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A COPA DA AMAZÔNIA: UMA COPA VERDE? CERETO, Marcos Paulo Professor, UFAM – Universidade Federal da Amazônia RESUMO O artigo relata um ponto de vista sobre a realização de Megaeventos, em especial, a copa do mundo de futebol da FIFA em 2014 na cidade de Manaus. Em 2007, o Governo Federal e a Confederação Brasileira de Futebol apresentaram os documentos necessários para formalizar o país como local para a copa de 2014 com a sugestão de 18 cidades como possíveis sedes para os jogos. A expectativa para que Manaus fosse como uma das 12 cidades escolhidas gerou uma disputa particular com Belém pela sede amazônica. Afinal, a copa do mundo no Brasil proposta pelo governo federal pretendia ser uma Copa Verde e sediar os jogos representaria uma importante vitrine para investimentos e integração internacional. O governo do estado do Amazonas e a prefeitura de Manaus informavam que a copa seria o “a oportunidade do século XXI” e proporcionaria benefícios para a população e para a região. O artigo apresenta os projetos previstos para a integração regional com a ampliação e transformação em “Hub” do aeroporto Eduardo Gomes para voos oriundos da América do Norte e Central. A reforma e ampliação do porto de Manaus e a ligação da cidade ao sul do Brasil com Porto Velho com a recuperação da BR-319. Indica os projetos propostos para melhoria da mobilidade urbana: o monotrilho que ligaria o aeroporto ao centro histórico, passando pelo estádio e a adaptação dos principais corredores urbanos para o sistema “BRT” (Bus Rapid Transit) para qualificar o sistema de transportes existente. Expõe o “Saneamento urbano” proposto para o centro histórico com a relocação (retirada) dos camelôs, a reforma do Mercado Público Adolpho Lisboa e a qualificação do espaço nas principais vias da cidade e a reforma da Praia da Ponta Negra com sua utilização para o “Fan fest”. Apresenta ainda o projeto da Arena da Amazônia como símbolo da copa do mundo na Amazônia e o primeiro edifício que poderá receber a certificação “Leed” (Leadership in Energy and Environmental Design) na cidade. O artigo analisa as efetivas realizações da Copa e levanta a seguinte pergunta: foi de fato uma “Copa Verde”?

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A COPA DA AMAZÔNIA: UMA COPA VERDE? CERETO, Marcos Paulo

Professor, UFAM – Universidade Federal da Amazônia

RESUMO

O artigo relata um ponto de vista sobre a realização de Megaeventos, em especial, a

copa do mundo de futebol da FIFA em 2014 na cidade de Manaus. Em 2007, o

Governo Federal e a Confederação Brasileira de Futebol apresentaram os

documentos necessários para formalizar o país como local para a copa de 2014 com a

sugestão de 18 cidades como possíveis sedes para os jogos. A expectativa para que

Manaus fosse como uma das 12 cidades escolhidas gerou uma disputa particular com

Belém pela sede amazônica. Afinal, a copa do mundo no Brasil proposta pelo governo

federal pretendia ser uma Copa Verde e sediar os jogos representaria uma importante

vitrine para investimentos e integração internacional. O governo do estado do

Amazonas e a prefeitura de Manaus informavam que a copa seria o “a oportunidade

do século XXI” e proporcionaria benefícios para a população e para a região. O artigo

apresenta os projetos previstos para a integração regional com a ampliação e

transformação em “Hub” do aeroporto Eduardo Gomes para voos oriundos da América

do Norte e Central. A reforma e ampliação do porto de Manaus e a ligação da cidade

ao sul do Brasil com Porto Velho com a recuperação da BR-319. Indica os projetos

propostos para melhoria da mobilidade urbana: o monotrilho que ligaria o aeroporto ao

centro histórico, passando pelo estádio e a adaptação dos principais corredores

urbanos para o sistema “BRT” (Bus Rapid Transit) para qualificar o sistema de

transportes existente. Expõe o “Saneamento urbano” proposto para o centro histórico

com a relocação (retirada) dos camelôs, a reforma do Mercado Público Adolpho

Lisboa e a qualificação do espaço nas principais vias da cidade e a reforma da Praia

da Ponta Negra com sua utilização para o “Fan fest”. Apresenta ainda o projeto da

Arena da Amazônia como símbolo da copa do mundo na Amazônia e o primeiro

edifício que poderá receber a certificação “Leed” (Leadership in Energy and

Environmental Design) na cidade. O artigo analisa as efetivas realizações da Copa e

levanta a seguinte pergunta: foi de fato uma “Copa Verde”?

Palavras chave: Sustentabilidade; Amazônia; Megaeventos.

Abstract

The paper describes a point of view with regards to the realization of Mega Events,

especially FIFA’s football world cup in 2014 in the city of Manaus. In 2007, the Federal

Government and the Brazilian Football Confederation presented the necessary

documents to formalize the country as the host for the 2014 cup with the suggestion of

18 cities as the possible hosts for the matches. The expectation that Manaus might be

one of the 12 chosen host-cities generated a particular competition with Belen to be the

host in the Amazon region. After all, the world cup in Brazil as proposed by the Federal

Government intended to be a Green Cup and hosting the games would represent an

important showcase for investments and international integration. The State

Government of the Amazon and the Municipality of Manaus informed that the cup

would be “the opportunity of the 21st Century” and would offer benefits for the

population and the region. The article presents the projects programmed for the

regional integration with the expansion and the transformation into a “hub’ of the

Eduardo Gomes airport for in-coming flights from North and Central America. The

refurbishment and expansion of the Manaus Harbor and the connection of the city with

the south of Brazil by way of Porto Velho, with the rehabilitation of the BR-319 highway.

It indicates the projects proposed for the improvement of urban mobility: the monorail

which would link the airport to the historic center, passing next to the stadium, and the

adaption of the main urban corridors to the “BRT – Bus Rapid Transit” System to

qualify the existing transport. It highlights the proposed Urban Sewage System for the

historic center with the relocation (removal) of street vendors, the refurbishment of the

Adolpho Lisboa Public Market and the qualification of public spaces along the main

avenues of the city and the requalification of the Ponta Negra Square, with its use as a

“Fun-Fest”. It also presents the design of the Amazon Arena as the symbol of the world

cup and the first building that may receive the LEED certificate (Leadership in Energy

and Environmental Design) in the city. The paper analyzes the effective realizations of

the Cup and raises the following question: was it truly a “Green Cup”?

Keywords: Sustainability; Amazon; Mega Events.

“Porto de Lenha

tu nunca serás Liverpool

com uma cara sardenta

e olhos azuis.”

A música Porto de Lenha dos compositores Aldísio Filgueiras e Zeca

Torres nos remete ao “Trapiche 15 de Novembro1”, um antigo atracadouro de

madeira que foi precursor do porto flutuante em Manaus no Rio Negro. Essa

canção tornou-se popular na região na década de 90. O trapiche também

chamado de “Princesa Isabel” foi inaugurado em 1890 durante o ciclo da

borracha e tinha o objetivo de incrementar o comércio local e a arrecadação

estadual e facilitar o escoamento da produção extrativista, período que os

navios traziam no lastro a pedra de Lioz para a construção civil e levavam a

madeira e a borracha. O trapiche era uma estrutura em madeira fixa assim

como os demais na orla e apresentava dificuldades para o abastecimento da

cidade e para o transporte de passageiros devido a sazonalidade do rio com o

período de cheias e vazantes prejudicando a sua funcionalidade.

