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A construção simbólica da nação: A pintura e a escultura nas Exposições Gerais da Academia Imperial das Belas Artes Cybele Vidal Neto Fernandes * FERNANDES, Cybele V. F. A construção simbólica da nação: A pintura e a escultura nas Exposições Gerais da Academia Imperial das Belas Artes. 19&20 , Rio de Janeiro, v. II, n. 4, out. 2007. Disponível em: <http://www.dezenovevinte.net/obras/cfv_egba.htm>. * * * Quando Le Breton organizou o plano para a dupla escola de artes deixou também a sugestão de serem realizadas amostras de arte para incentivar os artistas e dar a conhecer ao rei e aos seus súditos os seus progressos. Seria, ao mesmo tempo, uma forma de homenagear o rei pelo patrocínio às artes, e dar início a uma galeria de obras, sempre útil a diversas finalidades. Além da organização do estabelecimento de ensino, em seus aspectos mais gerais, Le Breton preocupavase também em criar condições para que os seus professores jamais se entregassem à ociosidade e fossem estimulados em suas tarefas, desenvolvendo projetos voltados para as necessidades e enriquecimento da cidade ou para a glória do monarca. Por outro lado, havendo interesse por parte do governante, de formar uma coleçao particular que enriquecesse seus palácios com obras dos mais renomados artistas, a instituição prepararia também artistas nacionais bem formados capazes de figurarem, com suas obras, ao lado dos artistas estrangeiros. A produção nascida do fazer dos mestres e alunos desse estabelecimento de ensino artístico contribuiria ainda para formar o acervo de um museu nacional, cujas obras remeteriam à história do país, à peculiaridade das diversas regiões, à sua fauna e flora, às suas riquezas, à sua gente. Essas exposições tiveram início na França: “Salon exposição de pintura, feita anualmente em Paris, pela Societé des Artistes Franfais. Realizada pela primeira

A Construção Simbólica Da Nação_ a Pintura e a Escultura Nas Exposições Gerais Da Academia Imperial Das Belas Artes, Por Cybele Vidal Neto Fernandes

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FERNANDES, Cybele V. F. A construção simbólica da nação:A pintura e a escultura nas Exposições Gerais da AcademiaImperial das Belas Artes. 19&20, Rio de Janeiro, v. II, n. 4,out. 2007. Disponível em:.

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    Aconstruosimblicadanao:ApinturaeaesculturanasExposies

    GeraisdaAcademiaImperialdasBelasArtes

    CybeleVidalNetoFernandes*

    FERNANDES,CybeleV.F.Aconstruosimblicadanao:A pintura e a escultura nas ExposiesGerais daAcademiaImperial dasBelasArtes. 19&20,Rio de Janeiro, v. II, n. 4,out. 2007. Disponvel em:.

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    Quando Le Breton organizou o plano para a duplaescola de artes deixou tambm a sugesto de seremrealizadasamostrasdearteparaincentivarosartistasedar a conhecer ao rei e aos seus sditos os seusprogressos. Seria, ao mesmo tempo, uma forma dehomenagearoreipelopatrocniosartes,edarincioauma galeria de obras, sempre til a diversasfinalidades. Alm da organizao do estabelecimentode ensino, em seus aspectos mais gerais, Le Bretonpreocupavasetambmemcriarcondiesparaqueosseusprofessoresjamaisseentregassemociosidadeefossem estimulados em suas tarefas, desenvolvendoprojetos voltados para as necessidades eenriquecimentodacidadeouparaaglriadomonarca.Por outro lado, havendo interesse por parte dogovernante, de formar uma coleao particular queenriquecesse seus palcios com obras dos maisrenomados artistas, a instituio prepararia tambmartistasnacionaisbemformadoscapazesdefigurarem,com suas obras, ao lado dos artistas estrangeiros. Aproduonascidadofazerdosmestresealunosdesseestabelecimento de ensino artstico contribuiria aindapara formar o acervo de um museu nacional, cujasobras remeteriam histria do pas, peculiaridadedas diversas regies, sua fauna e flora, s suasriquezas,suagente.

    Essas exposies tiveram incio na Frana: Salon exposiodepintura,feitaanualmenteemParis,pelaSocietdesArtistesFranfais.Realizadapelaprimeira

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    vezem1667.sobagidedoministrodasfinanasdeLouis XIV, Colbert, foi realizada no Louvre paramostrar os trabalhos dos artistas vivos, membros daReal Academia de Pintura e Escultura[1]. AdenominaoSalonderivoudeSalonCarr,situadonoincio daGrandeGaleria do Louvre, que, a partir de1735,passouaexporobrasdosartistasdaAcademia.As exposies do Salon Carr passaram a serorganizadas de dois em dois anos possuam libretospagos,masaospoucosopblicodesejouquepessoasqualificadas fizessem comentrios sobre as obrasexpostas. SegundoGermanBazin, esses comentrioseramrealizadosemmanuscritos,emnmerolimitado,e comearam a circular entre um grupo de eruditos.Diderot foi o principal comentarista desses Salonse,graas aos estudos que empreendeu relativamente tcnicadapintura,deixousignificativacontribuionaGrande Enciclopdia. A funo dessas exposies,promovidaspelaacademia,erao incentivoaoensino,ao progresso dos alunos e divulgao da estticaoficial.

