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1 Lothar Langer Junior MBA em Gestão Empresarial Turma 8 A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020: OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL ? Projeto Final apresentado à Diretoria Acadêmica da Business School São Paulo em cumprimento parcial às exigências para obtenção do certificado de conclusão do MBA em Gestão Empresarial. Orientador: Prof. Reinaldo Belickas Manzini São Paulo 2011

A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

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1

Lothar Langer Junior

MBA em Gestão Empresarial Turma 8

A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ

2020: OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL ?

Projeto Final apresentado à Diretoria Acadêmica da Business School São Paulo em cumprimento parcial às exigências para obtenção do

certificado de conclusão do MBA em Gestão Empresarial.

Orientador: Prof. Reinaldo Belickas Manzini

São Paulo 2011

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Este projeto final de MBA/ Gestão Empresarial está aprovado.

____________________________________

Prof. Armando Dal Colletto

Diretor Geral de Programas Executivos

____________________________________

Prof. Reinaldo Belickas Manzini

Orientador

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.

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EPÍGRAFE

Oração do Engenheiro Agrônomo

"HERDARÁS O SOLO SAGRADO E A FERTILIDADE

SERÁ TRANSMITIDA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO;

PROTEGERÁS TEUS CAMPOS CONTRA A EROSÃO

E TUAS FLORESTAS CONTRA A DESOLAÇÃO;

IMPEDIRÁS QUE TUAS FONTES SEQUEM

E QUE TEUS CAMPOS SEJAM DEVASTADOS;

PARA QUE TEUS DESCENDENTES

TENHAM ABUNDÂNCIA PARA SEMPRE".

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RESUMO

A avaliação do panorama mundial sinaliza para a manutenção de um cenário favorável

ao Brasil, tanto pela demanda continuada de alimentos sustentada pelo crescimento

populacional projetado como também pelas externalidades positivas geradas

internamente no país, advindas da exportação dos alimentos para o mundo, na forma de

melhor remuneração ao agricultor, saldo positivo da balança comercial, efeito

amortecedor macro-econômico em momentos de crise financeira, redução da emigração

rural, dentre outros. No entanto, este cenário positivo pode ser contrariado se o país não

desenvolver uma inteligência estratégica que considere a agricultura como mais uma

ferramenta de desenvolvimento do país, pois permite a geração de riqueza a qual pode

ser aproveitada internamente para o desenvolvimento econômico e de sua população. A

redução da desigualdade de renda não deve estar apoiada somente nos programas de

transferência de renda. O país precisa aproveitar este momento de boa evolução de

produção e renda, para desenvolver uma política de longo prazo, visando inclusive

tornar os outros setores da economia como indústria e serviços superavitários, tal como

o agronegócio e criar condições para o estabelecimento de uma base sobre a qual o

crescimento do país possa se alicerçar.

Palavras-chaves: agricultura, agronegócio, crescimento populacional, desenvolvimento,

remuneração, desigualdade de renda, índice de Gini, PAC, FOME ZERO, PLANO

BRASIL SEM MISÉRIA.

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SUMMARY

The evaluation of the global outlook signalize to maintain a favorable scenario for

Brazil, both by continued demand for food due to the projected population growth as

well as by the positive externalities generated in the country, coming from the export of

food to the world, in the form of better remuneration to the farmer, positive balance of

trade, macro-economic dampening effect in times of financial crisis, reduced rural out-

migration, among others. However, this positive scenario can be defeated if the country

does not develop a strategic intelligence to consider agriculture as one more tool for a

country's development because it allows the generation of wealth that could be used

internally for economic development and its population. The reduction in income

inequality should not be supported only by income transfer programs. The country

needs to utilize this time with a good evolution of both production and income, to

develop a long-term policy in order to have a surplus from the other sectors from the

economy, like industry and services, such as agribusiness and to create conditions for

establishing a base on which the country's growth can be grounded.

Keywords: agriculture, agribusiness, population growth, development, salary, income

inequality, Gini index, PAC, FOME ZERO, PLANO BRASIL SEM MISÉRIA.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 7: Curva de crescimento populacional projetado até o ano de 2150 .................. 15

Figura 8: Relação de terra agricultável por pessoa em função do crescimento populacional desde 1960 e projetado até 2020 ............................................................. 17

Figura 9: Subnutridos em 2009, por região no mundo ................................................. 20

Figura 10: Os quatro eixos articuladores do programa FOME ZERO .......................... 21

Figura 1: Evolução do PIB nominal – América Latina – Países selecionados - 2004 a 2011 ............................................................................................................................ 23

Figura 2: PIB real per capita - América Latina – Países selecionados - 1980 a 2010 .... 24

Figura 3: Índice de Gini - América Latina – Países selecionados - 2008 ..................... 27

Figura 4: Dispersão da desigualdade de renda (Índice de Gini) versus o PIB per capita – América Latina – Países selecionados – 2001-2010 ..................................................... 29

Figura 5: Índice de Gini - Brasil - 1976 a 2009 ............................................................ 33

Figura 6: Contribuição acumulada por fonte para a evolução do coeficiente de Gini (1996 a 2009) .............................................................................................................. 34

Figura 11: Participação do PIB do Agronegócio Brasileiro no PIB do Brasil - 1994 a 2009 ............................................................................................................................ 44

Figura 12: Comparativo do saldo da balança comercial do agronegócio e dos demais setores ......................................................................................................................... 45

Figura 13: Balança Comercial, Brasil em Janeiro de 2011 ........................................... 46

Figura 14: Países membros da OCDE.......................................................................... 52

Figura 15: PIB agrícola per capita da população agrícola ............................................ 53

Figura 16: Comparativo PIB agrícola per capita versus associação à OCDE ................ 54

Figura 17: PIB per capita do agronegócio (Reais de 2008) .......................................... 55

Figura 18: Índice de urbanização das regiões e do Brasil: população urbana/população total (em %) ................................................................................................................ 57

Figura 19: Salário Rural/Salário Mínimo: 1986–2008 ................................................. 60

Figura 20: Fontes de crescimento de produção: expansão da área cultivada versus colheitas para os principais cultivos básicos importantes (cereais, raízes, tubérculos e leguminosas) ............................................................................................................... 64

Figura 21: Comparação entre capacidade estática de armazenamento e produção de grãos - Brasil - 2000 a 2010 ........................................................................................ 67

Figura 22: Balança comercial brasileira e balança comercial do agronegócio - 1989 a 2010 ............................................................................................................................ 70

Figura 23: Demonstrativo sintético da alocação de recursos (R$) por eixos do PAC .... 78

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LISTA DE TABELAS Tabela 1: Distribuição do uso da terra no mundo ......................................................... 18

Tabela 2: Contribuição proporcional de cada componente da renda familiar para a redução da desigualdade: Regiões e Brasil em 2001 e 2008. ........................................ 37

Tabela 3: Taxa média de crescimento por setor. Brasil 1994 - 2004............................. 47

Tabela 4 : Diferenciação entre produtos Especialidades e Commodities ...................... 50

Tabela 5: Custos logísticos 2009 - Impacto do frete na receita do produtor nacional .... 66

Tabela 6: Previsão de investimento em infraestrutura logística 2007-2010 em R$ bilhões – Brasil ....................................................................................................................... 72

Tabela 7: Demonstrativo sintético de ações por eixo dos Ministérios - Brasil .............. 75

Tabela 8: Demonstrativo sintético de recursos (R$) por eixo dos Ministérios .............. 76

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SUMÁRIO AGRADECIMENTOS e DEDICATÓRIAS .................................. Erro! Indicador não definido.

EPÍGRAFE ............................................................................................................................... 4

RESUMO ................................................................................................................................. 5

SUMMARY ............................................................................................................................. 6

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ..................................................................................................... 7

LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. 8

SUMÁRIO ............................................................................................................................... 9

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10

2. PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................................. 12

2.1. Objetivos gerais e específicos .................................................................................. 12

3. JUSTIFICATIVA............................................................................................................ 13

4. REFERENCIAL TEÓRICO / CONSTATAÇÕES. ............................................................. 14

4.1. Cenário do crescimento da população mundial e demanda por alimentos .................. 14

4.2. Agricultura e desenvolvimento econômico e social .................................................. 22

4.3. A agricultura brasileira é sustentável ? ..................................................................... 39

4.4. A contribuição da agricultura para a economia brasileira .......................................... 43

4.5. A agricultura e a remuneração do agricultor ............................................................. 49

4.6. Migração da população rural e urbanização. ............................................................. 56

5. PROJEÇÕES DO AGRONEGÓCIO ................................................................................... 61

6. POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS RELACIONADAS AO AGRONEGÓCIO: UMA CRÍTICA ................................................................................................................................ 69

6.1. Política de investimento em infraestrutura ................................................................ 71

6.2. Ações para o fomento do desenvolvimento alocadas ao Ministério da Agricultura .... 74

6.3. Ações para Geração de Trabalho e Renda: comparativo entre ações alocadas para as diversas áreas X ações alocadas para a agricultura ............................................................... 75

6.4. Comparativo com a importância política dada pela União Européia à agricultura ..... 79

6.5. Ameaças: o desafio do crescimento versus a inflação. .............................................. 80

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES ................................................................. 84

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 91

ANEXO I - Projeções do Agronegócio – Brasil 2008/09 a 2018/19 ......................................... 98

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1. INTRODUÇÃO

A ONU estima que, em 2025, o número de habitantes deste planeta alcançará 8 bilhões;

passando a 9,3 bilhões em 2050, para, posteriormente, estabilizar-se ao redor de 10,5 ou

11 bilhões de pessoas.

Praticamente a totalidade desse futuro crescimento populacional ocorrerá nos países em

desenvolvimento e o mundo precisará, portanto, alimentar, abrigar e prestar assistência

a cerca de 5 bilhões de pessoas a mais do que hoje. Essa população crescente, somada a

padrões de vida mais elevados – particularmente nos países em desenvolvimento –

exercerá uma enorme pressão sobre a terra, a água, a energia e outros recursos naturais.

Por outro lado, o Brasil vem consolidando sua posição nos últimos anos, como um dos

maiores produtores e fornecedores de alimentos e fibras para o mundo. Sua participação

crescente no comércio internacional de produtos do agronegócio é resultado de uma

combinação de fatores como capacidade empreendedora, investimentos em pesquisa,

infraestrutura, tecnologia, da integração das cadeias produtivas, além da própria

extensão territorial agricultável do País.

O agronegócio é um dos mais dinâmicos e inovadores segmentos da economia

brasileira, adaptando-se continuamente às novas demandas dos consumidores e que

mais tem contribuído para a formação do saldo da balança comercial do país,

respondendo por cerca de 25% do PIB nacional. Além disso, as riquezas geradas pelo

agronegócio alimentam a economia como um todo e propiciam condições para a

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melhoria de qualidade de vida, principalmente nas pequenas e médias cidades

brasileiras, sendo que grande maioria das pequenas cidades brasileiras tem sua

economia alicerçada no agronegócio. O desenvolvimento do agronegócio reflete na

economia dessas localidades, que também apresentam um bom desempenho.

Este setor tem sido o grande responsável pela evolução da economia brasileira nos

últimos anos e a agricultura pode ser uma ferramenta de desenvolvimento de um país.

Diante deste contexto e analisando projeções futuras, discutir-se-á se o Brasil, apoiado

pelo agronegócio conseguirá tirar proveito da demanda mundial futura por alimentos

para se desenvolver, superando questões como a migração da população rural e aumento

da urbanização, remuneração do agricultor e distribuição de renda, e outros fatores.

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2. PROBLEMA DE PESQUISA

Assumindo-se inicialmente como premissa o aumento da demanda mundial por

alimentos atrelada ao aumento populacional projetado, a segunda parte do título

deste trabalho “... oportunidade para o desenvolvimento do Brasil ?” remete à

avaliação feita neste trabalho, se o país está estruturado ou se estruturando para que,

sendo um grande provedor mundial de alimentos, possa criar uma base para se

desenvolver.

2.1. Objetivos gerais e específicos

Este trabalho, de caráter teórico exploratório, tem por objetivo geral demonstrar

através da análise de textos, livros ou seus capítulos, entrevistas e matérias

publicadas em jornais, sítios eletrônicos e outras fontes, de caráter científico ou não,

que o agronegócio é uma importante ferramenta para o desenvolvimento do Brasil.

Para substanciar a análise anterior, avaliou-se especificamente as ações e políticas

públicas voltadas à agricultura ou ao agronegócio.

Em tempo, cumpre esclarecer que o presente trabalho se restringe mormente à

contribuição da agricultura ou do agronegócio e não tem a intenção de discutir

outros aspectos como educação, direito ao trabalho, cuidados médicos, para citar

alguns, e o impacto destes sobre a população e consequentemente no

desenvolvimento do país.

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3. JUSTIFICATIVA

A discussão do presente trabalho tem seu cerne no cenário de desenvolvimento do

Brasil apoiado na temática da produção de alimentos e consequentemente, permeia

também por outros assuntos, sendo um deles a questão da Segurança Alimentar que

é um elemento crítico e uma constante preocupação dos povos e nações.

A Cúpula Mundial da Alimentação de 1996 definiu a Segurança Alimentar como

existente "quando todas as pessoas em todos os momentos têm acesso a suficientes

alimentos seguros e nutritivos para manter uma vida saudável e ativa" (WHO -

World Health Organization, 2011) (FAO - FOOD AND AGRICULTURE

ORGANIZATION, 2010).

Há um grande debate em torno da segurança alimentar, com alguns argumentando

que a) há comida suficiente no mundo para alimentar a todos de forma adequada,

sendo que o problema está na distribuição; b) as necessidades de alimentos no futuro

podem ou não ser satisfeitas pelos níveis atuais de produção e c) a questão da

segurança alimentar nacional é essencial - ou pode deixar de ser, por causa do

comércio global.

De qualquer forma, o tema é atual e qualquer discussão que englobe produção de

alimentos, permeia pela questão da Segurança ou Insegurança Alimentar.

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4. REFERENCIAL TEÓRICO / CONSTATAÇÕES.

