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Celeste Maria Ferreira Cabo Verde A Comunicação Oral na Sala de Aula Relatório de Estágio de Mestrado em Ensino de Português e de Línguas Clássicas no 3.º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário ou de Língua Estrangeira (Espanhol) nos Ensinos Básico e Secundário SETEMBRO, 2011

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Celeste Maria Ferreira Cabo Verde

A Comunicao Oral na Sala de Aula

Relatrio de Estgio de Mestrado em Ensino do Portugus e de Lnguas Clssicas no 3. Ciclo do

Ensino Bsico e no Ensino Secundrio ou de Lngua Estrangeira (Espanhol) nos Ensinos Bsico e Secundrio

SETEMBRO, 2011

Celeste Maria Ferreira Cabo Verde

A Comunicao Oral na Sala de Aula

Relatrio de Estgio de Mestrado em Ensino de Portugus e de Lnguas Clssicas no 3. Ciclo do Ensino

Bsico e no Ensino Secundrio ou de Lngua Estrangeira (Espanhol) nos Ensinos Bsico e Secundrio

SETEMBRO, 2011

A Comunicao Oral na Sala de Aula

Relatrio de Estgio apresentado para cumprimento dos requisitos necessrios

obteno do grau de Mestre em Ensino de Portugus e de Lnguas Clssicas no

3 Ciclo do Ensino Bsico e no Ensino Secundrio ou de Lngua Estrangeira

(Espanhol) nos Ensinos Bsico e Secundrio realizado sob a orientao

Cientfica da Professora Doutora Maria do Carmo Vieira da Silva.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

Dedicatria pessoal Para a minha famlia que sempre me apoiou.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

AGRADECIMENTOS

Professora Doutora Maria do Carmo Vieira da Silva, Orientadora do presente

relatrio, pela partilha de conhecimentos, encorajamento e disponibilidade, que se

revelaram fulcrais no desenvolvimento do presente relatrio.

Professora Conceio Moreira, delegada do Departamento de Lnguas, pela

sua orientao e apoio.

Professora Teresa Gato, Orientadora de Portugus, pela presena e

disponibilidade.

A Professora Carina Dangues, Orientadora de Espanhol, pelo acompanhamento

e conselhos.

Ao Dr. Jorge Lemos, ex-diretor do Colgio CED de Pina Manique, pelo seu apoio

determinante para o incio de todo o processo da Prtica de Ensino Supervisionada.

Ao Professor Doutor Alberto Madruga, Orientador de Espanhol, pela orientao

e conselhos.

Professora Neus Lagunas, Orientadora de Espanhol, pela ajuda.

A toda a Comunidade Educativa do CED de Pina Manique pela simpatia e

ateno que sempre me dedicaram.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

DECLARAO

Declaro que este Relatrio se encontra em condies de ser apreciado pelo jri a designar.

A candidata,

_____________________________________________________________

Lisboa,.... de ..................... de ............

Declaro que este Relatrio se encontra em condies de ser apreciado pelo jri a designar.

A orientadora,

________________________________________________________________

Lisboa,.de ................ de ............

A Comunicao Oral na Sala de Aula

RESUMO

Relatrio da Prtica de Ensino Supervisionada

Celeste Maria Ferreira Cabo Verde

PALAVRAS-CHAVE: Mestrado em Ensino, Ensino de Portugus, Ensino de Espanhol,

Comunicao.

Este relatrio constitui a reflexo da prtica de ensino supervisionada que

decorreu durante o ano letivo 12010/2011, no CED de Pina Manique, em Lisboa, sob a

Orientao Cientfica da Professora Doutora Maria do Carmo Vieira da Silva.

A minha prtica pedaggica ocorreu na disciplina de Portugus com duas

turmas, uma de 12ano e outra de CEF, equivalente ao nono ano. Tambm lecionei

Espanhol, A2, a uma turma de um curso profissional, equivalente ao 12ano.

Na disciplina de Portugus, a oralidade constituiu uma competncia nuclear e

foi trabalhada nas suas diferentes vertentes - a compreenso, a expresso oral e a

interao.

O presente relatrio tem como objetivos: identificar problemas relacionados

com a oralidade na sala de aula e apresentar estratgias/atividades para o

desenvolvimento dessa competncia, na lngua materna e numa lngua estrangeira, o

espanhol.

1 Este Relatrio foi escrito de acordo com o Acordo Ortogrfico.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

ABSTRACT

PRE-SERVICE TEACHER TRAINING REPORT

Celeste Maria Ferreira Cabo Verde

KEYWORDS: Master degree on the teaching, Portuguese at the High School, Spanish at

the High School, communication.

This report is a reflection of all teaching activities throughout the school year of

2010/2011, at Pina Manique High School, Lisboa, under the Science Advisor of Teacher

Doctor Maria do Carmo Vieira da Silva.

The supervised teaching occurred in the discipline of Portuguese, 12th grade

and a professional course named CEF level II. I also taught Spanish, A2, to a

professional class, corresponding to the 9th grade.

Oral communication is essential and this aspect must be trained in different

aspects such as comprehension, talking and interacting.

This presservice teacher training report has two main purposes: identify

problems related with the oral communication and therefore present strategies and

activities that may develop oral communication also in a foreign langua

A Comunicao Oral na Sala de Aula

NDICE

Introduo .1

Captulo I: Enquadramento Institucional

I. 1. Caracterizao da Escola Cooperante 3

I. 2. Histria da Instituio ..4

I. 3. Caracterizao da Comunidade Educativa .5

Captulo II: A Comunicao Oral

II. 1. A Compreenso Oral 6

II. 2. A Interao Oral. .8

II. 3. A Expresso Oral..9

II. 3.1. A Componente Paraverbal da Exposio Oral.12

II. 4. A Comunicao Oral na Lngua Estrangeira ..13

Captulo III: Prtica de Ensino Supervisionada

III. 1. Observao de Aulas ..21

III. 1.1. Observao das Aulas da Orientadora de Portugus ..21

III. 1.1.1. As Aulas de Portugus do 3PF..21

III. 1.2. Observao das Aulas da Orientadora de Espanhol..22

III. 1.2.1. As Aulas de Espanhol do 2 PK22

III. 2. Lecionao de Aulas 23

III. 2.1. Aulas de Lngua Portuguesa ..23

III. 2.1.1. Memorandum . ..23

III. 2.1.2. Caracterizao das Turmas 24

III. 2.1.3. Mtodo de Trabalho ..25

III. 2.1.4. Materiais .27

III. 2.1.5. A Oralidade 31

III. 2.2. Aulas de Espanhol .37

III. 2.2.1. Caracterizao da Turma ...37

A Comunicao Oral na Sala de Aula

III. 2.2.2. Mtodo 37

III. 2.2.3. Materiais ...38

III. 2.2.4. A Oralidade ..43

III. 2.3. Participao nas Atividades da Escola.47

III. 2.3.1. Reunies dos Grupos Disciplinares 47

III. 2.3.2. Plano Anual de Atividades..47

III. 2.3.3. Atividades do CED de Pina Manique ..49

III. 2.3.4. Secretariado..50

Captulo IV: Anlise e Reflexo Crtica

sobre a Prtica de Ensino Supervisionada 51

Captulo V: Concluso .53

Bibliografia .54

Anexos 57

Anexo 1: Memorandum l

Anexo 2: Planificaes de Portugus .lll

Anexo 3: Materiais de Portugus ...Vll

Anexo 4: Planificaes de Espanhol .XXIII

Anexo 5: Materiais de Espanhol ..XXXIII

Anexo 6: Secretariado ...LXI

A Comunicao Oral na Sala de Aula

LISTA DE ABREVIATURAS

CED Centro de Educao e Desenvolvimento

CEF Curso de Educao e Formao

A Comunicao Oral na Sala de Aula

1

INTRODUO

Desde os primrdios da humanidade, houve sempre a necessidade de

comunicar.

Houve uma evoluo incomensurvel desde a comunicao por gestos,

pinturas, danas at s lnguas, tal como hoje as conhecemos.

Ora, as lnguas constituem cdigos elaborados que permitem essa necessidade

to bsica, comunicar. Ao mesmo tempo, elas identificam um povo, visto que pertence

a determinada comunidade e constitui um trao de unio. Da que Fernando Pessoa

tenha afirmado: A minha Ptria a Lngua Portuguesa.

A Lngua Portuguesa falada nos cinco continentes e a lngua oficial de oito

pases Angola, Brasil, Cabo Verde, Moambique, Portugal, So Tom e Prncipe e

Timor-leste. Alguns estudos situam o nosso idioma entre a quinta lngua mais falada no

mundo, pois falada por mais de 250 milhes de pessoas.

No nosso quotidiano, ouvimos por vezes reportagens sobre emigrantes e

constatamos que a lngua pode ser efetivamente aquele trao de unio. Os emigrantes

portugueses procuram conviver e manter as suas prprias tradies.

A par desta identificao com uma lngua, existe atualmente o gosto pela

aprendizagem de lnguas estrangeiras. Vivemos numa Europa multicultural, que

procura estar unida. Nesse sentido, existem vrios factos: facilidades nos intercmbios

culturais (o programa Erasmus um exemplo), permanecem algumas ofertas de

trabalho de pases da Europa e verifica-se uma maior aproximao entre os povos,

tambm facilitada pelas novas tecnologias como a Internet.

Falar uma habilidade natural e socialmente o homem aprende formas de usar

a lngua nas situaes comunicativas concretas. A escola uma instituio social onde

ocorre uma importante aprendizagem, sendo o meio envolvente do estudante

tambm determinante. A escola pretende preparar o aluno para exercer o seu papel

de cidado ativo na sociedade. Logo, importante que o aluno se saiba expressar com

confiana, fluncia e correo lingustica nas diferentes situaes comunicativas.

Os aspetos referidos mostram que pertinente estudar a comunicao oral na

sala de aula. O domnio de capacidades de comunicao oral pressupe que se realize

trabalho em trs grandes reas: a compreenso, a interao e a expresso.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

2

O presente relatrio estrutura-se em quatro captulos, a que se acrescenta a

bibliografia e os anexos.

No primeiro captulo, Enquadramento Institucional, apresenta-se a

caracterizao da Escola Cooperante (localizao, descrio do espao fsico, e um

pouco da sua histria). Tambm descrita, em termos gerais, a Comunidade

Educativa.

O segundo captulo dedicado investigao terica que realizei. Deste modo, o

captulo est subdividido em compreenso oral, a interao, a expresso oral

(incluindo a componente paraverbal) e a especificidade da comunicao oral na lngua

estrangeira.

