A Cobertura Midiática Da Mídia Ninja Pela Grande Imprensa

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  • 7/26/2019 A Cobertura Miditica Da Mdia Ninja Pela Grande Imprensa

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    XII POLITICOM Juiz de Fora (MG) - 17 e 18 de Outubro de 2013XI Encontro Regional de Comunicao Juiz de Fora (MG) - 15 e 16 de Outubro de 2013

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    A cobertura miditica da Mdia Ninja pela Grande Imprensa 1

    Susana Azevedo Reis 2Luiza Quinet Ramos Perez 3

    Christina Ferraz Musse4Universidade Federal de Juiz de Fora

    RESUMO

    Este artigo tem como objetivo buscar entender como a considerada grande mdia, que se constituicomo as grandes emissoras de TV e jornais mais conceituados no cenrio nacional, realiza a

    cobertura das aes da denominada Mdia Ninja e procura entender o papel do movimento nocenrio do jornalismo brasileiro, e nas aes dos protestos ocorridos em junho de 2013. Para taljulgamento, iremos analisar o assunto destacando os debates realizados no programa audiovisualObservatrio da Imprensa, realizado no dia 30 de junho de 2013, e no programa Roda Viva,realizado dia 5 de agosto de 2013. Estes programas deram nfase dvida sobre o conceito dejornalismo, quando empregado para definir a Mdia Ninja, alm de questionarem outrasquestes que podem, ou no, ser de interesse do expectador e de estudiosos.

    PALAVRAS-CHAVE:comunicao; mdia ninja; jornalismo

    Introduo

    O jornalismo vive em constante mudana, desde a inveno da escrita at hoje. Estamos

    em 2013 e existem variadas formas de nos conectarmos ao mundo, recebendo e transmitindo

    informaes. Aquele indivduo que antes estava passivo em casa, assistindo novela ou ao filme,

    hoje comenta sobre eles nas redes sociais; aquele que ia ao protesto e se via na televiso no dia

    1 Trabalho apresentado ao GT 2 - Jornalismo da Comunicao do XI Encontro Regional de ComunicaoJuiz de Fora (MG)

    2Bolsista de iniciao cientfica, estudante de graduao do 4 perodo de Jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora.Email:[email protected]

    3Bolsista de iniciao cientfica, estudante de graduao do 2 perodo de Jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora.Email:[email protected]

    4Jornalista, mestre e doutora em Comunicao e Cultura pela UFRJ. Professora da UFJF no curso de Jornalismo e no Programade Ps-Graduao em Comunicao. Coordenadora do projeto Cidade e memria: a construo da identidade urbana pelanarrativa audiovisual. E-mail: [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    seguinte, hoje faz seu prprio vdeo e posta na internet. Vivemos em uma poca onde busca-se

    descobrir a todo o tempo o que ou no jornalismo.

    O aparecimento das mdias consideradas no tradicionais a partir do desenvolvimento da

    tecnologia, como a Mdia Ninja, as postagens individuais nas redes sociais, as publicaes devdeos e textos opinativos em blogs, sites e canais de vdeo, podem facilitar o acesso dos

    cidados informao rpida e instantnea, promovendo a dvida sobre a verdadeira funo do

    jornalismo na sociedade.

    A Mdia Ninja ganhou destaque nos protestos nacionais atravs de seus prprios veculos

    de difuso de informao, afanpagena rede social Facebook e o canal Ps-TV, e pela cobertura

    da mdia convencional, que buscou entender como esse processo aonde cidados comuns,

    principalmente jovens estudantes, vo s ruas e veiculam imagens de protestos, em seu estado

    bruto. Como essa mdia convencional analisou esse movimento?

    O que jornalismo?

    Na sociedade atual, onde h uma grande quantidade circulao de informao, por vrios

    meios de comunicao possveis, nos questionamos muitas vezes o que jornalismo. Segundo

    Nelson Traquina, preciso coragem para tentar fazer uma boa definio do termo.

    Pode mesmo parecer absurdo pensar que podemos responder pergunta O que jornalismo?, porm poeticamente podia-se dizer que o jornalismo vida, talcomo contada nas notcias de nascimentos e de mortes. a vida em todas assuas dimenses, como uma enciclopdia (...). Pode-se dizer que o jornalismo um conjunto de estrias da vida, das estrelas, de triunfo e tragdias.(TRAQUINA, 2005, p.14).

