Upload
lothar-langer
View
100
Download
2
Embed Size (px)
Citation preview
1
Lothar Langer Junior
MBA em Gestão Empresarial Turma 8
A DEMANDA POR ALIMENTOS NO FUTURO PRÓXIMO – CENÁRIO ATÉ
2020: OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO DO BRASIL ?
Projeto Final apresentado à Diretoria Acadêmica da Business School São Paulo em cumprimento parcial às exigências para obtenção do
certificado de conclusão do MBA em Gestão Empresarial.
Orientador: Prof. Reinaldo Belickas Manzini
São Paulo 2011
2
Este projeto final de MBA/ Gestão Empresarial está aprovado.
____________________________________
Prof. Armando Dal Colletto
Diretor Geral de Programas Executivos
____________________________________
Prof. Reinaldo Belickas Manzini
Orientador
3
.
4
EPÍGRAFE
Oração do Engenheiro Agrônomo
"HERDARÁS O SOLO SAGRADO E A FERTILIDADE
SERÁ TRANSMITIDA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO;
PROTEGERÁS TEUS CAMPOS CONTRA A EROSÃO
E TUAS FLORESTAS CONTRA A DESOLAÇÃO;
IMPEDIRÁS QUE TUAS FONTES SEQUEM
E QUE TEUS CAMPOS SEJAM DEVASTADOS;
PARA QUE TEUS DESCENDENTES
TENHAM ABUNDÂNCIA PARA SEMPRE".
5
RESUMO
A avaliação do panorama mundial sinaliza para a manutenção de um cenário favorável
ao Brasil, tanto pela demanda continuada de alimentos sustentada pelo crescimento
populacional projetado como também pelas externalidades positivas geradas
internamente no país, advindas da exportação dos alimentos para o mundo, na forma de
melhor remuneração ao agricultor, saldo positivo da balança comercial, efeito
amortecedor macro-econômico em momentos de crise financeira, redução da emigração
rural, dentre outros. No entanto, este cenário positivo pode ser contrariado se o país não
desenvolver uma inteligência estratégica que considere a agricultura como mais uma
ferramenta de desenvolvimento do país, pois permite a geração de riqueza a qual pode
ser aproveitada internamente para o desenvolvimento econômico e de sua população. A
redução da desigualdade de renda não deve estar apoiada somente nos programas de
transferência de renda. O país precisa aproveitar este momento de boa evolução de
produção e renda, para desenvolver uma política de longo prazo, visando inclusive
tornar os outros setores da economia como indústria e serviços superavitários, tal como
o agronegócio e criar condições para o estabelecimento de uma base sobre a qual o
crescimento do país possa se alicerçar.
Palavras-chaves: agricultura, agronegócio, crescimento populacional, desenvolvimento,
remuneração, desigualdade de renda, índice de Gini, PAC, FOME ZERO, PLANO
BRASIL SEM MISÉRIA.
6
SUMMARY
The evaluation of the global outlook signalize to maintain a favorable scenario for
Brazil, both by continued demand for food due to the projected population growth as
well as by the positive externalities generated in the country, coming from the export of
food to the world, in the form of better remuneration to the farmer, positive balance of
trade, macro-economic dampening effect in times of financial crisis, reduced rural out-
migration, among others. However, this positive scenario can be defeated if the country
does not develop a strategic intelligence to consider agriculture as one more tool for a
country's development because it allows the generation of wealth that could be used
internally for economic development and its population. The reduction in income
inequality should not be supported only by income transfer programs. The country
needs to utilize this time with a good evolution of both production and income, to
develop a long-term policy in order to have a surplus from the other sectors from the
economy, like industry and services, such as agribusiness and to create conditions for
establishing a base on which the country's growth can be grounded.
Keywords: agriculture, agribusiness, population growth, development, salary, income
inequality, Gini index, PAC, FOME ZERO, PLANO BRASIL SEM MISÉRIA.
7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 7: Curva de crescimento populacional projetado até o ano de 2150 .................. 15
Figura 8: Relação de terra agricultável por pessoa em função do crescimento populacional desde 1960 e projetado até 2020 ............................................................. 17
Figura 9: Subnutridos em 2009, por região no mundo ................................................. 20
Figura 10: Os quatro eixos articuladores do programa FOME ZERO .......................... 21
Figura 1: Evolução do PIB nominal – América Latina – Países selecionados - 2004 a 2011 ............................................................................................................................ 23
Figura 2: PIB real per capita - América Latina – Países selecionados - 1980 a 2010 .... 24
Figura 3: Índice de Gini - América Latina – Países selecionados - 2008 ..................... 27
Figura 4: Dispersão da desigualdade de renda (Índice de Gini) versus o PIB per capita – América Latina – Países selecionados – 2001-2010 ..................................................... 29
Figura 5: Índice de Gini - Brasil - 1976 a 2009 ............................................................ 33
Figura 6: Contribuição acumulada por fonte para a evolução do coeficiente de Gini (1996 a 2009) .............................................................................................................. 34
Figura 11: Participação do PIB do Agronegócio Brasileiro no PIB do Brasil - 1994 a 2009 ............................................................................................................................ 44
Figura 12: Comparativo do saldo da balança comercial do agronegócio e dos demais setores ......................................................................................................................... 45
Figura 13: Balança Comercial, Brasil em Janeiro de 2011 ........................................... 46
Figura 14: Países membros da OCDE.......................................................................... 52
Figura 15: PIB agrícola per capita da população agrícola ............................................ 53
Figura 16: Comparativo PIB agrícola per capita versus associação à OCDE ................ 54
Figura 17: PIB per capita do agronegócio (Reais de 2008) .......................................... 55
Figura 18: Índice de urbanização das regiões e do Brasil: população urbana/população total (em %) ................................................................................................................ 57
Figura 19: Salário Rural/Salário Mínimo: 1986–2008 ................................................. 60
Figura 20: Fontes de crescimento de produção: expansão da área cultivada versus colheitas para os principais cultivos básicos importantes (cereais, raízes, tubérculos e leguminosas) ............................................................................................................... 64
Figura 21: Comparação entre capacidade estática de armazenamento e produção de grãos - Brasil - 2000 a 2010 ........................................................................................ 67
Figura 22: Balança comercial brasileira e balança comercial do agronegócio - 1989 a 2010 ............................................................................................................................ 70
Figura 23: Demonstrativo sintético da alocação de recursos (R$) por eixos do PAC .... 78
8
LISTA DE TABELAS Tabela 1: Distribuição do uso da terra no mundo ......................................................... 18
Tabela 2: Contribuição proporcional de cada componente da renda familiar para a redução da desigualdade: Regiões e Brasil em 2001 e 2008. ........................................ 37
Tabela 3: Taxa média de crescimento por setor. Brasil 1994 - 2004............................. 47
Tabela 4 : Diferenciação entre produtos Especialidades e Commodities ...................... 50
Tabela 5: Custos logísticos 2009 - Impacto do frete na receita do produtor nacional .... 66
Tabela 6: Previsão de investimento em infraestrutura logística 2007-2010 em R$ bilhões – Brasil ....................................................................................................................... 72
Tabela 7: Demonstrativo sintético de ações por eixo dos Ministérios - Brasil .............. 75
Tabela 8: Demonstrativo sintético de recursos (R$) por eixo dos Ministérios .............. 76
9
SUMÁRIO AGRADECIMENTOS e DEDICATÓRIAS .................................. Erro! Indicador não definido.
EPÍGRAFE ............................................................................................................................... 4
RESUMO ................................................................................................................................. 5
SUMMARY ............................................................................................................................. 6
LISTA DE ILUSTRAÇÕES ..................................................................................................... 7
LISTA DE TABELAS .............................................................................................................. 8
SUMÁRIO ............................................................................................................................... 9
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 10
2. PROBLEMA DE PESQUISA ............................................................................................. 12
2.1. Objetivos gerais e específicos .................................................................................. 12
3. JUSTIFICATIVA............................................................................................................ 13
4. REFERENCIAL TEÓRICO / CONSTATAÇÕES. ............................................................. 14
4.1. Cenário do crescimento da população mundial e demanda por alimentos .................. 14
4.2. Agricultura e desenvolvimento econômico e social .................................................. 22
4.3. A agricultura brasileira é sustentável ? ..................................................................... 39
4.4. A contribuição da agricultura para a economia brasileira .......................................... 43
4.5. A agricultura e a remuneração do agricultor ............................................................. 49
4.6. Migração da população rural e urbanização. ............................................................. 56
5. PROJEÇÕES DO AGRONEGÓCIO ................................................................................... 61
6. POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS RELACIONADAS AO AGRONEGÓCIO: UMA CRÍTICA ................................................................................................................................ 69
6.1. Política de investimento em infraestrutura ................................................................ 71
6.2. Ações para o fomento do desenvolvimento alocadas ao Ministério da Agricultura .... 74
6.3. Ações para Geração de Trabalho e Renda: comparativo entre ações alocadas para as diversas áreas X ações alocadas para a agricultura ............................................................... 75
6.4. Comparativo com a importância política dada pela União Européia à agricultura ..... 79
6.5. Ameaças: o desafio do crescimento versus a inflação. .............................................. 80
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES ................................................................. 84
BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................... 91
ANEXO I - Projeções do Agronegócio – Brasil 2008/09 a 2018/19 ......................................... 98
10
1. INTRODUÇÃO
A ONU estima que, em 2025, o número de habitantes deste planeta alcançará 8 bilhões;
passando a 9,3 bilhões em 2050, para, posteriormente, estabilizar-se ao redor de 10,5 ou
11 bilhões de pessoas.
Praticamente a totalidade desse futuro crescimento populacional ocorrerá nos países em
desenvolvimento e o mundo precisará, portanto, alimentar, abrigar e prestar assistência
a cerca de 5 bilhões de pessoas a mais do que hoje. Essa população crescente, somada a
padrões de vida mais elevados – particularmente nos países em desenvolvimento –
exercerá uma enorme pressão sobre a terra, a água, a energia e outros recursos naturais.
Por outro lado, o Brasil vem consolidando sua posição nos últimos anos, como um dos
maiores produtores e fornecedores de alimentos e fibras para o mundo. Sua participação
crescente no comércio internacional de produtos do agronegócio é resultado de uma
combinação de fatores como capacidade empreendedora, investimentos em pesquisa,
infraestrutura, tecnologia, da integração das cadeias produtivas, além da própria
extensão territorial agricultável do País.
O agronegócio é um dos mais dinâmicos e inovadores segmentos da economia
brasileira, adaptando-se continuamente às novas demandas dos consumidores e que
mais tem contribuído para a formação do saldo da balança comercial do país,
respondendo por cerca de 25% do PIB nacional. Além disso, as riquezas geradas pelo
agronegócio alimentam a economia como um todo e propiciam condições para a
11
melhoria de qualidade de vida, principalmente nas pequenas e médias cidades
brasileiras, sendo que grande maioria das pequenas cidades brasileiras tem sua
economia alicerçada no agronegócio. O desenvolvimento do agronegócio reflete na
economia dessas localidades, que também apresentam um bom desempenho.
Este setor tem sido o grande responsável pela evolução da economia brasileira nos
últimos anos e a agricultura pode ser uma ferramenta de desenvolvimento de um país.
Diante deste contexto e analisando projeções futuras, discutir-se-á se o Brasil, apoiado
pelo agronegócio conseguirá tirar proveito da demanda mundial futura por alimentos
para se desenvolver, superando questões como a migração da população rural e aumento
da urbanização, remuneração do agricultor e distribuição de renda, e outros fatores.
12
2. PROBLEMA DE PESQUISA
Assumindo-se inicialmente como premissa o aumento da demanda mundial por
alimentos atrelada ao aumento populacional projetado, a segunda parte do título
deste trabalho “... oportunidade para o desenvolvimento do Brasil ?” remete à
avaliação feita neste trabalho, se o país está estruturado ou se estruturando para que,
sendo um grande provedor mundial de alimentos, possa criar uma base para se
desenvolver.
2.1. Objetivos gerais e específicos
Este trabalho, de caráter teórico exploratório, tem por objetivo geral demonstrar
através da análise de textos, livros ou seus capítulos, entrevistas e matérias
publicadas em jornais, sítios eletrônicos e outras fontes, de caráter científico ou não,
que o agronegócio é uma importante ferramenta para o desenvolvimento do Brasil.
Para substanciar a análise anterior, avaliou-se especificamente as ações e políticas
públicas voltadas à agricultura ou ao agronegócio.
Em tempo, cumpre esclarecer que o presente trabalho se restringe mormente à
contribuição da agricultura ou do agronegócio e não tem a intenção de discutir
outros aspectos como educação, direito ao trabalho, cuidados médicos, para citar
alguns, e o impacto destes sobre a população e consequentemente no
desenvolvimento do país.
13
3. JUSTIFICATIVA
A discussão do presente trabalho tem seu cerne no cenário de desenvolvimento do
Brasil apoiado na temática da produção de alimentos e consequentemente, permeia
também por outros assuntos, sendo um deles a questão da Segurança Alimentar que
é um elemento crítico e uma constante preocupação dos povos e nações.
A Cúpula Mundial da Alimentação de 1996 definiu a Segurança Alimentar como
existente "quando todas as pessoas em todos os momentos têm acesso a suficientes
alimentos seguros e nutritivos para manter uma vida saudável e ativa" (WHO -
World Health Organization, 2011) (FAO - FOOD AND AGRICULTURE
ORGANIZATION, 2010).
Há um grande debate em torno da segurança alimentar, com alguns argumentando
que a) há comida suficiente no mundo para alimentar a todos de forma adequada,
sendo que o problema está na distribuição; b) as necessidades de alimentos no futuro
podem ou não ser satisfeitas pelos níveis atuais de produção e c) a questão da
segurança alimentar nacional é essencial - ou pode deixar de ser, por causa do
comércio global.
De qualquer forma, o tema é atual e qualquer discussão que englobe produção de
alimentos, permeia pela questão da Segurança ou Insegurança Alimentar.
14
4. REFERENCIAL TEÓRICO / CONSTATAÇÕES.
4.1.Cenário do crescimento da população mundial e demanda por alimentos
A população mundial, que em 1950 chegava a 2,5 bilhões e em 1980 atingiu 4,4
bilhões, ultrapassou os 6 bilhões de pessoas no ano 2000. Estima-se que o número
de habitantes deste planeta alcançará 8 bilhões em 2025, passando a 9,3 bilhões em
2050; para estabilizar-se posteriormente, ao redor de 10,5 ou 11 bilhões conforme
exibido na figura a seguir (United Nations Department of Economic and Social
Affairs, 2002).
Praticamente a totalidade desse crescimento populacional futuro ocorrerá nos
chamados países em desenvolvimento. E o mundo precisará, portanto, alimentar,
abrigar e prestar assistência a cerca de 5 bilhões de pessoas a mais. Essa população
crescente, somada a padrões de vida mais elevados – particularmente nos países em
desenvolvimento – exercerá uma enorme pressão sobre a terra, a água, a energia e
outros recursos naturais. (United Nations Department of Economic and Social
Affairs, 2002) principalmente quando se considera que a principal fonte de alimento
para a população do mundo é a agricultura1.
1 O termo agricultura usado aqui, inclui também a criação de gado, produção de pescado (aquicultura) e da silvicultura.
15
Figura 1: Curva de crescimento populacional projetado até o ano de 2150
(United Nations Department of Economic and Social Affairs, 2002)
Atualmente, cerca de 11% da superfície terrestre do mundo já é utilizada na
produção agrícola, incluindo as terras cultivadas anualmente e as terras com culturas
perenes. (United Nations Department of Economic and Social Affairs, 2002) (FAO -
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS,
2003) (CIA - Central Intelligence Agency).
Ao nível global há ainda terras suficientes com potencial arável não usadas.
