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Universidade do Vale do Itajaí - Centro de Ciências Sociais Aplicadas: Comunicação Turismo e Lazer Curso de Comunicação Social - Relações Públicas - V Evento de Iniciação Científica - Itajaí 2009/01 _____________________________________________________________________________ A COMUNICAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO DE CRISES: o naufrágio da embarcação “Anjo de Luz” (2008) e a Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí Adriene Carlotto 1 João Carissimi 2 Resumo Este artigo, objetiva comparar as estratégias de Comunicação que a Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí utilizou, com a Teoria de Administração de Crises, baseando-se no naufrágio da embarcação “Anjo de Luz”, fato que ocorreu em junho de 2008 na cidade de Balneári o Piçarras - SC. No primeiro momento, revisou-se a bibliografia sobre Administração de Crises, na visão de autores que escrevem sobre o assunto, no segundo momento, foi realizada a apresentação da referida organização, e por fim, realizou-se a análise de conteúdo com base nas matérias jornalísticas do Jornal A Notícia, da cidade de Joinville - SC. Conclui-se, assim, que a Delegacia necessita de um plano de comunicação para a administração de crises. Palavras-chave: Relações Públicas. Crise. Imagem. Naufrágio “Anjo de Luz”. Introdução Quando lembramos de crise, logo nos remetemos a algo que está fora do normal, podemos associar uma crise a vários âmbitos das nossas vidas, nas organizações não é diferente. Uma empresa pode passar por crise financeira, econômica, de causas naturais, escândalos envolvendo membros da organização ou erros humanos. Várias causas podem acarretar uma crise. O que veremos, neste artigo, são os problemas de imagem que as organizações envolvidas numa crise podem ter; as definições de crise, na visão de diversos autores, como conseguir um relacionamento positivo com os públicos envolvidos na situação e, principalmente, como a comunicação pode auxiliar na administração de uma crise. 1 Acadêmica da disciplina Monografia - Modalidade Artigo Científico, 7° período do curso de Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas. E-mail: [email protected] 2 João Carissimi - Mestre em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Especialista em Marketing pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS); Especialista em Administração em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela PUC-RS; Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul (UCS); ex-Professor responsável pela disciplina Monografia-modalidade Artigo Científico da Univali; Professor pesquisador do Grupo de Pesquisa Redes de Comunicação (UNIVALI). E-mail: [email protected]

A COMUNICAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO DE CRISES

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Este artigo, objetiva comparar as estratégias de Comunicação que a Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí utilizou, com a Teoria de Administração de Crises, baseando-se no naufrágio da embarcação “Anjo de Luz”, fato que ocorreu em junho de 2008 na cidade de Balneário Piçarras - SC. No primeiro momento, revisou-se a bibliografia sobre Administração de Crises, na visão de autores que escrevem sobre o assunto, no segundo momento, foi realizada a apresentação da referida organização, e por fim, realizou-se a análise de conteúdo com base nas matérias jornalísticas do Jornal A Notícia, da cidade de Joinville - SC. Conclui-se, assim, que a Delegacia necessita de um plano de comunicação para a administração de crises.

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A COMUNICAÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO DE CRISES:

o naufrágio da embarcação “Anjo de Luz” (2008) e a Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí

Adriene Carlotto1

João Carissimi2

Resumo

Este artigo, objetiva comparar as estratégias de Comunicação que a Delegacia da Capitania dos

Portos em Itajaí utilizou, com a Teoria de Administração de Crises, baseando-se no naufrágio da

embarcação “Anjo de Luz”, fato que ocorreu em junho de 2008 na cidade de Balneário Piçarras -

SC. No primeiro momento, revisou-se a bibliografia sobre Administração de Crises, na visão de

autores que escrevem sobre o assunto, no segundo momento, foi realizada a apresentação da

referida organização, e por fim, realizou-se a análise de conteúdo com base nas matérias

jornalísticas do Jornal A Notícia, da cidade de Joinville - SC. Conclui-se, assim, que a Delegacia

necessita de um plano de comunicação para a administração de crises.

Palavras-chave: Relações Públicas. Crise. Imagem. Naufrágio “Anjo de Luz”.

Introdução

Quando lembramos de crise, logo nos remetemos a algo que está fora do normal,

podemos associar uma crise a vários âmbitos das nossas vidas, nas organizações não é diferente.

Uma empresa pode passar por crise financeira, econômica, de causas naturais, escândalos

envolvendo membros da organização ou erros humanos. Várias causas podem acarretar uma

crise. O que veremos, neste artigo, são os problemas de imagem que as organizações envolvidas

numa crise podem ter; as definições de crise, na visão de diversos autores, como conseguir um

relacionamento positivo com os públicos envolvidos na situação e, principalmente, como a

comunicação pode auxiliar na administração de uma crise.

1 Acadêmica da disciplina Monografia - Modalidade Artigo Científico, 7° período do curso de Comunicação Social

com habilitação em Relações Públicas. E-mail: [email protected] 2 João Carissimi - Mestre em Comunicação e Informação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS);

Especialista em Marketing pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS); Especialista em

Administração em Publicidade e Propaganda e Relações Públicas pela PUC-RS; Bacharel em Comunicação Social

com habilitação em Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul (UCS); ex-Professor responsável pela

disciplina Monografia-modalidade Artigo Científico da Univali; Professor pesquisador do Grupo de Pesquisa Redes

de Comunicação (UNIVALI). E-mail: [email protected]

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A comunicação na administração de crise no naufrágio “Anjo de Luz”, realizada pela

Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí-DelItajaí, a partir de matérias jornalísticas publicadas

no Jornal A Notícia da cidade de Joinville3, será objeto de estudo deste artigo. A escolha do tema

acima citado partiu da necessidade de verificar a importância do papel das relações públicas no

gerenciamento de crises, já que a organização em questão passou por uma situação de crise no

naufrágio que levou a seis vítimas fatais e teve repercussão nacional. A escolha do tema também

ocorreu pela oportunidade “in loco”, que a estagiária de Comunicação Social da organização e

também autora deste trabalho teve em vivenciar a prática e a teoria no curso de Relações

Públicas.

