24
Resumo Neste artigo, analisa-se a disciplina cientí ca da Biogeograa Urbana, ciência de caráter tecnológico apoiada em diferentes disciplinas e linhas de investigação relacionadas com a Biologia, a Geografia e a Teoria de Sistemas. Por tratar-se de uma disciplina cientíca de caráter tecnológico , estabelece um vínculo entre o meio ambiente, a ação humana e a dialética resultante. Os conceitos analíticos de “sistema” e “mundo de vida”, propostos por Jürgen Habermas, e o conceito de “sistema” desenvolvido por Niklas Luhmann, oferecem um marco interpretativo que deixa entrever diversas funções relacionadas com o papel do conhecimento, aparentemente sem interesse, das ciências em geral e da ação humana. Para a Biogeograa Urbana, adotar os conceitos propostos signica introduzir elementos de reflexão na análise dos processos históricos e do papel da disciplina na produção de conhecimento no contexto da Amazônia.  Abstract In writing the analysis of the scienti c discipline of Biogeography, urban character of science as a technological support in different disciplines and lines of research from biology and geography and the theory of systems. In the case of a scientific discipline of character art, such a limited frame of time to establish a link between the environment, human action and the resulting dialectic. The analytical concepts of “system” and “life world”, propos ed by  Jürgen Habermas and Niklas Luhmann also offer a landmark interpretation that hints at various functions relating to the role of knowledge, apparently no interest, and science in general and of human action. For Urban Biogeography, adopt the proposed concepts mean to introduce elements of reflection on the analysis of historical processes and the role of discipline in the production of knowledge in the context of the Amaz on. Novos Cadernos NAEA v. 12, n. 2, p. 217-240, dez. 2009, ISSN 1516-6481  A dialética entre o “sistema” e o “mundo de vida” na biogeogra a urbana  Josep Pont Vidal  Mestrado em Sociologia Polìtica pela Universitat Bielefeld (Alemanha), Doutorado em Sociologia Política na Universidad de Barcelona (Espanha). Professor e pesquisador do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, da Universidade Federal do Pará/NAEA /UFP A. E-mail: [email protected]. Palavra chave Biogeografia urbana, dialética, sistema,  rg en Ha be r ma s, Ni kl as Lu hm an n, complexidade, Amazônia. Key words Urban Biogeography, dialectical, system,  rg en Ha be r ma s, Ni kl as Lu hm an n, complexity, Amazon.

A Dialética Entre o Sistema

Embed Size (px)

Citation preview

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    1/24

    Resumo

    Neste artigo, analisa-se a disciplina cientficada Biogeografia Urbana, cincia de cartertecnolgico apoiada em diferentes disciplinase linhas de investigao relacionadas coma Biologia, a Geografia e a Teoria deSistemas. Por tratar-se de uma disciplinacientfica de carter tecnolgico, estabeleceum vnculo entre o meio ambiente, aao humana e a dialtica resultante. Os

    conceitos analticos de sistema e mundode vida, propostos por Jrgen Habermas,e o conceito de sistema desenvolvidopor Niklas Luhmann, oferecem ummarco interpretativo que deixa entreverdiversas funes relacionadas com o papeldo conhecimento, aparentemente seminteresse, das cincias em geral e da aohumana. Para a Biogeografia Urbana, adotaros conceitos propostos significa introduzirelementos de reflexo na anlise dosprocessos histricos e do papel da disciplinana produo de conhecimento no contextoda Amaznia.

    Abstract

    In writing the analysis of the scientificdiscipline of Biogeography, urban characterof science as a technological support indifferent disciplines and lines of researchfrom biology and geography and the theoryof systems. In the case of a scientificdiscipline of character art, such a limitedframe of time to establish a link betweenthe environment, human action and the

    resulting dialectic. The analytical conceptsof system and life world, proposed byJrgen Habermas and Niklas Luhmann alsooffer a landmark interpretation that hintsat various functions relating to the roleof knowledge, apparently no interest, andscience in general and of human action. ForUrban Biogeography, adopt the proposedconcepts mean to introduce elements ofreflection on the analysis of historicalprocesses and the role of discipline in theproduction of knowledge in the contextof the Amazon.