    ArnoldHauserremeteaconstituiodopblicodeartedcadade1670,naFrana,quandose formou,pelaprimeiravez,umcrculointeressadoemartesquenoeraconstitudosdeespecialistasouartistas,masporpatronos,colecionadorese leigos.NosculoXVIII jera possvel entender que o objetivo da arte no erasomenteensinar,mas tambmestimularavida,oquepode ser alcanado no com a razo, mas com osentimento: E o pblico da classe mdia encontrouprazernaclaridade,simplicidadeeelegnciadaarteclassicista, mais rapidamente do que a nobreza, queestavaaindasoba influnciadogostodosespanhis... numa poca em que a classe mdia mostrava jentusiasmo pela lucidez e regularidade da arte dePoussin[2]. s academias cabia o controle total detodos os aspectos da vida artstica, desde o ensino, promoodaobradearte,preservaoerestauraodo patrimnio cultural do pas, consagrao dosvaloresditadosporessasinstituiesenadamaiscabia

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    foradeseumbitodeaoeautoridade.Dentrodessecontexto, os Salons, promovidos pelas academias,eram agncias com extraordinrio poder deconsagrao, no que se refere direo do gosto e promoo dos artistas. Estavam presentes tambmnessaengrenagemaconstruoeaconsagraodaartenacional,moldadaapartirda sensibilidadedoartista,mas conduzida segundo valores ditados pelos ideaisacadmicos.

    NoBrasilatradiodossalesartsticosnaAcademiaImperialdasBelasArtesfoiiniciadaporJ.B.Debret,idealizador de uma primeira mostra por ocasio dainaugurao da Academia, em 1826, com obras dealunos j iniciados pelos mestres franceses. Em seulivro Viagem pitoresca ao Brasil, Debret registrou aRelaodosalunosfundadoresdaescoladepintura[3], referindose queles que participaram desseprimeiro salo. A esse evento seguiramse asexposiesde1829e1830,squaisDebretclassificoucomobelssimasexposies, divulgadasnoBrasil enaEuropa,atravsdocatlogoorganizadopeloartista.A essas primeiras experincias seguiramse astradicionaisexposiesrealizadasanualmenteporF.E.Taunay,osegundodiretordaAcademiaImperial,nosmoldes do evento ocorrido em 1834, por ocasio daprimeira distribuio pblica de prmios, emcerimnia solene, sob a presidncia do Ministro doImprio.

    As presenas do Imperador e de seu Ministroconferiam solenidadedeaberturadessasexposiesanuais uma importncia superlativa. A imagem doImperador, ligada ao sentido de regra e de ordem,deveriaorientarosdestinosdainstituio.Eramambosjovens, o Imperador e a Academia, mas a ambosestavam delegadas tarefas de grande relevncia,cabendoaumproverosmeiosparaodesenvolvimentodasartesea formaodeespecialistasnessareaeaoutro a elaborao dos smbolos da Nao,comemorando os fatos da histria, os registros da

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    naturezabrasileira,osseusrecursos,asuagente.

    GraasaosinsistentesapelosdeF.E.Taunay,oAvisode31/03/1840determinava:ORegente,emnomedoImperador ... h por bem ordenar que a exposiopblicadofimdeano.queathojetemsidoparticulare privativa daquele estabelecimento, se tome geraldaquiemdianteparaasobrasdetodososartistasdaCone que forem julgadas dignas de seremadmitidas...[4].OgovernoproveriaaAcademiacomverbasparaapreparaodosSales,paraaconcessodemedalhaseparaacompradeobrasdereconhecidovaloraseremincorporadascoleodaAIBAparaaorganizao de uma galeria de obras nacionais. Amaior parte do acervo institucional, derivado dessasmostras,pertenceaoMNBAeaoMuseuD. JooVI,EBA,UFRJ outras obras encontramse dispersas emacervos particulares ou precisam ser localizadas,identificadasecatalogadas.

    DuranteagestodeTaunay(1834/1851)realizaramseonzeExposiesGerais,queforamanimandocadavezmaisoambienteartsticonaCortedoRiodeJaneiro,como observava Portoalegre, em 1849: O pblicafluminense j consagrou no seu calendrio festivo aexposio artstica anual e acostumado a esseconcurso das artes ir pouco a pouco ganhando emconhecimentos e preparandose para poder avaliarqualquer trabalho d'arte e distinguir o aparente doreal,ofalsodoverdadeiro[5].A14/05/1855ManoeldeArajoPortoalegre,nacondiodeterceirodiretorda Academia, implantou nova reforma curricular [cf.seusEstatutos],regulamentandotambmosSales:aofinaldecadaanohaveriaumaexposiodostrabalhosdos alunos e, de dois em dois anos, uma ExposioGeral aberta aos artistas nacionais e estrangeiros quedela desejassemparticipar.UmaComisso Julgadora,presididapelodiretor,comrepresentantesdasdiversassessesdeensino,seriaindicadaparaavaliarasobraseconcederaspremiaes.

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    A Academia era, portanto, o campo de produo daobra de arte e o Salo, a sua primeira instncia deconsagrao. Entre 1840 e 1884, foram realizadasvinte e seis Exposies Gerais, com intervalosirregulares.Oseventosforaminterrompidosem1852eretomados somente em 1859, no sendo essa a nicainterrupoocorrida,ocasionadamuitasvezesporfaltade verbas para a realizao de obras no edifcio daAcademia e provimento das despesas necessrias promoo do evento. A partir da segunda exposioat o ano de 1864, os Sales foram divulgados pelasNotcias da Academia,mas depois foram realizadoscatlogos especiais com os registros, geralmenteincompletos, das obras e seus autores[6].A aflunciado pblico foi aumentando acentuadamente nosltimos Sales a entrada s exposies era gratuita,exceto por ocasio do evento de 1884, quando oingresso foi cobrado.AsExposiesGeraisdaAIBAabriamse a diversas sesses, mas foi inegvel, nasucesso dos Sales, o predomnio da pintura, emdetrimentodaescultura,daarquitetura,dodesenho,dafotografiaedosobjetosindustriais.

