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4ª edição A Constituição e o Supremo Brasília 2011

A constituição e o supremo

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  • 1. A Constituio e o Supremo 4 edio Braslia 2011
  • 2. A Constituio e o Supremo
  • 3. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL A Constituio e o Supremo 4 edio Braslia 2011
  • 4. ISBN: 978-85-61435-29-5 Secretaria do Tribunal Alcides Diniz da Silva Secretaria de Documentao Janeth Aparecida Dias de Melo Coordenadoria de Divulgao de Jurisprudncia Andreia Fernandes de Siqueira Equipe tcnica: Bruno Silva Alvim Cerri (estagirio), Cntia Machado Gonalves Soares, Elba Souza de Albuquerque e Silva, Erich Oliveira Rocha, Gil Wadson Moura Jnior, Graciliano de Almeida Barreto Neto, Ivson Brando Faria Valdetaro, Juliana Aparecida de Souza Figueiredo, Larissa Luiza Braga e Silva (estagiria), Priscila Heringer Cerqueira Pooter e Valquirio Cubo Junior Reviso: Amlia Lopes Dias de Arajo, Divina Clia Duarte Pereira, Flvia Teixeira da Silva, Janana Lima Arruda, Lilian de Lima Falco Braga, Patrcia Keico Honda e Rochelle Quito Projeto grfico: Eduardo Franco Dias Capa: Eduardo Franco Dias e Ludmila Araujo Diagramao: Dbora Harumi Shimoda Carvalho e Eduardo Franco Dias Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Supremo Tribunal Federal Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal) Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). A Constituio e o Supremo [recurso eletrnico] / Supremo Tribunal Federal. 4. ed. Braslia : Secretaria de Documentao, 2011. Modo de acesso: World Wide Web : . ISBN: 978-85-61435-29-5. 1. Direito constitucional, Brasil. 2. Tribunal Supremo, Brasil. 3. Constituio, Brasil. I. Ttulo. CDD-341.419104 Seo de Distribuio de Edies Maria Cristina Hilrio da Silva Supremo Tribunal Federal, Anexo II-A, Cobertura, Sala C-624 Praa dos Trs Poderes 70175-900 Braslia-DF [email protected] Fone: (61) 3217-4780
  • 5. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Ministro Antonio Cezar Peluso (25-6-2003), Presidente Ministro Carlos Augusto Ayres de Freitas Britto (25-6-2003), Vice-Presidente Ministro Jos Celso de Mello Filho (17-8-1989) Ministro Marco Aurlio Mendes de Farias Mello (13-6-1990) Ministro Gilmar Ferreira Mendes (20-6-2002) Ministro Joaquim Benedito Barbosa Gomes (25-6-2003) Ministro Enrique Ricardo Lewandowski (16-3-2006) Ministra Crmen Lcia Antunes Rocha (21-6-2006) Ministro Jos Antonio Dias Toffoli (23-10-2009) Ministro Luiz Fux (3-3-2011) Ministra Rosa Maria Weber Candiota da Rosa (19-12-2011)
  • 6. INTRODUO Passados mais de vinte anos da promulgao da Constituio de 1988, a sociedade brasileira continua a enfrentar o permanente desafio de garantir a efetividade dos direitos fundamentais. A obra que o leitor tem neste momento nas mos A Constituio e o Supremo representa estmulo adicional inafastvel reflexo acerca da concretizao e atualizao da Constituio Cidad. A jurisprudncia do Supremo Tribunal Federal constitui um conjunto de decises essenciais para a preservao das garantias expressas no texto constitucional. Alm disso, a plena aplicao da Constituio tem o poder de apaziguar os conflitos sociais ao reforar regras que possibilitam a adoo de solues eficazes para demandas sociais cada vez mais complexas. Nesse sentido, a atuao da Corte Suprema oferece sociedade brasileira critrios de identidade e estabilizao institucional das legtimas disputas polticas e sociais. Por meio de suas decises, o Supremo Tribunal Federal vem exercendo papel de destaque na consolidao da democracia brasileira. O compromisso do STF com a aplicao da Constituio e das leis legitimamente editadas representa a afirmao inequvoca da supremacia da legalidade democrtica, a prevalncia de uma ordem jurdica justa e a vigncia dos grandes ideais humanitrios consubstanciados no rol de direitos fundamentais. Verdadeiro testemunho do compromisso cvico do Supremo Tribunal Federal com o Estado Democrtico de direito, esta obra, j clssica, representa legado da nossa Suprema Corte s futuras geraes ao difundir o conhecimento das suas decises a respeito de cada uma das normas da Constituio de 1988. Esta nova edio, que j soma mais de duas mil pginas, traz uma diagramao diferenciada para facilitar a leitura e simplificar a pesquisa. A fonte, o espao entre os pargrafos e a margem interna foram aumentados, a fim de melhorar a legibilidade do texto; foram inseridos marcadores para facilitar a localizao de cada comentrio; e a impresso passou a ser feita em duas cores, o que melhorou significativamente a apresentao da obra. Com esses pormenores, cuidadosamente estudados, procurou-se oferecer um texto mais atraente para o leitor. Alm de estudantes, acadmicos, magistrados, advogados e profissionais do direito em geral, esta obra tem pblico-alvo evidente: os cidados brasileiros. E em nome deles que agradeo aos servidores do Supremo Tribunal Federal que tornaram possvel a continuidade deste belo projeto, agora em sua quarta edio. Braslia, novembro de 2011. Ministro Cezar Peluso Presidente do Supremo Tribunal Federal
  • 7. SUMRIO Siglas e Abreviaturas 10 Prembulo 12 Ttulo I Dos Princpios Fundamentais (arts. 1 a 4) 13 Ttulo II Dos Direitos e Garantias Fundamentais 62 Captulo I Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (art. 5) 62 Captulo II Dos Direitos Sociais (arts. 6 a 11) 594 Captulo III Da Nacionalidade (arts. 12 e 13) 638 Captulo IV Dos Direitos Polticos (arts. 14 a 16) 643 Captulo V Dos Partidos Polticos (art. 17) 665 Ttulo III Da Organizao do Estado 672 Captulo I Da Organizao Poltico-Administrativa (arts. 18 e 19) 672 Captulo II Da Unio (arts. 20 a 24) 689 Captulo III Dos Estados Federados (arts. 25 a 28) 754 Captulo IV Dos Municpios (arts. 29 a 31) 764 Captulo V Do Distrito Federal e dos Territrios 781 Seo I Do Distrito Federal (art. 32) 781 Seo II Dos Territrios (art. 33) 784 Captulo VI Da Interveno (arts. 34 a 36) 784 Captulo VII Da Administrao Pblica 794 Seo I Disposies Gerais (arts. 37 e 38) 794 Seo II Dos Servidores Pblicos (arts. 39 a 41) 923 Seo III Dos Militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territrios (art. 42) 961 Seo IV Das Regies (art. 43) 962 Ttulo IV Da Organizao dos Poderes 964 Captulo I Do Poder Legislativo 964 Seo I Do Congresso Nacional (arts. 44 a 47) 964 Seo II Das Atribuies do Congresso Nacional (arts. 48 a 50) 967 Seo III Da Cmara dos Deputados (art. 51) 975 Seo IV Do Senado Federal (art. 52) 978 Seo V Dos Deputados e dos Senadores (arts. 53 a 56) 985 Seo VI Das Reunies (art. 57) 1004 Seo VII Das Comisses (art. 58) 1006 Seo VIII Do Processo Legislativo 1015 Subseo I Disposio Geral (art. 59) 1015 Subseo II Da Emenda Constituio (art. 60) 1020 Subseo III Das Leis (arts. 61 a 69) 1029
  • 8. Seo IX Da Fiscalizao Contbil, Financeira e Oramentria (arts. 70 a 75) 1066 Captulo II Do Poder Executivo 1091 Seo I Do Presidente e do Vice-Presidente da Repblica (arts. 76 a 83) 1091 Seo II Das Atribuies do Presidente da Repblica (art. 84) 1096 Seo III Da Responsabilidade do Presidente da Repblica (arts. 85 e 86) 1109 Seo IV Dos Ministros de Estado (arts. 87 e 88) 1116 Seo V Do Conselho da Repblica e do Conselho de Defesa Nacional 1119 Subseo I Do Conselho da Repblica (arts. 89 e 90) 1119 Subseo II Do Conselho de Defesa Nacional (art. 91) 1119 Captulo III Do Poder Judicirio 1120 Seo I Disposies Gerais (arts. 92 a 100) 1120 Seo II Do Supremo Tribunal Federal (arts. 101 a 103-B) 1208 Seo III Do Superior Tribunal de Justia (arts. 104 e 105) 1422 Seo IV Dos Tribunais Regionais Federais e dos Juzes Federais (arts. 106 a 110) 1449 Seo V Dos Tribunais e Juzes do Trabalho (arts. 111 a 117) 1477 Seo VI Dos Tribunais e Juzes Eleitorais (arts. 118 a 121) 1497 Seo VII Dos Tribunais e Juzes Militares (arts. 122 a 124) 1500 Seo VIII Dos Tribunais e Juzes dos Estados (arts. 125 e 126) 1512 Captulo IV Das Funes Essenciais Justia 1524 Seo I Do Ministrio Pblico (arts. 127 a 130-A) 1524 Seo II Da Advocacia Pblica (arts. 131 e 132) 1582 Seo III Da Advocacia e da Defensoria Pblica (arts. 133 a 135) 1587 Ttulo V Da Defesa do Estado e das Instituies Democrticas 1612 Captulo I Do Estado de Defesa e do Estado de Stio 1612 Seo I Do Estado de Defesa (art. 136) 1612 Seo II Do Estado de Stio (arts. 137 a 139) 1613 Seo III Disposies Gerais (arts. 140 e 141) 1614 Captulo II Das Foras Armadas (arts. 142 e 143) 1614 Captulo III Da Segurana Pblica (art. 144) 1621 Ttulo VI Da Tributao e do Oramento Captulo I Do Sistema Tributrio Nacional Seo I Dos Princpios Gerais (arts. 145 a 149-A) Seo II Das Limitaes do Poder de Tributar (arts. 150 a 152) Seo III Dos Impostos da Unio (arts. 153 e 154) Seo IV Dos Impostos dos Estados e do Distrito Federal (art. 155) Seo V Dos Impostos dos Municpios (art. 156) Seo VI Da Repartio das Receitas Tributrias (arts. 157 a 162) Captulo II Das Finanas Pblicas Seo I Normas Gerais (arts. 163 e 164) Seo II Dos Oramentos (arts. 165 a 169) 1631 1631 1631 1663 1723 1736 1765 1771 1781 1781 1783
  • 9. Ttulo VII Da Ordem Econmica e Financeira Captulo I Dos Princpios Gerais da Atividade Econmica (arts. 170 a 181) Captulo II Da Poltica Urbana (arts. 182 e 183) Captulo III Da Poltica Agrcola e Fundiria e da Reforma Agrria (arts. 184 a 191) Captulo IV Do Sistema Financeiro Nacional (art. 192) 1806 1806 1843 Ttulo VIII Da Ordem Social Captulo I Disposio Geral (art. 193) Captulo II Da Seguridade Social Seo I Disposies Gerais (arts. 194 e 195) Seo II Da Sade (arts. 196 a 200) Seo III Da Previdncia Social (arts. 201 e 202) Seo IV Da Assistncia Social (arts. 203 e 204) Captulo III Da Educao, da Cultura e do Desporto Seo I Da Educao (arts. 205 a 214) Seo II Da Cultura (arts. 215 e 216) Seo III Do Desporto (art. 217) Captulo IV Da Cincia e Tecnologia (arts. 218 e 219) Captulo V Da Comunicao Social (arts. 220 a 224) Captulo VI Do Meio Ambiente (art. 225) Captulo VII Da Famlia, da Criana, do Adolescente, do Jovem e do Idoso (arts. 226 a 230) Captulo VIII Dos ndios (arts. 231 e 232) 1864 1864 1864 1864 1893 1904 1919 1921 1921 1933 1937 1939 1940 1952 Ttulo IX Das Disposies Constitucionais Gerais (arts. 233 a 250) 1989 Ato das Disposies Constitucionais Transitrias (arts. 1 a 94) 2010 1847 1863 1963 1981