    Novos Cadernos NAEA

    v. 12, n. 2, p. 217-240, dez. 2009, ISSN 1516-6481

    A dialtica entre o sistema e o mundo de vida nabiogeografia urbana

    Josep Pont Vidal Mestrado em Sociologia Poltica pela Universitat Bielefeld (Alemanha), Doutoradoem Sociologia Poltica na Universidad de Barcelona (Espanha). Professor e pesquisador doNcleo de Altos Estudos Amaznicos, da Universidade Federal do Par/NAEA/UFPA.E-mail: [email protected].

    Palavra chave

    Biogeografia urbana, dialtica, sistema,Jrg en Habe rmas, Nikl as Lu hman n,complexidade, Amaznia.

    Key words

    Urban Biogeography, dialectical, system,Jrg en Habe rmas, Ni kl as Luhmann,complexity, Amazon.

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    2/24

    Josep Pont Vidal

    218

    INTRODUO

    Freqentemente, as novas disciplinas e reas do saber que emergiram nas

    ltimas dcadas debatem sobre sua origem e fundamentao epistemolgica,

    suas prprias teorias e seus mtodos. Este debate aparece de forma clara na rea

    das Cincias ambientais. Os conceitos se fundamentam na Sociologia ambiental

    ou na Biologia? Ou em ambas as reas de conhecimento? Todos estes dilemas se

    expressam na Biogeografia urbana como uma disciplina recente.

    Este texto divide-se em trs partes, uma das quais constitui a disciplina

    da Biogeografia urbana1. O objetivo mostrar por um lado, a necessidade de

    introduzir o debate sobre a ao e interaohumanas quando se trata do habitat,nesta disciplina, na sua recente histria fundamentada na teoria sistmica e anlise

    animal e vegetal do entorno, embora relegando o conceito central da complexidade,

    e ignorando o papel essencial e central do ser humano. A partir deste primeiro

    objetivo, o segundo pretende abrir um debate sobre essa disciplina cientfica, com

    a introduo da interao ou ao comunicativa ou simblica, e o conceito de

    sistema propostos por Jrgen Habermas e Niklas Luhmann, e de complexidade

    ambiental, desenvolvido pelo filsofo Enrique Leff.

    Neste escrito de carter introdutrio, realiza-se uma breve exposio

    sobre a recente origem epistemolgica da disciplina, propondo-se uma srie

    de instrumentos analticos e conceituais que inter-relaciona o papel da cinciainstrumental e o papel decisivo do homem. Esses conceitos apoiam-se nas

    propostas de Jrgen Habermas, em sua obra Teoria da Ao Comunicativa (1987

    [1981]) e Enrique LeffA complexidade Ambiental(2003). Para compreender a razo

    funcionalista da cincia e das diversas reas do conhecimento, Habermas usa os

    conceitos de sistema e mundo de vida, os quais oferecem um aprofundamento

    da natureza das questes expostas. Para compreender a relao da obra do

    Habermas com o conhecimento trazido pela Biogeografia Urbana, especificamente

    sobre a complexidade das cidades da regio da Amaznia, parece-nos necessrio,

    em primeiro lugar, analisar a forma como se cria conhecimento na Biogeografi

    aUrbana; em segundo, analisar a adaptao e a interconexo com os conceitos de

    sistema e mundo de vida e de complexidade ambiental; finalmente expor

    em forma ilustrativa as peculiaridades da regio Amaznica, particularmente os

    aspectos ligados Biogeografia Urbana, como so as cidades e o papel que tm

    os recursos hdricos na vida das pessoas da regio.

