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PAULA MARGARIDA AMARO ALMEIDA
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia
Cerebral: concees dos professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico
dos Aores
UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA
FACULDADE DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS
Porto, 2015
PAULA MARGARIDA AMARO ALMEIDA
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia
Cerebral: concees dos professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico
dos Aores
UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA
FACULDADE DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS
Porto, 2015
PAULA MARGARIDA AMARO ALMEIDA
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia
Cerebral: concees dos professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico
dos Aores
Porto, 2015
____________________________________________
PAULA MARGARIDA AMARO ALMEIDA
Dissertao de mestrado apresentada
Universidade Fernando Pessoa, como parte
integrante dos requisitos para a obteno do
grau de mestre, em Cincias da Educao:
Educao Especial, no domnio cognitivo e
motor sob a orientao da Professora
Doutora Ftima Paiva Coelho.
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos
professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
V
RESUMO
A escola dos nossos dias, dita inclusiva, importante para o desenvolvimento
das competncias que perspetivam a construo de uma sociedade melhor, atravs da
formao de cidados crticos e responsveis, independentemente das diferenas e
dificuldades que estes possam apresentar. Aos professores cabe proporcionar ambientes
educativos adequados aos alunos, com Paralisia cerebral inclusive. No aspeto
comunicativo, o uso da comunicao alternativa e aumentativa (CAA) fundamental.
Este estudo tem como objetivo geral conhecer as concees dos professores dos
2 e 3 ciclos do ensino bsico dos Aores, acerca da CAA, em alunos com Paralisia
cerebral (PC). do tipo descritivo, numa abordagem mista. O instrumento de recolha de
dados um questionrio, em formato digital. Participaram, neste estudo, 79 docentes,
em funes no sistema educativo regional aoriano.
Os resultados obtidos mostram-nos que: os docentes com mais habilitaes
acadmicas ou formao pedaggica so os que consideram ser muito importante o
recurso a instrumentos de CAA, para o sucesso e incluso escolares de alunos com PC;
os professores que utilizam a CAA tm graus de eficincia da comunicao, incluso e
sucesso escolares superiores aos que no a utilizam e apenas a formao acadmica e
pedaggica influenciam as concees e a frequncia de utilizao da CAA, pelos
professores. Alm disso, identificam-se como principais facilitadores, no recurso
CAA, pelos docentes, a colaborao dos professores de educao especial/apoio e dos
tcnicos de informtica da escola, os recursos materiais e as polticas/medidas
inclusivas. Como barreiras, h, sobretudo, falhas inerentes aos docentes, escassez de
recursos de CAA e limitaes ao nvel destes ltimos, bem como das prprias escolas.
Quanto a medidas, para colmatar estas dificuldades, os docentes apontam,
maioritariamente, a realizao de formao especfica, na rea em questo e em
educao especial, bem como o melhoramento e aumento dos recursos de CAA, nas
escolas, seguindo-se o desenvolvimento de polticas/medidas facilitadoras do seu uso.
Termos Chave: Educao inclusiva, comunicao alternativa e aumentativa e Paralisia
cerebral.
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos
professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
VI
ABSTRACT
The school of today, that said to be inclusive, is important to the development of
some skills that have in view the construction of a better society, through the formation
of critical and responsible citizens, regardless the differences and difficulties that those
citizens may have. Teachers should favor adequate educational environments to
students with cerebral palsy. In what concerns communication, the use of an alternative
and augmentative communication (CAA) is fundamental.
The main goal of this study is to know how teachers of high school in Azores
conceive the use of the CAA with students with cerebral palsy. It is a descriptive study
and has a mixed approach. The instrument of gathering data was a questionnaire in
digital form. Seventy nine teachers working in the Azorean Educational System have
participated in this study.
The results show us that the teachers with more academic qualifications or
pedagogical formation are the ones that consider the use of CAA very important to the
success and inclusion of students with cerebral palsy in schools. It also shows us that
the teachers who use the CAA have better results in the communication, in the inclusion
and in the success of their students than the ones that don't use these resources. And
only the academic and pedagogical formation influences the frequency and conception
of the use of CAA by teachers. Furthermore, the collaboration of special education
teachers and computer technicians at schools, the material resources and the inclusive
policies/ measures were identified as main facilitators in the use of CAA by teachers.
As barriers, there are, mainly, flaws inherent to teachers, few CAA resources and
limitations in those resources and schools. In what concerns measures to end those
difficulties, the teachers pointed out the realization of specific formation, in this area
and in special education, the improvement and the increase of CAA resources in schools
and the development of facilitators policies/ measures in its use.
Keywords: Inclusive education, alternative and augmentative communication and
Cerebral palsy.
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos
professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
VII
DEDICATRIA
minha Famlia e aos meus pais, em particular!
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos
professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
VIII
AGRADECIMENTOS
No teria sido possvel desenvolver este estudo sem o apoio valiosssimo de
algumas pessoas, s quais aproveito para agradecer e expressar, publicamente, o meu
imenso reconhecimento.
Aos meus pais que sempre estiveram presentes, dando-me alento e conforto; a
todos os meus amigos, que me auxiliaram na concretizao desta investigao e, no
poderia esquecer, de forma alguma, a Professora Doutora Ftima Coelho, que me
orientou e apoiou, na construo e realizao deste estudo.
A todos, o meu muito obrigado!
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos
professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
IX
NDICE PRINCIPAL
Pg.
INTRODUO...... 1
ENQUADRAMENTO TERICO ......... 3
CAPTULO I- Escola inclusiva ..... 3
1.1- Breve contextualizao e desafios da escola inclusiva ... 3
1.2- Benefcios da escola inclusiva .... 6
CAPTULO II- A Paralisia cerebral ...... 7
2.1- O conceito ....... 7
2.2- Prevalncia .. 8
2.3- Causas ..... 8
2.4- Sinais e sintomas .... 9
2.5- Classificao ... 9
2.6- Caratersticas gerais, problemas e tratamento ........ 11
CAPTULO III- A comunicao alternativa e aumentativa ...... 14
3.1- O Conceito e a finalidade da comunicao alternativa e aumentativa ....... 14
3.2- Meios de comunicao alternativa e aumentativa .. 16
3.3- Tecnologias de apoio para a comunicao . 24
3.4- A escolha, conceo/adaptao e aplicao da comunicao alternativa e
aumentativa
29
3.5- A educao inclusiva de alunos com Paralisia cerebral e a comunicao
alternativa e aumentativa
30
3.6- Concees dos professores, com alunos com Paralisia cerebral, acerca da
comunicao alternativa e aumentativa .
35
CAPITULO IV- ESTUDO EMPRICO .... 37
4.1- A problemtica .... 37
4.2- Objetivos do estudo .... 39
4.3- Hipteses ..... 40
4.4- Metodologia .... 41
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos
professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
X
4.5- Tipo de estudo 42
4.6- Populao e amostra ... 42
4.7- Instrumento de recolha de dados e procedimentos.. 46
CAPTULO V- Apresentao e discusso de resultados .......... 49
CAPTULO VI- Concluses ..... 88
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .... 91
ANEXOS 99
Anexo I- Questionrio 100
Anexo II- Autorizao da autora do questionrio 108
Anexo III- Autorizao da Direo Regional da Educao dos Aores 111
Anexo IV- Base de dados do questionrio 114
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos
professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
XI
NDICE DE FIGURAS
Pg.
Figura 1 - Exemplos de smbolos do sistema Makaton .. 17
Figura 2 - Exemplos de smbolos Bliss .......... 19
Figura 3 - Exemplos de smbolos PIC ........ 20
Figura 4 - Exemplos de smbolos PCS ... 21
Figura 5 - Exemplos de smbolos PECS ..... 23
Figura 6 Dispositivos com smbolos tangveis .... 23
Figura 7 - iTalk 2..... 24
Figura 8- Grid . 26
Figura 9- Quadro interativo ........ 28
Figura 10- Computador com Magic Eye .... 29
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos
professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
XII
NDICE DE TABELAS
Pg.
Tabela 1- Categorias e subcategorias para facilitadores e dificuldades no recurso
CAA, temas para aes de formao dos docentes e medidas para facilitar a
utilizao da CAA .....
48
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos
professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
XIII
NDICE DE GRFICOS
Pg.
Grfico 1- Sexo ...... 43
Grfico 2- Idade ..... 43
Grfico 3- Situao profissional .... 44
Grfico 4- Nvel de habilitaes .... 44
Grfico 5- Tempo de servio com alunos com NEE e com PC 45
Grfico 6- Frequncia de curso/formao em educao especial, PC e CAA . 45
Grfico 7- Avaliao da formao/preparao acadmica para trabalhar com
crianas com PC
49
Grfico 8- Comunicao aumentativa e alternativa .......... 50
Grfico 9- Instrumentos de CAA conhecidos 51
Grfico 10- Nvel de conhecimento da CAA 52
Grfico 11- Recurso a instrumentos de CAA 53
Grfico 12- Frequncia com que so utilizados meios de CAA 54
Grfico 13- Meios de CAA utilizados mais frequentemente 55
Grfico 14- Meios de CAA utilizados menos frequentemente . 56
Grfico 15- Comunicao com o aluno com PC ... 57
Grfico 16- Mdia (1 a 5) dos graus de eficincia da comunicao, incluso e
sucesso escolares ...
58
Grfico 17- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para o sucesso
escolar e para a incluso de alunos com PC ..
59
Grfico 18- Comunicao com o aluno com PC segundo a frequncia de
utilizao de meios CAA ...
60
Grfico 19- Mdia (1 a 5) dos graus de eficincia da comunicao, incluso e
sucesso escolares segundo a frequncia de utilizao de meios CAA ......
61
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos
professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
XIV
Grfico 20- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para o sucesso
escolar de alunos com PC segundo o sexo
62
Grfico 21- Importncia do recurso de CAA para a incluso de alunos com PC
segundo o sexo ...................................................................................