Fazendo-se uma avaliação quanto aos tipos de solos, relevos e climas com as
necessidades das principais culturas sugere-se que estariam disponíveis cerca de 2,8
bilhões de hectares a mais, sendo que esta extensão é quase o dobro do que é
0
2
4
6
8
10
12
1950 2000 2050 2100 2150
Popu
laçã
o (b
ilhõe
s)
Projetado
Países desenvolvidos Países em desenvolvimento Mundo
16
atualmente cultivado. No entanto, apenas uma fração desta terra extra é
realisticamente disponível para a expansão agrícola no futuro previsível, pois um
tanto é necessária para a preservação da cobertura florestal, bem como suportar o
desenvolvimento de infraestrutura das regiões. Ouras questões como acessibilidade
aos locais e outras restrições também limitam essa expansão (FAO - FOOD AND
AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2002).
No sul da Ásia, Leste da Ásia e da Europa, a maioria das terras já é utilizada para a
agricultura havendo pouco espaço para a expansão das terras agrícolas ou para
irrigação. Na Ásia em desenvolvimento, há um aumento da demanda por alimentos
devido ao desenvolvimento econômico e ao crescimento da população, que terá de
ser satisfeito pelo aumento do rendimento das colheitas com os recursos hídricos
existentes e pelo aumento das importações, pois a quantidade limitada de fontes
inexploradas de água doce na região não permitirá a ampliação da agricultura
irrigada num ritmo semelhante ao das últimas décadas. Aliás, atualmente a Ásia é o
continente que apresenta os índices de densidade demográfica mais elevados do
mundo, e que continuam subindo, embora a taxa de crescimento esteja atualmente
em declínio. Hoje, há cerca de um sexto de hectare de solo cultivável per capita na
Ásia Oriental e Meridional. Tendo em vista o crescimento populacional e a escassez
de terras disponíveis para a expansão agrícola, a proporção de solo cultivável per
capita diminuirá cada vez mais.
Na Ásia Ocidental e no Norte da África, o aumento da produção agrícola é limitado
pelos recursos hídricos limitados e as importações deverão aumentar para atender à
17
demanda crescente. Na América Latina e na África Sub-Saariana, ainda há potencial
para a expansão de terras agrícolas, bem como para aumentar a produtividade.
Deve-se observar, no entanto que no caso da América Latina, a adoção de
tecnologias, sejam elas o emprego de agroquímicos, irrigação, mecanização ou da
alteração da forma de trabalho, tem contribuído mais para o incremento da produção
do que a ocupação de novas áreas (United Nations Department of Economic and
Social Affairs, 2002). A contextualização dos parágrafos acima pode ser visualizada
na figura e na tabela a seguir.
Figura 2: Relação de terra agricultável por pessoa em função do crescimento populacional desde 1960 e projetado até 2020
(CROPLIFE, 2010)
18
Tabela 1: Distribuição do uso da terra no mundo
terras aráveis terras cultivadas intensidade de cultivo milhões de ha milhões de ha % Países em desenvolvimento 1997-99 956 885 93 2015 1017 997 96 2030 1076 1063 99
África sub-saariana 1997-99 228 154 68 2015 262 185 71 2030 288 217 76
Oriente Médio e norte da África 1997-99 86 70 81 2015 89 77 86 2030 93 84 90
Sul da África 1997-99 207 230 111 2015 210 248 118 2030 216 262 121
Ásia 1997-99 232 303 130 2015 233 317 136 2030 237 328 139
América Latina e Caribe 1997-99 203 127 63 2015 223 150 67 2030 244 172 71
(FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2002)
19
A disponibilidade de áreas para a produção de alimentos no mundo exerce impacto
diretamente sobre a Segurança Alimentar mundial, uma vez que a oferta dos
alimentos pode não ser capaz de atender às necessidades de consumo de toda a
população crescente, gerando assim uma restrição no acesso aos mesmos em função
do aumento do custo e da população não ter recursos suficientes para obter os
alimentos adequados para uma dieta nutritiva.
Discussões sobre Segurança Alimentar nunca estiveram tão elevadas a ponto de
influenciar agendas nacionais ao redor do mundo. Recentemente, o presidente da
França, Nicolas Sarkozy, propôs inclusive a regulamentação do mercado mundial de
commodities como forma de se evitar a alta dos preços dos alimentos, propondo
inclusive a formação de estoques mundiais de alimentos (DCI - Diário Comércio
Indústria e Serviço, 2011). A própria FAO chamou a atenção dos líderes mundiais
para a questão dos preços dos alimentos, dado o reflexo na inflação em nível
mundial e seus desencadeamentos em crises sociais, principalmente pelo fato de que
o mundo ainda se recupera da última crise financeira mundial (Agroanalysis, 2011).
O aumento da insegurança alimentar não é tanto um resultado de colheitas pobres
das culturas, mas por causa de elevados preços locais, de menores rendimentos dos
agricultores e aumento do desemprego que têm reduzido acesso aos alimentos por
parte dos pobres. Alcançar a segurança alimentar no mundo não será fácil,
considerando as tendências da população em crescimento e crescente urbanização,
as economias rurais nos países em desenvolvimento sentirão o maior impacto desses
desafios. As mesmas exigirão um maior investimento na produtividade agrícola e
20
rentabilidade para impulsionar o desenvolvimento sócio-econômico e tirar as
pessoas da pobreza e da fome.
A questão da fome e subnutrição em nível global é preocupante, pois hoje há mais
pessoas com fome do que em qualquer momento desde 1970 e há um agravamento
das tendências que estavam presentes antes mesmo da recente crise econômica
mundial (FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE
UNITED NATIONS, 2009).
Figura 3: Subnutridos em 2009, por região no mundo
2%
4%5%
26%
63%
Países desenvolvidos
Oriente Médio e norte daÁfrica
América Latina e Caribe
África Subsaariana
Ásia e Pacífico
21
Especificamente no Brasil, o programa FOME ZERO do governo federal brasileiro
visa a promoção da segurança alimentar e nutricional buscando a inclusão social e a
conquista da cidadania da população mais vulnerável à fome (BRASIL, 2006). Dos
quatro eixos articuladores do programa, um está alicerçado diretamente sobre a
agricultura (Fortalecimento da Agricultura Familiar), sendo que esta se insere
claramente em mais dois eixos – Acesso aos Alimentos e Geração de Renda.
Figura 4: Os quatro eixos articuladores do programa FOME ZERO
(BRASIL, 2006)
22
4.2. Agricultura e desenvolvimento econômico e social
O conceito de desenvolvimento possui significado em diversos contextos.
Geralmente admite-se que desenvolvimento seja um processo dinâmico de
melhorias, que implica em mudança ou evolução ou crescimento ou avanço.
Dicionários definem desenvolvimento como aumento ou expansão da capacidade ou
das possibilidades de algo (HOUAISS, 2011), (MICHAELIS, 2007).
Na teoria econômica tradicional, o desenvolvimento de um país é medido por seu
Produto Interno Bruto (PIB), que dividido per capita, mostra o grau de riqueza
alcançado pelos seus habitantes. Os governos, assim como o brasileiro, adotam esta
métrica como medida de desenvolvimento e a elavação desta medida passa a ser
considerada dentre as metas dos programas governamentais.
O economista indiano Amartya Sen que em 1998 recebeu o Prêmio Nobel de
Ciências Econômicas por suas contribuições quanto a questões sociais e de bem
estar, elaborou uma abordagem mais humanista para o conceito de desenvolvimento.
Em seu livro “Desenvolvimento como liberdade” (Sen, 2000), Sen mostra que o
desenvolvimento de um país está essencialmente ligado às oportunidades que ele
oferece à população de fazer escolhas e exercer sua cidadania. E isso inclui não
apenas a garantia dos direitos sociais básicos, como saúde e educação, como
também segurança, liberdade, habitação e cultura.
23
É importante se avaliar o desenvolvimento de um país sob mais do que uma ótica,
para corrigir distorções que dados econômicos possam produzir num leitor mais
incauto. Por exemplo, avaliando-se somente a evolução do PIB brasileiro na figura a
seguir, pode-se afirmar que entre os anos de 2004 e 2010, o PIB nacional cresceu
mais do que três vezes e que este crescimento foi muito superior ao experimentado
por outros países da América Latina como Argentina, Chile, Venezuela e México.
Figura 5: Evolução do PIB nominal – América Latina – Países selecionados - 2004 a 2011
(BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2011) * estimativa/previsão FMI
No entanto, aprofundando-se no detalhe e avaliando-se o PIB per capita real de cada
um desses países, observa-se que apesar de que o Chile possui um PIB
aproximadamente dez vezes menor que o brasileiro, o PIB per capita chileno
cresceu numa taxa muito maior que o brasileiro nas últimas décadas e em 2010, foi
663,8
882,4 1 088,8
1 366,5
1 636,0 1 577,3
2 023,5 2 193,0
95,7 118,2 146,8 164,2 170,9 161,6 199,2 222,8
0,0
500,0
1 000,0
1 500,0
2 000,0
2 500,0
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 *
US$
bilh
ões
Anos
Argentina
Brasil
Chile
México
Venezuela
24
aproximadamente uma vez e meia maior que o brasileiro, conforme observado nos
dados da figura a seguir.
Figura 6: PIB real per capita - América Latina – Países selecionados - 1980 a 2010
(UNDP - UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAME, 2010), elaboração do autor
Diferentes países têm diferentes prioridades em suas políticas de desenvolvimento,
mas para comparar seus níveis de desenvolvimento, deve-se inicialmente
compreender o sentido do desenvolvimento e depois empregar indicadores que
possam mensurar seu grau de atingimento. Os indicadores permitem também a
avaliação do progresso relativo no desenvolvimento e comparação dos índices com
outros países.
Para se compreender o grau de desenvolvimento de uma nação e entender, por
exemplo, quanto de seus habitantes são pobres, não é o suficiente saber o PIB ou a
8,199
5,809
10,8471
14,7801
5
7
9
11
13
15
Argentina Brazil Chile Mexico Venezuela
PIB
per c
apita
(200
8 PP
P U
S$)
Países
1980
1990
2000
2005
2006
2007
2008
2009
2010
25
renda per capita do país. O número de pessoas pobres em um país e a qualidade
média de vida também depende de como igualmente ou de forma desigual a renda é
distribuída.
Um dos indicadores de progresso relativo utilizados é o Índice (ou Coeficiente) de
Gini2. A principal vantagem do índice é ser uma medida de desigualdade por meio
de análise de uma razão, ao invés de uma variável não representativa da maioria da
população, tais como renda per capita ou do produto interno bruto. Pode ser usado
para comparar distribuições de renda entre diferentes setores da população assim
como diferentes países, como por exemplo, a comparação do Índice de Gini entre
populações urbanas e rurais. Além disso, é um índice suficientemente simples que
pode ser usado para indicar como a distribuição da renda tem se distribuído através
de períodos de tempo em um país e assim, indicar se houve aumento ou redução das
desigualdades.
Por outro lado, se dois países apresentam o mesmo Índice de Gini, mas um país é
rico enquanto o outro é pobre, o índice estará medindo cenários diferentes. No país
pobre, estará medindo a desigualdade na qualidade de vida material, enquanto que
no país rico estará a distribuição de luxo ou supérfluos, além das necessidades
básicas. O índice mede o rendimento em vez de riqueza, no sentido de prosperidade.
Uma sociedade em que todos ganharam a mesma quantidade final sobre uma vida
pode parecer desigual por causa de pessoas em diferentes estágios de sua vida. No
2 Índice de Gini: um valor igual a 0 (zero) representa igualdade absoluta enquanto um valor igual a 100 (cem) representa total desigualdade.
26
entanto, o coeficiente de Gini pode ser calculado para qualquer tipo de distribuição
de uma variável, por exemplo, para a riqueza total.
Apesar destas e doutras desvantagens, o índice é empregado por diversos
organismos que avaliam a questão do desenvolvimento de países como o Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a Organização para Alimento
e Agricultura (FAO), o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional (FMI),
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e outros.
Escolheu-se cinco países da América Latina para fins de comparação inicial:
Argentina, Brasil, Chile, México e Venezula. Os três primeiros pela vocação de
produção e exportação de alimentos, o México por ser considerado um país
industrializado e pertencente ao Tratado Norte-Americano de Livre Comércio
(NAFTA) e à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) e a Venezuela, como contra-ponto, com uma economia não dependente de
exportação de produtos agrícolas mas principalmente de exportação de petróleo e
seus derivados.
Segundo o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, países pobres ou em
desenvolvimento tendem a possuir índices de Gini maiores; a faixa geralmente varia
entre 40 e 65. Extremos são calculados em 25 (Dinamarca 24.7; Japão 24,9; Suécia
25) e ao redor de 70 (Namíbia 74,3; Lesoto 63,2). Países desenvolvidos como os
estados europeus geralmente apresentam números intermediários, com índices de
Gini entre 24 e 36 (Alemanha 28,3; França 32,7; Suíça 33,7; Finlandia 26,9;
27
Portugal 38,5; Espanha 34,7) (UNDP - UNITED NATIONS DEVELOPMENT
PROGRAME, 2008).
Segundo o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (2008), os índices de
Gini para a Argentina, Brasil, Chile, México e Venezula para o ano 2008 são 51,3;
57; 54,9; 46,1 e 48,1, respectivamente.
Figura 7: Índice de Gini - América Latina – Países selecionados - 2008
(UNDP - UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAME, 2008) elaboração do autor
Os dados levantados já seriam suficientes para se afirmar que os cinco países
apresentam índices elevados de desigualdade de distribuição de renda mas
progredindo-se a análise e levando-se em consideração o índice em si e o PIB per
51,3
5754,9
46,148,1
30
35
40
45
50
55
60
Argentina Brasil Chile Mexico Venezuela
Índi
ce d
e G
ini (
base
0-1
00)
Países
28
capita no período de 2001-2010 conforme exibido na figura a seguir, é possível
fazer considerações adicionais:
a) México: maior PIB per capita e menor índice de Gini entre os países
amostrados. Em teoria seria o país com a distribuição mais igualitária entre os
cinco;
b) Venezuela: PIB per capita e índice de Gini intermediário entre os países
amostrados;
c) Argentina: menor PIB per capita e índice de Gini intermediário entre os países
amostrados;
d) Chile: maior PIB per capita e segundo maior índice de Gini intermediário entre
os países amostrados. Em teoria seria o país com a maior distância entre os
extremos da população rica e pobre, pois o PIB per capita é uma vez e meia
maior que o brasileiro;
e) Brasil: segundo menor PIB per capita e o maior índice de Gini intermediário
entre os países amostrados; País altamente afetado quando à desigualdade de
renda em questão do baixo PIB per capita e do elevado índice de Gini.
29
Figura 8: Dispersão da desigualdade de renda (Índice de Gini) versus o PIB per capita – América Latina – Países selecionados – 2001-2010
(elaboração do autor, combinando dados da UNDP, 2008 com dados do Depto de Agricultura Norte Americado – USDA, 2011 disponíveis em http://www.ers.usda.gov/Data/Macroeconomics/ )
Em relação aos dados apresentados, deve-se considerar ainda que a população do
Brasil segundo o último censo demográfico de 2010 é superior a cento e noventa
milhões de habitantes (IBGE, 2010) enquanto a população do Chile é de
aproximadamente dezessete milhões de habitantes (INE - INSTITUTO NACIONAL
DE ESTADÍSTICAS, 2010). A população brasileira divide-se nas seguintes
proporções pelas classes sociais: Classe A + B: 21%; Classe C: 54% e Classe D e E:
25% (BRASIL, 2011). Sendo assim existem aproximadamente quarenta e oito
milhões de brasileiros nas classes D e E, ou seja, quase três vezes toda a população
do Chile. Sendo assim, existem muito mais brasileiros afetados pela desigualdade de
renda no Brasil, do que no Chile.
Argentina
Brasil
ChileMéxico
Venezuela
$3.000
$4.000
$5.000
$6.000
$7.000
$8.000
30 35 40 45 50 55 60 65 70
PIB
per c
apita
200
1 -2
010
Índice de Gini
30
Afinal o quão danoso é a desigualdade de renda para o desenvolvimento de um país
? Existem diferentes opiniões sobre os melhores padrões de distribuição, se o índice
de Gini deveria ser próximo a 25 como na Suécia ou a 40 como nos Estados Unidos
da América.
