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A Cooperação Técnica Brasileira para a América Latina à Luz da Teoria Construtivista nas Relações Internacionais Francine Ferraro 1 Mariele Christ 2 Resumo Considerando o crescente protagonismo do Brasil enquanto destacado ator de Cooperação Técnica Internacional (CTI), o presente trabalho visa compreender a estratégia de inserção brasileira na América Latina através da Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD). Considerando que a tendência predominante em Relações Internacionais tem sido o estudo do conflito em detrimento da cooperação, esse esforço de pesquisa procurará fazer uso da perspectiva construtivista para alcançar seu objetivo. De modo geral, a teoria construtivista aborda uma perspectiva alternativa para a compreensão do ambiente internacional através de uma perspectiva social e tem como premissa um mundo em permanente construção, em que os agentes são os principais protagonistas. A escolha pela América Latina se justifica por ser essa a região onde historicamente se iniciou, ainda na década de 1970, a atuação brasileira em CTPD. Acreditando, portanto, que essa atuação se aproxima, em certos aspectos, da perspectiva construtivista das Relações Internacionais, a presente pesquisa pretende realizar o mencionado exercício de análise. Palavraschave: Cooperação Técnica. Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento. América Latina. Construtivismo. Política Externa Brasileira. Introdução Nesse início de século XXI, o Brasil encontrase em pleno processo de amadurecimento de sua atuação no cenário internacional enquanto país doador de Cooperação Técnica entre Países em 3 Desenvolvimento (CTPD). O total dos gastos do Brasil em ações de cooperação técnica alcançaram um montante superior à quantia de R$ 286 milhões no ano de 2010 (IPEA; ABC, 2013). Esse 4 1 Graduanda do 8º semestre de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. Email: [email protected] . 2 Graduanda do 8º semestre de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS. Email: [email protected] . 3 Ao contrário da ideia de assistência promovida pelos países desenvolvidos e bastante vinculada à Cooperação Técnica Internacional (CTI) tradicional, os países em desenvolvimento que se constituem também como atores de Cooperação Técnica em outros países do Sul preferem o emprego do termo cooperação por ele melhor exprimir a relação de benefícios mútuos que consiste a CTPD. Assim, distinguese o fênomeno que ocorre no âmbito SulSul daquele característico do âmbito NorteSul. Consequentemente, os conceitos doador e receptor são evitados pelos países do Sul em favorecimento do termo parceiros (SOUZA, 2012). Com isso em mente, este trabalho fará uso dos termos doador e receptor apenas no seu sentido mais didático do termo para facilitar a compreensão do leitor. 4 Os dados referentes à CTPD brasileira mais recentes se encontram no relatório Cobradi 2010, publicado em 2013 sob elaboração do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) com os dados atualizados do ano de 2010. Um novo relatório com dados atualizados está previsto para divulgação em outubro de 2015. I Seminário Internacional de Ciência Política Universidade Federal do Rio Grande do Sul | Porto Alegre | Set. 2015

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A Cooperação Técnica Brasileira para a América Latina à Luz da Teoria Construtivista nas Relações Internacionais

Francine Ferraro 1

Mariele Christ 2

Resumo Considerando o crescente protagonismo do Brasil enquanto destacado ator de Cooperação Técnica Internacional (CTI), o presente trabalho visa compreender a estratégia de inserção brasileira na América Latina através da Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD). Considerando que a tendência predominante em Relações Internacionais tem sido o estudo do conflito em detrimento da cooperação, esse esforço de pesquisa procurará fazer uso da perspectiva construtivista para alcançar seu objetivo. De modo geral, a teoria construtivista aborda uma perspectiva alternativa para a compreensão do ambiente internacional através de uma perspectiva social e tem como premissa um mundo em permanente construção, em que os agentes são os principais protagonistas. A escolha pela América Latina se justifica por ser essa a região onde historicamente se iniciou, ainda na década de 1970, a atuação brasileira em CTPD. Acreditando, portanto, que essa atuação se aproxima, em certos aspectos, da perspectiva construtivista das Relações Internacionais, a presente pesquisa pretende realizar o mencionado exercício de análise. Palavras­chave: Cooperação Técnica. Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento. América Latina. Construtivismo. Política Externa Brasileira. Introdução