No terceiro captulo, Prtica de Ensino - Supervisionada, abordo duas prticas

letivas. Primeiro, descrevo as aulas das Orientadoras e fao tambm uma reflexo

sobre as mesmas. Depois, segue-se a Lecionao das Aulas, que contm o meu

trabalho desenvolvido com as trs turmas (3PF, CEF- nvel2 e 2PK). Este ponto est

dividido em quatro tpicos: caracterizao das turmas, o mtodo de trabalho, os

materiais usados nas aulas e a comunicao oral trabalhada com os alunos.

Ainda no terceiro captulo, indico a minha participao nas atividades da Escola

Cooperante, bem como nas atividades dos dois grupos disciplinares, Portugus e

Espanhol.

O quarto captulo consiste na reflexo crtica da minha Prtica de Ensino

Supervisionada. Segue-se a concluso e por fim, indico a bibliografia e os anexos.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

3

CAPTULO I: ENQUADRAMENTO INSTITUCIONAL

I. 1. Caracterizao da Escola Cooperante Lecionei no colgio designado CED de Pina Manique, que se

situa em Belm, zona ocidental da cidade de Lisboa.

A zona de Belm sempre foi muito apreciada pela sua

riqueza histrica, de que so testemunhas monumentos famosos (o Mosteiro dos

Jernimos, a Torre de Belm e o Padro dos Descobrimentos) ou museus (Museu dos

Coches e Museu da Marinha). Nesta zona, existe ainda o Centro Cultural de Belm.

O Colgio pertence a uma instituio, a Casa Pia de Lisboa, que regula vrios

colgios, sendo o Colgio de Pina Manique o maior de todos. No lado direito da ampla

rea do Colgio, funcionam os servios centrais da Instituio.

O CED de Pina Manique tem oito pavilhes. Seis deles tm os nomes seguintes:

Francisco Margiochi, Alfredo Soares, Francisco Dias, Artur Bivar, Anastcio da Cunha e

Janurio Barreto. Os outros dois pavilhes so o da Mecnica e o da Serralharia.

Nesses espaos funcionou, no ano letivo 2010/2011, uma ampla variedade de

cursos Tcnico-Profissionais, cuja durao era de trs anos. Os alunos estavam

agrupados em Aes, o equivalente a turmas.

Fotografias 1, 2 e 3 : O Colgio Pina Manique (dois planos) e o Centro Cultural Casapiano.

A par dos cursos referidos, foram ministrados Cursos de Educao e Formao,

que contaram com sete Aes.

No incio da prtica de ensino supervisionada, constatei que em quase todos os

pavilhes havia uma sala denominada Espao Teu. Tratava-se de uma grande rea que

A Comunicao Oral na Sala de Aula

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reunia uma biblioteca, um espao com televiso e vdeo, e ainda um outro espao com

computadores e com ligao Internet.

I. 2. Histria da Instituio

Com o decorrer do tempo, procurei conhecer a histria do Colgio e da prpria

Instituio. Deste modo, descobri que a Casa Pia foi fundada a 3 de julho de 1780 pelo

Intendente de Polcia Diogo Incio de Pina Manique. Desde o incio, pretendeu acolher

crianas e jovens com carncias scio econmicas, em especial os atingidos pela crise

causada pelo terramoto de 1755.

A Casa Pia teve grandes oficinas que eram centros de produo e formao

profissional. Dali saram produtos para a marinha e para o exrcito. Alm das oficinas,

havia tambm um laboratrio, onde os melhores alunos desenvolveram investigaes

e produziram alguns medicamentos.

Na Casa Pia, foram lecionadas aulas de Anatomia, que permitiram a formao

cientfica das primeiras parteiras. Com a morte do seu fundador, Pina Manique, a

Instituio sofreu uma reduo no acolhimento e formao profissional de jovens.

Em 1833, a Casa Pia mudou-se para o Mosteiro dos Jernimos. A Instituio

passou a receber um ensino agrcola, comercial e industrial. Depois, comeou a

trabalhar com os estabelecimentos oficiais de assistncia segunda infncia e recebeu

deficientes mentais.

Atualmente, a Casa Pia de Lisboa continua a acolher crianas e jovens

desfavorecidos. A estes oferece ainda uma diversidade de atividades ldicas como o

desporto, a msica, as expresses dramtica, artstica e visual.

No ano de 2000, foi inaugurado o Centro Cultural Casapiano. Este espao

cultural rene o esplio artstico e cultural da Casa Pia de Lisboa. No seu interior,

existe o museu, a biblioteca Csar da Silva, o arquivo histrico, o auditrio Rainha

Santa Isabel com capacidade para cento e quinze pessoas e espaos para exposies

temporrias. A biblioteca est aberta ao pblico.

Ao longo da histria da Casa Pia, vrias pessoas foram determinantes na sua

evoluo. Os nomes dos pavilhes do CED de Pina Manique constituem uma grande

homenagem ao trabalho de algumas personalidades.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

5

Assim, o pavilho Anastcio da Cunha pretende recordar Jos Anastcio da

Cunha que foi nomeado regente de estudos por Pina Manique (o fundador da

Instituio) e elaborou o plano curricular e o regulamento interno da Casa Pia.

Anastcio da Cunha foi tambm um poeta, matemtico e professor da Universidade de

Coimbra.

Francisco Margiochi foi provedor da casa Pia, nos finais do sculo XIX, e foi

nesta poca que a Instituio alargou as suas instalaes para os terrenos anexos ao

Mosteiro dos Jernimos. Um dos pavilhes do CED de Pina Manique tem o seu nome.

Por fim, destaco o trabalho de outra figura histrica de relevo. Antnio Aurlio

da Costa Ferreira, mdico e pedagogo eminente, foi o primeiro diretor da Casa Pia,

uma vez que este novo cargo substituiu o de provedor. Dedicou-se s crianas com

necessidades educativas especiais e realizou esforos no sentido de criar o ensino de

surdos-mudos, visando a sua integrao social. Em sua homenagem o Instituto

Mdico-Pedaggico (que ele prprio fundou) passou a designar-se Instituto Antnio

Aurlio da Costa Ferreira.

I. 3. Caracterizao da Comunidade Educativa

No incio do ano letivo de 2010/2011, havia novecentos e oito alunos

distribudos pelos vrios Cursos Profissionais e Cursos de Educao e Formao.

O quadro administrativo do Colgio tinha, em setembro de 2010, cento e

quarenta e nove docentes, dezassete tcnicos administrativos superiores e trinta e

oito auxiliares.

No ms de outubro de 2010, fui colocada no CED de Pina Manique como

docente de Espanhol, funo que eu exercera tambm no ano letivo anterior

(2009/2010), no mesmo Colgio, onde tinha desenvolvido laos profissionais e

tambm humanos extremamente relevantes para o meu desempenho como docente.

Quando iniciei a prtica de ensino supervisionada no Colgio, sentia-me

portanto perfeitamente integrada na Comunidade Educativa. Conhecia todo o grupo

de Espanhol e tambm a maioria dos colegas em especial do Departamento de Lnguas

A Comunicao Oral na Sala de Aula

6

e os Coordenadores das Aes (ou turmas), dado que o Colgio procura manter o

mesmo corpo docente ao longo do curso profissional.

Neste ano letivo, o grupo de Espanhol tinha cinco docentes, todas do sexo

feminino. Entre elas estava a Representante do grupo de Espanhol que tambm foi

orientadora de estgio de duas professoras do grupo, a minha colega Liliana Fernandes

e eu, Celeste Cabo Verde. O grupo de Espanhol era relativamente novo, j que os

docentes se situavam na faixa etria dos trinta aos quarenta anos.

Por outro lado, o grupo de Portugus era relativamente maior. A Coordenadora

do Departamento de Lnguas era a professora Conceio Moreira, que tambm foi

orientadora de estgio do ncleo. A minha orientadora de Portugus foi a professora

Teresa Gato.

A par da lecionao s turmas das Orientadoras, trabalhei com outras turmas,

que me tinham sido atribudas aquando da colocao no Colgio (no ms de outubro).

O meu horrio letivo era constitudo por oito turmas, correspondendo ao dcimo,

dcimo - primeiro e dcimo - segundo anos, ou seja, A1, A2 e B1 da lngua espanhola.

CAPTULO II: A COMUNICAO ORAL II. 1. A compreenso oral

Falar uma necessidade, escutar uma arte. - Johann Goethe

Para haver compreenso oral, necessrio saber ouvir. Ouvir a voz um processo que

passa por vrias etapas e que regulado por regras de organizao. Ouvir depende,

em primeiro lugar, da criao de condies para que isso acontea, como por exemplo

a ausncia de rudo ou a no sobreposio de voz de dois locutores.

No incio do ano letivo, o professor deve fixar, em conjunto com os alunos, as

regras bsicas de comunicao, que devem ser respeitadas por todos. Caber ao

professor observar atentamente o cumprimento das regras, para que se mantenha, na

sala de aula, um clima propcio aprendizagem.

O ouvir uma capacidade que deve ser aprendida (Lugarini, 2003). Existem

vrios nveis do ouvir: o distrado ou superficial; o atento (motivado por sentir que

A Comunicao Oral na Sala de Aula

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algo til ou interessante); o orientado (conhece a finalidade); o criativo; e o crtico

(realiza-se apenas quando se conhece o tema).

O professor deve guiar o aluno do ouvir distrado ao ouvir crtico. O que deve

ento fazer na aula? Lugarini (2003) considera que o professor deve: apresentar as

tarefas de forma clara e com interesse, procurando ir ao encontro do aluno; dar

indicaes, antes de ouvir, sobre o tema e o objetivo; prestar mais ateno ao aluno e

verificar se ele compreende a informao; procurar conhecer o aluno e saber o seu

nvel de conhecimentos; reconstruir a ordem lgica das ideias ouvidas; dar as ideias

centrais ou fornecer os exemplos.

Um aluno s ouve quando est concentrado e interessado. Da, a importncia

de envolver o aluno no processo de ensino - aprendizagem. O professor pode

conseguir essa relao, partindo do mundo de conhecimentos e gostos do aluno.

Assim, o discente pode apresentar a sua opinio sobre dado assunto ou dizer as suas

expectativas quanto a determinado tema.

Segundo Pavoni (1982), o processo da educao do ouvir desenvolve-se em trs

fases complementares: a pr-audio, a audio e a ps-audio.

Ouvir as expectativas do aluno fundamental e esta corresponde primeira

fase do ouvir, a fase da pr-audio.

Numa segunda fase, o aluno ouve uma mensagem, que pode surgir em

suportes diversos como registos udio, vdeo ou at a explicao oral do professor. De

seguida, o professor avalia a compreenso oral do aluno e pode solicitar-lhe que

resolva um questionrio ou reformule verbalmente o que entendeu. Estas so apenas

duas hipteses, pois existem muitas formas de avaliar a compreenso oral.

