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ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA Cadernos do CNLF, Vol. XV, Nº 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 73 A CONCEPÇÃO DE SUJEITO DA PSICANÁLISE À ANÁLISE DO DISCURSO Carmen Elena das Chagas (IF Muzambinho e UFF) [email protected] 1. Considerações iniciais A linguística apresentou a situação da identidade de forma bem pacífica, tanto no caso da identidade de uma língua como no caso da identidade do falante de uma língua. Assim, a linguística mostra-se como uma investigação racional à medida que torna a autoconsciência possível e o linguista, simplesmente linguista, é qualitativamente diferente do lin- guista falante nativo comum. Os linguistas como as demais pessoas geralmente se referem a fa- lantes de uma língua como se não existisse nenhum problema para deci- dir. Quem pertence ou quem não pertence ao grupo que se pretende iden- tifica (CHOMSKY, 1965, p. 03) I- ELD, 1944, p. 49), pois para ele não se deve confundir os níveis, o do na- tivo de quem se deseja o fornecimento de dados e a do investigador que tem a capacidade de fazer a análise científica. Já para Bakhtin, o estruturalismo não tem por objeto a língua real, porque a língua real é o que falam homens e mulheres reais e socializa- dos. Assim, a linguística estuda uma língua viva como se fosse morta e uma nativa como se não fosse materna e sim estrangeira. O objeto da linguística apresenta uma divisão discursiva, forman- do uma lacuna: o da manipulação de significações estabilizadas e crista- lizadas por uma alienação do pensamento e o das transformações do sen- tido na busca de variadas interpretações. É um homem que fala no mundo, que fala com outro e é a lingua- gem que ensina a própria definição desse homem, pois o outro aparece por meio dela. É na linguagem e por meio dela que o homem se constrói como sujeito, pois só a linguagem fundamenta a sua realidade: a do ser.

A concepção de sujeito da psicanalise a analise do discurso carmem e chagas

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  1. 1. ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUSTICA E FILOLOGIA Cadernos do CNLF, Vol. XV, N 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 73 A CONCEPO DE SUJEITO DA PSICANLISE ANLISE DO DISCURSO Carmen Elena das Chagas (IF Muzambinho e UFF) [email protected] 1. Consideraes iniciais A lingustica apresentou a situao da identidade de forma bem pacfica, tanto no caso da identidade de uma lngua como no caso da identidade do falante de uma lngua. Assim, a lingustica mostra-se como uma investigao racional medida que torna a autoconscincia possvel e o linguista, simplesmente linguista, qualitativamente diferente do lin- guista falante nativo comum. Os linguistas como as demais pessoas geralmente se referem a fa- lantes de uma lngua como se no existisse nenhum problema para deci- dir. Quem pertence ou quem no pertence ao grupo que se pretende iden- tifica (CHOMSKY, 1965, p. 03) I- ELD, 1944, p. 49), pois para ele no se deve confundir os nveis, o do na- tivo de quem se deseja o fornecimento de dados e a do investigador que tem a capacidade de fazer a anlise cientfica. J para Bakhtin, o estruturalismo no tem por objeto a lngua real, porque a lngua real o que falam homens e mulheres reais e socializa- dos. Assim, a lingustica estuda uma lngua viva como se fosse morta e uma nativa como se no fosse materna e sim estrangeira. O objeto da lingustica apresenta uma diviso discursiva, forman- do uma lacuna: o da manipulao de significaes estabilizadas e crista- lizadas por uma alienao do pensamento e o das transformaes do sen- tido na busca de variadas interpretaes. um homem que fala no mundo, que fala com outro e a lingua- gem que ensina a prpria definio desse homem, pois o outro aparece por meio dela. na linguagem e por meio dela que o homem se constri como sujeito, pois s a linguagem fundamenta a sua realidade: a do ser.