Nesse início de século XXI, o Brasil encontra­se em pleno processo de amadurecimento de

sua atuação no cenário internacional enquanto paísdoador de Cooperação Técnica entre Países em 3

Desenvolvimento (CTPD). O total dos gastos do Brasil em ações de cooperação técnica alcançaram

um montante superior à quantia de R$ 286 milhões no ano de 2010 (IPEA; ABC, 2013). Esse 4

1 Graduanda do 8º semestre de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul ­ UFRGS. E­mail: [email protected]. 2 Graduanda do 8º semestre de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul ­ UFRGS. E­mail: [email protected]. 3 Ao contrário da ideia deassistênciapromovida pelos países desenvolvidos e bastante vinculada à Cooperação Técnica Internacional (CTI) tradicional, os países em desenvolvimento que se constituem também como atores de Cooperação Técnica em outros países do Sul preferem o emprego do termo cooperação por ele melhor exprimir a relação de benefícios mútuos que consiste a CTPD. Assim, distingue­se o fênomeno que ocorre no âmbito Sul­Sul daquele característico do âmbito Norte­Sul. Consequentemente, os conceitosdoadorereceptorsão evitados pelos países do Sul em favorecimento do termo parceiros (SOUZA, 2012). Com isso em mente, este trabalho fará uso dos termosdoadore receptor apenas no seu sentido mais didático do termo para facilitar a compreensão do leitor. 4 Os dados referentes à CTPD brasileira mais recentes se encontram no relatório Cobradi 2010, publicado em 2013 sob elaboração do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) com os dados atualizados do ano de 2010. Um novo relatório com dados atualizados está previsto para divulgação em outubro de 2015.

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movimento tem despertado a atenção de analistas internacionais e policy makers, ao passo que

permanecem escassas análises acadêmicas no âmbito da política externa acerca da emergência do

Brasil como ator nesse fenômeno (INOUE; VAZ, 2012).

A própria interpretação do que se configura ou não como cooperação internacional segue

sendo um ponto de discussão tanto no Governo Brasileiro quanto na academia. Neste trabalho,

empregar­se­á a definição trazida pelo Guia de orientações básicas: Cooperação Brasileira para o

Desenvolvimento Internacional ­ Primeiro Levantamento (2005­2009), publicado em 2010 pelo

IPEA, enquanto proposta de instrumento para a construção de uma abordagem metodológica da

cooperação prestada pelo Brasil, onde a Cooperação Brasileira para o Desenvolvimento

Internacional (Cobradi) é definida como:

A totalidade de recursos investidos pelo governo federal brasileiro, parcialmente ou totalmente a fundo perdido, no governo de outros países, em nacionais de outros países em território brasileiro, ou em organizações internacionais com o propósito de contribuir para o desenvolvimento internacional, entendido como o fortalecimento das capacidades de organizações internacionais e de grupos ou populações de outros países para a melhoria de suas condições sócio­econômicas. (SCHMITZ et al., 2010, p. 7).

Como outros países em desenvolvimento (PEDs), o primeiro contato do Brasil com a

cooperação técnica ocorreu na condição de receptor de assistência técnica oriunda de países

desenvolvidos. No entanto, diferente da maioria dos PEDs, o país evoluiu gradualmente para a

condição de prestador de cooperação técnica para outros países em desenvolvimento sem, porém,

renunciar a sua condição de recipiendário (PUENTE, 2010).

As primeiras experiências de cooperação técnica oficial brasileira no exterior se restringiram

ao nível intra­regional (América Latina) e aos países africanos de Língua Portuguesa, a partir de

1973. A expansão dos programas de cooperação técnica para o exterior foi resultado da experiência

brasileira com a cooperação técnica interna, bem como da intensificação da ação diplomática do

país nessas duas regiões (PUENTE, 2010).

Desse modo, optou­se por delimitar este trabalho à atuação brasileira em Cooperação

Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD) na América Latina. Considerando que

tradicionalmente tem prevalecido nas Relações Internacionais o estudo e a análise sobre os

conflitos, não sobre cooperação, optou­se por incorporar aspectos da perspectiva construtivista de

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Relações Internacionais a essa análise no intuito de auxiliar a compreensão dessa evolução

(AYLLÓN, 2007).