Sendo assim, o objetivo geral deste trabalho é comparar as estratégias de comunicação

que a DelItajaí utilizou no momento dos acontecimentos com a Teoria de Administração de

Crises. Os objetivos específicos são: identificar os públicos envolvidos na tragédia; descrever as

ações de comunicação tomadas pela DelItajaí, referente ao naufrágio, e selecionar, nas matérias

jornalísticas do Jornal A Notícia, os fatos sobre o mesmo .

A pergunta problema que norteou este trabalho foi: Quais as estratégias de comunicação

que a DelItajaí deveria ter tomado para que a repercussão da crise tivesse sido mais amena em

relação aos públicos envolvidos no naufrágio “Anjo de Luz”?

Os autores escolhidos para a contextualização deste trabalho foram: ANDRADE (1996);

AUGUSTINE (2009); ARGENTI (2006); CARVAS JUNIOR (1997); FONSECA JUNIOR

(2006); FORNI (2003); GARCIA (2004); KUNSCH (2003); LIEDTKE (2002); MAFEI (2004);

ORDUNÃ (2004) e ROSA (2001).

A Metodologia de Pesquisa é de caráter exploratória, com abordagem qualitativa.

Primeiro,será realizado pesquisa bibliográfica, com revisão teórica sobre Administração de Crises

nas Organizações e, por fim, análise de conteúdo nas matérias jornalísticas publicadas no Jornal

A Notícia, no período de 23 a 28 de junho de 2008. A escolha pelo Jornal foi feita após a leitura

de outros jornais como: Diário de Santa Catarina, Diário do Litoral e O Tempo, que cobriram o

naufrágio, porém, o A Notícia abordou, com mais profundidade e detalhes, auxiliando na análise

de conteúdo.

3 Jornal foi fundado em 24 de fevereiro de 1923 por Aurino Soares. Em 01 de outubro de 2006, o Jornal foi

comprado pelo grupo RBS, editor do Jornal de Santa Catarina e do Diário Catarinense.Pela sua trajetória é um dos

principais jornais do Sul do Brasil. Possui 70% do share de mercado em Joinville, ou seja, 171.977 leitores em sua

cidade sede. Primeiro lugar em leitura no Norte e Nordeste de Santa Catarina, com um share de 53,5% , ou seja,

273.973 leitores nesta região. Possui ainda 369.602 leitores no estado de Santa Catarina.

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A Comunicação e Crises

Como se pode encontrar vários significados para o termo “comunicação”, esta fica sendo

uma palavra polissêmica, porém, quando se verifica o processo de comunicação humana que

consiste em: emissor, receptor, mensagem e efeito, podemos ter um melhor entendimento sobre a

comunicação, e entender que, quando uma dessas etapas falha, o efeito necessário não ocorre.

Para complementar, pode-se usar a citação de Andrade (1996 p. 33- 34) que diz: “A

comunicação é o processo pelo qual se conduz o pensamento de uma outra pessoa, ou de um

grupo a outro. - Transmissão de qualquer estímulo que venha a alterar ou revigorar qualquer

comportamento, por meio de veículos de comunicação ou da interação pessoal”.

Sendo assim, não se pode deixar de analisar a importância da comunicação para a

sociedade e para as empresas que nela estão inseridas, para Kunsch (2002 p. 72)

As organizações em geral, como fontes emissoras de informações para seus mais

diversos públicos, não devem ter a ilusão de que todos os seus atos comunicativos

causam os efeitos positivos desejados ou são automaticamente respondidos e aceitos da

forma como foram intencionados. É preciso levar em conta os aspectos relacionais, os

contextos, os condicionamentos internos e externos, bem como a complexidade que

permeia todo o processo comunicativo. Daí a necessidade de ultrapassarmos a visão

meramente mecanicista da comunicação para outra mais interpretativa e critica.

Neste sentido, para se obter êxito nas mensagens enviadas, deve-se ter cuidado no

planejamento do processo de comunicação entre os públicos envolvidos com as organizações

para que todos os públicos que a Organização deseja, sejam atingidos com as informações

necessárias, a fim de que os objetivos de comunicação sejam alcançados.

Na Administração de Crises não é diferente, devemos ter muita cautela e seguir várias

etapas criteriosamente para que não haja falha no processo de comunicação. Nas organizações o

Setor de Comunicação Social deve ficar responsável pelo gerenciamento das crises. Conforme

Carvas Junior (1997, p. 205) “as Relações Públicas são de extrema importância para o

enfrentamento de crises, pois é ela que deve assumir a responsabilidade pela coleta de

informações e pela organização dos contatos com a imprensa e com os públicos de interesse”, já

que os objetos de estudo das Relações-Públicas, são as organizações e seus públicos.

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Conforme remonta a história, a primeira pessoa a estruturar um escritório de Relações

Públicas foi Ivy Lee4, situado na Cidade de Nova York, nos Estados Unidos, em 1906. Seu mais

famoso cliente foi John D. Rockefeller5 que, na época, passava por uma crise de imagem, e por

meio da assessoria de Lee, teve sua imagem revertida. Começava, desde então, o mercado das

Relações Públicas6.

