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disponível em www.scielo.br/prc 605 A Contribuição de Variáveis Cognitivas para a Leitura e a Escrita no Português Brasileiro The Contribution of Cognitive Variables for Reading and Writing in Brazilian Portuguese Cláudia Nascimento Guaraldo Justi *, a & Antonio Roazzi b a Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil & b Universidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil Resumo O presente estudo investigou se as variáveis ‘processamento fonológico’ (memória de trabalho fonológica e consciência fonológica), ‘nomeação seriada rápida’ e ‘consciência morfológica’ contribuem de forma independente umas das outras para a leitura e a escrita no português brasileiro, após o controle da idade e da inteligência não verbal. Participaram da pesquisa 94 crianças matriculadas na 3 a série (quarto ano) do ensino fundamental de três escolas particulares. Os resultados de análises de regressão hierárquica indicaram que o processamento fonológico, a nomeação seriada rápida e a consciência morfológica apresentaram contribuições independentes para a habilidade de escrita. Porém, no que diz respeito à precisão e à fluência de leitura, apenas o processamento fonológico e a nomeação seriada rápida contribuíram para essas habilidades. Palavras chave: Consciência fonológica, memória de trabalho fonológica, nomeação seriada rápida, consciência morfológica, leitura e escrita. Abstract The purpose of this study was to evaluate the independent contribution of phonological processing (pho- nological awareness and phonological working memory), rapid naming and morphological awareness to reading and writing skills in Brazilian Portuguese. Ninety-four third-graders of three private Brazilian schools took part in this study. Hierarchical regression analyses were carried out on measures of reading (accuracy and fluency) and writing skills controlling for age and intelligence. The results showed an independent contribution of phonological processing, rapid naming and morphological awareness for writing skill. However, the results for measures of reading accuracy and reading fluency indicated that only pho- nological processing and rapid naming made independent contributions for such skills. Keywords: Phonological awareness, phonological working memory, rapid naming, morphological aware- ness, reading and writing. Ler e escrever estão entre as aquisições mais signifi- cativas da mente humana, assim como estão entre as ha- bilidades mais criticamente requeridas nas sociedades modernas. Pesquisas sobre as variáveis cognitivas pre- ditivas da leitura e da escrita têm uma longa história e pode-se dizer que dessas variáveis a mais amplamente pesquisada é a consciência fonológica (Bryant & Bradley, 1987; Snowling & Hulme, 2005; Wagner & Torgesen, 1987). Bryant e Bradley (1987) definiram ‘consciência fonológica’ como sendo a habilidade de refletir sobre os sons que compõem a fala. Existem evidências conside- ráveis, provenientes de estudos longitudinais, de que a consciência fonológica é precursora do desenvolvimento da leitura e da escrita (Bryant & Bradley, 1987; Bryant, MacLean, Bradley, & Crossland, 1990; Cardoso-Martins, 1995). Além disso, estudos de intervenção evidenciam que o treinamento da consciência fonológica tem um efeito benéfico sobre a aquisição dessas habilidades (Bryant & Bradley, 1987; Byrne & Fielding-Barnsley, 1995; Capovilla & Capovilla, 2000). Outra variável cognitiva que parece se relacionar com a leitura e a escrita é a memória de trabalho fonológica (Mann & Liberman, 1984; Share, Jorm, Maclean, & Matthews, 1984). A memória de trabalho fonológica re- laciona-se ao funcionamento da ‘alça fonológica’ do modelo de memória de trabalho de Baddeley (2000), sendo um sistema ativo de memória envolvido no pro- cessamento e na manutenção temporária de informação codificada fonologicamente. De acordo com Wagner et * Ambos os autores agradecem ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por financiar suas atividades. Esse estudo é parte integrante da tese de doutorado da primeira autora. Endereço para correspondência: Universidade Federal de Juiz de Fora, ICH/Departamento de Psicologia, Rua José Lourenço Kelner, s/n, Campus Universitário, São Pedro, Juiz de Fora, MG, Brasil, 36036-330. E-mail: [email protected] e [email protected]

A Contribuição de Variáveis Cognitivas Para a Leitura e a Escrita No Português Brasileiro

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estudo do desenvolvimento da linguagem

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    A Contribuio de Variveis Cognitivas para a Leiturae a Escrita no Portugus Brasileiro

    The Contribution of Cognitive Variables for Reading and Writingin Brazilian Portuguese

    Cludia Nascimento Guaraldo Justi*, a & Antonio Roazzi baUniversidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Brasil

    & bUniversidade Federal de Pernambuco, Recife, Brasil

    ResumoO presente estudo investigou se as variveis processamento fonolgico (memria de trabalho fonolgicae conscincia fonolgica), nomeao seriada rpida e conscincia morfolgica contribuem de formaindependente umas das outras para a leitura e a escrita no portugus brasileiro, aps o controle da idade eda inteligncia no verbal. Participaram da pesquisa 94 crianas matriculadas na 3a srie (quarto ano) doensino fundamental de trs escolas particulares. Os resultados de anlises de regresso hierrquica indicaramque o processamento fonolgico, a nomeao seriada rpida e a conscincia morfolgica apresentaramcontribuies independentes para a habilidade de escrita. Porm, no que diz respeito preciso e flunciade leitura, apenas o processamento fonolgico e a nomeao seriada rpida contriburam para essashabilidades.Palavras chave: Conscincia fonolgica, memria de trabalho fonolgica, nomeao seriada rpida,conscincia morfolgica, leitura e escrita.

    AbstractThe purpose of this study was to evaluate the independent contribution of phonological processing (pho-nological awareness and phonological working memory), rapid naming and morphological awareness toreading and writing skills in Brazilian Portuguese. Ninety-four third-graders of three private Brazilianschools took part in this study. Hierarchical regression analyses were carried out on measures of reading(accuracy and fluency) and writing skills controlling for age and intelligence. The results showed anindependent contribution of phonological processing, rapid naming and morphological awareness for writingskill. However, the results for measures of reading accuracy and reading fluency indicated that only pho-nological processing and rapid naming made independent contributions for such skills.Keywords: Phonological awareness, phonological working memory, rapid naming, morphological aware-ness, reading and writing.

