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A CONTRIBUIÇÃO DA ARQUITETURA NOS ESPAÇOS SAGRADOS Joicymara Coelho Correia 1 RESUMO O ser humano carrega com si a necessidade de crer em algo como forma de dar sentido à sua existência. Na religião, por meio da fé, o homem busca uma relação com o sagrado. Sendo a arquitetura a forma de o homem intervir no espaço, torna-se esta responsável também por contribuir com tal relação, surgindo então os espaços sagrados. Nesse contexto, o artigo busca compreender como a arquitetura de um espaço sagrado interfere em uma imersão religiosa. Para isso realizou-se uma pesquisa exploratória a partir de estudo bibliográfico sobre arquitetura religiosa, análise de projeto arquitetônico e de um edifício/igreja situado na cidade de Ipatinga, no estado de Minas Gerais, Brasil. A partir dessa pesquisa, verificou-se a perda de qualidade dos espaços sagrados na atualidade, na maioria das vezes, devido às possibilidades financeiras das pequenas comunidades, resultando no processo de descaracterização do lugar litúrgico, naquilo que deveria ser e representar, bem como a própria comunidade. Palavras-Chave: Arquitetura religiosa. Espaços sagrados. Edifício igreja. ABSTRACT The human being carries with it the need to believe in something as a way to give meaning to their existence. In religion, through faith, the man seeks a connection with the holy. Being the architecture the way to the man to interfere in space, becomes it responsible also for contribute with such relationship, creating thus the holy spaces. In this context, the article seeks understand how the space in holy architecture interferes in religious immersion. For this, it was conducted exploratory research from of a bibliographical study about religious architecture, analysis of a design architectural and a building/church in the city of Ipatinga, in the state of Minas Gerais, Brazil. From this survey, it was found the loss of quality of holy spaces in current days, most of the time, due to reduced financial possibilities of small religious communities, resulting in the process of mischaracterization of the liturgical place, what should be and represent, well as the community itself. Keywords: Religious architecture. Holy spaces. Building church. 1 INTRODUÇÃO A intervenção no espaço como forma de vincular-se ao sagrado está presente ao longo de toda a história da humanidade, assim como da arquitetura. Desde 1 Acadêmica do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais - UNILESTE/MG.

A CONTRIBUIÇÃO DA ARQUITETURA NOS ESPAÇOS SAGRADOS

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Trabalho de Conclusão de Curso I do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste de Minas Gerais.

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A CONTRIBUIÇÃO DA ARQUITETURA NOS ESPAÇOS SAGRADOS

Joicymara Coelho Correia1

RESUMO

O ser humano carrega com si a necessidade de crer em algo como forma de dar sentido à sua existência. Na religião, por meio da fé, o homem busca uma relação com o sagrado. Sendo a arquitetura a forma de o homem intervir no espaço, torna-se esta responsável também por contribuir com tal relação, surgindo então os espaços sagrados. Nesse contexto, o artigo busca compreender como a arquitetura de um espaço sagrado interfere em uma imersão religiosa. Para isso realizou-se uma pesquisa exploratória a partir de estudo bibliográfico sobre arquitetura religiosa, análise de projeto arquitetônico e de um edifício/igreja situado na cidade de Ipatinga, no estado de Minas Gerais, Brasil. A partir dessa pesquisa, verificou-se a perda de qualidade dos espaços sagrados na atualidade, na maioria das vezes, devido às possibilidades financeiras das pequenas comunidades, resultando no processo de descaracterização do lugar litúrgico, naquilo que deveria ser e representar, bem como a própria comunidade.

Palavras-Chave: Arquitetura religiosa. Espaços sagrados. Edifício igreja.

ABSTRACT

The human being carries with it the need to believe in something as a way to give meaning to their existence. In religion, through faith, the man seeks a connection with the holy. Being the architecture the way to the man to interfere in space, becomes it responsible also for contribute with such relationship, creating thus the holy spaces. In this context, the article seeks understand how the space in holy architecture interferes in religious immersion. For this, it was conducted exploratory research from of a bibliographical study about religious architecture, analysis of a design architectural and a building/church in the city of Ipatinga, in the state of Minas Gerais, Brazil. From this survey, it was found the loss of quality of holy spaces in current days, most of the time, due to reduced financial possibilities of small religious communities, resulting in the process of mischaracterization of the liturgical place, what should be and represent, well as the community itself.

Keywords: Religious architecture. Holy spaces. Building church.

1 INTRODUÇÃO

A intervenção no espaço como forma de vincular-se ao sagrado está presente

ao longo de toda a história da humanidade, assim como da arquitetura. Desde

1 Acadêmica do curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário do Leste

de Minas Gerais - UNILESTE/MG.

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os primórdios o homem é capaz de intervir e aperfeiçoar o espaço em que vive.

Em suas antigas construções, a forma e os materiais empregados dependiam

do local que se encontravam e das características geográficas. No entanto, a

arquitetura deveria atender duas necessidades: a defesa e a religiosidade.