Na fase final, a ps-audio, e ainda de acordo com Pavoni (1982), o aluno

procurar integrar a nova informao em atividades como o escrever, o ler ou atuar.

Tal s acontece se o aluno tiver entendido a mensagem verbal.

De acordo com Sousa (2006), as atividades designadas de escuta ativa tm

sido consideradas como uma excelente forma de promover e aperfeioar a receo

oral. Antes da audio, o aluno recebe informao sobre dado tema e toma

conhecimento dos aspetos que deve apreender.

Um exemplo de atividade de escuta ativa pode incidir sobre os textos

informativos como os blocos noticiosos de rdio e televiso. Assim, o professor pediria

A Comunicao Oral na Sala de Aula

8

ao aluno a recolha de aspetos como: a extenso de cada notcia, as fontes e

testemunhos utilizados, a objetividade versus subjetividade, os contedos abordados,

entre outros aspetos.

Ao usar uma gravao udio ou vdeo, o professor utiliza um recurso diferente

e tal aspeto muito importante para dinamizar as atividades letivas.

Convm referir que o professor deve treinar primeiro este tipo de atividades de

escuta ativa atravs de situaes de oral informal como dilogos ou sesses de

exposio, realizadas na aula. Assim, o aluno conhecer o mtodo e objetivos da

atividade e os novos recursos (como o vdeo) sero produtivos. No final da atividade, o

aluno apresentar oralmente as suas ideias e o seu desempenho oral estar mais

enriquecido.

Na participao oral, o professor deve ter em conta que o aluno sente, muitas

vezes, receio de errar perante a turma. Nesse sentido, o professor deve solicitar

participao turma inicialmente. Com o conhecimento da turma, o professor pode

colocar questes mais acessveis a alunos com algumas dificuldades ao nvel da

compreenso para que os discentes no se inibam de participar.

A compreenso oral deve ser avaliada, tendo por base competncias como as

seguintes: participao verbal, reflexo sobre a informao captada, relacionamento

da informao captada com outras informaes e com a prpria experincia,

apreenso de sentidos implcitos e apreenso da atitude do locutor face ao que

enuncia.

II. 2. A Interao Oral

Nos nossos dias, a interao oral constitui a maneira mais eficaz de

desenvolver a expresso oral. Trata-se tambm de uma metodologia extremamente

importante, que coloca o aluno no centro do processo.

Interao significa prtica comunicativa em pares ou grupos, pelo que os

alunos dialogam uns com os outros, trocam opinies e todos os alunos participam nas

atividades, mesmo os mais reservados. Compete ao professor assumir o papel de

regulador da interao verbal: dever a aula de lngua criar espaos de interao

verbal, atravs de dilogos, discusses e debates, imperativos para a formao de

A Comunicao Oral na Sala de Aula

9

cidados livres, emancipados, responsveis e autodeterminados (in Programa de

Portugus 10, 11 e 12 anos, Cursos Cientfico - Humansticos e Cursos Tecnolgicos,

p. 18).

A aula de lngua deve ser mais participativa e menos expositiva da parte do

professor. A aula tradicional, em que o professor expunha conhecimentos, no deve

ocorrer porque coloca o aluno num papel passivo e os alunos podero sentir a

aprendizagem como algo montono. Poder haver momentos de exposio de

conhecimentos, mas eles tm de ser alternados com outras metodologias, que sejam

centradas no aluno. A aquisio de uma lngua depende do papel ativo do aluno.

O trabalho de grupo muito recomendado como processo de aprendizagem,

na medida em que explora a capacidade de iniciativa, promove a cooperao dos

alunos, estimula o interesse e responsabiliza o aluno pelas suas tarefas (Kaye, 1977).

Contudo, o xito do trabalho de grupo deriva de dois elementos, ainda de

acordo com Kaye (1977). Em primeiro lugar, o aluno deve ter liberdade na escolha dos

temas, e em segundo deve ter tambm uma certa liberdade na orientao do trabalho.

Esses dois requisitos do trabalho de grupo no impedem que o professor possa

colocar restries. Assim, o professor pode indicar uma lista de temas e a partir da o

aluno seleciona o seu. Da mesma forma, ter liberdade de orientar o trabalho, no

significa que no possa ter alguma orientao e conselho da parte do professor.

A interao dos alunos pode ser promovida tambm atravs de trabalho de

pares. Os alunos podem desenvolver atividades mltiplas como: construir dilogos,

dramatizar os prprios dilogos, resolver questionrios ou efetuar trabalhos de

pesquisa.

II. 3. A Expresso Oral

Usar corretamente a lngua muito importante, na medida em que os sujeitos

falantes so constantemente julgados em funo do seu discurso.

Falar no , como partida parece, um processo fcil. O falar uma

comunicao que exige o conhecimento explcito das regras que a regulam.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

10

De acordo com Hymes (1962), todo o ato comunicativo estrutura-se a partir de

oito aspetos ou regras: a situao, os participantes, as finalidades, a sequncia de atos,

a chave (correspondendo ao tipo de interao e variando o grau formal ou informal),

os instrumentos (o canal e a lngua), as normas (podem ser de interao ou

interpretao e regulam a tomada de palavra) e o tipo de ato.

Assim, na sala da aula, o professor dever chamar a ateno para a importncia

das regras apontadas. Um princpio muito pertinente a seleo do registo de lngua

adequado a determinada situao comunicativa. Para tal, necessrio que o aluno

saiba identificar e reconhecer os nveis de lngua, contedo da disciplina de Lngua

Portuguesa.

Uma das formas de treinar a expresso oral dos alunos atravs da exposio

oral, de acordo com Cros e Vil (2003). Esta atividade promove o uso formal da lngua

oral, uma vez que os alunos utilizam, muitas vezes, um apoio escrito na sua

preparao, expem temas previamente estudados e obedecem estrutura prpria

deste discurso.

Esses discursos orais podem ainda ser autnomos ou em situao. Os

autnomos so unidirecionais, pois o recetor no intervm. Nos discursos em situao,

existe uma interao entre duas ou mais pessoas, que utilizam estratgias para facilitar

a compreenso de quem ouve, bem como estratgias para captar a ateno ou

reconduzir a situao.

Os referidos usos formais da lngua oral tm assim duas regras especficas: o

uso de estratgias de planificao e o controlo dos aspetos paralingusticos e no

lingusticos. Estas regras previnem que o aluno bloqueie e leia parte do trabalho ou

ento o diga de forma memorizada, sem qualquer entoao.

Todo o processo de elaborao do discurso explicado pela retrica e tem trs

fases: a inventio, a dispositio e a elocutio. Na primeira fase, selecionam-se ideias e

argumentos que sero usados num discurso. Posteriormente, na dispositio, organizam-

se as ideias e estruturam-se as partes, recorrendo a conectores para criar um texto

coeso. Na ltima fase, a elocutio, temos a verbalizao das ideias e nesta fase esto

presentes os aspetos paralingusticos e no verbais.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

11

Para trabalhar a inventio e a dispositio, etapas anteriores apresentao oral

do discurso, o professor pode: fornecer uma lista de perguntas sobre o tema a

pesquisar (orientando-o assim) e promover atividades de ordenao de textos.

Pelo referido, constata-se que as duas primeiras fases so comuns lngua

escrita e necessitam de um trabalho de reviso e reflexo do discurso. O professor

deve ajudar o aluno, identificando os aspetos a retificar, no seu trabalho escrito. O

aluno entretanto observa as sugestes, procede s alteraes e entrega de novo o

trabalho. Este trabalho de construo essencial para que o aluno possa produzir um

bom discurso oral.

Segundo Cros e Vil (2003, p.95), a elocutio , pois, o cavalo de batalha da

lngua oral e o aspeto que necessita de um tratamento pedaggico especfico durante

todo o processo, no unicamente na fase final. Um dos problemas da oralidade

consiste no facto de ser impossvel apagar o que foi dito e dessa forma mais urgente

pratic-la.

Ainda de acordo com a retrica ou arte de bem dizer, um discurso oral bom

deve obedecer a quatro mximas. Estas so: a puritas, que consiste em respeitar as

regras gramaticais da lngua; a perspicuitas, ou seja, ser claro e preciso; a ornatus, que

remete para o uso da lngua com expressividade e criatividade; e a aptum, significando

que um discurso apropriado em funo das necessidades e interesses dos ouvintes, a

situao e o registo.

Cros e Vil (2003) consideram til a gravao em vdeo ou udio do discurso

oral antes da sua apresentao turma. Efetivamente, tal poder constituir um bom

treino, j que o aluno pode rever o seu desempenho e corrigir aspetos que tenha

considerado menos positivos. Assim, o aluno ganha maior confiana.

No treino da exposio oral, importante que o aluno pratique atividades

como: controlar a voz e os movimentos, procurando projetar a voz de maneira correta;

conhecer os recursos tecnolgicos (como o projetor de imagem) usados em

apresentaes; observar o contexto de receo, ou seja, conseguir identificar o

interesse ou cansao dos ouvintes atravs de olhares, movimentos; e elaborar guies

que sirvam como plano de apoio apresentao. Pelos aspetos referidos, verifica-se

que o aluno precisa de observar a componente paraverbal, que abordarei no prximo

ponto.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

12

Alm da exposio oral, que um discurso oral formal, tambm o debate

muito utilizado na sala de aula e constitui outro exemplo de discurso oral formal.

Na minha opinio, uma atividade importante a realizar, na sala de aula,

facultar aos alunos exemplos de dificuldades gerais da oralidade. Assim, proporia ao

aluno que ouvisse atentamente um discurso oral, em que o interlocutor usa um nvel

de lngua desadequado ( situao em que se encontra), recorre a um bordo

lingustico e d vrios erros. Pediria ento ao aluno que identificasse os trs aspetos

referidos, consultando as notas tiradas durante a audio. Penso que este tipo de

exerccio ajuda a consciencializar os discentes para a importncia de falar

corretamente.

A par do desenvolvimento das capacidades lingusticas do estudante, o

professor deve tambm treinar as atitudes, porque um professor sempre um

formador e deve orientar o aluno no sentido do seu desenvolvimento.

Por fim no campo da expresso oral, convm destacar um facto relacionado

com uma regra do ato comunicativo, o instrumento, que a lngua. Com as mudanas

constantes nos estilos de vida, existem cada vez mais casos de estudantes que podem

apresentar outras variedades lingusticas. Numa turma, pode haver alunos que se

expressam de forma diferente e cabe ao professor um papel muito importante. O

docente tem uma dupla misso: no reforar a desigualdade dos alunos com

comentrios relativos s diferenas lingusticas e reduzir as desigualdades ao fornecer

situaes que pratiquem os registos exigidos pela escola, a variedade padro da lngua.