    1 Texto baseado na palestra apresentada no II Encontro Nacional Biologia Urbana, promovido pelaUniversidade Nilton Lins e realizado em novembro de 2007 em Manaus.

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    3/24

    A dialtica entre o "sistema" e o "mundo de vida" na biogeografia urbana

    219

    1 A BIOGEOGRAFA URBANA E A AMAZNIA

    A Biogeografia Urbana faz parte da uma srie de disciplinas que se

    originaram nas ltimas dcadas, tais como a Entomologia Urbana2(MELIC, 1995)

    ou a Biocenosis Urbana3(ROBINSON, 1996). No entanto, as razes devem ser

    procuradas na Geografia e nas Cincias Ambientais. No caso de Geografia, como

    atualmente se entende, fundamenta-se nas contribuies do gegrafo e etnlogo

    alemo Friedrich Ratsel, e no Brasil, de Milton Santos. As Cincias Ambientais

    se institucionalizaram a partir do impulso proporcionado pela Comisso de Meio

    Ambiente e Desenvolvimento das Naes Unidas, aps a publicao do relatrio

    Our Common Future. World commission on environment and development (1987).A Biogreografia Urbana, seja como uma disciplina cientfica ou como

    uma linha de pesquisa apia-se no enfoque paisagstico e na abordagem da

    teoria dos sistemas, vinculando reas de conhecimento da Geografia e Ecologia,

    e enfocando a cidade e o meio ambiente de modo integral. Fundamenta-se n

    funcionamento ecolgico da cidade e centra-se nos fatores que contribuem para

    modificao do clima, dos fluxos de energia, da estrutura do espao e da ecologia.

    Se, com base na Geografia, interpretava-se tradicionalmente a cidade como espao

    urbano, hoje a ecologia considera a cidade como um ecossistema. Esta ltima

    disciplina se preocupou at a dcada de 60 em descrever apenas o quadro, natural,compartimentado, ou seja, relevo, clima, hidrografia e vegetao (NEHME, 2004,

    apud. AMORIM, 2005, p. 86). S a partir da Constituio de 1988, quando se

    implementaram os estudos de impacto ambiental nas universidades. Entretanto,

    o mesmo cientista ambiental entendia a questo como um todo e com base no

    paradigma holstico de Fritjof Capra chama de inter-trans-multidisciplinaridade

    (1990, p. 78) para compreender e interpretar a geografia. Acontece o mesmo

    entendimento com a Biogeografia Urbana?

    O surgimento da Biogeografia Urbana resulta de uma srie de fatores

    relacionados com a crescente degradao que se verifica nos ecossistemas urbanos

    e a gesto ambiental em todas as cidades do planeta. Nos ltimos anos, a temtica

    ambiental e a governana urbana e ambiental dirigida a corrigir e a direcionar

    propostas de polticas ambientais tm suscitado um enorme interesse por vrias

    2 A Entomologia urbana, parte do ponto de vista cultural e ecolgico urbano, destacando osaspectos fsicos e biolgicos que podem potenciar ou limitar a diversidade biolgica artropo-diana.

    3 A Biocenosis urbana pode se dividir em dois tipos de estudos. Os primeiros se baseiam noestudo dos organismos que ocupam os agro ecossistemas, e os segundos no estudo dos assen-tamentos humanos nas cidades.

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    4/24

    Josep Pont Vidal

    220

    razes. O constante e crescente aumento das metrpoles e das cidades acelerou oconsumo mundial de bens e servios; a necessidade de energia, o desmatamento

    dos bosques tropicais e a contaminao da gua, do cho e do ar esto ocasionando

    danos irreversveis em todos os habitats e no conjunto do planeta.