Sempre houve pelo homem, a noção do sagrado e a necessidade de manifestá-lo na realidade cotidiana da vida na Terra, fato que assumiu maneiras diversas ao longo da existência humana, não só porque a interpretação da transcendência é própria de cada tempo, como porque a forma de expressá-la é característica de cada cultura (OLIVEIRA, 2010, p.18).

Os espaços sagrados na antiguidade, sempre se localizavam em pontos

estratégicos e como consequência transformavam-se em marcos de referência

na paisagem local. Desde as antigas civilizações, tais espaços eram pensados

e construídos como forma de expressar e materializar a doutrina de determinada

religião, assim como representar poder, domínio e fortaleza.

Ao longo dos anos, a forma de conceber o espaço arquitetônico religioso se

modificou e evoluiu, de acordo com as necessidades, condições humanas e

cultura. A arquitetura religiosa já não apresenta tanto um caráter autoritário, no

entanto, a essência permanece, permitir a ligação com o divino.

Segundo Kuchenbecker (1996, p.18), o homem “busca de diversas maneiras se

religar com Deus”. Ou seja, faz parte do ser humano crer em algo e é dessa

forma que ele dá sentido à sua existência. Sendo a arquitetura, a forma de o

homem intervir no espaço, torna-se essa responsável também por contribuir com

essa relação entre o Homem e o Sagrado. Surge então o problema do presente

artigo: como a arquitetura de um espaço sagrado pode interferir de fato em uma

imersão religiosa?

Dentre os mais diversos espaços para práticas religiosas, o artigo aborda o

edifício igreja, local onde os cristãos se reúnem para as celebrações litúrgicas.

Segundo o Catecismo da Igreja Católica, o termo "igreja" deriva da reunião das

pessoas que nela acontece. A sua função primordial é acolher a assembleia que

se propõe a realizar o convite de Jesus: "Fazei isto em memória de mim" (Bíblia

Sagrada, 2016).

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Para Machado (2001, p.14), “a igreja é a imagem da comunidade que ela abriga.

A construção reflete um jeito de ser Igreja em determinado tempo e lugar”. Logo,

se faz necessário compreender a comunidade e aquilo que ela deve ser e

representar. Torna-se relevante estudar como a arquitetura pode contribuir para

que esses espaços sagrados contemporâneos possam tornar símbolo,

referência na paisagem e espelho de uma comunidade.

Por base no que foi exposto, o objetivo geral do artigo visa compreender como

a arquitetura de um espaço sagrado interfere em uma imersão religiosa. Para

isso é indispensável analisar a relação do homem e o espaço sagrado ao longo

da humanidade, compreender a importância da Igreja Católica quanto edifício e

símbolo, examinar a relação corpo x espaço no edifício igreja a partir da

semiótica e fenomenologia, atendendo as necessidades de uma comunidade.

Para alcançar tais objetivos será utilizada uma metodologia exploratória a partir

de estudo bibliográfico sobre arquitetura religiosa, análise de projeto

arquitetônico e de um edifício/igreja situado na cidade de Ipatinga/MG.

2 O HOMEM EM BUSCA DO SAGRADO

O ser humano carrega com si, a necessidade de crer em algo como forma de

dar sentido à sua existência. Sua consciência natural o impulsiona a buscar algo

superior a ele mesmo. Trata-se da busca pelo sagrado.

Segundo a Bíblia Sagrada, Deus criou o mundo e todas as coisas. Criou também

o Homem, o fazendo à sua imagem e semelhança. Havia, portanto, uma plena

e perfeita comunhão entre a criatura e seu Criador. Porém, a partir do momento

em que o homem usa de seu livre arbítrio e opta por se entregar ao proibido,

desconhecido e incerto, essa comunhão com Deus é perdida. Segundo

Kuchenbecker (1996, p.18), nesse momento, o homem se afasta do divino e

desde então “busca de diversas maneiras se religar com o seu Deus”. Essa

busca juntamente com diferentes costumes, crenças e ritos, resulta nas mais

diversas religiões.

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O termo religião, segundo os dicionários, origina do latim religio, que significa

louvor e reverência aos deuses, ou também a crença na existência de um poder

ou princípio superior. Mas os etimologistas discutem bastante a respeito sobre a

real origem etimológica da palavra religião. Para Kuchenbecker, o termo surgiu

a partir da junção do prefixo re, que funciona como um intensificador da palavra

que o sucede, ligare, que significa unir ou atar. Assim, religare teria o sentido de

ligar novamente, religar, enfim, retornar a comunhão entre a criatura e seu

Criador, que outrora foi perdida.

Em todos os tempos, épocas, povos, civilizações e culturas, a preocupação com o eterno está presente na vida do Homem. A preocupação do homem em se relacionar com um ser superior faz parte da história da humanidade (Kuchenbecker, 1996, p.23).