Para entender o que é crise pode-se parafrasear Ordunã (2004) e Augustine (2009), crise é

um acontecimento extraordinário ou uma série de acontecimentos que afeta, de forma diversa, a

integridade do produto, a reputação ou a estabilidade financeira da organização é uma mudança

repentina ou gradual, que resulta em um problema urgente a ser abordado de forma imediata.

Algumas vezes, nem existe um fato comprovado e uma empresa já está passando por uma

crise, é o que acontece com os boatos, em que uma empresa pode sofrer prejuízos financeiros

pela redução de vendas de seu produto apenas pelos boatos passados de pessoa a pessoa. Para

Garcia (2004, p. 56)

muitas vezes, uma crise é desencadeada por um boato. Não é preciso que haja um fato

comprovado para que a história se alastre. Todo mundo sabe que quando uma notícia

ruim atravessa as portas de uma empresa e ganha o conhecimento público, torna-se uma

crise, mesmo que não haja nenhuma consistência nas informações divulgadas.

Nesse caso, é necessário que a empresa reúna todas as informações necessárias sobre o

fato e comprove realmente a veracidade dos boatos ou desminta-os. Uma empresa precisa estar

sempre preparada para o enfrentamento de uma eventual crise

Se a empresa não estiver preparada para lidar com a situação, pode sofrer graves

conseqüências, já que, a partir do momento em que a crise tiver sido instaurada e

divulgada nos meios de comunicação, tomará proporções inimagináveis e fugirá

totalmente do controle (GARCIA, 2004, p. 61).

No que se refere ao preparo da DelItajaí sobre o gerenciamento de uma eventual crise, a

organização não possui nada relacionado às ações de comunicação que devem ser tomadas,em

caso de naufrágios, bem como nenhum plano de gerenciamento de crises para a área de

abrangência da mesma.

4 Considerado por alguns autores o pai das Relações Públicas.

5 Monopolizou o mercado petrolífero americano e, durante anos, foi o homem mais rico do mundo.

6 Informações: http://www.conferp.org.br/, acesso dia 18 de jun. 2009.

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Sobre o gerenciamento de crises, é possível encontrar um capítulo sobre o respectivo

assunto, no Manual de Comunicação Social da Marinha do Brasil, que fica disponível para todas

as Organizações Militares da instituição. Esse capítulo possui uma abordagem ampla e não

especifica nenhum tipo de acontecimento como os citados abaixo.

O Instituto para Gerenciamento de Crises categoriza os tipos de crises conforme as

causas, estas podem ser definidas por “atos de Deus” que podem ser acidentes naturais, que

geram problemas a serem administrados por empresas ou governos, problemas mecânicos, erros

humanos e decisões ou indecisões administrativas (MAFEI, 2004. p. 110). Já, Garcia (2004, p.

69), adiciona outros tipos de crises, podendo ajudar a definir diversos tipos de acontecimentos,

pois segundo a autora

Crises podem ser derivadas de catástrofes naturais, como enchentes, tremores de terra,

desmoronamentos, quedas de raios, entre outras, ou por problemas administrativos que

se encaixam em diferentes categorias, e as mais comuns se enquadram em: Crises de

informação (ou falta de): mal-entendidos, erro de interpretação, boatos, calúnias, ataque

dos consumidores, entre outros.Crises por fatores financeiros/ econômicos: demissão em

massa, falência, concordata, greves, redução de carga horária/ salário, entre outros.Crises

geradas por falhas humanas ou de equipamentos: queda de avião, acidentes de trabalho,

contaminação, defeitos nos produtos, explosões, vazamentos, contaminações de

produtos, incêndios [...]

Neste sentido, é possível enquadrar o naufrágio da embarcação “Anjo de Luz” na

classificação de Garcia, como uma crise gerada por falha humana ou de equipamentos, visto que,

pela análise de conteúdo um sobrevivente relata que a embarcação naufragou quando o convés

(parte interna do barco) começou a encher de água. Conforme a análise, também foi possível

verificar que segundo o Delegado da DelItajaí o Capitão-de-Fragata Edílson Vieira Salles “a

embarcação não será retirada do fundo do mar. Os depoimentos das testemunhas e dos

sobreviventes servirão como fonte para a investigação”.

Observando os diferentes tipos de crises, podemos verificar que, as organizações,

independente do seu segmento, seja ela privada, pública ou do terceiro setor, todas precisam estar

bem preparadas para enfrentar uma crise, já que nenhuma Organização está a salvo desta crise.

Porém, nem todas dão a devida importância para a administração de crises, algumas

nem ao menos sabem do alcance que determinado acontecimento pode ter em relação aos seus

públicos de interesse. Na visão de Garcia (2004 p. 61).

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quando uma empresa enfrenta uma crise, ela passa repentinamente pela ruptura de uma

imagem projetada há tempos e já equilibrada; por isso, seus componentes atravessam

momentos de grande tensão e conflito por estarem vivendo um momento perigoso, cujas

decisões afetarão o destino da empresa.

