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A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DO SUJEITO MEDIANTE AS TRANSFORMAÇÕES DA GLOBALIZAÇÃO Márcia Cristina Gomes Molina 1 Este artigo discorre sobre a identidade do sujeito pós-moderno em meio às mudanças contínuas e as novas tecnologias decorrentes do fenômeno da globalização. Inclui as dificuldades com as quais o indivíduo se depara na construção de identidade em virtude da volatilidade da contemporaneidade. Aborda também a dicotomia do sujeito e sociedade e a compressão do espaço-tempo como determinante nas transformações das relações sociais. No desenvolvimento deste, percebe-se o quão a concepção de uma identidade se tornou improvável e o indivíduo como coadjuvante das transposições e transições da “aldeia global”. Palavras-Chave: Espaço Tempo. Globalização. Identidade. Mudanças. This paper discusses the identity of the postmodern subject in the midst of continuous change and new technologies derived from globalization. It includes the difficulties with which the individual faces in the construction of identity because of the contemporaneity volatility. It also discusses the dichotomy of subject and society and the compression of space-time as a determinant in the transformation of social relations. In its developing, we can see how the concept of identity has become an unlikely and the individual as an adjunct of transpositions and transitions of the”global village”. Keywords: Space Time. Globalization. Identity. Changes. ¹ Mestranda em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC – UFABC. Professora universitária na Faculdade Anchieta – Unidade Faculdade Anhanguera de São Bernardo do Campo e nas Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU. – Email: [email protected].

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Revista Científica do ITPAC, Araguaína, v.7, n.1, Pub.6, Janeiro 2014

A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DO SUJEITOMEDIANTE AS TRANSFORMAÇÕES DA GLOBALIZAÇÃO

Márcia Cristina Gomes Molina1

Este artigo discorre sobre a identidade do sujeito pós-moderno em meio às mudançascontínuas e as novas tecnologias decorrentes do fenômeno da globalização. Inclui asdificuldades com as quais o indivíduo se depara na construção de identidade em virtudeda volatilidade da contemporaneidade. Aborda também a dicotomia do sujeito e sociedadee a compressão do espaço-tempo como determinante nas transformações das relaçõessociais. No desenvolvimento deste, percebe-se o quão a concepção de uma identidade setornou improvável e o indivíduo como coadjuvante das transposições e transições da“aldeia global”.

Palavras-Chave: Espaço Tempo. Globalização. Identidade. Mudanças.

This paper discusses the identity of the postmodern subject in the midst of continuouschange and new technologies derived from globalization. It includes the difficulties withwhich the individual faces in the construction of identity because of the contemporaneityvolatility. It also discusses the dichotomy of subject and society and the compression ofspace-time as a determinant in the transformation of social relations. In its developing, wecan see how the concept of identity has become an unlikely and the individual as anadjunct of transpositions and transitions of the”global village”.

Keywords: Space Time. Globalization. Identity. Changes.

¹ Mestranda em Ciências Humanas e Sociais pela Universidade Federal do ABC – UFABC. Professora universitária naFaculdade Anchieta – Unidade Faculdade Anhanguera de São Bernardo do Campo e nas Faculdades Metropolitanas Unidas –FMU. – Email: [email protected].

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1. INTRODUÇÃOA pós-modernidade perpassa por

inúmeras transformações decorrentes daglobalização, fator determinante de mudançacultural na vida do sujeito e de seus hábitos,reestruturando completamente sua visão demundo e a maneira de viver em sociedade.

O advento da globalização, a tecnologiada informação e a nova concepção desociedade estabelecida pela pós-modernidaderemete a reflexões acerca da identidade dosujeito inserido neste contexto, no qual asmudanças são rápidas, repentinas econstantes, impactando na dificuldade daconstrução de sua identidade.

Outra variável significativa a sercontemplada é a compressão do espaço-tempo como fator determinante nareestruturação das relações sociais em seuaspecto cultural e a dificuldade de configuraruma identidade ao sujeito pós-moderno.

Para compreender as questões deidentidade do sujeito e a globalização comoagente de mudanças nas relações sociais, éseguramente relevante averiguar os olharesacerca do sujeito e da sociedade através devárias perspectivas para que se possa refletirsobre as demais temáticas.