Para os povos primitivos, toda natureza era sagrada e por meio dela garantiam

sua sobrevivência. Por ser capaz de compreender a si mesmo e às coisas que

o cercam, o homem, desde os primórdios, intervém e aperfeiçoa o meio natural.

Assim como a religiosidade se faz presente ao longo da vida humana na Terra,

ela se faz presente também na arquitetura.

Nos tempos mais antigos, as intervenções arquitetônicas estavam limitadas à

localização geográfica e os poucos materiais e ferramentas à disposição do

homem. No entanto, a arquitetura sempre estava voltada para a defesa e a

religiosidade. Um exemplo disso é Stonehenge (Figura 1), concebido a

aproximadamente 3.100 a.C. na Inglaterra. Trata-se de um conjunto de pedras

dispostas em círculos, a fim de permitir um maior entendimento sobre os astros.

Entretanto, acredita-se que a obra foi, acima de tudo, concebida como um

espaço religioso, ou seja, seu objetivo principal era estabelecer uma conexão

com o Divino. “Os corpos celestes nascendo e pondo-se na estrutura, unificava

céu e terra, homem e deuses”. (LANGER, 1980).

Poderíamos remeter aos significados dos bisões e cavalos das cavernas da Europa paleolítica ou dos santuários cosmogônicos como Stonehenge, no período neolítico, para dizer o quão distante é o desejo de expressar, pela arte, ou materializar pela arquitetura, a imaterialidade dos conflitos humanos ou a inefabilidade da fé (OLIVEIRA, 2010, p.18).

Outra intervenção humana religiosa ainda na Pré-história é o Alinhamento de

Carnac (Figura 2) formado em 1.800 a.C. na França. Ao mesmo tempo em que

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os alinhamentos de menires serviam de barragem para o avanço das areias e

do mar para proteger os espaços agrícolas, percebe-se também a motivação

religiosa.

Figura 1: Stonehenge Figura 2: Alinhamento de Carnac

Fonte: Steffen Heilfort (2006) Fonte: Steffen Heilfort (2007)

Os alinhamentos de menires destinavam-se ao culto da fecundidade, para que

os solos se tornassem produtivos e para que as mulheres se tornassem férteis.

Esse rito é considerado como o culto à grande Deusa Mãe, que na Pré-História

se reconhecia como a divindade primordial nutridora de todos os seres vivos.

Percebe-se que durante a pré-história a religião, até então, estava centrada no

culto à Deusa Mãe. Essa forma de cultuar diferentes deuses permaneceu e se

intensificou na Idade Média. As antigas civilizações, como os egípcios, gregos e

romanos eram politeístas, ou seja, acreditavam e temiam a vários deuses. Nesse

período os sacerdotes eram os responsáveis por interpretar as vontades divinas

e ensinar à sociedade a viver e adorá-los. Sendo assim, na Idade Média os

espaços sagrados ganham destaque.

Os egípcios e outras civilizações, como os incas, maias e astecas,

caracterizavam-se por suas pirâmides monumentais, repletas de associações

místicas. No antigo Egito, as pirâmides construídas em pedra, como tumbas aos

faraós, representavam os raios do Sol, brilhando em direção à Terra. Acreditava-

se que por meio da pirâmide, o faraó se elevaria ao céu, se juntando ao sol e

aos deuses. É na civilização egípcia que surge o primeiro arquiteto conhecido na

história, Imhotep.

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Os gregos caracterizavam-se pela intensa busca da beleza e perfeição, dessa

forma, apresentavam belos santuários. O templo era a construção mais

importante por se tratar da morada dos deuses. “O templo grego não era

concebido como a casa dos fiéis, mas como a morada impenetrável dos deuses”

(FRADE, 2007, p.21). Essas características foram absorvidas também pelos

romanos, os quais apresentavam o mesmo ideal de beleza e harmonia. “O

resultado nos templos bem construídos era a obtenção de um equilíbrio perfeito

e harmônico” (FRADE, 2007, p. 21).

Fica evidente também o caráter político por trás desses templos e demais

monumentos. O desejo de impor à sociedade soberania e domínio, por meio da

arquitetura, sempre existiu. Nem por isso, o caráter religioso é desmerecido. O

homem se mostra ao longo da história um ser religioso. A busca em materializar

as crenças e doutrinas de determinada religião é algo que carrega consigo desde

sua existência.

Independente da religião, a busca pelo sagrado torna-se possível por meio da

fé. Fé é ter confiança e crer como verdade, os ensinamento e princípios

difundidos por determinada religião. Pode-se dizer, de forma breve, que a fé

cristã é acreditar em Deus e em sua existência. É crer em Sua palavra - a Bíblia

Sagrada e em seu filho Jesus Cristo.

A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se veem [...]. Ora, sem fé é impossível agradar-lhe porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam (Bíblia Sagrada, 2016).