    Ler e escrever esto entre as aquisies mais signifi-cativas da mente humana, assim como esto entre as ha-bilidades mais criticamente requeridas nas sociedadesmodernas. Pesquisas sobre as variveis cognitivas pre-ditivas da leitura e da escrita tm uma longa histria epode-se dizer que dessas variveis a mais amplamentepesquisada a conscincia fonolgica (Bryant & Bradley,1987; Snowling & Hulme, 2005; Wagner & Torgesen,1987). Bryant e Bradley (1987) definiram conscinciafonolgica como sendo a habilidade de refletir sobre os

    sons que compem a fala. Existem evidncias conside-rveis, provenientes de estudos longitudinais, de que aconscincia fonolgica precursora do desenvolvimentoda leitura e da escrita (Bryant & Bradley, 1987; Bryant,MacLean, Bradley, & Crossland, 1990; Cardoso-Martins,1995). Alm disso, estudos de interveno evidenciamque o treinamento da conscincia fonolgica tem umefeito benfico sobre a aquisio dessas habilidades(Bryant & Bradley, 1987; Byrne & Fielding-Barnsley,1995; Capovilla & Capovilla, 2000).

    Outra varivel cognitiva que parece se relacionar coma leitura e a escrita a memria de trabalho fonolgica(Mann & Liberman, 1984; Share, Jorm, Maclean, &Matthews, 1984). A memria de trabalho fonolgica re-laciona-se ao funcionamento da ala fonolgica domodelo de memria de trabalho de Baddeley (2000),sendo um sistema ativo de memria envolvido no pro-cessamento e na manuteno temporria de informaocodificada fonologicamente. De acordo com Wagner et

    * Ambos os autores agradecem ao Conselho Nacional deDesenvolvimento Cientfico e Tecnolgico (CNPq) porfinanciar suas atividades.Esse estudo parte integrante da tese de doutorado daprimeira autora.Endereo para correspondncia: Universidade Federal deJuiz de Fora, ICH/Departamento de Psicologia, Rua JosLoureno Kelner, s/n, Campus Universitrio, So Pedro,Juiz de Fora, MG, Brasil, 36036-330. E-mail:[email protected] e [email protected]

  • Psicologia: Reflexo e Crtica, 25(3), 605-614.

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    al. (1997), uma codificao fonolgica eficiente na me-mria de trabalho capacita o leitor a manter uma repre-sentao precisa dos fonemas associados com letras ougrupos de letras, o que o permite devotar mais recursoscognitivos para processos de decodificao e compre-enso. De uma forma geral, enquanto alguns estudosevidenciam que a contribuio da memria de trabalhofonolgica para a leitura e a escrita independente dacontribuio da conscincia fonolgica (Babayigit &Stainthorp, 2007; de Jong & van der Leij, 1999; Nagy,Berninger, & Abbott, 2006), outros evidenciam que no(Powell, Stainthorp, Stuart, Garwood, & Quinlan, 2007;Snowling, Hulme, Smith, & Thomas, 1994; Wagner,Torgesen, & Rashotte, 1994).

    Alm da conscincia fonolgica e da memria de tra-balho fonolgica, outra varivel que se relaciona com odesenvolvimento da leitura e da escrita a nomeao se-riada rpida (Denckla & Rudel, 1976; Wolf & Bowers,1999). Na tarefa clssica desenvolvida por Denckla eRudel (1976) para avaliar a nomeao seriada rpida, oparticipante nomeia, to rpida e corretamente quantopossvel, um conjunto de cinquenta estmulos visuais,todos de alta frequncia de ocorrncia, dispostos em s-rie em um carto. Os estmulos visuais a serem nomea-dos podem ser: quadrados coloridos; nmeros; objetosdesenhados; e, letras. Atualmente, h um nmero subs-tancial de estudos que evidenciam que o desempenho emtarefas de nomeao seriada rpida preditivo do de-sempenho em tarefas de leitura e de escrita, mesmo entrecrianas aprendendo a ler e a escrever em diversos siste-mas alfabticos, como, por exemplo, o alemo (Wimmer,Mayringer, & Landerl, 2000), o noruegus (Lervg,Brten, & Hulme, 2009), o finlands (Lepola, Poskiparta,Laakkonen, & Niemi, 2005), o holands (Verhagen,Aarnoutse, & van Leeuwede, 2008), o espanhol (Lpez-Escribano & Katzir, 2008), o ingls (Kirby, Pfeiffer, &Pariila, 2003), o francs (Plaza & Cohen, 2004) e o portu-gus brasileiro (Guaraldo & Cardoso-Martins, 2005). Noentanto, a natureza dessa relao ainda controversa.Por um lado, Wagner e Torgesen (1987) argumentam quea tarefa de nomeao seriada rpida avaliaria primor-dialmente a recuperao de cdigos fonolgicos da me-mria de longo prazo e por ter essa relao com o pro-cessamento fonolgico seria preditiva da leitura e da es-crita. Por outro lado, Wolf e Bowers (1999) argumentamque a nomeao seriada rpida se relacionaria com a lei-tura e a escrita, primordialmente, por avaliar processosno fonolgicos como, por exemplo, processos envolvi-dos no estabelecimento de padres visuais.

    Outra varivel cognitiva da qual existem evidncias deuma relao com a leitura e a escrita a conscincia mor-folgica (Carlisle, 1995; Guimares, 2005; Mota, Anibal,& Lima, 2008; Nagy et al., 2006; Nunes, Bryant, &Bindman, 1997). De acordo com Carlisle, o termoconscincia morfolgica refere-se . . . conscincia daestrutura morfolgica das palavras e habilidade de

    refletir sobre e manipular essa estrutura (1995, p. 194).H evidncias de que a conscincia morfolgica contri-bui para a leitura e para a escrita, mesmo aps o controleda conscincia fonolgica e da nomeao seriada rpida(Plaza & Cohen, 2004; Roman, Kirby, Parrila, Wade-Woolley, & Deacon, 2009).