    Nelson Traquina, porm aborda o jornalismo como um meio pelo qual as pessoas se

    mantm informadas sobre o que as rodeias e o que lhes interessa. (TRAQUINA, 2005) O

    estudioso Michael Kunczik, completa, afirmando que a definio mais bsica que nos ocorre

    diariamente, a de que o jornalismo trata as informaes de forma objetiva e neutra,

    distanciando-se passivamente dos eventos. O jornalismo pode tambm, muitas vezes, apresentar-

    se sendo ativamente comprometido e presente, em causas sociais. Apesar de essas duas ltimas

    ideias serem contrrias, Kunesik afirma que uma no exclui a outra, pois um jornalista deve ter

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    ao mesmo tempo o compromisso e a neutralidade com determinada informao. (KUNCZIK,

    2002)

    J Wolfgang Langenbucher (1994) busca definir a profisso do jornalista, afirmando que

    o jornalismo deve fazer o papel de interveno entre a notcia e a sociedade, ser responsvel porfazer essa ponte.

    [...] a mediao em uma sociedade democrtica o principal papel do jornalista,e a tarefa dos jornalistas facilitar a mtua comunicao entre os diferentesgrupos da sociedade. Atribui-se aos meios de comunicao a funo precpua defacilitar a comunicao entre todos os grupos que participam na formao davontade poltica, criando assim s opinio pblica dirigida. (LANGENBUCHERapud KUNCZIK,, 2002, p.100)

    Para Bill Kovach e Tom Rosenstiel (2003), a principal caracterstica do jornalismo , sem

    dvidas, o compromisso com a verdade, sendo a partir dela que todas as etapas da transmisso da

    informao se desenvolvem. A verdade influncia diretamente na lealdade com os cidados e na

    tica profissional. Outro ponto a ser abordado , justamente, o da tica. Essa consiste em uma

    parte da filosofia que estuda os deveres do homem para com a sociedade. a cincia da moral,

    do que deve ser feito ou no. Nos conceitos do jornalismo, tal ponto aparece como importante,

    como comenta Kunczik:

    No cumprimento desse dever, defender o jornalista a todo momento os

    princpios da liberdade na honesta seleo e publicao das notcias e do direitode comentrio e crtica justos. (KUNCZIK, 2002, p.110)

    O autor tambm explica que h uma sntese que ilustra bem os princpios que os

    jornalistas devem seguir para exercer bem suas respectivas funes.

    Todos esses princpios profissionais exigem que o jornalista respeite a verdade,informe cuidadosa e confiavelmente o pblico, verificando a fonte das notcias ecorrigindo as informaes errneas. Embora no momento no se possa discernirnenhum consenso internacional sobre a tica do jornalismo, irrefutvel a

    necessidade dessa tica. O objetivo evitar que as notcias se distoram e que osjornalistas altamente qualificados utilizem suas habilidades tcnicas para amanipulao. (KUNCZIK, 2002, p.109)

    Em suma, para Kuncsik, a principal funo do jornalismo comunicar, levar a informao

    ao prximo. Para isso preciso que haja a prtica de coletar, redigir e editar, at que a notcia

    esteja pronta para ser publicada.

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    A principal funo dos jornais comunicar raa humana o que seus membrosfazem, sentem e pensam. Por isso o jornalismo exige de todos os profissionais ombito mais amplo de inteligncia, conhecimento e experincia, assim como

    poderes de observao inatos e adquiridos. (KUNCZIK, 2002, p.109)

    O jornalismo nacional, atualmente, vem sofrendo grandes transformaes. As constantes

    alteraes na regularizao profissional do jornalismo, a ascenso da internet e a grande

    disponibilidade de informao rpida fornecida pela tecnologia so alguns exemplos dessas

    mudanas que esto ocorrendo no contexto miditico brasileiro. Podemos dizer que a forma de

    transmitir informaes tornou-se mais democrtica, assim como a forma de obter a mesma.

    Apesar dessa ascenso, os meios de comunicao mais comuns, como jornais, televiso, rdio,

    revistas, ainda tm grande importncia na funo de informar e entreter.

