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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X A DESCOLONIZAÇÃO DA SOCIEDADE PATRIARCAL: UMA ANÁLISE A PARTIR DO FENÔMENO DA VIOLÊNCIA Raquel Cristiane Feistel Pinto 1 Resumo: A história da humanidade revela uma sociedade marcada pela violência em nome do poder. A partir desta análise, busca-se compreender o que é a violência e como ela se apresenta e se constitui nas relações humanas, contribuindo para a formação da sociedade patriarcal. Constata-se que a discriminação da mulher se constitui em um problema cultural, social, econômico e político, perpassando por gerações e que, todas as tentativas de superação deste mal, implementadas até hoje, não são plenamente satisfatórias. Com as ações afirmativas no Brasil não poderia ser diferente, uma vez que não atuam diretamente na sociedade e na família, para a conscientização e reconstrução de novos modelos de comportamentos sociais, pois, para além de atender as vítimas e responsabilizar os agressores, é imprescindível, descolonizar a sociedade da ideologia patriarcal. Neste artigo foi utilizado o método de abordagem dedutivo, tendo como metodologia a pesquisa doutrinária em diversos livros e artigos em relação ao tema. Palavras-chave: Violência. Gênero. Sociedade Patriarcal. Descolonização. Constituição da sociedade e relações de violência e poder Da idade antiga à contemporaneidade, a história está marcada por constantes formas de violência, tanto no âmbito público quanto privado. Em uma linha temporal da humanidade, evidencia-se uma sociedade organizada pela divisão de classes, com profundas desigualdades sociais e, consequentemente, altamente excludente e violenta. As relações humanas sempre se constituem a partir de uma relação de poder, em que uns exercem sobre outros, em que a quantidade não é relevante para o exercício deste poder, ou seja, o poder sempre é exercido por uma minoria que o impõe sob a maioria das pessoas, escravizando-as. Consequentemente, a violência predomina todas as relações, sejam elas políticas, sociais, culturais ou econômicas, em todas as épocas. Mas afinal, o que se entende por violência? A violência existe a partir da agressividade ou violência e agressividade são uma coisa só? A violência implica numa ação ou omissão de um ou mais agentes, mas que objetivam um resultado, para além da própria lesão da violência, ou seja, há um desejo implícito na 1 Mestranda em Direitos Humanos da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. UNIJUÍ. Brasil. Ijuí/RS.

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Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

A DESCOLONIZAÇÃO DA SOCIEDADE PATRIARCAL: UMA ANÁLISE A

PARTIR DO FENÔMENO DA VIOLÊNCIA

Raquel Cristiane Feistel Pinto1

Resumo: A história da humanidade revela uma sociedade marcada pela violência em nome do

poder. A partir desta análise, busca-se compreender o que é a violência e como ela se

apresenta e se constitui nas relações humanas, contribuindo para a formação da sociedade

patriarcal. Constata-se que a discriminação da mulher se constitui em um problema cultural,

social, econômico e político, perpassando por gerações e que, todas as tentativas de superação

deste mal, implementadas até hoje, não são plenamente satisfatórias. Com as ações

afirmativas no Brasil não poderia ser diferente, uma vez que não atuam diretamente na

sociedade e na família, para a conscientização e reconstrução de novos modelos de

comportamentos sociais, pois, para além de atender as vítimas e responsabilizar os agressores,

é imprescindível, descolonizar a sociedade da ideologia patriarcal. Neste artigo foi utilizado o

método de abordagem dedutivo, tendo como metodologia a pesquisa doutrinária em diversos

livros e artigos em relação ao tema.

Palavras-chave: Violência. Gênero. Sociedade Patriarcal. Descolonização.

Constituição da sociedade e relações de violência e poder

Da idade antiga à contemporaneidade, a história está marcada por constantes formas

de violência, tanto no âmbito público quanto privado. Em uma linha temporal da humanidade,

evidencia-se uma sociedade organizada pela divisão de classes, com profundas desigualdades

sociais e, consequentemente, altamente excludente e violenta. As relações humanas sempre se

constituem a partir de uma relação de poder, em que uns exercem sobre outros, em que a

quantidade não é relevante para o exercício deste poder, ou seja, o poder sempre é exercido

por uma minoria que o impõe sob a maioria das pessoas, escravizando-as. Consequentemente,

a violência predomina todas as relações, sejam elas políticas, sociais, culturais ou econômicas,

em todas as épocas. Mas afinal, o que se entende por violência? A violência existe a partir da

agressividade ou violência e agressividade são uma coisa só?

