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A Componente Estratégica nos Planos Municipais Joana Margarida de Almeida Lima Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia do Território Júri Presidente: Professora Doutora Maria Beatriz Marques Condessa Orientador: Professor Doutor José Álvaro Pereira Antunes Ferreira Co-Orientador: Professor Doutor Valerio Cutini Vogais: Professor Doutor Jorge Manuel Gonçalves Outubro 2011

A Componente Estratégica nos Planos Municipais · Por forma a perceber a evolução da definição é ... Evolução da aplicação do planeamento estratégico aos ... Na sequência

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A Componente Estratégica nos

Planos Municipais

Joana Margarida de Almeida Lima

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia do Território

Júri

Presidente: Professora Doutora Maria Beatriz Marques Condessa

Orientador: Professor Doutor José Álvaro Pereira Antunes Ferreira

Co-Orientador: Professor Doutor Valerio Cutini

Vogais: Professor Doutor Jorge Manuel Gonçalves

Outubro 2011

i

Muitos foram os que me apoiaram nesta realização pessoal e profissional que marca o fim

deste percurso, no entanto, não poderei deixar de agradecer em particular:

Aos meus Orientadores, Professor Doutor Antunes Ferreira pelo papel fundamental que

desempenhou ao longo da minha formação académica e Professor Doutor Valerio Cutini, por

me ter dado a oportunidade de apreender e participar neste projecto.

Á Professora Doutora Rosário Partidário e aos meus colegas que me ensinaram tantas novas

competências, e me incentivaram na realização desta dissertação.

À Patrícia Nunes que me ajudou a contornar tantos obstáculos burocráticos ao longo do

percurso académico em especial na participação no programa Erasmus e na realização desta

dissertação.

Aos meus amigos que estiveram presentes em muitos momentos de dúvida e desânimo e que

me apoiaram e incentivaram, agradeço assim à Joana, à Filipa, ao David e ao Miguel.

Por fim, aos meus pais, irmãos e Filipe pelo entusiasmo, paciência, espírito crítico e apoio, a

quem dedico todo o meu trabalho.

Agradecimentos

ii

iii

A Componente Estratégica nos

Planos Municipais

Joana Margarida de Almeida Lima

Resumo

O objectivo desta dissertação é compreender, à luz dos actuais conceitos, o entendimento da

estratégia subjacente nos Planos Municipais atribuído pelo sistema legal e, em simultâneo,

analisar o actual conceito de estratégia territorial e as implicações que a mesma traz para o

processo de planeamento municipal e para a elaboração de Planos, em particular.

Por forma a perceber a evolução da definição é realizado um enquadramento do planeamento

estratégico ao nível municipal, analisando-se a raiz e o fundamento de cinco conceitos:

Estratégia, Planeamento, Planeamento Estratégico, Planeamento Municipal e Planeamento

Estratégico ao Nível Municipal. Explicitam-se as figuras legais, a par dos conceitos e da prática

de planeamento municipal, no sentido de perceber os princípios que constituem a legislação e

os objectivos que se pretendiam alcançar.

A operacionalização da estratégia considera-se essencial, na medida em que é um elemento

chave no processo de planeamento municipal, por isso, a explicitação desta temática, apoia-se

na análise dos Planos Municipais disponíveis em vigor de Vila Franca de Xira e Pisa.

Por fim é realizada uma reflexão final relativa ao tema e aos objectivos da dissertação,

fazendo-se algumas considerações sobre as dificuldades que derivam da implementação da

estratégia e os benefícios que a sua operacionalização pode trazer para a gestão municipal.

Apontam-se ainda linhas de orientação para o prosseguimento da investigação nestas

matérias.

Palavras-chave: Estratégia, Planeamento, Planeamento Estratégico, Planeamento

Municipal e Planeamento Estratégico ao Nível Municipal

iv

The Strategic Component in

Municipal Plans

Joana Margarida de Almeida Lima

Abstract

The aim of this dissertation is to understand, considering the current concepts, the strategy

underlying Municipal Plans, assigned by the legal system and simultaneously, to analyze the

actual concept of territorial strategy and its implications to the process of municipal planning and

the preparation of plans, in particular.

To understand the evolution of the definition a framework for the strategic municipal planning

level is developed, to analyze the root and the basis of five concepts: Strategy, Planning,

Strategic Planning, Municipal Planning and Strategic Municipal Planning Level. The legal

entities, as well as the concepts and practice of municipal planning, are explained in order to

understand the principles that constituted the legislation and its main goals.

To make a strategy operational is essential, in a way that it is a key element of the municipal

planning process, so, the explanation of this subject it is supported by the analysis of the

Municipal Plans in effect of Vila Franca de Xira and Pisa.

Ultimately, it is structured a final reflection about this subject and the main goals of this

dissertation, where some considerations are made about the struggles when this strategy is

implemented and the benefits that it can bring to municipal management. There are pointed

some guidelines for further research in these areas.

Keywords Strategy, Planning, Strategic Planning, Municipal Planning and Strategic Municipal

Planning Level

v

Índice Agradecimentos.............................................................................................................................. i

Índice ............................................................................................................................................ v

Índice de Figuras ........................................................................................................................... vi

Índice de Quadros ......................................................................................................................... vi

Lista de Acrónimos ....................................................................................................................... vii

1 Introdução .............................................................................................................................. 1

1.1 Enquadramento geral do tema ....................................................................................... 1

1.2 Contexto da Investigação ............................................................................................... 2

1.3 Objecto de Estudo .......................................................................................................... 3

1.4 Objectivos da Investigação ............................................................................................. 4

1.5 Estrutura e Metodologia .................................................................................................. 5

2 Estado da Arte ....................................................................................................................... 7

2.1 Estratégia ........................................................................................................................ 8

2.2 Planeamento ................................................................................................................. 10

2.3 Planeamento Estratégico .............................................................................................. 13

2.3.1 Planeamento Estratégico no contexto empresarial ............................................... 14

2.3.2 Planeamento Estratégico no contexto territorial .................................................... 17

2.4 Planeamento Municipal ................................................................................................. 27

2.5 Componente Estratégica no Planeamento Municipal ................................................... 40

2.5.1 Enquadramento Legal ........................................................................................... 48

Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo ........................ 48

Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial ................................................. 49

Avaliação Ambiental Estratégica ...................................................................................... 51

3 Estudo de Casos .................................................................................................................. 53

3.1 Apresentação dos Municípios ....................................................................................... 54

3.1.1 Vila Franca de Xira ................................................................................................ 54

3.1.2 Pisa ........................................................................................................................ 55

3.2 Enquadramento dos planos e identificação das componentes estratégicas ................ 56

3.2.1 Plano director Municipal de Vila Franca de Xira ................................................... 56

3.2.2 Piano Strutturale - Comune di Pisa ....................................................................... 60

4 Conclusões........................................................................................................................... 63

vi

4.1 Síntese dos conceitos ................................................................................................... 63

4.2 Análise dos Casos ........................................................................................................ 67

4.3 Reflexões ...................................................................................................................... 69

5 Desenvolvimentos futuros .................................................................................................... 71

5.1 Linhas de orientação ..................................................................................................... 71

6 Referências Bibliográficas ....................................................................................................... i

Figura 1 - Identificação de conceitos a abordar na primeira parte da dissertação ....................... 5

Figura 2- As quatro fases de desenvolvimento de um plano estratégico integra. ...................... 22

Figura 3- Inserção geográfica de Vila Franca de Xira na sub-região da Grande Lisboa e na AML

..................................................................................................................................................... 54

Figura 4- Inserção geográfica do município de Pisa na Província de Pisa ................................ 55

Quadro 1-Modelos de planeamento ............................................................................................ 19

Quadro 2- Aspectos positivos com a introdução da prática dos Planos Estratégicos ................ 24

Quadro 3 – Factores negativos e positivos PDM da década de 90 ............................................ 34

Quadro 4 - Evolução do enquadramento legal do Planeamento Municipal ................................ 37

Quadro 5 - Evolução da aplicação do planeamento estratégico aos territórios ......................... 41

Índice de Figuras

Índice de Quadros

vii

AAE Avaliação Ambiental Estratégica

AIA Avaliação de Impacte Ambiental

AML Área Metropolitana de Lisboa

CEE Comunidade Económica Europeia

CTA Comissões Técnicas de Acompanhamento

CM- VFX Câmara Municipal de Vila Franca de Xira

DGOTDU Direcção-Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano

EUA Estados Unidos da América

IDT Instrumentos de desenvolvimento territorial

IGT Instrumentos de Gestão Territorial

INE Instrumentos de natureza especial

IPS Instrumentos de política sectorial

IPT Instrumentos de planeamento territorial

LBPOTU Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo

LED Linhas Estratégicas de Desenvolvimento

OE Objectivos específicos

PDM Plano director municipal

PMOT Planos municipais de ordenamento do território

PP Plano de pormenor

PROSIURB Programa de Consolidação do Sistema Urbano Nacional

PU Plano de urbanização

RJIGT Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial

SWOT Forças (Strengths), Fraquezas (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats)

VFX Vila Franca de Xira

Lista de Acrónimos

viii

1

1 Introdução

1.1 Enquadramento geral do tema

A presente dissertação foi realizada com o propósito de obtenção do grau de Mestre em

Engenharia do Território, pelo Instituto Superior Técnico – Universidade Técnica de Lisboa. É

alusiva ao Planeamento Estratégico ao Nível Municipal e enquadra-se na área de estudo de

Ordenamento do Território e Urbanismo.

A escolha do tema, “A componente estratégica nos planos municipais”, deve-se ao interesse

suscitado pela importância do planeamento municipal no ordenamento do território, e completa-

se com a existência de outros tópicos que tornam pertinente a discussão desta temática, tais

como:

a crise económica e financeira mundial e nacional, que enfatiza a necessidade de

realizar o processo de planeamento de forma mais eficaz e eficiente, através da

inclusão da componente estratégica;

a mudança de paradigma: a actual fase de transição, presente na Revisão dos Planos

Directores Municipais (PDM), em Portugal, abre perspectivas para a valorização desta

figura de plano, nomeadamente pela exigência do enquadramento legal. O PDM terá,

assim, uma componente estratégica, sendo importante perceber se foi atingida ou caso

contrário, como deverá ser atingida e quais as mais-valias daí resultantes para o

planeamento do território.

2

1.2 Contexto da Investigação

Estrela (1982:51) sustenta que "Nenhum projecto, nenhum estudo científico poderá ser

realizado sem o conhecimento da realidade a que ele se refere, isto é, sem se conhecer o

campo em que se quer intervir"

Desta forma, torna-se importante identificar as características principais do contexto, Ronald

Carter (1993) sugere que o esquema de identificação das características principais do contexto

assenta na resposta às seguintes questões:

quem são os participantes envolvidos na acção?

quando se realiza a acção?

onde tem lugar a acção?

porque se realiza a acção?

Na sequência deste pensamento, dar-se-á resposta às perguntas apresentadas caracterizando

o contexto, em que se desenvolve a presente dissertação.

Quem: a autora (Joana Lima), o seu Orientador (Doutor José Álvaro Pereira Antunes Ferreira)

e Co-Orientador (Doutor Valerio Cutini).

Quando: 2010 e 2011.

Onde: Em Portugal, (Lisboa e Vila Franca de Xira) e em Itália (Pisa), mais precisamente no

Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa e na Facoltà di Ingegneria

dell'Università di Pisa.

Porquê: pelo interesse suscitado ao longo do percurso académico, pela importância e

pertinência actual da discussão desta temática e, finalmente, para a obtenção do grau de

Mestre em Engenharia do Território.

3

1.3 Objecto de Estudo

Propõe-se compreender à luz dos actuais conceitos, o entendimento da estratégia, subjacente

nos Planos Municipais, atribuído pelo sistema legal e, em simultâneo, analisar o actual conceito

de estratégia territorial e as implicações que a mesma traz para o processo de planeamento

municipal e para a elaboração de Planos, em particular. Por último, procura-se apontar de que

forma a componente estratégica responde aos desafios que se colocam actualmente ao

planeamento e o modo como esta introdução pode ser operacionalizada.

4

1.4 Objectivos da Investigação

Deste modo, o principal objectivo desta dissertação é analisar a componente estratégica nos

planos de escala municipal. De forma a atingir o objectivo enunciado, estabeleceram-se os

seguintes objectivos específicos - OE (e a respectiva justificação à direita):

OE1- Perceber a evolução da definição,

dos objectivos e as alterações que

foram sendo introduzidas na figura

Plano Director Municipal e dos

conceitos subjacentes à sua análise;

Pois é importante compreender a causa

e o modo como o PDM pode encerrar a

estratégia do município.

OE2- Clarificar o significado do nível

estratégico do planeamento;

Porque são associados múltiplos

significados quer ao nível táctico, quer

ao nível da operacionalização, e torna-

se relevante relacioná-los com o

sentido dos conceitos: horizonte,

perenidade dos objectivos e população

ou abrangência do território.

OE3- Analisar as especificidades

metodológicas do planeamento

estratégico, pormenorizando aquelas

que podem ser introduzidas no

processo de Revisão dos Planos

Directores Municipais;

Pois trata-se de um procedimento

indispensável na discussão das

componentes estratégicas que devem

ser incluídas ao nível do planeamento

municipal

OE4- Analisar e comparar um caso

português com um caso europeu;

Pois é relevante integrar a situação

portuguesa no contexto europeu, e

tendo em conta as limitações temporais

de uma dissertação reduz-se este

universo a dois exemplos.

OE5- Avaliar a operacionalização da

estratégia na elaboração dos planos,

quer em termos processuais, quer

analíticos, identificando as

dificuldades implícitas;

Após a análise de estudos de caso é

imprescindível identificar a componente

estratégica dos respectivos planos, bem

como, avaliar a sua operacionalização.

OE6- Questionar a integração da vertente

estratégica na Revisão dos Planos

Directores Municipais e explicitar os

objectivos e as mais-valias que se

pretendem alcançar.

Porque se trata de um estádio

necessário para a discussão final do

tema em análise, depois de ter sido

realizada a análise e avaliação de dois

planos municipais em vigor.

5

1.5 Estrutura e Metodologia

A abordagem metodológica, definida para responder aos objectivos traçados, apresenta-se

estruturada em quatro partes:

A primeira parte (Capítulo 2) corresponde ao enquadramento do planeamento estratégico ao

nível municipal, analisando-se a raiz e o fundamento do planeamento estratégico, as suas

potencialidades e debilidades e os benefícios trazidos por este tipo de metodologias à

conformação do modelo territorial dos municípios. Consequentemente, analisa-se o carácter

estratégico atribuído aos PDM pelo novo enquadramento legal e as mais-valias que assume

para o planeamento do território municipal. Por isto, destaca-se o enquadramento e definição

de cinco conceitos: Estratégia, Planeamento, Planeamento Estratégico, Planeamento Municipal

e Planeamento Estratégico ao Nível Municipal. A Figura 1 explicita a forma como estes

conceitos conduzem ao Planeamento Estratégico ao Nível Municipal e como os quatro

primeiros se constituem como conceitos base deste objecto de estudo.

Figura 1 - Identificação de conceitos a abordar na primeira parte da dissertação

A par dos conceitos enquadram-se, ainda, as figuras legais, e da prática de planeamento

municipal, no sentido de perceber os princípios que constituem a legislação e os objectivos que

se pretendiam alcançar.

Na segunda parte (Capítulo 3), aborda-se o conteúdo dos Planos Municipais, a forma como

estes podem responder à proposta consagrada no quadro legislativo vigente e, sobretudo,

como a estratégia territorial se reverte nos mesmos. A operacionalização da estratégia

considera-se essencial, na medida em que é um elemento chave no processo de planeamento

municipal, exigindo que se encare o PDM como instrumento estratégico que constitui a base do

desenvolvimento concelhio, no qual assenta a gestão urbanística municipal. Por isso, a

explicitação desta temática, apoia-se na análise e comparação dos Planos Municipais de Vila

Franca de Xira (como exemplo de caso Português) e Pisa (como exemplo de caso Toscano).

Esta análise foi efectuada tendo em consideração todos os elementos disponíveis em vigor.

6

A escolha destes dois casos de estudo prende-se com o facto de o município de Vila Franca de

Xira ter em vigor um PDM de segunda geração, em conformidade com a legislação estudada

nesta dissertação, e o município de Pisa ter realizado um plano estratégico com uma escala

fora dos limites administrativos e espectáveis, constituindo-se como o elemento exemplar

seguido noutros municípios da região da Toscana

A terceira parte (Capítulo 4 e 5) contém uma reflexão final relativo ao tema e aos objectivos da

dissertação, fazendo-se algumas considerações sobre as dificuldades que derivam da

implementação da estratégia e os benefícios que a sua operacionalização pode trazer para a

gestão municipal. Apontam-se ainda linhas de orientação para o prosseguimento da

investigação nestas matérias.

7

2 Estado da Arte

Numa época marcada por mudanças económicas e sociais aceleradas, com fortes incidências

no território, em particular nas cidades, originam-se múltiplos discursos e entendimentos sobre

o planeamento. Importa, assim, apresentar o que mais de recente tem sido reflectido ,

diferenciando, contextualizando e definindo os conceitos de Estratégia, Planeamento,

Planeamento Estratégico, Planeamento Municipal e, por fim, a componente Estratégica no

Planeamento Municipal.

8

2.1 Estratégia

As origens do planeamento estratégico remontam à Grécia e têm como fundamento a sua

utilização para fins militares. A palavra estratégia deriva do grego stratego – stratos (exército) +

ego (líder) – e define-se como a disciplina ou arte de conduzir um exército e dirigir as

operações de modo a retirar vantagens sobre o inimigo (Guell, 1997; Lopes, 1998).

A "Arte da Guerra", obra escrita por Sun Tzu há mais de 2300 anos, foi o primeiro documento

conhecido que sistematiza o método de pensamento estratégico no comando dos exércitos.

Especifica o conjunto de orientações para os líderes militares definirem e hierarquizarem as

actuações que lhes possibilitariam conduzir os seus homens e exércitos de forma mais eficaz,

de modo a se apresentarem em vantagem perante os inimigos e vencê-los.

No início do século XX, destacam-se os trabalhos de Taylor, Fayol, Follet e Max Weber sobre a

racionalização dos processos de organização do trabalho e dos processos de gestão nas

empresas. Tome-se o exemplo da General Motors e outras indústrias de referência dos EUA

que começaram a adoptar os princípios do planeamento estratégico nas suas actividades. A

recessão de 1929 e, particularmente, a II Guerra Mundial intensificaram a transposição das

metodologias de planeamento militar para as actividades empresariais. Através da gestão por

objectivos1, recorre-se, de acordo com Ferreira (2007), a uma criteriosa análise prospectiva dos

mercados e à sua conquista, mediante a utilização das novas técnicas de marketing.

Na segunda metade do século XX, assinala-se uma mudança radical que vai da projecção de

tendências (planeamento de longo prazo) para o planeamento e a gestão estratégicos criativos

e participativos, envolvendo todos os elementos da empresa na definição dos objectivos e na

mobilização dos recursos para os atingir (gestão participativa por objectivos). Num quadro de

concorrência global aberta, de complexificação das actividades e de evolução incerta, as

técnicas com recurso à previsão, à prospectiva e ao desenho de "cenários de evolução"

ganham predominância sobre os clássicos processos de projecção de tendências, mais ou

menos lineares. (Ferreira, 2007)

No entanto, as crises económicas da década de setenta, caracterizadas por um contexto de

rápidas mudanças e de incertezas crescentes, promoveram o início de técnicas de

antecipação e previsão e conduziram à valorização do planeamento da empresa,

denominado por planeamento estratégico (Godet, 1993). Este conceito prende-se com a

necessidade de reflectir sobre as condições existentes e sobre a capacidade de

antecipação às mudanças que pudessem ter implicações estratégicas na empresa, bem

1 Em finais dos anos 50, Peter Drucker revolucionou a direcção empresarial através da "gestão

participada por objectivos", ultrapassando o formalismo e a cristalização do "taylorismo" e criando novos dinamismos através do aproveitamento dos conhecimentos e da motivação dos quadros e das sinergias criadas a partir da comunicação interdepartamental no seio das organizações.

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como a necessidade de adaptação da estratégia com base na flexibilidade exigida pelo

meio envolvente (Godet, 1993; Guell, 1997).

Neste contexto de mutação contínua e de incerteza, a "própria noção de planeamento

enquanto objectivo fixado a priori, torna-se inadaptada, pois não é o objectivo que conta (...), é

a capacidade de reagir e de se adaptar às modificações que é determinante" (Godet, 1993).