Posteriormente em 1900 seria licitado o Plano de Melhoramentos para o Porto

de Manaus vencido pela empresa paulista do Engenheiro Bronislaw

Rymkiewcz2 (B. Rymkiewcz & Cº) em Manaus que posteriormente seria

transferido para a então fundada Manáos Harbour Company Limited que

construiria o porto flutuante. A obra digna “para inglês ver” atendia a

sazonalidade da região e foi fundamental para o desenvolvimento da cidade e

funciona como o principal porto da cidade até hoje.

Após 113 anos, Roy Hodgson3, técnico do selecionado inglês, declarou

que Manaus era a sede “a ser evitada”. As declarações polêmicas que

antecederam o sorteio dos grupos para a copa do mundo da FIFA no Brasil em

2014 provocaram indignação nas autoridades do município e do estado

                                                                                                                         1 MESQUITA, Otoni Moreira. Manaus: História e Arquitetura (1852-1910). 2.ed. Manaus: Valer, 1999. 2 MONTEIRO, Mario Ipiranga. Roteiro histórico de Manaus. Ed. da Universidade do Amazonas, 2, 1998.

3 Roy Hodgson afirmou que “não é o lugar ideal para jogar futebol porque fica no meio da floresta tropical, da selva amazônica, onde as temperaturas e a umidade são muito maiores do que em qualquer outra parte do país". Segundo o site Globo Esporte visitado em 11 de fevereiro de maio de 2014 (http://globoesporte.com/futebol/copa-do-mundo/noticia/2013/12/roy-hodgson-evita-polemica-com-manaus-sera-uma-sede-maravilhosa.html)

promovendo encontros diplomáticos para minimizar as diferenças. No dia 06 de

dezembro de 2013 o sorteio dos grupos definiu que a Inglaterra jogaria a sua

primeira partida na cidade de Manaus. Uma nova oportunidade para “o inglês

ver”. No dia 14 de junho de 2014 entraram no gramado da Arena da Amazônia,

Itália e Inglaterra e iniciaram a participação das duas seleções na copa do

mundo no Brasil e também a participação de Manaus no evento. A torcida

amazonense apoiou a seleção italiana que venceu o jogo por 2x1.

Figura 01: Placa das cheias do Rio Negro no Porto de Manaus. Fonte: Autor, 2004.

EL DORADO: A LENDA DA CIDADE PERDIDA

“Localizada na margem direita do Rio Negro, na latitude -03º08’05” e na

longitude -60º01'24", a cidade de Manaus pelo tratado de Tordesilhas pertencia

a Espanha, mas foi colonizada pelos portugueses preocupados com a

circulação dos holandeses, franceses, ingleses e irlandeses na busca do El

Dorado4, a cidade perdida de ouro descrita nas lendas indígenas. Portugal

entendia que era fundamental proteger as fronteiras e construiu o Forte do

Presépio em 1615 na cidade de Belém e posteriormente o Forte da Barra de

São José em 16695, na localidade que posteriormente seria a cidade de

Manaus. Com o tratado de Madrid em 1750 o princípio jurídico uti possedetis6.

Com o povoado ocupando o entorno do Forte, inicialmente foi chamada de

Lugar da Barra. Em 1832 torna-se Vila da Barra e em 24 de outubro de 1848 a

cidade da Barra de São José do Rio Negro. Em 1850 há a elevação da

Comarca à categoria de Província e em 5 de setembro de 1856 o estado do

Amazonas torna-se independente do Grão-Pará e a cidade passou a se

chamar Manaus.

O clima é tropical úmido e a cidade tem características regionais e de

geografia que a diferenciam das demais capitais brasileiras. Manaus é uma ilha

dentro do continente, rodeada pela floresta amazônica que a isola da malha

viária nacional. Há uma simetria territorial entre a floresta amazônica, uma área

preservada, protegida e desconhecida, com o restante do Brasil. A floresta

amazônica ocupa praticamente a metade do território brasileiro. A região norte

representa 45,25%7 do território nacional distribuídos em sete estados. Com

uma área territorial de 3.869.637 km² é próxima da área dos países que

compõe a União Européia. Atualmente possui 449 municípios representando

8,77%8 dos municípios do Brasil. A região norte tem uma população de

15.864.454 9, representando apenas 8,31% da brasileira. Tem o IDH de 0,68310

e uma densidade de 4,83 hab/km². No estado do Amazonas são 3.483.985

habitantes, sendo que 51,72 % vivem na cidade de Manaus, tornando-se

atualmente a sétima cidade mais populosa do Brasil11. Tem uma extensão

territorial de 11.492,09 km² sendo que apenas 3,3 % de seu território na área

urbana com 377 km² onde residem 99,5 % da população da cidade12. Essa

                                                                                                                         4  Eldorado  foi  uma  lenda  de  uma  cidade  no  interior  da  floresta,  repleta  de  ouro.    5 Mario Ypiranga Monteiro, importante pesquisador da história de Manaus. 6  Portugal  e  Espanha  ficariam  com  as  terras  ocupadas  independente  da  linha  do  Tratado  de  Tordesilhas.  7 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IBGE, 2013. 8 IBGE, 2013. 9 IBGE, 2010. 10PNUD, 2005. 11IBGE, 2012. 12IBGE, 2012.

relação de assimetria entre a área urbana e rural na cidade de Manaus explicita

as dificuldades de integração regional e metropolitana.

Há também uma assimetria no desenvolvimento entre essas duas partes

do país, com uma necessidade maior de investimentos para a região norte

pelas características territoriais e pela pouca infraestrutura urbana. O estado

do Amazonas tem 62 municípios, alguns desses com dimensões maiores que

alguns estados brasileiros. Tem o maior PIB Nominal da região norte com R$

51.025.146.000 representando 25,32% da região e 1,4% da arrecadação

nacional sendo o sexto maior do Brasil.13 A cidade de Manaus tem o IDHM de

0,73714, acima da média estadual15 e nacional 0,73016. Por outro lado o índice

Gini 17 que mensura a concentração de renda indica que a desigualdade em

Manaus vem crescendo: passou de 0,56 em 1991 para 0,61 em 2010.

Dentro dessa realidade amazônica, são necessárias algumas reflexões

sobre as dificuldades urbanas dessas cidades com grandes extensões e

população rarefeita, que problematizam com a viabilidade dos investimentos

em infraestrutura que são incomuns em boa parte dos municípios. O

abastecimento de água, a distribuição da energia, o tratamento do esgoto, a

mobilidade urbana são problemas comuns em boa parte das cidades

amazônicas e faz com que tenhamos condições críticas nas cidades. Esse

limite determinado pelo isolamento que a floresta proporciona com o restante

do Brasil determina distâncias continentais que dificultam a logística da região

amazônica. Por outro lado, essa dificuldade permitiu a resistência da

permanência de costumes e culturas na sociedade globalizada. Estabelece

também limites para o desenvolvimento da região, sendo necessário um olhar

diferente para um desenvolvimento sustentável de forma a garantir a qualidade

urbana e também a manutenção da floresta. A relação ente o ambiente natural

e o ambiente construído proporcionam condições especiais para um sitio

sensível e de difícil implantação. A sazonalidade provocada pelos períodos de

cheias e vazantes determina a diferença de 16 metros na cota do rio Negro na

                                                                                                                         13IBGE 2011. 14IDHM em 2010. A cidade de Manaus teve o IDHM em 1991 de 0,521. Em 2000, o IDHM foi de 0,601.  15Média  do  IDHM  no  estado  do  Amazonas  em  2010:  0,674.  16Média  do  IDHM  no  Brasil  em  2010:  0,730. 17Índice Gini mede a desigualdade social. O grau 0 (zero), menos desigual e 1 (um), mais desigual.

cidade de Manaus. A Amazônia urbana urge e curiosamente não tem a

mesma preocupação ambiental que a floresta18.