Assim sendo, quando uma organização está exposta, sua imagem fica comprometida na

mente das pessoas, principalmente aquelas que têm contato com a organização, no caso, seus

públicos. De acordo com Kunsch (2002, p. 170), “imagem é o que passa na cabeça dos públicos,

no seu imaginário [...]” sendo assim, se determinada organização possui uma imagem positiva na

mente dos seus públicos, tanto o interno quanto o externo, uma crise, se não administrada com

eficiência, pode acarretar no abalo da sua imagem

Nenhuma imagem é submetida à mente das pessoas sem que elas nunca tenham ouvido

falar da organização. A imagem é resultado da identidade que a organização transmite aos seus

públicos. Segundo Argenti (2006)

a identidade de uma empresa é a manifestação visual de sua realidade, conforme

transmitida através do nome, logomarca, lema, produtos, serviços, instalações, folheteria,

uniformes e todas as outras peças que possam ser exibidas, criadas pela organização e

comunicadas a uma grande variedade de públicos.

Sendo assim, as pessoas precisam ter na memória exatamente o que a empresa quis

transmitir, através da sua identidade, já que, na verdade, a imagem é o resultado das mensagens

transmitidas através da sua identidade. Por meio de um trabalho de planejamento de

comunicação, a empresa poderá definir qual imagem vai querer transmitir.

Sobre a imagem da DelItajaí, não foram realizadas nenhuma pesquisa de opinião com os

públicos da organização para saber se o que a imprensa informou sobre as atividades que a

organização exerceu, durante o naufrágio, e nas buscas pelos sobreviventes, abalou ou não o

posicionamento, já formado da organização.

A Comunicação na Administração de Crises

O primeiro passo para administrar uma crise é coletar as informações sobre o fato,

Quando foi? Onde foi? Quem foi? De quem é a responsabilidade? (MAFEI, 2004). Essas

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perguntas devem ser respondidas com rapidez, a fim de que todas as informações essenciais

estejam apuradas para que, quando necessário, sejam expostas à imprensa.

A escolha dos membros do comitê de crise que administrará o processo deve ser

cautelosa. Um comitê de crise serve para administrar questões problemáticas e deve ser composto

pelo presidente da organização, pelo departamento jurídico, pelas áreas de comunicação,

atendimento ao cliente, recursos humanos e o responsável pelo setor envolvido no problema

(FORNI, 2008).

Esse Comitê poderá prever as determinadas crises pelas quais a Organização pode passar,

e criar ações pré-determinadas. No caso da comunicação, podem ser criados textos-padrões que

irão facilitar os trabalhos quando uma crise estiver acontecendo. Já, o Setor Jurídico, poderá

consultar que penalizações determinada crise pode acarretar para a organização. Para Rosa (2001,

p. 134),“definir os integrantes desse comitê é uma das respostas para a crise. O comitê sinaliza os

pontos vulneráveis da organização e, com isso, define os objetivos, estratégias e táticas para

enfrentar as crises”.

A DelItajaí não formou um Comitê de Crises para gerenciar o processo, já que todas as

ações foram sendo realizadas conforme os acontecimentos, e a imprensa procurava a

organização.

Cada tipo de crise exige uma pessoa específica dentro da Organização para lidar com ela.

Se a crise for na área financeira, o diretor financeiro terá mais chances de liderar a equipe nesse

problema (ARGENTI, 2006) A definição dessa pessoa é de extrema importância, pois poderemos

definir, a partir daí, o porta-voz da Organização, “é necessário eleger um único porta-voz, que

passe credibilidade, tenha treinamento para lidar com a imprensa e conheça profundamente a

própria empresa e o problema” (FORNI, 2008, p.375). Essa pessoa será imprescindível, por isso é

necessário que ela tenha os conhecimentos necessários sobre o caso, pois ficará exposta à mídia.

Como já citado, o porta-voz da organização terá que lidar com a imprensa; um público

que, na grande maioria das vezes, estará presente durante as crises. Os jornalistas, provavelmente,

irão procurar a organização, e, um grande erro cometido pelas empresas, é deixá-los sem

informação, fazendo com que procurem outras fontes que, nem sempre são verdadeiras.

Nesse caso, a DelItajaí compare-se à teoria de crises, porque teve um porta-voz

preparado, com experiência e domínio do assunto, que, no caso foi o Delegado da organização.

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Na Marinha do Brasil, segue-se a hierarquia, quando o assunto é atender à imprensa. Somente a

pessoa com maior cargo, ou uma pessoa autorizada por ela, poderá dar entrevistas.

Muitas vezes, uma explicação plausível sobre o assunto faz com que uma matéria

negativa sobre a organização seja amenizada ou neutralizada pelos esclarecimentos prestados

(FORNI, 2008).

O trabalho dos jornalistas, durante uma crise, é de fundamental relevância, pois são eles

que irão levar todas as informações que a organização tem a passar sobre o acontecido, é preciso,

então, dar a devida importância aos profissionais da imprensa.

Ter esses profissionais como aliados e não como inimigos pode ajudar a reverter uma

situação negativa e criar uma oportunidade para a organização, por isso, faz-se necessário prestar

esclarecimentos sempre verdadeiros e tomar atitudes que comprovem essas informações.

O Delegado, como porta-voz da DelItajaí, atendeu aos veículos de comunicação,

expressando informações relevantes sobre o naufrágio, como podemos observar na análise de

conteúdo. Esse foi um ponto positivo e muito importante no gerenciamento de crise da

organização, pois todos os autores pesquisados falam do valor de atender à imprensa.

Entretanto nem todos os públicos da organização acompanharão os fatos pelos veículos de

comunicação, portanto, é importante que se priorize, no plano de gerenciamento de crises, quais

públicos são mais importantes no determinado momento, e direcionar mensagens específicas a

eles.

