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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ JOCIANE MARIANO ROBETTI A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CONCEITO DE DEFICIÊNCIA E A EXCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ITAJAÍ 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

JOCIANE MARIANO ROBETTI

A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CONCEITO DE DEFICIÊNCIA E A

EXCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

ITAJAÍ 2008

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JOCIANE MARIANO ROBETTI

A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CONCEITO DE DEFICIÊNCIA E A

EXCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Monografia apresentada para conclusão do curso de Psicologia da Universidade do Vale do Itajaí. Orientadora: Profª Dra. Lísia Ferreira Michels

ITAJAÍ 2008

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DEDICATÓRIA A Deus e a meu marido Gustavo, companheiros de todas as horas.

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DEFICIÊNCIAS “Deficiente” é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive sem ter consciência de que é dono do seu destino. “Louco” é quem não procura ser feliz com o que possui. “Cego” é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores. “Surdo” é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão, pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês. “Mudo” é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia. “Paralítico” é quem não consegue andar em direção daqueles que precisam de sua ajuda. “Diabético” é quem não consegue ser doce. “Anão” é quem não sabe deixar o amor crescer. E finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois: “Miseráveis” são todos aqueles que não conseguem falar com Deus.

Mario Quintana (1906-1994)

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AGRADECIMENTOS À Professora Dra. Lísia, braço amigo de todas as etapas deste trabalho;

Ao amado e estimado Gustavo, por sua dedicação, motivação, compreensão

e confiança em mim depositada, o que tornou a jornada senão menor, menos árdua;

À minha irmã Cynthia, que mesmo longe se faz perto;

A todos que, com boa intenção, colaboraram para a realização deste estudo.

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RESUMO

Este estudo aborda o conceito de deficiência e sua trajetória na sociedade, com ênfase para a deficiência mental, buscando compreender os aspectos que diferenciam o deficiente dos demais, bem como seu desenvolvimento e expectativas. O presente trabalho se caracteriza como pesquisa bibliográfica, tendo como objetivo principal abordar o processo de exclusão do deficiente na sociedade, destacando os contextos históricos, culturais e sociais e descrevendo-se as ações que permeiam esse processo. Também foram analisadas às condições que colaboram para que ocorra esta exclusão, assim como aquelas que levam à inserção e à valorização humana da pessoa com deficiência. A pesquisa foi realizada em base de dados da rede mundial de computadores e na biblioteca da UNIVALI. Foram analisados artigos científicos e livros a partir da década de 80 até os dias atuais. Os resultados desta pesquisa indicam que a pessoa com deficiência, vem sendo sistematicamente excluída e tal exclusão está diretamente relacionada ao preconceito decorrente da não aceitação do diferente.

Palavras-chave: Exclusão- Inclusão- Pessoa com deficiência

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SUMÁRIO

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO ....................................................................................... 07 1.1 OBJETIVOS ............................................................................................................. 09 1.1.1 Objetivo geral ........................................................................................................ 09 1.1.2 Objetivos específicos ............................................................................................. 09 1.2 METODOLOGIA ....................................................................................................... 09 1.2.1 Delineamento da pesquisa .................................................................................... 09 1.2.2 Fases da pesquisa ................................................................................................. 10 CAPÍTULO 2 – DEFININDO A DEFICIÊNCIA ............................................................... 11 CAPÍTULO 3 – A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE DEFICIÊNCIA ..... 16 CAPÍTULO 4 – A EDUCAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA ............................. 20 4.1 A EDUCAÇÃO ESPECIAL........................................................................................ 25 4.2 MOVIMENTO INTEGRACIONISTA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA .............................. 29 4.3 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA................ 35 CAPÍTULO 5 – PRECONCEITO E EXCLUSÃO ............................................................ 39 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 50

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CAPÍTULO I - INTRODUÇÃO

A sociedade sempre relacionou a deficiência física ou mental com doença

e/ou invalidez, seja por desinformação ou por preconceito. Além disso, até meados

de 1980 também se via o deficiente como sendo uma pessoa “excepcional”. A partir

da constatação do conceito de excepcional ou de excepcionalidade, começou-se a

perceber que existem diferenças entre o que é ser excepcional e o que é ser pessoa

com deficiência, bem como os diferentes preconceitos decorrentes de tais estados.

O termo excepcional, segundo Ferreira (2004), advém da exceção ou do que

constitui uma exceção. Assim, o indivíduo que em uma avaliação de quociente de

inteligência e de criatividade ficar acima da média normal, é tão exceção quanto

aquele que fica aquém da média. Ambos serão excepcionais, mas o tratamento que

receberão será completamente diferente. O primeiro será considerado como um

gênio, enquanto que o segundo será considerado um retardado, um deficiente

mental. De acordo com Kaplan (1968 apud AMIRALIAN, 1986), o excepcional é o

“indivíduo que se desvia da norma”, ou seja, é o indivíduo que se encontra fora do

que geralmente se considera normal, que é uma exceção, seja de forma positiva ou

negativa. Por norma, de acordo com o dicionário de Psicologia Dorsch (2001), a

definição encontrada nos diz que regra se refere ao comum, ao mais freqüente. Para

se estabelecer o normal, ou a normalidade, são usados testes estatísticos e toda

aquela característica que aparece com maior freqüência em determinado grupo é

estipulada como normal (AMIRALIAN, 1986). Então, as pessoas desviadas da média

passam a ser consideradas anormais ou incapacitadas (TELFORD e SAWREY ,

1988).

Conforme recomendação do Ministério da Saúde (2007), o diagnóstico de

deficiência, ou de superdotação, deve ser feito por equipe multiprofissional,

composta por um assistente social, um médico e um psicólogo, pois tais

profissionais, atuando em equipe, têm condições de avaliar o indivíduo em sua

totalidade, abordando os aspectos culturais, biológicos e psicológicos.

A pessoa que se sobressair nas avaliações, aquela avaliada como pessoa

com altas habilidades ou superdotada, muitas vezes, será negada a condição de

pessoa com necessidades especiais, e a pessoa que não obtiver bom desempenho

na avaliação, poderá ser dita retardada, sendo então considerada como um ser

incapaz, o que frequentemente cerceia a sua capacidade de desenvolvimento e

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envolvimento social, cultural e profissional. Essas atitudes certamente são

decorrentes do preconceito acerca da condição e das concepções a respeito dos

envolvidos, que poderá resultar na segregação e exclusão social da pessoa com

deficiência.

Para Amaral (1994, p.40):

Política tão antiga quanto a humanidade, a segregação apóia-se no tripé: preconceito, estereótipo e estigma. Tentando sintetizar a dinâmica entre eles: um preconceito gera um estereótipo, que cristaliza o preconceito, que fortalece o estereótipo, que atualiza o preconceito... círculo vicioso levando ao infinito(...).

Compreender a deficiência e sua construção social ao longo do tempo

significa compreender a pessoa com deficiência, não só em seus aspectos

desviantes, como também em seu desenvolvimento e expectativas. Com isso,

entende-se que a atuação junto à pessoa com deficiência poderá estar alicerçada

nas possibilidades deste grupo de pessoas, que foram excluídas ao longo da história

e que lutam por um atendimento digno e pela valorização de seu potencial humano.

A relevância desse estudo justifica-se pela compreensão da sociedade em

si, de seus valores ao longo do tempo, seja em busca da inserção e na erradicação

do preconceito e discriminação dirigida às pessoas com deficiência.

O primeiro capítulo apresenta as considerações inicias, apresentando o

tema do trabalho, os objetivos e a metodologia adotada.

No segundo capítulo aborda os aspectos da construção social do conceito e

da definição de deficiência ao longo da história.

O terceiro capítulo apresenta a situação da pessoa com deficiência no

decorrer do tempo.

No quarto capítulo, discutem-se os aspectos históricos relativos ao processo

de educação da pessoa com deficiência.

No quinto capítulo discorre-se sobre preconceito e exclusão da pessoa com

deficiência.

Por fim, apresenta-se as considerações finais do presente estudo.

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1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo geral

Analisar a construção social do conceito de deficiência na literatura, desde a

década de 1980 até os dias atuais.

1.1.2 Objetivos específicos

− Identificar os conceitos sobre a deficiência presentes na literatura

produzida desde a década de 1980 até os dias atuais;

− Compreender o conceito de deficiência ao longo da história da

organização humana em sociedade;

− Identificar historicamente as propostas de educação destinadas às

pessoas com deficiência e adotadas no Brasil, em literatura específica,

a partir da década de 1980 até os dias atuais;

− Descrever historicamente a construção social do processo de exclusão

da pessoa com deficiência;

− Compreender o processo de exclusão da pessoa com deficiência.

1.2 METODOLOGIA

1.2.1 Delineamento da pesquisa

A presente pesquisa é caracterizada como pesquisa bibliográfica que

pretende apresentar uma investigação sobre a história da construção social do

conceito de deficiência.

O presente estudo enfatiza uma organização de idéias originadas de

bibliografias a respeito dos conceitos de deficiência no decorrer da história da

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sociedade humana.

Segundo Tachizawa (1999), nesta categoria a pesquisa bibliográfica pode ser:

− Uma organização coerente de idéias originadas de bibliografias de alto

nível, em torno de um tema específico;

− Uma análise crítica ou comparativa de uma obra, teoria ou modelo já

existente, a partir de um esquema conceitual bem definido;

− O desenvolvimento de uma monografia realmente inovadora, a partir de

fontes exclusivamente bibliográficas.

1.2.2 Fases da pesquisa

De acordo com Gil (1995) o delineamento da pesquisa bibliográfica implica

em considerar as seguintes etapas:

− Determinação dos objetivos.

− Elaboração do plano de trabalho.

− Identificação das principais fontes através da literatura que trata do tema.

− Localização das fontes e obtenção do material.

− Leitura do material.

− Tomada de apontamentos e confecção de fichas.

− Redação do trabalho.

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CAPÍTULO 2 - DEFININDO A DEFICIÊNCIA

A história da organização social humana, quando analisada, nos permite a

percepção de um processo contínuo de criação e recriação de classes e categorias

de pessoas. A sociedade possui uma visão de homem que geralmente tende a um

padrão de normalidade, pressupondo que todos têm as mesmas capacidades e

habilidades, onde aqueles que diferem desse padrão são considerados como uma

exceção (MATTOS, 2000).

Nesse sentido, de acordo com Moscovici (1985), Rodrigues (2001) e Mattos

(2000), um indivíduo é considerado normal quando atende a padrões prévios de

comportamento, tal como aprendizado e rendimento dentro de uma média

quantitativa ou qualitativa; quando não, é considerado pessoa com limitação, ou com

deficiência.

Para Telford e Sawrey (1988) há relativamente pouca padronização da

terminologia da deficiência mental, e em muitos casos, essas são citadas como

excepcionalidades. Os autores reconhecem que a tendência atual é o emprego de

termos mais gentis e menos pejorativos ou carregados de conotação negativa.

Nessa perspectiva, Amiralian (1986) assinala que a pessoa com deficiência

mental vem sendo considerada de diferentes formas, conforme os valores éticos,

sociais, morais e religiosos da sociedade onde se encontra, isto é, relacionado ao

modo como o homem é visto em diferentes culturas. A autora argumenta que a

maneira como a pessoa com deficiência é tratada, expressa a atitude de cada

sociedade e de cada indivíduo dessa sociedade.

De acordo com Mazzotta (1987) existem muitos aspectos que dificultam a

definição de deficiência mental, impostas tanto pela diversidade da terminologia

utilizada quanto pelos diferentes critérios de classificação das deficiências. Assim o

autor alerta que, além da variação do termo genérico, que busca designar o

funcionamento intelectual abaixo da média esperada, há também a variação de

termos específicos usados na identificação dos graus de retardo e/ou déficit. O autor

também afirma que nenhum sistema de classificação é totalmente aceito, sem

restrições, pois tanto a classificação quanto a nomenclatura variam conforme o país

onde são realizadas pesquisas e ensaios a respeito do tema. Como termos

genéricos o autor cita a debilidade mental, sub-normalidade mental, deficiência

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intelectual ou retardo. Como termos específicos, cita que educadores franceses

usam o termo “deficiência intelectual”, enquanto que os americanos usam

“retardamento mental”. No Brasil, a expressão mais usada é “deficiente mental” ou

“pessoa com deficiência mental”, o que parece que tem amenizado o estigma da

expressão usada até o final da década de 1980, aproximadamente, que fazia

referência ao retardo mental, sendo a pessoa denominada por “retardado”.