O comentrio seguinte mostra claramente o que um professor de lngua no

deve dizer: () com admirao ouvi demasiadas vezes a professores, de que os alunos

no sabem falar, porque evidentemente o que se esconde atrs deste sem sentido

aparente que os alunos no sabem falar de uma determinada maneira, quer dizer,

no se apropriaram dessa lngua legtima, em termos de Bordieu, e, portanto, no

usaram a variedade e o registo que a escola exige como requisito para conseguir uma

avaliao positiva (Tusn Valls, 2003, p.77).

II. 3.1. A Componente Paraverbal da Exposio Oral

De acordo com Sousa (2006), num ato comunicativo, intervm aspetos

paralingusticos como o ritmo, o volume da voz, a articulao e a entoao.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

13

Com efeito, o ritmo torna um discurso mais expressivo e mantm os ouvintes

atentos. Cabe ao sujeito falante utilizar o ritmo certo, sendo que por vezes poder

necessitar de alternar ritmos rpidos e lentos. Neste caso, temos a leitura expressiva

de um poema.

A articulao do discurso deve ser clara, para que os ouvintes percebam a

mensagem e o volume da voz tambm importante e deve ser adequado situao

comunicativa.

A entoao confere sentido produo oral, pois destaca determinados

aspetos que so considerados importantes para perceber o discurso.

Alm dos aspetos referidos, existem ainda os elementos no - verbais da

comunicao. Neste sentido, temos os gestos, os olhares, os movimentos corporais. Os

sujeitos falantes tm de selecionar os mais adequados a cada situao.

Numa exposio oral, o emissor sente necessidade de gesticular enquanto

verbaliza as suas ideias. Os gestos podem complementar o discurso e ajudar os

ouvintes a perceberem a mensagem. Porm, no se deve gesticular em excesso, pois

tal certamente distrairia o ouvinte.

O olhar e os movimentos do emissor so tambm determinantes para o

sucesso do ato comunicativo. Numa exposio oral, o aluno deve estar de p, perante

a turma, dirigindo o seu olhar para todo o grupo, de forma expressiva. Ao mesmo

tempo, deve observar os gestos e reaes dos recetores, os colegas.

O aluno deve treinar igualmente os movimentos, que devem ser naturais. Por

conseguinte, ele no pode colocar as mos nos bolsos, facto que por vezes acontece

por nervosismo inicial. Tambm no deve adotar uma postura tmida, nem demasiado

rgida.

Assim, todos os aspetos referidos da componente paraverbal devem ser

treinados com o aluno para que este desenvolva as suas capacidades de comunicao.

II. 4. A Comunicao Oral na Lngua Estrangeira

Um aluno aprende uma lngua estrangeira para usar essa lngua como

instrumento de comunicao. Assim, no campo da expresso oral, ele ser capaz de

A Comunicao Oral na Sala de Aula

14

expressar-se oralmente, transmitindo informao a um recetor e ser capaz de receber

informao.

O Marco Comum Europeu de Referncia das Lnguas (2001) trouxe um

contributo valioso para o processo de ensino - aprendizagem das lnguas estrangeiras.

O Instituto Cervantes adaptou o trabalho e o mesmo constitui um estudo de

referncia, em especial para os docentes de Espanhol como lngua estrangeira. De

acordo Gmez (2004), este estudo contempla outras duas importantes destrezas, que

so a mediao e a interao.

A mediao significa que um falante usa a lngua para que outros interlocutores

possam receber a mensagem, tal como sucede numa traduo.

A interao pressupe que um falante seja emissor e tambm recetor numa

conversa com um ou mais indivduos, que seguem o princpio da cooperao, j que

os interlocutores aceitam normas mnimas que permitem o desenvolvimento de atos

comunicativos como um pequeno dilogo ou uma longa conversa ou at debate.

Na defesa deste papel ativo na aprendizagem, Fernndez Lpez, Sonsoles

(2004) sublinhou a relevncia do estudo dos contedos estratgicos no processo de

ensino das lnguas estrangeiras. Quando o aluno compreende determinado processo

de obter informao, ele poder percorrer esse caminho quando precisar. Pelo

contrrio, se memoriza um vocbulo ou uma informao poder esquecer-se.

La implicacin ativa del aprendiz, desde su particular estilo de aprendizaje,

desde su mundo de experiencias y con sus prprias formas de hacer, es lo que conduce

a un aprendizaje verdaderamante significativo (Fernndez Lpez, Sonsoles, 2004,

p.854).

Os contedos estratgicos promovem a aprendizagem que deve ser mais

personalizada, responsvel e efetiva, para que no ocorra apenas na sala de aula.

Ainda de acordo com Fernndez Lpez, Sonsoles (2004), os contedos estratgicos so

usados na aprendizagem de uma lngua estrangeira e em todas as aprendizagens. O

professor deve partir dos pressupostos seguintes: nenhum professor aprende em vez

dos seus alunos, sendo necessrio que o aluno queira aprender; a aprendizagem ativa

da descoberta conduz o aluno a descobrir o funcionamento da lngua, ao formular

hipteses e a avaliar os resultados, pelo que o aluno se apropriar da lngua de forma

mais eficaz; todos temos formas diferentes de agir, pensar e portanto tambm de

A Comunicao Oral na Sala de Aula

15

aprender; no se parte do zero, mesmo quando se aprende uma lngua estrangeira, j

que o aluno possui muitos conhecimentos do mundo e muitas experincias, que

devem ser aproveitados no processo de ensino-aprendizagem; e o estudante deve ser

capaz de definir os seus objetivos e autoavaliarse.

Como trabalhar ento a expresso oral? Ela deve ser trabalhada atravs da

resoluo de exerccios planificados cuidadosamente pelo professor. Alm disso, as

atividades devem ser reflexo de situaes reais, em que os interlocutores comunicam

consoante determinadas necessidades ou objetivos especficos. Tal facto

considerado determinante na motivao do aluno (Marco Comum Europeu de

Referncia das Lnguas).

Segundo Alonso (2004), o professor deve ouvir o aluno, no sentido de descobrir

as atividades e temas preferidos. Trata-se de uma forma de conhec-lo e procurar

envolv-lo nas tarefas. Procura-se igualmente ativar no aluno o sentido de

responsabilidade, para que realize as suas tarefas, construtoras das suas

aprendizagens.

Nosotros creemos, no obstante, que la motivacin en el aula es tarea de todos,

Si somos un grupo de trabajo, debemos repartir responsabilidades. Los alumnos deben

hacer sugerencias, proponer tambin temas y atividades y, si las cosas van mal intentar

solucionarlas entre todos (Alonso, 2004, p. 11).

Como referi no ponto II. 3., a lngua oral tem caractersticas prprias: a

presena de frases incompletas, o uso de estruturas lingusticas mais fceis como a

coordenao ou justaposio, o uso de um vocabulrio mais simples, o emprego de

pausas e o recurso a expresses idiomticas. Porm, no caso dos estudantes de lngua

estrangeira, o uso de expresses idiomticas e de frases feitas demonstra

conhecimento da lngua: sintoma inequvoco del desarrollo avanzado de su

competncia lxica y, por ende, comunicativa (Gmez, 2004, p.886).

Na fase inicial de aprendizagem de uma lngua estrangeira, a competncia

comunicativa dos estudantes obviamente insuficiente. Da que o professor deva

apresentar aos alunos formas de ultrapassar os diferentes tipos de problemas

comunicativos.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

16

No campo da expresso oral, o estudante de lngua estrangeira pode sentir

dificuldades como: no ser capaz de expressar o que deseja e no entender o que

ouve.

De acordo com Gmez (2004), o estudante pode usar estratgias de

comunicao para resolver os problemas sentidos. Cabe ao professor explicitar

estratgias de comunicao que os estudantes de uma lngua estrangeira podem

utilizar. A necessidade de tal explicao decorre do facto de muitos sujeitos falantes

no terem um conhecimento consciente de estratgias, que utilizam quando usam a

lngua materna. Nesse sentido, o estudante de uma lngua estrangeira pode recorrer

descrio de determinado objeto como forma de colmatar o esquecimento

e/desconhecimento do significante. Esta estratgia permite que o falante comunique e

consiga resolver um problema lexical, em determinados contextos como uma

conversa.

No campo da expresso oral, as estratgias de comunicao mais utilizadas so:

pedir ajuda ao interlocutor (inclui a informao e a confirmao), usar recursos no

verbais (os gestos, expresses faciais), traduzir literalmente, usar estrangeirismos, criar

palavras originais baseadas no conhecimento da lngua estrangeira, mudar de cdigo,

realizar aproximaes com base em sinnimos, hipnimos, hipernimos e realizar

ainda descries que podem ser verbais ou no verbais.

No mbito da compreenso auditiva, existem as seguintes estratgias de

comunicao: ignorar palavras no relevantes para a compreenso global do texto,

apreender a informao mais importante de uma mensagem, fazer uso dos

conhecimentos culturais, identificar a relao entre os interlocutores, deduzir o

significado de uma palavra atravs do contexto ou da forma da palavra e utilizar o

contexto visual e verbal como chaves para determinar a inteno do sujeito falante.

Com algumas das estratgias apresentadas, o estudante de lngua estrangeira

pode resolver por si s problemas que surjam em interaes na sala de aula com o

professor, com os companheiros de turma, ou em situaes reais com falantes nativos.

Segundo Gmez (2004), uma das estratgias de comunicao mais utilizada a

descrio, que pode recorrer tambm linguagem gestual. O forte uso deste

comportamento estratgico explica-se pelo facto do estudante de lngua estrangeira

A Comunicao Oral na Sala de Aula

17

ganhar confiana ao praticar estruturas e vocabulrio que conhece como forma de

ultrapassar os problemas encontrados, que so em geral lxicos.

Os contedos das atividades devem estar adequados aos nveis de

aprendizagem dos estudantes. Nos nveis iniciais, o estudante fala da turma, da

famlia, dos amigos, sendo que os interesses pessoais ou temas da atualidade sero

tratados nos nveis de aprendizagem intermdios ou avanados.

O ensino da expresso oral compreende duas fases: a assimilao e a criao.

Na primeira fase, a assimilao, existe a apresentao das palavras e a prtica

controlada da produo oral. As atividades mais utilizadas so: a memorizao de

pequenos dilogos e atividades de repetio para fixar diversas estruturas como

cumprimentar algum, identificar-se, despedir-se, entre outras.

