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63 CIÊNCIA DA HOMEOPATIA - LIVRO BÁSICO VII A CONSULTA HOMEOPÁTICA Parágrafos do Organon de Hahnemann A CONSULTA NA HOMEOPATIA METAFÍSICA Em todos os volumes dos livros de Matéria Médica “Homeopatia Metafísica” da Editora Hipocrática Hahnemanniana - há uma lista imensa de sintomas energéticos para cada remédio. A técnica para harmonizar uma pessoa é ouvir os seus sintomas energéticos. Há poucos homeopatas brasi- leiros treinados para ouvir e repertorizar estes sintomas, mas com os livros de “Homeopatia Metafísica” esta tarefa ficou muito mais fácil. Os sintomas energéticos correspondem justamente aos que Hahne- mann relata nos §165, §117 e §153 do Organon: QUANDO O MEDICAMENTO NÃO ABRANGE OS SINTOMAS INCOMUNS, PECULIARES E DISTINTOS §165 "Se, porém, não houver exata semelhança entre os sintomas do medicamento escolhido e os sintomas incomuns, peculiares, distintivos (característicos) do caso de doença e se o medicamento apenas corresponde à doença nos seus estados gerais, não exatamente descritos e indefinidos (náusea, debilidade, dor de cabeça etc.) e se não houver, entre os medica- mentos conhecidos, nenhum homeopaticamente apropriado, o artista da cura não deve esperar, então, nenhum resultado imediatamente favorável do emprego deste medicamento homeopático." SINTOMAS RARÍSSIMOS - AS IDIOSSINCRASIAS §117 "Fazem parte destes últimos, as chamadas idiossincrasias, que são entendidas como constituições físicas particulares, as quais embora sejam sadias sob outros aspectos, possuem uma tendência a desenvolver um estado mais ou menos mórbido mediante certas coisas que, em muitas outras pessoas não parecem produzir a mínima impressão ou mudança. A ausência

A Consulta Homeopática

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Page 1: A Consulta Homeopática

63CIÊNCIA DA HOMEOPATIA - LIVRO BÁSICO

VIIA CONSULTA HOMEOPÁTICAParágrafos do Organon de Hahnemann

A CONSULTA NA HOMEOPATIA METAFÍSICAEm todos os volumes dos livros de Matéria Médica “Homeopatia

Metafísica” da Editora Hipocrática Hahnemanniana - há uma lista imensa de sintomas energéticos para cada remédio. A técnica para harmonizar uma pessoa é ouvir os seus sintomas energéticos. Há poucos homeopatas brasi-leiros treinados para ouvir e repertorizar estes sintomas, mas com os livros de “Homeopatia Metafísica” esta tarefa ficou muito mais fácil.

Os sintomas energéticos correspondem justamente aos que Hahne-mann relata nos §165, §117 e §153 do Organon:

QUANDO O MEDICAMENTO NÃO ABRANGE OS SINTOMAS INCOMUNS, PECULIARES E DISTINTOS

§165 "Se, porém, não houver exata semelhança entre os sintomas do medicamento escolhido e os sintomas incomuns, peculiares, distintivos (característicos) do caso de doença e se o medicamento apenas corresponde à doença nos seus estados gerais, não exata mente descritos e indefinidos (náusea, debilidade, dor de cabeça etc.) e se não houver, entre os medica-mentos conhecidos, nenhum homeopaticamente apropriado, o artista da cura não deve esperar, então, nenhum resultado imediatamente favorável do emprego deste medicamento homeopático."

SINTOMAS RARÍSSIMOS - AS IDIOSSINCRASIAS§117 "Fazem parte destes últimos, as chamadas idiossincrasias, que

são entendidas como constituições físicas particulares, as quais embora sejam sadias sob outros aspectos, possuem uma tendência a desenvolver um estado mais ou menos mórbido mediante certas coisas que, em muitas outras pessoas não parecem produzir a mínima impressão ou mudança. A ausência

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A CONSULTA HOMEOPÁTICA

de impressão em algumas pessoas é apenas aparente. Visto que, produzem essas alterações, assim como todas as demais em vários outros estados mórbidos, por vezes perigosos, ao comerem mexilhões, caranguejos ou ovas de barbo ou após terem tocado as folhas de certas espécies de sumagre, etc.

É assim que a princesa Maria Porphyrogeneta restabeleceu a saúde de seu irmão, o Imperador Alexius, que sofria de desmaios, borrifando-o com água de rosas na presença de sua tia Eudoxia (Hist. byz. Alexias lib. 15 S. 503. ed. Posser) e Hostius (Oper. III S. 59) constatou que o vinagre de rosas é muito eficaz contra desmaios."

SINTOMAS EVIDENTES, SINGULARES E INCOMUNS COMO SINTOMAS-CHAVE NA ESCOLHA DO SIMILLIMUM DE

DOENÇAS AGUDAS§153 "Na procura do meio de cura homeopático específico, isto é,

nessa confrontação do conjunto característico dos sinais da doença natural contra a série de sintomas dos medicamentos existentes a fim de encontrar um cujas potências mórbidas artificiais correspondam, por semelhança, ao mal a ser curado, deve-se, seguramente, atentar especialmente e quase que exclusivamente para os sinais e sintomas mais evidentes, singulares, incomuns e próprios (característicos) do caso de doença, pois na série de sintomas produzidos pelo medicamento escolhido, é principalmente a estes que devem corresponder sintomas muito semelhantes, a fim de que seja mais conveniente à cura."

Os sintomas mais gerais e indefinidos: falta de apetite, dor de cabeça, debilidade, sono in quieto, mal‑estar etc., merecem pouca atenção devido ao seu caráter vago, se não puderem ser descritos com mais precisão, pois algo assim geral pode ser observado em quase todas as doenças e medicamentos.

Associando o raciocínio destes dois parágrafos com os SINTOMAS ENERGÉTICOS DA HOMEOPATIA METAFÍSICA, encontra-se a harmo-nização da pessoa com grande facilidade.