Amaral (1994) identifica a necessidade de estabelecer uma linguagem

comum, pois entende que, entre tantas, as denominações “deficiência primária” e

“deficiência secundária” seriam as que mais expressariam com propriedade o

conceito envolvido, de forma universal. Deficiência primária engloba o impedimento,

decorrente de dano ou anomalias funcionais e estruturais, e a deficiência

propriamente dita, ou seja, a perda, a seqüela decorrente. O impedimento seria, por

exemplo, um braço paralisado, enquanto que a deficiência seria o não manusear em

conseqüência dessa paralisia, referindo-se então às limitações físicas impostas pela

própria deficiência. A deficiência secundária está ligada à incapacidade, em

decorrência de desvantagem, o que só é possível num esquema corporativo, ou

seja, quando em comparação ou em relação a outros, ao grupo onde se está

inserido; portanto, a deficiência secundária está diretamente associada à construção

social do conceito de deficiência.

De acordo com Amaral (1994, p.17): “Atualmente reconhece-se que, muito

mais que a primária, a deficiência secundária pode vir a impedir o desenvolvimento

do indivíduo, ao aprisioná-lo na rede de significações sociais, com seu rol de

conseqüências, atitudes e estereótipos”.

Na perspectiva de Almeida (2003), uma deficiência se dá quando, em

comparação à maioria, uma pessoa apresenta significativas diferenças, sejam

físicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores inatos ou não (adquiridos),

de caráter permanente e que acarretam dificuldades em suas interações com o meio

físico e social.

Conforme Daniel Offer e Melvin Salshin (apud KAPLAN e SADOCK, 2003)

existem quatro perspectivas de normalidade: como saúde, como utopia, como média

e como processo. Como saúde, seria considerado normal o indivíduo que não

manifestasse qualquer psicopatologia. A normalidade como utopia seria aquela onde

há uma mescla harmoniosa dos diversos elementos do aparato mental, que

resultaria em um funcionamento ótimo. Por normalidade como a média, o parâmetro

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tem base no princípio matemático da curva senoidal, onde a faixa intermediária do

continuum seria o “normal” e as extremidades o “anormal”. Aqui a variabilidade se dá

dentro de contextos totais e não individuais. Ainda dentro das perspectivas de Offer

e Salshin, a normalidade como processo, enfatiza que o comportamento normal é o

resultado final da ação de sistemas entre si, ou seja, o enfoque aqui são as

mudanças e processos, não havendo padrões fixos, mas sim variáveis, de acordo

com a época e a sociedade de convivência.

Batista e Mantoan (2006) esclarecem que em 1980 a Organização Mundial

da Saúde, OMS, em busca de uma compreensão mais global das deficiências em

geral, propôs três níveis que esclarecessem todas as deficiências. São eles:

deficiência, incapacidade e desvantagem social.

A deficiência compreende a perda ou a anormalidade de estrutura ou função

psicológica, anatômica, temporária ou permanente. Estão incluídas a ocorrência de

anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer estrutura do

corpo, inclusive das funções mentais. Representa o externar de um estado

patológico, refletindo distúrbio orgânico e/ou perturbação no órgão.

A incapacidade é a restrição, resultante de uma deficiência da habilidade de

desempenhar uma atividade que se considera normal para um ser humano, e se dá

como conseqüência direta a uma deficiência psicológica, física, sensorial ou outra, e

reflete os distúrbios da própria pessoa nas atividades da vida diária.

A desvantagem social apresenta prejuízo para o indivíduo, sendo este

prejuízo decorrente de uma deficiência ou uma incapacidade, que limita ou impede o

desempenho de papéis de acordo com a idade, sexo, fatores sociais e culturais.

Representa a socialização da deficiência e está relacionada às dificuldades nas

habilidades de sobrevivência.

No ano de 2001, a classificação da OMS foi revista e reeditada, e a partir de

então não há mais a classificação de forma linear dos níveis, mas sim a indicação de

interação entre funções orgânicas, as atividades e a participação social (BATISTA;

MANTOAN, 2006).

De acordo com a OMS (2003), a deficiência está relacionada com a perda

ou a anormalidade de estrutura ou função, estando estas relacionadas a toda

alteração do corpo ou da aparência física, de um órgão ou função desse órgão

decorrente de qualquer causa e, em princípio, significam perturbações no nível do

órgão podendo ou não haver incapacidade em decorrência da deficiência, sendo

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que essa incapacidade representa perturbações ao nível da pessoa com deficiência

(SASSAKI, 2003).

O Manual de Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e

Saúde, CIF (2003), orienta que deve-se considerar os diferentes domínios de uma

pessoa em determinada condição de saúde. O manual visa proporcionar uma

linguagem unificada e padronizada, além de uma estrutura que descreva a saúde e

os estados relacionados a esta, e orienta que devemos considerar os diferentes

domínios de uma pessoa em determinada condição de saúde. Para isso seus

organizadores criaram agrupamentos, considerando o que uma pessoa com

determinada doença ou transtorno pode ou não fazer. O termo funcionalidade

abrange todas as funções do corpo, e incapacidade abrange as deficiências, as

limitações em certas atividades ou restrições na participação das mesmas. Assim,

deficiências são problemas nas funções ou nas estruturas do corpo como um desvio

importante, ou perda igualmente importante. Essa classificação pode ocorrer em

duas sessões diferentes, relacionadas com diferentes funções, ou seja, às funções

do corpo e às funções da mente. Aqui se deve atentar para a referência de corpo

como o organismo humano como um todo, incluindo o cérebro e suas respectivas

funções. O CIF (2003) cita também que uma deficiência pode ser parte ou

expressão de uma condição de saúde, mas não indica necessariamente a presença

de uma doença ou de condição para que o indivíduo seja considerado como doente.

Para a Americam Association of Mental Retardation-AAMR (Associação

Americana de Retardo Mental), em relação à deficiência mental, denominada como

retardo mental, refere-se a uma incapacidade que tem como característica limitações

significativas, tanto no funcionamento intelectual quanto comportamental adaptativo

e esta limitação está expressa nas habilidades sociais, conceituais e práticas, e tem

origem antes dos dezoitos anos (ALMEIDA, 2004).

Conforme relata Almeida (2004), a AAMR sugere a adoção de níveis de

apoio para o desenvolvimento da pessoa. São quatro níveis de apoio e são definidos

da seguinte forma:

− Apoio intermitente, onde o apoio é oferecido de acordo com as

necessidades da pessoa, podendo ser de alta ou baixa intensidade;

− Apoio limitado, cuja característica é a consistência ao longo do tempo,

como nos casos de treinamento em um emprego ou em fases de

transição;

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− Apoio amplo, quando de caráter regular e em tempo ilimitado;

− Apoio permanente, sendo este o nível mais profundo, que se caracteriza

pela constância e alta intensidade e é considerada como vital à

sustentação da vida da pessoa com deficiência.

Por deficiência mental a Americam Association of Mental Déficit - AAMD

(Associação Americana de Déficit Mental) define como um funcionamento intelectual

significativamente inferior à média, associado com limitações no comportamento

adaptativo, e o diagnóstico independe do indivíduo ter um transtorno físico ou mental

coexistente (KAPLAN e SADOCK, 2003).

Conforme Amaral (1994), Saad (2003), Kaplan e Sadock (2003) para o

diagnóstico de deficiência mental são utilizados testes estandardizados de

inteligência, sendo utilizado o termo quociente de inteligência, ou Q.I., para

denominar resultados. Um Q.I. “significativamente abaixo da média” é resultado de

um teste com escore abaixo de 70 pontos, que significa déficit mental.

Almeida (2004) assinala que a maioria das autoridades na área de

deficiência, concorda que a definição e o diagnóstico não devem se basear apenas

em escores de Q.I., mas também em questões ligadas às condutas adaptativas, tais

como: comunicação, cuidados pessoais, vida no lar, habilidades sociais,

desempenho na comunidade, independência na locomoção, saúde, segurança,

habilidades acadêmicas funcionais, lazer e trabalho.

No Brasil, a definição usada acompanha aquela usada pela AAMR. É

pontuada pela autora a falta de discussão em nosso país, tanto em questões que

estabeleçam a denominação quanto em questões que possibilitem o correto

diagnóstico, o que propicia a rotulação por meio de “julgamentos clínicos”. Neste

sentido, vale destacar a necessidade de investimento científico em pesquisas na

área de avaliação, especialmente, na construção e validação de instrumentos que

avaliem as condutas adaptativas (ALMEIDA, 2004).

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CAPÍTULO 3 - A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE DEFICIÊNCIA

Desde os primeiros registros da vida humana em sociedade, todo aquele

que, em razão de sua aparência ou de seu comportamento, não estivesse de acordo

com o esperado, era simplesmente descartado. A criança que apresentasse

características físicas consideradas à época como bizarras, era abandonada ou

morta. Quando mais crescida, e não correspondente ao desenvolvimento mental

esperado, era senão morto, isolado em hospitais específicos, que tinham como

função receber os incômodos, os incapazes, loucos ou imbecis (PESSOTTI, 1984).

Durante a idade Antiga poucos registros a respeito das deficiências são

encontrados. A pessoa com deficiência estava diretamente relacionada à bruxaria e

questões demoníacas. No início da Idade Média até o apogeu do cristianismo pelo

mundo, nem mesmo a mulher “normal” tinha o status de pessoa, tendo pior sorte

ainda a pessoa com deficiência. Apenas após a difusão da ética cristã é que o ser

humano adquiriu alma e ao adquirir alma, de acordo com os preceitos cristãos, uma

pessoa, mesmo que com deficiência, não pode mais ser pura e simplesmente

descartada ou abandonada, pois isso não se faz a um cristão, devendo este então

ser cuidado, por caridade. Porém essa posição acarretará sentimentos e referências

dúbias em relação à pessoa com deficiência. Ao mesmo tempo em que é um enfant

du bom Dieu, uma criança de Deus, sem uma explicação clara sobre sua condição a

não ser a crença de ser portador de misteriosos desígnios divinos, é também um

expiador de culpas, alvo da ira celeste em decorrência dos pecados da humanidade

(PESSOTTI, 1984).

O autor acima citado relata que durante a Santa Inquisição, tudo o que fosse

considerado herege pela Igreja Católica devia ser punido, fosse pela tortura ou pela

morte, não sendo diferente com a pessoa com deficiência. Sua aparência física e

suas dificuldades, fossem no entender ou no falar, podiam ser indícios de possessão

demoníaca e de tramas contra a Santa Igreja. Mais tarde, na Idade Moderna, em

uma sociedade agrícola e artesã, aquele que não fosse capaz de propiciar auxílio,

ou que não tivesse ao menos condições de sub-existência, era considerado como

um fardo, um indesejável. Quando herdeiro de terras e de bens, na Inglaterra, a

pessoa com deficiência tinha como direito um tratamento que lhe garantisse um

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existir digno e seus bens se destinariam ao monarca, pois à pessoa com deficiência

não caberia ter herdeiros. Quando pobre, seu destino era o asilo e o isolamento.

Nesse sentido, Amaral (1994) acrescenta que, assim como a loucura, a

deficiência na Antigüidade oscilou entre dois extremos, ora como sinal da presença

de Deus ora como obra de demônios. Conforme o momento uma pessoa com

deficiência era um sábio, no caso de oráculo cego, por exemplo, em outro, quando

obra de um deficiente mental, era uma aberração, uma anomalia que deveria ser

extirpada da sociedade, por seus comportamentos inadequados, próprios de um

imbecil, e indignos de um ser humano.

