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01. História e Historiografia da Educação
A CONGREGAÇÃO DAS IRMÃS ESCOLARES DE NOSSA
SENHORA DA ALEMANHA AOS ESTADOS UNIDOS SÉCULOS
XVIII E XIX: PRIMEIROS APONTAMENTOS SOBRE O ENSINO
PRIMÁRIO
Autor: Moacir da Costa Belliato1
Autor: André Paulo Castanha2
Resumo: O presente texto objetiva reconstituir historicamente a caminhada da
Congregação das Irmãs Escolares que surgiu a partir do desejo de Carolina Gerhardinger
e orientado por sacerdotes que foram durante sua trajetória acadêmica seus conselheiros
espirituais. Estes sacerdotes influenciaram diretamente Carolina na criação desta
instituição educacional, que a partir do século XIX, transformou pelo itinerário
educacional rigoroso e disciplinado a vida de milhares de meninas europeias e
americanas. Enquanto os poderes públicos estatais machistas não cumpriam com suas
obrigações frente aos direitos basilares de uma educação de qualidade, as religiosas da
Congregação das Irmãs Escolares demonstraram que outro mundo era possível. Isto
aconteceria apenas quando houvesse vontade política e o ser humano passasse a ser visto
como gente e não meramente como peças de uma enorme engrenagem movida pelo
sistema capitalista opressor e explorador. Para tanto, utilizamos fontes bibliográficas que
caracterizam essa trajetória de acontecimentos antes e depois da fundação da
Congregação e o ensino na Alemanha, Europa e Estados Unidos. Alguns autores são
próprios da Congregação como Nelson, Oesthel, Dix e Arns. As bibliografias foram
articuladas de tal forma que facilitasse a compreensão dos acontecimentos que
permearam a época histórica. A articulação das bibliografias nos permitiu a aproximação
com questões políticas, sociais e religiosas específicas da época. O contexto do qual
Carolina fez parte foi palco de grandes conflitos. Estes eram impulsionados por grandes
1 Bacharel em Sagrada Teologia pelo STUDIUM THEOLOGICUM JEROSALOMITANUM em Jerusalém
– ISRAEL afiliado ao PONTIFÍCIUM ATHENEUM ANTONIANUM de Roma – ITÁLIA. Graduado em
Teologia pela Faculdade Kurios, Maranguape – Rio de Janeiro. Graduado em Filosofia pela Faculdade
Phênix de Ciências Humanas e Sociais do Brasil. Mestrando em Educação pela Universidade Estadual do
Oeste do Paraná – Campus Francisco Beltrão – UNIOESTE. Email: [email protected] 2 Professor do Colegiado de Pedagogia e do Mestrado em Educação da Unioeste – Campus de Francisco
Beltrão – PR. Membro do Grupo de Pesquisa: História, Sociedade e Educação no Brasil – HISTEDOPR –
GT local do HISTEDBR. Historiador e mestre em Educação pela UFMT, Doutor em Educação pela
UFSCar e Pós-doutor na área de Filosofia e História da Educação pela UNICAMP. E-
mail: [email protected]
2
interesses políticos e sociais movidos por forças antagônicas que combatiam
veementemente os interesses do Sacro Império Romano na Alemanha tendo como
religião oficial o catolicismo. Constatamos que o período em que viveu Carolina foi
antecedido por cinco épocas distintas que necessariamente precisaram ser levadas em
consideração para compreendermos que esta história nada mais foi que resultado de uma
sequência ou consequência de vários acontecimentos dentro das exigências de seu tempo.
Entenderemos que muitas vezes são nos momentos de tensões e conflitos que surgiram
projetos educacionais ousados capazes de responderem às necessidades de seu tempo.
Veremos que o contexto em que viveu Carolina foi o de grande instabilidade e guerras
constantes. Com a Revolução Industrial, apesar de muitos benefícios que esta
proporcionou, a população europeia precisou também arcar com as consequências
desastrosas das contradições e impactos prejudiciais na vida de muitos a começar pela
divisão de classes. Desta forma, ficou evidente a abundância para a burguesia e a miséria
para a grande maioria da população de modo geral. O surgimento da Congregação das
Irmãs Escolares de Nossa Senhora naquele contexto de barbárie social se tornou um ato
profético silencioso em meio a tanta miséria humana e intelectual. Veremos nitidamente
que através da disseminação e da manutenção de projetos educacionais ousados a
exemplo da Congregação das Irmãs na Alemanha, a realidade social das pessoas pode
mudar para melhor. Isto se evidenciará para além das fronteiras da Alemanha se
espalhando pela Europa e Estados Unidos a partir da chegada das Irmãs no ano de 1847.
Assim, concluímos dizendo que o projeto educacional das Irmãs Escolares de Nossa
Senhora funcionou na Alemanha e da mesma forma em várias cidades nos Estados
Unidos. Os resultados positivos se deram, devido à grande força de vontade e
determinação de Madre Teresa bem como de suas colaboradoras que movidas por uma
inspiração divina, se dedicaram totalmente pela causa da educação de qualidade tendo em
vista a dignidade e a promoção humana das meninas europeias e americanas.
Palavras-chave: Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora; Educação de
Meninas na Alemanha; Estados Unidos.
Introdução
“O educador tem que continuar, durante toda a vida, seu
aperfeiçoamento para corresponder na medida do possível, às altas
exigências do seu tempo” (Madre Teresa).
O presente estudo tem origem a partir de análises de fontes bibliográficas. Estes
materiais evidenciam o nascimento de Carolina Gerhardinger, (1797) a protagonista deste
evento histórico bem como a organização e constituição da Congregação das Irmãs
Escolares de Nossa Senhora, na Alemanha (1833) até sua instalação nos Estados Unidos
a partir de (1847).
Para articular o objeto proposto à análise, utilizamos autores que identificam e
reconstituem a história da Congregação, como: Nelson (1979) que coordenou um grupo
de estudos interprovincial em Baltimore, Maryland (Estados Unidos) com o intuito de
3
atender às exigências do Concílio Vaticano II a partir do Decreto sobre a Renovação da
Vida Religiosa na Igreja (Perfectae Caritatis) que solicitou que as religiosas analisassem
a inspiração original dos seus fundadores afim de que pudessem viver os valores do
carisma original contextualizados no mundo contemporâneo. Cruz (1992), que descreveu
a história da jovem Carolina a partir de acontecimentos marcantes que fizeram parte da
vida da jovem, Arns (2012) que na comemoração dos 180 anos da existência da
Congregação, abrilhantou as festividades e reescreveu a história da fundadora e da
Congregação das Irmãs Escolares com ilustrações que facilitaram o entendimento desta
história na Alemanha e Estados Unidos, Dix (2012) que com simplicidade partilhou a
história do carisma de Madre Teresa de Jesus Gerhardinger demonstrando sua
determinação, esperas, riscos e contradições, desilusões e sofrimentos durante o período
de uma vida tocada tanto pela alegria que encontrava em seu Deus quanto pelas
realizações espirituais e educacionais, em dois continentes. Pierre Huffner (1989) que,
desenvolveu a história de Madre Teresa Gerhardinger em quadrinhos e a Madre Charlotte
Oesthel, Superiora Provincial, de Munique – Alemanha (2012) que relatou a brilhante
caminhada pedagógica da fundadora da Congregação.