A busca pelo El Dorado amazônico no século XVII pelos desbravadores

europeus permaneceu com os nordestinos na esperança de um futuro melhor

que vieram para a região e foram aos seringais no século XIX. Os nordestinos

retornariam na década de sessenta com a implantação da zona de livre

comércio e também pelas indústrias da Zona Franca de Manaus na

oportunidade do emprego formal. Essa mistura de povos consolidou a cidade

como a metrópole do norte e hoje ainda atrai o caboco do interior do estado, da

região norte e de outras regiões do Brasil, pelas oportunidades profissionais.

Esses diversos momentos históricos migratórios determinaram uma

miscigenação que contribuiu com a identidade do lugar. Uma identidade plural

com características regionais específicas do lugar. O diálogo entre a

universalidade e a regionalidade.

COPA VERDE – A SEDE DA FLORESTA

Em 2007, o governo federal em conjunto com a CBF19 apresentou os

documentos necessários para formalizar o Brasil como sede da copa do mundo

de 2014, e apresentou 18 cidades como possíveis sedes. No dia 30 de outubro

de 2007, a FIFA20 definiu o Brasil como sede para a copa de 2014, uma vez

que havia o rodízio entre os continentes e a desistência da Argentina e da

Colômbia para formalizar as suas candidaturas. A expectativa da escolha da

cidade de Manaus como uma das 12 sedes para o mundial da FIFA gerou uma

disputa particular com a cidade de Belém para a sede na Amazônia brasileira.

Afinal, a copa do Brasil proposta pelo governo federal pretendia ser a copa

verde e a sede na Amazônia brasileira oportunizaria uma grande vitrine para

investimentos e integração ao turismo internacional.

                                                                                                                         18 Jose Alberto Tostes em sua participação no evento organizado pelo IAB Quitandinha+50 realizado em Manaus em 2013 apresentou o artigo “Amazônia verde versus Amazônia urbana: a visão do estelionato urbano.” Esse artigo colabora com essa abordagem. 19  Confederação  Brasileira  de  Futebol.  20  Federação  Internacional  de  Futebol  de  Associado.  

Após a confirmação do Brasil para a copa do mundo de 2014 o governo

do estado do Amazonas demonstrou interesse em propor sua candidatura para

cidade-sede no primeiro semestre de 2008 e deveria apresentar a proposta

para a cidade até fevereiro de 2009. Denis Benchimol Minev21 era o Secretário

de Planejamento do estado do Amazonas que estabeleceu um plano

estratégico em conjunto com a Delloite22 para que Manaus fosse escolhida, e

observou as diversas fragilidades na cidade com a presença de fortes

concorrentes em especial a cidade de Belém. Em entrevista concedida a

consultoria Delloite para a revista Mundo Corporativo em 2008 Minev relatou

argumentos consistentes para a candidatura manauara “com o terceiro mais

alto PIB per capita dentre as capitais brasileiras, com baixos índices de

criminalidade. É uma cidade cosmopolita, com voos diretos para cinco países

(EUA, Panamá, Colômbia, Venezuela e Equador), com festivais de renome (de

Jazz, Cinema, Ópera e Teatro além do Boi Bumbá de Parintins) e uma enorme

diversidade cultural (desde o japonês, ao cearense da Batalha da Borracha,

aos povos indígenas, aos ingleses, árabes e judeus do ciclo da borracha,

dentre muitos outros povos).(...) o avanço do estado no ENEM (foi o terceiro

maior avanço de notas de 2006 para 2007), nos índices de segurança pública

(redução no número de homicídios de 2006 para 2007), na saúde (redução no

número de casos de malária em mais de 40% de 2006 para 2007) e na

arrecadação (que praticamente dobrou entre 2002 e 2007. (...)Também temos

importantes avanços em Ciência e Tecnologia, com o investimento estadual

superior ao investimento do CNPq em toda a região norte. O interior do

Amazonas é a área mais carente do estado, mas hoje temos 15 mil estudantes

no interior em curso superior através da Universidade Estadual do Amazonas;

isto equivale a quase 1% da população onde nem 0,5% tem curso universitário

hoje”23.

                                                                                                                         21 Filho de Samuel Benchimol, Denis Benchimol Minev foi secretário de planejamento e desenvolvimento econômico do Amazonas em 2007. É formado em economia pela Stanford University, com mestrado em Estudos Internacionais e MBA pela Wharton School. Trabalhou anteriormente como analista financeiro da Goldman, Sachs & Co. de 1999 a 2001 e como diretor financeiro de um grupo local de 2003 a 2006. 22 Empresa de consultoria que foi contratada pelo Governo do Estado do Amazonas que tinha experiência adquirida na Alemanha e África do Sul e foi aplicada em Manaus para mostrar com clareza as qualidades que Manaus poderia oferecer à Copa. 23 Acessado em 13 de fevereiro de 2014 http://www.pwc.com/gx/en/capital-projects-infrastructure/brazil-worldcup.jhtml

A FIFA exigia o cumprimento de vinte e seis requisitos mínimos24 para a

apresentação de propostas para as cidades que pretendiam sediar os jogos.

Os requisitos foram: estádio, entorno, transporte público, centros de

treinamento, parque de eventos FIFA, infraestrutura de suporte, tecnologia de

informação, acomodações, turismo, marketing, embelezamento, saúde publica,

gerenciamento de riscos, eventos FIFA, segurança, legislação, voluntariado,

sustentabilidade, gerenciamento de custos, eventos de negócios, portos e

aeroportos, suprimentos, cultura, legados, coordenação local e

financiamento. O foco para o desenvolvimento dos projetos de arquitetura

passava pela adequação do estádio e do entorno, definição dos meios de

transporte público a serem adotados ou desenvolvidos, a escolha de 03

campos oficiais de treinamento25 e sua construção ou adequações, a escolha

do espaço para a Fan Fest, as melhorias de conexões com o aeroporto e o

porto.

Dentre as estratégias utilizadas pelo estado do Amazonas para

potencializar a candidatura de Manaus e dessa forma reduzir as chances de

Belém, estava a capacidade da economia de Manaus aliada ao Green goal26

amazônico com uma imagem de vanguarda e as ações estratégicas da última

década com desenvolvimento sustentável e preservação das florestas.