Essa opção justifica­se não apenas pela importância da teoria construtivista enquanto teoria

crítica das Relações Internacionais que nasceu após o fim da Guerra Fria, mas também pela sua

interpretação alternativa aos padrões tradicionais e clássicos da disciplina que veem o sistema

internacional como imposto e inerente a vontade e aos interesses dos atores que o constituem

(SARFATI, 2005). Salienta­se, contudo, que o espectro de teorias que procura explicar e entender

como funcionam as Relações Internacionais é multifacetado e conta com a contribuição de variados

autores, inclusive com respeito à cooperação internacional. Portanto, ao utilizar­se apenas da

perspectiva construtivista e suas contribuições para o objeto de análise, o corrente trabalho não

desconsidera ou menospreza a contribuição das demais teorias da disciplina, apenas procura

delimitar seu escopo teórico.

Concomitantemente à ascensão de novos debates teóricos para explicar as Relações

Internacionais, a Cooperação Técnica Internacional também se fortaleceu como uma importante

ferramenta de relacionamento entre os diversos atores do sistema internacional, principalmente a

partir da segunda metade do século XX, não podendo portanto ser omitida dessa disciplina. Afinal,

como bem destaca Ayllón (2007), o surgimento da Cooperação Técnica Internacional (CTI) no

Sistema Internacional não foi fruto de motivações exclusivamente humanitárias e éticas, mas uma

resposta à conjuntura geopolítica da divisão bipolar do mundo. A CTI surgiu no contexto imediato

de fins da II Guerra Mundial quando se começou a falar em ajuda para a reconstrução da Europa

pós­guerra. Assim, a antecessora da CTPD nasceu com um componente estratégico muito forte

atrelado a si, uma vez que as duas superpotências da época, Estados Unidos e União Soviética, mais

que auxiliar na reconstrução da Europa, almejavam montar seus respectivos sistemas de aliança

(Organização do Tratado do Atlântico Norte e Pacto de Varsóvia) e suas respectivas zonas de

influência (CERVO, 1994).

Desse modo, o presente trabalho se dividirá em dois componentes principais.

Primeiramente, uma revisão da perspectiva construtivista em Relações Internacionais,

especialmente sobre os aspectos que versam sobre cooperação. Em um segundo momento, far­se­á

um breve histórico sobre as relações do Brasil com a América Latina, de modo a subsidiar a

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proposta final de que a perspectiva construtivista detém particularidades importantes para ajudar a

compreender a atuação brasileira em Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento

(CTPD) na região em que se insere.

1 A Teoria Construtivista nas Relações Internacionais

A Teoria Construtivista das Relações Internacionais, como marco teórico, é bastante recente

no estudo das Relações Internacionais. Ela surgiu, especificamente, no final dos anos 1980

(CASTRO, 2012) e “busca construir uma ponte entre preocupações positivistas (explicar as

relações internacionais) e as pós­positivistas (entender do que são constituídas as relações

internacionais)” (SARFATI, 2005, p. 259). Entre os importantes teóricos construtivistas de

Relações Internacionais, destacam­se Peter Katzenstein (1996), Friedrich Kratochwil (1989),

Nicholas Onuf (1989) e Alexander Wendt (1992) (JACKSON; SORENSEN, 2007).

Segundo Jackson e Sorensen (2007, p. 341), os construtivistas acreditam que “o sistema

internacional não é algo que está “lá fora” como o sistema solar ­ não existe por conta própria. [...]

É um conjunto de ideias, um acervo de pensamentos, um sistema de normas, organizado por

determinadas pessoas em uma época e local particulares”. Desta forma, “a história não é um tipo de

processo que se desenvolve independentemente das questões humanas ­ os homens constroem a

própria história e também organizam Estados” (JACKSON; SORENSEN, 2007, p. 341).

Ainda que, conforme citado, muitos autores tenham contribuído para o desenvolvimento

desta interpretação teórica das Relações Internacionais, o presente trabalho adotará a perspectiva de

Alexander Wendt, um dos principais teóricos da corrente construtivista. “Em uma série de inúmeros

artigos, Wendt desenvolveu o que ficou conhecido como a abordagem “construtivista” do estudo

das relações internacionais” (GRIFFITS, 1999, p. 200). Wendt desempenhou importante papel no

início dos debates devido ao fato de ter oferecido condicionantes sobre as etapas de construção e de

co­construção da teoria social aplicada às Relações Internacionais, o que aconteceu quando da

publicação de seu artigo Anarchy is What States Make of It, em 1992 (CASTRO, 2012).