Deste modo, nos anos 80/90, na sequência das crises, económica e energética, a identificação

das tendências (dinâmicas) ganha terreno sobre a fixação dos pontos fortes e dos pontos

fracos. A detecção, o aproveitamento das oportunidades, bem como a minimização das

ameaças tornaram-se fundamentais. Passou-se, assim, do plano como produto para o

planeamento e para a gestão como processos. A participação alargada afirmou-se. E reforçou-

se a atenção concedida à análise da "envolvente externa" (Ferreira, 2007).

Em suma, na última década do século passado, houve um renascimento dos princípios

estratégicos e um desenvolvimento do planeamento estratégico criativo e participado que não

só busca novas formas de focar o negócio, como também envolve a participação de todos os

segmentos empresariais na definição da sua estratégia, consolidando-se, então, o

planeamento estratégico como um novo instrumento capaz de responder às exigências da

conjuntura e dos mercados cada vez mais competitivos e incertos (Rodrigues, 2005).

Não havendo uma definição única de “estratégia”, para efeitos desta dissertação adopta-se “ a

definição de objectivos de longo prazo (objectivos estratégicos) e a adopção de cursos de

acção com alocação de recursos para os atingir” (Chandler 1962) ou ainda, “as principais

linhas de acção que se dirigem a objectivos de longo prazo” (DGOTDU 2003).

10

2.2 Planeamento

O método e a teoria do planeamento têm as suas origens nas ideias iluministas e no

pensamento técnico e racional dessa época. O iluminismo procurou o progresso e a

modernidade através da definição de objectivos de planeamento e continuou a ser

desenvolvido através dos ideais utópicos do século XIX. O pensamento técnico-racional criou

os instrumentos para a construção de um processo de planeamento capaz de interpretar e

justificar tomadas de decisão e procedimentos considerados racionais, assistindo-se, no final

do século XIX, a um avanço significativo do estudo das organizações e do pensamento sobre a

administração e a gestão (Rebelo, 2000).

Este desenvolvimento intenso do planeamento de programas e acções, durante a II Guerra

Mundial, foi posteriormente transferido do contexto militar para o campo empresarial, passando

as empresas a prever e organizar de forma mais sistemática o crescimento e a diversificação

das suas actividades a partir de uma análise a curto prazo dos produtos e mercados,

começando a surgir o conceito de marketing (Rodrigues, 2005).

Nos anos 50, o crescimento económico e o célere desenvolvimento dos mercados, levam à

instalação de sistemas de planeamento para acompanhamento da evolução. Só a partir desta

altura, o planeamento começa a ser motivo de forte interesse por parte das empresas e

organizações em geral. Desenvolve-se, assim, o planeamento a longo prazo que defendia que

as tendências do passado continuavam no futuro e, portanto, aceitava-se a projecção apenas

baseada nas informações e experiências do passado, nomeadamente vendas, custos e

tecnologia (Rebelo, 2000).

De uma forma geral, definir planeamento, nas décadas de 60 e de 70, acentua o seu carácter

voluntarista e racional, caracterizado por ser um processo mental, como método de obter

decisões, independente do fenómeno planeado (Webber, 1965); é considerado como uma

organização consciente das actividades para servir as necessidades humanas (Saarinen,

1974); é ainda entendido como uma actividade centrada entre o conhecimento e a acção

organizada (Friedmann, 1974) e descrito como um processo mental de influenciar o futuro

(Faludi A. , 1976).

Nesta sequência, o Planeamento é definido como sendo uma das cinco funções da

administração, para além da organização, da direcção, do controlo e da gestão de pessoal

(Fayol, 1976). Constituindo-se ainda um referencial em que se organiza o conhecimento

administrativo e a acção de uma organização, o planeamento, tomado como função essencial

da administração, é considerado como um processo de decisão, como o processo de enfrentar

o futuro, assumindo riscos que se Faludi (1973) distingue diferentes dimensões do

planeamento, ou conceitos ligados à maneira de planear, que se exprimem como opostos e

que estão relacionados com a atitude dos agentes de planeamento e com o contexto

socioeconómico e político em que se desenvolve o planeamento.

11

A primeira dimensão, contrapõe o plano papel ao processo de planeamento, analisando o

modo como os agentes do planeamento encaram a acção a realizar na sua área. No plano

papel estão definidos não só os objectivos, garantindo-se através do programa estabelecido, a

maneira exacta de os alcançar. No planeamento processo, o plano estabelecido é adaptado

durante a sua implementação, quando surge nova informação que exige alterações.

Na segunda dimensão analisa-se o planeamento racional / integrado face ao planeamento

desagregado / desenvolvimentista, analisando os modos como se investigam as alternativas

antes de formular o programa a aplicar na respectiva área de acção.

O planeamento racional / integrado considera que todas as possibilidades de acção devem ser

identificadas e avaliadas segundo todos os fins. Os programas apresentados para avaliação

cobrem todo o espaço de acção, o qual por sua vez, foi deduzido através de uma exaustiva

definição do problema a resolver. Este tipo de planeamento implica grande volume de

informação e uma estrutura de procedimento centralizada que identifica e situa todos os

aspectos do problema a resolver.

No planeamento desagregado/desenvolvimentista considera-se impossível e indesejável

realizar a avaliação de todas as acções a desenvolver segundo todos os fins. Os programas

considerados por cada unidade orgânica de planeamento são limitados e não esgotam o

espaço de acção disponível, que está ele próprio mal definido. Esta diversidade de unidades

orgânicas, representando interesses próprios, implica a existência de conflitos e a possibilidade

do planeamento exprimir a actuação dos interesses dominantes.

A terceira e última dimensão aborda o planeamento normativo em contraponto ao planeamento

funcional, analisando-se a capacidade dos agentes de planeamento avaliarem os meios e os

fins da sua acção. Nesta dimensão é discutido se se deve, e até que ponto, estender a escolha

racional dos meios aos fins.

No planeamento funcional os técnicos assumem os objectivos que lhe são dados e preocupam-

se apenas com a racionalidade dos meios para os alcançar. No planeamento normativo a

preocupação fundamental são os fins a atingir, que são os do próprio sistema, fins que o

planeamento tem de procurar. O espaço de acção do planeamento é objecto de uma escolha

racional e esta pode ser revista como e quando se considerar necessário.

Koontz, O'Donnell e Weihrich, em 1986, definem a função planeamento como sendo "decidir

antecipadamente o que fazer, quando fazer, como fazer e com quem fazer". De uma forma,

mais elaborada, o planeamento é tomado como "a escolha consciente de padrões de influência

nos decisores, com o objectivo de coordenar decisões para um período de tempo no futuro e

de os influenciar para metas globais".

Nos anos 90, o planeamento já é tomado como um processo formalizado de tomada de

decisão, que elabora uma representação desejada de um estado futuro e que específica as

12

modalidades de execução dessa vontade (Strategor, 1993). Desta forma o planeamento é

interpretado como uma actividade explícita, que se baseia num método e se desenvolve no

tempo e no espaço segundo um programa previamente determinado, esta actividade termina

num processo de escolhas estratégicas e em programas de acção visando assegurar a

concretização dessas escolhas. É, portanto, um modo de tomada de decisão que se distingue

essencialmente pelo seu carácter formalizado, sem que isso signifique que esteja inteiramente

codificado: o grau de formalização e a sua natureza são muito variáveis.

Poder-se-á concluir que o conceito de planeamento tem mudado e têm sido diversas as

representações e conceitos relativamente ao âmbito, tipo de actividade, objectivos, processos,

aplicações e perspectivas do planeamento. De forma geral, pode-se observar que estão

presentes dois elementos fundamentais do planeamento - decisões e objectivos. Com o

planeamento enfrenta-se o futuro, definindo-se em determinado momento, qual ou quais os

objectivos a atingir. Considera-se assim o planeamento no âmbito deste trabalho, como um

processo racional de decisão e desenvolvimento da melhor modalidade de acção para atingir

um objectivo.

13

2.3 Planeamento Estratégico

A partir dos anos 60, o conceito de Planeamento Estratégico foi transposto do sector

empresarial para o desenvolvimento regional e para o planeamento urbano, num contexto

analógico, em que as cidades ou as regiões, num enquadramento regional ou global,

competem também entre si, desta forma, a evolução do Planeamento Estratégico seguiu

paralelamente em contextos diferentes. No entanto, ainda que possam existir relações entre o

planeamento estratégico empresarial e o planeamento estratégico territorial, a adopção dos

conceitos e modelos do primeiro não poderá ser feita de uma forma directa, não só porque os

objectivos a atingir e os pontos de vista a considerar são manifestamente diferentes como

também o serão certamente as decisões a tomar, as estruturas existentes e os recursos a

afectar (Sallez, 1986).

Desta forma, importa distinguir a evolução do Planeamento Estratégico nestes dois contextos

diferentes: empresarial e territorial.

14

2.3.1 Planeamento Estratégico no contexto empresarial

Como já foi referido, no enquadramento do conceito de estratégia, as crises económicas da

década de 70 levaram a fortes críticas aos esforços de antecipação e previsão num contexto

de rápidas mudanças e de incerteza crescente e conduziram ao reconhecimento da

importância do planeamento da empresa rebaptizado como planeamento estratégico (Godet,

1993). Este conceito prendia-se, então, com a necessidade de reflectir sobre as condições

existentes e sobre a capacidade de antecipação às mudanças que pudessem ter implicações

estratégicas na empresa, bem como a necessidade de adaptação da estratégia com base na

flexibilidade exigida pela envolvente (Godet, 1993; Guell, 1997).

Neste contexto a "própria noção de planeamento enquanto objectivo fixado a priori, torna-se

inadaptada, pois não é o objectivo que conta mais (...), é a capacidade de reagir e de se

adaptar às modificações que é determinante" (Godet, 1993, p. 252). Por isto, nos anos 80 a

gestão estratégica toma o lugar do planeamento, visto que esta apresenta-se como forma de

conferir maior agilidade e flexibilidade que o planeamento estratégico clássico.

No entanto, e de acordo com o referido anteriormente, nos anos 90, houve um renascimento

dos princípios estratégicos, desenvolvendo-se o planeamento estratégico criativo e participado

que procurava novas formas de focar o negócio envolvendo a participação de todos os

segmentos empresariais na definição da sua estratégia, consolidando o planeamento

estratégico como um novo instrumento capaz de responder às exigências da conjuntura e dos

mercados cada vez mais competitivos e incertos (Rodrigues, 2005).

Com efeito, a evolução para uma conjuntura económica mais complexa e competitiva,

determinou também a evolução do exercício do planeamento clássico para o planeamento

estratégico, que no entender de Maria Clara Mendes (1994) pode ser definido como um meio

sistemático para gerir as alterações e criar um futuro possível. Trata-se de um processo que se

pretende criativo, que permite identificar e realizar uma política conclusiva, tendo em conta os

pontos fortes e fracos da organização num contexto mais vasto em que ela se situa e do qual

terá de aproveitar as oportunidades que surgem, no momento próprio.

A par do enquadramento do conceito de Planeamento Estratégico é importante destacar e

diferenciar outros conceitos e metodologias necessárias para o exercício desta forma de

planear, segue-se assim uma súmula dos referidos conceitos.

Em 1972, Child refere que escolha estratégica pressupõe que os processos de variação e

selecção ocorrem simultaneamente, dependendo das decisões internas à organização relativas

à procura racional de fins alternativos e métodos para os atingir e à selecção entre as

alternativas possíveis (Aldrich, 1979). Assim, destaca-se o efeito potencial dos gestores e

outros agentes que participam no processo de decisão, sobre as escolhas estratégicas,

considerando que os decisores têm mais autonomia que a inferida por aqueles que

argumentam o domínio da envolvente - as organizações também podem influenciar o meio

15

envolvente, mas a percepção e a avaliação dos acontecimentos por parte dos decisores são

importantes ligações entre a envolvente e a acção desenvolvida na organização (Nicolau,

2001).

As escolhas estratégicas tornam-se cada vez mais difíceis face ao desenvolvimento de novas

tecnologias e de novos produtos e ao surgimento de novos mercados, entre outros aspectos

que se colocam cada vez com maior intensidade. O planeamento estratégico fixa, assim, as

grandes orientações que permitem à organização consolidar a sua posição face à concorrência

e gerir a mudança. O horizonte temporal do planeamento estratégico é mais longínquo do que

o do planeamento operacional, apresentando também uma orientação mais qualitativa.

(Rebelo, 2000).

Na gestão estratégica, a visão refere-se aos objectivos a longo prazo e mais gerais. A visão

descreve as aspirações para o futuro sem especificar os meios para as alcançar. As visões

com mais efeito são aquelas que criam inspiração e esta inspiração é normalmente querer

mais, maior e melhor. Isso pode ser por exemplo prestar o melhor serviço ou desenvolver o

produto mais resistente e deve ser sempre inspirativo (Dess & Miller, 1997).

A comunicação da visão pode ser feita de duas maneiras: uma mais óbvia, através da missão

e outra menos óbvia usando a liderança. Apesar de poder parecer menos óbvia a segunda, a

forma de comunicação é baseada na capacidade de persuasão da liderança, através do

comportamento dos líderes na exposição da visão. A visão torna-se tangível com a definição

da missão. Esta reflecte aquilo em que um líder pensa relativamente à organização e às

direcções que ela deve seguir (Dess & Miller, 1997).

Apesar da missão ser especifica de cada organização, a definição da missão deve conter as

respostas a questões como o propósito, as alterações ao longo do tempo, os segmentos alvo,

os principais produtos (da actualidade e do futuro), as principais preocupações, os nossos

valores, aspirações e prioridades. Desta forma são estabelecidos os limites que servem de

orientação na formulação da estratégia, os padrões para o desempenho da organização em

múltiplas dimensões e para o comportamento ético dos indivíduos (Dess & Miller, 1997).

Os objectivos estratégicos são o referencial do planeamento estratégico, têm como finalidade

tornar a Missão mais concreta e alcançar a Visão de futuro da organização. Devem ser

definidos de forma a que possam ser mensuráveis e comparáveis, de modo a permitir a sua

avaliação, é necessário que contenham uma componente temporal; que sejam passíveis de ser

realizados; e que contenham a diversidade de interesses da organização; e ainda que sejam

minimizadores de conflitos, redutores de consequências indesejáveis e facilitadores de

compromisso (Rebelo, 2000).

Baseada na definição e procura de objectivos estratégicos como resultado da

construção de consensos e da constante avaliação de escolhas e processos para os

atingir, a abordagem estratégica procura associar as vantagens do planeamento

16

racional e da construção de modelos com possibilidade de integrar valores e ideias

inovadoras. Promovendo a constante auto-avaliação, este processo deverá estar

aberto à reformulação ditada pela oportunidade da execução face às mudanças da

envolvente. Esta abordagem deverá ser sistémica, identificando a inter-relação entre os

diferentes sistemas e subsistemas, variáveis e factores de regulação.

No âmbito da prospectiva estratégica, Michel Godet, 1993, parte da busca de uma

visão global da envolvente da organização e na forma de um diagnóstico, destaca os

pontos controversos e aponta as tendências prováveis, as principais incertezas e os

riscos de rupturas possíveis. Desta base evolui-se, assim, no sentido dos objectivos,

das estratégias e das acções que compõem o plano estratégico global. Conciliando o

processo de planeamento estratégico com a prospectiva, designadamente pela

integração do método dos cenários na metodologia utilizada na fase de diagnóstico,

este autor propõe um esforço de reflexão sobre os cenários possíveis e os desafios e

objectivos associados, sobre as acções possíveis para fazer face a esses desafios e as

consequências dessas acções possíveis.

O método dos cenários tem essencialmente como objectivos, revelar os pontos a estudar

com prioridade (variáveis chave), determinar a partir destas variáveis chave, os actores

fundamentais, as suas estratégias e os meios disponíveis e a descrição, sob a forma de

cenários, da evolução do sistema estudado, tendo em conta as evoluções mais prováveis das

variáveis chave e a partir de jogos de hipóteses sobre o comportamento dos actores. (Rebelo,

2000)

17

2.3.2 Planeamento Estratégico no contexto territorial

Para os autores britânicos, o conceito de planeamento estratégico está intimamente ligado ao

planeamento do uso do solo e apresenta quatro características básicas, Breheny (1991) refere-

se a uma escala geográfica concreta; o seu alcance tende a ser global, embora os agentes que

o implementam optem por ser selectivos na sua cobertura, concentrando-se em temas

fundamentais; devem ser elaborados para períodos superiores aos dos planos que lhe estão

subordinados, sendo como tal, normalmente, de longo prazo; a metodologia a adoptar é

baseada numa abordagem racional onde é importante a análise e a tomada de decisões

(Alexandre, 2003).

O planeamento estratégico, no âmbito do planeamento urbano, acompanhou as tendências de

polarização de alguns centros urbanos à volta de áreas metropolitanas, a emergência do poder

local, o processo de descentralização política e económica da Europa comunitária acompanhou

a evolução cada vez mais rápida, dos padrões de gestão urbana, mais eficiente e direccionada.

O planeamento estratégico é assim instrumentalmente utilizado na competição entre cidades

ou regiões, na busca de um dinamismo demográfico e económico (Rebelo, 2000).

Numa perspectiva de reorientação dos domínios de intervenção pública urbana e de contributo

para o reposicionamento competitivo das grandes cidades no contexto do sistema urbano

europeu e mundial, que justamente o autor situa a utilização do referencial do planeamento

estratégico, Oliveira das Neves (1996) refere que esta abordagem estratégica pressupõe

alargar o campo da intervenção pública a domínios que tradicionalmente não integram as

atribuições e competências das administrações municipais das grandes cidades, e que se

passam a elencar:

acompanhamento dos processos de reconversão do tecido económico local, com

orientações e incentivos à descentralização;

reformulação das estratégias de gestão e alargando os eixos privilegiados de

intervenção urbana;

estabelecimento e aprofundamento de relações de cooperação com as escolas, as

universidades, os laboratórios e centros de investigação, numa perspectiva de

valorização dos recursos humanos e de reforço de competitividade da oferta de bens e

serviços das grandes cidades;

a recriação de estratégias de marketing, que reforcem o potencial de atracção das

grandes cidades, tanto na captação de investimentos e de iniciativas, como na

revalorização das actividades e recursos existentes.

O planeamento estratégico surge assim como um instrumento ao serviço das cidades, não

tanto na óptica da superação do planeamento tradicional, mas na óptica da produção de

externalidades que contribuam para reconfigurar as vantagens competitivas urbanas,

mobilizando procedimentos sistemáticos de discussão do futuro, em termos das funções

18

estruturantes e em termos da equação das relações com outras grandes cidades no quadro

nacional e do sistema urbano europeu, dimensões que respeitam a diversos agentes,

operadores públicos, agentes económicos, agentes dos sistemas de educação, sistemas

científicos e tecnológicos, gestores, autarcas e cidadãos (Rebelo, 2000).

No entanto, outros autores caracterizam o conceito de planeamento estratégico territorial de

forma complementar, ou seja, que pode ser visto como um equacionamento entre o futuro

desejável e o possível para um determinado território, chegando a um consenso nas medidas

concretas a tomar no presente, tendo em vista uma melhoria no futuro (Güell, 1997) ou,

segundo Esteve (1999), como um processo flexível destinado a transformar a cidade num

espaço singular, que lhe traga notoriedade, objectivo alcançável através de um acordo dos

principais actores e entidade urbanos que têm capacidade de a transformar.

Por sua vez, Cabral e Marques (1996) defendem que o planeamento estratégico promove uma

visão para o território fundamentada num diagnóstico prospectivo e numa gestão de longo

prazo, construindo uma ideia do planeamento como lugar de convergência da sociedade civil e

do Estado, promovendo a participação e as parcerias, a descentralização dos processos de

decisão e de implementação.

Oliveira (2010), citando Fonseca e Ramos (2006), aponta quatro efeitos que devem ser

estimulados por um plano estratégico: melhorar o aproveitamento dos recursos endógenos

(naturais, humanos, históricos...); reforçar as condições de atractividade e de recepção de

iniciativas de investimentos provenientes do exterior; criar, qualificar e diversificar o emprego;

fixar a população, qualificando os recursos humanos.

