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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJUR CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA A CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS COMO MEIO E AGENTE AGILIZADOR DO ACESSO À JUSTIÇA FERNANDA BARNI PEREIRA Itajaí [SC], junho de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJUR CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

A CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS

COMO MEIO E AGENTE AGILIZADOR DO ACESSO À JUSTIÇA

FERNANDA BARNI PEREIRA

Itajaí [SC], junho de 2008.

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II

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS – CEJUR CURSO DE DIREITO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

A CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS

COMO MEIO E AGENTE AGILIZADOR DO ACESSO À JUSTIÇA

FERNANDA BARNI PEREIRA

Monografia submetida à Universidade

Do Vale do Itajaí – UNIVALI, sob a

orientação do Sr. Prof. MSc. Eduardo

Mattos Gallo Júnior, como requisito

parcial à obtenção do grau de

Bacharel em Direito.

Itajaí [SC], junho de 2008.

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III

PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale

do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Fernanda Barni Pereira, sob o

título “A Conciliação nos Juizados Especiais Cíveis Estaduais como meio e

agente agilizador do Acesso à Justiça”, foi submetida em ___/ 06/ 2008, à banca

examinadora composta pelos seguintes professores: Sr. Prof. MSc. Eduardo

Mattos Gallo Júnior e Sr._____________________, e aprovada com nota ______

(_________________).

Itajaí [SC], junho de 2008.

Prof. MSc. Eduardo Mattos Gallo Júnior

Orientador e Presidente da Banca

Prof. MSc. Antonio Augusto Lapa

Coordenação da Monografia

Sr. ___________________

Membro da Banca

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IV

“Você Se fez presente em todos os momentos firmes ou trêmulos e,

passo a passo, pude sentir a Sua mão na minha,

transmitindo-me a segurança necessária para entender meu caminho e seguir.

A Sua presença é qualquer coisa como a luz e a vida,

e eu sinto que em meu gesto existe o Seu gesto e em minha voz, a Sua voz”.

Vinicius de Moraes

Ao meu pai, meu amigo, e que agora é meu anjo da guarda.

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V

Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus. Ele tem

dado a força que tenho precisado em todos os

momentos.

Ao Prof. MSc. Eduardo Mattos Gallo Júnior, que

contribuiu com sua eficaz orientação e rigor científico

para a concretização deste trabalho.

A Sra. Veranice Barni Pereira, minha mãe e pai na

Terra. Mãe forte e guerreira que tanto amo. Meu

exemplo de vida.

A família que tem sido minha base e que me ampara

sempre que necessário. Vocês são tudo!

A família Diehl, minha família de coração, especialmente

na pessoa do Sr. Jorge Marcelo Dornelles Diehl, que

sempre me incentiva aos estudos. Amo vocês.

Aos colegas do Gabinete do Juizado Especial Cível de

Itajaí que me auxiliaram, diariamente, na busca do

conhecimento.

Aos professores e funcionários do curso de Direito da

UNIVALI de Itajaí que muito contribuíram para a minha

formação jurídica.

Aos amigos, de verdade, agradeço de todo o coração.

Vocês são presentes que a vida me deu. Os irmãos que

Deus me deixou escolher.

Aos colegas de classe que encerram junto comigo esta

jornada. Enfim formados!

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VI

“O Poder Judiciário é a consagração do Estado de Direito e os Juizados Especiais

Cíveis, a realização eficaz da Justiça”.

Luiz Cláudio Silva

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VII

DECLARAÇÃO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de Direito, que assumo total responsabilidade pelo

aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí - UNIVALI, a coordenação do Curso de Direito, a Banca

Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do

mesmo.

Itajaí [SC], junho de 2008.

Fernanda Barni Pereira

Graduanda

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VIII

RESUMO

O presente trabalho tem como OBJETO de estudo a Conciliação

nos Juizados Especiais Cíveis, de âmbito Estadual. Os OBJETIVOS GERAIS da

presente pesquisa fundamentam-se na aplicabilidade da Lei 9.099, de 26 de

setembro de 1995, bem como, uma análise dos procedimentos peculiares

adotados ao Juizado Especial Cível para alcançar o Acesso à Justiça, através da

Conciliação. Como OBJETIVOS ESPECÍFICOS, a pesquisa procurou

contextualizar historicamente o surgimento dos Juizados Especiais Cíveis

Estaduais no sistema judicial brasileiro, desde a criação dos Juizados Especiais

de Pequenas Causas, com a Lei 7.244 de 07.11.1984, e a Constituição Federal

de 1988, em seu artigo 98, que dispõe sobre: a criação dos Juizados Especiais,

sua composição por Juízes Togados, Leigos e Conciliadores, com competência

para conciliar nas causas cíveis de menor complexidade, permitidos com previsão

na Lei 9.099/95, que também veio a regulamentar o dispositivo constitucional que

determina a competência dos entes estatais para criação dos Juizados. Esta

investigação tem como problemática fundamental, a aplicação do princípio do

Acesso à Justiça como meio de obter a Conciliação. Finalizar-se-á o trabalho com

uma abordagem sobre os objetivos da criação dos Juizados Especiais Cíveis, a

prática processual de seus procedimentos e a sua real efetividade na consecução

do Acesso à Justiça. Quanto à METODOLOGIA, utilizou-se a Investigação, o

Método Indutivo, com o apoio das Técnicas do Referente, da Categoria, do

Conceito Operacional e da Pesquisa Bibliográfica.

Palavras-chave:

Acesso à Justiça – Juizado Especial Civil – Conciliação

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IX

ABSTRACT

The present work has as study OBJECT the Conciliation in the

Special Civil Court Jurisdiction, of State scope. The GENERAL OBJECTIVES of

the present research are based on the applicability of Law 9.099, of 26 of

September of 1995, as well as, an analysis of the peculiar procedures adopted on

the Special Civil Court to reach the conciliation. As ESPECIFICS OBJECTIVES,

the research it looked for historically to context the sprouting of the Courts Special

Civil State Court Jurisdiction in the Brazilian judicial system, since the creation of

the Special Courts of Small Causes, with Law 7.244 of 07.11.1984, that it

instituted it, and the Federal Constitution of 1988, in its article 98, that makes use

on the creation of the Special Courts, its composition for Judges, Lay Judges and

Conciliators, with ability to conciliate of lesser complexity, with verbal procedures

and highly summarized, allowed with forecast in Law 9.099/95, that it regulated

reation Courts, and the judges of the constitutional device that determined the

ability of state beings for resources for groups of Juízes of first degree. This inquiry

has as basic problematic, the application of the principle of the Access to Justice

as half to get the Conciliation. How about the METHODOLOGY, it was used

Inquiry, the Inductive Method, with the support of the Techniques of the Referring,

the Category, the Operational Concept and the Bibliographical Research.

Key-words:

Access to Justice – Special Civil Court Jurisdiction – Conciliation

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X

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ART – Artigo.

CDL – Câmara de Dirigentes Lojistas.

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho.

CPC – Código de Processo Civil.

EUA – Estados Unidos da América.

JEC – Juizado Especial Cível.

PAC – Postos de Atendimento e Conciliação.

PROCON – Procuradoria de Defesa do Consumidor.

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XI

ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos operacionais:

Acesso à Justiça

No sentido de Direito inerente à natureza humana o Acesso à Justiça é um Direito

Natural. No sentido de garantia desse acesso, legitimamente efetivado pela

Constituição e pela legislação infraconstitucional, é um Direito Fundamental.

Nesse sentido é que se afirma dever o Processo ser manipulado de modo a

propiciar às partes Acesso à Justiça. A doutrina brasileira atual tem chamado a

esse fenômeno de acesso à ordem jurídica justa1.

Celeridade

Celeridade significa que o Processo deve ser rápido, e terminar no menor tempo

possível, por envolver demandas economicamente simples e de nenhuma

complexidade jurídica, a fim de permitir ao autor a satisfação quase imediata do

seu Direito2.

Conciliação

Derivado do latim conciliatio, de conciliare (atrair, harmonizar, ajuntar), entende-se

o ato pelo qual duas ou mais pessoas, desavindas a respeito de certo negócio,

ponham fim à divergência amigavelmente. [...] Na Conciliação, segundo seu

sentido próprio de acordo amigável ou solução amigável da contenda, não há

ritual preestabelecido: a vontade das partes faz a regra. E a Conciliação se fará

sempre que as partes possam transigir, dentro da demanda ou fora dela3.

1 BEZERRA, Paulo César Santos. Acesso à Justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito. Rio de Janeiro: Renovar, 2001. p.120. 2 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. 3 ed. Curitiba: Juruá, 2007. p. 18. 3 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. p. 192.

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XII

Conciliador

Os Conciliadores e Juízes Leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, os

primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os segundos, entre

advogados com mais de cinco anos de experiência. Parágrafo único. Os Juízes

Leigos ficarão impedidos de exercer a advocacia perante os Juizados Especiais,

enquanto no desempenho de suas funções4.

Direito

Derivado do latim directum, do verbo dirigere (dirigir, ordenar, endireitar), quer o

vocábulo, etimologicamente, significar o que é reto, o que não se desvia,

seguindo uma só direção, entendendo-se tudo aquilo que é conforme à razão, à

justiça e à equidade. [...] Em seu sentido objetivo, propriamente derivado do

directum latino, o Direito, a que se diz de norma agendi, apresenta-se como um

complexo orgânico, cujo conteúdo é constituído pela soma de preceitos, regras e

leis, com as respectivas sanções, que regem as relações do homem, vivendo em

sociedade5.

Direito de Ação

O Direito de propor ou contestar ação se funda em ter a pessoa legítimo

interesse, gerado na própria razão de ser da ação, a ratio agendi, em virtude da

qual se encontra o motivo, legítimo, direto e atual, que justifica a presença da

pessoa em juízo6.

Direito Subjetivo

O Direito, em sentido subjetivo quer significar o poder de ação assegurado

legalmente a toda pessoa para defesa e proteção de toda e qualquer espécie de

4 BRASIL. Lei 9099, de 09 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 26 de set. 1995. 5 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 268. 6 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 271.

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XIII

bens materiais ou imateriais, do qual decorre a faculdade de exigir a prestação ou

abstenção de atos, ou o cumprimento da obrigação, a que outrem esteja sujeito7.

Economia processual

Princípio regente do Processo relacionando seu custo, não só o econômico mas

também o social, com os fins visados, quais sejam o da eficiente prestação

jurisdicional. O princípio da Economia Processual assegura a efetividade do

Processo8.

Homologação

Derivado do verbo latino homologare, provindo do grego omologein (reconhecer),

na terminologia jurídica exprime especialmente o ato pelo qual a autoridade,

judicial ou administrativa, ratifica, confirma ou aprova um outro ato, a fim de que

possa investir-se de força executória ou apresentar-se com validade jurídica, para

ter eficácia legal. [...], ato de ratificação ou de confirmação, não dá Direito novo

nem novo título, não dispondo, pois, de modo diferente àquele ajustado ou

estabelecido no ato homologando e homologado. Somente lhe dá força e ativa o

Direito de execução. E o magistrado, quando homologa o ato, intervém

simplesmente para o efeito de lhe imprimir o caráter público de que carece, e para

ter a força de execução de que também necessita9.

Informalidade

A Lei 9.099/95 não está muito preocupada com a forma em si mesma; sua

atenção fundamental dirige-se para a matéria de fundo, ou seja, a concretização,

a efetivação do Direito do jurisdicionado que acorreu ao Judiciário para fazer valer

a pretensão, com a maior Simplicidade e rapidez possível10.

Juizado Especial

7 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 277. 8 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 293. 9 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 399. 10 FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p.66.

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XIV

É o órgão judiciário, composto por Juízes Togados ou Togados e Leigos,

responsável pela Conciliação, julgamento e execução de causas cíveis de menor

complexidade e de delitos penais de pequeno potencial ofensivo. Observarão os

procedimentos oral e sumaríssimo, permitindo-se, nas hipóteses legais, a

transação e o julgamento de recursos, porventura interpostos, por turmas de

Juízes de primeiro grau11.

Juiz Leigo (ou de Fato)

Designação geralmente dada [...] à pessoa que, não tendo o caráter público de

magistrado, é chamada para constituir um tribunal, para julgar ou se pronunciar

sobre fatos12.

Juiz Togado (ou de Direito)

Denominação genérica atribuída ao [...] magistrado que administra a justiça em

primeira instância. [...] O Juiz de Direito é o Juiz singular, colocado em certas

circunscrições (comarcas), em que se limita sua jurisdição, nas quais será o

administrador da justiça, em nome do Estado. Em regra, somente podem ser

investidas no cargo de Juiz de Direito, pessoas formadas em Direito13.

Justiça

Derivado de justitia, de justus, quer o vocábulo exprimir, na linguagem jurídica, o

que se faz conforme o Direito ou segundo as regras prescritas em lei. É, assim, a

prática do justo ou a razão de ser do próprio Direito, pois que por ela se

reconhece a legitimidade dos Direitos e se restabelece o império da própria lei14.

Litígio

Derivado do latim litigium, de litigiare (litigar), quer o vocábulo exprimir

propriamente a controvérsia ou a discussão formada em juízo, a respeito do

11 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 461. 12 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 460. 13 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 459. 14 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 471.

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XV

Direito ou da coisa, que serve de objeto da ação ajuizada. A rigor, pois, Litígio

entende-se a demanda proposta em justiça, quando é contestada. Pela

contestação, o juízo se forma. [...] Assim, somente há Litígio em Processo

contencioso, onde haja formação de juízo para discussão da causa15.

Oralidade

Derivado de oral, significa procedimento verbal, ou seja, tudo o que se faz

verbalmente. Mas, tecnicamente, a Oralidade não implica na inexistência de

qualquer escrito, que venha fixar o que é feito pela palavra falada. [...] Na técnica

processual, mesmo, a Oralidade, mostrando a soma de atos que se fazem de

boca a boca, converte-se, a seguir, em termo escrito, onde tudo o que se fez ou

disse é convenientemente registrado, para que se fixe, conforme se praticou e

conforme se decidiu16.

Pobre

Derivado do latim pauper. No sentido do Direito processual, Pobre entende-se,

propriamente, a pessoa que não tem recursos ou não está em condições de

pagar as custas ou as despesas de um Processo, sem prejuízo de manutenção

de sua família e de si mesmo17.

Princípios

[...], significa as normas elementares ou os requisitos primordiais instituídos como

base, como alicerce de alguma coisa. E, assim, Princípios revelam o conjunto de

regras ou preceitos, que se fixam para servir de norma a toda espécie de ação

jurídica, traçando, assim, a conduta a ser tida em qualquer operação jurídica18.

Processo

15 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 497. 16 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 575. 17 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 613. 18 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 639.

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XVI

O instrumento através do qual a jurisdição opera (instrumento para a positivação

do poder). Processo é conceito que transcende ao Direito processual. Sendo

instrumento para o legítimo exercício do poder, ele está presente em todas as

atividades estatais (Processo administrativo, legislativo) e mesmo não estatais

(Processos disciplinares dos partidos políticos ou associações, Processos das

sociedades mercantis para aumento de capital, etc.)19.

Sentença

Do latim sententia (modo de ver, parecer, decisão), a rigor da técnica jurídica, e

em amplo conceito, Sentença designa a decisão, a resolução, ou a solução dada

por uma autoridade a toda e qualquer questão submetida à sua jurisdição. Assim,

toda Sentença importa num julgamento, seja quando implica numa solução dada

à questão suscitada, ou quando se mostra uma resolução da autoridade, que a

profere. [...] Sentenciar é concluir, emitindo parecer ou decisão; é solucionar uma

pendência, julgando-a de modo justo, é pôr termo a qualquer dúvida, em frente às

razões expostas. [...] ato que põe termo à relação processual, é aquela que, como

provimento emanado do Juiz, se pronuncia sobre o mérito da demanda, decidindo

sobre a existência, ou inexistência da vontade concreta da lei, deduzida da lide,

ou da controvérsia incidental nela suscitada20.

Simplicidade

O princípio da Simplicidade no Juizado Especial busca evitar também, que o

Processo sofra obstáculos desnecessários com incidentes processuais, sendo

que o momento oportuno para oferecer toda matéria de defesa é na Contestação,

inclusive pedido contraposto ao réu. Exceção no caso de argüições de suspeição

ou impedimento do Juiz, exceções processuais, onde são usadas as normas do

Código de Processo Civil21.

19 CINTRA, Antônio Carlos Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 17 ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 277-278. 20 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 745-746. 21 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 18.

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SUMÁRIO

RESUMO .....................................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.VIII

ABSTRACT ...................................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.IX

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS........ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.X

ROL DE CATEGORIAS.................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.XI

1 INTRODUÇÃO.............................................ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.1

2 PRIMEIRO CAPÍTULO ............................................................................................ 5

A EFETIVIDADE E O ACESSO A JUSTIÇA.............................................................. 5

2.1CONSIDERAÇÕES INICIAIS.................................................................................5

2.2 A JUSTIÇA............................................................................................................7

2.3 A DEFINIÇÃO DO DIREITO DE ACESSO À JUSTIÇA ........................................9

2.3.1 O desconhecimento do Direito .........................................................................12

2.3.2 A pobreza.........................................................................................................15

2.3.3 A lentidão processual.......................................................................................18

2.4 A EFETIVIDADE PROCESSUAL........................................................................20

2.3.3 A Efetividade do Acesso à Justiça no Juizado Espcial ....................................22

3 SEGUNDO CAPÍTULO.......................................................................................... 25

OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ......................................................................... 25

3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS..............................................................................25

3.2 ORIGEM..............................................................................................................26

3.3 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS JUIZADOS NO BRASIL...................29

3.4 OS JUIZADOS ESPECIAIS ................................................................................34

3.5 CRITÉRIOS E PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM O PROCESSO NO JUIZADO ...42

3.5.1 Oralidade ......................................................................................................................45

3.5.2 Simplicidade.................................................................................................................48

3.5.3 Informalidade ...............................................................................................................50

3.5.4 Economia processual ................................................................................................. 51

3.5.5 Celeridade ....................................................................................................................53

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4 TERCEIRO CAPÍTULO ......................................................................................... 55

A CONCILIAÇÃO COMO MEIO DE ACESSO À JUSTIÇA ..................................... 55

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS..............................................................................55

4.2 CONCEITO .........................................................................................................57

4.3 AS CAUSAS SUJEITAS À CONCILIAÇÃO.........................................................59

4.4 A AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO.........ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.60

4.4.1 Modalidades de Conciliação ............................................................................63

4.4.2 Formas de Atendimento.............................................................................................66

4.5 AS VANTAGENS DA CONCILIAÇÃO E OS RISCOS DO LITÍGIOERRO! INDICADOR NÃO

4.6 OS CONDUTORES DA CONCILIAÇÃO.............................................................70

4.6.1 O Juiz Togado.................................................Erro! Indicador não definido.72

4.6.2 O Juiz Leigo .....................................................................................................73

4.6.3 O Conciliador ..................................................Erro! Indicador não definido.74

4.7 DA REDUÇÃO A TERMO E A SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA DE CONCILIAÇÃO .........................................................................................................76

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................80

REFERÊNCIAS DAS FONTES CITADAS ...ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.86

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1 INTRODUÇÃO

É tendência mundial a busca de alternativas para a resolução de

conflitos através do Processo clássico, instaurado junto ao Poder Judiciário.

Contudo, na ânsia de manter a imparcialidade na realização da Justiça, o

Judiciário, acabou por estagnar-se no tempo, fechando-se em sua autonomia e se

afastando do dinamismo da sociedade.

Este sintoma de incapacidade do Estado em solucionar todas as

lides é oriundo do aumento das populações e da litigiosidade decorrente da

consolidação dos direitos.

O ânimus de ampliação do Acesso à Justiça exige sistemas de

solução de controvérsias fora dos padrões processuais tradicionais: contenciosos,

de natureza estritamente jurisdicional, sabidamente saturada, onerosa e tardia.

Houve a necessidade de adotar novos parâmetros e mecanismos voltados à

Celeridade, sem formalismos excessivos, e de custos menores, para que pudesse

atender à população como um todo.

Os Juizados de Pequenas Causas, atualmente conhecidos como

Juizados Especiais, foram idealizados e instituídos com o objetivo de facilitar o

Acesso à Justiça.

A estratégia visa diminuir substancialmente o tempo de duração da

lide, bem como, viabilizar a solução dos conflitos por intermédio de procedimentos

simplificados e informais, reduzindo assim, o número de ações em trâmite nos

foros.

A Conciliação é uma das formas alternativas aplicadas na solução

dos Litígios. Esta é considerada o instrumento mais saudável e cultural utilizado

pelas partes na solução das controvérsias, visto que, o acordo firmado entre as

partes pressupõe a aceitação mútua de suas questões conflituosas. Assim, a

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2

composição amigável fortalece a pacificação social e contribui para a dinâmica da

busca da Justiça ideal.

O objeto do presente trabalho é a Conciliação nos Juizados

Especiais Cíveis, de âmbito Estadual, pretendendo comprovar que a composição

amigável é a melhor forma de solucionar as lides, à medida que a Sentença de

mérito, apenas põe termo à controvérsia no plano de Direito e nem sempre, ou

não necessariamente, extingue o Litígio ou satisfaz completamente as partes.

Extremamente relevante, o tema quer apresentar o Juizado

Especial Cível como uma possibilidade de ingresso em juízo, sem ônus pelas

custas ou responsabilidade pelos honorários (em primeira instância, nas

demandas de menor complexidade probatória e com valor econômico pouco

expressivo), com base nos Princípios da Oralidade, Simplicidade, Informalidade e

economia, garantindo a Celeridade processual, ou seja, diminuindo o lapso

temporal entre a data da propositura da ação e a manifestação final do poder

judiciário.

Visando atingir os objetivos propostos, a pesquisa foi dividida em

três capítulos, sendo que, inicia-se no Primeiro Capítulo, uma reflexão sobre o

Acesso à Justiça, cujo entendimento, genericamente tido como o acesso aos

tribunais, já não satisfaz, sendo necessário considerá-lo como um Direito

Constitucional.

O Segundo Capítulo lança luz aos Juizados Especiais Cíveis, sua

origem, criação e desenvolvimento, bem como, os Princípios que regem as

normas deste novo sistema.

O Terceiro Capítulo cuida especificamente da Conciliação, fazendo

uma abordagem à prática processual do sistema do Juizado Especial Cível,

procurando demonstrar sua Informalidade, e, conseqüentemente, sua Celeridade,

facilitadoras do Acesso à Justiça.