Para a Igreja Católica, por exemplo, ao professar a fé, você confessa que crê em

um só Deus, Pai todo poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas

visíveis e invisíveis. É possível professar a fé durante a liturgia, momento em que

os cristãos celebram e proclamam o mistério de Cristo. Porém, para que isso se

torne possível se faz necessária a presença do espaço celebrativo, o edifício

igreja.

3 O EDIFCÍO IGREJA

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O edifício igreja é o local onde os cristãos se reúnem para as celebrações

litúrgicas. Tal espaço religioso surgiu a partir das necessidades da própria

comunidade cristã, que foi crescente após Constantino, em 313 d.C., elevar o

cristianismo como religião oficial do Império Romano. Até então não havia

lugares específicos para a realização do culto e a partilha do pão. As próprias

residências tornavam-se espaços a serviço da comunidade e da celebração

eucarística.

Os cristãos da era apostólica continuaram a se reunir no Templo para a oração conforme os costumes hebráicos, mas quando se reuniam para o culto especificamente cristão - a fração do pão - usavam edicifios que estivessem mais a mão, normalmente casas comuns (FRADE, 2007, p.31).

Provavelmente a mais antiga casa de oração cristã é a de Dura Europos, na

região do Eufrates. Como mostra a imagem a seguir (Figura 3), a casa era

composta por três salas maiores: uma para a realização do rito eucarístico, uma

para a instrução dos catecúmenos e outra para o batismo. “Nesta última foram

encontrados frescos e grafites batismais, o que revela a grande importância que

os cristãos antigos davam à iniciação cristã” (LIMA, 2010, p.3).

Figura 3: Planta de Dura Europos

Fonte: Silvio Colin (2011)

Com a oficialização da religião e a liberdade de culto, houve o crescimento do

número de fiéis, assim as casas de famílias tornaram-se pequenas para atender

as comunidades que foram se formando e multiplicando. Foi necessário então

adquirir outros espaços destinados exclusivamente para o culto. Ainda no

império de Constantino inicia-se a construção das basílicas, edifícios planejados

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como grandes salões destinados a acomodar grandes congregações. Segundo

Frade (2007, p.35), “A origem da basílica em si era, ao que parece, uma

derivação dos palácios da Pérsia. Era a sala de audiências do rei ou, como era

chamado, do basileus, donde o termo basílica”

A basílica de São João de Latrão, construída a partir de 313 e 324 d.C., é

considerada a primeira com finalidade religiosa. Esse edifício apresentava forma

longitudinal e os seguintes elementos arquitetônicos: o átrio (1), responsável por

representar a passagem entre o mundo profano e o recinto sagrado, a nave

central (2), as naves laterais (3), o transepto (4), o altar (5) e a abside (6) onde

ficava o presbitério, conforme planta a seguir:

Figura 4: Planta da Basílica São João de Latrão

Fonte: Silvio Colin (2011)

Tais elementos arquitetônicos permaneceram presentes nas construções que

surgiram posteriormente e ao longo dos anos foram se aperfeiçoando. Pode-se

dizer que tais edifícios encontraram maturidade com as catedrais góticas,

adquirindo sua excelência por meio dos simbolismos inseridos na arquitetura.

Um exemplo é a Catedral de Notre Dame Chartres construída em 1145 e

reconstruída após um incêndio em 1193. A partir da figura 5, percebe-se que

elementos como o átrio (1), a nave central (2), as naves laterais (3) e o transepto

(4) permanecem, porém, há uma valorização do altar (5) e a inserção do coro

(6), o deambulatório (7) e as capelas (8).

[...] um caminho a ser percorrido, onde a imagem da vida humana e profana tem como fim encontrar a Cristo. Isso se traduz na longitudinalidade das catedrais góticas. A trajetória do observador é o

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tema interior da construção, definindo o espaço à medida que nele se caminha (OLIVEIRA, 2010, p. 27).

Figura 5: Planta da Catedral Notre Dame Chartres

Fonte: Silvio Colin (2011)

De fato, o estilo gótico contribuiu para valorização e apreciação dos espaços

sagrados, tanto externamente quanto internamente, mas vale pontuar que outros

estilos arquitetônicos presentes na história como o renascimento, maneirismo,

barroco, neoclássico, cada qual com suas características próprias, também

contribuíram de forma positiva para a evolução do edifício igreja.

A arquitetura barroca, por exemplo, surge como resposta ao período de

transformação da Igreja Católica e do Cristianismo, após a Reforma Protestante,

liderada por Martinho Lutero que se colocou contrário à doutrina da Igreja. Nesse

cenário, a igreja elabora uma contrarreforma, através do Concílio de Trento e por

meio da arquitetura busca a perfeição e sedução do espectador com

ornamentação acentuada.

