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se manifesta na agroecologia. Sua idéia está resumida na inspirada definição de Sevilla Guzmán: "Em um esforço de síntese, a estratégia agroecológica poderia ser definida como o manejo ecológico dos recursos naturais que, incorporando uma ação social coletiva de caráter participativo, permita projetar métodos de desenvolvimento sustentável. Isso se realiza através de um enfoque holístico e uma estratégia sistêmica, que reconduza o curso alterado da evolução social e ecológica, mediante o estabelecimento de mecanismo de controle das forças produtivas para frear as formas de produção degradantes e expoliadoras da natureza e da sociedade, causadoras da atual crise ecológica. Em tal estratégia o papel central da dimensão local como portadora de um potencial endógeno que, através da articulação do conhecimento camponês com o científico, permita a implementação de sistemas de agricultura alternativa potenciadores da biodiversidade ecológica e sociocultural." (Guzmán, 1997) BIBLIOGRAFIA: - CNMAD (Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). Nosso Futuro Comum, Rio de janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1988. - SACHS, Ignacy. Ecodesenvolvimento: Crescer sem destruir. São Paulo: Vértice, 1986. - GUZMÁN, E. Sevilla. Origem, Evolução e Perspectivas do Desenvolvimento Sustentável. In AlMEIDA, jalcione e NAVARRO, Zander (orgs). Reconstruindo a Agricultura; Idéias e Ideais na Perspectiva do Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre: Editora da Universidade - UFRGS, 1997, p.19-32. Carlos Eduardo Mazzeto Silva é Engenheiro Agrônomo, mestrando em Geografia IGC/UFMG, assessor do Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata (CTA-ZM) A ciência do solo e o desafio da sustentabilidade agrícola A Evolução da Agricultura O homem primitivo dependia, para sua sobrevivência, da caça, pesca e plantas comestíveis encontradas ao seu redor sendo, assim, altamente dependente dos recursos naturais disponíveis. Sua adaptação ao meio era total pois ele vivia como parte integrante deste e, provavelmente, não causando maiores impactos ao equilíbrio ambiental do que qualquer outra espécie viva. Com o advento revolucionário da agricultura, o homem passou a desenvolver trabalhos que modificavam o meio natural para produzir vegetais e animais úteis a si próprio. A agricultura, então, possibilitou ao homem transcender aos limites naturais impostos pelo Derli P. Santana Antônio F. C. Bahia Filho meio físico porque ele passou a modificá-I o em seu próprio benefício. Desde esta remota origem, a agricultura tem sofrido uma evolução contínua, procurando sempre favorecer a espécie de seu interesse. A agricultura dita modema surgiu nos séculos XVIII e XIX, a partir da intensificação dos sistemas rotacionais com plantas forrageiras e da fusão das atividades agrícola e pecuária. Nesta fase, conhecida como Primeira Revolução Agrícola, a introdução de plantas forrageiras nos sistemas produtivos, além de servir como fonte alimentar para os animais, possibilitou melhorias na fertilidade dos solos, principalmente quando se empregaram plantas leguminosas, capazes de fixar o nitrogênio atmosférico (Veiga, 1991). BOLETIM INFORMATIVO - Sociedade Brasileira de Ciência do Solo

A ciência do solo e o desafio da sustentabilidade agrícolaainfo.cnptia.embrapa.br/.../bitstream/item/43550/1/Ciencia-solo.pdf · genética aplicada à agricultura, culminando, na

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se manifesta na agroecologia. Sua idéia estáresumida na inspirada definição de SevillaGuzmán:

"Em um esforço de síntese, aestratégia agroecológica poderia ser definidacomo o manejo ecológico dos recursos naturaisque, incorporando uma ação social coletivade caráter participativo, permita projetarmétodos de desenvolvimento sustentável. Issose realiza através de um enfoque holístico euma estratégia sistêmica, que reconduza ocurso alterado da evolução social e ecológica,mediante o estabelecimento de mecanismo decontrole das forças produtivas para frear asformas deprodução degradantes e expoliadorasda natureza e da sociedade, causadoras daatual crise ecológica. Em tal estratégia opapelcentral da dimensão local como portadora deum potencial endógeno que, através daarticulação do conhecimento camponês como científico, permita a implementação desistemas de agricultura alternativapotenciadores da biodiversidade ecológica esociocultural." (Guzmán, 1997)

BIBLIOGRAFIA:- CNMAD (Comissão Mundial sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento). NossoFuturo Comum, Rio de janeiro: Fundação GetúlioVargas, 1988.

