Upload
joao-carissimi
View
216
Download
1
Embed Size (px)
DESCRIPTION
Este artigo, objetiva comparar as estratégias de Comunicação que a Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí utilizou, com a Teoria de Administração de Crises, baseando-se no naufrágio da embarcação “Anjo de Luz”, fato que ocorreu em junho de 2008 na cidade de Balneário Piçarras - SC. No primeiro momento, revisou-se a bibliografia sobre Administração de Crises, na visão de autores que escrevem sobre o assunto, no segundo momento, foi realizada a apresentação da referida organização, e por fim, realizou-se a análise de conteúdo com base nas matérias jornalísticas do Jornal A Notícia, da cidade de Joinville - SC. Conclui-se, assim, que a Delegacia necessita de um plano de comunicação para a administração de crises.
Citation preview
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
_____________________________________________________________________________
A COMUNICAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO DE CRISES:
o naufrágio da embarcação “Anjo de Luz” (2008) e a Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí
Adriene Carlotto1
João Carissimi2
Resumo
Este artigo, objetiva comparar as estratégias de Comunicação que a Delegacia da Capitania dos
Portos em Itajaí utilizou, com a Teoria de Administração de Crises, baseando-se no naufrágio da
embarcação “Anjo de Luz”, fato que ocorreu em junho de 2008 na cidade de Balneário Piçarras -
SC. No primeiro momento, revisou-se a bibliografia sobre Administração de Crises, na visão de
autores que escrevem sobre o assunto, no segundo momento, foi realizada a apresentação da
referida organização, e por fim, realizou-se a análise de conteúdo com base nas matérias
jornalísticas do Jornal A Notícia, da cidade de Joinville - SC. Conclui-se, assim, que a Delegacia
necessita de um plano de comunicação para a administração de crises.
Palavras-chave: Relações Públicas. Crise. Imagem. Naufrágio “Anjo de Luz”.
Introdução
Quando lembramos de crise, logo nos remetemos a algo que está fora do normal,
podemos associar uma crise a vários âmbitos das nossas vidas, nas organizações não é diferente.
Uma empresa pode passar por crise financeira, econômica, de causas naturais, escândalos
envolvendo membros da organização ou erros humanos. Várias causas podem acarretar uma
crise. O que veremos, neste artigo, são os problemas de imagem que as organizações envolvidas
numa crise podem ter; as definições de crise, na visão de diversos autores, como conseguir um
relacionamento positivo com os públicos envolvidos na situação e, principalmente, como a
comunicação pode auxiliar na administração de uma crise.
1 Acadêmica da disciplina Monografia - Modalidade Artigo Científico, 7° período do curso de Comunicação Social
com habilitação em Relações Públicas. E-mail: [email protected] 2 João Carissimi - Mestre em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS);
Especialista em Marketing pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS); Especialista em
Administração em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela PUC-RS; Bacharel em Comunicação Social
com habilitação em Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul (UCS); ex-Professor responsável pela
disciplina Monografia-modalidade Artigo Científico da Univali; Professor pesquisador do Grupo de Pesquisa Redes
de Comunicação (UNIVALI). E-mail: [email protected]
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
2
A comunicação na administração de crise no naufrágio “Anjo de Luz”, realizada pela
Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí-DelItajaí, a partir de matérias jornalísticas publicadas
no Jornal A Notícia da cidade de Joinville3, será objeto de estudo deste artigo. A escolha do tema
acima citado partiu da necessidade de verificar a importância do papel das relações públicas no
gerenciamento de crises, já que a organização em questão passou por uma situação de crise no
naufrágio que levou a seis vítimas fatais e teve repercussão nacional. A escolha do tema também
ocorreu pela oportunidade “in loco”, que a estagiária de Comunicação Social da organização e
também autora deste trabalho teve em vivenciar a prática e a teoria no curso de Relações
Públicas.
Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é comparar as estratégias de comunicação
que a DelItajaí utilizou no momento dos acontecimentos com a Teoria de Administração de
Crises. Os objetivos específicos são: identificar os públicos envolvidos na tragédia; descrever as
ações de comunicação tomadas pela DelItajaí, referente ao naufrágio, e selecionar, nas matérias
jornalísticas do Jornal A Notícia, os fatos sobre o mesmo .
A pergunta problema que norteou este trabalho foi: Quais as estratégias de comunicação
que a DelItajaí deveria ter tomado para que a repercussão da crise tivesse sido mais amena em
relação aos públicos envolvidos no naufrágio “Anjo de Luz”?
Os autores escolhidos para a contextualização deste trabalho foram: ANDRADE (1996);
AUGUSTINE (2009); ARGENTI (2006); CARVAS JUNIOR (1997); FONSECA JUNIOR
(2006); FORNI (2003); GARCIA (2004); KUNSCH (2003); LIEDTKE (2002); MAFEI (2004);
ORDUNÃ (2004) e ROSA (2001).
A Metodologia de Pesquisa é de caráter exploratória, com abordagem qualitativa.
Primeiro,será realizado pesquisa bibliográfica, com revisão teórica sobre Administração de Crises
nas Organizações e, por fim, análise de conteúdo nas matérias jornalísticas publicadas no Jornal
A Notícia, no período de 23 a 28 de junho de 2008. A escolha pelo Jornal foi feita após a leitura
de outros jornais como: Diário de Santa Catarina, Diário do Litoral e O Tempo, que cobriram o
naufrágio, porém, o A Notícia abordou, com mais profundidade e detalhes, auxiliando na análise
de conteúdo.