Enquanto o estado do Amazonas apresentava índices de crescimento

invejáveis e reduzindo as áreas desmatadas em 2008 a menos de 500 km² o

desmatamento no estado do Pará passara de 5000 km². “Em 2002, tivemos

desmatamento de 1.550 km2; em 2007, foram 753 km2, menos da metade. É

uma taxa de 0,05% ao ano, dramaticamente melhor que o resto do Brasil e o

histórico do próprio estado. Fizemos isso com um conjunto de ações de

governo que busca valorizar a floresta em pé, que vai desde o estabelecimento

de preço mínimo para produtos sustentáveis (como borracha, óleo de andiroba

e copaíba, dentre outros) ao pagamento do Bolsa Floresta para famílias no

                                                                                                                         24 Segundo Denis Minev.

25 Foi construído o estádio Carlos Zamith e reformado o Estádio da Colina para servirem como Campo Oficial de Treinamento. Vale ressaltar, que durante a Copa do Mundo, nenhum deles foi utilizado pelas seleções. 26 Green Goal é um projeto de responsabilidade ambiental da FIFA visando reduções de emissões durante a Copa do Mundo.

interior onde não se identifique desmatamento via satélite”27. Há investimentos

significativos no estado na distribuição de energia e nas telecomunicações com

a ligação das termoelétricas ao gasoduto de Coari e a ligação de Tucuruí com

a Rede Nacional de Energia que reduziu consumo de óleo diesel utilizado na

matriz energética. Uma nova fibra ótica oriunda da Venezuela permitiu a

conexão da internet de alta velocidade antes dificultada pelas mudanças das

condições meteorológicas que prejudicavam a transmissão por satélite.

A adequação do estádio Vivaldo Lima seria necessária frente às

exigências da FIFA28. O crème de la crème de uma copa do mundo é o estádio.

Vale ressaltar que o governo do estado do Amazonas solicitou ao escritório

Vigliecca & Associados em 2006 um projeto para reformulação e adequação do

estádio Vivaldo Lima. Esse projeto poderia ser o suficiente para atender as

necessidades da FIFA, mas para garantir que a cidade fosse escolhida como

subsede poderia não ser o necessário. Seria importante para as pretensões da

candidatura a construção de um novo estádio que materializasse o

pensamento difundido pelo planejamento estratégico com forte apelo regional e

identificado com as demandas ambientais idealizadas pelo estado e

valorizadas pela FIFA. Um estádio imponente que fosse um marco para o

desenvolvimento local e turístico, mas principalmente um trunfo para a

candidatura de Manaus na disputa direta com Belém. Segundo Minev,

“devemos sim gastar mais demolindo o Vivaldão e construindo um novo estádio

no mesmo local, entretanto recuperaremos parte deste gasto com valorização

imobiliária, marketing e centro comercial. Fazer o estádio em outra localização

não permitiria usufruir com tanta intensidade destes três benefícios. Algumas

vantagens adicionais incluem o plano de passagem do novo meio de transporte

público (seja VLT ou monotrilho) na Constantino Nery e a economia com a

manutenção do Vivaldão atual (este sim, sem nenhuma viabilidade

econômica). Não foi uma decisão simples e certamente envolve um número de

riscos. Lembre-se que esta decisão foi tomada em meio a uma disputa

ferrenha sobre qual cidade seria escolhida para a Copa; Belém, por exemplo,

                                                                                                                         27 Acessado em 13 de fevereiro de 2014 http://www.dminev.com/2008/08/copa-2014-em-manaus.html

28 Fifa Stadium Safety and Security regulations.

optou por um projeto bem menos imponente e complexo”29. A demolição do

premiado estádio Vivaldo Lima30 do arquiteto Severiano Porto, inaugurado em

1971, um marco da arquitetura de estádios brasileira estava decretada. Foi

contratada pelo governo do estado do Amazonas a empresa paulista Stadia

que indicou a consultoria do escritório alemão GMP Architektur, uma referência

na construção de arenas para megaeventos esportivos para definir as melhores

condições para a candidatura de Manaus31.

Para a definição dos meios de transporte público para atendimento dos

critérios estabelecidos pela FIFA foram realizadas duas propostas realizadas

individualmente que seriam de responsabilidade da prefeitura municipal de

Manaus e do governo do estado do Amazonas. A prefeitura municipal em

parceria com a Consultoria Poyri desenvolveria o BRT32 uma proposta de

sistema de ônibus para ampliar e qualificar a oferta do sistema atual. O

governo do estado do Amazonas em parceria com a PWC33 pensava em um

transporte de massas como um metrô ou VLT34, elevado ou no solo, que faria a

conexão norte-sul e ligaria o centro da cidade, o estádio e o aeroporto. Haveria

ainda uma segunda linha para a zona leste da cidade, afastada e populosa.

Quanto os Campos Oficiais de Treinamentos - COT, espaços que

serviriam para utilização das seleções para um possível treino antes do jogo,

as dificuldades em face de falta de infraestrutura básica dos clubes de futebol

do estado. Não havia nenhuma instalação adequada e nenhum clube com

condições para financiar as obras necessárias para campos de treinamentos

das seleções na semana do jogo. O governo do estado do Amazonas após a

avaliação das possibilidades definiu pela reforma do estádio da Colina do São

Raimundo e pela construção de um novo estádio.

O espaço solicitado pela FIFA para realização da Fan Fest deveria

comportar 30.000 pessoas e atenderia também aos jogos de outras cidades

como um ambiente de integração entre os torcedores. O projeto da candidatura

                                                                                                                         29 Acessado em 13 de fevereiro de 2014 http://www.dminev.com/2009/01/esperana-da-copa-em-manaus.html

30 Premiado pelo IAB em 1965 e 1971. 31 Informação confirmada pelo Coordenador da UGP Miguel Capobiango. 32 Bus Rapid Transit. 33  Pricewaterhousecoopers  34 Veículo leve sobre trilhos.  

de Manaus propunha o Sambódromo de Manaus, estrutura do governo do

estado do Amazonas que recebe eventos durante o ano e está em uma área

lindeira ao estádio.

A proposta para ampliação do aeroporto Eduardo Gomes assim como a

modernização do porto de Manaus foram estratégias para a integração regional

e parte do plano para tornar Manaus um Hub de chegada no Brasil. Com o

crescimento da demanda de voos para a região aliado a grande movimentação

de cargas no Aeroporto de Manaus devido a distribuição dos produtos e

insumos para o Pólo Industrial de Manaus. Segundo Minev “a verdade é que

ainda se demora muito na chegada internacional ao Amazonas. Nosso leque

de opções internacionais mostra sinais de expansão: voos diretos para Atlanta,

Miami, Panamá, Caracas e Bogotá tornam Manaus o centro definitivo de

conexões do norte brasileiro. Esta gama de voos gera um efeito de rede que

tende a fortalecer ainda mais a infraestrutura aérea de Manaus. Por exemplo,

com o novo voo direto de Cuiabá a Manaus, mato-grossenses agora chegam

em Miami em um total de 9 horas, ao invés de um total de 12 horas indo por

São Paulo35”.

No dia 31 de maio de 2009, aproximadamente 50.000 pessoas

acompanharam a transmissão realizada por telões em frente ao estádio Vivaldo

Lima, que escolheu a cidade como subsede para receber quatro jogos na copa

do mundo. O governo do estado do Amazonas e a prefeitura de Manaus

informavam pelos meios de comunicação de massa à população que a copa

seria a oportunidade do século XXI.

O LEGADO DA COPA

ESTÁDIO VIVALDO LIMA (1969-2010)

O estádio Vivaldo Lima foi a primeira grande obra pública do Arquiteto

Severiano Mario Porto e foi o marco inicial da arquitetura moderna em Manaus.