De acordo com Sarfati (2005, p. 260), “um dos primeiros passos do Construtivismo de

Wendt é a crítica ao racionalismo dos paradigmas tradicionais.” Dentro das perspectivas

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tradicionais, o sistema obriga os Estados a se balancearem de forma racional e, antes mesmo de

haver qualquer contato entre os Estados, suas relações serão sempre as mesmas: racionais. Wendt,

por outro lado, acredita que a convivência social modifica os agentes, ou seja, a atuação dos Estados

são construções sociais desenvolvidas ao longo de sua história.

Segundo CASTRO (2012, p. 387), o historiador David Chandler (2004) “apresenta alguns

pontos centrais da abordagem construtivista juntamente com seu momento histórico no dínamo

tempo­espaço das Relações Internacionais”. De acordo com Chandler (2004 apudCASTRO, 2012, 5

p. 387):

As teorias construtivistas que se desenvolveram nas relações internacionais no início dos anos 90, desafiaram as perspectivas teóricas centrais da disciplina acadêmica de relações internacionais. Durante a Guerra Fria e na maior parte da história das relações internacionais, a agenda de pesquisa foi dominada por abordagens racionalistas que subordinavam a moral aos interesses de poder. A perspectiva construtivista desafia esta ênfase no poder e procura demonstrar que muito mais do que o poder, as normas e os valores constituem o comportamento da maioria dos Estados. Estados ainda poderão recorrer ao poder em termos militares e coercitivos, mas o uso deste poder não é guiado somente por interesses estatais amorais. Na perspectiva construtivista, o poder é constrangido e os interesses estatais são remoldados devido as estruturas normativas internacionais criadas por interações múltiplas entre atores estatais e não­estatais. 6

Dessa forma, apesar de assumir uma perspectiva estadocêntrica das relações internacionais,

o Construtivismo propõe um Sistema Internacional dinâmico e passível de modificações, não

estático. Assim sendo, segundo Wendt (1999 apud SARFATI, 2005, p. 261): “o interesse dos 7

Estados seria uma consequência do processo social que constrói a sua própria identidade”. “A

5 CHANDLER, David. Constructing global civil society: morality and power in international relations. Londres, Palgrave Macmillan, 2004. p 25. 6 Tradução livre dos autores. No original: “Constructivist theories which developed in international relations in the early 1990s challenged the central theoretical perspectives in the academic discipline of international relations. During the Cold War and most of the history of international relations, the research agenda was dominated by rationalist approaches which subordinated morality to the interests of power. The constructivist framework challenges this emphasis on power and seeks to demonstrate that rather than power, it is norms and values which shape the behaviour of the majority of states. States may still wield power in terms of military and coercive might but the use of this power is not guided solely by amoral state interests. Rather, in the constructivist framework, power is constrained and state interests reshaped through international normative structures created by the multiple interactions of state and non­state actors”. 7 Wendt, A. Social theory of international politics. Cambridge: Cambridge University Press, 1999, p. 8­10. Capítulo 1.

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relação com o outro é que forma a minha percepção sobre mim mesmo, ou seja, as identidades são

adquiridas pelo processo de relacionamento entre os Estados” (SARFATI, 2005, p. 261­262).

Segundo Jackson & Sorensen (2007, p. 346­347):

Alexander Wendt (1992) resumiu a essência do construtivismo nas RI: “A anarquia é o que os Estados fazem dela”. [...] Para Wendt, não há um mundo internacional objetivo isolado das práticas e das instituições organizadas pelos Estados, consequentemente, a anarquia não é um tipo de realidade externa que dita uma lógica de análise com base no neorrealismo. [...] não há um “dilema de segurança” inevitável entre Estados soberanos, porque qualquer situação em que os atores estatais se encontram é um momento criado por eles mesmos, ou seja: eles não são prisioneiros da estrutura anárquica do sistema estatal. Não existe um sistema estatal independente da prática dos Estados, mas também não existem Estados independentes das regras pelas quais eles se reconhecem. Os Estados constroem uns aos outros em suas relações e ao fazer isso também organizam a anarquia internacional, que define suas interações.