    As Exposies Gerais eram tambm denominadasPrmiosdeSegundaOrdem[QUADRO1]aprincpiocaracterizousepelonmeroreduzidodeparticipantes,dentre os quais era significativa a participao deartistas estrangeiros (1843 28 expositores, sendo 20estrangeiros 1849 23 expositores, sendo 20estrangeiros 1859 94 expositores, sendo 68estrangeiros). Do mesmo modo, a participaofemininaeraquaseinexistenteasartistaseramapenasamadoras e eram aconselhadas a dedicaremse snaturezasmortas, flores, frutos e animais. As obrasinscritas nessas exposies eram, em sua grandemaioria, pinturas, nos mais diferentes gneros. Aescultura foi muito pouco representada: podeseobservar esse dado com clareza a partir das trsmaioresExposiesGerais:187247expositorese10obras em escultura 1879 [7] 117 expositores e 10obrasemescultura1884[8]84expositorese6obras

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    em escultura. Esses referenciais so muito poucorepresentativosdaproduodoperodo,especialmenteno que se refere decorao talha, que revelougrande desenvolvimento, especialmente na obra deAntnio de Pdua e Castro, artista e mestre daAcademia. Do mesmo modo a arquitetura teve umarepresentao sempre muito discreta nesses eventos.Destacase a apresentao de 17 projetosarquitetnicosnaExposiode1862,omaiornmeroj reunido nas Exposies de 1872 foramapresentados 13 projetos em 1879, 10 projetos e em1884apenasumprojeto.

    Issonos leva a concluirque apintura foi a artemaisrepresentativa desses Sales, em vrios gneros:retrato,paisagemeuropeia,paisagembrasileira,flores,frutas e animais, cenas de costumes, tema religioso,temas clssicos, alegorias, pintura histrica europia,pinturahistricabrasileira, almdeobrasdegravura,fotografia, artes industriais. Para regularizar asExposies, em 15/04/1840, Taunay oficializou aconcesso de verbas por parte do governo para aconfeco de medalhas, de ttulos de scioscorrespondentes [9] e para a aquisio das obrasindicadascomomerecedorasdefigurarnasgaleriasdaAIBA, aumentando assim a coleo nacional. Essassolicitaes foram prontamente atendidas pelogoverno,emboraosttulosdescioscorrespondentesede professor honorrio s tenham sido concedidosdepois de 1851. As verbas solicitadas destinavamseainda a diferentes despesas: reparos no edifcio, vistoque o mesmo seria aberto visitao pblicarestaurao de obras, compra de molduras para aspeas do acervo permanente restaurao dasmoldagens de gesso, que eram expostas juntamentecom os trabalhos selecionados (fato muitas vezescriticado, porque tais peas eram erradamenteincludas na relao geral das obras expostas)divulgaodoeventopelosjornais.

    Dessemodo,dada sua importncia,a solenidadede

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    abertura do evento era preparada cuidadosamente,comooprovamdiversosdocumentos:em11/03/1859aAcademiasolicitavaoenviodaGuardadeHonraem09/12/1859 pedia que fossem confeccionadas asmedalhas para as premies dos alunos na Casa daMoeda.ErahbitoornamentaraAcademiacomflorese folhagens vinda do Jardim Botnico e solicitar aoConservatriodeMsicaaparticipaodoseucoralnasolenidade de abertura do evento, ao qualcompareciamoImperadoreinmerasautoridades.AsprimeirasExposiesestavampraticamenteemfasedeorganizao em 1849 a dcima Exposio Geral nagesto de Taunay j testemunha, porm, umamadurecimentodoevento.Delaparticiparamvinteetrs expositores, dentre os quais duas mulheres. Aafluncia de expositores estrangeiros comprova queapesar das dificuldades, a Academia era reconhecidacomo o legtimo lugar de consagrao do artista, olocalonde,apartirdoreconhecimentodeseusmestres,a obra poderia ser includa na mostra, ser vista pelosoberanoepelasmaisdignasautoridadesdogovernoedepois ser fruda pelo pblico que a receberia comoobradereconhecidovalor.

    No caso das obras estrangeiras, muitas vezesapresentadas por artistas viajantes ou includas emcolees,asuapresenanaExposiocontribuaparaconferirmesmamaiorimportncia.EsseocasodasduastelasdopintorholandsV.Feckout,pertencentesColeodoImperador,representandodoistemasempintura histrica. Muitos participantes estrangeirostinham endereo na cidade e apresentavam em geralretratos e paisagens do Rio de Janeiro. Foi nessacategoria a contribuio do artista Krumholz queapresentouumRetratodo Imperador, umRetrato daImperatrizemais seis no identificados no catlogo,mas que Portoalegre informa, em artigo na revistaGuanabara, serem retratos das filhas do monarca. AExposio Geral de 1859 ocorreu aps sete anos deintervalo e nela foram includas cinco coleesparticulares, destacandose a Coleo do Imperador.

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    Dessa Coleo, constavam peas muito bemescolhidas, anexadas por compra ou doao, sempreaps uma avaliao criteriosa feita pelos professoresdaAcademia.AapresentaodesseconjuntoeraumaconcessodoImperadoraosseussditos,quetinham,atravsdaExposio,aoportunidadedeaprecila.Asua incluso era ainda uma maneira de enriquecer oeventocomobrasvariadasedebomnvel,esforoqueos diversos professores empreendiam, realizando elesmesmosobrasparafiguraremnasExposies.

    As demais colees tambm eram muitorepresentativas da melhor arte francesa, italiana,flamenga,comoadeJ.C.LeGros,com trintaeoitopeasadoComendadorSouzaRibeiro,comdezessetepeas a do Comendador J. T. Barbosa, com quinzepeas.Chamoua atenonesse eventoo esbocetodatelaPrimeiraMissanoBrasil,deVictorMeirelles.queestava sendo pintada em Paris. A tela foi exposta naExposio de 1862, acompanhada de folhetoexplicativo.