Com o objetivo de analisar historicamente a constituição, manutenção e
disseminação da Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora e seu projeto
educacional, nos propomos a fazer um breve resgate histórico, desde épocas que a
antecedeu até a criação da Congregação e posteriormente sua instalação nos Estados
Unidos. Assim organizamos o estudo em pontos fundamentais para este entendimento.
Iniciamos com uma breve síntese do contexto em que antecedeu e viveu Carolina (1797)
bem como a história de forma geral da fundação da Congregação das Irmãs Escolares de
Nossa Senhora na Alemanha (1833) e as orientações de ensino. Em seguida tratamos da
ida aos Estados Unidos a partir de 1847 a pedido dos bispos americanos e o
desenvolvimento de um programa de estudos aos americanos.
As épocas que antecederam Carolina Gerhardinger e o contexto em que viveu
A vida religiosa na história da Igreja atravessou séculos com suas épocas e
características bem distintas entre si. No entanto, focaremos no século XVIII e o XIX em
diante por ser considerado a época do surgimento das Congregações Religiosas de ensino.
4
Segundo Nelson3 (1979) este período histórico se dividiu em 05 épocas
específicas e são elas:
1. Época dos Padres do Deserto (200 – 500);
2. Época das Ordens Monásticas (500 – 1200);
3. Época das Ordens Mendicantes (1200 – 1500);
4. Época das Ordens Apocalípticas (1500 – 1800);
5. Época das Congregações de Ensino (1800 até o presente).
No contexto em que Carolina4 nasceu e viveu, presenciou os momentos de grandes
tensões em sua pátria dentro da triste realidade das disputas políticas e religiosas causada
por um modelo de governo embasado na ideologia iluminista. Este modelo
governamental sustentava a ideia de que o uso da razão deveria prevalecer sobre tudo e
todos ceifando da vida das pessoas a possibilidade de viver uma crença religiosa. Aliás,
esta crença era entendida pelas novas autoridades como algo supersticioso e um poderoso
instrumento de alienação.
Conforme Nelson:
O país no qual Carolina nasceu não era a Alemanha que nos é familiar
hoje. Em 1648, o tratado da Westfália tinha terminado a “Guerra dos
Trinta Anos”, muitas vezes citada como guerra religiosa. Esse conflito
viu monarquias católicas aliadas com monarquias protestantes, contra
outras nações católicas para criar “equilíbrio de poder”, um conceito
que dominaria mais tarde o movimento político do século XIX na
Europa. Em 1806 o santo Império Romano foi dissolvido e substituído
por uma criação Napoleônica, a “Confederação do Reno”. Excluindo a
Prússia e a Áustria da sua reorganização dos territórios alemães;
Napoleão procurou enfraquecer estes poderes maiores. Por outro lado,
através da secularização de muitas terras da igreja, algumas das quais
eram adquiridas pela Baviera,ele fortificou, tornando-a um estado mais
proeminente. Foi nesta época crítica que um bom número de ordens
religiosas de ensino, na Baviera, foram secularizadas, entre elas, como
vimos a Congregação de Notre Dame, fundada na Lorraine (Lorena),
no fim do século XVI, por São Pedro Fourier (1979, p.18).
3 Trata-se de um grupo interprovincial de pesquisa sobre a herança. Este encontro foi organizado pelas
Irmãs Escolares de Nossa Senhora e coordenado pela Irmã Sally Ann Nelson, IENS reunidos em Baltimore,
Maryland em 31 de julho de 1979. 4 Carolina Gerhardinger, foi o nome de batismo que recebeu ainda quando criança. Depois que Carolina
professou os votos na Congregação Religiosa, seu nome passou a ser Maria Teresa de Jesus Gerhardinger.
Em seguida, se tornou a superiora da Congregação e então passou a ser chamada Madre Maria Teresa de
Jesus Gerhardinger.
5
Naquele período, quem estava comandando a região da Baviera eram as forças
antagônicas à doutrina da Igreja Católica conhecida como movimento iluminista que teve
sua origem na França. Este grupo era contrário aos ideais da Igreja de Roma. Napoleão
Bonaparte que se destacou como líder deste movimento, se contrapôs ao poder político
vigente bem como ao modelo de Igreja da época. Segundo este movimento racional, a
Igreja Católica propagava práticas supersticiosas alienando as pessoas da realidade em
que se encontravam. Então Napoleão com seu exército poderoso, segundo Arns (2012),
praticamente dizimou a Baviera deixando-a em um estado de extrema pobreza moral,
social e econômica. Movido pelo interesse de divulgar e implantar as ideias do
iluminismo francês, os militares combatiam de forma avassaladora a religião cristã
católica e protestante que eram compreendidas pelo movimento iluminista como
supersticiosas.
De forma imperativa, rápida e sem explicações, todas as instituições escolares
religiosas foram proibidas de ensinar sendo monitoradas constantemente pelas
autoridades governamentais iluministas. Diante disso, iniciou-se um processo
educacional estatal. Desta forma, foram ganhando espaço e força as escolas estatais do
governo dentro de uma visão educacional iluminista que na sua essência era laica. Assim,
predominava uma visão mais racional da realidade e de seus acontecimentos. Este era o
contexto em que estava inserida a jovem Carolina Gerhardinger. Assim, este período
precisa ser muito bem entendido para não se fazer pré-julgamentos precipitados
desconsiderando o momento em que Carolina viveu.
Conforme Huffner:
Durante a juventude de Carolina, o Classicismo alemão buscava
inspiração no ideal da “nobre simplicidade e silenciosa grandeza”.
Goethe escreveu seu “Fausto”; Shiller, o “Wallenstein”; Haydn compôs
seus “Oratórios”; e Bethoven, as primeiras sinfonias. A “literatura
romântica exaltava as grandes paixões e celebrava o indivíduo. O
período mais sóbrio encontrava sua expressão no realismo, em meados
do século. Na arte alternavam as formas serenas e puras da arquitetura
clássica com os quadros emotivos dos pintores românticos que se
inspiravam em motivos de contos e sonhos saudosos da Idade Média.
Quando a vida de Carolina chegava a seu fim, os impressionistas
franceses começavam um estilo de pintura totalmente novo, baseado na
luz e na cor. Dostojewiski , e Dickens escreveram seus romances sobre
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a miséria humana; Brahms e Bruckner, Wagner, Verdi e Tschaikowski
deram a música novos impulsos. A era industrial havia começado.