- SACHS, Ignacy. Ecodesenvolvimento:Crescer sem destruir. São Paulo: Vértice, 1986.

- GUZMÁN, E. Sevilla. Origem,Evolução e Perspectivas do DesenvolvimentoSustentável. In AlMEIDA, jalcione e NAVARRO,Zander (orgs). Reconstruindo a Agricultura; Idéiase Ideais na Perspectiva do DesenvolvimentoRural Sustentável. Porto Alegre: Editora daUniversidade - UFRGS, 1997, p.19-32.

Carlos Eduardo Mazzeto Silva éEngenheiro Agrônomo, mestrando em

Geografia IGC/UFMG, assessor do Centro deTecnologias Alternativas da Zona da Mata

(CTA-ZM)

A ciência do solo e o desafio dasustentabilidade agrícola

A Evolução da AgriculturaO homem primitivo dependia, para

sua sobrevivência, da caça, pesca e plantascomestíveis encontradas ao seu redor sendo,assim, altamente dependente dos recursosnaturais disponíveis. Sua adaptação ao meioera total pois ele vivia como parte integrantedeste e, provavelmente, não causando maioresimpactos ao equilíbrio ambiental do quequalquer outra espécie viva.

Com o advento revolucionário daagricultura, o homem passou a desenvolvertrabalhos que modificavam o meio natural paraproduzir vegetais e animais úteis a si próprio.A agricultura, então, possibilitou ao homemtranscender aos limites naturais impostos pelo

Derli P. Santana

Antônio F. C. Bahia Filho

meio físico porque ele passou a modificá-I o emseu próprio benefício.

Desde esta remota origem, a agriculturatem sofrido uma evolução contínua, procurandosempre favorecer a espécie de seu interesse. Aagricultura dita modema surgiu nos séculos XVIIIe XIX, a partir da intensificação dos sistemasrotacionais com plantas forrageiras e da fusãodas atividades agrícola e pecuária. Nesta fase,conhecida como Primeira Revolução Agrícola, aintrodução de plantas forrageiras nos sistemasprodutivos, além de servir como fonte alimentarpara os animais, possibilitou melhorias nafertilidade dos solos, principalmente quando seempregaram plantas leguminosas, capazes defixar o nitrogênio atmosférico (Veiga, 1991).

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Em meados do século XIX, o químicoalemão Justus von Liebig 0803-1873), combase em experimentos laboratoriais, afirmavaque todas as exigências nutricionais das plantaspoderiam ser supridas por um conjuntobalanceado de substâncias químicas. Suasdescobertas introduziram a prática da adubaçãoquímica na agricultura e abriram um amplomercado para o setor industrial. Para osagricultores, esses produtos possibilitaram asubstituição da fertilização promovida pelasrotações de culturas e pelo esterco animal,trazendo as seguintes vantagens: simplificaçãodo processo produtivo e aumento daprodutividade das lavouras (Romeiro, 1992).

Nas primeiras décadas do século XX,além da fertilização dos solos, outras etapas doprocesso produtivo passaram a ser assumidasou apropriadas pelo setor industrial emergente.Nesta fase, os sistemas de cultivos rotacionais,integrados com produção animal, foramsubstituídos, em larga escala, por sistemasespecializados, baseados no emprego crescentede energia fóssil e de insumos industriais, como:os adubos químicos, os agrotóxicos, os motoresde combustão interna e as variedades vegetaisde alto potencial produtivo. Esse conjunto deinovações, que mais tarde caracterizou o padrãoprodutivo da Segunda Revolução Agrícola,elevou de forma exponencial tanto osrendimentos físicos das lavouras quanto aprodutividade do trabalho (Romeiro, 1992).