    Na dcada de 1870 a Academia j havia promovidovinteeumaExposiesGerais.Aoprepararamostrainauguradaem15/06/1872,aAcademiadedicoulheodobro do espao que geralmente lhe era destinado: apintura ocupou quatro salas, havendo um outrorecintocomobrasdiversasemaisdoisgabinetescompeas selecionadas.O evento j ganhava importnciano calenrioda cidade, que tambmpromovia, desde1861, as Exposies da Indstria Nacional, a qualdestinavaumasessoparaobrasdepintura,gravuraeobjetos ornamentais, a serem selecionados parafiguraremnaExposioUniversal.

    De uma forma ou de outra, atravs desses Sales, aarte ia desempenhandoo seupapel na educao e noprocesso civilizatrio da sociedade. Lentamente, umnmero cada vez maior de artistas nacionaisapresentavase nas Exposies Gerais, substituindo apresenamaciadeartistasestrangeiros,assinaladanas

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    primeirasexposies.Em1859 foram includascincocolees, e em 1879, foram apresentadas outras trs[10].A prpriaAcademia conseguia divulgar as suasobras, apresentando pecas antigas do seu acervo,oportunamenterestauradas,ourecentementeanexadas,pordoaooucompra.

    Na sesso de pintura o retrato despertou sempre umgrande interesse e em 1872 foram registradascinquentaeumaobrasnessacategoria,nasdiferentestcnicas, inclusiveempastelseco, tcnica introduzidapor Joo Baptista Borely (Retrato de Toms Gomesdos Santos, 1850). Sendo de uma execuo maisrpida, foi de grande aplicao na confeco deretratos,havendonotciasdequeesseartistadirigiuseao interior de Minas Gerais, onde ficou famoso porconfeccionar,apreosmdicos,inmerosretratosempastel seco. O hbito de perpetuar a imagem depersonalidades polticas, religiosas, poetas, literatos,msicos, artistas, pessoas detentoras de valoresreconhecidos,homenageandoecelebrandooseupodere suas virtudesmorais ou crists, propiciou o grandedesenvolvimento da retratstica no perodo. NessesentidoaiconografiamaiscomumeraadoImperadore de sua famlia, alm de personalidades importantesdoGoverno ou religiosos e irmos definidores daspoderosas Irmandades Terceiras, homenageados porsua proteo a essas organizaes. Nesse caso sofamosas as galerias de retrato da Santa Casa deMisericrdiadoRiodeJaneiro,daIrmandadeTerceiradosMnimosdeSoFranciscodePaula,daIrmandadedo Carmo, por exemplo, onde se encontram obrasassinadas por Joaquim da Rocha Fragoso e VictorMeirelles,dentreoutros.

    A representao do retrato era praticada por todos osartistas do perodo, de modo geral, independente dognero a que se dedicavam. Na Exposio de 1872destacaramseoRetratodeD.PedroIInaaberturadaAssembleiaLegislativa,dePedroAmrico,eoRetratodo Conselheiro Paulino Jos Soares de Souza, de

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    Victor Meirelles. Em 1879 o nmero de retratosexpostos foiomaior j reunido,chegandoasetentaecinco obras ao todo nesse elenco muitas obrasindicavam apenas o autor, o gnero, mas no opersonagem retratado. Em 1884 a Exposio reuniusessenta e cinco retratos, assinados por artistasnacionais e estrangeiros, mais ou menos conhecidos,Evidenciavase, assim, a importncia do gnero, e oretrato pintado, embora parecesse, em algunsmomentos, ameaado pela fotografia, superava talconcorrnciacomoexpressonicadentrodahistriadaarte, comclientelagarantidanasdiversas camadassociais,especialmentenasmaiselevadas.

    Outro tema muito frequente nas Exposies eram asnaturezasmortas,floresefrutosque,naExposiode1872, registrou vinte e dois trabalhos no gnero.Praticadoespecialmentepelasmulheres,aexemplodeJoana Teresa Alves de Carvalho, Cornlia FerreiraFrana, Emilia Labournnais G. Roque, JulietaAdelaide dos Santos, era tambm um gneroimportanteparamuitosartistas.Em1872foidestaquena Exposio a obra do professor da Academia deMarinha, JosdosReisCarvalho,Vaso de porcelanacom flores doBrasil, em leo sobre tela.Domesmomodo, a obra do pintorAgostinho Jos daMotta foiimportantenasmostrasde1879e1884quandopintouparasitasdoBrasil, obrasque se tornaram refernciasnessegnero.

    Agostinho Jos da Motta foi artista e professor depinturadepaisagem, flores e animaisdurantedezoitoanosnaAIBA.TinhaseaperfeioadonaEuropa,apsconquistaroPrmiodeViagem,em1850,efoionicopensionistanessegnero.Produziuumaobrapessoal,onde as naturezas mortas eram um tema recorrente,almdaspaisagenseretratos.AgostinhoJosdaMottatrouxegrandecontribuioparaadivulgaoda floranacional, ao lado de Jos dos Reis Carvalho, artistaque,natcnicadaaquarela,especialmente,realizouosregistrosdeespcimesbotnicosecostumeslocaisda

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    regiodoCear,comopintoredesenhistadaprimeiraexpedicocientficabrasileira(1859/1861)[11].