3 Jornal foi fundado em 24 de fevereiro de 1923 por Aurino Soares. Em 01 de outubro de 2006, o Jornal foi
comprado pelo grupo RBS, editor do Jornal de Santa Catarina e do Diário Catarinense.Pela sua trajetória é um dos
principais jornais do Sul do Brasil. Possui 70% do share de mercado em Joinville, ou seja, 171.977 leitores em sua
cidade sede. Primeiro lugar em leitura no Norte e Nordeste de Santa Catarina, com um share de 53,5% , ou seja,
273.973 leitores nesta região. Possui ainda 369.602 leitores no estado de Santa Catarina.
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
3
A Comunicação e Crises
Como se pode encontrar vários significados para o termo “comunicação”, esta fica sendo
uma palavra polissêmica, porém, quando se verifica o processo de comunicação humana que
consiste em: emissor, receptor, mensagem e efeito, podemos ter um melhor entendimento sobre a
comunicação, e entender que, quando uma dessas etapas falha, o efeito necessário não ocorre.
Para complementar, pode-se usar a citação de Andrade (1996 p. 33- 34) que diz: “A
comunicação é o processo pelo qual se conduz o pensamento de uma outra pessoa, ou de um
grupo a outro. - Transmissão de qualquer estímulo que venha a alterar ou revigorar qualquer
comportamento, por meio de veículos de comunicação ou da interação pessoal”.
Sendo assim, não se pode deixar de analisar a importância da comunicação para a
sociedade e para as empresas que nela estão inseridas, para Kunsch (2002 p. 72)
As organizações em geral, como fontes emissoras de informações para seus mais
diversos públicos, não devem ter a ilusão de que todos os seus atos comunicativos
causam os efeitos positivos desejados ou são automaticamente respondidos e aceitos da
forma como foram intencionados. É preciso levar em conta os aspectos relacionais, os
contextos, os condicionamentos internos e externos, bem como a complexidade que
permeia todo o processo comunicativo. Daí a necessidade de ultrapassarmos a visão
meramente mecanicista da comunicação para outra mais interpretativa e critica.
Neste sentido, para se obter êxito nas mensagens enviadas, deve-se ter cuidado no
planejamento do processo de comunicação entre os públicos envolvidos com as organizações
para que todos os públicos que a Organização deseja, sejam atingidos com as informações
necessárias, a fim de que os objetivos de comunicação sejam alcançados.
Na Administração de Crises não é diferente, devemos ter muita cautela e seguir várias
etapas criteriosamente para que não haja falha no processo de comunicação. Nas organizações o
Setor de Comunicação Social deve ficar responsável pelo gerenciamento das crises. Conforme
Carvas Junior (1997, p. 205) “as Relações Públicas são de extrema importância para o
enfrentamento de crises, pois é ela que deve assumir a responsabilidade pela coleta de
informações e pela organização dos contatos com a imprensa e com os públicos de interesse”, já
que os objetos de estudo das Relações-Públicas, são as organizações e seus públicos.
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
4
Conforme remonta a história, a primeira pessoa a estruturar um escritório de Relações
Públicas foi Ivy Lee4, situado na Cidade de Nova York, nos Estados Unidos, em 1906. Seu mais
famoso cliente foi John D. Rockefeller5 que, na época, passava por uma crise de imagem, e por
meio da assessoria de Lee, teve sua imagem revertida. Começava, desde então, o mercado das
Relações Públicas6.
Para entender o que é crise pode-se parafrasear Ordunã (2004) e Augustine (2009), crise é
um acontecimento extraordinário ou uma série de acontecimentos que afeta, de forma diversa, a
integridade do produto, a reputação ou a estabilidade financeira da organização é uma mudança
repentina ou gradual, que resulta em um problema urgente a ser abordado de forma imediata.
Algumas vezes, nem existe um fato comprovado e uma empresa já está passando por uma
crise, é o que acontece com os boatos, em que uma empresa pode sofrer prejuízos financeiros
pela redução de vendas de seu produto apenas pelos boatos passados de pessoa a pessoa. Para
Garcia (2004, p. 56)
muitas vezes, uma crise é desencadeada por um boato. Não é preciso que haja um fato
comprovado para que a história se alastre. Todo mundo sabe que quando uma notícia
ruim atravessa as portas de uma empresa e ganha o conhecimento público, torna-se uma
crise, mesmo que não haja nenhuma consistência nas informações divulgadas.
Nesse caso, é necessário que a empresa reúna todas as informações necessárias sobre o
fato e comprove realmente a veracidade dos boatos ou desminta-os. Uma empresa precisa estar
sempre preparada para o enfrentamento de uma eventual crise
Se a empresa não estiver preparada para lidar com a situação, pode sofrer graves
conseqüências, já que, a partir do momento em que a crise tiver sido instaurada e
divulgada nos meios de comunicação, tomará proporções inimagináveis e fugirá
totalmente do controle (GARCIA, 2004, p. 61).
No que se refere ao preparo da DelItajaí sobre o gerenciamento de uma eventual crise, a
organização não possui nada relacionado às ações de comunicação que devem ser tomadas,em
caso de naufrágios, bem como nenhum plano de gerenciamento de crises para a área de
abrangência da mesma.
4 Considerado por alguns autores o pai das Relações Públicas.
5 Monopolizou o mercado petrolífero americano e, durante anos, foi o homem mais rico do mundo.
6 Informações: http://www.conferp.org.br/, acesso dia 18 de jun. 2009.
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
5
Sobre o gerenciamento de crises, é possível encontrar um capítulo sobre o respectivo
assunto, no Manual de Comunicação Social da Marinha do Brasil, que fica disponível para todas
as Organizações Militares da instituição. Esse capítulo possui uma abordagem ampla e não
especifica nenhum tipo de acontecimento como os citados abaixo.