Numa única geração, a vida diária sofreu maiores mudanças do que
durante os séculos precedentes. Carolina Gerhardinger assistiu as
invenções importantes, tais como a instalação do primeiro trem de ferro,
a aparição dos barcos a vapor, o desenvolvimento do telefone. Todas as
conquistas ela pode usar para a expansão de sua obra. A nova era trouxe
também muita miséria e opressão. A “Revolução Industrial “ do século
XIX, provocou o crescimento das cidades, originou a emigração dos
campos; poucas fábricas grandes absorveram as forças ativas de toda a
região e condenaram as empresas pequenas à falência. No final surgiu
a sociedade classista, com um pequeno número de milionários de um
lado, e uma esmagadora massa de proletários sem direito, de outro;
grandes invenções diminuíram a fome e a mortalidade infantil, porém
para a maioria, a justiça estava fora do alcance. A Igreja nem sempre
encontrou a força de anunciar a Boa Nova. Embora Adolf Kolping
(1813-1865) recomendasse a seus religiosos que o “sacerdote deve
inclinar-se até a terra para levantar aqueles que estendem a mão,
pedindo auxílio”; embora o bispo “social” Wilhelm Emanuel von
Ketteler (1811-1877) lembrasse aos estados sua obrigação de
solucionar a questão social, contudo, em sentido amplo, havia na Igreja
uma funesta indiferença frente aos problemas dos trabalhadores. O
manifesto comunista conclamava, em tons apaixonados, para a
revolução. “Busco cidadãos para o reino da liberdade”, foi o lema
da primeira revista feminina com temas sociológicos pedagógicos
dirigida por Louise Otto-Petters (1819-1895). Ela conclamou a mulher
a se tornar independente, a desenvolver-se sua personalidade, a
interessar-se pelos direitos civis e pela situação dos pobres. Mostrou a
miséria das operárias, a falta de educação das meninas e a dependência
indigna das mulheres casadas. Ao mesmo tempo que Louise Otto-
Petters dava motivo para falar de si como publicitária socialista. Teresa
Gerhardinger, urgida por responsabilidade cristã, construía sua obra de
ensino e educação da mulher (1979, p.18).
Este texto demonstra uma sociedade alemã que almejava algo novo. Assim sendo,
o teatro, a música e aqui destaco Richar Wagner5 entre outros deram um novo impulso à
música. A arte e a literatura se tornaram canais com possibilidades para esta descoberta
uma vez que a religião católica, que na época tinha como autoridade máxima o Papa Pio
IX6 que exerceu o seu pontificado durante 32 anos de (1846-1878) sendo substituído pelo
Papa Leão XIII, que permaneceu no pontificado por mais 28 anos isto é, de (1878-1903).
5 Richar Wagner nasceu em Leipzig em 22 de maio de 1813 na Alemanha e foi maestro, compositor e
diretor de teatro. Morreu em Veneza no dia 13 de fevereiro de 1883. 6 Pio IX, cujo nome de batismo era Giovanni Maria Mastai - Ferreti nasceu em 13 de maio de 1792 em
Senigallia – Itália, estudou em Roma. Queria ser militar, mas não conseguiu por ser epilético. Foi ordenado
em 1819 e trabalhou no Chile. Em 1825 foi nomeado arcebispo de Spoleto. Em 1840 já era cardeal e em
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A Igreja já havia chegado ao máximo em um estágio de estagnação sendo pouco
compromissada com os problemas sociais de sua época. A Igreja do século XIX foi
indiferente e incapaz de responder às necessidades e aos apelos do seu tempo estando em
uma grande decadência, envolvida apenas aos aspectos do culto litúrgico cristão, aos bens
materiais esquecendo-se de desempenhar um papel importante e determinante do ponto
de vista social, humanista e solidário tendo frente as dificuldades enfrentadas pela maioria
de seus fiéis mais pobres.
Não foi por acaso que a literatura romântica do século XIX, exaltava as grandes
paixões e destacava a pessoa do indivíduo. Esta trazia a tona novamente o saudosismo da
Idade Média. Os anos se passaram e Carolina ainda assistiu o movimento impressionista
onde os artistas franceses deram por assim dizer a sua contribuição fazendo a crítica
também àquele período. Renomados escritores da literatura europeia como Dostojewiski
e Dikens que percebendo os problemas sociais de sua época escreveram romances sobre
a miséria humana de sua época apontando para alternativas mais humanas para os
indivíduos.
A era industrial chegou e Carolina Gerhardinger pode assistir enormes mudanças
e transformações que levariam séculos para ocorrer e aconteceram em uma única geração,
como enfatizou Huffner Carolina conheceu e soube tirar proveito de importantes
descobertas fruto de sua época como a instalação do trem de ferro, o surgimento dos
barcos a vapor, bem como o desenvolvimento do telefone. Estas importantes descobertas,
Carolina usou como mediação para a ampliação de sua obra. Não obstante as importantes
descobertas que facilitou a vida de muita gente, ao mesmo tempo também, a era industrial
trouxe em sua “bagagem” mecanismos que gerou muita miséria humana e opressão aos
mais pobres e desfavorecidos.
1846 foi eleito Papa e assumiu o nome de Pio IX para homenagear seu antigo benfeitor Pio VIII. Durante
seu pontificado criticou duramente o falso liberalismo, condenou o panteísmo, o naturalismo, o socialismo,
o comunismo bem como a maçonaria, o judaísmo e outras organizações tidas como contrárias à doutrina
católica. O Papa Pio IX insistia que a única teologia e filosofia que deveria ser seguida era a de São Tomás
de Aquino. O Papa Pio IX desempenhou uma função muito importante na história da Congregação das
Irmãs Escolares. O Papa autorizou e reconheceu eclesiasticamente a forma de vida simples que elas queriam
tanto viver de forma definitiva em 26 de Agosto de 1865.
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Da mesma forma que a “Revolução Industrial” trouxe “progresso” provocando
crescimento das cidades esta também foi responsável pelas enormes “fraturas” sociais
que a emigração dos campos causaram. Surgiram as enormes fábricas que absorveram as
mãos de obra de toda a região ocasionando a falência de pequenas empresas. A
consequência disso tudo foi o surgimento de uma sociedade dividida em duas classes. Ou
seja, um pequeno grupo de milionários de um lado e do outro, uma enorme massa de
proletários sem seus direitos fundamentais legitimados.