  • 10. SIGLAS E ABREVIATURAS AC Ao Cautelar ac.Acrdo ACi Apelao Cvel ACO Ao Cvel Originria ADCAo Declaratria de Constitucionalidade ADCTAto das Disposies Constitucionais Transitrias ADIAo Direta de Inconstitucionalidade ADPFArguio de Descumprimento de Preceito Fundamental AgR Agravo Regimental AGU Advocacia-Geral da Unio AI Agravo de Instrumento AO Ao Originria AOE Ao Originria Especial AOR Ao Ordinria Regressiva AP Ao Penal AR Ao Rescisria CA Conflito de Atribuies CB Constituio do Brasil CCCdigo Civil/Conflito de Competncia CF Constituio Federal CJ Conflito de Jurisdio CJF Conselho da Justia Federal CLTConsolidao das Leis do Trabalho CNJ Conselho Nacional de Justia CP Cdigo Penal CPC Cdigo de Processo Civil CPF Cadastro de Pessoas Fsicas CPIComisso Parlamentar de Inqurito CPM Cdigo Penal Militar CPMIComisso Parlamentar Mista de Inqurito CPP Cdigo de Processo Penal CPPMCdigo de Processo Penal Militar CRCarta Rogatria/Constituio da Repblica CTN Cdigo Tributrio Nacional DJ Dirio da Justia DJE Dirio da Justia eletrnico DLDecreto-Lei DOU Dirio Oficial da Unio EC Emenda Constitucional ED Embargos de Declarao EDv Embargos de Divergncia EI Embargos Infringentes ExtExtradio FGTSFundo de Garantia do Tempo de Servio GDAMB Gratificao de Desempenho de Atividade Tcnico Administrativa do Meio Ambiente GDPGTASGratificao de Desempenho de Atividade Tcnico Administrativa e de Suporte GDPST Gratificao de Desempenho da Carreira da Previdncia, da Sade e do Trabalho HC Habeas Corpus HD Habeas Data IbamaInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis IBGEInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica ICMSImposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios IF Interveno Federal IncraInstituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria INPCndice Nacional de Preos ao Consumidor InqInqurito INSSInstituto Nacional do Seguro Social
  • 11. IPIImposto sobre Produtos Industrializados IPTUImposto Predial e Territorial Urbano IPVAImposto sobre Propriedade de Veculos Automotores ISS Imposto sobre Servios ITR Imposto Territorial Rural LC Lei Complementar LCP Lei de Contravenes Penais LDOLei de Diretrizes Oramentrias LEP Lei de Execues Penais LICCLei de Introduo ao Cdigo Civil LomanLei Orgnica da Magistratura Nacional LRFLei de Responsabilidade Fiscal MC Medida Cautelar MI Mandado de Injuno Min.Ministro MP Medida Provisria MPDFTMinistrio Pblico do Distrito Federal e Territrios MPF Ministrio Pblico Federal MPM Ministrio Pblico Militar MPTMinistrio Pblico do Trabalho MPU Ministrio Pblico da Unio MS Mandado de Segurana ONUOrganizao das Naes Unidas p/para PDVPrograma de Demisso Voluntria PetPetio PGRProcuradoria-Geral da Repblica/Procurador-Geral da Repblica PPEPriso Preventiva para Extradio QO Questo de Ordem RC Recurso Criminal RclReclamao RE Recurso Extraordinrio REFReferendo RefisPrograma de Recuperao Fiscal Rel.Relator RHC Recurso em Habeas Corpus RHD Recurso em Habeas Data RISTFRegimento Interno do Supremo Tribunal Federal RISTJRegimento Interno do Superior Tribunal de Justia RMSRecurso em Mandado de Segurana RpRepresentao SE Sentena Estrangeira SECSentena Estrangeira Contestada SL Suspenso de Liminar SS Suspenso de Segurana STASuspenso de Tutela Antecipada STF Supremo Tribunal Federal STJ Superior Tribunal de Justia STM Superior Tribunal Militar SUS Sistema nico de Sade TCDFTribunal de Contas do Distrito Federal TCU Tribunal de Contas da Unio TJDFTTribunal de Justia do Distrito Federal e Territrios TRE Tribunal Regional Eleitoral TRF Tribunal Regional Federal TRTTribunal Regional do Trabalho TSE Tribunal Superior Eleitoral
  • 12. CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL PREMBULO Ns, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrtico, destinado a assegurar o exerccio dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurana, o bem estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justia como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a soluo pacfica das controvrsias, promulgamos, sob a proteo de Deus, a seguinte CONSTITUIO DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Devem ser postos em relevo os valores que norteiam a Constituio e que devem servir de orientao para a correta interpretao e aplicao das normas constitucionais e apreciao da subsuno, ou no, da Lei 8.899/1994 a elas. Vale, assim, uma palavra, ainda que brevssima, ao Prembulo da Constituio, no qual se contm a explicitao dos valores que dominam a obra constitucional de 1988 (...). No apenas o Estado haver de ser convocado para formular as polticas pblicas que podem conduzir ao bemestar, igualdade e justia, mas a sociedade haver de se organizar segundo aqueles valores, a fim de que se firme como uma comunidade fraterna, pluralista e sem preconceitos (...). E,referindose, expressamente, ao Prembulo da Constituio brasileira de 1988, escolia Jos Afonso da Silva que O Estado Democrtico de Direito destinase a assegurar o exerccio de determinados valores supremos. Assegurar tem, no contexto, funo de garantia dogmticoconstitucional; no, porm, de garantia dos valores abstratamente considerados, mas do seu exerccio. Este signo desempenha, a, funo pragmtica, porque, com o objetivo de assegurar, tem o efeito imediato de prescrever ao Estado uma ao em favor da efetiva realizao dos ditos valores em direo (funo diretiva) de destinatrios das normas constitucionais que do a esses valores contedo especfico (...). Naesteira destes valores supremos explicitados no Prembulo da Constituio brasileira de 1988 que se afirma, nas normas constitucionais vigentes, o princpio jurdico da solidariedade. (ADI2.649, voto da Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento em 852008, Plenrio, DJE de 17102008.) Prembulo da Constituio: no constitui norma central. Invocao da proteo de Deus: no se trata de norma de reproduo obrigatria na Constituio estadual, no tendo fora normativa. (ADI2.076, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 1582002, Plenrio, DJ de 882003.) 12
  • 13. Art.1, caput TTULO I Dos Princpios Fundamentais Art.1 A Repblica Federativa do Brasil, formada pela unio indissolvel dos Estados e Municpios e do Distrito Federal, constituise em Estado Democrtico de Direito e tem como fundamentos: Lei 6.683/1979, a chamada lei de anistia. (...) princpio democrtico e princpio repu- blicano: no violao. (...) No Estado Democrtico de Direito, o Poder Judicirio no est autorizado a alterar, a dar outra redao, diversa da nele contemplada, a texto normativo. Pode, a partir dele, produzir distintas normas. Mas nem mesmo o STF est autorizado a rescrever leis de anistia. Reviso de lei de anistia, se mudanas do tempo e da sociedade a impuserem, haver ou no de ser feita pelo Poder Legislativo, no pelo Poder Judicirio. (ADPF153, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 2942010, Plenrio, DJE de 682010.) Controle jurisdicional da atividade persecutria do Estado: uma exigncia inerente ao Estado Democrtico de Direito. OEstado no tem o direito de exercer, sem base jurdica idnea e suporte ftico adequado, o poder persecutrio de que se acha investido, pois lhe vedado, tica e juridicamente, agir de modo arbitrrio, seja fazendo instaurar investigaes policiais infundadas, seja promovendo acusaes formais temerrias, notadamente naqueles casos em que os fatos subjacentes persecutio criminis revelamse destitudos de tipicidade penal. Precedentes. (HC98.237, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 15122009, Segunda Turma, DJE de 682010.) A LEP de ser interpretada com os olhos postos em seu art.1. Artigo que institui a lgica da prevalncia de mecanismos de reincluso social (e no de excluso do sujeito apenado) no exame dos direitos e deveres dos sentenciados. Isso para favorecer, sempre que possvel, a reduo de distncia entre a populao intramuros penitencirios e a comunidade extramuros. Essa particular forma de parametrar a interpretao da lei (no caso, a LEP) a que mais se aproxima da CF, que faz da cidadania e da dignidade da pessoa humana dois de seus fundamentos (incisosII e III do art.1). Areintegrao social dos apenados , justamente, pontual densificao de ambos os fundamentos constitucionais. (HC99.652, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 3112009, Primeira Turma, DJE de 4122009.) A plena liberdade de imprensa um patrimnio imaterial que corresponde ao mais elo- quente atestado de evoluo polticocultural de todo um povo. Pelo seu reconhecido condo de vitalizar por muitos modos a Constituio, tirandoa mais vezes do papel, a imprensa passa a manter com a democracia a mais entranhada relao de mtua dependncia ou retroalimentao. Assim visualizada como verdadeira irm siamesa da democracia, a imprensa passa a desfrutar de uma liberdade de atuao ainda maior que a liberdade de pensamento, de informao e de expresso dos indivduos em si mesmos considerados. O5 do art.220 apresentase como norma constitucional de concretizao de um pluralismo finalmente compreendido como fundamento das sociedades autenticamente democrticas; isto , o pluralismo como a virtude democrtica da respeitosa convivncia dos contrrios. Aimprensa livre , ela mesma, plural, devido a que so constitucionalmente proibidas a oligopolizao e a monopolizao do setor (5 do art.220 da CF). Aproibio do monoplio e do oligoplio como novo e autnomo fator de conteno de abusos do chamado poder social da 13
  • 14. Art.1, caput imprensa. (ADPF130, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 3042009, Plenrio, DJE de 6112009.) No mesmo sentido: ADI4.451MCREF, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 292010, Plenrio, DJE de 172011. O Estado de Direito viabiliza a preservao das prticas democrticas e, especialmente, o direito de defesa. Direito a, salvo circunstncias excepcionais, no sermos presos seno aps a efetiva comprovao da prtica de um crime. Por isso usufrumos a tranquilidade que advm da segurana de sabermos que, se um irmo, amigo ou parente prximo vier a ser acusado de ter cometido algo ilcito, no ser arrebatado de ns e submetido a ferros sem antes se valer de todos os meios de defesa em qualquer circunstncia disposio de todos. (...) O que caracteriza a sociedade moderna, permitindo o aparecimento do Estado moderno, , por um lado, a diviso do trabalho; por outro, a monopolizao da tributao e da violncia fsica. Emnenhuma sociedade na qual a desordem tenha sido superada, admitese que todos cumpram as mesmas funes. Ocombate criminalidade misso tpica e privativa da administrao (no do Judicirio), atravs da polcia, como se l nos incisosdo art.144 da Constituio, e do Ministrio Pblico, a quem compete, privativamente, promover a ao penal pblica (art.129, I). (HC95.009, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 6112008, Plenrio, DJE de 19122008.) Ao direta de inconstitucionalidade: Associao Brasileira das Empresas de Trans- porte Rodovirio Intermunicipal, Interestadual e Internacional de Passageiros(ABRATI). Constitucionalidade da Lei 8.899, de 2961994, que concede passe livre s pessoas portadoras de deficincia. Alegao de afronta aos princpios da ordem econmica, da isonomia, da livre iniciativa e do direito de propriedade, alm de ausncia de indicao de fonte de custeio (arts.1, IV; 5, XXII; e 170 da CF): improcedncia. Aautora, associao de classe, teve sua legitimidade para ajuizar ao direta de inconstitucionalidade reconhecida a partir do julgamento da