Ainda segundo Jackson & Sorensen (2007, p. 347): “Se a anarquia é o que os Estados fazem

dela, nada na política mundial é inevitável ou imutável. [...] O sistema existente é uma criação dos

Estados e, se estes modificam suas concepções de quem são, seus interesses e o que desejam, a

situação consequentemente também mudará.”

Wendt (1994 apud GRIFFITS, 1999, p. 201) define o construtivismo como uma teoria 8

estruturalista do sistema internacional e de acordo com as seguintes afirmações: “(1) Os Estados são

a principal unidade de análise das relações internacionais; (2) As estruturas­chave do sistema de

Estados são intersubjetivas, em vez de materiais e (3) os interesses e as identidades dos Estados são

construídos por essas estruturas sociais, e não determinada de forma exógena ao sistema, pela

natureza humana ou política doméstica.” 9

Assim, vemos que a partir da primeira afirmação, ao assumir uma perspectiva estadocêntrica

das Relações Internacionais, o Construtivismo se assemelha à visão realista, compartilhando da

visão de que os Estados são a única unidade na estrutura política internacional com a legitimidade

8 Wendt, A. Collective identity formation and the international state.American Political Science Review. n. 88, 1994, p. 385. 9 Tradução livre dos autores. No original: (1) states are the principal units of analysis for international political theory; (2) the key structures in the states system are intersubjective, rather than material; and (3) state identities and interests are in important part constructed by these social structures, rather than given exogenously to the system by human nature or domestic politics.”

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do monopólio sobre o uso da violência. “Entretanto, esta teoria reconhece que esta verdade não é

a­histórica e, dessa forma, é possível que, no futuro, isso não seja mais verdade” (SARFATI, 2005,

p. 261). Para Sarfati (2005), a segunda e a terceira afirmações constituem a base da interpretação

construtivista das Relações Internacionais por enfatizarem a ideia de que os Estados são

socialmente construídos, ao invés de verdades materiais objetivas.

CASTRO (2012, p. 390) traz importantes considerações sobre os reflexos das inovações do

construtivismo para as teorias de relações internacionais:

O construtivismo trouxe inovações revolucionadoras nos aspectos ontológicos e sobre a compreensão dos valores e da importância da conscientização humana em questões internacionais. O mundo físico e humano é estruturado em convenções concretas e abstratas, enquanto que as regras e os valores que robustecem este mundo são construídos pelos seres humanos e por instituições por meio de articulações densas, constantes e mutuamente estruturadas.

Para finalizar esta seção teórica, trazemos uma citação de Antônio Ramalho da Rocha 10

apud Miorando (2010), o qual descreve resumidamente como constitui­se a agenda construtivista

das relações internacionais:

A agenda construtivista parte da perspectiva de que a realidade internacional não pode ser entendida da mesma maneira que a realidade natural ou física, visto que parte dos elementos que a constituem (sua ontologia) resulta de relações sociais, as quais, por sua vez, dependem, em grande medida, das percepções dos agentes, do modo como eles aprendem normas e, ao aceitá­las ou desafiá­las, constroem suas identidades (ROCHA, 2002, p. 213).

Assim, a teoria construvitista vem a complementar o entendimento do caso latino­americano

e as mudanças de relações entre seus atores, uma vez que as relações de cooperação e conflito entre

Estados dependem principalmente de como se formará a identidade entre eles:

As identidades, positivas ou negativas, não são estáticas. O processo de relacionamento social é contínuo e histórico, o que implica que essas identidades podem ser modificadas. Os processos históricos de confronto entre Inglaterra e a França ou entre a França e a Alemanha foram modificados do confronto para a cooperação. Dentro da lógica wendtiana, o comportamento cooperativo de uma parte pode ser induzido por outro

10 ROCHA, Antônio Jorge Ramalho da. Relações Internacionais: teorias e agendas. Brasília: Instituto Brasileiro de Relações Internacionais, 2002.

