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Atualidades Ornitológicas On-line Nº 153 - Janeiro/Fevereiro 2010 - www.ao.com.br 62 Guilherme Alves Serpa, José Fernando Pacheco, mesmo relatos a respeito da curicaca até a década de 1980, quan- Luciano Moreira Lima, Ricardo Parrini, Leonardo do tiveram início as primeiras observações da espécie em terri- Savattone Pimentel, Marcos Felipe da Rocha Pinto, tório fluminense, tratando-se ainda de registros não- Rafaela Dias Antonini, Henrique Rajão, Alfredo Heleno documentados e escassamente divulgados pela literatura orni- de Oliveira, Davi Castro Tavares, Salvatore Siciliano, tológica até anos mais recentes (Nacinovic 1993, Pacheco & Par- Francisco Mallet-Rodrigues, Hermes Ribeiro da Luz, Luiz rini 1998, Alves et al. 2004, Mallet-Rodrigues et al. 2007, Alves Carlos Ribenboim, Bruno Rennó Soares & Norma Crud & Vecchi 2009, Maciel 2009, Mallet-Rodrigues & Noronha 2009). São dignos de nota que até o ano de 2004 apenas quatro RESUMO. A curicaca, Theristicus caudatus (Ciconiifor- desses encontros eram conhecidos, todos reunidos por Pacheco mes: Threskiornithidae) no estado do Rio de Janeiro: revisão & Parrini (1998). dos registros e novas observações. É procedida uma compilação O escopo do presente trabalho é divulgar os mais recentes e iné- dos registros presentes na literatura ornitológica – que se iniciam ditos registros da curicaca realizados pelos autores em oportuni- em 1980 – e dos registros inéditos de Theristicus caudatus (Bod- dades diversas no estado do Rio de Janeiro, incluindo os primei- daert 1783) no estado do Rio de Janeiro. Esse trabalho evidencia ros de forma documentada da espécie por intermédio de fotogra- que a espécie antes conhecida de registros esporádicos, sobretudo fias incluindo a obtenção de um espécime-testemunho, apresen- da região Norte e nos arredores da capital do estado, que se limita- tando também uma compilação dos primeiros encontros divulga- vam a pares ou indivíduos solitários, passou nos últimos dois dos pela literatura. Ainda através da análise dessa reunião de re- anos a ser encontrada mais frequentemente em grupos de três ou gistros recentes os autores tencionam fazer considerações relaci- mais indivíduos num número maior de localidades. São aqui apre- onadas à distribuição e ecologia de Theristicus caudatus em terri- sentados também os primeiros documentos comprobatórios da tório fluminense. ocorrência da espécie no estado: fotografias obtidas a partir de março de 2008 em vários pontos do território fluminense e um es- MATERIAL E MÉTODOS pécime taxidermizado de junho de 2009, procedente da Ilha do Foi efetuada uma extensa pesquisa na literatura ornitológica dis- Fundão, município do Rio de Janeiro. Por fim, discute-se a pre- ponível para fins de compilação de todas as observações publica- sença e a expansão local de Theristicus caudatus no contexto da das acerca da curicaca no estado do Rio de Janeiro. Os diversos re- colonização recente do estado por aves de ambientes abertos do in- gistros inéditos ora divulgados foram reunidos de forma oportunís- terior do Brasil. tica durante excursões ornitológicas realizadas em diferentes áreas do território fluminense e, sempre que possível, obtida comprova- INTRODUÇÃO ção fotográfica por câmeras dos mais diversos tamanhos e mode- A curicaca, Theristicus caudatus (Boddaert 1783) é um gran- los, com a exceção do exemplar morto encontrado em um desses re- de representante da família Threskiornithidae (íbis, guarás, co- gistros. lhereiros) de coloração clara e asas largas, afeita aos campos Para fins de divisão e denominação das diferentes regiões ornito- abertos e secos, incluindo campos queimados e pistas de avia- lógicas do estado do Rio de Janeiro, os autores seguem a sugerida ção, onde forrageia em busca de artrópodes, anfíbios, pequenos por Pacheco & Parrini (2000). répteis e mesmo ratos (Hancock & Kushan 1992, Matheu & Ho- yo 1992, Sick 1997). Sua distribuição é exclusivamente sul- RESULTADOS E DISCUSSÕES americana, desde a Colômbia até a Terra do Fogo, abrangendo Existe um total de oito registros de Theristicus caudatus em ter- grande parte do Brasil, como as regiões Sul e Nordeste (Sick ritório fluminense citados na literatura, sendo o primeiro datado 1997, Clements 2000). Por ser uma espécie tipicamente cam- de 13/08/1980 e a metade desses encontros efetuados apenas a par- pestre, comum em áreas semi-abertas, cerrados, caatingas e bas- tir do ano de 2003 (Tabela 1). Os registros inéditos são apresenta- tante adaptável aos ambientes antropizados das cidades, pastos dos na Tabela 2, ilustrados em seguida por uma seleção de fotos e plantações, tem se beneficiado e expandido sua ocorrência por nas pranchas 1, 2 e 3 que representam os primeiros registros docu- regiões atingidas por desflorestamentos e onde avançam as mo- mentados conhecidos da espécie no estado do Rio de Janeiro. Os noculturas e a pecuária, como no Sudeste (Sick 1997, Sigrist encontros divulgados aqui pela primeira vez, no total de 26, são 2006). pouco mais que o triplo dos registros já publicados, sendo interes- No estado do Rio de Janeiro, outrora predominantemente co- sante destacar que 23 deles aconteceram somente a partir do ano berto por densas florestas da Mata Atlântica e palco das primei- de 2007. Um mapa é também apresentado plotando o somatório ras explorações zoológicas intensificadas a partir do início do sé- desses registros nas diferentes regiões ornitológicas do estado (Fi- culo XIX no Brasil (Sick 1997), desconheciam-se registros ou gura 1) . 9 771981 887003 3 5 1 0 0 ISSN 1981-8874 A curicaca, Theristicus caudatus (Ciconiiformes: Threskiornithidae) no estado do Rio de Janeiro: revisão dos registros e novas observações