Considerou-se então os seguintes argumentos. Uma distribuição de renda
excessivamente igual também pode ser ruim para a eficiência econômica de um
país. Tomando-se como exemplo, a experiência dos países socialistas, onde a
desigualdade era mantida deliberadamente baixa, pois havia pequenas diferenças
nos salários recebidos e as pessoas eram privadas de incentivos necessários para
desenvolver novas atividades econômicas (ausência de lucros privados). Uma das
consequências desta equalização forçada dos rendimentos socialista foi a falta de
iniciativa entre os trabalhadores, a má qualidade da mão de obra e a oferta limitada
de bens ou serviços, uma lenta evolução técnica e eventualmente um menor
crescimento econômico que levou a índices maiores de pobreza (Soubbotina &
Sheram, 2000).
Por outro lado, os reflexos negativos da desigualdade excessiva se estendem por
aspectos sociais, políticos e econômicos de uma nação.
A desigualdade afeta a qualidade de vida das pessoas, levando a uma maior
incidência de pobreza e impedindo ou reduzindo o acesso à saúde e educação, no
mínimo.
31
Especialmente nas economias de baixa renda, a desigualdade contribui para
potencializar os desvios e conflitos sociais, aumentando a necessidade dos governos
destinarem recursos de seus orçamentos também para atividades não produtivas
como a construção de novos presídios, aumento do aparelho policial, ampliação da
justiça e etc. (Barreto, Manso, & Loiola Filho, 2010)
Além disso, a elevada desigualdade ameaça a estabilidade política do país, uma vez
que as pessoas estão mais insatisfeitas com seu status econômico, de maneira que se
torna mais difícil chegar a um consenso político entre os grupos da população com
rendimentos mais elevados e mais baixos. Por sua vez a instabilidade política
aumenta os riscos de se investir em um país e com a fuga ou escassez de capital o
potencial de desenvolvimento do país fica comprometido significativamente.
Da mesma maneira a elevada desigualdade restringe o tamanho do mercado
consumidor interno, já que a propensão média a consumir tende a ser menor em
economias de renda mais concentrada. Ainda na ótica da economia, uma grande
desigualdade de renda limitará o uso de instrumentos de mercado importantes, como
mudanças nos preços e tarifas. Por exemplo, tarifas mais elevadas para a eletricidade
e água podem promover forçosamente a eficiência do consumo destes bens, mas
num cenário de grande desigualdade, se os governos introduzirem pequenas
mudanças nas tarifas haverá o risco de privação entre os cidadãos mais pobres.
32
Finalmente, uma grande desigualdade de renda pode alterar determinados padrões
básicos de comportamento entre as pessoas ou empresas, tais como confiança e
comprometimento. Isso leva a um maior risco para os negócios e a um aumento dos
custos para a execução de contratos que por sua vezes impedem o crescimento
econômico, pois reduzem a intensidade das transações econômicas entre as partes.
Estes argumentos são robustos o suficiente para ao menos buscar pela redução da
desigualdade de renda nos países em desenvolvimento de modo a ajudar ao menos a
acelerar o desenvolvimento econômico e de sua população.
Aproveita-se este momento do documento para discutir certa assimetria vista em
parte da literatura produzida sobre desigualdade de renda no Brasil até agora. As
publicações consultadas sobre o tema da queda da desigualdade tem se concentrado
nas transferências públicas de renda como mecanismo de redução de desigualdade
de renda, embora, conforme será examinada nos próximos parágrafos, a renda
advinda do trabalho tenha sido mais importante para a queda da desigualdade.
Portanto, doravante neste documento será avaliada a queda do Índice de Gini da
renda domiciliar per capita, mas com ênfase na remuneração advinda do trabalho
(Soares, 2010).
O índice de Gini, após quatro décadas de elevação no Brasil, intercalada por
períodos de estabilidade, com quedas apenas pontuais e rapidamente revertidas,
iniciou em 2001 uma trajetória de queda ininterrupta que dura até o presente.
33
Figura 9: Índice de Gini - Brasil - 1976 a 2009
(IPEA - INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2011), adaptado pelo autor
Uma das vantagens da utilização do índice de Gini é que a sua variação pode ser
decomposta por fonte de renda. Soares (2010) decompôs a renda domiciliar per
capita nos seguintes fatores:
· renda do trabalho, que pode ser subdividida em renda do trabalho indexada ao
salário mínimo e demais rendas do trabalho;
· renda da previdência, que pode ser subdividida em benefícios equivalentes a um
salário mínimo e benefícios não iguais a um salário mínimo de setembro daquele
ano;
· renda dos programas de transferência de renda focalizados, que pode ser
subdividia em renda do Programa Bolsa Família (PBF) e dos benefícios de
prestação continuada (BPC); e
0,623
0,604
0,584
0,591
0,589
0,598
0,588
0,636
0,583
0,604
0,6010,602
0,5940,596
0,5830,572
0,563
0,5480,543
0,53
0,55
0,57
0,59
0,61
0,63
0,65
1976
1977
1978
1979
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
1992
1993
1995
1996
1997
1998
1999
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Indi
ce d
e G
ini
Anos
Desigualdade de Renda - Indice de Gini Linha de tendência
34
· demais rendas, categoria residual que inclui medidas deficientes da renda na
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2009, transferências de
outros domicílios, rendas pouco relevantes como o abono-permanência e
quaisquer outras rendas que não se enquadram nas demais categorias.
(Soares, 2010)
O autor cita que diversos trabalhos apontaram o importante papel das transferências
públicas na redução do coeficiente de Gini e que a totalidade das transferências
públicas foi responsável por aproximadamente um terço da queda de pouco mais
que 5,4 pontos de Gini (x100) observados entre os anos de 2001 e 2009. As rendas
menores da PNAD, tais como aluguéis e transferências de outros domicílios,
explicam outros 8% da queda, o que deixa 63% a cargo de um mercado de trabalho
mais favorável aos mais pobres.
Figura 10: Contribuição acumulada por fonte para a evolução do coeficiente de Gini (1996 a 2009)
35
Nos gráficos anteriores, o autor mostra em três painéis a contribuição acumulada do
mercado de trabalho (painel 1) e das transferências governamentais (demais painéis)
para a evolução do coeficiente de Gini. Neste gráfico os números representam a
contribuição acumulada de uma dada fonte de renda de 1995 até um dado ano.
Assim, no painel 1 a série referente ao trabalho indexado ao salário mínimo termina
no número -0,8, indicando que, de 1995 até 2009, esta renda reduziu o coeficiente
de Gini em 0,8 ponto (x100). Para facilitarem-se as comparações, os três painéis se
encontram na mesma escala. Apesar da relevância das transferências
governamentais, a preponderância e contribuição do mercado de trabalho torna-se
visível. O Programa Bolsa Família, por exemplo, pode ter exercido um papel
desproporcional ao seu peso na renda total; em termos absolutos, sua contribuição
para a queda da desigualdade foi pequena, comparada com a do mercado de
trabalho.
Outro fato visível no trabalho em questão é que o mercado de trabalho já era
responsável por diminuir a desigualdade antes de 2001. Em 1999, antes de a
desigualdade começar sua queda, o mercado de trabalho já tinha reduzido o
coeficiente de Gini em quase 0,4 ponto de Gini (x100). Com efeito, desde 1998 a
renda do mercado de trabalho se desconcentra. Os efeitos progressivos das
mudanças na renda do trabalho em 1998 e 1999 foram mascarados pela renda da
previdência, cujos efeitos foram crescentemente regressivos até 1999.
36
Barreto, Manso, & Loiola Filho (2010) em seu estudo sobre a renda do trabalho e a
redução da desigualdade também apontam que, diferentemente do que o senso
comum tem imaginado, é a renda proveniente dos trabalhos que vem contribuindo
de forma significativa para a redução da desigualdade no Brasil e em suas cinco
Regiões.
Os autores avaliaram a contribuição para redução do índice de Gini, a partir da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), decompondo a renda per
capita nos seguintes quatro componentes, a) rendimento de todos os trabalhos,
incluindo salários e remuneração de trabalhadores por conta própria e empregados,
representados pela a variável Trabalho; b) Rendimentos de Alugueis e Doações
feitas por pessoas de outros domicílios dados por Aluguéis e Doações; c) Rendas de
Aposentadorias e Pensões pagas pelo governo federal ou por institutos de
previdência dada pela variável Aposentadorias e Pensões e; d) Rendimentos
relacionados aos pagamentos de Juros, Dividendos e Transferências de Programas
Sociais como Bolsa Família ou renda mínima e outros rendimentos definidas nesse
estudo por Transferências. Depois examinaram a contribuição de cada componente
de renda para o valor do índice de Gini e como esse índice não pode ser decomposto
em partes ponderadas, utilizaram o método razão de concentração que é uma forma
de verificar a contribuição de um determinado componente de renda no valor do
índice. Finalmente puderam calcular a contribuição proporcional, entre os anos de
2001 e 2008, de cada componente de renda para a variação do índice de
desigualdade e constataram que o principal fator pela queda da desigualdade nas
diversas localidades foi o aumento da renda do trabalho. Os autores chamam a
37
atenção que em todas as regiões e no Brasil, com exceção do Nordeste, essa
contribuição está acima de 60%, com destaque para o Sudeste onde a renda do
trabalho que é responsável com quase 78% da variação do Índice de Gini.
Tabela 2: Contribuição proporcional de cada componente da renda familiar para a redução da desigualdade: Regiões e Brasil em 2001 e 2008.
Região Trabalho Aluguéis e Doações
Aposentadorias e Pensões Transferências
Oeste 69,69% 0,04% 8,63% 21,64% Norte 67,88% 0,53% 6,53% 25,07% Nordeste 45,97% -2,40% 16,46% 39,98% Sul 62,96% 0,90% 27,77% 8,37% Sudeste 77,45% 1,03% 15,90% 5,62% Brasil 67,01% 0,01% 16,36% 16,06%
(Barreto, Manso, & Loiola Filho, 2010)
É difícil tirar conclusões definitivas sobre as razões da queda da desigualdade
quando tão pouco se sabe sobre a mais importante fonte de renda das famílias.
Como mencionado anteriormente, as mudanças na progressividade das
transferências governamentais, com ênfase ao programa da Bolsa Família, foram
responsáveis por aproximadamente um terço da queda da desigualdade no Brasil. Os
dois terços da queda no coeficiente de Gini advêm do mercado de trabalho. Destes,
quase um quarto se deve ao salário mínimo, o que mostra que este teve efeitos
distributivos importantes. Contudo, os demais três quartos – ou seja, metade da
redução da desigualdade – se devem a fatores no mercado de trabalho que não são o
piso salarial.
38
De qualquer maneira, retomando-se os conceitos expostos no início deste capítulo,
de que o desenvolvimento está relacionado às oportunidades que um país oferece à
sua população, é adequado se inferir pelo que foi aqui apresentado, que a
remuneração advinda do mercado de trabalho tem importante contribuição para a
redução da desigualdade e consequentemente relevância no aumento das
capacidades ou das possibilidades das pessoas, demostrando assim a relevância de
se avaliar a potencial contribuição da agricultura para com o desenvolvimento do
Brasil na continuação deste documento.
39
4.3. A agricultura brasileira é sustentável ?
No capítulo anterior, discutiu-se a questão do desenvolvimento, sob um viés
orientado às pessoas. Recentemente tem-se incorporado a palavra sustentável ao
termo desenvolvimento, criando o conceito de desenvolvimento sustentável.
O conceito de desenvolvimento sustentável envolve aspectos econômicos, sociais e
ambientais, considerando suprir as necessidades da geração atual, sem esgotar ou
comprometer os recursos para atender as necessidades das futuras gerações. (WWF,
2011), (EU - EUROPEAN COMMISSION, 2011), (MAPA - MINISTÉRIO DA
AGRICULTURA, 2011).
Durante a primeira Cúpula da Terra, realizada na cidade do Rio de Janeiro em 1992
(“RIO 92”), os líderes globais adotaram a Agenda 21 que prevê um programa de
ação global para atingir o desenvolvimento sustentável e abordar tanto as questões
ambientais como de desenvolvimento de forma integrada em nível global, nacional e
local (FAO, 2002).
O Capítulo 14 da referida Agenda 21, sobre agricultura sustentável e
desenvolvimento rural projeta que, no ano 2025, oitenta e três por cento da
população mundial prevista, de oito bilhões e meio de pessoas, estarão vivendo em
países em desenvolvimento. No entanto, a capacidade dos recursos e tecnologias
disponíveis para atender às demandas dessa população crescente de alimentos, fibras
e combustíveis ainda é incerta. A agricultura terá de enfrentar esse desafio e os
agricultores em todo o mundo deverão duplicar ou mesmo triplicar sua produção nas
40
terras atualmente exploradas e evitar a exaustão ainda maior de terras que só
marginalmente são apropriadas para serem cultivadas (UN - UNITED NATIONS,
2009). Ou seja, a agricultura sustentável é um elemento-chave do desenvolvimento
sustentável, pois é um sistema de produção agrícola que, a longo prazo, deverá:
· Satisfazer as necessidades humanas quanto a alimentos e fibras.
· Melhorar a qualidade ambiental e dos recursos naturais dos quais depende a
economia agrícola.
· Fazer o uso mais eficiente das tecnologias disponíveis, dos recursos não-
renováveis e recursos disponíveis na própria propriedade.
· Manter a viabilidade econômica das operações agrícolas
· Melhorar a qualidade de vida dos agricultores e da sociedade como um todo.
(CROPLIFE, 2011)
Em certa medida, a agricultura brasileira dá exemplos da possibilidade de se
alcançar esses objetivos. Ao longo de séculos, o modelo de desenvolvimento no país
tem evoluído do extrativismo e da agricultura de subsistência para uma exploração
agroindustrial intensa, com a aplicação de tecnologias modernas. A pesquisa em
recursos genéticos e melhoramento vegetal tem contribuído significativamente para
o desenvolvimento de sistemas produtivos ambientalmente mais adequados,
agregando tolerância a estresses e eficiência no uso de nutrientes, viabilizando
sistemas de cultivo conservacionistas. O manejo de culturas baseado no plantio
direto é utilizado há décadas em milhões de hectares de lavouras brasileiras, com
expressiva contribuição para a redução de erosão, a melhoria geral da qualidade do
solo e a recarga do lençol freático.
41
Nos últimos anos o governo brasileiro tem fomentado novos programas, inclusive
com incentivos oficiais, como o programa da Agricultura de Baixo Carbono (ABC)
(BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E
ABASTECIMENTO, 2010), iniciativa esta que irá aliar a produção de alimentos e
bionergia com a redução dos gases de efeito estufa através de técnicas que garantem
eficiência no campo, com balanço positivo entre o sequestro e a emissão de dióxido
de carbono (CO2). A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)
adota o programa de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, cujo objetivo é ensinar
aos agricultores como utilizar técnicas de exploração intensiva de forma sustentável
e, ainda, com incremento de renda.
Na visão do presidente da EMBRAPA, Pedro Arraes, em entrevista concedida ao
programa “Brasil em Pauta” do governo federal no dia 10 de Junho de 2011, o
Brasil além de ser uma potência agrícola “pode se tornar também uma potência
ambiental, pois as duas coisas não são contraditórias, podem andar lado a lado”
(Arraes, 2011).
Frente a esse cenário o Brasil se prepara para colher a maior safra da história e
quebrar novo recorde na produção, se as previsões foram confirmadas: serão 154
milhões de toneladas de grãos no ciclo 2010/2011 (Rossi, 2011). Houve um
incremento de 774% na produtividade nos últimos 50 anos. Tecnologia mais a
garantia de recursos do governo permitiram ao país obter sucessivos recordes em
produção e se a tecnologia e as práticas dominantes hoje fossem as mesmas
adotadas nos anos 60, seria necessário ampliar em mais 145 milhões de hectares as
42
terras para áreas de cultivo. O país necessitaria triplicar sua área destinada à
produção de grãos. O mesmo ocorreria na pecuária. Seriam precisos mais 259
milhões de hectares de terra para pastagens, mantidas as condições de criação
bovina e bubalina daquela época. Isso porque, em 50 anos, a área de pastagem no
Brasil cresceu 39%, enquanto o rebanho aumentou 251%.