4.1.Cenário do crescimento da população mundial e demanda por alimentos

A população mundial, que em 1950 chegava a 2,5 bilhões e em 1980 atingiu 4,4

bilhões, ultrapassou os 6 bilhões de pessoas no ano 2000. Estima-se que o número

de habitantes deste planeta alcançará 8 bilhões em 2025, passando a 9,3 bilhões em

2050; para estabilizar-se posteriormente, ao redor de 10,5 ou 11 bilhões conforme

exibido na figura a seguir (United Nations Department of Economic and Social

Affairs, 2002).

Praticamente a totalidade desse crescimento populacional futuro ocorrerá nos

chamados países em desenvolvimento. E o mundo precisará, portanto, alimentar,

abrigar e prestar assistência a cerca de 5 bilhões de pessoas a mais. Essa população

crescente, somada a padrões de vida mais elevados – particularmente nos países em

desenvolvimento – exercerá uma enorme pressão sobre a terra, a água, a energia e

outros recursos naturais. (United Nations Department of Economic and Social

Affairs, 2002) principalmente quando se considera que a principal fonte de alimento

para a população do mundo é a agricultura1.

1 O termo agricultura usado aqui, inclui também a criação de gado, produção de pescado (aquicultura) e da silvicultura.

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Figura 1: Curva de crescimento populacional projetado até o ano de 2150

(United Nations Department of Economic and Social Affairs, 2002)

Atualmente, cerca de 11% da superfície terrestre do mundo já é utilizada na

produção agrícola, incluindo as terras cultivadas anualmente e as terras com culturas

perenes. (United Nations Department of Economic and Social Affairs, 2002) (FAO -

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS,

2003) (CIA - Central Intelligence Agency).

Ao nível global há ainda terras suficientes com potencial arável não usadas.

Fazendo-se uma avaliação quanto aos tipos de solos, relevos e climas com as

necessidades das principais culturas sugere-se que estariam disponíveis cerca de 2,8

bilhões de hectares a mais, sendo que esta extensão é quase o dobro do que é

0

2

4

6

8

10

12

1950 2000 2050 2100 2150

Popu

laçã

o (b

ilhõe

s)

Projetado

Países desenvolvidos Países em desenvolvimento Mundo

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atualmente cultivado. No entanto, apenas uma fração desta terra extra é

realisticamente disponível para a expansão agrícola no futuro previsível, pois um

tanto é necessária para a preservação da cobertura florestal, bem como suportar o

desenvolvimento de infraestrutura das regiões. Ouras questões como acessibilidade

aos locais e outras restrições também limitam essa expansão (FAO - FOOD AND

AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2002).

No sul da Ásia, Leste da Ásia e da Europa, a maioria das terras já é utilizada para a

agricultura havendo pouco espaço para a expansão das terras agrícolas ou para

irrigação. Na Ásia em desenvolvimento, há um aumento da demanda por alimentos

devido ao desenvolvimento econômico e ao crescimento da população, que terá de

ser satisfeito pelo aumento do rendimento das colheitas com os recursos hídricos

existentes e pelo aumento das importações, pois a quantidade limitada de fontes

inexploradas de água doce na região não permitirá a ampliação da agricultura

irrigada num ritmo semelhante ao das últimas décadas. Aliás, atualmente a Ásia é o

continente que apresenta os índices de densidade demográfica mais elevados do

mundo, e que continuam subindo, embora a taxa de crescimento esteja atualmente

em declínio. Hoje, há cerca de um sexto de hectare de solo cultivável per capita na

Ásia Oriental e Meridional. Tendo em vista o crescimento populacional e a escassez

de terras disponíveis para a expansão agrícola, a proporção de solo cultivável per

capita diminuirá cada vez mais.

Na Ásia Ocidental e no Norte da África, o aumento da produção agrícola é limitado

pelos recursos hídricos limitados e as importações deverão aumentar para atender à

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demanda crescente. Na América Latina e na África Sub-Saariana, ainda há potencial

para a expansão de terras agrícolas, bem como para aumentar a produtividade.

Deve-se observar, no entanto que no caso da América Latina, a adoção de

tecnologias, sejam elas o emprego de agroquímicos, irrigação, mecanização ou da

alteração da forma de trabalho, tem contribuído mais para o incremento da produção

do que a ocupação de novas áreas (United Nations Department of Economic and

Social Affairs, 2002). A contextualização dos parágrafos acima pode ser visualizada

na figura e na tabela a seguir.

Figura 2: Relação de terra agricultável por pessoa em função do crescimento populacional desde 1960 e projetado até 2020

(CROPLIFE, 2010)

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Tabela 1: Distribuição do uso da terra no mundo

terras aráveis terras cultivadas intensidade de cultivo milhões de ha milhões de ha % Países em desenvolvimento 1997-99 956 885 93 2015 1017 997 96 2030 1076 1063 99

África sub-saariana 1997-99 228 154 68 2015 262 185 71 2030 288 217 76

Oriente Médio e norte da África 1997-99 86 70 81 2015 89 77 86 2030 93 84 90

Sul da África 1997-99 207 230 111 2015 210 248 118 2030 216 262 121

Ásia 1997-99 232 303 130 2015 233 317 136 2030 237 328 139

América Latina e Caribe 1997-99 203 127 63 2015 223 150 67 2030 244 172 71

(FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2002)

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A disponibilidade de áreas para a produção de alimentos no mundo exerce impacto

diretamente sobre a Segurança Alimentar mundial, uma vez que a oferta dos

alimentos pode não ser capaz de atender às necessidades de consumo de toda a

população crescente, gerando assim uma restrição no acesso aos mesmos em função

do aumento do custo e da população não ter recursos suficientes para obter os

alimentos adequados para uma dieta nutritiva.

Discussões sobre Segurança Alimentar nunca estiveram tão elevadas a ponto de

influenciar agendas nacionais ao redor do mundo. Recentemente, o presidente da

França, Nicolas Sarkozy, propôs inclusive a regulamentação do mercado mundial de

commodities como forma de se evitar a alta dos preços dos alimentos, propondo

inclusive a formação de estoques mundiais de alimentos (DCI - Diário Comércio

Indústria e Serviço, 2011). A própria FAO chamou a atenção dos líderes mundiais

para a questão dos preços dos alimentos, dado o reflexo na inflação em nível

mundial e seus desencadeamentos em crises sociais, principalmente pelo fato de que

o mundo ainda se recupera da última crise financeira mundial (Agroanalysis, 2011).

O aumento da insegurança alimentar não é tanto um resultado de colheitas pobres

das culturas, mas por causa de elevados preços locais, de menores rendimentos dos

agricultores e aumento do desemprego que têm reduzido acesso aos alimentos por

parte dos pobres. Alcançar a segurança alimentar no mundo não será fácil,

considerando as tendências da população em crescimento e crescente urbanização,

as economias rurais nos países em desenvolvimento sentirão o maior impacto desses

desafios. As mesmas exigirão um maior investimento na produtividade agrícola e

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rentabilidade para impulsionar o desenvolvimento sócio-econômico e tirar as

pessoas da pobreza e da fome.

A questão da fome e subnutrição em nível global é preocupante, pois hoje há mais

pessoas com fome do que em qualquer momento desde 1970 e há um agravamento

das tendências que estavam presentes antes mesmo da recente crise econômica

mundial (FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE

UNITED NATIONS, 2009).

Figura 3: Subnutridos em 2009, por região no mundo

2%

4%5%

26%

63%

Países desenvolvidos

Oriente Médio e norte daÁfrica

América Latina e Caribe

África Subsaariana

Ásia e Pacífico

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Especificamente no Brasil, o programa FOME ZERO do governo federal brasileiro

visa a promoção da segurança alimentar e nutricional buscando a inclusão social e a

conquista da cidadania da população mais vulnerável à fome (BRASIL, 2006). Dos

quatro eixos articuladores do programa, um está alicerçado diretamente sobre a

agricultura (Fortalecimento da Agricultura Familiar), sendo que esta se insere

claramente em mais dois eixos – Acesso aos Alimentos e Geração de Renda.

Figura 4: Os quatro eixos articuladores do programa FOME ZERO

(BRASIL, 2006)

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4.2. Agricultura e desenvolvimento econômico e social

O conceito de desenvolvimento possui significado em diversos contextos.

Geralmente admite-se que desenvolvimento seja um processo dinâmico de

melhorias, que implica em mudança ou evolução ou crescimento ou avanço.

Dicionários definem desenvolvimento como aumento ou expansão da capacidade ou

das possibilidades de algo (HOUAISS, 2011), (MICHAELIS, 2007).

Na teoria econômica tradicional, o desenvolvimento de um país é medido por seu

Produto Interno Bruto (PIB), que dividido per capita, mostra o grau de riqueza

alcançado pelos seus habitantes. Os governos, assim como o brasileiro, adotam esta

métrica como medida de desenvolvimento e a elavação desta medida passa a ser

considerada dentre as metas dos programas governamentais.

O economista indiano Amartya Sen que em 1998 recebeu o Prêmio Nobel de

Ciências Econômicas por suas contribuições quanto a questões sociais e de bem

estar, elaborou uma abordagem mais humanista para o conceito de desenvolvimento.

Em seu livro “Desenvolvimento como liberdade” (Sen, 2000), Sen mostra que o

desenvolvimento de um país está essencialmente ligado às oportunidades que ele

oferece à população de fazer escolhas e exercer sua cidadania. E isso inclui não

apenas a garantia dos direitos sociais básicos, como saúde e educação, como

também segurança, liberdade, habitação e cultura.

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É importante se avaliar o desenvolvimento de um país sob mais do que uma ótica,

para corrigir distorções que dados econômicos possam produzir num leitor mais

incauto. Por exemplo, avaliando-se somente a evolução do PIB brasileiro na figura a

seguir, pode-se afirmar que entre os anos de 2004 e 2010, o PIB nacional cresceu

mais do que três vezes e que este crescimento foi muito superior ao experimentado

por outros países da América Latina como Argentina, Chile, Venezuela e México.

Figura 5: Evolução do PIB nominal – América Latina – Países selecionados - 2004 a 2011

(BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2011) * estimativa/previsão FMI

No entanto, aprofundando-se no detalhe e avaliando-se o PIB per capita real de cada

um desses países, observa-se que apesar de que o Chile possui um PIB

aproximadamente dez vezes menor que o brasileiro, o PIB per capita chileno

cresceu numa taxa muito maior que o brasileiro nas últimas décadas e em 2010, foi

663,8

882,4 1 088,8

1 366,5

1 636,0 1 577,3

2 023,5 2 193,0

95,7 118,2 146,8 164,2 170,9 161,6 199,2 222,8

0,0

500,0

1 000,0

1 500,0

2 000,0

2 500,0

2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 *

US$

bilh

ões

Anos

Argentina

Brasil

Chile

México

Venezuela

Page 24: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

24

aproximadamente uma vez e meia maior que o brasileiro, conforme observado nos

dados da figura a seguir.

Figura 6: PIB real per capita - América Latina – Países selecionados - 1980 a 2010

(UNDP - UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAME, 2010), elaboração do autor

Diferentes países têm diferentes prioridades em suas políticas de desenvolvimento,

mas para comparar seus níveis de desenvolvimento, deve-se inicialmente

compreender o sentido do desenvolvimento e depois empregar indicadores que

possam mensurar seu grau de atingimento. Os indicadores permitem também a

avaliação do progresso relativo no desenvolvimento e comparação dos índices com

outros países.

Para se compreender o grau de desenvolvimento de uma nação e entender, por

exemplo, quanto de seus habitantes são pobres, não é o suficiente saber o PIB ou a

8,199

5,809

10,8471

14,7801

5

7

9

11

13

15

Argentina Brazil Chile Mexico Venezuela

PIB

per c

apita

(200

8 PP

P U

S$)

Países

1980

1990

2000

2005

2006

2007

2008

2009

2010

Page 25: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

25

renda per capita do país. O número de pessoas pobres em um país e a qualidade

média de vida também depende de como igualmente ou de forma desigual a renda é

distribuída.

Um dos indicadores de progresso relativo utilizados é o Índice (ou Coeficiente) de

Gini2. A principal vantagem do índice é ser uma medida de desigualdade por meio

de análise de uma razão, ao invés de uma variável não representativa da maioria da

população, tais como renda per capita ou do produto interno bruto. Pode ser usado

para comparar distribuições de renda entre diferentes setores da população assim

como diferentes países, como por exemplo, a comparação do Índice de Gini entre

populações urbanas e rurais. Além disso, é um índice suficientemente simples que

pode ser usado para indicar como a distribuição da renda tem se distribuído através

de períodos de tempo em um país e assim, indicar se houve aumento ou redução das

desigualdades.

Por outro lado, se dois países apresentam o mesmo Índice de Gini, mas um país é

rico enquanto o outro é pobre, o índice estará medindo cenários diferentes. No país

pobre, estará medindo a desigualdade na qualidade de vida material, enquanto que

no país rico estará a distribuição de luxo ou supérfluos, além das necessidades

básicas. O índice mede o rendimento em vez de riqueza, no sentido de prosperidade.

Uma sociedade em que todos ganharam a mesma quantidade final sobre uma vida

pode parecer desigual por causa de pessoas em diferentes estágios de sua vida. No

2 Índice de Gini: um valor igual a 0 (zero) representa igualdade absoluta enquanto um valor igual a 100 (cem) representa total desigualdade.

Page 26: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

26

entanto, o coeficiente de Gini pode ser calculado para qualquer tipo de distribuição

de uma variável, por exemplo, para a riqueza total.

Apesar destas e doutras desvantagens, o índice é empregado por diversos

organismos que avaliam a questão do desenvolvimento de países como o Programa

das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Organização para Alimento

e Agricultura (FAO), o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI),

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros.

Escolheu-se cinco países da América Latina para fins de comparação inicial:

Argentina, Brasil, Chile, México e Venezula. Os três primeiros pela vocação de

produção e exportação de alimentos, o México por ser considerado um país

industrializado e pertencente ao Tratado Norte-Americano de Livre Comércio

(NAFTA) e à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico

(OCDE) e a Venezuela, como contra-ponto, com uma economia não dependente de

exportação de produtos agrícolas mas principalmente de exportação de petróleo e

seus derivados.