    O tema paisagem foi um dos mais importantes nosSales da Academia, desde a organizao inicialprevistaporLeBreton,referendadapelaReformaLinoCoutinho, de 1831, que colocou a pintura em duassesses distintas: a pintura histrica e a pintura depaisagem.AReformade1855, implantadaporPortoalegre,preocupousetambmcomaquesto.Oartistaediretor,porvriasvezes,referiusenecessidadedeprover o pintor de paisagem com conhecimentosinerentesaooficiodopaisagista,exaltandoaexecuodotrabalhoaoarlivre.Adisciplinafoiregidaporseisprofessores, todos com aperfeioamento na Europa:Augusto Mller, Agostinho Jos da Motta, VictorMeirelles, J. G. Grimm, Joo Zeferino da Costa eRodolfoAmoedo.Segundoa filosofiadaReformade14/05/1855, definida por Portoalegre, era necessrioqueoprofessortrabalhassecomosalunosaoarlivre,para que vencesse todas as dificuldades referentes svariaes da luz e da cor, no sitio escolhido. Essaorientao raramente foi respeitada pelos professoresdaAIBA,havendo,noentanto,vriosdocumentosquecomprovam a busca dessa direo, nas aulas doprofessor Zeferino da Costa, alm de J. G. Grimm,cuja passagem foi muito rpida pela Academia, paraque as suas lies realmente frutificassem (1882/1884).

    Nesse gnero, em 1872, Agostinho Jos da MottaapresentouvriasobrasencomendadaspelaImperatriz.Algumasdessasobrasdeveriamserenviadasaosseusparentes na Itlia (Vista da cidade de Saquarema) eoutras permaneceriam no acervo da Princesa Isabel(VistadaCascatadeTerespols,PaisagemdoRiodeJaneiro). O artista foi agraciado com o Hbito daRosa. Ainda nessa categoria o artista Gustavo Jamesapresentouseteobraserecebeuidnticacondecorao,masaMedalhadeOurofoiconferidaaJlioMill,queexpsvriasvistasdoRiodeJaneiro(Lembranadas

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    Paineiras,Vista tiradadaQuintadeSoCristvoeVista de Sapucaia). Nessa exposio, o olharestrangeiro sobre a nossa paisagem tropical veioatravsdaobradeNicolauFachinetti,pintordoDuquede Saxe no Brasil, que apresentou tambm vriasvistas do Rio de Janeiro, pertencentes coleo daPrincesa Isabel, dentre elas A praia de CopacabanatomadadoArcodoLemeeoHospcioD.PedroII.

    Os temas religiosos e as cenas de costumes estavampresentes em vrias obras, nacionais e estrangeiras,maso interessegeral centravase, cadavezmais, nostemas histricos e nacionalistas. O Romantismo, quese vinha observando na literatura, especialmenteatravsdo indianismo,ganhou novo flegonasartesplsticas com os acontecimentos da Guerra doParaguai e com a campanha abolicionista. Assimsendo, o grande tema dessas trs Exposies foi apintura histrica, enfocada especialmente pelasrepresentaes de batalhas. Em1872, foram expostasA batalha do Riachuelo e A passagem de Humait,ambas de Victor Meirelles, e A batalha de CampoGrande, de Pedro Amrico. Sobre essas obrasobservou o Jornal do Comrcio: execuoprimorosadessesquadrosjuntouseoassuntoquedaglria nacional, para ainda mais recomendlos aopblico,quepor issoviumenosatento (exceo feitados profissionais e amadores esclarecidos) algunsoutrosexcelentestrabalhos[12].Anotciarefereseaamadores esclarecidos, isto , remete existncia deum pblico j interessado nas questes da arte, queafinal vinha se formando a partir dos esforosconjuntos das diferentes agncias voltadas para amodernizaoeoprogressodopas.

    AtendnciageraldessesSaleseraaarteconsagradapelogostoacadmico,revelado,ento,noacademismoromntico ou arte pompier. Em 1879, o catlogo daExposio registrava 396 obras inscritas, dentro asquais iriam se destacar as Batalhas de Avahy e deGuararapes e seus autores Victor Meirelles e Pedro

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    Amrico, ambas encomendadas pelo Governo. Essasbatalhas foram expostas acompanhadas por resumoshistricos, procedimento comum na poca. Para aexecuo daBatalha deGuararapes, o artista foi aolugar do acontecimento realizar pesquisas e croquis,mas executou a obra noConvento deSantoAntnio,Rio de Janeiro, trabalhando uma tela de grandesdimenses (4.945 x 9.230).ABatalha de Avahy temigualmente grandes dimenses (5.00 x 10.00), foipintadaemFlorenaelexpostapelaprimeiravez,em1877 [13]. A apresentao simultnea dessas duasobras, de dimenses fora do comum, realizadas nadifcil arte da representao das batalhas, chamou aateno do pblico e deu origem a um debate crticoenvolvendoasobraseosartistas[14].

    Ospintoresdebatalha,comoosderetrato,sonicos,so aqueles que realmente conseguem transmitir arealidadedramticadoepisdiotratadoparaalmdasformasbemdelineadasoudocoloridobemdistribudoe da composio bem estruturada. A obra dos doismaiores pintores nacionais no conseguiu agradar aboapartedopblico,queanalisoucomseveridadeoumesmo com sarcasmo, as referidas telas. As crticasmais mordazes partiram de ngelo Agostini, atravsda Revista Ilustrada. Seus artigos sugeriam umapossvelprefernciadaAcademiapelaobradeVictorMeirelles.Nesseartista,Agostinicriticavaarepetiodetiposnarepresentaodospersonagensdabatalhaeafaltadeaodacena.EmPedroAmrico,sugeriaaexistnciadeplgio,apesardetersadoemsuadefesa,num primeiro momento. Reconhecia o evidenteprogressoqueoartistaalcanara,comparandoseasuaBatalhadeCampoGrandecomadeAvahy,estamuitobemrealizada,comoconvinhaaumgrandeartista.

