apontamos. lamentvel que elas no tenham sido fornecidas na Nota explicativa aposta no incio da edio da FEB. Mas a falha poder ser facilmente reparada em futura reedio. Como tambm j sugerimos na resenha, o rigor editorial recomendaria que todas as alteraes feitas na 13a edio (ou em qualquer outra) no fossem incorporadas ao texto histrico que a FEB, o CEI, a USFF e o IDE em boa hora deram a pblico. Este deveria ser a reproduo exata do texto da 2a edio francesa, tal qual saiu em Paris em 1860, e de que a FEB guarda precioso exemplar. Todas as alteraes ulteriores feitas por Kardec deveriam estar registradas, de forma precisa e completa, em notas ou apndices preparados pelos editores. Aguardamos, pois, que num futuro breve isso seja feito, em benefcio das pesquisas espritas, e no sentido da implantao no meio esprita de uma tradio de tratamento cuidadoso de textos como a que existe na rea acadmica. Texto publicado em Mundo Esprita, novembro/2002, p. 5.

... Silvio Seno Chibeni > Cincia Esprita Artigos

Le Spiritisme est une science qui traite de la nature, de l'origine et de la destine des Esprits, et de leur rapports avec le monde corporel. Allan Kardec 1. INTRODUO: CINCIA E PSEUDO-CINCIA Com a frase em epgrafe, que figura no Prembulo do importante livro O que o Espiritismo, Allan Kardec indica, de modo sumrio porm preciso, o objeto de estudo do Espiritismo, enquanto cincia. Quando a escreveu, em 1859, Kardec j havia, ao longo de alguns anos de investigaes tericas e experimentais intensas, desenvolvido suficientemente o Espiritismo para poder afirmar sem hesitao que se tratava de uma nova disciplina cientfica. Como bem sabido, os desdobramentos filosficos e morais que essa disciplina comporta foram igualmente objeto de grande ateno por parte de Kardec. No presente trabalho centralizaremos nossa anlise no aspecto cientfico do

Espiritismo, atendendo natureza desta seo da Revista Internacional de Espiritismo. [1] A questo de que caractersticas tornam uma disciplina merecedora do qualificativo cientfica tem ocupado lugar proeminente nos estudos dos filsofos da cincia. Notadamente nas ltimas trs dcadas, progressos significativos foram realizados no sentido de se lhe oferecer uma resposta satisfatria. Um dos elementos mais importantes nesse aperfeioamento de nossa concepo de cincia foi a maior ateno que os filsofos da cincia passaram a atribuir anlise detalhada da histria da cincia, dentro de uma abordagem historiogrfica renovada. Reconhece-se hoje entre os especialistas que a concepo comum de cincia padece de defeitos srios, por no resistir nem a variados argumentos filosficos recentemente levantados, nem ao confronto com a descrio da gnese, evoluo e estrutura das disciplinas cientficas maduras, ou seja, da Fsica, da Qumica e da Biologia. Os elementos problemticos dessa viso ordinria de cincia, esposada tanto pelo homem comum como por expressiva parcela dos prprios cientistas, compareciam igualmente nas concepes que os filsofos defendiam at a primeira metade de nosso sculo. A verso mais bem articulada dessa concepo a doutrina filosfica conhecida como Positivismo Lgico, que teve seu apogeu nas dcadas de 1920 e 1930. Por motivos que no cabe aqui examinar, essa posio filosfica exerceu entranhada influncia sobre os cientistas, e essa influncia perdura at nossos dias, a despeito daquela concepo haver sido abandonada h muito pelos filsofos. Esses fatos so importantes em nossa anlise das linhas de pesquisa que pretendem competir com o Espiritismo, pois elas comearam a surgir precisamente quando o Positivismo Lgico fornecia os parmetros segundo os quais uma atividade genuinamente cientfica se desenvolveria. Ora, tais parmetros sendo equivocados, como se percebeu depois, aquelas linhas de pesquisa nascentes, que alimentavam a pretenso cientificidade, acabaram por assimilar uma viso de cincia irreal. Isso levou a que adotassem mtodos inadequados aos fins a que se propuseram, bloqueandolhes as possibilidades de contribuir significativamente para o avano de nosso conhecimento no domnio do esprito. Lamentavelmente, a adoo de uma concepo falha de cincia levou os pesquisadores da Parapsicologia e demais linhas de investigao que surgiram aps ela a no somente empenharem infrutiferamente os seus esforos, como tambm a desprezarem, ou mesmo repelirem, as conquistas e mtodos de uma legtima cincia do esprito, surgida ainda no sculo XIX, a saber, o Espiritismo. Em trabalhos anteriores (ver Nota 1, acima) procuramos fornecer alguns detalhes dessa situao, que embasam as afirmaes precedentes. Essa tarefa pressupe, naturalmente, a comparao dos fundamentos, estrutura e mtodos do Espiritismo com aqueles que as investigaes recentes em Filosofia da Cincia mostraram caracterizar as disciplinas paradigmaticamente cientficas, como a Fsica, a Qumica e a Biologia. No h espao para reproduzir aqui as anlises que empreendemos naqueles trabalhos. Para fins de completude, porm, indicaremos a seguir, de forma simplificada, alguns de seus pontos principais.