  2. 2. ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUSTICA E FILOLOGIA Cadernos do CNLF, Vol. XV, N 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 74 Atravs do conceito falante-nativo na lingustica foi apresentado o termo indivduo. O in s- titudo de forma nica, cuja realizao passou a ser a autoconscincia. Para que serve o contexto de situao se no for para mostrar a identidade do usurio de uma lngua sua espontaneidade em modos mais realistas? Pois o contexto no possui limites. Tudo que se possa fa- lar sobre o contexto rapidamente incorporado ao prprio contexto, no permitindo que haja uma saturao no ato de fala real. Desta forma, as identidades da lngua e do indivduo apresentam implicaes vrias. Isso significa que as identidades esto sempre em um estado de fluxo, pois falar de identidade, seja ela do indivduo falante, se- ja da lngua isolada, recorrer a uma forma conveniente com danos para a fundamentao terica da lingustica. 2. Objetivo Este artigo objetiva apresentar uma anlise superficial do conceito de Sujeito de acordo com as concepes de alguns autores como Freud, Lacan, Foucault, Pcheux e outros, visando a construir um paralelo entre as ideias apresentadas pelos autores citados acima, tendo como funda- mentao terica a contribuio da anlise do discurso. 3. Lngua, linguagem e discurso. 3.1. Lngua A lngua, lato sensu, um sistema gramatical que pertence a um grupo de indivduos. a expresso da conscincia de uma coletividade. Sua funo social a criao da sociedade, pois no pode ser imutvel, pelo contrrio, precisa viver em eterna evoluo para a construo da cul- tura de um povo. A ao individual de apropriao de uma lngua introduz o indiv- duo que fala. Isso significa um dado constitutivo de uma enunciao. A presena de quem fala na enunciao faz com que cada parte do discurso constitua um centro de referncia interno, cuja funo de colocar o fa- lante em relao constante com sua enunciao. Depois da enunciao, a lngua que foi emanada por um falante atinge outro falante, suscitando outra enunciao de retorno.
  3. 3. ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUSTICA E FILOLOGIA Cadernos do CNLF, Vol. XV, N 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 75 Partindo da posio de Saussure, a lngua um todo autocontido e um princpio de classificao. O todo autocontido a fala que para autor se chama langage e, aquilo que se afirma ser de modo delineado, chama- se de lngua. J para Chomsky lngua apresenta-se como um substantivo abstra- to no pluralizvel, cuja preocupao est em restringir a lingustica ape- nas busca de universais e da definio de propriedades apenas. Assim: ... uma pessoa que conhece uma lngua domina um sistema de regras que, de um modo definido, atribui som e significado a uma classe infinita de frases ... naturalmente, a pessoa que conhece a lngua no tem conscincia de ter domi- nado essas regras ou de estar fazendo uso delas, nem h razo alguma para su- por que o conhecimento das regras possa supor que o conhecimento das regras possa tornar-se consciente. (CHOMSKY, 1972, p. 103-104) Observa-se que Chomsky, defensor de uma gramtica genuina- mente cientfica, procura especificar o que o falante realmente conhece e no aquilo que ele possa contar sobre seu conhecimento. Todo enunciado e toda sequncia de enunciados que compem a lngua , pois, linguisticamente descritvel como vrios pontos possveis de interpretao. nesse estado que objetiva trabalhar a anlise do dis- curso. Essa viso, que apresenta concretamente formas de se trabalhar sobre as materialidades discursivas, pode implicar em discursos ideolgi- cos, filosficos, polticos e culturais que emanam das relaes com o co- tidiano e com a ordem normal do sentido, construindo o real da lngua. 3.2. Linguagem A linguagem uma condio sine qua non de constituio do su- jeito. O que regula a estrutura imaginria se faz atravs do registro sim- blico. o olhar de outro que permite a constituio de uma imagem unitria, assim o sujeito se v como visto por seus semelhantes. A linguagem instrumento de comunicao e isso se deve a duas razes: 1-consistiria em que a linguagem se encontra de fato empregada como instrumento, porque os homens no encontraram um meio melhor nem mesmo to eficaz para comunicar-se;