Segundo o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, países pobres ou em

desenvolvimento tendem a possuir índices de Gini maiores; a faixa geralmente varia

entre 40 e 65. Extremos são calculados em 25 (Dinamarca 24.7; Japão 24,9; Suécia

25) e ao redor de 70 (Namíbia 74,3; Lesoto 63,2). Países desenvolvidos como os

estados europeus geralmente apresentam números intermediários, com índices de

Gini entre 24 e 36 (Alemanha 28,3; França 32,7; Suíça 33,7; Finlandia 26,9;

Page 27: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

27

Portugal 38,5; Espanha 34,7) (UNDP - UNITED NATIONS DEVELOPMENT

PROGRAME, 2008).

Segundo o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (2008), os índices de

Gini para a Argentina, Brasil, Chile, México e Venezula para o ano 2008 são 51,3;

57; 54,9; 46,1 e 48,1, respectivamente.

Figura 7: Índice de Gini - América Latina – Países selecionados - 2008

(UNDP - UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAME, 2008) elaboração do autor

Os dados levantados já seriam suficientes para se afirmar que os cinco países

apresentam índices elevados de desigualdade de distribuição de renda mas

progredindo-se a análise e levando-se em consideração o índice em si e o PIB per

51,3

5754,9

46,148,1

30

35

40

45

50

55

60

Argentina Brasil Chile Mexico Venezuela

Índi

ce d

e G

ini (

base

0-1

00)

Países

Page 28: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

28

capita no período de 2001-2010 conforme exibido na figura a seguir, é possível

fazer considerações adicionais:

a) México: maior PIB per capita e menor índice de Gini entre os países

amostrados. Em teoria seria o país com a distribuição mais igualitária entre os

cinco;

b) Venezuela: PIB per capita e índice de Gini intermediário entre os países

amostrados;

c) Argentina: menor PIB per capita e índice de Gini intermediário entre os países

amostrados;

d) Chile: maior PIB per capita e segundo maior índice de Gini intermediário entre

os países amostrados. Em teoria seria o país com a maior distância entre os

extremos da população rica e pobre, pois o PIB per capita é uma vez e meia

maior que o brasileiro;

e) Brasil: segundo menor PIB per capita e o maior índice de Gini intermediário

entre os países amostrados; País altamente afetado quando à desigualdade de

renda em questão do baixo PIB per capita e do elevado índice de Gini.

Page 29: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

29

Figura 8: Dispersão da desigualdade de renda (Índice de Gini) versus o PIB per capita – América Latina – Países selecionados – 2001-2010

(elaboração do autor, combinando dados da UNDP, 2008 com dados do Depto de Agricultura Norte Americado – USDA, 2011 disponíveis em http://www.ers.usda.gov/Data/Macroeconomics/ )

Em relação aos dados apresentados, deve-se considerar ainda que a população do

Brasil segundo o último censo demográfico de 2010 é superior a cento e noventa

milhões de habitantes (IBGE, 2010) enquanto a população do Chile é de

aproximadamente dezessete milhões de habitantes (INE - INSTITUTO NACIONAL

DE ESTADÍSTICAS, 2010). A população brasileira divide-se nas seguintes

proporções pelas classes sociais: Classe A + B: 21%; Classe C: 54% e Classe D e E:

25% (BRASIL, 2011). Sendo assim existem aproximadamente quarenta e oito

milhões de brasileiros nas classes D e E, ou seja, quase três vezes toda a população

do Chile. Sendo assim, existem muito mais brasileiros afetados pela desigualdade de

renda no Brasil, do que no Chile.

Argentina

Brasil

ChileMéxico

Venezuela

$3.000

$4.000

$5.000

$6.000

$7.000

$8.000

30 35 40 45 50 55 60 65 70

PIB

per c

apita

200

1 -2

010

Índice de Gini

Page 30: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

30

Afinal o quão danoso é a desigualdade de renda para o desenvolvimento de um país

? Existem diferentes opiniões sobre os melhores padrões de distribuição, se o índice

de Gini deveria ser próximo a 25 como na Suécia ou a 40 como nos Estados Unidos

da América.

Considerou-se então os seguintes argumentos. Uma distribuição de renda

excessivamente igual também pode ser ruim para a eficiência econômica de um

país. Tomando-se como exemplo, a experiência dos países socialistas, onde a

desigualdade era mantida deliberadamente baixa, pois havia pequenas diferenças

nos salários recebidos e as pessoas eram privadas de incentivos necessários para

desenvolver novas atividades econômicas (ausência de lucros privados). Uma das

consequências desta equalização forçada dos rendimentos socialista foi a falta de

iniciativa entre os trabalhadores, a má qualidade da mão de obra e a oferta limitada

de bens ou serviços, uma lenta evolução técnica e eventualmente um menor

crescimento econômico que levou a índices maiores de pobreza (Soubbotina &

Sheram, 2000).

Por outro lado, os reflexos negativos da desigualdade excessiva se estendem por

aspectos sociais, políticos e econômicos de uma nação.

A desigualdade afeta a qualidade de vida das pessoas, levando a uma maior

incidência de pobreza e impedindo ou reduzindo o acesso à saúde e educação, no

mínimo.

Page 31: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

31

Especialmente nas economias de baixa renda, a desigualdade contribui para

potencializar os desvios e conflitos sociais, aumentando a necessidade dos governos

destinarem recursos de seus orçamentos também para atividades não produtivas

como a construção de novos presídios, aumento do aparelho policial, ampliação da

justiça e etc. (Barreto, Manso, & Loiola Filho, 2010)

Além disso, a elevada desigualdade ameaça a estabilidade política do país, uma vez

que as pessoas estão mais insatisfeitas com seu status econômico, de maneira que se

torna mais difícil chegar a um consenso político entre os grupos da população com

rendimentos mais elevados e mais baixos. Por sua vez a instabilidade política

aumenta os riscos de se investir em um país e com a fuga ou escassez de capital o

potencial de desenvolvimento do país fica comprometido significativamente.

Da mesma maneira a elevada desigualdade restringe o tamanho do mercado

consumidor interno, já que a propensão média a consumir tende a ser menor em

economias de renda mais concentrada. Ainda na ótica da economia, uma grande

desigualdade de renda limitará o uso de instrumentos de mercado importantes, como

mudanças nos preços e tarifas. Por exemplo, tarifas mais elevadas para a eletricidade

e água podem promover forçosamente a eficiência do consumo destes bens, mas

num cenário de grande desigualdade, se os governos introduzirem pequenas

mudanças nas tarifas haverá o risco de privação entre os cidadãos mais pobres.

Page 32: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

32

Finalmente, uma grande desigualdade de renda pode alterar determinados padrões

básicos de comportamento entre as pessoas ou empresas, tais como confiança e

comprometimento. Isso leva a um maior risco para os negócios e a um aumento dos

custos para a execução de contratos que por sua vezes impedem o crescimento

econômico, pois reduzem a intensidade das transações econômicas entre as partes.

Estes argumentos são robustos o suficiente para ao menos buscar pela redução da

desigualdade de renda nos países em desenvolvimento de modo a ajudar ao menos a

acelerar o desenvolvimento econômico e de sua população.

Aproveita-se este momento do documento para discutir certa assimetria vista em

parte da literatura produzida sobre desigualdade de renda no Brasil até agora. As

publicações consultadas sobre o tema da queda da desigualdade tem se concentrado

nas transferências públicas de renda como mecanismo de redução de desigualdade

de renda, embora, conforme será examinada nos próximos parágrafos, a renda

advinda do trabalho tenha sido mais importante para a queda da desigualdade.

Portanto, doravante neste documento será avaliada a queda do Índice de Gini da

renda domiciliar per capita, mas com ênfase na remuneração advinda do trabalho

(Soares, 2010).

O índice de Gini, após quatro décadas de elevação no Brasil, intercalada por

períodos de estabilidade, com quedas apenas pontuais e rapidamente revertidas,

iniciou em 2001 uma trajetória de queda ininterrupta que dura até o presente.

Page 33: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

33

Figura 9: Índice de Gini - Brasil - 1976 a 2009

(IPEA - INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2011), adaptado pelo autor

Uma das vantagens da utilização do índice de Gini é que a sua variação pode ser

decomposta por fonte de renda. Soares (2010) decompôs a renda domiciliar per

capita nos seguintes fatores:

· renda do trabalho, que pode ser subdividida em renda do trabalho indexada ao

salário mínimo e demais rendas do trabalho;

· renda da previdência, que pode ser subdividida em benefícios equivalentes a um

salário mínimo e benefícios não iguais a um salário mínimo de setembro daquele

ano;

· renda dos programas de transferência de renda focalizados, que pode ser

subdividia em renda do Programa Bolsa Família (PBF) e dos benefícios de

prestação continuada (BPC); e

0,623

0,604

0,584

0,591

0,589

0,598

0,588

0,636

0,583

0,604

0,6010,602

0,5940,596

0,5830,572

0,563

0,5480,543

0,53

0,55

0,57

0,59

0,61

0,63

0,65

1976

1977

1978

1979

1981

1982

1983

1984

1985

1986

1987

1988

1989

1990

1992

1993

1995

1996

1997

1998

1999

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

Indi

ce d

e G

ini

Anos

Desigualdade de Renda - Indice de Gini Linha de tendência

Page 34: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

34

· demais rendas, categoria residual que inclui medidas deficientes da renda na

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009, transferências de

outros domicílios, rendas pouco relevantes como o abono-permanência e

quaisquer outras rendas que não se enquadram nas demais categorias.

(Soares, 2010)

O autor cita que diversos trabalhos apontaram o importante papel das transferências

públicas na redução do coeficiente de Gini e que a totalidade das transferências

públicas foi responsável por aproximadamente um terço da queda de pouco mais

que 5,4 pontos de Gini (x100) observados entre os anos de 2001 e 2009. As rendas

menores da PNAD, tais como aluguéis e transferências de outros domicílios,

explicam outros 8% da queda, o que deixa 63% a cargo de um mercado de trabalho

mais favorável aos mais pobres.

Figura 10: Contribuição acumulada por fonte para a evolução do coeficiente de Gini (1996 a 2009)

Page 35: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

35

Nos gráficos anteriores, o autor mostra em três painéis a contribuição acumulada do

mercado de trabalho (painel 1) e das transferências governamentais (demais painéis)

para a evolução do coeficiente de Gini. Neste gráfico os números representam a

contribuição acumulada de uma dada fonte de renda de 1995 até um dado ano.

Assim, no painel 1 a série referente ao trabalho indexado ao salário mínimo termina

no número -0,8, indicando que, de 1995 até 2009, esta renda reduziu o coeficiente

de Gini em 0,8 ponto (x100). Para facilitarem-se as comparações, os três painéis se

encontram na mesma escala. Apesar da relevância das transferências

governamentais, a preponderância e contribuição do mercado de trabalho torna-se

visível. O Programa Bolsa Família, por exemplo, pode ter exercido um papel

desproporcional ao seu peso na renda total; em termos absolutos, sua contribuição

para a queda da desigualdade foi pequena, comparada com a do mercado de

trabalho.

Outro fato visível no trabalho em questão é que o mercado de trabalho já era

responsável por diminuir a desigualdade antes de 2001. Em 1999, antes de a

desigualdade começar sua queda, o mercado de trabalho já tinha reduzido o

coeficiente de Gini em quase 0,4 ponto de Gini (x100). Com efeito, desde 1998 a

renda do mercado de trabalho se desconcentra. Os efeitos progressivos das

mudanças na renda do trabalho em 1998 e 1999 foram mascarados pela renda da

previdência, cujos efeitos foram crescentemente regressivos até 1999.

Page 36: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

36

Barreto, Manso, & Loiola Filho (2010) em seu estudo sobre a renda do trabalho e a

redução da desigualdade também apontam que, diferentemente do que o senso

comum tem imaginado, é a renda proveniente dos trabalhos que vem contribuindo

de forma significativa para a redução da desigualdade no Brasil e em suas cinco

Regiões.

Os autores avaliaram a contribuição para redução do índice de Gini, a partir da

Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), decompondo a renda per

capita nos seguintes quatro componentes, a) rendimento de todos os trabalhos,

incluindo salários e remuneração de trabalhadores por conta própria e empregados,

representados pela a variável Trabalho; b) Rendimentos de Alugueis e Doações

feitas por pessoas de outros domicílios dados por Aluguéis e Doações; c) Rendas de

Aposentadorias e Pensões pagas pelo governo federal ou por institutos de

previdência dada pela variável Aposentadorias e Pensões e; d) Rendimentos

relacionados aos pagamentos de Juros, Dividendos e Transferências de Programas

Sociais como Bolsa Família ou renda mínima e outros rendimentos definidas nesse

estudo por Transferências. Depois examinaram a contribuição de cada componente

de renda para o valor do índice de Gini e como esse índice não pode ser decomposto

em partes ponderadas, utilizaram o método razão de concentração que é uma forma

de verificar a contribuição de um determinado componente de renda no valor do

índice. Finalmente puderam calcular a contribuição proporcional, entre os anos de

2001 e 2008, de cada componente de renda para a variação do índice de

desigualdade e constataram que o principal fator pela queda da desigualdade nas

diversas localidades foi o aumento da renda do trabalho. Os autores chamam a

Page 37: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

37

atenção que em todas as regiões e no Brasil, com exceção do Nordeste, essa

contribuição está acima de 60%, com destaque para o Sudeste onde a renda do

trabalho que é responsável com quase 78% da variação do Índice de Gini.

Tabela 2: Contribuição proporcional de cada componente da renda familiar para a redução da desigualdade: Regiões e Brasil em 2001 e 2008.

Região Trabalho Aluguéis e Doações

Aposentadorias e Pensões Transferências

Oeste 69,69% 0,04% 8,63% 21,64% Norte 67,88% 0,53% 6,53% 25,07% Nordeste 45,97% -2,40% 16,46% 39,98% Sul 62,96% 0,90% 27,77% 8,37% Sudeste 77,45% 1,03% 15,90% 5,62% Brasil 67,01% 0,01% 16,36% 16,06%

(Barreto, Manso, & Loiola Filho, 2010)

É difícil tirar conclusões definitivas sobre as razões da queda da desigualdade

quando tão pouco se sabe sobre a mais importante fonte de renda das famílias.

