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Pequena reflexão sobre a actualidade e pertinência do conceito de projecto
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A Cultura de Projecto: Contributo para o início de um debate.
O interesse pelo desenvolvimento de acções e de condutas orientadas
por finalidades, expressão da procura de sentido de forma antecipada
da actividade humana e institucional, constitui hoje uma referência
para todos os que intervêm no domínio social. Neste contexto, o
projecto constitui uma unidade analítica e operativa central, uma
espécie de magia verbal que abraça, como refere Jean-Pierre
Boutinet, na obra Antroplogia do Projecto, “num mesmo movimento,
as condutas identitárias, as condutas criativas e inovadoras, as
condutas preocupadas em dizer-se significantes, as condutas aptas a
reconhecerem-se como autónomas” (1990:7). É uma moda, e nela
convivem derivações patológicas das condutas de idealização
tomadas em termos individuais e locais, adaptáveis às circunstâncias
e cerzimentos operacionalizados pelos diversos actores envolvidos.
Com reflexos no domínio público e privado, a ideia de projecto
integra o quotidiano das pessoas, em espaços e momentos de
interacção interpessoal e profissional, é uma referência transversal.
Entre amigos, quando alguém anuncia a maternidade ou paternidade,
ou até o casamento, surgem com frequência expressões como: “foi
planeada?”, “fazia parte do vosso projecto de vida?”, chegando a
ideia de planeamento a conquistar e integrar, por antecipação do
momento da acção, domínios tão dispares como actividades de lazer
“vou planear as minhas férias” ou actividades profissionais, “vou
submeter um projecto para financiamento”, “apresente-me um
projecto”.
A cultura de projecto que caracteriza a sociedade pós-industrial,
alicerça-se na necessidade de afirmar e legitimar as próprias
iniciativas, e espelha uma obstinação projectiva, sobretudo em
actividades que têm como público-alvo populações socialmente
vulneráveis. Hoje é impensável desenvolver uma actividade
profissional, a nível individual ou colectiva, em contexto institucional
ou comunitário, sem que os actores se confrontem com as exigências
de planear antes de agir, configurando o carácter intencional da
acção. Tal facto conduz a uma proliferação de projectos a que se
associa sempre a ideia de eficiência, mas nem sempre a de eficácia
das acções, ligada a padrões de pragmatismo e de legitimação de
iniciativas e de procedimentos. Este esforço traduz-se certamente
num permanente desafio à criatividade e implica uma pesquisa
obrigatória de sentido, mas frequentemente se confronta com a
inoperância por inadequação da acção à mutabilidade e dinâmica da
conduta humana e das organizações, e com o argumento de que o
aproveitamento de oportunidades nem sempre é compatível com a
ideia de antecipação da acção. Deste modo, um pressuposto básico
de procura de sentido para as acções desenvolvidas a curto, médio
ou longo prazo, quando orientado no quotidiano profissional para a
obsessão do planear para agir, pode agregar um conjunto de
orientações que, em vez de se integrarem numa lógica e estratégia
de desenvolvimento e de mudança (individual e social) e regularem
de forma sensível e adaptativa a acção ao meio e aos sujeitos,
introduzem factores de perturbação e de controle social que
adulteram o princípio da criação e da emancipação. Não faz sentido!
Coimbra, 12 de Outubro de 2009
Helena Neves Almeida