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Atualidades Ornitológicas On-line Nº 153 - Janeiro/Fevereiro 2010 - www.ao.com.br62

Guilherme Alves Serpa, José Fernando Pacheco, mesmo relatos a respeito da curicaca até a década de 1980, quan-Luciano Moreira Lima, Ricardo Parrini, Leonardo do tiveram início as primeiras observações da espécie em terri-Savattone Pimentel, Marcos Felipe da Rocha Pinto, tório fluminense, tratando-se ainda de registros não-

Rafaela Dias Antonini, Henrique Rajão, Alfredo Heleno documentados e escassamente divulgados pela literatura orni-de Oliveira, Davi Castro Tavares, Salvatore Siciliano, tológica até anos mais recentes (Nacinovic 1993, Pacheco & Par-

Francisco Mallet-Rodrigues, Hermes Ribeiro da Luz, Luiz rini 1998, Alves et al. 2004, Mallet-Rodrigues et al. 2007, Alves Carlos Ribenboim, Bruno Rennó Soares & Norma Crud & Vecchi 2009, Maciel 2009, Mallet-Rodrigues & Noronha

2009). São dignos de nota que até o ano de 2004 apenas quatro RESUMO. A curicaca, Theristicus caudatus (Ciconiifor- desses encontros eram conhecidos, todos reunidos por Pacheco

mes: Threskiornithidae) no estado do Rio de Janeiro: revisão & Parrini (1998). dos registros e novas observações. É procedida uma compilação O escopo do presente trabalho é divulgar os mais recentes e iné-dos registros presentes na literatura ornitológica – que se iniciam ditos registros da curicaca realizados pelos autores em oportuni-em 1980 – e dos registros inéditos de Theristicus caudatus (Bod- dades diversas no estado do Rio de Janeiro, incluindo os primei-daert 1783) no estado do Rio de Janeiro. Esse trabalho evidencia ros de forma documentada da espécie por intermédio de fotogra-que a espécie antes conhecida de registros esporádicos, sobretudo fias incluindo a obtenção de um espécime-testemunho, apresen-da região Norte e nos arredores da capital do estado, que se limita- tando também uma compilação dos primeiros encontros divulga-vam a pares ou indivíduos solitários, passou nos últimos dois dos pela literatura. Ainda através da análise dessa reunião de re-anos a ser encontrada mais frequentemente em grupos de três ou gistros recentes os autores tencionam fazer considerações relaci-mais indivíduos num número maior de localidades. São aqui apre- onadas à distribuição e ecologia de Theristicus caudatus em terri-sentados também os primeiros documentos comprobatórios da tório fluminense.ocorrência da espécie no estado: fotografias obtidas a partir de março de 2008 em vários pontos do território fluminense e um es- MATERIAL E MÉTODOSpécime taxidermizado de junho de 2009, procedente da Ilha do Foi efetuada uma extensa pesquisa na literatura ornitológica dis-Fundão, município do Rio de Janeiro. Por fim, discute-se a pre- ponível para fins de compilação de todas as observações publica-sença e a expansão local de Theristicus caudatus no contexto da das acerca da curicaca no estado do Rio de Janeiro. Os diversos re-colonização recente do estado por aves de ambientes abertos do in- gistros inéditos ora divulgados foram reunidos de forma oportunís-terior do Brasil. tica durante excursões ornitológicas realizadas em diferentes áreas