O modelo atual da agricultura brasileira, além de um dos mais competitivos do
mundo é, portanto, sustentável. Há que se considerar, no entanto, que pela
diversidade e complexidade da agricultura brasileira, esses avanços, embora muito
relevantes, dificilmente bastarão para garantir a agricultura do futuro do ponto de
vista da sustentabilidade. É necessária uma busca contínua de novos conhecimentos
e os sistemas de inovação para a agricultura terão que se referenciarem, cada vez
mais, em aspectos que compreendam, além da visão básica da agricultura, como
produtora de alimentos e matérias-primas essenciais para a sobrevivência e o
progresso da humanidade, e geradora de renda, outras dimensões e valores, inclusive
culturais.
43
4.4. A contribuição da agricultura para a economia brasileira
Um crescimento agrícola forte tem sido uma característica constante dos países que
conseguiram reduzir a pobreza com sucesso. O crescimento do Produto Interno
Bruto (PIB) gerado pelo agronegócio é, em média, quatro vezes mais eficaz para
beneficiar a metade mais pobre da população do que o crescimento gerado fora da
agricultura, embora este efeito diminua conforme os países se tornam mais ricos.
(World Bank - Department of Economic and Social Affairs. Division for
Sustainable Development., 2008). O governo brasileiro inseriu a agricultura como
um dos pilares do programa FOME ZERO, desenvolvendo ações específicas
voltadas para a agricultura de modo a promover a geração de renda no campo bem
como o aumento da produção de alimentos para o consumo (BRASIL, 2006). O
novo programa federal denominado PLANO BRASIL SEM MISÉRIA também
incorporou a agricultura num de seus eixos de atuação, uma vez que no campo se
encontra 47% do público do plano, formado por pessoas vivendo na extrema
pobreza (BRASIL, 2011). A prioridade é aumentar a produção do agricultor através
de orientação e assistência técnica, oferta de fomento, sementes e água, visando
elevar a renda familiar per capita.
A participação do PIB do agronegócio no PIB total brasileiro tem variado nos
últimos anos, com tendência de redução no período de 1994 a 2009 (CEPEA-
USP/CNA, 2010) conforme exibido na figura a seguir. Ainda assim, sua
contribuição não pode ser desprezada uma vez que atinge uma intensidade de quase
25% do PIB brasileiro e no ano de 2010, o PIB do setor agropecuário apresentou
crescimento de 6,5% em comparação com o ano anterior (IBGE, 2011). A
44
agricultura, por sua vez, tem uma participação de cerca de 70% do PIB do
agronegócio (Gasques, 2004).
Figura 11: Participação do PIB do Agronegócio Brasileiro no PIB do Brasil - 1994 a 2009
(CEPEA-USP/CNA, 2010), adaptado pelo autor
Destaca-se também que o agronegócio é o setor da economia que mais tem
contribuído para a formação do saldo da balança comercial do Brasil, tendo
apresentando nos últimos anos sempre a maior parcela do saldo positivo, suficiente
inclusive para reverter índices negativos de outros setores, razão para ser
considerado o setor mais importante da economia nacional (Gasques, 2004),
(Micheletto, 2010). A figura a seguir demonstra esta contribuição na balança
comercial do Brasil.
27,08
25,71
24,6525,18
24,16
25,72
27,09
26,28
24,29
23,47
24,27
23,08
21,00
22,00
23,00
24,00
25,00
26,00
27,00
28,00
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Porc
enta
gem
de
part
icip
ação
Anos
Participação (%) Linha de tendência (%)
45
Figura 12: Comparativo do saldo da balança comercial do agronegócio e dos demais setores
(Micheletto, 2010)
Em janeiro de 2011, a balança comercial brasileira registrou superávit de US$0,42
bilhão, com exportações de US$15,21 bilhões e importações de US$14,79 bilhões,
revertendo o saldo comercial de negativo para positivo, mais em função do aumento
das exportações (34,5%) em relação às importações (28,8%) – figura abaixo. Os
maiores preços internacionais das commodities neste início de 2011 beneficiaram as
vendas externas brasileiras (IEA - Instituto de Economia Agrícola, 2011).
4625741412
24834
4273049397
60474
3528
-7985
-35640-45000
-25000
-5000
15000
35000
55000
2006 2007 2008
US$
milh
ões
anos
Brasil Agronegócio Serviços e Indústria
46
Figura 13: Balança Comercial, Brasil em Janeiro de 2011
Outro ponto importante é que a agricultura funciona como um amortecedor macro-
econômico. Sabidamente, as crises econômicas têm diferentes impactos em vários
setores da economia, conforme sua natureza, do tamanho do setor em termos de
empregos e da estrutura comercial do setor. No entanto surgem padrões distintos em
termos do setor agrícola. Observa-se na tabela a seguir que as taxas de crescimento
do setor agrícola, antes e depois da crise foram superiores ao crescimento do PIB
agregado e durante a crise, a taxa de crescimento permanece positiva e superior ao
PIB. Assim, o crescimento agrícola tende a ser mais estável do que o crescimento
em outros setores da economia (FAO - FOOD AND AGRICULTURE
ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2009).
11,3 11,48
-0,17
15,21 14,79
0,42
-2
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Exportação Importação Saldo
US$
bilh
ões
2010 2011
47
Tabela 3: Taxa média de crescimento por setor. Brasil 1994 - 2004
Taxa média de crescimento anual por setor
(porcentagem)
País Período agricultura indústria manufatura Serviços PIB
Brasil
5 anos pré-crise 4,1 3,1 2,2 3,9 3,0
crise de 1999 6,5 -1,9 -1,9 1,4 0,3
5 anos pós-crise 4,1 3,0 3,4 4,1 3,0
(FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2009).
No ano de 2010, a participação do agronegócio nas exportações totais brasileiras
caiu de 42,5% (em 2009) para 37,9%. A explicação para essa diminuição é a crise
financeira internacional, que teve seu auge justamente há dois anos. Ainda assim,
em 2009, as exportações do agronegócio tiveram queda inferior à registrada pelos
demais setores da economia nacional. Esse fator contribuiu para que o agronegócio
sustentasse o superávit naquele ano. Passada a crise, em 2010, a recuperação das
exportações dos demais setores foi superior ao incremento das vendas
agropecuárias, explicando na queda de participação deste último no total de
exportações (BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E
ABASTECIMENTO, 2011).
Alguns fatos esclarecem o comportamento da agricultura brasileira durante uma
crise. Primeiro porque quando os rendimentos diminuem a demanda por produtos
agrícolas, especialmente os alimentos não diminui proporcionalmente, pois as
pessoas tendem a sacrificar primeiro outros bens, como os industriais e
48
manufaturados, ou serviços, de maneira a poder continuar comprando alimentos.
Segundo, sob a ótica do financiamento, os demais setores usam crédito mais
intensamente e durante as crises este fica mais escasso, enquanto a agricultura tende
a se autofinanciar, principalmente no caso dos pequenos e médios agricultores.
Além disso, em algumas situações de crise, a taxa de câmbio é alterada e favorece a
produção e exportação de bens, que num cenário de moeda desvalorizada,
remuneram melhor o agricultor.
49
4.5. A agricultura e a remuneração do agricultor
As riquezas geradas pelo agronegócio alimentam a economia como um todo e
propiciam condições para a melhoria de qualidade de vida, principalmente nas
pequenas e médias cidades brasileiras. Grande número das pequenas cidades
brasileiras em sua economia alicerçada no agronegócio, de maneira que se o
agronegócio se desenvolve bem, há uma externalidade positiva na economia dessas
cidades.
O Brasil lidera o ranking na produção e exportação de café, açúcar, álcool a partir da
cana-de-açúcar e suco de laranja. Também está em primeiro lugar das vendas
externas de complexo de soja (farelo; óleo e grão), carne bovina, carne de frango.
No ano de 2010, os itens que foram mais exportados pelo país foram soja, café e
açúcar (BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E
ABASTECIMENTO, 2011). O fato de grande quantidade das exportações do país -
42,5% das exportações totais em 2009 (BRASIL, 2010) – estar alicerçada sobre
commodities, pode representar um risco quanto à remuneração do
agricultor/produtor, pois os países compradores importadores podem impor barreiras
técnicas e/ou sanitárias aos produtos para lá exportados, de maneira a romper o
equilíbrio da relação de oferta e demanda e assim controlar os preços pagos pelos
produtos que importam ou selecionar países fornecedores, fechando o acesso dos
agricultores nacionais a estes países.
50
As commodities possuem especificidades que as tornam mais expostas a
determinados riscos, dada a regulação da oferta pelos mercados que podem culminar
na redução da remuneração pelo produto produzido. Na tabela abaixo são
comparadas algumas especificidades dos produtos tipo Especialidades (processados)
e Commodities.
Tabela 4 : Diferenciação entre produtos Especialidades e Commodities
Item Especialidades Commodities
Produto Qualidade Quantidade
Preço Contrato Oferta e demanda
Distribuição Segmentos e nichos Mercado de massa
Rentabilidade Larga Estreita
Margem de lucro Alta Baixa
Cadeia produtiva Agregação de valor Matéria prima
(Kotler, 2006)
O desenvolvimento do papel de grande produtor e exportador de commodities pelo
Brasil pode ser compreendido através da evolução das exportações, subdividida em
quatro períodos distintos:
a. 1971 a 1980: modelo agroexportador, estimulado pela forte demanda
internacional e crédito governamental abundante para investimento, custeio e
comercialização;
51
b. 1981 a 1992: estagnação das exportações em decorrência da recessão mundial,
da sobrevalorização cambial ao final da década e também devido ao crescimento
do mercado doméstico (maior consumo interno);
c. 1993 a 2000: retomada das exportações (situadas na faixa de US$ 20 bi anuais
no final do período);
d. 2001 a 2010: participação crescente de produtos agroindustriais no mercado
internacional (exportações acima de US$100bi);
(Zylbersztajn, 2000), (Viotto, 2008)
Hoje, o país é o principal fornecedor de 25% do mercado mundial de alimentos
(BRASIL, 2010).
Por outro lado os países que compõe a Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) ainda são os operadores dominantes no
mundo do comércio agrícola em certas categorias, especialmente para os produtos
processados, cuja produção depende da disponibilidade de competências
especializadas. Há, no entanto, algumas mudanças visíveis estruturais. As
exportações de produtos processados por países de renda média cresceu a taxas de
dois dígitos entre 1985 e 2004. Esses países também mostraram um rápido
crescimento em suas exportações de hortícolas, apesar de que os países da OCDE
continuem a dominar. (United Nations Department of Economic and Social Affairs,
2002). Observa-se na figura abaixo que a maioria dos países hoje membros da
OCDE são também os denominados países desenvolvidos.
52
Figura 14: Países membros da OCDE
(OCDE, 2011)
Sobrepondo-se a informação da figura anterior, dos países membros da OCDE às
informações da figura a seguir, sobre o PIB agrícola per capita da população
agrícola, nota-se uma tendência em que os países membros da OCDE tendem a
apresentar um PIB agrícola per capita da população agrícola superior ao daqueles
países, não membros, sendo exceções os países Chile, México, Turquia, Polônia,
República Tcheca, Eslováquia e outros poucos, considerados países em
desenvolvimento segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI)
(INTERNATIONAL MONETARY FUND, 2010) e Portugal que é considerado
desenvolvido.
53
Figura 15: PIB agrícola per capita da população agrícola
(FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2006)
Alguns fatores relacionados à própria associação dos países ao bloco, podem ajudar
a explicar a tendência, tais como integração da cadeia de valor, processos intra-
nacionais para facilitar o comércio entre os países e subsídios. Aliás, embora vários
países desenvolvidos tenham liberalizado e aberto mais os seus mercados agrícolas
para o comércio internacional nos últimos anos, as políticas protecionistas agrícolas
da maioria dos países da OCDE estão cada vez mais reconhecida como
discriminatórias contra o bem-estar dos agricultores nos países em desenvolvimento.
Os agricultores dos países em desenvolvimento não só têm acesso limitado aos
mercados agrícolas dos países ricos, mas também tem de enfrentar os próprios
mercados internos distorcidos pelas importações advindas de países que praticam o
subsídio. A título de informação, o equivalente em subsídio ao produtor nos países
54
da OCDE foi de US$ 330,000 milhões no ano 2000, igual ao PIB daquele ano da
África (Hazel & Wood, 2008).
Figura 16: Comparativo PIB agrícola per capita versus associação à OCDE
(elaborado pelo autor)
Essas políticas de subsídio são particularmente prejudiciais para os pequenos
agricultores em países pobres porque limita as suas possibilidades de produzir mais
produtos em que têm vantagens comparativas. Esta não é apenas uma questão de os
agricultores dos países em desenvolvimento serem excluídos dos mercados de
exportação para as culturas tropicais rentáveis, como açúcar, algodão e tabaco, mas
são ainda pressionados em seus próprios mercados internos e regionais de alimentos
básicos como cereais e produtos pecuários.
55
Apesar deste cenário limitante, o Brasil pode experimentar fatores que
impulsionaram e diferenciaram o crescimento do agronegócio no país e que
permitiram que o PIB per capita do agronegócio aumentasse constantemente nas
últimas décadas, ressaltando-se novamente que a agricultura tem uma participação
de cerca de 70% do PIB do agronegócio (Gasques, 2004).
Figura 17: PIB per capita do agronegócio (Reais de 2008)
(Alves & R., 2009)
953
1610
2236
2936
5213
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1970 1980 1991 1996 2008
Moe
da -
R$ (a
no b
ase
2008
)
Anos
PIB percapita
56
4.6. Migração da população rural e urbanização.
Nos últimos 50 anos, 800 milhões de pessoas no mundo migraram de zonas rurais
para as cidades. A pressão populacional, pela escassez de terra, diminuição da
produtividade agrícola e falta de oportunidades de ganho salarial influenciam a
migração rural. Em alguns casos, é provocada pela falta de oportunidades de
emprego e trabalho assalariado (em nível mundial, a maioria dos migrantes são
aqueles que migram por emprego), em outros, pela guerra, distúrbios civis, a
expulsão ou conflitos étnicos e da violência associada e violação dos direitos
humanos ou ainda por uma deterioração do ambiente natural, a diminuição da
fertilidade do solo das culturas, animais e doenças, seca ou inundações e outros
desastres naturais, que destroem os meios de subsistência. De acordo com a FAO,
mais investimentos pelos governos e políticas rurais adequadas deveriam manter a
população rural nas suas terras e reduzir a migração. (ILO - International Labour
Organization & FAO - Food and Agriculture Organization, 2011)
É o que vem fazendo a China, por exemplo, com o desenvolvimento da cultura da
laranja no país para se tornar um grande produtor e exportador de laranjas. Segundo
as autoridades chinesas, o investimento no setor cítrico é uma estratégia para
desenvolver regiões pobres e evitar a migração da população rural para zonas
industriais. A cultura da maçã é outro exemplo de desenvolvimento de novos
mercados com um viés socioeconômico, no qual em menos de cinco anos, a China
fomentou o desenvolvimento de uma cadeia produtora e se tornou o principal
exportador mundial desta fruta (Agroanalysis, 2011).
57
No caso do Brasil, a migração do campo para as cidades tem reduzido, mas ainda é
expressiva conforme se observa na figura a seguir, exceto na região Centro-Oeste,
devido ao crescimento de sua agricultura bem como ao tamanho pequeno de sua
população rural (Alves & R., 2009).