    Um fato curioso que apesar do nmero considervelde estudos evidenciando a relao de cada uma dessasvariveis com a leitura e a escrita, parece que o nicoestudo que considerou todas essas variveis ao inves-tigar a contribuio da conscincia morfolgica para aescrita foi o estudo de Deacon, Kirby e Casselman-Bell(2009). Os pesquisadores controlaram, alm de variaesna inteligncia, variaes na conscincia fonolgica, namemria de trabalho fonolgica e na nomeao seriadarpida ao investigarem a contribuio da conscinciamorfolgica para a escrita. Os resultados indicaram umacontribuio da conscincia morfolgica para essa ha-bilidade que foi independente da contribuio de todasas outras variveis. Mais estudos como esse precisam serrealizados, uma vez que conhecer a especificidade dacontribuio de cada uma dessas variveis pode ser fun-damental para se compreender melhor a relao que elastm com a leitura e a escrita.

    Tendo em vista essa lacuna na literatura, o presenteestudo teve como objetivo investigar a contribuio in-dependente do processamento fonolgico (memria detrabalho fonolgica e conscincia fonolgica)1, da no-meao seriada rpida e da conscincia morfolgica paraa leitura e a escrita no portugus brasileiro, aps o con-trole de variaes na idade e na inteligncia no-verbal.

    Mtodo

    ParticipantesA amostra foi constituda por 94 crianas matriculadas

    em trs escolas particulares localizadas na cidade do Re-cife e que se encontravam na 3a srie (quarto ano) do en-sino fundamental. A idade das crianas variava de oitoanos e meio at dez anos e dez meses, sendo a mdiaigual a nove anos e trs meses (desvio padro de 5,59meses). Dessas 94 crianas, 46 so do sexo feminino(48,9%) e 48 do sexo masculino (51,1%). O critrio paraincluir essas crianas na pesquisa foi a assinatura, pelosseus responsveis, do Termo de Consentimento Livre eEsclarecido. Adotou-se como critrio de excluso a ob-teno de escore zero por parte do participante nos testesde leitura ou escrita do Teste de Desempenho Escolar(TDE). Cabe salientar que nenhuma criana se enqua-drou no critrio de excluso e que todas as 94 crianasparticiparam da pesquisa at o seu trmino. Essa pesqui-

    1 Vide a seo Resultados para uma justificativa do por-que as medidas de conscincia fonolgica e memriade trabalho fonolgica foram colapsadas em uma nicavarivel chamada processamento fonolgico.

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    Justi, C. N. G. & Roazzi, A. (2012). A Contribuio de Variveis Cognitivas para a Leitura e a Escrita no Portugus Brasileiro.

    sa foi aprovada pelo Comit de tica em Pesquisa daUniversidade Federal de Pernambuco (nmero de regis-tro 064/08).

    Instrumentos2

    Avaliao da Leitura e da EscritaSubteste de leitura do Teste de Desempenho Escolar

    ([TDE], Stein, 1994). Esse teste foi utilizado para avaliara preciso de leitura.

    Teste de Fluncia de Leitura (TFL). O teste TFL foi de-senvolvido no presente estudo para avaliar a fluncia deleitura. A tarefa foi composta por 60 palavras, sendo todasregulares (do ponto de vista do mapeamento grafema-fonema) e de mdia frequncia de ocorrncia, de acordocom o trabalho de Pinheiro (1996), considerando-se a 3srie do ensino fundamental. As crianas foram instrudasa ler as palavras apresentadas em um carto, da esquerdapara a direita, em voz alta, de forma precisa e o mais rapi-damente possvel at ouvirem um sinal. Esse sinal indica-va o trmino do tempo de 30 segundos que foi marcadopor um contador regressivo (acionado pelo examinadorassim que a frase pode comear era dita ao participante).O escore consistiu no nmero de palavras lidas correta-mente no intervalo estabelecido. A testagem contou comuma sesso de treinamento.

    Subteste de escrita do Teste de Desempenho Escolar([TDE], Stein, 1994). Esse teste foi utilizado para avaliara preciso de escrita.

    Avaliao da Conscincia FonolgicaTarefa de Subtrao de Fonemas (tarefa desenvolvida

    tendo como base a tarefa de subtrao de fonemas deRosner & Simon, 1971). Essa tarefa consiste na apre-sentao oral de uma palavra (p.ex.: /KaRta/) e o reque-rimento de que o participante, mentalmente, subtraia umsom em particular (p.ex.: /K/) e diga o som que perma-neceu (p.ex.: /aRta). A tarefa administrada no presenteestudo foi desenvolvida com o objetivo de avaliar a ha-bilidade da criana de subtrair fonemas presentes na pri-meira slaba da palavra (por exemplo, subtrair o /z/ dapalavra zero), na slaba intermediria da palavra (porexemplo, subtrair o /f/ da palavra professor), e na lti-ma slaba da palavra (por exemplo, subtrair o /s/ da pa-lavra pea). O escore consistiu no nmero de itensrespondidos corretamente. A testagem contou com umasesso de treinamento.

    Tarefa de Spoonerismo (tarefa adaptada por Cardoso-Martins, Haase, & Wood, 1998, da Phonological Asses-sment Battery desenvolvida por Frederickson, Frith, &Reason, 1997). A tarefa de spoonerismo requer que o

    participante troque o primeiro som de duas palavras apre-sentadas um pelo outro (Ex.: /miLU veRdi/ = /vilLUmeRdi/). A correo dessa tarefa se deu da seguinte for-ma, para cada item: a criana no recebeu pontos, quan-do errou as duas palavras; um ponto, quando acertou ape-nas uma palavra; e, dois pontos, quando respondeu cor-retamente as duas palavras. Essa tarefa tambm contoucom uma sesso de treinamento.