Com isso, não se pode negar que grandes invenções até diminuíram a fome e a
mortalidade infantil, todavia, para a grande maioria da população empobrecida e
explorada, a justiça era algo inatingível. Infelizmente a Igreja naquele contexto se
comportou de forma indiferente. Ela não usou dos mecanismos que disponibilizava na
época para denunciar as injustiças e promover a dignidade das pessoas. Era muito raro
uma autoridade eclesiástica se manifestar para debater e questionar os problemas sociais
até porque a Igreja era proprietária de grandes áreas de terra
O sacerdote alemão Adolf Kolping (1813-1865) desempenhou em sua época um
trabalho brilhante de caráter humanitário. Kolping conversava abertamente com os
sacerdotes que deviam inclinar-se até a terra para levantar aqueles que estendiam a mão
pedindo auxílio. Dentre tantas, uma ou outra autoridade eclesiástica entre padres e bispos
que tiveram a coragem, grandeza e a sensibilidade em demonstrar que o Estado, bem
como a Igreja devia cumprir a sua função social humanista oferecendo uma resposta
equilibrada para resolver os problemas dos trabalhadores oprimido e explorados pela
revolução do século XIX que enriqueceu uma minoria e empobreceu e explorou a grande
maioria sem nenhum escrúpulo.
Somente com o Papa Leão XIII (1878 1903) é que a Igreja de Roma resolveu
tomar uma decisão publicando a primeira encíclica com um conteúdo tipicamente social.
A encíclica Rerum Novarum surgiu como uma resposta aos problemas sociais de seu
tempo. Nesta Encíclica ficou clara a posição da Igreja diante dos desafios sociais no
continente europeu.
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Carolina Gerhardinger estava inserida em um contexto de muita miséria e pobreza
no sentido mais amplo da palavra como consequência direta da “Revolução Industrial”
do século XIX. Justamente neste contexto o manifesto comunista de Karl Marx (1818-
1831) e Friedrich Engels (1820-1895) foi articulado como uma resposta às forças
capitalistas que massacravam, exploravam os trabalhadores com salários miseráveis
empobrecendo a população humilde da Alemanha. Este importantíssimo tratado político
se apresentou como uma “Nova Revolução” não mais a nível industrial e sim uma “Nova
Revolução Social” onde as classes trabalhadoras seriam vistas com mais humanidade e
mais igualdade social para todos. O que fez Marx e Engels no nosso entendimento é o
que poderia ter sido feito pela Igreja com o seu enorme “exército de cabeças pensantes”.
Ora, a Igreja sempre se destacou no decorrer dos séculos com importantes filósofos,
teólogos. Neste sentido, a igreja sem tolher o aspecto religioso amadurecido
ultrapassando as barreiras das meras práticas devocionais poderia ter feito muito mais.
Uma pergunta que podemos nos fazer: Por que a Igreja se comportava de forma
indiferente diante da realidade gritante em que a maioria da população era empobrecida?
A Igreja para dar uma resposta eficaz necessariamente, precisaria ser coerente com a sua
teoria e se desfazer de suas enormes riquezas que não eram poucas principalmente no que
referia às grandes áreas de terras.
Foi também neste contexto de grandes descobertas e acontecimentos em que viveu
Carolina Gerhardinger que se destacou a figura de Louise Otto-Petter. Louise foi dirigente
da primeira revista feminina com temas sociológicos e pedagógicos. Louise convocou as
mulheres de sua época a serem independentes. Para Louise, as mulheres deveriam
desenvolver sua personalidade e ao mesmo tempo, lutar pelos seus direitos civis.
Na revista em que ela foi diretora, conseguiu demonstrar a miséria em que vivia
as operárias, a falta de educação das meninas e a dependência indigna das mulheres
casadas. Diante desses acontecimentos e da acalorada luta pelos direitos femininos
promovidos por esta publicitária socialista, tanto ela que defendia os direitos humanos
das mulheres, quanto Carolina Gerhardinger intuíram a urgente necessidade de
desenvolver projetos pedagógicos de educação integral cristão católico em nome da igreja
a qual elas pertenciam na região da Baviera – Alemanha.
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Estes projetos deveriam ser capazes de corresponder às necessidades
primeiramente femininas, não apenas no âmbito espiritual, mas também humanista e
profissional. Uma vez que naquele contexto europeu, as mulheres de modo geral, não
tinham oportunidades de obterem uma educação e uma formação de qualidade a não ser
àquelas que tinham ótimas condições financeiras, que era uma pequena minoria da classe
burguesa além de viverem em um ambiente machista.
O projeto de Madre Teresa, tornou em nosso entendimento, muito mais do que
um projeto pedagógico integral humanístico. Se transformou num ato profético que
contribuiu para um salto de qualidade na vida de milhares de mulheres esquecidas pelos
programas educacionais de sua época. Estamos falando de uma Igreja do século XIX, que
era machista na sua essência, onde as crianças do sexo feminino normalmente eram
excluídas dos programas educacionais de ensino.
O fechamento de inúmeras escolas e a secularização dos Institutos Religiosos
O movimento iluminista que governava a Baviera, isto é, o sul da Alemanha,
entendia que a educação cristã era um péssimo serviço prestado à população uma vez que
esta era carregada de ideias supersticiosas. Isto precisava mudar o quanto antes. Assim, a
primeira medida que tomada de forma radical, consistiu em praticar uma política de
fechamento dos conventos católicos que normalmente funcionavam como escolas. No
entendimento das autoridades, deveria muito em breve entrar em vigor um ensino laico
mais racional e não confessional.
Arns (2012) afirma que inúmeras escolas em 1809 foram fechadas uma vez que
já vinham enfrentando dificuldades desde 1803 e na sua maioria também, os Institutos
Religiosos foram secularizados (ARNS, 2012, p.29).
Dix complementa dizendo que:
Nas últimas semanas de escola elementar de Carolina, os dias se
tornaram sombrios, com o fechamento de sua querida escola
conventual. Embora as irmãs tivessem suportado a tempestade de
secularização de 1803, quando outros conventos foram extintos, as
exigências de impostos da guerra e outras taxas, intoleráveis, a dura
interferência governamental nas suas escolas, nos métodos de educação
e mesmo na vida conventual forçou as irmãs a pedirem a seu bispo o
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fim da instituição. No dia 15 de agosto de 1809 foi rezada a última
missa; o oratório foi fechado e no dia 1° de setembro, as irmãs deixaram
o lugar onde haviam trabalhado durante 80 anos. Um jornal anunciou o
leilão público de suas posses: uma cômoda, mesas, cadeiras, esculturas
e pinturas, duas vacas, vinte metros quadrados de lenha e a produção de
sua horta (1993, p. 21).
Desde então, havia um controle total da vida religiosa de modo geral. Assim
também ficou evidente que até a vida pessoal de cada irmã era vigiada excluindo por
assim dizer, a liberdade que era o direito mais precioso que o ser humano poderia ter. Tais
medidas governamentais tinha por finalidade a clara expulsão das religiosas do serviço
educacional uma vez que a educação “abria os olhos” dá grandes margens para as pessoas
enxergarem para além das aparências e perceberem, descobrirem a origem de toda aquela
situação desumana aquém da vontade do Deus que Carolina acreditava.