Grosso modo, a viso comum de cincia envolve a assuno de que uma cincia inicia seu desenvolvimento com um perodo longo de coleta de dados experimentais (dados empricos, na linguagem filosfica); nessa etapa no compareceriam hipteses tericas de nenhuma espcie. Uma vez de posse de um conjunto suficientemente grande e variado de dados, os cientistas aplicariam ento certos mtodos seguros e neutros para obter as teorias cientficas, que seriam descries objetivas da realidade investigada. O exame cuidadoso da histria da cincia e os argumentos filosficos desenvolvidos pelos filsofos da cincia contemporneos mostraram que essa caracterizao da atividade cientfica no somente no corresponde ao que de fato ocorreu e continua ocorrendo com as cincias bem estabelecidas, como tambm pressupe procedimentos impossveis. Observao e teoria, experimento e hiptese nascem e se desenvolvem juntos, num complexo processo simbitico de suporte recproco. A acumulao prvia de dados neutros, ainda que fosse possvel, seria intil. Nenhum conjunto de dados leva de modo lgico a leis cientficas a imaginao criadora do homem desempenha um papel essencial na gnese das teorias cientficas. A imagem de cincia a que os filsofos da cincia chegaram a partir das conquistas recentes indica que uma cincia autntica consiste, simplificadamente, de um ncleo terico principal, formado por hipteses fundamentais. Esse ncleo circundado por hipteses auxiliares, que o complementam e efetuam sua conexo com os dados empricos. Essa estrutura mais ou menos hierarquizada faz-se acompanhar de determinadas regras, nem sempre explcitas, que norteiam o seu desenvolvimento futuro. De um lado, h as regras "negativas", que estipulam que nesse desenvolvimento os princpios bsicos do ncleo terico devem, o quanto possvel, ser mantidas inalteradas. Eventuais discrepncias entre as previses da teoria e as observaes experimentais devem ser resolvidas por ajustes nas partes menos centrais da malha terica, constitudas pelas hipteses auxiliares; regras "positivas" sugerem ao cientista como, quando e onde essas correes e complementaes devem ser efetuadas. Ao contrrio do que se supe na viso comum de cincia, no h restries sobre a natureza das leis de uma teoria cientfica, que podem inclusive ser de carter predominantemente metafsico. A restrio fundamental que a estrutura terica como um todo fornea previses empricas corretas, ou seja d conta dos fatos. O exame das teorias cientficas maduras e dos padres avaliativos adotados pelos cientistas indica ainda que algumas caractersticas devem necessariamente estar presentes em qualquer boa teoria cientfica. Inicialmente, ela deve ser consistente. Deve ser abrangente, explicando um grande nmero de fatos. Deve, por fim, apresentar as virtudes estticas de unidade e simplicidade, ou seja, a explicao que fornecem dos diversos fenmenos deve decorrer de maneira natural e simples de um corpo de leis tericas integrado e to reduzido quanto possvel. H ainda o vnculo externo de que uma teoria no deve conflitar com as demais teorias cientficas bem estabelecidas que tratam de domnios de fenmenos complementares (por exemplo, uma teoria biolgica no deve pressupor leis qumicas e fsicas que contrariem as leis bem assentadas da Qumica e da Fsica). 2. O ESPIRITISMO COMO CINCIA A inspeo meticulosa e isenta das origens, estrutura e desenvolvimento do Espiritismo revela que ele possui todos esses requisitos de uma cincia genuna. Em artigo anterior