Oliveira (2010, p. 40) afirma que o homem barroco “tentou evadir-se pelo culto

exagerado da forma, sobrecarregando a poesia de figuras, como a metáfora, a

antítese, a hipérbole e alegoria” e Brandão (1999, p.138) completa dizendo que

“ao sistema, portanto interessava, persuadir o cidadão, seduzi-lo através do

impacto visual, da imaginação e do arrebatamento. Por isso, o mundo barroco,

se assemelha a um grande teatro”.

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Um exemplo significativo desse período conturbado e de transição da Igreja

Católica é a Igreja de Gesu, em Roma, concluída em 1568. Percebemos a

adaptação dos elementos arquitetônicos já apresentados até aqui. Conforme a

figura 6, as capelas laterais (1) substituem as naves laterais para que o culto se

concentrasse na nave central (2) e o transepto (3) se introduz no corpo da

construção.

Figura 6: Planta da Igreja de Gesu

Fonte: Silvio Colin (2011)

O artigo em questão não abordará profundamente todos os estilos citados

anteriormente. Sendo assim, o tema será direcionado ao período vindouro a eles,

o movimento moderno, o qual foi marcado, mais uma vez, por mudanças

significativas no espaço litúrgico, por parte da Igreja Católica.

O movimento moderno foi caracterizado pelo advento das novas tecnologias.

Com a revolução industrial, há o crescimento das cidades e consequentemente

surge a demanda por novas construções. Essas mudanças sociais e culturais

refletem também no edifício igreja. A imagem imponente e grandiosa das

catedrais, conservada nos períodos passados, perde autenticidade e valor. De

modo a evitar a perda e o distanciamento cada vez maior de fiéis, principalmente

após a Reforma Protestante, a Igreja Católica percebe a necessidade de

reestruturar-se, fato que já havia acontecido em 1545 no Concílio de Trento.

Nesse cenário e com o intuito de instituir um diálogo entre a igreja e a sociedade

moderna, surge o Movimento Litúrgico e mais tarde o Concilio Vaticano II.

Diante do crescimento e implicações decorrentes do Movimento litúrgico e diante de uma nova sociedade moderna, com novos hábitos,

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pensamentos e demandas, a Igreja vê a necessidade de um novo concílio ecumênico, com o objetivo de adequar suas leis e regras frente a esse novo contexto sócio cultural, resgatando suas tradições cristãs mais antigas e suas raízes mais genuínas no que diz respeito à Eucaristia (OLIVEIRA, 2010, p.53).

Iniciado em 1962 pelo Papa João XXIII com fim somente em 1965, sob comando

do Papa João VI, o Concílio determinou diretrizes que vigoram até os dias atuais.

Segundo o próprio Papa João XXIII o objetivo foi "promover o incremento

da fé católica e uma saudável renovação dos costumes dos cristãos, e adaptar

a disciplina eclesiástica às condições do nosso tempo".

Portanto, mais uma vez, a configuração espacial do edifício igreja sofre

alterações. Alguns elementos arquitetônicos predominantes na origem das

basílicas são eliminados. Dentre as mudanças ocorridas, a principal é a

valorização e centralização do altar a fim de proporcionar uma maior participação

da comunidade.

[...] porque com a participação na celebração, os fiéis reunidos pelo espírito podem voltar-se para Deus como seu povo, como Igreja, de modo não abstrato, mas concreto: rezando juntos, cantando com um só coração e uma só alma (TRIACCA, 1956 apud FRADE, 2007, p. 351).

Nesse período modernista e pós Concílio, amplia-se as construções de edifícios

religiosos. Esses apresentam características totalmente diferente das tipologias

apresentadas até aqui. Os projetos a partir desse momento aproveitam-se e

exploram das formas, das disponibilidades de materiais e técnicas. Em busca

dessa arquitetura multifacetada, conceitual e funcional, a arquitetura transcende

o movimento moderno, pós-moderno e chega na contemporaneidade.

Um exemplo dessa nova arquitetura é a Igreja do Jubileu, projetada pelo

arquiteto Richard Méier e construída em Roma entre 1996 e 2003 (figuras 7 e 8).

Segundo o arquiteto, a ousadia nas linhas e o material utilizado na construção

do templo estimulam as experiências do fiel, o convidando a se abrir

espontaneamente para o céu e essa percepção do espaço modifica-se de acordo

com a estação do ano, o tempo, a hora e a intensidade da luz. “A arquitetura cria

a possibilidade da espiritualidade, porquanto não deixa indiferente o fiel, mas o

envolve, suscitando-lhe profundas emoções espirituais” (MEIER).

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Figuras 7 e 8: Igreja do Jubileu

Fonte: Scott Frances (2003)

O edifício sagrado, na sua disposição geral, deve reproduzir de algum modo a imagem da assembleia congregada, proporcionar a conveniente coordenação de todos os seus elementos e facilitar o perfeito desempenho da função de cada um (INSTRUÇÃO GERAL DO MISSAL ROMANO, 2002, p.40).