ADI3.153AgR, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 992005. Pertinncia temtica entre as finalidades da autora e a matria veiculada na lei questionada reconhecida. Em3032007, o Brasil assinou, na sede da ONU, a Conveno sobre os Direitos das Pessoas com Deficincia, bem como seu Protocolo Facultativo, comprometendose a implementar medidas para dar efetividade ao que foi ajustado. ALei 8.899/1994 parte das polticas pblicas para inserir os portadores de necessidades especiais na sociedade e objetiva a igualdade de oportunidades e a humanizao das relaes sociais, em cumprimento aos fundamentos da Repblica de cidadania e dignidade da pessoa humana, o que se concretiza pela definio de meios para que eles sejam alcanados. (ADI2.649, Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento em 852008, Plenrio, DJE de 17102008.) Segundo a nova redao acrescentada ao Ato das Disposies Constitucionais Gerais e Transitrias da Constituio de Mato Grosso do Sul, introduzida pela EC35/2006, os exgovernadores sulmatogrossenses que exerceram mandato integral, em carter permanente, receberiam subsdio mensal e vitalcio, igual ao percebido pelo governador do Estado. Previso de que esse benefcio seria transferido ao cnjuge suprstite, reduzido metade do valor devido ao titular. Novigente ordenamento republicano e democrtico brasileiro, os cargos polticos de chefia do Poder Executivo no so exercidos nem ocupados em carter permanente, por serem os mandatos temporrios e seus ocupantes, transitrios. Conquanto a norma faa meno ao termo benefcio, no se tem configurado esse instituto de direito administrativo e previdencirio, que requer atual e presente desempenho de cargo pblico. 14
  • 15. Art.1, caput Afronta o equilbrio federativo e os princpios da igualdade, da impessoalidade, da moralidade pblica e da responsabilidade dos gastos pblicos (arts.1; 5, caput; 25, 1; 37, caput e XIII; 169, 1, I e II; e 195, 5, da CR). Precedentes. Ao direta de inconstitucionalidade julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade do art.29A e seus pargrafos do Ato das Disposies Constitucionais Gerais e Transitrias da Constituio do Estado de Mato Grosso do Sul. (ADI3.853, Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento em 1292007, Plenrio, DJ de 26102007.) Estipulao do cumprimento da pena em regime inicialmente fechado. Fundamenta- o baseada apenas nos aspectos inerentes ao tipo penal, no reconhecimento da gravidade objetiva do delito e na formulao de juzo negativo em torno da reprovabilidade da conduta delituosa. Constrangimento ilegal caracterizado. Pedido deferido. Odiscurso judicial, que se apoia, exclusivamente, no reconhecimento da gravidade objetiva do crime e que se cinge, para efeito de exacerbao punitiva, a tpicos sentenciais meramente retricos, eivados de pura generalidade, destitudos de qualquer fundamentao substancial e reveladores de linguagem tpica dos partidrios do direito penal simblico ou, at mesmo, do direito penal do inimigo, culmina por infringir os princpios liberais consagrados pela ordem democrtica na qual se estrutura o Estado de Direito, expondo, com esse comportamento (em tudo colidente com os parmetros delineados na Smula 719/STF), uma viso autoritria e nulificadora do regime das liberdades pblicas em nosso Pas. Precedentes. (HC85.531, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 2232005, Segunda Turma, DJ de 14112007.) Vide: HC100.678, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 452010, Primeira Turma, DJE de 172010. improcedente a ao. Emprimeiro lugar, no encontro ofensa ao princpio federativo, a qual, no entender da autora, estaria na feio assimtrica que a norma estadual impugnada deu a um dos aspectos do correspondente processo legislativo em relao ao modelo federal. Ora, a exigncia constante do art.112, 2, da Constituio fluminense consagra mera restrio material atividade do legislador estadual, que com ela se v impedido de conceder gratuidade sem proceder necessria indicao da fonte de custeio. assente a jurisprudncia da Corte no sentido de que as regras do processo legislativo federal que devem reproduzidas no mbito estadual so apenas as de cunho substantivo, coisa que se no reconhece ao dispositivo atacado. que este no se destina a promover alteraes no perfil do processo legislativo, considerado em si mesmo; voltase, antes, a estabelecer restries quanto a um produto especfico do processo e que so eventuais leis sobre gratuidades. ,por isso, equivocado ver qualquer relao de contrariedade entre as limitaes constitucionais vinculadas ao princpio federativo e a norma sob anlise, que delas no desbordou. (...) Alm disso, conforme sobrelevou a AGU, os princpios constitucionais apontados como violados so bastante abrangentes (...). Realizandose o cotejo entre o artigo impugnado nestes autos e os preceitos constitucionais adotados como parmetro de sua constitucionalidade, no se vislumbra qualquer incompatibilidade, at porque se trata de disposies desprovidas de correlao especfica. Da chegarse, sem dificuldade, concluso de que a norma estadual no vulnera o princpio federativo, consagrado nos arts.1, caput, 18 e 25 da CF. (ADI3.225, voto do Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 1792007, Plenrio, DJ de 26102007.) Extradio e necessidade de observncia dos parmetros do devido processo legal, do Estado de Direito e do respeito aos direitos humanos. CB, arts.5, 1, e 60, 4. Trfico 15
  • 16. Art.1, caput de entorpecentes. Associao delituosa e confabulao. Tipificaes correspondentes no direito brasileiro (...). Obrigao do STF de manter e observar os parmetros do devido processo legal, do Estado de Direito e dos direitos humanos. (Ext 986, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 1582007, Plenrio, DJ de 5102007.) Mandado de segurana impetrado pelo Partido dos Democratas(DEM) contra ato do presidente da Cmara dos Deputados. Natureza jurdica e efeitos da deciso do TSE na Consulta 1.398/2007. Natureza e titularidade do mandato legislativo. Ospartidos polticos e os eleitos no sistema representativo proporcional. Fidelidade partidria. Efeitos da desfiliao partidria pelo eleito: perda do direito de continuar a exercer o mandato eletivo. Distino entre sano por ilcito e sacrifcio do direito por prtica lcita e juridicamente consequente. Impertinncia da invocao do art.55 da CR. Direito do impetrante de manter o nmero de cadeiras obtidas na Cmara dos Deputados nas eleies. Direito ampla defesa do parlamentar que se desfilie do partido poltico. Princpio da segurana jurdica e modulao dos efeitos da mudana de orientao jurisprudencial: marco temporal fixado em 2732007. (...) Mandado de segurana contra ato do presidente da Cmara dos Deputados. Vacncia dos cargos de deputado federal dos litisconsortes passivos, deputados federais eleitos pelo partido impetrante e transferidos, por vontade prpria, para outra agremiao no curso do mandato. (...) Resposta do TSE consulta eleitoral no tem natureza jurisdicional nem efeito vinculante. Mandado de segurana impetrado contra ato concreto praticado pelo presidente da Cmara dos Deputados, sem relao de dependncia necessria com a resposta Consulta 1.398 do TSE. OCdigo Eleitoral, recepcionado como lei material complementar na parte que disciplina a organizao e a competncia da Justia Eleitoral (art.121 da Constituio de 1988), estabelece, no incisoXII do art.23, entre as competncias privativas do TSE responder, sobre matria eleitoral, s consultas que lhe forem feitas em tese por autoridade com jurisdio federal ou rgo nacional de partido poltico. Aexpresso matria eleitoral garante ao TSE a titularidade da competncia para se manifestar em todas as consultas que tenham como fundamento matria eleitoral, independente do instrumento normativo no qual esteja includo. NoBrasil, a eleio de deputados fazse pelo sistema da representao proporcional, por lista aberta, uninominal. Nosistema que acolhe como se d no Brasil desde a Constituio de 1934 a representao proporcional para a eleio de deputados e vereadores, o eleitor exerce a sua liberdade de escolha apenas entre os candidatos registrados pelo partido poltico, sendo eles, portanto, seguidores necessrios do programa partidrio de sua opo. Odestinatrio do voto o partido poltico viabilizador da candidatura por ele oferecida. Oeleito vinculase, necessariamente, a determinado partido poltico e tem em seu programa e iderio o norte de sua atuao, a ele se subordinando por fora de lei (art.24 da Lei 9.096/1995). No pode, ento, o eleito afastarse do que suposto pelo mandante o eleitor, com base na legislao vigente que determina ser exclusivamente partidria a escolha por ele feita. Injurdico o descompromisso do eleito com o partido o que se estende ao eleitor pela ruptura da equao polticojurdica estabelecida. Afidelidade partidria corolrio lgicojurdico necessrio do sistema constitucional vigente, sem necessidade de sua expresso literal. Sem ela no h ateno aos princpios obrigatrios que informam o ordenamento constitucional. Adesfiliao partidria como causa do afastamento do parlamentar do cargo no qual se investira no configura, expressamente, pela Constituio, hiptese de cassao de mandato. Odesligamento do parlamentar do mandato, em razo da ruptura, imotivada e assumida no exerccio de sua liberdade pessoal, do vnculo partidrio que assumira, no 16