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cooperativo de outra parte. Assim, é possível quebrar um ciclo negativo de identidade e iniciar um positivo. (SARFATI, 2005, p. 263­264).

Desta forma, após o embasamento inicial desta seção, o qual visou ao maior entendimento

da perspectiva construtivista das Relações Internacionais, podemos seguir à seção seguinte, em que

se pretende abordar maiores detalhes da Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento

(CTPD) brasileira para com seus vizinhos latino­americanos.

2 A cooperação técnica do Brasil para a América Latina

Como mencionado anteriormente, as primeiras iniciativas do Brasil em CTPD foram no

âmbito intra­regional, na América Latina, em parte (mas não somente) em razão da intensificação

da ação diplomática do país nessa região (PUENTE, 2010). Para a corrente análise, considera­se

relevante considerar as relações do Brasil com a América Latina a partir da década de 1960, uma

vez que a partir de então a preocupação com o Terceiro Mundo na política externa brasileira

fortaleceu­se, e o interesse brasileiro pela região derivou deste fato (JÚNIOR; MARIANO;

ALMEIDA, 2015).

Até 1964, no âmbito da Política Externa Independente, o Brasil participou intensamente em

iniciativas internacionais cujos temas eram a superação do subdesenvolvimento. Nesse período, no

entanto, a preocupação com os projetos de desenvolvimento nacional, de industrialização nacional e

do comércio internacional desviaram um pouco as preocupações dos países da região com o

desenvolvimento além das suas fronteiras. Encarava­se a busca pelo desenvolvimento como algo

estritamente resultante do esforço nacional, interno (VIGEVANI; JÚNIOR, 2010; JÚNIOR;

MARIANO; ALMEIDA, 2015). Esse contexto ajuda a explicar por que as primeiras iniciativas de

cooperação brasileira na América Latina se deram apenas na década de 1970.

Ainda assim, a ampliação das relações com a América Latina antes de qualquer outra região

estava ainda muito mais condicionada à ideia de ampliação do mercado externo para os produtos

brasileiros do que à de cooperação. Todavia, Vigevani e Júnior (2010) também ressaltam que havia

um interesse inegável pela cooperação com os países da América Latina, enquanto conjunto amplo

de países, ainda que as especificidades das relações com a região não fossem óbvias. A afinidade

compartilhada com os países da região se dava principalmente através da contraposição aos Estados

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Unidos e não propriamente por um acordo explícito entre eles que implicaria em um pensamento

comum (VIGEVANI; JÚNIOR, 2010).

Conforme observa Pecequilo e Carmo (2015), durante a primeira década do Regime Militar,

as iniciativas brasileiras para a América Latina apresentavam um padrão relevante, mas detinham

uma orientação complexa. Tal complexidade devia ao fato de que, apesar de os regimes militares da

região convergirem no combate ao comunismo, a atuação brasileira na América Latina se colocava

como uma parte da agenda global, não como prioridade. Até 1974, prevaleceu uma perspectiva

instrumental da América Latina, tanto para o Brasil quanto para outros países da região, enquanto

instrumento de projeção internacional e não enquanto uma parceria estratégica. Assim, a

convergência aparente entre os países da região não representava uma consolidação

político­econômica suficiente (PECEQUILO; CARMO, 2015).

Partindo da hipótese de que o aprofundamento das relações do Brasil com os seus países

vizinhos depende do Brasil mais do que qualquer outro país e que se constitui, inclusive, em uma

das prioridades da agenda de política externa brasileira, Cervo (2008) destaca que, formalmente,

esse aprofundamento adensou­se apenas com o início do Governo Itamar Franco (1992­1995). Foi

nessa época que se discutiu a negociação em torno da criação da Área de Livre Comércio da

América do Sul (ALCSA), em oposição ao projeto norte­americano da Área de Livre Comércio das

Américas (ALCA).

A estabilidade que se seguiu ao Plano Real (1994) e a consecutiva reeleição do Presidente

Fernando Henrique Cardoso (1995­2002) coexistiram com a defesa de um alinhamento ­ ainda que

pragmático ­ aos Estados Unidos. Somente a partir de 1999, o governo Fernando Henrique Cardoso

passou a introduzir um discurso mais autônomo e a incrementar as relações com seus vizinhos

(PECEQUILO, 2015).