    Avaliao da Nomeao Seriada RpidaTarefa de Nomeao Seriada Rpida de Letras (adap-

    tada de Denckla & Rudel, 1976). Foram selecionadas paracompor essa tarefa as cinco letras mais frequentes paracrianas da 3 srie do ensino fundamental, tendo comobase a lista de frequncia de ocorrncia de palavras dePinheiro (1996). O participante era instrudo a nomear,to rpida e corretamente quanto possvel, um conjuntode cinquenta estmulos visuais (correspondentes a 10apresentaes de cada uma das cinco letras, em ordemaleatria) dispostos em srie em um carto. Como o n-mero de erros nessa tarefa nfimo, o escore consistiu notempo gasto para se pronunciar o nome de todos os est-mulos do carto. Essa tarefa contou com uma sesso detreinamento na qual o conhecimento da criana acerca donome dos estmulos era verificado.

    Tarefa de Nomeao Seriada Rpida de Nmeros (adap-tada de Denckla & Rudel, 1976). Os cinco nmeros utili-zados na tarefa de nomeao seriada rpida de nmerosforam escolhidos entre os dez nmeros de um nico dgi-to pelo fato de serem todos disslabos. Os procedimentosforam os mesmos da tarefa de nomeao seriada rpidade letras, porm considerando-se que os estmulos, nessecaso, eram nmeros.

    Tarefa de Nomeao Seriada Rpida de Objetos (adap-tada de Denckla & Rudel, 1976). Os nomes dos cincoobjetos utilizados na tarefa de nomeao seriada rpidade objetos so disslabos. De uma forma geral, os objetosescolhidos para compor a tarefa de nomeao seriada r-pida de objetos esto entre os cinco itens mais tpicos desuas respectivas categorias, de acordo com os resultadosdo estudo de Pinheiro (2007) realizado com crianasbrasileiras da 1 4 srie do ensino fundamental. Osprocedimentos foram os mesmos da tarefa de nomeaoseriada rpida de letras, porm considerando-se que osestmulos, nesse caso, eram objetos.

    Tarefa de Nomeao Seriada Rpida de Cores (adap-tada de Denckla & Rudel, 1976). As cores utilizadas natarefa de nomeao seriada rpida de cores so as mes-mas utilizadas por Denckla e Rudel (1976), pois as mes-mas tiveram altos ndices de tipicidade entre crianasbrasileiras da 3 srie do ensino fundamental (Pinheiro,2007). Os procedimentos foram os mesmos da tarefa denomeao seriada rpida de letras, porm considerando-se que os estmulos, nesse caso, foram cores.2 Por questes de espao optou-se por descrever apenas

    os testes que no so padronizados.

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    Avaliao da Conscincia MorfolgicaTarefa de Analogia de Palavras (tarefa desenvolvida

    tendo como base a tarefa de Nunes et al., 1997). Nessatarefa o participante deve identificar a transformaomorfolgica realizada pelo examinador em um par depalavras e realizar uma transformao semelhante emuma palavra alvo enunciada pelo examinador, seguindoo esquema A est para B assim como C est paraD. Os itens da tarefa envolveram relaes entre ele-mentos das seguintes classes gramaticais: 1) substanti-vo verbo; 2) verbo substantivo; 3) adjetivo verbo;4) verbo adjetivo; 5) adjetivo substantivo; e, 6) subs-tantivo adjetivo. Os itens que foram selecionados paracompor essa tarefa foram escolhidos a fim de minimizara possibilidade de a criana acertar a resposta graas influncia da fonologia. O escore consistiu no nmerode itens respondidos corretamente. Essa tarefa contoucom uma sesso de treinamento.

    Avaliao da Memria de Trabalho FonolgicaSubteste Dgitos da Escala de Inteligncia Wechsler

    para Crianas ([WISC-III], Wechsler, 2002). Essesubteste foi utilizado para avaliar a memria de traba-lho fonolgica.

    Avaliao da Inteligncia No VerbalTeste Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (Ange-

    lini, Alves, Custdio, W. Duarte, & Duarte, 1999). Esseteste foi utilizado para avaliar a inteligncia no verbal.

    ProcedimentosAs crianas realizaram as tarefas na prpria escola, em

    uma sala sugerida pela coordenao. A maioria das tare-fas foi administrada em sesses individuais, com dura-o de, aproximadamente, 15 minutos. Apenas a tarefade escrita (TDE) foi administrada em grupos de, aproxi-madamente, cinco crianas, sendo o tempo mdio levadopelos grupos para a realizao da tarefa de 25 minutos.Com exceo da tarefa de escrita e da tarefa de intelign-cia no verbal, o desempenho dos participantes em todasas tarefas administradas no presente estudo foi gravado.Esse procedimento permitiu a checagem posterior dasinformaes anotadas nas folhas de resposta referentes acada tarefa.

    Resultados

    As informaes relativas ao escore mximo da tarefa, aoescore mximo obtido, ao escore mnimo obtido, mdia,ao desvio padro e fidedignidade das tarefas administra-das no presente estudo so apresentadas na Tabela 1.

    Tabela 1Estatsticas Descritivas e Fidedignidade das Tarefas Administradas

    Tarefas Mx.T Mx.O Mn.O M DP rxx

    Leitura/TDE 70 70 58 66 2,86 0,98Escrita/TDE 35 35 11 26,16 4,61 0,94Fluncia de Leitura 60 60 16 37,64 10,46 0,70Analogia de Palavras 12 12 4 8,66 2,25 0,65Spoonerismo 20 20 0 14,83 4,88 0,88Subtrao de Fonemas 21 21 6 16,35 3,30 0,80Dgitos/WISC (escore ponderado) 30 19 5 12,43 2,76 0,62Nomeao Seriada Rpida de Cores (seg.) 73,6 31,2 46,07 9,66 0,92Nomeao Seriada Rpida de Nmeros (seg.) 49,61 18,5 28,61 5,81 0,92Nomeao Seriada Rpida de Objetos (seg.) 84,8 30,6 47,76 8,94 0,91Nomeao Seriada Rpida de Letras (seg.) 40,80 19,1 27,86 4,87 0,91Inteligncia no verbal/Raven (Percentil) 99 99 1 64,52 26,02 0,92

    Nota. Mx.T = Escore Mximo da Tarefa; Mx.O = Escore Mximo Obtido; Mn. = Escore Mnimo Obtido; M = mdia; DP =Desvio Padro; rxx = fidedignidade. A fidedignidade dos testes padronizados foi obtida do manual dos testes. Os valores defidedignidade referentes s tarefas de fluncia de leitura e nomeao seriada rpida representam o coeficiente de fidedignidadedas duas metades, aps a correo de Spearman-Brown (Hogan, 2006). Os valores referentes s demais tarefas so coeficientesalfa de Cronbach.