                                                                                                                         35 Acessado em 13 de fevereiro de 2014 http://www.dminev.com/2009/07/o-homework-do-turismo.html

Em 1967, a cidade tinha uma população estimada de 250.000 habitantes36 e o

edifício ficava no limite do perímetro urbano com a floresta. Atualmente a

cidade tem praticamente 2.000.000 de habitantes e o estádio está localizado no

centro geográfico do município. O objetivo da construção do estádio, segundo

Severiano Porto era atender a “demanda crescente do futebol no norte do país

e fazer intercâmbios com os países vizinhos, (Peru, Equador, Guianas,

Venezuela e Bolívia) afastados dos tradicionais centros esportivos do centro-

sul do pais37”. O estádio foi premiado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil em

1965 e em 1971.

Figura 02: Foto da maquete do estádio Vivaldo Lima. Fonte: Revista Arquitetura IAB, 1967.

Em 1965, Severiano Mário Porto foi convidado para desenvolver o

projeto de reforma do Palácio Rio Negro pelo seu vizinho bairro do Jardim

Botânico na cidade do Rio de Janeiro, o Governador Arthur Reis que acabara

de ser nomeado em 1964, pelo então presidente Humberto Castelo Branco.

Quando foi convidado para projetar o estádio em 1967 e a confirmação da sua

construção pelo governo estadual, decidiu manter o escritório com o colega

                                                                                                                         36 IBGE 37 Revista Arquitetura, do Instituto de Arquitetos do Brasil, número 44,, 1965

Mario Ribeiro na cidade do Rio de Janeiro pela necessidade de estar próximo

aos fornecedores38 mas seria fundamental morar com a esposa em Manaus

devido à responsabilidade para a execução da obra.

Figura 03: Fachada Vivaldo Lima.Fonte: Autor, 2003.

O terreno escolhido pelo governo do estado a para implantação do

estádio Vivaldo Lima apresentava uma enorme cratera em forma de ferradura

que foi resultado de escavações e desmontes para a construção de aterros nos

bairros da Compensa e da Alvorada e possibilitariam a acomodação do estádio

nesta “topografia resultante”. Severiano Porto não participou da escolha do

terreno. Quando visitou o terreno constatou que aproveitaria os taludes da

cratera para inserir o estádio onde locaria os patamares da arquibancada

nessa encosta como um grande anfiteatro. Durante o período em que

desenvolvia o projeto arquitetônico realizou visitas ao estádio do Mineirão na

cidade de Belo Horizonte em fase de conclusão e foi informado pelos

calculistas para que “executasse o estádio de dentro para fora”, pois a falta de

recursos financeiros no final da obra poderia não prejudicar o resultado final

pelo costume de interrupção de serviços na parte dos acabamentos no final da

obra como aconteceu com o estádio do Maracanã.

O modelo utilizado no projeto do estádio foi de um anel fechado

semicoberto39, adaptado às condições topográficas do terreno. Este anel de

arquibancadas foi setorizado em três partes. A dimensão maior no eixo norte-

sul do terreno possibilitava a perfeita adaptação do campo na orientação solar

adequada. Já no eixo leste-oeste ficavam dispostos os acessos principais. No

                                                                                                                         

38 PORTO,Severiano. Depoimento. [12 de maio, 2002]. Rio de Janeiro. Entrevista concedida a Marcos Cereto.

 39  CERETO,Marcos Paulo. Arquitetura de Estádios: o caso dos estádios brasileiros. Dissertação de Mestrado em Teoria, história e crítica da Arquitetura. PROPAR/UFRGS, 2003.  

acesso leste, junto a avenida Constantino Nery, que fazia a ligação viária entre

o estádio e o centro da cidade, um largo que fazia a transição de escala com a

cidade e possibilitava o acesso as arquibancadas e também a funções

administrativas, assim como o pórtico principal. Existiam portões ao longo do

perímetro do estádio, tanto pelo norte como pelo sul criando um módulo que

determinava a pauta no conjunto. No acesso oeste estavam os vestiários no

subsolo, sala VIP, salão principal, acesso para deficientes, cabines de

imprensa, tribunas de honra e também acesso e estacionamento dentro do

volume do estádio independente para os atletas, árbitros e convidados uma

novidade nos estádios brasileiros na década de setenta e atualmente uma

determinação para reformas ou novos projetos arquitetônicos de estádios pela

FIFA. Esse acesso privado proporcionava a privacidade para os atores do

espetáculo, imprensa e público com ingressos mais caros. O estacionamento

ocorria no fragmento do lote no sul e norte. O perímetro do estádio é totalmente

desobstruído com amplo acesso a todos os portões. O projeto previa uma

cobertura parcial do estádio em concreto no setor oeste e foi iniciada e

abandonada pelas dificuldades na execução para a laje inclinada. Na ocasião

da reforma do estádio em 1992, foi concluída a marquise com o desenho

original, porém executada em estrutura metálica, juntamente com as cabines

de imprensa do estádio. A fachada do edifício foi tratada como uma fina linha

divisora das arquibancadas com o exterior de forma silenciosa. A relação entre

o edifício e a “topografia resultante” era harmônica. Em apenas dois momentos

havia um tratamento diferenciado: nos acessos leste e oeste ao estádio. No

acesso leste, Severiano Porto tratou a fachada com a estrutura de concreto

armado e os painéis de vedação em madeira. No acesso oeste painéis de vidro

permitiam a permeabilidade do conjunto. A utilização da madeira na parte

administrativa e do tijolo nos limites externos da edificação determinava a

utilização de uma técnica construtiva vernacular com mão de obra local a

garantir a qualidade dos acabamentos finais da obra. A correta inserção do

material regional dentro de um contexto universal define a arquitetura

identificada com os princípios da escola carioca, adaptada ao lugar - o

regionalismo crítico de Kenneth Frampton. Cristían Fernández Cox relata uma

modernidade apropriada ao local. A dialética entre a universalidade e a

regionalidade estão presentes nos edifícios de Severiano Porto.

A valorização do sistema estrutural nos projetos, destacando a malha

estrutural como primeiro plano das fachadas, foi uma estratégia dos estádios

produzidos no Brasil nesse período com a desmaterialização da fachada

tornando-a consequência do jogo de cheios e vazios da grelha ou balanço do

sistema estrutural. Esse conceito não foi aplicado por Severiano Porto nas

fachadas do estádio Vivaldo Lima.

ARENA DA AMAZÔNIA

A estratégia adotada pelo governo do estado do Amazonas para garantir

que Manaus fosse escolhida como sede da copa do mundo de 2014 passou

pela construção de um estádio que representasse a identidade regional

amazônica, da sustentabilidade e também pelo desenvolvimento de um projeto

arquitetônico por um escritório com experiência comprovada em Megaeventos.

O projeto desenvolvido pelo escritório alemão GMP Architektur40, com a

participação do escritório brasileiro Stadia, propunha retratar a identidade da

região amazônica, além de garantir uma solução eficiente e funcional para a

realização de atividades esportivas e culturais.