De acordo com MENDES (2001), até o início do século XIX, o conceito de

deficiência estava atrelado à condição de incapacidade generalizada. A eliminação e

o abandono eram comuns e não havendo preocupação em separar em quadros

diferenciados, de maior ou menor gravidade. Durante todo o século XIX e o início do

século XX, a pessoa com deficiência era vista como vilã, e em decorrência de suas

taras representava um perigo para a continuidade da espécie e para a vida em

sociedade.

Saad (2003) assinala que, na Idade Média, a pessoa com deficiência tinha

alma, mas não virtudes, sendo considerada possuída por forças sobrenaturais e por

isso exposta a práticas como o exorcismo e flagelação. A autora relata que as

práticas instituídas historicamente traduziam a deficiência como um estado mental

irreversível que justificava a alienação e isolamento social, sendo que o modelo

médico considerava a deficiência, em suas diversas formas, como uma doença,

considerando as pessoas com deficiência mental como oligofrênicos. Somente após

a Revolução Francesa é que se desenvolveu um olhar mais humanista sobre a

deficiência e abrandou o olhar sobre pessoa com deficiência. No final do século XVII

e início do século XVIII a deficiência passa a ser vista como uma condição e não

mais como doença, dando lugar à reabilitação e educação da pessoa com

deficiência.

Porém, na virada do século XX, o movimento da eugenia trouxe novamente

a desumanização e a segregação da pessoa com deficiência, sendo que entre 1900

e 1930, houve a disseminação e generalização da idéia de que pessoas com

deficiência tinham tendências ao crime, o que as tornavam uma séria ameaça à

civilização e à vida em sociedade organizada (KARAGIANNIS et al., 1999).

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Foi através de uma reavaliação dos direitos humanos, como afirma Amaral

(1994), que na segunda metade do século XX, mulheres, índios, crianças e pessoas

com deficiência passam a ser vistas de modo menos maniqueísta e mais humana,

sendo vistos então como pessoas. A autora refere como base dessa nova

perspectiva o documento “Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes”, de

1975, onde se dá ênfase à participação plena e igualitária.

Saeta (1999) aponta que somente a partir da década de 80 que várias

entidades ligadas à causa da deficiência (APAE e Comunidade Pestalozzi, entre

outras) iniciaram movimentos que visavam à integração dos indivíduos com

deficiência na sociedade. Com esses movimentos o que se almejava era mostrar o

deficiente como uma pessoa, independente de sua deficiência. A autora salienta

ainda que na última década do século XX, houve a evolução desses movimentos,

que foram em busca da ampliação de formas de integração, priorizando assim

oportunidades iguais a todos, no sentido de minimizar a exclusão e a discriminação.

Em dezembro de 1975, a Organização das Nações Unidas, ONU, aprovou

em uma assembléia geral a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes1,

DDPD. Por meio desse documento, a ONU reafirmou a fé nos direitos humanos, na

liberdade, na dignidade e no valor da pessoa humana.

A DDPD tem como objetivo proteger a pessoa com deficiência e declara

que:

As pessoas deficientes gozarão de todos os diretos estabelecidos a seguir nesta Declaração. Estes direitos serão garantidos a todas as pessoas deficientes sem nenhuma exceção e sem qualquer distinção ou discriminação com base em raça, cor, sexo, língua, religião, opiniões políticas ou outras, origem social ou nacional, estado de saúde, nascimento ou qualquer outra situação que diga respeito ao próprio deficiente ou a sua família.

Através da DDPD, estão garantidos às pessoas com deficiência os mesmos

direitos civis e políticos que todas as pessoas humanas; direito a medidas que visem

capacitá-las e torna-las autoconfiantes e autônomas; direito a tratamento médico,

psicológico, odontológico, social, educacional e assistência em todas as áreas da

vida; direito de conviver em família, podendo ser esta biológica ou adotiva; direito a

proteção contra a exploração de sua condição e contra toda e qualquer ação de

1 Termo usado à época.

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natureza discriminatória e degradante, além do direito a informação e integração

social.

No início dos anos de 1980, por meio de movimentos sociais e humanitários,

foi possível que mudanças em relação à concepção e ao tratamento de pessoas

com deficiência fossem instituídas. Em decorrência, a partir década de 1990, com a

Declaração de Salamanca, importantes avanços podem ser verificados,

principalmente com relação a educação de pessoas com deficiência, conforme será

discutido no próximo capítulo.

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CAPÍTULO 4 - A EDUCAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Como a mente armazena conteúdos, conhecimentos e experiências é uma

questão que sempre despertou interesse nos profissionais de diversas áreas, desde

os profissionais da educação aos profissionais da área da saúde. Dentre os diversos

filósofos que abordaram o tema, John Locke (1632-1704) talvez tenha sido o que

mais influenciou no pensamento educacional ao longo do tempo. Locke se

interessava essencialmente pelo funcionamento cognitivo, no modo pelo qual a

mente constrói o conhecimento. Este autor acreditava que o conhecimento é

construído por meio da experiência, ou seja, que todo conhecimento tem base

empírica, e numa afirmação semelhante à de Aristóteles, sustentava que a mente de

uma criança, ao nascer, era uma tábula rasa, ou uma folha em branco no qual o

tempo e as experiências iam preenchendo (SCHULTZ e SCHULTZ, 1999).

A educação de uma pessoa advém de situações que se mostram capazes

de transformá-la ou que lhe permitam transformar-se e são determinadas por

diversos fatores, que formam um conjunto complexo. Educar tem como princípio

fundamental o desenvolvimento do ser humano. É um trabalho racional e que deve

procurar favorecer o indivíduo, para que esse possa vir a ser uma pessoa, no pleno

sentido da palavra, não devendo ser diferente diante das deficiências (MAZZOTTA,

1987).

A educação da pessoa com deficiência, no final do século XIX e no seguinte,

era restrita a poucos profissionais. Como pioneiro na Educação Especial de pessoas

com deficiência, cita-se Jean Marc Gaspard Itard (1774-1838), que se dedicou a

métodos que educassem pessoas com deficiência mental. Esse pioneirismo recebeu

influências de Locke e de Condillac, que em seu ensaio “Essai sur l’origine dês

connaissances humaines”, de 1749, faz um esboço de metodologia do ensino, que

veria a se tornar uma didática especial para a pessoa com deficiência mental.

Itard criou o primeiro programa sistemático de Educação Especial, em 1800,

baseado na crença da educabilidade da pessoa com deficiência mental, alicerçado

na Teoria da Tábula Rasa, de Locke. O programa era conduzido pela concepção de

eficiência e deficiência mental como processos de interação adequada ou

inadequada com o ambiente, tanto em nível de sensações quanto no nível da

reflexão sobre idéias oriundas da percepção sensorial. Apesar de Itard ser

considerado o fundador do Ensino Especial, foi seu discípulo, o médico Edouard

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Seguin, o primeiro estudioso a sistematizar, de forma metodológica e clara, idéias

teóricas e técnicas didáticas, diferente de seu mestre que não nos legou

metodologia, mas sim descrição de seus feitos. Seguin, em suas publicações, fazia

severas críticas aos médicos de sua época, final do século XVIII, acusando-os de

falar muito do que conheciam pouco. Seguin considerava que os mesmos não

haviam se dedicado o suficiente às deficiências, principalmente a mental, não tendo

estudado-as, observado-as ou mesmo tentado defini-las após correta observação, e

mesmo assim terem sidos categóricos quanto à impossibilidade de educar uma

pessoa com deficiência. O método educacional de Seguin começa pela educação do

sistema muscular e pelo exercício e educação do sistema nervoso, o que leva a

conclusão de que o estudioso considerava que a deficiência decorre de falta de

treino e da baixa estimulação intelectual ou física. Para Seguin os repertórios

motores, intelectuais e verbais se dão pela evolução ontogenética. Em “Traitement

Moral” (Tratamento Moral) estão listadas técnicas de ensino especiais, assim como

exemplos de aplicações referentes tanto aos níveis quanto as diferentes

deficiências, considerando-se e abrangendo todas as áreas da vida do educando

(PESSOTTI, 1984).

Montessori, em 1898, defendia que o método de ensino não deve limitar-se

apenas à eficácia didática, mas deve buscar alcançar também a pessoa do

educando, seus valores, suas aspirações, auto-estima e autoconsciência. Para tal é

preciso respeitar as peculiaridades individuais e o ritmo, adequando também à

didática. Conforme o autor acima citado, a pedagoga pontuou que por vezes uma

apatia poderia acometer o educador, por este pensar que educa uma personalidade

inferior, o que pode lhe gerar o sentimento de não conseguir educar, o que muitas

vezes pode levar ao abandono de qualquer método, fato ainda hoje observável.

No início do século XX, na América do Norte, a educação escolar tinha

aspectos de segregação, tanto no quesito racial e social quanto no quesito

cognitivo/intelectual. O currículo escolar baseado nas necessidades ou nos níveis de

habilidades era usado de forma rotineira para relegar as crianças pobres e em

desvantagem a ambientes pouco acadêmicos (Karagiannis et al, 1999).

De acordo com Januzzi (1985), durante a colonização do Brasil a educação

popular em si não era algo muito valorizada, e muito menos a educação da pessoa

com deficiência. Em uma sociedade pouco urbanizada e de mão de obra rural, os

déficits intelectuais eram pouco identificáveis e sempre havia uma tarefa da qual a

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pessoa com deficiência era capaz de executar sem muita sofisticação intelectual.

Essa situação era propícia para explicar a falta de preocupação com a educação à

época. Assim, até o fim do Brasil Império, há somente o registro de duas instituições

para pessoas com deficiências: uma na Bahia, especializada, que atendia pessoas

com deficiência mental e outra no Rio de Janeiro, de ensino regular na qual eram

atendias pessoas com deficiências físicas e visuais. A educação da pessoa com

deficiência se dava em algumas alas de hospitais psiquiátricos, uma vez que

crianças comprometidas intelectualmente eram segregadas junto a pacientes deste

tipo de instituição. Por volta de 1905, no Rio de Janeiro, a pedido de alguns médicos

que consideravam pouco recomendável misturar crianças com deficiência com

doentes mentais, uma vez que isso gerava uma convivência promíscua, foi

construído o Pavilhão Bourneville. A construção desse local visava o tratamento e

educação das crianças, uma vez que os médicos acreditavam que o estado mental

das mesmas poderia melhorar com tratamento e cuidados corretos e específicos.

Desde o final do século XVIII existe a preocupação com o sistema de

educação no Brasil, porém essa preocupação não foi homogênea em virtude de

interesses diversos e de diferentes concepções a respeito da sociedade brasileira e

do que se esperava dela. Ao mesmo tempo em que setores da sociedade buscavam

o desenvolvimento e paridade com as grandes metrópoles européias, outros

tendiam a manter a condição de colônia. Porém, já nos anos seguintes a

proclamação da República, é possível perceber a grande influência das idéias

liberais e positivistas sobre o pensamento dos educadores brasileiros que buscavam

difundir idéias pela educação escolarizada, o que demandava uma sistematização.

Para tanto, foi feita uma reforma na educação local, onde se propunha a gratuidade

da escola e a laicidade, onde a educação não está mais nas mãos da Igreja

Católica, como anteriormente, substituindo-se assim a tendência humanista pela

tendência cientificista. Assim, buscava-se a melhoria na instrução e o incremento na

industrialização, pois se entendia que um povo mais educado era um povo mais

desenvolvido, o que possibilitou ao Brasil o desenvolvimento industrial e a

prosperidade (ANTUNES, 1999).

A educação da pessoa com deficiência seguiu a nova tendência, sendo o

médico Ulysses Pernambucano, figura de destaque no campo da educação da

pessoa com deficiência mental. Se a pessoa com deficiência física ou auditiva podia

desempenhar tarefas industriais ou artesãs que garantiam seu sustento e alguma

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renda, por ter suas habilidades cognitivas preservadas, o mesmo não se podia dizer,

à época, da pessoa com deficiência mental. Em 1925, anexo ao Curso de Aplicação

da Escola Normal Oficial de Pernambuco, foi criado por Ulysses Pernambucano a

“Escola para Anormais”, onde surgiram, no Brasil, as primeiras pesquisas sobre as

aptidões da pessoa com deficiência mental. Nessa época aconteceu também a

implantação de cursos que visavam à formação de professores especializados na

educação destas pessoas, conforme pontua Antunes (1999).