    Desse debate, muitos artistas participaram, comoBethencourt da Silva,MeloMorais Filho, Rangel deSanPaio,CarlosdeLaet.Ascrticasseestenderampormuito tempo,acompanhadasdecaricaturassugestivassobreasposiesfavorveisoucontrriasaosartistas

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    ou aos crticos pois, ao emitir juzo sobre a questo,quemjulgavatambmerajulgado.Noestavamsendoavaliadas as batalhas, de modo isolado na verdade,avaliavasetambmaAcademiadasBelasArtesetodoo sistema que ela representava, seus mtodos,processos,seusprofessores,suapoltica,assimcomooamadurecimentodasociedadeemrelaoarteesuafunosocial,

    AquestofoiretomadanaExposiode1884,quandoas batalhas foram expostas novamente. Arepresentao simblica da sociedade brasileira iasendoelaborada,nospelasregrasdaAcademia,mastambm fora de seu mbito e dos limites darepresentaoplstica.Acriaoliterria,amsica,oteatro,aimagemdoBrasilqueseiaconstituindo,soboesforododesenvolvimentodoprojetohistorogrficodo IHGB, tudo convergia para a elaborao dossmbolos que identificassem a Nao. No evento de1884, Victor Meirelles foi o grande expositor,reunindo A batalha do Riachuelo, A batalha deGuararapes,AprimeiramissanoBrasil,AflagelaodeCristo,AdegolaodeSoJooBatista,SoJooBatista no crcere, e mais vinte e nove estudos detraje, da srie envios [FIGURA 1]. No entanto, orelatrio daComisso Julgadora informava que, apsoscemdiasdaprimeiraexposioquecobrouingressodo pblico e vendeu catlogo ilustrado das obras, averba arrecadada era insuficiente para a compra dasobras recomendadas e para as premiaes indicadas.Avaliandosedemodocomparativoosdiferentesitens,a Exposio Geral de 1879 superou a de 1884. Em1879, o evento se notabilizou pelo primeiro grandedebate crtico sobre as artes no Rio de Janeiro em1884, com muito pouca representao nas reas dearquitetura e escultura, a Exposio tambm deumargem a debates crticos, pela inscrio deimportantesobras,masfechouumciclonahistnadaAcademia Imperial e da arte brasileira, pois foi altimaExposioGeraldoperodoimperial.

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    Quanto escultura, a Exposio de 1843 apresentouFerdinandPettrich,comoitobustosemaisogrupoACaridadecarregandoduascrianas,paraoprticodaPraia Vermelha, obras muito elogiadas por Portoalegre. Marc Ferrez exps o Busto do Marqus deOlinda, Jos da Silva Santos umBusto doMinistroJosMariadaSilvaMaiaeHonoratoManoeldeLimamaisdoisbustos.Em1845FranciscoChavesPinheiroexps a Figura simblica da libertao do BrasilHonorato Manoel de Lima, Ferdinand Pettrich eZeferino Ferrez participaram com bustos de pessoasno identificadas. Em l850 ainda Pettrich apresentouuma Cabea colossal de Cres, Francisco ElidioPnfiroumacomposiomitolgica,FranciscoChavesPinheiro um retrato e um baixo relevo para fronto.Em 1852 Chaves Pinheiro apresentou a alegoriaColombo pisando a Amrica. Em 1860 ChavesPinheiro terminara a Esttua de Jos Bonifcio e aEsttuadoatorJooCaetano[FIGURA2],fundidasem bronze. Em 1865 o escultor e professor daAcademiaAntnio dePdua eCastro, aps dez anosde trabalho, exps a porta principal da igreja de SoFrancisco de Paula, representando na mesma oconjuntoextraordinriodedecoraotalharealizadonaquelaigreja, peloqualoartistarecebeuaMedalhadeOuro.

    Em1870 a sesso de escultura foi bem representada:Francisco Chaves Pinheiro exps a esttua eqestreSua Magestade em Uruguaiana, considerada pelaComisso Julgadora muito bem proporcionada, commovimentaomuitonatural,oImperadordignamenteretratado: o artista foi agraciado com a Ordem daRosa.Em1875o escultorCndidodeAlmeidaReis,exalunodaAcademiaePrmiodeViagemEuropa,expssuaobraOcrime,erecebeuigualmenteottulodeCavaleirodaOrdemdaRosa.RodolfoBernardelliapresentou dois bustos, recebendo como prmio aSegunda Medalha de Ouro. Bemardelli, em 1875,apresentou tambm vrios trabalhos:DavidvencedordeGolias,gesso,umIndioemrepouso,gesso, e dois

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    bustos.Nessaexposioforamapresentadosaindaseisbustos em mrmore, chegados recentemente dePortugal. Em l884 Rodolfo Bemardelli esteve emdestaque com as obras: Protomrtir So Estvoapedrejado pelos Judeus, gesso A faceira, gessoJesusCristoeaadltera,esboooriginalemgessodogrupo em mrmore, de tamanho natural, exposto naocasio emTurim, Itlia VnusCalipgia, cpia emmmore do original grego que se acha em Npoles.NessaExposiofoiapresentadotambmomodeloemgesso, passado a bronze, da Esttua equestre de D.Pedro I, do escultor francs Louis Rochet (MNBA)[FIGURA3eFIGURA4].

    Desse modo, quanto escultura, essa Exposio foimuitoimportanteejanunciavaodinamismodaobradeRodolfoBemardelli,principalmente.Noentanto,demodogeral,aesculturafoiprdiganarepresentaodebustos, algumas alegorias e apresentoumuito poucasobrasdegrandeporteemaiorcomplexidade,comoaspeas entalhadas a mrmore ou os conjuntoscomplexosparamonumentosempraapblica.Nessecaso, foi marcante a lio tirada da confeco domonumento aD. Pedro I, fundido por Louis Rochet,obra de grandes propores, que suscitou inmerosproblemas a serem resolvidos ao longo da suaelaborao.Destacouse,inegavelmente,aproduodeFrancisco Chaves Pinheiro, professor de esculturaestaturia da AIBA de 1852 a 1884, cuja obracaracterizouse pela preferncia pelo bronze, emboratenha trabalhado tambm o mrmore. No final doperodo,Bemardelliapontarparaousodomrmore,tendncia que se justifica, certamente, pelo seuaperfeioamentorealizadonaItlia.