Figura 18: Índice de urbanização das regiões e do Brasil: população urbana/população total (em
%)
(IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2006)
No ano de 2007, as regiões do Brasil conservaram, com alguma perda, suas
populações rurais de 2000, exceto a região Centro-Oeste, cuja população rural
aumentou. Não obstante o intenso fluxo migratório rural após a década de 60, o
nível de pessoal ocupado no meio rural cresceu entre 1940 a 1985, podendo-se
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2007
Porc
enta
gem
Anos
Norte
Nordeste
Sudeste
Centro-Oeste
Sul
Brasil
58
inferir que durante este período, parte da população urbana empregou-se no meio
rural. No entanto nos períodos subsequentes a 1985, a ocupação rural decresceu
intensamente, e aí tanto a população rural como a ocupação rural passaram a ter
tendências de queda. Dentre as causas desta queda, estão as oportunidades de
emprego com salários mais elevados do meio urbano. É fato também que a
mecanização da agricultura substitui parcialmente a força humana de trabalho, mas é
uma opção, porque os salários, como uma componente indireta da mecanização,
tornam-na vantajosa. Ainda, com o passar do tempo, a população urbana se
desinteressa pelo emprego rural, principalmente os jovens, seja por falta de
informação, treinamento ou motivação, Enfim, o ambiente rural deixa de ser
considerado como opção de emprego. No caso do desemprego, os desempregados
urbanos contam com a maior ajuda do governo, o que também favorece a opção
urbana para oferta de trabalho. A expressiva queda do emprego rural contraria as
expectativas de programas, como agricultura familiar e reforma agrária, que visam
manter o emprego rural.
Apesar da emigração rural, o crescimento das cidades brasileiras nos últimos 15
anos tem sido mais influenciado pelo crescimento de suas próprias populações
urbanas, tanto que no período entre 1991 a 2000, 33,1% do crescimento da
população urbana foi contribuição da emigração rural enquanto no período de 2000
a 2007, a contribuição do êxodo rural caiu para 19,2%. A migração de população do
meio rural para as cidades, embora em volume considerável, reduziu-se em
consequência do crescimento vigoroso da agricultura no Brasil, crescimento este
baseado no mercado interno, nas exportações e na estabilidade macroeconômica
59
nacional. Apesar do abalo produzido pela recente crise internacional, o agronegócio
continua vigoroso e esse crescimento tem maior poder para manter a população rural
e de reduzir o êxodo rural que os programas criados para esse fim (Alves & R.,
2009).
A preocupação está ainda com a região Nordeste do país, porque lá reside cerca da
metade da população rural brasileira, e, em virtude da baixa produtividade média de
sua agricultura, o seu potencial migratório é muito elevado, tanto que esta região
apresenta uma velocidade de urbanização mais elevada que as demais regiões do
país. Essas têm população rural pequena comparada com o tamanho da agricultura e
das cidades, por isso, nelas a migração rural-urbana, que se desacelera rapidamente,
terá pequeno impacto no crescimento das cidades.
Finalmente soma-se a isso a questão da redução da remuneração na área rural, que
favorece o êxodo rural. Desde 1965 até a década de 1980, houve alternância de anos
favoráveis e anos desfavoráveis ao salário rural quando comparado com o salário
mínimo, sem que houvesse uma tendência, mas a partir de 1994 nota-se uma
tendência de queda na comparação do salário rural em relação ao salário mínimo, ou
seja, verifica-se que os salários são maiores nas cidades.
60
Figura 19: Salário Rural/Salário Mínimo: 1986–2008
(Alves & R., 2009)
Como a opção das políticas do governo é reter a população na agricultura, seu foco
tem que ser o crescimento da agricultura e em políticas de combate à pobreza,
especialmente nas áreas rurais (Alves & R., 2009) (FAO - FOOD AND
AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2009).
Segundo o censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010,
existem 16,2 milhões de pessoas no Brasil consideradas extremamente pobres, dos
quais 59% estão concentradas no Nordeste, ou seja, 9,6 milhões de pessoas das
quais, aproximadamente 4,5 milhões estão em áreas urbanas e mais que 5 milhões
estão em áreas rurais (BRASIL, 2011).
61
5. PROJEÇÕES DO AGRONEGÓCIO
No Brasil o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é o órgão
responsável pela gestão das políticas públicas de estímulo à agropecuária, pelo fomento
do agronegócio e pela regulação e normatização de serviços vinculados ao setor. No
Brasil, o agronegócio contempla o pequeno, o médio e o grande produtor rural e reúne
atividades de fornecimento de bens e serviços à agricultura, produção agropecuária,
processamento, transformação e distribuição de produtos de origem agropecuária até o
consumidor final.
Recentemente, o Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Sr Wagner Rossi,
ao fazer um balanço dos oito anos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva declarou que considera ser possível ao país atingir um novo status, levando-se em
consideração os índices de desenvolvimento, terras agricultáveis e adoção de tecnologia
agrícola desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
“Não há dúvidas que a agricultura brasileira tem condições de continuar competitiva e
na vanguarda, principalmente em função das pesquisas genéticas, da produção
racional e equilibrada, com foco na preservação do meio ambiente” (BRASIL -
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2010).
Certamente em sua fala, o Ministro espelhava o documento Projeções do Agronegócio –
Brasil 2008/09 a 2018/19, no qual o Ministério da Agricultura mostra uma visão
prospectiva do setor, texto este fruto de consulta a trabalhos de organizações brasileiras
e internacionais, alguns deles baseados em modelos de projeções. Dentre as instituições
consultadas destacam-se os trabalhos da Food and Agriculture Organization of the
62
United Nations (FAO), Food and Agricultural Policy Research Institute (FAPRI),
International Food Policy Research Institute (IFPRI), Organization for Economic Co-
Operation and Development (OECD), Organização das Nações Unidas (ONU), United
States Department of Agriculture (USDA), Confederação da Agricultura e Pecuária do
Brasil (CNA), Fundação Getúlio Vargas (FGV), Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais
(ICONE), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB), Embrapa Gado de Leite, Empresa de Pesquisa Energética
(EPE), e União da Indústria de Cana de Açúcar (ÚNICA) (MAPA - MINISTÉRIO DA
AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2009).
As projeções deste documento para o período em questão foram realizadas em dezoito
produtos do agronegócio: milho, soja, trigo, laranja, suco de laranja, carne de frango,
carne bovina, carne suína, açúcar, etanol, algodão, farelo de soja, óleo de soja, leite in
natura, feijão, arroz, batata inglesa e mandioca. A escolha dos modelos mais prováveis
foi feita da seguinte maneira:
1. Coerência dos resultados obtidos;
2. Comparações internacionais a dos dados de produção, consumo, exportação,
importação e comércio dos países e do mundo;
3. Tendência passada dos nossos dados;
4. Potencial de crescimento;
5. Consultas a especialistas.
63
Segundo o documento há um grande potencial de crescimento para o agronegócio
brasileiro devido à demanda interna e externa, e sustentado pela disponibilidade de
recursos naturais e tecnológicos. Quase todos os dezoito produtos terão crescimento,
alguns expressivos, nos próximos anos, fortalecendo inclusive ainda mais a posição do
país como exportador mundial de alimentos.
O documento ressalta ainda que apesar de haver um acrescimento de área da ordem de
15,5 milhões de hectares nos próximos anos para as culturas analisadas, os incrementos
da produção agrícola brasileira devem se dar principalmente na quantidade produzida
por área plantada. Isso significa o crescimento das safras deverá se dar, sobretudo ao
aumento da produtividade e não à expressiva incorporação de novas áreas. De fato esta
tem sido uma tendência na América Latina, conforme se observa na figura a seguir.
64
Figura 20: Fontes de crescimento de produção: expansão da área cultivada versus colheitas para os principais cultivos básicos importantes (cereais, raízes, tubérculos e leguminosas)
(Evenson & Gollin, 2003) adaptado pelo autor
Por outro lado, algumas incertezas ou fatores adversos parecem não ter sido computados
ou relatados no documento do Ministério da Agricultura, visto que a produção
agropecuária tem crescido muito mais velozmente que os investimentos na
infraestrutura de transportes e de armazenagem. Ainda que os produtores sejam
eficientes da “porteira para dentro”, da “porteira para fora” os gastos com transporte
aumentaram em média 147% entre 2003 e 2009, segundo levantamento da Associação
Nacional dos Exportadores de Cereais (O ESTADO DE SÃO PAULO, 2011).
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
1961-1980 1981-2000 1961-1980 1981-2000 1961-1980 1981-2000 1961-1980 1981-2000
América Latina Ásia Oriente Medio eNorte da África
África Subsaariana
Com
pone
ntes
da
taxa
de
cres
cim
ento
da
prod
ução
(%)
área
aumento da colheita devido a adoção de variedades modernas
aumento da colheita devido a tecnologia (agroquímicos, irrigação, mecanização, trabalho)
65
Estas deficiências logísticas de estradas, ferrovias e portos geram inclusive um processo
de dissipação das vantagens comparativas do Brasil nas exportações, impedindo que o
país crie vantagens competitivas permanentes necessárias ao próprio desenvolvimento.
O produtor se incorporar tecnologias e reduzir custos poderá fornecer para o mercado
local e escoar os excedentes para o exterior, assegurando a sustentabilidade do seu
crescimento. É neste momento que ele precisa, mais do que nunca, de condições de
infraestrutura favoráveis, pois do contrário, a geração de excedentes “represados” no
interior e o produto exportado onerado por fretes caros passam a lhe ser um problema.
A CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL (CNA)
demonstrou que no ano de 2009 a média de gastos relacionados ao transporte da soja, da
produção até o porto, foram cerca de quatro vezes maiores do que o gasto dos
produtores da oleaginosa nos Estados Unidos da América e na Argentina. A despesa
maior corrói a renda a receita líquida do agricultor. Pelos relatos na literatura, as frutas,
os cereais e as hortaliças enfrentam problemas semelhantes de infraestrutura e o
transporte é fator crítico na composição do custo de produção (Gonçalves, Vianna, &
Bacha, 2008), (ABRAMILHO, 2011), (ABAG - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
AGRIBUSINESS, 2008), (EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão
Rural , 2010).
66
Tabela 5: Custos logísticos 2009 - Impacto do frete na receita do produtor nacional
País (em US$ / ton de soja) Brasil EUA Argentina
cotação média FOB no porto de origem 399 399 399
frete até o porto 78 18 20
despesas portuárias 6 3 3
total de despesas de transporte 84 21 23
Receita líquida 315 378 376
(CNA - CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL , 2011)
Este gargalo logístico envolve praticamente toda a infraestrutura de transporte do Brasil
(Borges, 2004). Segundo o autor, o levantamento feito pela Confederação Nacional dos
Transportes (CNT), indica que oitenta e dois por cento das estradas brasileiras
apresentam sérias deficiências, entre elas mais de oito mil quilômetros com trechos de
buracos e afundamentos. Soma-se a isso a idade média da frota de caminhões - ao redor
de dezoito anos – que contribui para reduzir a velocidade média nos deslocamentos
pelas estradas, demandando mais tempo para as entregas ao mesmo tempo que significa
maior tempo de permanência nas estradas e vias congestionando-as.
As ferrovias que, embora tenham recebido investimentos através de privatizações, estão
longe de suprir a demanda do setor de agronegócio e se consolidar como uma
alternativa viável ao transporte rodoviário. Para fins de comparação, no ano em que o
autor supra citado fez esta avaliação, a malha ferroviária no Brasil era de 30 mil
67
quilômetros de extensão, sendo praticamente igual à do Japão, que é vinte e duas vezes
menor que o Brasil. Ao mesmo tempo, o Brasil deixa de aproveitar os canais de
transporte de grande potencial, utilizando apenas 10 mil quilômetros frente a um
potencial de 42 mil quilômetros de hidrovias.
Além disso, ano após ano a safra de grãos do Brasil cresce e além dos problemas de
transporte acima, os de armazenagem vão se repetindo e agravando. Notícias sobre
grãos mantidos a céu aberto, cobertos com lona ou plástico, sobretudo na região Centro-
Oeste do país, aparecem cada vez mais na mídia. No período de 2000 a 2010, enquanto
a produção de grãos aumentou 77%, o crescimento correspondente da capacidade
estática de armazenagem foi de 52,6%, o que significa um déficit de 24,4 milhões de
toneladas (IEA - INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA, 2010).
Figura 21: Comparação entre capacidade estática de armazenamento e produção de grãos - Brasil - 2000 a 2010
(IEA - INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA, 2010)
70
80
90
100
110
120
130
140
150
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Milh
ões d
e to
nela
das
Ano
capacidade estátita de armazenamento produção de grãos
68
Os produtores podem empregar maquinário moderno, sementes de boa qualidade e as
melhores técnicas de manejo de solo e de tratamento das culturas. Aliás, tudo isso
permitiu baratear a produção nacional de alimentos nos últimos 30 anos e o consumidor
nacional foi beneficiado e, ao mesmo tempo, os exportadores conseguiram ocupar novas
posições no mercado internacional. Pelas projeções do Ministério da Agricultura para os
anos 2019/202 haverá aumento na produção de grãos e oleaginosas, resta saber se isto
ocorrerá apesar das más condições da infraestrutura e de outros itens do “custo Brasil”,
ou se os demais setores acompanharão e suportarão o crescimento do agronegócio.
69
6. POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS RELACIONADAS AO AGRONEGÓCIO: UMA CRÍTICA
Os governos têm intervindo na orientação da agricultura nacional desde as décadas de
1960 e 1970, quando então houve a destinação de grandes volumes de crédito
subsidiado para a agropecuária. A partir da década de 1980, a intervenção se deu
principalmente através da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), inclusive
como forma de compensar o esvaziamento da política anterior de crédito rural
subsidiado. As políticas de crédito subsidiado e da PGPM, demandavam consideráveis
somas de recursos, que não puderam ser mantidas a partir das crises da dívida interna e
da externa pelas quais a economia brasileira passou na década de 1980. Finalmente, os
planos de estabilização da economia que se sucederam – Plano Cruzado, Bresser,
Verão, Collor, Collor II, Real – e que introduziram o componente do ajuste fiscal foram
o algoz deste tipo de política, uma vez que havia a necessidade de cortes de gastos e
despesas. Seguiu-se então o movimento de abertura da economia brasileira, na década
de 1990 (Gasques, 2004). A partir desta década as condicionantes que balizaram as
políticas relacionadas ao agronegócio foram a limitação dos gastos governamentais e a
maior exposição da agricultura brasileira ao comércio internacional.
Nos últimos anos, poucos países tiveram um crescimento tão expressivo no comércio
internacional do agronegócio quanto o Brasil. Os números do gráfico a seguir
comprovam a afirmação anterior, pois enquanto em 1989, as exportações do setor eram
de US$ 13,9 bilhões, no ano de 2010 as exportações foram de US$ 76,4 bilhões. Ou
seja, as exportações cresceram mais de cinco vezes em cerca de duas décadas.
70
Figura 22: Balança comercial brasileira e balança comercial do agronegócio - 1989 a 2010
(MAPA - MIN. DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2010)
Esses resultados levaram inclusive a CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA
O COMÉRCIO E DESENVOLVIMENTO (UNCTAD) a prever que o país será o maior
produtor mundial de alimentos na próxima década (Borges, 2004). O Ministério da
Agricultura projeta que o Brasil terá, em 2021, uma produção de grãos superior a 195
milhões de toneladas, numa área pouco superior a 50,7 milhões de hectares (Rossi,
2011).
Apesar do histórico positivo e projeções de produtividade, tanto nacionais como
internacionais, fica a questão: quais políticas públicas o Brasil e especificamente, o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), precisará desenvolver
para que a agricultura continue trazendo benefícios ao país, como a geração de
empregos, mais alimentos e riqueza e mantenha o compromisso com o meio ambiente,
0
50
100
150
20019
89
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
EXP. TOTAL IMP. TOTAL EXP. AGRONEGÓCIO
US$ Bilhões
71
servindo como um contra-fator das ameaças produzidas pelas mudanças climáticas ?
Em suma para que haja uma maior contribuição ao desenvolvimento sustentável do
Brasil ?
6.1. Política de investimento em infraestrutura
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) desenvolvido pelo governo
brasileiro é um programa de expansão do crescimento, através de investimento em
infraestrutura que, aliado a medidas econômicas, vai estimular os setores produtivos
e, ao mesmo tempo, levar benefícios sociais para todas as regiões do país (BRASIL,
2010).
