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7/25/2019 A Crise Do Brasil Em Um Botequim de Copacabana _ Brasil _ EL PAÍS Brasil
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XICO SÁ 13 MAR 2015 - 08:49 BRT
TRIBUNA
A crise do Brasil em um botequim deC opac abana
De golpistas e patricin has a bolcheviq ues, um bote quim de Copaca bana é a melhor amostra dapanela brasileira em tempos de crise
Arquivado em: Opinião Operação Lava Jato Caso Petrobras Investigação policial Subornos
Financiamento ilegal Corrupção política Branqueamento dinheiro Petrobras Polícia Federal
Espetando com raiva os coraçõezinhos de galinha queservem de tira-gosto para um chorado uísque duplo, LiliCarabina, como é conhecida pelos mais v elhos na noite deCopacabana, levanta e discursa, em pleno salão do Galeto
Sat´s: “No Brasil, traficante cheira, puta goza, cafetão seapaixona e o dólar paralelo é mais baixo que o dólar oficial.”
Dá água na boca. Não exatamente a filosofia que escuto,mas os coraçõezinhos. São os melhores, mais fiéis e bem-assados do mundo. Lili tem este apelido em “homenagem”a uma célebre bandida de uma quadrilha cuja marca era se
BRASIL
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fantasiar com requinte para os assaltos a bancos nos anos1970-80. Morreu em 2.000, no Rio de Janeiro. Vale a penaler o livro em que Aguinaldo Silva, autor da novela“Império”, formado na escola dos grandes repórterespoliciais, escreveu sobre esta personagem.
A primeira vez que ouvi tal frase,repetida agora pela loiraça Lili“cover” ,foi no filme “Rio Babilônia” (1982), dirigido porNeville d´Almeida. O Tim Maia, eterno síndico da nossamassa falida, dizia algo parecido. A frase realmente só cai bem e soa autêntica na boca nervosa de profissa namadruga.
Mal Lili, inflamada pelo atual momento do país, berrou oseu mantra cívico, e até o Vanildo, um rapaz mudo doprédio vizinho, apareceu para dar o seu pitaco sobre osparadoxos brasileiros. Isto é Copacabana. “No Brasil,traficante cheira, puta goza, cafetão se apaixona, o dólarparalelo é mais baixo que o dólar oficial e pobre é dedireita”, escreveu em um guardanapo uma das tantas variações sobre o mesmo tema. Lili achou graça e pediu
mais uma dose. Vanildo ainda escreveu, em outro guardanapo: “O Brasil é bom, pena que vivemos essa merda de agora, será que oLula volta?”.
O Brasil é bom
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Em uma únicanoite de botequimna madrugada deCopacabana se
discute maispolítica do que emséculos e séculosna Grécia Antiga
O Brasil é bom, o Brasil é bom...O eco chegava até a boca dotúnel da Sá Ferreira. Inevitávellembrar do título do melhorlivro sobre o caráter e oshumores do brasileiro que li nosúltimos anos: “O Brasil é bom”,do mineiro André Sant´anna(Companhia das Letras). Oconto “Nós somos bons” é obra-prima da narrativa política. Soba lente da classe média-média,passa pelo Lula “nordestino ignorante que não sabe falaringlês”, pela ilusão Collor da abertura dos portos etc.
Será que você, amigo de qualquer pendor ideológico, seidentificará com o “cidadão de bem” que arrota impropérioscontra os direitos humanos? Leia. “No Brasil, traficantecheira, puta goza...” Só sei que não se falou mais de outracoisa na madrugada de Copacabana. O hoje abstêmioFausto Fawcett, bardo carioca criador de grandespersonagens como a Kátia Flávia, quase desce para umconhaque.
“No Brasil, traficante cheira, puta goza, cafetão se apaixonae tem coxinha que defende liberdade de expressão pedindoo golpe dos milicos”, emendou uma daquelas lindas neohippies que mereceria do cronista Nelson Rodrigues o
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Lili Carabina, por exemplo, égolpista declarada. Temsaudade da Ditadura. “Haviamoral, respeito, nada dessa
roubalheira de hoje naPetrobras”
rótulo de estagiária de calcanhar sujo. A mesa dela é a maisinflamada. O Galeto Sat´s, neste exato momento, parece oPalácio de Inverno tomado pelos bolcheviques na URSS de1917. Com direito a coraçõezinhos de galinha e cachaça em vez de vodka.
Ao avistar este cara Bozó vagabundo que vos escreve –eventual prestador de serviços àtelevisão brasileira- a turma damesa bolchevique subiu ahashtag, no grito,#GloboGolpista. Uma onda. A oposição reagiu com uma vaia egritos de “Fora Dilma”.
Legalidade brizolistaÓbvio que havia um autêntico brizolista, daqueles da turmado socialismo moreno da Cinelândia, nessa viagem ao fimda noite carioca. Há um brizolista, cotovelos da esperasebastianista sobre a fórmica do balcão do pé-sujo, em
qualquer botequim do Brasil exatamente nessas 2h15 damadruga. O tio lembra, de cara, o episódio em que o “JornalNacional”, na voz bíblica de Cid Moreira, foi obrigado pelaJustiça a divulgar um “direito de resposta” do ex-governador Leonel Brizola.
No repertório político do brizolista, uma palavra faz eco
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onde quer que ele esteja: Legalidade. Apostei um chopecom o garçom que o nosso amigo trataria do tema logo quefosse abordado. Não deu outra: “Pela legalidade, tchê”,discursou o fã de Leonel. Por coincidência com uma camisaazul-brizola, naquele mesmo tom que o político gaúchousava para falar na tevê em outros momentos difíceis dopaís.
“Aquela vaca...”Um botequim de Copacabana é a melhor amostra da panela brasileira. Naturalmentea turma que vai à marcha dedomingo contra Dilma também estava lá. Nas suas três variações: os que pedem o golpe, especificamente o golpe
militar; os favoráveis ao impeachment e os ditos “apenasindignados” que irão protestar, é legítimo, contra apresidente.
Lili Carabina, por exemplo, é golpista declarada. Temsaudade da Ditadura. “Havia moral, respeito, nada dessaroubalheira de hoje na Petrobras”, confessa, tom dramático,ao garçom Ceará II. “Pena que os generais mais inteligentes
estejam todos de pijama, aqui mesmo no bairro, mal têmgrana para o Viagra”, ela diz.
“Aquela vaca”, brada um bacana que me lembra, no seu jeitão cafa,o Pedro Barusco, o ex-gerente da Petrobras, queno seu depoimento à CPI, me remeteu não ao inocentePalhares, o canalha de baixa-patente da obra de Nelson
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Rodrigues. Não, não o pobre Palhares. Lembrou sim anaturalidade e frieza do doutor Werneck, o milionário que“compra um marido” , por um gordo cheque, para casarcom a filha que havia perdido a “honra” da virgindade. Estána peça “Bonitinha, mas ordinária”. Uma história de fazer ofilme argentino “Relatos Selvagens” parecer conto de fadas.
É, amigo, em uma única noite de botequim na madrugadade Copacabana se discute mais política do que em séculos eséculos na Grécia Antiga. O ambiente, mesmo com todasaquelas flamejantes criaturas noturnas, consegue ser maiscivilizado do que em cinco minutos no Twitter ou Facebook.Com ou sem protesto, bom final de semana a todos. Vá àmarcha de domingo, mas não me chame (rs). Viva a
democracia e até sexta.
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