Após a Segunda Guerra Mundialintensificou-se o ritmo das inovaçõestecnológicas, especialmente no campo dagenética aplicada à agricultura, culminando, nadécada de 70, com a chamada Revolução Verde.Esta espalhou para as extensas áreas dos paísessubdesenvolvidos os sucessos do padrão que jáera convencional na Europa, nos Estados Unidose no Japão. Levava consigo, além do chamado"pacote tecnológico", a esperança de resolveros problemas da fome. De fato, a produçãototal da agricultura cresceu vertiginosamente, masnos anos 80, a euforia das grandes safras cederialugar a uma série de preocupações relacionadasaos problemas sócio-econômicos e ambientaisprovocados por esse padrão produtivo.

Do ponto de vista ambienta I, asubstituição dos sistemas de rotação com altadiversidade cultural por sistemas simplificados,baseados no emprego de insumos industriaisquímicos, motomecânicos e de variedades

vegetais geneticamente melhoradas epadronizadas, afetou drasticamente a estabilidadeecológica da produção agrícola (Romeiro, 1992).A destruição das florestas e da biodiversidadegenética, a erosão dos solos e a contaminaçãodos recursos naturais e dos alimentos tornaram-se quase inerentes à produção agrícola. Estacrescente preocupação com o ambiente e coma qualidade de vida no planeta levou aosurgimento de um novo "paradigma" dassociedades modernas: a "sustentabilidadeagrícola".

Sustentabilidade AgrícolaO novo paradigma procurava transmitir a

idéia de que o desenvolvimento e o crescimentoda agricultura devem atender às necessidadesdesta e das próximas gerações, ou seja, deveser algo benigno para o ambiente e para asociedade, durante longos períodos. Quenecessidades são essas, as dos países maisindustrializados com elevado padrão de consumoou as dos países pobres, cujo consumo beira oslimites da subsistência? Embora a maioria apreciea preservação ambiental, permanece o fato deque "édifícil ser verde quando se está novermelho", opinião expressa por um agricultorda Austrália, indicando que viabilidade econômicae sobrevivência ainda são os principais objetivosdaqueles que lidam com a terra (Doran etal.,1998). Muito mais do que uma resposta aosproblemas contemporâneos do industrialismo,essa noção lançava uma série de dúvidas edesafios.

Dentro deste enfoque surgiram váriasdefinições procurando explicar o que se entendepor "agricultura sustentável", quase todasexpressando insatisfação com o padrão ditomoderno da agricultura e defendendo anecessidade de um novo padrão que garanta asegurança alimentar e que não agrida o meioambiente. Teve-se, então, uma amplitude deconceitos que permite abrigar uma gama deinteresses que abrangem desde setores maisconservadores que se contentariam com simplesajustes nos atuais padrões produtivos, atétendências radicais que defendem mudanças emtodo o sistema agroalimentar. Apesar dascontradições em tomo da expectativa em relaçãoao teor de mudanças, há um consenso no sentidode que agricultura sustentável é, antes de maisnada, um objetivo a ser atingido, e que este podeser explicado por "renda para o agricultor e

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preservação ambiental", Neste sentido, adefinição de agricultura sustentável propostapelo National Research Council dos EstadosUnidos (NRC, 1991), é uma das mais aceitasinternacionalmente:"Agricultura sustentável não constitui algumconjunto de práticas especiais, mas sim umobjetivo que é o de alcançar um sistemaprodutivo de alimento efibras que possibilite:(a) aumentar a produtividade dos recursosnaturais e dos sistemas agrícolas, permitindoque os produtores respondam aos níveis dedemanda engendrados pelo crescimentopopu lacional e pelo desenvolvimentoeconômico;(b)produzir alimentos sadios e nutritivos quepermitam o bem estar humano;(c) garantir renda líquida suficiente para queos agricultores tenham um nível de vidaaceitável e possam investir no aumento daprodutividade do solo, da água e de outrosrecursos, e(d) corresponder às normas e expectativas dacomunidade. ))

Assumindo que "para se ter umaagricultura sustentável é necessário ummanejo sustentável", a FAO constituiu umgrupo internacional de trabalho para estabele-cer a base do entendimento e do conceito de"manejo sustentável". Para este grupo (Smythet al.,1993), "Manejo sustentável combinatecnologias, políticas e atividades integrandoprincípios sócio-econômicos com preocupaçõesambientais de modo que se possa, simultanea-mente:

manter ou melhorar a produção e osserviços (produtividade),

reduzir o nível de risco da produção(segurança),

proteger o potencial dos recursos naturaise prevenir a degradação da qualidade do solo eda água (proteção),

ser economicamente viável(viabilidade), e

ser socialmente aceitável(aceitabilidade). »

Estes cinco objetivos, ou seja,produtividade, segurança, proteção, viabilidadee aceitabilidade, são os "pilares" (fundação)sobre os quais o paradigma do manejosustentável é construído. Para se atingir asustentabilidade completa é necessário alcançartodos os cinco objetivos.