Segundo o governo federal o PAC vai aplicar em quatro anos um total de
investimentos em infraestrutura da ordem de R$ 503,9 bilhões, nas áreas de
transporte, energia, saneamento, habitação e recursos hídricos. A expansão do
investimento em infraestrutura é condição fundamental para a aceleração do
desenvolvimento sustentável no Brasil. Dessa forma, o País poderá superar os
gargalos da economia e estimular o aumento da produtividade e a diminuição das
desigualdades regionais e sociais.
O conjunto de investimentos está organizado em três eixos decisivos: Infraestrutura
Logística, envolvendo a construção e ampliação de rodovias, ferrovias, portos,
aeroportos e hidrovias; Infraestrutura Energética, correspondendo a geração e
transmissão de energia elétrica, produção, exploração e transporte de petróleo, gás
natural e combustíveis renováveis; e Infraestrutura Social e Urbana, englobando
72
saneamento, habitação, metrôs, trens urbanos, universalização do programa Luz
para Todos e recursos hídricos.
Sob o eixo da Infraestrutura Logística, o plano de investimentos vai significar a
construção, adequação, a duplicação e recuperação, em quatro anos, de 45 mil
quilômetros de estradas, 2.518 quilômetros de ferrovias, ampliação e melhoria de 12
portos, dentre outras iniciativas. Aparentemente parte do gargalo logístico está
considerada nos planos do governo nacional, ao menos para passar por uma
revitalização e um incremento. No entanto o programa não traz à tona uma proposta
de substituição do atual modelo rodoviário por outros meios como o ferroviário ou
hidroviário, apesar do declarado plano de investimento em ferrovias e portos. A
tabela a seguir demonstra que os investimentos feitos pelo PAC no período de 2007
a 2010 no sistema rodoviário foram maiores do que a soma dos investimentos em
todos os demais modais de transporte considerados no programa.
Tabela 6: Previsão de investimento em infraestrutura logística 2007-2010 em R$ bilhões – Brasil
Modal 2007 2008-2010 Total
Rodovias 8,1 25,3 33,4
Ferrovias 1,7 6,2 7,9
Portos 0,6 2,1 2,7
Aeroportos 0,9 2,1 3,0
Hidrovias 0,3 0,4 0,7
Marinha mercante 1,8 8,8 10,6
Total 13,4 44,9 58,3
(BRASIL, 2010)
73
Para reduzir outro empecilho, relacionado ao armazenamento da produção, o
governo federal anunciou um grande aporte de recursos no Programa de Incentivo à
Irrigação e à Armazenagem (Moderinfra) (BRASIL - MINISTÉRIO DA
AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2010). O aporte faz parte
do Plano Agrícola e Pecuário 2010/2011 do ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento que visa ampliar de 15% para 30% a capacidade total de estocagem
de produtos agrícolas nas propriedades rurais num período de cinco anos.
No lançamento do programa, o ministro Wagner Rossi comentou que “a
possibilidade de manter uma quantidade maior da produção agrícola nas mãos dos
próprios agricultores permite a escolha da hora mais adequada para a
comercialização e, consequentemente, ganho de renda para o produtor”. Ainda na
temática de aumento da renda do agricultor, o Ministério irá investir R$ 2 bilhões
para o Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor à
Produção Agropecuária (BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2010). O referido programa visa incrementar a
competitividade do complexo agroindustrial das cooperativas brasileiras, por meio
da modernização dos sistemas produtivos e de comercialização com consequente
efeito positivo na remuneração dos produtores.
74
6.2. Ações para o fomento do desenvolvimento alocadas ao Ministério da Agricultura
O MAPA possui seus Objetivos Setoriais para o Plano Pluri-Anual 2008-2011 a
partir das Orientações Estratégicas de Governo, do Plano Estratégico do MAPA e do
Diagnóstico Setorial, com ênfase nas situações-problema identificadas pelo órgão.
São eles:
· Impulsionar o desenvolvimento sustentável do país por meio do agronegócio;
· Aumentar a produção de produtos agropecuários não-alimentares e não-
energéticos;
· Garantir a segurança alimentar;
· Ampliar a participação da agro-energia na matriz energética;
(BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2008)
Outras ações voltadas ao desenvolvimento alocadas para o MAPA estão
relacionadas no PAC e no PLANO BRASIL SEM MISÉRIA do governo federal.
São ações de assistência técnica, apoio a institucionalização (organização social,
agrupamentos, associativismos e cooperativismo), desenvolvimento de
infraestrutura e logística de produção, comercialização e desenvolvimento local
sustentável, oferta de sementes de qualidade da EMBRAPA, fornecimento de água
tanto para consumo como irrigação e acesso aos mercados.
75
6.3. Ações para Geração de Trabalho e Renda: comparativo entre ações alocadas para as diversas áreas X ações alocadas para a agricultura
A análise combinada dos dados apresentados nas duas tabelas a seguir revela que o
Ministério da Agricultura possui somente 0,72% do total de recursos (R$) alocados
por eixo para todos Ministérios, enquanto a soma dos recursos alocados para ações
relacionadas à transferência de renda, perfaz 90,30%. Com os recursos para o
MAPA, este deve desenvolver ações de assistência técnica, apoio a
institucionalização (organização social, agrupamentos, associativismos e
cooperativismo), desenvolvimento de infraestrutura e logística de produção
comercialização e desenvolvimento local sustentável.
Tabela 7: Demonstrativo sintético de ações por eixo dos Ministérios - Brasil
Ordem Ministério 1 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 2.7 3 Total de
ações por Ministério
% das ações
1º MDA 0 0 7 7 2 9 3 1 3 32 19,16
2º MI 0 0 6 0 3 14 1 0 5 29 17,37
3º MTE 5 3 7 3 1 1 2 1 1 24 14,37
4º MDS 7 0 1 1 0 1 0 1 3 14 8,38
5º PR 1 0 3 2 0 6 0 0 1 13 7,78
6º MMA 0 0 1 0 0 1 0 0 8 10 5,99
7º MDIC 0 1 2 1 0 3 0 3 0 10 5,99
8º MAPA 0 0 0 1 1 3 0 1 2 8 4,79
9º a 18º outros 27 16,17
Legenda: 1 – transferência de renda; 2 – geração de trabalho e renda; 2.1 – diagnóstico, mobilização e articulação de parcerias; 2.2 – formação e capacitação para o trabalho; 2.3 – assistência técnica; 2.4 – apoio a institucionalização (organização social, agrupamentos, associativismos e cooperativismo); 2.5 – infraestrutura e logística de produção; 2.6 – acesso a crédito; 2.7 – comercialização; 3 – desenvolvimento local sustentável (articulação em rede).
76
MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário; MI - Ministério da Integração Nacional; MTE - Ministério do Trabalho e Emprego; MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; PR - Presidência da República; MMA - Ministério do Meio Ambiente; MDIC- Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;
(BRASIL - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2008), adaptado pelo autor
Tabela 8: Demonstrativo sintético de recursos (R$) por eixo dos Ministérios
Ordem Ministério Tranferência de renda
Geração Trabalho e
renda
Desenvol. local
sustentavel Total geral % $
1 MPS 45.937.676.039 0 0 45.937.676.039 46,87
2 MDS 23.886.376.767 550.692.164 228.795.120 24.665.864.051 25,17
3 MTE 18.683.583.873 797.106.660 14.330.000 19.495.020.533 19,89
4 MDA 0 3.610.549.630 38.785.600 3.649.335.230 3,72
5 MTur 0 1.797.713.858 19.093.055 1.816.806.913 1,85
6 MAPA 0 697.537.669 5.683.105 703.220.774 0,72
Legenda: MPS - Ministério da Previdência Social MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; MTE - Ministério do Trabalho e Emprego; MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário; MTur - Ministério do Turismo MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;
(BRASIL - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2008), adaptado pelo autor
77
Inseridos no eixo “Transferência de renda” estão os programas federais que
transferem dinheiro diretamente aos beneficiários, divididos em dois grupos:
1. Programas que atendem a preceitos constitucionais nas áreas de assistência
social (Benefício de Prestação Continuada – BPC), previdência (aposentadorias
e pensões especiais e da área rural) e trabalho (Salário Maternidade, Seguro
Desemprego, Abono Salarial, Salário Família), constituindo-se em
transferências oriundas de direitos sociais instituídos pela Constituição Federal
de 1988;
2. Programas e ações de transferência condicionada de renda, desenhados e
implementados por iniciativa do Governo Federal.
Os programas e ações inseridos no segundo grupo podem ser definidos como
transferências de renda caracterizadas por repasses mensais e contínuos efetuados
pelo governo, independentemente de ressarcimentos ou contribuição prévia por
parte dos beneficiários. Tais programas foram criados com o objetivo de fazer frente
a situações de pobreza e de exclusão social (BRASIL - MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2008).
O Programa Bolsa Família instituído no ano de dois mil e três se destaca no
contexto do segundo grupo. Este tem como principal objetivo, a inclusão social das
famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. A transferência direta de renda
possibilita aliviar em curto prazo os efeitos mais imediatos da pobreza, como a
insegurança alimentar e nutricional, mas o programa reconhece a necessidade de
78
integração deste programa com outros, voltados à geração de trabalho, emprego e
renda, e no entanto somente 9% dos recursos totais estão alocados para todas as
iniciativas voltadas à geração de trabalho e renda contempladas no PAC.
Figura 23: Demonstrativo sintético da alocação de recursos (R$) por eixos do PAC
(BRASIL - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2008), adaptado pelo autor.
Tranferência de renda90%
Geração de trabalho e renda
9%
Desenvolvimento local sustentavel
1%
79
6.4.Comparativo com a importância política dada pela União Européia à agricultura
Comparativamente, a União Européia (EU-27) dá grande importância política à
agricultura e a demonstração disso é que, apesar de representar apenas 4% do PIB
daquele bloco e ocupar menos de 4% da população economicamente ativa, mais de
46% do orçamento da UE é alocado para a política agrícola comum (Silva &
Ferreira, 2011). Apesar da UE-27 também sofrer com o fenômeno da emigração
rural, as áreas rurais representavam cerca de 56% da população em 2004 e geraram
43% do Valor Acrescentado Bruto (VAB)3 do bloco, com uma importante taxa de
emprego de 53% (EUROPEAN COMMISSION, 2007).
De acordo com os dados de dotação orçamentária aos órgãos no ano de 2010
(SENADO FEDERAL - BRASIL, 2011), foi destinado 0,46% do orçamento total ao
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e 0,18% do orçamento ao
Ministério do Desenvolvimento Agrário. Os maiores orçamentos foram destinados
ao refinanciamento da divida pública mobiliaria federal, pagamento de encargos
financeiros da união, ministério da previdência social, transferências a estados,
distrito federal e municípios, ministério da saúde, ministério da defesa, ministério da
educação, ministério do trabalho e emprego, ministério do desenvolvimento social e
combate à fome e ministério da fazenda, com 26,23%; 19,20%; 17,95%; 9,97%;
4,31%; 3,91%; 3,35%; 3,25%; 2,76% e 1,20%, respectivamente, só para se citar as
dez maiores dotações orçamentárias.
3 Tradução do termo original “Gross Value Added (GVA)” como medida do PIB; PIB = VAB + impostos - subsídeos
80
6.5. Ameaças: o desafio do crescimento versus a inflação.
É possível dizer que a combinação de aceleração do crescimento do país, a forte
redução do desemprego, a alta dos produtos da pauta de exportação brasileira
(principalmente à elevação do preço das commodities) e o aumento das
transferências sociais, apesar da elevação da carga tributária, produziu o momento
de sensação de ganhos de bem-estar de boa parte da população nos anos finais do
governo Lula. Essa constatação, leva ao questionamento se a presidente Dilma
conseguirá manter a curva ascendente de melhora na distribuição de renda que foi
registrada no governo Lula com o mesmo ritmo de crescimento de 4% ou um mais.
Hoje, a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff trabalha com uma meta de
crescimento do PIB superior a 5% ao ano. Talvez essa projeção decorra do fato de
que, em três dos últimos quatro anos, o PIB brasileiro cresceu mais do que 5%4. Em
2007, 2008 e 2010, a expansão da economia nacional foi, respectivamente, de 6,1%,
5,2% e 7,5% (FGV - IBRE - Instituto Brasileiro de Economia, 2011). Todavia, o
atual entusiasmo com a capacidade de crescimento do PIB nacional pode ser pouco
provável, uma vez que dependente da ocorrência simultânea de várias hipóteses
otimistas – aumento do estoque de capital, recuperação da taxa média de
investimento do PIB ao longo dos próximos quatro anos, expansão da oferta de
trabalho, aumento da produtividade total dos fatores (PTF), redução da inflação,
dentre outros. Só a taxa de investimento brasileira, por exemplo, está entre as mais
baixas do mundo emergente e, segundo pesquisa recente do Banco Central com
4 A exceção foi o ano de 2009, quando a crise global levou o PIB brasileiro a uma retração de 0,6%.
81
analistas, permanece muito aquém do necessário para garantir crescimento de 5,5%
ao ano. Para manter crescimento de 5,5% no futuro, o país precisa investir o
equivalente a 24% do PIB, mas hoje a taxa de investimento é da ordem de 18%
(FOLHA DE SÃO PAULO, 2011). O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
Getúlio Vargas (IBRE/FGV), estima que o PIB em 2011 deve ficar em torno de
4,3% enquanto o FMI projeta um valor de 4,5% (INTERNATIONAL MONETARY
FUND, 2011) e o Banco Central 4,0% % (BANCO CENTRAL, 2011). A taxa de
inflação está acima da meta, e por isso, estamos vivendo um ciclo de arroxo
monetário. Aliás, na linha do arroxo monetário, o governo de Dilma Rousseff
provavelmente será capaz de cumprir com o prometido corte do orçamento de R$ 50
bilhões, desde que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) repita o
ocorrido em 2010, sendo o recurso empregado neste, somente 60% do que foi
orçado, economizando R$ 15 bilhões. Depois, outros R$ 14 bilhões em cortes
podem ser obtidos mantendo as despesas operacionais - incluindo saúde, educação e
outras despesas discricionárias – novamente, no mesmo nível em termos reais de
2010 e finalmente os cortes nas emendas parlamentares podem contribuir com mais
R$ 18 bilhões de economia (FGV - FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2011).
Outros cortes contribuiriam com os R$ 3 bilhões faltantes.
Os economistas dizem que o país precisa crescer menos para acomodar as pressões
inflacionárias, fazendo com que a presidente Dilma Rousseff não possa usar da
mesma estratégia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para manter o
desempenho conseguido por ele — um crescimento econômico na faixa de 7% —
uma vez que esse nível poderá arriscar a capacidade de incrementar ou manter as
82
conquistas sociais. (FGV - IBRE - Instituto Brasileiro de Economia, 2011). Trazer a
inflação de volta ao centro da meta de 4,5% é um processo que, numa visão quase
consensual, deve durar pelo menos até o fim de 2012, consumindo, portanto, metade
do mandato presidencial de Dilma Rousseff. A combinação à frente de elevada taxa
de juros, algum ajuste fiscal e o aperto das condições de oferta crédito não se
encaixa com projeções muito otimistas para o investimento nem para a oferta de
trabalho, levando, por conseguinte, a uma visão não muito animadora do
crescimento da economia no curto e médio prazo (FGV - IBRE - Instituto Brasileiro
de Economia, 2011), tanto que no Relatório Trimestral de Inflação emitido em
junho do presente ano, o Banco Central estimou que a inflação e 2011 ficará no
nível de 5,8% (BANCO CENTRAL, 2011).