Como mencionado anteriormente, as mudanças na progressividade das

transferências governamentais, com ênfase ao programa da Bolsa Família, foram

responsáveis por aproximadamente um terço da queda da desigualdade no Brasil. Os

dois terços da queda no coeficiente de Gini advêm do mercado de trabalho. Destes,

quase um quarto se deve ao salário mínimo, o que mostra que este teve efeitos

distributivos importantes. Contudo, os demais três quartos – ou seja, metade da

redução da desigualdade – se devem a fatores no mercado de trabalho que não são o

piso salarial.

Page 38: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

38

De qualquer maneira, retomando-se os conceitos expostos no início deste capítulo,

de que o desenvolvimento está relacionado às oportunidades que um país oferece à

sua população, é adequado se inferir pelo que foi aqui apresentado, que a

remuneração advinda do mercado de trabalho tem importante contribuição para a

redução da desigualdade e consequentemente relevância no aumento das

capacidades ou das possibilidades das pessoas, demostrando assim a relevância de

se avaliar a potencial contribuição da agricultura para com o desenvolvimento do

Brasil na continuação deste documento.

Page 39: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

39

4.3. A agricultura brasileira é sustentável ?

No capítulo anterior, discutiu-se a questão do desenvolvimento, sob um viés

orientado às pessoas. Recentemente tem-se incorporado a palavra sustentável ao

termo desenvolvimento, criando o conceito de desenvolvimento sustentável.

O conceito de desenvolvimento sustentável envolve aspectos econômicos, sociais e

ambientais, considerando suprir as necessidades da geração atual, sem esgotar ou

comprometer os recursos para atender as necessidades das futuras gerações. (WWF,

2011), (EU - EUROPEAN COMMISSION, 2011), (MAPA - MINISTÉRIO DA

AGRICULTURA, 2011).

Durante a primeira Cúpula da Terra, realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1992

(“RIO 92”), os líderes globais adotaram a Agenda 21 que prevê um programa de

ação global para atingir o desenvolvimento sustentável e abordar tanto as questões

ambientais como de desenvolvimento de forma integrada em nível global, nacional e

local (FAO, 2002).

O Capítulo 14 da referida Agenda 21, sobre agricultura sustentável e

desenvolvimento rural projeta que, no ano 2025, oitenta e três por cento da

população mundial prevista, de oito bilhões e meio de pessoas, estarão vivendo em

países em desenvolvimento. No entanto, a capacidade dos recursos e tecnologias

disponíveis para atender às demandas dessa população crescente de alimentos, fibras

e combustíveis ainda é incerta. A agricultura terá de enfrentar esse desafio e os

agricultores em todo o mundo deverão duplicar ou mesmo triplicar sua produção nas

Page 40: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

40

terras atualmente exploradas e evitar a exaustão ainda maior de terras que só

marginalmente são apropriadas para serem cultivadas (UN - UNITED NATIONS,

2009). Ou seja, a agricultura sustentável é um elemento-chave do desenvolvimento

sustentável, pois é um sistema de produção agrícola que, a longo prazo, deverá:

· Satisfazer as necessidades humanas quanto a alimentos e fibras.

· Melhorar a qualidade ambiental e dos recursos naturais dos quais depende a

economia agrícola.

· Fazer o uso mais eficiente das tecnologias disponíveis, dos recursos não-

renováveis e recursos disponíveis na própria propriedade.

· Manter a viabilidade econômica das operações agrícolas

· Melhorar a qualidade de vida dos agricultores e da sociedade como um todo.

(CROPLIFE, 2011)

Em certa medida, a agricultura brasileira dá exemplos da possibilidade de se

alcançar esses objetivos. Ao longo de séculos, o modelo de desenvolvimento no país

tem evoluído do extrativismo e da agricultura de subsistência para uma exploração

agroindustrial intensa, com a aplicação de tecnologias modernas. A pesquisa em

recursos genéticos e melhoramento vegetal tem contribuído significativamente para

o desenvolvimento de sistemas produtivos ambientalmente mais adequados,

agregando tolerância a estresses e eficiência no uso de nutrientes, viabilizando

sistemas de cultivo conservacionistas. O manejo de culturas baseado no plantio

direto é utilizado há décadas em milhões de hectares de lavouras brasileiras, com

expressiva contribuição para a redução de erosão, a melhoria geral da qualidade do

solo e a recarga do lençol freático.

Page 41: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

41

Nos últimos anos o governo brasileiro tem fomentado novos programas, inclusive

com incentivos oficiais, como o programa da Agricultura de Baixo Carbono (ABC)

(BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E

ABASTECIMENTO, 2010), iniciativa esta que irá aliar a produção de alimentos e

bionergia com a redução dos gases de efeito estufa através de técnicas que garantem

eficiência no campo, com balanço positivo entre o sequestro e a emissão de dióxido

de carbono (CO2). A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)

adota o programa de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, cujo objetivo é ensinar

aos agricultores como utilizar técnicas de exploração intensiva de forma sustentável

e, ainda, com incremento de renda.

Na visão do presidente da EMBRAPA, Pedro Arraes, em entrevista concedida ao

programa “Brasil em Pauta” do governo federal no dia 10 de Junho de 2011, o

Brasil além de ser uma potência agrícola “pode se tornar também uma potência

ambiental, pois as duas coisas não são contraditórias, podem andar lado a lado”

(Arraes, 2011).

Frente a esse cenário o Brasil se prepara para colher a maior safra da história e

quebrar novo recorde na produção, se as previsões foram confirmadas: serão 154

milhões de toneladas de grãos no ciclo 2010/2011 (Rossi, 2011). Houve um

incremento de 774% na produtividade nos últimos 50 anos. Tecnologia mais a

garantia de recursos do governo permitiram ao país obter sucessivos recordes em

produção e se a tecnologia e as práticas dominantes hoje fossem as mesmas

adotadas nos anos 60, seria necessário ampliar em mais 145 milhões de hectares as

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42

terras para áreas de cultivo. O país necessitaria triplicar sua área destinada à

produção de grãos. O mesmo ocorreria na pecuária. Seriam precisos mais 259

milhões de hectares de terra para pastagens, mantidas as condições de criação

bovina e bubalina daquela época. Isso porque, em 50 anos, a área de pastagem no

Brasil cresceu 39%, enquanto o rebanho aumentou 251%.

O modelo atual da agricultura brasileira, além de um dos mais competitivos do

mundo é, portanto, sustentável. Há que se considerar, no entanto, que pela

diversidade e complexidade da agricultura brasileira, esses avanços, embora muito

relevantes, dificilmente bastarão para garantir a agricultura do futuro do ponto de

vista da sustentabilidade. É necessária uma busca contínua de novos conhecimentos

e os sistemas de inovação para a agricultura terão que se referenciarem, cada vez

mais, em aspectos que compreendam, além da visão básica da agricultura, como

produtora de alimentos e matérias-primas essenciais para a sobrevivência e o

progresso da humanidade, e geradora de renda, outras dimensões e valores, inclusive

culturais.

Page 43: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

43

4.4. A contribuição da agricultura para a economia brasileira

Um crescimento agrícola forte tem sido uma característica constante dos países que

conseguiram reduzir a pobreza com sucesso. O crescimento do Produto Interno

Bruto (PIB) gerado pelo agronegócio é, em média, quatro vezes mais eficaz para

beneficiar a metade mais pobre da população do que o crescimento gerado fora da

agricultura, embora este efeito diminua conforme os países se tornam mais ricos.

(World Bank - Department of Economic and Social Affairs. Division for

Sustainable Development., 2008). O governo brasileiro inseriu a agricultura como

um dos pilares do programa FOME ZERO, desenvolvendo ações específicas

voltadas para a agricultura de modo a promover a geração de renda no campo bem

como o aumento da produção de alimentos para o consumo (BRASIL, 2006). O

novo programa federal denominado PLANO BRASIL SEM MISÉRIA também

incorporou a agricultura num de seus eixos de atuação, uma vez que no campo se

encontra 47% do público do plano, formado por pessoas vivendo na extrema

pobreza (BRASIL, 2011). A prioridade é aumentar a produção do agricultor através

de orientação e assistência técnica, oferta de fomento, sementes e água, visando

elevar a renda familiar per capita.

A participação do PIB do agronegócio no PIB total brasileiro tem variado nos

últimos anos, com tendência de redução no período de 1994 a 2009 (CEPEA-

USP/CNA, 2010) conforme exibido na figura a seguir. Ainda assim, sua

contribuição não pode ser desprezada uma vez que atinge uma intensidade de quase

25% do PIB brasileiro e no ano de 2010, o PIB do setor agropecuário apresentou

crescimento de 6,5% em comparação com o ano anterior (IBGE, 2011). A

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44

agricultura, por sua vez, tem uma participação de cerca de 70% do PIB do

agronegócio (Gasques, 2004).

Figura 11: Participação do PIB do Agronegócio Brasileiro no PIB do Brasil - 1994 a 2009

(CEPEA-USP/CNA, 2010), adaptado pelo autor

Destaca-se também que o agronegócio é o setor da economia que mais tem

contribuído para a formação do saldo da balança comercial do Brasil, tendo

apresentando nos últimos anos sempre a maior parcela do saldo positivo, suficiente

inclusive para reverter índices negativos de outros setores, razão para ser

considerado o setor mais importante da economia nacional (Gasques, 2004),

(Micheletto, 2010). A figura a seguir demonstra esta contribuição na balança

comercial do Brasil.

27,08

25,71

24,6525,18

24,16

25,72

27,09

26,28

24,29

23,47

24,27

23,08

21,00

22,00

23,00

24,00

25,00

26,00

27,00

28,00

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Porc

enta

gem

de

part

icip

ação

Anos

Participação (%) Linha de tendência (%)

Page 45: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

45

Figura 12: Comparativo do saldo da balança comercial do agronegócio e dos demais setores

(Micheletto, 2010)

Em janeiro de 2011, a balança comercial brasileira registrou superávit de US$0,42

bilhão, com exportações de US$15,21 bilhões e importações de US$14,79 bilhões,

revertendo o saldo comercial de negativo para positivo, mais em função do aumento

das exportações (34,5%) em relação às importações (28,8%) – figura abaixo. Os

maiores preços internacionais das commodities neste início de 2011 beneficiaram as

vendas externas brasileiras (IEA - Instituto de Economia Agrícola, 2011).

4625741412

24834

4273049397

60474

3528

-7985

-35640-45000

-25000

-5000

15000

35000

55000

2006 2007 2008

US$

milh

ões

anos

Brasil Agronegócio Serviços e Indústria

Page 46: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

46

Figura 13: Balança Comercial, Brasil em Janeiro de 2011

Outro ponto importante é que a agricultura funciona como um amortecedor macro-

econômico. Sabidamente, as crises econômicas têm diferentes impactos em vários

setores da economia, conforme sua natureza, do tamanho do setor em termos de

empregos e da estrutura comercial do setor. No entanto surgem padrões distintos em

termos do setor agrícola. Observa-se na tabela a seguir que as taxas de crescimento

do setor agrícola, antes e depois da crise foram superiores ao crescimento do PIB

agregado e durante a crise, a taxa de crescimento permanece positiva e superior ao

PIB. Assim, o crescimento agrícola tende a ser mais estável do que o crescimento

em outros setores da economia (FAO - FOOD AND AGRICULTURE

ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2009).

11,3 11,48

-0,17

15,21 14,79

0,42

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

Exportação Importação Saldo

US$

bilh

ões

2010 2011

Page 47: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

47

Tabela 3: Taxa média de crescimento por setor. Brasil 1994 - 2004

Taxa média de crescimento anual por setor

(porcentagem)

País Período agricultura indústria manufatura Serviços PIB

Brasil

5 anos pré-crise 4,1 3,1 2,2 3,9 3,0

crise de 1999 6,5 -1,9 -1,9 1,4 0,3

5 anos pós-crise 4,1 3,0 3,4 4,1 3,0

(FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2009).

No ano de 2010, a participação do agronegócio nas exportações totais brasileiras

caiu de 42,5% (em 2009) para 37,9%. A explicação para essa diminuição é a crise

financeira internacional, que teve seu auge justamente há dois anos. Ainda assim,

em 2009, as exportações do agronegócio tiveram queda inferior à registrada pelos

demais setores da economia nacional. Esse fator contribuiu para que o agronegócio

sustentasse o superávit naquele ano. Passada a crise, em 2010, a recuperação das

exportações dos demais setores foi superior ao incremento das vendas

agropecuárias, explicando na queda de participação deste último no total de

exportações (BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E

ABASTECIMENTO, 2011).

Alguns fatos esclarecem o comportamento da agricultura brasileira durante uma

crise. Primeiro porque quando os rendimentos diminuem a demanda por produtos

agrícolas, especialmente os alimentos não diminui proporcionalmente, pois as

pessoas tendem a sacrificar primeiro outros bens, como os industriais e

Page 48: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

48

manufaturados, ou serviços, de maneira a poder continuar comprando alimentos.

Segundo, sob a ótica do financiamento, os demais setores usam crédito mais

intensamente e durante as crises este fica mais escasso, enquanto a agricultura tende

a se autofinanciar, principalmente no caso dos pequenos e médios agricultores.

Além disso, em algumas situações de crise, a taxa de câmbio é alterada e favorece a

produção e exportação de bens, que num cenário de moeda desvalorizada,

remuneram melhor o agricultor.

Page 49: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

49

4.5. A agricultura e a remuneração do agricultor

As riquezas geradas pelo agronegócio alimentam a economia como um todo e

propiciam condições para a melhoria de qualidade de vida, principalmente nas

pequenas e médias cidades brasileiras. Grande número das pequenas cidades

brasileiras em sua economia alicerçada no agronegócio, de maneira que se o

agronegócio se desenvolve bem, há uma externalidade positiva na economia dessas

cidades.

O Brasil lidera o ranking na produção e exportação de café, açúcar, álcool a partir da

cana-de-açúcar e suco de laranja. Também está em primeiro lugar das vendas

externas de complexo de soja (farelo; óleo e grão), carne bovina, carne de frango.