Após o reconhecimento do tipo de crise a ser enfrentado, e definido o porta-voz da

Organização, o Comitê de Crises ficará responsável por avisar os públicos envolvidos no

acontecimento. O critério de contato com os diversos públicos deverá ser realizado obedecendo a

uma hierarquia, dependendo da importância desse público no fato ocorrido, por exemplo:

primeiro, os diretamente afetados: vítimas intencionais ou não intencionais; segundo

funcionários, que também podem ser vítima ou virar fonte para jornalistas, terceiro, os

indiretamente afetados: vizinhos, amigos, familiares, parentes, consumidores, fornecedores,

governo..., e por último, a mídia e outros canais de comunicação externa (GARCIA, 2004).

Os públicos envolvidos na tragédia foram: os funcionários da DelItajaí, a imprensa

regional e nacional, Corpo de Bombeiros voluntários de Penha e Bombeiros Militares de Itajaí e

Barra Velha, pescadores da região, família das vítimas, Policia Mílitar, Instituto Médico Legal, e

a sociedade em geral que teve acesso às informações pela imprensa.

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De todos esses públicos citados, o Comitê de Crises deverá dar atenção especial aos

funcionários da organização que está enfrentando a crise. Forni (2008) e Rosa (2001), concordam

que esse público é de fundamental importância, devendo ser informado de todos os

procedimentos realizados pelo comitê, assim como todos os dados sobre o fato e quais as causas

que levaram ao acontecimento. O público interno não informado poderá, quando procurado pela

imprensa,comentar fatos que não aconteceram, justamente por estarem desinformados.

Sendo assim, enquadrando-se na definição de Forni e Rosa, a estagiária de Comunicação

da Organização deixou o mural interno da Delegacia atualizado, com matérias publicadas na

imprensa, para os funcionários da DelItajaí acompanharem os fatos.

Outro público que o Comitê deverá ter cuidado é com as famílias das eventuais vítimas do

ocorrido, visto que o lado emocional dessas famílias estará consideravelmente abalado, o Comitê

deverá dar atenção especial a esse público afetado. Sobre o relacionamento com os familiares das

vítimas não foi constatado nada na Análise de Conteúdo.

Algumas formas de se atingir os diversos públicos, segundo Rosa (2001, p. 142), “press-

releases; cartas; visitas; conversas telefônicas; [...] grandes encontros-assembléias; comerciais-

inserções publicitárias; coletivas; entrevistas; memorandos internos; telegrama; fax e internet”.

Cada público necessita ser informado de maneira diferente, e para poder mensurar se essas

mensagens estão chegando ao seu destino, pesquisas podem ser realizadas, assim como o

acompanhamento da clipagem para checar determinados depoimentos desses mesmos públicos. O

que não se pode fazer é simplesmente esquecê-los.

O que irá diferenciar uma organização da outra é a forma como ela tratará o seu

Gerenciamento de Crise. As empresas que se preparam antes de uma eventualidade acontecer já

saem na frente quando o assunto é crise. Por isso, faz-se necessário que todas as organizações

tenham a consciência de que não estão imunes a fatalidades, e que planejar é muito melhor do

que ter sua imagem abalada.

As Organizações Militares

As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são

instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na

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disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destina-se à defesa da Pátria, à

garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

(LAZZARINI, 2004, p. 142). No caso das organizações militares, a comunicação precisa estar

presente, divulgando as ações realizadas e trabalhando com seus públicos de interesse. Na

Marinha do Brasil existe o Centro de Comunicação Social da Marinha – CCSM que é o órgão

responsável pela gestão das atividades de comunicação social na Marinha do Brasil.

Criado em 5 de abril de 1961, o CCSM divulga, há 48 anos, as atividades da Marinha do

Brasil junto à sociedade brasileira e às mídias brasileira e internacional. Atualmente, é dirigido

por um Contra-Almirante7, fazendo parte da estrutura organizacional do Gabinete do

Comandante da Marinha, como Assessoria de Comunicação Social. Conta com 11 oficiais e 18

praças, divididos nas assessorias de Planejamento, Relações Públicas e Imprensa.

Esse Centro também produz, os anos os Planos de Comunicação Social que são enviados

através dos Distritos Navais a todas as OMs8.

Os órgãos públicos brasileiros, independente da instância, federal, estadual ou municipal,

têm como dever informar à população sobre suas ações. As Relações Públicas trabalham em

diversos órgãos governamentais e podem ser trabalhadas conforme citação de Liedtke (2002 p.

178) afirma que

Relações Públicas é o serviço que administra o relacionamento estratégico do governo

com públicos especiais. Planeja pesquisas de opinião pública. Assessora o cerimonial e

protocolo em eventos institucionais. Planeja e assessora ações de comunicação para o

público interno e externo, trabalhando integrado com os demais setores da Assessoria de

Comunicação na criação e produção de instrumentos de comunicação institucional.

Apóia na organização de eventos. Mantém uma mala-direta com cadastro e listagens de

públicos de interesse.

Nas Forças Armadas, também é possível visualizar a atividade de Relações Públicas. Na

Marinha do Brasil, de 5 de abril de 1961 até 30 de maio de 2006, só existia o Serviço de Relações

Públicas. Todas as atividades de Comunicação dessa Força eram realizadas por esse serviço. Em

2006, o Serviço de Relações Públicas foi trocado e denominado Centro de Comunicação Social

da Marinha.

7 1° Posto dos Almirantes, segue-se por Vice-Almirante e Almirante de Esquadra, cargo escolhido pelo Presidente da

República. 8 Organizações Militares

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Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí

A história da Marinha do Brasil9 em Itajaí remonta ao ano de 1931, com a nomeação do

primeiro Delegado da Capitania dos Portos, por meio de Decreto do Governo Provisório.