                                                                                                                         40Von Gerkan, Marg und Partner

Figura 04: Arena da Amazônia. Fonte: GMP, 2014. A demolição de um estádio e a construção de um novo no mesmo local

é um desafio projetual. Não é novidade na história da arquitetura dos estádios

e está relacionada a atualização do equipamento esportivo para a realização

de grandes eventos. A inevitável comparação com o estádio antigo, ampliada

pelo fato do mesmo ter sido premiado em duas oportunidades pelo IAB e

projetado por Severiano Porto, remetia a discursos inflamados sobre

colonialismo cultural e arquitetônico. Do ponto de vista econômico, um

questionamento nacional sobre a construção de arenas e em especial no caso

de Manaus, aos altos investimentos e a viabilidade da arena no período

posterior a copa do mundo. O terreno da Arena da Amazônia não era mais o

mesmo no período em que foi construído o estádio Vivaldo Lima. A cidade

mudou. Nas quatro décadas a população praticamente multiplicou por 10 vezes

e o estádio que estava na periferia agora está no centro geográfico do

município. O terreno retangular tem a leste a avenida Constantino Nery,

principal via de ligação entre a zona norte e sul da cidade por onde circulam

boa parte das linhas de ônibus municipais. Ao oeste está o Sambódromo que

foi separado por uma via que será utilizada somente quando houver eventos

em um dos dois equipamentos. Depois do Sambódromo, foi realizado a Vila

Olímpica do estado Amazonas, projeto realizado por Severiano Porto na

década de 90, que além das atividades de preparação esportiva funciona como

uma praça para a população desenvolver atividades de lazer e ócio. Ao norte,

no terreno original do projeto de Severiano Porto, o Ginásio Poliesportivo

Amadeu Teixeira, construído em 2006 e a rua Loris Cordovil. Ao sul, foi

construído simultaneamente a Arena da Amazônia, o Centro de Convenções

Vasco Prado que está no local onde ficava o estacionamento do estádio

Vivaldo Lima. Ainda ao sul temos a Rua Pedro Teixeira com o Hospital

Psiquiátrico Eduardo Ribeiro. Mesmo sendo no mesmo local, haviam outros

edifícios no terreno original do projeto, que assim como a cidade, mudou. Os

edifícios do Centro de Convenções e o Ginásio Poliesportivo não possuem

valor arquitetônico significativo. A região da Arena da Amazônia é valorizada

pelo mercado imobiliário devido à centralidade urbana, a facilidade de

mobilidade pela concentração das linhas de ônibus e a proximidade com os

principais centros comerciais de Manaus.

Nesse contexto, a GMP desenvolveu o projeto e teve a sensibilidade

para observar o lugar e perceber como o estádio poderia se integrar a esse

novo contexto. Além de observar e interpretar esse contexto, valorar a

importância do estádio projetado por Severiano Porto, que havia sido demolido.

A observação de alguns aspectos presentes no zoneamento do antigo estádio,

a hierarquia dos acessos e a relação com a topografia permanecem na Arena

da Amazônia. Valorar um referencial arquitetônico é uma característica da

arquitetura classicista que adotava tipos consolidados e que foi abandonada

como sinônimo da antítese da criatividade do arquiteto. Outro ponto que

merece destaque na estratégia projetual foi a adoção do platô elevado com

uma praça que funciona como um foyer aberto recebendo os espectadores

permitindo a socialização. Essa praça elevada permite uma visão panorâmica

interessante da região e distingue entre a praça privada (elevada) e a praça

publica (junto a avenida Constantino Nery).Uma clara referência ao pódium

41do Teatro Amazonas, outra analogia ao principal ícone arquitetônico da

cidade.

Figura 05: Teatro Amazonas. Fonte: Autor, 2004.

O acesso a praça elevada acontece por rampas que configuram a

fachada principal como um enorme bloco de concreto definindo a base do

edifício. A praça está no nível intermediário do estádio que permite o acesso

para as arquibancadas do nível 1, mais próximas ao campo, e através das

escadas, o acesso para os camarotes e arquibancadas do nível superior. No

projeto original havia um Mall42 junto ao pódium na avenida Constantino Nery

que relacionaria o edifício com a cidade e também serviria para reduzir os

custos com a manutenção mensal da arena. O projeto previu a utilização de

dois sistemas estruturais. Um para as arquibancadas e partes do programa que

foi realizado com concreto armado. A utilização de concreto moldado in loco,

era um desejo da GMP pela observação das características da arquitetura

moderna brasileira. Houve a mudança para o pré-fabricação, pelas questões de

                                                                                                                         41 Segundo o Arquiteto Guilherme Rene Maia, responsável pelo acompanhamento e gestão do projeto pela GMP em Manaus. 42 Segundo Guilherme Rene Maia, o Mall foi retirado do projeto pelo governo do estado.

prazo e qualidade do acabamento. A estrutura do invólucro que define a

volumetria do edifício é em aço revestido por uma membrana translúcida que

parte do nível da praça elevada elevando as fachadas do estádio e protegendo

as arquibancadas da chuva e do sol. A cobertura apresenta um sistema de

recolhimento das águas da chuva que deslizam pela trama da estrutura

metálica do invólucro e levadas por baixo do campo até os dois reservatórios

na parte oeste do estádio, que armazenam 25.000 litros. Segundo Miguel

Capobiango, foi realizado um estudo para aproveitamento da energia solar com

placas de células fotovoltaicas com uma equipe da Universidade Federal de

Santa Catarina. O projeto da GMP não contemplava a utilização da energia

solar e o estudo realizado não tem previsão e orçamento para execução.

Figura 06: Rampa para acesso ao pódium da Arena da Amazônia. Fonte: Autor, 2014.

AMPLIAÇÃO DO AEROPORTO INTERNACIONAL EDUARDO GOMES

O aeroporto internacional Eduardo Gomes, construído pela Hidroservice

em 1976 foi desenvolvido pelo arquiteto Rodrigo Lefèvre, fundador do grupo

Arquitetura Nova43 (Rodrigo Lefèvre, Sergio Ferro e Flávio Império). A

Hidroservice, do empresário Henry Maksoud, construiu diversas obras de

infraestrutura em todo o território na década de 70 e construiu os aeroportos de

Manaus e do Galeão no Rio de Janeiro em 1977. Esses edifícios modificaram a

linguagem dos aeroportos brasileiros com a linguagem do concreto armado e

inseriram o finger no embarque e desembarque dos passageiros. O primeiro

aeroporto de Manaus foi o da Base Aérea da Ponta Pelada, projeto de 1944 de

Álvaro Vital Brasil e inaugurado em 1954. Devido a proximidade do centro da

cidade e o crescimento da feira da Panair, o lixo acumulado atraia os urubus e

prejudicava a aproximação das aeronaves a pista. O aeroporto internacional

Brigadeiro Eduardo Gomes foi implantado na área norte da cidade a 14 km do

centro da cidade e foi construído com uma pista de 2700 x 45 metros e um

pátio para aeronaves com 45.000m². O terminal de passageiros tinha

39.483,62m² com uma capacidade de 4,2 milhões de passageiros por ano, 772

vagas no estacionamento além de ter 36 balcões de check in que ficavam em

ambiente restrito para o passageiro passar pela Receita Federal antes de

embarcar nas 06 pontes de embarque. O aeroporto é o terceiro em

movimentação de carga no país considerando as características de logística da

região e as necessidades do Distrito Industrial de Manaus44. Em 2004 foi

inaugurado um terceiro terminal de cargas com área de 27.765m² projeto

desenvolvido pelo arquiteto Sergio Parada em 200045.

Para a ampliação do terminal a INFRAERO convidou o arquiteto Mario

Aloisio Barreto Melo46 para desenvolver o projeto. Com a ampliação o terminal

de passageiros passará a ter uma área de 97.258,55 m² com capacidade para

13,5 milhões de passageiros por ano, 2670 vagas no estacionamento e 87

balcões de check in agora junto ao saguão com 08 pontes de embarque.