Na fase seguinte de expresso oral, a criao, existem tambm duas fases: uma

mais controlada e dirigida pelo professor e uma produo livre. Inicialmente, o

estudante guiado pelo docente e pode selecionar ou eleger uma hiptese, indicadora

dos interesses pessoais do estudante.

Quanto produo livre, fase puramente criativa, ela est indicada para os

estudantes que j adquiriram um nvel avanado de competncia lingustica. Neste

caso, o estudante de lngua estrangeira pode realizar simulaes, jogos de papis ou

debates.

Para o estudante de lngua estrangeira, praticar a expresso oral mais difcil

do que resolver atividades que envolvam as outras trs destrezas lingusticas. O

professor de lngua estrangeira deve ter em conta os fatores pessoais como a timidez

ou o sentido de ridculo, o medo de errar e procurar que no grupo-turma os alunos no

se sintam inibidos em participar nas aulas: Nosotros debemos ayudar a nuestros

alumnos a perder este miedo al error...Para aprender una lengua hay que arriesgarse,

jugar con ella, perderle el miedo y apostar...(Alonso, 2004, p.153).

A correo do erro deve ser portanto cautelosa, para que o aluno sinta

confiana em si mesmo e use a lngua: si el profesor/a comienza a interrumpir y

corregir, el alumno nunca adquirir la confianza necesaria para lanzarse a hablar

(Alonso, 2004,p.155).

De acordo com Gmez (2004) quando o professor selecionar, para uma aula,

uma atividade de expresso oral, deve ter em conta as fases de uma atividade. As

A Comunicao Oral na Sala de Aula

18

atividades tm cinco fases: a primeira consiste nas pr-atividades com atividades de

motivao, conhecimento do tema, algum trabalho gramatical e ou de lxico e ainda

com sugestes sobre o contedo; na segunda fase, o professor expe, de forma clara,

o (s) objetivo (s) da atividade e os passos que devem ser seguidos; na terceira fase, o

estudante desenvolve a atividade propriamente dita; na quarta fase, procede-se

avaliao da atividade; e na quinta fase, realizam-se atividades como a prtica de

contedos gramaticais, jogos, trabalhos de lxico, entre outras.

As cinco fases referidas poder-se-iam reduzir a trs: o antes, durante e depois.

Porm, seria redutor eliminar fases como a que orienta os estudantes, a fase da

avaliao da atividade ou a das atividades de consolidao.

Ainda segundo Gmez (2004), as atividades de expresso oral devem obedecer

a princpios bsicos: devem ser significativas para o estudante e tratar temas e

realidades que interessem a esses mesmos alunos; devem ser abertas, para que o

aluno possa dar a sua opinio; devem incluir espao para que o professor possa

corrigir alguns erros; o grau de dificuldade da atividade deve ser sempre progressivo;

devem ter em conta que os meios de expresso podem ser insuficientes e os alunos

podero recorrer s estratgias de comunicao.

Os princpios referidos mostram a importncia da caracterizao individual logo

no incio do ano letivo, bem como a constante observao do professor s reaes e

interesses que o aluno manifesta nas aulas.

De acordo com o ano de escolaridade dos alunos, estes podero realizar

atividades orais como: dilogos, entrevistas, tcnicas dramticas (dramatizaes, jogos

de papis, simulaes), conversas telefnicas, atividades de carter ldico, exposies

de temas e debates.

As atividades dramticas so flexveis e abertas. Elas podero ajudar a eliminar

inibies dos estudantes, que se sentem motivados para representar determinada

personagem que os cativa. Nesse sentido, esta estratgia deve ser explorada pelo

professor, que dever acompanhar a leitura prvia do texto, bem como os treinos que

pretendem o desenvolvimento da expresso natural. Inicialmente, poder-se-o fazer

exerccios de leitura prvia de um texto j criado, a representao/ treino e

apresentao das personagens (escolhidas) turma. Num nvel mais avanado, o

A Comunicao Oral na Sala de Aula

19

professor pode pedir aos alunos que se imaginem no lugar de duas figuras pblicas e

ento elaborem uma cena ou duas, de acordo com as regras do texto dramtico.

As simulaes constituem uma tcnica dramtica semelhante aos jogos de

papis. Elas apresentam um problema aos alunos e todos devem encontrar solues.

Um exemplo de simulao encontra-se na pergunta Quais as trs coisas que levarias

para uma ilha deserta? Neste ponto, convm referir que (Lpez, Maria Rosa, 1999)

apresenta propostas diferentes e muito divertidas, que podem ser usadas em todos os

nveis de ensino.

Um exemplo de simulao curiosa : Trabajas como taxista. Un dia, un

turistalleno de anillos de oro () te dice: Quiero ir a X. Resulta que la direccin que te

h pedido est a 100 metros: cruzar la calle y dos pasos ms. Adviertes al turista la

proximidad de la direccin? (Lpez, Maria Rosa ,1999, p.11).

As exposies ou apresentaes de temas so atividades indicadas para alunos

com um nvel de ensino entre o intermdio e o avanado. Constitui um exerccio que

deve ser preparado com muito rigor pelo aluno, que poder levar materiais de

apresentao como vdeos, fotografias, entre outros. O estudante deve tratar um tema

do seu interesse e quando apresentar o seu trabalho turma deve evitar momentos

de leitura, especialmente prolongados. A exposio deve ser clara, com vivacidade,

ritmo e entoao adequados para que os ouvintes (os colegas) se sintam interessados.

O debate constitui uma atividade indicada para os alunos mais avanados, j

que requer uma fluidez de discurso muito elevada. Este exerccio permite a

apresentao e defesa das opinies pessoais.

O mtodo do trabalho de grupo e de pares tambm permite o desenvolvimento

da expresso oral da lngua estrangeira, na medida em que os discentes usam a lngua,

trocam opinies e esclarecem dvidas. Desta forma, constroem conhecimentos de

forma ativa.

()ya que entre pares se intercambian aspetos dudas, soluciones y

estrategias de resolucin que a veces el profesor no ha vislumbrado (Fernndez Lpez,

Sonsoles, 2003, p.190).

Ao longo do trabalho de pares e/ou de grupo, o professor deve estar atento s

necessidades dos alunos, apoiar aqueles que mais necessitarem e valorizar o trabalho

efetuado.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

20

Os jogos constituem uma estratgia valiosa, visto que apresentam muitas

vantagens. Eles permitem: consolidar os temas estudados, introduzir temas novos,

promover as relaes interpessoais e favorecer a ideia de progresso (Lpez, Maria

Rosa, 1999).

Alm desses aspetos, o jogo proporciona um ambiente mais descontrado,

especialmente aps o trabalho de temas mais difceis. O professor refora os temas

com uma atividade diferente, procurando continuar a despertar o interesse dos

discentes, especialmente em blocos de aulas de noventa ou cem minutos.

A construo dos jogos tem algumas regras que urge focar (Lpez, Maria Rosa,

1999). Em primeiro lugar, importante no repetir mais de duas vezes o mesmo jogo,

pois tal j no se tornaria um desafio para o aluno. Em segundo, o vocabulrio

utilizado deve estar adequado aos conhecimentos dos alunos. A terceira regra a

observar relaciona-se com as normas do jogo e o vocabulrio utilizado, pois estes

devem ser explicados aos alunos com clareza antes de comearem a jogar. Por fim, o

professor deve verificar o nmero de alunos e controlar o nmero de cpias e/ou de

cartes.

Existem vrios tipos de jogos: de tabuleiro, de descoberta, de encontrar as

diferenas entre os desenhos, entre outros. Muitos jogos podem ser adaptados a

determinado contedo e nvel.

A avaliao uma fase importante do processo de ensino - aprendizagem e

deve medir o nvel de conhecimentos alcanados pelos estudantes de lngua

estrangeira. Uma avaliao deve ser objetiva, pelo que de acordo com o Marco

Comum Europeu de Referncia (2002) existem as catorze categorias seguintes:

estratgias de mudana de palavra, estratgia de colaborao, clarificao, fluidez,

flexibilidade, coerncia, desenvolvimento temtico, preciso, uso de competncias

scio-lingusticas, alcance geral, riqueza de vocabulrio, correo gramatical, controlo

do vocabulrio e controlo fonolgico. Porm, avaliar as catorze categorias um

trabalho difcil de realizar na sala de aula, sem ser gravado. Da que, ainda de acordo

com o Marco Comum Europeu de Referncia, o professor deve avaliar como limite

mximo sete categorias.

Na avaliao de uma prova de expresso oral, o professor pode decidir atribuir

maior percentagem a determinado critrio de avaliao. Efetivamente, existem vrios

A Comunicao Oral na Sala de Aula

21

exemplos de critrios de avaliao com diferentes percentagens. O professor garante

que a avaliao fivel quando aplica os mesmos critrios de avaliao a todos os

estudantes.

O professor deve proporcionar ao aluno momentos de reflexo sobre a sua

aprendizagem. Para tal, deve fornecer algumas questes como: O que aprendi? Quais

foram as aprendizagens mais positivas? Quais os aspetos a melhorar? Quais as minhas

dificuldades? Desta forma, o professor solicita ao aluno a sua autoavaliao.

Convm referir que esses momentos de avaliao devem ser realizados com

alguma periodicidade, na medida em que o professor deve acompanhar todas as

aprendizagens do aluno.

La autoevaluacin y coevaluacin llevada a cabo en conjunto, alumnos y

profesor, es la evaluacin ms formativa, porque desarrolla la capacidad de aprender a

aprender, porque se centra en los procesos y porque cree y aumenta la capacidad del

alumno para ser responsable de su proprio aprendizaje. Es esta una de las lneas eje del

Marco comn europeo de referencia para las lenguas y de Portfolio ( Fernndez Lpez,

Sonsoles, 2003, p.198).

Concluindo, a expresso oral uma destreza produtiva, que deve ser

trabalhada atravs de diferentes atividades e estratgias, para que o aluno se sinta

motivado e ento desenvolva a sua competncia comunicativa na lngua estrangeira.

CAPTULO III: PRTICA DE ENSINO SUPERVISIONADA

III. 1. Observao de Aulas III. 1.1. Observao das Aulas da Orientadora de Portugus

III. 1.1.1. As Aulas de Portugus do 3PF

No primeiro perodo, dia 2 de novembro, iniciei as assistncias s aulas.

Observei trs blocos de aulas de cem minutos.

No segundo perodo, continuei a assistir s aulas da Orientadora, perfazendo

um total de doze aulas assistidas.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

22

Da observao das aulas, constatei que os contedos foram muito bem

trabalhados e as estratgias foram bastante adequadas. Verifiquei que predomina o

mtodo comunicativo, colocando o aluno no centro do processo de ensino.