O estudo se encerra com as Considerações Finais, nas quais faz-

se um paradigma entre os objetivos da criação dos Juizados Especiais Cíveis e a

sua real efetividade na consecução do Acesso à Justiça.

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3

Para o trabalho formulam-se os seguintes questionamentos:

1. Quais as inovações trazidas pela Lei 9099/95 no que

tange ao Processo judicial e de que forma tramitarão?

2. Quais os objetivos da Conciliação?

3. Quais os agentes criados pela Lei 9099/95 e qual a sua

importância na agilização da prestação jurisdicional?

Partindo das hipóteses:

1. As inovações na esfera processual trazidas pela Lei

9.099/95 (como por exemplo, a Conciliação) são

significativas, de modo a fazer com que os atos processuais

desenvolvam-se de maneira simples, informal, econômica,

oral e célere.

2. A Conciliação tem como principais objetivos: criar uma

mentalidade voltada à pacificação social, diminuir

substancialmente o tempo de duração do Litígio, viabilizar a

solução dos conflitos por meio de procedimentos informais e

simplificados, e reduzir, por conseqüência, o número de

Processos no Poder Judiciário.

3. Os agentes criados pela Lei 9.099/95 (como por exemplo, a

figura do Conciliador) assumem grande importância no

exercício de suas funções, haja vista que, supervisionados

pelo Juiz Togado, suprem a necessidade da presença deste

em diversos atos, diminuindo a pletora de Processos, de

modo a viabilizar o Acesso à Justiça.

A presente monografia segue as orientações metodológicas

apresentadas durante o curso, especialmente a obra de Pasold1, sendo que, para

a investigação do objeto desta pesquisa, adotar-se-á o método indutivo, entendido

1 PASOLD, César Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica. Florianópolis: OAB/SC Editora, 1999. p. 85.

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como o ato de “pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las

de modo a ter uma percepção ou conclusão geral”.

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5

2 PRIMEIRO CAPÍTULO

A EFETIVIDADE E O ACESSO À JUSTIÇA

2. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Presencia-se, atualmente, a morosidade da Justiça e a

inaplicabilidade do Direito de acesso ao Judiciário. Cappelletti2 elenca entre os

problemas mais importantes do país, o problema da efetividade, ou seja, da

igualdade de todos perante o Direito e à justiça.

Apesar da determinação Constitucional e da supremacia que estas

normas exercem perante as demais normas do ordenamento jurídico vigente,

Pastore3 adverte que é longo o caminho a ser percorrido para que o Princípio de

Acesso à Justiça se torne uma garantia plena a todo o indivíduo.

Define Cappelletti que:

A expressão “Acesso à Justiça” é reconhecidamente difícil de definição,

mas serve para determinar duas finalidades básicas do sistema jurídico –

o sistema pelo qual as pessoas podem reivindicar seus Direitos e/ou

resolver seus Litígios sob os auspícios do Estado. Primeiro, o sistema

deve ser igualmente acessível a todos; segundo, ele deve produzir

resultados que sejam individuais e socialmente justos4.

Silva5, por sua vez, ensina que Acesso à Justiça é uma expressão

que quer significar o Direito de buscar proteção judiciária, o que vale dizer que é o

Direito de recorrer ao Poder Judiciário em busca da solução de um conflito de

interesses. Nesta acepção, a expressão Acesso à Justiça tem um sentido

2 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. p. 114. 3 PASTORE, Suzana Vereta Nahoum. Os Rumos da Efetividade. Revista de Direito Constitucional e Internacional. p. 155. 4 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. p. 08. 5 SILVA, José Afonso da. Acesso à Justiça e Cidadania. Revista de Direito Administrativo. vol. 216. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 09.

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institucional. É a significação que está expressa no inc. XXXV do art. 5º da

Constituição6, quando expõe que “a lei não poderá excluir de apreciação do Poder

Judiciário lesão ou ameaça a Direito”.

Delgado7, em relação ao artigo supracitado, aduz que a abertura

da via judiciária, como meio de proteger os direitos fundamentais do cidadão,

deve ser concebida como uma garantia sem possibilidade de acolher lacunas. Isto

comprova que o judiciário deve atender a todos os indivíduos que necessitarem

de sua tutela, sem que haja qualquer distinção.

O entendimento de Rodrigues divide o conceito de livre acesso ao

judiciário em duas partes:

Primeiro, atribuindo ao significante justiça o mesmo sentido e conteúdo

que o de Poder Judiciário, tornando sinônimas as expressões de Acesso

à Justiça e acesso ao judiciário; o segundo, partindo de uma visão

axiológica da expressão justiça, compreende o acesso a ela como o

aceso a uma determinada ordem de valores e direitos fundamentais para

o ser humano. Esse último, por ser mais amplo, engloba no seu

significado o primeiro. Ambos são conceitos válidos8.

Moraes9 vai mais além. Segundo ele, o ingresso nas vias

processuais é mais que um Direito social fundamental; é o foco central de um

Processo de conscientização cultural.

A lei é letra morta na ausência de instância que garanta a sua

efetividade. Ao judiciário cabe aplicar a lei, e conseqüentemente, garantir sua

efetivação. No mesmo caminho, Tavares ensina que:

O princípio do acesso ao Judiciário é um dos pilares sobre o qual se

ergue o Estado de Direito, pois de nada adiantariam as leis regularmente

votadas pelos representantes populares se, em sua aplicação,

pudessem padecer do desrespeito direto e não-controlável, seja por

6 BRASIL. Constituição [1998]. Constituição da República Federativa do Brasil. 7 DELGADO in TAVARES, André Ramos. Apontamentos acerca do Princípio Constitucional do Acesso à Justiça. Boletim Científico. Brasília: Escola Superior do Ministério Público da União, 2003. p. 10. 8 RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Acesso à Justiça no Direito Processual Brasileiro. p. 28. 9 MORAES, Silvana Campos. Juizado Especial Cível. p. 23.

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parte da sociedade, seja pelos operadores oficiais do Direito. É

necessário que se estabeleça um órgão com a competência específica

para proceder o controle da observância do princípio da soberania

popular, de respeito às leis10.

O Estado deve garantir a cada cidadão o Direito de dirimir seus

conflitos através do Poder Judiciário. Ao não prover estas prerrogativas,

Rodrigues11 afirma que, o estreito canal de Acesso à Justiça, além de produzir o

indesejável descrédito do povo nas instituições jurídicas, produz o agravamento

da litigiosidade latente.

2.2 JUSTIÇA

Estudos sociológicos confirmam que os indivíduos tendem a

buscar relacionamentos entre si, tanto no que tange a condutas particulares,

quanto a condutas negociais. Estas relações são necessárias para que o homem

desenvolva-se como pessoa, pois nessas relações está presente o bem maior

que norteia a vida em sociedade, o Direito.

O homem, segundo Frigini12, porque é dotado de discernimento,

tende a exteriorizar na sua vida o conceito do justo, como sendo a adoção e a

submissão às condutas capazes de valorizar a sua própria vida e a do

semelhante.

O referido autor13 expõe, ainda, que o crescimento e

desenvolvimento do homem, colhendo as experiências de seus iguais,

entremeando de acontecimentos ora favoráveis, ora desfavoráveis, que o tornam

pessoa afeita a um determinado modo de vida. Por outras palavras, o homem é

chamado a comportar-se harmonicamente com os seres e as coisas que o

cercam, como obreiro de uma sociedade livre, justa e solidária, preceitos estes

10 TAVARES, André Ramos. Apontamentos acerca do Princípio Constitucional do Acesso à Justiça. Boletim Científico. p. 09. 11 RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Acesso à Justiça no Direito Processual Brasileiro. p. 70. 12 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. p. 38. 13 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. p. 38.

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que foram edificados como objetivos fundamentais da República Federativa do

Brasil, em seu art. 3º.

Ao viver em sociedade, o ser humano, nem sempre coerente,

acaba por esbarrar no Direito alheio, quebrando assim, aquela sintonia

indispensável à continuidade do relacionamento pacífico. Por esta inconstância, o

homem fixou limites, delimitou parâmetros de conduta, amparou violações,

obrigou a cumprir obrigações, criou uma ordem jurídica tal que enlaça na malha

da Lei o amparo e a coerção.

Frigini14 expõe, ainda, que para evitar a desordem e o

desmantelamento da sociedade, foi necessário que o próprio homem se

organizasse politicamente e fixasse regras de comportamento que estariam

destinadas a acompanhar a sua trajetória de vida, e que seriam tendentes a

equacionar a vida social, atribuindo aos seres humanos, que a constituem, uma

reciprocidade de poderes, ou faculdades, e de deveres, ou obrigações, de sorte

que todos (os ofendidos e os ofensores) pudessem ter a certeza da existência de

meios para a recomposição de freios inibidores ao desrespeito do Direito alheio,

bem como, a recomposição do sentimento de justiça.

Silva, então, conceitua Justiça:

Derivado de justitia, de justus, quer o vocábulo exprimir, na linguagem

jurídica, o que se faz conforme o Direito ou segundo as regras prescritas

em lei.

É, assim, a prática do justo ou a razão de ser do próprio Direito, pois que

por ela se reconhece a legitimidade dos Direitos e se restabelece o

império da própria lei15.

Aristóteles16 em sua obra Ética a Nicômaco, Livro V, conceitua

justiça como aquela disposição de caráter que torna as pessoas propensas a

fazer o que é justo, que as faz agir justamente e desejar o que é justo; e do

14 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. p. 40. 15 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 471. 16 ARISTÓTELES in DOTTI, Jorge et all. Estado e Política: a filosofia política de Hegel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. p. 321-325.

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mesmo modo, por injustiça se entende a disposição que as leva a agir

injustamente e a desejar o que é injusto. [...] O justo é proporcional; e o injusto

viola a proporção.

O filósofo supracitado17 ainda ensina que, desde que começou a

conviver com seus semelhantes, sentiu o homem a necessidade de normas

reguladoras de conduta da comunidade. Assim, o Direito e a Justiça são

conceitos correlativos. A Justiça é a virtude pela qual cada um tem o próprio,

segundo a lei, e a injustiça quando tem o alheio, não segundo a lei. A Justiça é a

vontade perpétua e constante de dar a cada um o que é seu. E o Direito é o meio

utilizado para resgatar o que de fato lhe é justo.

Buscando-se o que é justo, o que está expresso em Lei, estar-se-

ia buscando a igualdade entre os homens e o fortalecimento do social. Não se

pode deixar de relacionar Justiça à igualdade. Quando se busca a justiça, quer-se

alcançar igualdade de tratamento, exige-se paridade entre o dano e a reparação,

direitos idênticos e valores sociais não discriminatórios.

No momento em que o homem abriu mão de parte de sua

liberdade para o Estado, ao relacionar-se com outros indivíduos da sociedade,

ainda lhe restava o Direito pessoal e imprescritível de lutar contra as injustiças,

lutar contra as relações dos quais não concordava com o resultado obtido. E

criou, então, o Direito, com todas as suas normas e Princípios, para regular os

excessos e deficiências do sentimento do que é justo.

Pode-se concluir, que o sentimento de justiça é a sensação de

respeitabilidade advinda das relações entre os seres humanos. Sendo inerente ao

ser humano a condição de falibilidade, o homem erra, e para resolver os conflitos,

cria uma ordem jurídica baseada no resguardo dos direitos e na repressão.

2.3 A DEFINIÇÃO DO DIREITO DE ACESSO À JUSTIÇA

17 ARISTÓTELES in DOTTI, Jorge et all. Estado e Política: a filosofia política de Hegel. p. 321-325.

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10

A Justiça é dentre todos os valores o mais amplo, completo e

ansiosamente buscado pelo homem. Pastore18 ensina que o Acesso à Justiça

deve ser entendido como a possibilidade posta ao indivíduo de obter a prestação

jurisdicional do Estado, sempre que houver esta necessidade para a preservação

do seu Direito. Esta prestação jurisdicional deve ser realizada de modo imparcial,

rápido e eficiente.

Aduz ainda:

A história do Direito revela que a sociedade passou por vários estágios

até chegarmos à jurisdição. Inicialmente houve uma vingança social –

tribos e grupos sociais reunidos para a defesa mútua; posteriormente na

fase da vingança privada – Juízo das Ordálias, por exemplo – a vingança

não era efetivada pelo grupo social, mas pelo Estado incipiente. Por fim,

surgiu a fase atual, em que verificamos que o Estado proíbe a vingança,

chamando para si a função de fazer Justiça. Criam-se o Estado, a

obrigação e a necessidade de prestar assistência jurídica para aqueles

que não podem pagar por ela. [...] Não se trata de uma liberalidade

concedida facultativamente ao Estado. É um dever que se impõe

hodiernamente na certeza de sua essencialidade para a dignidade do

homem e reconhecimento dos direitos humanos19.

Com a instituição da Constituição Federal de 1998, e ao dispor

sobre os Direitos e garantias fundamentais, protegeu, o legislador, o Acesso à

Justiça. Firmou-se, então, o Acesso à Justiça sob três pilares, elencados abaixo

por Pastore:

O primeiro pilar refere-se a que toda lesão de Direito, toda controvérsia,

portanto, poderia ser levada ao Poder Judiciário e este teria de conhecê-

la, respeitada a forma adequada de acesso disposta pelas leis

processuais. Tal previsão consta no art. 5º, XXXV, da CF. [...]

O segundo pilar refere-se aos Princípios da ampla defesa e do

contraditório, assegurados aos litigantes, e à impossibilidade de

existência de juízo ou tribunal de exceção. Tais institutos estão previstos

nos incisos LV e XXXVII, respectivamente, do art. 5º da CF. [...]

18 PASTORE, Suzana Vereta Nahoum. Os Rumos da Efetividade. Revista de Direito Constitucional e Internacional. p. 160. 19 PASTORE, Suzana Vereta Nahoum. Os Rumos da Efetividade. Revista de Direito Constitucional e Internacional. p. 158.

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O terceiro e último pilar diz respeito à assistência jurídica integral,

conforme dispõe o inc. LXXXIV, do art. 5º da atual Carta brasileira20.

Há muitas discussões em torno da necessidade de adotarem-se

mecanismos e institutos dentro do próprio sistema, com o cunho de facilitar e

viabilizar o princípio da garantia da via judiciária. Contudo, o Acesso à Justiça não

se restringe ao ingresso à ordem judicial, mas a uma ordem de valores mais

ampla. O princípio do Acesso à Justiça deve ser irrestrito, bem como, um fator de

diminuição das desigualdades sociais.

Segundo o entendimento de Rodrigues21, quando os Direitos de

acesso ao Judiciário não são respeitados, a cidadania é castrada, torna-se

impotente, pois através dos instrumentos paraestatais ou privados é que se

buscam solucionar os conflitos que surgem no decorrer dos dias.

Instrumentos, estes, que cabem ao Estado como instituição

política, colocar a disposição do cidadão que busca a reparação de um Direito

que acredita ter sido lesado ou de um Direito que julga ter privilégio, promovendo

a harmonia da vida em sociedade. Deve-se destacar que, estes instrumentos,

estão inseridos no Poder Judiciário, haja vista ser ilegal o uso da autotutela, ou

seja, fazer justiça com as próprias mãos.

De acordo com Watanabe:

A problemática do Acesso à Justiça não pode ser estudada nos

acanhados limites do acesso aos órgãos judiciais já existentes. Não se

trata apenas de possibilitar o Acesso à Justiça enquanto instituição

estatal, e sim de viabilizar o acesso à ordem jurídica justa22.

Nalini23 adverte que o conceito de Acesso à Justiça,

genericamente, tido como acesso aos tribunais, já não satisfaz, sendo necessário

20 PASTORE, Suzana Vereta Nahoum. Os Rumos da Efetividade. Revista de Direito Constitucional e Internacional. p. 172. 21 RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Acesso à Justiça no Direito Processual Brasileiro. p. 29. 22 WATANABE, Kazuo; et al. Juizado Especial de Pequenas Causas – Lei 7.244, de 07 de novembro de 1984. p. 128. 23 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. vol. I. n. 3. Brasília: Conselho da Justiça Federal, 1997. p. 61.

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considerá-lo como um Direito fundamental formal. Contudo, há três causas que

representam obstáculo à ampliação do Acesso à Justiça: o desconhecimento do

Direito, a pobreza e a lentidão do Processo.

O referido autor24 aduz ainda que, para que os cidadãos possam

usufruir a garantia de fazer valer seus direitos perante os tribunais, é fundamental

que conheçam a lei e os limites de seus direitos. Os Juízes e as instituições

públicas devem ter o compromisso de divulgar o Direito. Em uma sociedade

Pobre como a brasileira, o juiz deve, também, repensar o dogma da

imparcialidade, de maneira a contribuir para a redução das desigualdades sociais.

Finalmente, o magistrado tem sua parcela de responsabilidade na Celeridade

processual, assim como as escolas de Magistratura, que precisam enfatizar o

aspecto ético da profissionalização e as técnicas facilitadoras da eficiência no

desempenho.

2.3.1 O Desconhecimento do Direito

O conjunto legal brasileiro detém o princípio segundo o qual

ninguém pode se eximir de cumprir a lei alegando o seu desconhecimento (art. 5°,

da LICC25). O preceito foi herdado do Direito romano “ignorantia legis neminem

excusat” e fundamenta-se na exclusão da possibilidade de que determinado

indivíduo, ao cometer certa infração, possa invocar em sua defesa o

desconhecimento da existência de lei que incrimine a prática do ato cometido.

Contudo, sabe-se que na prática, a realidade mostra-se diferente. Ocorre que,

muitas vezes, o ofendido renuncia do próprio Direito de ingressar no judiciário

devido a ignorância de conhecimento da Lei.

24 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 61. 25 BRASIL. Decreto Lei 4657/42, de 04 de setembro de 1942. Dispõe sobre a Lei de Introdução do Código Civil Brasileiro. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Rio de Janeiro, 04 de set. 1942.

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13

Reale Júnior26 assim expõe em matéria para o “Jornal Estado de

Direito”:

Ora, a consecução de Justiça no Brasil, especialmente para aqueles que

sequer conhecem seus direitos, é um projeto de longuíssimo prazo, que

exige mais que projetos de lei ou reforma constitucional: exige vontade

política e sensibilidade. Mais da metade da nossa população não tem

meios de ir ao Judiciário. O Judiciário é inacessível. O juiz e o promotor

são distantes nos planos físico e humano, vivem em um desconhecido

universo formalista, falando em outra linguagem. Os homens simples

sequer conhecem seus direitos, muito menos como reivindicá-los.

Toda vez que alguém, segundo Watanabe27, espoliado em seu

Direito, vê-se numa situação de castração diante das infindáveis barreiras para a

recomposição do seu bem da vida violado, ocorre um fenômeno que se denomina

litigiosidade contida.

Afirma Nalini28 que as pessoas não poderão gozar da garantia de

fazer valer seus direitos perante os tribunais, se desconhecerem a lei e os limites

de seus direitos.

Normalmente, a aplicação do Direito é tarefa de especialistas

(juristas), por via do Poder Judiciário, não sendo colocado à disposição dos

cidadãos o conhecimento técnico de aplicação do Direito. Contudo, o acesso a

informação deve ser generalizado, até como pressuposto da própria aplicação do

Direito.

Anota Tavares29 que algumas vezes o cidadão desconhece seus

direitos ou não possui aptidão (conhecimento técnico) para reconhecer um Direito

que lhe está contemplado pelo ordenamento jurídico. Trata-se da problemática

que, nos países menos desenvolvidos, é extremamente angustiante: o acesso à

26 REALE JÚNIOR, Miguel. O Direito à Prestação Jurisdicional. Estado de Direito. Porto Alegre, fev. mar. 2008. p. 10. 27 WATANABE in FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. p. 55. 28 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 63. 29 TAVARES, André Ramos. Apontamentos acerca do Princípio Constitucional do Acesso à Justiça. Boletim Científico. p. 23.

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informação. Obviamente que o particular prescindirá de uma assistência quanto

maior for o seu grau de instrução. Daí a necessidade de acesso ao Direito, o que

só se poderá obter, em tais situações, se o Estado disponibilizar agentes para

realizarem uma identificação de conflitos sociais e violações de direitos,

informando aqueles atingidos. Em longo prazo, a solução deverá ser outra, com o

aumento da escolaridade média.

Conforme o entendimento de Nalini30:

O primeiro compromisso do juiz empenhado em ampliar o Acesso à

Justiça, portanto, será com a disseminação do conhecimento do Direito.

O Direito, resolvido em direitos, terá que se abrir, que se quotidianizar,

de perder o seu sopro de mágica não humana.

Nalini31 ainda apresenta duas vertentes as quais os Juízes podem

tornar o Direito conhecido: uma institucional, e outra pessoal. Na vertente

institucional, os tribunais e associações de magistrados podem imprimir toda a

sorte de informações, a partir de folhetos simples, com explicações facilitadoras

do Acesso à Justiça. Os tribunais devem, também, manter serviço de atendimento

facilitado, para fornecer informações sobre o andamento do Processo, ou sobre

problemas jurídicos concretos de toda ordem (isso por meio de telefone, de fax ou

de guichês com funcionários treinados). Os tribunais e associações têm o dever

de divulgar os endereços dos foros e dos organismos vinculados à realização da

Justiça, os horários de realização das audiências, o funcionamento dos juizados

especiais, e outros dados de interesse. Tudo isso, em linguagem acessível, de

compreensão por qualquer do povo e de forma que desperte o interesse do

cidadão comum. Além dessa divulgação operacional, as entidades deveriam

promover a divulgação institucional, propiciadora de informações sobre o

funcionamento do Judiciário no Brasil.

30 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 63. 31 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 63.

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O referido autor32 continua:

Em caráter pessoal, o juiz também é provido de excepcionais condições de disseminar o conhecimento do Direito. Primeiro, exercendo de maneira adequada o seu compromisso de maior relevo: a outorga da prestação jurisdicional. Cada juiz, quando julga, exerce função docente. Está ensinando Direito, está divulgando o correto, está demonstrando qual o verdadeiro sentido e alcance da lei. A decisão é uma aula. E como aula de Direito, pode ser clara, atraente e eficaz. Ou obscura, aborrecida e destituída de relevo, circunscrevendo-se aos limites do Processo em que exarada.