    Salvo poucas excees, inicialmente os estudos ambientais centraram-se em

    aspectos e variveis independentes da ao humana. Em sua maioria, tratava-se de

    manuais de gesto ambiental (ARAJO; ALMEIDA; GUERRA, 2003; PARAN,

    1993) e de gesto dos recursos hdricos (LANNA, 1995). a partir da publicao

    de David Drew, Processos interativos homem-meio ambiente (1989), quando situava

    explicitamente a ao humana em inter-relao com o meio ambiente, que seobserva um impulso destacado no Brasil. Nos ltimos anos, apareceram inmeros

    estudos coordenados por autores (AQUINO, 2001) grupos de investigao e

    institutos especializados (Consejo Internacional para las Iniciativas Ambientales Locales,

    2001; Global Vision, 2001), nos quais se estabelecem vnculos, de uma forma ou de

    outra, entre o meio ambiente, o desenvolvimento sustentvel e a atividade humana,

    e que, por isso, adotam uma perspectiva integral do meio ambiente. Nesses estudos

    se analisam o meio ambiente a partir da multidisciplinaridade, integrando os pontos

    de vista tericos sobre o meio ambiente e a sustentabilidade. So ainda escassos

    os estudos que, apoiados na recente disciplina cientfica da Biogeografia Urbana,

    oferecem marcos interpretativos complexos dos graves problemas enfrentados

    pelas cidades no incio do sculo XXI e sua interrelao com o elemento humano

    na regio amaznica.

    As Cincias Ambientais em geral, e a Biogeografia Urbana em particular,

    adquirem uma dimenso qualitativa diferenciada quando se trata do estudo na

    Amaznia. Esta imensa regio considerada freqentemente como pouco povoada,

    adquire uma dimenso heterognea, com a convergncia de terras, floresta e a

    gua (WITKOSKI, 2007) em um contexto marcado pela complexidade. Nesse

    contexto, o habitat adquire uma dimenso essencial, onde aparecem variveis como:

    o aspecto urbano, ambiental, imobilirio, tcnico e as correspondentes polticaspblicas. Com o surgimento de invases desordenadas, o constante aumento

    do desmatamento e a expanso das zonas urbanas, o equilbrio entre o homem

    e a natureza ocorre de tal maneira que na primeira dcada do sculo XXI, faz-

    se imprescindvel recuper-lo. A busca para restabelecer este equilbrio a base

    epistemolgica da determinao do HABITAT (ecossistema urbano) que se

    reflete no ecossistema humano (AMIN; XIMENES, 1998, p. xx).

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    5/24

    A dialtica entre o "sistema" e o "mundo de vida" na biogeografia urbana

    221

    Como resultado de diversas polticas pblicas, nas duas ltimas dcadas,em mbito regional, estabeleceram-se, com maior ou menor xito, as Unidades de

    Conservao (UC) e as Reservas Extrativistas (RESEX), amplamente estudadas

    em diversos aspectos (COELHO, M.; SIMONIAN, L.; FENZL, N., 2000;

    PINTO, 2006). Quando se trata de realizar um diagnstico da situao ecolgica

    e sustentvel das cidades da regio, vrias razes contribuem para enfocar o tema

    a partir da complexidade, dado a existncia de cidades e de ncleos urbanos muito

    variados, que abrangem das grandes Regies Metropolitanas de Belm e Manaus at

    as pequenas e mdias cidades, as company townse as agrovilas, aspectos j estudados

    por diversos autores (CASTRO, 2009; NUNES, 2009). Em geral, constata-seum crescimento descontrolado e desordenado nos ltimos anos, a falta de infra-

    estrutura bsica e, em definitivo, a falta de um planejamento sistemtico. A esses

    fenmenos de carter urbano, acrescentam-se outros de carter social, como a

    precariedade trabalhista e o desemprego, o aumento da insegurana e da violncia,

    o aumento da pobreza e da excluso social. A pesar das consideraes expostas,

    ainda escassa a oferta regular desta disciplina nos meios acadmicos.