63
Grfico 22- Frequncia com que so utilizados meios de CAA segundo o sexo... 63
Grfico 23- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para o sucesso
escolar de alunos com PC segundo a idade ...
64
Grfico 24- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para a incluso de
alunos com PC segundo a idade
65
Grfico 25- Frequncia com que so utilizados meios de CAA segundo a idade . 65
Grfico 26- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para o sucesso
escolar alunos com PC segundo a situao profissional
66
Grfico 27- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para a incluso de
alunos com PC segundo a situao profissional
67
Grfico 28- Frequncia com que so utilizados meios de CAA segundo a
situao profissional ..
67
Grfico 29- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para o sucesso
escolar de alunos com PC segundo a formao acadmica ...
68
Grfico 30 Importncia do recurso a instrumentos de CAA para a incluso de
alunos com PC segundo a formao acadmica
69
Grfico 31- Frequncia com que so utilizados meios de CAA segundo a
formao acadmica ..
70
Grfico 32- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para o sucesso
escolar de alunos com PC segundo o tempo de experincia com alunos com
NEE ...
71
Grfico 33- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para a incluso de
alunos com PC segundo o tempo de experincia com alunos com NEE ..
71
Grfico 34- Frequncia com que so utilizados meios de CAA segundo o tempo
de experincia com alunos com NEE
72
Grfico 35- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para o sucesso
escolar de alunos com PC segundo o tempo de experincia com alunos com PC.
73
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos
professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
XV
Grfico 36- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para a incluso de
alunos com PC segundo o tempo de experincia com alunos com PC .
74
Grfico 37- Frequncia com que so utilizados meios de CAA segundo o tempo
de experincia com alunos com PC ...
74
Grfico 38- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para o sucesso
escolar de alunos com PC segundo a frequncia de algum curso/formao de
educao especial .
75
Grfico 39- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para a incluso de
alunos com PC segundo frequncia de algum curso/formao de educao
especial ..................................................................
76
Grfico 40- Frequncia com que so utilizados meios de CAA segundo
frequncia de algum curso/formao de educao especial ..
77
Grfico 41- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para o sucesso
escolar de alunos com PC segundo a frequncia de algum curso/formao sobre
PC ..
78
Grfico 42 Importncia do recurso a instrumentos de Comunicao
Aumentativa/Alternativa para a incluso de alunos com PC segundo a
frequncia de algum curso/formao sobre PC .
78
Grfico 43 Frequncia com que so utilizados meios de CAA segundo a
frequncia de algum curso/formao sobre PC .
79
Grfico 44- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para o sucesso
escolar de alunos com PC segundo a frequncia de algum curso/formao sobre
CAA ...
80
Grfico 45- Importncia do recurso a instrumentos de CAA para a incluso de
alunos com PC segundo a frequncia de algum curso/formao sobre CAA ...
81
Grfico 46- Frequncia com que so utilizados meios de CAA segundo a
frequncia de algum curso/formao sobre CAA ..
82
Grfico 47- Facilitadores no recurso CAA . 83
Grfico 48- Dificuldades no recurso CAA . 84
Grfico 49- Necessidades de formao na rea da CAA ... 85
Grfico 50- Medidas para facilitar o recurso CAA . 86
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos
professores dos 2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
XVI
NDICE DE ABREVIATURAS
NEE- Necessidades educativas especiais
PC- Paralisia cerebral
CAA- Comunicao alternativa e aumentativa
PCS- Picture Communication Symbols
PECS- Picture Exchange Communication System
PIC- Pictogram Ideogram Communication
APCC- Associao de Paralisia Cerebral de Coimbra
SNC- Sistema Nervoso Central
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos professores dos
2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
1
INTRODUO
Uma das vertentes do desenvolvimento humano diz respeito existncia de um
processo que potencia a crescente autonomia e independncia, de acordo com princpios,
valores e regras institudos pela sociedade e com base no intercmbio entre as relaes
sociais. , neste contexto, que o indivduo desenvolve competncias necessrias para se tornar
autossuficiente, tendo, neste processo, a escola um papel importante, pois onde se
promover o desenvolvimento das referidas competncias, de todos os indivduos,
independentemente das dificuldades e das diferenas que apresentam. esta diversidade
humana que constitui a base da filosofia do modelo da educao inclusiva, atualmente
implementado, o qual pressupe um nico sistema educacional para todos os alunos, partindo
da aceitao das diferenas individuais e da valorizao da diversidade humana, como
potenciadores de capacidades no processo educacional (Martins & Leito, 2012).
A implementao da escola inclusiva, para alm de modificaes na instituio escola,
implica a introduo, nas salas de aula, de estratgias e prticas pedaggicas diferentes das
que tradicionalmente se praticavam. Isso, por sua vez, depende dos professores, das suas
atitudes, concees, conhecimentos, competncias e capacidades para modificarem as suas
prticas, inovarem e criarem ambientes de sala de aula, propcios a um ensino que v ao
encontro das necessidades e potenciais de todos os alunos (Chousa, 2012).
Nas prticas e estratgias pedaggicas, incluem-se as formas de comunicao
utilizadas pelos docentes com os seus alunos, as quais devero ser eficientes, caso contrrio
podero ficar comprometidas as trocas sociais e as aprendizagens e, portanto, o
desenvolvimento das demais competncias, pelos discentes (Silva, 2008). Neste sentido e, no
caso particular de alunos com paralisia cerebral (PC), com distrbios na comunicao oral, h
que proporcionar um sistema alternativo e aumentativo de comunicao, o mais adequado e
precocemente possvel (Freixo, 2013).
Perante o exposto, fundamental aprofundar os estudos na rea da comunicao
alternativa e aumentativa (CAA), com alunos com paralisia cerebral e includos em turmas
dos 2 e 3 ciclos do ensino bsico, universo que se aborda, para o qual, as diversas
investigaes, realizadas at ento, no se estenderam. Da, ter surgido este estudo, que
pretende abordar a problemtica da utilizao de instrumentos de comunicao alternativa e
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos professores dos
2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
2
aumentativa, na sala de aula, pretendendo, de uma forma geral, conhecer as concees dos
professores dos 2 e 3 ciclos do ensino bsico dos aores, acerca da CAA, em alunos com
PC; verificar se o recurso comunicao alternativa e aumentativa torna a comunicao mais
eficiente, com os referidos discentes, promovendo o seu sucesso e incluso escolares;
compreender quais os fatores que influenciam quer as concees, quer a utilizao dos meios
de comunicao alternativa e aumentativa, em alunos com Paralisia cerebral; averiguar as
barreiras/facilitadores do recurso CAA e eventuais medidas a serem tomadas, para facilitar a
sua utilizao, pelos docentes, bem como as suas necessidades de formao, na rea em
questo.
Com a explorao deste tema, adquire-se conhecimento que se assume como um
valioso contributo, para que se tomem medidas futuras, no sentido de melhorar o processo
comunicativo, com alunos com Paralisa cerebral e, desta forma, se auxilia a incluso escolar
dos mesmos.
Este trabalho divide-se em 6 captulos. Dos 1, 2 e 3 captulos consta o
enquadramento terico relativamente escola inclusiva, paralisia cerebral e comunicao
alternativa e aumentativa, respetivamente. No 4 captulo, efetuada a descrio do estudo
emprico, onde se apresentam: a problemtica e pertinncia do estudo, as questes de
investigao, os objetivos do estudo, as hipteses, a metodologia, o tipo de estudo, a
populao e a amostra, o instrumento de recolha de dados e os procedimentos. No 5 captulo,
apresentam-se os resultados e a respetiva discusso e, por fim, no 6 captulo, esto as
concluses.
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos professores dos
2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
3
ENQUADRAMENTO TERICO
CAPTULO I- Escola inclusiva
O desafio que confronta a escola inclusiva no que diz respeito ao
desenvolvimento de uma pedagogia centrada na criana e capaz de bem sucedidamente
educar todas as crianas, incluindo aquelas que possuam desvantagens severas.
(Unesco, 1994, p. 4)
1.1. Breve contextualizao e desafios da escola inclusiva
No passado, as pessoas com necessidades especiais, sobretudo as consideradas
deficientes sofreram de uma relativa invisibilidade, quer nas suas sociedades, quer na esfera
internacional. Foram consideradas, durante muito tempo, como objetos de proteo, em vez
de sujeitos dos seus prprios direitos. Esta aproximao, comummente referida como modelo
mdico da deficincia, focalizada quase exclusivamente no tratamento mdico das pessoas,
conduziu excluso dos indivduos com deficincia, do seu meio social, tal como foi
apresentado nas concluses da Conveno Internacional sobre os Direitos Humanos das
Pessoas com Deficincia (Gulbenkian, 2003).
Com o passar do tempo, as supramencionadas pessoas comearam a ser vistas como
detentoras de direitos. Isto significa, na prtica, que so sujeitos da lei, a qual se centra no ser
humano e tem como finalidade dot-los de meios necessrios, para que possam ter uma
participao ativa, na vida poltica, econmica, social e cultural, da sociedade onde esto
inseridos, onde se responda s suas necessidades e seja respeitada a sua diferena (Ramos,
2011). Para que tal acontecesse, surge ento a sua incluso, nos mais diversos nveis, que tem
como princpios: a aceitao das diferenas individuais como um atributo e no como um
obstculo; a valorizao da diversidade humana pela sua importncia, para o enriquecimento
de todas as pessoas; o direito de pertencer e no de ficar de fora e o igual valor das minorias,
em comparao com a maioria (Heidrich, Santarosa & Franco., 2012).
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos professores dos
2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
4
Ao nvel educacional, com a Declarao de Salamanca (1994), resultante da
conferncia da Unesco, que surge o conceito de escola inclusiva, cujo princpio fundamental
o de todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possvel, independentemente das
dificuldades e das diferenas que apresentem (Martins & Leito, 2012; Pinheiro, 2012).