A violência implica numa ação ou omissão de um ou mais agentes, mas que objetivam

um resultado, para além da própria lesão da violência, ou seja, há um desejo implícito na

1 Mestranda em Direitos Humanos da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul. UNIJUÍ. Brasil. Ijuí/RS.

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conduta violenta. Assim, de acordo com (Pereira, 1975, p. 27 e 28) a violência não é igual a

agressão pois a violência é a expressão viva da agressão. Para o autor a agressividade não é

exclusividade do homem, pois é um impulso natural do homem, enquanto ser vivo, contudo,

devido a racionalidade humana, a violência torna-se exclusiva do homem, pois trata-se de

uma “agressão calculada, programada, consciente, voluntariosa, objetivamente cruel” que se

manifesta de diversas formas, portanto, a dimensão da violência é muito mais “sutil e

profunda”. Como em qualquer espécie animal encontramos o instinto agressivo, como uma

característica biológica de cada espécie para a sobrevivência, contudo, a violência para

(Pereira, 1975, p. 62) “não é uma consequência do instinto agressivo, mas uma forma de

mutação deformante da agressividade natural”, por isso, consciente e livre. Portanto, a

agressividade e violência não são a mesma coisa e a existência da agressividade não

necessariamente implica na violência, mas a violência implica na agressividade.

Mas então, seria o homem violento por ser um animal? Obviamente que não, “homens

são violentos por serem tão-somente humanos” (BASTOS; CABRAL; REZENDE, 2010, p.

13). O homem é uma espécie pertencente à classe animal e como todos os animais sente fome,

sede, frio, calor, medo, dor, prazer, nasce, reproduz e morre. Também é instintivo como os

demais animais, contudo, diferencia-se de qualquer outro animal pela sua racionalidade que o

possibilita a fazer escolhas para além das necessidades instintivas. Os animais matam outros

animais por uma questão de sobrevivência e não sentem prazer na sua agressividade, são

apenas instintivos. Os humanos, por sua vez, sentem prazer ao torturar e causar dor e

sofrimento aos corpos da sua mesma espécie. Somente o homem é capaz de fazer uma guerra

e matar milhões de seres da sua própria espécie, por uma questão que não se refere a

sobrevivência, que não segue os padrões instintivos, muito pelo contrário, ele age

racionalmente. De acordo com (Arendt, 1985, p. 34) “a violência não é nem animalesca e nem

irracional”, portanto, não se origina do ódio como irracional ou animalismo, mas da ofensa ao

senso de justiça, portanto, a violência é racional.

O homem diferente dos demais animais, pela sua racionalidade, constrói caminhos e se

desenvolve de forma diferente. Nesta formatação da racionalidade, o homem se organiza

dentro de uma coletividade ao qual se relaciona a partir da definição de comportamentos e

condutas a serem seguidos/respeitados, que se diferenciam conforme o grupo e a época. De

acordo com (Odalia, 2012, p. 35) a possibilidade de viver em sociedade “significa criar

normas de comportamento” que vão determinar as condutas e modos de agir dos seus

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membros e “também criar discriminações”. Estas normas de condutas representam aquilo que

é aceito ou não pela sociedade em cada época. Assim, as normas e leis apresentam-se

diferentes em cada contexto histórico-social, limitando os indivíduos e consequentemente

institucionalizando a violência e, desta forma, ditando quais violências são legítimas ou

ilegítimas.

A violência, seja ela legitimada ou não, decorre da concepção daquilo que também se

considera como certo ou errado, do fazer ou não fazer e para (PEREIRA, 1975, p.63) “ [...] A

violência, seja no plano político-social, seja no domínio pessoal, nasce e floresce em

obediência às mutações da sociedade ou em consequência da intolerância humana”. Mas o

que faz com que a sociedade reproduza a violência como que de forma natural?