No dia 12 de janeiro de 2009, foi inaugurada a nova sede da Delegacia10

situada na

Avenida Prefeito Paulo Bauer, em Frente ao Mercado Público da Cidade e às margens do Rio

Itajaí-Açu, sua inauguração foi devido ao grande crescimento econômico que a Região vem

passando.

Sua jurisdição de 181 municípios faz da Delegacia a maior do Estado em todas as

atividades que exerce, tais como: fiscalização, vistoria e cadastro de embarcações. Além de

atender todas as atribuições da sua missão que se propõe a contribuir para a orientação,

coordenação e controle das atividades relativas à Marinha Mercante e organizações correlatas, no

que se refere à segurança da navegação, defesa nacional, salvaguarda da vida humana e

prevenção da poluição hídrica, atuando nos seguintes segmentos: setores portuário, pesqueiro,

esporte náutico, construção naval e petrolífero, além de manter contínua e crescente a formação

dos profissionais que atuam no mar.

Além da Delegacia em Itajaí, Santa Catarina ainda possui as Delegacias de Laguna e São

Francisco do Sul. Atualmente, a organização conta com um efetivo de 47 militares, 7

funcionários civis e 1 estagiária de Comunicação Social.

A Delegacia em Itajaí é subordinada aos 5º Distrito Naval, situado na cidade de Rio

Grande, no Estado do Rio Grande do Sul. Esse Distrito é responsável pelos estados do Rio

Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Por sua vez, todas as Organizações Militares são subordinadas ao Ministério da Marinha,

localizado em Brasília e administrado pelo Comandante da Marinha. A Marinha do Brasil é

composta por 9 Distritos Navais, 23 Capitanias, 16 Delegacias e 20 agências distribuídas em todo

o Território Nacional, além de todas as outras Organizações Administrativas e de Saúde.

9 Documento interno: escrito pelo Delegado Capitão-de-Fragata Edílson Vieira Salles, lido no dia 12 de janeiro de

2009, adaptado pela acadêmica Adriene Carlotto 10

As Capitanias dos Portos, Delegacias e Agências diferenciam-se pelo contingente de suas responsabilidades e

números de atividades. Espoca-Estágio preparatório para oficiais designados para Capitanias, Delegacias e Agências,

cap 2, p. 152.)

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Metodologia

A pesquisa bibliográfica foi realizada com revisão teórica sobre a comunicação na

Administração de Crises, na visão de diversos autores que escrevem sobre o assunto. Para Stumpf

(2006, p. 51), pesquisa bibliográfica “é o planejamento global inicial de qualquer trabalho de

pesquisa que vai desde a identificação, localização e obtenção da bibliografia pertinente sobre o

assunto [...]”.

Para identificar as matérias jornalísticas sobre o naufrágio foi realizada uma pesquisa

virtual por diversos sites, em que o principal deles foi o do Jornal A Notícia, que possibilitou a

visualização das matérias pela Internet.

A metodologia deste trabalho teve, como base, a análise de conteúdo, que, segundo

Lozano (1994, p. 141 apud FONSECA JÚNIOR, 2006, p. 286)

é sistemática porque se baseia num conjunto de procedimentos que se aplicam da mesma

forma a todo o conteúdo analisável. É também confiável- ou objetiva- porque permite

que diferentes pessoas, aplicando em separado as mesmas categorias à mesma amostra

de mensagens, possam chegar às mesmas conclusões.

Desta forma, foram analisadas as matérias jornalísticas do Jornal A Notícia, da cidade de

Joinville, no período de 23 a 28 de junho de 2008. Após a análise de outros veículos de

comunicação da Região que cobriram o fato, foi escolhido o referido Jornal por estar mais

completo, em relação às informações e por apurar, com mais detalhes o naufrágio, o que

possibilitou o cumprimento dos procedimentos da análise de conteúdo.

O método utilizado na pesquisa foi o monográfico, pois consiste “num estudo de

determinados indivíduos, profissões, condições, instituições, grupos ou comunidades, com a

intenção de obter generalizações” (MARCONI; LAKATOS, 2006, p. 108). Neste caso, o estudo

será baseado na Comunicação na Administração de Crises no naufrágio da embarcação “Anjo de

Luz”.

O procedimento aplicado foi o qualitativo, por ser o mais adequado ao objetivo principal

do trabalho, que é o de comparar estratégias de comunicação; nesse caso, deixa-se de lado a

quantidade de informações, mas prioriza-se a qualidade destas.

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Naufrágio Anjo de Luz

O naufrágio da embarcação “Anjo de Luz”, como ficou conhecida a tragédia, que levou

morte de seis pessoas, na Cidade de Balneário Piçarras11

, no Estado de Santa Catarina, ocorreu no

dia 21 de junho de 2008, por volta das 21 horas. A tragédia aconteceu a 12 km das Ilhas

Itacolomi e Feia12

, o local fica a 20 km da Costa.

A embarcação começou a naufragar quando o convés (parte interna do barco) começou a

encher de água. Segundo o Delegado da Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí, Edílson

Vieira Salles, o barco Anjo de Luz era impróprio para o transporte de passageiros.

A intenção dos 7 amigos que alugaram o barco na Marina de Piçarras e que foi

acompanhada pelo dono da embarcação, era ir pescar em alto-mar, na Ilha de Tamboretes, em

São Francisco do Sul, a 40 km de Piçarras .

As buscas foram realizadas pelo Corpo de Bombeiros Militar de Piçarras, pela Marinha

do Brasil, com responsabilidade da Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí, com a ajuda de

um helicóptero da Polícia Militar de Joinville e pescadores da Região.