2. O SUJEITO E A SOCIEDADE: UM SÓCORPO

Ao ilustrar a relação sociedade esujeito, é imprescindível abordar a dicotomiaentre esses objetos que são concebidos demaneira dual por inúmeros estudiosos dasmais diversas áreas do conhecimento. Aolongo dos anos, o sujeito tem sido alvo dediscussões que primam pela compreensão deseu papel na sociedade. À procura derespostas para sua ação em um contextosocial, vários filósofos, sociólogos,historiadores e demais pesquisadoresdesenvolvem estudos que abordam oindivíduo e as relações sociais.

Elias (1994, p.23 ) descreve assim:Cada pessoa singular está realmente presa;está presa por viver em permanentedependência funcional de outras; ela é umelo nas cadeias que ligam outras pessoas,assim como todas as demais, direta ouindiretamente, são elos nas cadeias que aprendem... São mais elásticas, maisvariáveis, mais mutáveis, porém menosreais e decerto não menos fortes. E é a essarede de funções que as pessoasdesempenham umas em relação às outras,a ela e nada mais, que chamamos de“sociedade”.

O autor retrata a sociedade como algoindissociável do indivíduo, haja vista que asrelações sociais são constituídas por meio dainteração social. A sociedade é composta porum emaranhado de pessoas que entre si,criam, dão vida e consolidam relaçõesinterpessoais e interdependentes, por seguinteformam a sociedade.

Não há sociedade sem indivíduos eum inexiste sem o outro, tanto que cada serhumano é criado por outros, representandoeste, um papel social no qual o indivíduocrescerá dentro dos hábitos e crenças de umafamília e de uma dada região, portanto, comoafirma Elias (1994, p.19) “o indivíduo é partede um todo maior, que ele forma junto comoutros”.

Traçando um paralelo, Bourdieu(1996) trata a ciência como indissociável dateoria na procura de conceber o sujeito comoagente dinâmico e mutável em um universosocial. Compreende as classes sociais comoespaço social que se constitui a partir dasinfluências culturais, econômicas e políticasde seus sujeitos, que modificará suasestruturas objetivas a partir da construção dasubjetividade dos atores ali inseridos, atravésde uma pesquisa inseparavelmente teórica eprática. .

Para Durkheim (1999, p.28), “épreciso, portanto considerar os fenômenossociais em si mesmos, separados dos sujeitos

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conscientes que os concebem; é precisoestudá-los de fora, como coisas exteriores,pois é nessa qualidade que eles se apresentama nós.”. O autor afirma que as estruturassociais estão a priori, independentes da açãodo sujeito, visto que a sociedade é reguladacomo um imenso corpo social no qual cadaum desempenha uma função específica deforma isolada e individual. Realiza o sujeitode forma autônoma e alheia ao universo que acompõe, portanto, contempla o indivíduocomo fruto passivo da sociedade.

Diante desta dualidade e da atualconjuntura da vida contemporânea avaliamosque indivíduo e sociedade, não existemisoladamente e de forma unilateral. Asmudanças que passamos ao longo daexistência são decorrentes da ligação dohomem e a sociedade, do pluralismo e não daindividualidade como em uma grande teia.Em meio a essas reflexões há reconhecimentodo sujeito como flexível, mutável eindissociável da sociedade, na qual assumeinúmeros papéis de acordo com os costumesdo seu meio.

A globalização é um fenômeno quecontribuiu para a questão da identidade quesofreu significativas alterações culturais,desconstruindo a imagem de uma sociedadetradicional, dando vez à sociedade pós-moderna, a qual desponta como híbrida eimune à distância espacial ou temporal,solidificada como uma grande rede virtual.Não há nada que não esteja interconectado, osujeito está interligado como fios entrelaçadosnos quais estão presentes a intersubjetividadee a interdependência na construção de suasrelações sociais e sua identidade.

2.1. A Identidade do Sujeito TransmutadoA teoria social tem atentado a questão

da identidade do sujeito, considerada pormuitos estudiosos em crise devido àavalanche de mudanças decorrentes dafugacidade e do dinamismo das transições e

transformações do mundo global. Frente àincógnita da possibilidade da construção deuma identidade e da improvável concepçãode um modelo estereotipado de sujeito pós-moderno, pesquisadores buscamcompreender o papel do hibridismo nodesenvolvimento desta identidade.