O planeamento estratégico tem como base um processo caracterizado por uma abordagem

integrada (económica, social, cultural, institucional), focada na procura de uma conciliação de

agentes sociais e económicos e integrando a participação da população, sendo este um factor

de mobilização. Este processo tem como objectivo a construção de um território mais atractivo

a novos recursos (população, investimentos, equipamentos, turistas, etc.) pela sua capacidade

de criar ou de explorar as suas potencialidades e de gerar processos de inovação,

reconhecendo que os agentes locais dominam melhor a realidade do seu território, dando

ênfase à descentralização e co-responsabilização na gestão de um plano. Fonseca e Ramos

(2006) salientam a flexibilidade do planeamento estratégico, como factor essencial para

enfrentar a rápida evolução da realidade territorial, num contexto de grandes mudanças e de

incertezas, defendendo “…o planeamento não pode basear-se em morosas e pesadas análises

conducentes a rigorosos diagnósticos, que levem à definição de intervenções rígidas e

infalíveis”. Neste contexto de crescente protagonismo dos actores económicos e sociais, a

governança urbana passa a ter um papel cada vez mais destacado na gestão do território

(Oliveira, 2010).

19

No que diz respeito à metodologia do planeamento estratégico, Fonseca e Ramos (2006)

apontam três grandes linhas metodológicas, das quais destaca-se a atitude prospectiva e de

cultura de avaliação do processo.

A preparação de um plano estratégico constituirá a melhor ocasião para estabelecer acordos

entre os agentes envolvidos e será um momento decisivo para a determinação e a conciliação

dos diferentes objectivos a atingir, com vista a tirar a maior potencialidade das oportunidades e

recursos existentes e a gerar, face a cenários que se pretendem alcançar.

No entanto, e de forma mais pragmática, outros autores defendem situações híbridas onde as

forças do mercado e as iniciativas públicas criam alianças e formas de parcerias dependentes

das situações locais e das conjunturas económicas: o planeamento estratégico e

oportunidades tácticas determinam o desenvolvimento dos projectos segundo os tipos de

intervenção que alternam ou combinam frequentemente processos hierárquicos ou processos

negociados (GODIER, TAPIE e CHIMITS, 2002) (Quadro 1).

Quadro 1-Modelos de planeamento in Alexandre (2003) Adaptado de GODIER, TAPIE e CHIMITS (2002).

Modelo hierárquico ou racional Modelo estratégico ou negociado

Actores

(públicos e

privados) e

Cidadãos

Domínio do poder público e dos

Estados centrais. O sector privado

é um operador. Delegação do

interesse público; o cidadão é

informado ou consultado.

Transacções e contratos entre actores

públicos centrais e locais, actores

públicos e privados. O cidadão é

“associado” e pode participar na

elaboração dos projectos.

Profissionais

Centralização das apreciações

Profissionais do urbano

dominantes (engenheiros,

arquitectos). A engenharia pública

orienta e ordena o planeamento e

os projectos em colaboração com

os peritos liberais solicitados.

Primado do planeamento.

Abertura dos sistemas de apreciações.

Integração de novas exigências:

gestão, economia, comunicação.

Difusão de um modelo empresarial na

condução das apreciações.

Pluridisciplinaridade e modo de trabalho

por projecto.

Gestão de

projectos

Papel dos procedimentos e

daqueles que os definem

(engenharia pública). Definir

soluções para as instâncias e

profissionais legítimos

(engenheiros e arquitectos).

Informar.

Organização dos intervenientes e dos

recursos em redes políticas e técnicas.

Centralidade das funções estratégicas

e de mediação. Criação de instâncias

técnico-políticas de concertação.

Estabelecer um consenso e mobilizar.

20

Quadro 1-Modelos de planeamento in Alexandre (2003) Adaptado de GODIER, TAPIE e CHIMITS (2002).

Modelo hierárquico ou racional Modelo estratégico ou negociado

Temporalidade

dos projectos

Decompor e ordenar: plano,

programa, operações. Regras

hierarquizadas e a executar no

tempo.

Responder às evoluções contextuais e

ao jogo oportunidades-ameaças de um

ambiente em mudança acelerada.

Desta forma, os sistemas de planeamento tradicionais resultantes do crescimento urbano do

pós-guerra, com uma predominância do ordenamento do território e do desenho urbano com

carácter fortemente regulador, embora válidos e necessários à pratica da administração

urbanística, têm, no entanto, grandes dificuldades em conciliar as diferentes estratégias dos

agentes que no território se poderão determinar como factores decisivos de resposta à

mudança, na medida em que:

regulamentam muito mais do que estimulam;

concentram em organismos legalmente e democraticamente definidos o papel de motor

e o poder de decisão mais do que repartem a responsabilidade na iniciativa e no

consenso;

privilegiam a modificação da estrutura construída em detrimento da actividade social,

económica e cultural da comunidade como forma de transformar a cidade;

arbitram conflitos de interesse no processo de participação mas dificilmente se

constituem como plataformas para acordos de acções a empreender conjuntamente;

impõem-se na modelação do futuro, todavia são pouco ágeis na readaptação que as

mudanças sempre exigem.

Assim, a resolução dos problemas no momento do plano, e a prevenção das ameaças futuras

que se colocam a uma cidade não podem resolver-se unicamente através de propostas

urbanísticas, sendo necessária uma política mais ampla que vise alcançar objectivos

estratégicos intersectoriais. Mas sim, através de um processo de planeamento estratégico

ambicioso sendo necessário orientar e articular as acções sectoriais e estimular o conjunto da

sociedade para alcançar os objectivos definidos. Pois, “o desenvolvimento não depende tanto

de encontrar a combinação óptima para os factores de produção, mas de saber reconhecer e

mobilizar para o próprio desenvolvimento, recursos e capacidades que estão negligenciados,

dispersos ou mal utilizados” (HIRSCHMAN, 1958, cit. em HENDERSON e MORGAN, 1999).

Ou seja, a eficiência na organização, a arte de chegar a acordos, de resolução de conflitos e a

actividade de cooperação, são primordiais em qualquer processo de desenvolvimento.

(Alexandre, 2003)

21

Além disso, considera-se o sistema urbano como um conjunto integrado, onde as localizações

físicas, as redes de infra-estruturas, os processos ecológicos e as actividades económicas e

sociais estão inter-relacionadas de forma complexa. O sistema de planeamento exige a

integração adequada dos departamentos de planeamento (físico, social e económico) de forma

a compreender o complexo sistema urbano como um todo. (Alexandre, 2003)

A ênfase no planeamento holístico sublinha que o desenvolvimento físico deve ser

acompanhado pelo desenvolvimento social e da comunidade e auxiliado pelo desenvolvimento

económico apropriado. O planeamento para alcançar a integração deste desenvolvimento

multifacetado requer uma colaboração intersectorial para conceber capacidades dos sectores

público, privado e associativo. Assim, a noção de planeamento holístico está intimamente

ligada com a noção de parceria. (Alexandre, 2003)

Este tipo de planeamento, em vez de criar planos ou procedimentos para regular os resultados

físicos, visa o desenvolvimento de um processo através do qual uma renovação sustentável e

multifacetada possa ser alcançada de forma colaborativa (Henderson & Morgan, 1999).

No novo contexto em que o desenvolvimento da cidade se coloca, a abordagem estratégica

potencia e promove a ideia de Plano ou Projecto Estratégico como projecto comum,

indispensável para enquadrar e integrar a diversidade de interesses e de campos de acção

necessários à criação de inovação e à afirmação da posição da região (Rebelo, 2000).

Quanto à metodologia correntemente adoptada no desenvolvimento dos planos estratégicos à

escala da cidade ou à escala municipal, no âmbito da bibliografia analisada, a formulação é

significativamente coincidente. Do ponto de vista metodológico, conforme refere Maria Clara

Mendes (1994) o desenvolvimento de um plano estratégico integra quatro fases, apresentando-

se de forma sistemática na Figura 2.

22

Figura 2- As quatro fases de desenvolvimento de um plano estratégico integra.

Adaptado de Maria Clara Mendes (1994)

O Programa de Consolidação do Sistema Urbano Nacional e Apoio à Execução dos PDM

(PROSIURB), foi criado através do Despacho do MPAT n.° 6/94, de 26 de Janeiro de 1994,

destinando-se a apoiar o desenvolvimento integrado de acções de infra-estruturação,

equipamento e dinamização dos centros urbanos localizados fora das áreas metropolitanas de

Lisboa e do Porto. Os destinatários deste programa são, assim, os municípios, as associações

de municípios ou instituições privadas sem fins lucrativos.

No Despacho do MPAT n.° 7/94, de 21 de Janeiro de 1994, são definidos os termos em que o

indispensável plano estratégico da cidade deve ser realizado, definindo-o como um documento

da responsabilidade municipal, que visa definir um quadro coerente de intervenções que

viabilizem uma estratégia de desenvolvimento de médio e longo prazos para determinada

cidade. No contexto programático deste documento, são expressos os objectivos gerais que

-

-

-

-

-

-

23

devem presidir à elaboração do plano estratégico, são enunciados os objectivos estratégicos

segundo os quais este deve ser estruturado e é ainda expresso um amplo conjunto de

referências que o plano estratégico da cidade deve conter.

No âmbito da análise à metodologia adoptada na formulação dos planos estratégicos, Rebelo

(2000) constata que nos casos mais representativos, nomeadamente os elaborados para as

cidades de Évora (1995), Faro (1996), Lisboa (1992) e Torres Vedras (1996), é seguida na

generalidade a mesma metodologia, podendo ainda verificar-se na formulação, a influência da

definição do conteúdo programático que deve presidir à elaboração do plano estratégico. De

forma geral, é elaborado um diagnóstico, analisado o quadro de potencialidades e de

vulnerabilidades que sustentam e justificam a formulação dos objectivos e estratégias

desenvolvidas para a cidade. O autor verifica, ainda, algumas diferenças nos termos utilizados

e no nível de estruturação adoptado, constatando uma significativa semelhança entre os

conceitos utilizados, na relação e na hierarquização estabelecida entre estes. Com efeito, em

todos os casos analisados, identifica-se a opção por uma relação de sequencialidade,

coerência e hierarquia entre objectivos dotados de algum grau de agregação, entre as

estratégias adoptadas para alcançar esses objectivos e entre os programas, acções ou

projectos correspondentes.

Na sequência desta análise Rebelo (2000) afirma ainda que a tendência, a nível nacional, que

se verificou foi o excessivo protagonismo das Câmaras neste processo, utilizando os Planos

Estratégicos como meros instrumentos de captação de financiamentos municipais, pouco

mobilizadores da sociedade civil, pois estes Planos constituíam-se como condição de acesso

aos quadros comunitários, e ao nível municipal, no âmbito do PROSIURB. Estes planos não se

têm assumido assim como instrumentos de fixação de uma carta de compromissos mútuos,

tanto para os serviços públicos e agentes económicos, sociais e culturais, como para os

cidadãos em geral.

Assim, de uma forma geral, é possível afirmar que estes planos foram elaborados com

excessiva rapidez, por conseguinte faltou-lhes a orientação de princípios metodológicos na

definição de instrumentos, agentes operadores e meios, num processo que se distingue

sobretudo pela ausência da participação dos cidadãos. Este défice de comunicação dos

cidadãos, é inibidor da sua participação activa, comprometendo aspectos fundamentais da

metodologia do processo de planeamento estratégico.

Há no entanto que reconhecer que deste processo resultou uma evolução significativa, quer

para a forma de encarar o planeamento, quer para a sua prática. Assim, identificam-se os

seguintes aspectos positivos no Quadro 2.

24

Quadro 2- Aspectos positivos com a introdução da prática dos Planos Estratégicos

A prática tradicional do

planeamento beneficiou da

introdução de alguma inovação

metodológica e dos princípios

do planeamento estratégico

adoptando-se métodos de prospectiva, de integração de

um conjunto mais alargado de factores e de componentes

críticos ao planeamento (com incidência nas variáveis

externas às áreas de influência), valorizando-se o diálogo

entre instituições e agentes e aumentaram-se as

exigências de organização

Foram também ultrapassadas

algumas limitações do

planeamento tradicional

integrando componentes não espaciais, assumindo o plano

como um processo para a resolução de problemas através

do diálogo e da participação, da criação de

complementaridades e da descentralização de

competências e responsabilidades, racionalizando-se e

valorizando-se assim os recursos

Divulgou-se uma atitude e uma

metodologia de actuação

estratégica no exercício político

do poder

elevando o nível de exigência dos cidadãos face ao

planeamento e a todos os agentes nele intervenientes

No entanto, na análise de Oliveira das Neves (1996) sobre a apropriação pela orgânica do

planeamento de base municipal dos planos estratégicos, o autor refere que há um atraso

apreciável, arriscando-se a constituir uma moda passageira, não assimilada pelos actores na

sua génese e motivação, e que poderia, por isso, prolongar a má sina do planeamento do

território em Portugal: preencher requisitos jurídico-formais de acesso a programas e recursos

financeiros ou de legitimação da gestão do uso e ocupação do solo. Neste contexto, o

florescimento do planeamento estratégico no nosso país poderia desenvolver o efeito perverso

primário de encerrar a reflexão estratégica - que viesse a ter lugar durante a fase de

elaboração - nos planos, ao invés de contribuir para a modernização dos mecanismos e

instrumentos de gestão do território.

Rebelo (2000) comenta esta perspectiva de Oliveira das Neves (1996) referindo que a

apropriação dos referenciais teóricos e da prática do planeamento estratégico pela

administração local no âmbito de um quadro integrador para racionalizar a acção pública

urbana, numa postura analítica e propositiva que teve em vista dotar a administração de

instrumentos de gestão num contexto de mudança, sobretudo da sua envolvente externa e das

vantagens competitivas que aí possam consolidar. O autor sugere, ainda, que a necessidade

de articular planeamento e gestão com um duplo significado:

25

A existência de um Plano Estratégico de Cidade

como resultado de um processo de

consensualização de objectivos entre

agentes públicos e privados, a ter

sequência em instrumentos de gestão e de

concertação institucional

concebido no contexto de mudança referido e

dando lugar a instrumentos inovadores de

gestão, deve ter sequência no domínio da

reorganização dos serviços, tanto na perspectiva

da qualificação dos serviços prestados aos

cidadãos e às empresas, como na perspectiva da

própria filosofia de estruturação interna e

funcionamento efectivo desses serviços

Rebelo (2000) destaca que esta problemática inserida num contexto actual torna pertinente e

interessa a análise a contribuição de dois aspectos essenciais ao seu enquadramento. Por um

lado a crítica à profusão e diversidade de planos e figuras de planeamento, e por outro, ao

conteúdo unificador da Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo

(LBPOTU), Lei n.° 48/98, de 11 de Agosto, no âmbito de uma intervenção unificadora, institui o

princípio da tipicidade, através do qual se estabelece que o planeamento só poderá

consubstanciar-se através de tipos de planos previstos pelo legislador.

Neste sentido torna-se importante mencionar a perspectiva de Fernando Condesso (1999): o

grande objectivo da política de ordenamento é a integração de todas as acções promovidas

pela Administração Pública, ou seja, o eixo basilar da eficácia da política de ordenamento

passa a ser a obrigação da sua integração com as outras políticas, numa exigência imposta

aos poderes públicos de integração positiva, activa (inserir as suas opções nas outras políticas)

e de integração negativa, reactiva, na vertente do princípio da precaução ou da prevenção

(evitar nas definições das diferentes políticas tomar ou executar medidas que prejudiquem os

princípios e orientações da política do ordenamento territorial).

Assim, tendo em conta os aspectos já mencionados supra sobre a validade do processo de

planeamento estratégico e os benefícios que a metodologia e os princípios que o planeamento

estratégico trazem à prática tradicional do planeamento, ultrapassando algumas das suas

limitações e divulgando uma nova atitude face ao planeamento, referidos por Oliveira das

Neves (1996) quanto à necessidade de produção de um quadro integrador para racionalizar a

acção pública no ordenamento, adopta-se nesta dissertação a mesma posição de Rebelo

(2000), ou seja, uma perspectiva unificadora, a integração dos princípios e fundamentos do

planeamento estratégico na pratica aplicada de planeamento municipal, nos campos

socioeconómicos e urbanísticos.

Pois, tal como Rebelo (2000) sugere, trata-se de desenvolver, como uma solução possível, um

modelo de integração da metodologia do planeamento estratégico e da pratica de elaboração

dos planos estratégicos municipais no contexto do processo de planeamento municipal, de

26

forma consistente e no âmbito de uma perspectiva sistémica. Ressalva-se aqui sobre este

aspecto, o significativo grau de coerência e de consistência verificado entre a formulação

utilizada nos planos estratégicos, analisados anteriormente, e a metodologia da abordagem

formal adoptada para o sistema municipal de planeamento no âmbito do presente trabalho.

De notar, que este modelo a desenvolver integra o planeamento estratégico e a metodologia de

desenvolvimento dos planos estratégicos na base do planeamento municipal. Desta forma, os

princípios do planeamento estratégico poderão assumir um papel estruturador do planeamento

municipal, contribuindo para minimizar uma administração fragmentária e casuística do

território.

27

2.4 Planeamento Municipal

Expresso em planos físicos de acção, o modelo racionalista do planeamento foi dominante na

sua pratica até ao final dos anos 60, altura em que começou a ser contestado por, entre vários

motivos, excessivo determinismo, pouca flexibilidade, incapacidade de atender à diversidade

de valores e de interesses de urna sociedade em que o social e o económico ganhavam uma

importância crescente e, finalmente, por continuar a assumir o processo racional como a única

forma válida de pensamento (Healey P. , 1990).

Na década de 70, a emergência de novas ideias neste domínio traduziu-se por alterações na

prática do planeamento associadas a transformações nas formas de intervenção dos estados

(descentralização, novos níveis de planeamento sectoriais e espaciais, criados para enquadrar

diferentes formas de governo local e regional e a participação de partidos políticos), e a uma

crise financeira e fiscal do estado que se reflectiu em novas prioridades nas despesas públicas.

Na emergente estrutura económica e institucional, o papel do técnico de planeamento e do seu

produto sofreu também alterações.

Como resultado do debate sobre a validade do racionalismo no planeamento foram enunciadas

novas abordagens menos interessadas na questão do modelo teórico a ser adoptado e mais na

eficácia da prática do planeamento. Nas questões levantadas, maioritariamente ligadas a

posições que defendiam um maior pragmatismo, era proposto dar mais atenção ao processo

de implementação, à procura do consenso e ao papel do planeamento como forma de

aprendizagem. Numerosas contribuições teóricas se seguiram, destacando-se a de Michael

Porter, 1982, que demonstrou que os métodos operacionais só davam correctamente conta de

um pequeno número de situações muito particulares, e que não passavam, portanto, de uma

parte de um todo muito mais vasto, dando ênfase ao contexto constatado para as organizações

como o principal factor explicativo da estratégia. Para este autor, no entendimento mais

simples e mais vulgar, a estratégia consiste numa política geral para alcançar objectivos

específicos.

O conceito actual de urbanismo transcende hoje o sentido estrito que a etimologia do termo

sugere, o estudo do que é próprio da urbe, da cidade, do aglomerado urbano. A conjuntura

económica, social e política, surgida após a II Guerra Mundial, vem alargar este conceito do

ordenamento da cidade, ao contexto das regiões e das nações.

Fernando Condesso, 1999, define a urbanística como o conjunto de técnicas que orientam a

criação e expansão dos aglomerados urbanos. Compreendem-se neste conjunto uma ampla

diversidade de áreas do conhecimento, como a arquitectura, a engenharia, a biologia, a

geografia, o direito, as técnicas de construção, as técnicas de planeamento ou as tecnologias

de comunicações e de transportes.

Esta compreensão mais alargada das questões urbanísticas traduziu-se em Inglaterra, no início

dos anos 40, na designação abrangente de Town and Country Planning Acts, num conjunto de

28

leis para a planificação do campo e da cidade. Também os franceses, por seu lado, a partir de

metade da década de 40, com as políticas de "l'aménagement du territoire", foram

incorporando progressivamente medidas que têm que ver com as interligações existentes entre

a planificação territorial e a económico-social, até englobarem finalmente as preocupações

ambientais.

Em Portugal, também se verificou este entendimento amplo das questões urbanísticas.

Margarida Souza Lôbo (1995), abordando o desenvolvimento do urbanismo em Portugal, no

contexto da elaboração dos planos de urbanização à época de Duarte Pacheco, refere uma

visão alargada do processo de planeamento, que envolve a estruturação administrativa e a

fundamentação legal das operações a desenvolver.