Quando Hahnemann relata os sintomas incomuns, raros e distintos é como se ele estivesse falando dos sintomas energéticos, que são incomuns, raros e distintos. Muitas vezes, um único sintoma energético é suficiente para detectar o simillimum da pessoa:

“Apaixonado e cheio de amores durante a lua cheia”: Antimonium.“Sensação de carregar o mundo nas costas”: Natrum muriaticum.“Sensação de que o coração está pulsando na cabeça”.

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JOSÉ ALBERTO MORENO / ELIETE M. M. FAGUNDES

Assim, todo aquele que desejar se aprofundar na Homeopatia de mais alta hierarquia deve se concentrar em estudar a “Homeopatia Metafísica” ou homeopatia dos sintomas energéticos, que são raros e incomuns.

A CONDUTA DO HOMEOPATA§83 "Este exame individualizador de um caso de doença, para o qual

só darei aqui instruções gerais e do qual o observador da doença somente conserva o que for aplicável em cada caso, não requer do artista da cura mais do que imparcialidade, sentidos perfeitos, atenção na observação e fidelidade ao traçar o quadro da doença."

COMO SE DESENVOLVE A CONSULTA§84 "O doente se queixa do desenvolvimento de seus males; as

pessoas que o rodeiam relatam suas queixas, seu comportamento e o que perceberam nele. O médico vê, ouve e observa com os demais sentidos o que há nele de alterado ou fora do comum.

Registra exatamente tudo o que o paciente e seus amigos lhe disse-ram, com as mesmas expressões por eles utilizadas.

Se possível, permanece em silêncio deixando-os falar sem interrom-pê-los, a menos que se desviem para outros assuntos1.

Logo no início do exame, o médico lhes pede apenas que falem de-vagar, a fim de que ele possa acompanhar o relato, anotando o necessário.

Cada interrupção perturba o encadeamento do pensamento do nar-rador, posteriormente não lhe ocorrendo de novo tudo exatamente como ele pre tendia dizer a princípio."

COMO REGISTRAR OS SINTOMAS§85 "A cada informação do doente ou dos acompanhantes, ele passa

para a outra linha a fim de que os sintomas sejam todos colocados separa-damente, um abaixo do outro.

Ele pode acrescentar a cada um deles aquilo que lhe fora relatado de maneira vaga no princípio, mas que depois se torna mais claro."

COMO ANALISAR E DETALHAR OS SINTOMAS REGISTRADOS§86 "Depois que os narradores tiverem terminado de falar o que pre-

tendiam, o médico acrescenta a cada sintoma, separadamente, informações mais precisas, averiguadas da seguinte maneira: ele lê, um por um, todos os sintomas relatados e faz perguntas específicas sobre cada um deles; por

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A CONSULTA HOMEOPÁTICA

exemplo: quando ocorreu tal fato? Foi antes de usar o atual medicamento? Durante o período de uso? Ou somente alguns dias após deixar de usá-lo? Que tipo de dor, que sensação precisamente se apresentou nesta região? A dor era intermitente, isolada? Ou era contínua, ininterrupta? Por quanto tempo? A que horas do dia ou da noite e em que posição do corpo se agra-

vava ou cessava? Em que consistia, exatamente, este ou aquele acontecimento ou cir-

cunstância descritos? (descrever com palavras claras)."

OS PORMENORES DO CASO§87 "E assim, o médico toma conhecimento dos pormenores mais pre-

cisos acerca de cada uma das informações sem, contudo, sugerir a resposta através da formulação da pergunta1 ou, então, fazer com que o doente tenha que responder simplesmente sim ou não. Ao contrário, este será induzido a afirmar ou negar algo inverídico, incerto ou realmente existente, seja por comodismo, seja para agra dar o entrevistador, devendo, obrigatoriamente, resultar daí um fal so quadro da doença e um tratamento inadequado.

Por exemplo, o médico não deve perguntar: “Porventura esta ou aquela circuns tância também não ocorreram?”.Igualmente não se pode permitir incorrer no erro de fornecer sugestões que induzam a uma resposta ou informação falsa."

COMO OBTER MAIS INFORMAÇÕES§88 "Se, durante estas informações espontâneas, nada se mencio nou

em relação às várias partes ou funções do corpo ou acerca da disposição psíquica, o médico pergunta o que mais ele recorda que se relacione a estas partes e funções, assim como às condições psíquicas e mentais do doente1, usando, porém, expressões gerais, a fim de que o informante seja obrigado a se expressar mais parti cularmente acerca de si. 1Por exemplo:

Como estão as evacuações? E a eliminação de urina? Como é seu sono diurno e noturno? Como está seu psiquismo, seu humor, sua memó ria? Como estão o apetite e a sede?

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JOSÉ ALBERTO MORENO / ELIETE M. M. FAGUNDES

Sente algum gosto na boca? Que alimen tos e bebidas lhe apetecem mais? Quais os que mais o repugnam? Sente o sabor, natural de cada um ou um outro gosto estranho? Como se sente após comer e beber? Tem algo a dizer sobre a cabeça, membros ou abdômen?"

A CONSULTA - EXEMPLOS DE PERGUNTAS AO DOENTE§89 "Ao doente, principalmente, que se deve dar crédito (exceto nas

doenças simuladas) no que diz respeito às suas sensações - através deste depoimento espontâneo e meramente induzido.

Depois que o doente tiver fornecido ao médico informações adequadas e completado, razoavelmente, o quadro da doença, é permitido, sendo mes-mo necessário, ao médico (quando ele achar que não está suficientemente informado) fazer perguntas mais precisas e mais particulares1. Por exemplo:

FEZES:Qual a frequência de suas evacuações? Qual a consistência exata das fezes? A evacuação esbranquiçada era constituída de catarro ou fezes? Sentia dores ao evacuar? Exatamente em que local e de que tipo? O que o paciente vomitou? O mau gosto da boca é pútrido, amargo, ácido ou de que tipo? Antes, durante ou depois de comer ou beber? Em que período do dia era pior? Que gosto apresentam as eructações? URINA:A urina fica turva somente após alguns minutos ou enquanto é ex-pelida? Qual sua cor imediatamente após a eliminação? Qual a cor do sedimento? SONO:Como o paciente se comporta ou se manifesta enquanto dorme? Geme, queixa-se, fala ou grita? Sobres salta-se? Ronca ao inspirar ou expirar? Dorme apenas de costas ou de que lado?