Segundo Hall (2006), a identidade éobjeto da interação entre o indivíduo e asociedade e que o sujeito tem sua essênciainterior, no entanto é a partir da relação comdiversos mundos culturais que sua identidadese estabelece. O autor contempla a identidadedo sujeito em três concepções distintas para areflexão acerca de um novo modelo deidentidade através da articulação do sujeitodo iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeitopós-moderno. O sujeito do iluminismogalgava-se no tradicionalismo, o sujeitosociológico era reconhecido como resultadoda interação das relações sociais e de seuhabitat e o sujeito pós-moderno conceptual damobilidade, imprevisibilidade e insegurançada contemporaneidade.

Em um primeiro momento aidentidade do sujeito, mesmo consideradaextremamente complexa era objetocompreendido como uno, centrado, plenofundamentado nas tradições e na estabilidadede suas relações sociais concomitantes a suaessência já desenhada, compreendida comoalgo preconcebido, inquestionável e referênciaa ser seguida. O iluminismo concebeu osujeito como um indivíduo centrado eunificado, enraizado no tradicionalismo hajavista o conceito de que tudo lhe era pré-estabelecido ao nascer, como verdade edestino irrefutáveis.

Enquanto a concepção de sujeitosociológico era o retrato da complexidade domundo moderno desconstituído daautonomia que lhe foi inferida no iluminismo,pautado na interação do “eu” e das “pessoasas quais lhe eram caras”, que lhe imbuíam osvalores, signos, símbolos que culturalmente

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permeavam o mundo em que habitava semmuitas inconstâncias e que lhe soavaprevisível, impactando em certa estabilidade.

Na pós-modernidade, o sujeito sedepara com outro cenário, solapado por umaavalanche de informações, de transformaçõese repleto de inseguranças e dúvidas, suaidentidade é interpelada constantemente pelaefemeridade dos aspectos da vidacontemporânea, na qual nada é reconhecidocomo inabalável e uno, tudo é líquido.

Líquido é o termo utilizado porBauman (1998) para ilustrar a voracidade coma qual as mudanças impregnam, destroem eimpossibilitam qualquer vestígio deestabilidade e segurança na pós-modernidade.Tudo se tornou provisório e temporário,tornando inviável e inconcebível realizarprojeções de longa duração que tenhamintuito de solidificar qualquer ação longínqua.Não há possibilidade de construir alicercesem terras movediças, nem tão pouco em umasociedade pós-moderna compreender aidentidade do sujeito de forma estanque.Vivemos em uma sociedade fluida, atemporale volátil que desmistifica qualquerpossibilidade de retrocesso à rigidez naconstrução de uma identidade.

Bauman (1998) se tornou impossívelconceber modelos de identidadesestereotipados, haja vista que a estratégia dapós-modernidade é fazer com que aidentidade flua e nunca se fixe. Permeando omovimento da vida contemporânea, aadaptabilidade e um futuro incontrolávelcompõem o estigma de que a identidade dosujeito é maleável, líquida tal qual a água queé incapaz de adquirir um formato.

De acordo com Hall (2006), os antigosparâmetros de identidade que moldavam omundo social estão sendo desconstruídos. Aquestão da identidade do sujeito subenten-dida como um ser unificado e estávelretratada no iluminismo foi substituída pelaconcepção do sujeito pós-moderno

caracterizado como indivíduo fragmentado,mutável e até mesmo “descentrado”,considerando que a facilidade de locomoção,a miscigenação das raças, a nacionalidade, adiversidade e abertura de mercados,contribuem para que o indivíduo assumadiversas identidades em diferentes momentose que são alteradas de forma contingencial.

Essas variáveis contribuem para umnovo pensar acerca do ser, que frente àvolatilidade e a imprevisibilidade dasociedade moderna, concebe o sujeito pós-moderno como resultado de váriasidentidades culturais, tornando-o provisório,variável e sem identidade fixa.

O sujeito da pós-modernidade sofreinfluências da inconstância dessa novasociedade global na qual a efemeridade e oimediatismo permeiam a insegurança da vidacontemporânea e faz com que o sujeito mude,adapte-se e viva em estado de constanteflexibilidade descartando qualquerpossibilidade de construção de identidade.

O sujeito pós-moderno é híbrido ecomo tal não há como rotular, caracterizar oupersonalizar sua identidade, sendo que essase apresenta em um processo contínuo detransformação deliberado pelas relaçõessociais que se encontram globalizadas.

A abordagem de Hall écomplementada por Elias, ao estabelecer asrelações sociais como interdependentes naqual o indivíduo é influenciado pelos traçosde sua criação, instituídos em um primeiromomento pela família, depois pelo país emque vive e pelo contexto no qual está inserido,implicando em novas visões de mundo esendo ressignificada constantemente.

