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A CONTENÇÃO COMO MANEJO RACIONAL A Contenção como Manejo Racional Renato dos Santos

A CONTENÇÃO COMO MANEJO RACIONAL - Weebly · feita com o auxílio de um laço jogado com despreza pelo peão, que consegue acertar depois de desenfreada carreira atrás do coitado

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A CONTENÇÃO COMO MANEJO RACIONAL

A Contenção como Manejo Racional

Renato dos Santos

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INTRODUÇÃO:

No Mundo todo se nota uma exigência cada vez maior dos consumidores com a

qualidade e a procedência dos alimentos que adquirem. A partir do princípio, que é

dever moral do homem respeitar os animais, em 17 de janeiro de 2000, foi aprovado,

pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) a Instrução

Normativa nº 3, que define o conjunto de diretrizes técnicas e científicas, capazes de

garantir bem-estar dos animais, em todo o processo de abate, desde a recepção até a

operação de sangria. O conceito de abate humanitário tem como objetivo poupar os

animais de qualquer excitação, dor ou sofrimento desnecessários. O que fica claro, é que

o MAPA esqueceu, que se o manejo não for melhorado nas fazendas e no transporte,

nada adianta boas praticas de manejo no frigorífico. Os animais chegam estressados e

com lesões de carcaça ocorrida por erros de manejo num porcentual próximo de 40% na

fazenda. Isto dificulta sobremaneira o manejo nos currais de espera do frigorífico, pois

os animais já chegam pré-dispostos a briga, devido às agressões já sofridas.

As cobranças que estão sendo feitas quanto à qualidade da carne, quando nos

referimos à carne bovina, encontra uma barreira cultural praticamente intransponível,

devido à falta de conhecimento, tanto técnico, quanto de legislação por parte daqueles

que manejam os animais. Infelizmente a mão de obra utilizada no pré-abate (desde a

fazenda até o Box de Atordoamento no frigorífico, passando pelo transporte) é

composta por um porcentual bastante alto de analfabetos e semi-analfabetos, cujo

aprendizado ocorreu na pratica, sem mesmo ter noções de conhecimento técnico que o

introduzisse na atividade. Pior ainda, seu professor foi o pai ou o avô, cujo

compromisso com qualidade nunca existiu, se limitando ao cumprimento de ordens, que

traziam no bojo a pressa no manejo e o menor custo possível, sem ao menos considerar

a própria integridade física. Acredito ter sido isto, conseqüência de uma remuneração

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baixa, sendo inclusive considerada por entidades de direitos humanos, como escrava.

Este indivíduo de importância fundamental na cadeia produtiva da carne pode alegar

desconhecimento quanto a normas, diretrizes, costumes, globalização, exigências de

mercado (principalmente consumidor), pois pela incapacidade de conseguir ler e pior,

ter acesso a estas informações, realmente não sentiu necessidade de mudar.

Sua qualidade de vida, necessidades de qualidade no alimento, são ínfimas,

pequenas, se restringindo em ter e não em poder ter. Exigir manejo, que visa melhor

qualidade de carne é utópico. Eles podem alegar desconhecimento, ignorância, etc...,

pois de fato, as informações não são acessíveis a eles. O que é direito do Consumidor

nunca lhe foi dito ou ensinado, pois ele mesmo é um consumidor revestido de total

ignorância de seus direitos.

Minha experiência vinda da convivência com este pessoal, horas de aulas sobre

manejo racional, higiene pessoal, e direitos, dadas em barracão de curral, salas de sedes

de fazendas, me permite afirmar serem eles, capazes de aprender, absorver

conhecimento e respeitar normas, diretrizes, leis, etc..., sendo possível, mudar ao longo

do tempo esta realidade nada agradável. Quando entendem o porque, eles são os

primeiros a colocar em prática, técnicas que tornam possível o boi, ser matéria prima

com melhor qualidade, quer seja sanitária, nutricional, ou sem lesões e contusões. Na

verdade, não existe na cadeia produtiva da carne, individuo que ame mais os animais

com os quais lidam que os peões.

Acredito, portanto caber ao Técnico (Méd. Veterinário, Zootecnista, Agrônomo)

levar e ensinar a aplicar os conhecimentos produzidos pela ciência, de uma forma

assimilável e verídica. Para eles, (peões), a verdade é incontestável, sendo arma de

mudança de comportamento.