O Instituto para Gerenciamento de Crises categoriza os tipos de crises conforme as
causas, estas podem ser definidas por “atos de Deus” que podem ser acidentes naturais, que
geram problemas a serem administrados por empresas ou governos, problemas mecânicos, erros
humanos e decisões ou indecisões administrativas (MAFEI, 2004. p. 110). Já, Garcia (2004, p.
69), adiciona outros tipos de crises, podendo ajudar a definir diversos tipos de acontecimentos,
pois segundo a autora
Crises podem ser derivadas de catástrofes naturais, como enchentes, tremores de terra,
desmoronamentos, quedas de raios, entre outras, ou por problemas administrativos que
se encaixam em diferentes categorias, e as mais comuns se enquadram em: Crises de
informação (ou falta de): mal-entendidos, erro de interpretação, boatos, calúnias, ataque
dos consumidores, entre outros.Crises por fatores financeiros/ econômicos: demissão em
massa, falência, concordata, greves, redução de carga horária/ salário, entre outros.Crises
geradas por falhas humanas ou de equipamentos: queda de avião, acidentes de trabalho,
contaminação, defeitos nos produtos, explosões, vazamentos, contaminações de
produtos, incêndios [...]
Neste sentido, é possível enquadrar o naufrágio da embarcação “Anjo de Luz” na
classificação de Garcia, como uma crise gerada por falha humana ou de equipamentos, visto que,
pela análise de conteúdo um sobrevivente relata que a embarcação naufragou quando o convés
(parte interna do barco) começou a encher de água. Conforme a análise, também foi possível
verificar que segundo o Delegado da DelItajaí o Capitão-de-Fragata Edílson Vieira Salles “a
embarcação não será retirada do fundo do mar. Os depoimentos das testemunhas e dos
sobreviventes servirão como fonte para a investigação”.
Observando os diferentes tipos de crises, podemos verificar que, as organizações,
independente do seu segmento, seja ela privada, pública ou do terceiro setor, todas precisam estar
bem preparadas para enfrentar uma crise, já que nenhuma Organização está a salvo desta crise.
Porém, nem todas dão a devida importância para a administração de crises, algumas
nem ao menos sabem do alcance que determinado acontecimento pode ter em relação aos seus
públicos de interesse. Na visão de Garcia (2004 p. 61).
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
6
quando uma empresa enfrenta uma crise, ela passa repentinamente pela ruptura de uma
imagem projetada há tempos e já equilibrada; por isso, seus componentes atravessam
momentos de grande tensão e conflito por estarem vivendo um momento perigoso, cujas
decisões afetarão o destino da empresa.
Assim sendo, quando uma organização está exposta, sua imagem fica comprometida na
mente das pessoas, principalmente aquelas que têm contato com a organização, no caso, seus
públicos. De acordo com Kunsch (2002, p. 170), “imagem é o que passa na cabeça dos públicos,
no seu imaginário [...]” sendo assim, se determinada organização possui uma imagem positiva na
mente dos seus públicos, tanto o interno quanto o externo, uma crise, se não administrada com
eficiência, pode acarretar no abalo da sua imagem
Nenhuma imagem é submetida à mente das pessoas sem que elas nunca tenham ouvido
falar da organização. A imagem é resultado da identidade que a organização transmite aos seus
públicos. Segundo Argenti (2006)
a identidade de uma empresa é a manifestação visual de sua realidade, conforme
transmitida através do nome, logomarca, lema, produtos, serviços, instalações, folheteria,
uniformes e todas as outras peças que possam ser exibidas, criadas pela organização e
comunicadas a uma grande variedade de públicos.
Sendo assim, as pessoas precisam ter na memória exatamente o que a empresa quis
transmitir, através da sua identidade, já que, na verdade, a imagem é o resultado das mensagens
transmitidas através da sua identidade. Por meio de um trabalho de planejamento de
comunicação, a empresa poderá definir qual imagem vai querer transmitir.
Sobre a imagem da DelItajaí, não foram realizadas nenhuma pesquisa de opinião com os
públicos da organização para saber se o que a imprensa informou sobre as atividades que a
organização exerceu, durante o naufrágio, e nas buscas pelos sobreviventes, abalou ou não o
posicionamento, já formado da organização.
A Comunicação na Administração de Crises
O primeiro passo para administrar uma crise é coletar as informações sobre o fato,
Quando foi? Onde foi? Quem foi? De quem é a responsabilidade? (MAFEI, 2004). Essas
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
7
perguntas devem ser respondidas com rapidez, a fim de que todas as informações essenciais
estejam apuradas para que, quando necessário, sejam expostas à imprensa.
A escolha dos membros do comitê de crise que administrará o processo deve ser
cautelosa. Um comitê de crise serve para administrar questões problemáticas e deve ser composto
pelo presidente da organização, pelo departamento jurídico, pelas áreas de comunicação,
atendimento ao cliente, recursos humanos e o responsável pelo setor envolvido no problema
(FORNI, 2008).
Esse Comitê poderá prever as determinadas crises pelas quais a Organização pode passar,
e criar ações pré-determinadas. No caso da comunicação, podem ser criados textos-padrões que
irão facilitar os trabalhos quando uma crise estiver acontecendo. Já, o Setor Jurídico, poderá
consultar que penalizações determinada crise pode acarretar para a organização. Para Rosa (2001,
p. 134),“definir os integrantes desse comitê é uma das respostas para a crise. O comitê sinaliza os
pontos vulneráveis da organização e, com isso, define os objetivos, estratégias e táticas para
enfrentar as crises”.