O mesmo documento considera ainda que as diferenas humanas so normais e,
portanto, no a criana que tem que se adaptar escola, mas sim a escola que deve criar
recursos e metodologias que se adaptem a cada criana em especial, garantindo assim a
aprendizagem de todos (Unesco, 1994).
Desta forma, as escolas inclusivas, segundo a Unesco (1994, p. 11):
() devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se
aos vrios estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nvel de educao
para todos, atravs de currculos adequados, de uma boa organizao escolar, de estratgias
pedaggicas, de utilizao de recursos e de uma cooperao com as respectivas
comunidades.
A escola inclusiva , em suma, onde todas as crianas podem aprender, admitindo-se e
respeitando-se as suas diferenas, sendo-lhes proporcionadas estruturas, sistemas e
metodologias de ensino adequadas, que atendam s suas necessidades, para que todos se
desenvolvam, tanto a nvel escolar, como social (Rebelo, 2011; Chousa, 2012). Alm disso,
valoriza-se a ideia de que todos os discentes, incluindo crianas com necessidades educativas
especiais (NEE), tm um contributo positivo para oferecer escola e sociedade (Pinheiro,
2012).
Foi, portanto, a partir da Declarao de Salamanca (1994), que o movimento da
educao inclusiva ganhou relevncia e que, desde ento, tem promovido um novo paradigma
de escola, organizado de acordo com a individualidade de cada aluno, recetivo diferena e
diversidade de perfis e ritmos de desempenho (Martins & Leito, 2012).
Atualmente, com a implementao da escola inclusiva, o sistema educativo tem uma
populao mais heterognea, pelo que se confronta com a necessidade de ultrapassar vrias
barreiras e de criar condies que favoream respostas ajustadas, a um processo eficaz de
potenciao do ensino-aprendizagem, de todos os alunos, bem como do seu desenvolvimento
psicossocial (Rebelo, 2011). Isto exige vrias modificaes na escola, nomeadamente ao nvel
das prticas pedaggicas, dos recursos fsicos, materiais e humanos, da relao pedaggica,
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos professores dos
2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
5
dos aspetos curriculares, bem como das concees e atitudes dos docentes, face aos alunos
com NEE (Oliveira, 2010; Rebelo, 2011).
Nesta perspetiva, adquire grande importncia o desempenho do professor, no que
respeita diversificao das prticas pedaggicas e ao desenvolvimento de metodologias e
estratgias, que facilitem a progresso da aprendizagem dos diferentes alunos e promovam o
seu desenvolvimento, no geral. Ao faz-lo, os docentes conseguiro criar ambientes
educativos adequados, promovendo-se interaes positivas, em sala de aula, as quais
favorecero a incluso escolar dos discentes com necessidades educativas especiais, alm de
que contribuem para tornar todos os alunos, cidados atentos, autnomos e produtivos
(Correia, 2008).
Desde modo, para promover mais e melhor incluso escolar, revela-se necessria a
formao contnua dos professores, que lhes permita adquirir novas competncias de ensino,
para responder adequadamente s necessidades educativas de cada aluno e desenvolver
atitudes positivas em relao incluso (Coelho, 2012).
A este respeito, Carvalho (2007) refere que o ponto mais delicado e difcil da
formao, na rea da incluso escolar, precisamente a modificao das concees e atitudes
dos professores. Este autor refere que os docentes necessitam de formao, que lhes d
conhecimentos e que os prepare para a identificao de problemas, insuficincias e distrbios,
bem como para o desencadear de diversas medidas para os abordar.
Neste mbito, Vasconcelos (2012), averiguou que os professores do 1 ciclo do ensino
bsico da ilha de S. Miguel Aores consideram que a sua formao acadmica pouco
adequada, para a implementao da educao inclusiva, pelo que necessitam de formao
tcnica especfica, na rea da educao especial e afins, bem como na definio e
implementao de estratgias de interveno adequadas.
Para finalizar, acrescenta-se que a educao inclusiva depende no s da capacidade
do sistema escolar, em procurar solues, para o desafio que constitui a presena de to
diferentes alunos, nas salas de aulas, como tambm do desejo de fazer de tudo, para que
nenhum aluno seja excludo, por apresentar uma determinada necessidade educativa especial
(Heidrich, Santarosa & Franco, 2012).
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos professores dos
2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
6
1.2- Benefcios da escola inclusiva
So vrios os benefcios da escola inclusiva, para os alunos com e sem necessidades
educativas especiais, bem como para toda a comunidade educativa, de uma forma geral.
Relativamente aos alunos, segundo Alves (2009), Gouveia (2011) e Costa (2012), os
alunos com NEE, num ambiente inclusivo, apresentam nveis mais elevados de socializao,
padres superiores de interao verbal com os colegas, atividade ldica com nveis cognitivos
mais elevados, alm de que aumentam a sua autoestima e autoconfiana. Beneficiam ainda de
diversos recursos, vivenciam experincias novas, convivem com crianas diferentes delas e
realizam aprendizagens muito ricas. J os alunos sem necessidades educativas especiais, de
turmas com alunos com NEE includos, de acordo com os mesmos autores, tornam-se mais
conscientes das diferenas de cada um e do mais ateno e conforto ao colega com uma
deficincia. E acrescentam que, ao valorizar-se a diversidade, tambm se fomenta a tolerncia
e compreenso dos discentes, face diferena e promove-se a aprendizagem de
comportamentos altrustas, bem como quando usar tais comportamentos. Neste sentido, Paiva
(2008) afirma mesmo que a diversidade e heterogeneidade de alunos, so um valor e nunca
um obstculo, podendo mesmo tornar-se motor de uma nova gerao mais justa, mais
solidria e mais verdadeira. Segundo este autor (p. 66):
Incluir os alunos com necessidades educativas especiais numa sala de aula, construir uma
oportunidade de acesso a uma educao de qualidade quer para eles quer para os seus
colegas sem dificuldades.
No que se refere aos docentes e tcnicos envolvidos, de acordo com Leito (2007),
tambm so beneficiados com a incluso escolar, uma vez que desenvolvem a sua prtica,
enriquecem a sua formao, aumentam a confiana nas suas capacidades de interveno e
desenvolvem atitudes positivas face incluso. A prpria comunidade educativa ganha a
conscincia e a certeza que a criana um cidado de pleno direito (Costa, 2012).
De uma forma geral, o estabelecimento das escolas inclusivas um passo crucial no
sentido de modificar atitudes discriminatrias, de criar comunidades acolhedoras e de
desenvolver uma sociedade inclusiva (Unesco, 1994, p.4).
A Comunicao Alternativa e Aumentativa, com alunos com Paralisia Cerebral: concees dos professores dos
2 e 3 Ciclos do Ensino Bsico dos Aores
7
Captulo II- A Paralisia cerebral
Paralisias cerebrais NO SO DOENAS,
seno uma condio mdica Especial ()
(Heidrich, Santarosa & Franco, 2012, p.2)
2.1- O conceito
Ao longo dos tempos, assistiu-se ao surgimento de uma enorme diversidade de
conceitos da Paralisia cerebral (PC). Little (1843) descreveu, pela primeira vez, a
encefalopatia crnica da infncia, como uma patologia ligada a diferentes causas e
caracterizada sobretudo pela rigidez muscular. Em 1862, o mesmo autor estabeleceu a relao
entre esse quadro e o parto anormal (Oliveira, 2010; Silva, 2011; Teixeira, 2012).
Em 1897, Freud sugeriu a expresso Paralisia cerebral, que, mais tarde, foi utilizada
por Phelps, para referir-se a um grupo de crianas com transtornos motores, mais ou menos
severos, devido a uma leso do Sistema Nervoso Central (SNC), semelhantes ou no aos
transtornos motores da Sndrome de Little (Oliveira, Garotti & S, 2008; Silva, 2011). Tal
transtorno, segundo Leite e Prado (2004, p.41):
Designa um grupo de afeces do Sistema Nervoso Central da infncia que no tm carter
progressivo e que apresenta alteraes do movimento, da postura, do equilbrio, da
coordenao com presena varivel de movimentos involuntrios. A paralisia cerebral (PC)
caracterizada por ser uma alterao dos movimentos controlados ou posturais dos pacientes,
aparecendo cedo, sendo secundria a uma leso, danificao ou disfuno do sistema nervoso
central (SNC). Ela no reconhecida como resultado de uma doena cerebral progressiva ou
degenerativa, sendo que o evento lesivo pode ocorrer no perodo pr, peri ou ps-natal.
Tendo em conta as vrias definies, Rosenbaum et al. (2007) e Balula (2014)
concluem que a Paralisia cerebral se reveste de um carter complexo e multifacetado,
dominada pela deficincia motora, qual surgem agregadas vrias perturbaes, que se
podem manifestar no s na viso e na audio, mas de igual modo, num dfice de
sensibilidade e cognitivo, em perturbaes de linguagem e fala e em desordens do
comportamento e/ou epilepsia.
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Resumindo, Oliveira (2010), Vasconcelos (2010), Freixo (2013) e APCC (2015),
definem PC como sendo uma situao causada por uma leso no progressiva do Sistema
Nervoso Central imaturo, nos perodos pr, peri e ps natal e compreende um grupo de
alteraes no desenvolvimento dos movimentos, postura e do tnus muscular, alm de que
podem estar associados outros problemas, como convulses, atrasos no crescimento,
deformidades espinais, incontinncia, distrbios sensoriais, da cognio, da comunicao, da
perceo e do comportamento. A leso em causa, segundo Vasconcelos (2010), no
reversvel, pelo que o comprometimento, dela resultante, permanente.
Ao nvel educacional, os alunos com Paralisia cerebral inserem-se no grupo das
necessidades educativas especiais permanentes, de carter motor (Correia, 2008).