A embarcação tinha, como proprietário, Sérgio Luiz Witkovski, morador do bairro Nossa

Senhora da Paz, da cidade de Balneário Piçarras, do Estado de Santa Catarina. O barco era do

tipo pesqueiro, com estrutura de madeira, com 11,50 metros de comprimento. O barco

comportava 2 tripulantes com segurança, e foi construído no ano de 1993, no Estaleiro Itajaí.

Procedimentos de Coleta de Dados

Para a realização deste artigo, primeiro foi verificada a clipagem da DelItajaí, para

encontrar as matérias sobre o naufrágio. Foram encontradas matérias de diversos veículos de

comunicação, e, na sua maioria do Jornal Diário do Litoral, popularmente conhecido como

11

Situada no litoral norte de Santa Catarina, a 110 quilômetros da capital do estado, Florianópolis. 12

A Ilha de Itacolomi, que em tupi-guarani significa filho da pedra, é formada por dois rochedos, a cerca de 7 km da

praia, local próprio para a reprodução de aves marinhas. A ilha Feia é uma reserva de Mata Atlântica e esconde

algumas trilhas e duas grutas, uma delas chamada Caverna do Diabo.

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DIARINHO. Optou-se, então, por trabalhar com esse Jornal. Porém, ao verificar a clipagem,

surgiu a dúvida se esta estava completa.

Sendo assim, partiu-se para a pesquisa no Arquivo Histórico de Itajaí, que contém arquivo

do Jornal Diarinho. Esta pesquisa realizou-se no dia 03 de abril. Após leitura de todas as matérias

sobre o naufrágio, observou-se que não estavam completas, a ponto de auxiliar na análise de

conteúdo.

Partiu-se, então, para a observação de outros veículos de comunicação, como Jornal do

Meio Dia da Ric Record, Jornal do Almoço da RBS TV, Jornal Diário Catarinense e Jornal A

Notícia on line. Verificou-se que o Jornal A Notícia era o mais completo para aplicar o

procedimento de análise de conteúdo, depois de procurar as matérias, no mês do naufrágio, junho

de 2008, foram encontradas:

DATA EDITORIA INSERÇÕES

NA CAPA

INSERÇÕES

NA

CONTRACAPA

NÚMERO DE

MATÉRIAS

23/06 GERAL SIM 05

24/06 GERAL SIM 11

25/06 GERAL SIM 02

26/06 GERAL SIM 01

27/06 GERAL 01

28/06 GERAL SIM 02

Quadro 1- Relação das inserções sobre o naufrágio da embarcação “Anjo de Luz”, no mês de

junho de 2008 no Jornal A Notícia. Fonte: Elaborado pela Acadêmica.

Dos dias 23 a 28 de junho de 2008, foram encontradas 22 matérias, todas inseridas na

Editoria Geral; de 23 a 25 continham chamada na capa do Jornal e, nos dias 26 e 28, as chamadas

para as matérias foram inseridas na contracapa, somente no dia 27, não teve chamada para a

matéria, nem na capa nem na contracapa do Jornal.

Análise de Conteúdo

Após a seleção das matérias a serem analisadas, foi colocado em prática o instrumento de

sistemática da análise dos dados de Roberto Porto Simões (1998), com as seguintes perguntas:

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1 Qual é o fato?

O naufrágio da embarcação Anjo de Luz, como ficou conhecida a tragédia, que levou à

morte seis pessoas, na cidade de Balneário Piçarras, no Estado de Santa Catarina. Ocorreu no dia

21 de junho de 2008, por volta das 21 horas. A tragédia aconteceu a 12 km das Ilhas Itacolomi e

Feia, o local fica a 20 km da Costa.

A embarcação começou a naufragar quando o convés (parte interna do barco) começou a

encher de água. Segundo o Delegado da Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí, Edílson

Vieira Salles, o barco Anjo de Luz era impróprio para o transporte de passageiros.

2 Qual é a dimensão de direcionamento da notícia?

Nas matérias publicadas pelo Jornal A Notícia, da Cidade de Joinville, o enfoque no

primeiro momento era registrar as possíveis causas para o acidente, quem eram os sobreviventes

e quem participou das buscas. Num segundo momento, o enfoque era as buscas pelo último

passageiro do barco, que até o dia 28 de junho, quando foi o último dia de matérias publicadas no

Jornal, o corpo não tinha sido encontrado.

3 Esta matéria é opinativa?

Não consta a opinião de quem a redigiu.

4 Esta notícia consta em outros veículos?

Sim, foram publicadas matérias em vários veículos de comunicação, tais como: Folha de

São Paulo, Diarinho, da Cidade de Itajaí, RBS TV, de Blumenau, Ric Record, de Itajaí.

5 Qual a organização em foco nos acontecimentos?

A organização a ser analisada é a Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí (A Marinha

do Brasil na região)

6 Que outros fatos sobre a organização você conhece e que estejam relacionados com este?

O Jornal não apresenta nenhum caso de naufrágio anterior.

7 Quais os públicos da organização explícitos neste fato

Marinha do Brasil, Corpo de Bombeiros voluntários de Penha, Militares de Itajaí e Barra

Velha, pescadores da Região, família das vítimas, Policia Mílitar, Instituto Médico Legal,

imprensa nacional, sociedade em geral, que teve acesso às informações pela imprensa.

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8 Quais as prováveis causas imediatas do fato?

A embarcação estava com excesso de passageiros, quando, no normal, só poderia estar

com 02 pessoas. Acredita-se que seja essa uma das causas do acidente, já que a embarcação não

foi encontrada para avaliação das reais causas.