    A Mdia Ninja como outro meio de comunicao

    O estudioso Marshal McLuhan pesquisou o processo de comunicao atravs dos meios e

    veculos comunicacionais. Ele comenta sobre como o meio a mensagem, ou seja, como o

    suporte tecnolgico em que a comunicao veiculada no apenas estabelece a forma

    comunicativa, mas produz o prprio contedo da comunicao. O meio a extenso de nsmesmos, ou seja, todos os meios so extenses de certa faculdade humana, psquica ou fsica.

    O significado de contedo de qualquer meio ou veculo sempre um outro meio ou

    veculo. Ele exemplifica citando como o contedo da escrita a fala, assim como a escrita o

    contedo da imprensa. Mas temos que lembrar que nesse caso, o leitor de um jornal pode

    permanecer quase que inteiramente inconsciente, seja em relao palavra impressa, seja em

    relao palavra falada. (MCLUHAN, 1991).

    O meio possui a capacidade de influir e moldar as nossas aes e atividades, ele que

    configura e controla a proporo e a forma das aes e associaes humanas. Desse modo,

    entendemos que o meio pode gerar consequncias no estado de nossas vidas, como comenta

    McLuhan:

    Isto apenas significa que as consequncias sociais e pessoais de qualquer meio ou seja, de qualquer uma das extenses de ns mesmos constituem oresultado do novo estalo introduzido em nossas vidas por uma nova tecnologiaou extenso de nos mesmos. (MCLUHAN, 1991, p.21)

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    Desse modo, McLuhan afirma que devido s tecnologias digitais, o mundo vem sofrendo

    grandes mudanas, em todos os setores, inclusive na comunicao entre as pessoas. Essas

    tecnologias surgiram e revolucionaram o modo das pessoas se comunicarem e se informarem,criando uma rede complexa, onde todos so agentes e podem participar da produo de contedo,

    no apenas da recepo, possibilitando o que Henry Jenkins denominou de cultura

    participatria. (JENKINS, 2008)No somos mais consumidores passivos do material miditico,

    ou meros receptores de mensagens geradas pela indstria de comunicao. Somos agora agentes

    criativos, que ajudam a definir como o contedo miditico deve ser usado e, em alguns casos,

    como produzir nosso prprio contedo para disseminao de material, como comenta Navarro.

    A convergncia miditica tende a expandir essa possibilidade de participao porque permite

    maior acesso a produo e circulao da cultura. (NAVARRO, 2010:11).

    Segundo a pesquisadora Imma Tubella, essas novas tecnologias, em especial a internet,

    esto causando forte preocupao nos meios de comunicao tradicionais.

    O mundo das comunicaes tem mudado radicalmente devido aodesenvolvimento das tecnologias digitais. A multiplicidade de canais deteleviso e de stios na Internet, bem como o acesso informao nos seusvrios formatos em todo o mundo, tem tido um forte impacto nos mediatradicionais e, simultaneamente, como refere Thompson (1997), as tecnologias

    digitais transformaram a organizao espcio-temporal da vida social, criandonovas formas de aco e interaco, novos modos de relao social e novasformas de relacionamento com os outros e connosco. (TUBELLA, 2006, p. 281)

    McLuhan comenta que, medida que a tecnologia cria ambientes novos, os homens ficam

    sem conscincia de sistemas e culturas, e assim, o ambiente que se estabelece se torna um contra-

    ambiente, que contribui para o entendermos. Deste modo, a tecnologia contribui para a sucesso

    de veculos comunicacionais, de modo que, muitas vezes, no estamos preparados para o que

    vem a seguir:

    Hoje, as tecnologias e seus ambientes consequentes se sucedem com tal rapidezque um ambiente j nos prepara para o prximo. As tecnologias comeam adesempenhar a funo de arte, tornando-nos consciente das consequnciaspsquicas e sociais da tecnologia. (MCLUHAN, 1991, p.12)

    As novas tecnologias desse sculo, a internet, os celulares com alta tecnologia, a TV

    digital, todos esses meios foram nos preparando para a exploso de informao e

    questionamentos que ocorreram com o aparecimento da Mdia Ninja no ambiente nacional.