  4. 4. ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUSTICA E FILOLOGIA Cadernos do CNLF, Vol. XV, N 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 76 2-Poderia tambm pensar em responder que a linguagem apresen- ta disposies tais que a tornam apta a servir de instrumento e se presta a transmitir o que lhe confia ou que provoca no interlocutor um comporta- mento cada vez adequado. Na verdade a comparao da linguagem com um instrumento de- ve encher de desconfiana como toda noo simplista a respeito da lin- guagem. Interligar linguagem e identidade implica em mostrar a importn- cia da cultura na questo da estrutura. Tanto a linguagem quanto a iden- tidade passam a se inserir em culturas diversas, o que leva a psicanlise a se interrogar sobre diferentes formas de constituio do inconsciente. A linguagem s possvel porque cada falante se apresenta como sujeito, retornando a ele mesmo como eu no seu discurso, tornando-o, as- sim, o seu eco. A partir disso a linguagem marcada intensamente pela expresso da subjetividade que est no exerccio da lngua, permitindo a cada falante apropriar-se da lngua toda, designando- 3.3. Discurso A significncia de um discurso depende dos atos reais ou poss- veis nele contidos. Uma dependncia que pode ser avaliada somente com base no nosso conhecimento ou crena sobre os fatos atuais ou possveis em algum universo ou situao, pois os fatos denotados como estados de coisas, aes ou eventos tm organizao espacial, condicional ou tem- poral. Entender um discurso pressupe entender o mundo real ou ideali- zado, j que em cada parte do discurso deve existir uma nova informao que seja ligada informao antiga. Acredita-se que existe nas sociedades uma espcie de desnvel en- tre os discursos. Os que ao correr dos dias e das relaes discursivas se esquecem no prprio ato que lhes deu origem ou nos discursos que esto na origem de alguns novos atos e fala. Atos que retomam os discursos, que os transformam ou que falam deles, isto , os discursos que so ditos, foram ditos e esto ainda por dizer. So as aproximaes implcitas que permitem relacionar a expres- so ativada e isolada do enunciado temtica global de um discurso, es- tabelecendo um elo entre seus diferentes segmentos. Isso explica por que, muitas vezes, o emprego de construes processadas coincide com a pas-
  5. 5. ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUSTICA E FILOLOGIA Cadernos do CNLF, Vol. XV, N 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 77 sagem e um segmento a outro, ou seja, marca uma mudana ou um des- locamento do sujeito. O discurso direciona para a no correspondncia entre as palavras e as coisas. Os objetos no ocorrem de acordo com as propriedades in- trnsecas do mundo, mas so construdos atravs dos processos cogniti- vos dos sujeitos aplicados ao mundo e desenvolvidos como um fluxo contnuo de estmulos. O discurso est na ordem das leis, onde sempre se observa o seu aparecimento, o lugar que se concede e que o honra, mas que, ao mesmo tempo, o desarma. Se o discurso apresenta algum poder, provm do fa- lante, pois nele que est a significao do pensamento. Assim, o discurso nada mais do que o reflexo de uma verdade que est sempre a nascer diante dos seus olhos e quando por fim tudo pode tomar a forma do discurso. Isto , quando tudo se pode dizer e o discurso se pode dizer a propsito de tudo, porque todas as coisas que manifestaram e ofereceram o seu sentido podem reentrar na interioridade silenciosa da conscincia de si. 4. O sujeito. 4.1. O sujeito para Freud A descoberta do inconsciente j modificara a ideia de sujeito a mostrar que a conscincia a parte mnima da vida psquica. E de acordo com Freud, somos muitos, pois o Ego definido como um conjunto de identificaes que cada sujeito vai utilizando no decorrer de sua vida, j que somos portadores de vrias identificaes, isto , somos o resultado de uma produo em massa. Freud apresenta uma etapa primitiva da linguagem em que sons idnticos designavam objetos do mundo do trabalho e do mundo ertico. Com isso os conceitos originaram na comparao com seu oposto o ou- tro , pois o homem s pode obter seus conceitos mais antigos e mais simples por oposio a seus opostos. Desta forma, Freud utilizou o termo identificao para definir sujeito internaliza relaes com o mundo circundante, dando lugar a ma- trizes identificatrias e com a descoberta do inconsciente, a subjetividade
  6. 6. ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUSTICA E FILOLOGIA Cadernos do CNLF, Vol. XV, N 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 78 deixou de ser pertencente a processos de individuao e sim a um mode- lo social de cultura. 