    A situao das cidades na regio da Amaznia pode ser extrapolada a

    qualquer cidade do planeta, comum maioria das metrpoles e grandes cidades,

    j foi denunciada pelas Naes Unidas. No em vo, a diretoria executiva de

    UN-Habitat (World Urban Frum 4,2008, Pekin) afirmou: O mundo necessita

    urgentemente de aes que levem a um desenvolvimento econmico urbano

    inovador, melhor governana urbana, cidades mais seguras e limpas e cidades sem

    assentamentos precrios onde todos tenham acesso a moradia, gua, saneamentos

    e outros servios bsicos.

    A Biogeografia Urbana, por ser uma cincia de carter tecnolgico, apoiada

    na teoria de sistemas e na engenharia ambiental, na ecologia da paisagem e na

    ecologia aplicada, carece de um marco conceitual referente ao humana e

    dialtica dela resultante. Cada um desses marcos analtico contribui disciplina com

    os conceitos necessrios para sua evoluo e especializao. Apesar das propostase dos intentos de sntese epistemolgicas das Cincias Ambientais, a Biogeografia

    Urbana suscita, no meu entender, diversas interrogaes de carter epistemolgico.

    A Biogeografia Urbana contribui por si s com suficientes conceitos para a

    compreenso e a resoluo da problemtica ambiental nas cidades da Amaznia

    e sua relao com o elemento humano? Por ser uma cincia instrumental, essa

    disciplina cientfica reproduz o mesmo dficit instrumental de que padecem outras

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    6/24

    Josep Pont Vidal

    222

    disciplinas? Que marco terico nos permitiria avanar em uma compreenso maisholstica do papel do homem e de sua relao com a natureza na Amaznia?

    evidente que tentar dar uma resposta a estas questes requer uma investigao

    que ultrapassa os objetivos de este texto, de carter introdutrio. Por este motivo,

    tentarei respond-las a partir da discusso das fontes bibliogrficas e dos possveis

    conceitos e categorias.

    2 A DIALTICA DO SISTEMA E DO MUNDO DE VIDAE A

    AMAZNIA

    Por que incorporar a ao, no sentido sociolgico, rea de conhecimentoda biogeografia humana e especificamente na disciplina de Biogeografia urbana?

    Freqentemente entende-se a cidade como um sistema vivo, cujas partes esto

    estreitamente interligadas. Do ponto de vista sociolgico, o referente terico mais

    direto dessa interpretao est na Teoria sistmica, e especificamente, na obra

    de Niklas Luhmann Soziale Systeme (2001 [1984]). Para Luhmann, necessrio

    pensar em um novo conceito de sujeito, desligado das conotaes antropolgicas

    e humanistas de tradio intelectual ocidental. Este ponto constitui um dos

    aspectos mais questionados para a aceitao da teoria de sistemas de Luhmann

    ao mostrar-se totalmente desvinculada das razes antropolgicas. O resultadodessa interpretao que a sociedade composta, no de seres humanos, mas de

    comunicaes. Os seres humanos, interpretados como sistemas autorreferentes, so

    oentorno da sociedade, e no componentes dela. Luhmann diz que no se deve

    interpret-lo um simples desprezo da ao humana, mas como uma perspectiva

    totalmente diferente das interpretaes clssicas, que vem o homem integrado

    a ela. No objetivo deste texto, entrar no debate sobre o papel do ser humano

    na teoria de Luhmann, que repetiu em numerosas ocasies, que precisamente as

    obras tericas concedem uma importncia maior ao ser humano que a teoria da

    autopoiesis4desenvolvido por este pensador em, System um Funktion, (para ampliar

    a leitura em portugus ver: KUNZLER, 2004, entre outros). No entanto, surge

    a questo: Podemos interpretar a cidade e o meio ambiente em que o homem

    includo apenas como a relao existente entre um sistema sua volta?

    Em uma perspectiva que sintetiza aspectos sistmicos estabelecidos pela

    hermenutica, o filsofo Jrgen Habermas prope os instrumentos analticos e

    4 Para Luhmann, todos os seres vivos so autopoiticos, visto que esto formados dentro deorganizaes, e por sua vez realizam dentro de estruturas concretas. Sobre este conceito ver:Vidal, Josep. Niklas Luhmann: un pensador polmico.Universidad Autnoma de Barcelona, 1996.