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    Utilizando da tecnologia disponvel, eles criaram uma nova forma de transmitir instantaneamente

    pela internet imagens das manifestaes pelo Brasil, que estouraram na semana do dia 17 a 21 de

    junho de 2013. Os medias convencionais no estavam preparados para tal acontecimento, o que

    ocasionou grandes discusses em vrios meios comunicacionais.Ninja acrnimo de Narrativas Independentes, Jornalismo e Ao, e o movimento

    buscou, no primeiro momento, transmitir as manifestaes ao vivo pela internet atravs,

    principalmente, do canal Ps-TV e pelo facebook, sem nenhuma edio. Durante a transmisso,

    que ocorrem durante toda a manifestao, os ninjas fazem entrevistas, narram os acontecimentos,

    do opinies e muitas vezes se juntam manifestao para protestar. Essa atitude ocasionou

    vrias crticas da imprensa, que considera que o jornalismo brasileiro deve ser imparcial. E o que

    comenta o jornalista Alberto Dines, no editorial do Observatrio da Imprensana TV:

    Mdia ninja passou a simbolizar uma forma individual de colher e transmitirinformaes, notcia em estado bruto, sem passar pela cosmtica da edio. Paraalguns, mdia ninja tambm um jornalismo ativista, militante, capaz de rompero conformismo dos meios tradicionais. (DINES, 2013)

    Se considerarmos a mdia ninja como jornalismo, podemos caracteriz-lo como

    socialmente engajado, pelas definies de Michael Kunczik. Esse jornalismo ativamente

    comprometido, participativo e militante, promovendo causas. O jornalista defensor aquele

    que busca os direitos de certos grupos abandonados e que, por si mesmos, no podem

    representar seus interesses com o Quarto Poder, impedindo o abuso do poder (KUNCZIK,

    2002). Ele no busca neutralidade, e sim os direitos do cidado.

    J o jornalismo da grande mdia baseia-se na noo de gatekeeper, que segundo Kunczik,

    implica a existncia de algo chamado informao ou notcia neutra e objetiva. Ela no oferece

    opinio, apenas transmite a informao com objetividade e tica profissional.

    A Grande Mdia cobre a Mdia Ninja

    A Mdia Ninja comeou a ganhar espao nas pginas dos jornais brasileiros, a partir de

    suas aes nos protestos do dia 17 ao dia 20 de junho de 2013. Bruno Torturra, um dos

    fundadores do grupo, afirmou em entrevista concedida ao Observatrio da Imprensa, que os

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    ninjas ganharam relevncia porque as pessoas estavam esperando uma cobertura mais prxima

    sobre o que estava acontecendo nas ruas. (TORTURRA, 2013)

    Acho que a mdia [tradicional] no soube ler rpido o que estava acontecendonas redes e nas ruas. Estvamos sempre presentes nos protestos, transmitindotudo ao vivo, fotografando e dando o ponto de vista dos manifestantes. Acho quetinha uma demanda muito grande de uma cobertura independente e a genteestava l. (TORTURRA, 2013)

    Buscando entender e opinar sobre a Mdia Ninja, os veculos comunicacionais da grande

    mdia realizaram debates e reflexes sobre o tema, em programas de TV e colunas de opinio.

    Procuraremos analisar como ocorreu essa cobertura miditica em funo da Mdia Ninja, quais os

    pontos principais discutidos em cada veculo e como ela se desenvolveu. Avaliaremos a

    discusso audiovisual realisado pelo Observatrio da Imprensa, transmitido ao vivo no dia 30 de

    julho de 2013, pela TV Brasil e o programa Roda Viva, exibido no dia 5 de agosto de 2013, pela

    TV Cultura.

    Alberto Dines foi o condutor da discusso realizada pelo Observatrio da Imprensa. Junto

    com ele, estavam o cineasta Eduardo Escorel, os jornalistas Mauro Malin e Leonel de Aguiar e o

    integrante da Mdia Ninja Bruno Torturra. A discusso pautou-se em entender o que a mdia

    ninja, como o processo miditico do grupo e qual sua relao com grande mdia.

    O programa discutiu principalmente a ideia de que a Mdia Ninja, pelo menos para alguns, jornalismo. O editorial do jornalista Alberto Dines comentou sobre como justamente no meio

    das manifestaes, o mercrio da informao acabou produzindo uma nova forma de fazer

    jornalismo (DINES, 2013). Dines apontou o uso da tecnologia, e comparou a Mdia Ninja com a

    imprensa alternativa que surgiu na ditadura militar, afirmando que ela pode revitalizar a grande

    mdia, sendo por alguns visto como jornalismo cidado.