    AAcademia ImperialdasBelasArtesmonopolizouomovimentoartstico,sejaatravsdoensinoeproduode obras de arte, seja como rgo do governo,consultor ou executivo, de projetos artsticos queconsagravamcomooficiaisogostoeastendnciasdaarte brasileira. Comparando as primeiras Exposies

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    Gerais com as ltimas observase que houve umfortalecimentodoevento,fatoqueseliga,certamente,ao prprio amadurecimento da Academia enquantoinstituioesuarelaocomasociedade.Eraprecisodeixar passar o tempo para formar artistas e mestrescapazesdeparticiparemdo ensino e daproduodasobrasdearte.Importava,ainda,sensibilizaropblicoeos artistas externos Academia, levandoos, com opassar dos anos, a participarem dos Sales comrepresentaocadavezmaisnumerosa.Adiminuioda representao dos artistas estrangeiros, que aprincpio era superior em nmero dos artistasnacionais, vem corroborar o nosso raciocnio sobre aescassezdeartistasnacionaisparticipantesdosSales,emsuafaseinicial.

    O exerccio da crtica aos Sales concentrouseespecialmentenostrabalhosdepinturaemespecialnapinturahistrica,gneroconsideradohierarquicamentesuperioraosdemais,porqueosenglobaa todos.Nemtodososartistasestavamcapacitadosparatantoenodeixaram obras semelhantes s de Pedro Amrico eVictorMeirelles.Asbatalhascumpriramoseupapele,ao serem colocadas em exposio na Academia,mantinham vivo,mais do que nunca, o compromissoassumido pela instituio como centro formador deartistas e de futuros professores. Estes, atravs dapintura histrica, principalmente, reinventavam opassadodoBrasil,exaltavamosfeitoshericos,asuagente, as suas riquezas, consagravam os smbolosnacionais. Para alm desse tipo de representao, oconjunto das obras desses artistas e dos demais queproduziram no perodo, tm igualmente grandesignificao.

    Desse modo, o complexo processo de formao doartistaedaelaboraodaobradeartesecompletanomomentodesuafruiopelopblico.Institudasdesde1840, asExposiesGerais deram incio a umanovafase na vida daAcademia, promovendo a divulgaodas atividades acadmicas e das expresses artsticas

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    resultantesdesseprocesso.DasvinteeseisExposiesGerais promovidas pela AIBA, quatorze foramrealizadas entre 1855 e 1884. No se pode esquecerque esse evento remetia s finalidades didticas emorais da obra de arte. Nessas Exposies poucostrabalhos eramcomprados, a no ser pelo Imperador,que geralmente fazia aquisies. A Comisso deAvaliao do evento, em 1876, registrou o seguintecomentrio: Os homens do Brasil no conhecemaindaovalordeumagaleriadequadros...[15].

    A participao do pblico fez emergir a figura docrtico de arte que, pela anlise das obras, formulavajuzoepropunhaestimativassobreoamadurecimentode um artista, de um estilo, de uma tendncia.Nessesentido,asExposiesGeraisdaAcademialentamenteatraramaatenodopblicoepromoveramodebatecrtico,emgeralcapitaneadoporalgumaopiniomaisespecializada, a exemplo do que fez Portoalegre narevistaGuanabarae,mais tarde,ngeloAgostini naRevista Ilustrada. Esse debate encontrou seu pontoculminante na Exposio de 1879, quando foramexpostas A Batalha do Avahy e a Batalha deGuararapes,dePedroAmricoeVictorMeirelles.Oquestionamento sobre as referidas batalhas era, naverdade, o questionamento sobre a capacidade dosartistas e sobre todo o sistema de ensino que pareciasempreinsatisfatriodiantedosresultadosalcanados.Para almdas batalhas, o grande interesse de artistasestrangeirosnaspaisagensdoBrasil,aoladodasliesdaAcademia,impulsionouarepresentaodessetema,quemereceuumaatenomaiornaAIBAnodecorrerdadcadade1880,graasao impulsodeJ.GrimmedeZeferinodaCosta.

    Tentando compreender as tendncias da arte nesseperodo, vimos que a produo acadmica, desde afundao da AIBA, esteve voltada para oneoclassicismohistricoque,almdecontribuirparaaelevaoticaemoraldasociedade,apesardeorientara arte sob regras firmes de representao, permite

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    certas liberdades de interpretao, e pode serconsiderado uma fase do processo de formao daconcepo romntica.NaEuropa,antesdametadedosculo, o romantismo histrico era uma realidade naInglaterra, na Alemanha, na Frana onde osrevivalismos denunciavam novos interesses. NaFrana, a arte dosdiscpulos deDavid, embora aindaordenada pelas formulas acadmicas, j comea arevelar uma mudana de rumo, tendendo para acomposio mais movimentada, pinceladas maisdensas, vibrao no colorido, contrastes de claroescuro, composies em diagonal, temas dramticos,exticos,noconvencionais.

    Aromantizaodaarteacadmicadeuorigemaoquese pode denominar arte pompier, tendncia queabarcouoperodoaproximadoda segundametadedosculo XIX na Frana. Com a intensificao docolecionismo, movido pelo interesse da burguesiacapitalista, os artistas ligados arte pompier forambem aceitos e a sua produo movimentousobremaneiraomercadodearte.NocasodoBrasil,osprimeirossinaisdessatendnciaromnticarevelaramse no interesse dos mestres franceses pela paisagembrasileira(sendomesmoreservadaumareaespecificade estudo de paisagem, no projeto de Le Breton) epelos inmeros registros tipolgicos de negros endios.AReformade1855,almdeestruturarasbasesdoensino,comouminstrumentoaserviodoprojetonacionalistadogoverno,determinouosparmetrosdaproduo artstica da Academia durante o SegundoReinado.Afilosofiaqueadirigiu,sobonacionalismoromntico de Portoalegre, deu nfase aos temashistricosdopassadodistanteourecente,aosepisdioshericos, a uma interpretao mais dramtica. Ostemas nacionalistas despertaram grande interesse eabsorveram a figura do ndio, comprometida com asrepresentaes simblicas e alegricasmais diversas,voltadasparaatemticanacional.