Actualmente, o urbanismo, passa por uma abordagem global e integradora de tudo o que se

refere à relação do homem com o meio físico em que se insere, e que, conforme Michael

Porter, 1980, tem o solo como recurso natural insubstituível e inexpansível, como eixo

operativo, impondo estratégias de intervenção, que seriam impossíveis sem um dado

planeamento.

De acordo com Sidónio Pardal, Costa Lobo, e Paulo Correia o urbanismo pode entender-se

como a arte e ciência de conceber a adaptação de espaços concretos do território, de forma a

criar aí condições favoráveis à instalação de comunidades humanas. O urbanismo visa assim

ordenar, planear, projectar e construir o espaço das actividades sociais, com mérito técnico e

estético.

O planeamento urbanístico surge na História como o meio de colectivamente reajustar o

processo de desenvolvimento espacial a novas formas de produção, utilização e apropriação

do espaço urbano. Duas ideias principais têm estruturado o conceito e a prática do

planeamento, a necessidade de coordenação dos diversos interesses na definição dos

objectivos de desenvolvimento e a necessidade de um programa de trabalhos e de uma

sequência hierarquizada de acções para atingir esses objectivos.

E segundo Sidónio Pardal (2000), quando o poder político tem capacidade de controlar o

processo de decisão, prevalecem os critérios e objectivos decorrentes da sua linha

programática. Se existirem condições favoráveis para o desenvolvimento do trabalho do

urbanista, este poderá então assumir a responsabilidade dos resultados, sob o ponto de vista

urbanístico, nas vertentes técnica e estética. Com um aparelho administrativo bem configurado

e enquadrado pode assegurar-se a eficiência do processo urbanístico e garantir condições de

participação pública, argumentação crítica e implementação das acções em tempo útil.

Após selecção e aprovação das soluções de plano, passa-se à sua implementação no contexto

do processo de gestão urbanística. A gestão, com as suas estratégias, é hoje um domínio que

29

tende a demarcar-se, às vezes com exageros de autonomia. A gestão deve sujeitar-se aos

objectivos programáticos e conceptuais dos planos.

Ainda de acordo com Sidónio Pardal (2000) o processo de planeamento, tal como se apresenta

na actualidade, integra seis componentes:

a realidade social e territorial concreta;

a teoria de Direito e a superestrutura jurídica e administrativa;

as bases de ordenamento que procuram o conhecimento objectivo produzido sobre

uma determinada realidade social e territorial;

os planos e os seus métodos, incluindo a sua avaliação para apoio à decisão;

a gestão urbanística e as suas estratégias que desenvolvem projectos, realizam obras

e instalam serviços;

a monitorização e o seu apoio a um planeamento flexível e dinâmico.

Os planos têm de emergir de um poder consubstanciado em princípios inerentes ao Estado de

Direito. Os conteúdos dos planos que interferem com os direitos dos cidadãos, enquanto

utilizadores de bens essenciais à sua vida e enquanto proprietários, carecem de uma

legitimidade que só pode ser garantida pela própria lei. No entanto, o conteúdo da lei, em

última instância, legitima-se pela sua racionalidade, nomeadamente no que diz respeito à sua

fundamentação urbanística e pela forma como é aplicada. A argumentação técnico-científica, a

crítica estética e a apreciação subjectiva devem ter um espaço próprio no processo de

planeamento e gestão.

O Estado, as regiões autónomas e as autarquias locais, nos termos das suas atribuições e das

competências dos respectivos órgãos, devem ordenar o território, ou seja, promover, de forma

articulada, políticas activas de ordenamento do território, de acordo com o interesse público e

no respeito pelos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, o que envolve a obrigação de

zelar pela efectiva consolidação de um sistema de gestão territorial e de acautelar os efeitos

que as demais políticas prosseguidas possam, aos diversos níveis, envolver para o

ordenamento do território.

A política territorial ou do ordenamento do território é enformada pelo conjunto de normas

jurídicas, planos, programas e actuações desenvolvidas pela administração pública,

reguladoras do uso do solo, com uma visão global e integrada, de modo que as acções das

entidades públicas e privadas com incidência no espaço físico sejam prosseguidas com

objectivos sociais orientados para a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das

comunidades residentes (Condesso, 1999).

O controlo da administração pública sobre o processo de urbanização foi aumentando na

mesma medida que o ritmo de crescimento e a importância das principais áreas urbanas do

país se foi concretizando (Correia, 2002), situação que se intensificou depois da queda da

ditadura em Portugal, em 1974. Nesta altura, verificavam-se carências e deficiências em vários

30

sectores do país, especialmente no sector das infra-estruturas e habitação, e com um défice de

600 000 alojamentos. Na sequência da afirmação do poder local na Constituição da República

Portuguesa (1976), surgiu a primeira Lei de Atribuições e Competências das Autarquias Locais

(Lei 79/77), que representou um sinal claro da administração pública, no reforço progressivo da

autonomia municipal nas questões referentes ao planeamento físico (Oliveira, 2010).

A Lei n.° 48/98, de 11 de Agosto, Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de

Urbanismo (LBPOTU), visa unificar o tratamento de uma parte do direito referente à disciplina

do território. Estabelecendo os princípios e objectivos desta política, a política de ordenamento

do território e de urbanismo define e integra, com base na instituição de um sistema de gestão

territorial (composto por um conjunto coerente e racional de instrumentos prospectivos,

concretizadores da interacção coordenada dos diversos âmbitos territoriais), as acções

promovidas pela Administração Pública, para assegurar uma adequada organização e

utilização do território nacional, em ordem à sua valorização, designadamente no espaço

europeu, na perspectiva do desenvolvimento económico, social e cultural integrado,

harmonioso e sustentável do país, suas diferentes regiões e aglomerados urbanos.

A LBPOTU institui o princípio da tipicidade, através do qual impede a Administração Pública de

dar ao conteúdo planificador o continente que entende, ou seja, o planeamento só poderá

consubstanciar-se através de tipos de planos e figuras de plano previstas pelo legislador, a

quem compete escolher os nomes dos planos e definir os seus objectivos, procedimentos de

elaboração e conteúdos técnicos.

Os planos ou instrumentos da gestão territorial preconizados na LBPOTU, efectivam a

organização funcional do território, em quatro categorias distintas, de acordo com as funções

diferenciadas que desempenham, designadamente: instrumentos de desenvolvimento territorial

(IDT), instrumentos de planeamento territorial (IPT), instrumentos de política sectorial (IPS) e os

instrumentos de natureza especial (INE).

Dentro do âmbito estabelecido para o presente trabalho, num primeiro estágio de ajustamento

ao seu enquadramento municipal, a análise a efectuar incidirá apenas sobre os instrumentos

de planeamento territorial, constituídos pelos planos municipais de ordenamento do território

(PMOT), que compreendem o plano director municipal (PDM), o plano de urbanização (PU) e o

plano de pormenor (PP). Sendo instrumentos de natureza regulamentar, estabelecem o regime

de uso do solo, definindo modelos de evolução da ocupação humana e da organização de

redes de sistemas urbanos e, na escala adequada, os parâmetros de aproveitamento do solo.

É neste contexto que surge a figura do Plano Director do Município. Os primeiros planos

municipais ocorreram de 1975 a 1981, com a designação de “Concelhios” ou de “Estruturas”,

sendo caracterizados pela inexistência de um enquadramento legal, e cujo processo de

elaboração coube às equipas municipais responsáveis (Pereira, 2003). Foi precisamente com a

31

influência da experiência do PDM de Évora, cuja elaboração decorreu entre 1978 e 1981, e que

foi considerada um sucesso, que se criou o Plano Director Municipal (PDM)2.

O PDM dotou pela primeira vez as autarquias portuguesas de algum grau de autonomia no

planeamento, conferindo-lhes um papel central no processo de desenvolvimento do seu

município, definindo: “… as metas a alcançar nos domínios do desenvolvimento social do

município, nas suas relações com o ordenamento do território, é um instrumento de

planeamento, ocupação, uso e transformação do território do município pelas directrizes

sectoriais, de actividade nele desenvolvidas e é um instrumento de programação das

realizações e investimentos municipais …” (artº1)(Oliveira,2010).

No entendimento de Ferreira (2005) era um conceito demasiado avançado para o seu tempo,

revelando posteriormente pouca eficácia, várias dificuldades e escassez na sua aplicação. Em

termos gerais, Pereira (2003), aponta como causas para este insucesso o “...carácter

facultativo, a ausência de uma cultura de planeamento e a valorização da gestão quotidiana

dos problemas do momento em prejuízo de uma visão integrada de médio/longo prazo...”.

Assim, este insucesso pode ser associado ao processo per si, e à incapacidade de

Administração (autarquias e estado central) para o levarem à prática. O processo de

elaboração e aprovação do PDM era bastante complexo, moroso e burocrático, dividido em

fases rígidas, que precisavam de aprovações parcelares, quer por parte dos municípios quer

pelas Comissões Técnicas de Acompanhamento (CTA). Estas comissões tinham como

objectivo, além de harmonizar os PDM vizinhos entre si, compatibilizar estes com os objectivos

da política regional e nacional, consoante as políticas da Administração Central. No entanto,

Ferreira (2005) também considera que a sua acção revelou-se ineficaz face ao excessivo

número de membros da sua composição técnica (em média 8 a 10), além da incapacidade

técnica e pouca experiência dos funcionários face à realidade do terreno. Relativamente à

Administração Central, esta falhou na medida em que não providenciou um enquadramento

legal claro ao nível da política regional3, não dando indicações políticas balizadas e objectivas

ao plano(Oliveira,2010).

Com a entrada de Portugal na Comunidade Económica Europeia (1986), a situação do

planeamento municipal sofreu alterações, aumentando a pressão política para cobrir todo o

território nacional com planos municipais, situação que não foi cumprida com o D.L. 208/82.

Neste sentido, em 1990, é criado o D.L 69/90, regulamentando os Planos Municipais do

Ordenamento do Território (PMOT). Através deste, as antigas figuras do Plano Geral de

Urbanização (PGU) e Plano Parcial de Urbanização (PPU) dão lugar ao Plano de Urbanização

(PU) mantendo-se a figura do Plano Pormenor (PP). De salientar a importância destas duas

figuras no planeamento municipal, operando a diferentes escalas. Deste modo, o PU (escala

2 Regulamentado pelo D.L 208/82, Portaria (P) 989/82 e Decreto Regulamentar 91/82.

3 Os Planos Regionais de Ordenamento do Território (PROT) foram criados em 1983, pelo D.L 338/83, mas viria a ser

revisto pelo D.L 176-A/88, e a primeira conclusão e aprovação só aconteceu em 1991 com o PROT – Algarve.

32

1:5000) define: “… uma organização para o meio urbano, estabelecendo, designadamente, o

perímetro urbano, a concepção geral da forma urbana, os parâmetros urbanísticos, o destino

das construções, os valores patrimoniais a proteger, os locais destinados à instalação de

equipamentos, os espaços livres e o traçado esquemático da rede viária e das infraestruturas

principais …” (Artigo 9º, alínea 3) (Oliveira,2010).

A mesma figura urbanística define também as Unidades Operativas de Planeamento e Gestão

(UOPG4) que servirão de base ao desenvolvimento, enquanto o PP, actuando a uma escala

mais reduzida (escala 1:1000, 1:2000) define: “… com minúcia, a tipologia de ocupação de

qualquer área específica do município, estabelecendo no caso de área urbana a concepção do

espaço urbano, dispondo, designadamente, sobre usos do solo e condições gerais de

edificação, quer para novas edificações, quer para transformação das edificações existentes,

caracterização das fachadas dos edifícios e arranjos dos espaços livres …” (Artigo 9º, alínea 4)

(Oliveira,2010).

O PDM tem um horizonte de 10 anos (desde a sua ratificação), a partir dos quais deve ser

revisto. Para a sua ratificação é necessário integrar um conjunto de elementos fundamentais,

dos quais constam um regulamento, que é traduzido espacialmente através da Planta de

Ordenamento e da Planta Actualizada de Condicionantes. A Planta de Ordenamento “…

delimita classes de espaços, em função do uso dominante, e estabelece UOPG...” (artigo 10º,

alínea 3), enquanto que a planta actualizada de condicionantes é uma planta síntese,

resultante de várias análises parcelares, que espacializa todo o tipo de restrições (legais e

físicas) à ocupação urbana com o objectivo de salvaguarda dos valores naturais e culturais.

Esta inclui as servidões administrativas e restrições de utilidade pública, integrando áreas da

“…Reserva Agrícola Nacional e da Reserva Ecológica Nacional, áreas submetidas ao regime

florestal, áreas de protecção a imóveis classificados e as áreas integradas no domínio público

hídrico...” (artigo 10º, alínea 6) (Oliveira,2010).

As principais inovações deste diploma face ao anterior têm a ver com o aligeirar do processo

de elaboração (através do conteúdo mínimo de cada figura de plano), dispensando-se os

volumosos estudos sectoriais, e de componente sócio económica dos PDM, bem como tornar

facultativo o plano de financiamento e o programa de execução (Pereira, 2003). O objectivo

deste instrumento era um reforço das autonomias dos municípios na condução do processo

(concedendo-se autonomia aos municípios para a aprovação do PU e de PP desde que

compatíveis com o PDM ratificado), tendo como visão o novo regime da elaboração dos PMOT,

estipulado até à data de 31 de Dezembro de 1991. Esta “celeridade” política tinha, porém, um

motivo muito concreto e objectivo, nomeadamente o facto do Estado português estar sob

pressão da CEE, para a elaboração dos planos, cuja forma viria a ser exercida sob um

4 Conceito definido como uma “…porção contínua do território, delimitada em PDM ou PU para efeitos de

programação da execução do plano ou da realização de operações urbanísticas” (D. Reg. nº9 de 29/05/2009).

33

condicionamento ao acesso de fundos comunitários por parte das autarquias que não

dispusessem de PDM aprovado, em algumas medidas dos Programas Operacionais

Regionais5 (Oliveira,2010).

Tendo em conta as condições impostas, os municípios acataram naturalmente as ordens de

elaboração, aprovação e ratificação dos PDM. Porém este provou-se “muito moroso e bastante

atribulado”, tendo a grande maioria necessitado entre 3 a 5 anos6, para se tornar eficaz desde

a data da nomeação da Comissão Técnica de Acompanhamento até à publicação em Diário da

República (Alves, 2003). Tal facto pode ser comprovado pelos dados totais de aprovação dos

PDM ao nível nacional, dado que no final de 1991, 23 PDM ainda não tinham a CTA nomeada

e apenas sete municípios dispunham de PDM aprovado (mais três posteriores à lei). No final

de 1993, esse valor subiu para 34 municípios, sendo que a maior parte das ratificações

concentraram-se em 1994 e 1995 (Pereira, 2003), e em finais de 1996, mais de 250 concelhos

dos 275 do continente, tinham o seu PDM ratificado. No final da década de 90, concretizam-se

cerca de 90% dos PDM; porém, o país só estaria totalmente coberto por estes instrumentos de

planeamento com a ratificação do Plano Director Municipal de Góis, em 2003 (Oliveira,2010).

Vários autores apontam inúmeras razões e condicionantes para justificar esta demora no

processo. Portas (1995) refere a impreparação do país, quer do ponto de vista político-

administrativo, quer técnico. Enquanto outros autores debruçam-se sobre a incapacidade

técnica de vários agentes públicos, e sobre os conflitos difíceis de resolver, que surgiram com

as CTA (com exemplos de excesso de formalismos na aplicação das regras), estas

frequentemente alteravam as regras e as metodologias, obrigando as equipas municipais a

alterar muitas vezes os seus planos. Persistiam ainda problemas como cartografia inadequada,

ambiguidade nos critérios de demarcação das reservas agrícola e ecológica nacionais,

informação estatística dispersa (ou mesmo desactualizada) e sem desagregação espacial

ajustada ao planeamento municipal (Oliveira,2010).

Do lado das autarquias também havia alguma desconfiança, tendo em conta que

presumivelmente este seria um instrumento que iria condicionar as decisões do município,

diminuindo o grau de discriocinidade e de arbitrariedade destas (Alves, 2007). Por último, por

parte das empresas que elaboravam os PDM, também não existia capacidade de resposta em

relação aos compromissos assumidos contratualmente com as câmaras municipais, pois

algumas delas tinham a seu cargo a elaboração de um número elevado de PDM (Correia,

2003).

Cruz (2003) referindo Nunes da Silva (1997), critica a aplicabilidade dos PDM por várias

razões, apontou os contributos positivos no ordenamento do território, organizados no Quadro

3:

5 Incluídas no Plano de Desenvolvimento Regional 1994-99 (Despacho 62/MPAT/94, de 2/8.) e no Plano

de Desenvolvimento Regional 2002-2006 (D.L nº281/99, 14/10). 6 Uma média de 4,3 anos para a sua elaboração.

34

Quadro 3 – Factores negativos e positivos PDM da década de 90 Adaptado de Cruz (2003)

Pontos negativos Pontos positivos

A classificação e fiscalização dos espaços nem

sempre se apoiaram nas tendências do

crescimento urbano;

Contenção da admissibilidade urbanística e

do crescimento urbano em determinados

espaços;

As áreas urbanizáveis foram globalmente

sobredimensionadas;

Fomento de um maior rigor e transparência

no processo de licenciamento do uso do

solo;

A regulamentação dos espaços urbanizáveis

teve um detalhe excessivo (próprio de um PU

ou PP);

Maior uniformização de critérios de gestão

urbanística;

Os valores médios dos índices propostos não

foram enquadrados na dimensão dos

perímetros urbanos;

Existência de maior objectividade na

administração urbanística, nomeadamente

na emissão de parecer;

Alguns planos pecaram pelos demasiados

condicionalismos ou restrições impostas e uma

excessiva regulamentação;

Os PDM passam a ser os principais

instrumentos da administração urbanística.

Para o espaço urbano consolidado foram

fixadas regras e índices, mas o espaço público

(ao nível dos equipamentos e das infra-

estruturas) foi descurado;

Os objectivos do desenvolvimento estratégico

poucas vezes são claros e precisos;

Deficiente atenção aos requisitos para a sua

implementação, por exemplo, insuficiência de

orientação de política fundiária e omissão sobre

as fontes de financiamento.

A urgência imposta pelo Governo levou a uma produção “em série” de planos por parte das

autarquias, muitas vezes sem a qualidade desejável face ao tempo curto para elaboração e à

escassez de recursos técnicos, sendo poucas as que iniciaram um processo de gestão do

plano, ou seja, contínuo no tempo).

35

Posteriormente, a Lei 48/98, de 11 de Agosto, denominada “Lei de Bases do Ordenamento do

Território” (LBOTU) estabeleceu, pela primeira vez em Portugal, as bases da política de

ordenamento do território e de urbanismo (capítulo I, artigo 1). Esta lei propõe um sistema de

gestão territorial, coordenado em três âmbitos distintos, designadamente nacional, regional e

municipal, este último tem de establecer “…de acordo com as directrizes de âmbito nacional e

regional e com opções próprias de desenvolvimento estratégico, o regime de uso do solo e a

respectiva programação” (artigo 7, alínea c). O sistema de gestão territorial é também

operacionalizado através de diferentes tipos de instrumentos de gestão territorial7, destacando-

se no contexto do planeamento municipal, os instrumentos de planeamento territorial, de

natureza regulamentar, que estabelecem o regime de uso do solo, definindo modelos de

evolução da ocupação humana e da organização de redes e sistemas urbanos e, na escala

adequada, parâmetros de aproveitamento do solo (artigo 8, alínea a). Este diploma previa que

no prazo de um ano fossem aprovados os diplomas legais complementares que iriam definir o

regime jurídico dos vários âmbitos (nacional, regional e municipal), o que aconteceu em 1999,

através do D.L n.º 380/99, denominado Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial

(RJIGT) (Oliveira,2010).

Inserido no RJIGT, na categoria dos instrumentos de planeamento territorial, de natureza

regulamentar, está o PDM, que é definido como um plano que “... estabelece o modelo da

estrutura espacial do território do município, constituindo uma síntese da estratégia perseguida

de desenvolvimento e de ordenamento local, integrando as opções de âmbito nacional e

regional com incidência na respectiva área de intervenção” (art. 84º) (Oliveira,2010).