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Utilizando este enfoque, Gomez etal.(1996) desenvolveram um modeloSimplificado para se avaliar a sustentabilidadede sistemas de produção, em nível depropriedade, baseado no conceito de que "umsistema é considerado sustentável se eleconserva o recurso natural e continuasatisfazendo as necessidades doagricultor, o gerente do sistema". Elesassociam produtividade, estabilidade, viabilidadee aceitabilidade ao aspecto "satisfação doagricultor", e proteção ao aspecto "conservação".Utilizando indicadores (limites estabelecidos deacordo com a média da situação na região), omodelo permite avaliar a sustentabilidade desistemas de produção.

Por outro lado, Doran (1997) afirma quea melhor maneira de se avaliar a sustentabilidadede um sistema de produção é medir o seuimpacto na qualidade do solo.

Qualidade do Solo eSustentabilidade Agrícola

Qualidade do solo descreve a capacidadedo solo para exercer as funções de produçãobiológica, qualidade do ambiente e promover asaúde das plantas e dos animais, de maneirasustentável. Larson e Pierce (1991) sugeriramque a qualidade do solo deve ser consideradacomo composta de suas propriedades física,química e biológica, de modo que permitam:(O meios para o desenvolvimento das plantas;(ii) regular a distribuição da água no meioambiente;(iii) funcionar como um tampão ambiental naformação, atenuação, e degradação decompostos danosos ao meio ambiente.

A qualidade do solo é o vínculo maisimportante entre o sistema de produção e asustentabilidadde da agricultura. Se o solo ficadegradado, mais recursos em termos de tempo,dinheiro, energia, e agroquímicos vão sernecessários para produzir menor quantidade dealimentos e de pior qualidade, e os objetivos dasustentabilidade da agricultura não serãoalcançados. Por outro lado, se a degradação dosolo é revertida e a qualidade do solo é mantidaou melhorada, pela utilização de métodosadequados, a sustentabilidade da agriculturapode ser uma realidade (Acton e Gregorich,1995). Portanto, a qualidade do solo é umcomponente crítico de uma agriculturasustentável, e um sistema de produção pode

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ser sustentável apenas quando a qualidade dosolo é mantida ou melhorada (Santana e BahiaFilho, 1998). Este enfoque encerra em seuconceito a grande responsabilidade que nós,cientistas do solo, temos com a sustentabilidadeda agricultura.

Agricultura Sustentável e GlobalizaçãoAs características da agricultura como

atividade econômica são definidas porcondicionantes de ordem ambiental e sócio-eco-nômica , que interagem no espaço agrícola. Poroutro lado, as atividades do agricultor não sãoisoladas, ele trabalha com sistemas de produ-ção, e está inserido num contexto mais amploque são as chamadas cadeias produtivas. Essas,por sua vez, com a globalização da economia,são pressionadas para que se tenha produtosde menor custo, melhor qualidade do produtofinal e preservação ambienta!. Há uma especi-alização naqueles produtos e serviços que ofe-recem vantagens competitivas.

Neste enfoque, o desenvolvimentotecnológico passa a ser visto como componenteessencial mas não único de um processo maisamplo e global, devendo levar em conta oambiente e as necessidades do público neleinserido, através de uma ótica de âmbito eco-regional e da inserção dos sistemas de produçãoe cadeias produtivas nesse âmbito. Para tal, énecessária uma visão holístíca e sistêrnica dasunidades produtivas e de sua inserção no âmbitodas cadeias produtivas locais e regionais, ondeo fundamental será identificar com segurançaos pontos nos quais as ações de P & D poderãoacarretar um impacto expressivo nasustentabilidade dos sistemas de produção.