    Tambma retratstica, integrada ou no emum tema

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    celebrativo,eraogneromaisdivulgado,emespecial,utilizandoaiconografiadoImperadoredafamliareal,que povoara as galerias dos edifcios pblicos,religiosos e os Sales das Exposies Gerais. Astendncias, que observamos na pintura, seja nasgrandes batalhas de Victor Meirelles ou de PedroAmrico,ounosdemaisgnerosrepresentados,dessese de outros artistas, revelam esse academismo detendncia romntica, que serve narrativa dos temasnacionais, de inspirao nativista ou,mais raramente,maisparaofinaldoperodo,inspiraodetendnciarealista,encontrada,porexemplo,naoriginalidadedostemas de Almeida Jnior, enfocando cenas simplesinterioranas do Brasil, compostas ainda na tradioacadmica. No Brasil importante no desprezar ofato de que eram as instituies culturais queordenavamas realizaes.Assim,nocasodaobradearte,aAcademiarepresentavaessecampodepodereas Exposies Gerais o seu verdadeiro campo deconsagrao.

    *CybeleVidalNetoFernandesprofessoradeHistriadaArtedaEscoladeBelasArtesdaUFRJeDoutoraemHistriaSocialpeloIFCS/UFRJ.EsteartigopartedocaptuloEnsinoartsticona AIBA da tese de doutoradoOs caminhos da arte: ensinoartstico na Academia Imperial de Belas Artes, defendida em2001.

    [1]Ver:Comoapreciaraarte,In:Asbelasartes.EnciclopdiadePintura, Desenho e Escultura. Porto: Publicaes e ArtesGrficas,1997,v.10,p.228.

    [2]Sobreotemadogosto,docolecionismoedomercadodeartever:HASKELL,Francis.DeL'artetdugot.Jadisetnagure.Paris:ditionsGallimard,1989HASKELL,Francis.Lanormeet le caprice.Paris: Flammarion, 1986 BOURDIEU, Pierre.Asregrasdaarte.SoPaulo:CompanhiadasLetras,1996.

    [3]OsalunosportugueseseramSimplicioRodriguesdeSeJosdeCristoMoreiraosbrasileiroseramFranciscoPedrodoAmaral,Manoel de Arajo Portoalegre, Souza Lobo, Jos dos ReisCarvalho e Jos da Silva Aruda o francs era Alfonso Falcoz(regressouFranaem1835,ondeestudoucomL.Cogniet).Ver:DEBRET, J. B.Viagem pitoresca e histrica ao Brasil. SoPaulo:LivrariaItatiaiaEditoraLtda./USP,1978.p,128.

    [4]Ver:SANTOS,F.M.dos.AsbelasartesnaRegncia.EstudosBrasileiros.RiodeJaneiro,AnoV,v.9,1942,p.101.

    [5]Ver:PORTOALEGRE,ManoeldeArajo.Academiadeartes.

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    Exposiopblicadoanode1849,Guanabara.RiodeJaneiro,1849,p.6977.

    [6]Soao todo25catlogos,masacoleocompletaestparaser reunida.Sobre aprimeira exposio a referncia a notciaveiculada no Jornal do Comrcio de 16/12/1840 (RepublicadaporAlfredoGalvo nosArquivosda ENBA, Ano X, 1964, p.123126).

    [7]UmfacsimiledoCatlogodaExposioGeralde1879podeser consultado no presente site:http://www.dezenovevinte.net/catalogos/catalogos_1879.htm

    [8]UmfacsimiledoCatlogo IlustradodaExposioGeral de1884 pode ser consultado no presente site:http://www.dezenovevinte.net/catalogos/catalogos_1884_ilust.htm

    [9]Arespeitodosmembroscorrespondentesentre1857e1888,consultar a lista no presente site:http://www.dezenovevinte.net/documentos/membros_correspondentes.htm

    [10] Em 1859 foram apresentadas as seguintes colees: doImperador(21peas),deJ.G.LeGros(40peas),doComendadorSouza Ribeiro (17 peas), do Comendador J. T. Barbosa (15peas), de Francisco Jos Fialho (23 peas). Em 1879: F. A.Steckel (64 peas), E. Callado (21 peas), ColeoNacional/AIBA(73peas).

    [11] Ver: FERNANDES, Cybele V. N. Paisagem e arte. Ainveno da natureza, a evoluo do olhar. In: I ColquioInternacionaldeHistriadaArte CBHA/CIHA.SoPaulo:CBHA/USP,2000,p.280287

    [12]ApudMELLO JNIOR,Donato. As Exposies Gerais naAcademia Imperial das Belas Artes no Segundo Reinado. In:AnaisdoCongressodeHistriadoSegundoReinado(IHGB).RiodeJaneiro,1984,p.204352.

    [13]ArespeitodaprimeiraexposiodaBatalhadoAvahy,verno presente site: Jornal do Commercio: crticas Batalha doAvahyquandodasuaprimeiraexposioem1877

    [14] A esse respeito, ver no presente site o artigo de HugoGuarilha,Aquestoartsticade1879:umepisdiodacrticadeartedoIIReinadoIn:19&20,VolumeI,n.3,novembrode2006.

    [15]Ver:ArquivosdoMuseuD. JooVI/EBA/UFRJ.RelatriodaComissoJulgadoradaExposioGeralde1876,ColeoAlfredoGalvo.