Podemos averiguar que o indivíduointerioriza conhecimentos enraizados pelosseus antepassados e compartilhados ao longode sua trajetória de vida, porém estes sofremmodificações conforme os anos e ocomportamento das pessoas com as quaisconvive.

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Segundo Elias (1994, p.18), “asociedade é o objetivo final e o indivíduo éapenas um meio, o indivíduo é o objetivo finale a união dos indivíduos numa sociedade éapenas um meio para seu bem-estar” eelucida que ao nascer cada indivíduo édiferente em sua compleição natural, mas éinserido na sociedade que a criança setransforma em um ser mais complexo.

Entende-se que a análise sociológica éresponsável por promover o conhecimento doagente social, portanto, singular na construçãode uma sociedade altamente mutável,desmistificando a imagem de sociedadeconstituída ou pré-concebida defendida poralguns autores.

GIDDENS, 1990 apud HALL (2006,p.15) cita o ritmo e o alcance das mudançascomo responsável pela transformação social,particularmente no conceito de tempo eespaço. “À medida que as áreas diferentes doglobo são postas em interconexão umas comas outras, ondas de transformação socialatingem virtualmente toda a superfície daterra.”

Ao analisar o pensamento do autorpodemos fazer alusão à relevância datecnologia da informação neste contexto,sobretudo da Internet que remodelou asrelações sociais, extinguiu a dicotomia detempo e espaço e descentralizou o poder dosveículos de informação e comunicaçãoexistentes. As novas tecnologias e a internetdesenvolveram novas práticas queculminaram em transformações significativasno aspecto social que corroboraram em novasmaneiras de se relacionar e de democratizaçãode conhecimento. Essas mudanças foramdecisivas para que compreendêssemos asociedade em sua contemplação atual. Semlimites, sem fronteiras, sempre em movimentoe em constante estado de inquietação.

Para Muraro (2009, p.47), “[...] cadadescoberta tecnológica ‘maior’ implica umaascensão de vida da humanidade como um

todo, na conquista de formas superiores decultura, que podem chegar até a libertardentro do ser humano novas formas depensamento, novas formas de ser” e afirmaque o desenvolvimento de uma novatecnologia impacta na construção de um novoambiente humano.

A cada nova invenção tecnológicaobserva-se a construção de novas culturas ede novas relações sociais que se estabelecempor meio de novos estímulos a um dossentidos. Na contemporaneidade é atecnologia que preconiza a maneira daspessoas se relacionarem, de agir, de pensar. Éum novo horizonte que vislumbra repaginadovirtualmente.

3.GLOBALIZAÇÃO E AS TRANSFOR-MAÇÕES MULTIFACETADAS

O capitalismo e a globalização sãoapontados como fatores preponderantes naconstrução das relações sociais, decorrentesde um modelo sociológico interativo. Tendocomo base esses parâmetros subentende-seque não há nada absoluto, nem tão poucoimutável, visto que em uma sociedadeglobalizada, exposta às mais adversascircunstâncias, tudo é relativo e a diversidadecultural apresenta-se como enriquecimentouniversal para todos.

Para a compreensão da globalizaçãocomo agente da transposição de fronteiras nodesenvolvimento de um conceito de “aldeiaglobal” como um divisor de águas no aspectocultural, econômico e político da sociedade ereconhecida como um fenômeno docapitalismo que revolucionou irremediável-mente as relações de trabalho, o convíviosocial e o papel do Estado, é necessário traçarum breve cenário para contextualização dahistória até o momento atual para oentendimento do mundo global.

O século XVIII foi marcado porgrandes transformações oriundas da

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Revolução Industrial que é reverenciada comomarco do capitalismo devido à nova forma deviver, esta revolução alterou hábitos ecostumes decorrentes da automação e damassificação do trabalho, perceptíveis nasrelações de trabalho que até então eramestabelecidas apenas no âmbito familiar, noqual as atividades eram realizadas de formamanual e artesanal.

Surge então um novo sistemaprodutivo embasado na fabricação demercadorias e na divisão de trabalho, quedesconsidera as habilidades manuais eprioriza a utilização de maquinários parafazer as mercadorias. O trabalho no mundocapitalista é reconhecido como uma produçãode mercadorias que propõe a ideia dasociedade como um depósito de mercadoriascaracterizado por Karl Marx como umarelação de poder enraizada na desigualdadesocial.