Além de considerar as interações entreos componentes agroecológicos esócioeconômicos, os sistemas de produção têmque envolver os potenciais usuários ebeneficiá rios - produtores, agentes de assistênciatécnica e extensão rural e demais segmentosdo negócio agrícola - na identificação deproblemas e demandas, planejamento,execução e avaliação conjunta, com presençaefetiva de produtores e técnicos, em diferentesetapas do processo. O objetivo é assegurarmaior adequação das alternativas àscircunstâncias que determinam a tomada dedecisão dos produtores em aceitar ou rejeitar asofertas tecnológicas preconizadas. Dentro desteprisma, podemos afirmar que:

"Um sistema de produçãosustentável é aquele que satisfaz as necessidadesdo agricultor (competitividade) e preserva omeio ambiente (preservação), enfatizandosempre a interação entre recursos naturais easpectos sócio-econôm icos (cadeiaagroalimentar), visando a sustentabilidade daagricultura e o bem estar da sociedade em geral,para esta geração e as que se seguirem ".

Agricultura Sustentável eDesenvolvinlento Sustentável

Tudo indica que o surgimento daexpressão "desenvolvimento sustentável" tenhatido como fonte de referência a noção de"agricultura sustentável ", pois esta já contavacom mais tradição nos debates na área agrícola(Ehlers,1995).

Em 1987 no chamado "RelatórioBrundtland - Nosso Futuro Comum" da ONU, odesenvolvimento sustentável foi conceituadocomo "aquele que atende as necessidadesdo presente sem comprometer a possi-bilidade das gerações futuras atenderemas suas próprias".

Já a Agenda 21, documento originárioda Conferência das Nações Unidas sobre MeioAmbiente e Desenvolvimento, também chamadaConferência do Rio ou Eco 92, assim conceitua:

"É um desenvolvimento com vistas auma ordem econômica internacional mais justa,incorporando as mais recentes preocupaçõesambientais, sociais, culturais e econômicas".

Assim, "o desenvolvimento sus-tentável tem a qualidade de vida comoobjetivo central apoiado na utilizaçãosustentável dos recursos naturais, ageração e utilização de tecnologiasadequadas e a democratização doprocesso decisõrio".

Este é um novo desafio que é mais sérioem países em desenvolvimento e que pode servisualizado na resolução de um triângulo críticoque sintetiza as aspirações de crescimentoeconômico, redução da pobreza e produçãosustentável.

Não são simples as soluções para enfrentareste desafio sendo necessárias mudanças deatitude e de direcionamento de políticasgovernamentais, de instituições, agricultores eda sociedade nos seguintes pontos:a) investimentos em ciência e tecnologia que

reduzam o grau de incerteza acerca das

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CRESCIMENTO·ONÔMICO

consequencias da atividade produtiva noambiente gerando novas tecnologias deprodução não agressivas e que promovamcrescimento econômico.

b) investimentos no monitoramento ambientalpara a geração de uma base de dadosconfiável para uso em modelos de predição.

c) criação de mecanismos efetivos de incentivoa instituições públicas e privadas pararesponder ao desafio da produçãosustentável.A formatação atual de instituições não é

adequada para enfrentar estas questões face àdificuldade de se desenvolver ações integradasde natureza interdisciplinar.

Do ponto de vista de avaliação desistemas agrícolas há carência generalizada demodelos e de indicadores de sustentabilidade.Nesse sentido, um modelo de avaliação deveriaconsiderar os aspectos de energia, conservaçãode recursos naturais, estabilidade da produção erenda para o agricultor. Dentro de cada umdesses componentes é necessária a utilizaçãode indicadores que sejam capazes de refletir ocomportamento de cada sistema frente aocomponente avaliado (Santana e Ba h iaFilho,1998), área em que nós, cientistas do solo,temos muito a contribuir.

Derli P. Santana e Antônio F. C. Bahia Filhosão pesquisadores da Embrapa./ CNPMS - SeteLagoas - Minas Gerais.

Literatura Citada

ACTON,D., & GREGORICH,Lj. The Health ofour Soils. Toward Sustainable Agriculture inCanada. Agric. Agri-food.Can.Otawa.1995.138p.

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