Dessa forma, percebe-se uma nova forma de se pensar o espaço sagrado,

deixando de lado os estilos históricos predominantes. Sendo assim, o edifício

igreja torna-se o abrigo da comunidade, de forma a atender as necessidades dos

fiéis, as atividades litúrgicas e acolher os equipamentos necessários para a

celebração e comunhão do corpo de Cristo.

4 ELEMENTOS E SÍMBOLOS

A arquitetura contemporânea é acompanhada de certa liberdade estética e

espacial. No entanto, a Igreja Católica apresenta alguns documentos (pós

Concilio Vaticano II), que interferem e auxiliam na forma de conceber o espaço

arquitetônico religioso, como por exemplo, a disposição da assembleia, a qual

deve estar localizada de modo que sua participação se torne mais ativa e

também especificando os elementos que compõem o espaço litúrgico, como o

altar (único, fixo e sólido), o ambão (estável, de fácil acesso e visível), a cadeira

do sacerdote (ao fundo do presbitério e de frente para o povo), o sacrário (não

transparente e inviolável), a ornamentação (simples e digna) e a presença das

imagens, que segundo a Instrução Geral do Missal Romano (2002, p.43),

“imagens do Senhor, da bem-aventurada Virgem Maria e dos Santos, as quais

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devem estar dispostas de tal modo no lugar sagrado, que os fiéis sejam levados

aos mistérios da fé que ali se celebram”.

Outra determinação presente na Instrução Geral do Missal Romano (2002, p.40),

referem-se aos símbolos: “os edifícios sagrados e os objetos destinados ao culto

divino devem ser dignos e belos como sinais e símbolos das realidades

celestes”. Segundo o Catecismo da Igreja Católica, sinais e símbolos são de

suma importância na vida do homem.

Sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais por meio de sinais e de símbolos materiais. Como ser social, o homem precisa de sinais e de símbolos para comunicar-se com os outros, pela linguagem, por gestos, por ações. Vale o mesmo para sua relação com Deus (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA, 1992, § 1146).

Segundo Oliveira (2010, p.15), “O homem recorre ao símbolo para expressar

uma realidade abstrata, um sentimento ou ideia, que é invisível aos sentidos, e

que dá sentido à sua vida, ou seja, faz com que o homem encontre um lugar no

universo”. O homem como ser religioso, imprime esse simbolismo nas coisas

que o cercam e consequentemente na arquitetura. Oliveira (2010, p.100)

completa, “os templos de todas as épocas, sejam medievais, clássicos ou

barrocos, de pedra ou de madeira, comportam todos, elementos simbólicos de

temor e respeito, de efusão e mistério, sem o qual não reconhecemos o

sagrado”.

A Catedral Metropolitana de Nossa Senhora Aparecida, mais conhecida como

Catedral de Brasília (figuras 9 e 10), concebida em 1958 e inaugurada em 1970,

por Oscar Niemeyer, torna-se um exemplo de espaço religioso onde tal

simbolismo se faz presente. Segundo Müller (2003, p. 11), “simultaneamente à

ousadia estrutural, explode, a adequação funcional e a significação litúrgica”.

Do lado externo, a catedral apresenta o campanário e a rampa de acesso ao

subsolo, onde encontram-se o corpo principal, a sacristia e o batistério. No seu

interior, a catedral apresenta capacidade para quatro mil fiéis, estando a 3m

abaixo do nível da Esplanada com 40m de pé-direito e 70m de diâmetro, coberto

pela estrutura, que serve ao mesmo tempo como vedação e cúpula. O corpo

principal é destinado tanto à celebração eucarística quanto à experimentação

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íntima do sagrado. O batistério, a sacristia, as salas auxiliares de culto e

escritórios eclesiásticos surgem a parte, como anexos, para não comprometer a

pureza do corpo principal.

Figuras 9 e 10: Catedral de Brasília

Fonte: Ana de Oliveira (2014)

A Catedral alia, na concepção redentoramente simples, o dinamismo formal gótico/expressionista com a estaticidade e pureza geométrica e espacial clássico/renascentista, sintetizando tudo com uma vontade de experimentação da forma e do espaço sedutoramente barroca (MÜLLER, 2003 p. 26).

Niemeyer ousa na solução arquitetônica, tanto espacial quanto estrutural,

exprimindo ao mesmo tempo monumentalidade e simbolismo. “São muitas as

metáforas, signos, símbolos e leituras possíveis [...] indubitavelmente, a forma

da Catedral de Brasília emana sentido religioso; é apelo contundente ao

sagrado” (Müller, 2003, p. 25).

A composição, que toma o céu cheio de sugestões simbólicas para esvair-se no infinito, é das realizações mais significativas da arquitetura religiosa mundial no século XX [...]. A unidade alcançada entre forma, volume, estrutura e simbolismo religioso faz concepção revolucionária tão ou mais importante que Gaudí na Sagrada Família, Perret em Raincy, Corbusier em Ronchamp, ícones consagrados em termos de arquitetura religiosa cristã do século XX (MÜLLER, 2003 p. 31).