No ano de 2010, os itens que foram mais exportados pelo país foram soja, café e

açúcar (BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E

ABASTECIMENTO, 2011). O fato de grande quantidade das exportações do país -

42,5% das exportações totais em 2009 (BRASIL, 2010) – estar alicerçada sobre

commodities, pode representar um risco quanto à remuneração do

agricultor/produtor, pois os países compradores importadores podem impor barreiras

técnicas e/ou sanitárias aos produtos para lá exportados, de maneira a romper o

equilíbrio da relação de oferta e demanda e assim controlar os preços pagos pelos

produtos que importam ou selecionar países fornecedores, fechando o acesso dos

agricultores nacionais a estes países.

Page 50: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

50

As commodities possuem especificidades que as tornam mais expostas a

determinados riscos, dada a regulação da oferta pelos mercados que podem culminar

na redução da remuneração pelo produto produzido. Na tabela abaixo são

comparadas algumas especificidades dos produtos tipo Especialidades (processados)

e Commodities.

Tabela 4 : Diferenciação entre produtos Especialidades e Commodities

Item Especialidades Commodities

Produto Qualidade Quantidade

Preço Contrato Oferta e demanda

Distribuição Segmentos e nichos Mercado de massa

Rentabilidade Larga Estreita

Margem de lucro Alta Baixa

Cadeia produtiva Agregação de valor Matéria prima

(Kotler, 2006)

O desenvolvimento do papel de grande produtor e exportador de commodities pelo

Brasil pode ser compreendido através da evolução das exportações, subdividida em

quatro períodos distintos:

a. 1971 a 1980: modelo agroexportador, estimulado pela forte demanda

internacional e crédito governamental abundante para investimento, custeio e

comercialização;

Page 51: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

51

b. 1981 a 1992: estagnação das exportações em decorrência da recessão mundial,

da sobrevalorização cambial ao final da década e também devido ao crescimento

do mercado doméstico (maior consumo interno);

c. 1993 a 2000: retomada das exportações (situadas na faixa de US$ 20 bi anuais

no final do período);

d. 2001 a 2010: participação crescente de produtos agroindustriais no mercado

internacional (exportações acima de US$100bi);

(Zylbersztajn, 2000), (Viotto, 2008)

Hoje, o país é o principal fornecedor de 25% do mercado mundial de alimentos

(BRASIL, 2010).

Por outro lado os países que compõe a Organização para Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE) ainda são os operadores dominantes no

mundo do comércio agrícola em certas categorias, especialmente para os produtos

processados, cuja produção depende da disponibilidade de competências

especializadas. Há, no entanto, algumas mudanças visíveis estruturais. As

exportações de produtos processados por países de renda média cresceu a taxas de

dois dígitos entre 1985 e 2004. Esses países também mostraram um rápido

crescimento em suas exportações de hortícolas, apesar de que os países da OCDE

continuem a dominar. (United Nations Department of Economic and Social Affairs,

2002). Observa-se na figura abaixo que a maioria dos países hoje membros da

OCDE são também os denominados países desenvolvidos.

Page 52: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

52

Figura 14: Países membros da OCDE

(OCDE, 2011)

Sobrepondo-se a informação da figura anterior, dos países membros da OCDE às

informações da figura a seguir, sobre o PIB agrícola per capita da população

agrícola, nota-se uma tendência em que os países membros da OCDE tendem a

apresentar um PIB agrícola per capita da população agrícola superior ao daqueles

países, não membros, sendo exceções os países Chile, México, Turquia, Polônia,

República Tcheca, Eslováquia e outros poucos, considerados países em

desenvolvimento segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI)

(INTERNATIONAL MONETARY FUND, 2010) e Portugal que é considerado

desenvolvido.

Page 53: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

53

Figura 15: PIB agrícola per capita da população agrícola

(FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2006)

Alguns fatores relacionados à própria associação dos países ao bloco, podem ajudar

a explicar a tendência, tais como integração da cadeia de valor, processos intra-

nacionais para facilitar o comércio entre os países e subsídios. Aliás, embora vários

países desenvolvidos tenham liberalizado e aberto mais os seus mercados agrícolas

para o comércio internacional nos últimos anos, as políticas protecionistas agrícolas

da maioria dos países da OCDE estão cada vez mais reconhecida como

discriminatórias contra o bem-estar dos agricultores nos países em desenvolvimento.

Os agricultores dos países em desenvolvimento não só têm acesso limitado aos

mercados agrícolas dos países ricos, mas também tem de enfrentar os próprios

mercados internos distorcidos pelas importações advindas de países que praticam o

subsídio. A título de informação, o equivalente em subsídio ao produtor nos países

Page 54: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

54

da OCDE foi de US$ 330,000 milhões no ano 2000, igual ao PIB daquele ano da

África (Hazel & Wood, 2008).

Figura 16: Comparativo PIB agrícola per capita versus associação à OCDE

(elaborado pelo autor)

Essas políticas de subsídio são particularmente prejudiciais para os pequenos

agricultores em países pobres porque limita as suas possibilidades de produzir mais

produtos em que têm vantagens comparativas. Esta não é apenas uma questão de os

agricultores dos países em desenvolvimento serem excluídos dos mercados de

exportação para as culturas tropicais rentáveis, como açúcar, algodão e tabaco, mas

são ainda pressionados em seus próprios mercados internos e regionais de alimentos

básicos como cereais e produtos pecuários.

Page 55: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

55

Apesar deste cenário limitante, o Brasil pode experimentar fatores que

impulsionaram e diferenciaram o crescimento do agronegócio no país e que

permitiram que o PIB per capita do agronegócio aumentasse constantemente nas

últimas décadas, ressaltando-se novamente que a agricultura tem uma participação

de cerca de 70% do PIB do agronegócio (Gasques, 2004).

Figura 17: PIB per capita do agronegócio (Reais de 2008)

(Alves & R., 2009)

953

1610

2236

2936

5213

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

1970 1980 1991 1996 2008

Moe

da -

R$ (a

no b

ase

2008

)

Anos

PIB percapita

Page 56: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

56

4.6. Migração da população rural e urbanização.

Nos últimos 50 anos, 800 milhões de pessoas no mundo migraram de zonas rurais

para as cidades. A pressão populacional, pela escassez de terra, diminuição da

produtividade agrícola e falta de oportunidades de ganho salarial influenciam a

migração rural. Em alguns casos, é provocada pela falta de oportunidades de

emprego e trabalho assalariado (em nível mundial, a maioria dos migrantes são

aqueles que migram por emprego), em outros, pela guerra, distúrbios civis, a

expulsão ou conflitos étnicos e da violência associada e violação dos direitos

humanos ou ainda por uma deterioração do ambiente natural, a diminuição da

fertilidade do solo das culturas, animais e doenças, seca ou inundações e outros

desastres naturais, que destroem os meios de subsistência. De acordo com a FAO,

mais investimentos pelos governos e políticas rurais adequadas deveriam manter a

população rural nas suas terras e reduzir a migração. (ILO - International Labour

Organization & FAO - Food and Agriculture Organization, 2011)

É o que vem fazendo a China, por exemplo, com o desenvolvimento da cultura da

laranja no país para se tornar um grande produtor e exportador de laranjas. Segundo

as autoridades chinesas, o investimento no setor cítrico é uma estratégia para

desenvolver regiões pobres e evitar a migração da população rural para zonas

industriais. A cultura da maçã é outro exemplo de desenvolvimento de novos

mercados com um viés socioeconômico, no qual em menos de cinco anos, a China

fomentou o desenvolvimento de uma cadeia produtora e se tornou o principal

exportador mundial desta fruta (Agroanalysis, 2011).

Page 57: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

57

No caso do Brasil, a migração do campo para as cidades tem reduzido, mas ainda é

expressiva conforme se observa na figura a seguir, exceto na região Centro-Oeste,

devido ao crescimento de sua agricultura bem como ao tamanho pequeno de sua

população rural (Alves & R., 2009).

Figura 18: Índice de urbanização das regiões e do Brasil: população urbana/população total (em

%)

(IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2006)

No ano de 2007, as regiões do Brasil conservaram, com alguma perda, suas

populações rurais de 2000, exceto a região Centro-Oeste, cuja população rural

aumentou. Não obstante o intenso fluxo migratório rural após a década de 60, o

nível de pessoal ocupado no meio rural cresceu entre 1940 a 1985, podendo-se

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007

Porc

enta

gem

Anos

Norte

Nordeste

Sudeste

Centro-Oeste

Sul

Brasil

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58

inferir que durante este período, parte da população urbana empregou-se no meio

rural. No entanto nos períodos subsequentes a 1985, a ocupação rural decresceu

intensamente, e aí tanto a população rural como a ocupação rural passaram a ter

tendências de queda. Dentre as causas desta queda, estão as oportunidades de

emprego com salários mais elevados do meio urbano. É fato também que a

mecanização da agricultura substitui parcialmente a força humana de trabalho, mas é

uma opção, porque os salários, como uma componente indireta da mecanização,

tornam-na vantajosa. Ainda, com o passar do tempo, a população urbana se

desinteressa pelo emprego rural, principalmente os jovens, seja por falta de

informação, treinamento ou motivação, Enfim, o ambiente rural deixa de ser

considerado como opção de emprego. No caso do desemprego, os desempregados

urbanos contam com a maior ajuda do governo, o que também favorece a opção

urbana para oferta de trabalho. A expressiva queda do emprego rural contraria as

expectativas de programas, como agricultura familiar e reforma agrária, que visam

manter o emprego rural.

Apesar da emigração rural, o crescimento das cidades brasileiras nos últimos 15

anos tem sido mais influenciado pelo crescimento de suas próprias populações

urbanas, tanto que no período entre 1991 a 2000, 33,1% do crescimento da

população urbana foi contribuição da emigração rural enquanto no período de 2000

a 2007, a contribuição do êxodo rural caiu para 19,2%. A migração de população do

meio rural para as cidades, embora em volume considerável, reduziu-se em

consequência do crescimento vigoroso da agricultura no Brasil, crescimento este

baseado no mercado interno, nas exportações e na estabilidade macroeconômica

Page 59: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

59

nacional. Apesar do abalo produzido pela recente crise internacional, o agronegócio

continua vigoroso e esse crescimento tem maior poder para manter a população rural

e de reduzir o êxodo rural que os programas criados para esse fim (Alves & R.,

2009).

A preocupação está ainda com a região Nordeste do país, porque lá reside cerca da

metade da população rural brasileira, e, em virtude da baixa produtividade média de

sua agricultura, o seu potencial migratório é muito elevado, tanto que esta região

apresenta uma velocidade de urbanização mais elevada que as demais regiões do

país. Essas têm população rural pequena comparada com o tamanho da agricultura e

das cidades, por isso, nelas a migração rural-urbana, que se desacelera rapidamente,

terá pequeno impacto no crescimento das cidades.

Finalmente soma-se a isso a questão da redução da remuneração na área rural, que

favorece o êxodo rural. Desde 1965 até a década de 1980, houve alternância de anos

favoráveis e anos desfavoráveis ao salário rural quando comparado com o salário

mínimo, sem que houvesse uma tendência, mas a partir de 1994 nota-se uma

tendência de queda na comparação do salário rural em relação ao salário mínimo, ou

seja, verifica-se que os salários são maiores nas cidades.

Page 60: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

60

Figura 19: Salário Rural/Salário Mínimo: 1986–2008

(Alves & R., 2009)

Como a opção das políticas do governo é reter a população na agricultura, seu foco

tem que ser o crescimento da agricultura e em políticas de combate à pobreza,

especialmente nas áreas rurais (Alves & R., 2009) (FAO - FOOD AND

AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2009).

Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010,

existem 16,2 milhões de pessoas no Brasil consideradas extremamente pobres, dos

quais 59% estão concentradas no Nordeste, ou seja, 9,6 milhões de pessoas das

quais, aproximadamente 4,5 milhões estão em áreas urbanas e mais que 5 milhões

estão em áreas rurais (BRASIL, 2011).

Page 61: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

61

5. PROJEÇÕES DO AGRONEGÓCIO

No Brasil o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é o órgão

responsável pela gestão das políticas públicas de estímulo à agropecuária, pelo fomento

do agronegócio e pela regulação e normatização de serviços vinculados ao setor. No

Brasil, o agronegócio contempla o pequeno, o médio e o grande produtor rural e reúne

atividades de fornecimento de bens e serviços à agricultura, produção agropecuária,

processamento, transformação e distribuição de produtos de origem agropecuária até o

consumidor final.

Recentemente, o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Sr Wagner Rossi,

ao fazer um balanço dos oito anos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da

Silva declarou que considera ser possível ao país atingir um novo status, levando-se em

consideração os índices de desenvolvimento, terras agricultáveis e adoção de tecnologia

agrícola desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

“Não há dúvidas que a agricultura brasileira tem condições de continuar competitiva e

na vanguarda, principalmente em função das pesquisas genéticas, da produção

racional e equilibrada, com foco na preservação do meio ambiente” (BRASIL -

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2010).

Certamente em sua fala, o Ministro espelhava o documento Projeções do Agronegócio –

Brasil 2008/09 a 2018/19, no qual o Ministério da Agricultura mostra uma visão

prospectiva do setor, texto este fruto de consulta a trabalhos de organizações brasileiras

e internacionais, alguns deles baseados em modelos de projeções. Dentre as instituições

consultadas destacam-se os trabalhos da Food and Agriculture Organization of the

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62

United Nations (FAO), Food and Agricultural Policy Research Institute (FAPRI),

International Food Policy Research Institute (IFPRI), Organization for Economic Co-

Operation and Development (OECD), Organização das Nações Unidas (ONU), United

States Department of Agriculture (USDA), Confederação da Agricultura e Pecuária do

Brasil (CNA), Fundação Getúlio Vargas (FGV), Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais

(ICONE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Companhia Nacional de

Abastecimento (CONAB), Embrapa Gado de Leite, Empresa de Pesquisa Energética

(EPE), e União da Indústria de Cana de Açúcar (ÚNICA) (MAPA - MINISTÉRIO DA

AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2009).