Pensar a violência como forma, requer uma análise mais profunda do que aquela que

nos remete a violência física, ou seja, requer ir para além do que habitualmente identificamos

como violência. De acordo (ZIZEK, 2014, p.17) “Os sinais mais evidentes de violência que

nos vêm à mente são atos de crime e terror [...]. Mas devemos aprender a dar um passo para

trás [...] identificar uma violência que subjaz aos nossos próprios esforços que visam

combater a violência e promover a tolerância. ” Para Zizek a violência ocorre de diversas

formas e nos diferentes espaços, sejam eles públicos ou privados, apresentando-se como: a)

violência subjetiva – parte visível do fenômeno e é percebida como uma perturbação do

estado das coisas, normal e pacífico; b) violência objetiva – é invisível, imperceptível e se

apresenta sob dois aspectos: b.1) violência simbólica – pelas formas e linguagem, que não

está apenas nos casos evidentes de provocações e de relações de dominação social, mas na

imposição de certo universo de sentido – b.2) violência sistêmica – que é invisível, silenciosa,

hegemônica e extremamente catastrófica, pois suas formas sutis de coerção sustentam as

relações de dominação e exploração. Deste modo, violência não é somente aquilo que os

olhos enxergam e os sentidos captam. Há violência, na maioria das vezes, naquilo que nos

foge aos sentidos e que nos mantem inerte a ela.

Pode-se chegar a duas conclusões importantes: 1º existem diversas formas de violência

na sociedade, contudo, as que saltam aos olhos e são objeto de estudo para sua redução é a

violência subjetiva, uma vez que alteram o estado normal das coisas; 2º por traz da violência

subjetiva existe a violência objetiva (não perceptível) e que sustenta/alimenta o

desencadeamento da violência subjetiva. Portanto, qualquer estudo ou ações afirmativas que

se façam acerca da violência subjetiva (física, psicologia, patrimonial, sexual, moral) em

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todos os contextos humanos, sociais, políticos, econômicos e culturais, sem ao menos

compreender qual a violência objetiva que a mantém, será frustrada.

O sociólogo francês (Bourdieu, 2003, p. 9) fala sobre o poder simbólico que é “um

poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem gnoseológica: o sentido

imediato do mundo (e, em particular, do mundo social)”. Este poder é invisível e silencioso,

portanto, atua sem ser visto. Desta forma, esse poder se manifesta através dos chamados

“sistemas simbólicos”, ou seja, através língua, da arte e da religião, que constroem os sentidos

do e para o mundo, que serão aceitos pelo consenso dos demais para integração e ordem

social. Trata-se de uma violência objetiva como forma, culturalmente dominante, de uma

classe ou conjunto de pessoas, através da utilização de instrumentos “estruturados e

estruturantes de comunicação e de conhecimento”.

Desta forma, a classe dominante detém o monopólio da violência simbólica, impondo

de forma inquestionável a realidade social do mundo desejado, como legitima de ser, pois “ A

função propriamente ideológica do campo de produção ideológica realiza-se de maneira quase

automática na base da homologia de estrutura entre o campo de produção ideológica e o

campo da luta das classes.” (BOURDIEU, 2003, p. 14)

O que se compreende por um poder simbólico de dominação implica justamente na

aceitação e compreensão do que é real e verdadeiro para a maioria, portanto, “o poder

simbólico não reside nos “sistemas simbólicos” [...] mas que se define numa relação

determinada – e por meio desta – entre os que exercem o poder e os que lhe estão sujeitos,

quer dizer, isto é, na própria estrutura do campo em que se produz e se reproduz.”

(BOURDIEU, 2003, p. 14-15). Portanto, quando se utiliza os sistemas de símbolos (língua, da

arte e da religião) não são exatamente estes que determinam o poder. Não é a palavra, a

pintura, ou uma parábola em si que exerce o poder, mas o que está por traz da utilização dos

símbolos, que dão credibilidade àquilo que se diz, escuta ou vê.