É preciso frisar que não se pode confundir a necessidade de

utilização de termos técnicos com o apego à linguagem arcaica que se encontra

em um grande número de peças processuais. Os Juízes não são os responsáveis

por essa linguagem rebuscada, esta deriva da lei e das tradições judiciais.

Contudo, o juiz pode adotar outra estrutura discursal, sem abandonar a correção,

no qual se encontre lógica, teórica Simplicidade e elegância vocabular. Faz-se

indispensável uma linguagem perfeitamente inteligível e que atenda aqueles aos

quais interessa sem a necessidade de recorrer ao dicionário.

Nalini33 conclui que antes de dizer o Direito, incumbe ao juiz fazer

conhecer o Direito. Pois na medida em que o conhecimento daquilo que está

disponível constitui pré-requisito da solução do problema da necessidade jurídica

não atendida, é preciso fazer muito mais para aumentar o grau de conhecimento

do público a respeito dos meios disponíveis e de como utilizá-los.

O desconhecimento do Direito é um dos maiores estímulos para o

abuso. Quem desconhece as normas, tende a não se insurgir contra atos ilícitos

ou, quando se insurge, seus atos limitam-se a um protesto que mais aparenta ser

um lamento, já que não põe a discussão nos seus exatos planos.

2.3.2 A Pobreza

32 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 63-64. 33 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 64.

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Mazzilli34 reconhece o Acesso à Justiça como um dos valores

fundamentais da própria democracia, constata que a possibilidade de Acesso à

Justiça não é efetivamente igual para todos: são gritantes as desigualdades

econômicas, sociais, culturais, regionais, etárias e mentais.

Salomão35 lembra que:

Um dos problemas que mais afligem a sociedade brasileira moderna é a

falta de acesso ao Judiciário. Algo em torno de 80% da nossa população

é considerada carente, na acepção social e jurídica do termo, já que não

pode pagar as custas, honorários de advogado e despesas de um

Processo sem prejuízo do sustento próprio ou da família.

Nalini36 explica que a necessidade de um advogado encarece a

parte quando tem de litigar na Justiça. Porém, a nomeação de advogado gratuito

possui inconvenientes. Primeiro, por criar-se um préstimo de segunda classe.

Quase sempre é nítida a distinção entre o trabalho do advogado constituído e o

do dativo. Depois, o causídico encarregado de patrocinar a causa de um Pobre

corre o risco de fazê-lo de maneira diferente de como o faria se tivera sido

contratado.

A garantia de assistência judiciária aos menos favorecidos é algo

que, desde os primórdios da civilização, preocupa os povos em relação à Justiça.

Silva37 expõe que a Justiça é cara e que manter uma estrutura física e de pessoal

para garantir a prestação jurisdicional, não é barato. A Justiça custeada

integralmente pelo Estado favoreceria apenas aos ricos, uma vez que os gastos

com as atuações judiciais devem ser suportados por todos. Além do que, uma

justiça indiscriminadamente gratuita contribuiria para aumentar significativamente

o número de demandas, ou seja, de litigar por litigar.

34 MAZZILLI in NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 65. 35 SALOMÃO in TAVARES, André Ramos. Apontamentos acerca do Princípio Constitucional do Acesso à Justiça. Boletim Científico. p. 26-27. 36 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 65. 37 SILVA, Luís Praxedes Vieira da. Acesso à Justiça: Benefício da Gratuidade e Assistência Judiciária. Revista de Magistratura Federal da 5ª Região. n. 2. Recife: ESMAFE, 2001. p. 123.

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O referido autor38 entende ainda que o valor cobrado para a

atuação jurisdicional não pode ser muito baixo para estimular um número

excessivo de demandas e nem excessivamente alto que caracterize uma indireta

denegação de Justiça.

Os ricos têm acesso facilitado à Justiça, pois podem arcar com

todos os ônus provenientes de uma demanda, até mesmo a falta de Celeridade.

Assim, segundo Nalini39, a barreira da pobreza impede a submissão de todos os

conflitos à apreciação de um juiz parcial.

Nalini expõe que:

Num Estado como o Brasil, de muitos milhões de miseráveis, o juiz

precisa refletir continuamente se ele está sendo fator de resgate de seus

semelhantes ou instrumento de mais intensamente afligir o aflito. Poderá

ser um e outro, utilizando-se da mesma técnica de julgamento. Os

estudiosos conscientes sabem que a lei é matéria plasmável e fluida, a

conformar-se com a ideologia de quem a aplica40.

Explica Nóbrega41 que propor e editar leis, sem que se lute pela

implementação do que nelas se contempla, não serve à concretização de

objetivos reais. Não se reduzem os níveis de exclusão, discriminação e de

marginalização apenas, por exemplo, quando se inscreve em lei uma proibição ou

se determina uma conduta a ser adotada em prol da comunidade.

O autor supracitado42 expõe ainda, que se devem instituir

mecanismos que voltem a assegurar a mais ampla possibilidade de acesso ao

judiciário por parte daquela sociedade que, não sendo detentora de meios

econômicos, não pode suportar os ônus a tanto necessários. A hipossuficiência

38 SILVA, Luís Praxedes Vieira da. Acesso à Justiça: Benefício da Gratuidade e Assistência Judiciária. Revista de Magistratura Federal da 5ª Região. p. 123. 39 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 65. 40 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 65. 41 NÓBREGA, Airton Rocha. Assistência Judiciária aos Necessitados. Revista Jurídica Consulex. a. VII. n. 152. Brasília: Consulex, 2003. p. 17. 42 NÓBREGA, Airton Rocha. Assistência Judiciária aos Necessitados. Revista Jurídica Consulex. p. 17.

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impede que o cidadão postule a defesa de direitos que lhe são respeitantes,

acarretando a quebra de direitos naturalmente decorrentes da cidadania.

2.3.3 A Lentidão Processual

A demora na prestação jurisdicional não é exclusiva do Brasil.

Beneti43 afirma que, apesar da lentidão, causada pelo grande número de

Processos que abarrotam o sistema judiciário, os brasileiros não precisam

humilhar-se no mundo. Contudo, reconhece-se que a demora da Justiça é

também uma forma de injustiça.

Salvador expõe:

De fato, as Varas e os Tribunais vão-se tornando incapazes de dar

vazão ao grande número de Processos que diariamente ali entram,

muito mais do que aqueles que podem ser solucionados. Sem dúvida, é

uma realidade triste perceber o congestionamento de Comarcas e Varas

pelo Estado afora, com pautas indicando audiências marcadas para até

mais de um ano44.

A despeito de suas limitações pessoais, dos defeitos da estrutura,

da má produção da lei processual, o sistema admite tratamento apropriado a

partir da consciência do magistrado. Este deve assumir o papel de tornar a justiça

mais eficiente e célere.

Inúmeras propostas têm sido formuladas para solucionar o

problema que emperra a máquina judiciária. Dentre elas, a que merece destaque

é a teoria da responsabilidade civil do Estado, resultante da demora na prestação

jurisdicional.

Há um fenômeno processual ocorrendo em todas as instâncias

judiciais: os magistrados têm conferido um ritmo próprio à profissão a despeito do

43 BENETI in NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 66. 44 SALVADOR in FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis.

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ritmo da lei. Segundo Nalini45, são raras as providências correicionais para

reconduzi-los ao ritmo legal e das necessidades do jurisdicionado. Nestes casos,

valeria a pena o desenvolvimento do tema da responsabilidade civil do Estado,

com ênfase na possibilidade de ação regressiva contra o causador do dano.

Nalini cita o conceito de serviço judiciário segundo o entendimento

de Dergint46:

O serviço judiciário consiste, incontestavelmente, em um serviço público,

imposto aos cidadãos pelo Estado, que deve zelar por um certo grau de

perfeição tanto na sua organização quanto no seu funcionamento, bem

como responder pelos danos acaso daí provenientes.

Estas hipóteses encontram respaldo jurídico no artigo 133 do

Código de Processo Civil e admitem a responsabilização do juiz. Todavia, o

atraso excessivo, sem se tratar de desídia, pode gerar prejuízo à parte e esse é

perfeitamente ressarcível.

Segundo expõe Souza, não se esgota no dolo a possibilidade de o

juiz prejudicar alguém:

O magistrado incompetente (no sentido técnico, mas não processual),

desidioso, desinteressado, sem aplicação aos estudos, venal, corrupto,

tendencioso, etc., acaba por causar danos numa reação em cadeia,

embora não necessariamente nesta ordem de prioridades: aos

jurisdicionados e à sociedade como um todo, por extensão: ao Estado,

que ele representa e que é avocado em juízo para dar contas, às custas

do erário, dos atos de seus agentes; extensivamente, à justiça, enquanto

estrutura organizada de proteção aos direitos do cidadão; por último, à

sua corporação, enquanto órgão de aglutinação e de defesa dos

interesses da classe, bem como aos colegas profissionais tomados

individualmente.

Supõe-se que se cada magistrado que perpetrasse uma falta

profissional ao desempenhar suas funções, viesse a ser condenado a repetir ao

45 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 66. 46 DERGINT in NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 66.

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Estado o que este despendeu com o ressarcimento dos danos sofridos pelo

particular em razão daquela falta, estaria constituído estímulo a que todos os

demais se motivassem à adequada outorga.

Segundo Nalini47, o importante é conferir ênfase à

responsabilidade do juiz, que é o principal operador jurídico na presente

concepção de Justiça.

As Escolas da Magistratura têm a atribuição de ensinar a

interpretar a Lei com responsabilidade. São elas, conforme Nalini48, o laboratório

gerenciador de uma nova visão do Judiciário: incentivando a criatividade,

estimulando a eficiência, repensando as técnicas de trabalho, conferindo ao

Processo toda a sua potencialidade como instrumento suficiente à realização do

justo.

Sabe-se que o conhecimento científico é moroso e metodológico.

Incorreto, portanto, afirmar que decisão tomada com rapidez é medida infalível

para pacificação. Não haverá paz social se o pronunciamento havido não estiver

"cercado" pelas garantias mínimas inerentes à segurança jurídica (contraditório,

ampla defesa e necessária produção de provas).

Não se pode esquecer, da existência de duas certezas jurídicas,

que em princípio, são opostas: a segurança jurídica, o qual exige lapso temporal

razoável para tramitação do Processo, e a efetividade deste, observando que o

momento da decisão final não se procrastine mais do que o estritamente

necessário. Obtendo-se o equilíbrio destes dois regramentos emergirão melhores

condições para garantir a justiça no caso concreto, sem que haja diminuição no

grau de efetividade da tutela jurisdicional.

2.4 EFETIVIDADE PROCESSUAL

47 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 66. 48 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 66.

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Sabe-se que somente o Acesso à Justiça é insuficiente. Os meios

dos quais o indivíduo busca o Direito de proteção judiciária são essenciais na

conquista da Justiça plena, contudo, é necessário que ao final obtenha-se um

resultado positivo efetivo. Este resultado deve ultrapassar o desconhecimento dos

leigos, a morosidade do Processo, bem como, a incapacidade financeira, e todos

estes quesitos devem ser resolvidos em um espaço de tempo razoável entre o

pedido da demanda e a Sentença final do Litígio.

Em estudos precursores da temática, Cappelletti49 apresentava

efetividade como uma espécie de igualdade de armas que os litigantes usavam

para resolver seus Litígios. Atualmente, o Direito processual dispõe dos

instrumentos necessários para que, com os mecanismos processuais legais que o

sistema detém e no menor espaço de tempo possível, a efetividade torne-se

realidade.

Silva conceitua efetividade:

Derivado de efeitos, do latim effectivus, de efficere (executar, cumprir,

satisfazer, acabar), indica a qualidade ou o caráter de tudo o que se

mostra efetivo ou o que está em atividade. Sem fugir a seu fundamental

sentido, na técnica processual, efetividade exprime também esse caráter

de efetivo, designando, assim, todo ato processual que foi integralmente

cumprido ou executado, de modo a surtir, como é da regra, os desejados

efeitos50.

Assim, segundo acredita Moraes51, o efetivo acesso ao aparato

jurisdicional significa Direito Fundamental num sistema igualitário, onde todos

possam ter esse Direito garantido e não apenas declarado.

O Juizado Especial Cível surge como meio agilizador da

efetividade jurídica. Neste sistema, oferece-se acesso ao judiciário gratuito em

primeiro grau de jurisdição, simplificam-se os procedimentos, e ainda, desobriga-

se, nas causas de pequeno monte (20 salários mínimos) a presença do

advogado. Estas medidas visam resgatar, a confiança do cidadão, que teve seu

49 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. p. 15. 50 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 295. 51 MORAES, Silvana Campos. Juizado Especial Cível. p. 23.

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Direito lesado, no sistema Judiciário Brasileiro e o leva a buscar a solução nos

mecanismos legais que o Estado oferece.

Watanabe52 leciona que em países onde a Justiça possui acesso

fácil e sem formalismos, é comum usar-se a expressão “eu te Processo”,

enquanto que em países onde o sistema processual é carregado de formalismos,

é comum usar-se “vá procurar seus Direitos”.

Verifica-se, assim, que não se busca somente o acesso ao

judiciário, mas também a um ordenamento justo, com assistência jurídica e

procedimentos simples, céleres e eficientes nos atos processuais.

2.4.1 A efetividade do Acesso à Justiça no Juizado Especial Cível

Os Juizados Especiais Cíveis têm competência para julgamento e

execução de causas cíveis de menor complexidade, através de Princípios e

procedimentos mais facilitados e específicos. A Informalidade nos atos

processuais, a Oralidade, a Simplicidade, a Economia Processual, a Celeridade e

o incentivo à Conciliação (com a participação de Juízes Leigos no papel de

Conciliadores) tem um único objetivo em comum: alcançar o efetivo Acesso à

Justiça e conseqüentemente, uma ordem jurídica justa.

Pode-se dizer que a efetividade é a relação entre os resultados

obtidos e os recursos empregados para obter estes resultados. Tudo isso, dentro

de um prazo razoável, no qual garanta-se a plena segurança jurídica, através do

contraditório e da ampla defesa.

Uma ordem jurídica eficaz compõe-se de mecanismos que

livremente divulgam informações à comunidade, que possuem meios técnicos

ágeis e que assistam gratuitamente os cidadãos que não possam pagar por sua

própria defesa (comprovada e justificadamente).

52 WATANABE, Kazuo; et al. Juizado Especial de Pequenas Causas – Lei 7.244, de 07 de novembro de 1984. p. 05-06.

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Conforme Marinoni o Direito de Acesso à Justiça pressupõe o

Direito à informação a respeito da existência dos Direitos. O referido autor ensina:

O Pobre, para ser cidadão, ou melhor, para ser cidadão participante no

mundo em que vive, agente da história e por esta responsável, deve ser

Efetivamente informado e orientado sobre seus Direitos. O cidadão, em

uma sociedade verdadeiramente democrática, deve conhecer e poder

exercer os seus Direitos, independentemente de óbices de ordem

econômica53.

A demora na prestação jurisdicional e a dificuldade no custeio das

despesas necessárias ao Litígio são outros grandes problemas no acesso efetivo

ao Judiciário.

Segundo entendimento de Nalini54, a pobreza é um dos maiores

obstáculos do acesso ao Direito e atinge cerca de um terço da população

brasileira. Já não basta dizer que a pobreza é uma desgraça não imputável ao

jurista. Cabe ao juiz repensar no dogma da imparcialidade, reclamando-lhe

adequada aplicação do princípio da isonomia, de maneira a reduzir o fosso que

separa o poderoso do despossuído.

O JEC tem como principal prerrogativa dar às partes em Litígio

igualdade de condições na resolução da lide. A igualdade de condições, por sua

vez, é uma das principais prerrogativas da efetividade processual. Esta igualdade

depende de três fatores: do desconhecimento da lei, da lentidão processual e da

pobreza. Resolvendo-se estes problemas, garante-se a efetividade. Garante-se o

efetivo Acesso à Justiça.

Assim aduz Carneiro:

A acessibilidade pressupõe a existência de pessoas, em sentido lato

(sujeitos de Direito), capazes de estar em juízo, sem óbice de natureza

financeira, desempenhando adequadamente o seu labor (manejando

adequadamente os instrumentos legais judiciais e extrajudiciais

53 MARINONI, Luiz Guilherme. Novas Linhas do Processo Civil. 3 ed. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 66. 54 NALINI, José Renato. Novas Perspectivas no Acesso à Justiça. Revista do Centro de Estudos Judiciários. p. 67.

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existentes), de sorte a possibilitar, na prática, a efetivação dos Direitos

individuais e coletivos, que organizam uma determinada sociedade55.

Os Juizados Especiais Cíveis trouxeram ao Processo um enfoque

social, que no sistema Judiciário, anteriormente, era apenas técnico, formal e

legalista. Iniciou-se então, uma preocupação em satisfazer os anseios da

comunidade em relação ao judiciário, que se encontrava desacreditado, em

virtude, principalmente, dos entraves sofridos devido ao excesso de formalismos

nos atos processuais.

Figueira Júnior56 expõe que o novo sistema dos Juizados

Especiais Cíveis veio tornar o Acesso à Justiça efetivo, pois é formado por

procedimentos simplificados, direcionados aos pequenos litigantes, com

demandas de pequena monta no âmbito do Direito material. O JEC atua também

para resgatar a imagem do judiciário, tornando-o mais eficiente, à medida que as

vias de acesso aos tribunais estão mais próximas dos mais simples. Os

procedimentos enxutos, embasados nos Princípios da Oralidade, Simplicidade,

Informalidade, Economia Processual e Celeridade, abriram os caminhos do

Acesso à Justiça.

Ao se pensar no problema do Acesso à Justiça, no quão difícil

estaria sendo chegar ao judiciário e conseguir a tutela jurisdicional com eficiência,

foi que se criou os Juizados Especiais. Agora, depois do advento da Lei 9.099/95,

resta à sociedade fiscalizar o Judiciário para que os objetivos de igualdade de

condições e Celeridade sejam cumpridos. Deve-se perceber se este sistema

funciona exatamente para o fim que foi criado: acelerando os prazos,

simplificando a linguagem e os procedimentos, tornando-os informais e

econômicos processualmente. O JEC surgiu para diminuir as desigualdades

sociais e dar a todos os indivíduos os mesmo instrumentos para lutar a favor dos

seus direitos.

55 CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Acesso à Justiça: Juizados Especiais Cíveis e ação civil pública: uma nova sistematização de teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Forense, 2000. p. 57. 56 FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p. 35.

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3 SEGUNDO CAPÍTULO

OS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS

3.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O aumento da população, o desenvolvimento industrial e o

crescimento das grandes metrópoles ampliaram consideravelmente o número de

conflitos jurídicos. No momento em que estas novas demandas sociais,

resultantes das evoluções do mundo contemporâneo, foram sentidas com maior

intensidade, e o Estado tornou-se, conseqüentemente, responsável pela efetiva

realização do Direito, este se mostrou quase que coagido a oferecer novas

alternativas eficientes de Acesso à Justiça, uma vez que seus órgãos internos

sentiram enorme dificuldade de suprir satisfatoriamente a tarefa de julgar os

Litígios com presteza.

Seguindo o mesmo raciocínio, Pastore destaca que:

Muito mais do que o ordenamento jurídico conter instrumentos formais

para que o indivíduo acione o poder jurisdicional do Estado, o que irá

assegurar, de fato, o Acesso à Justiça é como materialmente esse

ordenamento se instrumentaliza para tornar efetivo o Direito formalmente

previsto no ordenamento57.

Gerou-se então a necessidade de criação, por parte do Estado, de

uma alternativa que acelerasse os procedimentos inerentes ao Processo judicial

clássico. A solução encontrada foi desenvolver um órgão judiciário

desburocratizado, o qual viesse a agir nas lides de menor complexidade

probatória e com valor econômico pouco expressivo.

Cappelletti em sua obra intitulada “Acesso à Justiça” afirma que:

57 PASTORE, Suzana Vereta Nahoum. Os Rumos da Efetividade. Revista de Direito Constitucional e Internacional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. vol. 49. p.160.

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A grande tarefa dos reformadores do Acesso à Justiça é, portanto,

preservar os tribunais ao mesmo tempo em que afeiçoam uma área

especial do sistema judiciário que deverá alcançar esses indivíduos,

atrair suas demandas e capacitá-los a desfrutar das vantagens que a

legislação substantiva recente vem tentando conferir-lhes58.

Os Juizados Especiais são a materialização do que Mauro

Cappelletti designou Acesso à Justiça, respondendo a adequação dos anseios

das pessoas na busca de uma justiça mais ágil e rápida, afastada de formalismos

excessivos e, principalmente, isentos de custas processuais e honorários

advocatícios.

3.2 ORIGEM

O Estado encontrava-se na ânsia por alternativas que auxiliassem

os órgãos judiciais na resolução dos conflitos. Estes, a cada dia mais

contenciosos, repletos de regras, sabidamente saturados, onerosos e tardios,

resultaram na morosidade do sistema judiciário e no descontentamento da

sociedade que queria ver reconhecidos seus direitos lesados.

Diante da necessidade de admitir mecanismos eficazes para

viabilizar o Acesso à Justiça ao cidadão, a busca dos cientistas jurídicos e dos

operadores do Direito juntamente com o Estado era incansável. A solução a ser

encontrada resgataria a confiança no judiciário como órgão estatal de Acesso à

Justiça.

Para Cappelletti59, havia três posições que levariam ao alcance do

Acesso à Justiça que seriam: a assistência judiciária como facilitadora, a segunda

onda, como definido por ele, seria a representação jurídica, ou seja, a figura do

advogado gratuito, e a terceira onda, seria a soma destas, que formaria um órgão

específico e completo para atender os conflitos de menor complexidade e menos

onerosos.

58 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Porto Alegre: Pallotti, 1988. p. 92. 59 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. p. 31.

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A sociedade cobrava respostas, criticava a morosidade do

judiciário e os altos custos empregados nas demandas. Era necessário investigar

resultados, mesmo que advindos de ordenamentos estrangeiros. Era preciso

utilizar os proventos positivos já existentes em outros países e tentar adaptá-los

ao nosso sistema, à nossa realidade jurídica.