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A CONSULTA HOMEOPÁTICA

Cobre-se bem ou não suporta cobertas? Desperta com facilidade ou dorme profundamente? Como se sente logo após despertar? GENERALIDADES:Quantas vezes ocorre este ou aquele sintoma? Qual é a causa de cada um? Costuma ocorrer quando está sentado, em pé ou em movimento? Somente quando está em jejum ou pela manhã, apenas à tarde, só após uma refeição ou quando? CALAFRIO:Quando se manifesta calafrio? Foi somente uma sensação de frio ou real mente estava frio ao mesmo tempo? Em que partes? Ou ele estava quente ao toque durante o calafrio? Foi apenas uma sensação de frio, sem tremores? Estava quente sem ter as faces ruborizadas? Que partes do corpo estavam quentes ao tato? Ou ele se queixava de calor sem estar quente ao tato? Quanto tempo durou o calafrio? E o calor? SEDE:Quando se apresentou a sede? Durante o frio? Durante o calor? Antes? Depois? Qual a intensidade da sede e de quais bebidas? TRANSPIRAÇÃO:Quando se apresenta a transpiração, no começo ou no fim do ca lor? Ou quantas horas após esta sensação? Durante o sono ou em vigília? Qual a intensidade da transpiração? Era quente ou fria? Em que partes? Com que cheiro? De que se queixa ele? Antes ou durante o calafrio? E du rante o período de calor? E após este período?

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JOSÉ ALBERTO MORENO / ELIETE M. M. FAGUNDES

E durante ou após a transpiração? MENSTRUAÇÃO:Como são (nas mulheres) o fluxo mensal ou outros fluxos?"

A CONSULTA - ANOTAÇÕES DAS OBSERVAÇÕES DO MÉDICO. REGISTRO DO RELATO DO DOENTE.

EXEMPLOS DE OBSERVAÇÕES DO HOMEOPATA§90 "Depois que o médico tiver terminado tais anotações, escreve,

então, o que ele próprio percebe no doente1, verificando, em relação ao que foi relatado, o que era peculiar ao mesmo no período de saúde.

1Por ex., como o doente se comporta durante a visita: mal-humorado, bir rento, apressado, choroso, ansioso, desesperado ou triste, confiante, tranquilo, etc.; se está sonolento ou alheio; se fala com voz rouca, muito baixo, ou de maneira inconveniente ou de outra forma. Qual a cor de sua face, dos seus olhos e de sua pele de modo geral. Que grau de vivacidade e força há em sua expressão e em seus olhos. Qual o estado de sua língua, do seu hálito e de sua audição. Se suas pupilas estão dilatadas ou contraídas. Com que rapidez e que extensão se modificam no escuro ou no claro. Como está seu pulso. Qual é o estado do abdômen. Que grau de umidade ou secura, calor ou frio tem sua pele ao tato, neste ou naquele local de um modo geral. Se ele se deita com a cabeça inclinada para trás, com a boca inteira-mente ou semi aberta, com os braços sobre a cabeça, de costas ou em que outra posição. Que esforço faz para levantar-se e tudo aquilo que possa chamar a atenção do médico."

A CONSULTA - FATO NOTÓRIO CAUSADOR DA DOENÇA OU OBTIDO ATRAVÉS DE INTERROGATÓRIO

§93 "Se a doença foi desencadeada por algum fato notório, recen-temente ou há muito tempo, como é o caso de um mal prolongado, então o doente ou, pelo menos, os que o cercam, quando interrogados em particular, mencioná-lo-ão, seja espontaneamente ou através de um interrogatório cuidadoso1.

1As prováveis causas que o doente ou as pessoas que os acompanham não queiram confessar, pelo menos voluntariamente, o médico procu-

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A CONSULTA HOMEOPÁTICA

rará descobrir através de rodeios astuciosos ou graças a informações particulares. Pertencem a esta categoria: envenenamento, tentativa de suicídio, onanismo, excesso de atos libidinosos comuns ou anormais, abuso de vinhos, licores, ponche e outras bebidas quentes, chá ou café; excessos alimentares em geral ou de algum alimento nocivo em particular. Contágios venéreos ou pela sarna, amores infelizes, ciúme, infelicidade doméstica, preocupações, tristeza causada por algum infortúnio familiar, maus tratos, vingança frustrada, orgulho ferido, dificuldades econômicas, temor supersticioso, fome, even tuais imperfeições das partes pudendas, hérnia, prolapso, etc."

A CONSULTA - O CONHECIMENTO DO MODO DEVIDA DO DOENTE

§94 "Durante a investigação do estado de doenças crônicas, devem-se considerar e ponderar muito bem as condições especiais do doente com res-peito a suas habituais ocupações, modo de vida, sua dieta, situação doméstica etc. e o que nelas ocasiona ou sustenta a sua doença, a fim de, através de sua remoção, poder promover-lhe a saúde1.

1Nas doenças crônicas femininas é especialmente necessário atentar para a gravidez, esterilidade, desejo sexual, partos, abortos, aleitamento, corri-mentos e as condições do fluxo mensal. Especialmente no que concerne a essa última informação, não se deve des-cuidar do seguinte: se ocorre em interva los curtos ou se ocorrem atrasos além do tempo normal, quantos dias dura, se o fluxo é contínuo ou inter-mitente, em que quantidade, se possui cor escura, se há leucorreia (fluxo branco) antes ou depois, mas especialmente que incô modos físicos e da alma, que sensações e dores o precedem, acompanham ou seguem. No caso de haver fluxo branco, que sensações acompanham o fluxo, qual a quantidade deste e quais as condições e ocasiões em que ocorrem."

DOENTES HIPOCONDRÍACOS NA CONSULTA§96 "Os próprios doentes possuem temperamentos tão diversificados

que alguns, especialmente os chamados hipocondríacos e outros muito sensíveis ou mal-humorados pintam suas quei xas com cores excessivamente fortes e, a fim de induzir o médico a ajudá‑lo mais rapidamente, apresentam seus males com expressões exageradas1.