As projeções deste documento para o período em questão foram realizadas em dezoito

produtos do agronegócio: milho, soja, trigo, laranja, suco de laranja, carne de frango,

carne bovina, carne suína, açúcar, etanol, algodão, farelo de soja, óleo de soja, leite in

natura, feijão, arroz, batata inglesa e mandioca. A escolha dos modelos mais prováveis

foi feita da seguinte maneira:

1. Coerência dos resultados obtidos;

2. Comparações internacionais a dos dados de produção, consumo, exportação,

importação e comércio dos países e do mundo;

3. Tendência passada dos nossos dados;

4. Potencial de crescimento;

5. Consultas a especialistas.

Page 63: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

63

Segundo o documento há um grande potencial de crescimento para o agronegócio

brasileiro devido à demanda interna e externa, e sustentado pela disponibilidade de

recursos naturais e tecnológicos. Quase todos os dezoito produtos terão crescimento,

alguns expressivos, nos próximos anos, fortalecendo inclusive ainda mais a posição do

país como exportador mundial de alimentos.

O documento ressalta ainda que apesar de haver um acrescimento de área da ordem de

15,5 milhões de hectares nos próximos anos para as culturas analisadas, os incrementos

da produção agrícola brasileira devem se dar principalmente na quantidade produzida

por área plantada. Isso significa o crescimento das safras deverá se dar, sobretudo ao

aumento da produtividade e não à expressiva incorporação de novas áreas. De fato esta

tem sido uma tendência na América Latina, conforme se observa na figura a seguir.

Page 64: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

64

Figura 20: Fontes de crescimento de produção: expansão da área cultivada versus colheitas para os principais cultivos básicos importantes (cereais, raízes, tubérculos e leguminosas)

(Evenson & Gollin, 2003) adaptado pelo autor

Por outro lado, algumas incertezas ou fatores adversos parecem não ter sido computados

ou relatados no documento do Ministério da Agricultura, visto que a produção

agropecuária tem crescido muito mais velozmente que os investimentos na

infraestrutura de transportes e de armazenagem. Ainda que os produtores sejam

eficientes da “porteira para dentro”, da “porteira para fora” os gastos com transporte

aumentaram em média 147% entre 2003 e 2009, segundo levantamento da Associação

Nacional dos Exportadores de Cereais (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2011).

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

1961-1980 1981-2000 1961-1980 1981-2000 1961-1980 1981-2000 1961-1980 1981-2000

América Latina Ásia Oriente Medio eNorte da África

África Subsaariana

Com

pone

ntes

da

taxa

de

cres

cim

ento

da

prod

ução

(%)

área

aumento da colheita devido a adoção de variedades modernas

aumento da colheita devido a tecnologia (agroquímicos, irrigação, mecanização, trabalho)

Page 65: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

65

Estas deficiências logísticas de estradas, ferrovias e portos geram inclusive um processo

de dissipação das vantagens comparativas do Brasil nas exportações, impedindo que o

país crie vantagens competitivas permanentes necessárias ao próprio desenvolvimento.

O produtor se incorporar tecnologias e reduzir custos poderá fornecer para o mercado

local e escoar os excedentes para o exterior, assegurando a sustentabilidade do seu

crescimento. É neste momento que ele precisa, mais do que nunca, de condições de

infraestrutura favoráveis, pois do contrário, a geração de excedentes “represados” no

interior e o produto exportado onerado por fretes caros passam a lhe ser um problema.

A CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL (CNA)

demonstrou que no ano de 2009 a média de gastos relacionados ao transporte da soja, da

produção até o porto, foram cerca de quatro vezes maiores do que o gasto dos

produtores da oleaginosa nos Estados Unidos da América e na Argentina. A despesa

maior corrói a renda a receita líquida do agricultor. Pelos relatos na literatura, as frutas,

os cereais e as hortaliças enfrentam problemas semelhantes de infraestrutura e o

transporte é fator crítico na composição do custo de produção (Gonçalves, Vianna, &

Bacha, 2008), (ABRAMILHO, 2011), (ABAG - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE

AGRIBUSINESS, 2008), (EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão

Rural , 2010).

Page 66: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

66

Tabela 5: Custos logísticos 2009 - Impacto do frete na receita do produtor nacional

País (em US$ / ton de soja) Brasil EUA Argentina

cotação média FOB no porto de origem 399 399 399

frete até o porto 78 18 20

despesas portuárias 6 3 3

total de despesas de transporte 84 21 23

Receita líquida 315 378 376

(CNA - CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL , 2011)

Este gargalo logístico envolve praticamente toda a infraestrutura de transporte do Brasil

(Borges, 2004). Segundo o autor, o levantamento feito pela Confederação Nacional dos

Transportes (CNT), indica que oitenta e dois por cento das estradas brasileiras

apresentam sérias deficiências, entre elas mais de oito mil quilômetros com trechos de

buracos e afundamentos. Soma-se a isso a idade média da frota de caminhões - ao redor

de dezoito anos – que contribui para reduzir a velocidade média nos deslocamentos

pelas estradas, demandando mais tempo para as entregas ao mesmo tempo que significa

maior tempo de permanência nas estradas e vias congestionando-as.

As ferrovias que, embora tenham recebido investimentos através de privatizações, estão

longe de suprir a demanda do setor de agronegócio e se consolidar como uma

alternativa viável ao transporte rodoviário. Para fins de comparação, no ano em que o

autor supra citado fez esta avaliação, a malha ferroviária no Brasil era de 30 mil

Page 67: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

67

quilômetros de extensão, sendo praticamente igual à do Japão, que é vinte e duas vezes

menor que o Brasil. Ao mesmo tempo, o Brasil deixa de aproveitar os canais de

transporte de grande potencial, utilizando apenas 10 mil quilômetros frente a um

potencial de 42 mil quilômetros de hidrovias.

Além disso, ano após ano a safra de grãos do Brasil cresce e além dos problemas de

transporte acima, os de armazenagem vão se repetindo e agravando. Notícias sobre

grãos mantidos a céu aberto, cobertos com lona ou plástico, sobretudo na região Centro-

Oeste do país, aparecem cada vez mais na mídia. No período de 2000 a 2010, enquanto

a produção de grãos aumentou 77%, o crescimento correspondente da capacidade

estática de armazenagem foi de 52,6%, o que significa um déficit de 24,4 milhões de

toneladas (IEA - INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA, 2010).

Figura 21: Comparação entre capacidade estática de armazenamento e produção de grãos - Brasil - 2000 a 2010

(IEA - INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA, 2010)

70

80

90

100

110

120

130

140

150

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Milh

ões d

e to

nela

das

Ano

capacidade estátita de armazenamento produção de grãos

Page 68: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

68

Os produtores podem empregar maquinário moderno, sementes de boa qualidade e as

melhores técnicas de manejo de solo e de tratamento das culturas. Aliás, tudo isso

permitiu baratear a produção nacional de alimentos nos últimos 30 anos e o consumidor

nacional foi beneficiado e, ao mesmo tempo, os exportadores conseguiram ocupar novas

posições no mercado internacional. Pelas projeções do Ministério da Agricultura para os

anos 2019/202 haverá aumento na produção de grãos e oleaginosas, resta saber se isto

ocorrerá apesar das más condições da infraestrutura e de outros itens do “custo Brasil”,

ou se os demais setores acompanharão e suportarão o crescimento do agronegócio.

Page 69: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

69

6. POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS RELACIONADAS AO AGRONEGÓCIO: UMA CRÍTICA

Os governos têm intervindo na orientação da agricultura nacional desde as décadas de

1960 e 1970, quando então houve a destinação de grandes volumes de crédito

subsidiado para a agropecuária. A partir da década de 1980, a intervenção se deu

principalmente através da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), inclusive

como forma de compensar o esvaziamento da política anterior de crédito rural

subsidiado. As políticas de crédito subsidiado e da PGPM, demandavam consideráveis

somas de recursos, que não puderam ser mantidas a partir das crises da dívida interna e

da externa pelas quais a economia brasileira passou na década de 1980. Finalmente, os

planos de estabilização da economia que se sucederam – Plano Cruzado, Bresser,

Verão, Collor, Collor II, Real – e que introduziram o componente do ajuste fiscal foram

o algoz deste tipo de política, uma vez que havia a necessidade de cortes de gastos e

despesas. Seguiu-se então o movimento de abertura da economia brasileira, na década

de 1990 (Gasques, 2004). A partir desta década as condicionantes que balizaram as

políticas relacionadas ao agronegócio foram a limitação dos gastos governamentais e a

maior exposição da agricultura brasileira ao comércio internacional.

Nos últimos anos, poucos países tiveram um crescimento tão expressivo no comércio

internacional do agronegócio quanto o Brasil. Os números do gráfico a seguir

comprovam a afirmação anterior, pois enquanto em 1989, as exportações do setor eram

de US$ 13,9 bilhões, no ano de 2010 as exportações foram de US$ 76,4 bilhões. Ou

seja, as exportações cresceram mais de cinco vezes em cerca de duas décadas.

Page 70: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

70

Figura 22: Balança comercial brasileira e balança comercial do agronegócio - 1989 a 2010

(MAPA - MIN. DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2010)

Esses resultados levaram inclusive a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA

O COMÉRCIO E DESENVOLVIMENTO (UNCTAD) a prever que o país será o maior

produtor mundial de alimentos na próxima década (Borges, 2004). O Ministério da

Agricultura projeta que o Brasil terá, em 2021, uma produção de grãos superior a 195

milhões de toneladas, numa área pouco superior a 50,7 milhões de hectares (Rossi,

2011).

Apesar do histórico positivo e projeções de produtividade, tanto nacionais como

internacionais, fica a questão: quais políticas públicas o Brasil e especificamente, o

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), precisará desenvolver

para que a agricultura continue trazendo benefícios ao país, como a geração de

empregos, mais alimentos e riqueza e mantenha o compromisso com o meio ambiente,

0

50

100

150

20019

89

1990

1991

1992

1993

1994

1995

1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

EXP. TOTAL IMP. TOTAL EXP. AGRONEGÓCIO

US$ Bilhões

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71

servindo como um contra-fator das ameaças produzidas pelas mudanças climáticas ?

Em suma para que haja uma maior contribuição ao desenvolvimento sustentável do

Brasil ?

6.1. Política de investimento em infraestrutura

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) desenvolvido pelo governo

brasileiro é um programa de expansão do crescimento, através de investimento em

infraestrutura que, aliado a medidas econômicas, vai estimular os setores produtivos

e, ao mesmo tempo, levar benefícios sociais para todas as regiões do país (BRASIL,

2010).

Segundo o governo federal o PAC vai aplicar em quatro anos um total de

investimentos em infraestrutura da ordem de R$ 503,9 bilhões, nas áreas de

transporte, energia, saneamento, habitação e recursos hídricos. A expansão do

investimento em infraestrutura é condição fundamental para a aceleração do

desenvolvimento sustentável no Brasil. Dessa forma, o País poderá superar os

gargalos da economia e estimular o aumento da produtividade e a diminuição das

desigualdades regionais e sociais.

O conjunto de investimentos está organizado em três eixos decisivos: Infraestrutura

Logística, envolvendo a construção e ampliação de rodovias, ferrovias, portos,

aeroportos e hidrovias; Infraestrutura Energética, correspondendo a geração e

transmissão de energia elétrica, produção, exploração e transporte de petróleo, gás

natural e combustíveis renováveis; e Infraestrutura Social e Urbana, englobando

Page 72: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

72

saneamento, habitação, metrôs, trens urbanos, universalização do programa Luz

para Todos e recursos hídricos.

Sob o eixo da Infraestrutura Logística, o plano de investimentos vai significar a

construção, adequação, a duplicação e recuperação, em quatro anos, de 45 mil

quilômetros de estradas, 2.518 quilômetros de ferrovias, ampliação e melhoria de 12

portos, dentre outras iniciativas. Aparentemente parte do gargalo logístico está

considerada nos planos do governo nacional, ao menos para passar por uma

revitalização e um incremento. No entanto o programa não traz à tona uma proposta

de substituição do atual modelo rodoviário por outros meios como o ferroviário ou

hidroviário, apesar do declarado plano de investimento em ferrovias e portos. A

tabela a seguir demonstra que os investimentos feitos pelo PAC no período de 2007

a 2010 no sistema rodoviário foram maiores do que a soma dos investimentos em

todos os demais modais de transporte considerados no programa.

Tabela 6: Previsão de investimento em infraestrutura logística 2007-2010 em R$ bilhões – Brasil

Modal 2007 2008-2010 Total

Rodovias 8,1 25,3 33,4

Ferrovias 1,7 6,2 7,9

Portos 0,6 2,1 2,7

Aeroportos 0,9 2,1 3,0

Hidrovias 0,3 0,4 0,7

Marinha mercante 1,8 8,8 10,6

Total 13,4 44,9 58,3

(BRASIL, 2010)

Page 73: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

73

Para reduzir outro empecilho, relacionado ao armazenamento da produção, o

governo federal anunciou um grande aporte de recursos no Programa de Incentivo à

Irrigação e à Armazenagem (Moderinfra) (BRASIL - MINISTÉRIO DA

AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2010). O aporte faz parte

do Plano Agrícola e Pecuário 2010/2011 do ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento que visa ampliar de 15% para 30% a capacidade total de estocagem

de produtos agrícolas nas propriedades rurais num período de cinco anos.

No lançamento do programa, o ministro Wagner Rossi comentou que “a

possibilidade de manter uma quantidade maior da produção agrícola nas mãos dos

próprios agricultores permite a escolha da hora mais adequada para a

comercialização e, consequentemente, ganho de renda para o produtor”. Ainda na

temática de aumento da renda do agricultor, o Ministério irá investir R$ 2 bilhões

para o Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à

Produção Agropecuária (BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,

PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2010). O referido programa visa incrementar a

competitividade do complexo agroindustrial das cooperativas brasileiras, por meio

da modernização dos sistemas produtivos e de comercialização com consequente

efeito positivo na remuneração dos produtores.