("A excelncia metodolgica do Espiritismo") procuramos mostrar, alm disso, que Allan Kardec admiravelmente antecipou- se s conquistas recentes da Filosofia da Cincia, e compreendeu essa realidade. Sua viso de cincia, exposta explcita e implicitamente em seus escritos, corresponde viso moderna e justa mencionada acima. Isso teve a conseqncia feliz de que, ao travar contato com uma nova ordem de fenmenos, Kardec empregou em sua investigao mtodos e critrios corretos, o que possibilitou o surgimento de uma verdadeira cincia do esprito. O corpo terico fundamental do Espiritismo encontra-se delineado em O Livro dos Espritos. O exame dessa obra revela sua consistncia e seu alto grau de coeso, uma notvel concatenao das diversas leis, a amplitude de seu escopo, e o perfeito casamento da teoria com os fatos. Ademais, ali esto implcitamente presentes as diretrizes que nortearam os desenvolvimentos ulteriores das investigaes espritas. Parte significativa desses desenvolvimentos foi, como se sabe, levada a cabo pelo prprio Kardec, e se acham exarados nas demais obras que escreveu. Consoante com a natureza de uma verdadeira cincia, o desenvolvimento experimental e terico do Espiritismo prosssegue at hoje, pelos esforos de pesquisadores encarnados e desencarnados. Contrariamente ao que alguns crticos mal informados acerca do Espiritismo e das teorias cientficas contemporneas alegam, o Espiritismo no conflita com qualquer uma das teorias cientficas maduras, quer da Fsica, quer da Qumica ou da Biologia. de crucial importncia notar, como o fez Kardec, [2] que embora o Espiritismo seja uma cincia, ele no se confunde com as referidas cincias, do mesmo modo como elas no se confundem entre si. Os domnios de fenmenos por elas tratados no coincidem, sendo antes complementares. A percepo dessa distino evita uma srie de julgamentos e posturas equivocados, que tm ameaado at mesmo o prprio Movimento Esprita. Vem-se, com efeito, pessoas que imaginam que a cincia esprita consiste em determinadas investigaes envolvendo experimentos conduzidos com o auxlio de aparelhagens de uso nos laboratrios de Fsica, e dentro de referenciais terico-conceituais emprestados Fsica. Assume-se, assim, que o uso desses aparelhos e o emprego de terminologia tcnica (alis quase sempre incompreendida por quem a usa dentro de tais contextos) que confere cientificidade a essas investigaes. Dada a relevncia da elucidao dos srios enganos envolvidos em semelhantes alegaes, nesta Seo e na seguinte nos deteremos um pouco mais sobre elas. [3] A observao mais importante a de que o estabelecimento dos princpios bsicos do Espiritismo prescinde completamente do uso de qualquer aparelho e do recurso a qualquer teoria fsica. O mais fundamental de tais princpios o da existncia do esprito, ou seja, da existncia de algo no homem que a sede do pensamento e dos sentimentos e sobrevive morte corporal. Como enfatizou Kardec, a comprovao cabal desse princpio se d atravs dos fenmenos a que denominou "de efeitos intelectuais", quais sejam a tiptologia, a psicofonia e a psicografia. Quem quer que reflita isentamente sobre fenmenos dessa ordem no ter dificuldade em reconhecer que atestam a existncia do esprito de modo inequvoco as tentativas de "explicaes" alternativas que se tm procurado oferecer surgiro como ridculas.