A partir dos anos 2000, a América Latina passou a se somar aos esforços do Brasil em

relação à cooperação, com governos de esquerda reforçando o papel do Estado no desenvolvimento,

seja ele doméstico ou relativo à cooperação internacional. Os discursos evidenciando as diferenças

entre a cooperação Sul­Sul e a assistência dos países do Norte se intensifacaram, especialmente

após a crise financeira global de 2008 (ABDENUR; RAMPINI, 2015).

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De acordo com os últimos dados das ações brasileiras enquanto doador de Cooperação

Técnica para o Desenvolvimento Internacional, o Relatório Cobradi ­ 2010 (IPEA; ABC, 2013),

cerca de 68% do total de dispêndios do Governo Brasileiro destinados a essas ações foram

destinados à cooperação bilateral com países da América Latina e o Caribe. Esse percentual

corresponde a um valor de R$ 195 milhões. Infelizmente, o relatório não discrimina os gastos entre

a América Latina e o Caribe. Todavia, a lista dos dez países desse grupo que mais recebem

cooperação brasileira (em valores) demonstra que apenas Haiti (1º), Cuba (8º) e Jamaica (10º) não

correspondem à América Latina, mas ao Caribe. Completam a lista dos dez principais beneficiados:

Chile (2º), Argentina (3º), Peru (4º), Paraguai (5º), Colômbia (6º), Uruguai (7º) e Bolívia (9º).

Esses valores, quando comparados com os dados da região em segundo lugar dessa lista, no caso a

África, que corresponde a aproximadamente 23% do montante total, evidenciam a importância

dedicada a América Latina no que diz respeito à cooperação brasileira (IPEA; ABC, 2013).

3 Considerações finais

Conforme informações apresentadas nas seções acima, observa­se que a perspectiva

construtivista das Relações Internacionais fornece subsídios que estimulam a interpretação das

ações de cooperação técnica por meio do Estado brasileiro para com os seus vizinhos

latino­americanos. A fim de desenvolver a relação entre a perspectiva construtivista das relações

internacionais e a cooperação técnica brasileira para a América Latina, primeiramente, retoma­se

algumas premissas e aspectos do construtivismo, consideradas essenciais para a presente análise.

Desta forma, cabe aqui relembrar as três afirmações com as quais Wendt (1994 apud 11

GRIFFITS, 1999, p. 201) define sua teoria: (1) os Estados são a principal unidade de análise das

relações internacionais; (2) as estruturas­chave do sistema de Estados são intersubjetivas, em vez de

materiais e (3) os interesses e as identidades dos Estados são construídos por essas estruturas sociais

e não determinada de forma exógena ao sistema, pela natureza humana ou política doméstica.

Com relação à primeira afirmação, identifica­se uma clara relação da teoria com o objeto de

estudo, uma vez que a cooperação técnica brasileira é realizada pelo Estado brasileiro, por meio da

11 Wendt, A. Collective identity formation and the international state.American Political Science Review. n. 88, 1994, p. 385.

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ABC (Agência Brasileira de Cooperação). Ainda que outras instituições e empresas brasileiras

estejam envolvidas no processo executivo e operacional da cooperação, estas são coordenadas por

um órgão federal e vinculadas às decisões do Estado. Observa­se assim, uma característica

estadocêntrica na condução brasileira de suas atividades de cooperação internacional, consoante a

primeira afirmação de Wendt a respeito da perspectiva construtivista.

Quanto à segunda afirmação, percebe­se o caráter intersubjetivo da cooperação técnica por

se tratar de um meio de aproximação que valoriza a atração e o compartilhamento de ideias e de

conhecimento, em detrimento da coerção. Tal fato corrobora o fato de a perspectiva construtivista

desafiar a ênfase no poder e procurar demonstrar que muito mais do que o poder, as normas e os

valores constituem o comportamento da maioria dos Estados. “Na perspectiva construtivista, o

poder é constrangido e os interesses estatais são remoldados devido às estruturas normativas

internacionais criadas por interações múltiplas entre atores estatais e não­estatais.” (Chandler, 2004

apud CASTRO, 2012, p. 387) 12

Com relação à terceira afirmação, observa­se que o protagonismo do agente brasileiro, em