Page 74: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

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6.2. Ações para o fomento do desenvolvimento alocadas ao Ministério da Agricultura

O MAPA possui seus Objetivos Setoriais para o Plano Pluri-Anual 2008-2011 a

partir das Orientações Estratégicas de Governo, do Plano Estratégico do MAPA e do

Diagnóstico Setorial, com ênfase nas situações-problema identificadas pelo órgão.

São eles:

· Impulsionar o desenvolvimento sustentável do país por meio do agronegócio;

· Aumentar a produção de produtos agropecuários não-alimentares e não-

energéticos;

· Garantir a segurança alimentar;

· Ampliar a participação da agro-energia na matriz energética;

(BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2008)

Outras ações voltadas ao desenvolvimento alocadas para o MAPA estão

relacionadas no PAC e no PLANO BRASIL SEM MISÉRIA do governo federal.

São ações de assistência técnica, apoio a institucionalização (organização social,

agrupamentos, associativismos e cooperativismo), desenvolvimento de

infraestrutura e logística de produção, comercialização e desenvolvimento local

sustentável, oferta de sementes de qualidade da EMBRAPA, fornecimento de água

tanto para consumo como irrigação e acesso aos mercados.

Page 75: A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ 2020 - OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL

75

6.3. Ações para Geração de Trabalho e Renda: comparativo entre ações alocadas para as diversas áreas X ações alocadas para a agricultura

A análise combinada dos dados apresentados nas duas tabelas a seguir revela que o

Ministério da Agricultura possui somente 0,72% do total de recursos (R$) alocados

por eixo para todos Ministérios, enquanto a soma dos recursos alocados para ações

relacionadas à transferência de renda, perfaz 90,30%. Com os recursos para o

MAPA, este deve desenvolver ações de assistência técnica, apoio a

institucionalização (organização social, agrupamentos, associativismos e

cooperativismo), desenvolvimento de infraestrutura e logística de produção

comercialização e desenvolvimento local sustentável.

Tabela 7: Demonstrativo sintético de ações por eixo dos Ministérios - Brasil

Ordem Ministério 1 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 3 Total de

ações por Ministério

% das ações

1º MDA 0 0 7 7 2 9 3 1 3 32 19,16

2º MI 0 0 6 0 3 14 1 0 5 29 17,37

3º MTE 5 3 7 3 1 1 2 1 1 24 14,37

4º MDS 7 0 1 1 0 1 0 1 3 14 8,38

5º PR 1 0 3 2 0 6 0 0 1 13 7,78

6º MMA 0 0 1 0 0 1 0 0 8 10 5,99

7º MDIC 0 1 2 1 0 3 0 3 0 10 5,99

8º MAPA 0 0 0 1 1 3 0 1 2 8 4,79

9º a 18º outros 27 16,17

Legenda: 1 – transferência de renda; 2 – geração de trabalho e renda; 2.1 – diagnóstico, mobilização e articulação de parcerias; 2.2 – formação e capacitação para o trabalho; 2.3 – assistência técnica; 2.4 – apoio a institucionalização (organização social, agrupamentos, associativismos e cooperativismo); 2.5 – infraestrutura e logística de produção; 2.6 – acesso a crédito; 2.7 – comercialização; 3 – desenvolvimento local sustentável (articulação em rede).

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76

MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário; MI - Ministério da Integração Nacional; MTE - Ministério do Trabalho e Emprego; MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; PR - Presidência da República; MMA - Ministério do Meio Ambiente; MDIC- Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

(BRASIL - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2008), adaptado pelo autor

Tabela 8: Demonstrativo sintético de recursos (R$) por eixo dos Ministérios

Ordem Ministério Tranferência de renda

Geração Trabalho e

renda

Desenvol. local

sustentavel Total geral % $

1 MPS 45.937.676.039 0 0 45.937.676.039 46,87

2 MDS 23.886.376.767 550.692.164 228.795.120 24.665.864.051 25,17

3 MTE 18.683.583.873 797.106.660 14.330.000 19.495.020.533 19,89

4 MDA 0 3.610.549.630 38.785.600 3.649.335.230 3,72

5 MTur 0 1.797.713.858 19.093.055 1.816.806.913 1,85

6 MAPA 0 697.537.669 5.683.105 703.220.774 0,72

Legenda: MPS - Ministério da Previdência Social MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; MTE - Ministério do Trabalho e Emprego; MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário; MTur - Ministério do Turismo MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;

(BRASIL - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2008), adaptado pelo autor

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77

Inseridos no eixo “Transferência de renda” estão os programas federais que

transferem dinheiro diretamente aos beneficiários, divididos em dois grupos:

1. Programas que atendem a preceitos constitucionais nas áreas de assistência

social (Benefício de Prestação Continuada – BPC), previdência (aposentadorias

e pensões especiais e da área rural) e trabalho (Salário Maternidade, Seguro

Desemprego, Abono Salarial, Salário Família), constituindo-se em

transferências oriundas de direitos sociais instituídos pela Constituição Federal

de 1988;

2. Programas e ações de transferência condicionada de renda, desenhados e

implementados por iniciativa do Governo Federal.

Os programas e ações inseridos no segundo grupo podem ser definidos como

transferências de renda caracterizadas por repasses mensais e contínuos efetuados

pelo governo, independentemente de ressarcimentos ou contribuição prévia por

parte dos beneficiários. Tais programas foram criados com o objetivo de fazer frente

a situações de pobreza e de exclusão social (BRASIL - MINISTÉRIO DO

DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2008).

O Programa Bolsa Família instituído no ano de dois mil e três se destaca no

contexto do segundo grupo. Este tem como principal objetivo, a inclusão social das

famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. A transferência direta de renda

possibilita aliviar em curto prazo os efeitos mais imediatos da pobreza, como a

insegurança alimentar e nutricional, mas o programa reconhece a necessidade de

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integração deste programa com outros, voltados à geração de trabalho, emprego e

renda, e no entanto somente 9% dos recursos totais estão alocados para todas as

iniciativas voltadas à geração de trabalho e renda contempladas no PAC.

Figura 23: Demonstrativo sintético da alocação de recursos (R$) por eixos do PAC

(BRASIL - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2008), adaptado pelo autor.

Tranferência de renda90%

Geração de trabalho e renda

9%

Desenvolvimento local sustentavel

1%

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79

6.4.Comparativo com a importância política dada pela União Européia à agricultura

Comparativamente, a União Européia (EU-27) dá grande importância política à

agricultura e a demonstração disso é que, apesar de representar apenas 4% do PIB

daquele bloco e ocupar menos de 4% da população economicamente ativa, mais de

46% do orçamento da UE é alocado para a política agrícola comum (Silva &

Ferreira, 2011). Apesar da UE-27 também sofrer com o fenômeno da emigração

rural, as áreas rurais representavam cerca de 56% da população em 2004 e geraram

43% do Valor Acrescentado Bruto (VAB)3 do bloco, com uma importante taxa de

emprego de 53% (EUROPEAN COMMISSION, 2007).

De acordo com os dados de dotação orçamentária aos órgãos no ano de 2010

(SENADO FEDERAL - BRASIL, 2011), foi destinado 0,46% do orçamento total ao

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e 0,18% do orçamento ao

Ministério do Desenvolvimento Agrário. Os maiores orçamentos foram destinados

ao refinanciamento da divida pública mobiliaria federal, pagamento de encargos

financeiros da união, ministério da previdência social, transferências a estados,

distrito federal e municípios, ministério da saúde, ministério da defesa, ministério da

educação, ministério do trabalho e emprego, ministério do desenvolvimento social e

combate à fome e ministério da fazenda, com 26,23%; 19,20%; 17,95%; 9,97%;

4,31%; 3,91%; 3,35%; 3,25%; 2,76% e 1,20%, respectivamente, só para se citar as

dez maiores dotações orçamentárias.

3 Tradução do termo original “Gross Value Added (GVA)” como medida do PIB; PIB = VAB + impostos - subsídeos

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80

6.5. Ameaças: o desafio do crescimento versus a inflação.

É possível dizer que a combinação de aceleração do crescimento do país, a forte

redução do desemprego, a alta dos produtos da pauta de exportação brasileira

(principalmente à elevação do preço das commodities) e o aumento das

transferências sociais, apesar da elevação da carga tributária, produziu o momento

de sensação de ganhos de bem-estar de boa parte da população nos anos finais do

governo Lula. Essa constatação, leva ao questionamento se a presidente Dilma

conseguirá manter a curva ascendente de melhora na distribuição de renda que foi

registrada no governo Lula com o mesmo ritmo de crescimento de 4% ou um mais.

Hoje, a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff trabalha com uma meta de

crescimento do PIB superior a 5% ao ano. Talvez essa projeção decorra do fato de

que, em três dos últimos quatro anos, o PIB brasileiro cresceu mais do que 5%4. Em

2007, 2008 e 2010, a expansão da economia nacional foi, respectivamente, de 6,1%,

5,2% e 7,5% (FGV - IBRE - Instituto Brasileiro de Economia, 2011). Todavia, o

atual entusiasmo com a capacidade de crescimento do PIB nacional pode ser pouco

provável, uma vez que dependente da ocorrência simultânea de várias hipóteses

otimistas – aumento do estoque de capital, recuperação da taxa média de

investimento do PIB ao longo dos próximos quatro anos, expansão da oferta de

trabalho, aumento da produtividade total dos fatores (PTF), redução da inflação,

dentre outros. Só a taxa de investimento brasileira, por exemplo, está entre as mais

baixas do mundo emergente e, segundo pesquisa recente do Banco Central com

4 A exceção foi o ano de 2009, quando a crise global levou o PIB brasileiro a uma retração de 0,6%.

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analistas, permanece muito aquém do necessário para garantir crescimento de 5,5%

ao ano. Para manter crescimento de 5,5% no futuro, o país precisa investir o

equivalente a 24% do PIB, mas hoje a taxa de investimento é da ordem de 18%

(FOLHA DE SÃO PAULO, 2011). O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação

Getúlio Vargas (IBRE/FGV), estima que o PIB em 2011 deve ficar em torno de

4,3% enquanto o FMI projeta um valor de 4,5% (INTERNATIONAL MONETARY

FUND, 2011) e o Banco Central 4,0% % (BANCO CENTRAL, 2011). A taxa de

inflação está acima da meta, e por isso, estamos vivendo um ciclo de arroxo

monetário. Aliás, na linha do arroxo monetário, o governo de Dilma Rousseff

provavelmente será capaz de cumprir com o prometido corte do orçamento de R$ 50

bilhões, desde que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) repita o

ocorrido em 2010, sendo o recurso empregado neste, somente 60% do que foi

orçado, economizando R$ 15 bilhões. Depois, outros R$ 14 bilhões em cortes

podem ser obtidos mantendo as despesas operacionais - incluindo saúde, educação e

outras despesas discricionárias – novamente, no mesmo nível em termos reais de

2010 e finalmente os cortes nas emendas parlamentares podem contribuir com mais

R$ 18 bilhões de economia (FGV - FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2011).

Outros cortes contribuiriam com os R$ 3 bilhões faltantes.

Os economistas dizem que o país precisa crescer menos para acomodar as pressões

inflacionárias, fazendo com que a presidente Dilma Rousseff não possa usar da

mesma estratégia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para manter o

desempenho conseguido por ele — um crescimento econômico na faixa de 7% —

uma vez que esse nível poderá arriscar a capacidade de incrementar ou manter as

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conquistas sociais. (FGV - IBRE - Instituto Brasileiro de Economia, 2011). Trazer a

inflação de volta ao centro da meta de 4,5% é um processo que, numa visão quase

consensual, deve durar pelo menos até o fim de 2012, consumindo, portanto, metade

do mandato presidencial de Dilma Rousseff. A combinação à frente de elevada taxa

de juros, algum ajuste fiscal e o aperto das condições de oferta crédito não se

encaixa com projeções muito otimistas para o investimento nem para a oferta de

trabalho, levando, por conseguinte, a uma visão não muito animadora do

crescimento da economia no curto e médio prazo (FGV - IBRE - Instituto Brasileiro

de Economia, 2011), tanto que no Relatório Trimestral de Inflação emitido em

junho do presente ano, o Banco Central estimou que a inflação e 2011 ficará no

nível de 5,8% (BANCO CENTRAL, 2011).

Por outro lado, a própria presidente Dilma Rousseff disse durante o discurso da

cerimônia de assinatura de protocolo entre a Petrobras e a Cemig para a implantação

de uma fábrica de fertilizantes na cidade de Uberaba (MG) em março de 2011, que é

possível frear a inflação sem estancar o desenvolvimento econômico e sem provocar

quedas nos índices de emprego. O caminho ideal, na visão da presidente, é aumentar

a oferta de bens e serviços para levar o País a taxas de crescimento constantes (RIO

Negócios, 2011). "Tem muita gente que acha que você só controla a inflação

derrubando o crescimento econômico, mas se controla a inflação não negociando

com ela. Se controla a inflação também fazendo o País crescer, aumentando a

oferta de bens e serviços", observou a presidente. Dilma também fez referência à

necessidade de se estimular o mercado interno e o caminho para isso seria a

continuidade e o avanço de programas sociais que, iniciados no governo Lula,

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reduziram de forma expressiva o número de famílias pobres no País e incorporaram

novos consumidores ao mercado. Para tanto, se não houver o aumento de impostos,

Dilma terá de enfrentar uma possível política de trindade: um superávit primário

elevado para garantir que as taxas de juros caiam, manutenção da regra para o ajuste

do salário mínimo e investimento público suficiente para fornecer infraestrutura

minimamente adequada para os próximos anos.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES

A FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION prevê que as commodities

terão pela frente uma década de preços altos e grande volatilidade, devido a firme

demanda e limitações de oferta, devido a eventos naturais ou por redução no incremento

de produtividade (VALOR ECONÔMICO, 2011). No estudo denominado

"Perspectivas Agrícolas 2011-2020" realizado junto com a Organização para

Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), a FAO reserva ao Brasil um

papel ainda mais relevante como fornecedor mundial de alimentos e aborda um pacote

de medidas para estimular o aumento da produção global e a redução das oscilações de

preços, que nos últimos anos pressionaram a inflação e provocaram protestos em

diversos países. Um dos protestantes foi o próprio presidente da França, Nicolas

Sarkozy, que propôs a regulamentação do mercado mundial de commodities como

forma de se evitar a alta dos preços dos alimentos, propondo inclusive a formação de

estoques mundiais de alimentos. Deve-se entender aqui que a motivação do presidente

francês quanto à questão da oferta de alimentos, não necessariamente reflete o perigo de

desnutrição para seu país, tanto que segundo a FAO, todos os países desenvolvidos

somados representavam em 2009 apenas 2% das pessoas subnutridas de um total de

1,02 bilhões de pessoas subnutridas (FAO - FOOD AND AGRICULTURE

ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2009) e na França, de acordo com os

indicadores do Banco Mundial, o índice de subnutrição é ao redor de 5% da população

(Trading Economics, 2010). Na verdade, no momento em que o presidente francês

iniciou esta discussão tentando implantar um regime de controle de estoques

reguladores de alimentos, em especial as commodities agrícolas, o mesmo amargava

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uma considerável baixa de popularidade e aceitação em seu país. Além disso, as nações

europeias já não possuem mais fronteiras agrícolas para explorar, mas pelo fato de

serem detentores de altas tecnologias, seja na agropecuária ou em outras áreas, fica um

tanto fácil insistir em colocar e ditar regras a respeito de um mercado controlado de

commodities agrícolas, principalmente porque praticamente não exportam alimentos.