Comparando com o anterior diploma, segundo Pereira (2003:183), caracterizando as principais

diferenças afirma que: “…questões de desenvolvimento são (re)integradas, o programa de

execução e o plano de financiamento ganham de novo carácter vinculativo (mas agora apenas

integram o investimento público) e, pela primeira vez, é colocada particular atenção na

execução dos instrumentos de planeamento territorial, nas condições de revisão dos planos e

nas formas de avaliação da execução” (Oliveira,2010).

A inovação relativamente a este D.L tem a ver com o facto de a monitorização ser integrada,

pela primeira vez e de forma explícita, no processo de planeamento, através da figura do

Relatório do Estado do Ordenamento do Território Municipal (REOT-M). A câmara municipal

tem de apresentar, de dois em dois anos, à assembleia municipal (e após discussão

municipal), o REOT-M, cujo conteúdo contém a execução dos PMOT, bem como a sua

articulação com a estratégia de desenvolvimento municipal, abrindo a possibilidade de uma

eventual necessidade de proceder à sua revisão ou alteração (artº144 do D.L nº380/99). Neste

contexto, a avaliação dos níveis de execução do plano devem incidir sobre factores como:

ocupação do solo, compromissos urbanísticos, reservas disponíveis do solo urbano, níveis de

7 Instrumentos de desenvolvimento territorial, Instrumentos de planeamento territorial, Instrumentos de

natureza especial e Instrumentos de política sectorial.

36

infra-estruturação, equipamentos, acessibilidades e condicionantes. A dinâmica recente deve

ser também demonstrada através da evolução dos principais indicadores do concelho

(demográficos, económicos e sócio-culturais), bem como pela avaliação da qualidade

ambiental, nomeadamente eficácia dos sistemas de abastecimento de água, de saneamento

básico, de recolha e tratamento de resíduos, aliados a outros indicadores ambientais (Pereira,

2003).

Houve também a preocupação de abrir o processo de planeamento a outros agentes fora do

município através de alterações na composição da Comissão Mista de Coordenação (CMC),

que para além dos representantes do próprio município e de vários serviços da administração

directa e indirecta do Estado, abriu a possibilidade de participação dos representantes dos

municípios vizinhos e das organizações económicas, sociais, culturais e ambientais de maior

relevância na área do município (Oliveira,2010).

A revisão do plano (art. 98 do D.L nº380/99) apenas pode acontecer três anos após a

ratificação, e se esta acontecer antes do horizonte a partir do qual é obrigatória (10 anos),

devido a alterações não pontuais e de suspensão parciais, terá que ser necessariamente

justificada através de um relatório que aborda a avaliação da execução e a caracterização da

evolução das condições económicas, sociais, culturais e ambientais do sistema territorial

(Oliveira,2010).

A alteração ao PDM foi também simplificada, podendo ser de dois tipos: alterações simples

(regime simplificado) ou alterações mais complexas (regime mais complexo), incluindo neste

caso a revisão e suspensão do PDM e também a divulgação da informação e promoção da

participação da população e esclarecimento público. Nos últimos anos, tem-se verificado um

grande dinamismo na alteração e revisão de PDM, designados por PDM de segunda geração,

devendo-se a pelo menos a quatro ordens de factores (Alves, 2007):

a revisão tornou-se obrigatória para um elevado número de PDM ratificados no início

da década de 90;

dificuldades sentidas na elaboração dos PDM de primeira geração, quer ao nível

técnico (exemplo da cartografia) ou político (caso das indefinições em termos de

orientação aos níveis nacional e regional) foram supridas;

a elaboração de planos nacionais, regionais, especiais e sectoriais, obrigaram a

adaptações nos PDM em vigor;

as perspectivas de desenvolvimento nos municípios alteraram-se profundamente nos

últimos anos, obrigando a adaptações nos planos municipais.

Seguidamente sintetiza-se o papel dos três principais diplomas do Planeamento Municipal, no

quadro 4:

37

Quadro 4 - Evolução do enquadramento legal do Planeamento Municipal Fonte: in Oliveira (2010) Adaptado de Pereira (2003)

Decreto-Lei 208/82 Decreto-Lei 69/90 Decreto-Lei 380/99

Pontos Positivos Pontos Negativos Pontos Positivos Pontos Negativos Pontos Positivos Pontos Negativos

Inovador nos domínios conceptual e metodológico

“Desajustado” da realidade nacional

Escassez de corpo técnico (administrativo e empresas)

Insipiência da cultura de planeamento

Simplificação do processo

Carácter de obrigatoriedade para aceder a fundos comunitários foi decisivo para impulsionar o processo

Concretização generalizada dos PDM

Riscos referidos anteriormente

Maior ênfase à execução do plano

Ultrapassada a fase do mero projecto-plano

Fase de aprendizagem do

Planeamento Municipal

Consolidação do Planeamento

Municipal

Posteriormente às referencias temporais enunciadas, ocorreram alterações ao RJIGT,

nomeadamente através do D.L nº 316/2007, de 19 de Setembro, e do D.L 46/2009, de 20 de

Fevereiro. A alteração do primeiro decreto-lei aconteceu pela necessidade de modificar o

conteúdo material dos PU e dos PP, bem como do regime da dinâmica dos instrumentos de

gestão territorial em geral. As principais alterações desse decreto-lei passam pela

reclassificação do solo, integração da avaliação ambiental estratégica, alteração no processo

de acompanhamento e de aprovação, bem como a alteração da justificação da revisão

(Oliveira,2010).

Deste modo, a reclassificação do solo, nomeadamente de solo rural para solo urbano, passa a

ter carácter excepcional, limitando-se aos casos comprovadamente necessários para a

expansão populacional e ao desenvolvimento económico e social. Destaque ainda para a

integração da Avaliação Ambiental Estratégica, através da produção de um Relatório Ambiental

conforme consagrado no D.L n.º 232/2007, de 15 de Junho, com o objectivo de analisar os

efeitos ambientais durante as várias fases de execução dos instrumentos de gestão territorial

(i.e. elaboração, acompanhamento, participação pública e aprovação). Por fim, ao nível do

processo de acompanhamento (Portaria n.º 1474/2007, de 16 de Novembro), as CA deixam de

integrar os representantes de interesses económicos, sociais, culturais e ambientais

(Oliveira,2010).

Quanto ao D.L 46/2009, de 20 de Fevereiro, alterou o RJIGT, nomeadamente na temática da

suspensão dos PMOT, com o intuito de aumentar a responsabilização e autonomia dos

municípios pelas suas opções em matéria de ordenamento do território e de urbanismo

(Oliveira,2010).

38

Devido a esta mudança, foi constatada a necessidade de proceder a alterações em matérias

relacionadas, caso da anulação das ratificações de medidas preventivas. No entanto, esta

política não significou um retrocesso dos poderes do Estado Central, já que este optou também

por um reforço da participação das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional

(CCDR), através da previsão da emissão de pareceres nos procedimentos de suspensão dos

planos municipais de ordenamento do território e no estabelecimento de medidas preventivas

(Oliveira,2010).

A recente evolução do quadro legal no âmbito municipal, alarga as competências e a

capacidade de intervenção das autarquias, municípios e freguesias, no desenvolvimento

socioeconómico e na transformação do território, exigindo o correspondente aumento

qualitativo e quantitativo das acções de planeamento, gestão e controlo municipais. O âmbito

do planeamento municipal é, por definição, um âmbito complexo, multifacetado, global. Deste

âmbito fazem parte a própria complexidade dos fenómenos socioeconómicos e territoriais,

percebidos na sua dinâmica, de forma não sectorial, e encarados numa perspectiva de acção

transformadora das relações sociais e respectivos espaços, de resolução progressiva dos seus

problemas (Rebelo, 2000).

De uma forma exaustiva e sistemática, no âmbito de diversos estudos de base sobre o

planeamento municipal, Luz Valente Pereira (1986) por analogia com o exercício da acção

política pelos autarcas, definiu o processo de desenvolvimento do Planeamento Municipal

através de várias etapas, que se passa a listar:

conhecer o município;

definir objectivos e políticas para a acção;

pensar nas estratégias adequadas para as cumprir;

estabelecer múltiplos contactos para conhecer o município e o contexto regional e

nacional em que este se insere;

procurar vias de solução para os problemas ponderando a possibilidade de se

efectivarem diferentes acções, negociando condições e apoios, estimando meios e

recursos (estudo de soluções em função dos recursos, meios, prioridades, níveis de

qualidade exigíveis);

tomar decisões, reajustar objectivos, políticas e estratégias em função dos resultados

obtidos nas múltiplas consultas e negociações;

exprimir e justificar as decisões em planos e programas de actividades a serem

cumpridos em prazos mais ou menos dilatados;

procurar executar as acções planeadas e programadas, tomando as iniciativas

necessárias;

avaliar os resultados e introduzir correcções aos diferentes níveis de decisão e

execução e prosseguir os contactos para manter actualizado o conhecimento do

município.

39

No âmbito desta descrição, toda esta actividade se vai incrementando continuamente e sem a

rigidez deste faseamento, isto é, as diferentes fases não são estanques, estão presentes e em

elaboração ao longo do exercício do processo de planeamento. Em todos os municípios, de

forma mais ou menos organizada, tendo em conta apenas alguns ou o conjunto dos aspectos

do desenvolvimento e do ordenamento do território, com maior ou menor rigor, existem práticas

de planeamento municipal, no mínimo as que são traduzidas pela elaboração obrigatória do

Plano de Actividades e do Orçamento, elementos de gestão municipal indispensáveis à

execução legal e administrativa das acções municipais.

No entender de Rebelo (2000), dada a extrema complexidade e importância das questões que

estão envolvidas no planeamento municipal e a multiplicidade e diversidade dos agentes

sociais em presença, internos ou externos ao município, há por um lado uma ausência de

organização formal do planeamento municipal, e por outro, falta à autarquia o suporte

necessário para o cumprimento dos objectivos que estão subjacentes aos interesses públicos a

prosseguir. Uma limitação, que de forma corrente é apontada à eficácia da prática do

planeamento municipal, consiste na tendência para uma abordagem desintegrada entre a

actividade de planear e de produzir planos e o contexto prático da actividade municipal. Pode-

se assim concluir, que na prática, tem-se confundido a actividade do planeamento com a

actividade de produzir planos.

No entanto, o mesmo autor (Rebelo, 2000) identifica que a maior incidência da orientação da

actividade municipal restringe-se à gestão financeira para resolver os problemas prioritários e

satisfazer as necessidades imediatas. Na maior parte das situações, observa-se uma ausência

de uma orientação planeada, confinando-se a acção pràtica à resolução de problemas

imediatos, com maior ou menor rigor de programação.

A actividade de planeamento municipal, ao formalizar-se, deve desenvolver um processo

idêntico à prática desejada, como condição de que o processo de planeamento sirva para

planear e também, cumprir o planeamento.

Em conclusão, conceito sobre o planeamento municipal deve ser entendido como uma prática

contínua de construção social, de desenvolvimento e de estruturação do território que se traduz

pelo desenvolvimento de um processo no tempo, e não como uma mera actividade de

produção de planos. Esta perspectiva implica que o processo de planeamento deverá dispor de

uma organização formal, sistémica e integrada (Rebelo, 2000).

40

2.5 Componente Estratégica no Planeamento Municipal

De forma geral os modelos de análise estratégica efectuavam o diagnóstico do território

identificando o que constituía as suas forças e as fraquezas, de maneira a apresentar a sua

competência distintiva, e os elementos sobre os quais ela tinha interesse em basear a sua

estratégia face à concorrência. No contexto exterior importa analisar as ameaças e as

oportunidades susceptíveis de afectarem a organização, de modo a identificar as variáveis

estratégicas próprias do domínio de actividade escolhido. Mediante a aproximação, efectuada

de modo iterativo, da análise interna e da análise externa, por vezes analisada de acordo com

a metodologia do quadro SWOT podia-se então definir o conjunto das opções abertas ao

município e operar neste campo uma escolha da visão a alcançar.

A complexidade do conceito de estratégia, anteriormente referida, foi de forma bastante

expressiva analisada por Mintzberg (1994) que para compreensão e definição do termo,

enunciou diversas abordagens ao conceito, a saber:

a estratégia como um plano, o que equivale a uma orientação, a um guia ou um curso

de acção para o futuro;

a estratégia como padrão, ou seja como a consistência do comportamento ao longo do

tempo;

a estratégia como posição, determinando certos produtos em mercados específicos,

por exemplo;

a estratégia como perspectiva, na maneira da organização fazer as coisas, no conceito

que a organização faz de sua actividade.

A aplicação do planeamento estratégico aos territórios surge na década de 80, do século

passado e encontra-se, sobretudo, ligada às cidades enquanto motor do desenvolvimento

urbano mas, simultaneamente, palco das principais condicionantes da mesma. Esta

complexidade do sistema urbano está associada com as transformações e os desafios

colocados ao seu desenvolvimento e que obrigam a uma mudança de atitude face ao

planeamento territorial. Estas transformações são sintetizadas por Guell (1997) nos seguintes

pontos:

o dinamismo da conjuntura, reflexo das mudanças económicas, políticas, inovações

tecnológicas, atitudes socioculturais e alterações das estruturas sociais que exercem

uma forte pressão nos instrumentos tradicionais de planeamento, impõe respostas

adequadas;

a exigência, por parte dos actores sociais e económicos, de requisitos de habitabilidade

e competitividade como condição para a sua permanência numa dada área, obrigou os

decisores públicos a considerar as suas exigências e a torná-los parte intrínseca do

processo de decisão;

41

a globalização e a abertura dos mercados comerciais potenciou a rivalidade entre

cidades na obtenção de investimentos, postos de trabalho, turistas e ajudas públicas,

reivindicando às cidades grande capacidade de antecipação e de reacção perante as

actuações estratégicas das suas adversárias mais directas;

a complexidade e a inter-relação entre os problemas urbanos impõem abordagens

multidisciplinares e intersectoriais que ultrapassam a abrangência dos instrumentos de

planeamento sectoriais.

Rodrigues (2005) sintetiza a evolução da aplicação do planeamento estratégico aos territórios

analisando a forma como a mesma se efectuou, as situações conjunturais e os resultados

obtidos nas experiências analisadas. Apresenta-se no quadro 5 uma sistematização do

entendimento do autor.

Quadro 5 - Evolução da aplicação do planeamento estratégico aos territórios

Fonte: Adaptado de Rodrigues (2005)

Localização Data Marco

São Francisco 1981 O planeamento estratégico de cidades surge pela primeira vez

Esta iniciativa foi do sector privado que, aquando da crise fiscal e económica da cidade,

sem contar com o apoio da Administração Local, organizou o Plano da cidade com o

objectivo de melhorar os impostos a partir do reforço do sector habitacional que permitiu

aumentar a densidade, concentrar sedes de empresas no centro da cidade e deslocalizar

para a periferia as actividades mais "pesadas", ao mesmo tempo que o sistema de

transportes colectivos foi reestruturado para responder à nova estrutura urbana

O êxito deste plano despoletou um surto de outros, em mais de 25 cidades norte-

americanas (por exemplo, Los Angeles, Filadélfia, Detroit) que vão já na sua segunda e

terceira revisão, apoiados e difundidos em grande escala.

Europa Década 80 O processo foi mais lento e iniciou-se com o planeamento

estratégico sectorial

Embora com a lacuna de ausência de participação activa e efectiva dos actores urbanos,

mas teve um bom exemplo na transformação do porto de Roterdão no principal centro

logístico europeu e a conseguinte devolução dos espaços obsoletos à cidade

Birmingham 1986 Marca a aplicação do planeamento estratégico na Europa de

forma estruturada

Através da canalização de fundos da Comunidade Europeia para o desenho da

transformação estratégica da cidade (Pujadas, Font, 1998).

42

Quadro 5 - Evolução da aplicação do planeamento estratégico aos territórios

Fonte: Adaptado de Rodrigues (2005)

Localização Data Marco

Esta levou à criação de uma nova centralidade em redor de equipamentos e estruturas, à

reabilitação de áreas obsoletas, à reconversão de solo industrial qualificado para a

instalação de novas actividades a par de estratégias de apoio e formação profissional e

de integração racial (Esteve, 1999).

Barcelona 1988-1992 O primeiro Plano Estratégico de Barcelona é também um marco

do planeamento estratégico na Europa

Pela metodologia de elaboração adoptada, seguida por um conjunto de outras cidades

que o sucederam. Com o seu Plano Estratégico (já na sua terceira revisão) a cidade foi

capaz de encontrar a sua própria singularidade, de crescer em competitividade e de

aumentar a qualidade de vida dos seus cidadãos

O exemplo de Barcelona foi seguido por outras cidades e regiões espanholas, onde a

elaboração de planos estratégicos se difundiu como forma de resposta às alterações dos

territórios e de afirmação global. São disto exemplo as cidades de Madrid, Bilbao,

Valência e Málaga (Esteve, 1999).

Portugal 1992 as primeiras iniciativas de planeamento estratégico foram

implementadas em Lisboa e em Évora

No primeiro caso como resultado de uma opção política que levou à conclusão do Plano

Estratégico de Lisboa em 1992; no segundo, na sequência do envolvimento da cidade no

Projecto Speyer ao abrigo do programa RECITE (Regiões e Cidades Europeias) que

conduziu sua apresentação dois anos depois do de Lisboa (Fonseca, Ramos, 2004).

Portugal 1994 A sua regulamentação é efectuada na sequência do Programa

PROSIURB

Tinha como objectivos o desenvolvimento de centros urbanos com um papel estratégico

na organização do território nacional, dotando-os de equipamentos e infra-estruturas de

apoio ao dinamismo económico e social. O alvo deste programa foram as cidades

médias fora das áreas metropolitanas, estando a cargo dos municípios a execução dos

respectivos planos. O acesso a fundos da Administração Central era condicionado pela

existência de um PDM eficaz e de um Plano Estratégico.

Portugal Actualidade

Este processo continua, embora padecendo de alguns males, de que ressaltam a excessiva protagonização

do processo por parte dos Municípios, a débil participação pública e a ausência de suportes regulamentares

e enquadramento legal e financeiro que permitam a sua afirmação como instrumento de fixação de uma

carta de compromissos mútuos entre a Administração e os administrados (DGOTDU, 1996).

43

Quadro 5 - Evolução da aplicação do planeamento estratégico aos territórios

Fonte: Adaptado de Rodrigues (2005)

Localização Data Marco

Em contrapartida, evidenciou progressos na forma de encarar o planeamento urbano, de seguida

aprofundados, nomeadamente: introdução de uma nova abordagem metodológica e de princípios de

planeamento estratégico, exigência do diálogo entre instituições e actores e integração de componentes não

espaciais no planeamento (DGOTDU, 1996).

Verifica-se, assim, que não há uma definição universal de planeamento estratégico, pois, tal

como Nicolau (2001) refere, o conceito de estratégia é "multidimensional e situacional e isso

dificulta uma definição de consenso", no entanto, verifica-se alguma convergência em relação

aos objectivos e pressupostos de base que importa evidenciar do conjunto de definições de

planeamento estratégico.

Seguem-se os entendimentos deste conceito de autores considerados relevantes.

Guell (1997) define-o como uma forma sistemática de controlar as mudanças e de criar o

melhor futuro possível para a cidade, ou seja, como um processo criativo que aponta as bases

de uma actuação integrada a longo prazo, estabelece um sistema contínuo de tomada de

decisões que comporta risco, identifica rumos de acção específicos, formula indicadores de

monitorização sobre os resultados e envolve os agentes sociais e económicos no processo.

Outro entendimento é o de Fonseca e Ramos (2004): o planeamento estratégico promove uma

visão para o território, fundamentada num diagnóstico prospectivo e numa gestão de longo

prazo, constrói uma ideia de planeamento como lugar de convergência da sociedade civil, do

Estado e dos mercados, promovendo a participação, as iniciativas em parceria e a

descentralização do processo de deliberação, decisão e implementação.

Para Esteve (1999) o planeamento estratégico não pode ser entendido como um ritual

metodológico mas como um processo flexível, destinado a dotar a cidade de uma estratégia

consistente que lhe proporcione notoriedade e singularidade e, sobretudo, o comprometimento

dos principais actores urbanos isto é, aqueles que têm capacidade para transformar a cidade.

Por último, para Lopes (1998) o sistema de planeamento estratégico tem como objectivo

principal a coordenação dos vários níveis e funções estratégicas de uma organização num

projecto global. Este autor considera quatro pontos principais: a missão (o que queremos

fazer/onde queremos chegar), as estratégias (como chegar lá), o orçamento (o que podemos

fazer) e o controlo (como medir o andamento do processo).