Os alunos revelaram-se bastante participativos e interessados, j que foram

utilizadas diversas metodologias centradas no aluno. Houve sempre um dilogo

vertical-horizontal que permitiu ao aluno expor conhecimentos previamente

adquiridos e, em simultneo, produzir saberes, a partir da leitura e explorao do

texto, discutindo-os com a professora e com os colegas.

Reparei tambm que a minha presena ao fundo da sala no os intimidava de

forma alguma, podendo assim observ-los. Este perodo de observao foi muito

importante e facilitou grandemente o trabalho que efetuei durante todo o segundo

perodo. Esporadicamente intervim em alguns momentos das aulas conforme

solicitao da minha Orientadora. Deste modo, prestei apoio a um aluno, que

manifestava muito insegurana nas suas capacidades e com muitas dificuldades na

lngua portuguesa. Passadas algumas aulas, notei que estava a fazer um bom trabalho

com este aluno, pois ele precisava de um apoio individualizado, dedicao e motivao

positiva para reforar a sua autoestima.

A professora esteve sempre muito atenta ao trabalho desenvolvido pelos

alunos, dando conta das suas intervenes, corrigindo e completando os contedos

expostos.

III. 1.2. Observao das Aulas da Orientadora de Espanhol III. 1.2.1. As Aulas de Espanhol do 2 PK

No primeiro perodo, assisti a dois blocos de aulas de cem minutos e no

segundo perodo, assisti a seis blocos de aulas de cem minutos.

Os alunos revelaram-se extremamente empenhados, participativos e

interessados, na medida em que houve sempre um dilogo vertical horizontal que

lhes permitiu expor conhecimentos previamente adquiridos e, em simultneo,

produzir novos saberes.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

23

Houve sempre a preocupao em treinar o vocabulrio, as estruturas frsicas e

realizar diferentes exerccios que permitissem o treino das quatro destrezas

comunicativas o ouvir, o falar, o ler e o escrever.

III. 2. Lecionao de Aulas III. 2.1. Aulas de Portugus do 3PF III. 2.1.1. Memorandum Ao longo do ano, o grupo de estgio reuniu com as duas orientadoras da Escola

de forma regular, no Colgio, s quartas-feiras, das treze horas s catorze.

Desde o incio do ano, as orientadoras manifestaram a sua disponibilidade em

apoiar fora do horrio estabelecido, pelo que foram trocados os contactos de e-mail.

(ver anexo 1).

As reunies de Portugus tiveram a presena das duas orientadoras da Escola:

a docente Teresa Gato, que me orientou, e a docente Conceio Moreira,

Coordenadora do Departamento de Lnguas, que orientou a minha colega do ncleo de

estgio.

As reunies de estgio tiveram como objetivos: informar sobre as reunies com

a orientadora da faculdade; elaborar as planificaes anuais e os planos de aula;

definir os temas das aulas que o ncleo lecionou (indicando os contedos com

antecedncia); esclarecer dvidas; definir o plano de atividades do ncleo de estgio;

apresentar as planificaes anuais, dos planos de aula e refletir sobre os mesmos;

planificar e organizar as atividades dos Grupos Disciplinares; marcar as aulas a serem

observadas pelo ncleo; definir as aulas de execuo de pequenas tarefas a serem

efetuadas; refletir sobre as tarefas a realizar nas aulas a observar - o acompanhamento

individual a prestar a um aluno; refletir e elaborar a sntese descritiva relativamente s

aulas observadas; elaborar materiais; e refletir criticamente sobre as prticas letivas.

Nas reunies, fui informada dos critrios de avaliao, que passo a apresentar.

A turma 3PF (de ensino profissional e equivalente ao dcimo - segundo ano) foi

avaliada, na disciplina de Portugus, com base nos parmetros seguintes:

conhecimento e adequao correta do Portugus padro (oral e escrito);

conhecimento reflexivo e sistematizado da lngua portuguesa; leitura extensiva e

orientada das obras do Programa; domnio das tcnicas de interpretao e anlise;

A Comunicao Oral na Sala de Aula

24

produo escrita (capacidade de produo de diversos tipos de texto); aquisio de

mtodos e tcnicas de trabalho; progresso na disciplina.

No que respeita classificao, esta foi o resultado ponderado dos parmetros

referidos, observados atravs de dois domnios: o cognitivo / motor (saber/saber

fazer), com a percentagem de setenta por cento; e o domnio de valores e atitudes

(saber ser / saber estar), com trinta por cento.

Relativamente aos instrumentos de avaliao, estes foram: no mbito

cognitivo, testes e outros trabalhos de carter avaliativo, exerccios de compreenso e

expresso oral e a concretizao da oficina de escrita. Os valores e atitudes valorizados

foram: a autonomia, o empenho, o respeito pelo outro, a assiduidade, a pontualidade

e a presena de material.

A Ao do CEF nvel 2, foi avaliada, na disciplina de Portugus, com base na

diviso dos dois domnios: o cognitivo (compreendendo o interagir, produzir e

tratamento da informao/comunicao), que contou sessenta por cento, e as

atitudes/valores com o peso de quarenta.

Os instrumentos de avaliao usados foram: testes formativos, fichas e

trabalhos de avaliao realizados em aula e a oralidade. Em relao ao segundo

domnio, as atitudes e os valores, foram valorizados os seguintes: a autonomia, a

pontualidade, a assiduidade, a presena de material, o comportamento, o

empenho/iniciativa, o respeito pelos colegas, a responsabilidade, a colaborao em

trabalhos de grupo, a realizao de trabalhos de casa e a organizao do caderno

dirio.

Os critrios referidos mostram que a avaliao contemplou a oralidade (com a

compreenso e expresso orais) e valorizou aspetos essenciais (o saber ser/saber

estar, a colaborao nos trabalhos de grupo) que permitiram uma maior interao

oral.

III. 2.1.2 - Caracterizao das Turmas No ano de estgio, lecionei a duas turmas: ao 3PF e ao CEF- Nivel2.

A turma do 3PF era constituda por vinte discentes, doze alunos e oito alunas,

com idades compreendidas entre os vinte e vinte e um anos. Estes alunos

frequentavam o terceiro ano do curso Profissional de Desporto e Condio Fsica e

A Comunicao Oral na Sala de Aula

25

estavam assim inscritos no 12 ano de Portugus para cursos profissionais. A

coordenadora desta turma era a minha Orientadora de Portugus.

H a referir que esta Ao (como referi, equivalente a turma) tinha como

problema real a participao desorganizada. Lecionei oito aulas de cem minutos a esta

Ao (termo usado no Colgio e equivalente a turma).

Ao longo do ano, apenas alguns se revelaram assduos s aulas e pontuais.

Quanto outra Ao, o CEF - Nvel 2, era constituda por vinte e um discentes,

catorze alunos e sete alunas, com uma mdia de idades de dezasseis anos. Esta turma

de CEF frequentava o curso profissional de Operador de CAD, com equivalncia ao

nono ano de escolaridade e o problema real da turma consistia na dificuldade de

compreenso e expresso escritas, embora fossem alunos empenhados e bem

comportados. Ao longo do ano, os alunos foram assduos s aulas e pontuais.

Lecionei duas aulas de cem minutos a esta Ao para perfazer o total de dez

blocos de aulas assistidas.

A Coordenadora de Ao (equivalente a Diretora de Turma no Colgio) do CEF-

Nvel 2 era a professora Cristina Carmona, docente de Ingls.

III. 2.1.3. Mtodo de Trabalho

No incio do meu trabalho, assisti a dez aulas da Orientadora e posteriormente

lecionei uma aula de cem minutos sobre a unidade didtica que iria trabalhar com os

discentes.

No segundo perodo, lecionei sete blocos de cem minutos. Devo referir que a

planificao da unidade didtica correspondente ao mdulo doze, os textos

narrativos/descritivos II, inclua o estudo de uma narrativa do sculo XX - Memorial do

Convento de Jos Saramago. No segundo perodo, foi-me facultada, pelas

Orientadoras, uma sugesto de planificao e devo dizer que constituiu, para mim,

uma ajuda preciosa, j que foi a primeira vez que lecionei a obra (ver anexo 2).

Este contedo constituiu um excelente desafio, dada a riqueza e a crtica

presentes na obra, que passarei a explicar.

Em primeiro lugar, trata-se de um romance original, incapaz de deixar o leitor

indiferente: () o romance apresenta-nos uma instncia que controla a narrativa, no

A Comunicao Oral na Sala de Aula

26

sentido de reinterpretar a Histria, utilizando propositadamente juzos crticos e

valorativos, perpassados de ironia. A orientao da narrativa torna-se claramente

ideolgica, demonstrando uma especial preferncia pela transgresso transgresso

face aos valores e ordem vigente e transgresso discursiva numa postura

irreverente no modo como olha o passado e o evoca (In Programa de Portugus, Cursos

Profissionais de Nvel Secundrio, p.113).

A obra de Saramago parece pretender contar a histria do Convento de Mafra.

Por isso, a ao situa-se no sculo XVIII e no reinado de D.Joo V, o qual passou muito

tempo a desejar um filho e fez a promessa de construir um convento caso a rainha

engravidasse. Tal facto acontece e o rei cumpre a sua palavra. Convm referir que o rei

foi incentivado pelos elementos da Igreja (Frei Antnio e o bispo) a fazer essa

promessa. Os religiosos j sabiam que a rainha estava grvida (antes de aconselharem

o rei), pois houve quebra de sigilo no confessionrio.

A leitura atenta da obra mostra-nos um narrador muito crtico para com

aqueles que tm o poder e que no agem de acordo com as suas obrigaes, antes

exploram o povo. Essa explorao est patente na construo do convento, pois foi

fruto de um trabalho bastante duro da parte do povo, que adquiriu desta forma o

papel de heri.

A leitura da obra pretende ser fluda, corrida e tal denota-se claramente nos

dilogos, cujas regras habituais de pontuao so alteradas. Saramago criou assim o

seu prprio estilo de escrita.

Saramago reinventa ainda a histria quando coloca personagens com os seus

dilemas, muitos fruto da Inquisio.

Outro aspeto original reside no facto do narrador assumir o ponto de vista de

vrias personagens, transmitindo assim o texto uma maior carga emotiva.

O romance cruza duas narrativas: a construo do Convento e a construo da

passarola, projeto levado a cabo pelo Padre Bartolomeu Loureno (personagem

marcante na histria da aviao). O Padre acompanhado por um casal (Blimunda e

Baltasar, personagens fictcias, mas representativas do povo). Ora, Baltasar trabalhar

tambm na construo do Convento e assim surge uma ligao entre os dois planos. A

fora da vontade humana e a importncia do sonho unem toda a obra.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

27

Aps a releitura e uma nova anlise da obra, elaborei com rigor os planos de

aula, que foram objeto de adaptao medida que fui conhecendo o ritmo de

trabalho dos discentes (Estrela, 1984).