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1Provavelmente nunca se encontrará entre os hipocondríacos, mesmo os mais impacientes, uma invenção pura e simples dos fenômenos e padeci mentos; é o que demonstra a comparação dos incômodos de que se quei xam em períodos de tempos diferentes, quando o médico nada lhes ministra ou lhes dá algo sem valor medicamentoso algum. É preciso descontar alguma coisa de seu exagero, pelo menos atribuir o caráter forte de suas expressões à sua excessiva sensibilidade. Sob esse aspecto, o próprio tom exaltado de suas expressões sobre seus sofrimen-tos se toma por si só um importante sintoma na série de todos os outros dos quais se compõem o quadro da doença. O caso é outro quando se trata de loucos ou daqueles que, por má fé, simulam doenças."

DOENTES CALADOS, RESERVADOS NA CONSULTA§97 "Há pessoas cujo temperamento é oposto aos hipocondríacos,

ocultam uma série de males, seja por indolência, por um senso equivocado de pudor, por uma certa displicência ou timidez, apresentando-os em termos vagos ou considerando alguns deles sem importância."

A CONSULTA. A IMPORTÂNCIA DO RELATO DO PRÓPRIO DOENTE

§98 "O certo é ouvir principalmente o próprio doente acerca de seus males e sensações e dar crédito às suas próprias expressões, com as quais procura esclarecer seus padecimentos. Algumas expressões costumam ser modifica das e adulteradas pelos amigos e por aqueles que cuidam dele.

Em todas as doenças, especialmente nas crônicas, a inves tigação do verdadeiro e completo quadro das mesmas e de suas particularidades requer cuidado especial, ponderação, conheci mento da natureza humana, prudência na indagação e um eleva do grau de paciência."

AS DOENÇAS AGUDAS RECENTES, QUE ESTÃO MEMORIZADAS NA MENTE DO CLIENTE

§99 "Em geral, a investigação de doenças agudas ou daquelas surgi-das há pouco tempo é mais fácil para o médico, porque todos os fenômenos e alterações da saúde recém-perdida estão ainda vivos e presentes na me-mória recente do doente e de seus amigos.

Certamente, também aí, o médico precisa saber tudo, mas ele tem que investigar bem menos; a maior parte lhe é dita de forma espontânea."

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72 CIÊNCIA DA HOMEOPATIA - LIVRO BÁSICO

A CONSULTA HOMEOPÁTICA

A CURA PELO MEDICAMENTO HOMEOPÁTICOParágrafo 19-22

Doenças são A cura é

ALTERAÇÕES DO ESTADO DE SAÚDE A CONVERSÃO DESTE do INDIVÍDUO SADIO ESTADO EM SAÚDE.

expressando-se através de SINAIS MÓRBIDOS.

OS MEDICAMENTOS SÓ SE TORNAM MEIOS DE CURAPorque produzem certos

FENÔMENOS e SINTOMAS

QUE TRANSFORMAM O ESTADO DE SAÚDE DO HOMEM

Baseado em

SENSAÇÕES e FUNÇÕES

e que, unicamente nesta sua força de alterar,

é que se deve basear Ela se torna perceptívelseu poder de cura. somente na experiência,

através de sua exteriorização

AO ATUAR SOBRE O ESTADO DE SAÚDE DO INDIVÍDUO

gerando uma certa

CONDIÇÃO ARTIFICIAL DE DOENÇA QUE

REMOVE ANULA e TRANSFORMA EM SAUDE

OS SINTOMAS JÁ EXISTENTES ou o ESTADO MÓRBIDO A SER CURADO

da maneira mais

FÁCIL CERTA e DURADOURA

pelos sintomas medicamentosos

SEMELHANTES ou OPOSTOS.

Page 11: A Consulta Homeopática

73CIÊNCIA DA HOMEOPATIA - LIVRO BÁSICO

JOSÉ ALBERTO MORENO / ELIETE M. M. FAGUNDES

INDICADOR DO INÍCIO DE CURA

Parágrafo 280A DOSE DO MEDICAMENTO

QUE ESTÁ SE MOSTRANDO ÚTILSEM PRODUZIR

NOVOS SINTOMAS INCÔMODOS

deve ser:

CONTINUADA ELEVANDO-SE GRADATIVAMENTE

até que o doente,

EXPERIMENTANDO UMA MELHORA GERALCOMECE A SENTIR

DE FORMA MODERADA O RETORNO

DE UM OU VÁRIOS

DE SEUS ANTIGOS PADECIMENTOS ORIGINAIS.

Isso indica:

UMA CURA PRÓXIMA

através

DE UM AUMENTO GRADATIVO

DAS DOSES MODERADAS MODIFICADAS

cada vez,

MEDIANTE SUCUSSÕES.

QUE O PRINCÍPIO VITAL

quase não tem mais necessidade

DE SER AFETADOpor uma

DOENÇASEMELHANTE

a fim de

PERDER A SENSAÇÃO DA

DOENÇA NATURAL

QUE O PRINCÍPIOVITAL

LIVRE DA DOENÇANATURAL,

começa a sofrersimplesmente da

DOENÇA MEDICAMENTOSA

HOMEOPÁTICA

conhecida, aliás, como

AGRAVAÇÃO HOMEOPÁTICA.

Page 12: A Consulta Homeopática

74 CIÊNCIA DA HOMEOPATIA - LIVRO BÁSICO

A CONSULTA HOMEOPÁTICA

PRIMEIRA CONSULTA AO HOMEOPATAFrederik Schroyens

Sua primeira ida ao homeopata poderá ser mo tivada por um sem-número de sintomas diversos. En tretanto, a maioria das pessoas que procura tra-tamento homeopático o faz devido a sintomas persisten tes que não res-ponderam aos convencionais méto dos alopáticos. O índice de sucesso no tratamento homeopático é muito alto.

ANTES DA CONSULTA Ajudará se você anotar os nomes de quaisquer medicamentos que esteja tomando ou tenha tomado no passado. Se seu caso for complicado, anote as características mais importantes. O homeopata fica rá especialmente interes-sado nestas informações, pois lhe permitirão compreender melhor seu caso. Anote qualquer sintoma incomum e, se for pertinente, as horas do dia em que os sintomas pare cem melhorar e/ou piorar. Anote também as moda lidades - isto é, qualquer coisa que melhore ou piore seus sintomas - e o que você faz para obter alívio. O homeopata desejará também descobrir mais sobre você como pessoa ‑ o que faz você “vibrar”. Este tipo de informação irá ajudar o médico a encontrar o remédio certo para o seu problema, portanto pense no assunto antes de sua consulta.

