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A crise da Esquerda em Alagoas Historicamente, a esquerda em Alagoas manteve uma relação tensa com a institucionalidade, ora declarando a necessidade da sua transformação, ora acreditando na possibilidade de reformas que significassem avanços substanciais para os trabalhadores. Porém, eis o dilema da esquerda revolucionária: ao se inserir na ordem institucional ela tem que “jogar o jogo”, isto é, legitimar as instituições que critica. A solução histórica a este dilema teve um duplo movimento: adesão às instituições burguesas ou a sua plena negação e dos valores vinculados às mesmas. De um lado, a gestão da ordem capitalista; de outro, a negação do capitalismo e sua substituição por um regime político autoritário dirigido por uma elite, a “nova classe”, detentora de privilégios e do poder do Estado através do partido único. A despeito das profundas diferenças entre ambas, observa-se que elas se fundamentam no controle do Estado, ou do governo. A crise da esquerda tem raízes profundas, visíveis pelas circunstâncias atuais. Ela remonta à decisão de participar das instituições burguesas, na paulatina adesão ao reformismo e ao consequente “aburguesamento” da militância, a burocratização e a transformação da organização de meio para revolucionar a sociedade num fim em si mesma. Ou seja, o objetivo principal, ainda que às vezes dourado por uma retórica revolucionária, passou a ser a sobrevivência política e material da organização e dos seus dirigentes, ao contrário da perspectiva do assalto ao poder do Estado e a transformação do seu caráter de classe. As imagens do passado que expressavam radicalidade e poderiam representar o pesadelo das elites empresariais, latifundiárias, financeiras etc., parecem, hoje, caricaturas. É importante notar que com o decorrer do tempo mudou o discurso e a política dos partidos de esquerda em Alagoas. O reformismo, dado o atraso político e social, se mostrou uma tarefa revolucionária no quadro da ordem burguesa. No

A Crise Da Esquerda Em Alagoas

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A crise da Esquerda em Alagoas

Historicamente, a esquerda em Alagoas manteve uma relao tensa com a institucionalidade, ora declarando a necessidade da sua transformao, ora acreditando na possibilidade de reformas que significassem avanos substanciais para os trabalhadores. Porm, eis o dilema da esquerda revolucionria: ao se inserir na ordem institucional ela tem que jogar o jogo, isto , legitimar as instituies que critica.

A soluo histrica a este dilema teve um duplo movimento: adeso s instituies burguesas ou a sua plena negao e dos valores vinculados s mesmas. De um lado, a gesto da ordem capitalista; de outro, a negao do capitalismo e sua substituio por um regime poltico autoritrio dirigido por uma elite, a nova classe, detentora de privilgios e do poder do Estado atravs do partido nico. A despeito das profundas diferenas entre ambas, observa-se que elas se fundamentam no controle do Estado, ou do governo.

A crise da esquerda tem razes profundas, visveis pelas circunstncias atuais. Ela remonta deciso de participar das instituies burguesas, na paulatina adeso ao reformismo e ao consequente aburguesamento da militncia, a burocratizao e a transformao da organizao de meio para revolucionar a sociedade num fim em si mesma. Ou seja, o objetivo principal, ainda que s vezes dourado por uma retrica revolucionria, passou a ser a sobrevivncia poltica e material da organizao e dos seus dirigentes, ao contrrio da perspectiva do assalto ao poder do Estado e a transformao do seu carter de classe.

As imagens do passado que expressavam radicalidade e poderiam representar o pesadelo das elites empresariais, latifundirias, financeiras etc., parecem, hoje, caricaturas. importante notar que com o decorrer do tempo mudou o discurso e a poltica dos partidos de esquerda em Alagoas.

O reformismo, dado o atraso poltico e social, se mostrou uma tarefa revolucionria no quadro da ordem burguesa. No Brasil, a mnima perspectiva de reforma encontra tamanha resistncia das elites que tendem a acirrar as contradies. Historicamente, ou as elites sufocaram os anseios reformista (como no golpe de 1964) ou as organizaes que, em tese, representam interesses dos de baixo, se rederam ao pragmatismo ou realismo poltico. Os partidos de esquerda em Alagoas no foram e nunca pretenderam ser revolucionrios.

O esquerdismo alagoano se descaracterizou enquanto esquerda. Isso ocorreu por sua degenerao interna e pela adoo da mesma poltica econmica de seus antigos inimigos declarados. Ela se viu envolvida em interesses pragmticos e eleitorais, ainda que procure se diferenciar pela retrica. Em outras palavras, transformou a luta esquerdista e libertria em convenes partidrias, sendo assim cooptado pela ordem.

Leonel.