um esforço de tornar a natureza mais cooperativa, é ainda mais visível quando se tem em mente o

potencial de conflito nas relações entre o Brasil e os seus vizinhos, já que existem vários motivos

para tal. Dentre eles, pode­se destacar o fato de o Brasil ser a grande “baleia” da América Latina,

tanto geograficamente, quanto economicamente, e também por ser a “exceção” da região, bem

como o único país colonizado por portugueses, enquanto que os demais países latino­americanos

foram colonizados majoritariamente pela Espanha. Contudo, apesar de todos esses fatores que

teriam contribuído para um sistema latino­americano de conflito, o Brasil esforça­se em construir

uma identidade com os países latino­americanos, através das iniciativas de cooperação técnica e a

consequente disseminação de ideias, normas e valores. O exposto ratifica, portanto, a premissa

construtivista segundo a qual os agentes tem poder de ação para transformar o mundo e os esforços

brasileiros comprovam o fato de o mundo não ser uma estrutura imposta aos seus agentes, mas sim,

um compilado de identidades construídas por suas estruturas sociais, não por causas exógenas.

Ademais, tendo como base a afirmação construtivista apresentada na primeira seção de que

“o Construtivismo propõe um sistema internacional dinâmico e passível de modificações, não

12 CHANDLER, David. Constructing global civil society: morality and power in international relations. Londres, Palgrave Macmillan, 2004. p 25.

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estático” e de que “a convivência social modifica os agentes, ou seja, a atuação dos Estados são

construções sociais desenvolvidas ao longo de sua história” (SARFATI, 2005, p. 261) , torna­se

possível compreender o porquê da prioridade da América Latina por parte dos programas de

cooperação técnica brasileira. Trata­se de um Brasil que procura reverter os séculos em que esteve

“de costas” para os seus vizinhos, uma vez que, como visto na seção anterior, pelo menos desde os

anos 1960 e especialmente durante o século XXI, o Brasil tem crescentemente levado em

consideração a importância da cooperação com os países em desenvolvimento de modo a consolidar

uma posição de maior autonomia no Sistema Internacional.

A cooperação Sul­Sul, nesse contexto, aparece como resposta às históricas relações de

assimetria entre o centro desenvolvido e a periferia do Sistema Internacional, nas quais os

benefícios se concentram majoritariamente nas mãos do capital estrangeiro e das elites locais.

Reconhecendo as mazelas comuns do subdesenvolvimento e da desigualdade, os Estados do Sul

cooperam entre si no intuito de combatê­las da melhor forma possível (apesar das suas capacidades

limitadas), distribuindo seus ganhos de maneira mais equitativa em suas respectivas populações

(MIYAMOTO, 2009).

Além disso, vemos que, segundo a Teoria Construtivista, a anarquia é uma estrutura

socialmente construída, ou seja, os agentes irão definir através de suas políticas se terão relações de

conflito ou de cooperação com os demais Estados. Tendo esta premissa em mente e após

apresentarmos as inúmeras iniciativas de cooperação técnica brasileira para os demais países da

América Latina, verifica­se a intenção do Estado brasileiro em fomentar uma atmosfera cooperativa

com os seus vizinhos, criando nos países latino­americanos uma influência atrativa através do poder

brando.

Ademais, a cooperação com os países emergentes, como visto no caso dos países

latino­americanos, dá­se de forma multidimensional. Seria o caso da saúde, da educação, da

agricultura, da ciência e tecnologia e até mesmo da segurança e da defesa. Seriam justamente estas

áreas os pontos focais para a obtenção do chamado “desenvolvimento humano ” dentro dos países 13

que sofrem com a desigualdade e a pobreza, oferecendo soluções duráveis para estes

(MIYAMOTO, 2009).

13 Conceito consagrado na Conferência Mundial para o Desenvolvimento Social, servindo de complemento à ideia de um mero desenvolvimento “econômico” em determinadas sociedades do Sul.

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Percebe­se, assim, um agente (Estado Brasileiro) que atua como um protagonista que não

aceita um modelo “pré­determinado” imposto pelo sistema internacional, mas que busca alterar a

natureza da anarquia para que as relações de cooperação predominem no subcontinente

latino­americano.

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