A CONSULTA O consultório do homeopata será bem parecido com o de qualquer outro profissional de saúde ‑ uma mesa e uma cadeira para o homeopata, outra cadeira para o paciente. Talvez haja uma prateleira com remédios homeo-páticos, em bora muitos médicos os guardem em outra sala. Vo cê provavel-mente notará a ausência do habitual odor anti-séptico e da aparência clínica de muitos consul tórios convencionais. O consultório, do homeopata talvez seja mais aconchegante e com uma atmosfera confortável A partir de sua entrada, o homeopata. estará pro curando quaisquer sinais que indicarão qual o remé dio mais apropriado para você. Por exemplo, seu aperto de mão poderá revelar se você é uma pessoa segura ou ansiosa. Após umas poucas perguntas pre liminares para deixá-lo à vontade, o homeopata per guntará então o que o levou ao consultório. Com suas próprias palavras, descreva-se e des creva seus sintomas. Seja o mais explícito possível: é preferível contar demais do que de menos sobre você mesmo. Você descobrirá que o homeopata fica rá interessado numa série

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75CIÊNCIA DA HOMEOPATIA - LIVRO BÁSICO

JOSÉ ALBERTO MORENO / ELIETE M. M. FAGUNDES

de aspectos que o seu mé dico de família talvez tenha ignorado. Por exemplo, você deveria tentar se lembrar e descrever a natureza exata de cada dor que tenha sentido:

queimação expansão pressão entorpecimento explosão latejo rigidez penetrante perfuração profunda pontada superficial ferroada constante compressão intermitente dilaceração móvel paralisação estacionária

Após você ter dito porque veio, começa o pro cesso de histórico do caso. Esta é a verdadeira investigação de sua enfermidade. O homeopata fará uma série de perguntas minuciosas para descobrir exata mente o que você está sentindo, por quê, e o que você acredita ser a verdadeira causa de sua doença. A seguir, algumas das perguntas que lhe pode rão ser feitas:• Como você reage ao barulho?• Você detesta ser deixado sozinho?• Como se sente ao ouvir música? Você tem medo do escuro?• Tem medo de cachorro ou de qualquer outro animal?• Tempestades com raios e trovões o afetam?• Você sente sede com frequência? Se sente, prefere bebidas quentes ou

frias? Você as bebe aos poucos ou de um só gole?• Você está sempre com fome?• Como reage à atividade e ao descanso?• Você detesta tempo quente, frio ou úmido?• Você anseia por carne, ou qualquer outro alimento? Sente muita vontade

de comer alimentos quentes ou condimentados?• Você detesta comida crua?• Seus sintomas são afetados pelo clima?• A que horas do dia você se sente melhor ou pior?• Você é irritadiço, ansioso ou deprimido?• Detesta tomar banho? É sensível às críticas? Chora com facilidade?

Descobrir estas modalidades - coisas que afe tam seu humor e sua conduta - é muito importante se o homeopata quer escolher o remédio certo para você. Em casos de primeiros socorros, entretanto, as regras não se aplicam e o remédio é escolhido em bases puramente sintomáticas, sem consideração quanto à constituição física e mental da pessoa.

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76 CIÊNCIA DA HOMEOPATIA - LIVRO BÁSICO

A CONSULTA HOMEOPÁTICA

Provavelmente, o homeopata também o exami nará quase da mesma maneira como faria um médi co convencional. Seu pulso e pressão serão tomados, várias partes do seu corpo serão apalpadas e ele aus cultará seu coração e seus pulmões.

Todas estas perguntas e exames podem demo rar bastante. De fato, a maioria dos homeopatas reserva uma hora ou mais para a primeira consulta e pelo menos meia hora para as seguintes.

TIPOS DE CLIENTESUsando as informações que coletou ao conver sar com você, o home-

opata o classificará de acordo com o remédio que melhor se adapte às suas carac terísticas. É claro que muito poucas pessoas se ajus tam exatamente a um único remédio e a maioria po de ter também características de outros re-médios se cundários. Entretanto, existem aquelas que se ajus tam naturalmente ao “quadro de sintomas” de um determinado remédio “testado” e estas são conheci das como pessoas de um “tipo constitucional”: quan do estiverem doentes, seu remédio constitucional será o que dará melhores resultados.

Exemplos de quatro “tipos básicos de pacientes” são:

TIPO SULPHUREstes podem ser resumidos como “filósofos es farrapados”. São des-

leixados, de aparência suja e não gostam de tomar banho. Preferem roupas velhas a novas e não dão a mínima importância para os ricos do mundo. Seu temperamento é explosivo. Estão quase sempre com fome e costumam ter uma sen sação de vazio no estômago por volta das 11 horas da manhã. Sob vários aspectos, o tipo enxofre é a manifestação do miasma da psora, e, em consequência o remédio Sulphur é considerado o “Rei da Psora”.

TIPO ARSENICUMBastante diferentes do tipo enxofre, estes são ex tremamente ordeiros

(não podem suportar a visão de um quadro desnivelado ainda que de um só mi límetro), precisos, bem vestidos, impertinentes e extremamente agitados.

TIPO NUX‑VOMICAEstes são irritadiços e facilmente excitáveis, com tendência a serem

fanáticos pelo trabalho e a bebe rem demais. São também cheios de entu-siasmo, ze lo e vigor - os magnatas dos negócios de nosso tem po. Sofrem com frequência os efeitos do excesso de tolerância e, em consequência,

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JOSÉ ALBERTO MORENO / ELIETE M. M. FAGUNDES

irritam‑se com facilidade. Suas temperaturas flutuam constantemente, exa-tamente como suas emoções: mesmo quando es tão com febre, permanecem um tanto frios.

TIPO LYCOPODIUMEstas pessoas são intelectualmente fortes mas fi sicamente fracas. O

nome se refere à planta licopo deácea. No passado remoto, esta era uma árvore gi gante, mas durante o processo de evolução, ficou di fícil adaptar‑se às necessidades de seu meio ambiente em mutação; para sobreviver, ela gradualmente en colheu e, hoje, não passa de um musgo.