A tese “A Classificação de Crianças Anormais”, defendida por Pernambuco,

frisa a necessidade de atendimento médico-pedagógico, sendo que em 1929 foi

organizada por ele a primeira equipe multidisciplinar para trabalhar com tais

crianças, composta por um psiquiatra, um pedagogo e um psicólogo (JANNUZZI,

1985).

Kassar (1998) relata que a história da educação da pessoa com deficiência,

no Brasil, inicia-se no final do século XIX, com a criação de duas instituições

públicas, sendo uma no Rio de Janeiro e outra em Salvador e tem continuidade no

século XX com o surgimento de instituições privadas que buscavam a educação da

pessoa com deficiência mental. A autora cita o Instituto Pestalozzi, criado em 1926

no Rio Grande do Sul, e mais tarde, 1954, o surgimento da APAE, Associação de

Pais e Amigos do Excepcional.

Após a Segunda Guerra Mundial, em meados do século XX, surgiu na

educação a concepção interacionista, onde fatores biológicos hereditários e sociais

são interdependentes e interativos, fazendo com que novas perspectivas sejam

possíveis para a pessoa com deficiência, assinala Saad (2003). Estudiosos como

Piaget, Vygotsky e Luria trazem contribuições importantes para o entendimento do

processo de aprendizagem. Vygotsky dedicou-se, inclusive, ao estudo de crianças

com deficiência, defendendo que estas deveriam ser educadas em ambientes

comuns às demais, sem segregação. Estudiosos da educação, tais como Amiralian

(1986) e Miranda (2003) entre outros, verificaram que o desenvolvimento de uma

criança com deficiência mental segue as mesmas etapas de uma criança normal,

porém de forma mais lenta e sem atingir os níveis mais elevados de pensamento.

Para Amiralian (1986) afirma que no Brasil os modelos de Piaget e Vygotsky

têm sido utilizados na educação da pessoa com deficiência mental em conseqüência

da ênfase ao desenvolvimento e ao aprender a aprender e não somente ao

conteúdo, e sinaliza a necessidade de maiores pesquisas que relacionem o

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desenvolvimento dos processos cognitivos nos diferentes graus de deficiência

mental para adequar ao sistema educacional.

A Federação Nacional das APAES (2007) refere que a APAE iniciou suas

atividades no Brasil em 11 de dezembro de 1954, no Rio de Janeiro, em decorrência

da chegada de uma mãe e membro do corpo diplomático norte-americano, com sua

filha com Síndrome de Down. Ao chegar para cumprir missão no Brasil, a mãe

percebeu que não havia no país uma associação nos moldes daquelas de seu país

de origem, que visa o ensino e a autonomia da pessoa com qualquer deficiência, e

com o auxílio da Comunidade Pestalozzi, fundou a associação e promoveu com isso

ações até então inéditas no Brasil, tal como conscientização e efetivo combate a

discriminação à pessoa com deficiência.

De acordo com Kassar (1998), a preocupação mais efetiva por parte do

Estado brasileiro em relação à educação de qualquer camada menos favorecida da

sociedade brasileira só se deu mais tarde, no início dos anos 60 e essa preocupação

seria decorrente de movimentos educativos e mobilizações populares que se

orientavam pelas idéias do educador Paulo Freire. No início da década de 60,

especificamente pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1961, que o poder

público edita leis que versam claramente sobre a atenção à educação da pessoa

com deficiência. Conforme a Lei Federal nº 4.024/61, foi fixado que todo cidadão

brasileiro tem direito à educação, e esta será dada no lar e na escola. Em relação à

pessoa com deficiência, a Lei refere que a educação deve, sempre que possível,

enquadrar-se no sistema geral de educação, sendo essa uma forma de integrá-los

na comunidade. Ao mesmo tempo em que há a garantia da integração da pessoa

com deficiência no ensino público, é garantido apoio financeiro às instituições

particulares que se disponibilizarem a educar a pessoa com deficiência, desde que

tais instituições preencham os critérios exigidos pelos Conselhos Estaduais de

Educação. Para a autora essa lei imprime uma marca que ainda hoje é percebida

nas políticas e propostas educacionais delineadas para pessoas com deficiência. A

marca seria a ambigüidade, pois ao mesmo tempo em que em que propõe

atendimento integrado na rede regular, delega às instituições particulares a

responsabilidade de parte do atendimento, por meio da garantia de apoio financeiro.

Nesse sentido, Miranda (2003) assinala que a evolução do atendimento

educacional à pessoa com deficiência no Brasil aconteceu diferente das verificadas

na Europa ou nos Estados Unidos. A autora pontua que podemos considerar os

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séculos XVIII e XIX como a era da negligência, em relação à educação de pessoas

com deficiência. A criação do “Instituto dos Meninos Cegos”, em 1854, e do “Instituto

dos Surdos-Mudos”, em 1857, devem ser consideradas marcos fundamentais na

história da Educação Especial, uma vez que abriram espaço para a conscientização

e discussão sobre a educação de pessoas com deficiência. Porém, somente na

década de 1960 aconteceu a expansão do número de escolas que ofereciam ensino

especial. Na década de 1970, o movimento da Integração traz o conceito de

normalização, que indica que à pessoa com deficiência devem ser dadas as

mesmas condições oferecidas à sociedade em que ela vive, porém esse movimento,

diferentemente do que acontecia na Europa, à época, resultou na institucionalização

da Educação Especial, com a instalação de mais de 800 estabelecimentos de

Educação Especial, de administração privada, para pessoas com deficiência.

Como resultado dos movimentos sociais, locais e mundiais de integração, na

década de 1980, o Brasil apresenta mudanças nos mais variados setores da

sociedade. No âmbito da educação, por meio da Constituição Federal de 1988 em

seu artigo 208, ficou estabelecida a integração escolar, onde as pessoas com

deficiência passam a ter atendimento educacional na rede regular de ensino. Na

década de 1990, teve início no Brasil, discussões em torno de um modelo de

atendimento escolar até então inédito no país. Esse modelo, chamado de inclusão

escolar, é uma reação contrária ao processo de integração e busca pelo respeito à

heterogenia, a diferença e à diversidade existente entre os envolvidos no processo

de educação (MIRANDA, 2003).

Na seqüência deste trabalho discorrer-se-á sobre o movimento

integracionista e a Educação Inclusiva, pois considera-se necessário a compreensão

das questões relativas ao processo de inclusão na busca de melhor aplicabilidade e

aproveitamento prático.

4.1 A EDUCAÇÃO ESPECIAL

De acordo com a Constituição Federal do Brasil, de 1988, toda pessoa tem

direito à educação, ficando garantido o atendimento educacional de pessoas que

apresentam necessidades educacionais especiais.

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A educação tem como princípio fundamental promover o desenvolvimento e a

aprendizagem do ser humano, sendo que a aprendizagem pode ser ilimitada,

variando de pessoa a pessoa. A educação escolar tem, por seu caráter intencional,

programado e sistemático, como objetivo o desenvolvimento intelectual, sem

descuidar dos aspectos físicos, emocionais, morais e sociais, o que lhe confere

características de atividade teórico-prática e de natureza organicista, onde há a

dependência mútua de seus elementos integrantes (MAZZOTTA, 1987).

A Educação Especial, de acordo com Almeida (2004), é uma modalidade de

ensino que visa promover o desenvolvimento de pontecialidades de pessoas com

necessidades especiais de ensino e abrange os diferentes níveis e graus do sistema

de ensino, sendo fundamentado em referenciais teóricos e práticos compatíveis com

as necessidades específicas do aluno.

O Ministério da Educação (MEC, 2007) orienta que alunos que apresentam

necessidades educacionais especiais são aqueles que, a priori, apresentam

características de superdotados, ou condutas típicas de síndromes e quadros

psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos, e os portadores de deficiências, sendo

as instituições de ensino e de educação as responsáveis pela adaptação e ajuste

dos currículos às necessidades de tais alunos.

De acordo com o MEC (2007), a Escola Especial é aquela que oferece

atendimento educacional especializado para alunos que apresentam necessidades

especiais e que requeiram atenção individualizada, ajuda e apoio intenso para a

aquisição de habilidades básicas, sendo prioridade o ingresso e a participação de

todo e qualquer aluno em Escolas Regulares.

Define-se por classe especial um espaço físico e modulado adequadamente

para pessoas com necessidades especiais de educação, com professor da

Educação Especial que utiliza métodos, técnicas, procedimentos didáticos e

recursos pedagógicos especializados, assim como material específico no ensino de

conteúdos do Ensino Fundamental. Essas salas foram criadas para atendimento

educacional de alunos cujo comportamento e/ou desenvolvimento dificulte a

aplicação do currículo escolar em classe comum.

A classe especial, conforme afirma Almeida (2004), é uma sala de aula

distribuída na educação infantil e ensino fundamental, preferencialmente, organizada

de forma que constitua um ambiente próprio e adequado ao processo

ensino/aprendizagem do educando com necessidades educacionais especiais. Na

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classe especial, caminhos e meios facilitadores para a aprendizagem dos alunos

com necessidades educacionais especiais são buscados através de uma política de

ação pedagógica, recursos educacionais mais individualizados, sendo o professor

dessas salas um profissional especializado nesse tipo de ensino.

Conforme pontua Vash (1988) ao longo do tempo, desde a sistematização do

processo educativo, é possível observar que a educação pública, passou por

diversos estágios: de nenhuma forma de educação a Educação Especial, e

segregada, e dessa para um esforço de educação integrada. A era da Educação

Especial é resultado de necessidades sociais, que ao mesmo tempo em que

proporcionou algum tipo de educação, aprofundou a distância e a segregação social

da pessoa com deficiência e de seus pares sociais. Os defensores da Educação

Especial, em seu auge, apregoavam uma preocupação tanto com a pessoa com

deficiência quanto com a pessoa referida normal. À pessoa com deficiência, por

meio da Educação Especial, estaria assegurado respeito ao seu próprio ritmo,

material adequado às múltiplas deficiências e barreiras arquitetônicas que pudessem

prejudicar a locomoção, seriam extintas nas escolas destinadas ao aluno com

deficiência. A autora assinala ainda a controvérsia do Ensino Especial, pontuando

que esse tipo de ensino visa também não atrapalhar o andamento do ensino regular,

além de satisfazer a parcela da população que não deseja contato com o diferente.

As classes especiais, onde muitas crianças com deficiência foram

colocadas, sempre esteve na extremidade inferior da educação pública regular,

segundo Karagiannis et al. (1999). Os autores analisam que as classes especiais

não surgiram por bondade ou razões humanitárias, mas sim porque as crianças

atendidas nesse tipo de classe eram crianças indesejadas numa sala de aula

regular, o que contribuiu para a segregação.

Nesse sentido, Michels (2005) pontua que a Educação Especial surgiu, a

princípio, com a institucionalização das pessoas com necessidades especiais em

centros especializados mais em assistência às pessoas com deficiência do que em

educação propriamente dita.

Machado (2005) relata que, por meio de suas pesquisas realizadas em

Escolas Regulares que possuíam classes especiais, foi possível concluir que um

grande número de encaminhamentos para estas classes havia partido de postos de

saúde. As crianças com problemas de comportamento, indisciplina e de

aprendizagem são passadas para a Saúde Pública para que esta, por meio de

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avaliações e diagnósticos técnicos, sejam designadas para as classes especiais. A

autora assinala que esta prática torna um problema escolar e educacional em um

problema de saúde, e que muitas vezes os profissionais da área da saúde trabalham

da mesma forma que os profissionais da escola, ou seja, olhando a criança como

aquilo que deveria ser e não é, e como se o agir da criança fosse motivado apenas

por fatores puramente intrínsecos. A autora pontua ainda que inúmeras vezes o

professor de classe especial é um profissional isolado, e que quando percebe as

potencialidades de uma criança a encaminha para a Saúde para ter um parecer que

corrobore suas impressões, por temer não ser ouvido pelos demais professores do

ensino regular. Este tipo de encaminhamento contribuiu para o aumento de alunos

nas classes especiais brasileiras, bem como contribuiu para o aumento da exclusão

dos diferentes, e daqueles alunos que não acompanham as exigências da classe

regular de ensino.