A DelItajaí não formou um Comitê de Crises para gerenciar o processo, já que todas as
ações foram sendo realizadas conforme os acontecimentos, e a imprensa procurava a
organização.
Cada tipo de crise exige uma pessoa específica dentro da Organização para lidar com ela.
Se a crise for na área financeira, o diretor financeiro terá mais chances de liderar a equipe nesse
problema (ARGENTI, 2006) A definição dessa pessoa é de extrema importância, pois poderemos
definir, a partir daí, o porta-voz da Organização, “é necessário eleger um único porta-voz, que
passe credibilidade, tenha treinamento para lidar com a imprensa e conheça profundamente a
própria empresa e o problema” (FORNI, 2008, p.375). Essa pessoa será imprescindível, por isso é
necessário que ela tenha os conhecimentos necessários sobre o caso, pois ficará exposta à mídia.
Como já citado, o porta-voz da organização terá que lidar com a imprensa; um público
que, na grande maioria das vezes, estará presente durante as crises. Os jornalistas, provavelmente,
irão procurar a organização, e, um grande erro cometido pelas empresas, é deixá-los sem
informação, fazendo com que procurem outras fontes que, nem sempre são verdadeiras.
Nesse caso, a DelItajaí compare-se à teoria de crises, porque teve um porta-voz
preparado, com experiência e domínio do assunto, que, no caso foi o Delegado da organização.
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
8
Na Marinha do Brasil, segue-se a hierarquia, quando o assunto é atender à imprensa. Somente a
pessoa com maior cargo, ou uma pessoa autorizada por ela, poderá dar entrevistas.
Muitas vezes, uma explicação plausível sobre o assunto faz com que uma matéria
negativa sobre a organização seja amenizada ou neutralizada pelos esclarecimentos prestados
(FORNI, 2008).
O trabalho dos jornalistas, durante uma crise, é de fundamental relevância, pois são eles
que irão levar todas as informações que a organização tem a passar sobre o acontecido, é preciso,
então, dar a devida importância aos profissionais da imprensa.
Ter esses profissionais como aliados e não como inimigos pode ajudar a reverter uma
situação negativa e criar uma oportunidade para a organização, por isso, faz-se necessário prestar
esclarecimentos sempre verdadeiros e tomar atitudes que comprovem essas informações.
O Delegado, como porta-voz da DelItajaí, atendeu aos veículos de comunicação,
expressando informações relevantes sobre o naufrágio, como podemos observar na análise de
conteúdo. Esse foi um ponto positivo e muito importante no gerenciamento de crise da
organização, pois todos os autores pesquisados falam do valor de atender à imprensa.
Entretanto nem todos os públicos da organização acompanharão os fatos pelos veículos de
comunicação, portanto, é importante que se priorize, no plano de gerenciamento de crises, quais
públicos são mais importantes no determinado momento, e direcionar mensagens específicas a
eles.
Após o reconhecimento do tipo de crise a ser enfrentado, e definido o porta-voz da
Organização, o Comitê de Crises ficará responsável por avisar os públicos envolvidos no
acontecimento. O critério de contato com os diversos públicos deverá ser realizado obedecendo a
uma hierarquia, dependendo da importância desse público no fato ocorrido, por exemplo:
primeiro, os diretamente afetados: vítimas intencionais ou não intencionais; segundo
funcionários, que também podem ser vítima ou virar fonte para jornalistas, terceiro, os
indiretamente afetados: vizinhos, amigos, familiares, parentes, consumidores, fornecedores,
governo..., e por último, a mídia e outros canais de comunicação externa (GARCIA, 2004).
Os públicos envolvidos na tragédia foram: os funcionários da DelItajaí, a imprensa
regional e nacional, Corpo de Bombeiros voluntários de Penha e Bombeiros Militares de Itajaí e
Barra Velha, pescadores da região, família das vítimas, Policia Mílitar, Instituto Médico Legal, e
a sociedade em geral que teve acesso às informações pela imprensa.
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
9
De todos esses públicos citados, o Comitê de Crises deverá dar atenção especial aos
funcionários da organização que está enfrentando a crise. Forni (2008) e Rosa (2001), concordam
que esse público é de fundamental importância, devendo ser informado de todos os
procedimentos realizados pelo comitê, assim como todos os dados sobre o fato e quais as causas
que levaram ao acontecimento. O público interno não informado poderá, quando procurado pela
imprensa,comentar fatos que não aconteceram, justamente por estarem desinformados.
Sendo assim, enquadrando-se na definição de Forni e Rosa, a estagiária de Comunicação
da Organização deixou o mural interno da Delegacia atualizado, com matérias publicadas na
imprensa, para os funcionários da DelItajaí acompanharem os fatos.
Outro público que o Comitê deverá ter cuidado é com as famílias das eventuais vítimas do
ocorrido, visto que o lado emocional dessas famílias estará consideravelmente abalado, o Comitê
deverá dar atenção especial a esse público afetado. Sobre o relacionamento com os familiares das
vítimas não foi constatado nada na Análise de Conteúdo.
Algumas formas de se atingir os diversos públicos, segundo Rosa (2001, p. 142), “press-
releases; cartas; visitas; conversas telefônicas; [...] grandes encontros-assembléias; comerciais-
inserções publicitárias; coletivas; entrevistas; memorandos internos; telegrama; fax e internet”.
Cada público necessita ser informado de maneira diferente, e para poder mensurar se essas
mensagens estão chegando ao seu destino, pesquisas podem ser realizadas, assim como o
acompanhamento da clipagem para checar determinados depoimentos desses mesmos públicos. O
que não se pode fazer é simplesmente esquecê-los.