Os tipos Lycopodium são aqueles que já viram dias melhores, tendo aos poucos perdido sua glória, poder e controle sobre as exigências da vida. Con sequentemente, são cautelosos, desconfiados e in seguros. Seu aparelho digestivo é fraco e, embora sin tam fome com frequência, sentem-se satisfei-tos com a maior facilidade. Pode‑se fazer uma comparação en tre o apetite e a natureza sexual das pessoas licopo deáceas: tendem a comer pouco e repetidas vezes, e buscam gratificação sexual sem responsabilidade.

Estão sempre tentando compensar suas insuficiên cias. Podem ser em geral encontrados exercendo ati vidades em que tenham algum poder ou responsa bilidade - por exemplo, políticos, advogados, cléri gos, professores, funcionários públicos.

O QUE MAIS VOCÊ PODE ME DIZER?Quando você terminar o histórico da sua do ença, talvez se admire ao

ouvir o homeopata pergun tar mais uma vez: “O que mais você pode me dizer?”Com efeito, o homeopata necessita de grande número de informações

para poder chegar a co nhecer e compreender o doente, na sua totalida de. Quanto mais clara e completa for a imagem do doente, tanto mais possibi-lidades haverá de que o remédio escolhido seja o mais conveniente.

Certos doentes respondem: “Agora, doutor, já lhe disse tudo!” Mas essas palavras não têm o mesmo sentido em todos os lábios. Alguns dão uma quantidade de detalhes incríveis, enquanto os mais reservados, não têm realmente nada a acrescentar depois de duas ou três frases.

O médico deverá ter muita paciência para obter as informações necessárias, a fim de chegar ao remédio certo. A experiência no‑lo ensina.

A segunda parte da anamnese - que chama mos de interrogatório

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A CONSULTA HOMEOPÁTICA

dirigido - será mais ou menos longa, dependendo do volume de informações úteis que tenham sido prestadas espontaneamente ao médico. Relembramos que é ilusório ten tar prescrever um remédio adequado se o perfil completo do paciente não foi traçado de maneira suficientemente clara. É o que diz Hahnemann, da seguinte maneira:“(...) a totalidade desses sintomas, essa ima gem que é o reflexo externo da essência inte rior da doença, (...) deve ser a coisa principal (...) que determinará a escolha do remédio mais apropriado. (...) Um só sintoma não constitui a doença, assim como uma só perna não constitui o homem completo.” (Organon, § 7).

Um exemplo: suponhamos que você sofra de asma e esteja explican-do ao homeopata quantos miligramas de cortisona toma, a frequência com que você utiliza este ou aquele nebulizador, o que disseram os médicos que você consultou anterior mente, os exames especiais que foram feitos e cu jos resultados você apresenta. Muito bem. Mas todas essas informações não serão suficientes, por mais exata que seja sua história.

De antemão, advirto‑lhe de que, para clare za da exposição, devo limitar‑me a esboçar um quadro bem esquemático do interrogatório homeo‑pático. Ele não poderá corresponder ao que acontece na realidade. Com efeito, o limite entre o in terrogatório dirigido e o relato espontâneo do pa ciente é puramente teórico. O médico geralmente segue o fio do pensamento do doente, não impor tam quais sejam seus desvios, a fim de não que brar sua espontanei-dade. Portanto, durante uma mesma consulta, pode acontecer de passar muitas vezes da anamnese espontânea para o interrogató rio dirigido, e vice‑versa.

Uma última observação: não acredite encon trar aqui um questionário ideal. Não é o caso, portanto, de pegar a caneta e começar a escrever as res-postas. Não se prepara um encontro com o homeopata como um exame na universidade! Uma das características mais importantes da anamne se homeo-pática é que as perguntas são feitas por alguém. Há, pois, necessariamente, duas pessoas presentes: uma que fala e outra que escuta. A segunda, colocando-se a certa distância da primei ra, pode discernir aquilo que é essencial nas coi sas que lhe são ditas. Pode reagir a certos pontos bem precisos. Eventualmente, pode imprimir ou tro rumo à entrevista. Trata-se realmente de um trabalho de equipe.

Se você preparou meticulosamente sua con versa com o homeopata, já não se tratará mais de uma anamnese espontânea. Tudo já foi pré‑digeri‑do. De vez em quando aparece um doente que ten ta se esconder por trás de

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um calhamaço de pa pel, no qual escreveu tudo aquilo que deve dizer... Mas falta, evidentemente, o essencial: tudo aquilo em que ele ainda não pensou.

Alguns imaginam que tudo isso não tem ca ráter muito científico. Entretanto, acredito que, nesse campo, é imperativo deixar espaço livre para a inspiração do momento.

Posso dizer, por experiência própria, que quando o homeopata tenta colocar‑se na situação do paciente, há momentos como se ambos pensas‑sem juntos. É nesse momento que surgem os sin tomas mais interessantes, às vezes de maneira inteiramente inesperada, só porque o doente sen te que está sendo compreendido. É óbvio que so mente estando em dois existe a possibilidade de encontrar juntos alguma coisa. Como há centelhas que so-mente brotam do atrito de dois sílex, há também sintomas que só despontam de uma con versa espontânea, franca e aberta, num ambiente de distensão, feito de mútuo res peito. Agora você pode compreender porque não tem sentido pretender que um remédio seja recei tado por telefone.

1º. O que você sente exatamente?A escolha das palavras tem papel importan te para descrever as suas

sensações. Por exemplo, se alguém diz: “Não me sinto bem”, isso pode que rer dizer: “Estou morto de cansaço”, “Acho que vou desmaiar”, “Tenho vontade de vomitar”, “Sinto que estou morrendo”, e muitas outras coisas.

Se você quiser descrever uma sensação com certa exatidão, poderá usar uma comparação des te tipo: “Tenho uma sensação de como se tivesse uma pedra sobre o estômago” - este, diga-se de passagem, é um sintoma típico de remédio Bryonia ou do Nux-vomica.

A expressão “tenho dor” pode referir-se a uma multitude de sensa-ções diferentes. Pode significar uma sensação de queimação, de pontadas, de dis tenção de órgãos, de peso desagradável, sem cono tar realmente uma dor verdadeira.