A queda do Muro de Berlim em 1989configura como marco emblemático daglobalização, institucionalizado comosimbologia de uma nova era que desabrochapara um processo de internacionalização daeconomia, com ênfase na tecnologia etransformando uma sociedade antes deprodução em uma sociedade de consumo.

Para Santos (2003, p.26), “aglobalização é a intensificação de relaçõessociais mundiais que unem localidadesdistantes de tal modo que os acontecimentoslocais são condicionados por eventos queacontecem a muitas milhas de distância e viceversa”. Configurando uma nova forma deviver em sociedade, que antes era delimitadapor linhas limítrofes imaginárias, dando lugarao conceito de totalidade, no qual todosinteragem, eliminando por completo qualquerresquício de individualidade.

Ianni (1997, p.7) afirma que “aglobalização do mundo expressa um novociclo de expansão do capitalismo, como modode produção e processo civilizatório de

alcance mundial”. O conceito de civilidadenos remete aos estudos de Elias (1994) nosquais as relações sociais são responsáveis pelacivilidade do indivíduo e que o processocivilizatório não deve ser compreendido comoalgo criado por indivíduos isolados, mas emum processo realizado conjuntamente pelosindivíduos e sociedade. A globalização nestesentido desponta como um processo dereestruturação das relações de trabalho e dasrelações sociais que são institucionalizadaspela interação do indivíduo e a sociedade.

Fazendo uma analogia entre Elias eIanni, é instigante entender o processocivilizatório como um processo em constantetransformação, no qual a cultura identificagrupos, demarca diferenças, constrói padrõese os modifica de acordo com a tecnologia, osavanços do conhecimento científico, a religião,os costumes pertinentes ao meio em que osujeito está inserido. Verifica-se que a culturae a civilização são conceitos atrelados evalorados a partir de tradições compactuadaspor pessoas que vivem em seu meio, formadode crenças, hábitos e costumes, constituído denecessidades coletivas de expressão, ou seja,construção de identidade que é ressignificadaà medida que funções e experiências sãotransmutadas.

A globalização é um fenômenodeterminante na construção dos parâmetrosda sociedade pós-moderna, compreendida demaneira elástica, virtual e abrangente quedescaracterizou padrões paradoxos e linearesque “costuravam” a vida social. Compreende-se esta “aldeia global” como um novoprocesso civilizatório realizado por meio dastransições e modificações de hábitos,costumes, crenças, valores, eliminação dadicotomia tempo e espaço e concebido como orenascer de uma nova era digital,customizada e em constante processo deaprendizagem.

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3.1. A Dualidade do Espaço Tempo naConstrução da Identidade

No mundo contemporâneo o aspectodicotomizante da relação espaço-tempo foidescaracterizado pela globalização queeliminou fronteiras, comprimiu distâncias eredesenhou uma nova maneira de viver. Nãohá espaços que sejam inatingíveis nem tãopouco tempo que possa ser computado, asbarreiras limítrofes até então estabelecidasdão vez a uma nova concepção atemporal ecomprimida do espaço, no qual a identidadedo sujeito pós-moderno se repaginacontinuamente.

Para Hall (2006), “[...] a ‘compressãoespaço-tempo’, a aceleração dos processosglobais, de forma que se sente que o mundo émenor e as distâncias mais curtas [...]”(p.69).A aceleração propiciada pela globalização setraduz em uma necessidade irremediável demudança contínua e a sensação de queestamos sem tempo e que não há mais espaçoslimitados, causam insegurança edesmistificam qualquer indício decentralidade e estabilidade do sujeito dassociedades pré-modernas.

A globalização e todo avançotecnológico contribuiu para que a noção detempo e espaço, antes subentendida como umdos principais pilares da construção deidentidade do sujeito desmoronasse e surgisseum novo sujeito fragmentado, descentrado edestituído de qualquer meio de representação.Tendo em vista que o meio de representaçãoinfere-se a escrita, pintura, desenho, fotografiaque traduzem o objeto em dimensõestemporais e espaciais, que denotam aspectosculturais, que concebem sua identidade.

A volatilidade da contemporaneidadeimpede que esse processo de representação sefixe e regule a identidade do sujeito,desestruturando qualquer probabilidade demodelo de identidade e o sujeito se tornepassivo e impotente frente essatransformação.

Nas sociedades pré-modernas, oespaço e o tempo representavam variáveisprevisíveis e fáceis de serem contempladas ecompreendidas pela sociedade, haja vista queas identidades eram constituídas no espaço eno tempo simbólico. De forma lúdica,delimitadas pelas relações sociais e do localem que o sujeito estava inserido.