O que irá diferenciar uma organização da outra é a forma como ela tratará o seu
Gerenciamento de Crise. As empresas que se preparam antes de uma eventualidade acontecer já
saem na frente quando o assunto é crise. Por isso, faz-se necessário que todas as organizações
tenham a consciência de que não estão imunes a fatalidades, e que planejar é muito melhor do
que ter sua imagem abalada.
As Organizações Militares
As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são
instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
10
disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destina-se à defesa da Pátria, à
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.
(LAZZARINI, 2004, p. 142). No caso das organizações militares, a comunicação precisa estar
presente, divulgando as ações realizadas e trabalhando com seus públicos de interesse. Na
Marinha do Brasil existe o Centro de Comunicação Social da Marinha – CCSM que é o órgão
responsável pela gestão das atividades de comunicação social na Marinha do Brasil.
Criado em 5 de abril de 1961, o CCSM divulga, há 48 anos, as atividades da Marinha do
Brasil junto à sociedade brasileira e às mídias brasileira e internacional. Atualmente, é dirigido
por um Contra-Almirante7, fazendo parte da estrutura organizacional do Gabinete do
Comandante da Marinha, como Assessoria de Comunicação Social. Conta com 11 oficiais e 18
praças, divididos nas assessorias de Planejamento, Relações Públicas e Imprensa.
Esse Centro também produz, os anos os Planos de Comunicação Social que são enviados
através dos Distritos Navais a todas as OMs8.
Os órgãos públicos brasileiros, independente da instância, federal, estadual ou municipal,
têm como dever informar à população sobre suas ações. As Relações Públicas trabalham em
diversos órgãos governamentais e podem ser trabalhadas conforme citação de Liedtke (2002 p.
178) afirma que
Relações Públicas é o serviço que administra o relacionamento estratégico do governo
com públicos especiais. Planeja pesquisas de opinião pública. Assessora o cerimonial e
protocolo em eventos institucionais. Planeja e assessora ações de comunicação para o
público interno e externo, trabalhando integrado com os demais setores da Assessoria de
Comunicação na criação e produção de instrumentos de comunicação institucional.
Apóia na organização de eventos. Mantém uma mala-direta com cadastro e listagens de
públicos de interesse.
Nas Forças Armadas, também é possível visualizar a atividade de Relações Públicas. Na
Marinha do Brasil, de 5 de abril de 1961 até 30 de maio de 2006, só existia o Serviço de Relações
Públicas. Todas as atividades de Comunicação dessa Força eram realizadas por esse serviço. Em
2006, o Serviço de Relações Públicas foi trocado e denominado Centro de Comunicação Social
da Marinha.
7 1° Posto dos Almirantes, segue-se por Vice-Almirante e Almirante de Esquadra, cargo escolhido pelo Presidente da
República. 8 Organizações Militares
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
11
Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí
A história da Marinha do Brasil9 em Itajaí remonta ao ano de 1931, com a nomeação do
primeiro Delegado da Capitania dos Portos, por meio de Decreto do Governo Provisório.
No dia 12 de janeiro de 2009, foi inaugurada a nova sede da Delegacia10
situada na
Avenida Prefeito Paulo Bauer, em Frente ao Mercado Público da Cidade e às margens do Rio
Itajaí-Açu, sua inauguração foi devido ao grande crescimento econômico que a Região vem
passando.
Sua jurisdição de 181 municípios faz da Delegacia a maior do Estado em todas as
atividades que exerce, tais como: fiscalização, vistoria e cadastro de embarcações. Além de
atender todas as atribuições da sua missão que se propõe a contribuir para a orientação,
coordenação e controle das atividades relativas à Marinha Mercante e organizações correlatas, no
que se refere à segurança da navegação, defesa nacional, salvaguarda da vida humana e
prevenção da poluição hídrica, atuando nos seguintes segmentos: setores portuário, pesqueiro,
esporte náutico, construção naval e petrolífero, além de manter contínua e crescente a formação
dos profissionais que atuam no mar.
Além da Delegacia em Itajaí, Santa Catarina ainda possui as Delegacias de Laguna e São
Francisco do Sul. Atualmente, a organização conta com um efetivo de 47 militares, 7
funcionários civis e 1 estagiária de Comunicação Social.
A Delegacia em Itajaí é subordinada aos 5º Distrito Naval, situado na cidade de Rio
Grande, no Estado do Rio Grande do Sul. Esse Distrito é responsável pelos estados do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
Por sua vez, todas as Organizações Militares são subordinadas ao Ministério da Marinha,
localizado em Brasília e administrado pelo Comandante da Marinha. A Marinha do Brasil é
composta por 9 Distritos Navais, 23 Capitanias, 16 Delegacias e 20 agências distribuídas em todo
o Território Nacional, além de todas as outras Organizações Administrativas e de Saúde.
9 Documento interno: escrito pelo Delegado Capitão-de-Fragata Edílson Vieira Salles, lido no dia 12 de janeiro de
2009, adaptado pela acadêmica Adriene Carlotto 10
As Capitanias dos Portos, Delegacias e Agências diferenciam-se pelo contingente de suas responsabilidades e
números de atividades. Espoca-Estágio preparatório para oficiais designados para Capitanias, Delegacias e Agências,
cap 2, p. 152.)
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
12
Metodologia
A pesquisa bibliográfica foi realizada com revisão teórica sobre a comunicação na
Administração de Crises, na visão de diversos autores que escrevem sobre o assunto. Para Stumpf
(2006, p. 51), pesquisa bibliográfica “é o planejamento global inicial de qualquer trabalho de
pesquisa que vai desde a identificação, localização e obtenção da bibliografia pertinente sobre o
assunto [...]”.