Quando uma categoria de símbolos é prospectada de forma invisível e silenciosa de

certas “verdades”, sem necessariamente serem ditas, não há julgamentos/questionamentos a

respeito do que se quer determinar como verdade e, portanto, consolida-se como um

consenso. Silenciosamente, diversos símbolos, de forma constante e sem coação, produzem a

sua ideologia e os sujeitos às reproduzem naturalmente. É o que acontece, por exemplo,

quando através dos símbolos se molda padrões de beleza, de comportamento, de saúde, dentre

tantos outros. Portanto, podemos concluir que o poder está presente nas relações humanas e

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que se utiliza de instrumentos legitimados (como a violência autorizada) para manter-se.

Além disso, que sua ação se porta a uma coletividade e que não é estático, pois muda com o

tempo e com a sociedade.

O sistema de dominação patriarcal na sociedade

O poder exercido na sociedade constitui um sistema de dominação e de acordo com o

alemão (Max Weber, 1982) o poder é uma possibilidade, portanto, uma probabilidade de

impor uma vontade própria ao comportamento de terceiros. Obviamente, quando o exercício

do poder se exerce de forma dominante, estamos situados de alguma forma nos três grandes

sistemas de dominação social: o colonialismo, o capitalismo e o patriarcalismo.

De regra o primeiro grande sistema de dominação existente na sociedade ocidental é o

patriarcalismo e, posteriormente, o capitalismo atuando sempre de modo concomitante em

que uma mantém o outro. Contudo, nos países colonizados pela cultura ocidental, o primeiro

grande sistema de dominação foi a colonização, que obviamente, alicerçada sob um sistema

patriarcal2, vai se introduzir durante o processo de colonização3, instituindo poder aos

senhores feudais tanto no espaço público quanto privado e, que mais tarde, sob um sistema

econômico cuja concentração de riqueza e livre concorrência, dita as suas normas,

contribuindo para a inserção de um sistema capitalista4.

Assim, processo de colonização na América foi fortemente arraigado pela ideologia

patriarcal - a partir da lógica europeia - que regulou as relações conjugais e familiares,

atribuindo aos homens grandes poderes sobre as mulheres, o que justificava os atos de

violência cometidos. A ideologia patriarcal foi disseminada por todas as classes sociais

inspirando no homem uma relação de poder sobre o corpo feminino e para fins de controle

sendo autorizado o uso da força física. A discriminação e a violência contra as mulheres são

marcas da desigualdade histórica entre os homens e mulheres tanto no espaço privado quanto 2 O patriarcalismo possui o conteúdo de comunicação patriarcal e heterossexual como ordem das coisas, dando

extrema relevância ao gênero e a sexualidade que “funciona mediante um sistema de comunicações praticamente

silenciosas, mas avassaladoramente eficazes na estruturação e dinâmica dos processos de dominação das

mulheres pelos homens e de homossexuais por heterossexuais” (SANTOS e COPETTI, 2015, p. 35).

3 Um processo de colonização marcado por características aristocratas, que se mantinha pelos sistemas

escravocrata e latifundiário. Marcado por discriminações e desigualdades sociais, impostas pelo sistema feudal,

que mantinha a concentração de riqueza e poder, ditando suas leis nas instituições públicas e privadas. Trata-se

de um período extremamente discriminador e violento para negros e índios, principalmente, para as mulheres

que eram constantemente abusadas.

4 O capitalismo é um sistema econômico de domínio da propriedade privada, que visa fins lucrativos através dos

meios de produção, distribuição e das decisões de mercado. Surgiu por volta do século XIX, depois da queda do

feudalismo e rapidamente se espalhou pela Europa.