2.2- Prevalncia
A Paralisia cerebral a causa mais comum de deficincia fsica que afeta as crianas,
nos pases mais desenvolvidos, com uma prevalncia de, aproximadamente, 2-2,5 em cada
1000 nados vivos (Brando, 2011).
Em Portugal, estima-se que, em cada 1000 bebs que nascem, dois esto afetados pela
Paralisia cerebral (Gouveia, 2011).
2.3- Causas
No que concerne s causas da Paralisia cerebral, Gil (2009), Oliveira (2010), Gouveia
(2011), Silva (2011) e Sousa (2011), apontam vrias: as pr-natais, que atuam desde a
conceo at ao incio do trabalho de parto e, alm de desordens genticas, as mais
importantes so as infees congnitas (citomegalia, toxoplasmose, rubola) e a hipoxia fetal,
resultante de complicaes maternas, decorrentes, por exemplo, de hemorragias e a exposio
da me a radiao, lcool, cocana e a certos medicamentos, sobretudo nos primeiros meses de
gestao; as perinatais, que esto relacionadas principalmente com complicaes durante o
parto, prematuridade e hiperbilirrubinemia (a hiperbilirrubinemia uma concentrao
anormalmente alta de bilirrubina no sangue) e, por fim, as ps-natais, que so as infees do
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SNC (meningites e encefalites), traumatismo crnio-enceflico e hipoxia cerebral grave
(quase afogamento, convulses prolongadas e paragem cardaca).
Segundo Teixeira (2012), das supracitadas causas, as mais incidentes so as pr-natais
(50% dos casos de PC), seguindo-se as perinatais (33%), as ps-natais (10%) e outras (7%).
Atualmente, num grande nmero de casos, no possvel determinar a causa da
Paralisia cerebral (Afonso, 2012).
2.4- Sinais e sintomas
Nos primeiros meses de vida, pode ser difcil estabelecer o diagnstico da Paralisia
cerebral, pelo que, em muitos casos, necessrio aguardar alguns meses, para o fazer com
certeza e segurana (Gouveia, 2011). Alm disso, a plasticidade do Sistema Nervoso Central,
nos primeiros anos de vida, por vezes, resulta numa recuperao parcial aps a leso, sendo
mesmo necessrio esperar (Pountney, 2010).
Os sinais precoces aparecem, normalmente, antes dos 18 meses de idade e variam de
criana para criana (Oliveira, 2010; Afonso, 2012). Podem ser: tnus muscular anormal
muito alto ou muito baixo; persistncia de reflexos primitivos; ausncia de controlo da
cabea; lentido na aquisio das aprendizagens de rolar, sentar, sorrir, mastigar; membro
inferior em tesoura ou rgidos quando se tenta sent-lo; no tem equilbrio sentado;
assimetrias marcadas; manter as mos fechadas, aps o primeiro ms; preferncia manual
muito precoce; incoordenao dos lbios e lngua; no reage aos sons; no vocaliza ou faz
vocalizaes pobres e reduzidas; engasga-se com frequncia; no segue a face humana; no
estabelece qualquer tipo de interao; no se interessa pelo que o rodeia, nem tenta pegar em
nenhum objeto; no responde ao nome e no brinca (Oliveira, 2010; Pountney, 2010; Afonso,
2012).
Normalmente, os sintomas motores estabilizam por volta dos 2-3 anos de idade, sendo
que, aps esta idade, o tnus muscular no costuma sofrer grandes alteraes (Pountney,
2010).
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2.5- Classificao
No que diz respeito classificao da Paralisia cerebral, no h consenso, pelo que h
vrias classificaes (Gil, 2009). Neste trabalho, d-se nfase classificao nosolgica e
topolgica, que a seguir se descrevem.
2.5.1- Classificao nosolgica
Esta classificao tem conta a rea do crebro afetada e, segundo Gouveia (2011) e
APCC (2015), a Paralisia cerebral pode ser:
Espstico caracterizado por paralisia e aumento de tonicidade dos msculos,
resultante de leses no Crtex ou nas vias da provenientes. Quando a criana tenta mover os
msculos voluntrios, ocorrem movimentos trmulos que dificultam o comer, o andar e outros
movimentos coordenados. A hipertonia a tal ponto persistente, que se manifesta mesmo
quando a criana est em repouso, sendo tambm a causa de uma personalidade retrada,
muitas vezes passiva e pouco motivada para a explorao do meio envolvente. A persistncia
da hipertonicidade, na criana, provoca posturas incorretas, que podem evoluir, at se
converterem em deformidades fixas ou contraturas;
Disquinsia (Atetose/Coreoatetose ou Distonia) caracterizada por movimentos
involuntrios e variaes na tonicidade muscular, resultantes de leses dos ncleos situados
no interior dos hemisfrios cerebrais (Sistema Extrapiramidal). Estes movimentos podem
afetar apenas as extremidades ou prolongar-se pelo tronco, msculos faciais e lngua o que
pode levar a que haja uma articulao deficitria da linguagem. Os movimentos atetsicos
podem aumentar ou diminuir, conforme os momentos por que a criana est a passar,
excitao ou repouso;
Ataxia- a forma menos comum. Caracterizada pela diminuio da tonicidade
muscular, incoordenao dos movimentos e equilbrio deficiente, devidos a leso ou anomalia
no cerebelo ou das vias cerebelosas. Manifesta-se por falta de equilbrio, oscilaes e mau
controlo da cabea. A criana ao tentar alcanar objetos mostra movimentos incoordenados
dos membros superiores e movimenta-se lentamente, devido ao medo que tem de perder o
equilbrio. Na motricidade voluntria, aparecem sinais de alterao do Cerebelo e da
sensibilidade profunda. A maioria das crianas com Paralisia cerebral atxica, caracteriza-se
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por apresentar hipotonia muscular, atraso no desenvolvimento das capacidades motoras e da
linguagem. Descoordenao motora global, que acompanha os movimentos intencionais;
Misto- caracteriza-se por dois ou mais tipos de PC e incapacita a criana severamente.
2.5.2- Classificao topolgica
De acordo com Gouveia (2011) e Afonso (2012), a classificao topolgica tem em
conta o membro ou membros afetados e a PC classificada da seguinte forma:
Monoplegia - rarssima, encontra-se nos casos de PC em que s um membro se
encontra atingido;
Diplegia - quatro membros so afetados, embora os inferiores o sejam mais
severamente. A criana sofre de um desenvolvimento atrasado, em muitos aspetos do
movimento e tem dificuldade em aprender a andar;
Paraplegia - caracteriza-se por uma deficincia motora e funcional, nos dois membros
inferiores;
Hemiplegia - so afetados apenas os membros de um dos lados do corpo,
habitualmente mais o membro superior. Os membros do lado afetado desenvolvem-se
lentamente e pode haver alguma perda de sensibilidade, no mesmo lado;
Quadriplegia - so gravemente afetados os quatro membros, no necessariamente em
simetria. Pode ser difcil determinar se so os membros superiores ou os inferiores os mais
afetados. O atraso mental habitualmente grave e, frequentemente, a criana nunca chega a
andar.
2.6- Caratersticas gerais, problemas e tratamento
De uma forma geral, dependendo da rea do crebro que sofre a leso e da extenso
das leses no Sistema Nervoso Central, as manifestaes da Paralisia cerebral podem ser
vrias e diferentes, de indivduo para indivduo, tal como refere Silva et al. (2013, p. 648):
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Sendo a Paralisia cerebral uma condio causada por uma leso no encfalo imaturo, de
carter no progressivo, os sinais e sintomas dependem da rea lesada do crebro e da
extenso da leso e expressam-se em padres anormais de postura e de movimentos,
interferindo no desenvolvimento normal do crebro. Pode afetar direta ou indiretamente o
mecanismo neurolgico que suporta o sistema central da linguagem, atingido, por vezes, o
nvel perifrico [...].
Deste modo, a criana com PC possui um atraso de desenvolvimento
neuropsicomotor, por uma leso no SNC, que pode levar a vrias perturbaes e problemas,
em graus diversos, nas reas motora, sensorial e/ou cognitiva, dado que o crebro possui uma
multiplicidade de funes interrelacionadas (Oliveira, Garotti & S, 2008; Oliveira, 2010;
Gouveia, 2011; Afonso, 2012).
Em termos do grau de comprometimento motor, segundo Afonso (2012), algumas
crianas com Paralisia cerebral tm alteraes motoras leves, que as tornam desajeitadas para
andar, falar ou usar as mos; outras so gravemente afetadas, com incapacidade motora
severa, impossibilidade de andar, falar e escrever.
Com a perturbao motora, de acordo com Straub e Obrzut (2009); Oliveira (2010),
Brando (2011) e Gouveia (2011), coexistem frequentemente: dfices percetivos,
dificuldades, por exemplo, na elaborao de esquemas percetivos, na representao grfica,
orientao espcio-temporal e esquema corporal); perturbaes sensoriais, nomeadamente da
viso e audio; dfices na linguagem e fala (lentido na fala, modificaes da voz e at,
ausncia desta e atraso na linguagem); problemas de lateralidade; atraso no desenvolvimento
cognitivo (deficincia mental, por exemplo); problemas cognitivos e na aprendizagem;
apraxia ou dispraxia; dislexia e discalculia; epilepsia; perturbaes na personalidade (so
muito sensveis, inseguros); dfices de ateno e, por fim, alteraes comportamentais.
Segundo os mesmos autores, os atrasos no desenvolvimento da linguagem so significativos e
podem estar na origem das perturbaes auditivas, leses suplementares das vias nervosas,
falta de estimulao lingustica ou inexistncia de modelos lingusticos suficientes. Os
problemas sensoriais, sobretudo os auditivos e visuais e os motores, por sua vez, vo
condicionar a perceo.