Para identificar as matérias jornalísticas sobre o naufrágio foi realizada uma pesquisa
virtual por diversos sites, em que o principal deles foi o do Jornal A Notícia, que possibilitou a
visualização das matérias pela Internet.
A metodologia deste trabalho teve, como base, a análise de conteúdo, que, segundo
Lozano (1994, p. 141 apud FONSECA JÚNIOR, 2006, p. 286)
é sistemática porque se baseia num conjunto de procedimentos que se aplicam da mesma
forma a todo o conteúdo analisável. É também confiável- ou objetiva- porque permite
que diferentes pessoas, aplicando em separado as mesmas categorias à mesma amostra
de mensagens, possam chegar às mesmas conclusões.
Desta forma, foram analisadas as matérias jornalísticas do Jornal A Notícia, da cidade de
Joinville, no período de 23 a 28 de junho de 2008. Após a análise de outros veículos de
comunicação da Região que cobriram o fato, foi escolhido o referido Jornal por estar mais
completo, em relação às informações e por apurar, com mais detalhes o naufrágio, o que
possibilitou o cumprimento dos procedimentos da análise de conteúdo.
O método utilizado na pesquisa foi o monográfico, pois consiste “num estudo de
determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a
intenção de obter generalizações” (MARCONI; LAKATOS, 2006, p. 108). Neste caso, o estudo
será baseado na Comunicação na Administração de Crises no naufrágio da embarcação “Anjo de
Luz”.
O procedimento aplicado foi o qualitativo, por ser o mais adequado ao objetivo principal
do trabalho, que é o de comparar estratégias de comunicação; nesse caso, deixa-se de lado a
quantidade de informações, mas prioriza-se a qualidade destas.
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
13
Naufrágio Anjo de Luz
O naufrágio da embarcação “Anjo de Luz”, como ficou conhecida a tragédia, que levou
morte de seis pessoas, na Cidade de Balneário Piçarras11
, no Estado de Santa Catarina, ocorreu no
dia 21 de junho de 2008, por volta das 21 horas. A tragédia aconteceu a 12 km das Ilhas
Itacolomi e Feia12
, o local fica a 20 km da Costa.
A embarcação começou a naufragar quando o convés (parte interna do barco) começou a
encher de água. Segundo o Delegado da Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí, Edílson
Vieira Salles, o barco Anjo de Luz era impróprio para o transporte de passageiros.
A intenção dos 7 amigos que alugaram o barco na Marina de Piçarras e que foi
acompanhada pelo dono da embarcação, era ir pescar em alto-mar, na Ilha de Tamboretes, em
São Francisco do Sul, a 40 km de Piçarras .
As buscas foram realizadas pelo Corpo de Bombeiros Militar de Piçarras, pela Marinha
do Brasil, com responsabilidade da Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí, com a ajuda de
um helicóptero da Polícia Militar de Joinville e pescadores da Região.
A embarcação tinha, como proprietário, Sérgio Luiz Witkovski, morador do bairro Nossa
Senhora da Paz, da cidade de Balneário Piçarras, do Estado de Santa Catarina. O barco era do
tipo pesqueiro, com estrutura de madeira, com 11,50 metros de comprimento. O barco
comportava 2 tripulantes com segurança, e foi construído no ano de 1993, no Estaleiro Itajaí.
Procedimentos de Coleta de Dados
Para a realização deste artigo, primeiro foi verificada a clipagem da DelItajaí, para
encontrar as matérias sobre o naufrágio. Foram encontradas matérias de diversos veículos de
comunicação, e, na sua maioria do Jornal Diário do Litoral, popularmente conhecido como
11
Situada no litoral norte de Santa Catarina, a 110 quilômetros da capital do estado, Florianópolis. 12
A Ilha de Itacolomi, que em tupi-guarani significa filho da pedra, é formada por dois rochedos, a cerca de 7 km da
praia, local próprio para a reprodução de aves marinhas. A ilha Feia é uma reserva de Mata Atlântica e esconde
algumas trilhas e duas grutas, uma delas chamada Caverna do Diabo.
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
14
DIARINHO. Optou-se, então, por trabalhar com esse Jornal. Porém, ao verificar a clipagem,
surgiu a dúvida se esta estava completa.
Sendo assim, partiu-se para a pesquisa no Arquivo Histórico de Itajaí, que contém arquivo
do Jornal Diarinho. Esta pesquisa realizou-se no dia 03 de abril. Após leitura de todas as matérias
sobre o naufrágio, observou-se que não estavam completas, a ponto de auxiliar na análise de
conteúdo.
Partiu-se, então, para a observação de outros veículos de comunicação, como Jornal do
Meio Dia da Ric Record, Jornal do Almoço da RBS TV, Jornal Diário Catarinense e Jornal A
Notícia on line. Verificou-se que o Jornal A Notícia era o mais completo para aplicar o
procedimento de análise de conteúdo, depois de procurar as matérias, no mês do naufrágio, junho
de 2008, foram encontradas:
DATA EDITORIA INSERÇÕES
NA CAPA
INSERÇÕES
NA
CONTRACAPA
NÚMERO DE
MATÉRIAS
23/06 GERAL SIM 05
24/06 GERAL SIM 11
25/06 GERAL SIM 02
26/06 GERAL SIM 01
27/06 GERAL 01
28/06 GERAL SIM 02
Quadro 1- Relação das inserções sobre o naufrágio da embarcação “Anjo de Luz”, no mês de
junho de 2008 no Jornal A Notícia. Fonte: Elaborado pela Acadêmica.