Estes países quando muito conseguem equilibrar suas demandas internas e são muito

susceptíveis a eventos externos, como os climáticos que afetaram a produção de grãos

na Europa Oriental no ano de 2011, que alteraram o panorama produtivo Europeu

radicalmente e com ele os preços dos alimentos. Em suma, o discurso do presidente

francês demonstra a intenção daquele continente em adotar um regime que possa

controlar também o preço das matérias primas alimentares para evitar ficar refém de

países com comprovada competência e vocação para produzir alimentos como o Brasil.

Além disso, os países em desenvolvimento deverão apresentar significativas mudanças,

nos seus hábitos alimentares, possibilitadas pelo desenvolvimento e incrementos de

renda, o que representa um maior consumo de alimentos e de variedades de alimentos.

Assim, os alimentos seriam primariamente consumidos em suas regiões produtoras, e os

excedentes exportados. Sabiamente, o presidente francês e outros aliados no continente

europeu, encampa a discussão no tema da segurança alimentar mundial para tentar

emplacar a regulamentação de preços das commodities alimentares, por saber que para o

mundo voltar a produzir o suficiente para a população, haverá sem dúvida um aumento

de preços e consequentemente a Europa terá que pagar mais caro pelos alimentos que

consome.

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O leitor mais incauto poderia encarar a política francesa como uma auto-defesa, seja sob

a ótica de garantia de fornecimento de alimentos, seja como preservação da economia

nacional, racionalizando os recursos destinados à importação de alimentos. Mas deve-se

ressaltar que a França se destaca por ser um dos países que mais subsidia a agropecuária

e que impõem barreiras alfandegárias e sanitárias exageradas a todos os tipos de

alimentos que entram no país, estimadas em € 500 milhões. Ou seja, o país está disposto

a dispender tamanho montante de recursos com várias medidas e manobras, mas não

considera que este mesmo montante poderia ser utilizado para remunerar

adequadamente os agricultores que estão nos outros países produtores de alimentos,

promovendo inclusive a diminuição das desigualdades, com todos os benefícios

decorrentes de tal fato nos países onde se localizam estes produtores.

Enquanto isso, o Brasil com sua agricultura pujante, continua sua escalada para se

tornar um dos maiores produtores e exportadores de alimentos no mundo, tanto que em

entrevista recente ao jornal Valor Econômico (Rossi, 2011), o Ministro da Agricultura –

Wagner Rossi – declarou que o Brasil se prepara para colher a maior safra de sua

história e quebrar novo recorde na produção, caso as previsões sejam confirmadas.

Serão 154 milhões de toneladas de grãos na safra 2010/2011, tendo havido um

incremento de produtividade da agricultura brasileira de 774% em 50 anos. A demanda

internacional vai continuar, o que mantêm os preços em patamares rentáveis e incentiva

o plantio.

Voltando ao documento da FAO citado na abertura deste capítulo, a expectativa é que

os custos dos alimentos até declinem em relação aos níveis do início de 2011,

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dependendo do produto, mas, na média e em termos reais, deverão subir até 50% no

caso das carnes e 20% no dos cereais nos próximos anos. Assim, considerando a

expectativa de crescimento da produção agrícola do Brasil, o mesmo tende a abocanhar

boa parte dos ganhos de valor. O agronegócio brasileiro tem potencial para crescer

ainda mais, em função de sua maior competitividade na disponibilidade de terras

agricultável, tecnologia e capacidade empreendedora. Em termos tecnológicos, o

crescimento do agronegócio ocorrerá, principalmente, pelo ganho de produtividade

resultante do desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias que surgirão, bem como

a adoção de boas práticas agronômicas que garantam sustentabilidade aliada à

produtividade.

No entanto, se houver uma nova recessão internacional, ou se as áreas agrícolas forem

afetadas por problemas climáticos ou ainda se houver aumento de protecionismo seja

através de barreiras técnicas ou econômicas como as políticas de subsídios pelos países

desenvolvidos, o cenário otimista para o Brasil poderá ser contrariado. Permanecem

também algumas incertezas relacionadas a crescimento econômico abaixo do previsto

para evitar o retorno da inflação em taxas elevadas e falta de investimento suficiente em

infraestrutura física que permitam o crescimento da produção e maior rentabilidade para

o setor, haja vista a necessidade de escoamento da produção através de longas distâncias

pelo território brasileiro. Sobre este último ponto, considerando o cenário de incremento

de produtividade da agricultura brasileira, a ausência de condições para escoar a

produção irá fazer com que os excedentes fiquem “represados” no interior do país e o

produto que chegar a ser exportado será onerado por fretes cada vez mais caros. Neste

cenário paradoxo, o produtor por ser eficiente da “porteira para dentro” será cada vez

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mais penalizado “da porteira para fora”, refletindo em perda de competitividade

internacional bem como na estagnação ou diminuição do agronegócio brasileiro.

O Estado precisa desenvolver uma inteligência estratégica, voltada para o agronegócio,

dada a sua relevância para o país. Neste sentido, a agricultura precisa ser enxergada

como mais uma ferramenta de desenvolvimento do país, pois permite a geração de

riqueza que pode ser aproveitada internamente para o desenvolvimento econômico e de

sua população. É fato que existe ainda uma grande desigualdade na distribuição da

renda no Brasil, apesar de que a mesma tem reduzindo nos últimos anos e décadas, mas

a agricultura tem mostrado seu papel fundamental para a redução da pobreza pois a

renda advinda do trabalho rural remunerado contribui para a redução da desigualdade,

inclusive tanto ou mais do que programas de transferência de renda.

Os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, englobados dentro do

PAC e destinatários dos maiores montantes de recursos do programa, são importantes

pois ajudam a reduzir imediatamente a desigualdade de renda no Brasil e resgatam

pessoas que estão na zona da pobreza. No entanto este tipo de subsídio corre o risco de

ser eventualmente descontinuado, seja pela escassez de recursos devido a uma nova

crise financeira mundial, seja por orientação de outro partido político que assuma a

presidência do país. Pelo motivo que for, se isto acontecer, haverá um grande impacto

sobre a população dependente da política de transferência de renda, ainda que este

impacto possa ser minimizado pela herança estrutural advinda das ações que estão

sendo implementadas hoje e no curto prazo. Sob esta ótica, avaliando-se as ações

alocadas para o Ministério da Agricultura no PAC observa-se que algumas ações são

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estruturais, ou sejam, viabilizam o desenvolvimento de uma base sobre a qual o

crescimento do país pode se alicerçar. Por outro lado, também deve ficar claro que o

Brasil não pode se apoiar unicamente no modelo de desenvolvimento agro-exportador,

mesmo porque este setor será incapaz de empregar sozinho os milhões de brasileiros

com idade produtiva entre 15 e 65 anos de idade que viverão em 2020, dentro de uma

população estimada em 207 milhões de habitantes. O país precisa aproveitar este

momento de boa evolução de produção e renda, para pensar numa política de longo

prazo, visando inclusive os outros setores da economia como indústria e serviços.

Por tudo que se apresentou até aqui pode-se afirmar que a demanda continuada por

alimentos nas próximas décadas representa uma oportunidade para o desenvolvimento

do Brasil, no sentido dado neste documento, mas as políticas nacionais precisam ser

elaboradas de tal maneira que o desenvolvimento seja suportado no início pelo superávit

do agronegócio e conforme a base para os crescimento dos demais setores for sendo

solidificada, a contribuição para o superávit possa ser equitativamente distribuída,

reduzindo inclusive o risco da dependência do país de um único setor superavitário.

A implementação de uma política nacional para fortalecer os demais setores – serviços e

indústria - para que estes se tornem superavitários também, além de permitir o maior

crescimento nacional, reduzirá o impacto no caso de uma eventual crise que afete o

agronegócio. Por outro lado, por tudo que se leu até aqui, fica claro que este não pode

ser relegado, no entanto apesar da grande contribuição do setor agrícola tanto para a

balança comercial como para o desenvolvimento do país, os recursos alocados pelo

PAC para a agricultura e infraestrutura de apoio são muito menores em comparação aos

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recursos alocados para outras as iniciativas e eixos. Deve-se relembrar que as riquezas

geradas pelo agronegócio também alimentam a economia como um todo e propiciam

condições para a melhoria de qualidade de vida, principalmente nas pequenas e médias

cidades brasileiras, sendo que grande maioria das pequenas cidades brasileiras tem sua

economia alicerçada no agronegócio. Além disso, as análises econômicas demonstraram

que a agricultura funciona como um amortecedor macro-econômico e que por isto

também deve ser mantida forte.

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ANEXO I - ProjeçõesdoAgronegócio–Brasil2008/09a2018/19

O trecho a seguir é a transcrição do tópico Principais Resultados e Tendências das

Projeções homônimo do documento Projeções do Agronegócio – Brasil 2008/09 a

2018/19 (MAPA - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E

ABASTECIMENTO, 2009).

O agronegócio brasileiro tem um grande potencial de crescimento. O mercado

interno é expressivo para todos os produtos analisados, e o mercado internacional

tem apresentado acentuado crescimento do consumo. Países superpopulosos terão

dificuldades de atender às demandas devido ao esgotamento de suas áreas

agricultáveis. As dificuldades de reposição de estoques mundiais; o acentuado

aumento do consumo especialmente de grãos como milho, soja e trigo; o processo

de urbanização em curso no mundo, criam condições favoráveis aos países como o

Brasil, que têm imenso potencial de produção e tecnologia disponível. A

disponibilidade de recursos naturais no Brasil é fator de competitividade.

Os produtos mais dinâmicos do agronegócio brasileiro deverão ser a soja, milho,

trigo, carnes, etanol, farelo de soja, óleo de soja e leite. Esses produtos indicam

elevado potencial de crescimento para os próximos anos. A produção de grãos (soja,

milho, trigo, arroz e feijão) deverá passar de 139,7 milhões de toneladas em 2007/08

para 180,0 milhões em 2018/19. Isso indica um acréscimo de 40,0 milhões de

toneladas à produção atual do Brasil. A produção de carnes (bovina, suína e aves),

deverá aumentar em 12,6 milhões de toneladas. Isso representa um acréscimo de

51,0% em relação à produção de carnes de 2008. Três outros produtos com elevado

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crescimento previsto são açúcar, mais 14,5 milhões de toneladas, etanol, 37,0

bilhões de litros e leite, 9,0 bilhões de litros.

Haverá expressiva mudança de posição do Brasil no mercado mundial. A relação

entre as exportações brasileiras e o comércio mundial, mostra que em 2018/19, as

exportações de carne bovina brasileira representarão 60,6% do comércio mundial; a

carne suína, representará 21,0% do comércio, e a carne de frango deverá representar,

89,7% do comércio mundial. Esses resultados indicam que o Brasil continuará a

manter sua posição de primeiro exportador mundial de carne bovina e de carne de

frango.

Apesar do Brasil apresentar nos próximos anos forte aumento das exportações, o

mercado interno será um forte fator de crescimento. Do aumento previsto nos

próximos 11 anos na produção de soja e milho, 52,0% deverá ser destinado ao

consumo interno, distribuídos da seguinte forma: 57,9% do aumento da produção de

milho devem ir para o mercado interno em 2018/19, e 44,9% do aumento da

produção de soja deverá ir para o consumo interno. Haverá, assim, uma dupla

pressão sobre o aumento da produção nacional, o crescimento do mercado interno e

as exportações do país. Nas carnes, também haverá forte pressão do mercado

interno. Do aumento previsto na produção de carnes, de 12,6 milhões de toneladas

entre 2007/08 a 2018/19, 50,0% deverão ser destinados ao consumo interno e o

restante dirigido às exportações.

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Também com relação a outros produtos o Brasil deve melhorar sua posição no

comércio mundial, dada pela relação entre quantidade de exportação e comércio

mundial. Para a soja, essa relação deverá passar de 36,0% em 2008 para 40,0% em

2018/19; para o óleo de soja, de 63,0% para 73,5%; para o milho, de 13,0% para

21,4%, e para o açúcar, de 58,4% para 74,3%.

O crescimento da produção agrícola deve dar–se com base na produtividade. Deverá

ser mantido forte crescimento da produtividade total dos fatores como trabalhos

recentes têm mostrado. Os resultados revelam maior acréscimo da produção

agropecuária que os acréscimos de área. As previsões realizadas até 2018/19 são de

que a área de soja deve crescer 5,2 milhões de hectares em relação a 2007/08; a área

de milho, 1,75 milhão de hectares; a área de cana deve crescer de 6,0 milhões de

hectares; as áreas de arroz e trigo devem aumentar e o café deve sofrer redução de

área. No total das lavouras analisadas, o Brasil deverá ter um acréscimo de área da

ordem de 15,5 milhões de hectares nos próximos anos.

O documento aponta as seguintes incertezas

1. Recessão Mundial;

2. Aumento do grau de protecionismo nos países importadores;

3. Mudanças climáticas severas;