    Mdia ninja passou a simbolizar uma forma individual de colher e transmitirinformaes, notcia em estado bruto, sem passar pela cosmtica da edio. Paraalguns, mdia ninja tambm um jornalismo ativista, militante, capaz de rompero conformismo dos meios tradicionais.Eles se consideram ps-jornalistas mas hquem os classifique como pr-jornalistas.Certo que os ninja saram da quase clandestinidade e saltaram para a fama aodenunciar a represso policial no Rio de Janeiro: frequentam as primeiraspginas, o Jornal Nacional, as colunas de opinio. Fenmeno do momentopoder sacudir a imprensa do seu comodismo, espanar convenes e rotinas. Talcomo a imprensa alternativa dos anos 60 e 70, os ninja podem revitalizar um

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    processo jornalstico que na ltima dcada s se preocupou com a sua prpriasobrevivncia. (DINES, 2013).

    Alberto Dines ofereceu a todos os seus entrevistados a oportunidade de explanar sua viso

    sobre o que a mdia ninja. Bruno Torturra, o representante do movimento na discusso, apontou

    o movimento como um jornalismo cidado, que busca uma nova forma de fazer jornalismo.

    Acredito que o principal fenmeno dele, a quebra de uma narrativa miditicanica, cobrindo poltica e pensando no papel de jornalismo cidado, que algoque se vinha discutindo muito nos ltimo 10, 15 anos, mas acho que no Brasilprincipalmente, ele veio emergindo como uma fora muito grande nos ltimosdois meses. (TORTURRA, 2013)

    Porm, essa viso da mdia ninja como jornalismo foi refutada durante o programa pelocineasta Eduardo Escorel, que afirmou que ainda no v toda a ao dos ninjas como jornalismo,

    mas como uma tcnica ainda em formao, que adiciona alguns aspectos tecnolgicos. Para ele,

    Mdia Ninja um processo de informao, em constituio, e pelo menos pelo que eu pude

    assistir, est ainda mais no plano de testemunho, provocao, de um movimento de vanguarda

    muito importante. (ESCOREL, 2013).

    O cineasta tambm aponta um tema que no foi debatido em nenhum outro meio

    analisado neste artigo, de como a ao da mdia ninja, de documentar e testemunhar, um desafio

    para o cinema documental. Segundo Escorel:

    Se algum quiser fazer um documentrio a respeito dos acontecimentos dejunho, e esse filme for fica pronto daqui a seis meses ou um ano - como atradio do cinema documental, que mais um rquiem do que um testemunhoao vivo - esse rquiem vai ter que levar em conta o trabalho que foi feito pelamdia ninja. Eu acho que esse documentrio ter que se transformar, sereinventar por causa desse trabalho que a mdia ninja est fazendo. (ESCOREL,2013)

    Sobre a Mdia em si, o programa destacou alguns pontos, como a imparcialidade e

    contedo apresentado pelo grupo. A grande questo levantada foi a de que os ninjas possuem

    uma posio j definida em meio os protestos, prejudicando uma cobertura de informao

    imparcial. Alm disso, h a questo dos ninjas selecionarem as imagens que transmitem pela

    rede e opinarem sobre os acontecimentos narrados.

    Segundo Bruno Torturra, o grupo claro ao se posicionar a favor das manifestaes. Ele

    acredita que essa atitude no manipulao, mas sim ponto de vista (TORTURRA, 2013).

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    Quanto ao contedo disseminado pela Mdia Ninja, questionou-se sobre como a mdia ninja se

    pautar com o fim dos protestos. Eduardo Escorel afirmou que havendo disposio de ir para a

    rua, sempre haver o que transmitir, no sendo um obstculo essa questo (ESCOREL, 2013).