  • 17. Art.1, caput sistema de representao poltica proporcional, provoca o desprovimento automtico do cargo. Alicitude da desfiliao no juridicamente inconsequente, importando em sacrifcio do direito pelo eleito, no sano por ilcito, que no se d na espcie. direito do partido poltico manter o nmero de cadeiras obtidas nas eleies proporcionais. garantido o direito ampla defesa do parlamentar que se desfilie de partido poltico. Razes de segurana jurdica, e que se impem tambm na evoluo jurisprudencial, determinam seja o cuidado novo sobre tema antigo pela jurisdio concebido como forma de certeza, e no causa de sobressaltos para os cidados. No tendo havido mudanas na legislao sobre o tema, temse reconhecido o direito de o impetrante titularizar os mandatos por ele obtidos nas eleies de 2006, mas com modulao dos efeitos dessa deciso para que se produzam eles a partir da data da resposta do TSE Consulta 1.398/2007. (MS26.604, Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento em 4102007, Plenrio, DJE de 3102008.) No mesmo sentido: MS26.603, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 4102007, Plenrio, DJE de 19122008; MS26.602, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 4102007, Plenrio, DJE de 17102008. Ao direta de inconstitucionalidade. Art.75, 2, da Constituio de Gois. Dupla vacncia dos cargos de prefeito e viceprefeito. Competncia legislativa municipal. Domnio normativo da lei orgnica. Afronta aos arts.1 e 29 da CR. Opoder constituinte dos Es a t dosmembros est limitado pelos princpios da CR, que lhes assegura autonomia com condicionantes, entre as quais se tem o respeito organizao autnoma dos Municpios, tambm assegurada constitucionalmente. Oart.30, I, da CR outorga aos Municpios a atribuio de legislar sobre assuntos de interesse local. Avocao sucessria dos cargos de prefeito e vice prefeito pese no mbito da autonomia poltica local, em caso de dupla vacncia. Aodisciplinar matria, cuja competncia exclusiva dos Municpios, o art.75, 2, da Constituio de Gois fere a autonomia desses entes, mitigandolhes a capacidade de autoorganizao e de autogoverno e limitando a sua autonomia poltica assegurada pela Constituio brasileira. Ao direta de inconstitucionalidade julgada procedente. (ADI3.549, Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento em 1792007, Plenrio, DJ de 31102007.) Vide: ADI4.298MC, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 7102009, Plenrio, DJE de 27112009; ADI1.057MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 2041994, Plenrio, DJ de 642001. O postulado republicano que repele privilgios e no tolera discriminaes impede que prevalea a prerrogativa de foro, perante o STF, nas infraes penais comuns, mesmo que a prtica delituosa tenha ocorrido durante o perodo de atividade funcional, se sobrevier a cessao da investidura do indiciado, denunciado ou ru no cargo, funo ou mandato cuja titularidade (desde que subsistente) qualificase como o nico fator de legitimao constitucional apto a fazer instaurar a competncia penal originria da Suprema Corte (CF, art.102, I, b e c). Cancelamento da Smula 394/STF (RTJ179/912913). Nada pode autorizar o desequilbrio entre os cidados da Repblica. Oreconhecimento da prerrogativa de foro, perante o STF, nos ilcitos penais comuns, em favor de exocupantes de cargos pblicos ou de extitulares de mandatos eletivos transgride valor fundamental prpria configurao da ideia republicana, que se orienta pelo vetor axiolgico da igualdade. Aprerrogativa de foro outorgada, constitucionalmente, ratione muneris, a significar, portanto, que deferida em razo de cargo ou de mandato ainda titularizado por aquele que sofre persecuo penal instaurada pelo Estado, sob pena de tal prerrogativa descaracterizandose em sua essncia mesma degradarse condio de inaceitvel privilgio de carter pessoal. Precedentes. (Inq1.376AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1522007, Plenrio, DJ de 1632007.) 17
  • 18. Art.1, caput A questo do federalismo no sistema constitucional brasileiro. O surgimento da ideia federalista no Imprio. O modelo federal e a pluralidade de ordens jurdicas (ordem jurdica total e ordens jurdicas parciais). A repartio constitucional de competncias: poderes enumerados (explcitos ou implcitos) e poderes residuais. (ADI2.995, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 13122006, Plenrio, DJ de 2892007.) No mesmo sentido: ADI3.189, ADI3.293 e ADI3.148, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 13122006, Plenrio, DJ de 2892007. Governador e vicegovernador do Estado. Afastamento do Pas por qualquer tempo. Necessidade de autorizao da Assembleia Legislativa, sob pena de perda do cargo. Alegada ofensa ao postulado da separao de poderes. Medida cautelar deferida. Afiscalizao parlamentar como instrumento constitucional de controle do Poder Executivo: governador de Estado e ausncia do territrio nacional. OPoder Executivo, nos regimes democrticos, h de ser um poder constitucionalmente sujeito fiscalizao parlamentar e permanentemente exposto ao controle polticoadministrativo do Poder Legislativo. Anecessidade de ampla fiscalizao parlamentar das atividades do Executivo a partir do controle exercido sobre o prprio chefe desse Poder do Estado traduz exigncia plenamente compatvel com o postulado do Estado Democrtico de Direito (CF, art.1, caput) e com as consequncias polticojurdicas que derivam da consagrao constitucional do princpio republicano e da separao de poderes. Aautorizao parlamentar a que se refere o texto da CR (prevista em norma que remonta ao perodo imperial) necessria para legitimar, em determinada situao, a ausncia do chefe do Poder Executivo (ou de seu vice) do territrio nacional configura um desses instrumentos constitucionais de controle do Legislativo sobre atos e comportamentos dos nossos governantes. Plausibilidade jurdica da pretenso de inconstitucionalidade que sustenta no se revelar possvel, ao Estadomembro, ainda que no mbito de sua prpria Constituio, estabelecer exigncia de autorizao ao chefe do Poder Executivo local, para afastarse, por qualquer tempo, do territrio do Pas. Referncia temporal que no encontra parmetro na CR. (ADI775MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 23101992, Plenrio, DJ de 1122006.) Inexistente atribuio de competncia exclusiva Unio, no ofende a CB norma consti- tucional estadual que dispe sobre aplicao, interpretao e integrao de textos normativos estaduais, em conformidade com a LICC. No h falarse em quebra do pacto federativo e do princpio da interdependncia e harmonia entre os Poderes em razo da aplicao de princpios jurdicos ditos federais na interpretao de textos normativos estaduais. Princpios so normas jurdicas de um determinado direito, no caso, do direito brasileiro. No h princpios jurdicos aplicveis no territrio de um, mas no de outro ente federativo, sendo descabida a classificao dos princpios em federais e estaduais. (ADI246, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 16122004, Plenrio, DJ de 2942005.) O pacto federativo, sustentandose na harmonia que deve presidir as relaes institucio- nais entre as comunidades polticas que compem o Estado Federal, legitima as restries de ordem constitucional que afetam o exerccio, pelos Estadosmembros e Distrito Federal, de sua competncia normativa em tema de exonerao tributria pertinente ao ICMS. (ADI1.247MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1781995, Plenrio, DJ de 891995.) Se certo que a nova Carta Poltica contempla um elenco menos abrangente de princpios constitucionais sensveis, a denotar, com isso, a expanso de poderes jurdicos na esfera 18
  • 19. Art.1, caput e I das coletividades autnomas locais, o mesmo no se pode afirmar quanto aos princpios federais extensveis e aos princpios constitucionais estabelecidos, os quais, embora disseminados pelo texto constitucional, posto que no tpica a sua localizao, configuram acervo expressivo de limitaes dessa autonomia local, cuja identificao at mesmo pelos efeitos restritivos que deles decorrem impese realizar. Aquesto da necessria observncia, ou no, pelos Estadosmembros, das normas e princpios inerentes ao processo legislativo, provoca a discusso sobre o alcance do poder jurdico da Unio Federal de impor, ou no, s demais pessoas estatais que integram a estrutura da Federao, o respeito incondicional a padres heternomos por ela prpria institudos como fatores de compulsria aplicao. (...) Da resoluo dessa questo central, emergir a definio do modelo de Federao a ser efetivamente observado nas prticas institucionais. (ADI216MC, Rel. p/o ac. Min. Celso de Mello, julgamento em 2351990, Plenrio, DJ de 751993.) I a soberania; Negativa, pelo presidente da Repblica, de entrega do extraditando ao pas requerente. (...) O Tratado de Extradio entre a Repblica Federativa do Brasil e a Repblica Italiana, no seu art.III, 1, f, permite a no entrega do cidado da parte requerente quando a parte requerida tiver razes ponderveis para supor que a pessoa reclamada ser submetida a atos de perseguio. (...) Deveras, antes de deliberar sobre a existncia de poderes discricionrios do presidente da Repblica em matria de extradio, ou mesmo se essa autoridade se manteve nos lindes da deciso proferida pelo Colegiado anteriormente, necessrio definir se o ato do chefe de Estado sindicvel pelo Judicirio, em abstrato. Oart.1 da Constituio assenta como um dos fundamentos do Estado brasileiro a sua soberania que significa o poder poltico supremo dentro do territrio, e, no plano internacional, no tocante s relaes da Repblica Federativa do Brasil com outros Estados soberanos, nos termos do art.4, I, da Carta Magna. Asoberania nacional no plano transnacional fundase no princpio da independncia nacional, efetivada pelo presidente da Repblica, consoante suas atribuies previstas no art.84, VII e VIII, da Lei Maior. Asoberania, dicotomizada em interna e externa, tem na primeira a exteriorizao da vontade popular (art.14 da CRFB) atravs dos representantes do povo no parlamento e no governo; na segunda, a sua expresso no plano internacional, por meio do presidente da Repblica. Nocampo da soberania, relativamente extradio, assente que o ato de entrega do extraditando exclusivo, da competncia indeclinvel do presidente da Repblica, conforme consagrado na Constituio, nas leis, nos tratados e na prpria deciso do Egrgio STF na Ext 1.085. Odescumprimento do Tratado, em tese, gera uma lide entre Estados soberanos, cuja resoluo no compete ao STF, que no exerce soberania internacional, mxime para impor a vontade da Repblica Italiana ao chefe de Estado brasileiro, cogitandose de mediao da Corte Internacional de Haia, nos termos do art.92 da Carta das Naes Unidas de 1945. (Rcl 11.243, Rel. p/o ac. Min. Luiz Fux, julgamento em 862011, Plenrio, DJE de 5102011.) As terras indgenas versadas pela CF de 1988 fazem parte de um territrio estatalbrasi leiro sobre o qual incide, com exclusividade, o direito nacional. Ecomo tudo o mais que faz parte do domnio de qualquer das pessoas federadas brasileiras, so terras que se submetem unicamente ao primeiro dos princpios regentes das relaes internacionais da Repblica Federativa do Brasil: a soberania ou independncia nacional (incisoI do art.1 da CF). 19