As sequelas da PC agravam-se pelas dificuldades que essas crianas apresentam, em
explorar e comunicar com o meio envolvente (Oliveira, Garotti & S, 2008).
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Apesar de a Paralisia cerebral ser uma condio crnica e no ter cura, o seu quadro
clnico pode alterar-se com a idade, estando dependente do desenvolvimento e maturao do
SNC, mas tambm dos fatores extrnsecos e oportunidades de atividade e participao do
indivduo (Brando, 2011).
Assim, muito pode ser feito para ajudar as crianas afetadas, por esta problemtica,
reconhecendo as suas capacidades, promovendo-as ao mximo e oferecendo o maior estmulo
possvel, o mais cedo possvel, j que qualquer dificuldade incipiente responder melhor a um
tratamento precoce. Na criana que avana em idade, sem receber tratamento ou sendo este
insuficiente, as dificuldades e problemas vo-se consolidando, dificultando a sua reabilitao
(Freixo, 2013).
Alm disso, a qualidade de vida das crianas em questo pode ser promovida se estas
receberem suporte e cuidados especiais, que envolvem a famlia, a escola e uma equipa
multidisciplinar, que atuem tanto sobre os seus problemas motores, como sobre os possveis
problemas associados. Deste modo, a interveno na PC pode englobar fisioterapia, terapia da
fala, terapia ocupacional, oftalmologia, audiologia, ortopedia, radiologia, neurologia,
gentica, pediatria e servio social (Nascimento, 2012).
O tratamento da PC assenta, portanto, na reabilitao fsica e cognitiva dos mesmos,
no sentido de diminuir os dfices e maximizar o potencial de cada um, tendo como objetivo
ajudar a criana a conseguir uma maior independncia possvel (Brando, 2011).
Ao nvel educacional, relativamente s crianas com Paralisia cerebral que frequentam
escola, devero ser sujeitas a uma estimulao ambiental adequada, pois a mesma pode
acelerar o seu desenvolvimento motor, lingustico, sensorial e percetual, o que trar
benefcios, em termos sociais e educacionais, para elas (Nascimento, 2012).
Alm disso, sempre que possvel, deve-se proceder a uma articulao com as
instituies relacionadas com Paralisia cerebral, nomeadamente a Associao Portuguesa de
Paralisia Cerebral (APPC), no caso de Portugal, pois s assim se poder desenvolver um
trabalho mais efetivo e promover todas as potencialidades da criana, atendendo sempre s
suas mltiplas especificidades (Brando, 2011; Balula, 2014).
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Captulo III- A comunicao alternativa e aumentativa
Toda a potencialidade de desenvolvimento do ser humano reside pois, na
oportunidade em comunicar e em interagir com outros da sua espcie desde os primeiros
momentos da sua vida.
(Freixo, 2013, p.74)
3.1- O conceito e a finalidade da comunicao alternativa e aumentativa
A comunicao muito importante, pois , atravs dela, que os indivduos se
relacionam entre si, dividindo e trocando experincias, ideias, emoes, sentimentos,
informaes, modificando mutuamente a sociedade onde esto inseridos (Avila, 2011).
A forma de comunicao humana mais natural e adotada pelas pessoas, com aparelho
vocal ativo e audio normal, a fala (Pinheiro & Gomes, 2013). No obstante, um nmero
significativo de pessoas no consegue comunicar atravs da fala, pelo que, segundo Oliveira e
Nunes (2007), tal facto pode trazer consequncias adversas comunicao e interao
social, dos sujeitos, tornando a sua vida difcil e cheia de obstculos. Para estas pessoas, so
necessrias formas alternativas ou complementares de comunicao. Corrobora da mesma
opinio, Ponte (2009), para o qual, em algumas crianas com fala comprometida, necessrio
criar alternativas, o mais cedo possvel, de modo a no por em causa o seu desenvolvimento.
Assim, para estes casos, surgiu a comunicao alternativa e aumentativa (CAA), que
promove, por meio de smbolos, gestos, recursos, tcnicas e estratgias, um suporte parcial ou
total comunicao de sujeitos que apresentam dficits de comunicao verbal (Pinheiro &
Gomes, 2013).
De acordo com Silva (2011), a proposio dos termos alternativa e aumentativa,
sugere a diviso de duas concees distintas: a comunicao alternativa e a comunicao
aumentativa.
A primeira destina-se especificamente ampliao das habilidades de comunicao de
pessoas sem fala, sem escrita funcional ou em desfasagem entre sua necessidade comunicativa
e sua habilidade de falar e/ou escrever (Sartoretto & Bersch, 2014). Portanto, enfatiza formas
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alternativas de comunicao, diferentes da fala, com vista promoo e desenvolvimento da
mesma, bem como existncia de uma forma de comunicao eficaz (Nogueira, 2009;
Freixo, 2013). Inclui o uso de gestos manuais, expresses faciais e corporais, smbolos
grficos, como fotografias, desenhos, figuras e alfabeto, assim como computadores,
vocalizadores de voz digitalizada ou sintetizada, como meios de efetuar a comunicao face a
face, de indivduos incapazes de usar a linguagem oral (Sameshima, 2011).
J a segunda, a comunicao aumentativa complementar ou de apoio, ou seja, o
sujeito utiliza um outro meio de comunicao, de forma a complementar ou compensar
deficincias que a fala possa apresentar, mas sem substitu-la totalmente (Freixo, 2013). Neste
caso, o indivduo possui alguma comunicao mas, no entanto, insuficiente para as trocas
sociais (Pelosi, 2012). Este tipo de comunicao assume-se como um meio facilitador do
desenvolvimento da fala (Nogueira, 2009).
Para Sameshima (2011), Bez e Passerino (2012) e Santarosa et al. (2010), o mais
apropriado utilizar-se o termo comunicao aumentativa e/ou alternativa, visto ser uma rea
que tem por objetivo complementar, substituir e/ou desenvolver habilidades de comunicao.
Engloba, por extenso, todas as tcnicas, mtodos e procedimentos cuja finalidade permitir
o acesso comunicativo complementar ou alternativo, de forma permanente ou temporria, a
pessoas que no possam realiz-las da forma natural, devido a algum impedimento fsico,
mental ou neurolgico.
Desta forma, segundo Gil (2009), Sameshima (2011) e Santana, Santos e Pereira
(2012); o recurso CAA tem como grande finalidade tornar o indivduo, com problemas de
comunicao, o mais independente e competente possvel, nas suas situaes comunicativas,
dado que ir proporcionar o desenvolvimento da linguagem, daqueles que tm dificuldades na
fala ou no a tm, incluindo a escrita, possibilitando, assim, a sua participao nos diferentes
contextos comunicativos e a sua sociabilizao, em particular os portadores de Paralisia
cerebral, que so falantes no funcionais ou no falantes.
Relativamente comunicao alternativa e aumentativa, Netto (2012) alerta para o
facto de que ela no tem como objetivo substituir a linguagem oral, mas um meio para
atingi-la.
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3.2- Meios de comunicao alternativa e aumentativa
Os meios de comunicao alternativa e aumentativa so recursos especiais que podem
proporcionar possibilidades de comunicao e interao, atravs de dispositivos de mensagem
simples e mltiplas, com digitalizao de voz, sistemas grficos, tabelas de comunicao,
comunicadores de diversos tipos e at computadores com softwares, que permitem a
construo de quadros de comunicao e digitalizao de voz (Schirmer & Bersch, 2007).
De acordo com Pinheiro (2012), Pinheiro e Gomes (2013) e Sartoretto e Bersch
(2014), existem dois tipos de sistemas de CAA, que so:
- Sem ajuda Unaided: a CAA ocorre sem auxlios externos e, neste caso, valoriza-
se a expresso do sujeito, a partir de outros canais de comunicao diferentes da fala,
utilizados e identificados socialmente, para manifestar desejos, necessidades, opinies e
posicionamentos. No requerem, portanto, o uso de qualquer objeto ou dispositivo fsico. Os
movimentos da cara, da cabea, das mos, dos braos e de outras partes do corpo so os
nicos mecanismos fsicos para a transmisso das mensagens. Incluem-se, neste grupo, os
gestos de uso comum e os sistemas de sinais manuais. So exemplos de gestos de uso comum
a afirmao e a negao com movimentos da cabea, bem como todos os outros que usamos,
que enfatizam a comunicao oral;
- Com ajuda Aided: tm como objetivo de ampliar o repertrio comunicativo, que
envolve habilidades de expresso e compreenso e podem ser organizados e construdos
auxlios externos. Portanto, implicam algum tipo de assistncia externa, instrumentos ou
ajudas tcnicas para que ocorra a comunicao, como cartes de comunicao, digitalizadores
e sintetizadores de fala, papel e lpis, livros ou quadros/tabelas de comunicao (com
smbolos) ou o prprio computador que, por meio de software especfico, pode tornar-se uma
ferramenta poderosa de voz e comunicao, particularmente projetados de acordo com
necessidades especficas do utilizador.
No que concerne aos smbolos, utilizados em alguns sistemas de CAA com ajuda,
Zaporoszenko e Alencar (2008) diferencia-os em: acsticos (fala natural, voz digitalizada e
voz sintetizada); gestuais (sinais manuais, lnguas de sinais, soletrao manual, expresses
faciais e movimentos corporais e/ou tteis); grficos (fotografias, desenhos, figuras, logotipos,
palavra escrita, etc.) e tangveis (objetos, brinquedos, miniaturas, etc.).
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No que diz respeito aos smbolos gestuais, so exemplos a lngua gestual dos surdos,
gestos que vo de acordo com a linguagem oral/falada do pas e outros signos efetuados com
as mos (Pinheiro, 2012). Inclui-se aqui o sistema Makaton, um programa de linguagem
completo, que utiliza gestos, a expresso facial, o contato ocular e a linguagem corporal, em
simultneo com a fala e tem, por base, uma lista seletiva de palavras relacionadas com o dia a
dia (exemplo de palavras: pai, me, comer, dormir, po, entre outras) e utiliza a fala
simultaneamente com gestos e/ou smbolos (Calado et al., 2012).