    Como se pode observar na Tabela 1, as tarefas utiliza-das apresentaram ndices de fidedignidade que variaramde aceitvel a excelente, de acordo com os critrios pro-postos por Hair, Anderson, Tatham e Black (2006). Con-siderou-se como tendo uma distribuio normal todas asvariveis cujos escores resultantes das divises do

    skewness por seu erro padro e da diviso da kurtosis porseu erro padro foram maiores do que -1,96 e menoresdo que 1,96 (Dilalla & Dollinger, 2006; Kline, 2005).Assim sendo, apenas as variveis Escrita/TDE, Flun-cia de Leitura, Dgitos/WISC e Inteligncia no ver-bal/Raven apresentaram uma distribuio normal. Com

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    Justi, C. N. G. & Roazzi, A. (2012). A Contribuio de Variveis Cognitivas para a Leitura e a Escrita no Portugus Brasileiro.

    exceo da varivel idade, as demais variveis foramsubmetidas a transformaes logartmicas e aps essastransformaes, todas apresentaram uma distribuio

    Tabela 2Correlaes (Pearson) entre as Variveis Cognitivas, Idade e as Habilidades de Leitura e Escrita

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

    1. Intel. 2. Leitura 0,09 3. Fluncia 0,08 0,47** 4. Escrita 0,04 0,53** 0,46** 5. Dgitos 0,17 0,28** 0,22* 0,41** 6. S.F. 0,12 0,42** 0,29** 0,32** 0,33** 7. Spoon. 0,08 0,38** 0,43** 0,50** 0,38** 0,51** 8. NSRC -0,02 0,30** 0,41** 0,29** 0,19 0,21* 0,23* 9. NSRN -0,12 0,37** 0,47** 0,28** 0,09 0,13 0,14 0,59** 10. NSRO -0,01 0,22* 0,41** 0,24* 0,11 0,12 0,14 0,82** 0,62** 11. NSRL 0,01 0,32** 0,50** 0,36** 0,19 0,11 0,10 0,61** 0,80** 0,63** 12. A.P. 0,20* 0,21* 0,19 0,35** 0,40** 0,24* 0,35** 0,07 0,00 0,03 0,05

    Nota. Intel. = Inteligncia No Verbal/Raven; Fluncia = Fluncia de Leitura; S.F. = Subtrao de Fonemas; Spoon. = Spoonerismo;NSRC = Nomeao Seriada Rpida de Cores; NSRN = Nomeao Seriada Rpida de Nmeros; NSRO = Nomeao SeriadaRpida de Objetos; NSRL = Nomeao Seriada Rpida de Letras; A.P. = Analogia de Palavras.Todas as correlaes em negrito foram significativas. * = correlaes significativas em nvel 0,05; ** = correlaes significativasem nvel 0,01.

    Como se pode observar na Tabela 2, as variveis Lei-tura e Escrita correlacionaram-se significativamentecom todas as variveis excetuando-se a varivel Inteli-gncia no verbal/Raven. J a varivel Fluncia de Lei-tura s no apresentou uma correlao estatisticamentesignificativa com as variveis Inteligncia no verbal/Raven e Analogia de Palavras. Uma correlao estatis-ticamente significativa foi observada tambm entre as va-riveis Dgitos, Subtrao de Fonemas, Spoonerismoe Analogia de Palavras. No que se refere, especifi-camente, s tarefas de nomeao seriada rpida, foramdetectadas correlaes significativas que foram de mo-deradas a fortes, entre as quatro tarefas. Entre as quatromedidas de nomeao seriada rpida, a nica que apre-sentou uma correlao estatisticamente significativa comas medidas de conscincia fonolgica foi a NomeaoSeriada Rpida de Cores, que se correlacionou tanto comSubtrao de Fonemas quanto com Spoonerismo, po-rm essas correlaes foram fracas (0,21 e 0,23, respecti-vamente). Por fim, a varivel Inteligncia no verbal/Raven correlacionou-se significativamente apenas coma analogia de palavras (r = 0,20, p = 0,05). Para avaliara relao da varivel idade com as demais variveis,anlises de correlao de Spearman foram computadas,uma vez que a varivel idade no apresentou distribuionormal. Os resultados dessas anlises indicaram que avarivel idade correlacionou-se significativamente ape-nas com a varivel Inteligncia no verbal/Raven (rho

    normal3. A Tabela 2 apresenta a correlao de Pearsonentre as variveis desse estudo. As anlises das correla-es foram baseadas nos dados j transformados.

    3 As variveis Leitura/TDE, subtrao de fonemas,spoonerismo e analogia de palavras apresentaram dis-tribuies negativamente assimtricas e foram subme-tidas seguinte transformao logartmica: Ln [valormximo escore + 1] (Kline, 2005). Por outro lado, asvariveis nomeao seriada rpida de cores, nomea-o seriada rpida de nmeros, nomeao seriada r-pida de objetos e nomeao seriada rpida de letrasapresentaram distribuies positivamente assimtricas eforam submetidas seguinte transformao logartmica:Ln [escore + 1] (Kline, 2005). Aps esses procedimen-tos, todas as variveis transformadas apresentaram umadistribuio normal.

    = -0,22, p < 0,05) e com a varivel subtrao de fonemas(rho = -0,28, p < 0,01).