44

De acordo com Rodrigues (2005) no espectro de definições apresentadas surge a estrutura

basilar do planeamento estratégico:

construção de uma visão de futuro conjunta para o território;

atitude pró-activa e não reactiva na abordagem dos problemas e questões que se vão

colocando;

participação da sociedade como alicerce para a cooperação e responsabilização na

construção de um futuro comum;

importância dos meios e recursos para a implementação da estratégia definida;

avaliação e monitorização permanente dos resultados obtidos na implementação.

O planeamento estratégico é um esforço de mobilização eficiente e direccionada de recursos

(físicos, humanos, financeiros, políticos) para a definição de objectivos, acções e projectos com

efeitos concretos no território. O seu objectivo principal é, assim, o de conseguir a transposição

da visão individual do cidadão para uma moldura global em que o conjunto é apercebido como

parte e responsabilidade de todos (Lopes, 1998) .

De facto, a abordagem estratégica "potencia e promove a ideia de Plano ou Projecto

Estratégico como projecto comum, indispensável para enquadrar e integrar a diversidade de

interesses e de campos de acção necessários à criação de inovação e à afirmação da cidade"

(DGOTDU, 1996: 28). A cooperação e negociação entre os diversos actores, públicos e

privados, torna-se crucial para a obtenção de consensos e para o atingir do futuro desejável do

território em causa.

Um processo de planeamento estratégico baseado na mobilização institucional e social

alcançará, em termos de desenvolvimento territorial, resultados mais positivos que um

processo dependente de uma única entidade (Leandro, 2004). Simultaneamente, procura-se

"atenuar a planificação centralizada (e imperativa) dando uma maior importância às entidades

descentralizadas, que conhecem melhor a realidade local e que podem agir mais rapidamente"

(Fonseca, Ramos, 2004: 2).

Num processo desta natureza está também implícita a noção de avaliação permanente das

mudanças para que sejam formuladas as melhores estratégias de intervenção em cada

momento concebendo-se o território como um meio inovador (Fonseca, Ramos, 2004). 0

planeamento estratégico, ao promover a constante auto-avaliação, "está aberto à reformulação

ditada pelo timing da execução face às mudanças da envolvente" potenciando uma abordagem

que "deverá ser sistémica, identificando a inter-relação entre os diferentes sistemas e sub-

sistemas, variáveis e factores de regulação" (DGOTDU, 1996: 28).

Deste modo, Guell (1997) considera como principais características do planeamento

estratégico:

45

visão a longo prazo e de carácter plurilegislativo, isto é, a estratégia para um território

leva anos e mesmo décadas a ser alcançada, pelo que deve ser entendida como um

projecto comum e independente de legislaturas políticas;

importância da conjuntura e dos factores exógenos ao território em questão, pela

assumpção de que os mesmos têm implicações na forma como o território se

desenvolve;

visão integral da realidade urbana, considerando os factores físicos, económicos,

sociais e políticos, numa tentativa de aumentar a competitividade e a qualidade de vida

de forma concreta e integrada;

flexibilidade nas decisões para abordar problemas com um elevado grau de incerteza e

que não podiam ser previstos no início do processo;

concentração de esforços em temas críticos, oportunidades e problemas potenciando a

reflexão sobre as questões essenciais do desenvolvimento e progresso do território;

envolvimento e participação dos actores sociais e económicos na concretização da

visão futura do território sendo fulcral para a promoção da cooperação público-privada;

orientado para a acção, isto é, procura a concretização das medidas propostas através

da mobilização de actores e recursos e da tomada de decisões;

exigência da modernização do corpo técnico e político da administração traduzida por

um elevado grau de motivação e qualificação, uma diminuição dos processos

burocráticos e a capacidade de coordenação e dinamização da sociedade.

O planeamento estratégico assume a importância de actuar sobre as condições

socioeconómicas do desenvolvimento urbano e não apenas sobre as suas consequências,

criando as bases para promover o desenvolvimento económico (de competitividade, de

consumo e qualidade de vida, de atracção de funções, de decisão, de negociação e de

mobilização), orientando-se por princípios de cultura de transformação urbana e de

desenvolvimento sustentado (DGOTDU, 1996).

Por constituir um programa de acção que envolve escolhas e opções políticas, tem de encarar-

se a vertente política do processo, mas também o esforço de mobilização da sociedade para a

sua concretização. Consequentemente, a cooperação público-privada é determinante para a

coordenação de acções individuais ou comunitárias num processo de procura de implantação

de objectivos consensuais que permitam alcançar a visão conjunta do território (Lopes, 1998).

A caracterização do planeamento estratégico realizada permite retirar conclusões sobre as

vantagens e os riscos da sua aplicação. A maioria dos autores (Guell, 1997; Lopes, 1998;

Esteve, 1999; Fonseca, Ramos, 2004) reconhece a superioridade das vantagens sobre as

desvantagens que apresenta, mas é necessário não esquecer as segundas, para o mesmo ser

realizado de forma consciente e informada.

Uma das principais mais-valias desta forma de planeamento é a sua perspectiva dinâmica e

interactiva na forma de abordar as questões urbanas, fazendo apelo à participação e ao

46

diálogo de todos os agentes intervenientes no território, o que os torna um instrumento

essencial no diagnóstico dos problemas, na formulação de objectivos e orientações, permitindo

a tomada de decisões em torno de projectos estruturantes e sustentados (Fonseca, Ramos,

2004).

Vários autores (Guell, 1997; Lopes, 1998; Esteve, 1999) enfatizam as vantagens da aplicação

do planeamento estratégico:

a definição de prioridades, diferenciando as acções estratégicas urgentes;

a concentração de energias nos objectivos chave que permitem a passagem da

situação actual para a possível e desejável;

o aumento da objectividade à medida que os diagnósticos proporcionam informação

válida e fiável, potenciando a concentração no essencial;

a sistematização de objectivos para o território permitindo a identificação de formas de

nele intervir, a racionalização da actuação dos agentes territoriais e o ganho de

perspectiva sobre o mesmo;

o estímulo ao diálogo e à cooperação entre os sectores público e privado como

garantia do cumprimento das estratégias definidas;

a criação de uma cultura estratégica, baseada na cooperação público-privada e na

participação da sociedade, na construção de uma visão comum de desenvolvimento

que permitirá o seu prolongamento temporal ao longo da implementação do processo;

o reforço da liderança da administração local, e mais concretamente do município, pela

capacidade de conduzir um processo de gestão integrada da cidade baseado em

objectivos concretos capazes de mobilizar a sociedade;

a identificação do uso efectivo dos recursos e dos fundos públicos e maior facilidade na

obtenção dos mesmos, na medida em que procura o financiamento necessário para a

concretização das estratégias adoptadas baseada em decisões e objectivos

consensuais;

A multiplicação das vantagens num horizonte temporal alargado e que se estendem à

sociedade como um todo em como consequência ganhos de eficiência e produtividade que

permitem uma aceleração do seu desenvolvimento económico e social.

No entanto Esteve (1999) enuncia os riscos que o planeamento estratégico aponta a sua não

concretização, pelo enfoque na elaboração e não na implementação do Plano:

a percepção das realizações inferior às expectativas geradas, o que pode criar

insatisfação quando as mesmas não são apercebidas de forma correcta;

a definição de objectivos muito genéricos e eliminando o debate para a coesão da

sociedade e para o traçar do seu caminho comum;

a politização do processo, transformando-o numa operação de propaganda política e

47

a minimização dos custos da execução do plano estratégico que podem resultar num

trabalho precário em termos de definição de objectivos estratégicos apropriados e na

correcta articulação entre a iniciativa pública e privada.

Aos riscos acima identificados Lopes (1998) acrescenta:

a definição incorrecta do território a ser alvo de intervenção, que pode conduzir a

acções desligadas da realidade e a não contemplar as partes relevantes para o seu

desenvolvimento;

a confusão entre planos estratégicos e planos urbanísticos que, embora partindo de

informação de base comuns, apresentam especificidades pela diferença de objectivos,

formas de elaboração e implementação, espaços temporais e visões de

desenvolvimento;

a participação pública reduzida ou a passiva pode conduzir ao insucesso do processo

pela falta de mobilização em torno de objectivos comuns;

uma deficiente comunicação e divulgação que conduz à limitação do conhecimento

essencial para a obtenção de consensos significativos, e o risco de não implementação

pela falta de um compromisso firme dos actores envolvidos para a sua concretização.

As críticas tecidas por Guell (1997) ao planeamento estratégico de cidades, nos últimos anos,

prendem-se com:

o desenvolvimento através de projectos pontuais e fechados em si, em vez do seu

entendimento como processo circular e continuo;

e o ênfase na competitividade económica e a diminuta atenção conferida ao

desenvolvimento sustentável e a utilização corrente do planeamento estratégico que

tem que ser complementada com os processos tradicionais de planeamento físico,

económico e social, estabelecendo a ponte entre a Administração Pública e as

entidades privadas.

Rodrigues (2005) ressalva que apesar das críticas apresentadas, os benefícios geram

consenso generalizado desde que sejam garantidos aspectos como a definição de objectivos

claros, uma vontade política de concretização e rigor técnico em todo o processo de

desenvolvimento estratégico. Com o planeamento estratégico integram-se as componentes

não espaciais no planeamento e assume-se o plano como um processo para a resolução de

problemas através do diálogo e da participação, da criação de complementaridades e da

descentralização de competências e responsabilidades, obtendo deste modo, a diminuição dos

custos e a valorização dos recursos.

48

2.5.1 Enquadramento Legal

No âmbito da componente estratégica no planeamento municipal destacam-se três

documentos legislativos que abordam esta temática:

Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo

Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial

Avaliação Ambiental Estratégica

Segue-se a análise dos mesmos, focalizando apenas a referência à componente estratégica,

salvaguarda-se o facto das duas disposições legais LBPOTU e o RJIGT já terem sido referidas

e analisadas anteriormente.

Lei de Bases da Política de Ordenamento do Território e de Urbanismo

A Lei n.º 48/98, de 11 de Agosto, com a primeira e única alteração na Lei nº. 54/2007, de 31 de

Agosto, estabelece as bases da política de ordenamento do território e de urbanismo. Este

documento apresenta, aquando da caracterização do sistema, a imposição da definição de

uma estratégia no âmbito municipal, de acordo com o as directrizes já explicitadas nos planos

de hierarquia superior (Artigo 7.º alínea 2- c))

Determina ainda, na caracterização dos instrumentos de gestão territorial a estrutura espacial,

Artigo 9.º alínea 2- a), que a classificação básica do solo (bem como parâmetros de ocupação,

considerando a implantação dos equipamentos sociais, e desenvolve a qualificação dos solos

urbano e rural, estabelecida no plano director municipal) tem como base a estratégia de

desenvolvimento local.

49

Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial

O Decreto-Lei nº. 2/2011, de 06 de Janeiro, que procede à última alteração ao Decreto-Lei nº.

380/99, de 22 de Setembro, que estabelece o regime jurídico dos instrumentos de gestão

territorial, como já referido anteriormente, após a 6ª alteração (DL n.º 46/2009 de 20 de

Fevereiro), permite um significativo incremento da responsabilização municipal associada à

simplificação de procedimentos, nomeadamente, através da alteração do regime aplicável à

ratificação dos planos municipais de ordenamento do território.

Tendo em conta o carácter deste decreto-lei segue-se uma análise mais pormenorizada deste

documento, no entanto, uma vez que são inúmeras as referências que este regime jurídico faz

à componente estratégica dos IGT, sublinham-se apenas as referências que dizem respeito ao

âmbito desta dissertação:

Princípios gerais

Artigo 8.º 2 — Os instrumentos de gestão territorial asseguram a

harmonização dos vários interesses públicos com

expressão espacial, tendo em conta as estratégias de

desenvolvimento económico e social, bem como a

sustentabilidade e a solidariedade intergeracional na

ocupação e utilização do território.

Os dois artigos

enfatizam a

apresentação de uma

estratégia articulada

com os interesses

públicos com expressão

territorial

Artigo 20.º

1 — A articulação das estratégias de ordenamento

territorial determinadas pela prossecução dos

interesses públicos com expressão territorial impõe ao

Estado e às autarquias locais o dever de coordenação

das respectivas intervenções em matéria de gestão

territorial.

Relação entre os instrumentos de âmbito nacional ou regional e os instrumentos de âmbito

municipal

Artigo 24.º

1 — O Programa Nacional da Política de

Ordenamento do Território e os planos regionais

definem o quadro estratégico a desenvolver pelos

planos municipais de ordenamento do território e,

quando existam, pelos planos intermunicipais de

ordenamento do território.

Consigna a articulação

com estratégias já

explicitadas em planos

de hierarquia superior,

de acordo com o

mencionado na

LBPOTU - Artigo 7.º

alínea 2-c)

50

Planos municipais de ordenamento do território

Artigo 70.º

Os planos municipais de ordenamento do território

visam estabelecer:

a) A tradução, no âmbito local, do quadro de

desenvolvimento do território estabelecido nos

instrumentos de natureza estratégica de âmbito

nacional e regional;

b) A expressão territorial da estratégia de

desenvolvimento local;

Estes três artigos são

especificamente para

os PDM e são

referentes

(respectivamente) aos

objectivos, ao objecto e

ao conteúdo material.

Relativamente aos

objectivos do plano,

sublinha-se a

expressão de

estratégias de âmbito

territorial superior para

o território em causa.

No Artigo 84.º

correspondente ao

objecto dos PDM

explicita que é esta

figura de plano que

deve estabelecer a

estratégia de

desenvolvimento

territorial.

E por fim, no que diz

respeito ao conteúdo

material o RJIGT

reforça que esta

tipologia de IGT deve

definir as estratégias e

objectivos de

desenvolvimento

estratégico para

contextos mais

específicos.

Artigo 84.º

1 — O plano director municipal estabelece a estratégia

de desenvolvimento territorial, a política municipal de

ordenamento do território e de urbanismo e as demais

políticas urbanas (…)

2 — O plano director municipal é um instrumento de

referência para a elaboração dos demais planos

municipais de ordenamento do território e para o

estabelecimento de programas de acção territorial,

bem como para o desenvolvimento das intervenções

sectoriais da administração do Estado no território do

município, em concretização do princípio da

coordenação das respectivas estratégias de

ordenamento territorial.

Artigo 85.º

1 — O plano director municipal define um modelo de

organização municipal do território nomeadamente

estabelecendo: (…)

d) Os objectivos de desenvolvimento estratégico a

prosseguir e os critérios de sustentabilidade a adoptar,

bem como os meios disponíveis e as acções

propostas; (…)

f) A identificação das áreas e a definição de

estratégias de localização, distribuição e

desenvolvimento das actividades industriais, turísticas,

comerciais e de serviços;

g) A definição de estratégias para o espaço rural,

identificando aptidões, potencialidades e referências

aos usos múltiplos possíveis; (…)

51

Avaliação Ambiental Estratégica

A Directiva Europeia 2001/42/CEE, vem estabelecer o quadro legal de enquadramento da

Avaliação Ambiental de certos planos e programas a nível europeu. Esta Directiva mantém em

aberto a abordagem a tomar face à Avaliação Ambiental, não a dirigindo a Avaliações

Ambientais de base estratégica (AAE), a directiva induz claramente a abordagem AIA, mas não

impede outras abordagens.

De acordo com o estabelecido no Decreto-Lei n.º 232/2007 de 15 de Junho, com alteração no

Decreto-Lei n.º 58/2011, de 4 de Maio, que transpõe para a ordem jurídica nacional a Directiva

Europeia, a Avaliação Ambiental Estratégica constitui-se como um elemento de carácter

obrigatório na realização dos planos, estabelecendo o “regime jurídico da avaliação dos efeitos

de determinados planos e programas no ambiente”. Este diploma mantém aberta a abordagem

conceptual a adoptar, no entanto não refere explicitamente no corpo do Decreto que a

avaliação seja de abordagem estratégica.

No entanto, de acordo com Partidário (2007) a AAE é um instrumento de avaliação de impactes

de natureza estratégica cujo objectivo é facilitar a integração ambiental e a avaliação de

oportunidades e riscos de estratégias de acção no quadro de um desenvolvimento sustentável.

As estratégias de acção estão fortemente associadas à formulação de políticas, e são

desenvolvidas no contexto de processos de planeamento e programação. Listam-se, assim, os

principais objectivos:

contribuir para um processo de decisão ambiental e sustentável;

melhorar a qualidade de políticas, planos e programas;

fortalecer e facilitar a AIA de projectos;

promover novas formas de tomar decisão.

A metodologia de AAE que é descrita no Guia de boas práticas para Avaliação Ambiental

Estratégica- APA, também redigido por Partidário, adopta uma abordagem estratégica assente

numa perspectiva de longo prazo, holística, transversal e muito focalizada em poucos, mas

significativos, factores de análise que são estratégicos para a decisão. O âmbito da AAE inclui

aspectos de natureza física, ecológica, social, cultural e económica, na medida em que são

relevantes para determinar a qualidade da envolvente em que se vive.

Desta forma a AAE tem um papel preponderante na componente estratégica dos planos, uma

vez que apresenta uma abordagem estratégica fortemente ligada ao conceito de ciclo de

decisão. Tal como Soares (2008), adaptando de Partidário, afirma: este conceito de ciclo

estabelece uma noção de continuidade em que decisões estratégicas (de prioritização,

planeamento, escolha ou execução) são tomadas sucessivas vezes ao longo de um processo

de planeamento e programação, em momentos críticos do processo de decisão (janelas de

decisão). O desenvolvimento de novas estratégias resulta de uma reflexão da análise, ainda

52

que informal, de estratégias anteriores, face a cenários de evolução e a objectivos prioritários,

influenciando assim o ciclo seguinte de planeamento ou programação. Esta noção de

continuidade é crucial em AAE, e consequentemente nos planos, uma vez que o seu objecto

de avaliação é um processo contínuo e iterativo.

Assim, a AAE constitui-se como um elemento estratégico do plano, em particular, do plano de

escala municipal, uma vez que induz à adopção de abordagens estratégicas no plano.

Os factores motivadores de impacte, em AAE, são as opções estratégicas de desenvolvimento,

correspondentes a modelos de desenvolvimento territorial, económico e social, e objectivos e

metas definidos à luz de uma visão de longo prazo, apoiando-se num quadro de grandes

opções de desenvolvimento que permitam atingir esses mesmos objectivos e metas.

De acordo com Soares (2008), citando Dalal-Clayton e Sadler (2005), a AAE tem tido uma

evolução muito rápida a nível mundial e a sua prática actual é muito diversificada,

apresentando abordagens metodológicas variadas consoante seja mais influenciada pela

prática da avaliação de impacte ambiental (AIA) de projectos, ou por processos estratégicos de

planeamento e de avaliação de políticas. Estas abordagens metodológicas têm resultados

diferentes relativamente à capacidade da AAE influenciar a decisão estratégica.

53

3 Estudo de Casos

Num tema recente e vasto como o que se apresenta, corre-se o risco de não o abordar na sua

plenitude e deixar de fora questões importantes na delimitação do problema, com vista a

beneficiar a análise das matérias tratadas, deste modo dar-se-á ênfase à forma como os

municípios entenderam e interiorizaram o processo de inclusão da componente estratégica e

como resolveram metodologicamente as suas premissas, não incluído questões que se

prendem com a sua avaliação face aos objectivos nos quais os planos se propunham actuar,

ou seja, o objectivo deste estudo prende-se mais com a comparação de processos e

metodologias adoptadas e não com uma avaliação que qualificaria o melhor plano e a

respectiva prática.

Como já foi referido o estudo de casos é referente aos planos municipais em vigor de Vila

Franca de Xira e de Pisa. Considerou-se relevante esta amostra Vila Franca de Xira, visto que

é um município que já concluiu a revisão do PDM, encontrando-se assim, em vigor o PDM de

segunda geração contendo as novas exigências legais, nomeadamente a introdução da

componente estratégica explicita no plano e a realização da AAE. E Pisa visto que é uma

cidade comparável pelas suas características fisiográficas e demográficas ao Município de Vila

Franca de Xira, apresentando-se como um caso de referencia no que diz respeito ao

Planeamento Estratégico visto que realizou um Plano Estratégico discricionário.