A escola das Cônegas Agostinianas que Carolina estudava infelizmente fechou. As
religiosas não suportaram a enorme pressão governamental articuladas em taxas de guerra
altíssimas e a direta influência e controle no modo de ensinar e na vida conventual. Às
religiosas tiveram uma única alternativa, a saber, fechar definitivamente a escola
conventual. Assim, no dia 15 de Agosto foi celebrada a última missa no oratório do
convento e as simples e poucas coisas que as Cônegas possuíam foram leiloadas. Ainda
conforme Dix (1993) as Irmãs recebiam uma pensão do governo se dispersaram e
sobrevivam como costureiras. “A tristeza pela destruição da sua comunidade conventual
foi intensificada pela dor dos pais e das crianças que haviam perdido a escola, e pela
preocupação do padre Wittmann, que enfatizava o valor da educação feminina” (Dix,
1993, p. 21).
A ilustração a seguir, do Livro “A Bem Aventurada Maria de Jesus”, escrito por
Irmã Maria Helena Arns, em 2012, ilustra a cena do padre Witmann7 com as crianças às
margens do rio Danúbio em Stadtamhof, terra natal de Carolina.
7 Padre George Michel Wittman (1760-1833) recebeu uma educação jesuítica. Era professor e foi um dos
fundadores da Congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora. O Padre Wittiman acreditava que as
mulheres eram as agentes de transformação pelo caminho da educação profissional integral dentro de uma
espiritualidade cristã.
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Ilustração N°. 1: Padre Witmann com as crianças caminhando às margens do rio Danúbio
Fonte: Arns, 2012, p. 23.
Segundo Nelson (1979) e Arns (2012), em Regensburg havia o pároco da Catedral
e seu nome era Padre George Michel Wittman, este padre tinha um zelo ardente pela
salvação das crianças e um enorme carinho, preferencialmente por aquelas mais pobres.
Padre Wittman também era pedagogo e inspetor escolar das cidades de Regensburg e
Stadtamhof estava muito desapontado com o fechamento das escolas. Diante de tamanhas
dificuldades, um grupo reduzido de professores da Universidade de Landshut com
Wittman, entenderam que a solução dos problemas sociais e religiosos poderiam ser
solucionados através da educação para a mulher e de modo particular aquelas que viviam
nas zonas rurais e pobres (Nelson (1979, p. 23 e Arns, 2012 p.29-30).
Um fato importante para a futura Congregação é que entre seus alunos da
Universidade de Landshut, de acordo com Arns (2012) estava o futuro Rei da Baviera,
Ludovico I, que em 1825 subiu ao trono, realizando relevantes mudanças na região da
Baviera. O Rei se aconselhava com seus antigos professores Sailer e Wittmann a respeito
das reconstruções das escolas católicas e também da fundação de novos Institutos. Vale
lembrar que naquela época, a Igreja e todas as outras instituições dependiam do Estado
(Arns, 2012, p. 32).
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Conforme Cruz (1992) em certa ocasião, o Rei Ludovico I afirmou que era
impossível uma nação estar em paz, sem a vivência religiosa (CRUZ, 1992, p.18). O Rei
entendia que o futuro de uma nação era a juventude e a infância. Apesar das enormes
tribulações que o exército de Napoleão havia causado com os projetos educacionais anti-
cristãos, Padre Wittmann não desanimou, embora a escola tinha sido fechada pelos
governantes Iluministas.
Carolina e as duas companheiras professoras
O nosso estudo se dará a partir da história do nascimento de Carolina
Gerhardinger. Segundo Lazier (1982), e Arns (2012) Carolina Gerhardinger ou Madre
Maria Tereza, nome de religiosa na Congregação nasceu em 20 de Junho em Stadtamhof
no ano de 1797 no final do século XVIII na região da Baviera - Alemanha.
Diante de tudo isso o tempo foi passando e a jovem Carolina Gerhardinger foi
crescendo diante da catástrofe causada pela guerra napoleônica. No entanto, segundo
Arns (2012), não demorou muito tempo, para Carolina descobrir o seu grande potencial
como educadora e os alunos inclusive gostarem de frequentar as aulas da jovem
professora. As crianças gostavam tanto das aulas que quando chegava o inverno, traziam
lenha para a escola no intuito de que nem o inverno por mais rigoroso que fosse não
interrompesse as aulas (ARNS, 2012, p 33).
Segundo Cruz, as Irmãs:
Estavam ocupando as grandes salas do Colégio das Irmãs de Nossa
Senhora. Mas de repente numa frieza glacial, o governo transformou o
ex-claustro em quartel para soldados. As três professorinhas tiveram
que alojar-se numa sala apertada, junto ao hospital da cidade. E esta
salinha era ocupada por uma senhora idosa que além disso, guardava
consigo um cabritinho travesso ( 1992, p. 12-13).
A situação ficou cada vez mais difícil para as professoras continuarem dando
aulas. Muito além do clima tenso, tudo começava ficar improvisado e apertado, faltava
material escolar, o ambiente já era extremamente inadequado e pairava uma insegurança
total. São os momentos de certas dificuldades que possibilitam projetos novos, ideias
novas.
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A ilustração a seguir, do Livro “A Bem Aventurada Maria Teresa de Jesus”,
escrito por Irmã Maria Helena Arns, em 2012, ilustra a cena descrita por Afonso de Santa
Cruz anteriormente. A adaptação educacional das Irmãs Escolares, no período ficou
perceptível devido ao contexto social gerado na época. Ser irmã e orientar os estudos em
uma sociedade afluída pelo iluminismo, não deveria ser uma missão fácil.
Ilustração n. 3: Um cabrito com seus berros atrapalha as aulas de Carolina
Fonte: Arns, 2012, p. 34
Segundo Dix (1993) em 1812 as jovens Carolina, Anna Praun e Anna Hotz
fizeram o exame e foram aprovadas e então receberam seu certificado para a Volksschule
(escola elementar) começando no seguinte ano escolar como professoras oficialmente
reconhecidas (1993, p. 27). Em 1815 a jovem Carolina sente em seu coração, o chamado
para uma importante missão e segundo Oesthel (2012) ela conversa
com o cônego Wittmann a respeito de seu propósito da possível fundação de uma ordem,
como poderá ser constatado em anotações posteriores (Oesthel, 2012, p. 11).
Conforme Nelson:
Em 1818 Wittmann estava começando seus planos para a restauração
do convento de Notre Dame, em Stadtamhof. L. Ziegler explica que
Wittmann percebia que para levar novamente as pessoas a um amor, à
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simplicidade e ao zelo pela vida de oração e trabalho, era necessário
começar a formar as meninas. Para isto, eram necessárias
professoras provenientes do povo simples, que partilhassem sua vida
simples(...) pudessem ser enviadas pelo mundo (...). Wittmann já
percebia que o novo instituto diferia do modelo de mosteiros grandes e
formais (...). Um instituto que enviasse seus membros dois a dois e três
a três, pelo país. O essencial para este seu esquema era a mobilidade,
formação comum, uma casa mãe para a formação e educação das
postulantes e noviças e para o cuidado dos doentes e irmãs idosas, bem
como uma Superiora Geral para a administração Geral (1979, p. 22).