A figura 1 mostra alguns exemplos de smbolos Makaton.
Figura 1 - Exemplos de smbolos do sistema Makaton
Fonte: Moura & Gamboa (2009)
Walker (2009) explica que, enquanto se introduz o vocbulo, o gesto ensaiado com a
criana, bem como o seu olhar e compreenso. Deste modo, surge a oportunidade de aprender
a respeitar, tambm, as regras de um dilogo. Mais tarde, esses smbolos so combinados em
pequenas frases, de forma graduada e podero permitir a associao da palavra escrita e ser
utilizados na aquisio da leitura. Quando a criana j apresenta uma grande evoluo a nvel
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da linguagem e fundamental a aprendizagem de novos gestos, recorre-se lngua gestual,
para superar as lacunas do sistema Makaton.
Segundo Calado et al. (2012), o mtodo em questo tem como objetivo principal
fornecer um meio de comunicao a crianas e/ou jovens com deficincia intelectual,
auditiva, dfice cognitivo e autistas. Mesmo nos casos em que a capacidade intelectual para a
aprendizagem e a memorizao bastante fraca e, desse modo no se consigam verificar
grandes evolues para alm dos estados iniciais, este sistema permite criana ter um
sistema alternativo de comunicao muito til. Ao recorrer a gestos e a smbolos, em
simultneo com a fala, permite desenvolver a comunicao funcional, a estrutura da
linguagem oral e da literacia, facilitando o acesso aos significados do e no mundo, com os
outros, o que proporciona maior disponibilidade para a relao social.
No que se refere aos smbolos grficos, Schirmer e Bersch (2007) identificam trs
tipos de categorias de smbolos grficos, com base na maior ou menor facilidade que
indivduos de uma determinada cultura tem para compreender o seu significado, que so:
pictogrficos, desenhos facilmente reconhecidos pois mantm estreita semelhana fsica com
o referente, sem qualquer necessidade de instruo (fotografias, miniatura de objetos,
logotipos); ideogrficos, a relao entre smbolo e o seu referente revelada sob a forma de
instruo direta, ou ainda quando pistas conceituais ou contextuais so fornecidas
(representam uma ideia ou um conceito sobre um determinado objeto, evento, relao, etc) e,
por fim, os arbitrrios, que no estabelecem qualquer relao pictogrfica entre a forma e
aquilo que desejam simbolizar, sendo o significado constitudo atravs de conveno social,
como por exemplo, a linguagem falada, a escrita alfabtica, muitos sinais de lngua de sinais.
Silva (2011) refere que, ao longo do tempo, os smbolos grficos passaram a constituir
sistemas de comunicao, que foram padronizados e reconhecidos internacionalmente,
permitindo a comunicao, desde nveis muito elementares at outros altamente complexos,
sob o ponto de vista lingustico. Destes sistemas, Castellano (2010), Silva (2011), Netto
(2012), e Pinheiro (2012) citam como os mais conhecidos: Blissymbolics (Bliss), Pictogram
Ideogram Communication (PIC), Pictogram Communication Symbols (PCS) e Picture
Exchange Communication System (PECS).
No que diz respeito ao sistema Bliss, de acordo com Gonalves (2011), Calado et al.
(2012) e Pinheiro (2012), constitudo por smbolos que so traos negros sobre o fundo
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branco, com formas essencialmente geomtricas, bsicas, de natureza pictogrfica e
ideogrfica, que podem ser organizados, sintaticamente, em tabelas de comunicao e
representam conceitos simples ou complexos. Os elementos bsicos so usados em vrias
combinaes, para representar milhares de significados. Atualmente, h cerca de 2500
smbolos Bliss existentes.
Este sistema dinmico, capaz de representar conceitos abstratos e o significado, de
cada smbolo, aprendido em relao lgica que envolve o sistema como um todo. H
vrias formas de se expressar atravs deste sistema: frases simples, frases complexas e
mensagens telegrficas. Estes nveis so determinados pela capacidade do utilizador e pelo
contexto comunicativo (Freixo, 2013).
A figura seguinte apresenta exemplos de smbolos Bliss.
Figura 2 - Exemplos de smbolos Bliss
Fonte: Lima (2012)
Para Avila (2011), o sistema Bliss pode ser utilizado como principal sistema de
comunicao para muitas pessoas no falantes, pois os seus smbolos so fceis de apreender
e fixar. No entanto, para que haja uma boa aquisio deste sistema necessrio que haja uma
boa capacidade de discriminao visual (de forma a distinguir o tamanho, a configurao e
orientao dos smbolos); capacidades cognitivas at ao ltimo nvel pr-operatrio ou das
primeiras operaes concretas e haver boa ou moderada compreenso auditiva e boas
capacidades visuais (Pinheiro, 2012; Freixo, 2013). Desta forma, este sistema considerado
adequado a indivduos que, embora no estejam bem preparados na ortografia tradicional,
possuem potencial para aprender e desenvolver um extenso vocabulrio, como os indivduos
com PC, com bom desempenho intelectual, mas com dificuldades na fala e problemas de
leitura (Gonalves, 2011).
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No que concerne ao sistema PIC, segundo Avila (2011), utiliza sinais em branco sobre
fundo negro, organizados nas tabelas de comunicao, obedecendo a uma organizao
semntica. Os desenhos assemelham-se a sinais da rotina quotidiana (pessoas, partes do
corpo, vesturio e utenslios pessoais, casa, casa de banho, cozinha, comida e guloseimas) e
os seus significados so escritos na parte superior.
Gil (2009), Santarosa et al. (2010) e Gonalves (2011) referem que estes smbolos so
indicados para utilizar com crianas que apresentam dificuldades de viso, uma vez que o
branco no preto cria um maior contraste, reduzindo as dificuldades de discriminao entre
figura e fundo. No entanto, o seu uso tem vindo a generalizar-se, substituindo, em alguns
casos, a utilizao do sistema Bliss, em pessoas com deficincia mental grave.
O PIC apresenta algumas limitaes, entre elas o facto de ter um leque reduzido de
smbolos, apenas um conjunto de 400 smbolos, na verso portuguesa, que no so
combinveis e so muito difceis de desenhar (Gonalves, 2011; Calado et al., 2012; Loureiro,
2012).
A figura 3 exibe alguns exemplos de smbolos PIC.
Figura 3 - Exemplos de smbolos PIC
Fonte: Calado et al. (2012)
Quanto ao sistema PCS, composto por smbolos pictogrficos, ou seja, relacionados
com o desenho das figuras, representam palavras e conceitos mais comuns, na comunicao
do quotidiano e esto num fundo branco ou de cor (Digenes et al., 2012). Sobre estes
smbolos, Castellano (2010), Gonalves (2011) e Pinheiro (2012) referem que esto divididos
em seis categorias gramaticais, organizados por cores: pessoas e pronomes pessoais em
amarelo; verbos em verde; substantivos em laranja; adjetivos e advrbios em azul; expresses
sociais em rosa; artigos, conjunes, preposies, alfabeto, nmeros e outros elementos, em
branco. Assim, podem ser utilizados de diversas formas, dependendo da proposta e do
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objetivo a ser alcanado. Para o dilogo, so geralmente dispostos em superfcies planas
(cadernos, pastas, mesas), da esquerda para direita, acompanhando a organizao sinttica e
espacial da lngua escrita.
Netto (2012) e Sartoretto e Bersch (2014) apontam como caractersticas deste sistema:
desenhos simples e claros, de fcil reconhecimento e adequados para qualquer idade,
facilmente combinveis com outras figuras e fotografias, para a criao de recursos de
comunicao individualizados. , por isso, o sistema mais adequado para os casos em que se
espera um nvel simples de linguagem expressiva, um vocabulrio limitado e estruturas de
frases curtas.
A tabela de comunicao com estes smbolos, segundo Calado et al. (2012),
adequada ao utilizador, de acordo com a sua personalidade, sendo que, a partir da utilizao
de cartes com smbolos e imagens, crianas e adultos podem fazer os seus prprios livros de
leitura, histrias de vida, folhas de informao, cartas, horrios, notcias e lembretes.
A figura 4 apresenta exemplos de smbolos PCS, numa tabela de comunicao.
Figura 4 - Exemplos de smbolos PCS numa tabela de comunicao
Fonte: Sartorreto & Bersch (2014)
Como maiores vantagens do sistema PCS, Loureiro (2012) reconhece a universalidade
(mesmo entre idiomas); a adaptabilidade; a aplicao a diferentes tipos de utilizadores; a boa
discriminao visual; a facilidade na pesquisa e na execuo de novos smbolos; a abordagem
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temtica do quotidiano e ainda o facto de ser um sistema evolutivo. Deste sistema, fazem
parte cerca de 3000 signos, sendo um dos sistemas simblicos mais utilizados, em todo o
mundo (Netto, 2012).
Segundo Avila (2011), Gonalves (2011), Netto (2012), Pinheiro (2012) e Freixo
(2013) o referido sistema pode ser potenciado atravs da utilizao de um software especfico
- Boardmaker - que, sendo essencialmente uma biblioteca de smbolos do PCS, permite a
execuo rpida e simples de tabelas e quadros de comunicao ou a utilizao, desses
smbolos, com um conjunto de programas de comunicao existentes no mercado, de que
exemplo o programa Speaking Dinamically. Este ltimo, de acordo com Couto (2011), fcil
de usar e permite criar inmeras atividades interativas educacionais e de comunicao com
acessibilidade total, bem como pranchas de comunicao interligadas, com funes
programveis nas suas clulas. Esta funo, por sua vez, possibilita interligar as pranchas
entre si (como links das pginas da Internet), fazendo com que uma clula/tecla abra uma
nova prancha temtica, no ecr do computador. O mesmo autor acrescenta que o Speaking
Dinamically possui mais de cem funes programveis, que permitem escrever e editar textos
na rea de mensagem, abrir programas, exibir filmes e reproduzir arquivos de som, fala e
msica.