do território fluminense e, sempre que possível, obtida comprova-INTRODUÇÃO ção fotográfica por câmeras dos mais diversos tamanhos e mode-

A curicaca, Theristicus caudatus (Boddaert 1783) é um gran- los, com a exceção do exemplar morto encontrado em um desses re-de representante da família Threskiornithidae (íbis, guarás, co- gistros. lhereiros) de coloração clara e asas largas, afeita aos campos Para fins de divisão e denominação das diferentes regiões ornito-abertos e secos, incluindo campos queimados e pistas de avia- lógicas do estado do Rio de Janeiro, os autores seguem a sugerida ção, onde forrageia em busca de artrópodes, anfíbios, pequenos por Pacheco & Parrini (2000).répteis e mesmo ratos (Hancock & Kushan 1992, Matheu & Ho-yo 1992, Sick 1997). Sua distribuição é exclusivamente sul- RESULTADOS E DISCUSSÕESamericana, desde a Colômbia até a Terra do Fogo, abrangendo Existe um total de oito registros de Theristicus caudatus em ter-grande parte do Brasil, como as regiões Sul e Nordeste (Sick ritório fluminense citados na literatura, sendo o primeiro datado 1997, Clements 2000). Por ser uma espécie tipicamente cam- de 13/08/1980 e a metade desses encontros efetuados apenas a par-pestre, comum em áreas semi-abertas, cerrados, caatingas e bas- tir do ano de 2003 (Tabela 1). Os registros inéditos são apresenta-tante adaptável aos ambientes antropizados das cidades, pastos dos na Tabela 2, ilustrados em seguida por uma seleção de fotos e plantações, tem se beneficiado e expandido sua ocorrência por nas pranchas 1, 2 e 3 que representam os primeiros registros docu-regiões atingidas por desflorestamentos e onde avançam as mo- mentados conhecidos da espécie no estado do Rio de Janeiro. Os noculturas e a pecuária, como no Sudeste (Sick 1997, Sigrist encontros divulgados aqui pela primeira vez, no total de 26, são 2006). pouco mais que o triplo dos registros já publicados, sendo interes-

No estado do Rio de Janeiro, outrora predominantemente co- sante destacar que 23 deles aconteceram somente a partir do ano berto por densas florestas da Mata Atlântica e palco das primei- de 2007. Um mapa é também apresentado plotando o somatório ras explorações zoológicas intensificadas a partir do início do sé- desses registros nas diferentes regiões ornitológicas do estado (Fi-culo XIX no Brasil (Sick 1997), desconheciam-se registros ou gura 1) .

9 771981 887003 35100

ISSN 1981-8874

A curicaca, Theristicus caudatus (Ciconiiformes: Threskiornithidae) no estado do Rio de Janeiro: revisão dos registros e novas observações

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Tabela 1 – Registros da curicaca, Theristicus caudatus, para o Estado do Rio de Janeiro existentes na literatura

Autores dos registros em campo: GSC, Gilberto Soares do Couto; JFP, José Fernando Pacheco; NCR, Norma Crud; RP, Ricardo Parrini

Tabela 2 – Registros inéditos da curicaca, Theristicus caudatus, no Estado do Rio de Janeiro