A educação católica da Baviera estava destruída e como consequência, a vida
moral também foi muito prejudicada. Padre Wittmann estava com seus planos de
restauração do Convento de Notre Dame em Satdtamhof. No entanto este visionário
intuiu que para recuperar a moral, a religiosidade das pessoas, seria necessário um
trabalho de base ou seja teria que se começar por uma educação básica, dentro de uma
perspectiva confessional e neste caso, católica. Para tanto, era indispensável formar as
meninas para este trabalho educacional. Sendo assim, este instituto não poderia seguir
mais os padrões tradicionais da época com grandes construções a exemplo dos enormes
mosteiros. Este novo instituto deveria oferecer mobilidade e formação comum para as
candidatas com uma administração central oferecendo assim mais praticidade e
simplicidade.
Depois de iniciar uma experiência com duas amigas em 1820 uma delas resolveu
abandonar o projeto e foi morar com seu irmão. No entanto, a convicção de Carolina
aumentava ainda mais em uma experiência original diferente. Ainda conforme Oesthel
(2012) depois do ano 1825 o novo rei da Baviera, Ludwig I, voltou permitir ordens
religiosas (Oesthel, 2012, p. 11).
A certeza se concretizou a partir das orientações do padre Wittmann em que
deveria de fato, fundar uma Congregação de Religiosas que desenvolvesse um trabalho
na área de educação com meninas e moças. Segundo Oesthel “Neste meio tempo,
Carolina tornou-se uma professora entusiasmada não restando nenhum resquício daquela
oposição contra a tarefa monótona e enfadonha de ser professora” (2012, p. 10).
A partir das orientações do seu diretor e pedagogo Padre Wittmann e do Padre
Maurer, a jovem Carolina foi se tornando uma professora exemplar e muito qualificada
no exercício de ensinar. Dentro dessa perspectiva, foi que veio a intuição para a fundação
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desta nova Congregação, cujo foco central foi o trabalho totalmente voltado para a
educação feminina e preferencialmente com as meninas e moças mais pobres do sul da
Alemanha. Mais tarde este projeto educacional naturalmente ultrapassaria as fronteiras
da Europa.
A fundação de uma Congregação Religiosa especializada na educação feminina
No dia 24 de Outubro de 1833 a jovem Carolina com suas três companheiras
começaram oficialmente a Congregação das pobres Irmãs Escolares de Notre Dame
(Nossa Senhora) (DIX, 1993, p. 13).
A ilustração abaixo representa o primeiro convento escola e Carolina com suas
duas primeiras companheiras professoras.
Ilustração N°. 2 convento e escola com as primeiras companheiras
Fonte: Arns, 2012, p.49
Naquela época, as
congregações eram ricas e as
religiosas se dedicavam especialmente na sua maioria às classes média e alta. Segundo
Arns o projeto das Irmãs Escolares, era voltado de forma exclusiva às classes mais
desfavorecidas (2012, p. 66). A ideia central era fundar pequenas comunidades rurais
inseridas, com duas ou três religiosas, vivendo de doações, mas transformando o ambiente
em que estavam através da educação. As Irmãs Escolares entendiam que a educação
escolar, era a única alternativa para tirar as jovens meninas do mundo da ignorância
intelectual e da pobreza material.
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Segundo Arns, em 1836 as irmãs assumiram uma escola em Schwarzhofen, tanto
que entre 1833 e 1843, já tinham sido fundadas 12 casas filiais e outrass 40 localidades
demonstravam interesse no projeto educacional católico das Irmãs Escolares de Nossa
Senhora. Com o passar dos anos, o covento de Neunburg já não tinha mais capacidade
para o acolhimento de novas candidatas que procuravam aquela proposta do carisma
educacional. Na verdade, inclusive o número de religiosas já naquele breve espaço de
tempo, eram 59 (2012, p. 71-73).
Desta forma, para melhor acomodar as irmãs e dar seguimento no projeto
educacional que estava em constante expansão, a fundadora da congregação Madre Maria
Teresa de Jesus Gerhardinger, precisou procurar um novo lugar para uma nova sede para
a Casa Central da Congregação. Segundo Dix (1993), em 1841, Madre Maria Teresa de
Jesus juntamente com suas seguidoras, receberam uma excelente notícia: O Rei Ludovico
I fez a doação do antigo Convento das Irmãs Clarissas de München para as Irmãs
Escolares. Madre Maria Teresa desenhou inclusive como deveria ser a estrutura do novo
Convento e Escola (sugerindo suas opiniões pertinentes). Após os reparos necessários e
convenientes (Dix, 1993, p.71-72). Em “30 de Setembro de 1843, 50 irmãs professas,
estavam reunidas com as noviças e se transferiram de Neunburg von Wald para München”
(1993, p. 77).
As religiosas professoras receberam várias críticas no início do próprio Governo
Real por aplicarem uma superformação par a as crianças do interior. No entanto, a Madre
Maria Teresa responde a altura dizendo: “como podem crianças ser superformadas, sendo
incrivelmente desleixadas quanto à formação de casa e a educação intelectual? As
crianças com pouco sentido para o belo e nobre (...). No verão, elas vem raras vezes (...)
e cada ano precisa recomeçar com as matérias tudo outras vez” (Arns, 2012, p. 84).
Mesmo com as críticas, o projeto educacional católico das Irmãs Escolares não
deu tréguas para as oportunidades que surgiam. Os pobres foram os preferidos de Madre
Maria Teresa. Segundo de Arns (2012), em 1842, as irmãs assumiram a escola elementar
dos pobres na periferia de Munique e ainda no mesmo ano, o Instituto dos Surdos e Mudos
na cidade de Amberg (2012, p.85).
A história demonstrou que não foi necessário muito tempo para o Angar se tornar
repleto de candidatas para a vida religiosa e o carisma educacional feminino. Madre Maria
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Teresa com o apoio do grande educador e pedagogo Padre Sieger fizeram da Nova Casa
Mãe, um Centro de Educação modelo de formação para que fossem preparadas Irmãs
educadoras para o Magistério. Certamente essa experiência pode ser considerada umas
das primeiras Escola para formar professoras. Segundo Arns, somente depois de 30 anos
em 1872 o Estado Alemão começou a fundar Escolas de magistério para mulheres (2012,
p. 88).