A exposição dos casos de estudo foi dividida em três etapas:

apresentação dos municípios

enquadramento dos planos e

identificação das componentes estratégicas

54

3.1 Apresentação dos Municípios

3.1.1 Vila Franca de Xira

De acordo com o site do município de VFX, com base no Anuário Estatístico de 2010, o

concelho contém 144 123 habitantes residentes, distribuídos pelos seus

317,7Km2 ,representavam uma densidade populacional de 453,7 hab/km

2

O município de Vila Franca de Xira é um dos 19 concelhos que compõem a Área Metropolitana

de Lisboa (AML), contribuindo em grande medida para que esta constitua o principal centro

polarizador de actividades, fluxos e emprego, ao nível nacional.

Importa destacar que Vila Franca de Xira se situa num território onde confluem realidades

geográficas bastante distintas, contactando com outros municípios com dinâmicas e estruturas

socioeconómicas muito diferenciadas, induzidas, seja face a Lisboa, seja pela presença de

eixos de transporte com significado regional ou supra-regional, seja, ainda, pelos sectores

motrizes das economias locais.

Concelho que integra características urbanas e rurais, a sua localização permite-lhe usufruir de

um valioso património natural: o rio Tejo, a Reserva Natural do Estuário do Tejo, as Lezírias as

diferentes características topográficas.

Figura 3- Inserção geográfica de Vila Franca de Xira na sub-região da Grande Lisboa e na AML

Fonte: DGA, Atlas do Ambiente; Tratamento – Plural in ANÁLISE E DIAGNÓSTICO Caderno I – Introdução, Enquadramento e Contexto Regional e Metropolitano Volume I

55

3.1.2 Pisa

De acordo com o site Guida ai Comuni, alle Province ed alle Regioni d'Italia, com base no

ISTAT8, Pisa contém 88 217 habitantes residentes, distribuídos pelos seus 185,10 Km

2

representavam uma densidade populacional de 476,59 hab/km2

O município (comune) de Pisa está localizado, na província Pisana, na região de Toscana que

por sua vez se situa na Itália central. A maioria do seu território assenta na planície aluvial do

rio Arno e uma pequena porção do rio Serchio. Do ponto de vista altimétrico é importante

salientar que apesar da maior parte da extensão do município se localizar na planície do rio

Arno, Pisa contém vastas áreas de cota negativa (inferior ao nível médio das águas do mar) e

em oposição contém também os Monti Pisani e a Colline Livornesi, assim, a estrutura de Pisa é

composta por dois sistemas distintos e espacialmente separados: o urbano agregado e o

sistema costeiro.

Pisa é também o lar de uma Universidade cuja história remonta ao século XII, posicionada com

uma das melhores Escolas Superior de Graduação em Itália, em determinadas áreas

científicas. Destaca-se este facto pois tem como consequência a existência de dinâmicas

demográficas de cariz diferenciado, uma vez que há um fluxo de grande expressão por parte

dos alunos que vêm de diversas partes do país e que apenas habitam na área durante os

ciclos de estudo.

Figura 4- Inserção geográfica do município de Pisa na Província de Pisa Fonte: http://www.smart.toscana.it/contenutiportale/marketinginsediativo/6_info_territoriale/VisurePS.aspx

8 Istituto nazionale di statistica – 01/01/2011

56

3.2 Enquadramento dos planos e identificação das componentes

estratégicas

Uma vez que são planos distintos e realizados de acordo com contextos territoriais e legais

diferentes, optou-se por não se executar uma análise segundo uma abordagem sistémica, em

que se iriam comparar os dois planos, segundo os critérios relevantes para ambos os casos,

em oposição realizou-se uma análise focada nas particularidades de cada plano, no âmbito do

tema da dissertação.

3.2.1 Plano director Municipal de Vila Franca de Xira

Os Planos Municipais de Ordenamento do Território, tal como definidos pelo RJIGT, são

instrumentos de natureza regulamentar (Art.º 69º) estabelecendo, o PDM, a “estratégia de

desenvolvimento territorial, a política municipal de ordenamento do território e de urbanismo e

as demais políticas urbanas, integrando e articulando as orientações estabelecidas pelos

instrumentos de gestão territorial de âmbito nacional e regional e estabelecendo o modelo de

organização espacial do território municipal” (Art.º 84º).

O Plano Director Municipal de Vila Franca de Xira foi ratificado pela Resolução do Conselho de

Ministros n.º 16/93, publicada no Diário da República, n.º 64, I Série-B, de 17 de Março de

1993,e foi alterado por deliberação da Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira de 15 de

Dezembro de 2000, publicada no Diário da República, II Série, n.º 201, de 30 de Agosto de

2001, e parcialmente suspenso através da Resolução de Conselho de Ministros n.º 43/2004,

publicada no Diário da República, I Série-B, n.º 78, de 1 de Abril de 2004, para permitir a

construção do novo Hospital de Vila Franca de Xira, torna-se necessário proceder à sua

revisão.

Destacam-se cinco objectivos dos dezassete enunciados no Caderno I- Introdução,

Enquadramento e Contexto Regional e Metropolitano, das Peças Escritas da referida revisão:

1. Proceder à compatibilização do Plano com Estudos e outros planos de âmbito estratégico

tais como o Plano Estratégico do Concelho de Vila Franca de Xira, o Plano de

Desenvolvimento Turístico e o Plano Estratégico de Ambiente do Concelho de Vila Franca de

Xira;

2. Proceder à articulação do PDM, nesta sua 1ª revisão, com os Instrumentos de Gestão

Territorial hierarquicamente superiores que abrangem o concelho, nomeadamente com o

Plano Regional de Ordenamento da Área Metropolitana de Lisboa - de acordo com o Artigo 7.º

alínea 2-a) da LBPOTU, bem como o Artigo 24.º alínea 1 do RJIGT, que consignam a

articulação com estratégias explicitadas em planos de hierarquia superior;

57

3. Especificar um modelo estratégico de actuação que estabeleça acções distintas para a

promoção de um desenvolvimento sustentado do concelho, tendo em atenção a sua

diversidade territorial e as mudanças operadas nos últimos anos- de acordo com os Artigos

70.º e 84.º do RJIGT, que declaram que esta figura de plano deve estabelecer a estratégia de

desenvolvimento territorial;

4. Prever estratégias que permitam que se caminhe no sentido de libertar a zona ribeirinha,

particularmente, da ocupação industrial, promovendo assim a criação de espaços de recreio e

lazer que se coadunem com o disposto no PROTAML para esta área- de acordo com o Artigo

7.º alínea 2-a) da LBPOTU, bem como o Artigo 24.º alínea 1 do RJIGT, que consignam a

articulação com estratégias explicitadas em planos de hierarquia superior;

5. Proceder à adequação do Plano e das suas disposições à legislação que consagra a

elaboração de PMOT, em particular de PDM- de acordo com o Artigo 7.º alínea 2-a) da

LBPOTU, bem como o Artigo 24.º alínea 1 do RJIGT, que consignam a articulação com

estratégias explicitadas em planos de hierarquia superior.

No Relatório de Proposta - 1ª revisão do PDM- VFX é reforçada a ideia que esta revisão tem

como princípio que o Concelho e o seu ordenamento se devem desenvolver em

compatibilidade, não só com os planos e orientações de âmbito nacional, regional e sectorial,

mas também, com os estudos e planos de âmbito de municipal com carácter estratégico (Plano

Estratégico, Plano de Desenvolvimento Turístico, Plano Estratégico do Ambiente e Estudo de

Acessibilidades e Plano de Desenvolvimento Logístico).

E por isso, a estratégia de desenvolvimento do Concelho, da 1ª revisão do PDM de VFX ,

decorre das conclusões e opções materializadas no Plano Estratégico do Concelho que

constituem a base das propostas de Ordenamento.

O referido Plano Estratégico identificou um conjunto de desafios que se colocam ao Concelho

perante os quais constituiu uma base metodológica de resposta positiva, no sentido de que tais

desafios se constituam como janelas de oportunidade para a criação de uma nova dinâmica de

desenvolvimento e de afirmação de Vila Franca no contexto regional, nacional e comunitário.

Estes são os domínios de actuação estratégica para VFX num horizonte de médio prazo:

LED 1: Reforçar a coesão social e territorial - Vila Franca de Xira, Município Solidário

LED 2: Criar condições necessárias ao desenvolvimento sustentado da economia - Vila

Franca de Xira, Município Competitivo

LED 3: Produzir e difundir inovação - Vila Franca de Xira, Município Inteligente

58

LED 4: Valorizar o património natural e cultural - Vila Franca de Xira, Município com

Identidade

LED 5: Promover a reorganização dos espaços urbanos e consolidar as novas áreas de

expansão - Vila Franca de Xira, Município de Qualidade

Conforme o mesmo Relatório, as Linhas Estratégicas de Desenvolvimento identificadas e os

projectos previstos são considerados de forte pertinência e oportunidade quando analisadas à

luz da visão estratégica e dos objectivos globais e específicos de desenvolvimento previstos

para a Região de Lisboa e Vale do Tejo e, em particular, para a Área Metropolitana de Lisboa,

consubstanciados no Programa Operacional da Região.

De notar, ainda, que os objectivos e as acções estruturadas ao abrigo do Plano Estratégico de

Vila Franca de Xira foram definidos tendo como pano de fundo os grandes desafios que se

abrem não só ao Concelho, como a envolvente metropolitana, estando sempre subjacente a

ideia da sua necessária e óbvia integração em sistemas territoriais mais amplos e em

complexidade crescente.

É, ainda, neste mesmo documento (Relatório de Proposta - 1ª revisão do PDM de VFX), que é

feita a análise de compatibilização entre a estratégia e o ordenamento. Neste âmbito, é referido

que o Objectivo Central que o Plano Estratégico definiu para o desenvolvimento do Município

foi: “Vila Franca de Xira: um concelho de Qualidade renovada, Porta Norte da Área

Metropolitana de Lisboa”

Na sequência do Objectivo Central, o Plano Estratégico define as Linhas Estratégicas de

Desenvolvimento, as LED são agrupadas da seguinte forma:

As LED 2 e 3 enquadram acções de consolidação do dinamismo económico e captação

de investimentos;

As LED 1, 4 e 5 convergem para a promoção da qualidade urbana e ambiental.

A concretização das LED passa por um conjunto de vectores de desenvolvimento (VD) de

carácter estruturante, condicionadores das opções a tomar, a saber:

VD 1 - Actividade Industrial e Logística

VD 2 - Informação e Inovação

VD 3 - Desenvolvimento Turístico

VD 4 - Dinâmica Urbana

VD 5 - Qualidade de Vida

E verificado que o Plano Estratégico não define nenhum, vector de desenvolvimento (VD)

eminentemente ambiental e do solo rural. Consideramos portanto, que o ambiente é

transversal a todos os vectores e que os aspectos relacionados com o solo rural estão patentes

precisamente no último vector (qualidade de vida).

59

Também foi realizada uma análise da concretização da estratégia de desenvolvimento para o

concelho no ordenamento e regulamentação do plano onde foram identificadas acções que o

Plano Estratégico define para cada Vector de Desenvolvimento, as Linhas de Desenvolvimento

Estratégico com as quais cada vector se relaciona e as propostas ou opções da revisão do

PDM que os concretizam. Constata-se que alguns dos vectores, ou das acções que a eles

reportam, nomeadamente o V2,que não tem uma materialização directa do ordenamento.

Relativamente às imposições legais da AAE, ressalva-se que a 1ª revisão do PDM de Vila

Franca de Xira foi iniciada em 1997 tendo os primeiros elementos sido entregues à Comissão

Técnica de Acompanhamento em 1999 (Comissão Técnica de Acompanhamento da 1ª revisão

do PDM-VFX , 2008). Considerando que apenas dez anos depois se tornou legalmente

obrigatória a Avaliação Ambiental de planos e programas (Decreto-Lei n.º 232/2007, em

conjugação com a nova redacção do RJIGT, Art.º 152º, que obriga a Avaliação Ambiental

antecipada dos planos cuja elaboração não tivesse terminado à data de publicação) e que,

portanto, a revisão do plano não foi sujeita a Avaliação Ambiental antes disso, facilmente se

conclui que a AAE não acompanhou as fases primordiais de concepção da visão e estratégia

para o município. De facto, em 2008, quando tem início a AAE, a 3ª versão da proposta de

plano encontrava-se em fase final de elaboração tendo já sido concretizados o Regulamento e

as Plantas de Ordenamento e de Condicionantes, além dos demais elementos de diagnóstico e

de acompanhamento da proposta.

Considera-se, ainda, relevante mencionar que este caso foi um dos primeiros PDM sujeito a

AAE, sendo por isso um caso pioneiro, no entanto, uma vez que a intervenção da AAE foi

tardia no processo de planeamento, procurou-se analisar os resultados do processo de AAE, a

sua interacção com o processo de planeamento e a sua influência sobre a decisão face a este

desafio. Neste sentido, verificou-se que foi no âmbito da realização da AAE que foram

identificados factores considerados fundamentais no processo de decisão, na concepção de

opções estratégicas do plano e das acções que as implementam, estes factores a considerar,

com materialização no ordenamento são:

Estruturação e Requalificação Urbana;

Valorização Ambiental;

Ruralidade;

Ligação/Interface com o Rio;

Emprego e a Qualificação Humana.

60

3.2.2 Piano Strutturale - Comune di Pisa

Relativamente ao quadro legal que este plano se insere é importante referir que o Piano

Strutturale - Comune di Pisa está em conformidade com a Legge Regionale 16 Janeiro 1995, n.

5, que define o sistema do ordenamento do território e planeamento urbano inicialmente

definido pela lei urbanística de 1942.

De acordo com o quadro para a política de planeamento regional e local o Governo Regional

da Toscana promoveu uma iniciativa que visava "preparar directivas e orientações para a

coordenação supramunicipal dos instrumentos de planeamento" para as áreas de Livorno e

Pisa. O desejo de proceder a esta iniciativa foi reafirmado por uma "decisão" da Giunta

Regionale em 1986, e um grupo técnico especialmente designado produziu, assim, uma

variedade de materiais, juntamente com outras contribuições, são dadas na Conferência para a

coordenação do planeamento territorial de Livorno - Pisa, que aconteceu a 30 de Junho 1 de

Julho de 1988.

Posteriormente, são produzidos e apresentados em 1990 "Lineamenti dello schema strutturale

per l'area Livorno - Pisa", que poderia levar ao desenvolvimento de um novo quadro estrutural,

a ser aprovado pelo Conselho Regional como um quadro regional para a coordenação local,

que acabou por não ter sido realizado. Os objectivos traçados por este documento são no

âmbito do zonamento de áreas de características diferentes, sem conferir o carácter

estratégico.

Em 1991, a província de Pisa decidiu começar a elaborar um Plano Provincial Espacial, este

documento é dividido em três etapas sequenciais e inter-relacionadas:

o desenvolvimento de uma metodologia geralmente acompanhada por um princípio de

funcionamento do programa, que é aprovado pelo Conselho Provincial em 1992;

a preparação do anteprojecto, que é aprovado pela Câmara Municipal em 1994;

a versão final do plano, que está substancialmente concluída em 1995.

De notar, que no âmbito deste plano são definidos objectivos mais relacionados com gestão e

governança.

Em 1994, é proposto o desenvolvimento de um novo sistema regulador que possa fornecer,

para além desses objectivos, a atribuição de padrões de planeamento adequado e execução

de obras de infra-estrutura.

Deste modo, à luz do planeamento tradicional, a Proposta do Piano Strutturale - Comune di

Pisa é centrada apenas na mitigação dos riscos geológicos, hidráulicos e ambientais;

recuperação e requalificação urbana e mobilidade.

Uma vez que as normas legislativas relativas à Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) que

fazem a transposição da Directiva 2001/42/CEE da Directiva 85/337/CEE, alterada e integrada

61

com a Directiva 97/11/CE, foram apenas aplicadas em 2006. O Piano Strutturale - Comune di

Pisa não realizou AAE, não obstante de ter sido realizado um documento com os “elementi per

la valutazione degli effetti ambientali” (Artt 5, 24,. 32- L.R. 5/95),em que não estão presentes

quaisquer contribuições de cariz estratégico para o município.

No entanto, em 2001, a Comune de Pisa publica o Regulamento Urbanístico, onde são

publicados as opções estratégicas de natureza funcional, que estão associados às opções no

âmbito das infra-estruturas e de natureza física.

Apesar de ainda não ser ter realizado a revisão deste plano municipal, em 2005 Pisa iniciou a

Realização de um Plano Estratégico, que veio a ser aprovado em 2008, a par de um

documento de Analisi del Posizionamento Competitivi dei Settori Strategici della Provincia di

Pisa, e de um Piano di Marketing Territoriale della Provincia di Pisa.

A produção deste último documento tem duas premissas importantes, são elas: nos relatórios

diagnóstico foram utilizando dados completamente novos e originais, que subverteram o

entendimento inicial daquele território, e a introdução de um novo elemento o como, isto é, para

mudar, como mudar, de acordo com uma compreensão mais profunda, e a abordagem para os

problemas.

Salienta-se que, como abordagem inovadora foi introduzida uma nova escala de análise, uma

unidade não definida administrativamente, mas que fazia sentido nesta metodologia em que se

via a unidade territorial como um sistema da área Pisana, assim entende-se como "Área de

Pisa" a cidade de Pisa, os municípios de Calci, House, St. Julian, Vecchiano e Vicopisano.

Este Plano está dividido em três partes: Definição de linhas estratégicas, objectivos a serem

alcançados para cada linha estratégica e acções necessárias para atingir os objectivos. Esta

estrutura que se traduz em 7 linhas estratégicas para um total de 27 objectivos e cerca de 80

acções .

A versão final do Plano, de facto, tem em conta as características de Pisa - seus pontos fortes

e fracos, riscos e oportunidades, incluindo uma participação alargada pelas partes

interessadas, públicas e privadas, que formam o tecido da sociedade tendo Pisa.

Destacam-se assim as linhas estratégicas:

necessidade e oportunidade de um governo metropolitano;

as escolhas de planeamento urbano e desenho da nova cidade;

a primazia da educação, ciência, pesquisa;

a revitalização da estrutura cultural;

a promoção, as prioridades e os recursos da saúde;

a nova imagem do Pisa no mercado de turismo;

desenvolvimento económico da tradição à inovação.

62

É de realçar, ainda, que foi realizado o exercício de relacionar os subsistemas da cidade e da

sociedade em complementaridade com as LE:

a) o sistema de educação em todos os níveis, a começar desde a infância, com a obrigação de

continuar e terminar com a de pós-graduação especialização

b) a identidade, a qualificação do espaço urbano no sentido de descoberta e desenvolvimento

de personagens e vocações áreas específicas e bairros da cidade

c) o sistema de redes para a transmissão de informações e o interlocutor direto e imediato (a)

dos cidadãos e empresas em conjunto com instituições e serviços públicos e (b) dos centros de

governo entre eles.

d) o sistema de assentamentos em Pisa (Pisa da área comum) que, por causa da boa

qualidade, não constituem um "puro" em vez de os subúrbios e são um factor de auto-restrição

do sistema Galileo.

63

4 Conclusões

4.1 Síntese dos conceitos

De acordo com o que foi referido inicialmente, o entendimento dos conceitos abordados nesta

dissertação é diverso e constitui frequentemente objecto de opiniões contraditórias, assim,

apresentam-se, de uma forma muito sintética, os conceitos chave deste tema, aglutinando a

multiplicidade de concepções, perspectivas e premissas contidos no entendimento de cada um

destes conceitos.

O planeamento caracteriza-se por uma atitude de empenhamento, baseada na antecipação, a

finalização e a vontade. Implica o exame antecipado de um conjunto de problemas e de

acções, com possibilidade de conduzir, mais segura e eficazmente, aos resultados pretendidos,

do que decisões tomadas pontualmente, uma após outra. Determina de modo explícito um

estado desejado, ou desejável, num dado horizonte, e considera necessário desenvolver

acções para atingir esse estado, que não está inscrito no curso natural das coisas. Se bem que

também voltado para o futuro, o planeamento distingue-se nitidamente da mera previsão. A

atitude de empenhamento diferencia-o da programação, que exprime uma sequência de

acções precisamente determinadas na sua natureza e na sua data. A imagem de programa,

procede de uma representação do objecto no seu contexto e da ideia de que o futuro é

perfeitamente previsível. O planeamento justifica-se quando leva em conta um conjunto

suficientemente vasto de problemas, sendo eles próprios largamente independentes, e para os

quais se torna impossível um tratamento simultâneo. A unidade na qual o processo de

planeamento se desenrola não é necessariamente a organização na sua globalidade, já que se

pode considerar que esta é susceptível de ser dividida em conjuntos suficientemente

independentes.