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Autores dos registros inéditos: AC, Adilei Cunha; AHO, Alfredo Heleno de Oliveira; BRS, Bruno Rennó Soares; DCT, Davi Castro Tava-res; FEA, Fabio Espósito Altoé; FMR, Francisco Mallet-Rodrigues; GAS, Guilherme Alves Serpa; HR, Henrique Rajão; JFP, José Fernan-do Pacheco; JH, Juha Honkala; LCM, Luis Claudio Marigo; LCR, Luiz Carlos Ribenboim; LML, Luciano Moreira Lima; LPG, Luiz Pe-dreira Gonzaga; LSP, Leonardo Savattone Pimentel; MFR, Marcos Felipe da Rocha Pinto; NCR, Norma Crud; RDA, Rafaela Dias Antoni-ni; SS, Salvatore Siciliano; VSA, Vânia Soares Alves

Prancha 1 – Os primeiros registros fotográficos de Theristicus caudatus realizados em território fluminense, no ano de 2008: no canto superior direito um indivíduo com plumagem juvenil fotografado em março no Brejo da Kodak, em Resende (LCR); à esquerda, uma foto obtida em abril em São Vicente de Paula, Iguaba Grande (JH); no canto inferior direito, também em abril, um exemplar fotografado na Re-serva Ecológica de Guapiassu, em Cachoeiras de Macacu (LSP).

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Prancha 2 – Os registros fotográficos que constituem os primeiros documentados para o município do Rio de Janeiro e adjacências, rea-lizados no ano de 2009: no alto à esquerda dois indivíduos fotografados em janeiro em Barra de Guaratiba (Fábio Espósito Altoé); no canto superior direito, um exemplar fotografado em fevereiro na Ilha da Marambaia (Rafaela Antonini); os demais representando os registros efe-tuados em junho na Ilha do Fundão, sendo um exemplar abaixo à esquerda, quatro indivíduos da 2ª foto de cima para baixo à direita (AHO) e duas curicacas na 3ª e na 4ª fotos de cima para baixo, à direita (GAS e Luis Florit, respectivamente).

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Prancha 3 – Registros fotográficos realizados em 2009 e 2010 na Região dos Lagos e Norte Fluminense: no canto superior direito uma fo-to obtida por aparelho celular de três curicacas em vôo em Arraial do Cabo (per LML) e no alto à esquerda, um indivíduo de Theristicus cau-datus fotografado na Fazenda Bom Jardim, Macaé (MFR), ambas de março de 2009; na foto de baixo, um bando de oito indivíduos em vôo sobre a Lagoa da Ribeira, Quissamã, em agosto de 2009 (DCT); na 2ª foto de cima para baixo, um exemplar fotografado em janeiro de 2010 na localidade de Barra do Furado, Quissamã (BRS).

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Apesar da reunião desses dados apontarem para observações vando sua inclusão na lista do município do Rio de Janeiro ape-

já em todas as regiões do território fluminense, os mesmos indi- nas em sua última publicação por Maciel (2009), baseada ainda

cam uma maior concentração dos registros da curicaca nas re- apenas em observações não documentadas da espécie. O regis-

giões Norte, dos Lagos e do Grande Rio, sendo apenas três en- tro fotográfico realizado em janeiro de 2009 em Barra de Gua-

contros efetuados nas regiões Setentrional e Meridional do Vale ratiba, seguido dos exemplares fotografados em junho do mes-

do Paraíba e da Costa Verde (um em cada). Essa irregularidade mo ano na Ilha do Fundão, representam os primeiros registros

em sua distribuição parece mostrar uma preferência pela faixa li- documentados de Theristicus caudatus para o município do

torânea do estado, sobretudo nas baixadas. De presença tímida Rio, acompanhado por um inédito espécime-testemunho, iné-

ainda entre os anos de 1980 e 2003, o acúmulo de registros de dito também para o Estado. Um indivíduo morto foi encontra-

Theristicus caudatus em diferentes áreas do estado do Rio de Ja- do pelos autores GAS e AHO, próximo a dois em atividade de

neiro nos últimos anos parece indicar uma rápida e progressiva forrageamento nos gramados da Ilha do Fundão em

colonização do território fluminense acompanhada do aumento 16/06/2009, e depositado na coleção do Laboratório de Ornito-

populacional da espécie, resultando em seus primeiros regis- logia da UFRJ, recebendo o número de tombo UFRJ 0852.