Este projeto educacional ganhando cada vez mais espaço. As famílias das
comunidades e as autoridades sentiam uma transformação social que aos poucos vinha
dando certo. Mas não era apenas isso, pois de acordo com Arns (2012) em Munique havia
muitas crianças que não tinham para onde ir e ficavam vagando pelas ruas da cidade.
Neste sentido os pedidos dos “Kinderhorte”, isto é escolas de apoio eram solicitadas cada
vez mais. Logo, Madre Teresa entendeu que era necessário um curso que preparasse
professoras para esta modalidade escolar (2012, p. 88 - 89).
Em 1848, o Rei Ludovico I renunciou ao Trono Real e assumiu seu filho
Maximiliano II. O trabalho das irmãs prosseguiu O novo Rei também via com muitos
bom olhos este projeto educacional transformador e humanista que em 1852 publicou
uma bula em que dizia: deveria ser incentivado a expansão o Instituto das Irmãs Escolares.
No dia 29 de maio de 1879 faleceu Madre Maria Teresa de Jesus esta educadora de visão
mundial reconhecida pelas autoridades alemãs e da Igreja Católica como a pedagoga do
século XIX.
O Documento resultante do III Encontro Interprovincial de Educação das Irmãs
Escolares da América do Sul (1999) indicou que na Alemanha sob o domínio do sistema
iluminista, imperava:
O espírito anti-clerical e principalmente anti-religioso que tinha como
meta, tirar o povo da “escravidão”, da superstição religiosa e
automaticamente levá-los a auto determinação exercitando o uso da
razão. Assim, esta ideologia provocou o confisco dos bens da Igreja e a
secularização dos Conventos e Escolas (1999, p.7).
Não é difícil imaginar, a vida das Irmãs, devido as circunstâncias, precisarem levar
uma vida frugal, inclusive no que se refere à alimentação. Diante de um contexto de
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guerras e perseguições religiosas era natural faltar o conforto, a comida, a bebida e
dignidade humana.
Oesthel (2012) destacou um novo momento importante para a Congregação das
irmãs. A Madre Teresa, teria que concluir, definitivamente, a redação da regra, para
enviá-la a Roma. Já em 1855, ela conseguiu cumprir essa exigência de Roma. Em 1859,
a congregação obteve o reconhecimento da regra por seis anos. O reconhecimento
definitivo da regra das Irmãs Escolares por Roma, se deu no dia 26 de agosto de 1865
(2012, p.25).
A trajetória das Irmãs Escolares de Nossa Senhora nos Estados Unidos no Século
XIX
Para Oesthel (2012), Os Estados Unidos da América foram, no fim do século
XVIII e início do Século XIX, o país da esperança para muitos imigrantes alemães,
atendendo solicitações do Rei Luddwig I (Oesthel, 2012, 21). A educação dos imigrantes
alemães estava praticamente abandonada. Os imigrantes alemães sofriam diferentes
formas de discriminação inclusive nos projetos educacionais do estado americano.
Conforme Nelson (1979)
Diversos Bispos e missionários da América vieram aqui e pediram com
urgência Pobres Irmãs Escolares para a educação cristã, especialmente
das meninas, que para a tristeza deles estão completamente desprovidas
deste benefício. Eles consideram a missão das Irmãs Escolares tão
necessárias como a de sacerdotes se é que o cristianismo católico requer
raízes mais profundas nas famílias, e que se florir aí, torna-se produtivo
permanentemente (1979, 72).
Na medida em que os imigrantes alemães se deslocavam em direção às Américas,
eles eram acompanhados por sacerdotes missionários alemães. Desta forma, eles teriam
uma assistência espiritual dentro do que eles acreditavam e estavam inseridos. Os
missionários alemães, entendendo que não era suficiente apenas a administração dos
sacramentos aos imigrantes retornaram à Alemanha e conversaram com o Rei para pedir
reforço nos trabalhos apostólicos e projetos educacionais.
Dix (1993) confirma que no começo do ano de 1845, o Provincial dos Redentorista
tinham pedido ao Rei Irmãs para ajudarem nos projetos das missões americanas... a ideia
era construir um provincialado na cidade de Santa Maria no estado da Pensilvânia como
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centro do território católico alemão... Muitas religiosas de forma entusiasmada se
dispuseram a ajudar nos projetos educacionais nos Estados Unidos (Dix, 1993, p. 84).
Segundo Oesthel no dia 18 de junho de 1847, Madre Maria Teresa viajou aos Estados
Unidos Madre Teresa Gerhardinger com cinco irmãs (Oesthel 2012, p. 22).
De acordo com Arns, as irmãs que acompanharam a Madre foram as seguintes:
Irmã Magdalena Steiner, 37 anos, Irmã Maria Weinzierl, 36 anos, Irmã Serafina von
Pronath, 28 anos, Irmã Maria Carolina Friess, 22 anos, e a Noviça M. Emanuela
Breindenbach, 23 anos (2012, p. 101). Dix (1993) afirma que as irmãs partiram às 3:30
da madrugada do porto da cidade, de Bremen no navio Washington. Esta viagem, que
deveria ser rápida acabou sofrendo vários dias de atraso devido à necessidade do
alargamento de um canal para atracar o novo navio que estava fazendo sua estreia no mar.
Além do mais, as novas caldeiras não suportavam o enorme teor de ácido sulfúrico do
carvão, precisando ser substituído. (Dix, 1993, p. 90-91).
Segundo Arns a que a viagem foi difícil. Apesar “de a Madre Teresa se sentir 10
anos mais velha”, logo depois de atravessar o Oceano Atlântico ficou doente na viagem,
mas chegou feliz na nova missão (...). As irmãs foram recebidas muito bem pela
comunidade, a noviça Emanuela adoeceu e morreu. Santa Maria na concepção da Madre
Teresa era muito pobre e não disponibilizava das condições necessárias para abrigar a
casa central nos Estados Unidos (...). Assim, ela foi a outra cidade chamada Pittsburgh.
No entanto, o bispo não foi nada receptível pelo fato das irmãs terem vindo e ainda não
terem a regra aprovada pela Santa Sé. De lá, a Madre se dirigiu ao Bispo de Baltimore
onde também não foi bem recebida (...). Mesmo assim, a Madre não desanimou e logo
conheceu o Padre João Nepomuceno Neumann que logo deu sinal de que estava feliz
percebendo que as missionárias poderiam dar um grande apoio nos projetos educacionais
católico de Baltimore (Arns, 2012, p. 103 – 104).
A missão seguiu em frente depois que as irmãs conquistaram a confiança dos
bispos. Segundo Arns a Madre em companhia do Padre Neumann, visitou nove cidades
que poderiam receber novas filiais da Congregação como: Pittsburg, Cleveland, Chicago,
Milwaukee, Detroit, Buffalo, Rochester, Nova York e Philadelphia (Arns, 2012, p104-
105).