4.1 Semiótica e fenomenologia

O edifício igreja, como qualquer outro espaço arquitetônico, quanto construção

já interfere em um determinado tempo e espaço. Tal construção quando se

apropria de sinais e símbolos e refletem a existência humana, tornam-se muito

mais que simples formas geométricas, tornam-se uma experiência, capaz de

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influenciar o físico e o mental, o cultural e biológico, o coletivo e o individual,

assim como na Catedral de Brasília.

Uma obra arquitetônica não é apenas um espaço cujo significado se esgota no fato de abrigar as pessoas com suas atividades específicas. Não importa se com ou sem projeto ou com intencionalidade alguém a produz, ela se torna algo autônomo, refletindo os que a construíram e os que a habitam (MORAES, 2008 apud VALBUZA, 2015, p. 80).

Nesse contexto simbólico, surgem dois conceitos a serem analisados: a

semiótica e a fenomenologia. Esses fenômenos quando aplicados na arquitetura

são capazes de interferir na forma de vivenciar e apropriar o espaço. No edifício

igreja, por exemplo, tais conceitos contribuem na imersão espiritual durante o rito

eucarístico e a comunhão com Deus e o próximo.

Semiótica é a ciência que estuda as linguagens e o fenômeno de produção de

significação e de sentido. Essas linguagens são as formas do homem se

expressar. Como apresentado anteriormente, os símbolos são responsáveis

pela significação humana, sendo assim, contata-se que semiótica está

diretamente relacionada aos símbolos. Segundo Broadbent “a arquitetura é o

sistema de signos mais interessante e mais complexo”.

Já a fenomenologia é capaz de dar significado ao ambiente. Para o arquiteto

Norberg-Schulz (2010) para entender melhor o conceito de fenomenologia, basta

pensarmos em objetos tangíveis como por exemplo os edifícios e as mobílias, e

intangíveis como os sentimentos gerados na existência do ser e por meio de

suas memórias. Para ele a fenomenologia estuda os ambientes, considerando

seus aspectos físicos e simbólicos. Juhani Pallasma (2010) completa que a

fenomenologia é olhar a arquitetura a partir da consciência que a vivencia e faz

uma crítica: “As construções de nosso tempo talvez despertem curiosidade pela

ousadia e criatividade, mas dificilmente provocam uma percepção do significado

do mundo ou de nossa própria existência”.

Esses conceitos são perceptíveis no projeto da Capela da Divina Misericórdia,

em Coronel Fabriciano/MG, de Thaynara Valbuza, a qual por meio de um

Page 16: A CONTRIBUIÇÃO DA ARQUITETURA NOS ESPAÇOS SAGRADOS

seminário2 pôde expor o problema, o conceito e a estratégia de projeto

desenvolvida. Em busca de responder o seguinte problema: “Será que as

construções religiosas da contemporaneidade podem refletir a ideologia da igreja

e produzir espaços mistagógicos?”, Valbuza propôs um templo católico, dotado

de semiótica e fenomenologia, com flexibilidade para promover atividades

culturais, a fim de estimular a apropriação da comunidade e do bairro. A

estratégia de projeto torna-se “uma arquitetura que dobre e se desdobre para

colocar o homem sempre em uma dimensão de introspecção ou adoração”.

O edifício igreja é um local de refúgio, introspecção e interiorização, tanto para o

corpo, como para a alma, no qual o indivíduo reflete sua própria conduta perante

o “olhar” de Deus e também um local de adoração, louvor e comunhão com o

próximo. É o local de agradecimento, mas ao mesmo tempo de súplica e perdão.

Após os conceitos de semiótica e fenomenologia, percebe-se que esses

influenciam diretamente na vivência e relação corpo e espaço e que por meio

dos sinais e símbolos aplicados ao espaço sagrado, o edifício torna-se também

um receptáculo de memórias e sentimentos.

5 O EDIFÍCIO IGREJA EM IPATINGA: COMUNIDADE NOSSA SENHORA DO

ROSÁRIO

A partir da constante busca do homem em relação ao sagrado e o histórico

arquitetônico religioso acompanhado de significativas mudanças no edifício

igreja e dos demais assuntos abordados no presente artigo, se fez necessário

aplicar tais conhecimentos em um edifício igreja da região. Nesse contexto,

surge a Comunidade Nossa Senhora do Rosário, localizada no bairro Bethânia,

na cidade de Ipatinga, Minas Gerais. Trata-se de uma pequena comunidade,

existente há aproximadamente 30 anos, pertencente a Paróquia Cristo Redentor

- responsável também por outras 9 comunidades locais. Sua formação se deu a

partir de um desejo comum dos moradores mais antigos do bairro. Inicialmente,

2 Seminário realizado por Thaynara Valbuza em 13/04/2016 durante a 27º Semana Integrada do curso de Arquitetura e Urbanismo, no Centro Universitário do Leste de Minas Gerais. Apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso II: Projeto arquitetônico da Capela da Divina Misericórdia.