4.2. O sujeito para Lacan Lacan prope que a constituio de um sujeito psquico se d por sujeito da enunciao. Para o autor fundamental a distino entre a vertente do enunciado do discurso e o ato de enunciao que elabora este enunciado. Isso especifica a relao que o sujeito falante tem com o in- consciente e com o desejo. Lacan mostra que o inconsciente se estrutura como uma lingua- gem, ou seja, como uma cadeia de significantes. a construo de uma pessoa em sua realidade, inclusive, com seu corpo e sua organizao ps- quica. Na verdade, a viso da prpria pessoa de algum em contraponto com a figura de outras pessoas ou objetos situados fora desse algum. Assim, o sujeito para Lacan um significante que remete a outro signifi- cante, ou seja, o sujeito se d a partir da linguagem. Ele postula que o significante atua separadamente de sua significao e contra o sujeito, pois o significante o suporte para o discurso, j que significante e signi- ficado so duas teias que no se encobrem. Desta forma, Lacan procurou reduzir a psicanlise a uma anlise lingustica, pois se referiu a vrios autores como Saussure, Jakobson e Freud, mostrando uma concepo do inconsciente como estruturado, uma linguagem e uma viso do sujeito como um ser da prpria linguagem ou ser falante. Ele afirma que procura seu objeto onde h uma lacuna. So- mente quando se pode levar em conta o registro do Real que se entende de que forma a letra e significante so construdos pelo autor. O signifi- cante no pode ser capturado pela linguagem, mas, no entanto, pode ser articulada em uma estrutura simblica e formar uma cadeia de significan- tes. 4.3. O sujeito para Foucault. notvel que se v, em uma sociedade como a nossa, a existncia de procedimentos de excluso. O mais natural o interdito. O ser huma- no sabe que tem conscincia de que no tem direito de dizer tudo o que se deseja, que no pode falar do que quer que seja. Para Foucault, todo o seu trabalho foi desenvolvido em uma arqueologia do saber filosfico, da
  7. 7. ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUSTICA E FILOLOGIA Cadernos do CNLF, Vol. XV, N 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 79 experincia literria e da anlise do discurso, havendo uma relao de poder e uma prtica de subjetivao. Em sua poca h uma popularidade do estruturalismo que logo se integra aos autores e filsofos Derrida e Barthes. Para Foucault, o discurso verdadeiro separado do desejo e liberto do poder pela necessidade da sua forma no pode reconhecer a vontade de verdade que o atravessa e a vontade de verdade que, desde h muito, nos foi imposto. H a necessidade de que o autor revele o sentido escon- dido que o atravessa, pois ele que d inquietante linguagem da fico, as suas unidades na medida em que as escolhe coerentemente na insero do real. O indivduo que comea a escrever um texto retoma a sua funo de autor. Aquele que escreve que seleciona as palavras do dia a dia com ele a concebe de sua poca e por sua natureza as modifica. O princpio do autor afirma com o jogo de identidade que tem a forma da individualidade e do eu. No um sentido que deve ser redes- coberto, nem est suposto que uma identidade que deve ser repetida, antes est suposto aquilo que necessrio para a construo de novos enunciados. A doutrina de Foucault liga os indivduos a certos tipos de enun- ciao e lhes interdita todos os outros, porm em reciprocidade serve-se de tipos de enunciao para unir indivduos entre si e, dessa forma, dife- renci-los de todos os outros. Ele efetua uma dupla sujeio, sendo a dos sujeitos falantes ao discurso e dos discursos ao grupo dos indivduos fa- lantes. Afinal de contas um sistema uma qualificao e uma fixao dos papis falantes, constituindo um grupo doutrinal que se apropria do dis- curso com os seus poderes e os seus saberes. na realidade uma rituali- zao da fala. Desta forma, ser um sujeito para Foucault ocupar uma posio enquanto enunciador, pois os sujeitos so enunciados ligados lingua- gem e ao signo. 4.4. O sujeito para Pcheux Para Pcheux, a lngua um objeto montado pelo linguista e deve ser reconhecida pelo seu funcionamento e no porque tem funes. O ob- jeto da anlise do discurso para ele cruza a via do acontecimento, o da es- trutura e o da tenso entre descrio e interpretao da anlise do discurso.
  8. 8. ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUSTICA E FILOLOGIA Cadernos do CNLF, Vol. XV, N 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 80 O sujeito para Pcheux se constitui pelo Esquecimento daquilo que o determina. Pode precisar que a interpelao do indivduo em sujei- to de seu discurso se efetua pela identificao com a formao discursiva que o domina. uma unidade imaginria do sujeito, pois se apoia no fato de que os elementos dos interdiscursos constituem discurso do sujeito e os traos daquilo que o determinam, j que os enunciados so sempre re- petidos pelo sujeito. Nesses traos discursivos imagina-se que todo sujeito falante sabe do que falado, pois todo enunciado produzido reflete propriedades es- truturais independentes de sua enunciao: essas propriedades se inscre- vem, de forma transparente, em uma descrio adequada do universo, j que esse universo tomado discursivamente nesses traos determinantes. A questo terica posta em contexto , pois, a do estatuto das dis- cursividades que trabalham um acontecimento, entrecruzando proposi- es de aparncia estvel, suscetveis de resposta unvoca e formulaes equivocadas. Pcheux no deixa de levar em conta a presena da reflexo sobre a materialidade