Na pós-modernidade, a identidade dosujeito tem sido configurada de formacontingencial, haja vista a ânsia e oimediatismo que representam a vidamoderna, o que faz da versatilidade e dainstabilidade características do sujeito pós-moderno.

Com a globalização e principalmentea Internet, temos a sensação de que o tempose tornou escasso e que o espaço éconquistado em apenas um ‘click’, como se omundo estivesse ao nosso alcance. Ao mesmotempo convivemos com a segurança da perdada identidade e da incompreensão de quemsomos de verdade. À medida que asmudanças solapam nossa vida, construímosnovas relações sociais e novos meios deconvivência, de viver em sociedade. Comoexemplos de identidade a serem seguidas. Areconfiguração e a adaptabilidade sãocaracterísticas da identidade da pós-modernidade e se apresentam como “moeda”da sociedade global.

A globalização comprimiu emodificou a compreensão do espaço-temporeafirmando a improbabilidade de umaidentidade.

A cada revisitação e tentativa deconstrução de identidade, o sujeito se deparacom a aceleração da vida pós-moderna e acerteza de que é improvável estabelecer umaidentidade fixa em um mundo dinâmico,fugaz e imprevisível.

Tem-se a sensação de um estadopleno de urgência, no qual, ao sinalizar umaluz vermelha, é preciso se reconstruir e darvez a um novo mutante, um novo papel, um

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novo personagem, adequado ao contexto e alocalidade que lhe é designado.

Portanto, observa-se a globalizaçãocomo fator determinante no desenvolvimentoda sociedade pós-moderna, recriandoaspectos culturais, eliminando a dualidade deespaço-tempo e concebendo a identidade dosujeito como descentrada frente ao volume deinformações e a velocidade com que asmudanças acontecem na vida global.

6. CONSIDERAÇÕES FINAISA pesquisa em questão contemplou as

mudanças profundas e significativas da vidapós-moderna que resultaram na concepção deum novo sujeito que à luz da globalização eda tecnologia emerge como um indivíduofragmentado, volátil e flexível, exposto a umnovo contexto de vida social. Nestecenário são desconsiderados na construção deidentidade do sujeito as raízes, ou qualquervestígio que leve a contemplação dotradicionalismo inviabilizando qualquerpossibilidade de construção de identidadepadrão.

O sujeito pós-moderno surge comouma incógnita, mutável e efêmero em meio àstransições e transformações do mundocontemporâneo. A instabilidade e ainsegurança permeiam a essência de umindivíduo concebido em um momentohistórico no qual não há espaço para modelospreconcebidos e estereotipados que ao sujeitofragmentado, descentrado e instável.

Diante deste cenário fica ainsegurança e a incerteza do mundo pós-moderno, serão mesmo irrelevantes asexperiências passadas na construção deidentidade do sujeito? A linha tênue quedivide a humanidade antes e depois daglobalização foi realmente o marco detransformações ou estávamos tão ocupadosem meio as nossas reflexões que nãopercebemos o avanço para essa era global?

Enfim, essas e outras questões sãoinquietações a serem exploradas eexplicitadas em outro momento que sejapropícia a continuidade desta pesquisa.

7. REFERÊNCIASBAUMAN, Zygmunt. O mal-estar da pós-modernidade. Trad. Mauro Gama, CláudiaMartinelli Gama. Rio de Janeiro: J. Zahar,1998.

BOURDIEU, Pierre. Razões Práticas: sobre ateoria da ação. Trad. Mariza Corrêa.Campinas: Papirus, 1996.

DURKHEIM, Émili. As regras do métodosociológico. Trad. Paulo Neves e revisão datradução Eduardo Brandão. 2. ed. São Paulo:Martins Fontes, 1999.

ELIAS, Norbert. A sociedade dos Indivíduos.Rio de Janeiro: J. Zahar, 1994.

HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Trad. Tomaz Tadeu da Silva eGuacira Lopes Louro. 11. ed. Rio de Janeiro:DP&A, 2006.

IANNI, Octavio. A Era do Globalismo. 3.ed.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

MURARO, Rose Marie. Os avançostecnológicos e o futuro da humanidade. SãoPaulo: Vozes, 2009.

SANTOS, Boaventura de Sousa. AGlobalização e as Ciências Sociais. São Paulo:Cortez, 2002.