Atualmente, o terminal encontra-se em construção e caracterizam-se pelas

adequações das instalações atuais as novas necessidades no padrão

solicitado pela INFRAERO para aeroportos desse porte.                                                                                                                          43O grupo Arquitetura Nova foi fundado por Sérgio Ferro, Rodrigo Lefèvre e Flávio Império e teve um papel de vanguarda na arquitetura paulista na década de 60. 44Segundo dados da INFRAERO – Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária. 45Acessado em 13 de fevereiro de 2014. http://www.sergioparada.com.br/VersaoPortugues/versaoportugues.html 46Autor do projeto do Aeroporto de Maceió que foi considerado pela INFRAERO modelo para essa classe de aeroporto. Realizou também os projetos para os aeroportos em Aracaju, Maragogi e ampliação do Terminal de passageiros em Salvador.  

NOVA PONTA NEGRA

A praia da Ponta Negra foi um importante balneário de Manaus situado

na zona oeste da cidade. Atualmente, integrada ao perímetro urbano, é um

bairro e é a principal conexão visual da cidade como Rio Negro. Segundo Mario

Ypiranga Monteiro, no final de década de 50 foi iniciada a construção da

estrada sem asfalto para a Ponta Negra, conectando-a ao sistema viário

urbano. No início da década de 70 havia uma linha de ônibus regular nos finais

de semana para o balneário e iniciou a ocupação do território com o

condomínio Jardim Europa. Pela estrada da Ponta Negra, partindo do bairro

São Geraldo junto ao CIGS47·, há uma série de ocupações realizadas pelos

militares ao longo da orla do Rio Negro. No final da estrada foi construído o

Hotel Tropical inaugurado em 1976 que teve estudos do arquiteto Sérgio

Bernardes e serviu como estruturador urbano da praia. No final da década de

80, há um processo de valorização imobiliária dos terrenos e iniciam a

construção das torres residenciais alinhadas com a praia da Ponta Negra. Em

1992, Severiano Porto desenvolveu o projeto de urbanização da Ponta Negra.

O projeto previa 2 km de calçadão com bares, calçadão, ciclovia e coberturas

para sombreamento. Em 2006 a prefeitura convidou Severiano Proto para fazer

o projeto de reforma da Ponta Negra, mas o projeto não foi concluído.

Em 2010 a prefeitura contratou os arquitetos Roberto Moita e Cláudio

Nina para desenvolver o projeto da reforma da Ponta Negra. Esse projeto seria

fundamental para a definição de Manaus como sede da copa uma vez que a

orla da Ponta Negra é um dos poucos lugares na cidade de Manaus que

proporciona o convívio com o Rio Negro. O projeto tem intervenções pontuais

ao longo da orla e é dividido em duas etapas. A primeira etapa inaugurada em

2011 propõe a perenização da praia48.

O projeto integrou a areia com o calçadão na parte mais alta no norte da

implantação com uma rampa em escala urbana, funcionando como pórtico para                                                                                                                          47 Centro de Instrução e Guerra na Selva. 48 O período de cheias e vazantes no Rio Negro proporcionava um fenômeno na cheia que impossibilitava a utilização do espaço como praia. Com o aterro, a praia poderia ser utilizada durante o ano inteiro, e também a faixa de areia poderia ser utilizada também para as atividades contemplativas e de lazer. Foi definido no projeto que uma faixa de 700 metros de praia seria aterrada 150 metros para dentro do rio, chegando a uma profundidade de 6 metros de altura.(mais de um milhão de m³) no setor oeste junto ao complexo hoteleiro até o anfiteatro existente. Essa área seria liberada para banho somente em junho de 2012.

acesso a praia. Além da praia perene, há uma proposta de organização da

paisagem, com linguagem atemporal, utilizando mosaicos temáticos em pedra

portuguesa no calçadão. Há uma valorização das visuais para o rio Negro

proporcionando um mais conforto aos transeuntes com a construção dos

mirantes conectados a Praça das Águas e ao calçadão na parte alta. Esses

mirantes são um resgate histórico ao antigo estacionamento que funcionava no

mesmo local e de forma espontânea serviu como um excelente mirador do rio.

Em setembro de 2012, o Ministério Público Estadual recomendou a interdição

da praia devido o número de mortos por afogamento, pela acomodação do

aterro realizado e pelo comportamento inadequado dos banhistas49.

A segunda etapa de execução concluiu a recuperação do calçadão com

espaços contemplativos e de permanência valorizados pela paisagem. O

projeto previa a construção de um mirante com 120 metros de altura que não

foi executado. Foram concluídas a pista de skate, quadras poliesportivas,

recantos e abrigos para ônibus e os espaços destinados aos novos bares e

restaurantes em parceria entre o poder público e a iniciativa privada estão em

processo licitatório.

A realização da Fan Fest foi transferida para o auditório da Ponta Negra

uma vez que o Sambódromo foi definido como espaço adequado para a

montagem das estruturas temporárias para a Arena da Amazônia. Aliado a

isso, a dificuldade em utilizar a estrutura do sambódromo e isolar o quadrilátero

para os torcedores que possuíam ingresso. Nesse ínterim, foi considerada a

possibilidade de construção do Memorial do Encontro das Águas, projeto

realizado pelo arquiteto Oscar Niemeyer em 2005. Orçado em 40 milhões de

reais o projeto apresenta qualidade questionável pela falta de relação com o

lugar, inadequada identidade formal50 e pouca adequação climática na praça

de acesso sem estrutura de sombreamento.

                                                                                                                         49 http://g1.globo.com/am/amazonas/noticia/2012/11/laudo-aponta-falhas-no-aterro-da-praia-artificial-da-ponta-negra-no-am.html  50 Termo utilizado por Edson Mahfuz

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A visão ambiental macroeconômica do estado do Amazonas é uma case

de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. A concentração das

atividades na região metropolitana de Manaus auxilia a redução do

desmatamento no estado aliado ao custo do aproveitamento da madeira na

floresta encharcada. A região metropolitana de Manaus tem aproximadamente

60% da população do estado e representa 90% do PIB do estado51. A

qualidade de vida nas cidades da região metropolitana é o grande desafio, pela

infraestrutura urbana precária. A Amazônia urbana não tem o mesmo destaque

que a preservação da Amazônia verde, mas representa um desafio para

garantir o equilíbrio nessa região delicada ambientalmente. As capitais e

regiões metropolitanas da Amazônia brasileira apresentam condições de

infraestrutura urbana abaixo da média nacional e crescimento populacional e

geográfico acima. Uma equação difícil para resolver sem um planejamento

urbano adequado e integrado com um olhar específico para essa região. Essa

é a verdadeira copa do mundo da região norte: Vencer os desafios da

Amazônia urbana..

A Lei do Estatuto das Cidades de 2006 iniciou a implantação dos Planos

Diretores no interior do Brasil com o objetivo de traçar diretrizes urbanas para o

crescimento das cidades. Esse passo foi fundamental para iniciar a discussão

urbana e rural com a comunidade, objetivando um planejamento participativo.

O modelo é democrático na essência, mas as decisões definidas pelas

audiências públicas são aprovadas, revisadas e modificadas na Câmara

Municipal de acordo algumas vezes com outros interesses. O conjunto de leis

que define um Plano Diretor não garante a qualidade do planejamento urbano

necessário para essa região. Além de diretrizes urbanas são necessários

planos para as cidades com projetos para curto, médio e longo prazo.