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Solicitações dos consumidores em relação aos produtos da agropecuária:

• Cuidados com a escolha da linhagem dos animais;

• Uso de ração que contenha apenas componentes de origem vegetal;

• Abandono progressivo de tecnologias de produção que se valham do uso

de aditivos antimicrobianos ou de outros aditivos zootécnicos;

• Uso racional da medicação veterinária, em especial dos antimicrobianos;

• Negativa total com relação ao uso de grãos provenientes de material

geneticamente modificado na alimentação dos animais;

• Cuidados com o bem estar dos animais, usando de Boas Praticas

Veterinárias de Manejo;

• Garantia de qualidade através, por exemplo, da adoção de rastreabilidade.

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CONTENÇÃO:

( Cadeira de Semiologia)

CONTER: é a ação de imobilizar um animal com o objetivo de sobre ele fazer

algum procedimento.

PRENDER: é prender nas mãos; atar; amarrar; segurar; agarrar; embaraçar;

capturar; casar-se.

“A palavra conter, já traz em seu bojo o planejamento de como fazer a

contenção, pois já esta definida a atitude ou o procedimento a ser tomado com o animal.

A contenção deverá ser coerente com este procedimento, sem ser exagerada evitando o

sofrimento ou pouca permitindo o risco físico ao peão ou técnico”.

A prática de contenção de bovinos é extremamente necessária e utilizada

regularmente em todos os locais onde se trabalhe com esses animais. Tanto os técnicos,

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fazendeiros, peões, médicos veterinários ou qualquer um que necessite que o animais

fiquem total ou parcialmente contidos ou imobilizados, terão que adotar procedimentos

de contenção.

A contenção de bovinos ou eqüinos, utilizada em fazendas, sítios, abatedouros

ou por profissionais como os médicos veterinários, pode ser realizada de diversas

maneiras e, muitas vezes, implica no derrubamento do animal, para que um determinado

tipo de imobilização seja realizado.

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A contenção é um procedimento realizado em qualquer animal, para os mais

diversos fins, que vão desde a necessidade de um simples exame, aplicação de

medicamentos, abate e muitos outros.

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É claro que, em animais menores, a contenção, imobilização ou derrubamento

são tarefas bem mais simples. Em um grande bovino ou mesmo em bezerros, estes

procedimentos requerem técnicas mais específicas, pois não é tão simples imobilizar um

touro, por exemplo, "no braço".

No caso dos bovinos, os métodos de contenção mais utilizados são aqueles

destinados à prevenção de coices, imobilização para a descorna, para a coleta de sêmen,

castração, entre outros.

Muitas vezes, como no caso de exames mais detalhados, a contenção é

relativamente simples, ficando o animal em pé. Entretanto, em outras ocasiões, é

necessário que o animal seja derrubado e contido, isto é, amarrado, para que se

mantenha em uma determinada posição.

São muitas as formas de contenção, utilizando-se cordas, guias nasais, esteios,

cercas, piquetes, cangalhas, etc. Cada método deve ser utilizado corretamente e

apenas visando à tarefa a ser realizada. O cuidado é muito importante, para que não

aconteçam acidentes que venham a machucar ou ferir o animal.

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O criador, funcionário ou técnico, deve se informar sobre os métodos mais

indicados às suas necessidades e praticar, com o auxílio de alguém com uma boa

experiência. Tentar aprender sem orientação poderá acarretar prejuízos, ferimentos

nos animais ou mesmo na própria pessoa. Um derrubamento mal feito, por exemplo,

pode resultar em uma fratura ou torção nos membros do animal que, devido ao seu

grande peso, pode ficar até mesmo sem condições de recuperação.

A Contenção pode ser química (tranqüilizantes e ou anestésicos) ou física. A

contenção química não dispensa a física, tornando esta de muita importância.

Manejo de fazenda, utilizado diariamente pelos peões. É melhor enxergarmos a

contenção como o manejo mais importante na bovinocultura ou na lida com animais.

Temos que entender ser um cercado, não importando sua área em metros quadrados,

como uma contenção, que afinal de contas restringe ao animal a busca de suas

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necessidades para sobreviver. Quem fez o cercado ou ali colocou um animal, tem que

entender como sua obrigação prover estas necessidades, primando por quantidade e

qualidade inerentes a espécie.

A definição de conter já nos indica uma ação planejada para se alcançar um

objetivo proposto. Não é o simples fato de prender. Existe a necessidade de coerência na

contenção, que deve ser a necessária para o procedimento a ser realizado, evitando o

trauma, a agressão e conseqüentemente o estresse desnecessário. A contenção certa e

necessária é o objetivo.

A importância da contenção correta surge no instante em que sabemos ser ela a

primeira atitude a ser tomada com a rês. Para dar um beijo no animal primeiro devemos

fazer a contenção, ou seja, a contenção vem sempre primeira.

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Se for a contenção a primeira coisa a ser feita, deverá ser bem feita, para não

interferir no resultado do trabalho a ser realizado. Verdade! A Contenção interfere

diretamente no resultado do trabalho.