Para Mazzotta (1993) o desenvolvimento da Educação Especial está

diretamente ligado à preocupação dos educadores em atender as necessidades

especiais de alunos que não são atendidos, ou beneficiados, pelos recursos

educacionais comuns e que precisam de recursos especiais que suplementem, ou

que preencham lacunas decorrentes do sistema comum. O autor ainda pontua que

não se justifica a Educação Especial a não ser como facilidades especiais que não

estão à disposição na escola comum, mas que são essenciais para determinados

alunos. É necessário conhecer melhor, e de forma científica, a clientela a que se

está atendendo, a fim de prover recursos necessários para o bom desempenho

desta modalidade de ensino, pois muitas vezes situações identificadas como de

Educação Especial nada tem de especial ou até mesmo de educação.

A Educação Especial, conforme assinala Sanches et al. (2003), é uma

modalidade de educação escolar que propõe, de forma pedagógica, um conjunto de

recursos e de serviços educacionais especiais e organizados institucionalmente para

apoiar, complementar, suplementar e até substituir os serviços educacionais

comuns, de modo que sejam garantidos a educação formal e o desenvolvimento de

potencialidades do educando que apresente necessidades educacionais especiais,

em qualquer etapa, e modalidade, da educação básica.

Batista e Mantoan (2006) argumentam que a Educação Especial visa atender

às especificidades educacionais do aluno com deficiência, podendo ser

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complementar à educação escolar regular, ou comum, e deve estar disponível em

qualquer nível de ensino.

As mesmas autoras pontuam também que a Escola Especial foi criada como

um substitutivo da Escola Comum no atendimento a alunos com deficiência, uma

vez que era entendido pelos educadores dos anos de 1960, que alunos com

deficiência necessitavam de condições escolares especiais, com currículos e

ensinos adaptados, com menor número de alunos por turma e professores

especializados. Com isso a Escola Especial teve como missão substituir a Escola

Comum na educação da pessoa com deficiência, o que a impediu de construir uma

identidade própria. No início, para fundamentar e organizar o trabalho de Educação

Especial, essas escolas treinavam seus alunos subdividindo-os em categorias

educacionais: treináveis e educáveis, limítrofes e dependentes, sendo que tal

treinamento tinha como objetivo a inserção familiar e social.

4.2 MOVIMENTO INTEGRACIONISTA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Integrar significa tornar inteiro, fazer parte ou juntar partes (FERREIRA,

2004). Dentro desse princípio na década de 1980 surgiu, no Brasil e no mundo, um

movimento que buscava a integração social, onde todos os sujeitos de uma

sociedade deveriam ter tratamento igual, por fazerem parte de um todo, de uma só

sociedade.

Para Ferreira (2003) o termo integrar significa trazer em si, tomar parte,

inserir. A partir da década de 1990, o movimento de Integração Escolar deu espaço

ao movimento de Inclusão Escolar. A seguir, discorre-se sobre Educação de

Integração e Educação Inclusiva, fazendo, quando possível, um paralelo entre

ambas, sob a ótica de diferentes autores.

De acordo com Pacheco (2007), o caminho para a inclusão começou por

meio do questionamento de profissionais de escolas regulares em relação ao papel

e ao trabalho de integração desenvolvido por profissionais e por escolas

integradoras. O trabalho feito junto aos alunos com necessidades especiais de

educação, na época, era considerado fora de contexto, uma vez que não era levado

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em conta o ambiente comum de aprendizagem escolar, além de não envolver

professores do ensino regular na atuação junto ao aluno.

Pacheco (2007) ainda afirma que as principais críticas ao movimento de

Integração se deram pelo fato de muitos profissionais trabalharem sozinhos, e

muitas vezes fora de contexto, de forma isolada, sem levar em conta todo o resto da

escola.

Mazzotta (1987) define integração, como uma medida que refere a uma

relação horizontal das experiências curriculares, sendo que a integração tem como

objetivo que o aluno com deficiência tenha uma visão unificada dos conteúdos a ser

assimilados e unifique seu comportamento em relação aos elementos envolvidos, ou

seja, que o aluno se adapte ao ambiente escolar. Por inclusão o autor entende como

a base da vida social onde duas ou mais pessoas se propõe a, ou que têm que,

conviver, se respeitando reciprocamente, não sendo diferente em questões da

educação.

Werneck (2001) considera que integrar, em Educação Especial, é inserir

parcial e condicionalmente, uma vez que as crianças com deficiência se preparam

em Escolas Especiais (ou em classes especiais) para estarem em Escolas

Regulares, enquanto que inclusão escolar quer dizer inserção total e incondicional,

sem que a criança com deficiência precise se preparar para ir à Escola Regular. Ao

passo que na integração escolar as mudanças visam prioritariamente à pessoa com

deficiência, uma vez que esta teria mais ganhos com a mudança. Já na inclusão

escolar as mudanças visam toda e qualquer pessoa, sem haver um ganhador

específico. Na inclusão a sociedade se adapta para atender as necessidades das

pessoas com deficiência e não ao contrário, havendo assim a defesa do interesse de

todas as pessoas envolvidas.

Conforme aponta Mattos (2000), o termo integração foi associado ao termo

inovação educacional, em decorrência de um encontro em Salamanca, na Espanha,

na década de 1990. O mesmo refere a uma escola mais aberta e flexível, que possa

acolher uma diversidade de alunos com diferentes interesses, motivação e

capacidade de aprender. O processo de integração tem como característica ser um

programa aberto que dá lugar a projetos diversificados, em diferentes centros de

educação, adequando recursos pedagógicos e metodológicos, tanto em relação aos

alunos quanto aos professores. A idéia de integração de pessoas com deficiência

tem como objetivo a integração social, sendo que esta dependerá do processo de

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relações dialéticas constituído desde as primeiras vivências de todas as pessoas

envolvidas no processo. A autora sinaliza que a integração não deve ser de

responsabilidade apenas da pessoa com deficiência, mas de toda a escola. Não

deve ser visto como um processo de adaptação de uma única via, mas sim como um

processo de mão dupla, onde o diferente é aceito em sua diferença.

A Declaração de Salamanca é um documento resultante da Conferência

Mundial de Educação Especial, organizada pela ONU no ano de 1994, na cidade de

Salamanca, na Espanha, e na qual é reafirmado o compromisso com a Educação

para Todos, reconhecendo a necessidade e a urgência de providenciar melhoras na

estrutura do ensino de pessoas com necessidades especiais de educação.

Os membros participantes da Conferência proclamaram que, entre outros

aspectos, toda criança tem direito fundamental à educação, sendo dever dos países

membros e participantes, dar oportunidade de atingir e manter o nível adequado de

aprendizagem; que toda criança tem características, interesses, habilidades e

necessidades únicas e diferentes entre si, sendo que os sistemas e programas

educacionais, ao serem implantados, devem levar em conta a vasta diversidade de

tais características e necessidades; que as pessoas com necessidades educacionais

especiais devem ter acesso à escola regular, sendo que esta deve acomodá-los

dentro de uma Pedagogia centrada na criança e capaz de atender às necessidades

desta.

O documento refere ainda que as escolas regulares que possuem orientação

inclusiva constituem os mais eficazes meios de combate às atitudes discriminatórias,

propiciam a criação de comunidades acolhedoras e auxiliam na construção de

sociedades inclusivas, provendo assim uma educação mais efetiva à maioria das

crianças.

Nesse sentido Michels (2005, p. 473) pontua que: “... a Educação Inclusiva

tem o objetivo de incluir os alunos com necessidades especiais no sistema regular

de ensino, sendo que a instituição deve se adaptar às necessidades dos alunos,

para promover uma educação para todos.”

De acordo com Sassaki (2003), a prática de integração surgiu como meio de

anular a prática de exclusão social a qual as pessoas com deficiência foram

submetidas por séculos. Porém, conforme pontua o autor, o movimento de

integração aconteceu menos por motivos humanitários do que por garantia de não

interferência por parte das crianças com deficiências na educação das crianças do

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ensino regular. Nessa fase os testes de inteligência desempenhavam papel

importante, no sentido de identificar e selecionar apenas crianças com potencial

acadêmico para as salas de aulas regulares, e segregar os menos inteligentes em

classes especiais.

Mrech (2001) analisa que os profissionais da educação e da área de saúde,

após a aquisição de maior conhecimento, passaram a contestar a atribuição de

responsabilidade pelas dificuldades decorrentes da deficiência à própria pessoa com

deficiência. Com essa nova consciência, perceberem então que a integração dessas

pessoas não eram apenas problemas individuais ou da família, mas sim de toda a

sociedade. Como resultado surgiu, um novo paradigma, o da Inclusão, onde se

busca trabalhar, no campo educacional, de uma maneira que inclua tanto alunos

com deficiência quanto alunos ditos normais. Esse paradigma visa substituir a

prática pedagógica concebida sob o viés clínico por outra voltada para o contexto

educacional.

Nesta perspectiva, Karagiannis et al (1999) argumenta que a inclusão não é,

e não deve se tornar, uma maneira de reduzir gastos orçamentários. A inclusão

genuína não quer dizer inserção de alunos com deficiência em salas do ensino

regular sem qualquer tipo de apoio, pois a inclusão deve ser vista como uma forma

de servir adequadamente a todos os alunos.

Nessa direção Miranda (2003) assinala que o efeito real de uma prática

educacional inclusiva não será percebido se esta for encarada como o cumprimento

da lei, ou se for por meio de decreto e portarias que venham obrigar as escolas do

ensino regular a aceitarem os alunos com deficiência ou com necessidades

especiais de aprendizagem. Não é a presença física do aluno com uma, ou mais,

deficiência que irá garantir a inclusão. O que irá garantir a inclusão é a preparação

da escola para trabalhar com alunos diferentes do que aqueles aos quais está

habituada, independente das características e grau de diferença. É possível verificar

na literatura que no cotidiano da escola, os alunos com deficiência e inseridos em

salas de aulas regulares vivem experiências escolares de estrutura precária, que

fazem com que estes se sintam à margem das atividades, uma vez que muito pouco

é feito em relação a adaptação às suas dificuldades e necessidades especiais de

educação.

Para Martins (2003), inclusão é um processo dinâmico, onde não é suficiente

que alunos com deficiência sejam inseridos fisicamente num ambiente comum a

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todos, pois este seria apenas o primeiro passo. A inclusão é, além de tudo, um

processo envolvente, participativo e com amplitude educacional profundamente

social, pois através dele os alunos aprendem a viver suas diferenças, com

experiências que enriquecem mutuamente, possibilitando o desenvolvimento de

atitudes de confiança, intercomunicação, respeito e aceitação do outro, sendo o

elemento básico desse processo a interação entre as diferentes pessoas de um

grupo. Para tanto é importante o estabelecimento de vínculos e de interdependência.

O ensino inclusivo é a prática da inclusão de todos, independendo de

talentos, deficiências, origem cultural, social e econômica, no sentido mais amplo,

devendo acontecer em salas de aulas que promovam o atendimento a todas as

necessidades dos alunos que ali se encontram para aprender, não só questões

curriculares como também em questões sociais de acordo com Karagiannis et al.

(1999).

Os autores ainda defendem que quando a educação se dá de forma inclusiva,

todos ganham. Os alunos com deficiência ganham, pois têm oportunidades de

preparação para a vida em comunidade e, em geral, quanto mais tempo passam em

ambiente inclusivo, melhor é seu desempenho nos âmbitos da educação, social e

ocupacional. As demais crianças passam a ter a oportunidade de aprender umas

com as outras, e com isso desenvolver valores e habilidades necessárias para a

inclusão social na vida adulta. Os professores ganham por melhorarem suas

habilidades profissionais, que são estendidas a todos os alunos. A sociedade ganha

por ter o valor social da igualdade funcionando na prática.