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    7/24

    A dialtica entre o "sistema" e o "mundo de vida" na biogeografia urbana

    223

    conceituais para analisar essa relao, a partir dos conceitos de sistema e mundoda vida. Para tentar responder questo proposta, considero necessrio fazer

    algumas consideraes de carter ontolgico e epistemolgico.

    A teoria, as categorias e os conceitos de Habermas so complexos, e acredito

    que seja virtualmente impossvel desenvolv-los em sua profundidade neste artigo.

    Para isso, exponho, em primeiro lugar, duas premissas de carter ontolgico que

    considero importantes e que esto presentes de forma transversal em toda a obra.

    Habermas, inspirando-se na obra do Herbert Marcuse One-Dimensional Man(O

    homem unidimensional, 1967 [1964]), trata a natureza como um interlocutor,

    o que significa abandonar o conceito clssico economicista segundo o qual a

    natureza seria um objeto de explorao e de consumo, e substitu-lo por outro

    conceito apoiado em uma interao simblica. Com isso, Habermas no se refere

    apenas a uma regulamentao jurdica ou a implementao de polticas pblicas

    de conservao ou ambientais, impulsionadas por um ou outro partido poltico

    e grupo social, mas ressalta o ser humano em sua totalidade, ultrapassando uma

    poca singular. Neste sentido, Habermas assume certa inocncia poltica ao no

    aprofundar o papel das foras produtivas e as relaes que elas geram na ao

    humana. Qual o modelo que prope Habermas?

    As alternativas colonizao e explorao da natureza por parte da

    racionalidade tcnica, para Habermas, so um tratamento diferente da maneiracomo a natureza tem sido usualmente tratada. Trata-se de ver a natureza, no

    com base em uma nova concepo de tcnica, mas com uma atitude alternativa,

    considerando-a como um interlocutor com quem possvel uma interao e

    uma comunicao: Em vez da natureza explorada, podemos buscar a natureza

    fraternal. (HABERMAS, 1993 [1968], p. 53). Para buscar essa relao fraternal,

    Habermas prope desenvolver a intersubjetividade entendida no como um

    mundo privado, mas como um mundo comum a todos, e construdo por todos,

    ainda que incompleta em nossos dias: Na esfera de uma intersubjetividade ainda

    incompleta podemos presumir subjetivamente nos animais, nas plantas e atnas pedras, e comunicarcom a natureza, em vez de limitar-nos a trabalh-la com

    ruptura de comunicao (Ibid., p. 53). A proposta aprofundar em uma ao

    comunicativa que ultrapasse os clculos egocntricos orientados para o xito,

    mas que os participantes sejam capazes de harmonizar seus planos de ao: S

    quando os homens comunicarem sem coao e cada um puder se reconhecer no

    outro, poderia o gnero humano reconhecer a natureza como um outro sujeito

    (Ibid., p. 53).

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    8/24

    Josep Pont Vidal

    224

    Habermas toma como fonte a teoria da ao racional de Max Weber, oqual j ressaltou a importncia desse fenmeno h quatro dcadas, aprofundando

    o papel da dominao poltica no visvel sob a aparncia de racionalidade: em

    nome da racionalidade, uma forma determinada de dominao poltica oculta

    (HABERMAS, 1993 [1968], p. 46). Aps meio sculo desde sua publicao, de

    novo, referindo-se obra de Marcuse, Habermas (Ibid., p. 47) estabelece um elo

    sistmico e funcionalista entre os aspectos endgenos do sistema econmico: a

    racionalidade da dominao mede-se pela manuteno de um sistema que pode

    permitir-se converter em fundamento da sua legitimao o incremento das foras

    produtivas associado ao progresso tcnico-cientfi

    co.Segundo Habermas (Ibid., p. 52), podemos reconstruir a histria da tcnica

    sob o ponto de vista de uma objetivao gradual da ao racional teleolgica.