Ao observarmos os planos de melhoramentos desenvolvidos no início do

século passado nas principais cidades brasileiras, o planejamento da área

urbana sempre foi acompanhado de projetos de equipamentos urbanos e de

                                                                                                                         51 IBGE, 2013.

edifícios representativos que definiram as características das cidades e sua

consolidação em período de crescente ocupação urbana. Alfred Agache,

Saturnino de Brito, Prestes Maia desenvolveram planos para as cidades e

também projetaram equipamentos urbanos e edifícios que construídos,

consolidaram a materialização desse pensamento.52 No caso de Manaus, o

plano para a cidade de Eduardo Ribeiro de 1892, previa a expansão urbana da

cidade e a visão sanitarista com o aterramento dos igarapés. Além da

ocupação do território, previu a construção do porto flutuante e os galpões em

ferro fundido, o prédio da Alfândega e Guardamoria e a construção do Teatro

Amazonas.

Nos projetos mais recentes, Barcelona marcou a importância do

arquiteto Oriol Bohigas na gestão política do planejamento urbano. A

oportunidade das Olimpíadas de 1992 foi concretizada com projetos de curto,

médio e longo prazo tendo como pano de fundo o plano secular de Cerdá. O

Megaevento catalizou as ações planejadas por um plano de cidade

desenvolvido pela equipe de Bohigas com ações que ainda acontecem

atualmente. Além de planejar é preciso cada vez mais que os arquitetos

assumam cargos importantes no planejamento das cidades, no poder

legislativo e também executivo. O exemplo brasileiro em Curitiba demonstrou

avanços na qualidade urbana com a participação de arquitetos na gestão da

cidade.

Nas cidades brasileiras que receberam a copa do mundo e em especial

a cidade de Manaus, o Megaevento foi visto como uma oportunidade única

para melhoria da qualidade de vida em razão dos investimentos necessários

para adequação às exigências da FIFA. A falta de planejamento prévio fez com

que não houvesse tempo hábil para ações integradas e estruturantes para

consolidar a desejada melhoria. O problema não foi a falta de recursos

financeiros, mas a falta de um plano para a cidade que fosse catalisado pelo

Megaevento. Dessa forma, as intervenções pontuais não apresentaram uma

significativa melhoria na qualidade de vida da população e ficaram apenas

                                                                                                                         52 Recomendo a leitura da tese “Porto Alegre como cidade ideal – planos e projetos urbanos para Porto Alegre” realizada em 2006 no PROPAR/UFRGS pelo Professor Sílvio Belmonte de Abreu Filho. Na tese há uma série de considerações importantes sobre o planejamento das cidades brasileiras.  

obras necessárias para a realização dos jogos. Urge a necessidade de

desenvolver um plano para a cidade para as próximas cinco décadas e realizá-

lo por etapas. É necessário rever o modelo de planejamento da cidade

integrado ao quadriênio político, com decisões sobre o futuro da cidade

limitadas as ações que podem ser realizadas na gestão. Tudo é emergencial,

nada é planejado.

Mesmo com os problemas relatados com a oportunidade perdida para

executar projetos para uma cidade melhor, vale destacar os importantes

avanços na integração regional com o Megaevento. A ligação com a Rede

Nacional de Energia, com o linhão de Tucuruí – Macapá - Manaus, um projeto

que reduzirá as emissões de CO² e garantirá o abastecimento da região. Pelas

torres que atravessam 1800 km na floresta passará também a banda larga do

governo federal, que melhorará os serviços e barateamento dos serviços de

internet. Até 2008, o serviço de internet chegava a Manaus por transmissão à

rádio, sujeito as condições climáticas e a instabilidade do serviço. Em 2010,

houve uma sensível melhora com a fibra da OI oriunda da Venezuela para as

empresas do Distrito Industrial. Em 2012, com a inauguração da ponte que liga

a cidade de Manaus a cidade de Iranduba, foi possível garantir o sinal com

mais qualidade, não utilizando mais o serviço a rádio.

O aumento de leitos para hospedagem desde 2009 na cidade foi de

40%. Atualmente a média nacional de ocupação nos hotéis são 40%. Na

cidade de Manaus, a ocupação fica em 80 % durante a semana e no final de

semana é a abaixo da média nacional. A visibilidade da floresta e a aposta no

turismo internacional foi potencializada com a ligação direta para Lisboa pela

companhia aérea TAP53, que reduziu o tempo de viagem em 11 horas para a

Europa. A visibilidade internacional que houve com a copa do mundo e que

haverá nas olimpíadas em 2016 são apostas do governo do estado do

Amazonas para aumentar o turismo na cidade. Aliado ao aumento da

capacidade hoteleira, a ampliação do terminal de passageiros do aeroporto

Eduardo Gomes aumenta o conforto aos usuários. Para a elevação da

                                                                                                                         53 Os voos iniciaram em maio de 2014.

categoria do aeroporto para um hub para a América do Norte, será necessário

a construção de uma segunda pista e o aumento do pátio das aeronoves.

Infelizmente as obras de mobilidade urbana não saíram do papel. Tanto

o monotrilho como o sistema BRT não foram iniciados e estão sem previsão

para iniciarem. A necessária reforma do porto de Manaus está prevista para

iniciar ainda em 2014. O centro histórico de Manaus passa por um processo de

sanitarização com a impermeabilização dos leitos dos igarapés em um

programa denominado PROSAMIM. A retirada das tradicionais palafitas e a

construção de unidades habitacionais é bastante criticada. Um Green goal

contra. Entender a palafita como determinante no saneamento urbano é jogar a

sujeira para baixo do tapete. Impermeabilizar a mata ciliar dos igarapés é não

olhar para o futuro da cidade. Outro processo marcante no ano da copa foi a

retirada dos camelôs das principais vias do centro e a relocação em galerias

populares.

O governo do estado do Amazonas criou o Complexo da Arena da

Amazônia para captar grandes eventos no estado. No complexo há a Arena da

Amazônia, o Sambódromo, o Ginásio Amadeu Teixeira e o Centro de

Convenções Vasco Prado. A Arena da Amazônia deverá receber a certificação

LEED e será o primeiro edifício com selo silver no estado. A qualidade

arquitetônica do edifício abre um leque de oportunidade para pesquisas e

desenvolvimento tecnológico para a universidade. Independente das questões

econômicas que questionam a sua construção é um excelente projeto

arquitetônico que deve ser valorado. A sua construção habilitou novos ofícios e

atualizou a mão de obra na cidade e região. A discussão da sustentabilidade

econômica da Arena é fundamental para consolidação desse equipamento na

cidade reduzindo os custos de manutenção aos cofres públicos. O futuro da

Arena da Amazônia dependerá de um calendário que envolva atividades além

do futebol. O complexo da Arena é o início difícil caminhada.

Há dados evidentes que nos levam a concluir que a Arena da Amazônia

só foi projetada e construída em razão da indefinição prévia do governo federal

para escolha das cidades que sediariam a copa do mundo de 2014. Frente a

tantos desafios estruturais nas cidades amazônicas o investimento na

demolição e construção de um novo estádio é questionado perante outras

necessidades urgentes. Por outro lado, não haveria copa do mundo na cidade

no formato definido pelo governo federal. Caso houvesse a definição prévia de

Manaus como sede pelo governo federal é possível afirmar que ocorreria a

reforma e ampliação do estádio Vivaldo Lima.

Para que demolir? O estádio foi feito para crescer54.

                                                                                                                         54 Severiano Porto quando indagado sobre a demolição do estádio.

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deste artigo.

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