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no espaço público. São resultados de uma construção sociocultural, num sistema de sujeição,

dominação e poder naturalizados, portanto, reproduzido de geração para geração, pelos

dominadores e dominados. Todo este processo de violência é gerado para controle da

diferença, pois historicamente, a humanidade se divide em dois seres distintos, os homens

(aqueles que pensam) e as mulheres (aquelas que sentem), ou seja, através dos discursos se

naturaliza a heterossexualidade. Nesta perspectiva binária, o sujeito do discurso filosófico, da

história, da ciência, da arte, da poesia, da literatura, da música é masculino (o homem

sinônimo de razão e virilidade), portanto, aquele que dita as regras e as leis. Para justificar a

inferioridade feminina muitas teorias foram levantas ao longo dos tempos e, aliando a um

conjunto de sistemas simbólicos de dominação, que demonstram as diferenças anatômicas e

biológicas e desqualificam fisicamente, socialmente e intelectualmente a mulher,

naturalizaram a superioridade masculina a tal ponto que a mulher compreendeu

“naturalmente” a sua condição de inferioridade e, portanto, sua submissão ao homem. Assim,

a inferioridade da mulher é demonstrada, de modo, que se torne submissa e dependente e,

acima de qualquer dúvida, aceite a sua situação como uma condição natural.

Existe uma força simbólica da dominação masculina, uma forma de poder que se

exerce sobre os corpos, diretamente sem qualquer coação física, que atua como molas

propulsoras sobre os corpos, de forma mecânica, como que natural (Bourdieu, 2003) o que

torna a violência e a discriminação, na maior parte do tempo, imperceptível e, desta forma,

sendo facilmente aceita como um processo natural para as mulheres de modo que elas

mesmas reproduzam esse caminho na educação dos seus filhos.

Para melhor compreensão de Bourdieu podemos atrelar aos quatro elementos da

categoria de gênero proposto por (Scott, 1995) frutos das relações sociais que justificam a

relação de poder. Como primeiro elemento temos os símbolos culturais da mulher, como

Maria símbolo de pureza e virgindade e de Eva e Madalena como perigosas, pecadoras e

sedutoras. O segundo elemento apresenta-se nos conceitos normativos, de forma categórica e

inequívoca da distinção entre o masculino e o feminino, expressadas em doutrinas religiosas,

cientificas, políticas e jurídicas como um consenso social para as práticas discriminatórias. O

terceiro elemento são as instituições e organizações sociais, ou seja, do privado ao público –

família, mercado de trabalho, sistemas educacionais, políticos e de saúde. O quarto elemento,

a identidade subjetiva, construída através do que é apresentado como destino a partir da sua

sexualidade. Assim a força simbólica de dominação masculina passa pelos quatro elementos

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da categoria de gênero, ou seja, se manifesta no ambiente doméstico e se ampliada para outros

espaços, como na Igreja, Escola e Estado e para (Bourdieu, 2003) somente uma ação política

exercida através da cumplicidade objetiva entre estruturas incorporadas (homens e mulheres)

e de grandes instituições (Estado e escola) poderá, em longo prazo, e, trabalhando com as

contradições inerentes aos diferentes mecanismos ou instituições referidas, contribuir para o

desaparecimento progressivo da dominação masculina.

O que se entende é que o destino da mulher é traçado pela imposição dos seus

educadores e da sociedade, e que de acordo com (Beauvoir, 1967) já nos primeiros anos de

vida os sexos e seus caminhos já começam a ser direcionados. Portanto, quando (Beauvoir,

1967, p. 9) diz que “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher.”, também quer dizer que

ninguém nasce homem: torna-se homem; significando que as desigualdades e diferenciações

subjetivas são construídas a partir de uma visão social, que se inicia dentro do seio familiar, já

na infância, onde são diferenciados pelo sexo os laços de afetos, os brinquedos, os deveres, os

comportamentos, as brincadeiras. Tudo gira em torno das diferenças, entre dominadores e

dominados, desde os contos e sonhos de fadas até o mundo real. A diferença entre homens e

mulheres anatomicamente é indiscutível, no entanto, não pode servir de motivo para justificar

as desigualdades.

As ações afirmativas no Brasil na tentativa de minimizar os efeitos nocivos do sistema

patriarcal

Nas últimas décadas ocorreram avanços significativos para os direitos humanos,

principalmente no que diz respeito às ações afirmativas de direitos igualitários entre homens e

mulheres, tanto no âmbito internacional quanto nacional. Contudo, os índices de violência

contra a mulher no Brasil ainda estão muito além do desejado.