da linguagem e da histria, mesmo percorrendo agora o espao das mltiplas urgncias do cotidiano. De acordo com a materialidade do discurso e do sentido, diz-se que os indivduos so interpelados em sujeitos falantes, isto , em sujei- tos dos seus discursos e dessas formaes discursivas que representam na linguagem as formaes ideolgicas que so coerentes. Pcheux se colocou entre o que se pode chamar de sujeito da lin- guagem e sujeito da ideologia, formando uma mediao entre esses sujei- tos. 5. Consideraes finais Segundo Lacan, o sujeito advm pela linguagem, mas se perde ne- la, por estar a apenas representado. A verdade do sujeito s advm na ar- ticulao da linguagem em sua enunciao. O sujeito do desejo deve ser situado ao nvel do sujeito da enunciao. O sujeito pragmtico i- tem por si mesmo uma imperiosa necessidade de homogeneidade lgica: isto se marca pela exis- tncia dessa multiplicidade de pequenos sistemas lgicos portteis que
  9. 9. ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUSTICA E FILOLOGIA Cadernos do CNLF, Vol. XV, N 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 81 e- Podemos resumir o que precede dizendo sob a evidncia de que -identificao ( al- gum chamado a ocupar o lugar, um espao = identificao discursiva) que produz o sujeito no lugar deixado vazio. a ideologia que, atravs marcados entre a constatao e a norma que funcionam como um dispo- si ue fornece as evidncias pe- a- tro, uma fbrica, uma greve, etc., evidncias que fazem com que uma chama o carter material do sentido das palavras e dos enunciados. (ideo- lgico / discursivo / classe social). O EGO, isto , o imaginrio do sujeito no pode reconhecer sua subordinao, seu assujeitamento ao Outro ou ao Sujeito, j que essa su- bordinao-assujeitamento se realiza precisamente no sujeito sob a forma da autonomia. Est-se retomando a designao que Lacan e Althusser de- ram do processo natural e scio-histrico pelo qual se constitui-reproduz o efeito-sujeito como interior sem exterior e isso pela determinao do real (exterior) e especificamente acrescenta-se do interdiscurso como real (exterior). Diz- e- u- i- de seus atos etc., e as noes de assero e de enunciao esto a para desig sujeito, enquanto sujeito-falante. (171) na linguagem e pela linguagem que o homem se constitui como sujeito: porque s a linguagem se fundamenta na realidade, na sua reali- dade que a do ser A lngua, enquanto assumida pelo homem que fala e sob a condi- o de intersubjetividade, a nica que torna possvel a comunicao lingustica. (293)
  10. 10. ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUSTICA E FILOLOGIA Cadernos do CNLF, Vol. XV, N 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 82 A linguagem no entendida como uma origem ou como algo que encobre uma verdade existente, mas sim como exterior a qualquer falante e que define a posio de todo sujeito possvel. Pcheux introduz o sujeito enquanto efeito ideolgico elementar. Nada se torna um sujeito, mas aquele que chamado sempre j-sujeito. Todo sujeito humano social s pode ser agente de uma prtica social enquanto sujeito. Os sujeitos de Lacan, Foucault ou Derrida so ligados ao signo, diferentes de Pcheux. Este introduz outra lingustica formal que no jus- tape a enunciao, constituindo uma filosofia das ideologias: de Lacan e de Althusser. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BENVENISTE, mile. Problemas de lingustica geral I. Trad. NOVAK e NERI. So Paulo: Pontes, 1995. ______. Problemas de lingustica geral II. Campinas: Pontes, 1998. CHARAUDEAU, P.; MAINGUENEAU, D. Dicionrio de anlise do discurso. So Paulo: Contexto, 2004. CHNAIDERMAN, Mirian. Linguagem(ns) identidade(s) movimen- to(s): uma abordagem psicanaltica. In: SIGNORINI, Ins. Lngua(gem) e identidade: elementos para uma discusso no campo aplicado. Campi- nas: Mercado das Letras, 2006. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. So Paulo: Loyola, 1999. s- Por uma anlise automtica do discurso: uma introduo obra de Michel Pcheux. Trad. MARIANI, Bethnia S. So Paulo: Universidade Estadu- al de Campinas. PCHEUX, Michel. O discurso: estrutura ou acontecimento. Trad. OR- LANDI, Eni Puccinelli. Campinas: Pontes, 2008. ______. Semntica e discurso: uma crtica afirmao do bvio. So Paulo: UNICAMP, 1988. RAJAGOPALAN, Kanavillil. O conceito de identidade em lingustica chegada a hora para uma reconsiderao radical? In: SIGNORINI, Ins.
  11. 11. ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUSTICA E FILOLOGIA Cadernos do CNLF, Vol. XV, N 5, t. 1. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 83 Lngua(gem) e identidade: elementos para uma discusso no campo apli- cado. Campinas: Mercado das Letras, 2006. SIGNORINI, Ins. Lngua(gem) e identidade: elementos para uma dis- cusso no campo aplicado. Campinas: Mercado das Letras, 2006.