  • 20. Art.1, I e II (...) H compatibilidade entre o usufruto de terras indgenas e faixa de fronteira. Longe de se pr como um ponto de fragilidade estrutural das faixas de fronteira, a permanente alocao indgena nesses estratgicos espaos em muito facilita e at obriga que as instituies de Estado (Foras Armadas e Polcia Federal, principalmente) se faam tambm presentes com seus postos de vigilncia, equipamentos, batalhes, companhias e agentes. Sem precisar de licena de quem quer que seja para fazlo. Mecanismos, esses, a serem aproveitados como oportunidade mpar para conscientizar ainda mais os nossos indgenas, instrulos (a partir dos conscritos), alertlos contra a influncia eventualmente mals de certas organizaes no governamentais estrangeiras, mobilizlos em defesa da soberania nacional e reforar neles o inato sentimento de brasilidade. Misso favorecida pelo fato de serem os nossos ndios as primeiras pessoas a revelar devoo pelo nosso Pas (eles, os ndios, que em toda nossa histria contriburam decisivamente para a defesa e integridade do territrio nacional) e at hoje dar mostras de conhecerem o seu interior e as suas bordas mais que ningum. (Pet 3.388, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 1932009, Plenrio, DJE de 172010.) A imprescindibilidade do uso do idioma nacional nos atos processuais, alm de correspon- der a uma exigncia que decorre de razes vinculadas prpria soberania nacional, constitui projeo concretizadora da norma inscrita no art.13, caput, da Carta Federal, que proclama ser a lngua portuguesa o idioma oficial da Repblica Federativa do Brasil. (HC72.391QO, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 831995, Plenrio, DJE de 1731995.) II a cidadania; A segurana do procedimento de identificao dos eleitores brasileiros no ato de votao ainda apresenta deficincias que no foram definitivamente solucionadas. Apostergao do implemento de projetos como a unificao das identidades civil e eleitoral num s documento propiciou, at os dias atuais, a ocorrncia de inmeras fraudes ligadas ao exerccio do voto. Aapresentao do atual ttulo de eleitor, por si s, j no oferece qualquer garantia de lisura nesse momento crucial de revelao da vontade do eleitorado. Por outro lado, as experincias das ltimas eleies realizadas no Brasil demonstraram uma maior confiabilidade na identificao aferida com base em documentos oficiais de identidade dotados de fotografia, a saber: as carteiras de identidade, de trabalho e de motorista, o certificado de reservista e o passaporte. Anorma contestada, surgida com a edio da Lei 12.034/2009, teve o propsito de alcanar maior segurana no processo de reconhecimento dos eleitores. Por isso, estabeleceu, j para as eleies gerais de 2010, a obrigatoriedade da apresentao, no momento da votao, de documento oficial de identificao com foto. Reconhecimento, em exame prefacial, de plausibilidade jurdica da alegao de ofensa ao princpio constitucional da razoabilidade na interpretao dos dispositivos impugnados que impea de votar o eleitor que, embora apto a prestar identificao mediante a apresentao de documento oficial com fotografia, no esteja portando seu ttulo eleitoral. Medida cautelar deferida para dar s normas ora impugnadas interpretao conforme CF, no sentido de que apenas a ausncia de documento oficial de identidade com fotografia impede o exerccio do direito de voto. (ADI4.467MC, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 3092010, Plenrio, DJE de 162011.) A Lei 8.899/1994 parte das polticas pblicas para inserir os portadores de necessidades especiais na sociedade e objetiva a igualdade de oportunidades e a humanizao das relaes sociais, em cumprimento aos fundamentos da Repblica de cidadania e dignidade da 20
  • 21. Art.1, II e III pessoa humana, o que se concretiza pela definio de meios para que eles sejam alcanados. (ADI2.649, Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento em 852008, Plenrio, DJE de 17102008.) Ningum obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se submeter, ainda que emanada de autoridade judicial. Mais: dever de cidadania oporse ordem ilegal; caso contrrio, negase o Estado de Direito. (HC73.454, Rel. Min. Maurcio Corra, julgamento em 2241996, Segunda Turma, DJ de 761996.) III a dignidade da pessoa humana; direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, j documentados em procedimento investigatrio realizado por rgo com competncia de polcia judiciria, digam respeito ao exerccio do direito de defesa. (Smula Vinculante 14.) S lcito o uso de algemas em casos de resistncia e de fundado receio de fuga ou de perigo integridade fsica prpria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da priso ou do ato processual a que se refere, sem prejuzo da responsabilidade civil do Estado. (Smula Vinculante 11.) Nota: O Plenrio do STF, no julgamento da ADI3.510, declarou a constitucionalidade do art.5 da Lei de Biossegurana (Lei 11.105/2005), por entender que as pesquisas com cluas l tronco embrionrias no violam o direito vida ou o princpio da dignidade da pessoa humana. A pesquisa cientfica com clulastronco embrionrias, autorizada pela Lei 11.105/2005, objetiva o enfrentamento e cura de patologias e traumatismos que severamente limitam, atormentam, infelicitam, desesperam e no raras vezes degradam a vida de expressivo contingente populacional (ilustrativamente, atrofias espinhais progressivas, distrofias musculares, a esclerose mltipla e a lateral amiotrfica, as neuropatias e as doenas do neurnio motor). Aescolha feita pela Lei de Biossegurana no significou um desprezo ou desapreo pelo embrio in vitro, porm uma mais firme disposio para encurtar caminhos que possam levar superao do infortnio alheio. Isto no mbito de um ordenamento constitucional que desde o seu prembulo qualifica a liberdade, a segurana, o bemestar, o desenvolvimento, a igualdade e a justia como valores supremos de uma sociedade mais que tudo fraterna. Oque j significa incorporar o advento do constitucionalismo fraternal s relaes humanas, a traduzir verdadeira comunho de vida ou vida social em clima de transbordante solidariedade em benefcio da sade e contra eventuais tramas do acaso e at dos golpes da prpria natureza. Contexto de solidria, compassiva ou fraternal legalidade que, longe de traduzir desprezo ou desrespeito aos congelados embries in vitro, significa apreo e reverncia a criaturas humanas que sofrem e se desesperam. Inexistncia de ofensas ao direito vida e da dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa com clulastronco embrionrias (inviveis biologicamente ou para os fins a que se destinam) significa a celebrao solidria da vida e alento aos que se acham margem do exerccio concreto e inalienvel dos direitos felicidade e do viver com dignidade (Min. Celso de Mello). (...) A Lei de Biossegurana caracterizase como regrao legal a salvo da mcula do aodamento, da insuficincia protetiva ou do vcio da arbitrariedade em matria to religiosa, filosfica e eticamente sensvel como a da biotecnologia na rea da medicina e da gentica humana. Tratase de um conjunto normativo que 21
  • 22. Art.1, III parte do pressuposto da intrnseca dignidade de toda forma de vida humana, ou que tenha potencialidade para tanto. ALei de Biossegurana no conceitua as categorias mentais ou entidades biomdicas a que se refere, mas nem por isso impede a facilitada exegese dos seus textos, pois de se presumir que recepcionou tais categorias e as que lhe so correlatas com o significado que elas portam no mbito das cincias mdicas e biolgicas. (ADI3.510, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 2952008, Plenrio, DJE de 2852010.) cabvel habeas corpus para apreciar toda e qualquer medida que possa, em tese, acarre- tar constrangimento liberdade de locomoo ou, ainda, agravar as restries a esse direito. Esse o entendimento da Segunda Turma ao deferir habeas corpus para assegurar a detento em estabelecimento prisional o direito de receber visitas de seus filhos e enteados. (...) De incio, rememorouse que a jurisprudncia hodierna da Corte estabelece srias ressalvas ao cabimento do writ, no sentido de que supe violao, de forma mais direta, ao menos em exame superficial, liberdade de ir e vir dos cidados. Afirmouse que essa orientao, entretanto, no inviabilizaria, por completo, o processo de ampliao progressiva que essa garantia pudesse vir a desempenhar no sistema jurdico brasileiro, sobretudo para conferir fora normativa mais robusta Constituio. Arespeito, ponderouse que o Supremo tem alargado o campo de abrangncia dessa ao constitucional, como no caso de impetraes contra instaurao de inqurito criminal para tomada de depoimento, indiciamento de determinada pessoa, recebimento de denncia, sentena de pronncia no mbito do processo do Jri e deciso condenatria, entre outras. Enfatizouse que a Constituio teria o princpio da humanidade como norte e asseguraria aos presidirios o respeito integridade fsica e moral [CF, art.5: XLIX (...)]. (...) Aludiuse que a visitao seria desdobramento do direito de ir e vir, na medida em que seu empece agravaria a situao do apenado. (HC107.701, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 1392011, Segunda Turma, Informativo 640.) Em concluso, a Segunda Turma concedeu a ordem para afastar o bice da substituio da pena privativa de liberdade por restritiva de direito a estrangeiro no residente no pas. (...) Consignou, de incio, que o fato de o estrangeiro no possuir domiclio no territrio brasileiro no afastaria, por si s, o benefcio da substituio da pena. (...) No se trataria, pois, de critrio que valorizasse a residncia como elemento normativo em si mesmo. Assentou que a interpretao do art.5, caput, da CF no deveria ser literal, porque, de outra forma, os estrangeiros no residentes estariam alijados da titularidade de todos os direitos fundamentais. Ressaltou a existncia de direitos assegurados a todos, independentemente da nacionalidade do indivduo, porquanto considerados emanaes necessrias do princpio da dignidade da pessoa humana. (...) Nesse ponto, concluiu que o fato de o paciente no possuir domiclio no Brasil no legitimaria a adoo de tratamento distintivo e superou essa objeo. (HC94.477, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 692011, Segunda Turma, Informativo 639.) Vide: HC94.016, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1692008, Segunda Turma, DJE de 2722009. A clusula da reserva do possvel que no pode ser invocada, pelo Poder Pblico, com o propsito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar a implementao de polticas pblicas definidas na prpria Constituio encontra insupervel limitao na garantia constitucional do mnimo existencial, que representa, no contexto de nosso ordenamento positivo, emanao direta do postulado da essencial dignidade da pessoa humana. (...) A noo de mnimo existencial, que resulta, por implicitude, de determinados preceitos constitucionais (CF, art.1, III, e art.3, III), compreende um complexo de prerrogativas cuja concretizao revelase capaz 22