tros documentados através de fotos a partir de março de 2008. Embora rivalize com as regiões Norte e dos Lagos em quanti-Situada na região do Grande Rio, a capital fluminense, de- dade de observações de Theristicus caudatus, o Grande Rio ain-

tentora de uma das avifaunas mais bem conhecidas entre as ci- da parece receber o afluxo de poucos indivíduos, em média do-dades brasileiras (Sick 1997) e matéria de quatro compilações is a cada registro, sendo o número máximo de quatro exempla-de sua avifauna (Sick & Pabst 1968, Sick 1983, Pacheco 1988, res observados em uma ocasião na Ilha do Fundão. Nas outras Maciel 2009), só teve seu primeiro registro da curicaca conhe- duas regiões o número de curicacas avistadas alcança varia-cido em 1993 (Nacinovic 1993, Pacheco & Parrini 1998), moti- ções entre cinco e até oito indivíduos.

Figura 1 – Mapa do estado do Rio de Janeiro com as localidades de ocorrência de Theristicus caudatus: registros publicados (1-8) conforme enumeração (Coluna R) constante da Tabela 1; registros inéditos (A-M) conforme enumeração (Coluna R) constante da Tabela 2.

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Até o momento não há indícios substanciais de uma sazonalida- Referências Bibliográficas de nos aparecimentos da curicaca no estado do Rio de Janeiro, uma Alves, M. A. S. & M. B. Vecchii (2009) Birds, Ilha Grande, state of Rio de Janeiro,

Southeastern Brazil. Checklist 5(2):300-313. vez que seus registros encontram-se distribuídos ao longo de todas Alves, V. S., A. B. A. Soares & G. S. Couto (2004) Aves marinhas e aquáticas das as estações do ano nas diferentes regiões do território fluminense,

ilhas do litoral do estado do Rio de Janeiro. Pp. 83-100. In: J. O. Branco (Org.) conforme mostra a Tabela 3. Da mesma forma, ainda não se pode Aves marinhas e insulares brasileiras. Biologia e conservação. Itajaí: Univali

afirmar que a espécie se tornou residente no estado ou já se repro- Editora. 266p.duziu, uma vez que ainda não foram encontrados sinais de nidifica-

Clements, J. F. (2000) Birds of the world: a Checklist. Vista: Ibis Publishing Com-ção ou mesmo ninhegos, sendo até o momento um único indivíduo pany. 867p. solitário com plumagem juvenil registrado por LCR no Brejo da Hancock, J. A. & J. A. Kushan (1992) Storks, Ibises and Spoonbills of the World. Kodak, que por ser situado na região Meridional do Vale do Paraí- Princeton: Princeton University Press. 385p.

ba, interior do estado, pode tratar-se de um vagante procedente da Lopes, L. E. (2008) The range of the curl-crested jay: lessons for evaluating bird en-demism in the South American Cerrado. Diversity & Distributions 14 (4): região contígua do Vale em São Paulo. Como os dados das Tabelas 561-568.1 e 2 parecem indicar um expressivo aumento dos registros de The-

Maciel, E. (2009) Aves do município do Rio de Janeiro. 2ª Edição. Rio de Janeiro: risticus caudatus no estado a partir do ano de 2007, o tempo dirá se Technical Books Editora. 412p.

a espécie chegará a populações residentes e reprodutivas em seu ter-Maciel, E., G. A. Serpa, A. B. A. Soares, V. S. Alves, E. C. Mendonça & J. F. Pacheco

ritório. (2009) Ocorrência da gralha-do-campo Cyanocorax cristatellus (Temminck, 1823) no município do Rio de Janeiro, RJ. Atualidades Ornitológicas 148:14.A rápida e recente expansão de Theristicus caudatus em territó-

rio fluminense, evidenciando um início de colonização do mesmo Mallet-Rodrigues, F. & M. L. M. Noronha (2009) Birds in the Parque Estadual dos Três Picos, Rio de Janeiro state, south- east Brazil. Cotinga 31:96-107. pela espécie, é um tanto sintomático da situação ambiental do esta-

Mallet-Rodrigues, F., R. Parrini & J. F. Pacheco (2007) Birds of the Serra dos do do Rio de Janeiro. Típica ave das áreas abertas e campestres do Órgãos, State of Rio de Janeiro, Southeastern Brazil: a review. Revista Brasi-interior do País, a curicaca tem encontrado nos pastos, monocultu-leira de Ornitologia 15(1):5-35.