Analisando historicamente a legislação brasileira, pode-se afirmar

que se admitiu constantemente influências alienígenas na confecção das Leis, o

momento exigia, então, que o país amadurecesse com estas influências, como

bem coloca Lagrasta Neto:

Pertencendo o Brasil a uma “família jurídica” híbrida seu formalismo tem

implicado em dificuldades de regulamentação de novas leis à

mentalidade jurídica e de implementação de soluções do tipo “Juizado

de Pequenas Causas”. Quando raciocinamos sobre as passagens do

Direito nacional pelas diversas soluções alienígenas do colonizador-

predador, dos submissos escravos e imigrantes e, por fim, do

colonizador-financeiro, não é hipotético repetir que não houve tempo

para assimilar e adaptar os conceitos de uma primeira “família” – oriunda

do ramo romano germânico (Civil Law) – e já fomos envolvidos pelos

interesses e dominação de uma segunda (Common Law)60.

Segundo expõe Cappelletti61, as reformas começaram a acontecer

em países desenvolvidos, tendo como precursores os Estados Unidos da

América, em 1965, com o Office of Economic Opportunity (lei que destinava

recursos federais para programas de ação comunitária), e foram seguindo pelo

mundo, com a França, que tinha um programa de custos advocatícios pagos pelo

Estado, e ainda Suécia e Inglaterra, que foram evoluindo e buscando alternativas

para assistência judiciária.

Nesta linha, um dos principais exemplos de reformas bem

sucedidas do ordenamento jurídico seria o Sistema Judiciare, bem descrito por

Cappelletti:

60 LAGRASTA NETO, Caetano. Juizado Especial de Pequenas Causas no Direito Comparado. São Paulo: Oliveira Mendes, 1998. p.11. 61 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. p. 33-34.

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A maior realização das reformas na assistência judiciária na Áustria,

Inglaterra, Holanda, França e Alemanha Ocidental foi o apoio ao

denominado sistema Judiciare. Trata-se de um sistema através do qual a

assistência judiciária é estabelecida como um Direito para todas as

pessoas que se enquadram nos termos da lei, os advogados

particulares, então, são pagos pelo Estado. A finalidade do sistema

Judiciare é proporcionar aos litigantes de baixa renda a mesma

representação que teriam se pudessem pagar um advogado62.

Os estudos realizados ao redor do mundo em busca de resultados

que solucionassem os conflitos das classes menos favorecidas, que se sentiam

impedidas de chegar ao judiciário, principalmente pela lentidão do sistema judicial

e os elevados custos das demandas, tiveram como proventos o surgimento dos

Juizados de Pequenas Causas em Nova Iorque, Estados Unidos, no ano de 1934.

Esta, entre as experiências realizadas nos outros países, foi a que obteve

melhores resultados, tendo como escopo principal julgar as causas de pequenos

valores econômicos, recebendo o título de “corte dos pobres”, conforme Moraes63.

Historicamente, esta evolução foi um tanto quanto tardia, pois há

relatos de que, entre os anos de 1912 e 1916 nos estados do Kansas, Oregon,

Ohio e Illinois, dos EUA, nas cidades mais urbanizadas, havia sido tentado

implantar um sistema que contava com Juízes de paz para solucionar conflitos

nas zonas rurais, como afirma Carneiro64.

Colaciona Carneiro65, ainda, como características do Juizado de

Pequenas Causas de Nova Iorque: ser uma subdivisão da Corte Civil, com

competência determinada pelo valor da causa; a Capacidade para estar em juízo

são pessoas físicas, maiores de idade (18 anos); os valores acessíveis para

propor a ação; audiência de Instrução e Julgamento no mesmo ato; as partes

podem comparecer sem a presença de advogados e existe a possibilidade de

Conciliação no início da Audiência.

62 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. p. 35. 63 MORAES, Silvana Campos. Juizado Especial Cível. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 59. 64 CARNEIRO in WATANABE, Kazuo; et al. Juizado Especial de Pequenas Causas – Lei 7.244, de 07 de novembro de 1984. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985. p. 34. 65 CARNEIRO in WATANABE, Kazuo; et al. Juizado Especial de Pequenas Causas – Lei 7.244, de 07 de novembro de 1984. p. 34.

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Na atualidade, as características dos Juizados norte-americanos,

são praticamente as mesmas das da época de sua criação. Contudo, como

mudanças relevantes pode-se destacar a majoração do valor das causas de sua

competência, bem como a sua designação, que mudou para Common Man’s

Court, ou seja, “a corte do homem comum”.

3.3 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DOS JUIZADOS NO BRASIL

A sociedade brasileira, a exemplo das mais desenvolvidas, em

face do aumento populacional, e conseqüentemente, do aumento das classes

menos favorecidas, clamava por um atendimento judiciário que resolvesse seus

conflitos, que se mostrasse mais abrangente, célere e que resgatasse a imagem

de um judiciário eficiente, transmitindo a confiança de que, as pessoas as quais

recorressem teriam seus conflitos resolvidos e a Justiça, tão almejada, fosse

alcançada. Com este propósito, iniciaram-se estudos em sistemas alienígenas,

observando-se os procedimentos processuais que eram adotados para solucionar

as lides de pequeno monte, como salienta Watanabe66.

Segundo Carvalho67, na década de oitenta, o então Ministro da

Desburocratização, Hélio Beltrão encetou movimento no sentido de tornar as

coisas mais simples. E foi assim que, pensando em oferecer uma Justiça mais

rápida, simplificada, eficiente, e ainda, mais do que isso, gratuita, inspirado nas

Small Claims Court dos Estados Unidos da América do Norte e ainda nas Cortes

de Conciliação Chotei do Japão, criou o primeiro instrumento para esse

desiderato, no que tange à Justiça.

Assentou Carneiro68 que em 1980 foi incumbido de produzir um

estudo em Nova Iorque sobre as Small Claims Court, ou seja, os Juizados de

66 WATANABE, Kazuo; et al. Juizado Especial de Pequenas Causas – Lei 7.244, de 07 de novembro de 1984. p. 02-03. 67 CARVALHO, Roldão Oliveira de; CARVALHO NETO, Algomiro. Juizados Especiais Cíveis e Criminais. São Paulo: Bestbook. 2002. p. 33. 68 CARNEIRO in WATANABE, Kazuo; et al. Juizado Especial de Pequenas Causas – Lei 7.244, de 07 de novembro de 1984. p. 24-25.

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Pequenas Causas que foram implantados lá. Naquele período o ambiente sócio-

econômico nova-iorquino não era muito diferente do brasileiro. Concluiu que era

viável a implementação do mesmo sistema por aqui, no Brasil, desde que

superadas algumas dificuldades.

Seria necessário ultrapassar os preconceitos dos processualistas

conservadores da época. Carneiro69 entende que o temor que havia naquela

época reservava-se à Oralidade dos procedimentos, a resistência ao aumento do

poder dos Juízes que tinham que atuar nas decisões, bem como, na participação

dos Juízes Leigos na fase de Conciliação.

Já havia no país, contudo, leis ordinárias que se preocupavam

com o sentimento de coletividade, relacionando-os com o Acesso à Justiça. A

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), foi editada em 1º de maio de 1943 e

possibilitava a Conciliação extrajudicial para resolver conflitos individuais, e

também a participação dos sindicatos para celebrar acordos coletivos ou

convenções. Eram procedimentos bastante modernos e inovadores para a época,

segundo expõe Carneiro70, pois a Informalidade, a concentração dos atos, a

possibilidade de Conciliação Judicial e a Oralidade existentes na Justiça do

Trabalho, lembram a estrutura dos procedimentos dos Juizados de Pequenas

Causas.

Afirma Rodrigues71 que o movimento que inspirou a instituição dos

Juizados de Pequenas Causas no Brasil teve como berço o estado do Rio Grande

do Sul, no ano de 1982, quando a associação dos magistrados (AJURIS) e o

Tribunal de Justiça criaram os Conselhos de Conciliação e Arbitramento.

Estes Conselhos eram compostos por pessoas idôneas da

comunidade, preferencialmente escolhidos entre advogados, Juízes e promotores

aposentados, juizes de paz, professores, etc. As reuniões aconteciam à noite no

69 CARNEIRO in WATANABE, Kazuo; et al. Juizado Especial de Pequenas Causas – Lei 7.244, de 07 de novembro de 1984. p. 25. 70 CARNEIRO in WATANABE, Kazuo; et al. Juizado Especial de Pequenas Causas – Lei 7.244, de 07 de novembro de 1984. p. 41-42. 71 RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Acesso à Justiça no Direito Processual Brasileiro. São Paulo: Acadêmica, 1994. p. 54.

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curso da semana e buscava-se solucionar, através da Conciliação,

desentendimentos entre vizinhos. Estas eram as pequenas causas que não

chegavam ao Judiciário: a litigiosidade contida.

A necessidade de um procedimento análogo a ser seguido pelos

Conciliadores provocou a edição de um documento, denominado Regulamento,

composto por 18 artigos. Cardoso bem explana:

A reclamação nos Conselhos tinha a seguinte movimentação: o cidadão

prestava a queixa a um funcionário que anotava em uma ficha os tópicos

do pedido; no mesmo instante era designada a audiência com

chamamento das duas partes e testemunhas, se tivessem, para serem

ouvidas. O próprio reclamante ou terceiro de sua confiança fazia chegar

ao reclamado a citação; muito raramente se servia de outros meios:

correio oficial, oficial de justiça, etc. [...] Obtido êxito com a Conciliação,

expedia-se um documento com as cláusulas do acordo celebrado entre

as partes; se não houvesse acordo, o Regulamento previa outra solução

para a demanda; as partes indicavam um árbitro e este solucionava o

desentendimento72.

A experiência apresentou resultados satisfatórios também nos

estados de São Paulo, Paraná e Bahia, incentivando outros estados a criarem

seus conselhos de Conciliação, espelhados nas experiências positivas

apresentadas.

A necessidade de solucionar as controvérsias para manter o

equilíbrio e a paz social fez ser aprovada e sancionada a Lei de nº 7.244, de 07

de novembro de 1984, que instituiu os Juizados de Pequenas Causas, com

competência para demandas de até 20 vezes o valor do salário mínimo. Esta

acabou sendo revogada pela Lei de nº 9.099 de 26 de setembro de 1995 e

passou a vigorar a partir de 27 de novembro do mesmo ano, como a Lei dos

Juizados Especiais Cíveis e Criminais. A nova Lei majorou a competência para

até 40 salários mínimos, definiu as normas para as execuções, títulos

extrajudiciais, e introduziu o Juizado Criminal. Concretizando assim as idéias

iniciais de sua criação, que eram ir a juízo sem a necessidade de advogado e

72 CARDOSO, Antônio Pessoa. Origem dos Juizados Especiais. O Judiciário – Jornal mensal da Associação dos Magistrados Catarinenses – Ano II, Florianópolis, set. 2007.

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facilitar o acesso ao Judiciário. Conforme aduz Figueira Júnior73 foi a confirmação

da consolidação das idéias dos Juizados.

No mesmo caminho afirma Moraes:

Os Juizados de Pequenas Causas significaram a desconcentração das

atividades dos Juízes, tribunais e cartórios, aproximando-se das

populações carentes, as quais também merecem a tutela judicial na

defesa de seus interesses74.

O Juizado, como aduz Reinaldo Filho75, foi instituído para

funcionar regulado por procedimento simplificado e despojado de formalidades,

trazendo com isso o saudável resultado de boa fluência no exercício da jurisdição,

com a racionalização do Processo, mesmo como meio participativo e menos

burocrático, possibilitou maior abertura da ordem processual para a defesa dos

direitos e interesses individuais.

Figueira Júnior76, ao analisar as dificuldades encontradas na

implantação do sistema do Juizado no Brasil, alude que apesar da necessidade

de reestruturação processual, em parte pelo elevado número de Processos que

abarrotam o Judiciário e pelos altos custos da efetiva prestação jurisdicional, há

certa resistência em mudar o sistema vigente. Deve-se levar em conta que estará

se aplicando o mesmo Direito, só que de uma maneira não tradicional, mas

respeitando devidamente todos os Princípios legais e constitucionais, e,

sobretudo, o devido Processo legal.

Os Juizados Especiais Cíveis e Criminais foram acolhidos pela

Constituição Federal, datada do ano de 1988, em seu art. 98, inciso I, que expõe:

Art. 98 – A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados

criarão:

73 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p. 29. 74 MORAES, Silvana Campos. Juizado Especial Cível. p. 59. 75 REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Juizados Especiais Cíveis. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 01. 76 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p. 30-36.

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I – Juizados Especiais, providos por Juízes Togados, ou Togados e

Leigos, competentes para a Conciliação, o julgamento e a execução de

causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor

potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo,

permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento

de recursos por turmas de Juízes de primeiro grau [...]77.

E ainda, o art. 24, inciso X, da mesma Lei, dispõe sobre os

Juizados Especiais de Pequenas Causas, estabelecendo:

Art. 24 – Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar

corretamente sobre: [...]

X – criação, funcionamento e processo do Juizado de Pequenas

Causas78.

Observando-se os dois dispositivos legais, entende-se porque

houve divergências doutrinárias, já que, poderiam existir os dois Juizados sem

que houvesse a necessidade de extinção de um ou de outro. Divergências que

foram pacificadas com a promulgação da Lei 9.099/95, que estabeleceu os

Juizados Especiais Cíveis e Criminais, revogando com o uso do art. 97, a Lei

7.244/84, que tratava dos Juizados de Pequenas Causas, conforme salienta

Alvim79.

Para Carneiro:

Os maiores obstáculos à implantação de um sistema judiciário simples,

informal e acessível, em um país com características histórico-culturais

como as do Brasil, são essencialmente de três ordens. Em primeiro

lugar, a ausência de tradição no campo da composição extrajudicial de

conflitos [...]. Em segundo lugar, o excessivo apego ao Princípio de que

nenhuma lesão de Direito individual pode ser subtraída de apreciação do

Poder Judiciário. [...] Em terceiro lugar, a padronização das normas de

77 BRASIL. Constituição [1998]. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 75-76. 78 BRASIL. Constituição [1998]. Constituição da República Federativa do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 30-31. 79 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 15-16.

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Direito processual torna inelástica a adaptação do sistema judiciário às

peculiaridades regionais80.

Afirma Reinaldo Filho81 que o Juizado Especial Cível é, na

verdade, o sucedâneo do Juizado Especial de Pequenas Causas, só que

remodelado e com a competência ampliada e dividida em dois critérios: o do valor

da causa e o atinente à matéria jurídica em discussão.

Reinaldo Filho ensina, ainda, que:

O essencial é que os institutos processuais foram apenas aperfeiçoados,

sem a germinação de outras e novas formas de tecnismos, mantendo-se

apenas um conjunto mínimo e indispensável de instrumentos para

garantir a efetividade dos direitos e assegurar às partes o devido

Processo legal. Conserva a nova lei o instrumental adequado ao

resguardo ao equilíbrio entre a Celeridade e Economia Processual, de

um lado, e a eficiência e segurança, de outro82.

A Lei que instituiu os Juizados de Pequenas Causas veio ao

encontro das angústias do cidadão brasileiro, procurando dirimir os obstáculos no

Acesso à Justiça, utilizando procedimentos desburocratizados, menos onerosos e

admitindo a possibilidade de ir a juízo oralmente, sem a obrigatoriedade da

assistência advocatícia.

3.4 OS JUIZADOS ESTADUAIS

Tourinho Filho relata que:

Os constituintes de 1988, impressionados com o número astronômico de

infrações de pouca monta a emperrar a máquina judiciária sem nenhum

resultado prático [...], e principalmente considerando a tendência do

mundo moderno de adotar um Direito mínimo, procuraram medidas

alternativas que pudessem agilizar o Processo, possibilitando uma

resposta rápida do Estado à pequena causa, sem o estigma do

80 CARNEIRO in WATANABE, Kazuo; et al. Juizado Especial de Pequenas Causas – Lei 7.244, de 07 de novembro de 1984. p. 35. 81 REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Juizados Especiais Cíveis. São Paulo: Saraiva, 1999. p. 03. 82 REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Juizados Especiais Cíveis. p. 10.

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Processo, à semelhança do que ocorria com a legislação de outros

países83.

Com os excelentes resultados apresentados pelos Juizados de

Pequenas Causas na esfera cível, desde a Lei de nº 7.244 de 1984, e em razão

dos critérios adotados da Oralidade, Informalidade, Economia Processual e

Celeridade, os constituintes procuraram solução para o Processo e julgamento

das infrações de pouca monta.

Era preciso, segundo aduz Tourinho Filho84, agilizar a Justiça,

obter uma resposta rápida do Estado, sem que se abrisse mão do Direito de punir

aquelas condutas. [...] Era preciso abrir espaço para que os órgãos que integram

a Justiça pudessem dedicar-se mais aos graves problemas criados pelos crimes

de elevado potencial ofensivo.

Assim, com a visão inovadora e corajosa do legislador, quase uma

década depois da aprovação da Lei 7.244/84, estabeleceu-se a Lei Federal 9.099,

de 26.09.1995, com previsão constitucional no art. 98, inciso I, instituindo os

Juizados Especiais Cíveis e Criminais, revogando a lei anterior e ampliando a

competência para causas com valor de até 40 vezes o salário mínimo vigente à

época.

Rodrigues, em seu livro intitulado “Acesso à Justiça no Direito

Processual Brasileiro”, relata com muita exatidão a visão do dispositivo

constitucional acima referido:

Esse dispositivo constitucional traz uma série de avanços em relação

aos Juizados Especiais de Pequenas Causas, criados pela Lei nº

7.244/84, anteriormente descrita. Entre eles cumpre destacar: a) a

obrigatoriedade da criação dos Juizados Especiais, [...]; b) a

possibilidade da existência de Juízes Leigos; c) a obrigatoriedade da

criação dos referidos Juizados e a fixação constitucional de sua

competência, tornando-os órgãos necessários da estrutura do Poder

Judiciário, excluindo-se conseqüentemente a possibilidade de opção de

83 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos Juizados Especiais Criminais. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 01. 84 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à lei dos Juizados Especiais Criminais. 4. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 04.

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autor para submeter ou não a eles a sua demanda; d) a ampliação do

espectro de causas cíveis cuja competência para Conciliação,

julgamento e execução passam para os Juizados Especiais, tendo em

vista a utilização de termo causas de menor complexidade e não

pequenas causas; e) a criação dos Juizados Especiais competentes

para a Conciliação, o julgamento e a execução referentes a infrações

penais de menor potencial ofensivo; por fim, f) a permissão, agora

constitucional, de julgamento dos recursos por turmas de Juízes de

primeiro grau85.

Figueira Júnior86, relata que os mecanismos que foram

introduzidos no ordenamento e no mundo jurídico são de ordem instrumental e de

relativa rapidez nos resultados de dizer de Direito. O que precisa acontecer e

deve-se exigir dos estudiosos e cientistas do mundo jurídico é boa vontade e

atenção quando da aplicação no mundo empírico com o funcionamento das novas

técnicas processuais desse novo sistema.

O autor87 expõe, com otimismo, que os Juizados Especiais não

podem ser vistos como uma Justiça de segunda categoria, pois soa como

discriminação, como se fosse outro tipo de Justiça, a que os mais abastados têm

acesso. Enquanto que, segundo ele, a limitação da competência em até 40

salários mínimos vigentes, significa que todas as classes sociais poderão buscar

seus direitos.

Figueira Júnior88 aduz, ainda, que o Estado de Santa Catarina foi

um dos precursores a instituir o sistema dos Juizados. Primeiramente editou-se a

Lei de nº 8.151/90, que estabeleceu os Juizados Estaduais de Causas Cíveis e as

turmas de Recurso, que posteriormente foi alterada pela Lei Complementar 77, e

a Lei 1.141, de 25 de março de 1993, que dividia a competência por matéria nos

Juizados Especiais Cíveis e implantou as Turmas de Recursos. Com a resolução

85 RODRIGUES, Horácio Wanderlei. Acesso à Justiça no Direito Processual Brasileiro. São Paulo: Acadêmica, 1994. p. 63. 86 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p.30. 87 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p.30. 88 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p.40.

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006/95, do Órgão Especial do Tribunal de Justiça, Santa Catarina manteve o

funcionamento dos Juizados de Pequenas Causas, criado pela Lei 8.271/91, pois

os procedimentos adotados eram compatíveis com os da Lei 9.099/95.

As criações do Código de Defesa do Consumidor e dos Juizados

de Pequenas Causas foram os esteios principais para a instituição dos Juizados

Especiais Cíveis, pois têm como função reduzir os pequenos conflitos jurídicos

através do Poder Judiciário. Estes satisfazem as necessidades dos cidadãos

consumidores com inexpressão econômica e que possuem a faculdade de

exprimirem-se de maneira despojada, que é o jeito próprio e popular de ser, na

busca da tutela.

Reinaldo Filho ensina que:

A criação de Juizados de Pequenas Causas era facultativa. A revogada

Lei 7.244/84 apenas previa, como faculdade dos entes federativos, a

criação de Juizados de Pequenas Causas, enunciando que esses órgãos

“poderão” ser criados para o Processo e julgamento de causas de

reduzido valor econômico. Em relação aos Juizados Cíveis, a própria

Constituição encarregou-se de tornar sua criação obrigatória ao

estabelecer que a União, e os Estados criarão Juizados Especiais. [...]

Mesmo com a obrigatoriedade emanada da Constituição, a criação dos

Juizados Especiais estava a depender de lei que estabelecesse normas

de Processo e de procedimento para o julgamento das causas cíveis de

menor complexidade, pois o próprio Texto Constitucional referiu-se às

hipóteses previstas em lei, para a transação e o julgamento de recursos

por turmas de Juízes de primeiro grau. E essa lei tinha de ser federal,

pois só a União detém competência para legislar sobre Processo, nos

termos do art. 22, I, da Constituição Federal89.

O JEC estabilizou-se como um órgão do Poder Judiciário estadual,

instituído e criado por Lei Federal, com previsão nas legislações estaduais e nos

Atos Executivos de cada Juizado anteriormente estabelecido.

89 REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Juizados Especiais Cíveis. p. 12.

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Rocha90 conceitua os Juizados Especiais Cíveis como um órgão

judicial, de matriz constitucional, regido pela Lei nº 9.099/95 e, em caráter

subsidiário, pelo CPC, apto a promover a conciliação, a arbitragem e o julgamento

das causas de menor complexidade e das causas de pequeno valor, através de

procedimentos especiais, dentro de uma estrutura judicial própria.

Reinaldo Filho91 salienta que, somente depois de passados sete

anos de vigência da Constituição de 88 é que foi promulgada a atual Lei Federal

de nº 9.099/95, dispondo sobre a criação, funcionamento e Processo dos

Juizados Especiais.