Page 17: A CONTRIBUIÇÃO DA ARQUITETURA NOS ESPAÇOS SAGRADOS

o espaço foi adaptado e improvisado para a realização das missas e

celebrações, mas ainda nos primeiros anos, surge os primeiros investimentos e

posteriormente, a comunidade junto com a Paróquia, consegue erguer seu

primeiro edifício igreja.

Construído com poucos recursos financeiros e sem assessoramento técnico

para auxiliar na produção do espaço religioso, o edifício apresenta sistema

construtivo de alvenaria com planta (figura 11) e volumetria simples,

contrastando ao máximo com as grandes basílicas e catedrais surgidas desde a

Idade Média, nos períodos góticos, renascentista, barroco e neoclássico. A falta

de um mapeamento, conceito e estratégia de projeto arquitetônico no edifício

resultou em uma deficiência quanto as soluções de conforto ambiental, inserção

de luz e cor nos ambientes e conceitos como semiótica e fenomenologia, já

discutidos no artigo em questão. Essa deficiência influencia diretamente na

vivência e relação corpo e espaço no edifício igreja e como consequência

interferem na imersão religiosa por parte do fiel durante a celebração da

Eucaristia.

Figura 11: Planta Comunidade Nossa Senhora do Rosário

Fonte: Autora (2016)

Percebe-se que o edifício igreja apresenta elementos arquitetônicos, como a

nave (1), o altar (2), o batistério (3), o sacrário (4), a sacristia (5) e o coro (6).

Porém segundo os estudos da CNBB - Conferência Nacional dos Bispos do

Brasil (número 166) o programa mínimo necessário para se construir um edifico

com as características da Comunidade Nossa Senhora do Rosário são: nave,

Page 18: A CONTRIBUIÇÃO DA ARQUITETURA NOS ESPAÇOS SAGRADOS

altar, coro, capela do santíssimo, batistério, sacristia, sala de reunião, secretaria,

campanário, jardim e átrium. No entanto, se faz necessário também espaços

para suporte nas atividades pastorais, como: salas para a realização da

catequese, depósito, cozinha e sanitários. Contudo, percebe-se mais uma vez,

a deficiência do edifício devido à falta de planejamento e programa de

necessidades completo e eficaz que atenda além das celebrações, as atividades

pastorais, culturais e as comemorações festivas realizadas na comunidade.

6 CONCLUSÃO

A partir dos pressupostos teóricos estudados e apresentados no presente artigo

foi possível perceber a constante busca do homem em relação ao sagrado ao

longo da história da humanidade. Percebe-se que tal necessidade foi

responsável pelo surgimento de diferentes culturas, crenças e religiões e

consequentemente nos espaços destinados ás práticas de cada uma delas.

Através da pesquisa bibliográfica e análise da evolução histórica arquitetônica

comprovou-se mudanças significativas nos templos católicos - o edifício igreja.

Pode-se concluir que tais mudanças ocorreram principalmente após a revolução

industrial, com o advento das novas tecnologias e movimentos reformadores

como o Movimento litúrgico e o Concílio Vaticano II, contribuindo positivamente

na concepção dos espaços religiosos, aproximando cada vez mais os fiéis do

rito Eucarístico.

Por meio de análises de projetos arquitetônicos, como o projeto da Catedral de

Brasília, de Niemeyer e até mesmo o projeto da Capela da Divina Misericórdia

apresentado no seminário por Valbuza, fica claro a importância de se pensar e

projetar espaços religiosos simbólicos, dotados de semiótica e fenomenologia,

os quais possam atender as necessidades da comunidade que abriga e ao

mesmo tempo representa-la. Ao aplicar tais conhecimentos em um edifício igreja

situado na cidade de Ipatigna/MG, mais especificamente na Comunidade Nossa

Senhora do Rosário, foi possível perceber um processo de descaracterização do

espaço litúrgico em pequenas comunidades que se formam com poucos

Page 19: A CONTRIBUIÇÃO DA ARQUITETURA NOS ESPAÇOS SAGRADOS

recursos financeiros e sem assessoramento técnico, havendo a perda de

qualidade desses espaços.

Com base nesses entendimentos, fica evidente que na contemporaneidade, ao

conceber um espaço religioso é necessário explorar das formas, volumes,

disponibilidades de materiais e técnicas. A escolha do sistema construtivo, as

soluções de conforto ambiental e até mesmo os mobiliários adotados em projeto

influenciam diretamente na vivência e relação do corpo no espaço sagrado.

Portanto, ressalta-se que o edifício igreja deve ser resultado de uma arquitetura

conceitual e funcional, que dotada de semiótica e fenomenologia propicie ao fiel

uma imersão religiosa durante a celebração. Para finalizar, conclui-se que o

edifício igreja deve quanto arquitetura, tornar-se um receptáculo tanto para o

corpo, quanto para alma.

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