Nessa avaliao, importante notar a diferena que existe entre esse princpio bsico do Espiritismo e alguns dos princpios das teorias fsicas e qumicas contemporneas, por exemplo. Neste ltimo caso, o "grau terico" (se assim nos podemos exprimir) muito maior, ou, em outros termos, os princpios esto muito mais distantes do nvel fenomenolgico, ou seja, da observao emprica direta. Em tal caso, o caminho que vai da observao at o princpio terico bastante indireto e tortuoso, passando por uma srie de teorias auxilires, necessrias, por exemplo, para tratar do funcionamento e interpretao dos dados dos aparelhos envolvidos. Nessas circunstncias, a segurana com que os princpios podem ser asseridos fica evidentemente limitada; h em geral possibilidades plausveis de explicaes dos mesmo fenmenos atravs de princpios tericos diferentes; a histria da Fsica e da Qumica tem ilustrado a vulnerabilidade de suas teorias. No caso do princpio esprita em questo (bem como de vrios outros dos princpios bsicos do Espiritismo), a situao bastante diversa. Trata- se de um princpio pertencente classe de princpios a que os filsofos denominam "fenomenolgicos", que esto na base do edifcio do conhecimento, dado o seu alto grau de certeza. Proposies dessa classe so, por exemplo, as de que o Sol existe, de que o fogo queima e a cicuta envenena, a de que determinado familiar veio nos visitar no dia tal e nos deixou uma caixa de bombons, etc. Nestes casos, embora explicaes alternativas sejam em princpio possveis, [4] elas so to inverossmeis que no merecem o assentimento de nenhum ser racional. Notemos que a inferncia esprita diante de um fenmeno de efeitos intelectuais no difere em nada das inferncias que fazemos a partir dos fenmenos ordinrios. Quando, por exempo, o carteiro traz nossa casa um papel no qual lemos certas frases, no nos acudir cabea a idia de que elas no foram escritas por um determinado amigo, por exemplo, quando relatam fatos, contm expresses e expressam pensamentos peculires e ntimos. Exatamente o mesmo se d com os abundantes e variados casos de psicografia de que todos somos testemunha. No constitui exagero, pois, afirmar-se que a constatao cuidadosa de uns poucos casos dessa espcie (como por exemplo os que nos tm oferecido a extraordinria mediunidade de Chico Xavier) suficiente para eliminar qualquer dvida. Como se isso no bastasse, a base experimental do Espiritismo incorpora ainda muitos outros tipos de fenmenos, como a psicofonia, a xenoglossia, as materializaes, os casos de vidncia, a pneumatografia e a pneumatofonia, etc. Alm desses fenmenos, que formam uma classe especfica, a dos fenmenos espritas, o Espiritismo apoia-se tambm, em virtude de oferecer-lhes explicaes cientficas, em uma multido de fenmenos ordinrios. Referimo-nos, por exemplo, s nossas inclinaes e sentimentos, s peculiaridades de nosso relacionamento com as pessoas que nos cercam, aos acontecimentos marcantes de nossas vidas, aos distrbios da personalidade, aos efeitos psicosomticos, aos sonhos, evoluo das espcies e das civilizaes, etc. Entendemos que a desconsiderao desse vasto corpo de evidncias indiretas a favor do Espiritismo constitui omisso sria da parte de seus crticos. Com seu agudo senso cientfico, Kardec percebeu desde o incio que o alcance do Espiritismo transcendia de muito os fenmenos medinicos e anmicos especficos que motivaram o seu surgimento. Referindo-se s suas impresses diante das realidades novas que se lhe iam descortinando atravs de suas cuidadosas observaes e raciocnios, Kardec assim se expressou: "Logo compreendi a gravidade da explorao que ia empreender; entrevi naqueles fenmenos a chave do problema to obscuro e to controvertido do passado e

do futuro da Humanidade, a soluo do que eu havia procurado durante toda a minha vida; era, numa palavra, toda uma revoluo nas idias e nas crenas (...)". [5] "O estudo do Espiritismo imenso", disse Kardec em outra passagem; "interessa a todas as questes da metafsica e da ordem social; todo um mundo que se abre diante de ns." [6] 3. PSEUDO-CINCIAS DO ESPRITO Na Seo precedente iniciamos a enumerao dos mtodos e procedimentos anticientficos que caracterizam as linhas de pesquisa alternativas do esprito, indicando que a natureza de seu objeto de estudo tal que o recurso a aparelhos e a mtodos quantitativos em geral dispensvel e mesmo arrriscado, pelos enganos a que pode levar. Isto vale pelo menos quanto ao estabelecimento dos princpios fundamentais da cincia do esprito, concebendo-se que em um futuro distante o detalhamento de alguns pontos mais tcnicos, como por exemplo os relativos s leis dos fluidos, possa requerer uma integrao mais estreita com a fsica e a qumica mais refinadas de ento. Prosseguiremos agora nossa enumerao, comeando por um tpico ligado ao que expusemos no final da Seo precedente. Referimo-nos abrangncia do Espiritismo. O escopo dessa cincia incomparavelmente mais amplo do que o de todas as teorias alternativas. Uma inspeo destas ltimas mostra que consideram apenas uns poucos fenmenos isolados, sem levar em considerao uma multido de outros, igualmente relevantes. Esse desprezo de fatos importantes resulta essencialmente de duas fontes: 1) preconceitos e interesses diversos; e 2) falta de um corpo terico que norteie a pesquisa experimental. Quanto ao primeiro fator, no h o que comentar. Quanto ao segundo, notemos que est intimamente ligado falsa concepo de cincia adotada, que imagina ser possvel se fazer cincia sem teoria. Outra deficincia sria que apresentam esses sistemas no-espritas que mesmo para os grupos reduzidos de fenmenos que levam em conta, as explicaes oferecidas pecam pela falta de unidade e organicidade, recorrendo a leis e princpios desconectados. Alm disso, tais explicaes em geral falham em satisfazer um outro requisito fundamental de uma genuina explicao cientfica: a simplicidade. As explicaes so em geral ainda mais inexplicveis que os fatos que se propem a explicar. Encontramos ainda explicaes puramente verbais, ou seja, que no apresentam qualquer contedo, limitando- se ao uso de termos tcnicos, buscados nas diversas cincias ou criados a esmo, procurando-se com isso conferir ares cientficos suposta explicao. Muitas pessoas no familarizadas com a cincia deixam-se fascinar por tais artifcios, no percebendo que qualquer explicao satisfatria deve caracterizar-se pela clareza e inteligibilidade (como nos d magnfico exemplo o Espiritismo) e que o recurso linguagem tcnica s legtimo dentro do contexto terico que lhe prprio. Outro tipo freqente de deficincia que notamos nos sistemas que pretendem competir com o Espiritismo refere-se ao recurso a conceitos e teorias cientficas obsoletos, ou o