Dos dias 23 a 28 de junho de 2008, foram encontradas 22 matérias, todas inseridas na
Editoria Geral; de 23 a 25 continham chamada na capa do Jornal e, nos dias 26 e 28, as chamadas
para as matérias foram inseridas na contracapa, somente no dia 27, não teve chamada para a
matéria, nem na capa nem na contracapa do Jornal.
Análise de Conteúdo
Após a seleção das matérias a serem analisadas, foi colocado em prática o instrumento de
sistemática da análise dos dados de Roberto Porto Simões (1998), com as seguintes perguntas:
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
15
1 Qual é o fato?
O naufrágio da embarcação Anjo de Luz, como ficou conhecida a tragédia, que levou à
morte seis pessoas, na cidade de Balneário Piçarras, no Estado de Santa Catarina. Ocorreu no dia
21 de junho de 2008, por volta das 21 horas. A tragédia aconteceu a 12 km das Ilhas Itacolomi e
Feia, o local fica a 20 km da Costa.
A embarcação começou a naufragar quando o convés (parte interna do barco) começou a
encher de água. Segundo o Delegado da Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí, Edílson
Vieira Salles, o barco Anjo de Luz era impróprio para o transporte de passageiros.
2 Qual é a dimensão de direcionamento da notícia?
Nas matérias publicadas pelo Jornal A Notícia, da Cidade de Joinville, o enfoque no
primeiro momento era registrar as possíveis causas para o acidente, quem eram os sobreviventes
e quem participou das buscas. Num segundo momento, o enfoque era as buscas pelo último
passageiro do barco, que até o dia 28 de junho, quando foi o último dia de matérias publicadas no
Jornal, o corpo não tinha sido encontrado.
3 Esta matéria é opinativa?
Não consta a opinião de quem a redigiu.
4 Esta notícia consta em outros veículos?
Sim, foram publicadas matérias em vários veículos de comunicação, tais como: Folha de
São Paulo, Diarinho, da Cidade de Itajaí, RBS TV, de Blumenau, Ric Record, de Itajaí.
5 Qual a organização em foco nos acontecimentos?
A organização a ser analisada é a Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí (A Marinha
do Brasil na região)
6 Que outros fatos sobre a organização você conhece e que estejam relacionados com este?
O Jornal não apresenta nenhum caso de naufrágio anterior.
7 Quais os públicos da organização explícitos neste fato
Marinha do Brasil, Corpo de Bombeiros voluntários de Penha, Militares de Itajaí e Barra
Velha, pescadores da Região, família das vítimas, Policia Mílitar, Instituto Médico Legal,
imprensa nacional, sociedade em geral, que teve acesso às informações pela imprensa.
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
16
8 Quais as prováveis causas imediatas do fato?
A embarcação estava com excesso de passageiros, quando, no normal, só poderia estar
com 02 pessoas. Acredita-se que seja essa uma das causas do acidente, já que a embarcação não
foi encontrada para avaliação das reais causas.
9 Quais os públicos afetados e que afetam diretamente os fatos?
A família das vítimas e os funcionários da organização.
10 Quais são os públicos afetados e que afetam indiretamente os fatos?
A sociedade em geral, pois acredita-se que a imagem da Delegacia foi abalada, e
associações de pesca de Balneário Piçarras, pois o proprietário da embarcação era conhecido por
muitas pessoas na área da pesca.
11 Qual a ação da organização geradora dos acontecimentos?
A DelItajaí nesses casos é responsável pelo socorro e salvamento no mar.
12 Como esta ação se vincula com a legitimidade da decisão organizacional?
Para a sociedade em si, a Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí tem como objetivo
zelar pela vida das pessoas no mar.
13 Em face de tudo isto, como fica a credibilidade da organização? Para melhor ou para
pior?
Depois de quase um ano do naufrágio, acredita-se que a credibilidade da organização seja
boa, porém, nos meses seguintes ao naufrágio, ela pode ter ficado abalada na mente das pessoas.
14 Qual a fase do processo do conflito iminente no sistema organização-público (latente ou
manifesta?)
Por parte da família, o processo ainda está em manifesto, pela sociedade, creio que esteja
superado.
15 Esta notícia está sob controle da organização ou foi explorada espontaneamente pela
mídia?
Os fatos apareceram na mídia primeiro pelo jornalismo investigativo, e somente depois,
pela procura da imprensa, a Delegacia se manifestou.
16 O fato insere-se somente em âmbito da micropolítica ou já atingiu o da macropolítica?
Somente na esfera micropolítica.
17 Quais as implicações desta notícia para a organização?
As notícias do Jornal A Notícia são neutras, nem defendem a Delegacia nem acusam.
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
17
18 Que pode a organização fazer em relação a esta notícia?
A Delegacia poderia ter prestado mais auxílio perante os familiares, colocando-se à
disposição de qualquer dúvida. Em relação à imprensa, ter feito uma coletiva, atendendo a todos
com informações relevantes à população. Poder-se-ia ter sido demonstrada maior preocupação e
comoção com a tragédia, e que todos estariam fazendo o possível para saber as causas do
acidente e localizar os sobreviventes.
Conclusão
Um dos principais erros cometidos pelas organizações não preparadas para o
enfrentamento de crises, é acreditar que, somente notas publicadas em jornais e revistas ou
coletivas de imprensa poderão atingir todos os públicos envolvidos no acontecimento. Cada
público tem uma necessidade de saber sobre o fato, algumas organizações nem ao menos tentam
manter esse contato, apenas atendem a imprensa, achando suficiente essa retratação.