    Tendo como objetivo investigar a contribuio da cons-cincia morfolgica, do processamento fonolgico e dosprocessos subjacentes nomeao seriada rpida para aleitura e a escrita, anlises de regresso hierrquica fo-ram efetuadas. A deciso de incluir nas anlises de regres-so a varivel processamento fonolgico, que umamedida composta das duas medidas de conscincia fono-lgica e da medida de memria de trabalho fonolgica,foi baseada nos resultados de anlises fatoriais confirma-trias realizadas previamente. Essas anlises, realizadaspor meio da modelagem de equao estrutural, indica-ram que o melhor modelo de mensurao foi aquele noqual as medidas de conscincia fonolgica (subtrao defonemas e spoonerismo) e de memria de trabalhofonolgica ([subteste de dgitos do WISC-III], Wechsler,

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    2002) carregaram em um mesmo fator e as medidas denomeao seriada rpida (cores, nmeros, objetos e le-tras) carregaram em outro4. Assim sendo, uma medidacomposta das quatro medidas de nomeao seriada rpi-da tambm foi calculada e includa nas anlises de re-gresso hierrquica, recebendo o nome de nomeaoseriada rpida5.

    Na Tabela 3 so apresentados os resultados de dezoitoanlises de regresso hierrquica. Dessas anlises, seisforam desenvolvidas para avaliar a contribuio doprocessamento fonolgico, da conscincia morfolgica eda nomeao seriada rpida para a preciso de leitura,

    seis foram desenvolvidas para avaliar a contribuio des-sas variveis para a fluncia de leitura e seis foram de-senvolvidas para avaliar a contribuio dessas variveispara a escrita. Em todas as anlises realizadas a idade e ainteligncia foram controladas. Todas as anlises envol-veram cinco passos. A idade cronolgica e a intelignciano verbal entraram, em todas as anlises, no primeiro esegundo passos, respectivamente. J as variveisprocessamento fonolgico, nomeao seriada rpidae conscincia morfolgica entraram nos passossubsequentes, em ordem alternada, em cada uma das an-lises (vide Tabela 3).

    4 Essas anlises foram desenvolvidas considerando-se odebate entre Wagner e Torgesen (1987) e Wolf e Bowers(1999) acerca da natureza da nomeao seriada rpida.No entanto, por questes de espao e como o objetivo dopresente estudo outro, essas anlises sero apresenta-das em outro trabalho.

    Tabela 3Anlises de Regresso Hierrquica Considerando como Variveis Critrio a Preciso de Leitura, a Fluncia deLeitura e a Preciso de Escrita e como Variveis Explicativas a Idade, a Inteligncia No Verbal, o ProcessamentoFonolgico, a Nomeao Seriada Rpida e a Conscincia Morfolgica

    Passos Variveis Variveis Critrio

    Explicativas Leitura/TDE Fluncia de leitura Escrita/TDE

    R2 R2 Sig. R2 R2 Sig. R2 R2 Sig.

    1) Idade 0,01 0,01 0,26 0,01 0,01 0,43 0,06 0,06 0,022) Intel. 0,01 0,00 0,79 0,01 0,00 0,59 0,06 0,00 0,82

    3) P.F. 0,16 0,15 0,00 0,12 0,11 0,00 0,27 0,21 0,004) N.S.R. 0,26 0,10 0,00 0,33 0,20 0,00 0,32 0,05 0,015) C.M. 0,26 0,00 0,72 0,33 0,00 0,41 0,36 0,03 0,04

    3) C.M. 0,02 0,01 0,34 0,04 0,03 0,09 0,17 0,11 0,004) N.S.R. 0,17 0,15 0,00 0,30 0,26 0,00 0,26 0,09 0,005) P.F. 0,26 0,09 0,00 0,33 0,04 0,03 0,36 0,10 0,00

    3) N.S.R. 0,17 0,15 0,00 0,27 0,26 0,00 0,16 0,10 0,004) P.F. 0,26 0,10 0,00 0,33 0,05 0,01 0,32 0,16 0,005) C.M. 0,26 0,00 0,72 0,33 0,00 0,42 0,36 0,03 0,04

    3) C.M. 0,02 0,01 0,34 0,04 0,03 0,09 0,17 0,11 0,004) P.F. 0,16 0,14 0,00 0,13 0,09 0,00 0,30 0,13 0,005) N.S.R. 0,26 0,10 0,00 0,33 0,21 0,00 0,36 0,05 0,01

    3) P.F. 0,16 0,15 0,00 0,12 0,11 0,00 0,27 0,21 0,004) C.M. 0,16 0,00 0,66 0,13 0,00 0,57 0,30 0,03 0,055) N.S.R. 0,26 0,10 0,00 0,33 0,21 0,00 0,36 0,05 0,01

    3) N.S.R. 0,17 0,15 0,00 0,27 0,26 0,00 0,16 0,10 0,004) C.M. 0,17 0,01 0,40 0,30 0,02 0,09 0,26 0,10 0,005) P.F. 0,26 0,09 0,00 0,33 0,04 0,03 0,36 0,10 0,00

    Nota. R2 = mudana em R2; Sig. = nvel de significncia da mudana em F; Intel. = Inteligncia no verbal; P.F. = ProcessamentoFonolgico; N.S.R. = Nomeao Seriada Rpida; C.M. = Conscincia Morfolgica.

    5 O mesmo procedimento foi utilizado para calcular amedida composta de processamento fonolgico e denomeao seriada rpida. Esse procedimento consis-tiu na padronizao dos escores de cada tarefa com-ponente da medida composta; na soma desses escorespadronizados; e, em uma nova padronizao do resulta-do da soma desses escores.

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    Justi, C. N. G. & Roazzi, A. (2012). A Contribuio de Variveis Cognitivas para a Leitura e a Escrita no Portugus Brasileiro.