É o momento de colocar os pingos nos “ii”. Certos doentes, os “du-rões”, só começam a falar de dor quando se trata de algo verdadeiramente insuportável. Estes falsos pudores não têm razão de ser em homeopatia. Você tem o direito de di zer que está com dor mesmo que não esteja a ponto de rolar pelo chão, gritando de dor. Pois existem muitos tipos de dor. Há dores que pouco incomodam e outras quase impossíveis de supor tar. Se você não sabe bem onde se situar nas vá rias graduações entre esses dois extremos, pode sempre descrever em detalhes o que sente, dizen do, por exemplo: “Minha

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dor no coração é uma sensação muito vaga de alguma coisa que me rói”.A pergunta geral “O que você sente exata mente?” inclui, na realidade,

uma série de ques tões mais precisas, tais como:- “O que você está ouvindo?” (em caso de tosse ou de ruídos no ouvido.)- “O que você está vendo?” (em caso de distúrbios da vista, ou então

quando nos queixamos de uma erupção na pele.)- “Que cheiro você sente?” (quando estamos com corrimento nasal.)E às vezes também cabe perguntar:- “Que gosto têm os alimentos?” ou “Que gosto você sente na boca?”

(Por exemplo, quando há lesões situadas na boca.)Em qualquer caso, será sempre necessário descrever com maior exa-

tidão possível aquilo que você sente. Este ponto é muito importante.

2º. Onde se localiza a sua sensação?A melhor e mais simples maneira de desig nar com exatidão a região

em que sentimos algo é mostrá-la com o dedo.É melhor não utilizar termos da anatomia, pois eles têm um senti-

do muito preciso e que é desconhecido daqueles que não fazem estudos médicos. Tomemos um exemplo: cada um tem um conceito pessoal bem limitado sobre a localização dos rins. Alguns situam‑nos entre as omoplatas e outros ao nível do sacro. É certo que a maioria das pessoas que se queixa de “dores nos rins” que rem dizer “na parte inferior das costas”, mas se ria muito útil apontar o local exato indicando‑o com o dedo, a fim de evitar possibilidades de erro.

É também muito importante indicar com exatidão se o distúrbio se situa à direita ou à es querda. Por exemplo, uma dor de garganta pode muito bem localizar‑se somente à esquerda da fa ringe, ou começar à esquerda para, em seguida, espalhar-se para a direita, ou vice-versa.

É preciso ainda estar atento à propagação da dor. Um exemplo: descre-vemos treze modos dife rentes pelos quais a dor da angina do peito pode se propagar para uma ou outra parte do corpo,4 mas deve-se destacar que a maneira clássica é sua propagação para o braço esquerdo ou para a mão esquerda.

3º. Desde quando?Muitas vezes, a hora em que tem início a manifestação de um sinto-

ma é de grande impor tância para caracterizá‑lo: a hora em que aconte cem regularmente as crises de asma, por exemplo, às 3h da manhã.

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É possível que a aparição de certos sintomas sejam sempre precedidos de certas condições me tereológicas, bem precisas como uma mudança de tempo, uma chuva repentina etc. ou con dições físicas como o fato de beber uma limonada gelada, depois de uma partida de futebol que fez você suar.

Às vezes é um estresse psicológico (uma dispu ta, uma decepção, uma dor, uma vexação etc.) que precedem a aparição da sintomatologia. A medici na oficial ignora, mas o bom senso popular consa gra esse fato através de numerosas expressões, como: “Ele está com o coração angustiado”; “Eu não pude engolir aquilo”; “Isso pesa como uma pedra em meu estômago”; “Seu sangue ferveu”; “Isso ficou atravessado na minha garganta” etc.

Muitas vezes, o fato psicológico que desenca deou uma doença é evidente. Nestes casos, qual quer que seja a descrição das sequelas físicas, cor porais, por mais exata que seja, não revela senão a metade da verdade.

A descrição das circunstâncias que desenca dearam a doença são sempre de grande interesse. Um dia, conheci um homem que sofria de um reu matismo que o afligia há muitos anos. A doença começara perturbar, após um mergulho na água fria de um rio, num belo dia de verão. Esta cir‑cunstância (diríamos, um simples detalhe) foi o que possibilitou encontrar o remédio adequado.

4º. O que modifica o sintoma?Os fatores que agravam, melhoram ou trans formam o sintoma do

paciente são chamados de modalidades. São em grande número, todas dife‑rentes umas das outras. Na maior parte do tem po, têm papel importante para individualizar uma patologia local.

Embora esta classificação seja um pouco sim plista e arbitrária, parece útil, para fins mnemo técnicos, dividir as modalidades em duas catego rias: as circunstâncias externas ao organismo e os fatores que lhe são próprios, isto é, aqueles que estão em relação com os fenômenos fisiológicos. É importante ressaltar que o que nos interessa aqui são apenas elementos característicos e individu ais. Por exemplo, se um doente. cura a sua dor de cabeça com aspirina, isto é um fato banal que não traz ajuda alguma na escolha do remédio homeo pático.

a) As circunstâncias externasSão fatores externos ao indivíduo, que são susceptíveis de modificar

um ou outro de seus sin tomas.

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Às vezes, é a hora que desencadeia a patologia: por exemplo, do-res nas pernas aparecem so bretudo à noite; ou as diarreias que costumam aparecer sempre de manhã, ao despertar. Ou en tão, o sintoma se reproduz sempre dentro de um intervalo de tempo relativamente constante. Fala mos agora de sua periodicidade que, em alguns casos, é um elemento determinante. Por exemplo, se um doente apresenta regurgitações líquidas a cada dois dias, isso nos fará pensar que seu remé dio poderá ser provavelmente, Lycopodium no qual esse sintoma é particularmente típico.

As várias condições do tempo podem melho rar ou agravar os sinto-mas. Ressaltamos que, des sas condições, referimo‑nos a fatores que exercem influência tanto favorável quanto desfavorável sobre o enfermo. A título de exemplo de uma mo dalidade característica, citemos o paciente reumá tico que melhora com o tempo úmido; esta modali dade é característica, porque habitualmente o que se observa é exatamente o contrário.