uso no-profissional das teorias contemporneas. As cincias, principalmente a Fsica e a Qumica, passaram por transformaes radicais em nosso sculo as teorias atuais envolvem conceitos extremamente abstratos, distantes da intuio do senso comum, alm de tcnicas matemticas de grande complexidade. Em seus aspectos essenciais, essas teorias no so acessveis ao leigo, que, quando instrudo, em geral ainda tem para si a imagem do mundo fornecida pelas teorias do sculo passado. Os muitos livros de popularizao da cincia via de regra no resolvem esse problema; mesmo quando so escritos por profissinais (o que raro), inevitavelmente tm de recorrer a simplificaes drsticas, que resultam em distores srias na imagem que oferecem das teorias expostas. Como resultado, a virtual totalidade das pessoas que tm se aventurado a estabelecer vnculos diretos entre os fenmenos espritas e as teorias da Fsica cai, ou no recurso a teorias superadas, ou em confuses que mostram-se ridculas aos olhos dos cientistas com formao profissional. Essas pessoas acabam pois involuntariamente prestando um desservio causa da investigao cientfica do esprito. Mais um fator importante que entrava as linhas de pesquisa no-espritas o sistemtico desprezo pelas contribuies anteriormente efetuadas por outros pesquisadores. Cada um quer comear tudo de novo, e criar seu prprio sistema. Se a dvida equilibrada representa prudncia, quando se torna irrestrita e irrefletida, aliando-se presuno e ao orgulho, inviabiliza o avano do conhecimento. Se nas cincias acadmicas se tivesse adotado semelhante atitude, elas estariam ainda em seus primrdios. Por fim, lembramos ainda que muitas das tentativas no-espritas de estudo dos fenmenos espritas fracassam por no reconhecer a influncia de fatores morais em sua produo, influncia essa que em em certos casos determinante. 4. PERSPECTIVAS DA CINCIA ESPRITA Como vimos na Seo 1, uma cincia autntica deve envolver um programa de pesquisa, que auxilie o seu progresso. Com a lucidez cientfica que lhe era peculiar, Allan Kardec apontou diretrizes seguras para o desenvolvimento do Espiritismo. De um lado, temos suas anlises que advertem contra os mtodos e procedimentos anticientficos que poderiam embaraar a marcha do Espiritismo. Nas duas sees precedentes enumeramos alguns dos mais importantes deles; Kardec percorreu-os todos, e ainda outros, oferecendo slida fundamentao s suas crticas. [7] De outro lado, Kardec legou-nos investigaes paradigmticas sobre os tpicos mais fundamentais da cincia esprita, que serviram de modelo pra os pesquisadores que vieram aps ele, e que devem continuar desempenhando essa tarefa nas pesquisas futuras. Simplificadamente, poderamos classificar assim as reas principais de investigao esprita: 1. ) Evoluo do esprito: o elemento espiritual dos seres dos reinos inferiores; origem dos espritos humanos; encarnao e reencarnao pluralidade dos mundos habitados. 2. ) O mundo espiritual.

3. ) Interao esprito-corpo: perisprito, efeitos psicossomticos, mediunidade. 4. ) Implicaes morais (uma rea cientfica e filosfica): livre-arbtrio, lei de causa e efeito. Note-se que no inclumos o tpico "comprovao da existncia do esprito". A ra