    Como pode ser observado na Tabela 3, aps o controledo efeito de variaes na idade e na inteligncia, o pro-cessamento fonolgico e a nomeao seriada rpida ex-plicaram, separadamente, 15% da varincia da habilida-de de preciso de leitura. Quando a varivel proces-samento fonolgico entrou na equao regressiva aps anomeao seriada rpida e a conscincia morfolgica, elaexplicou um adicional de 9% da varincia da habilidadede preciso de leitura. J a varivel nomeao seriadarpida explicou um adicional de 10% da varincia dessahabilidade quando entrou na equao regressiva aps ocontrole da idade, da inteligncia, do processamentofonolgico e da conscincia morfolgica. A conscinciamorfolgica no explicou nenhuma porcentagem sig-nificativa de variaes na habilidade de preciso de lei-tura, mesmo quando entrou na equao regressiva ape-nas aps a idade e a inteligncia. Os resultados das an-lises de regresso quando todas as cinco variveis foramincludas na equao regressiva evidenciaram uma con-tribuio independente do processamento fonolgico (= 0,35; p < 0,05) e uma contribuio independente danomeao seriada rpida ( = 0,32; p < 0,05), mas no daconscincia morfolgica ( = 0,04; p > 0,05) para a pre-ciso de leitura.

    No que diz respeito fluncia de leitura, como podeser observado na Tabela 3, quando o processamento fo-nolgico entrou no terceiro passo, ou seja, aps a entradaapenas da idade e da inteligncia, ele explicou 11% davarincia dessa habilidade. Nessa mesma condio, anomeao seriada rpida explicou 26% da varincia dahabilidade de fluncia de leitura. A conscincia morfo-lgica no explicou nenhuma porcentagem significativadas variaes na fluncia de leitura, mesmo quando en-trou depois apenas da idade e da inteligncia. Aps aentrada da idade, da inteligncia, da conscincia morfo-lgica e da nomeao seriada rpida, o processamentofonolgico explicou um adicional de 4% da varincia dafluncia de leitura. Quando a nomeao seriada rpidaentrou no ltimo passo, ou seja, quando foram controla-dos os efeitos de todas as demais variveis, ela perma-neceu explicando 21% da varincia da habilidade de lerpalavras isoladas fluentemente.

    Os resultados relativos contribuio do processamen-to fonolgico, da conscincia morfolgica e da nomea-o seriada rpida para a fluncia de leitura, de uma for-ma geral, foram similares aos resultados encontrados paraa preciso de leitura: apenas o processamento fonolgicoe a nomeao seriada rpida contriburam significativa-mente para a fluncia de leitura quando todas as variveisde interesse foram includas no modelo de regresso. Aconscincia morfolgica no contribuiu significativamen-te ( = 0,08, p > 0,05). No entanto, diferente do encontra-do para a preciso de leitura, os resultados dessas anli-ses evidenciaram que a contribuio independente da no-meao seriada rpida para a fluncia de leitura ( = 0,47,p < 0,05) foi maior do que a contribuio independente doprocessamento fonolgico ( = 0,23, p < 0,05).

    Por fim, como pode ser observado na Tabela 3, aps ocontrole apenas da influncia de variaes na idade e nainteligncia, o processamento fonolgico explicou 21%da varincia da escrita, a conscincia morfolgica expli-cou 11% e a nomeao seriada rpida explicou 10%.Quando o processamento fonolgico entrou no ltimopasso, ele permaneceu explicando uma porcentagem sig-nificativa da varincia da habilidade de escrita (10%). Omesmo foi observado para a nomeao seriada rpida(5%). Diferentemente do encontrado nas anlises quan-do a varivel critrio foi a preciso de leitura ou a flun-cia de leitura, a conscincia morfolgica, mesmo entran-do aps todas as demais variveis na equao regressiva,permaneceu explicando, de forma significativa, 3% davarincia da habilidade de escrita. Os resultados das an-lises de regresso quando todas as cinco variveis foramincludas na equao regressiva evidenciaram uma con-tribuio independente do processamento fonolgico (= 0,36; p < 0,05), uma contribuio independente da no-meao seriada rpida ( = 0,24; p < 0,05) e uma contri-buio independente da conscincia morfolgica ( =0,20; p < 0,05) para a escrita.

    Discusso

    Com base nos resultados das anlises de regresso hie-rrquica que investigaram a contribuio do processamentofonolgico, dos processos subjacentes nomeao seria-da rpida e da conscincia morfolgica para as habilida-des de preciso e fluncia de leitura, pode-se dizer quetanto o processamento fonolgico quanto os processossubjacentes nomeao seriada rpida contribuem paraa preciso e a fluncia de leitura. No entanto, no que dizrespeito fluncia de leitura observou-se uma contribui-o maior dos processos subjacentes nomeao seriadarpida, o que condizente com outros estudos na rea(Bowers, 1995; Guaraldo & Cardoso-Martins, 2005;Pennington, Cardoso-Martins, Green, & Lefly, 2001).

    Os resultados do presente estudo no evidenciaram umacontribuio independente da conscincia morfolgica,nem para a preciso de leitura, nem para a fluncia deleitura. Como essa varivel no contribuiu de forma sig-nificativa, mesmo quando entrou na equao regressivaaps o controle apenas de variaes na idade e na inteli-gncia, no se pode atribuir a ausncia da contribuiodessa varivel incluso das variveis processamentofonolgico e nomeao seriada rpida na equao re-gressiva. O resultado do presente estudo de que a cons-cincia morfolgica no contribui para a fluncia deleitura consistente com o resultado do estudo de Nagyet al. (2006) que revelou que a conscincia morfolgicas contribuiu de forma significativa para a fluncia deleitura entre crianas da 8 e da 9 sries. No que se refere preciso de leitura, o estudo mais diretamente compa-rvel a este o de Mota et al. (2008), pois tambm foirealizado com crianas brasileiras e utilizou a mesma me-dida de leitura. Os resultados desse estudo foram de que

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    a conscincia morfolgica, mensurada pela tarefa de ana-logia de palavras, contribuiu para a preciso de leitura,mesmo aps o controle de variaes na idade. No entan-to, no estudo de Mota et al. (2008) a inteligncia no foicontrolada e, como no presente estudo a inteligncia noverbal correlacionou-se significativamente com a cons-cincia morfolgica (vide Tabela 2), provvel que casoessa varivel tivesse sido controlada no estudo de Motaet al. (2008) a conscincia morfolgica tambm deixassede contribuir para a preciso de leitura. Alm disso, im-portante ressaltar tambm que, quando mensurada pelatarefa de associao morfossemntica no estudo de Motaet al. (2008), a conscincia morfolgica no contribuiupara a preciso de leitura, mesmo controlando-se apenasa idade. Assim sendo, a contribuio da conscincia mor-folgica para preciso de leitura no portugus brasileiroainda precisa ser estabelecida.