Observou-se na prática, porém, que o prazo concedido pela Lei

9.099/95, de 06 meses, mais o prazo legal de vigência da norma, 08 meses, para

que os Estados fizessem a implantação dos Juizados, foi cumprido somente por

alguns dos membros da Federação. Os Estados tinham um prazo para cumprir a

efetivação da norma, só não havia estipulação de uma sanção pelo não

cumprimento.

Na Lei 9.099/95 o legislador não fez referência alguma à Lei que

deva ser utilizada como instrumento subsidiário em caso de alguma lacuna

existente dentro deste novo sistema, o que se leva a concluir, segundo Figueira

Júnior92, que em caso de lacuna ou obscuridade na Lei em tela, deve-se buscar

mecanismos dentro do Código de Processo Civil. Não encontradas as respostas,

usa-se a analogia, os costumes e os Princípios gerais do Direito. O fundamental,

é que se deve observar o art. 6º da Lei dos Juizados Especiais, que autoriza o juiz

a adotar a cada caso concreto a decisão mais justa, decidindo com equidade,

para atender aos fins sociais a que se propõe a Lei.

Theodoro Júnior explica que:

90 ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis – Aspectos polêmicos da Lei nº 9.099, de 26/09/1995. Rio de Janeiro: Lumen Júris, 2005. p.05. 91 REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Juizados Especiais Cíveis. p. 13. 92 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p.47.

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Embora a Lei nº 9.099/95 seja omissa a respeito, é intuitivo que, nas

lacunas das normas específicas do Juizado Especial, terão cabimento as

regras do Código de Processo Civil, mesmo porque o seu art. 272,

parágrafo único, contém a previsão genérica de que as normas gerais

sobre o procedimento comum aplicam-se complementarmente ao

procedimento sumário e aos especiais93.

Pode-se dizer que, a mudança mais importante que a nova Lei dos

Juizados Especiais trouxe ao mundo jurídico foi a ampliação da sua competência.

Conforme Alvim94, competência é o limite de jurisdição determinada pela

Constituição ou pela Lei aos órgãos jurisdicionais, para que possam julgar

determinadas causas, segundo determinados critérios: objetivo, territorial e

funcional. É o poder de julgar todas as causas desde que não exista nenhuma Lei

que lhe restrinja este poder. A Lei do JEC preceitua em seu art. 3º:

Art. 3º - O Juizado Especial Cível tem competência para Conciliação e

Julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim

consideradas:

I – as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;

II – as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;

III – a ação de despejo para uso próprio;

IV – as ações possessórias sobre bens imóveis no valor não excedente

ao fixado no inciso I deste artigo;

§ 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução:

I – dos seus julgados;

II –dos títulos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário

mínimo, observado o disposto no §1º do art. 8º desta Lei.

§ 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de

natureza alimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também

as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e

capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial.

93 THEODORO JÚNIOR in ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis – Aspectos polêmicos da Lei nº 9.099, de 26/09/1995. p. 06. 94 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 20.

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§ 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em

renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo,

excetuada à hipótese de Conciliação95.

Segundo Alvim96 os arts. 24, X, e 98, I, ambos da Constituição

Federal de 1988, indicam duas realidades distintas. Através do art. 24, X, citado,

verifica-se que o legislador constitucional assumiu a existência dos Juizados de

Pequenas Causas; já, tendo em vista o disposto no art. 98, I, citado, constata-se

que, nesta hipótese, refere-se o texto a causas cíveis de menor complexidade.

Estas, como se percebe, não são aquelas que dizem respeito ao Juizado de

Pequenas Causas. No entanto, com a edição da Lei 9.099, de 26.09.95, ao que

tudo indica, acabaram por serem unificadas, claramente, as sistemáticas dos

Juizados de Pequenas Causas e dos Juizados Especiais de menor complexidade,

ao menos naquelas relacionadas à matéria cível, isto porque foi expressamente

revogada a Lei 7.244/84, que regulava o processamento perante os Juizados de

Pequenas Causas Cíveis.

Alvim relata outra característica marcante da Lei dos Juizados

Especiais:

A nova Lei dos Juizados Especiais deu particular relevância à

Conciliação das partes – a respeito da qual era silene a antiga lei do

Juizado de Pequenas Causas – criando a figura do Conciliador, como

auxiliar da Justiça, contribuindo, assim, para emprestar maior Celeridade

na resolução das controvérsias. A partir da nova lei, em vez de as

pretensões materiais das partes desaguarem necessariamente no

Processo, e, conseqüentemente, na Sentença, passaram a desaguar

num dos equivalentes jurisdicionais, que é a Conciliação, permitindo que

as próprias partes, por meio da transação, ponham termo aos conflitos97.

Há uma certa resistência por parte de alguns operadores do

Direito, de Juristas e até de alguns Juízes, ao cumprir os atos da Conciliação. Há

alguma relutância, como se esta não fosse uma etapa imprescindível dentro dos

95 BRASIL. Lei 9099, de 09 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 26 set. 1995. 96 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 119. 97 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 15.

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procedimentos do JEC. O fazem de uma forma tão mecânica e artificial, que fica

parecendo que estão forçados a superar algum obstáculo o mais rápido possível,

passando, tão logo quanto possível, aos debates orais e à Sentença. Contudo, a

Conciliação pode significar a inexistência de conflitos futuros e a plena satisfação

das partes, tendo em vista que há um acordo livre e espontâneo celebrado entre

as elas.

De acordo com Alvim:

A Conciliação se me figura uma mera atividade administrativa, e,

portanto, de jurisdição voluntária, que se insere no curso do

procedimento, tendendo a simplificá-lo, fazendo com que se alcance por

seu intermédio um resultado melhor do que poderia ser obtido na

Sentença. Digo “melhor”, porque, diferentemente da Sentença, que só

atende aos interesses da parte autora, que é afinal quem pede a tutela

jurisdicional, a Conciliação, dependendo do alcance da transação que

resulta dela, atenderá aos interesses de ambas98.

Reinaldo Filho99 seguindo o mesmo raciocínio, expõe que,

aprendeu-se uma lição correntia: “que a Conciliação dos conflitantes é a solução

que atende mais adequadamente ao objetivo de pacificação social, pois não

somente elimina os conflitos, mas possibilita a eliminação de sua própria causa”.

Um decreto condenatório é sempre mais traumático às partes.

Assim, a solução que se baseia no consenso mútuo, promove, inevitavelmente,

um aparamento nas arestas decorrentes da disputa pelo objeto da demanda.

Além do que, a Sentença homologatória do acordo faz findo o Processo cognitivo,

possibilitando, se for o caso de descumprimento do avençado, a imediata

realização do Processo executivo, pois esta Sentença tem eficácia de título

executivo (art. 22, parágrafo único). Há ainda que se considerar o fato de que,

quanto à Conciliação, o valor ajustado entre as partes pode ultrapassar o limite de

98 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 16. 99 REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Juizados Especiais Cíveis. p. 16.

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alçada previsto nesta lei, podendo, inclusive, ser executado conforme dispõe o

art. 3º, § 1º, inc. I, assim leciona Costa100.

Figueira Júnior101 conclui que a Lei 9.099/95 é muito mais do que

um novo procedimento processual; é uma lei amparada por um dispositivo

constitucional que trata de um novo Processo em de um rito totalmente

diferenciado. É um Processo especial, e ainda, sumaríssimo. E para que se faça a

concretização efetiva e duradoura é necessário que os meios formais, como a

estrutura e os aparelhamentos adequados, sejam renovados e suficientes, para

dar meios de os serventuários da Justiça desempenharem com competência suas

funções. Precisa-se também de um número maior de Magistrados para que não

ocorra o acúmulo de Processos e, conseqüentemente, a demora na solução dos

conflitos.

A Lei 9.099/95 surgiu como a forma de restabelecer a confiança do

cidadão brasileiro no Judiciário. Veio com o intuito de simplificar os procedimentos

e alcançar a Celeridade tão almejada. Restam aos operadores do Direito, aos

juristas, bem como, aos serventuários do Poder Judiciário em geral, darem

acesso à ordem jurídica justa, que somente um sistema eficiente proporciona. A

efetividade e a eficiência devem ter significados sinônimos. A técnica deve servir

de meio para que o Processo atinja seu resultado.

3.5 CRITÉRIOS E PRINCÍPIOS QUE ORIENTAM O PROCESSO NO JUIZADO

Com a necessidade de criação de uma alternativa, por parte do

Estado, para acelerar os procedimentos do trâmite judicial e alcançar a justiça,

desenvolveu-se um órgão judiciário desburocratizado: optou-se pela eliminação

dos atos solenes, pela supressão dos tradicionais formalismos e ritos

processuais, pela ausência de burocracia, propiciando o contato direto das partes

entre si e com os membros do Juizado, possibilitando a simplificação do seu

100 COSTA, Hélio Martins. Lei dos Juizados Especiais Cíveis Anotada e sua Interpretação Jurisprudencial. p.140 101 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p. 31-35.

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funcionamento e agilizando a prestação jurisdicional, minimizando, por outro lado,

para o Estado, os custos da manutenção do novo aparelho judiciário, explica

Bomfim102.

O art. 2º da Lei 9.099/95 estabelece:

Art. 2º - O Processo orientar-se-á pelos critérios da Oralidade,

Simplicidade, Informalidade, Economia Processual e Celeridade,

buscando sempre que possível, a Conciliação ou a transação103.

Alvim entende que:

Este artigo trata num mesmo dispositivo, como “critérios”, o que são

verdadeiros critérios, mas também o que são verdadeiros e próprios

“Princípios” processuais. O princípio é mais do que um mero critério,

pois, enquanto aquele (princípio) constitui a própria base lógico-jurídico-

constitucional do sistema processual, este (critério) constitui um modus

faciendi do Processo; pelo que a violação de um princípio é mais grave

do que a simples inobservância de um critério. O princípio está na

essência de qualquer coisa; o critério está na sua forma. [...] A

Simplicidade, Informalidade e Celeridade são um particular modo de ser

do Processo dos Juizados Especiais, e, portanto, verdadeiros critérios,

mas a Oralidade e a Economia Processual configuram autênticos

Princípios104.

Contudo, há também outra corrente entre os doutrinadores.

Rocha105 em seu livro intitulado “Juizados Especiais Cíveis – Aspectos Polêmicos

da Lei 9.099, de 26/09/1995”, expõe que o legislador perdeu excelente

oportunidade de identificar como Princípios o que chamou de critérios. Oralidade,

Simplicidade, Informalidade, Economia Processual e Celeridade são Princípios

fundamentais do sistema dos Juizados Especiais e devem ser tratados como tais

para que possam cumprir adequadamente seu papel na orientação exegética.

102 BOMFIM, Benedito Calheiros. Juizados Especiais Cíveis e Criminais. 3. ed. Rio de Janeiro: Destaque, 1998. p. XIX. 103 BRASIL. Lei 9099, de 09 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 26 set. 1995. 104 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p.17. 105 ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis – Aspectos polêmicos da Lei nº 9.099, de 26/09/1995. p. 07.

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Seguindo a mesma vertente, Frigini106 destaca que não se tratam

de simples critérios, mas de Princípios processuais, gerais ou fundamentais

(aqueles traçados de modo a dimensionar a própria atividade judicante, partes,

interessados e auxiliares) e informativos (os destinados a mostrar o verdadeiro

escopo do Processo, isto é, o objetivo principal para a pacificação social).

Os critérios e Princípios estabelecidos pelo legislador no art. 2º

devem ser acolhidos nas funções do JEC, bem como os Princípios que estão

contidos implicitamente nesta norma. A Lei no artigo supracitado não enumerou

todos os Princípios que orientam o ordenamento jurídico e que estão presentes

na Carta Magna, a Constituição Federal, subentende-se então, que estejam

inseridos juntamente os Princípios do Processo Civil.

Rocha leciona:

Por certo, não se pode imaginar que estes Princípios esgotam o conjunto

dogmático do novo sistema. Princípios como o contraditório, devido

Processo legal, ampla defesa, dentre outros, têm aplicação cogente aos

juizados especiais, não apenas pela determinação constitucional, mas

também pela imposição lógica do ordenamento jurídico. O que ocorre é

que os Princípios arrolados no art. 2º formam um filtro que, permeando o

sistema, permitem a passagem somente daquilo que é compatível e não

apenas complementar aos seus institutos107.

Os Princípios identificados no texto legal devem ser observados na

sua generalidade, com incidência obrigatória, enquanto que os demais, devem ser

interpretados quando houver uma lacuna na Lei, não conflitando com o dispositivo

legal impresso, e a necessidade de fazer a Justiça respeitando a liberdade, a

igualdade e a dignidade da pessoa humana.

Conclui-se assim que, para efeito do sistema dos Juizados

Especiais, os Princípios serão aquelas normas expressas nos textos legislativos

(Constituição e Lei própria) destinados a estabelecer os valores fundamentais

106 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. São Paulo: Editora de Direito, 2000. p. 78. 107 ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis – Aspectos polêmicos da Lei nº 9.099, de 26/09/1995. p. 07.

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para a interpretação, integração, conhecimento e aplicação dos mesmos à luz do

Acesso à Justiça.

As funções principiológicas no ordenamento jurídico constitucional

são relatadas por Bastos:

Aos Princípios costuma-se emprestar relevantíssimas funções. Há,

contudo, uma que se sobreleva às demais: a de funcionar com critério de

interpretação das demais normas não-principiológicas. Disto resulta uma

interferência recíproca entre regras e Princípios, que faz com que a

vontade constitucional só seja atribuível a partir de uma interpretação

sistemática, o que por si só já exclui qualquer possibilidade de que a

mera leitura de um artigo isolado esteja em condições de propiciar o

desejado desvendar daquela vontade. A letra da Lei é sempre o ponto

de partida do intérprete, mas nunca o de chegada108.

Para sanar os males da Justiça, não basta ampliar-lhe o número

de magistrados e serventuários, reaparelhá-la e modernizá-la, fazer a aplicação

literal dos artigos das Leis, é preciso ainda, desburocratizá-la e simplificar seus

ritos processuais. E os Juizados Especiais Cíveis através de seus critérios e

Princípios, implícitos ou explícitos, vem tornar este sonho de justiça realidade.

3. 5. 1 Oralidade

Visando a simplificação e a Celeridade processuais no sistema

especial, o legislador utilizou do critério da Oralidade desde a apresentação do

pedido inicial (§ 3º, do art. 14, da Lei 9.099/95) até a fase de execução dos

julgados, reservando a forma escrita aos atos essenciais (§ 3º, do art. 13, da

referida lei).

Segundo Frigini109, a Oralidade é um conjunto de idéias que são

transmitidas pela parte ao funcionário da Justiça, no qual encontra-se toda a

causa da pretensão reclamada. Não se perde tempo em longas dissertações, mas

108 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Celso Bastos, 2002. p. 79-80. 109 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. p. 79.

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concentra-se o necessário, utilizando-se do mínimo de elementos tendentes a

garantir a ampla defesa e o conhecimento do Litígio pelo juiz, como também para

a aproximação das partes pelos Conciliadores.

Em sentido comum, Oralidade significa o predomínio da palavra

oral nas declarações perante os Juízes e tribunais. Assim leciona Theodoro

Júnior:

Quando se afirma que o Processo se baseia no Princípio da Oralidade,

quer-se dizer que ele é predominantemente oral e que procura afastar as

notórias causas de lentidão do Processo predominantemente escrito.

Assim, o Processo inspirado no Princípio da Oralidade significa a adoção

de procedimento onde a forma oral apresenta como mandamento

precípuo, embora sem eliminação de uso de registros da escrita, já que

isto seria impossível em qualquer procedimento da Justiça, pela

necessidade incontornável de documentar toda a marcha da causa em

juízo110.

Deve-se ressaltar, que os atos processuais acontecem

conjuntamente, escritos e orais, prevalecendo os atos processuais orais no

Juizado especificamente. Este procedimento visa a integração do Juiz com as

provas, partes e seus advogados, e ainda, o diálogo com as testemunhas.

De acordo com Chimenti, o critério da Oralidade manifesta-se, por

exemplo, nas seguintes hipóteses:

a) O mandato poderá ser outorgado verbalmente ao advogado, exceto

quanto aos poderes especiais de receber a citação inicial, confessar,

reconhecer a procedência do pedido, transigir, desistir, renunciar ao

Direito sobre que se funda a ação, receber, dar quitação e firmar

compromisso (art. 9º, § 3º, da Lei de nº 9.099/95, c/c o art. 38 do CPC).

O mandato conferido verbalmente outorga poderes para o foro geral,

poderes equivalentes ao da procuração ad judicia, que hoje nem se quer

exige o reconhecimento de firma;

b) Apenas os atos essenciais serão registrados por escrito;

110 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. Vol. III. Rio de Janeiro: Universitária Forense, 2002. p. 421.

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c) O pedido inicial pode ser oral e será reduzido a termo pela Secretaria

do Juizado (art. 14, § 3º); a contestação e o pedido contraposto podem

ser orais (art. 30); a prova oral (depoimentos das partes, testemunhas e

técnicos) não é reduzida a escrito e os técnicos podem ser inquiridos em

audiência, com a dispensa de laudos (arts. 35 e 36); o início da

execução pode dar-se por simples pedido verbal do interessado (art. 52,

IV); os embargos de declaração poderão ser interpostos oralmente (art.

49) etc111.

Chiovenda112 afirma que, para que seja outorgada a nota da

Oralidade a um determinado Processo, impõem-se as seguintes regras:

prevalência da palavra como meio de expressão combinada com uso de meios

escritos de preparação e de documentação; imediação da relação entre o juiz e

as pessoas cujas declarações deve apreciar; identidade das pessoas físicas que

constituem o juiz durante a condução da causa; concentração do conhecimento

da causa num único período (debate) a se desenvolver numa audiência ou em

poucas audiências contíguas (princípio da concentração); e, finalmente a

irrecorribilidade, em separado, das decisões interlocutórias.

A Oralidade compreende um conjunto de subprincípios

integrativos, tais como: o da imediação, que é, segundo Figueira Júnior113, a

possibilidade de o juiz colher as provas, ter um contato direto com as partes,

expor seus pontos controversos, propor a Conciliação, ou seja, ter um contato

direto com o Processo, sem burocracias, que resultará em uma composição

amigável ou num convencimento mais preciso e rápido do julgador; o da

concentração dos atos processuais, isto é, conforme expõe Tostes114, o

julgamento da lide deduzido e decidido em audiência, visando à preservação da

impressão pessoal e a memória do juiz, e a possibilidade do julgamento

contemporâneo à ofensa e imediatamente subseqüente à instrução; o da

111 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 09. 112 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de Direito Processual Civil. vol. III. Campinas: Bookseller, 2002. p. 109. 113 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p. 60. 114 TOSTES, Natacha Nascimento Gomes. Juizado Especial Cível: Estudo Doutrinário e interpretativo da Lei 9.099/95 e seus reflexos processuais práticos. Rio de Janeiro: Renovar, 1998. p. 21.

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irrecorribilidade das decisões interlocutórias, que evita as paralisações do

Processo; e o da identidade física do juiz, o qual explana Tostes115, que se a

prova é colhida de informal e oralmente, não sendo reduzida a termo,

necessariamente, somente pode julgar a causa o juiz que a colheu.

No sistema dos Juizados Especiais, apenas os atos essenciais

devem ser registrados por escrito, os demais, devem ser gravados em fita

magnética (ou em sistema audiovisual), que será reutilizada após o trânsito em

julgado da decisão (art. 44 da lei supracitada). Infelizmente, o que ocorre na

prática é diferente do que está expresso na teoria, há problemas materiais os

quais dificultam as gravações dos atos no JEC. Com isso, surge a necessidade

de reduzir os atos a termos, para que haja a possibilidade de reapreciação da

matéria em casos de grau de recurso.

3. 5. 2 Simplicidade

O princípio da Simplicidade é o modo de expor o problema para

apreciação do juízo de forma clara e objetiva, ou seja, é a forma simples de

escrever e dizer o pedido, sem a complexidade exigida nos procedimentos

comuns. Assim, independentemente da forma adotada, os atos processuais são

considerados válidos sempre que atingem sua finalidade (art. 13 da lei especial).

Afirma Alvim que:

O critério da Simplicidade significa que o Processo não deve oferecer

oportunidade para incidentes (obstáculos) processuais, contendo-se toda

a matéria de defesa na contestação, inclusive eventual pedido

contraposto do réu, em seu favor, exceto as argüições de suspeição ou

impedimento do juiz (exceções processuais), que se processam na

forma do CPC116.

115 TOSTES, Natacha Nascimento Gomes. Juizado Especial Cível: Estudo Doutrinário e interpretativo da Lei 9.099/95 e seus reflexos processuais práticos. p. 21. 116 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 19.

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A Simplicidade procedimental, salienta Reinaldo Filho117, elevada à

categoria de princípio informativo do Processo especial, está ligada à noção de

que a rapidez na solução dos conflitos depende de que o Processo seja simples

no seu tramitar, despido de exigências nos seus atos e termos, com a supressão

de quaisquer formulas obsoletas, complicadas ou inúteis.

Chimenti em seu livro intitulado “Teoria e Prática dos Juizados

Especiais Cíveis Estaduais e Federais” lista as previsões de simplificação do

Processo que merecem destaque:

A citação postal das pessoas jurídicas de Direito privado é efetivada pela

simples entrega da correspondência ao encarregado da recepção (art.

18, II), enquanto o CPC impõe a entrega à pessoa com poderes de

gerência ou administração. Havendo pedido contraposto, poderá ser

dispensada a contestação formal, utilizando-se os próprios argumentos

do pedido inicial como resposta (art. 17, parágrafo único, da Lei 9.099).

Caso alguma das partes mude de endereço sem a devida comunicação

ao juízo, reputar-se-á efetivada sua intimação com o simples

encaminhamento da correspondência ao seu endereço, tendo a nota de

devolução da correspondência o mesmo valor do aviso do recebimento.

Na execução do título judicial é dispensada nova citação do devedor,

que presumivelmente já tem ciência da existência do Processo (ainda

que revel). O credor pode requerer a adjudicação do bem penhorado em

vez da realização de leilões118.