Tive sempre em ateno promover atividades que conduzissem ao

desenvolvimento das competncias nucleares da disciplina: a compreenso oral, a

expresso oral, a expresso escrita, a leitura e o funcionamento da lngua, de acordo

com os dois Programas de Portugus do Ministrio da Educao, uma vez que lecionei

a uma turma de ensino profissional e a outra de CEF.

Procurei usar o mtodo comunicativo, centrado no aluno, e evitei a exposio

prolongada de contedos, recorrendo a atividades que permitissem a interao oral,

para que o aluno fosse efetivamente um sujeito ativo na construo das suas prprias

atividades e que procura saber como se faz.

Como refere Silva (2007, p.113), o mtodo de trabalho determinante na sala

de aula: Os mtodos ativos, a interao no so meras palavras de circunstncia, mas

antes formas de estar em sala de aula de grande dinmica entre todos os elementos do

grupo/turma (In Silva, 2007, p.113).

De acordo com as diretrizes do Programa, os alunos treinaram os contedos

introduzidos e participaram ativamente nas atividades propostas.

A maioria da turma de Portugus participou com empenho nas aulas, porm,

inicialmente, alguns alunos da turma de Portugus revelaram-se agitados. Como referi

no ponto 2.1.2., o problema real desta turma era a participao desorganizada, pelo

que dialoguei com alguns discentes no sentido de promover a sua participao nas

atividades. Contudo, dois alunos mantiveram uma fraca ateno nas aulas e por isso

solicitei-lhes que continuassem a resoluo da ficha de trabalho no espao Teu. Esta

medida surtiu efeito, na medida em que os alunos se empenharam nas aulas

seguintes.

III. 2.1.4. Materiais

Todas as atividades e materiais apresentados visaram desenvolver as

competncias da disciplina do Portugus, tendo tambm em conta o Projeto Curricular

de Escola e do Projeto Curricular de Turma (ver anexo 3).

A Comunicao Oral na Sala de Aula

28

Comecei o meu trabalho com a anlise do manual adotado, Portugus Nvel 3,

Ensino Profissional da Porto Editora. No primeiro perodo, assisti s aulas da

Orientadora de Portugus e desta forma conheci os discentes.

No segundo perodo, comecei a lecionar turma e trabalhei o mdulo 12,

textos narrativos/descritivos II, sobre a obra Memorial do Convento de Jos Saramago.

Planifiquei as aulas e tive em ateno as sugestes da Orientadora e do Grupo

de Portugus. Assim, selecionei do manual os exerccios mais adequados turma e

procurei construir outros materiais, os quais passo a apresentar.

Em primeiro lugar, decidi elaborar uma apresentao em PowerPoint sobre a

obra, mais concretamente o contedo Descrio de um auto de f. Tive o cuidado de

estruturar a informao, selecionando excertos e recorrendo ainda a cores e a

imagens. Usei quatro cores diferentes (o preto, o vermelho, o azul e o verde), que

permitiram destacar palavras-chave, as repeties de certos vocbulos ou orientar

para duas perguntas diferentes. Assim, o aluno saberia que no excerto a verde teria a

pista de resposta questo que se encontrava registada tambm a verde.

Coloquei imagens de crios, os sambenitos, uma procisso no tempo da

Inquisio, o rei D.Joo V, Baltasar e Blimunda (personagens fictcias), a passarola,

entre outras. Estas imagens visaram esclarecer e recordar alguns vocbulos, ideias ou

personagens de fulcral importncia na obra. Devo referir que explicitei que sambenitos

eram as vestes dos sentenciados, indiquei o sculo XVIII junto da imagem do rei D.Joo

V e repeti a imagem dos olhos dado que Blimunda e a me eram videntes. O

esclarecimento de vocabulrio foi ainda contemplado atravs de pequenos glossrios

colocados no fim de cada dispositivo.

A descrio como forma de representao do discurso constitua um

contedo que era dominado pelos alunos, que j como mencionei, frequentavam o

equivalente ao dcimo-segundo ano. Nesse sentido, apresentei, em alguns

diapositivos, perguntas que remetiam para esses conhecimentos. Esto neste caso as

questes: Que sensaes podem estar numa descrio? ou Qual o recurso de

estilo utilizado? (explorando a metfora, a enumerao, a adjetivao ou a ironia).

No que respeita ao funcionamento da lngua, o treino desta competncia

nuclear foi contemplado com questes como: identificao do gerndio como uma

ao contnua e seleo de classes de palavras (nomes, adjetivos e verbos).

A Comunicao Oral na Sala de Aula

29

Os diapositivos apresentaram ainda uma ou duas questes de compreenso

do texto, promovendo a participao dos alunos ao longo da apresentao dos vrios

diapositivos. Aps a resoluo oral das perguntas, foram apresentados os tpicos de

resposta que figuravam nos diapositivos.

Os contedos novos foram trabalhados, recorrendo a uma pequena

exposio, seguida igualmente de um questionrio, como forma de verificar a

compreenso dos discentes.

A metodologia do PowerPoint pretendeu: despertar nos alunos o interesse

pela beleza do texto, analisar a dimenso crtica da obra e incentivar a leitura integral

da obra Memorial do Convento de Jos Saramago.

O ltimo diapositivo mostrou que o padre Bartolomeu Loureno tinha um

sonho, encontrava-se a a imagem de uma passarola, mas no explicava como o casal

(Baltasar e Blimunda) o acompanharia. Desta forma, procurei estimular a curiosidade

dos alunos, pelo novo rumo da obra.

Posteriormente, selecionei materiais udio e vdeo que permitissem dinamizar

atividades diferentes. Como a obra referida, mistura histria e fico, decidi apresentar

alguns factos histricos. Nesse sentido, apresentei turma um vdeo sobre o padre

Bartolomeu de Loureno (personagem que surge na obra mencionada) e que abordava

a histria desta figura histrica de forma muito interessante, recorrendo a amostras de

objetos, uma pequena entrevista com Murlio Florindo Cruz e Filho, especialista em

Cincias, e uma viagem de balo. O vdeo foi produzido pela rede Globo como

homenagem ao padre Bartolomeu que nasceu no Brasil e que foi um grande cientista,

pois o seu trabalho representa um marco na histria da aviao.

Na sequncia da criao de materiais udio e vdeo, elaborei um pequeno

vdeo sobre o Convento de Mafra, recorrendo a fotografias retiradas da Internet. Este

recurso foi uma forma diferente de introduzir o estudo de uma personagem coletiva

da obra, o povo, que construiu o convento de Mafra. Junto de algumas imagens

coloquei os dados histricos mais relevantes, para que os discentes pudessem

apreender a obra gigantesca que foi a construo daquele convento.

Relativamente a meios udio, selecionei uma msica portuguesa que se

relacionava de forma excelente com a obra e criei um questionrio que visasse a

A Comunicao Oral na Sala de Aula

30

compreenso da msica e verificao dos temas da obra. Tratava-se da msica

Blimunda e Baltasar do grupo portugus, os Trovante.

A par dos materiais referidos, elaborei ainda algumas fichas de trabalho, nas

quais apresentei atividades mais dirigidas e guiadas, adequadas aos alunos.

A primeira ficha de trabalho pretendeu analisar o estilo de escrita do Autor,

que consiste na supresso ou eliminao de marcas grficas do dilogo. Assim,

coloquei trs questes claras e dirigidas: sublinhar, no excerto dado, todas as palavras

comeadas com letra maiscula a seguir a uma vrgula (comeavam a as falas das

personagens), identificar os verbos introdutores (como respondeu, disse, e o nome das

personagens), indicar quantas falas existiam e quais eram as personagens. Na ficha foi

apresentada a primeira resposta, que correspondia fala de uma personagem e serviu

portanto como exemplo de resposta.

Tendo em conta a riqueza simblica da obra, elaborei uma ficha informativa, na

qual reuni os tpicos fundamentais para a compreenso da obra. Assim, expliquei o

significado da passarola, Sete-Sis e Sete-Luas (alcunhas de Baltasar e Blimunda), a

trindade, o sonho, a vontade. Todos estes elementos, que j haviam sido analisados,

ficaram assim sintetizados.

Como forma de avaliar a compreenso do PowerPoint relativo ao auto de f,

elaborei um questionrio com dois grupos. O primeiro tinha dez perguntas de escolha

mltipla, com quatro alneas, e duas imagens que seriam descritas.

A segunda parte da ficha correspondia produo escrita sobre um excerto da

obra (o discurso de uma personagem). Tratava-se de uma pergunta de opinio, que

sugeria dois tpicos a desenvolver: comentar as repeties de palavras e indicar o

objetivo do narrador.

Elaborei uma ficha de trabalho sobre tipos de texto. No primeiro grupo,

apresentei trs momentos da obra a transformar em texto dramtico. Coloquei, como

exemplo, a minha adaptao.

O segundo grupo era constitudo pela proposta de uma entrevista fictcia a uma

personagem da obra. Os discentes puderam entrevistar uma das cinco personagens: o

Padre Bartolomeu de Gusmo, Blimunda, Baltasar, D. Pedro V ou Sebastiana Maria de

Jesus. Tambm indiquei as perguntas, como orientao, bem como as respostas

fictcias da personagem escolhida.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

31

A ficha descrita pretendeu o desenvolvimento de mtodos e tcnicas de escrita

e o treino da expresso oral, dado que o trabalho foi apresentado turma.

O teste sobre a obra lecionada (Memorial do Convento de Jos Saramago) foi

elaborado pelo grupo de Portugus, incluindo as estagirias, que tiveram a ajuda das

orientadoras.

Concluindo, todos os materiais (construdos e selecionados) propuseram

atividades diferentes, foram adaptados turma que lecionei, tiveram como orientao

a clareza, o rigor cientfico e a motivao (Kaye, 1977).

III. 2.1.5. A Oralidade Para desenvolver a compreenso e a expresso orais utilizei vrias estratgias

como: dilogo professor/ aluno sobre os diversos contedos; leitura expressiva de

textos; leitura de imagens; audio de registos orais; resoluo de questionrios;

visionamento de vdeos; apresentao de um powerpoint sobre a obra em estudo;

exposio oral de trabalhos de pesquisa sobre a obra Memorial do Convento de Jos

Saramago; dramatizao de excerto da obra antes referida; e apresentao oral de

entrevistas fictcias realizadas a personagens da obra estudada.