Exemplos:

• Ao derrubar um touro para corrigir um pequeno problema de casco, uma

corda passada sobre o prepúcio poderá dar origem a uma aderência, que o inutiliza para

a reprodução, pois não consegue expor o pênis;

• Uma vaca que vai ser inseminada, estando a quarenta centímetros do

técnico pode impossibilitar a tração da cervix até o aplicador, obrigando a se jogar o

sêmen no fundo da vagina. É o mesmo que jogar fora;

• Durante uma transferência, um movimento da receptora que obrigue o

técnico a retirar o aplicador para não quebrar pode provocar a perda do embrião;

• Um bovino muito estressado devido à contenção, não terá uma boa

resposta à vacina ou ao vermífugo;

• A vaca de leite a exemplo do touro poderá ficar inutilizada por uma corda

passada no vazio, que vai apertar o úbere, esmagando glândulas que produzem leite,

provocando fibrose.

• Derrubar uma vaca no pasto para colocar o bezerro mamar (vaca com

teto grosso), provavelmente provocará a rejeição do filho.

São vários os exemplos de erros de contenção que estão prejudicando o trabalho

no campo. A construção de um curral poderá ter influência na produtividade do

rebanho, se não for adequada a característica do bovino.

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Nos colocando no lugar do bovino, qual dos currais acima gostaria de ser

manejado? A resposta é óbvia. Naquele que se mostra mais confortável ou menos

agressivo.

Cercas de arame com fios arrebentados, ou muito frouxas podem provocar

acidente com um ou mais animais, o que interfere no rendimento da propriedade.

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São exemplos de contenção:

- Nó de porco; - pito; - imoboi;

- Peia; - pé ou mão de amigo; - tronco de contenção;

- Nó de cabresto; - Curral; - formiga;

- Laço; - cerca de arame; - etc.

Cabe ao peão e ao técnico escolher e saber fazer a contenção melhor para o

procedimento a ser efetivado.

Médico Veterinário chega na fazenda para fazer um atendimento clinico em um

bovino, deve conhecer de contenção, para que a história descrita abaixo não passe de

uma simples piada.

“O Médico Veterinário chega na fazenda e é informado, que o boi se encontra no

pasto e este se dispõe a fazer o exame clinico no local. É claro que a contenção será

feita com o auxílio de um laço jogado com despreza pelo peão, que consegue acertar

depois de desenfreada carreira atrás do coitado já doente boi. Após uma contenção feita

desta maneira, qual será o parâmetro fisiológico coletado que auxilie o profissional a

fazer um diagnostico? Estará tudo alterado: respiração, temperatura, batimentos

cardíacos, sudorese, etc, restando dizer que foi cobra que picou”.

A história acima, se tornará verdadeira na vida do profissional que não conhecer

os métodos de contenção e suas aplicações no manejo.

Entendermos e respeitarmos suas características, ter conhecimento profundo de

Etologia e Biologia da espécie envolvida, torna-se obrigação para técnicos que utilizam

a contenção na lida com animais.

Cabe ainda dizer, que de pouco adiantará este conhecimento, se as instalações

ou equipamentos não forem adequados, tanto na forma como na dimensão.

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Na construção ou adequação de um curral, os aspectos do comportamento e da

estrutura biológica dos bovinos devem ser levados em conta.

Exemplo: dado o posicionamento de seus olhos, os bovinos tem um ângulo de

visão muito amplo, mas também têm alguns pontos cegos, contrastes de sombra e luz,

tornam-se dificuldade de manejo.

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Em tempos de excelência na pecuária, trabalhos de construção ou adequação de

um curral, deverão ser efetivados por técnicos que têm conhecimentos sobre

comportamento bovino, aplicados na contenção. Deixou de ser tarefa do carpinteiro que

resolve problemas de alvenaria, para ser ação planejada com o objetivo de facilitar o

manejo do gado. Melhor o peão fazer a planta do curral do que o engenheiro que não

conhece bovino.

Currais bem planejados, que evite a formação de cantos, facilite a condução dos

animais se traduz em menor estresse, menos lesões, menor risco de acidentes, peões

mais calmos e melhor qualidade na matéria prima carne.

Bibliografia: EXAME CLINICO DOS BOVINOS – Rosenberger MÉTODOS DE CONTENÇÃO DE BOVINOS – Duvaldo Eurides MANEJO RACIONAL NA VACINAÇÃO DE BOVINOS NELORE – M. Chiquitelli

neto/M. Paranhos COMPORTAMENTO E BEM-ESTAR DE BOVINOS E SUAS RELAÇÕES COM A

PRODUÇÃO DE QUALIDADE. Mateus J.R. Paranhos da Costa.