    Quanto aos resultados relativos escrita, os resultadosdas anlises de regresso hierrquica revelaram que oprocessamento fonolgico, a nomeao seriada rpida ea conscincia morfolgica so variveis que, de formaindependente e significativa, predizem a escrita de pala-vras no portugus brasileiro. Uma questo que se podecolocar : por que a conscincia morfolgica contribuiupara a escrita, mas no para a leitura no presente estudo?Uma possibilidade que as tarefas de leitura do presenteestudo, por envolverem palavras, em sua maioria, regu-lares do ponto de vista do mapeamento grafema-fonema,no colocavam nenhuma demanda explcita ao conheci-mento morfolgico. J na tarefa de escrita, os partici-pantes podiam se beneficiar do conhecimento da morfo-logia das palavras para escrev-las corretamente. Porexemplo, para se pronunciar corretamente a palavraprestigioso no necessrio saber que ela derivadade prestgio, alis, no necessrio saber nem o queela significa, j que um mapeamento grafema-fonema e odomnio de regras contextuais do portugus so suficien-tes para produzir sua pronncia correta. No entanto, asituao diferente quando se vai escrever essa mesmapalavra, pois, nesse caso, saber que ela deriva de prest-gio pelo acrscimo do sufixo oso pode ajudar a crianaa escrev-la com a letra s e no com z. possvelargumentar que o conhecimento da morfologia poderiaajudar a pronunciar uma palavra como, por exemplo,boxeador. Afinal, ao saber que boxeador deriva-se deboxe e que a pronncia da ltima /bwksi/ e no /bwxi,pode-se utilizar essa informao para se pronunciar /boksiadoR/. No entanto, importante notar que nessa si-tuao, o papel do conhecimento morfolgico co-ocorrecom uma irregularidade no mapeamento grafema-fonemada palavra e, como a maioria das palavras utilizadas nostestes de leitura desse estudo regular, isso pode ter difi-cultado a deteco de um efeito da conscincia morfol-gica na leitura. Um corolrio dessa hiptese que, emestudos futuros, pode ser importante incluir tarefas quepermitam avaliar a contribuio das diferentes variveis

    para classes especficas de palavras. Caso isso se confir-me, possvel que seja mais fcil detectar uma contribui-o da conscincia morfolgica para a leitura em lnguasmenos transparentes como, por exemplo, o ingls (Mann,2000). Isso explicaria porque alguns estudos nessas ln-guas encontraram efeitos da conscincia morfolgica naleitura (Nagy et al., 2006; Roman et al., 2009).

    Concluso

    O objetivo do presente estudo foi investigar se, aps ocontrole de variaes na idade e na inteligncia, as va-riveis processamento fonolgico, nomeao seriadarpida e conscincia morfolgica apresentam contri-buies independentes umas das outras para a leitura epara a escrita no portugus brasileiro. Os resultados evi-denciaram uma contribuio robusta e independente doprocessamento fonolgico e da nomeao seriada rpidapara a preciso de leitura, para a fluncia de leitura e paraa escrita. Se somados aos resultados de outros estudos(e.g., Bryant & Bradley, 1987; Cardoso-Martins, 1995;Kirby et al., 2003; Lepola et al., 2005), esses resultadosreforam a importncia de programas que estimulem oprocessamento fonolgico e os processos subjacentes nomeao seriada rpida, tendo como meta o desenvol-vimento da leitura e da escrita.

    Considerando-se a conscincia morfolgica, os resul-tados do presente estudo indicam que essa varivel con-tribui para a escrita de forma independente do pro-cessamento fonolgico e da nomeao seriada rpida,corroborando estudos anteriores que indicam que essavarivel importante para a escrita (p.ex.: Guimares,2005; Mota et al., 2008; Nagy et al., 2006; Nunes et al.,1997). No entanto, para a preciso e a fluncia de leitura,pelo menos no que diz respeito ao portugus brasileiro,pode-se dizer que os resultados desse estudo questionama contribuio da conscincia morfolgica. Uma possi-bilidade que a contribuio da conscincia morfolgicapara a preciso de leitura encontrada em outros estudosrealizados no portugus brasileiro seja devida a falta decontrole estatstico de outras variveis (p.ex.: a intelign-cia no estudo de Mota et al., 2008). Outra hiptese esbo-ada a esse respeito a de que, talvez, a contribuio daconscincia morfolgica no seja geral, mas sim espec-fica a determinadas classes de palavras. Assim sendo, seriainteressante que estudos futuros pudessem explorar essapossibilidade.

    Uma limitao desse estudo, que pode ser superada emtrabalhos futuros, que apenas uma medida de conscin-cia morfolgica foi includa. A incluso de mais de umamedida para avaliar um construto importante, tendo emvista que nenhuma medida perfeita. Por fim, impor-tante considerar que esse estudo foi realizado apenas comcrianas da terceira srie (quarto ano) do ensino funda-mental. Desse modo, seria interessante que as mesmasquestes investigadas aqui, sejam investigadas em um

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    Justi, C. N. G. & Roazzi, A. (2012). A Contribuio de Variveis Cognitivas para a Leitura e a Escrita no Portugus Brasileiro.

    estudo longitudinal de forma que seja possvel acompa-nhar o desenvolvimento do processamento fonolgico,da nomeao seriada rpida e da conscincia morfolgicae sua relao com o desenvolvimento da leitura e daescrita.

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    Recebido: 23/09/20101 reviso: 20/04/20112 reviso: 06/06/2011

    Aceite final: 15/06/2011