No Brasil a conquista feminina deu-se de forma bem mais lenta que nos países da

Europa. Do percurso da história, o Brasil está na sua oitava Constituição e somente na

Constituição de 1934 é que foi previsto o princípio da igualdade entre os sexos, pois até então,

as mulheres comparadas aos negros não eram cidadãs. Nesta mesma constituição foram

garantidos o alistamento e o voto obrigatório e secreto para homens e mulheres, com a

condição de que as mulheres exercessem função pública, ou seja, o voto era permitido às

mulheres, mas não para todas. Em 1937 foram eliminadas as reservas, mas as mulheres já não

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podiam manifestar-se ou reunirem-se, pois o Brasil estava em regime militar. Com a

Constituição de 1946 houve um retrocesso para as mulheres com a eliminação da expressão

“sem distinção de sexo”, mas previu assistência à maternidade, à infância e adolescência. Em

1967 a nova Constituição apenas reduziu o prazo de aposentadoria das mulheres de 35 para 30

anos (CORTÊS, 2012).

O Código Civil de 1916, altamente discriminatório, inferiorizava a figura da mulher,

tratando-a como relativamente incapaz, com diversas restrições para o exercício da cidadania

– não podia exercer o pátrio poder, abrir conta bancária, fixar o domicílio do casal,

estabelecer atividades comerciais, viajar sem autorização do marido, entrar com ações

judiciais, vender, aceitar ou rejeitar herança sem autorização do marido - deste modo, o

marido era seu tutor.

Em 1977 foi aprovada no Brasil a Lei 6515/77, a “Lei do Divórcio” que possibilitou

a dissolução do vínculo matrimonial após comprovada separação judicial de três anos ou

cinco anos de separação comprovada em juízo. Somente 34 anos depois é que foi admitido o

divórcio no Brasil, excluindo todas as condicionalidades, com a Emenda Constitucional nº 66

em 2010.

Na década de 80 a partir dos movimentos sociais de excluídos e discriminados, em

especial, com a grande participação das mulheres, foram realizadas modificações

significativas na legislação, abarcando alguns direitos e garantias, como derradeiro o art. 5º,

inciso I da Constituição da República Federativa do Brasil em 1988, que declara que

“Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição” e

no art. 226, parágrafo 5º “Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são

exercidos pelo homem e pela mulher”, visando desta forma, garantir a igualdade de gênero e a

proteção dos direitos humanos das mulheres. Outra legislação que consagrou o princípio da

igualdade foi o Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, que estabeleceu que o pátrio

poder fosse exercido “em igualdade de condições pelo pai e pela mãe”. Percebe-se, através

da história, que apesar de ser um país bastante diversificado pelas raças e culturas, advindos

do processo de colonização, traz enraizado sérios problemas discriminatórios e de violência.

Com isso, a afirmação de legislações que estabeleçam garantias e direitos às classes de todo

gênero e com respeito à diversidade ocorrem de forma muito lenta no país. Mesmo com a

ratificação da Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Contra a

Mulher (1979) e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência

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contra a Mulher (1994) “Convenção de Belém do Pará” pelo Brasil, ainda assim, pouco se

garantia ou se realizava na prática.

Contudo, num cenário em que o Brasil se comprometia a erradicar a violência e a

discriminação contra a mulher, a partir da ratificação dos Tratados Internacionais, do aumento

da produção e conhecimento científico sobre as relações de gênero, do alargamento dos

movimentos feministas, das pressões internacionais e dos diversos questionamentos da

sociedade quanto às desigualdades entre homens e mulheres, é que, em 2003, se criada a

Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, com o objetivo de elaborar um plano de

políticas direcionadas às mulheres, de modo transversal, ou seja, que as responsabilidades

pelas ações e pelos resultados perpassassem todas as demais políticas, para a igualdade de

gênero, assim como, a responsabilidade das esferas federais, estaduais e municipais. De 2004

até hoje, foram elaborados três Planos Nacional de Políticas para as Mulheres – PNPM5, que

definiram objetivos, metas, prioridades e ações, distribuídas em eixos estratégicos. Em todos

eles, sempre esteve presente o eixo Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres. Este,

certamente é o maior desafio do Brasil no que tange as ações afirmativas para as mulheres,

cuja violência é uma constante nos lares brasileiros.