    Diante de toda a entrevista, podemos destacar que o principal assunto foi a mdia ninjacomo um complemento da mdia convencional. O jornalista Mauro Malin afirmou que a

    revoluo digital foi um grande colaborador no crescimento dessa mdia alternativa, e o

    professor Leonel de Aguiar completou, afirmando que a mdia convencional j est em crise

    desde a dcada de 90 por ocasio do processo da digitalizao da informao. Segundo Aguiar, o

    cidado j no confia plenamente no jornalismo convencional brasileiro, por considerar que o

    jornalismo se beneficiou da cobertura comunicacional da ditadura militar, no conseguindo

    exercer at hoje o papel de mediador social.

    Leonel Aguiar acredita que desta forma, no h possibilidade da mdia alternativa

    substituir a grande mdia, mas somar e contribuir para a pluralidade de informaes. (AGUIAR,

    2013). Em complemento, Malin pondera sobre como a Mdia Ninja possui novos olhares sobre as

    velhas prticas do jornalismo, mas que no final, todos os veculos incomodam o poder pblico. A

    questo que cada veculo possui o seu olhar, e sua forma de cobertura miditica, transmitindo

    mais, ou menos contedo:

    O ponto de vista da Rede Globo o ponto de vista de um helicptero ou do alto

    do terrao dos prdios. Ento, h uma diferena entre quem est testemunhandode dentro e quem est de fora. Por razes at compreensveis, eles queremproteger os profissionais, talvezh vrias explicaes para isso. As coberturasao vivo, tanto as da Globo quanto da Globonews, em termos visuais, informampouqussimo do que est acontecendo. E dependem de um texto contnuo quetambm informa muito pouco. (Malin, 2013)

    Deste modo a discusso realizada no Observatrio da Imprensa focou-se principalmente

    na questo jornalstica da Mdia Ninja, havendo durante todo o programa, apenas uma pergunta

    sobre o financiamento do grupo, que foi respondida por Bruno de forma simples. A questo de

    posicionamento poltico, tambm no foi levantada durante todo o programa, diferente daentrevista realizada pelo programaRoda Viva.

    O programaRoda Vivacom o temaMdia Ninja, abordou muitos aspectos do assunto, no

    se focando apenas no jornalismo do grupo. A mesa de debate foi formada com a mediao de

    Mrio Srgio Conti, pelos entrevistadores Alberto Dines, Caio Tlio Costa, Eugnio Bucci,

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    Susana Singer e Wilson Moherdaui e os entrevistados foram os fundadores da Mdia Ninja,

    Bruno Torturra e Pablo Capil.

    Assim como no programa do Observatrio de Imprensa, uma das primeiras perguntas

    realizadas pela mesa entrevistadora constituiuse na dvida de que se a Mdia Ninja faz ou nojornalismo. Bruno foi enftico ao dizer que a Mdia Ninja faz jornalismo sim:

    A gente faz jornalismo sim. Eu acho at curioso que ainda uma dvida se oque a gente faz , ou no, jornalismo. Ento acho que d para discutir que tipode jornalismo a gente faz, d para discutir a qualidade dele, d para discutir arelevncia dele, mas eu acho que o fato de ser um grupo organizado, de secolocar como veculo, de ter uma dedicao diria em transmitir informao damaneira mais crua, da maneira mais honesta, da maneira mais abrangentepossvel, dentro de nossas limitaes, acredito que jornalismo sim.

    (TORTURRA, 2013)

    Aps essa explanao no h nenhum debate sobre a fala de Torturra e a entrevista foca-

    se na busca pelo entendimento sobre a economia do grupo, como ela financiada e como se

    desenvolve dentro do Coletivo sem Paredes e da rede. A economia dentro do sistema de rede a

    que pertence a Mdia Ninja complexo. Foi difcil para os entrevistadores conseguirem

    questionar Bruno e Pablo sobre o assunto. Bruno explica: " importante entender como essa

    lgica financeira muito complicada da gente explicar rapidamente, porque ela em rede, ela

    funciona em fluxo. (Torturra, 2013)No primeiro bloco do programa, Alberto Dines um dos nicos entrevistadores que

    questionou o contedo miditico da mdia Ninja. Ele pergunta se aps o fim das manifestaes,

    ainda haver interesse pblico. Pablo responde que a mdia Ninja j estava a muito tempo, mas

    foi evidenciado nas manifestaes. Segundo ele, h muitas pessoas que possuem interesse em

    divulgar, e essas pessoas vo continuar divulgando. Ele afirma "Pauta no nos falta". (CAPIL,