Ressalta Figueira Júnior119 que, o procedimento simplificado do

Juizado Especial, além de inovador dentro do sistema processual vigente, é

desafiante aos homens aplicadores deste novo sistema, pois terão que romper as

barreiras tradicionais de que o Processo, para ser eficiente, tem que conter todos

os procedimentos tradicionais. Esquecem os críticos do novo sistema, que

Simplicidade não é sinônimo de insegurança jurídica. Um Processo simples e sem

burocracias, oferece a mesma Justiça que um Processo repleto de formas e

117 REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Juizados Especiais Cíveis. p. 14.

118 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. p. 12. 119 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à lei dos Juizados

Especiais Cíveis e Criminais. p. 60.

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complexidade. A Principal diferença é que o mais simples tem a prestação

judiciária mais rápida e, portanto, mais efetiva.

3.5.3 Informalidade

O critério da Informalidade, segundo Alvim120, significa que os atos

processuais (petição inicial, contestação, argüições incidentais, requerimentos e

decisões interlocutórias) devem ser praticados informalmente, sem apego a

formas e ritos que possam comprometer a sua finalidade. Mesmo porque, os atos

processuais podem ser praticados pela parte, já que figura a capacidade

postulatória sem a necessidade da assistência de advogado, quando o valor da

causa for igual ou inferior ao montante equivalente a 20 salários mínimos. Os

atos, então, serão praticados pela própria parte (autor ou réu), podendo sê-lo de

forma oral, e se o for por escrito, a parte pode não dispor de conhecimentos

técnicos para peticionar.

Assim, com base no critério da Informalidade, admite-se que a

propositura da ação seja feita de forma oral, através de termo lavrado pelo

secretário do cartório, que a audiência conciliatória seja presidida por um

Conciliador, que a instrução e julgamento seja presidida por um Juiz Leigo, o qual,

inclusive, sentenciará o feito, com a indispensável Homologação do Juiz Togado.

De acordo com o entendimento de Reinaldo Filho121, a

Informalidade, como princípio norteador do Processo especial, fez com que

fossem reduzidas ao mínimo as exigências de forma dos atos processuais. Nos

poucos casos em que aparecem inseridas no Processo especial, exigências de

forma, foram relegadas a um plano secundário, pois os atos processuais serão

sempre considerados válidos quando preencherem as finalidades para as quais

foram realizados (art. 13, caput).

Segundo Alvim:

120 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 19. 121 REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Juizados Especiais Cíveis. p. 14-15.

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Se o ato processual foi praticado de outra forma que não aquela prevista

em lei, será válido se tiver alcançado a sua finalidade, mas, além disso, é

preciso que, apesar deste desvio, não tenha resultado nenhum prejuízo

para a parte que seria beneficiária da forma122.

A Lei dos JEC, fazendo valer o princípio da Informalidade,

expressa que não se decretará a nulidade sem evidência de prejuízo (art. 13),

estabelecendo que as intimações poderão ser realizadas por qualquer meio

idôneo (art. 19) e a produção das provas pode ser feita em audiência,

independentemente de requerimento prévio, e ainda, no caso da modalidade da

prova testemunhal, estas comparecerão voluntariamente. Também está prevista a

publicação de editais na alienação de coisas de pequeno valor (art. 52, VIII), entre

outros atos que resolvem a lide em um modo mais célere.

Chimenti123 adverte que a Informalidade, porém, não pode violar o

devido Processo legal, que impõe que a parte seja cientificada de todos os atos

processuais.

A Lei dos Juizados Especiais, conforme expõe Frigini124, não só

busca realçar a possibilidade de Conciliação ou transação entre as partes, mas

também, desobstruir o Judiciário e restabelecer a paz social em tempo diminuto,

com o que faz reaparecer a credibilidade da sociedade para com a instituição. O

princípio da Informalidade, ao despir a lei de formas, faz com que o judiciário

tenha mais agilidade na resolução dos Litígios.

3. 5. 4 Economia Processual

O princípio da Economia Processual tem como finalidade

concentrar e orientar os atos processuais, tornando o procedimento mais célere e

menos custoso ao Estado, ou seja, possibilita às partes um resultado satisfatório

com o mínimo de esforço judicial.

122 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 66.

123 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. p. 13. 124 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. p. 80.

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Segundo Chimenti:

O princípio da Economia Processual visa a obtenção do máximo

rendimento da lei com o mínimo de atos processuais125.

Este princípio, como aduz Alvim126, também chamado princípio

econômico – segundo o qual, o Processo deve ser tanto quanto possível barato –

significa que o Processo, além de gratuito, deve conter apenas atos processuais

indispensáveis ao atingimento da sua finalidade. Em favor desse princípio, atua

outro, segundo o qual nenhum ato processual deve ser corrigido, repetido, ou

anulado, se da sua inobservância nenhum prejuízo tiver resultado para a parte

contrária (princípio da sanação ou sanabilidade).

Costa127 aduz que pelo princípio da Economia Processual se

procura o mínimo de dispêndio de trabalho, tempo e despesas, tornando o

Processo acessível a todos.

Reinaldo Filho128, explica que, o princípio da Economia Processual

tem uma conotação relacionada com a gratuidade do acesso ao primeiro grau de

jurisdição, em que fica isento o demandante do pagamento de custas, e com a

facultatividade de assistência das partes por advogado, que dizem à evidência,

com o barateamento de custos para os litigantes, fundamentado na economia de

despesas, que, com a de tempo e a de atos (a economia no Processo, enfim),

constitui uma das maiores preocupações e conquistas do Direito Processual Civil

moderno.

Silva129 considera que os procedimentos do Juizado Especial

seguem as características da Economia Processual a partir do momento que é

recebida a inicial e marcada a audiência de Conciliação, sendo expedida de

125 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. p. 13. 126 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 19. 127 COSTA in CARVALHO, Roldão Oliveira de; CARVALHO NETO, Algomiro. Juizados Especiais Cíveis e Criminais. São Paulo: Bestbook. 2002. p. 40. 128 REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Juizados Especiais Cíveis. p. 15. 129 SILVA, Luiz Cláudio. Os Juizados Especiais Cíveis na doutrina e na prática forense. Rio de Janeiro: Forense, 1998. p. 06.

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imediato a carta de citação e enviada via correio para o reclamado. Não tendo

êxito a Conciliação, e na impossibilidade de realizar de imediato, o Conciliador

marca na mesma assentada a audiência de instrução e julgamento para,

aproximadamente, os 15 dias subseqüentes. É importante ressaltar que, entre a

propositura da reclamação e a audiência de instrução e julgamento, não deve

ultrapassar o prazo de 30 dias.

Este princípio visa a busca do melhor resultado na aplicação do

Direito com um mínimo de atividades processuais praticadas. Salienta-se que

devido a este princípio processual, a Lei 9.099/95 determina que somente os

recursos inominados e os embargos declaratórios são cabíveis ao Juizado

Especial.

3. 5. 5 Celeridade

A maior expectativa gerada pelo sistema dos Juizados Especiais,

haja vista a problemática realidade dos órgãos da Justiça comum, é justamente, a

sua promessa de Celeridade sem que o princípio da segurança das relações

jurídicas seja violado.

Costa130 leciona que o princípio da Celeridade reflete a

necessidade de uma prestação jurisdicional pronta e sem delongas, sem prejuízo

da segurança que deve ordenar as decisões processuais.

Reinaldo Filho131 conceitua a Celeridade no sentido de se realizar

a prestação jurisdicional com rapidez e presteza, sem prejuízo da segurança da

decisão. Aduz ainda que, a Economia Processual voltada à consecução da

finalidade do Processo com o menor dispêndio da atividade jurisdicional,

apresentam-se como dois dos mais relevantes Princípios orientadores do

Processo especial.

130 COSTA in CARVALHO, Roldão Oliveira de; CARVALHO NETO, Algomiro. Juizados Especiais Cíveis e Criminais. São Paulo: Bestbook. 2002. p. 40. 131 REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Juizados Especiais Cíveis. p. 15.

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54

Para Alvim:

O critério da Celeridade significa que o Processo deve ser rápido, e

terminar no menor tempo possível, por envolver demandas

economicamente simples e de nenhuma complexidade jurídica, a fim de

permitir ao autor satisfação quase imediata do seu Direito. Os

jurisdicionados não podem aguardar uma solução demorada, pois quase

sempre lutam em juízo pelo essencial para a manutenção da sua

sobrevivência132.

A essência do Processo especial reside na dinamização da

prestação jurisdicional, como verdadeira busca por efetivos resultados através de

uma justiça célere. A Celeridade fundamenta o empenho do legislador ao evitar

dilações de prazos, impedindo que o Processo seja obstruído nos seus trâmites

normais. Com base neste princípio, não são cabíveis incidentes que protelem o

julgamento. Não é admitida, também, qualquer forma de intervenção de terceiros

e realizações de exames periciais.

Frigini133 expõe que o objetivo da Lei, portanto, não se restringiu

somente em tentar diminuir ou dar Celeridade às causas que normalmente eram

ajuizadas na Justiça ordinária, mas primordial e paralelamente, atingir aquela

parcela da sociedade, até então, totalmente afastada do Judiciário, já que, pela

insignificância do Direito violado, aos olhos de quem examinava o caso, nascia

total desinteresse na iniciativa do Processo em face de uma pretensão resistida.

132 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 19-20. 133 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. p. 80.

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55

4 TERCEIRO CAPÍTULO

A CONCILIAÇÃO COMO MEIO DE ACESSO À JUSTIÇA

4. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Historicamente, a justiça brasileira vive assoberbada de Processos

em todos os seus seguimentos. Explica Oliveira134, que o legislador pátrio criou

um mecanismo, em que o Poder Judiciário busca minorar os efeitos processuais,

primando pelo pronto restabelecimento das relações interpessoais, de forma

menos agressiva que a composição do Litígio pelos meios judiciais.

Oliveira continua:

Quando o autor exerce seu Direito abstrato de ação, pedindo ao Estado

que lhe preste a tutela jurisdicional, mais do que isso, que julgue

procedente o pedido sobre o qual repousa o Direito subjetivo, está ele,

essencialmente, solicitando a prestação da justiça, ou seja, que lhe seja

dado o que lhe é devido. O réu, quando citado para exercer a faculdade

de se pronunciar no Processo, por vezes é pego de surpresa,

desconhecendo o teor da lide ou dos ônus processuais. Do embate entre

a contrariedade do autor e o desconhecimento do réu forma-se uma

relação processual conflituosa. Neste contexto conturbado, o Poder

Judiciário conta com a Conciliação como arma de apaziguar os ânimos,

mostrando às partes o benefício do acordo, pautado em Princípios da

autocomposição135.

A parte final do 2º artigo da Lei 9.099/95 sugere às partes a

possibilidade de autocomposição de uma forma alternativa e informal, através da

134 OLIVEIRA, Francisco de; PIRES, Alex Sander Xavier; TYSZLER, Gerson. Juizados Especiais Cíveis. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2002. p. 89. 135 OLIVEIRA, Francisco de; PIRES, Alex Sander Xavier; TYSZLER, Gerson. Juizados Especiais Cíveis. p. 89.

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Conciliação. Este procedimento tem o cunho de através de concessões mútuas,

alcançar a Justiça e a plena satisfação das partes.

Entendendo a autocomposição como a prevenção ou a solução de

conflitos praticada pelas próprias partes envolvidas, Calmon expõe:

A autocomposição recebe a dimensão processual quando fruto da

Conciliação realizada em juízo ou quando as partes autocompostas fora

do Processo resolvem levar o “acordo” para o Processo, com vistas à

Homologação judicial. [...] A autocomposição judicial é a composição

negociada da lide, pois as partes optam por evitar o ato judicial de

cognição e decisão, fornecendo elas próprias a solução para a

controvérsia. Encontra-se totalmente atrelada à jurisdição136.

O autor137 supracitado, ainda adverte sobre a distinção entre os

conceitos: Conciliação e autocomposição. Aduz que a “Conciliação é um

mecanismo que quando logra êxito resulta na autocomposição”. Contudo, esta

pode ser obtida também por outros meios estruturados ou informais.

Assim, define Calmon138, a Conciliação é um mecanismo que visa

à obtenção da autocomposição com o auxílio e o incentivo de um terceiro

imparcial. Quando esta resulta frutífera, a autocomposição é o seu resultado.

Quando a autocomposição é homologada por juiz, recebe o qualificativo, sendo

denominada autocomposição judicial.

Costa anota que:

Conciliar consiste em harmonizar, conjugar os interesses das partes

conflitantes em torno do objeto em Litígio, com vistas a uma solução que

atenda aos interesses de ambas. A Conciliação busca desfazer as

reservas inibitórias de entendimento entre os litigantes, os quais se

136 CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. Rio de Janeiro: Forense, 2007. p. 141. 137 CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. p. 142. 138 CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. p. 142.

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verão colocados no mesmo plano, com total igualdade e segurança da

discussão, promovendo o desfecho sumário da contenda139.

A Conciliação é considerada uma forma alternativa de solução dos

conflitos jurídicos, sem que haja a necessidade da intervenção do Judiciário para

através do juiz, decidir sobre a demanda submetida à apreciação.

Silva140 entende a Conciliação como o instrumento mais saudável

e cultural utilizado pelas partes na solução dos conflitos, tendo em vista seu

escopo principal ser desafogar a Justiça, exterminando a morosidade e o

formalismo do Poder Judiciário, e proporcionando ao magistrado que

simplesmente homologue o acordo celebrado entre as partes, que, em princípio,

chegaram em um consenso através do trabalho do Conciliador.

A Ministra Ellen Gracie Northfleet, no lançamento do “Movimento

pela Conciliação” pronunciou-se a respeito da Conciliação:

A Conciliação é caminho para a construção de uma convivência mais

pacífica. O entendimento entre as partes é sempre a melhor forma para

que a Justiça prevaleça. O objetivo é uma sociedade capaz de enfrentar

suas controvérsias de modo menos litigioso, valendo-se da Conciliação,

orientada por pessoas qualificadas, para diminuir o tempo na busca da

solução de conflitos e reduzir o número de Processos, contribuindo,

assim, para o alcance da paz social141.

A Conciliação reafirma o compromisso do Juizado Especial Cível

de buscar uma forma alternativa de solução para a lide, fora da Sentença judicial.

É um meio de prevenir ou terminar um Litígio, e conseqüentemente, de acelerar o

Acesso à Justiça, terminando com a morosidade e o formalismo processual.

4.2 CONCEITO

139 COSTA, Hélio Martins. Lei dos Juizados Especiais Cíveis Anotada e sua Interpretação Jurisprudencial. p.142. 140 SILVA, Luiz Cláudio. Os Juizados Especiais Cíveis na doutrina e na prática forense. p. 179-180. 141 NORTHFLEET, Ellen Gracie. Pronunciamento da Presidenta do Conselho Nacional de Justiça no lançamento do Movimento pela Conciliação. Brasília, 23/08/2006.

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O termo Conciliação teve sua origem do latim, sendo conhecido

como conciliatio, de conciliare. Dentre os seus vários significados, segundo aduz

Oliveira142, “assumia, precipuamente, o sentido de ajuntar, atrair ou harmonizar.

Juridicamente, o termo mais correto a se utilizar seria o de harmonização sobre o

que repousa o Litígio”.

A Conciliação é um dos três meios pacíficos de composição de

Litígios. Esta se junta, ainda, à arbitragem e à mediação. Oliveira cita em sua obra

a distinção dos institutos proferida pelo insigne desembargador Cláudio Vianna de

Lima:

A mediação é o ato do terceiro estranho ao conflito de interesses, que

aproxima as partes para que elas próprias negociem. [...] Na Conciliação,

o terceiro interessado negocia, sugere, propõe, se esforça, no sentido de

estabelecer o acordo de vontades das partes em conflito. [...] A

arbitragem é a fórmula em que o terceiro, o árbitro, baseado no

consenso das partes conflitantes, estabelece uma forma de resolver o

conflito de maneira amigável, pacificando o conflito143.

Para Calmon144, a “Conciliação é, pois, um mecanismo de

obtenção da autocomposição que, em geral, é desenvolvido pelo próprio juiz ou

pessoa que faz parte ou é fiscalizado ou orientado pela estrutura judicial; e que

tem como método a participação mais efetiva deste terceiro na proposta de

solução, tendo por escopo a só solução do conflito que lhe é concretamente

apresentado nas petições das partes”.

A Conciliação é o meio de resolução de conflitos em que as partes

confiam em uma terceira pessoa (neutra), o Conciliador, com a função de

aproximá-las e orientá-las na construção de um acordo.

Os objetivos da Conciliação são: criar uma nova mentalidade,

voltada à pacificação social; diminuir substancialmente o tempo de duração do

142 OLIVEIRA, Francisco de; PIRES, Alex Sander Xavier; TYSZLER, Gerson. Juizados Especiais Cíveis. p. 91. 143 LIMA in OLIVEIRA, Francisco de; PIRES, Alex Sander Xavier; TYSZLER, Gerson. Juizados Especiais Cíveis. p. 90. 144 CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. p. 144.

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Litígio; viabilizar a solução dos conflitos por meio de procedimentos informais e

simplificados, com a participação direta da comunidade; fornecer mecanismos

destinados à realização de acordos, tanto em Litígios já levados à Justiça, quanto

em conflitos não jurisdicionalizados, prevenindo e reduzindo, por conseqüência, o

número de demandas no Poder Judiciário.

Pode-se concluir como Conciliação, então, a interveniência do juiz

ou Conciliador, sem que se aprecie o mérito, no sentido de buscar o acordo entre

as partes, solucionando a lide através de Sentença homologatória, baseada na

extinção do Processo com o julgamento do mérito, em face da transação

acordada no curso do Processo, com fulcro no art. 269, III, do CPC.

4.3 AS CAUSAS SUJEITAS À CONCILIAÇÃO

O art. 58 da Lei 9.099/95 faculta as normas de organização

judiciária a estender a Conciliação prevista nos arts. 22 e 23 a causas não

abrangidas pela referida Lei. Assim, enquanto os Estados não editarem leis para

ampliar o rol de causas sujeitas à Conciliação, somente poderão ser objeto de

Conciliação as ações de competência dos Juizados Especiais, previstas nas Leis

9.099/95 e 10.259/01.

Assim dispõe o art. 3º da Lei 9.099/95:

O Juizado Especial Cível tem competência para Conciliação, Processo e

julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim

consideradas:

I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;

II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;

III - a ação de despejo para uso próprio;

IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente

ao fixado no inciso I deste artigo.

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60

Deve-se frisar que, em princípio, não basta que a causa seja de

“menor complexidade” para adentrar a competência dos Juizados Especiais,

sendo necessário que se contenha também no elenco das causas enumeradas

nos incisos do art. 3º. Segundo Alvim145, em vez de adotar um critério essencial

para definir “menor complexidade”, preferiu um critério topográfico, pelo que,

figurando no elenco legal, a causa, só por isso, considera-se da competência dos

Juizados Especiais.

As ações mais comuns que podem ser ajuizadas no Juizado

Especial Cível são: danos causados em acidentes de trânsito, cobrança de

cheques sem fundos ou outro título de crédito, cobrança de taxas de condomínio,

cobrança de honorários de profissionais liberais (advogados, engenheiros,

contadores, etc.), as relativas a Direito do consumidor, desentendimentos entre

vizinhos, ações possessórias de imóveis de pequeno valor, dentre outras,

excluídas as ações relacionadas ao Direito de família, falência, fiscal, de interesse

da Fazendo Pública, acidente de trabalho e ao estado e capacidade das pessoas

(§2º do art. 3º da Lei 9.099/95).

E ainda, quaisquer outros conflitos que admitam a composição

entre as partes, tanto judicialmente, quanto extrajudicialmente, ou seja, outras

demandas que admitam o acordo entre as partes, tanto no curso do Processo

(judicialmente), quanto antes da sua instauração (extrajudicialmente).

4.4 A AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

Sempre que, ao analisar a petição inicial, o juiz optar por não

extinguir o Processo ou pelo não julgamento antecipado da lide; e versando o

objeto sobre os direitos disponíveis (ou seja, os direitos transacionáveis, os quais

seus titulares podem dispor sobre o Direito que detém), este deverá marcar

audiência de Conciliação para o prazo máximo de 30 (trinta) dias.

145 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados Especiais Cíveis Estaduais: Lei 9.099, de 26.09.1995. p. 26.

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61

Na primeira audiência prevista pelo procedimento especial,

salienta Rocha146 que, “as partes são colocadas para, em convergência de

vontades, selarem um acordo visando o encerramento do Litígio”.

Reinaldo Filho147 afirma que para a sessão de Conciliação, não se

exige que os litigantes estejam acompanhados de advogados regularmente

constituídos. Tal desnecessidade decorre da circunstância de que, no

procedimento dos JEC, as partes podem comparecer pessoalmente, sendo

facultada a assistência por advogado. Nas causas em que o valor ultrapasse vinte

salários mínimos, no entanto, a assistência de advogado é obrigatória.

Nos ações em que a parte optar por auxílio de advogado, deverão

comparecer em audiência, as partes com seus respectivos procuradores,

entendendo-se como tais, os advogados legais, devidamente registrados na OAB,

cujas representações estejam validamente juntadas aos autos do Processo, ou

seja, com procuração que autorize a prática de atos em nome da parte.

Oliveira adverte:

Ressalva-se que a procuração deverá prever, além dos poderes ad

judicia (os poderes para a prática de atos processuais exclusivos do

advogado, que são aqueles conhecidos como poder para foro em geral),

o poder especial para transigir (acordo firmado entre as partes, em que

ambos abrem mão de determinada parcela de seus direitos, em vias de

extinguir a contenda)148.

Regularizada a legitimação, conforme os ensinamentos de

Carvalho149, a primeira providência em audiência é a tentativa da Conciliação,

devendo o Juiz ou o Conciliador esclarecer às partes sobre suas vantagens e os

riscos de seguirem o curso do Processo, inclusive quanto à renúncia do Direito

patrimonial que exceder aos 40 (quarenta) salários mínimos vigentes.

146 ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis – Aspectos polêmicos da Lei nº 9.099, de 26/09/1995. p. 121. 147 REINALDO FILHO, Demócrito Ramos. Juizados Especiais Cíveis. p.150. 148 OLIVEIRA, Francisco de; PIRES, Alex Sander Xavier; TYSZLER, Gerson. Juizados Especiais Cíveis. p. 91. 149 CARVALHO, Roldão Oliveira de; CARVALHO NETO, Algomiro. Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p. 84.