  • 23. Art.1, III de garantir condies adequadas de existncia digna, em ordem a assegurar, pessoa, acesso efetivo ao direito geral de liberdade e, tambm, a prestaes positivas originrias do Estado, viabilizadoras da plena fruio de direitos sociais bsicos, tais como o direito educao, o direito proteo integral da criana e do adolescente, o direito sade, o direito assistncia social, o direito moradia, o direito alimentao e o direito segurana. Declarao Universal dos Direitos da Pessoa Humana, de 1948 (Artigo XXV). (ARE639.337AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 2382011, Segunda Turma, DJE de 1592011.) Reconhecimento e qualificao da unio homoafetiva como entidade familiar. OSTF apoiandose em valiosa hermenutica construtiva e invocando princpios essenciais (como os da dignidade da pessoa humana, da liberdade, da autodeterminao, da igualdade, do pluralismo, da intimidade, da no discriminao e da busca da felicidade) reconhece assistir, a qualquer pessoa, o direito fundamental orientao sexual, havendo proclamado, por isso mesmo, a plena legitimidade ticojurdica da unio homoafetiva como entidade familiar, atribuindolhe, em consequncia, verdadeiro estatuto de cidadania, em ordem a permitir que se extraiam, em favor de parceiros homossexuais, relevantes consequncias no plano do direito, notadamente no campo previdencirio, e, tambm, na esfera das relaes sociais e familiares. Aextenso, s unies homoafetivas, do mesmo regime jurdico aplicvel unio estvel entre pessoas de gnero distinto justificase e legitimase pela direta incidncia, dentre outros, dos princpios constitucionais da igualdade, da liberdade, da dignidade, da segurana jurdica e do postulado constitucional implcito que consagra o direito busca da felicidade, os quais configuram, numa estrita dimenso que privilegia o sentido de incluso decorrente da prpria CR (art.1, III, e art.3, IV), fundamentos autnomos e suficientes aptos a conferir suporte legitimador qualificao das conjugalidades entre pessoas do mesmo sexo como espcie do gnero entidade familiar. (...) O postulado da dignidade da pessoa humana, que representa considerada a centralidade desse princpio essencial (CF, art.1, III) significativo vetor interpretativo, verdadeiro valorfonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso Pas, traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre ns, a ordem republicana e democrtica consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo. (...) O princpio constitucional da busca da felicidade, que decorre, por implicitude, do ncleo de que se irradia o postulado da dignidade da pessoa humana, assume papel de extremo relevo no processo de afirmao, gozo e expanso dos direitos fundamentais, qualificandose, em funo de sua prpria teleologia, como fator de neutralizao de prticas ou de omisses lesivas cuja ocorrncia possa comprometer, afetar ou, at mesmo, esterilizar direitos e franquias individuais. Assiste, por isso mesmo, a todos, sem qualquer excluso, o direito busca da felicidade, verdadeiro postulado constitucional implcito, que se qualifica como expresso de uma ideiafora que deriva do princpio da essencial dignidade da pessoa humana. (RE477.554AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1682011, Segunda Turma, DJE de 2682011.) No mesmo sentido: ADI4.277 e ADPF132, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 552011, Plenrio, DJE de 14102011. (...) a dignidade da pessoa humana precede a Constituio de 1988 e esta no poderia ter sido contrariada, em seu art.1, III, anteriormente a sua vigncia. Aarguente desqualifica fatos histricos que antecederam a aprovao, pelo Congresso Nacional, da Lei 6.683/1979. (...) A inicial ignora o momento talvez mais importante da luta pela redemocratizao do pas, o da batalha da anistia, autntica batalha. Toda a gente que conhece nossa Histria sabe que esse acordo poltico existiu, resultando no texto da Lei 6.683/1979. (...) Tem razo a arguente 23
  • 24. Art.1, III ao afirmar que a dignidade no tem preo. Ascoisas tm preo, as pessoas tm dignidade. Adignidade no tem preo, vale para todos quantos participam do humano. Estamos, todavia, em perigo quando algum se arroga o direito de tomar o que pertence dignidade da pessoa humana como um seu valor (valor de quem se arrogue a tanto). que, ento, o valor do humano assume forma na substncia e medida de quem o afirme e o pretende impor na qualidade e quantidade em que o mensure. Ento o valor da dignidade da pessoa humana j no ser mais valor do humano, de todos quantos pertencem humanidade, porm de quem o proclame conforme o seu critrio particular. Estamos ento em perigo, submissos tirania dos valores. (...) Sem de qualquer modo negar o que diz a arguente ao proclamar que a dignidade no tem preo (o que subscrevo), tenho que a indignidade que o cometimento de qualquer crime expressa no pode ser retribuda com a proclamao de que o instituto da anistia viola a dignidade humana. (...) O argumento descolado da dignidade da pessoa humana para afirmar a invalidade da conexo criminal que aproveitaria aos agentes polticos que praticaram crimes comuns contra opositores polticos, presos ou no, durante o regime militar, esse argumento no prospera. (ADPF153, voto do Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 2942010, Plenrio, DJE de 682010.) Trfico de entorpecentes. (...) Priso em flagrante. bice ao apelo em liberdade. In cons i ucionalidade: necessidade de adequao do preceito veiculado pelo art.44 da Lei tt 11.343/2006 e do art.5, XLII, aos arts.1, III, e 5, LIV e LVII, da CB. (...) Apelao em liberdade negada sob o fundamento de que o art.44 da Lei 11.343/2006 veda a liberdade provisria ao preso em flagrante por trfico de entorpecentes. Entendimento respaldado na inafianabilidade desse crime, estabelecida no art.5, XLIII, da CB. Afronta escancarada aos princpios da presuno de inocncia, do devido processo legal e da dignidade da pessoa humana. Inexistncia de antinomias na Constituio. Necessidade de adequao, a esses princpios, da norma infraconstitucional e da veiculada no art.5, XLIII, da CB. Aregra estabelecida na Constituio, bem assim na legislao infraconstitucional, a liberdade. Apriso faz exceo a essa regra, de modo que, a admitirse que o art.5, XLIII, estabelece, alm das restries nele contidas, vedao liberdade provisria, o conflito entre normas estaria instalado. Ainafianabilidade no pode e no deve considerados os princpios da presuno de inocncia, da dignidade da pessoa humana, da ampla defesa e do devido processo legal constituir causa impeditiva da liberdade provisria. No se nega a acentuada nocividade da conduta do traficante de entorpecentes. Nocividade afervel pelos malefcios provocados no que concerne sade pblica, exposta a sociedade a danos concretos e a riscos iminentes. No obstante, a regra consagrada no ordenamento jurdico brasileiro a liberdade; a priso, a exceo. Aregra cede a ela em situaes marcadas pela demonstrao cabal da necessidade da segregao ante tempus. Impese, porm, ao juiz, nesse caso, o dever de explicitar as razes pelas quais algum deva ser preso cautelarmente, assim permanecendo. (HC101.505, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 15122009, Segunda Turma, DJE de 1222010.) No mesmo sentido: HC100.185, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 862010, Segunda Turma, DJE de 682010; HC100.742, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 3112009, Segunda Turma, DJE de 192011; HC101.055, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 3112009, Segunda Turma, DJE de 18122009. Emsentido contrrio: HC93.229, Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento em 142008, Primeira Turma, DJE de 2542008. Vide: HC99.717, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 9112010, Primeira Turma, DJE de 25112010. 24
  • 25. Art.1, III Inconstitucionalidade da chamada execuo antecipada da pena. Art.5, LVII, da CF. Dignidade da pessoa humana. Art.1, III, da CF. Oart.637 do CPP estabelece que (o) recurso extraordinrio no tem efeito suspensivo, e uma vez arrazoados pelo recorrido os autos do traslado, os originais baixaro primeira instncia para a execuo da sentena. ALEP condicionou a execuo da pena privativa de liberdade ao trnsito em julgado da sentena condenatria. ACB de 1988 definiu, em seu art.5, LVII, que ningum ser considerado culpado at o trnsito em julgado de sentena penal condenatria. Da que os preceitos veiculados pela Lei 7.210/1984, alm de adequados ordem constitucional vigente, sobrepemse, temporal e materialmente, ao disposto no art.637 do CPP. Apriso antes do trnsito em julgado da condenao somente pode ser decretada a ttulo cautelar. (...) A Corte que vigorosamente prestigia o disposto no preceito constitucional em nome da garantia da propriedade no a deve negar quando se trate da garantia da liberdade, mesmo porque a propriedade tem mais a ver com as elites; a ameaa s liberdades alcana de modo efetivo as classes subalternas. Nas democracias mesmo os criminosos so sujeitos de direitos. No perdem essa qualidade, para se transformarem em objetos processuais. So pessoas, inseridas entre aquelas beneficiadas pela afirmao constitucional da sua dignidade (art.1, III, da CB). inadmissvel a sua excluso social, sem que sejam consideradas, em quaisquer circunstncias, as singularidades de cada infrao penal, o que somente se pode apurar plenamente quando transitada em julgado a condenao de cada qual. Ordem concedida. (HC94.408, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 1022009, Segunda Turma, DJE de 2732009.) Priso preventiva. (...) Autos instrudos com documentos comprobatrios do debili- tado estado de sade do paciente, que provavelmente definhar na priso sem a assistncia mdica de que necessita, o estabelecimento prisional reconhecendo no ter condies de prestla. Oart.117 da LEP determina, nas hipteses mencionadas em seus incisos, o recolhimento do apenado, que se encontre no regime aberto, em residncia particular. Emque pese a situao do paciente no se enquadrar nas hipteses legais, a excepcionalidade do caso enseja o afastamento da Smula 691/STF e impe seja a priso domiciliar deferida, pena de violao do princpio da dignidade da pessoa humana (art.1, III, da CF). (HC98.675, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 962009, Segunda Turma, DJE de 2182009.) No mesmo sentido: RHC94.358, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 2942008, Segunda Turma, Informativo 504. Lei do Crime Organizado (art.7). Vedao legal apriorstica de liberdade provisria. Conveno de Palermo (art.11). Inadmissibilidade de sua invocao. (...) Clusulas inscritas nos textos de tratados internacionais que imponham a compulsria adoo, por autoridades judicirias nacionais, de medidas de privao cautelar da liberdade individual, ou que vedem, em carter imperativo, a concesso de liberdade provisria, no podem prevalecer em nosso sistema de direito positivo, sob pena de ofensa presuno de inocncia, dentre outros princpios constitucionais que informam e compem o estatuto jurdico daqueles que sofrem persecuo penal instaurada pelo Estado. Avedao apriorstica de concesso de liberdade provisria repelida pela jurisprudncia do STF, que a considera incompatvel com a presuno de inocncia e com a garantia do due process, dentre outros princpios consagrados na CR, independentemente da gravidade objetiva do delito. Precedente: ADI3.112/ DF. Ainterdio legal in abstracto, vedatria da concesso de liberdade provisria, incide na mesma censura que o Plenrio do STF estendeu ao art.21 do Estatuto do Desarmamento (ADI3.112/DF), considerados os postulados da presuno de inocncia, do due process of 25