    2013). Durante o programa, o assunto pauta recorrente, discutindo sobre as diferenas entres as

    pautas da grande imprensa e da mdia ninja, e principalmente sobre a imparcialidade do grupo

    como imprensa, sendo ela ativista. Bruno se defende sobre o assunto, dizendo que est apenas

    mostrando o ponto de vista do manifestante:

    [O manifestante] um cidado, que est sendo atacado de maneira muitoviolenta pelo estado por estar exercendo o seu direito a manifestao. A genteest protegendo a democracia quando a gente toma lado em uma manifestao,porque a gente no est defendendo o argumento do manifestante

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    necessariamente, mas o direito de ele estar l fazendo o que ele faz.(TORTURRA, 2013)

    Tambm ocorre a discusso sobre a imparcialidade da grande mdia, que segundo Pablo,

    seria mais honesto que a grande mdia assumisse uma parcialidade, para o cidado buscar no

    jornalismo a posio com a qual mais de identifica.

    Temas como, a falta de oportunidades para os novos jornalistas no mercado convencional

    jornalstico, o uso pela mdia ninja do material jornalstico bruto, sem edio, e a tecnologia

    utilizada pelos ninjas, foram tambm debatidos.

    Concluso

    Desta maneira, conclumos que a grande imprensa brasileira ficou motivada a buscar mais

    informaes sobra a Mdia Ninja, e os jornalistas profissionais, que atuam nos grandes veculos

    de jornalismo nacional, ficaram curiosos para entender como esse grupo se configura e se

    estabelece no cenrio comunicacional do Brasil. A Mdia Ninja revolucionou o processo de

    transmisso de contedo no Brasil, ao transmitir informaes de maneira bruta, com grande

    engajamento poltico e opinies explicitas sobre os acontecimentos. A Grande Imprensa teve

    papel fundamental para explanar e compreender as intenes desse grupo.

    Jornalistas antigos e novos, e telespectadores mais atualizados, estavam curiosos para

    entender como todo o processo miditico realizado pelo grupo. A Imprensa Brasileira ofereceu

    a oportunidade dos Ninjas se explicarem, mesmo muito vezes possuindo uma a titude defensiva

    e acusatria perante a ao dos grupos.

    As entrevistas que foram colocadas nesse artigo, realizadas pelos programas Observatrio

    da Imprensa e pelaRoda Viva, buscaram entender o grupo, cada uma de uma maneira particular.

    Enquanto o programa Roda Vivabuscou compreender como a Mdia Ninja financiada, qual o

    seu engajamento poltico, debatendo pouco sobre a questo miditica do grupo, o Observatrioda Imprensa focou-se totalmente em estabelecer parmetros para as aes comunicadoras da

    Mdia Ninja, procurando todos os reflexos e consequncias do movimento na rede

    comunicacional do pas.

    A questo que levantamos no incio deste trabalho, sobre a questo jornalstica, continuou

    em enfoque. Vimos a partir da anlise dos dois programas audiovisuais, que a Mdia Ninja se

  • 7/26/2019 A Cobertura Miditica Da Mdia Ninja Pela Grande Imprensa

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    XII POLITICOM Juiz de Fora (MG) - 17 e 18 de Outubro de 2013XI Encontro Regional de Comunicao Juiz de Fora (MG) - 15 e 16 de Outubro de 2013

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    tornou outro veculo de transmisso de informao, mas para a maioria dos jornalistas que

    debateram sobre ao assunto, ela ainda no pode ser considerada jornalismo, mas sim uma tcnica

    de testemunho opinativo, que utiliza aparatos tecnolgicos para a transmisso das informaes

    que foram colhidas por seus integrantes. Para a grande imprensa brasileira, dessa forma, a MdiaNinja aparece como um complemento da mdia tradicional, que busca estar em lugares que a

    grande imprensa no consegue permanecer.

    REFERNCIAS

    CAPIL, Pablo. Roda Viva. TV Cultura. 5 de agosto de 2013. Programa de TV. Disponvel emDisponvel em >

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    XII POLITICOM Juiz de Fora (MG) - 17 e 18 de Outubro de 2013XI Encontro Regional de Comunicao Juiz de Fora (MG) - 15 e 16 de Outubro de 2013

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