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62

Chimenti entende que a Conciliação pode dar-se:

a) mediante inteira submissão do réu à pretensão do autor, declarando-

se disposto a satisfazê-la sem (mais) opor-lhe resistência e sem discutir

quaisquer pontos de fato ou de direito relativos a ela (reconhecimento do

pedido); b) mediante renúncia do autor ao seu alegado Direito, para

deixar de ser credor, se antes o era e fazer com que assim se extinga

qualquer nexo jurídico-substancial que eventualmente o ligasse ao réu

em torno do objeto do Litígio; c) mediante mútuas concessões entre as

partes, declarando-se o réu disposto a satisfazer parcialmente a

pretensão do autor, contanto que este renuncie a impô-la por inteiro, e

declarando-se o autor pronto a essa renúncia parcial (transação).

Finalmente, em caso de se entenderem as partes a mera desistência da

ação pelo autor, ter-se-á a extinção do Processo apenas, sem a do

conflito em si mesmo150.

Conforme expõe o art. 331, §1º, do Código de Processo Civil,

“obtida a Conciliação, será reduzida a termo e homologada por Sentença”. A

Sentença prolatada fundar-se-á no instituto da transação, fato que a lança no rol

daquelas cuja extinção apreciou o mérito e tornou-a definitiva (art. 269, III, do

CPC).

Exitória a Conciliação, a Sentença que homologar o acordo não

comporta recurso de qualquer espécie, ex vi do que dispõe o art. 41, operando

imediato trânsito em julgado. Frigini151 ressalta que “se as partes transigiram,

desaparece o interesse para a modificação do julgado, havendo aceitação tácita

da Sentença, com renúncia automática do Direito de recorrer”.

Oliveira salienta que, em regra, o termo de Conciliação lavrado em

audiência traz a ressalva de que as partes desistem do Direito de recorrer:

Vejamos a lógica: se as partes chegaram a um acordo, obviamente não

houve um vencedor, nem tampouco um vencido, sendo assim, falta um

pressuposto basilar sobre o qual se funda o princípio recursivo, que é a

sucumbência, isto é, só pode recorrer da Sentença, pedindo ao juízo ad

quem (segundo grau de jurisdição ou segunda instância) que reexamine

150 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 162. 151 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. p. 323.

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63

o mérito, a parte que teve seu pedido julgado improcedente ou

parcialmente procedente152.

Rocha153 adverte ser de bom alvitre que aquele que for conduzir a

Conciliação alerte as partes sobre a irrecorribilidade destas, sem desestimulá-las

à Conciliação, principalmente aos que comparecem nos JEC sem advogado.

No caso de restar inviável o acordo, frustrando a Conciliação, faz-

se valer o art. 331, §2º do CPC, que expõe: “Se, por qualquer motivo, não for

obtida a Conciliação, o juiz fixará os pontos controvertidos, decidirá as questões

processuais pendentes e determinará as provas a serem produzidas, designando

audiência de instrução e julgamento”.

Rocha154 salienta que a Lei determina, na hipótese de não ser

possível a imediata realização da audiência de instrução e julgamento, que as

partes e testemunhas sejam comunicadas da data e horário em que esta irá se

realizar. Tendo como objetivo a Economia Processual, pode-se evitar o

procedimento comum de intimação e intimar as partes a partir da ata da sessão

de Conciliação, ou seja, durante a audiência (art. 19, §1º, da Lei dos JEC).

Logo na abertura da sessão de instrução e julgamento, o Juiz

deverá tentar novo acordo. Resultando exitoso, lavrar-se-á o termo de

Conciliação, contudo, se restar negativa a tentativa, automaticamente passa-se à

instrução do feito.

4.4.1 Modalidades de Conciliação

Importante se faz classificar a Conciliação conforme o momento

em que é efetuada, bem como, o cenário na qual se realiza.

152 OLIVEIRA, Francisco de; PIRES, Alex Sander Xavier; TYSZLER, Gerson. Juizados Especiais Cíveis. p. 92. 153 ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis – Aspectos polêmicos da Lei nº 9.099, de 26/09/1995. p. 122. 154 ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis – Aspectos polêmicos da Lei nº 9.099, de 26/09/1995. p. 122.

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64

Conforme o momento em que for realizado o acordo, a Conciliação

pode ser classificada em pré-processual ou processual. Calmon ensina:

Cronologicamente, a Conciliação pode ser pré-processual, quando

ocorre antes da propositura da demanda, e processual, promovida

enquanto perdura o Processo, tanto entre a propositura da demanda e a

citação ou entre a citação e o provimento jurisdicional de mérito155.

A Conciliação pré-processual (ou informal) é a que acontece antes

do Processo ser instaurado, ou seja, o acordo acontece nas hipóteses de conflitos

ainda não jurisdicionalizados. Nesta, o próprio interessado busca a solução do

conflito com o auxílio de Conciliadores ou Juízes. Esta é uma alternativa ao

Processo e um meio de evitá-lo.

Este procedimento se constitui em um método de prevenção de

Litígios, funcionando como opção alternativa de ingresso na via judicial,

objetivando evitar o alargamento do número de demandas nos foros e a

abreviação de tempo na solução das pendências, sendo acessível a qualquer

interessado, em um sistema simples e ao alcance de todos.

A Conciliação informal ou pré-processual pode ser ofertada,

segundo o Manual do Conselho Nacional de Justiça156, indistintamente, nos

Postos de Conciliação (POC), Postos de Atendimento e Conciliação (PAC), nas

Unidades Judiciais Avançadas (UJA) e nos próprios Fóruns e Varas Judiciais, nos

Setores de Conciliação, pois a busca para a composição pode ser promovida a

todo o tempo e em qualquer modalidade de procedimento que a admita, mesmo

sem a participação de Juiz Leigo ou togado.

Vale destacar, que obtido o acordo em sede de Conciliação pré-

processual, tem lugar à lavratura do instrumento particular de composição do

conflito, ou seja, do ajuste celebrado entre as partes, o qual pode se constituir,

desde logo, quando for o caso, em título executivo extrajudicial (art. 585, II, do

155 CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. p. 144-145. 156 COMISSÃO DE JUIZADOS ESPECIAIS. Projeto Justiça de Conciliação – Manual de Implementação. CNJ: Brasília, 2006. p. 05.

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65

CPC, com a assinatura de testemunhas), nada obstando, onde admitido, seja

encaminhamento à Homologação judicial.

Na Conciliação processual, por sua vez, a demanda já está

instaurada. Neste caso, o procedimento é iniciado pelo magistrado, com a

designação de audiência e a intimação das partes para o comparecimento, ou

seja, quando já estabelecido o pleito.

Na fase processual, a composição pode ser obtida na etapa

própria para o procedimento, bem como na realização de audiências específicas

para este fim, consoante disposto na Lei n. 9.099/95.

Muito embora já deflagrada a ação judicial, conforme expresso no

Manual do CNJ157, as partes interessadas podem procurar o Setor de Conciliação

existente nos Fóruns e Varas Judiciais para dar fim ao Processo, nos casos em

que a Conciliação for admitida; uma vez obtida a composição, lavra-se o termo

para Homologação do Juiz, passando a valer como título executivo judicial.

A relevância da cronologia está em sua repercussão para o

desfecho do Processo. Se for realizada no curso do Processo, a Conciliação

exitosa provoca o término imediato da demanda. Contudo, a Conciliação pré-

processual somente se torna relevante, se em seguida, for buscada a

Homologação judicial do acordo.

Calmon158 conclui que “ao contrário do que se disse supra a

respeito da Conciliação pré-processual, a Conciliação realizada após a

propositura da demanda pode evitar o labor valorativo do juiz, mas não evita o

Processo e a atividade jurisdicional em sentido amplo”.

157 COMISSÃO DE JUIZADOS ESPECIAIS. Projeto Justiça de Conciliação – Manual de Implementação. CNJ: Brasília, 2006. p. 05-06. 158 CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. p. 145.

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66

Do ponto de vista topológico, segundo aduz Calmon159, distingue-

se a Conciliação extraprocessual, realizada fora do Processo, da endoprocessual,

que é realizada dentro do Processo, ainda que de forma incidental.

E o autor160 continua:

Considera-se Conciliação extrajudicial aquela que se desenvolve sem

que haja Processo judicial em curso. [...] O que define a Conciliação

extrajudicial é o fato de não haver Processo em curso tratando do

mesmo conflito e de não estar sendo conduzida diretamente por um juiz.

A Conciliação judicial, por sua vez, é concomitante ao Processo e

desenvolvida no ambiente judicial. Pode ser levada a efeito pelo próprio juiz da

causa, ou por um Conciliador. Este tipo de Conciliação resulta, necessariamente,

no retorno dos autos ao juiz, seja para a atividade homologatória ou para o

prosseguimento do feito.

4.4.2 Formas de Atendimento

São espécies de atendimento: o centralizado e o descentralizado.

O atendimento centralizado se dá, através das conciliações que se realizam em

instalações tradicionalmente utilizadas pelo Poder Judiciário, como os Fóruns,

Varas e Tribunais. São serviços concernentes às conciliações realizadas em

instalações tradicionalmente utilizadas pelo Judiciário.

O atendimento descentralizado, por sua vez, acontece, via de

regra, mediante convênios com entidades públicas ou privadas, em locais onde,

convencionalmente, não se realizam atividades próprias do Poder Judiciário,

como ocorre em relação aos Postos de Conciliação, Postos de Atendimento e

Conciliação, às Unidades Judiciais Avançadas, aos Juizados Itinerantes, Casas

da Cidadania e outros, via de regra, funcionando mediante convênios com

estabelecimentos de ensino, sindicatos, associações comerciais, prefeituras, etc.

159 CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. p. 145. 160 CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. p. 145.

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Na Comarca de Itajaí, Santa Catarina, podem-se citar as

Conciliações realizadas nos PAC (os Postos de Atendimento e Conciliação,

localizados nos bairros Cordeiros, São Vicente e Limoeiro), no CDL (a Câmara de

Dirigentes Lojistas), no PROCON (a Procuradoria de Defesa do Consumidor) e

em um convênio com a Polícia Militar que pratica a Conciliação em casos de

acidentes de trânsito.

Hodiernamente, em âmbito pátrio, têm-se vários projetos para a

disseminação da cultura de Conciliação, que podem vir a ajudar na pacificação

dos conflitos sociais como o “Projeto Movimento pela Conciliação”, o “Projeto

Justiça Cidadã” e a “Semana da Conciliação”.

Este último merece destaque, haja vista em 2006, o movimento ter

sido concentrado em um único dia – o 08 de dezembro, “Dia da Justiça” e “Dia

Nacional da Conciliação” e naquela data, foram agendadas 84 mil audiências,

com um índice de sucesso de 55% em relação as audiências efetivamente

realizadas.

Em 2007, durante os seis dias do evento, foram colocados 200 mil

Processos em pautas de todo o país. Só no Estado de Santa Catarina, segundo

publicado em matéria do “Jornal O Judiciário161”, o projeto “Semana da

Conciliação” envolveu 60 magistrados, 50 promotores, 150 servidores do Poder

Judiciário, 31 Comarcas, 07 mil audiências e 11 mil partes.

O idealizador da “Semana da Conciliação”, o desembargador

catarinense Marco Aurélio Gastaldi Buzzi, em entrevista ao Jornal162 supracitado

assegura que “O Movimento Nacional pela Conciliação é algo irreversível e será

um empreendimento constante, sempre presente”.

161 GRANADA, Sissa. Semana da Conciliação terá sete mil audiências em Santa Catarina. O Judiciário – Jornal mensal da Associação dos Magistrados Catarinenses – Ano II, Florianópolis, dez. 2007. p. 08. 162 OLEGÁRIO, Daniela Machado. Semana da Conciliação terá sete mil audiências em Santa Catarina. O Judiciário – Jornal mensal da Associação dos Magistrados Catarinenses – Ano II, Florianópolis, dez. 2007. p. 08.

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4.5 AS VANTAGENS DA CONCILIAÇÃO E OS RISCOS DO LITÍGIO

É sabido que, muitas vezes, a Sentença prolatada pelo juiz apenas

põe fim à lide no plano do Direito, e não extingue o Litígio na esfera social. Isto

porque a Sentença pode não satisfazer inteiramente as duas partes, ou vir a

satisfazer mais uma parte do que a outra, fazendo com que finde o Processo,

embora não finde o conflito entre os litigantes.

Figueira Júnior expõe que:

A Sentença, por intermédio do comando específico a ela agregado,

gerador da coisa julgada material, produz para os litigantes segurança e

estabilidade jurídica a respeito da questão. Porém deixa a parte

sucumbente via de regra insatisfeita, quando o mesmo não acaba

ocorrendo também com o autor, nas hipóteses de improcedência ou

acolhimento parcial da pretensão. [...] Em contrapartida, o acordo

firmado pelas partes traz ínsito em seu bojo a pressuposição de

aceitação mútua a respeito de questões conflituosas existentes entre

eles. Por isso a composição amigável fortalece a pacificação social,

compondo a lide e o conflito intersubjetivo de interesses em ambos os

planos de verificação163.

Segundo o entendimento de Silva164, o acordo é sempre vantajoso

para as partes, as quais, normalmente, fazem concessões recíprocas, bem como

para a sociedade, que prefere que os próprios litigantes coloquem um fim à sua

disputa a que o Litígio tenha de ser resolvido por terceira pessoa, coercitivamente,

para a satisfação de um e para a insatisfação de outro.

Chimenti165 explica que o acordo firmado entre as partes

pressupõe a aceitação mútua a respeito das questões conflituosas existentes. Por

este motivo, “a composição amigável fortalece a pacificação social, compondo a

lide e o conflito intersubjetivo de interesses em ambos os planos de verificação”.

163 FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p. 134. 164 SILVA, Jorge Alberto Quadros de Carvalho. Lei dos Juizados Especiais Cíveis Anotada. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 111. 165 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. p. 160.

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De fato, mediante concessões de ambas as partes, obtêm-se

soluções que muitas vezes a própria Sentença de mérito não poderia trazer, como

por exemplo, o parcelamento da dívida.

Chimenti enumera outras vantagens da Conciliação:

Outras vantagens da Conciliação são as seguintes: 1) a Sentença

homologatória extingue o Processo com o julgamento do mérito, tem

força de coisa julgada soberana e, nos Juizados dos Estados e do

Distrito Federal, não está sujeita ao limite de 40 salários mínimos,

conforme explicita o §3º da Lei n. 9.099/95; 2) a Sentença homologatória

da Conciliação não admite recurso ou ação rescisória (art. 41 e 59 da Lei

9.099/95). Quanto ao cabimento da ação anulatória (art. 486 do CPC),

observar comentários ao art. 59 da Lei n. 9.099/95; 3) a Sentença

homologatória da Conciliação caracteriza título executivo judicial passível

de execução definitiva166.

Não havendo vencedores ou perdedores, na autocomposição, por

conseguinte, não há qualquer espécie de sucumbência.

E além do mais, a Sentença de mérito a ser ditada ao final

representa uma incógnita para os litigantes até o fim do Processo, podendo ser

desvantajosa para um ou ambos os lados.

Ao esclarecimento das vantagens da Conciliação, encontra-se

atrelada também a manifestação acerca dos riscos e conseqüências na

continuidade do Litígio. Aqueles, conforme Frigini167, em função de que tanto uma

parte quanto a outra poderá perder total ou parcialmente a demanda. Estes, em

função de que a decisão judicial, embora fazendo Lei entre as partes e obrigando

o cumprimento do decisum, nem sempre traz a tranqüilidade pessoal aos

envolvidos.

166 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. p. 165. 167 FRIGINI, Ronaldo. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis. p. 316-317.

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Chimenti168 elenca algumas das desvantagens no prosseguimento

da lide: as partes, sobretudo quando desacompanhadas de advogado, devem ser

orientadas quanto ao sistema probatório concentrado da Lei 9.099/95 (art. 33) e

ainda a respeito do ônus da prova, em especial sobre as disposições dos arts.

333 do CPC e 6º, VIII, da Lei 8.078/90 (Código do Consumidor).

Há ainda a desvantagem que, segundo expõe o art. 9º, §2º, da Lei

dos JEC, quando a causa recomendar, o juiz alertará as partes da conveniência

do patrocínio por advogado. Necessário se faz frisar, que no Juizado Especial

Cível se aceita pleitear causas de até 20 salários mínimos sem a presença de

advogado, contudo, se a parte contrária obtiver o auxílio de um, a parte autora

ficará em desvantagem, por não possuir todos os conhecimentos técnicos

específicos da advocacia para a solução de um Litígio.

Em sede de Conciliação, não há limite patrimonial, ex vi do

disposto no §3º, do art. 3º da Lei dos Juizados Especiais. Assim, o acordo de

vontades, desde que homologado, não está submetido ao limite de alçada

definidor da competência do Juizado Especial, ou seja, o limite de vinte ou

quarenta salários mínimos, não precisa ser respeitado em caso de acordo.

4.6 OS CONDUTORES DA CONCILIAÇÃO

Na condução da audiência de tentativa de Conciliação, nos termos

do art. 22 da Lei 9.099/95, pode-se contar com três agentes para o ato: o Juiz

Togado, o Juiz Leigo ou por Conciliador, estes dois últimos sob a superior

orientação do primeiro. Tanto o Conciliador quanto o Juiz Leigo não exercem

jurisdição, sendo meros auxiliares da justiça, estando a atuação de ambos

submetida ao controle e fiscalização do Juiz Togado.

Assim expõe Oliveira a respeito de quem conduzirá a audiência de

Conciliação em sede dos Juizados Especiais Cíveis:

168 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. p. 165-166.

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A priori, devemos frisar que a condução da audiência poderá ser

assumida por Juiz Togado (concursado e que detém a jurisdição plena),

por Juiz Leigo (entendido como aqueles advogados que tenham mais de

cinco anos de experiência) ou por Conciliador (preferencialmente

bacharel em Direito), em face da expressa previsão legal (Lei n.

9.099/95, art. 22), cuja nomeação se dá pelo Tribunal de Justiça169.

O Juiz Togado, de acordo com a Lei 9.099/95, é o juiz de Direito,

titular ou substituto, ou seja, na definição de Chimenti170 é “o membro do Poder

Judiciário que ingressa na carreira da Magistratura mediante concurso de provas

e títulos, conforme exige o inciso I do art. 97 da CF”.

O Juiz Leigo é um advogado com mais de cinco anos de

experiência na carreira jurídica (regularmente matriculado na OAB) que atua

como auxiliar da justiça, nos termos do artigo 7º da Lei 9.099/95.

E por fim, o Conciliador é selecionado preferencialmente entre os

bacharéis em Direito, de reputação ilibada e com conduta profissional e social

compatíveis com a função. Os Conciliadores têm a função específica de tentar o

entendimento e a composição entre as partes.

Chimenti expõe que:

Qualquer dos profissionais que conduza a tentativa de Conciliação deve,

após a segura identificação dos presentes, esclarecer as partes das

vantagens do acordo e dos riscos do Litígio, a fim de viabilizar uma

composição que normalmente tem por base concessões recíprocas.

Outras vezes, em vez de concessões recíprocas, a Conciliação é obtida

mediante o reconhecimento da procedência do pedido ou a renúncia do

Direito, ou seja, mediante a concessão de uma só das partes, ato de

causação que também admite Sentença homologatória171.

Na Conciliação verifica-se uma participação ativa do terceiro (a

figura do Conciliador), que fornece subsídios e propostas para a solução dos

169 OLIVEIRA, Francisco de; PIRES, Alex Sander Xavier; TYSZLER, Gerson. Juizados Especiais Cíveis. p. 94. 170 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. p. 160. 171 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. p. 162.

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Litígios. Incumbe-lhes soltar as amarras do formalismo e aproximar-se do nível

dos litigantes, a fim de que seja possível o entendimento simples, de igual para

igual.

4.6.1 O Juiz Togado

Censura-se a participação direta do juiz na condução da

Conciliação do qual irá prolatar a Sentença. Para designar bem o papel de

Conciliador, este deve envolver-se na causa, característica da qual o juiz deve

preservar-se, já que sua decisão ao final do Litígio deve manter-se imparcial.

Contudo, a atividade conciliatória do juiz não pode deixar de ser

valorizada, haja vista que a autocomposição pode e deve ser feita a qualquer

momento no Processo.

Segundo o entendimento de Costa172, a intervenção do Juiz

Togado é de fundamental importância. Este deve, sem se antecipar em decidir,

em face dos elementos disponíveis e informações das partes, atuar incisivamente

na realização da solução conciliada da controvérsia.

Assim expõe Calmon:

Não se critica a conduta do juiz que, cumprindo o mandamento legal de

tentar a Conciliação, limita-se a perguntar às partes se “há acordo” ou se

“é possível obtê-lo”. Uma curta conversa, onde o juiz indagará das partes

se lhe foram oferecidas bem as demais opções com vistas à

autocomposição, será suficiente para que o juiz perceba a

impossibilidade de qualquer composição amigável173.

Em uma conversa mais duradoura, o juiz pode vir a comprometer o

futuro de sua atividade jurisdicional, envolvendo-se em demasia com a pretensão

de uma das partes, ou das duas. Deve-se evitar a antecipação de sua opinião

172 COSTA, Hélio Martins. Lei dos Juizados Especiais Cíveis Anotada e sua Interpretação Jurisprudencial. p. 143. 173 CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. p. 148.

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sobre os fatos, isto porque, é o Juiz Togado quem homologa o acordo no final do

Litígio.

Ao final, a participação do juiz se faz, indiscutivelmente, necessária

na Homologação de um eventual acordo obtido por ele mesmo, por Conciliação

através de Conciliadores ou de mediação. Nestes casos, o juiz atua como

julgador e não como Conciliador. Ele verificará se as partes agiram com liberdade

e soberania em relação a sua própria vontade e se o resultado não é lesivo ao

sistema legal e social vigentes.

O juiz, assim, terá duas funções inafastáveis. Sua presença, pois,

é indispensável, seja para orientar, ou para homologar o acordo reduzido a

escrito.

4.6.2 O Juiz Leigo

Juiz Leigo é a designação dada à pessoa que, não tendo o caráter

público de magistrado (ou seja, não sendo concursado), é chamado para

constituir um tribunal, para julgar ou se pronunciar sobre fatos a respeito do

Litígio. Ressalta-se que, apesar disso, este está sujeito, no que couber, aos

deveres éticos dos magistrados.