Nessa perspectiva O’Brien e O’Brien (1999) pontuam que os alunos com

deficiência podem contribuir de forma peculiar na construção da comunidade

escolar, pois sua presença em salas de aulas regulares auxilia a todos na percepção

de que, apesar das diferenças, pode haver convivência e colaboração.

De acordo com os autores, entre os benefícios da Educação Inclusiva está a

descoberta de pontos em comum entre aqueles que, à primeira vista, pensam ser

tão diferentes entre si. Outro benefício está na percepção do orgulho em ajudar o

outro a conquistar coisas aparentemente impossíveis, como quando uma criança ou

adolescente ajuda seu colega com deficiência a superar um obstáculo ou a cumprir

uma tarefa, criando valores importantes como promover igualdade. É pela interação

com o outro diferente que aprendemos a superar nossas próprias dificuldades, a

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resolver possíveis problemas de relacionamento, a promover a igualdade e a

combater a segregação.

Atitudes positivas em relação à pessoa com deficiência serão desenvolvidas e

postas em prática quando adultos direcionarem as crianças nesse sentido. Ao

conviver com a diferença, aprende-se a aceitá-la e a respeitá-la, uma vez que

costuma-se não temer aquilo que se conhece.

Para que haja a verdadeira inclusão, é necessário que haja a integração

professor-aluno, analisa Maciel (2000). Para isso, é necessário que o professor da

sala regular, assim como os orientadores pedagógicos, tenham conhecimento a

respeito das deficiências, desde suas características e das necessidades especiais

de educação da pessoa com deficiência, até as potencialidades de cada aluno. É

preciso que o professor tenha ampla visão da área, sendo que esta deve advir de

sua formação acadêmica, e esta deve ser atualizada periodicamente por meio de

cursos, seminários e formação continuada.

Michels (2005, p. 474) analisa que:

Para obter sucesso no processo de inclusão, a instituição deve adaptar-se para melhor atender a todos os alunos, modificando desde o aspecto físico até a metodologia psicopedagógica, oferecendo apoio, treinamento e suporte aos professores, pais e alunos.

A Educação Inclusiva é um sistema que busca considerar as necessidades de

todos os alunos, independendo de suas necessidades. É, na realidade, um

movimento que questiona as práticas de exclusão e que considera as diferenças

como algo inerente ao ser humano (MICHELS, 2005).

O princípio fundamental da Educação Inclusiva, de acordo com as

recomendações da Conferência de Salamanca (1994) é de que todas as crianças

devem aprender juntas, sempre que possível, independendo de quaisquer

dificuldades e diferenças que possam existir entre elas. As escolas inclusivas devem

reconhecer e responder às mais diversas necessidades de seus alunos,

assegurando uma educação de qualidade a todos, através de currículo apropriado,

arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e parceria com a

comunidade. É orientado que dentro das escolas de Educação Inclusiva, as crianças

com necessidades educacionais especiais recebam suporte extra requerido para

assegurar uma educação efetiva.

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Pacheco (2007) argumenta que uma das condições para uma Educação

Inclusiva bem-sucedida é possibilitar o acesso de especialistas que tenham o

conhecimento e a experiência, no sentido de apoiar os professores no atendimento a

todos os envolvidos no processo. Para o autor, as escolas precisam de profissionais

qualificados, e que possam oferecer apoio nas tarefas de identificação, intervenção

e orientação através de técnicas, procedimentos e ferramentas, para possibilitar

melhores ações junto aos alunos.

O autor refere que para haver a inclusão de pessoas com deficiência no

sistema de educação regular, é necessário a existência de serviços de apoio de

especialistas das mais variadas áreas, tais como psicólogos, fisioterapeutas e

pedagogos. Tais serviços devem ter postura colaborativa e trabalhar de maneira

coordenada com os professores, e com isso criar o conhecimento compartilhado,

fator indispensável para enfrentar os mais variados desafios que a inclusão

apresenta.

A inclusão, seja escolar ou social, deve acontecer de modo a garantir à

pessoa com deficiência, interação com o mundo que a cerca e do qual faz parte,

para que possa contribuir com seus pares na construção de relações, onde cada vez

mais, o diferente seja visto apenas como diferente, não como uma anormalidade.

4.3 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA UMA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A educação de um indivíduo, conforme refere Mazzotta (1987), procede de

situações capazes de transformá-lo ou de lhe permitir transformar-se. Procede

também de situações que podem ser informais e não-programadas ou formais e

programadas. As informais e não programadas são aquelas que decorrem da vida

propriamente dita, das interações da vida do homem em sociedade, enquanto que

as programadas e formais são aquelas decorrentes de planejamento, e que se dão

através de instituições sociais, tais como escolas, organizações governamentais e

organizações não-governamentais (ONG). Enquanto a primeira se dá ao acaso e

visa adaptação e sobrevivência, a segunda busca dirigir e orientar o indivíduo para

determinados fins. Em qualquer das situações, a educação implica num

relacionamento entre pessoas, que exercem influência entre si, de forma recíproca.

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O autor refere que a educação tem como princípio fundamental o crescimento do

indivíduo, e busca, por diversas formas, desenvolvê-lo para que este venha a ser

uma pessoa no sentido mais amplo da palavra.

A educação de pessoas com deficiência não é diferente. Ocorre da forma

informal e não-programada por meio das interações com o meio (família, vizinhos e

sociedade em geral), e da forma programada e formal, em Escolas Especiais e em

Escolas de Ensino Regular, por meio de profissionais da educação.

Para Sousa (1996) ensinar é atribuir significado na construção do homem por

meio do diálogo pedagógico, onde a criança, que é aprendiz, interage com o

professor, que é a pessoa que detém o saber sistematizado.

O educador tem por tarefa profissional elaborar e programar ações que

proporcionem ao aluno a aprendizagem e o desenvolvimento, o que faz dele um

profissional que age e não apenas observa, pontua Bartalotti (2004).

O profissional que trabalha na educação de pessoas com deficiência é

denominado, nas classes iniciais, de professores de Educação Especial. Tal

profissional desempenha papel importante, tanto no tocante a educação formal

quanto no tocante a formação informal. Por ser o profissional que mantém contato

de forma mais prolongada junto à pessoa com deficiência, atuando não somente em

questões pedagógicas, mas também em assuntos sociais, familiares e pessoais, sua

formação deve se dar de forma a direcionar o trabalho a ser desenvolvido junto a

pessoas com deficiência e a comunidade escolar em geral (OMOTE, 2001).

De acordo com Magalhães (2001), em decorrência das mudanças sociais e

tecnológicas, houve mudanças na formação de professores e nos paradigmas

tradicionais da educação, mostrando que há um movimento de idéias que defendem

a Educação Inclusiva, o que conseqüentemente leva a ênfase dos aspectos

inclusivos na formação do professor. Ao professor cabe promover a inclusão, e para

tal, em sua formação, deve ter suas competências desenvolvidas para estimular e

propiciar a aceitação da diversidade na comunidade escolar. A autora defende que a

formação deve se dar de forma continuada, e que todo professor deve ser um

multiplicador, atuando junto à equipe pedagógica e demais membros da comunidade

escolar, desempenhando assim papel de conscientizador das diferenças e defensor

da real inclusão.

Saad (2003) pontua que é a partir do reconhecimento das diferenças

existentes entre alunos, decorrentes dos processos individuais de socialização e de

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desenvolvimento, que a escola e seus professores vão potencializar as capacidades

de cada aluno, independente de ser aluno com deficiência ou não. Quando se

conhecem, e se reconhecem as particularidades individuais, se torna possível traçar

planos pedagógicos que respeitem essas individualidades, proporcionando assim

desenvolvimento cognitivo, interpessoal e inserção social, evitando o preconceito e a

exclusão.

Mrech (2001) argumenta ser necessário trabalhar o conceito de deficiência

junto aos professores, educadores especiais ou não. Para a autora não é de

estranhar que crianças em idade escolar sejam vistas pelos professores, do ponto

de vista médico, uma vez que há no modelo de educação atual uma tendência de

aprendizagem contínua, onde não há espaço para as diferenças e as peculiaridades

existentes no processo de aprendizagem, que pode variar de um indivíduo para

outro, sendo essas diferenças muitas vezes tratadas como deficiência ou

insuficiência. Para que haja mudança efetiva no modo de ver e de trabalhar a

educação da criança com deficiência, é necessário um sistema de atualização

constante, além da desconstrução dos mitos em torno das deficiências. A autora

defende que, para a efetivação da Educação Inclusiva, haja a formação de

professores que saibam trabalhar com classes heterogênicas, com conteúdos

curriculares diferenciados e adaptados, que utilizem estratégias de ensino que

melhor se adaptem às necessidades de cada aluno em específico.

Nesse sentido Mendes (2001) refere que na formação de profissionais da

Educação, o desafio é mudar conceitos pré-existentes a respeito das deficiências.

As dificuldades na formação do educador decorrem em parte da natureza complexa

do tema, que a ciência ainda não delimitou, ou mesmo descreveu, de forma

satisfatória, havendo assim várias perspectivas segundo as quais é possível analisar

e descrever a condição de pessoa com deficiência, como por exemplo, pela

abordagem da medicina, da psicologia, da estatística e da sociologia. A autora cita

que um dos erros mais freqüentes nos cursos de formação do educador é o enfoque

em apenas uma das muitas abordagens, o que pode proporcionar um olhar simplista

ou inadequado. A formação na área de Educação Especial deve proporcionar ao

estudante informações sobre as diferentes concepções, o que irá favorecer uma

visão multifatorial, permitindo assim uma construção própria do conceito, porém de

forma ampliada e mais eficaz quando da busca por melhores ações e métodos

educacionais.

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Martins (2003) defende que para educar uma pessoa com deficiência mental,

é necessário aceitá-la em suas características e necessidades educacionais

individuais e buscar, ao mesmo tempo, projetar, ajustar e aplicar programas e ações.

É importante que o educador reconheça que a escola, em seus planejamentos,

devem se adaptar ao aluno com deficiência mental, e não o contrário. A autora

assinala que as deficiências individuais devem deixar de ser vistas como

responsabilidade única do indivíduo que a apresenta, e devem passar a ser vistas

como uma dinâmica interativa entre o indivíduo e o meio onde vive sendo o

educador o responsável pela harmonização do ambiente e do processo educativo.

A formação do professor de Educação Especial deve ser sistemática e

permanente, assinala Freire (2001). Não basta apenas um curso ou uma

capacitação, uma vez que as questões da educação são muitas e, de modo geral,

pautadas por questões cotidianas. É necessário que a formação seja vinculada à

prática e que se dê na ação do professor com a criança, assim como a partir dessas

interações.

Professores que atuam na Educação Especial, além de necessitarem de

formação básica em Pedagogia, devem ter formação específica para atuar junto às

pessoas com deficiência. No caso da deficiência mental, é necessário conhecer

sobre tal para que não se confundam problemas de ensino/aprendizagem

decorrentes destas com o que é barreira para todo e qualquer aluno, tenha ele

deficiência ou não. No caso da formação do professor do ensino regular, esta

também deve abranger o atendimento de alunos com deficiência, pois estes através

da Educação Inclusiva, mais cedo ou mais tarde estarão em uma sala de aula

regular. Para tornar um professor capaz de atender a um aluno com deficiência, o

curso de formação tem de estar inteiramente voltado para práticas que acompanham

a evolução das ciências da educação e que não excluem qualquer aluno (BATISTA;

MANTOAN 2006).

Conforme define Ferreira (2003), incluir não é só matricular o aluno com

deficiência na escola regular, mas sim ver a inclusão desse aluno como um

movimento social. Para tanto é necessário que uma nova cultura educacional seja

desenvolvida, com recursos apropriados e com uma política de formação e

desenvolvimento do profissional educador.