Neste sentido, é pertinente lembrar que o reconhecimento da violência contra a

mulher como crime ocorreu somente em 1985 com a criação das Delegacias Especiais de

Atendimento às Mulheres (Deam´s) em que na maioria dos casos levados a julgamento, os

autores eram defendidos sobre o princípio da legítima defesa da honra. Em 1995, visando à

celeridade, simplicidade, informalidade e economia, os crimes de violência praticados contra

a mulher foram considerados de menor potencial ofensivo, sendo regulados pela Lei 9.099/95,

que dispôs sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Jecrim´s), cuja pena era doação de

cestas básicas. Em 2003, com a criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres, este

cenário começa a mudar com a consolidação do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres.

Assim, no primeiro plano (PNPM I) um dos eixos estratégicos foi à implantação de

uma Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, garantindo o

atendimento integral, humanizado e de qualidade às mulheres em situação de violência, de

5 Em 2004 ocorreu a I Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, com o envolvimento de 120 mil

mulheres5, resultando no I Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (I PNPM); Em agosto de 2007, foi

realizada a II Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, com a participação de 200 mil mulheres,

resultando no II Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (II PNPM); Em dezembro de 2011 foi realizada a

III Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, com 200 mil participantes de todo o país e com 2.125

delegadas, consolidando o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres 2013-2015 (PNPM 2013-2015).

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modo a reduzir os índices de violência contra as mulheres, garantindo o cumprimento dos

instrumentos internacionais e a revisão da legislação brasileira para o enfrentamento da

violência contra as mulheres. Neste sentido, em 2005, foi criada a Central de Atendimento à

Mulher – Ligue 180, um canal de atendimento ininterrupto, que recebe denúncias ou relatos

de violência, reclamações sobre os serviços da rede e referência para orientar as mulheres

sobre seus direitos, encaminhando-as para os serviços quando necessário e, ainda, foi

constituída a Rede de Atendimento de Atendimento às Mulheres em Situação de Violência,

com o objetivo de atuação articulada entre instituições/serviços governamentais, não

governamentais e a comunidade, de atendimento, identificação e encaminhamento adequado

das mulheres em situação de violência.

Em 2006, foi sancionada a Lei 11.340 - Lei Maria da Penha6 -, visando prevenir e

erradicar a violência doméstica, através de políticas públicas. Além disso, trouxe uma série de

medidas protetivas à mulher vitimada e propôs questões para enfrentamento da violência

contra a mulher, a partir da educação, com a inclusão de conteúdos de equidade de gênero,

nos currículos escolares. Os crimes de violência contra a mulher passam a ser atendidos civil

e criminalmente. Percebe-se que as respostas apresentadas pelo Estado brasileiro, a partir da

implantação do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres, tem se concentrado na esfera

repressivo punitiva. Após a aprovação da Lei Maria da Penha, pesquisas, passaram a indicar a

permanência do fenômeno da violência e a preocupação maior quanto ao número de mulheres

assassinadas no Brasil. De acordo com o Mapa da Violência (2015), dos 4.762 assassinatos de

mulheres registrados em 2013 no Brasil, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo que

em 33,2% destes casos, o crime foi praticado pelo parceiro ou ex. Isso representa 13

homicídios diários de mulheres em 2013. Ainda, no período de 1980 a 2013, foram

assassinadas 106.093 brasileiras. O número de vítimas femininas de 2003 a 2013 cresceu de

3.937 para 4.762, ou seja, mais de 21% na década. Diante do cenário de falta de eficiência da

legislação em vigor, e continuação da incidência do problema, a medida adotada mais uma

vez foi repressivo punitiva, a partir da entrada em vigor da lei 13.104/2015, que alterou o

código penal, criando uma nova modalidade de homicídio qualificado, o feminicídio, tido

6 Alcunhada por Maria da Penha, em homenagem à luta da biofarmacêutica cearense que sofreu duas tentativas

de homicídio pelo marido e tornou-se paraplégica, sendo seu agressor condenado após decisão da Corte

Interamericana de Direitos Humanos. A lei, portanto, resultou de uma punição internacional dirigida ao Brasil, e

de longo processo de mobilização.