9 Quais os públicos afetados e que afetam diretamente os fatos?

A família das vítimas e os funcionários da organização.

10 Quais são os públicos afetados e que afetam indiretamente os fatos?

A sociedade em geral, pois acredita-se que a imagem da Delegacia foi abalada, e

associações de pesca de Balneário Piçarras, pois o proprietário da embarcação era conhecido por

muitas pessoas na área da pesca.

11 Qual a ação da organização geradora dos acontecimentos?

A DelItajaí nesses casos é responsável pelo socorro e salvamento no mar.

12 Como esta ação se vincula com a legitimidade da decisão organizacional?

Para a sociedade em si, a Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí tem como objetivo

zelar pela vida das pessoas no mar.

13 Em face de tudo isto, como fica a credibilidade da organização? Para melhor ou para

pior?

Depois de quase um ano do naufrágio, acredita-se que a credibilidade da organização seja

boa, porém, nos meses seguintes ao naufrágio, ela pode ter ficado abalada na mente das pessoas.

14 Qual a fase do processo do conflito iminente no sistema organização-público (latente ou

manifesta?)

Por parte da família, o processo ainda está em manifesto, pela sociedade, creio que esteja

superado.

15 Esta notícia está sob controle da organização ou foi explorada espontaneamente pela

mídia?

Os fatos apareceram na mídia primeiro pelo jornalismo investigativo, e somente depois,

pela procura da imprensa, a Delegacia se manifestou.

16 O fato insere-se somente em âmbito da micropolítica ou já atingiu o da macropolítica?

Somente na esfera micropolítica.

17 Quais as implicações desta notícia para a organização?

As notícias do Jornal A Notícia são neutras, nem defendem a Delegacia nem acusam.

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18 Que pode a organização fazer em relação a esta notícia?

A Delegacia poderia ter prestado mais auxílio perante os familiares, colocando-se à

disposição de qualquer dúvida. Em relação à imprensa, ter feito uma coletiva, atendendo a todos

com informações relevantes à população. Poder-se-ia ter sido demonstrada maior preocupação e

comoção com a tragédia, e que todos estariam fazendo o possível para saber as causas do

acidente e localizar os sobreviventes.

Conclusão

Um dos principais erros cometidos pelas organizações não preparadas para o

enfrentamento de crises, é acreditar que, somente notas publicadas em jornais e revistas ou

coletivas de imprensa poderão atingir todos os públicos envolvidos no acontecimento. Cada

público tem uma necessidade de saber sobre o fato, algumas organizações nem ao menos tentam

manter esse contato, apenas atendem a imprensa, achando suficiente essa retratação.

Conclui-se então que, a DelItajaí poderia ter executado algumas ações de comunicação

que não foram realizadas com os seus públicos de interesse. Foi constatado que o Delegado da

organização atendeu à imprensa, o que foi citado como ponto positivo, poder-se-ia, também, ter

realizado uma coletiva de imprensa, pois o caso repercutiu nacionalmente, e um número

significativo de jornalistas procurou a organização. Com a coletiva, o Delegado poderia atender

um número maior de jornalistas e unificar o discurso.

Percebe-se a ausência de uma clipagem completa, e não apenas de um jornal local, como

acontece na Delegacia, a clipagem pode auxiliar no acompanhamento dos fatos e de opiniões

transmitidas por familiares ou jornalistas durante os acontecimentos.

Com os funcionários, poderia ter sido feita uma reunião geral, para explicar sobre o fato,

já, para as famílias, o apoio deveria ter sido mais intenso, a ajuda de uma psicóloga orientando as

famílias e uma reunião com elas, explicando todos os passos das buscas.

E, depois de alguns dias, após o término da repercussão na imprensa, uma pesquisa de

opinião para saber se a imagem foi abalada ou não, pelos públicos da Delegacia.

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18

Todas essas ações poderiam estar unificadas num plano de gerenciamento de crise pré-

-estabelecido. Se a organização já tivesse um plano de gerenciamento de crises, todas ou a

maioria das ações de comunicação já estariam descritas.

Sendo assim, leva-se em consideração que não existia um plano de crises, logo, não

houve um Comitê de Gerenciamento, o que poderia ter facilitado todo o processo, uma vez que as

ações de comunicação iam sendo executadas, conforme os acontecimentos.

Podemos observar que, ao invés de despreparada, a administração da organização poderia

estar desinformada sobre quais ações de comunicação colocar em prática naquele determinado

momento, e para quais públicos dirigir suas mensagens.

A análise de conteúdo foi muito importante, pois, forneceu informações relevantes para

fazer a comparação entre teoria e prática, objetivo geral deste artigo.

Verificou-se através das matérias, dados sobre o naufrágio, tipo de embarcação, e todos os

detalhes que ocorreram naquela data conforme o depoimento dos sobreviventes.

Nenhum jornalista responsável pelas informações teceu comentários sobre o acidente, o

que elimina a possibilidade desse comentário gerar controvérsia na mente dos leitores.

Como o jornal traz entrevistas com o Delegado da organização, através destas pode-se

verificar as possíveis causas do acidente, e enquadrá-las na Teoria de Administração de Crises

conforme Garcia (2004) como uma crise gerada por falha humana ou de equipamentos, já que

também através da análise de conteúdo, um sobrevivente relatou que a embarcação começou a

naufragar quando o convés (parte interna do barco) começou a encher de água.

Todas as informações retiradas da análise de conteúdo ajudaram no embasamento deste

artigo, pode-se então avaliar como um método de pesquisa significativo quando se precisa

analisar informações.

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