  • 26. Art.1, III law, da dignidade da pessoa humana e da proporcionalidade, analisado este na perspectiva da proibio do excesso. Olegislador no pode substituirse ao juiz na aferio da existncia de situao de real necessidade capaz de viabilizar a utilizao, em cada situao ocorrente, do instrumento de tutela cautelar penal. Cabe, unicamente, ao Poder Judicirio, aferir a existncia, ou no, em cada caso, da necessidade concreta de se decretar a priso cautelar. (HC94.404, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 18112008, Segunda Turma, DJE de 1862010.) Em sentido contrrio: HC89.143, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 1062008, Segunda Turma, DJE de 2762008. Controvrsia a propsito da possibilidade, ou no, de concesso de liberdade provisria ao preso em flagrante por trfico de entorpecentes. Irrelevncia para o caso concreto, face a sua peculiaridade. Paciente primria, de bons antecedentes, com emprego e residncia fixos, flagrada com pequena quantidade de maconha quando visitava o marido na penitenciria. Liberdade provisria deferida pelo juiz da causa, posteriormente cassada pelo tribunal de justia local. Mandado de priso expedido h cinco anos, no cumprido devido a irregularidade no cadastramento do endereo da paciente. Supervenincia de doena contagiosa (aids), acarretando outros males. Inteno, da paciente, de entregarse autoridade policial. Entrega no concretizada ante o medo de morrer no presdio, deixando desamparada a filha menor. Dizer peculiaridade do caso concreto dizer exceo. Exceo que se impe seja capturada pelo ordenamento jurdico, mesmo porque a afirmao da dignidade da pessoa humana acode paciente. Atransgresso lei punida de modo que a lei (= o direito) seja restabelecida. Nesse sentido, a condenao restabelece o direito, restabelece a ordem, alm de pretender reparar o dano sofrido pela vtima. Apriso preventiva antecipa o restabelecimento a longo termo do direito; promove imediatamente a ordem. Mas apenas imediatamente, j que haver sempre o risco, em qualquer processo, de ao final verificarse que o imediato restabelecimento da ordem transgrediu a prpria ordem, porque no era devido. Ajustia produzida pelo Estado moderno condena para restabelecer o direito que ele mesmo pe, para restabelecer a ordem, pretendendo reparar os danos sofridos pela vtima. Mas a vtima no caso dos autos no identificada. a prpria sociedade, beneficiria de vingana que como que a pacifica em face, talvez, da frustrao que resulta de sua incapacidade de punir os grandes impostores. Devingana se trata, pois certo que manter presa em condies intolerveis uma pessoa doente no restabelece a ordem, alm de nada reparar. Apaciente apresenta estado de sade debilitado e dela depende, inclusive economicamente, uma filha. Submetla ao crcere, isso incompatvel com o direito, ainda que se possa ter como adequado regra. Da que a captura da exceo se impe. Ordem deferida, a fim de que a paciente permanea em liberdade at o trnsito em julgado de eventual sentena penal condenatria. (HC94.916, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 3092008, Segunda Turma, DJE de 12122008.) A natureza jurdica da regresso de regime lastreada nas hipteses do art.118, I, da LEP sancionatria, enquanto aquela baseada no incisoII tem por escopo a correta individualizao da pena. Aregresso aplicada sob o fundamento do art.118, I, segunda parte, no ofende ao princpio da presuno de inocncia ou ao vetor estrutural da dignidade da pessoa humana. Incidncia do teor da Smula Vinculante 9/STF quanto perda dos dias remidos. (HC93.782, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 1692008, Primeira Turma, DJE de 17102008.) No mesmo sentido: HC100.953, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 1632010, Segunda Turma, DJE de 942010; HC95.984, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 1022009, Segunda Turma, DJE de 852009. 26
  • 27. Art.1, III O julgamento perante o Tribunal do Jri no requer a custdia preventiva do acusado, at ento simples acusado incisoLVII do art.5 da Lei Maior. Hoje no necessria sequer a presena do acusado (...). Diante disso, indagase: surge harmnico com a Constituio mantlo, no recinto, com algemas? A resposta mostrase iniludivelmente negativa. Emprimeiro lugar, levem em conta o princpio da no culpabilidade. certo que foi submetida ao veredicto dos jurados pessoa acusada da prtica de crime doloso contra a vida, mas que merecia o tratamento devido aos humanos, aos que vivem em um Estado Democrtico de Direito. Segundo o art.1 da Carta Federal, a prpria Repblica tem como fundamento a dignidade da pessoa humana. Daleitura do rol das garantias constitucionais art.5, depreendese a preocupao em resguardar a figura do preso. (...) Ora, estes preceitos a configurarem garantias dos brasileiros e dos estrangeiros residentes no Pas repousam no inafastvel tratamento humanitrio do cidado, na necessidade de lhe ser preservada a dignidade. Manter o acusado em audincia, com algema, sem que demonstrada, ante prticas anteriores, a periculosidade, significa colocar a defesa, antecipadamente, em patamar inferior, no bastasse a situao de todo degradante. (...) Quanto ao fato de apenas dois policiais civis fazerem a segurana no momento, a deficincia da estrutura do Estado no autorizava o desrespeito dignidade do envolvido. Incumbia, sim, inexistente o necessrio aparato de segurana, o adiamento da sesso, preservandose o valor maior, porque inerente ao cidado. (HC91.952, voto do Rel. Min. Marco Aurlio, julgamento em 782008, Plenrio, DJE de 19122008.) Vide: Rcl9.468AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 2432011, Plenrio, DJE de 1142011. A Lei 8.899/1994 parte das polticas pblicas para inserir os portadores de neces- sidades especiais na sociedade e objetiva a igualdade de oportunidades e a humanizao das relaes sociais, em cumprimento aos fundamentos da Repblica de cidadania e dignidade da pessoa humana, o que se concretiza pela definio de meios para que eles sejam alcanados. (ADI2.649, Rel. Min. Crmen Lcia, julgamento em 852008, Plenrio, DJE de 17102008.) O Tribunal, por maioria, deu provimento a agravo regimental interposto em suspenso de tutela antecipada para manter deciso interlocutria proferida por desembargador do Tribunal de Justia do Estado de Pernambuco, que concedera parcialmente pedido formulado em ao de indenizao por perdas e danos morais e materiais para determinar que o mencionado Estadomembro pagasse todas as despesas necessrias realizao de cirurgia de implante de Marcapasso Diafragmtico Muscular(MDM) no agravante, com o profissional por este requerido. Naespcie, o agravante, que teria ficado tetraplgico em decorrncia de assalto ocorrido em via pblica, ajuizara a ao indenizatria, em que objetiva a responsabilizao do Estado de Pernambuco pelo custo decorrente da referida cirurgia, que devolver ao autor a condio de respirar sem a dependncia do respirador mecnico. (...) Concluiuse que a realidade da vida to pulsante na espcie imporia o provimento do recurso, a fim de reconhecer ao agravante, que inclusive poderia correr risco de morte, o direito de buscar autonomia existencial, desvinculandose de um respirador artificial que o mantm ligado a um leito hospitalar depois de meses em estado de coma, implementandose, com isso, o direito busca da felicidade, que um consectrio do princpio da dignidade da pessoa humana. (STA223AgR, Rel. p/o ac. Min. Celso de Mello, julgamento em 1442008, Plenrio, Informativo 502.) 27
  • 28. Art.1, III Uso de substncia entorpecente. Princpio da insignificncia. Aplicao no mbito da Justia Militar. (...) Princpio da dignidade da pessoa humana. Paciente, militar, preso em flagrante dentro da unidade militar, quando fumava um cigarro de maconha e tinha consigo outros trs. Condenao por posse e uso de entorpecentes. No aplicao do princpio da insignificncia, em prol da sade, disciplina e hierarquia militares. Amnima ofensividade da conduta, a ausncia de periculosidade social da ao, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da leso jurdica constituem os requisitos de ordem objetiva autorizadores da aplicao do princpio da insignificncia. ALei 11.343/2006 nova Lei de Drogas veda a priso do usurio. Prev, contra ele, apenas a lavratura de termo circunstanciado. Preocupao do Estado em mudar a viso que se tem em relao aos usurios de drogas. Punio severa e exemplar deve ser reservada aos traficantes, no alcanando os usurios. Aestes devem ser oferecidas polticas sociais eficientes para recuperlos do vcio. OSTM no cogitou da aplicao da Lei 11.343/2006. No obstante, cabe a esta Corte fazlo, incumbindolhe confrontar o princpio da especialidade da lei penal militar, bice aplicao da nova Lei de Drogas, com o princpio da dignidade humana, arrolado na CB de modo destacado, incisivo, vigoroso, como princpio fundamental (...). Excluso das fileiras do Exrcito: punio suficiente para que restem preservadas a disciplina e hierarquia militares, indispensveis ao regular funcionamento de qualquer instituio militar. Aaplicao do princpio da insignificncia no caso se impe; a uma, porque presentes seus requisitos de natureza objetiva; a duas, em virtude da dignidade da pessoa humana. Ordem concedida. (HC92.961, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 11122007, Segunda Turma, DJE de 2222008.) No mesmo sentido: HC90.125, Rel. p/o ac. Min. Eros Grau, julgamento em 2462008, Segunda Turma, DJE de 592008. Emsentido contrrio: HC105.695, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 30112010, Segunda Turma, DJE de 2222011; HC104.784, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 26102010, Segunda Turma, DJE de 22112010; HC104.838, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 26102010, Segunda Turma, DJE de 22112010; HC103.684, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 21102010, Plenrio, DJE de 1342011. Ato do TCU. (...) Penses civil e militar. Militar reformado sob a CF de 1967. Cumu- latividade. (...) Ainrcia da Corte de Contas, por sete anos, consolidou de forma positiva a expectativa da viva, no tocante ao recebimento de verba de carter alimentar. Este aspecto temporal diz intimamente com o princpio da segurana jurdica, projeo objetiva do princpio da dignidade da pessoa humana e elemento conceitual do Estado de Direito. (MS24.448, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 2792007, Plenrio, DJ de 14112007.) (...) a exigncia constante do art.112, 2, da Constituio fluminense consagra mera restrio material atividade do legislador estadual, que com ela se v impedido de conceder gratuidade sem proceder necessria indicao da fonte de custeio. (...) Por fim, tambm infrutfero o argumento de desrespeito ao princpio da dignidade da pessoa humana. Seu fundamento seria porque a norma (...) retira do legislador, de modo peremptrio, a possibilidade de implementar polticas necessrias a reduzir desigualdades sociais e favorecer camadas menos abastadas da populao, permitindolhes acesso gratuito a servios pblicos prestados em mbito estadual; a regra (...) tem por objetivo evitar que, atravs de lei, venham a ser concedidas a determinados indivduos gratuidades, o preceito questionado (...) exclui desde logo a possibilidade de implementao de medidas nesse sentido (concesso de gratuidade em matria de transportes pblicos), j que estabelece um bice da fonte 28