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como aquele crime praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino e

incluindo no rol dos crimes hediondos.

Mesmo com avanços importantíssimos para o enfrentamento da violência no Brasil,

em que o legislador ofereceu um conjunto de instrumentos para a proteção e o acolhimento da

vítima, bem como, uma maior penalização ao ofensor, ainda assim, os seus efeitos não

demonstram ser suficientes para coibir a violência de gênero no país, principalmente, quando

nos referimos ao homicídio de mulheres.

Considerações finais

A violência sempre esteve presente na história da humanidade e decorre das relações

humanas, contudo, verificou-se que o homem não é um ser violento pelo simples fato de ser

um animal, pelo contrário, sua ação violenta é sempre motivada por uma racionalidade.

Assim, a violência é um instrumento pelo qual se busca manter uma relação de poder, em que

uns “minoria” exercem o poder sobre outros “maioria”. Evidenciou-se que a violência não é

ou está somente naquilo que os sentidos são capaz de captar, mas há uma violência silenciosa

e que por isso somos inertes a ela. É desta forma que acontecessem os sistemas de dominação

na sociedade, dentre eles o primeiro e mais importante, o sistema patriarcal, através do qual os

homens se tornaram detentores do poder sobre as mulheres, inferiozando-as e subjugando-as.

Evidenciou-se que dentre todas as formas de violência existentes na sociedade, as que

repercutem como objeto de estudo e análise para a sua redução é a violência subjetiva, ou

seja, a violência visível, que altera o estado “normal” das coisas. Contudo, a violência

objetiva (não perceptível) existente por traz da violência visível continua intocável, e mantem-

se retroalimentando a violência subjetiva.

Assim, a violência subjetiva e objetiva se retroalimenta e mantém o sistema patriarcal

nas relações sociais, culturais, econômicas, políticas e sexuais. Portanto, é necessário

reelaborar as ações afirmativas até hoje construídas, a partir da compreensão de que para além

do atendimento às vitimas e da penalização aos agressores, é necessário construir novas

narrativas que transgridam as normas padronizadas e colonizadas em nossa sociedade, que

ditam regras de comportamento e convivência a partir de uma divisão binaria da sociedade, ou

seja, homem e mulher.

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Falar em redução da violência, no mínimo, significa conhecer todas as suas formas e

portanto, deve atuar diretamente nas estruturas em que o poder patriarcal exerce a sua função

e dita suas normas e leis, seja na família, na escola, na sociedade ou no Estado.

Para tanto, é necessária uma nova forma de buscar, apreender e ensinar, não excluindo o

sexo masculino dessas novas narrativas como forma de se fazer justiça, muito pelo contrário,

é preciso pensar e construir a partir do homem e da mulher, juntos e iguais, de modo que as

diferenças biológicas não sirvam para uma construção ideológica da diferença, mas sim para a

construção de novas perspectivas e afirmações imbuídas na igualdade de papéis, pelo simples

fato de serem seres humanos.

Referências

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20.jun.2017.

The decolonization of the patriarchal society: an analysis from the phenomenon of

violence

Astract:The history of humanity reveals a society marked by violence wars in the name of

power. From this analysis, it is sought to understand what violence is and how it presents

itself and is constituted in human relations, contributing to the formation of the patriarchal

society. Discrimination against women, is a cultural, social, economic and political problem

that goes through generations and that all attempts to overcome this evil are still not fully

implemented satisfactory. With the affirmative actions in Brazil could not be different,

because they do not act directly in the society and the family, for the conscience and

reconstruction of new models of social behaviors, because, besides attending the victims and

responsibility the aggressors, it is essential, decolonize the society of patriarchal ideology,

which will not only occur with punitive remedies, but with the reeducation of the subjects. Of

this article was used the method of deductive approach, having as methodology the doctrinal

research in several books and articles in relation to the subject.

Keywords: Violence. Gender. Patriarchal Society. Decolonization.