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CAPÍTULO 5 - PRECONCEITO E EXCLUSÃO

Quando se pensa na diferença, associa-se a uma imagem de algo que não se

assemelha ou que não se enquadra em determinado padrão, naquilo que não é

comum e que se distingue entre outros, ou seja, naquilo que não é normal, conforme

assinala Meletti (2003). Quanto mais algo se aproxima do normal, mais aceito é,

enquanto que quanto mais distante, mais repelido e afastado do convívio é. Tanto a

aceitação quanto o afastamento acontecem nas relações humanas. Toda condição

de diferença traz conseqüências para as interações sociais, sendo que estas são

tecidas a partir de esferas particulares e individuais, se estendendo para esferas

sociais mais amplas.

Em decorrência, acontecerá a categorização de pessoas e na atribuição de

normalidade, ou do que se considera como normal e natural. Quando um indivíduo

reconhece determinadas características, o faz dentro de atributos que concebe,

tendo como base categorias formadas ao longo do tempo. Dependendo de como

esse processo foi construído, irá considerar como ameaça ou não ao seu padrão de

normalidade, podendo dar lugar ao estigma e preconceito, resultando na exclusão

daquele que não se enquadra.

Ao buscar entender melhor a relação entre preconceito e deficiência, e o

impacto do primeiro sobre as pessoas com deficiência, principalmente no tocante à

educação escolar, é preciso entender o que torna o outro um estranho, um diferente

(BARTALOTTI, 2004).

Para que a diferença seja identificada, é necessário que haja a eleição de

padrões e critérios que estabeleçam o que é normal, para que depois se defina o

desvio, ou o que é diferente.

Amaral (1995) defende que para falar em diferenças, precisa-se falar de

semelhança e de homogenia, e para entender o que é normal e normalidade, deve-

se entender os critérios que determinam o desvio. A autora cita três critérios, sendo

que o primeiro critério para se constatar a divergência de uma norma, de um desvio,

é o critério estatístico, onde por meio de fórmulas matemáticas se determinam a

média e a moda. A média pode ser definida como um valor que se situa entre o

maior e o menor valor de ocorrência numa curva de valores, enquanto que a moda

se refere ao máximo de freqüência, ou de ocorrência, numa curva de distribuição.

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Num contexto social, a moda tem grande componente histórico enquanto a média

tem valor mais abstrato.

O segundo critério usado pela autora para entender norma e normalidade, é

denominado como estrutural/funcional e refere-se à vocação de elementos da

natureza e de objetos construídos pelo trabalho humano. Ou seja, tanto a

integridade da forma, física nesse caso, quanto a competência da funcionalidade,

capacidade de fazer, define modos de rendimento ou de desvio. Nesta perspectiva,

as alterações orgânicas decorrentes da deficiência, podem acarretar diferenças na

estrutura do corpo, afetando aspectos motores, físicos e sensoriais.

O terceiro critério se refere à comparação entre determinada pessoa, ou

grupo, e o tipo ideal que é construído pelo grupo dominante, que acaba por segregar

aquele que não se encaixa nesse ideal.

Assim, a normalidade se dá dentro de padrões que se repetem e que foram

construídos ao longo da história da sociedade humana, podendo apresentar

variações ao longo do tempo.

Velho (1985, p. 11) observa que:

O problema de desviantes é, no nível do senso comum, remetido a uma perspectiva de patologia (...) tradicionalmente o indivíduo desviante tem sido encarado a partir de uma perspectiva médica preocupada em distinguir o ‘são’ do ‘não-são’ ou do ‘insano’.

Os grupos sociais humanos definem padrões que se enquadram como

normais ou não. Uma pessoa é considerada normal quando está incluída dentro dos

padrões estabelecidos, e quando os transgridem são estigmatizados e excluídos. Os

estigmas são construções históricas, pré-concebidas e com forte influência na

sociedade atual, sendo um constructo social internalizado que define o que é

“normal”. A pessoa estigmatizada está fadada a ocupar lugar de desvantagem e de

descrédito no que concerne às oportunidades que consideram como padrão de

qualidade àquilo que é norma (MATTOS, 2000).

Rodrigues (2001) analisa que na base do preconceito estão as crenças, ou

estereotipia, sobre características pessoais que atribui-se a uma pessoa ou a um

grupo. Por meio de representações mentais de um grupo, ou de seus membros,

tende-se a enfatizar o que há de similar entre as pessoas, e a agir de acordo com

esta percepção, podendo ser de forma positiva ou negativa. Em relação ao termo

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estereótipo, o autor refere que este foi usado pela primeira vez pelo jornalista Walter

Lippman, nos anos de 1930, ao imputar de certas características a pessoas as quais

se atribuem determinados aspectos físicos, de personalidade ou comportamento, ou

seja, um meio de simplificar a visão de mundo.

Nesse sentido, Jodelet (2002, p. 59) assinala que: “O preconceito é um

julgamento, positivo ou negativo, formulado sem exame prévio a propósito de uma

pessoa ou de uma coisa e que, assim, compreende vieses e esferas específicas”.

Nessa formulação, conforme pontua a autora, estão compreendidos vieses e

esferas específicas, pois comporta uma dimensão cognitiva, específica em seus

conteúdos e dimensões afetivas ligadas a valores, assim como comporta uma

dimensão conotativa, ligadas a aspectos positivos ou negativos.

Karagiannis et al. (1999) e Maciel (2000) referem que o processo de exclusão

social de pessoas com deficiência, é verificado na história da sociedade humana

desde muito cedo, sendo estas pessoas marginalizadas e privadas de sua liberdade.

Tais ações, decorrentes de idéias carregadas de preconceito e de falta de

conhecimento, impediam que a pessoa com deficiência tivesse qualquer chance de

desenvolvimento. No passado, foi decidido que algumas pessoas, adultas e

crianças, deveriam ser excluídas da convivência com a comunidade e das salas de

aulas regulares por serem consideradas uma ameaça à sociedade. Esse processo

de exclusão tinha como objetivo ajudar e controlar, porém o controle se sobrepôs à

ajuda, fomentou o preconceito e a discriminação, resultando na exclusão.

Vash (1988) refere que a questão do preconceito ser determinado

biologicamente é plausível de questionamento, se considerado que a espécie

humana, instintivamente, evita e rejeita organismos que possam ameaçar ou

prejudicar a sobrevivência da espécie. Porém não há como afirmar que isso seja um

determinante para o preconceito. A autora cita que outra linha de questionamento é

a perspectiva psicossocial. As pessoas tendem a evitar e a desvalorizar pessoas

que sejam diferentes, sendo que isto acontece principalmente quando a diferença

ocorre no extremo inferior da distribuição da média, ou seja, quando a pessoa

diferente tem a menos alguma coisa que a maioria tem a mais.

Uma pessoa pode ter seu desenvolvimento impedido ao ser aprisionada em

conceitos e significações sociais que trazem como conseqüência o preconceito, o

estigma e o estereótipo, sobretudo se for uma pessoa com deficiência.

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Na perspectiva de Amaral (1994), o preconceito pode ser uma atitude

favorável ou não, e que acontece anterior a qualquer conhecimento, no sentido de

pré-concepção de um ideal. O estereótipo pode ser considerado como a

concretização de um julgamento qualitativo, e tem como base o preconceito. Na

prática, podemos dizer que, em relação à pessoa com deficiência, o preconceito

pode ser na forma de aversão ou de comiseração, e o estereótipo será a

conseqüência disso.

Conforme Crochik (1997), as atitudes preconceituosas estão diretamente

relacionadas às reações diante ao estranho, diante do que não é conhecido, e uma

vez que aquilo que não se conhece parece ameaçador, repele-se. O autor assinala

que o preconceito diz respeito a um mecanismo de defesa desenvolvido pela pessoa

no sentido de defesa diante de ameaças imaginárias. Muitas vezes tais defesas se

tornam tão resistentes que impossibilitam a visão da realidade e o conhecimento do

outro.

Conforme Sartre (1979), para que se possa conhecer a si mesmo, é

necessária a existência do outro, pois é necessário passar por esse outro para que

se tome conhecimento do que é do indivíduo e o que é do seu semelhante. Dessa

forma, a presença do outro se torna personalizante, sendo que, ao mesmo tempo,

passa segurança, pois é no outro que confirma-se a imagem e o existir no mundo.

Nesse sentido, Vayer e Roncin (1989) assinalam que ao se reconhecer no

outro, o indivíduo encontra semelhanças e diferenças. Quando a semelhança é

grande, pode-se entender isso como uma ameaça à existência, sendo que o mesmo

acontece quando a diferença é percebida, porém, neste caso, a nossa tendência é

de não reconhecer o outro como igual ou como um ser não pertencente ao coletivo,

o que gera a não aceitação, ou a negação do outro, do diferente.

Seguindo esta linha de pensamento, o diferente nunca passa despercebido,

e se a diferença for decorrente de uma deficiência, costumeiramente, assusta.

Para Sawaia (2002, p.120): “O homem ao defronta-se com aquilo que não

conhece e domina, perde a capacidade de controle, fica inseguro e muitas vezes

desesperado”.

Conforme Amaral (1995, p. 112) a diferença significativa, no que compete ao

físico ou às habilidades não passa em branco: “... muito pelo contrário: ameaça,

desorganiza, mobiliza. Representa aquilo que foge ao esperado, ao simétrico, ao

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belo, ao eficiente, ao perfeito... e, assim como quase tudo que se refere à diferença,

provoca a hegemonia do emocional.”

Conforme Sawaia (2002, p. 110): “A exclusão não é um estado que se

adquire ou do qual se livra em bloco, de forma homogenia. Ela é um processo

complexo, configurado nas confluências entre o pensar, o sentir e o agir(...)”.

A autora ainda afirma que as pessoas incluídas de algum modo, pois mesmo

quando somos excluídos de uma categoria, somos logo incluídos em outra. A

pessoa com deficiência, quando excluída da categoria de “normalidade”, está

automaticamente incluída na categoria da insuficiência e da privação.

Nesse sentido Castel (2000, p. 18) pontua que:

A primeira razão para se desconfiar da exclusão é justamente a heterogeneidade de seus usos. Ela designa um número imenso de situações diferentes, encobrindo a especificidade de cada uma. Ou seja, a exclusão não é uma noção analítica. Ela não permite conduzir investigações precisas sobre os conteúdos que pretende abranger.

Conforme Castel (2000), pode-se listar três formas de exclusão. A primeira se

dá pela extinção do sujeito ou de uma comunidade específica, como no caso de

banimento e de eliminação. A segunda forma de exclusão é a construção de

espaços fechados que abrigam aqueles que não suportamos em um ambiente

comum a nós. E a terceira forma é aquela em que determinada categoria da

população pode coexistir em uma mesma comunidade que os demais, porém

estarão na categoria de “especiais” tendo assim seus direitos delimitados, bem como

suas atividades sociais.

Wanderley (2002), pontua que excluídos são todos aqueles indivíduos

rejeitados por nossos materiais simbólicos, ou seja, por nossos valores. A autora

pontua que, na verdade, existem valores ou representações e estereótipos

valorizados, que acabam por excluir pessoas, sendo que os excluídos não o são

apenas de forma física, material ou geográfica, mas sim de todas as riquezas

espirituais, o que incorre em exclusão social e cultural.

Amaral (1994) considera que o preconceito em relação à pessoa com

deficiência, recebe grande influência e é perpetuado através de mitos, lendas e

contos literários repassados de geração para geração. Quando um personagem é

punido, é comum que o seja adquirindo uma deficiência, como um mancar ou perda

da visão. Quando se quer descrever uma falha de caráter, esta geralmente vem

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acompanhada de uma descrição física que tráz uma deficiência, como por exemplo,

uma corcunda ou estrabismo. Tais descrições levam ao temor pelo “defeito” físico e

ao sentimento de que a pessoa com deficiência fez por merecer e foi punida, e não

há punição maior que a exclusão.