Alm dessas estratgias, os alunos resolveram questionrios de compreenso

em diferentes suportes como fichas de trabalho e nos dispositivos do powerpoint. A

resoluo dos questionrios foi, em primeiro lugar, oral, para que surgissem mais

hipteses de respostas e fossem todas comentadas.

A interao oral foi conseguida atravs da realizao de atividades como: a

resoluo de diversos questionrios, pois pretendi que os discentes os resolvessem em

trabalho de pares, para que houvesse o to importante dilogo aluno/ aluno com a

discusso e troca de pontos de vista; elaborao de um texto dramtico, em grupo; e

elaborao de uma entrevista fictcia, tambm em grupo.

O dilogo professor aluno foi utilizado no incio de cada aula, pois pretendi

rever os contedos da aula anterior e estabelecer a ligao com a aula seguinte. Essa

reviso de contedos possibilitou-me observar se os alunos tinham compreendido os

contedos. Ao mesmo tempo, serviu como forma de estimular a participao da

A Comunicao Oral na Sala de Aula

32

turma, visto que procurei sempre a participao positiva, aproveitando a informao

do aluno, refazendo-a apenas quando necessrio.

Essa estratgia, dilogo professor aluno, foi usada: nos questionrios orais

(que incidiram sobre a verificao dos sentidos do texto), no esclarecimento de

dvidas, na reviso de contedos, na descrio de imagens (relacionadas com a obra),

na correo de questionrios e na sistematizao de conhecimentos (sempre que

possvel foi no final de cada aula e no final dos contedos).

Uma das primeiras interaes (professor alunos e alunos alunos) incidiu

sobre o estilo do Autor. Os alunos mostraram-se surpreendidos em especial com a

falta de alguns sinais de pontuao. Este facto levou a que alguns alunos tivessem

dificuldades na leitura com entoao. Entretanto, aps explicao, os alunos foram

melhorando o seu desempenho. Os alunos confirmaram a peculiaridade da escrita de

Saramago, que se traduz na substituio de pontos finais por vrgulas e na supresso

das marcas grficas dos dilogos, fazendo-se assim a leitura contnua e sem paragens.

O segundo exemplo de dilogo remete para a reviso de contedos. Antes de

solicitar a caracterizao das personagens da obra, dialoguei com os alunos no sentido

de recordarem conhecimentos sobre os tipos de caracterizao de personagens, a

fsica e psicolgica, bem como os processos, direta e indireta. Os alunos participaram e

souberam recordar os tipos. Houve um aluno que se destacou pela excelente

participao e soube distinguir os processos de caracterizao, contedo esquecido

por parte de alguns alunos.

Um ltimo exemplo de dilogo refere-se preparao de uma atividade. Antes

dos alunos visionarem um PowerPoint, expliquei-lhes os objetivos, ou seja, iriam ler e

analisar criticamente alguns excertos da obra. Para tal, quase todos os diapositivos

continham uma ou mais perguntas de compreenso que iriam ser debatidas pela

turma.

Devo referir que os alunos apreciaram bastante essa atividade e ficaram

sensibilizados com a carga emotiva de determinadas passagens da obra. Entre elas

destaco: o sofrimento dos condenados pela Inquisio (muitos teriam como sentena a

fogueira), a misria do povo contrastando com a sumptuosidade da vida do rei D. Joo

V e o fanatismo religioso do povo (que era imposto).

A Comunicao Oral na Sala de Aula

33

Os discentes realizaram uma dramatizao, que teve como objetivos

especficos: saber trabalhar em grupo; produzir textos orais de diferentes tipos e nveis

distintos de formalizao: realizar operaes de planificao; cumprir as propriedades

da textualidade; e adequar o discurso finalidade e situao de comunicao.

Propus aos alunos a criao de um texto dramtico, seguindo de perto o

romance, embora com criatividade. Os grupos foram formados e redigiram os seus

trabalhos para apresentao turma. Nesta fase, esclareci as dvidas que me foram

colocadas e procurei acompanhar todos os grupos.

Na aula, primeiro, os discentes efetuaram o treino dos textos. H a referir que o

grupo de Teatro do CED de Pina Manique disponibilizou roupas representativas do

sculo XVIII e adereos com vista dramatizao. Tal aspeto revelou-se muito

produtivo e ajudou na adequao personagem. Assim, o aluno que representou

Baltasar (que era maneta) colocou um gancho no brao esquerdo, outro discente

vestiu o hbito de padre e uma aluna vestiu um traje longo de popular.

A seguir s apresentaes, os alunos fizeram a sua autoavaliao (com a

respetiva justificao) e a avaliao dos trabalhos dos colegas. Convm referir que os

alunos representaram com empenho e as entrevistas foram igualmente bem

conseguidas. Mostraram portanto interesse, cooperao e responsabilidade.

Pelo exposto, a atividade de produo oral desenvolveu-se em trs etapas; a

planificao, a execuo e a avaliao, respeitando as diretrizes do Programa de

Portugus.

Atravs do trabalho de pares, os alunos realizaram as tarefas seguintes:

exerccios de pontuao/ reescrita (escreveram dilogos da obra com a pontuao

habitual); caracterizaram as personagens Blimunda e Baltasar (atravs da leitura de um

excerto); resolveram uma ficha de trabalho que permitiu verificar a compreenso do

contexto social, o auto de f; caracterizaram o Padre Bartolomeu de Gusmo;

identificaram momentos de stira e a crtica social; comentaram o carter excessivo da

tarefa (construo do convento) / carter pico; refletiram sobre a condio humana,

visto que os homens eram obrigados a deixar as suas famlias para realizarem obras

extenuantes como buscar pedras de enormes dimenses a Pero Pinheiro e lev-las at

Mafra; identificaram caractersticas de dois tipos de texto (um texto dramtico e uma

entrevista); e solucionaram a ficha formativa sobre a obra.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

34

A realizao das tarefas mencionadas visou a participao ativa do aluno.

Atribu sempre aos alunos determinado tempo para realizarem as tarefas. Tal

pretendia ajudar o aluno a controlar o seu ritmo de trabalho.

Uma outra atividade consistiu na exposio oral. Cada aluno apresentou

turma a sua opinio sobre o discurso da personagem Sebastiana de Jesus (me de

Blimunda), que foi acusada pela Inquisio de feitiaria. Condenaram-na a oito anos de

degredo em Angola, separando-se assim da filha. O discurso apresentado surgiu no

momento em que Sebastiana foi levada na procisso do auto de f.

A descrio de imagens foi promovida vrias vezes. Os textos pictricos

permitiram uma interao profcua com a obra de leitura orientada Memorial do

Convento de Jos Saramago e foram utilizados no momento da pr-leitura (a

antecipao de temas e contedos) e da leitura.

Selecionei imagens da Internet (cuja fonte est indicada na bibliografia) e os

discentes exploraram ainda as do manual. Foi-lhes solicitada a interpretao das

imagens.

No que se refere leitura, foram efetuados trs tipos: a leitura orientada da

obra (com prtica de diferentes excertos da mesma caso do dilogo entre o Frade e o

Rei D.Joo V, no captulo I; quarto e quinto captulos; excertos do manual relativos

construo do convento de Mafra. ); a leitura para informao e estudo (sobre a

dimenso simblica do romance); e a intertextualidade (relao dos textos lidos com

outros textos, de contextos diferentes para verificar a permanncia de temas,

situaes, tipos de personagens).

A intertextualidade com a obra foi realizada atravs da cano Blimunda e

Baltasar dos Trovante. A msica foi muito apreciada pelos alunos, que completaram a

letra da mesma, conforme solicitado na ficha de trabalho. Seguiu-se um debate no

sentido de verificar a intertextualidade com a obra. Os discentes mostraram-se

surpreendidos com o facto de haver uma cano portuguesa que retratasse o casal

amoroso da obra (Baltasar e Blimunda). Referiram que, alm desse aspeto, permanecia

o sonho de voar do Padre Bartolomeu de Gusmo.

No que respeita ao funcionamento da lngua, os discentes realizaram exerccios

de identificao de classes de palavras e de pontuao.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

35

Como forma de verificar a expresso correta da lngua, criaram-se momentos

de interao professor aluno e aluno aluno. Verificaram-se aspetos como a

estrutura e coerncia textuais, a riqueza vocabular, a sintaxe e a ortografia.

Penso que na aula de Portugus o professor deve, por vezes, construir

enunciados em conjunto com os alunos e ento verificar se houve a referida estrutura,

que se identifica com uma introduo, um desenvolvimento e uma concluso. No

texto, a pontuao deve ser respeitada e os articuladores ou conectores frsicos so

primordiais.

A coerncia de ideias essencial para a compreenso de um texto. Poder ser

necessrio alterar a ordem de algum tpico para que surja essa ligao. A realizao de

esquemas de ideias antes da produo de texto uma atividade muito recomendada e

dever contemplar as respostas possveis dos alunos.

O vocabulrio deve ser rico e tal aspeto consegue-se atravs essencialmente de

dois aspetos: no repetir vocbulos e utilizar palavras mais cuidadas.

No que se refere sintaxe, o aluno deve observar as regras da lngua e verificar

eventuais erros graves como a no concordncia do sujeito com o verbo. Este poder

ter sido fruto de uma falta de ateno e por isso recordei aos alunos a importncia de

verificar o texto escrito.

A ortografia deve ser igualmente analisada. Uma expresso escrita correta

ajuda a eliminar determinados erros da oralidade. As contraes (em especial de

verbos como o estar ou de preposies como para), as trocas de vogais (pela

pronncia incorreta das palavras parnimas caso de eminente/ iminente) constituem

alguns dos erros orais mais frequentes. Convm destacar a troca do e e o i em: incio

de palavra (em vocbulos como eliminar, imitar); e em situaes como feminino,

privilgio, entre outras.

Esta explicao das regras da lngua escrita foi apresentada aos alunos ao longo

das vrias aulas quando auxiliei na correo dos questionrios (individual e de pares) e

no registo das respostas no quadro. Devo referir que os alunos participaram nas

explicaes, visto que coloquei perguntas como: Ser necessrio colocar um conector

entre os dois pargrafos? ou H repetio de palavras?. As respostas corretas dos

alunos revelaram que o treino destas regras de expresso resultou.

A Comunicao Oral na Sala de Aula

36

Como mencionei no ponto III. 2.1.2, caracterizao das turmas, lecionei

tambm turma CEF Nvel 2. A unidade temtica trabalhada foi textos da

comunicao social, a notcia e a reportagem. Desenvolvi atividades orais, em conjunto

com o treino de outra competncia a escrita, conforme passo a descrever.

Na primeira aula,