A temperatura é outro fator do mesmo gêne ro. Eu falo aqui tanto da temperatura externa (o sol de verão ou o frio do inverno) quanto da tem‑peratura no interior das habitações (o calor arden te do fogão, um quarto bem aquecido etc.). E não nos esqueçamos que compressas quentes ou frias, o uso de uma echarpe podem influir também de maneira característica em certos sintomas. Às vezes permanecer ao ar livre, expor-se ao vento ou às correntes de ar são fatores que tor nam certos males mais ou menos suportáveis. É o caso do asmático, que sente melhora quando sopra uma pequena brisa.

A água pode também influir de muitos mo dos no sofrimento do doente: se ele toma banho, se lava a cabeça ou as mãos, ou se foi surpreendi do por uma chuva repentina. Certos sintomas podem ser modificados pe los senti-dos. Algumas pessoas são sensíveis aos ruídos, à iluminação, aos odores...

Há pessoas que têm palpitações quando ou vem música, sentem‑se mal quando inalam deter minados perfumes, ou têm dor de cabeça quando a luz é muito forte.

O paladar apresenta menos interesse no caso, mas o tato oferece muitas vezes a nota caracterís tica de um sintoma: um acesso de tosse que apa rece quando limpamos as orelhas com um cotone te, uma dor de cabeça que se agrava quando usa mos chapéu!

b) Os fatores próprios ao indivíduoTrata‑se mais frequentemente de funções cor porais. Alguns exemplos.Após o sono, há sintomas que desaparecem e outros que se intensifi-

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cam. Em outros casos, eles se tornarão particularmente intensos quando a pessoa adormece. Esta última peculiaridade nos coloca imediatamente na pista de certos remédios como Lachesis, Arsenicum, Crotalus horridus6 e dezenas de outros.

A posição que o doente assume, tentando ali viar suas dores é um ponto bastante importante. Por exemplo, alguns têm palpitações que melho ram quando se deitam sobre o lado direito, embo ra que em outros seja o inverso.

Outros sintomas só se manifestam por oca sião de certos movimentos ou de determinada mudança de posição. Uma dor no olho, por exem plo, pode se manifestar quando o paciente olha para o lado ou eleva os olhos para o céu. Uma dor cardíaca pode diminuir quando o paciente sai a passeio, andando. Pode tratar-se tanto de um movimento limitado a uma parte do corpo como de uma atividade que mobiliza todo o organismo.

Lachesis e Crotalus horridus são remédios preparados a partir do veneno de duas serpentes: a surucucu e a cascavel. Arsenicum album é um derivado do arsênico, (o anidrido arsênico), que outrora se usava como ra-ticida. O suor pode intensificar certos sintomas: por exemplo, as angústias que se agravam cada vez que se transpira.

A função digestiva está na origem de um cer to número de modalidades. As bebidas, por exem plo, não têm somente uma ação limitada ao estô mago, mas podem modificar a tosse, as vertigens ou qualquer outro sintoma do organismo. A tem peratura das bebidas, com frequência, tem impor tância significativa.

Em seguida, a alimentação. Alguns sintomas são ritmados pelas re-feições. Isso não significa somente comer ou não comer, mas é necessário precisar o que você comeu. Uma diarreia depois de ter comido ostras, ou cãibras no estômago depois de ter ingerido certas frutas, são dois sinto mas que levam a pensar (especialmente) em Lycopodium.

Certos sintomas melhoram ou agravam com o evacuar e com o urinar. Uma dor de cabeça que desaparece após urinar em quantidade abundan te é um sintoma típico de Gelsemium.

Na mulher, numerosos sintomas são ritma dos pelo ciclo trual. É im-portante não esque cer de precisar se eles aparecem ou são agrava dos antes, no início, durante, no fim ou após as regras.

É impossível citar aqui as modalidades mais diversas que se encon-tram nos nossos repertórios. O essencial é que você tenha compreendido bem do que se trata. Observando você e as pessoas próximas irá certamente

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descobrir outras modali dades, e no nosso caso, não valeria a pena alon gar muito minha lista para evitar falsear sua observação.

Entretanto, não posso resistir ao desejo de lhe dar ainda dois exemplos para mostrar que podem existir modalidades “a priori” muito estranhas: uma dor na próstata quando a pessoa assoa o na riz, ou um comichão no joelho cada vez que a pes soa adormece.

Em todo caso, uma coisa é certa: quanto mais bizarros forem os seus sintomas, mais interessa rão ao homeopata.

Porém, insisto mais uma vez: não considerem a lista de modalidades como um questionário ao qual devemos necessariamente responder com exatidão antes da consulta. Aprendam sobretudo a se observar bem e a descrever com precisão os seus sintomas, inclusive suas modalidades, sem se esquecer de dizer exatamente a que sintomas elas se referem.

5º. Há outros sintomas?Quando temos um problema de saúde, é mui to raro que se manifeste

apenas um sintoma. Se, por exemplo, o seu principal distúrbio é uma pri são de ventre, há praticamente uma multidão de outros sintomas mais ou menos evidentes, que mostram que algo está errado. Mesmo que estes incomodem pouco, nem por isso deixam de ser pontos importantes para o homeopata, pois lhe possibilitam obter um panorama mais exato da totalidade da doença.

Você deve começar se perguntando se não existem sintomas em outra parte do corpo. Des creva-os, fazendo as quatro perguntas que apre sentamos. Em seguida, verifique se por acaso você apresenta alguns sintomas gerais, isto é, caracte rísticas gerais que são próprias a você e que se relacionam com sua personalidade no seu todo.

Enfim, falta ver se você não tem sintomas mentais. Com efeito, esses últimos têm, para os homeopatas, uma importância toda particular.

Fonte Bibliográfica:BRUNTON, Dr. Nelson. Conhecer a Homeopatia – A Medicina da Nova Era.

Editora Objetiva, 1989.GRÁFICOS: Eliete M. M. FagundesHAHNEMANN, Samuel. O Organon da Arte de Curar. Editora Hipocrática Hah-

nemanniana. Belo Horizonte, 2000.SCHROYENS, Dr. Frederik. Como encontrar o remédio homeopático. Edições

Paulinas, 1991.