Deste modo, em virtude de todas as suas caratersticas e vantagens, os smbolos PCS,
em indivduos com deficincias intelectuais, Paralisia cerebral, entre outras, tm sido
utilizados com sucesso (Freixo, 2013).
Para alm dos trs sistemas de CAA atrs descritos, h ainda o PECS que, de acordo
com Netto (2012), consiste na troca de figuras, como uma forma interativa de transmitir uma
mensagem a outra pessoa. Para tal, utilizam-se cartes, contendo fotos ou logotipos de
assuntos/temas/objetos relevantes para a criana, para garantir a sua motivao, facilitar a
compreenso e fomentar a comunicao, a resoluo de problemas, a descriminao de
figuras e a estruturao de frases.
Como objetivo final da utilizao do PECS, Gonalves (2011) aponta a ajuda s
pessoas, no desenvolvimento das competncias comunicativas, que lhes permitam comunicar
eficazmente, promovendo a espontaneidade e a autonomia, no seio de uma comunicao
funcional. Para o autor referido, este sistema destinado, principalmente, a pessoas com
dificuldades severas de comunicao.
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Na figura seguinte, observam-se alguns exemplos de smbolos PECS.
Figura 5 - Exemplos smbolos PECS
Fonte: Coresperfeitas (2011)
Alm dos sistemas de CAA, at aqui abordados, Moura e Gamboa (2009) e Pinheiro
(2012) fazem ainda referncia aos smbolos tangveis, como sendo os que esto ligados a
objetos, utilizados na ao que representam. So, normalmente, feitos em madeira ou plstico,
podem apresentar texturas diferentes e ter ou no sada de voz, podendo a criana tocar e
manipular estes elementos. Este tipo de smbolos utilizado sobretudo com indivduos com
problemas sensoriais ou com deficincias intelectuais graves (Freixo, 2013).
A figura 6 mostra dois dispositivos com exemplos de smbolos tangveis.
Figura 6 - Dispositivos com smbolos tangveis
Fonte: Moura & Gamboa (2009)
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3.3 - Tecnologias de apoio para a comunicao
Muitos dos sistemas de comunicao alternativa e aumentativa existentes esto ligados
ao uso de diversas tecnologias de apoio para a comunicao, isto , a equipamentos e
dispositivos que ajudam o utilizador a expressar-se, particularmente importantes para
indivduos com distrbios na fala (Freixo, 2013).
As tecnologias de apoio mais recentes esto ligadas eletrnica e informtica, como
o caso dos digitalizadores de fala, cujo princpio bsico a possibilidade de gravar e
guardar, previamente, mensagens de voz que o utilizador poder selecionar para comunicar.
As mensagens guardadas so gravadas, atravs de um microfone integrado no equipamento e
podem ser substitudas por novas mensagens, bastando para isso regravar (Cnotinfor, 2015).
A figura 7 apresenta um exemplo de um digitalizador de fala iTalk 2.
Figura 7: iTalk 2.
Fonte: Cnotinfor (2015)
Para alm dos digitalizadores, surgiram tambm os sintetizadores de fala - programas
que transformam o texto em fala, podendo ser utilizados com pessoas sem comunicao oral
ou fala pouco inteligvel, com perturbaes na escrita ou leitura e com graves dificuldades de
aprendizagem. So exemplos: o WordRead, AllWrite e o IntelliTalk. O primeiro um leitor
de texto, que permite transformar em fala, qualquer texto selecionado pelo utilizador. No
Microsoft Word, no Internet Explorer ou em qualquer outro programa, o utilizador pode ouvir
o texto. Os outros, AllWrite e o IntelliTalk, so processadores de texto simples e
personalizveis, com vrias ferramentas de acessibilidade, que os tornam recursos simples,
para desenvolver atividades pedaggicas de literacia (Anditec, 2015).
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Aos digitalizadores e sintetizadores de fala, acrescentam-se outros programas
informticos, dos quais se destacam: a Escrita Com Smbolos, o Invento e o Grid 2. Quanto
ao primeiro, Magaserafim (2013) descreve-o como um processador integrado de textos e de
smbolos, com diversas ferramentas para crianas e adultos, com dificuldades na utilizao de
texto e/ou de comunicao. E acrescenta que o programa em questo contribui para a total
autonomia do utilizador e facilita a aquisio de competncias bsicas em literacia de leitura e
escrita, alm de ser um excelente auxiliar de expresso e comunicao. O mesmo autor refere
ainda que a Escrita Com Smbolos inclui vrios smbolos, essencialmente pictogrficos, um
tutorial interativo e ajudas dinmicas para construo de quadros de comunicao interativos,
exemplos de atividades, quadros de comunicao para impresso, quadros de comunicao
dinmicos e interativos, modelos para grelhas de comunicao, dicionrio de significados
com imagens alternativas, verificador de ortografia pictogrfico para aprendizagem e
compreenso da linguagem, sintetizador de voz em Portugus Europeu e manual de
utilizao.
No que diz respeito aos indivduos a quem este programa se destina, Cnotinfor (2015)
considera-o uma ajuda tcnica para: (a) crianas at aos 6 anos, que ainda no utilizam a
linguagem escrita, ajudando-as a comear a ler, reconhecer e ordenar imagens para comunicar
ideias; (b) crianas com dificuldades de reconhecimento de palavras, soletrao ou
compreenso ou que, simplesmente, necessitem de motivao para escrever, podem ser
estimuladas e auxiliadas atravs das imagens, dos smbolos e do som (por exemplo, crianas
com dislexia); (c) jovens com dificuldades de aprendizagem, atravs da utilizao de
smbolos como forma de acesso leitura e escrita, adquirindo assim independncia e
autonomia e (d) indivduos que utilizam os sistemas de CAA, como recursos comunicao.
Para muitas das crianas que no chegam a desenvolver linguagem verbal, para se
fazerem entender, o software Escrita Com Smbolos um bom recurso ao seu servio, uma
vez que permite que o tcnico e/ou professor crie tabelas de comunicao, horrios e fichas de
trabalho para desenvolvimento de competncias acadmicas especficas (Ceia, 2008).
Relativamente ao programa Invento, segundo Cnotinfor (2015), tem todas as
funcionalidades de um processador de smbolos, com uma extrema liberdade de disposio da
informao, no documento e permite adaptar os textos, a qualquer pblico. Com este
programa, pode-se: (a) ler tudo o que est escrito, com um sintetizador de voz em Portugus
Europeu (Madalena); (b) escrever texto ilustrado por smbolos, imagens e/ou fotografias; (c)
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utilizar bales de fala e molduras, para caixas de texto e imagens; (d) aceder a uma galeria,
com mais de 1.500 imagens, para ilustrar os trabalhos; (e) usar cerca de 7.500 smbolos
coloridos e a preto e branco; (f) inserir e utilizar as suas prprias fotografias digitais ou
imagens digitalizadas; (g) imprimir os trabalhos realizados em qualquer formato e (h)
construir facilmente grelhas para horrios, fichas de trabalho ou quadros de comunicao,
com texto e/ou smbolos. Este programa pode, deste modo, ser utilizado por pessoas
necessidades especiais, pois possui um sintetizador de voz em Portugus Europeu, que
permite ler tudo o que est escrito, no documento e combinar o texto com smbolos e
imagens, que pode facilitar a leitura e escrita.
No que concerne ao terceiro sofware mencionado, o Grid 2, consiste num sistema de
teclados no ecr, isto , um emulador de teclado, que pode substituir as funes de um teclado
convencional ou rato, atravs de qualquer dispositivo apontador (trackball, joystick, tracker)
ou de qualquer processo de varrimento e que contm uma voz sintetizada, para a comunicao
aumentativa. (Silva, 2012).
A figura 8 apresenta um exemplo de uma atividade de escrita, recorrendo ao Grid 2.
Figura 8 - Grid 2
Fonte: Silva (2012)
As vantagens deste programa so permitir: (a) o acesso a todos, uma vez que possui
um sistema de teclados virtuais no ecr, o qual permite aceder a todas as funes e comandos
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Windows, atravs de dispositivo apontador ou de varrimento; (b) a construo de sistemas de
menus personalizados ou utilizao de palavras escritas (com dicionrio e predio) ou
smbolos, para a comunicao aumentativa e (c) o controlo total do ambiente fsico (o acesso
ao telefone, TV, equipamentos de udio e vdeo, etc), atravs de um controlador de
infravermelho universal (Anditec, 2015).
Para Lains (2009), o Grid 2 pode melhorar a qualidade de vida das pessoas com
necessidades especiais, nomeadamente, cidados com deficincia neuro motora, utilizadores
de comunicao aumentativa ou com deficincia cognitiva; facilita a vida dos seus familiares
e auxilia a ao diria dos tcnicos, que os apoiam e acompanham. Segundo a mesma autora,
ao instalar estas tecnologias, nas diversas instituies, nomeadamente nas escolas, estar-se- a
promover o desenvolvimento de competncias das pessoas com incapacidades, seguindo um
modelo que promove a autonomia e a incluso social dos mesmos.
Outras tecnologias, associadas CAA, so os quadros interativos. De uma forma
geral, segundo Smart (2015), so dispositivos de apresentao, ligados a um computador com
ecr sensvel ao toque, onde as imagens do computador so projetadas, atravs de um projetor
digital, podendo ser vistas e manipuladas, com os dedos. Os utilizadores podem adicionar
notas e clarificar alguns pontos, usando as canetas do prprio quadro e executando aplicaes,
diretamente nele. Depois, pode-se guardar o trabalho, para imprimir ou distribuir, aos alunos,
por email/website.