ras, áreas urbanas entre outros ambientes degradados do estado, no-Matheu, E. & J. del Hoyo (1996) Family Threskiornithidae (Ibises and Spoonbills).

vos habitats favoráveis para o seu ciclo de vida, quando antes ela Pp. 472-506. In: del Hoyo, J. Elliott, A. & Sargatal, J. Handbook of the birds of evitaria penetrar nas densas e portentosas florestas da Mata Atlânti- the world. Vol. 1. Ostrich to Ducks. Barcelona: Lynx Edicions. 696p.

ca que até poucos séculos atrás cobriam quase integralmente a pai- Nacinovic, J. [B.] (1993) Notas sobre algumas aves pouco conhecidas na região me-tropolitana do Rio de Janeiro. p. 7. In: M. P. Cirne (Coord.). Resumos III Con-sagem do território fluminense. Situação semelhante tem sido veri-gresso Brasileiro de Ornitologia. Pelotas: Editora da Universidade Católica ficada em partes do litoral de São Paulo (Santos e Cubatão: Silva e de Pelotas.

Silva & Olmos 2007; Ubatuba: Dimitri Matoszko in litt.).Pacheco, J. F. (1988) Acréscimos à lista de aves do município do Rio de Janeiro. Bol.

FBCN 23:104-120.

Pacheco, J. F. (1993) Expansões geográficas de aves do Rio de Janeiro. R. 42. In: M. P. Cirne (Coord.). Resumos III Congresso Brasileiro de Ornitologia. Pelotas: Editora da Universidade Católica de Pelotas.

Pacheco, J. F. & R. Parrini (1998) O status de algumas espécies não documentadas do estado do Rio de Janeiro. Atualidades Ornitológicas 84:5.

Pacheco, J. F. & R. Parrini (2000) Aves do Estado do Rio de Janeiro: Região meridi-onal do vale do rio Paraíba do Sul – retificação de limites e complementação dos registros inéditos mais antigos. Atualidades Ornitológicas 95:12-13.

Sick, H. (1983) Aves da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Fundação Brasile-ira para a Conservação da Natureza. (folder)

Agradecimentos Sick, H. (1997) Ornitologia Brasileira. Edição revista e ampliada por José Fernan-do Pacheco. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 912p.Agradecemos a Ana Beatriz Aroeira Soares, Claudia Bauer, Di-

mitri Matoszko, Fernando Mauro de Carvalho, Gilberto Soares do Couto, Gloria Denise Castiglioni, Ildemar Ferreira, Janaína Arru-

Sigrist, T. (2006) Aves do Brasil: uma visão artística. Birds of Brazil: an artistic vi-da, Luis Claudio Marigo, Luiz Pedreira Gonzaga, Richard Raby e ew. São Paulo: [Avis Brasilis Editora]. 672pVania Soares Alves por fornecerem informações ou discutirem de- Silva e Silva, R. & F. Olmos (2007) Adendas e registros significativos para a avifau-talhes conosco acerca da presença da curicaca no estado do Rio de na dos manguezais de Santos e Cubatão, SP. Revista Brasileira de Ornitologia

15(4):551-560. Janeiro e estados vizinhos. Somos gratos também a Juha Honkala, Fabio Espósito Altoé e Luis Florit pelo empréstimo de fotografias e

Correspondência para o primeiro autor: a Clarisse Cavalcanti pela preparação do mapa para compor este ar-tigo.

Embora um monitoramento de longo prazo dos registros locais da curicaca seja a melhor recomendação, tudo parece indicar que a espécie seja mais um elemento generalista do Brasil Central em franco proces-so de substituição de outra rica comunidade autóctone de aves, da mesma forma que outras espécies oriundas de ambientes seme-lhantes que antes invadiram o estado do Rio de Janeiro e ora pros-peram, como a gralha (Cyanocorax cristatellus) e o tucanuçu (Ramphastos toco) (Pacheco 1993, Lopes 2008, Maciel et ali. 2009).

Sick, H. & L. F. Pabst (1968) As aves do Rio de Janeiro (Guanabara). Lista sistemá-tica anotada. Arquivos do Museu Nacional 53:99-160.

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Tabela 3 – Distribuição mensal dos registros da curicaca, Theristicus caudatus, nas diferentes regiões do estado do Rio de Janei-ro.