O Juiz Leigo deve ser advogado com mais de cinco anos de

experiência na carreira jurídica, estando regularmente matriculado na Ordem dos

Advogados do Brasil e atuando como auxiliar da justiça, como disposto nos

termos do artigo 7º da Lei 9.099/95.

Estes têm como competência conciliar, arbitrar e conduzir o

Processo, visto que a Sentença cabe ao Juiz Togado homologar.

O parágrafo único do art. 7º, da Lei 9.099/95 fixa o impedimento ao

Juiz Leigo de postular em sede de Juizados Especiais Cíveis, quando no

exercício de suas funções. Entende-se legitimamente admissível o exercício da

atividade advocatícia por aqueles advogados que estejam no mister da função de

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Juiz Leigo dos Juizados Especiais, desde que não a exerçam, "enquanto no

desempenho de suas funções", perante os mesmos Juizados Especiais.

Do mesmo modo, afirma-se como viável e legítimo o exercício da

advocacia por Juízes Leigos nos Juizados Especiais quando essa atividade for

exercida em comarca diversa da que desenvolvam a função de Juiz Leigo. E, até

mesmo, a atuação perante os Juizados Especiais Criminais, ainda que na mesma

comarca, quando estiverem no desempenho de suas funções nos Juizados

Especiais Cíveis, e vice-versa, desde que as estruturas dos Juizados Especiais

Cíveis e dos Juizados Especiais Criminais sejam totalmente autônomas e

independentes entre si, e que a formação de seus quadros seja mantida por

Juízes Leigos diversos, que, em hipótese alguma, poderão cumular ambas as

atividades.

4.6.3 O Conciliador

O escopo principal do sistema dos Juizados Especiais é a tentativa

de Conciliação entre os litigantes, no qual não somente a resolução do conflito

aparente é buscada, mas também o aspecto subjetivo da lide seja resolvido

mediante concessões recíprocas.

O Conciliador é selecionado, preferencialmente, entre bacharéis

em Direito. Reserva-se a este o papel de conduzir o procedimento de Conciliação

(incentivar, facilitar e auxiliar as partes a autocomporem). O Conciliador pode

exercer sua atividade a título honorário ou como servidor público.

Chimenti174 expõe que “os Conciliadores, que em regra atuam

voluntariamente, exercem serviço público relevante e têm a função precípua de

buscar a composição entre as partes”. O exercício voluntário de Conciliador vale

como título no concurso de ingresso na carreira de magistratura.

174 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2007. p. 84.

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Conforme aduz Calmon175, em sua obra “Fundamentos da

Mediação e da Conciliação”, o Conciliador recebe treinamento abreviado e

espelha seu comportamento na atividade do juiz em audiência, embora,

diferentemente do juiz, possa ser parte ativa na audiência, emitindo opiniões,

aconselhando as partes, indicando seu ponto de vista a respeito da futura decisão

judicial, caso o acordo não seja alcançado, e propondo os termos para a solução

da lide.

Como bem coloca Rocha176, ao iniciar a Conciliação, o Conciliador

deve explicar às partes que ele não é juiz e que está ali apenas para buscar um

acordo. Assim, as partes ficam desarmadas e podem centrar seus esforços na

solução do problema. Muitas vezes, na presença de um Juiz Togado, as partes se

sentem na obrigação de expor suas razões e defender seus pontos de vista,

colocando a convergência de vontades em segundo plano.

O Conciliador através do contato direto com as partes, antes do

juiz, vai perceber se o autor, que pode ajuizar ação sem advogado, está em

condições de negociar com o réu. O Conciliador tem o dever de verificar se a falta

de assessoria técnica do autor pode descumprir o princípio do equilíbrio das

partes no Processo, e, principalmente, o princípio do devido Processo legal. Se

entender que ocorre o desequilíbrio, deve imediatamente providenciar a presença

de defensor público ou advogado dativo para assistir o autor, e, na ausência

deles, deve comunicar o fato ao Juiz Togado, que tomará as providências

cabíveis.

O Conciliador deve preservar os mesmos comportamentos morais

e éticos necessários a um Juiz Togado e ainda, aplica-se a este, as mesmas

normas relativas a impedimento e suspeição submetidas a um magistrado.

Dinamarco explica:

175 CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. p. 149-150. 176 ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis – Aspectos polêmicos da Lei nº 9.099, de 26/09/1995. p. 125.

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O Conciliador não é órgão jurisdicional nem exerce jurisdição. É auxiliar

da Justiça e vale como multiplicador da capacidade de trabalho do juiz,

como agente catalisador na busca de reações proveitosas entre pessoas

e conflitos177.

Chimenti doutrina no tocante a inexistência de impedimento

(proibição parcial do exercício da advocacia) ou incompatibilidade (proibição total

do exercício da advocacia) do Conciliador-advogado:

O Conciliador é um voluntário (que atua a título honorífico e sem

qualquer remuneração), não dirige a instrução do feito e não profere

decisões. Atua na busca do entendimento entre partes capazes, que

poderão ou não dispor de seus direitos (total ou parcialmente) a fim de

viabilizar a Conciliação. Não exerce o Conciliador função de julgamento

e por isso não está impedido ou incompatibilizado de postular em causa

diversa daquela em que atuou. [...] Não ocupa ele cargo ou função,

exercendo sim, temporariamente, uma relevante atividade pública.

O Enunciado 40 do FONAJE expõe: “o Conciliador ou Juiz Leigo

não está incompatibilizado nem impedido de exercer a advocacia, exceto perante

o próprio Juizado Especial em que atue ou se pertencer aos quadros do Poder

Judiciário”.

Conclui-se assim que o exercício do papel de Conciliador, no qual

o serviço é voluntário, não é incompatível com o exercício da advocacia,

ressalvada a existência de impedimento ético, ou seja, o Conciliador deve abster-

se de atuar no juízo onde exerça sua atividade.

4.7 DA REDUÇÃO A TERMO E A SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA DE

CONCILIAÇÃO

Chegando os litigantes a um denominador comum a respeito do

objeto da demanda, conforme doutrina Figueira Junior178, serão os termos da

Conciliação reduzidos à forma escrita e assinados pelas partes, seus respectivos

177 DINAMARCO, in CALMON, Petrônio. Fundamentos da Mediação e da Conciliação. p. 150. 178 FIGUEIRA JÚNIOR, Joel Dias; RIBEIRO, Maurício Antônio. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p. 137.

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procuradores e, em seguida, apresentados ao Juiz Togado (caso este não seja o

condutor da audiência) para Homologação, mediante Sentença, a qual confere ao

documento eficácia de título executivo judicial.

O Juiz, caso entenda necessário, pode chamar as partes à sua

presença a fim de que confirmem suas manifestações.

E ainda, antes de chancelar o acordo realizado, segundo os

ensinamentos de Rocha179, terá que realizar um juízo de adequação legal da

causa. É o chamado juízo de derivação ou delibação, onde o magistrado, sem

adentrar no mérito, verifica a regularidade do acordo. O resultado do juízo de

derivação pode ser a extinção do Processo, a realização de nova sessão de

Conciliação, ou a Homologação. Neste último caso, o acordo passará a valer

como Sentença de mérito, com eficácia executiva.

Ensina Costa180 que “a solução conciliada entre as partes, deve

ser reduzida a termo que, homologado pelo Juiz Togado, por Sentença, constitui

título executivo judicial”.

O termo de Conciliação é um dos poucos casos de previsão de

registro, por escrito, de um ato processual nos Juizados Especiais. Esta exigência

se faz, pois eventualmente, pode haver uma resistência de uma das partes

quanto ao cumprimento do acordo de vontades. E para instruir um futuro

Processo executivo que se fizer necessário, o interessado dependerá de um título

executivo reduzido a escrito. Por este motivo é reduzido à escrita, para que,

acompanhado da Sentença que o homologa, sirva como título executivo em um

futuro Processo de execução, em caso de inadimplemento da parte que se

obrigou.

Carvalho expõe acerca da redução a escrito e Homologação:

179 ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis – Aspectos polêmicos da Lei nº 9.099,

de 26/09/1995. p. 126. 180 COSTA, Hélio Martins. Lei dos Juizados Especiais Cíveis Anotada e sua Interpretação Jurisprudencial. p. 143.

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Obtida a Conciliação, deve esta ser reduzida a escrito, segundo

recomendação legal. A exigência é de ordem lógica, uma vez que a

Homologação se faz pelo Juiz Togado e passa a eficácia de título

extrajudicial. Da audiência participarão as partes, que deverão, via de

conseqüência, assinar o termo de Conciliação181.

Como bem alude Oliveira182, a Sentença homologatória, ou o

termo de Conciliação (art. 449 do CPC), é Sentença cujos efeitos se equivalem

aos prolatados nos casos da Sentença condenatória para efeitos de execução,

qual pese a constituição de título executivo judicial (CPC, art. 584, III), podendo

ser, nos casos de infringência aos termos do acordo firmado, executado.

Rocha expõe que:

Importante frisar que somente após a Homologação é que o acordo

passa a ter eficácia executiva, muito embora possa a parte devedora

cumpri-lo voluntariamente desde a sessão de Conciliação. O que não se

pode admitir é que a Homologação do acordo fique condicionada ao

cumprimento prévio de seus termos [...]. Nesse caso, tanto a parte

credora como a devedora, podem pleitear a intervenção do juiz para que

o acordo lhe seja imediatamente submetido. Antes disso, o acordo não

tem status de título e, portanto, não tem força coercitiva para obrigar ao

pagamento183.

Há que se observar o Enunciado 06 do FONAJE que expõe: “Não

é necessária a presença de Juiz Togado ou Leigo na sessão de Conciliação”.

No mesmo viés de entendimento, Chimenti184 ensina que “o

Conciliador é auxiliar do juízo, e assim, os atos por ele realizados gozam de

presunção de legalidade”. Portanto, não há nulidade no acordo celebrado em

sessão de Conciliação que não contou com a presença de um juiz.

181 CARVALHO, Roldão Oliveira de; CARVALHO NETO, Algomiro. Juizados Especiais Cíveis e Criminais. p. 84. 182 OLIVEIRA, Francisco de; PIRES, Alex Sander Xavier; TYSZLER, Gerson. Juizados Especiais Cíveis. p. 92-93. 183 ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis – Aspectos polêmicos da Lei nº 9.099, de 26/09/1995. p. 126. 184 CHIMENTI, Ricardo Cunha. Teoria e Prática dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais. p. 169.

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Da Sentença que homologa um acordo não cabe recurso ou ação

rescisória, resultando em um título executivo judicial capaz de respaldar execução

de natureza definitiva que tramitará no próprio Juizado Especial (arts. 3º, §1º, I; 41

e 59 da Lei 9.099/95). O cabimento de ação anulatória será analisado

conjuntamente com o art. 59 da mesma Lei.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho tem por objetivo de estudo a Conciliação nos

Juizados Especiais Cíveis Estaduais. A pesquisa fundamenta-se na aplicabilidade

da Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995, para através da Conciliação, alcançar o

Acesso à Justiça.

Com o aumento da população e das relações interpessoais

advindos do crescimento das cidades ampliaram-se, consideravelmente, o

número de conflitos jurídicos. A partir destas necessidades sociais, o Estado

tornou-se, conseqüentemente, responsável pela efetiva realização do Direito à

justiça. Devido à dificuldade de suprir a tarefa de julgar os Litígios com agilidade,

o Estado mostrou-se obrigado a criar alternativas eficientes de Acesso à Justiça.

O Acesso à Justiça quer exprimir o Direito de buscar proteção

judiciária, ou seja, o Direito de recorrer ao Judiciário em busca da solução de um

conflito de interesses quotidiano.

Apesar de, atualmente, haver determinação Constitucional no

ordenamento jurídico que garanta sua efetividade, é longo o caminho a ser

percorrido para que o Princípio de Acesso à Justiça se torne uma garantia plena a

todo o indivíduo, e três são as causas que podem representar obstáculos à

ampliação do Acesso à Justiça: o desconhecimento da sociedade para com o

Direito, a condição de pobreza e a lentidão processual.

Ter um efetivo acesso a Justiça, significa gozar de um sistema

igualitário, no qual todos possam ter o Direito de buscar a tutela jurisdicional,

garantido e não apenas declarado. O Acesso à Justiça deve ultrapassar o

desconhecimento dos Leigos, a morosidade do Processo, bem como, a

incapacidade financeira população. Além destas prerrogativas, as lides devem ser

resolvidas em um espaço de tempo razoável entre o pedido da demanda e a

Sentença final do Litígio.

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A sociedade então, encontrava-se na ânsia por alternativas que

auxiliassem os órgãos judiciais na resolução dos conflitos, a cada dia mais

contenciosos, repletos de regras, sabidamente saturados, onerosos e tardios, e

que acabaram por resultar na morosidade do sistema judiciário e no

descontentamento da sociedade, que queria ver reconhecidos seus direitos

lesados.

Diante da necessidade de admitir mecanismos eficazes para

viabilizar o Acesso à Justiça ao cidadão, a busca dos cientistas jurídicos e dos

operadores do Direito juntamente com o Estado era incansável. A solução a ser

encontrada resgataria a confiança no judiciário como órgão estatal de Acesso à

Justiça. Foram pesquisadas em países externos, as soluções que estavam

funcionando, para que pudessem ser adaptadas ao Brasil.

A necessidade de criação de uma alternativa, por parte do Estado,

para acelerar os procedimentos do trâmite judicial e alcançar a justiça,

solucionando as controvérsias e mantendo o equilíbrio e a paz social, fez ser

aprovada e sancionada a Lei de nº 7.244, de 07 de novembro de 1984, que

instituiu os Juizados de Pequenas Causas. Aquela Lei acabou sendo revogada

pela Lei de nº 9.099/95, esta então, disciplina atualmente os Juizados Especiais

Cíveis e Criminais.

A Lei que instituiu os Juizados veio ao encontro dos anseios do

cidadão brasileiro, procurando diminuir os obstáculos do Acesso à Justiça,

utilizando procedimentos desburocratizados, menos onerosos e admitindo a

possibilidade de ir a juízo oralmente, sem a obrigatoriedade da assistência

advocatícia.

Desenvolveu-se, então, um órgão judiciário desburocratizado:

optou-se pela eliminação dos atos solenes, pela supressão dos tradicionais

formalismos processuais, pela ausência de burocracia, propiciando, assim, o

contato direto das partes entre si e com os membros do Juizado, possibilitando a

simplificação do seu funcionamento e agilizando a prestação jurisdicional, bem

como, por outro lado, minimizando para o Estado os custos da manutenção do

novo sistema.

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Com procedimentos pautados na Oralidade e informais na

condução dos atos processuais, com a participação de Juízes Leigos e

Conciliadores assistidos por Juízes Togados, com a possibilidade de obter a

Conciliação, que depois de homologada tem força de título extrajudicial, podendo

ser executada, os Juizados Especiais Cíveis vieram agilizar o Processo,

possibilitando uma resposta rápida do Estado às pequenas causas, sem o

estigma de “batalha processual”, à semelhança do que ocorria com a legislação

de outros países, como por exemplo, nos Estados Unidos, com o sistema das

“Small Claims Court”.

Dentro dos Juizados Especiais, o meio menos agressivo de se

obter uma resposta da Justiça, é através da Conciliação. A Conciliação é a

intervenção do juiz ou do Conciliador, que sem que se aprecie o mérito, no

sentido de buscar um acordo entre as partes, sempre fazendo concessões e

solucionando a lide através de Sentença homologatória, baseada na extinção do

Processo com o julgamento do mérito, em face do acordo de vontades realizado

no curso do Processo, com fulcro no art. 269, III, do CPC.

O Estado, ao adotar uma cultura de Conciliação, tem como

objetivos: criar uma nova mentalidade da sociedade, voltada à pacificação social;

diminuir substancialmente o tempo de duração do Litígio; viabilizar a solução dos

conflitos por meio de procedimentos informais e simplificados, com a participação

direta da comunidade; fornecer mecanismos destinados à realização de acordos,

tanto em Litígios já levados à Justiça, quanto em conflitos não jurisdicionalizados,

prevenindo e reduzindo, por conseqüência, o número de demandas no Poder

Judiciário.

Atualmente, a legislação permite, somente ser objeto de

Conciliação, as ações de competência dos Juizados Especiais Cíveis, previstas

na Lei 9.099/95, e expressas em seu art. 3º. Deve-se frisar que não basta que a

causa seja de “menor complexidade” para adentrar a competência dos Juizados

Especiais, sendo necessário que esteja elencada entre os incisos do art. 3º.

Para solucionar o problema de Acesso à Justiça e acelerar os

procedimentos no Juizado Especial, é necessário que se vá diretamente ao

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público. Para entrar com uma ação no qual busca-se a Conciliação, é necessário

o atendimento direto ao público. Há duas espécies de atendimento: o centralizado

e o descentralizado. O atendimento centralizado se dá, através das conciliações

que se realizam em instalações tradicionalmente utilizadas pelo Poder Judiciário,

como os Fóruns, as Varas e os Tribunais.

O atendimento descentralizado, por sua vez, acontece, via de

regra, mediante convênios com entidades públicas ou privadas, em locais onde,

convencionalmente, não se realizam atividades próprias do Poder Judiciário,

como nos Postos de Conciliação, Postos de Atendimento e Conciliação, às

Unidades Judiciais Avançadas, aos Juizados Itinerantes, Casas da Cidadania e

outros lugares, via de regra, funcionando mediante convênios com

estabelecimentos de ensino, sindicatos, associações comerciais, prefeituras, etc.

Após o atendimento e os acertos iniciais, marca-se a audiência

para a tentativa de Conciliação. Esta pode vir a ser presidida por um dos três

agentes: o Juiz Togado, o Juiz Leigo ou por Conciliador, estes dois últimos sob a

superior orientação do primeiro. Tanto o Conciliador quanto o Juiz Leigo não

exercem jurisdição, sendo meros auxiliares da Justiça, estando a atuação de

ambos submetida ao controle e fiscalização do Juiz Togado, que ao final,

homologa o acordo.

Sabe-se que, por várias vezes, a Sentença prolatada pelo juiz

apenas põe fim à lide no plano do Direito, e não extingue o Litígio na esfera

social. Isto porque a Sentença pode não satisfazer inteiramente as duas partes,

ou vir a satisfazer mais uma parte do que a outra, fazendo com que finde o

Processo, embora não finde o conflito entre os litigantes.

Assim, comprova-se que o acordo de vontades é um meio seguro

de obter o que se quer, já que as duas partes fazem concessões, pressupõe-se a

aceitação mútua a respeito de questões conflituosas entre elas e ambas, então,

sairão satisfeitas. Aliás, por pior que seja o acordo, além de antecipar os efeitos

da Sentença (constituindo título com força executiva judicial), este ainda veda ao

réu o Direito de recorrer, uma vez que pousa na liberdade de pactuar e na

autonomia da vontade.

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Tendo em vista as necessidades da sociedade na busca de uma

solução e o surgimento do novo sistema, objetivou-se, a partir do presente

trabalho, estudar a Conciliação como meio de agilizar o Acesso à Justiça nos

Juizados Especiais Cíveis.

Visando atingir os objetivos propostos, esta pesquisa foi

apresentada em três capítulos.

O Primeiro Capítulo trata da efetividade e do Acesso à Justiça.

Abordou-se um conceito do Direito de Acesso à Justiça que está atrelado ao

desenvolvimento político e social do país e com a idéia de cidadania. Traz o

Direito do livre acesso ao Judiciário como um Princípio Constitucional

fundamental, que deve ser igualmente acessível a todos, e ainda, produzir

resultados individuais e socialmente justos.

Foram demonstrados, também neste capítulo, os problemas da

prestação jurisdicional, do acesso às informações jurídicas, da lentidão do

Processo e da pobreza. Para que os cidadãos possam usufruir a garantia de fazer

valer seus direitos perante os tribunais, é fundamental que conheçam a lei e os

limites de seus direitos, que os juízes e as instituições públicas tenham o

compromisso de divulgar o Direito, e que, em uma sociedade Pobre como a

brasileira, o juiz repense no dogma da imparcialidade, de maneira a contribuir

para a redução das desigualdades sociais, tendo em vista que o Pobre sofre

discriminação e não possui meios de obter uma defesa que condiga com as suas

reais necessidades.

O Segundo Capítulo abordou a origem dos Juizados Especiais e

realizou uma contextualização histórica sucinta da evolução da Lei 9.099/95, bem

como as inovações trazidas com o advento da Lei. O Juizado Especial Cível foi

criado com o objetivo de resolver com rapidez e de maneira informal causas

consideradas simples, tendo em vista que a “máquina judiciária” encontrava-se

truncada, devido a grande quantidade de Processos nas vias judiciais.

Apresentaram-se os critérios e os Princípios norteadores dos

Juizados Especiais, como o espírito do novo sistema, haja vista todo o Processo

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ser orientado pelos Princípios da Oralidade, Simplicidade, Informalidade,

Economia Processual e Celeridade. Estes Princípios têm como escopo principal,

facilitar o acesso da população ao Judiciário.

O Terceiro Capítulo traz a Conciliação como principal meio de

Acesso à Justiça através dos Juizados Especiais. A Conciliação como uma forma

alternativa de solução dos conflitos jurídicos, sem que haja a necessidade da

intervenção do Judiciário para através do juiz, decidir sobre a demanda submetida

à apreciação. É um meio de prevenir ou terminar um Litígio, e conseqüentemente,

de acelerar o Acesso à Justiça, terminando com a morosidade e o formalismo

processual.

Todas estas medidas acatadas pelo Poder Judiciário para torná-lo

mais eficiente, visam resgatar, a confiança do cidadão, que teve seu Direito

lesado, no sistema Judiciário Brasileiro.

Em recente pesquisa realizada pela Associação dos Magistrados

Brasileiros (AMB) acerca da imagem do Poder Judiciário, 45% dos entrevistados

confiam nos Juízes, enquanto que 71,8% confiam nos Juizados Especiais. Isto

significa que os Juizados Especiais Cíveis, através de procedimentos

simplificados, como a Conciliação, tem conseguido resgatar a imagem do

Judiciário.

O JEC atua tornando-o mais eficiente, à medida que as vias de

acesso aos tribunais estão mais próximas dos mais simples. Os procedimentos

enxutos, embasados nos Princípios da Oralidade, Simplicidade, Informalidade,

Economia Processual e Celeridade, abriram os caminhos do Acesso à Justiça.

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