  • 29. Art.1, III de custeio. Sucede que dessa frgil premissa no se segue a concluso pretendida, pois falsa a suposio de que a mera necessidade de indicao da fonte de custeio da gratuidade importaria inviabilidade desta. Aexigncia de indicao da fonte de custeio para autorizar gratuidade na fruio de servios pblicos em nada impede sejam estes prestados graciosamente, donde no agride nenhum direito fundamental do cidado. Amedida revestese, alis, de providencial austeridade, uma vez que se preordena a garantir a gesto responsvel da coisa pblica, o equilbrio na equao econmicofinanceira informadora dos contratos administrativos e, em ltima anlise, a prpria viabilidade e continuidade dos servios pblicos e das gratuidades concedidas. (ADI3.225, voto do Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 1792007, Plenrio, DJ de 26102007.) Arguio de incompetncia da Justia Federal. Improcedncia: o nmero de 180 pessoas reduzidas condio anloga a de escravo suficiente caracterizao do delito contra a organizao do trabalho, cujo julgamento compete Justia Federal. (HC91.959, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 9102007, Segunda Turma, DJE de 2222008.) A Constituio de 1988 traz um robusto conjunto normativo que visa proteo e efe- tivao dos direitos fundamentais do ser humano. Aexistncia de trabalhadores a laborar sob escolta, alguns acorrentados, em situao de total violao da liberdade e da autodeterminao de cada um, configura crime contra a organizao do trabalho. Quaisquer condutas que possam ser tidas como violadoras no somente do sistema de rgos e instituies com atribuies para proteger os direitos e deveres dos trabalhadores, mas tambm dos prprios trabalhadores, atingindoos em esferas que lhes so mais caras, em que a Constituio lhes confere proteo mxima, so enquadrveis na categoria dos crimes contra a organizao do trabalho, se praticadas no contexto das relaes de trabalho. (RE398.041, Rel. Min. Joaquim Barbosa, julgamento em 30112006, Plenrio, DJE de 19122008.) No mesmo sentido: RE541.627, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 14102008, Segunda Turma, DJE de 21112008. O direito de defesa constitui pedra angular do sistema de proteo dos direitos individu- ais e materializa uma das expresses do princpio da dignidade da pessoa humana. Diante da ausncia de intimao de defensor pblico para fins de julgamento do recurso, constatase, no caso concreto, que o constrangimento alegado inegvel. Noque se refere prerrogativa da intimao pessoal, nos termos do art.5, 5, da Lei 1.060/1950, a jurisprudncia desta Corte se firmou no sentido de que essa h de ser respeitada. (HC89.176, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 2282006, Segunda Turma, DJ de 2292006.) Crimes contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei 7.492, de 1986). Crime societrio. Alegada inpcia da denncia, por ausncia de indicao da conduta individualizada dos acusados. Mudana de orientao jurisprudencial, que, no caso de crimes societrios, entendia ser apta a denncia que no individualizasse as condutas de cada indiciado, bastando a indicao de que os acusados fossem de algum modo responsveis pela conduo da sociedade comercial sob a qual foram supostamente praticados os delitos. (...) Necessidade de individualizao das respectivas condutas dos indiciados. Observncia dos princpios do devido processo legal (CF, art.5, LIV), da ampla defesa, contraditrio (CF, art.5, LV) e da dignidade da pessoa humana (CF, art.1, III). (HC86.879, Rel. p/o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 2122006, Segunda Turma, DJ de 1662006.) No mesmo sen tido: HC105.953MC, Rel. Min. Celso de Mello, deciso monocrtica, julgamento em 5112010, DJE de 11112010. 29
  • 30. Art.1, III Arguio de descumprimento de preceito fundamental. Adequao. Interrupo da gravi- dez. Feto anencfalo. Poltica judiciria. Macroprocesso. Tanto quanto possvel, h de ser dada sequncia a processo objetivo, chegandose, de imediato, a pronunciamento do STF. Emjogo valores consagrados na Lei Fundamental como o so os da dignidade da pessoa humana, da sade, da liberdade e autonomia da manifestao da vontade e da legalidade, considerados a interrupo da gravidez de feto anencfalo e os enfoques diversificados sobre a configurao do crime de aborto, adequada surge a arguio de descumprimento de preceito fundamental. Arguio de descumprimento de preceito fundamental. Liminar. Anencefalia. Interrupo da gravidez. Glosa penal. Processos em curso. Suspenso. Pendente de julgamento a arguio de descumprimento de preceito fundamental, processos criminais em curso, em face da interrupo da gravidez no caso de anencefalia, devem ficar suspensos at o crivo final do STF. Arguio de descumprimento de preceito fundamental. Liminar. Anencefalia. Interrupo da gravidez. Glosa penal. Afastamento. Mitigao. Nadico da ilustrada maioria, entendimento em relao ao qual guardo reserva, no prevalece, em arguio de descumprimento de preceito fundamental, liminar no sentido de afastar a glosa penal relativamente queles que venham a participar da interrupo da gravidez no caso de anencefalia. (ADPF54QO, Rel. Min. Marco Aurlio, julgamento em 2742005, Plenrio, DJ de 3182007.) A durao prolongada, abusiva e irrazovel da priso cautelar de algum ofende, de modo frontal, o postulado da dignidade da pessoa humana, que representa considerada a centralidade desse princpio essencial (CF, art.1, III) significativo vetor interpretativo, verdadeiro valorfonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso Pas e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre ns, a ordem republicana e democrtica consagrada pelo sistema de direito constitucional positivo. (HC85.237, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1732005, Plenrio, DJ de 2942005.) No mesmo sentido: HC98.621, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgamento em 2332010, Primeira Turma, DJE de 2342010; HC95.634, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 262009, Segunda Turma, DJE de 1962009; HC95.492, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 1032009, Segunda Turma, DJE de 852009. Denncia. Estado de Direito. Direitos fundamentais. Princpio da dignidade da pessoa humana. Requisitos do art.41 do CPP no preenchidos. Atcnica da denncia (art.41 do CPP) tem merecido reflexo no plano da dogmtica constitucional, associada especialmente ao direito de defesa. (...) Denncias genricas, que no descrevem os fatos na sua devida conformao, no se coadunam com os postulados bsicos do Estado de Direito. Violao ao princpio da dignidade da pessoa humana. No difcil perceber os danos que a mera existncia de uma ao penal impe ao indivduo. Necessidade de rigor e prudncia daqueles que tm o poder de iniciativa nas aes penais e daqueles que podem decidir sobre o seu curso. (HC84.409, Rel. p/o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 14122004, Segunda Turma, DJ de 1982005.) O direito ao nome inserese no conceito de dignidade da pessoa humana, princpio alado a fundamento da Repblica Federativa do Brasil (CF, art.1, III). (RE248.869, voto do Rel. Min. Maurcio Corra, julgamento em 782003, Plenrio, DJ de 1232004.) O fato de o paciente estar condenado por delito tipificado como hediondo no enseja, por si s, uma proibio objetiva incondicional concesso de priso domiciliar, pois a dignidade da pessoa humana, especialmente a dos idosos, sempre ser preponderante, dada a 30
  • 31. Art.1, III sua condio de princpio fundamental da Repblica (art.1, III, da CF/1988). Por outro lado, incontroverso que essa mesma dignidade se encontrar ameaada nas hipteses excepcionalssimas em que o apenado idoso estiver acometido de doena grave que exija cuidados especiais, os quais no podem ser fornecidos no local da custdia ou em estabelecimento hospitalar adequado. (HC83.358, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 452004, Primeira Turma, DJ de 462004.) Sendo fundamento da Repblica Federativa do Brasil a dignidade da pessoa humana, o exame da constitucionalidade de ato normativo fazse considerada a impossibilidade de o Diploma Maior permitir a explorao do homem pelo homem. Ocredenciamento de profissionais do volante para atuar na praa implica ato do administrador que atende s exigncias prprias permisso e que objetiva, em verdadeiro saneamento social, o endosso de lei viabilizadora da transformao, balizada no tempo, de taxistas auxiliares em permissionrios. (RE359.444, Rel. p/o ac. Min. Marco Aurlio, julgamento em 2432004, Plenrio, DJ de 2852004.) Fundamento do ncleo do pensamento do nacionalsocialismo de que os judeus e os arianos formam raas distintas. Osprimeiros seriam raa inferior, nefasta e infecta, caractersticas suficientes para justificar a segregao e o extermnio: inconciabilidade com os padres ticos e morais definidos na Carta Poltica do Brasil e do mundo contemporneo, sob os quais se ergue e se harmoniza o Estado Democrtico. Estigmas que por si s evidenciam crime de racismo. Concepo atentatria dos princpios nos quais se erige e se organiza a sociedade humana, baseada na respeitabilidade e dignidade do ser humano e de sua pacfica convivncia no meio social. Condutas e evocaes aticas e imorais que implicam repulsiva ao estatal por se revestirem de densa intolerabilidade, de sorte a afrontar o ordenamento infraconstitucional e constitucional do Pas. (HC82.424, Rel. p/o ac. Min. Presidente Maurcio Corra, julgamento em 1792003, Plenrio, DJ de 1932004.) A mera instaurao de inqurito, quando evidente a atipicidade da conduta, constitui meio hbil a impor violao aos direitos fundamentais, em especial ao princpio da dignidade humana. (HC82.969, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3092003, Segunda Turma, DJ de 17102003.) A simples referncia normativa tortura, constante da descrio tpica consubstanciada no art.233 do Estatuto da Criana e do Adolescente, exterioriza um universo conceitual impregnado de noes com que o senso comum e o sentimento de decncia das pessoas identificam as condutas aviltantes que traduzem, na concreo de sua prtica, o gesto ominoso de ofensa dignidade da pessoa humana. Atortura constitui a negao arbitrria dos direitos humanos, pois reflete enquanto prtica ilegtima, imoral e abusiva um inaceitvel ensaio