Conclui-se então que, a DelItajaí poderia ter executado algumas ações de comunicação
que não foram realizadas com os seus públicos de interesse. Foi constatado que o Delegado da
organização atendeu à imprensa, o que foi citado como ponto positivo, poder-se-ia, também, ter
realizado uma coletiva de imprensa, pois o caso repercutiu nacionalmente, e um número
significativo de jornalistas procurou a organização. Com a coletiva, o Delegado poderia atender
um número maior de jornalistas e unificar o discurso.
Percebe-se a ausência de uma clipagem completa, e não apenas de um jornal local, como
acontece na Delegacia, a clipagem pode auxiliar no acompanhamento dos fatos e de opiniões
transmitidas por familiares ou jornalistas durante os acontecimentos.
Com os funcionários, poderia ter sido feita uma reunião geral, para explicar sobre o fato,
já, para as famílias, o apoio deveria ter sido mais intenso, a ajuda de uma psicóloga orientando as
famílias e uma reunião com elas, explicando todos os passos das buscas.
E, depois de alguns dias, após o término da repercussão na imprensa, uma pesquisa de
opinião para saber se a imagem foi abalada ou não, pelos públicos da Delegacia.
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
18
Todas essas ações poderiam estar unificadas num plano de gerenciamento de crise pré-
-estabelecido. Se a organização já tivesse um plano de gerenciamento de crises, todas ou a
maioria das ações de comunicação já estariam descritas.
Sendo assim, leva-se em consideração que não existia um plano de crises, logo, não
houve um Comitê de Gerenciamento, o que poderia ter facilitado todo o processo, uma vez que as
ações de comunicação iam sendo executadas, conforme os acontecimentos.
Podemos observar que, ao invés de despreparada, a administração da organização poderia
estar desinformada sobre quais ações de comunicação colocar em prática naquele determinado
momento, e para quais públicos dirigir suas mensagens.
A análise de conteúdo foi muito importante, pois, forneceu informações relevantes para
fazer a comparação entre teoria e prática, objetivo geral deste artigo.
Verificou-se através das matérias, dados sobre o naufrágio, tipo de embarcação, e todos os
detalhes que ocorreram naquela data conforme o depoimento dos sobreviventes.
Nenhum jornalista responsável pelas informações teceu comentários sobre o acidente, o
que elimina a possibilidade desse comentário gerar controvérsia na mente dos leitores.
Como o jornal traz entrevistas com o Delegado da organização, através destas pode-se
verificar as possíveis causas do acidente, e enquadrá-las na Teoria de Administração de Crises
conforme Garcia (2004) como uma crise gerada por falha humana ou de equipamentos, já que
também através da análise de conteúdo, um sobrevivente relatou que a embarcação começou a
naufragar quando o convés (parte interna do barco) começou a encher de água.
Todas as informações retiradas da análise de conteúdo ajudaram no embasamento deste
artigo, pode-se então avaliar como um método de pesquisa significativo quando se precisa
analisar informações.
Referências
ANDRADE, Cândido Teobaldo de Souza. Dicionário profissional de relações públicas e
comunicação. São Paulo: Summus, 1996.
ARGENTI, Paul A. Comunicação empresarial: a construção da identidade, imagem e
reputação. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006.
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
19
AUGUSTINE, Normam Ralph. como lidar com as crises: os segredos para prevenir e solucionar
situações críticas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.
CARVAS JUNIOR, Waldormiro. Relações públicas no gerenciamento de crises. In: KUNSCH,
Margarida Maria Krohling (Org). Obtendo resultados com relações públicas. São Paulo:
Pioneira, 1997. Cap.3, p. 205-213.
FONSECA JÚNIOR, Wilson Corrêa da. Análise de conteúdo.In: DUARTE, Jorge; BARROS,
Antonio (Org). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2.ed. São Paulo:Atlas, 2006.
Cap. 18, p. 280 - 304.
FORNI, João José.A comunicação em tempo de crise. In: DUARTE, Jorge (Org). Assessoria de
imprensa e relacionamento com a mídia: Teoria e Prática. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2008. Cap.
20, p. 363-388.
GARCIA, Maria Tereza. A arte de se relacionar com a imprensa: como aprimorar o
relacionamento com jornalistas e fortalecer a imagem de sua empresa. São Paulo: Novatec, 2004.
KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Planejamento de relações públicas na Comunicação
integrada. 2. ed. São Paulo: Summus, 2002.
LAZZARINI, Álvaro. Código penal, código de processo penal militar, estatuto dos militares,
constituição federal. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
LIEDTKE, Paulo Fernando. A esquerda presta contas: comunicação e democracia nas cidades.
Itajaí: Univali, 2002.
MAFEI, Maristela. Como se relacionar com a mídia. São Paulo: Contexto, 2004.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da metodologia
científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006.
ORDUNÃ, Octavio Isaac Rojas. A comunicação em momentos de crises. In: CARDOSO,
Cláudio (Org). Comunicação organizacional hoje II: novos desafios, novas perspectivas.
Salvador: Edufba, 2004. Cap.02, p.31-43.
Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer
Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01
____________________________________________________________________________________
20
ROSA, Mário. A síndrome de Aquiles: como lidar com as crises de imagem. São Paulo: Gente,
2001.
SIMÕES, Roberto Porto. Análise de situação de relações públicas na mídia. Revista
FAMECOS, Porto Alegre, n. 9, p. 126- 131, dez. 1998.
STUMPF, Ida Regina Chitto. Pesquisa bibliográfica. In: DUARTE, Jorge; BARROS, Antonio
(Org). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2006. Cap. 3,
p. 51-61.