Relativamente ao seu contributo para o ensino, Loureiro (2012) refere que, atualmente,
os quadros interativos so o recurso tecnolgico mais utilizado, pelos professores e
considerados, por estes, como os meios que melhoram as aprendizagens dos alunos, ao tornar
o processo de ensino e aprendizagem mais aliciante, dado que permitem o acesso a um
enorme conjunto de recursos, atravs dos quais, o professor pode gerir e adaptar a sua
interveno, s situaes que encontra e diversidade de alunos da turma. E acrescenta que,
com este tipo de instrumento, o docente ensina de forma interativa, respondendo s
necessidades dos seus alunos, incluindo os que apresentam NEE.
A mesma autora destaca outros aspetos facilitadores das aprendizagens, dos quadros
interativos, como o acesso direto e o facto de toda a informao estar ampliada e parecer mais
prxima do aluno.
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Corrobora da opinio de Loureiro (2012), quanto aos quadros interativos, Paveley
(2014), que acrescenta que os seus alunos com NEE atingem grandes nveis de ateno e
concentrao, com a utilizao do quadro interativo, o que um xito, tendo em conta que os
mesmos apresentam grandes dificuldades em estarem atentos e concentrados. Para esta autora,
os docentes, ao utilizarem os quadros interativos, permitem que todos os alunos possam ver o
que se est a passar na aula, pelo que todos se sentem muito mais envolvidos na sua dinmica.
A figura seguinte apresenta um exemplar de um quadro interativo.
Figura 9 - Quadro interativo
Fonte: Ricardo & Vaz (2015)
Outra aplicao informtica, no mbito da CAA - o Magic Key , segundo Magickey
(2011), um recurso que se destina a pessoas com dificuldades fsicas, ao nvel dos membros
superiores, como o caso de alguns indivduos com Paralisia cerebral, permitindo-lhes
utilizar todas as aplicaes de um vulgar computador. Uma vulgar webcam, ligada ao
computador, adquire as imagens da face do utilizador, transmitindo-as aplicao
desenvolvida. Esta determina o local do monitor, para onde o utilizador est virado e
posiciona, nesse local, o cursor do rato. Quando o utilizador fechar o olho, a aplicao
interpretar essa ao como significando o premir do boto do rato. Desta forma, com o
Magic Key, pode escrever-se sem recorrer s mos, sendo necessrio apenas um teclado
virtual, que poder ser colocado num dos cantos do ecr. Com esta aplicao, tambm
possvel utilizar qualquer programa, instalado no computador, desde que os indivduos
tenham controlo dos movimentos da cabea.
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Por fim, h o Magic Eye que, de acordo com a descrio de Pinto (2011), um meio
que permite, aos sujeitos, controlar o rato do computador apenas com os olhos, no exigindo
que a cabea esteja imvel e utiliza uma cmara de alta definio, para adquirir as imagens
dos olhos do utilizador, a uma frequncia de 45 imagens, por segundo. Atravs dessas
imagens, com o programa desenvolvido de processamento digital da imagem, determinado o
local do monitor para onde a pessoa est a olhar, o que permite controlar o movimento do
cursor do rato. Deste modo, pode ser utilizado com indivduos que no conseguem falar e/ou
que esto imobilizados, como o caso de alguns tipos de Paralisia cerebral.
A figura 10 uma fotografia do Magic Eye, num computador.
Figura 10 - Computador com o Magic Eye
Fonte: Pinto (2011)
3.4- A escolha, conceo/adaptao e aplicao dos meios de comunicao
alternativa e aumentativa
Calado et al. (2012) enfatizam que, quando se escolhe, concebe e adapta sistemas de
CAA, devem estar sempre presentes vrias preocupaes, entre elas: a) como, quando e onde
vai ser utilizada a ajuda tcnica? b) quais so as expectativas desse utilizador? c) quais so as
capacidades cognitivas do utilizador? e d) que tipo de mensagens devem estar disponveis?
Sobre a mesma temtica, Santana, Santos e Pereira (2012) referem que a escolha dos
sistemas de CAA est relacionada com as habilidades cognitivas, visual, auditivas, motoras,
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entre outras e a idade do aluno a que se destinam, devendo verificar-se se o discente necessita
de uma forma de comunicao com ou sem ajuda. Alm disso, relativamente s diferentes
tecnologias disponveis e associadas a alguns sistemas de CAA, para possibilitar formas mais
funcionais de comunicao, h que ter em conta a pertinncia das mesmas, adequando-as s
necessidades dos alunos em causa, sem comprometer as etapas de desenvolvimento das
competncias comunicativas, que podem ou no levar utilizao de ferramentas cada vez
mais complexas (Loureiro, 2012).
Portanto, os instrumentos de comunicao alternativa e aumentativa e as diversas
tecnologias associadas devem ser escolhidos e usados de acordo com as potencialidades e as
necessidades especficas do seu utilizador, potencializando a sua capacidade de comunicao,
de modo a que o mesmo possa ser o mais eficaz e independente possvel, no processo
comunicativo (Gonalves, 2011).
Um outro aspeto a ter em conta que a aplicao da CAA no se deve reduzir apenas
ao desenvolvimento da comunicao, mas tambm aquisio da linguagem, prtica da
interao social e busca da autonomia, pelo sujeito (Bez & Passerino, 2012).
Quanto sua aplicabilidade, a CAA destina-se a trs grupos de indivduos: a) pessoas
cuja linguagem verbal est comprometida, mas que compreendem eficazmente o que lhes
dito; b) o grupo de pessoas que apenas necessitam de suportes de CAA, em determinadas
fases da vida, de forma a ultrapassar uma limitao temporria e c) o grupo de pessoas que
necessitar constante e definitivamente de sistemas de CAA (Netto, 2012; Pinheiro & Gomes
2013).
Acrescenta-se que recomendvel a utilizao precoce de sistemas de comunicao
alternativa e aumentativa, no momento imediato em que as dificuldades de comunicao so
notadas (Ponte, 2009; Broberg, Ferm & Thunberg, 2012).
3.5- A educao inclusiva de alunos com Paralisia cerebral e a comunicao
alternativa e aumentativa
Como j foi referido, a escola torna-se inclusiva quando reconhece as diferenas dos
alunos, diante do processo educativo e busca a participao e o progresso de todos. Para tal,
dever atender diversidade total das necessidades dos discentes, o que pode ser conseguido
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atravs da criao de ambientes de aprendizagem escolares com altas expectativas a respeito
dos seus alunos, seguros, acolhedores e que entendam a diferena como um fator positivo
(Sartoretto & Bersch, 2014).
No que concerne aos alunos com Paralisia cerebral, podem participar das aulas, ter
acesso ao processo de escolarizao e, dependendo da rea afetada e do caso clnico,
aprendem e desenvolvem-se, no cotidiano da escola comum (Matos, 2012; Vinente, 2012;
Silva et al., 2013). Para os mesmos autores, a escola como instituio deve tomar medidas que
possibilitem, s referidas crianas, a utilizao dos equipamentos e o acesso informao e
aprendizagem, os apoios/recursos necessrios, bem como eliminar qualquer tipo de barreira
que surja, relativamente ao seu sucesso e incluso escolares.
Ao nvel da sala de aula, cabe aos professores proporcionar um ambiente que estimule
a aprendizagem, a explorao do meio, o bem-estar, o desenvolvimento e a satisfao das
necessidades dos alunos com PC, os quais devero aprender junto dos seus pares, em
conformidade com o que se pretende da escola inclusiva, tal como refere a Declarao de
Salamanca (1994), subscrita por Portugal.
Deste modo, esperado que os professores respeitem as potencialidades dos alunos
com Paralisia cerebral, sejam facilitadores das suas aprendizagens, com a colaborao de
outros profissionais e desenvolvam estratgias diferenciadas, no sentido da qualidade do seu
processo inclusivo (Martins & Leito, 2012). So pois os docentes que vo possibilitar a
autonomia, segurana e a comunicao, para que estes educandos possam ser inseridos nas
classes regulares e, aqui, possam aprender e desenvolver-se (Silva et al., 2013).
Relativamente ao processo comunicativo, segundo Silva (2008), torna-se fundamental
que seja eficiente, visto ser um fator importante para o desenvolvimento do trabalho
pedaggico, dado que , primordialmente, pela comunicao e pelo uso da linguagem que as
experincias educativas e as interaes sociais ocorrem. Corrobora dessa opinio Cormedi
(2009, p. 244) para o qual:
(...) o desenvolvimento da linguagem e comunicao deve ser considerado como eixo central
do processo educativo e a comunicao a base necessria para a transmisso da informao
e para oportunidade de interao.
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Desta forma, as prticas pedaggicas, com alunos com PC, no podem ignorar as suas
restries na comunicao, as quais incidem diretamente, na interao com o mundo e
processamento cognitivo (Oliveira & Nunes, 2007).
Em termos de restries comunicativas de alunos com PC, Freixo (2013) afirma que, o
nvel de comunicao pode variar desde o prximo da normalidade, que apresenta leves
distrbios articulatrios, at s dificuldades graves, na aquisio da fala ou total
impossibilidade de emitir um som compreensvel, com dificuldade motora, na produo da
linguagem expressiva. E acrescenta que, parte destes indivduos, apresenta transtornos no
desenvolvimento da fala, em consequncia das alteraes dos aspetos motores expressivos da
linguagem.
De modo a ultrapassar as limitaes comunicativas, de acordo com Cormedi, (2009),
Oliveira (2010) e Freixo (2013), fundamental recorrer a instrumentos de CAA, em alunos
com PC, para que eles possam comunicar e aprender de maneira eficiente, uma vez que a
comunicao alternativa e aumentativa proporciona mltiplas funcionalidades, que colmatam
as dificuldades