Nesse sentido Jodelet (2002) considera que uma educação familiar rígida e

autoritária auxilia em determinar o convencionalismo e o desejo de punir aqueles

que vão contra os valores convencionais. Por meio da educação familiar a pessoa

vai construindo representações de sentimentos negativos, de rejeição ao diferente e

criando imagens de bodes expiatórios.

A educação, de acordo com a autora acima citada, determina um aparato

cognitivo que utiliza clichês e estereótipos, sendo generalista em relação às pessoas

de uma mesma categoria, não levando em conta as diferenças individuais. Ou seja,

todas as pessoas, por serem do grupo “pessoas” têm que ser iguais, sem qualquer

diferença, e se por acaso essa ocorrer aquele que se diferenciar será

desconsiderado e posto à margem. No caso da pessoa com deficiência, esta irá se

tornar sinônimo para “pessoa inválida para o trabalho”, sendo merecedora do

isolamento e da exclusão.

Conforme pontua Castel (2000, p. 32):

parece mais fácil e mais realista intervir sobre os efeitos de um disfuncionamento social do que controlar os processos que o acionam, porque a tomada de responsabilidades desses defeitos pode se efetuar sobre um modo técnico, enquanto que o controle do processo exige um tratamento político.

Diante das perspectivas acima analisadas, pode-se concluir que para

compreender a exclusão, é necessário olhar além dela e analisar sua construção

social, uma vez que a exclusão do diferente cumpre o papel de manter a ordem

social imposta pelo modelo econômico vigente.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho apresenta-se a trajetória da construção social do

conceito de deficiência e da exclusão social da pessoa com deficiência. Com este

levantamento histórico busca-se compreender o conceito de deficiência, ao longo da

história da organização humana em sociedade, bem como do processo de exclusão

e de propostas de educação da pessoa com deficiência mental.

Nessa trajetória, foi possível vislumbrar que ao longo da história do ser

humano em sociedade a exclusão do diferente é uma constante. Ao concluir este

trabalho, considera-se que alguns pontos devem ser colocados como de

fundamental importância para a compreensão do preconceito quanto às deficiências

e da exclusão da pessoa com deficiência.

Amaral (1997, p. 110) faz uma pergunta pertinente ao tema: “A diferença é,

com freqüência, imediatamente transformada em desigualdade? É!”.

Assim como a autora, considera-se que pessoas diferentes, ou desviantes,

em sua desigualdade, estão sujeitas a uma hierarquia de mando e obediência em

relação aos demais membros da sociedade onde se encontra inserida.

Neste sentido, Saad (2003) aponta uma questão que foi discutida neste

estudo. De acordo com a autora, cada época proporciona o atendimento à pessoa

com deficiência conforme a concepção que a sociedade tem de deficiência em

determinado momento. Se em um momento, como no período entre a antigüidade e

o século XVII, influenciado pelas idéias de Platão e de Aristóteles, o conceito de

inteligência era tido como algo pré-formado, pré-estabelecido e sem influência do

meio, o conceito de deficiência também era tido como resultado de algo pré-

programado, quanto ao qual não havia muito a ser feito, muito menos educar,

restando apenas o isolamento e a compaixão. Nos dias atuais, o modelo médico

adotado na avaliação (e na determinação) diagnóstica, por vezes propicia atitudes

parecidas, fomentando a exclusão e o “não adianta”. Nesta perspectiva, o

diagnóstico inicial, repassado aos pais de uma criança com deficiência, vem

permeado de impossibilidades quanto ao desenvolvimento da criança. Cabe

ressaltar que um diagnóstico deve estar sempre a serviço de um encaminhamento, e

que visa apoiar a criança no desenvolvimento de suas potencialidades.

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Mesmo em uma sociedade onde se compreende os determinantes

ambientais, ainda é difícil que seus membros reconheçam suas responsabilidades

em relação à exclusão e a inclusão da pessoa com deficiência. No cotidiano, em

uma sociedade permeada pelo preconceito e estereótipo, pode-se constatar atitudes

que formam, e fortalecem barreiras diante da pessoa com deficiência.

No decorrer da história, a pessoa com deficiência foi descrita como um

representante dos pecados dos pais, sendo sua condição uma forma de seus

cuidadores expiarem seus pecados, sendo considerada como estorvo aos seus

familiares e à sociedade em geral, uma vez que era considerada improdutiva e

incapaz, quando não considerada como um criminoso em potencial. Somente no

século XX foi que a pessoa com deficiência adquiriu status de pessoa humana, com

a difusão dos direitos das pessoas com deficiência, embora isto não aconteça de

maneira ampla e irrestrita.

A diferença, tão apregoada e valorizada em termos de individualidade e de

subjetividade, torna-se objeto de rejeição e exclusão quando está relacionada a um

desvio daquilo que é norma, ou “normal”. A diferença, seja estética, intelectual ou

moral, torna-se uma representante do insucesso em relação à normalidade e

constitui-se como fator decisivo dos processos de exclusão.

A educação da pessoa com deficiência teve início no final do Século XIX,

época em que grandes pesquisas e descobertas ocorreram em todas as áreas.

Porém as pesquisas relacionadas à educação de pessoas com deficiência tiveram

início na área da saúde, o que propiciou a percepção da deficiência como falta de

saúde, sendo considerado por muito tempo uma competência da área médica a

determinação da possibilidade de educar ou não à pessoa com deficiência.

Foi após a Segunda Guerra Mundial, por meio da concepção interacionista,

que fatores biológicos hereditários e sociais foram compreendidos como

interdependentes e interativos, que novas perspectivas de educação para pessoas

com deficiência se tornaram possíveis (SAAD, 2003).

Porém as conquistas, tanto sociais quanto educacionais, da pessoa com

deficiência adquiriram maiores proporções a partir de 1975, por meio da Declaração

dos Direitos da Pessoa Deficiente, elaborada e publicada pela ONU. No Brasil, a

pessoa com deficiência tem garantido os direitos civis e o acesso à educação, como

a todo cidadão brasileiro, ou seja, é garantido à pessoa com deficiência o direito à

igualdade.

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Em um primeiro momento, a educação da pessoa com deficiência acontecia

de forma segregacionista e mais no sentido de treinar do que de desenvolver

potencialidades. Com o Movimento de Integração, aconteceram algumas conquistas

no sentido de socialização da pessoa com deficiência; contudo não houve grandes

avanços em termos de educação, por não ter acontecido o devido preparo das

escolas regulares, especialmente no que se refere à formação de professores, para

ensinarem aos alunos com deficiência. As associações e instituições de apoio à

pessoa com deficiência tiveram grande importância na conscientização dos direitos

da pessoa com deficiência, sendo estes locais os primeiros a oferecerem algum tipo

de educação.

A partir dos anos de 1990, os profissionais ligados à educação passaram a

lutar pela Educação Inclusiva. Conforme Mazzotta (1993), Werneck (2001), Michels

(2005), esta proposta visa incluir a pessoa com deficiência não apenas no contexto

escolar, mas também nos mais variados âmbitos sociais. Os autores pontuam que

através da Educação Inclusiva não há apenas um ganhador, mas sim vários, uma

vez que os processos de educação acontecem de forma dinâmica e passam a afetar

todos os envolvidos.

A exclusão dentro da escola é um assunto que há muito vem sendo discutido

e analisado. Arroyo (1997) assinala que, mesmo com o avanço da conscientização

dos direitos à educação básica, ainda não se conseguiu a estruturação da escola

para a garantia desse direito, continuando as instituições escolares seletivas e

excludentes, uma vez que mantém a mesma postura piramidal, que se preocupa

apenas com o domínio seriado e disciplinar de um conjunto de habilidades e

saberes, sem olhar aos seres envolvidos, quer seja o professor ou o aluno.

Para que a inclusão desejada seja realidade, é necessário, por parte dos

responsáveis pelo processo educativo, aprender a respeitar e interagir com a

diversidade e peculiaridade de cada aluno seja ele pessoa com deficiência ou não.

Tal aceitação irá refletir não apenas no âmbito educacional, como também nas

relações sociais em geral.

Desta forma, considera-se fundamental entender o preconceito e a exclusão

da pessoa com deficiência, pois pode auxiliar na promoção de ações que contribuam

para o combate e a denúncia da exclusão social.

Conforme assinala Xiberras (1993), praticamente todas as esferas sociais

parecem submetidas a algum nível de normalidade, sendo estes níveis, ou limites,

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de normalidade que definem o sucesso ou o insucesso em relação ao que é norma,

tornando o insucesso o principal constitutivo dos processos de exclusão. O acúmulo

de insucesso, ou de deficiências, é uma causa certa de exclusão.

O preconceito existente em relação à pessoa com deficiência está

diretamente ligado a não aceitação daquele que é diferente da norma, assim como

idéias pré-concebidas, que sugerem a incapacidade da pessoa com deficiência.

Assim, compreende-se que todos podem apresentar deficiências, afinal todos

possuem desvios da regra ou da norma. As pessoas não são iguais, de forma

uniforme, porém a deficiência física ou mental traz consigo o estigma de

incapacidade e de improdutividade, o que significa ser um fardo em uma sociedade

que prega a produção e a valorização do ter em relação ao ser. A pessoa com

deficiência deixa de ser pessoa humana e passa a ter uma deficiência, que a

diferencia negativamente dos demais.

A deficiência em si não é a causa da exclusão, mas sim o preconceito,

decorrente da falta de relacionamentos que possibilitem conhecimento sobre a

pessoa com deficiências e suas capacidades.

Nessa perspectiva, Amaral (2001) traz um questionamento pertinente: se o

deficiente não foi seu colega de banco de escola, como pode ser seu colega de

bancada de trabalho? Como pode ser seu amigo? Para que haja maior aceitação, é

necessário haver ações de conscientização, o que proporcionará conhecer as

potencialidades da pessoa com deficiência. Tais ações de conscientização, ou de

educação, devem começar na mais tenra idade, para que na vida adulta a aceitação

da pessoa com deficiência, bem como de todas as demais pessoas que não se

enquadram na norma, não seja apenas um gesto politicamente correto, mas sim

uma atitude ética perante a vida e o outro.

Recorro-se a Vash (1988, p. 25) para defender este argumento:

Se a deficiência não pode ser mudada, ela deve ser aceita como qualquer outra realidade, agradável ou não... O que não precisa ser aceito é a incapacitação desnecessária imposta à pessoa deficiente por um mundo desadaptado ou mal projetado(...).

Em relação à definição e nomenclatura na designação da pessoa com

deficiência, verificou-se que não há consenso entre os autores pesquisados,

resultado das diversas dificuldades que se encontra para o diagnóstico de

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determinadas deficiências, especificamente a mental, uma vez que no Brasil há

pouca pesquisa científica no sentido de construção ou mesmo validação de

instrumentos que proporcionem informações fidedignas para tal.

Outro ponto importante desta pesquisa, são as publicações em torno do tema

deficiência estão, em grande parte, voltadas ao estudo da deficiência mental; isto

pode estar associado ao percentual de pessoas com deficiência mental bem acima

das outras deficiências. Conforme pontua Sassaki (2003), durante os últimos trinta

anos tanto a ONU quanto a OMS consideram que, em número estimado, 10% da

população mundial de qualquer país em tempos de paz, sejam de pessoas com

deficiências, sendo que esse índice estimativo pode variar de um país para outro.

Dentro da estimativa, a deficiência com maior número de ocorrência é a mental, em

50% dos casos. A deficiência física está estimada em 20% dos casos, em 15% dos

casos estima-se a deficiência auditiva, em 10% a deficiência múltipla e em 5% a

deficiência visual.

Assim, considera-se que os objetivos foram alcançados, de forma geral e

específica, uma vez que se compreendeu a construção da deficiência, a mental em

particular, e da exclusão da pessoa com deficiência, ao longo da história do homem

em sociedade. Por fim, decorrente de tal compreensão, tornou-se latente o desejo

de, como psicóloga, fomentar ações que possam resultar em relações de respeito à

singularidade e à diversidade humana, características que considero inerente à

condição do ser humano.

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