Por outro lado, a própria presidente Dilma Rousseff disse durante o discurso da
cerimônia de assinatura de protocolo entre a Petrobras e a Cemig para a implantação
de uma fábrica de fertilizantes na cidade de Uberaba (MG) em março de 2011, que é
possível frear a inflação sem estancar o desenvolvimento econômico e sem provocar
quedas nos índices de emprego. O caminho ideal, na visão da presidente, é aumentar
a oferta de bens e serviços para levar o País a taxas de crescimento constantes (RIO
Negócios, 2011). "Tem muita gente que acha que você só controla a inflação
derrubando o crescimento econômico, mas se controla a inflação não negociando
com ela. Se controla a inflação também fazendo o País crescer, aumentando a
oferta de bens e serviços", observou a presidente. Dilma também fez referência à
necessidade de se estimular o mercado interno e o caminho para isso seria a
continuidade e o avanço de programas sociais que, iniciados no governo Lula,
83
reduziram de forma expressiva o número de famílias pobres no País e incorporaram
novos consumidores ao mercado. Para tanto, se não houver o aumento de impostos,
Dilma terá de enfrentar uma possível política de trindade: um superávit primário
elevado para garantir que as taxas de juros caiam, manutenção da regra para o ajuste
do salário mínimo e investimento público suficiente para fornecer infraestrutura
minimamente adequada para os próximos anos.
84
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÕES
A FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION prevê que as commodities
terão pela frente uma década de preços altos e grande volatilidade, devido a firme
demanda e limitações de oferta, devido a eventos naturais ou por redução no incremento
de produtividade (VALOR ECONÔMICO, 2011). No estudo denominado
"Perspectivas Agrícolas 2011-2020" realizado junto com a Organização para
Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), a FAO reserva ao Brasil um
papel ainda mais relevante como fornecedor mundial de alimentos e aborda um pacote
de medidas para estimular o aumento da produção global e a redução das oscilações de
preços, que nos últimos anos pressionaram a inflação e provocaram protestos em
diversos países. Um dos protestantes foi o próprio presidente da França, Nicolas
Sarkozy, que propôs a regulamentação do mercado mundial de commodities como
forma de se evitar a alta dos preços dos alimentos, propondo inclusive a formação de
estoques mundiais de alimentos. Deve-se entender aqui que a motivação do presidente
francês quanto à questão da oferta de alimentos, não necessariamente reflete o perigo de
desnutrição para seu país, tanto que segundo a FAO, todos os países desenvolvidos
somados representavam em 2009 apenas 2% das pessoas subnutridas de um total de
1,02 bilhões de pessoas subnutridas (FAO - FOOD AND AGRICULTURE
ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, 2009) e na França, de acordo com os
indicadores do Banco Mundial, o índice de subnutrição é ao redor de 5% da população
(Trading Economics, 2010). Na verdade, no momento em que o presidente francês
iniciou esta discussão tentando implantar um regime de controle de estoques
reguladores de alimentos, em especial as commodities agrícolas, o mesmo amargava
85
uma considerável baixa de popularidade e aceitação em seu país. Além disso, as nações
europeias já não possuem mais fronteiras agrícolas para explorar, mas pelo fato de
serem detentores de altas tecnologias, seja na agropecuária ou em outras áreas, fica um
tanto fácil insistir em colocar e ditar regras a respeito de um mercado controlado de
commodities agrícolas, principalmente porque praticamente não exportam alimentos.
Estes países quando muito conseguem equilibrar suas demandas internas e são muito
susceptíveis a eventos externos, como os climáticos que afetaram a produção de grãos
na Europa Oriental no ano de 2011, que alteraram o panorama produtivo Europeu
radicalmente e com ele os preços dos alimentos. Em suma, o discurso do presidente
francês demonstra a intenção daquele continente em adotar um regime que possa
controlar também o preço das matérias primas alimentares para evitar ficar refém de
países com comprovada competência e vocação para produzir alimentos como o Brasil.
Além disso, os países em desenvolvimento deverão apresentar significativas mudanças,
nos seus hábitos alimentares, possibilitadas pelo desenvolvimento e incrementos de
renda, o que representa um maior consumo de alimentos e de variedades de alimentos.
Assim, os alimentos seriam primariamente consumidos em suas regiões produtoras, e os
excedentes exportados. Sabiamente, o presidente francês e outros aliados no continente
europeu, encampa a discussão no tema da segurança alimentar mundial para tentar
emplacar a regulamentação de preços das commodities alimentares, por saber que para o
mundo voltar a produzir o suficiente para a população, haverá sem dúvida um aumento
de preços e consequentemente a Europa terá que pagar mais caro pelos alimentos que
consome.
86
O leitor mais incauto poderia encarar a política francesa como uma auto-defesa, seja sob
a ótica de garantia de fornecimento de alimentos, seja como preservação da economia
nacional, racionalizando os recursos destinados à importação de alimentos. Mas deve-se
ressaltar que a França se destaca por ser um dos países que mais subsidia a agropecuária
e que impõem barreiras alfandegárias e sanitárias exageradas a todos os tipos de
alimentos que entram no país, estimadas em € 500 milhões. Ou seja, o país está disposto
a dispender tamanho montante de recursos com várias medidas e manobras, mas não
considera que este mesmo montante poderia ser utilizado para remunerar
adequadamente os agricultores que estão nos outros países produtores de alimentos,
promovendo inclusive a diminuição das desigualdades, com todos os benefícios
decorrentes de tal fato nos países onde se localizam estes produtores.
Enquanto isso, o Brasil com sua agricultura pujante, continua sua escalada para se
tornar um dos maiores produtores e exportadores de alimentos no mundo, tanto que em
entrevista recente ao jornal Valor Econômico (Rossi, 2011), o Ministro da Agricultura –
Wagner Rossi – declarou que o Brasil se prepara para colher a maior safra de sua
história e quebrar novo recorde na produção, caso as previsões sejam confirmadas.
Serão 154 milhões de toneladas de grãos na safra 2010/2011, tendo havido um
incremento de produtividade da agricultura brasileira de 774% em 50 anos. A demanda
internacional vai continuar, o que mantêm os preços em patamares rentáveis e incentiva
o plantio.
Voltando ao documento da FAO citado na abertura deste capítulo, a expectativa é que
os custos dos alimentos até declinem em relação aos níveis do início de 2011,
87
dependendo do produto, mas, na média e em termos reais, deverão subir até 50% no
caso das carnes e 20% no dos cereais nos próximos anos. Assim, considerando a
expectativa de crescimento da produção agrícola do Brasil, o mesmo tende a abocanhar
boa parte dos ganhos de valor. O agronegócio brasileiro tem potencial para crescer
ainda mais, em função de sua maior competitividade na disponibilidade de terras
agricultável, tecnologia e capacidade empreendedora. Em termos tecnológicos, o
crescimento do agronegócio ocorrerá, principalmente, pelo ganho de produtividade
resultante do desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias que surgirão, bem como
a adoção de boas práticas agronômicas que garantam sustentabilidade aliada à
produtividade.
No entanto, se houver uma nova recessão internacional, ou se as áreas agrícolas forem
afetadas por problemas climáticos ou ainda se houver aumento de protecionismo seja
através de barreiras técnicas ou econômicas como as políticas de subsídios pelos países
desenvolvidos, o cenário otimista para o Brasil poderá ser contrariado. Permanecem
também algumas incertezas relacionadas a crescimento econômico abaixo do previsto
para evitar o retorno da inflação em taxas elevadas e falta de investimento suficiente em
infraestrutura física que permitam o crescimento da produção e maior rentabilidade para
o setor, haja vista a necessidade de escoamento da produção através de longas distâncias
pelo território brasileiro. Sobre este último ponto, considerando o cenário de incremento
de produtividade da agricultura brasileira, a ausência de condições para escoar a
produção irá fazer com que os excedentes fiquem “represados” no interior do país e o
produto que chegar a ser exportado será onerado por fretes cada vez mais caros. Neste
cenário paradoxo, o produtor por ser eficiente da “porteira para dentro” será cada vez
88
mais penalizado “da porteira para fora”, refletindo em perda de competitividade
internacional bem como na estagnação ou diminuição do agronegócio brasileiro.
O Estado precisa desenvolver uma inteligência estratégica, voltada para o agronegócio,
dada a sua relevância para o país. Neste sentido, a agricultura precisa ser enxergada
como mais uma ferramenta de desenvolvimento do país, pois permite a geração de
riqueza que pode ser aproveitada internamente para o desenvolvimento econômico e de
sua população. É fato que existe ainda uma grande desigualdade na distribuição da
renda no Brasil, apesar de que a mesma tem reduzindo nos últimos anos e décadas, mas
a agricultura tem mostrado seu papel fundamental para a redução da pobreza pois a
renda advinda do trabalho rural remunerado contribui para a redução da desigualdade,
inclusive tanto ou mais do que programas de transferência de renda.
Os programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, englobados dentro do
PAC e destinatários dos maiores montantes de recursos do programa, são importantes
pois ajudam a reduzir imediatamente a desigualdade de renda no Brasil e resgatam
pessoas que estão na zona da pobreza. No entanto este tipo de subsídio corre o risco de
ser eventualmente descontinuado, seja pela escassez de recursos devido a uma nova
crise financeira mundial, seja por orientação de outro partido político que assuma a
presidência do país. Pelo motivo que for, se isto acontecer, haverá um grande impacto
sobre a população dependente da política de transferência de renda, ainda que este
impacto possa ser minimizado pela herança estrutural advinda das ações que estão
sendo implementadas hoje e no curto prazo. Sob esta ótica, avaliando-se as ações
alocadas para o Ministério da Agricultura no PAC observa-se que algumas ações são
89
estruturais, ou sejam, viabilizam o desenvolvimento de uma base sobre a qual o
crescimento do país pode se alicerçar. Por outro lado, também deve ficar claro que o
Brasil não pode se apoiar unicamente no modelo de desenvolvimento agro-exportador,
mesmo porque este setor será incapaz de empregar sozinho os milhões de brasileiros
com idade produtiva entre 15 e 65 anos de idade que viverão em 2020, dentro de uma
população estimada em 207 milhões de habitantes. O país precisa aproveitar este
momento de boa evolução de produção e renda, para pensar numa política de longo
prazo, visando inclusive os outros setores da economia como indústria e serviços.
Por tudo que se apresentou até aqui pode-se afirmar que a demanda continuada por
alimentos nas próximas décadas representa uma oportunidade para o desenvolvimento
do Brasil, no sentido dado neste documento, mas as políticas nacionais precisam ser
elaboradas de tal maneira que o desenvolvimento seja suportado no início pelo superávit
do agronegócio e conforme a base para os crescimento dos demais setores for sendo
solidificada, a contribuição para o superávit possa ser equitativamente distribuída,
reduzindo inclusive o risco da dependência do país de um único setor superavitário.
A implementação de uma política nacional para fortalecer os demais setores – serviços e
indústria - para que estes se tornem superavitários também, além de permitir o maior
crescimento nacional, reduzirá o impacto no caso de uma eventual crise que afete o
agronegócio. Por outro lado, por tudo que se leu até aqui, fica claro que este não pode
ser relegado, no entanto apesar da grande contribuição do setor agrícola tanto para a
balança comercial como para o desenvolvimento do país, os recursos alocados pelo
PAC para a agricultura e infraestrutura de apoio são muito menores em comparação aos
90
recursos alocados para outras as iniciativas e eixos. Deve-se relembrar que as riquezas
geradas pelo agronegócio também alimentam a economia como um todo e propiciam
condições para a melhoria de qualidade de vida, principalmente nas pequenas e médias
cidades brasileiras, sendo que grande maioria das pequenas cidades brasileiras tem sua
economia alicerçada no agronegócio. Além disso, as análises econômicas demonstraram
que a agricultura funciona como um amortecedor macro-econômico e que por isto
também deve ser mantida forte.
91
BIBLIOGRAFIA
ABAG - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE AGRIBUSINESS. (8 de agosto de 2008). 7º Congresso Brasileiro de Agronegócio. Acesso em 01 de abril de 2011, disponível em ABAG: http://www.abag.com.br/index.php?apg=cong_visor&ncong=2008&npr=33&pack=busc_cong&c_palavra=transporte
ABRAMILHO. (28 de fevereiro de 2011). ABRAMILHO - Associação Brasileira dos Produtores de Milho. Acesso em 01 de abril de 2011, disponível em Notícias: Falta de infraestrutura afeta o escoamento de grãos no MT: http://www.abramilho.org.br/noticias.php?cod=1407
Agroanalysis. (Fevereiro de 2011). Commodities Agrícolas - Novas Altas em 201. Agroanalysis , 13.
Alves, E., & R., M. (2009). A persistente migração urbana. Revista de Política Agrícola , 5-17.
Arraes, P. (10 de junho de 2011). Brasil, de potência agrícola, pode ser também potência ambiental. (P. B. Pauta, Entrevistador)
BANCO CENTRAL. (29 de Junho de 2011). Banco Central do Brasil. Acesso em 03 de Julho de 2011, disponível em Relatório de Inflação - Sumário Executivo: http://www.bcb.gov.br/htms/relinf/port/2011/06/ri201106sep.pdf
BANCO CENTRAL DO BRASIL. (2011). Acesso em 26 de março de 2011, disponível em Indicadores econômicos – Países selecionados – PIB nominal : http://www.bcb.gov.br/?INDECO
Barreto, F., Manso, C., & Loiola Filho, R. (Maio de 2010). A Renda do Trabalho e a Redução da Desigualdade: Evidências para o Ceará, Regiões e Brasil. Desenvolvimento Econômico em Foco , pp. 1-6.
Borges, A. (16 de fevereiro de 2004). O grande desafio do agronegócio no Brasil . Acesso em 04 de abril de 2011, disponível em Revista Pangea Mundo: http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=222&ed=4
BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. (junho de 2010). Agricultura de Baixo Carbono. Acesso em 09 de abril de 2011, disponível em Ministério da Agricultura: http://www.agricultura.gov.br/portal/page/portal/Internet-MAPA/pagina-inicial/desenvolvimento-sustentavel/programa-abc
BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. (22 de dezembro de 2010). Brasil está na vanguarda dos produtores mundiais de alimentos. Acesso em 30 de março de 2011, disponível em MINISTÉRIO DA AGRICULTURA: http://www.agricultura.gov.br/portal/page/portal/Internet-MAPA/pagina-inicial/comunicacao/noticias/noticia-aberta?noticiaId=31350
BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. (6 de junho de 2010). Governo investe R$ 1 bilhão para dobrar capacidade de armazenagem nas fazendas. Acesso em 05 de abril de 2011, disponível em
92
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA: http://www.agricultura.gov.br/portal/page/portal/Internet-MAPA/pagina-inicial/comunicacao/noticias/noticia-aberta?noticiaId=20504
BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. (2010). Plano Agrícola e Pecuário 2010-2011. Brasília: MAPA.
BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. (12 de janeiro de 2011). Portal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Acesso em 08 de março de 2011, disponível em Balança Comercial: http://www.agricultura.gov.br/
BRASIL - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. (2008). Resumo Executivo - Orientações Estratégicas do MAPA - PPA 2008-2011. Brasília: MAPA.
BRASIL - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME. (2008). Guia de ações para a geração de trabalho e renda . Brasília: BRASIL .
BRASIL. (09 de janeiro de 2010). BRASIL. Acesso em 09 de março de 2011, disponível em Economia | Setores da Economia | Agropecuária: http://www.brasil.gov.br/sobre/economia/setores-da-economia
BRASIL. (2010). PAC - Portal Brasil. Acesso em 04 de abril de 2011, disponível em Programa de Aceleração do Crescimento - PAC: Previsão de Investimento em Infraestrutura Logística 2007-2010: http://www.brasil.gov.br/pac/
BRASIL. (22 de março de 2011). Pesquisa mostra que classe média já tem mais de 100 milhões de brasileiros. Acesso em 27 de março de 2011, disponível em BRASIL: http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/03/22/pesquisa-mostra-que-classe-media-ja-tem-mais-de-100-milhoes-de-brasileiros
BRASIL. (2011). PLANO BRASIL SEM MISÉRIA. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
BRASIL. (2006). Presidência da República. Acesso em 18 de março de 2011, disponível em Fome Zero: http://www.fomezero.gov.br/programas-e-acoes
Camanaro, A. M. (2007). Envelhecimento, pobreza e proteção social na América Latina. Rio de Janeiro: IPEA.