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A missão nos Estados Unidos expandiu-se de uma forma fantástica. Madre Teresa
ficou por lá apenas um ano. Em 9 de agosto de 1848 a madre com 51 anos de idade retorna
à sua terra natal Alemanha exausta (Oesthel, 2012, p. 22). Em 1850 a casa mãe estava
pronta em Milwaukee. Em apenas 30 anos de missão, nos Estados Unidos apesar das
inúmeras dificuldades iniciais conforme Oesthel (2012) já eram 1.164 irmãs e 254
candidatas trabalhando com mais 36.000 mil alunas. Já na Europa a congregação tinha
ultrapassado as barreiras estaduais da Baviera com novas filiais na Westfália, Silésia,
Hungria, Boemia e nos bispados de Rottenbug e Freiburg e em 1864 as irmãs iniciaram
um trabalho na Inglaterra (Oesthel, 2012, p.22 - 23).
Os anos foram passando e as forças físicas de Madre Teresa naturalmente foram
se esgotando. Assim a Madre foi adoecendo e se tornando cada vez mais fraca e
vulnerável às enfermidades. Às vezes ficava acamada em seu quarto e em outras ocasiões,
por muitas vezes os biógrafos confirmam que a Madre Teresa visitava a capela do
Santíssimo Sacramento. Assim, seguindo o ciclo natural da vida, Cruz (1992) confirma
que em 09 de maio de 1879 o Núncio Apostólico Aloisi-Mazella lhe deu a bênção papal
e não se afastou até que ela tivesse vencido a última barreira do cristão, que é a morte. Às
12:30 minutos o corpo antes tão castigado por dolorosas contrações, aquietou-se
totalmente. Mãe Teresa acabou de vencer o último inimigo do pecado: a morte. Entrou
na vida, que é pra valer, a vida eterna (1992, p. 103, 104).
Considerações
Como podemos perceber no texto acima, o projeto educacional das Irmãs
Escolares de Nossa Senhora funcionou na Alemanha e da mesma forma em várias cidades
nos Estados Unidos. Este resultado se deu devido a grande força de vontade e
determinação de Madre Teresa e suas colaboradoras que movidas por uma inspiração
divina, se dedicaram totalmente pela causa educacional tendo em vista a dignidade e a
promoção humana das meninas europeias e americanas.
Madre Teresa com seu “exército de irmãs professoras” durante quase todo o
século XIX principalmente, contribuíram de forma singela em importantes projetos
educacionais voltados para a formação feminina. Na época, a própria Alemanha bem
como outros países da Europa ainda não tinham cogitado projetos dentro dessa
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modalidade de ensinar. E ainda mais, que o ensino fosse feito a partir de pequenas
comunidades inseridas nos locais mais pobres.
Oesthel, afirmou categoricamente que, Madre Maria Teresa colaborou e muito na
sua época com uma nova concepção de educação e formação integral para as mulheres
jovens. A Madre sempre entendeu que as mulheres deveriam ter independência e
maioridade. O seu modo de pensar, estava muito à frente de sua época e, junto com suas
irmãs, foi uma pioneira na formação moderna das mulheres. Dentro do contexto da
história da Igreja, Madre Teresa foi uma importante pedagoga no século XIX (Oesthel,
2012, p. 30).
Este projeto foi tão importante no século XIX que não se enraizou apenas na
Europa e nos Estados Unidos, a história vai demonstrar que o projeto será levado para
outros continentes. Conforme o entendimento de Fregonese:
Apesar dos vários períodos de dificuldades e perseguições que
enfrentaram na Alemanha durante o governo de Bismarck e, já no
século XX, no período de Adolf Hitler, as irmãs procuraram continuar
com seu trabalho. Entretanto, outros obstáculos surgiram e, por isso,
muitas delas refugiaram-se em outros países, inclusive na América do
Sul ( 2012, p. 253).
A partir das convicções desumanas de Adolfo Hitler como a barbárie do
extermínio dos judeus, bem como a perseguição à vida religiosa em geral e demais
situações assustadoras que uma guerra provoca. A Congregação das Irmãs Escolares de
Nossa Senhora teve a possibilidade de chegar às terras da América do Sul a exemplo do
Brasil, Argentina bem como em vários outros continentes que vão para além da Europa,
como a Ásia, a Oceania, a África.
Para uma melhor visualização da abrangência da Congregação das irmãs
Escolares no mundo, apresentamos o mapa, esboçado a mão pela Irmã Artúris.
Imagem n. 4: Mapa indicando a presença das Irmãs Escolares de Nossa Senhora em 1992.
23
Fonte: Irmã Artúris, IENS, 1992 capa do livro
No mapa é perceptível a presença das irmãs Escolares de Nossa Senhora em todos
os continentes, levando seus projetos e orientações educacionais defendidas na
Congregação fundada na Alemanha e que depois de muitas dificuldades, sua proposta
pedagógica seria disseminada em toda a Europa e em vários países de vários continentes.
Referências
ARNS, Irmã M. Helena, A Bem Aventurada Maria Teresa de Jesus Fundadora da Congregação
das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, 2ª Edição, Formsul Editora e Gráfica, Forquilinha – SC,
2012.
DIX, Irmã Benilda, O Amor não Pode Esperar, Edições Paulinas, São Paulo – SP, 1993.
FREGONESE, Vera Lúcia. UMA INSTITUICÃO ESCOLAR NA VILA MARRECAS (1952-
1953) IN: (Carlos Antonio Bonamigo, Claides Rejane Schneider, Cleverton Luiz da Silva,
Ismael Antônio Vannini, Odair Eduardo Geller, Rodrigo Kummer e Vera Lúcia
Fregonese). História e Territórios, Diversidades de Abordagens e Domínios, Editora Jornal
de Beltrão, Francisco Beltrão – PR, 2012 (250 a 265).
HUFFNER, Pierre. Teresa Gerhardinger, Corajosa Mulher de Fé e de visão Mundial, Editions
du Signe, Lingolsheim – Strasbourg – France – 1989.
LAZIER, Hermógenes, Escola Nossa Senhora da Glória, “A Semente que Germinou”, Grafisul
– Gráfica Sulina Ltda, Francisco Beltrão - PR, 1982.
NELSON, Sally Ann. MADRE TERESA, Mulher de Visão , Editora Gráfica Metrópolis, Porto
Alegre, RS, s/d.
MADRE TERESA E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO, Irmãs Escolares de Nossa Senhora, III
ENCONTRO INTERPROVINCIAL DE EDUCAÇAO das Irmãs Escolares da América do Sul,
Porto Alegre, Fevereiro de 1999.
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OESHTEL, Madre Charlotte, Superiora Provincial, Maria Teresa Gerhardinger, Pedagoga do
Século XIX, Editora Sadifa Media, Munique – Alemanha, 2012.
CRUZ, Afonso de Santa. A Carolina do Danúbio, 5ª Edição, Edições Rosário, Curitiba 1992.