A estratégia é um conceito decorrente originalmente da ciência militar e refere-se

genericamente ao estudo e planeamento de meios para atingir objectivos políticos. Pode ainda

ser entendido como o conjunto de acções consideradas como meios importantes para a

consecução de objectivos (Academia das Ciências de Lisboa, 2001). Ainda de acordo com

Mintzberg (1994) as abordagens estratégicas em política e planeamento não se destinam a

tentar saber o que pode acontecer no futuro, mas sim atentar planear e guiar acções que

constituam caminhos possíveis para um futuro desejável.

O planeamento estratégico, assume-se como um processo de análise (contém um diagnóstico

que procede a uma analise externa, ou seja, identifica as ameaças e oportunidades que a

envolvente fornece e a uma analise interna, identificando nomeadamente os pontos fracos e

fortes com que a cidade se depara), de decisão (envolve a selecção de objectivos a atingir) e

de acção (propõe a forma como esses objectivos são atingidos - operacionaliza os objectivos),

capaz de gerir oportunidades, mudanças e contingências e de contrariar estrangulamentos e

fragilidades, com vista a tirar partido das potencialidades existentes. Assume-se ainda, como

64

um processo prospectivo (visa a criação de um futuro melhor), participado/negociado (contribui

para a actuação articulada dos intervenientes), contínuo e flexível (obriga a procedimentos

sistemáticos e acompanhamento das acções). Neste contexto os planos estratégicos são

entendidos como o documento formal que traduz a estratégia assumida e cuja elaboração

permite encetar o processo de planeamento estratégico.

Relativamente aos planos Municipais, em particular ao PDM, este é entendido como o modelo

de estrutura espacial do território municipal, constituindo uma síntese da estratégia de

desenvolvimento e ordenamento local prosseguida. De entre o vasto conteúdo material

preconizado, estão referidos os objectivos a prosseguir, os meios disponíveis, as acções

propostas, a identificação das áreas e a definição de estratégias de localização, distribuição e

desenvolvimento das actividades industriais, turísticas, comerciais e de serviços, a definição de

estratégias para o espaço rural.

Actualmente, é efectuada alguma avaliação e reflexão sobre a experiência do que têm

representado os Planos Directores Municipais, é corrente o entendimento de que estes planos

não traduzem efectivas políticas urbanas municipais, isto é, não traduzem opções, objectivos,

medidas e acções. Muitos dos planos directores municipais, transformados em documentos

sem estratégia e sem programa, constituem apenas a síntese das situações existentes, o

registo do existente, em vez de se constituírem somo agentes de transformação e de

desenvolvimento dos municípios, numa perspectiva de prosseguimento e concretização das

estratégias municipais.

A mistura de conteúdos tem sido uma prática sistemática devido, em grande parte, à falta de

disciplina e de clareza na arrumação dos conceitos. A separação dos conteúdos formais dos

planos, particularmente os que são objecto de normas imperativas, dirigidos à sua gestão e

realização, deverá ser necessariamente compatível com a exploração de relacionamentos

entre todos os planos que partilham o mesmo território ou tratam de territórios com relações de

vizinhança. É corrente a carência no âmbito do conteúdo dos planos directores municipais, da

explicitação clara dos fins públicos e dos objectivos a prosseguir. Regra geral, os objectivos

confundem-se com as finalidades e são expressos de forma muito geral. Este quadro estende-

se à explicitação das estratégias adoptadas, que para além de escassamente referidas, não

envolvem nunca a explicitação dos meios e recursos afectos à sua execução.

A ausência de um quadro conceptual assumido e uma estruturação deficiente dos princípios de

planeamento municipal, junta-se por vezes a existência de conteúdos deslocados, podendo o

próprio plano constituir um entrave ao desenvolvimento. Esta situação não é inédita na História

do planeamento nacional. Conforme referido por Margarida Souza Lôbo, 1996, a propósito dos

planos de urbanização à época de Duarte Pacheco, impossibilitando a legislação da altura a

aplicação de uma efectiva política fundiária, privando os municípios dos instrumentos

necessários, estes experimentam dificuldades inultrapassáveis para implementar os seus

planos, manifestando a sua completa incapacidade para combater os efeitos perversos dos

65

planos. A construção surge na periferias das áreas abrangidas pelos planos, não se

desenvolvendo os aglomerados propriamente ditos.

A transição dos sistemas de planeamento tradicional, fortemente radicados no ordenamento do

território, para métodos com componentes estratégicas de planeamento, é uma transição

sempre controversa e vulnerável. Com efeito, o planeamento estratégico destacando-se da

prática do planeamento urbano como processo de planeamento autónomo, apresenta, por

vezes tendências para o desvalorizar, subestimando a sua importância, determinante no

processo de desenvolvimento urbano.

Por outro lado, o planeamento estratégico advindo de um conjunto de metodologias de gestão

empresarial, situa-se num quadro concorrencial em que as questões relacionadas com a

concorrência são dominantes, em detrimento de questões como a solidariedade e a equidade.

Verifica-se, assim, a tendência para privilegiar como interlocutores os agentes económicos,

desvalorizando-se a participação dos agentes sociais, culturais ou ambientais.

“Por um lado, imaginar (e, sempre que possível, controlar por processos científicos) o que vai

acontecer de uma forma durável num domínio determinado; esse trabalho de imaginação tem a

ver com a capacidade de diminuir a incerteza e conseguir encontrar fenómenos dificilmente

previsíveis, como a ruptura, a mudança, a transformação e a descontinuidade (…) Por outro

lado, ser um instrumento que ajude à tomada de decisão, estando intimamente ligada numa

atitude política de agir” (Brissos, 2004:47).

O planeamento estratégico nunca veio a preencher as expectativas criadas e ainda hoje muitos

autores analisam as causas deste facto. De acordo com Mintzberg (1994) esta razão prende-se

com o equívoco entre dois conceitos, o pensamento estratégico e o planeamento estratégico,

bem como em erradamente ter-se assumido que o segundo pressupõe o primeiro. O

planeamento estratégico, tal como veio a ser praticado veio geralmente a anular o pensamento

estratégico, causando a confusão da visão estratégica com a manipulação de dados. Quase

sempre, o planeamento estratégico veio a articular estratégias e a legitimar decisões políticas

que já existiam. Esta pratica do planeamento estratégico veio a provocar uma reflexão crítica

que pôs em causa os seus fundamentos Gary Hamel e C. K. Prahalad (1994) referem também

no âmbito desta tónica, a necessidade de substituição da exclusividade dos planos

estratégicos, pela sua complementaridade com o desenvolvimento de uma arquitectura

estratégica, de uma envolvente estratégica, que resistisse à dinâmica de mudança, cada vez

mais rápida e imprevisível

É indispensável encontrar novas formas de assegurar um padrão de equilíbrio para o

desenvolvimento socioeconómico. O planeamento e em particular a metodologia do

planeamento estratégico situam-se no âmbito desse esforço.

A abordagem a alguns aspectos, amplamente discutidos na actualidade, é suficiente para o

demonstrar. Existem com certeza poucas dúvidas que o consumo de energia deve ser

66

reduzido, no sentido de evitar o esgotamento dos recursos não renováveis. Existem, com

certeza várias formas de reduzir o consumo de energia, mas um adequado processo de

planeamento do território, é uma das formas mais eficazes.

O aspecto mais óbvio situa-se no sector dos transportes. Sendo usual tomar a política de

transportes unicamente como o meio e a forma de se aceder do local A ao local B, esta política

não pode deixar de abordar também, a temática da relação da localização de A, face a B. O

planeamento envolve-se no entanto, quase só com os problemas de acomodação do tráfego,

na presunção de que o número de carros irá aumentar e que o processo de planeamento

deverá apenas considerar o inevitável.

É esta presunção que se tem de alterar, recuperando e desenvolvendo o potencial do processo

de planeamento estratégico. A promoção de um sistema de transportes públicos é

seguramente indispensável, mas a estrutura urbana terá que ser planeada por forma a que a

necessidade de mobilidade dependente do uso do automóvel seja reduzida, não sendo este

uso tão necessário às deslocações de trabalho ou de lazer.

Não se pode confrontar de uma forma absoluta um tipo de transporte com outro,

nomeadamente opinar sobre a vantagem de optar pelo transporte colectivo ou individual. Mas

em certas situações em que há uma massa crítica de população concentrada, pode optar-se

por um desenho urbano que favoreça a utilização do transporte público. Não estão aqui em

causa opções individuais nem valores culturais ou factores educativos, o que está mesmo em

causa são configurações urbanísticas confrontadas com a eficiência dos seus sistemas de

transportes.

Embora o planeamento seja mais encarado como uma defesa, contra o que as pessoas não

querem mas têm a percepção que pode acontecer, este deverá ser mais entendido como um

instrumento de acção, como um meio de promover e não de resistir à mudança.

A forma mais adequada de efectuar decisões coerentes nos domínios da habitação,

transportes, economia local, consumo de energia, remoção e tratamento de resíduos sólidos,

etc., é providenciando um mecanismo que, exercendo-se de forma democrática, tenha em

consideração a visão alargada e a longo prazo que a comunidade local necessita, mas que o

mercado por si só não pode assegurar. Esse mecanismo é o planeamento estratégico,

desenvolvido no enquadramento do processo municipal de planeamento.

67

4.2 Análise dos Casos

Considera-se que os dois planos são incomparáveis não só pelo contexto legislativo e territorial

a que se inseriam, mas acima de tudo pela evolução que desenvolveram, enquanto que o

PDM-VFX entra em vigor em 2009 e tem como base o estudo estratégico de 2003, o Plano de

Pisa entra em vigor em 1995 e posteriormente realiza o Plano Estratégico, aprovado em 2008.

Considerando que o planeamento estratégico adopta urna metodologia com três características

essenciais: entendimento do plano, enquanto processo, integração de instrumentos de

prospectiva no equacionar do futuro e participação pública, como elemento chave da

elaboração e implementação do plano, verifica-se que o Plano Estratégico de Pisa incorporou

na sua plenitude estas premissas.

Relativamente ao PDM-VFX, entende-se que o actual enquadramento legal coloca a tónica no

PDM enquanto síntese da estratégia de desenvolvimento local prosseguida, pelo que exige

uma concepção do Plano, onde a gestão, a execução e a monitorização, a par com a

participação da comunidade assuma o seu papel enquanto partes intrínsecas do processo de

planeamento a ser operacionalizadas através de uma nova abordagem metodológica.

Deste modo, a proposta metodológica do planeamento estratégico permite dar o salto

qualitativo pretendido na Revisão dos PDM por responder às principais questões a que o

diploma legal em vigor e a própria gestão municipal exigem:

Plano-processo: A nova concepção do PDM enfatiza o plano-processo ao invés do Plano

enquanto produto final, na medida em que do Plano faz parte intrínseca a gestão, não se

esgotando deste modo o planeamento no Plano. Consequentemente, afirma-se o planeamento

enquanto acção continua, interactiva e flexível isto é, assume-se o seu carácter circular

estando em permanente avaliação, integrando as diversas componentes que constituem o

sistema territorial dado que a actuação numa tem implicações nas restantes e dotando-se de

capacidade de resposta aos desafios e oportunidades imponderáveis aquando da sua

elaboração.

Visão de desenvolvimento: O planeamento estratégico tem como objectivo o traçar de uma

visão de desenvolvimento que traduza o futuro desejável para o território e a sua comunidade.

Este esforço de antevisão e antecipação do futuro é conseguida através da introdução de

mecanismos de prospectiva, como sejam a elaboração de um diagnóstico orientado, a sua

síntese numa análise SWOT em que se ponderam as variáveis internas e externas com

influência no território, a construção de cenários alternativos de desenvolvimento do território

que traduzem eventuais caminhos e direcções futuras. Estes instrumentos permitem clarificar

as opções a tomar e traçar o projecto de desenvolvimento desejado e possível do território.

Participação pública: O envolvimento da comunidade na concepção do Plano é o alicerce do

planeamento e a chave para a sua posterior implementação. Assim, importa identificar os

68

principais actores e agentes locais e mobilizá-los para o plano, de modo a aproximar os

objectivos da comunidade em torno de um projecto comum. Para tal, é necessário criar

condições e momentos próprios de integração em que se abra espaço ao diálogo e

concertação de interesses bem como à resolução de conflitos inerentes a actores com lógicas

de actuação distintas. Só deste modo, será possível que a sociedade se reveja e identifique

com o plano apercebendo-se dele enquanto projecto comum e coloque os recursos e meios

para a sua implementação através da assumpção de compromissos e responsabilidades. A

participação pública é uma ferramenta essencial para a viabilização do plano numa época de

crescente debilidade financeira da Administração Pública.

Gestão: A execução do Plano é determinante no processo de planeamento, na medida em que

se o Plano constitui o projecto de desenvolvimento do território, a gestão é a sua

materialização em termos de medidas e projectos. Assim sendo, o processo de planeamento

tem que criar condições para a sua concretização, sendo o programa de execução e o plano de

financiamento fulcrais para a implementação das propostas do Plano na medida em que se

torna necessário elencar as diversas propostas, a entidade responsável pela sua realização e

os meios e recursos para a sua concretização.

Simultaneamente, focam-se os aspectos organizacionais e a sua importância para um correcto

ordenamento e planeamento territorial. Não só é premente uma maior coordenação entre os

diferentes níveis da Administração Pública como dentro da Administração Local se exige uma

melhor articulação entre os serviços, de modo a que o seu funcionamento tenha como

resultado a correcta implementação do Plano e não desvirtue as suas propostas.

Monitorização: A avaliação contínua e permanente do Plano é também um elemento essencial

a ter em consideração no PDM. Num contexto de crescente incerteza e incapacidade do Plano

responder a solicitações não ponderadas a priori, interessa monitorizar o plano e os níveis de

aderência entre o Plano e o território de forma a detectar desvios ou erros e corrigi-los em

tempo real e permitir a resposta a novas oportunidades que se coloquem num dado momento.

O Plano reveste-se assim de uma maior flexibilidade que lhe permite ser um instrumento de

planeamento regulador mas ao mesmo tempo facilitador do desenvolvimento do território ao

estimular e absorver projectos não previstos aquando da sua concepção.

O planeamento estratégico vem, nesta prespectiva, dar outro ênfase à ligação entre as

componentes sociais e físicas e aos mecanismos de gestão e implementação do plano. A

complementaridade entre estas duas formas de planeamento permite, através de uma

concepção diferente do PDM, dotá-lo de um carácter simultaneamente físico e estratégico

tornando-o assim um instrumento mais qualificado para responder aos desafios que se impõem

ao desenvolvimento e ordenamento do território municipal.

69

4.3 Reflexões

A pesquisa efectuada na presente dissertação permitiu retirar algumas conclusões sobre a

pertinência da introdução das especificidades do planeamento estratégico no processo de

Revisão dos PDM.

Os objectivos definidos são o alicerce das conclusões a retirar na medida em que a sua

prossecução demonstrou aspectos importantes que importa rever, nomeadamente:

a evolução do conceito de PDM que se foi afirmando ao longo do tempo como o

instrumento de planeamento territorial por excelência do desenvolvimento municipal;

as limitações evidenciadas na prática do planeamento, a fraca ligação entre

planeamento e gestão, a ausência de mecanismos de execução do Plano, a incipiente

participação da comunidade na elaboração do Plano;

o enfoque na elaboração do Plano na qual se coloca o empenho e o esforço técnico e

o descuramento da implementação do Plano por falta de mecanismos que a

operacionalizem;

as vantagens da abordagem metodológica do planeamento estratégico para lidar com

a complexidade dos actuais sistemas territoriais, a incerteza com que se deparam, a

crescente competitividade entre territórios e a debilidade financeira da Administração

Local;

a complementaridade entre o planeamento estratégico e o planeamento físico e as

mais-valias da sua articulação que permite alcançar uma visão mais global do

planeamento e uma implicação dos actores locais;

as dificuldades subjacentes ao processo de Revisão do PDM e as dúvidas intrínsecas

ao desbravar de um novo caminho e à introdução de uma abordagem metodológica

inovadora.

No entanto, apesar das mais-valias apresentadas, a aplicação prática desta abordagem

metodológica revelou algumas debilidades:

o confronto entre um PDM regulador e um PDM flexível pelo receio da Autarquia ter

que recorrer, no segundo caso, à posterior elaboração de planos de hierarquia inferior

para o desenvolvimento do território;

a brevidade dos prazos impostos para as revisões dos planos que não se coaduna com

a morosidade e a exigência intrínseca ao envolvimento da comunidade no processo;

a visão estratégica peca pela ausência de um desenvolvimento através de linhas

estratégicas consubstanciadas em objectivos específicos, pelo que se corre o risco de

a mesma se afirmar como uma intenção globalmente positiva mas nunca efectivamente

operacionalizada pela ausência de mecanismos que a possibilitem;

70

as dúvidas que subsistem na forma como se dota o plano da necessária flexibilidade

nomeadamente no que se refere à classificação e qualificação do solo e à sua

quantificação através de índices e parâmetros urbanísticos;

a atitude passiva em relação ao sistema de monitorização do plano que se encara

como sua parte integrante, mas para a qual não foram direccionados técnicos e

esforços no sentido de o construir e implementar ao longo da elaboração de modo a

que possa tornar-se um instrumento de avaliação e gestão do plano;

a rigidez da estrutura administrativa local e falta de vontade política para a reformular

pelo que se antevê a manutenção dos bloqueios e limitações já evidenciadas pela falta

de articulação e coordenação existentes.

Consequentemente, verificou-se que, apesar do esforço empreendido para a introdução da

componente estratégica no PDM que permite dar um passo em frente na forma de o encarar e

de lhe dar o papel preponderante do desenvolvimento territorial municipal, subsistem aspectos

insuficientemente consubstanciados e explorados que podem comprometer a implementação

do Plano.

A Revisão dos planos é assim, facilmente estratégica do ponto de vista analítico (que é aquele

que se torna mais simples), mas em termos processuais os passos em frente têm tendência a

ser bastante pequenos. A Revisão dos PDM constitui o momento próprio para repensar e

ponderar não apenas o tipo e estrutura de planos que se desejam mas sobretudo, o modelo de

gestão adequado para o efectivo salto qualitativo que o desenvolvimento municipal solicita.

Este modelo de gestão exige esforços adicionais no sentido da reforma da Administração

Pública e do seu funcionamento, da abertura efectiva (e não apenas conceptual ou teórica) de

mentalidades para a integração dos actores e agentes territoriais no Plano, da

operacionalização de um sistema eficiente de avaliação permanente do Plano e dos seus

resultados.

71

5 Desenvolvimentos futuros

5.1 Linhas de orientação

A presente dissertação procurou demonstrar que parte das limitações evidenciadas pela

experiência de planeamento municipal nas últimas duas décadas pode ser ultrapassada

através de uma abordagem metodológica diferente. Deste modo, a investigação realizada

permite identificar um conjunto de questões que carecem de maior aprofundamento visto que

se está numa fase de aprendizagem e de consolidação de conhecimentos com vista a uma

melhor fundamentação da forma como melhor se alcança a vertente estratégica dos PDM.

Assim, apontam-se como linhas de orientação para o prosseguimento da investigação nesta

matéria:

Estudar a integração efectiva da participação pública na Revisão dos PDM e a sua

operacionalização em termos concretos, dadas as limitações temporais e financeiras

que caracterizam este processo;

Analisar as estruturas organizativas das Autarquias Locais e o modo como podem ser

alteradas em prol de um funcionamento mais eficiente e eficaz no âmbito do

planeamento e gestão do território;

Perceber a forma mais eficiente de acompanhamento do PDM pela Administração

Central e o modo como este pode ser agilizado;

Investigar a introdução de flexibilidade na regulamentação do PDM e o modo como

esta pode ser concretizada em termos de índices e parâmetros urbanísticos;

Entender o âmbito do sistema de gestão e monitorização do Plano criando

mecanismos adequados para a sua implementação e funcionamento.

O entendimento de estratégia do PDM suscita assim, interrogações e crê-se que há ainda um

longo caminho a percorrer neste sentido. No entanto, pode dizer-se que a estratégia do Plano

se afirma como projecto de desenvolvimento territorial nas suas várias vertentes (sociais,

económicas, físicas, culturais), ancorado nas especificidades intrínsecas do município a que

respeita e alicerçado na co-responsabilidade e comprometimento da comunidade em prol da

melhoria da sua qualidade de vida e de urna maior equidade e solidariedade não apenas social

mas territorial.

72

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