CEPEA-USP/CNA. (Outubro de 2010). PIB do Agronegócio. Acesso em 03 de março de 2011, disponível em CEPEA: http://www.cepea.esalq.usp.br/pib/
CIA - Central Intelligence Agency. (s.d.). The World Factbook. Acesso em 05 de Março de 2011, disponível em CIA - Central Intelligence Agency: https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/fields/2097.html#
CNA - CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL . (2011). Plano Estratégico 2011 - Câmara Temática de Infraestrutura e Logística. Brasília, DF, Brasil.
CROPLIFE. (2010). Facts and figures – The status of global agriculture. Bélgica: CROPLIFE.
93
CROPLIFE. (29 de março de 2011). Sustainable agriculture. Acesso em 29 de março de 2011, disponível em CROPLIFE INTERNATIONAL: http://www.croplife.org/public/sustainable_agriculture
DCI - Diário Comércio Indústria e Serviço. (19 de fevereiro de 2011). CNA rebate proposta de regulação das 'commodities' agrícolas. DCI .
EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural . (2010). Evolução, Tendência, Perspectivas e Desafio Futuro do Agronegócio da Olericultura no Brasil e no Distrito Federal. EMATER. DF: EMATER.
EU - EUROPEAN COMMISSION. (18 de fevereiro de 2011). EUROPA. Acesso em 29 de março de 2011, disponível em Sustainable Development: http://ec.europa.eu/sustainable/welcome/index_en.htm
EUROPEAN COMMISSION. (2007). The importance and contribution of the agri-food sector to the sustainable development of rural areas. DIRECTORATE-GENERAL FOR AGRICULTURE AND RURAL DEVELOPMENT. Brussels: EU.
Evenson, R. E., & Gollin, D. (2003). Assessing the Impact of the Green Revolution, 1960 to 2000. Science , 300, 758-762.
FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. (2003). Agriculture, food and water. FAO Corporate Document Repository.
FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. (2006). FAO Statistical Yearbook 2005 - 2006 Vol. 2-1. Rome: FAO.
FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. (2009). How to Feed the World in 2050. Roma: FAO.
FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. (2009). The State of Food Insecurity in the World - Economic crises – impacts and lessons learned. Rome: FAO.
FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS. (2002). World agriculture: towards 2015/2030 - Summary Report. Roma: FAO.
FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION. (2010). Special Programme for Food Security. Acesso em 10 de Junho de 2011, disponível em Technical Cooperation Department: http://www.fao.org/spfs/en/
FAO. (26 de agosto de 2002). FAO's contribution to the World Summit on Sustainable Development 2002. Acesso em 29 de março de 2011, disponível em World Summit on Sustainable Development - Johannesburg 2002: http://www.fao.org/wssd/
FGV - FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. (Março de 2011). Budget dilemma: Cut expenditures or raise taxes? The Brazilian Economy , 3 (3), p. 32.
FGV - IBRE - Instituto Brasileiro de Economia. (março de 2011). Desafios do governo Dilma. Revista Conjuntura Econômica , 65 (3), pp. 6-9.
94
FGV - IBRE - Instituto Brasileiro de Economia. (março de 2011). Desafios Futuros. Revista Conjuntura Econômica , 65, p. Especial.
FOLHA DE SÃO PAULO. (04 de Março de 2011). Folha de São Paulo. Acesso em 07 de Julho de 2011, disponível em Mercado: http://www1.folha.uol.com.br/mercado/884228-investimento-e-3-menor-entre-20-emergentes.shtml
Gasques, J. G. (2004). Desempenho e Crescimento do Agronegócio no BR. Brasília: IPEA.
Gonçalves, M., Vianna, N., & Bacha, M. (2008). Frutas Frescas Brasileiras: Internacionalização e Transporte. Simpósio de Excelência e Gestão em Tecnologia , 1-16.
Hazel, P., & Wood, S. (2008). Drivers of change in global agriculture. Philosophical Transactions of the Royal Society - Biological Sciences , 495-515.
HOUAISS. (2011). Acesso em 26 de março de 2011, disponível em Dicionário HOUAISS da língua portuguesa: http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm
IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. (2006). Banco de Dados Agregados. Acesso em 13 de março de 2011, disponível em Sistema IBGE de Recuperação Automática - SIDRA: <http://www.sidra.ibge.
IBGE. (29 de novembro de 2010). IBGE Censo 2010. Acesso em 27 de março de 2011, disponível em Resultados do Censo 2010: http://www.ibge.gov.br/censo2010/resultados_do_censo2010.php
IBGE. (03 de março de 2011). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) . Acesso em 05 de março de 2011, disponível em Sala de Imprensa :: Contas Nacionais Trimestrais-Indicadores de Volume: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1830&id_pagina=1
IEA - INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. (junho de 2010). Armazenar é Preciso! Como Guardar as Grandes Safras? Análises e Indicadores do Agronegócio , 5 (6), pp. 1-5.
IEA - Instituto de Economia Agrícola. (janeiro de 2011). Balança Comercial dos Agronegócios Paulistas e Brasileiros de Janeiro de 2011. Acesso em 07 de março de 2011, disponível em IEA - Instituto de Economia Agrícola: http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=12061
ILO - International Labour Organization & FAO - Food and Agriculture Organization. (2011). Rural Migration. Acesso em 08 de março de 2011, disponível em Food, Agriculture & Decent Work: http://www.fao-ilo.org/more/migration/en/
INE - INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICAS. (2010). CHILE: Proyecciones y Estimaciones de Población. Total País: 1950-2050. Acesso em 27 de MARÇO de 2011, disponível em INSTITUTO NACIONAL DE ESTADÍSTICAS - Las Estadísticas de Chiles: http://www.ine.cl/canales/chile_estadistico/demografia_y_vitales/proyecciones/Informes/Microsoft%20Word%20-%20InforP_T.pdf
95
INTERNATIONAL MONETARY FUND. (2011). Global Economic Outlook: Global Recovery Advances but Remains Uneven. Washington: FMI.
INTERNATIONAL MONETARY FUND. (abril de 2010). World Economic and Financial Surveys. Acesso em 18 de março de 2011, disponível em World Economic Outlook: http://www.imf.org/external/pubs/ft/weo/2010/01/weodata/groups.htm#oem
IPEA - INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. (2011). Renda - Desigualdade - Coeficiente de Gini. Acesso em 27 de março de 2011, disponível em IpeaData: http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx
Kotler, P. (2006). Administração de Marketing (12ª ed.). São Paulo: Pearson Prentice Hall.
MAPA - MIN. DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. (2010). Ministério da Agricultura. Acesso em 4 de abril de 2011, disponível em Indicadores e Estatisticas - Balança Comercial: http://www.agricultura.gov.br/portal/page/portal/Internet-MAPA/pagina-inicial/internacional/indicadores-e-estatisticas/balanca-comercial
MAPA - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA. (2011). Desenvolvimento Sustentável. Acesso em 28 de março de 2011, disponível em Ministério da Agricultura: http://www.agricultura.gov.br/portal/page/portal/Internet-MAPA/pagina-inicial/desenvolvimento-sustentavel
MAPA - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. (2009). Projeções do Agronegócio - Brasil - 2008/09 a 2018/19. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, Coordenação Geral de Planejamento estratégico - CGPE. Brasília: AGE - Assessoria de Gestão Estratégica.
MICHAELIS. (2007). (Editora Melhoramentos Ltda) Acesso em 26 de março de 2011, disponível em Moderno Dicionário da Língua Portuguesa: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=desenvolvimento
Micheletto, M. (2010). Deputado Moacir Micheletto - A voz da agricultura. Acesso em 05 de março de 2011, disponível em Moacir Micheletto: http://www.deputadomoacirmicheletto.com.br/attachments/219_not757_x.pdf
O ESTADO DE SÃO PAULO. (2011). O mau caminho das safras. O ESTADO DE SÃO PAULO , Editorial.
OCDE. (2011). Member Countries. Acesso em 13 de março de 2011, disponível em OECD country Web sites: http://www.oecd.org/countrieslist/0,3351,en_33873108_33844430_1_1_1_1_1,00.html
RIO Negócios. (18 de Março de 2011). RIO Negócios - Business. Acesso em 24 de Abril de 2011, disponível em Notícias: http://rio-negocios.com/dilma-quer-combater-inflacao-com-crescimento/
Rossi, W. (30 de março de 2011). A sustentabilidade da agricultura brasileira. (V. ECONÔMICO, Entrevistador)
96
Sen, A. K. (2000). Desenvolvimento como liberdade; São Paulo. . São Paulo: Companhia das Letras.
SENADO FEDERAL - BRASIL. (06 de Maio de 2011). Senado Federal. Acesso em 03 de Julho de 2011, disponível em Orçamento da União: http://www8.senado.gov.br/businessobjects/enterprise115/desktoplaunch/siga/abreSiga.do?docId=3941574&kind=Webi
Silva, O. L., & Ferreira, E. (Fevereiro de 2011). Negociações para o agronegócio. Agroanalysis , 20.
Soares, S. (novembro de 2010). A Distribuição dos Rendimentos do Trabalho e a Queda da Desigua ldade de 1995 a 2009. Mercado de Trabalho , 45, p. 40.
Soubbotina, T., & Sheram, K. (2000). Beyond Economic Growth - Meeting the Challenges of Global Development. Washington: THE WORLD BANK.
Trading Economics. (2010). Prevalence of undernourishment (% of population) in France. Acesso em 08 de março de 2011, disponível em Trading Economics: http://www.tradingeconomics.com/france/prevalence-of-undernourishment-percent-of-population-wb-data.html
UN - UNITED NATIONS. (2009). Sustainable Development Topics. Acesso em 29 de março de 2011, disponível em UN Department of Economic and Social Affairs - Division for Sustainable Development: Agriculture: http://www.un.org/esa/dsd/susdevtopics/sdt_agriculture.shtml
UNDP - UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAME. (2010). Acesso em 26 de março de 2011, disponível em International Human Development Indicators: http://hdrstats.undp.org/en/tables/default.html
UNDP - UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAME. (2008). Acesso em 26 de MARÇO de 2011, disponível em HUMAN DEVELOPMENT REPORTS: http://hdr.undp.org/en/reports/global/hdr2007-2008/
United Nations Department of Economic and Social Affairs. (2002). GLOBAL CHALLENGE, GLOBAL OPPORTUNITY - TRENDS IN SUSTAINABLE DEVELOPMENT. THE WORLD SUMMIT ON SUSTAINABLE DEVELOPMENT. Johannesburg, 24p.
USDA - UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE. (19 de janeiro de 2011). USDA - Economic Research Service. Acesso em 26 de março de 2011, disponível em International Macroeconomic Data Set : http://www.ers.usda.gov/Data/Macroeconomics/
VALOR ECONÔMICO. (13 de junho de 2011). FAO prevê mais uma década de alta para as commodities. Valor Econômico , p. 1.
Viotto, P. J. (2008). Agroalimentos. Lins: Unilins. WHO - World Health Organization. (2011). Trade, foreign policy, diplomacy and
health . Acesso em 10 de Junho de 2011, disponível em Food Security: http://www.who.int/trade/glossary/story028/en/
World Bank - Department of Economic and Social Affairs. Division for Sustainable Development. (2008). World Development Report 2008. In: TRENDS IN
97
SUSTAINABLE DEVELOPMENT. Agriculture, rural development, land, desertification and drought. New York, 42p.: United Nations.
WWF. (2011). O que é desenvolvimento sustentável? Acesso em 28 de março de 2011, disponível em WWF Brasil: http://www.wwf.org.br/informacoes/questoes_ambientais/desenvolvimento_sustentavel/
Zylbersztajn, D. &. (2000). Economia e Gestão dos Negócios Agroalimentares. São Paulo: Editora Pioneira.
98
ANEXO I - ProjeçõesdoAgronegócio–Brasil2008/09a2018/19
O trecho a seguir é a transcrição do tópico Principais Resultados e Tendências das
Projeções homônimo do documento Projeções do Agronegócio – Brasil 2008/09 a
2018/19 (MAPA - MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E
ABASTECIMENTO, 2009).
O agronegócio brasileiro tem um grande potencial de crescimento. O mercado
interno é expressivo para todos os produtos analisados, e o mercado internacional
tem apresentado acentuado crescimento do consumo. Países superpopulosos terão
dificuldades de atender às demandas devido ao esgotamento de suas áreas
agricultáveis. As dificuldades de reposição de estoques mundiais; o acentuado
aumento do consumo especialmente de grãos como milho, soja e trigo; o processo
de urbanização em curso no mundo, criam condições favoráveis aos países como o
Brasil, que têm imenso potencial de produção e tecnologia disponível. A
disponibilidade de recursos naturais no Brasil é fator de competitividade.
Os produtos mais dinâmicos do agronegócio brasileiro deverão ser a soja, milho,
trigo, carnes, etanol, farelo de soja, óleo de soja e leite. Esses produtos indicam
elevado potencial de crescimento para os próximos anos. A produção de grãos (soja,
milho, trigo, arroz e feijão) deverá passar de 139,7 milhões de toneladas em 2007/08
para 180,0 milhões em 2018/19. Isso indica um acréscimo de 40,0 milhões de
toneladas à produção atual do Brasil. A produção de carnes (bovina, suína e aves),
deverá aumentar em 12,6 milhões de toneladas. Isso representa um acréscimo de
51,0% em relação à produção de carnes de 2008. Três outros produtos com elevado
99
crescimento previsto são açúcar, mais 14,5 milhões de toneladas, etanol, 37,0
bilhões de litros e leite, 9,0 bilhões de litros.
Haverá expressiva mudança de posição do Brasil no mercado mundial. A relação
entre as exportações brasileiras e o comércio mundial, mostra que em 2018/19, as
exportações de carne bovina brasileira representarão 60,6% do comércio mundial; a
carne suína, representará 21,0% do comércio, e a carne de frango deverá representar,
89,7% do comércio mundial. Esses resultados indicam que o Brasil continuará a
manter sua posição de primeiro exportador mundial de carne bovina e de carne de
frango.
Apesar do Brasil apresentar nos próximos anos forte aumento das exportações, o
mercado interno será um forte fator de crescimento. Do aumento previsto nos
próximos 11 anos na produção de soja e milho, 52,0% deverá ser destinado ao
consumo interno, distribuídos da seguinte forma: 57,9% do aumento da produção de
milho devem ir para o mercado interno em 2018/19, e 44,9% do aumento da
produção de soja deverá ir para o consumo interno. Haverá, assim, uma dupla
pressão sobre o aumento da produção nacional, o crescimento do mercado interno e
as exportações do país. Nas carnes, também haverá forte pressão do mercado
interno. Do aumento previsto na produção de carnes, de 12,6 milhões de toneladas
entre 2007/08 a 2018/19, 50,0% deverão ser destinados ao consumo interno e o
restante dirigido às exportações.
100
Também com relação a outros produtos o Brasil deve melhorar sua posição no
comércio mundial, dada pela relação entre quantidade de exportação e comércio
mundial. Para a soja, essa relação deverá passar de 36,0% em 2008 para 40,0% em
2018/19; para o óleo de soja, de 63,0% para 73,5%; para o milho, de 13,0% para
21,4%, e para o açúcar, de 58,4% para 74,3%.
O crescimento da produção agrícola deve dar–se com base na produtividade. Deverá
ser mantido forte crescimento da produtividade total dos fatores como trabalhos
recentes têm mostrado. Os resultados revelam maior acréscimo da produção
agropecuária que os acréscimos de área. As previsões realizadas até 2018/19 são de
que a área de soja deve crescer 5,2 milhões de hectares em relação a 2007/08; a área
de milho, 1,75 milhão de hectares; a área de cana deve crescer de 6,0 milhões de
hectares; as áreas de arroz e trigo devem aumentar e o café deve sofrer redução de
área. No total das lavouras analisadas, o Brasil deverá ter um acréscimo de área da
ordem de 15,5 milhões de hectares nos próximos anos.
O documento aponta as seguintes incertezas
1. Recessão Mundial;
2. Aumento do grau de protecionismo nos países importadores;
3. Mudanças climáticas severas;