    Nesse contexto, podemos perguntar o que significa desenvolvimento tecnolgico

    para a regio da Amaznia. Que interesses isso representa?

    Marcuse e Habermas, levantam a hiptese de que, no mundo moderno,

    a racionalidade formal triunfou sobre a racionalidade substantiva, chegando a

    dominar reas anteriormente definidas pela racionalidade substantiva inspirada em

    Max Weber. Para demonstrar a existncia de um elo entre o papel determinante

    da tcnica e suas relaes de poder, como descrevem Marcuse e Habermas, e as

    formas pelas quais essa tcnica se manifesta de maneira dominante e colonizadora

    na vida cotidiana das pessoas, faz-se necessrio estabelecer vnculos entre a macro

    e a micro sociologia, ou entre a objetividade institucional e a intersubjetividade.

    No escrito, Habermas realiza a distino analtica com base na diferenciao

    entre a esfera do mundo vivido e a esfera do sistema. A primeira representa

    o ponto de vista dos sujeitos que atuam na sociedade. Compe-se da cultura,

    da sociedade e da personalidade. Cada um desses elementos faz referncia s

    variveis interpretativas ou suposies bsicas sobre a cultura e sua influncia

    sobre a ao, s variveis apropriadas de relaes sociais (a sociedade) e ao modo

    de ser (a personalidade) e de comportar-se das pessoas. Comprometer-se na aocomunicativa e obter a compreenso em cada um desses elementos conduzem

    reproduo do mundo de vida, mediante o reforo da cultura, a integrao da

    sociedade e a formao da personalidade.

    A esfera sistema implica a contemplao da sociedade da perspectiva

    do observador, de algum no comprometido, de uma perspectiva externa,

    isto , da perspectiva do observador. Constitui-se do subsistema Estado e do

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    9/24

    A dialtica entre o "sistema" e o "mundo de vida" na biogeografia urbana

    225

    subsistema poder, todos com princpios prprios que Habermas define comoa verdade, a moralidade e a expressividade. A partir do modelo social proposto

    por Habermas, pode-se constatar que, enquanto nas sociedades industrializadas

    modernas h uma dissociao entre a esfera do mundo vivido e a esfera do

    sistema, em algumas sociedades estudadas de municpios da Amaznia existe

    pouca diferenciao entre a subesfera Estado, e a subesfera poder. Por sua

    vez, estas duas subesferas atuam como uma s, que coloniza e oprime a esfera

    do mundo vivido. O controle a que so submetidos as famlias e os cidados por

    parte da esfera Estado e da esfera poder manifesta-se na pouca credibilidade

    na esfera Estado, mas, ao mesmo tempo, na pouca predisposio para construir

    qualquer poder alternativo.

    Em segundo lugar, Habermas prope os conceitos de mundo de vidae

    de colonizao do mundo de vida. Esses conceitos derivam da fenomenologia

    (Alfred Schutz), que representa uma perspectiva interna da sociedade concebida

    da perspectiva do sujeito em ao e constitui um fundo moldador e contextual

    dos processos pelos quais se alcana a compreenso mediante a ao comunicativa.

    Mundo de vida (Lebenswelt), ou mundo de vida cotidiana, no sentido que atribuo a

    Alfred Schtz, em Collected Papers I: The Problem of Social Reality(1973), refere-se

    anlise da conscincia de um mundo intersubjetivo o estudo e a anlise em

    cima dos quais as pessoas criam a realidade social, que se encontra submetidas constries estruturais, criadas por seus antecessores (VIDAL, 2006). Nessa

    perspectiva fenomenolgica, elementos como a linguagem, a intersubjetividade,

    a interao ou o mundo de vida da cultura conformam o que denominamos

    realidade social. Em The Structure of the Life World(2003 [1973], p.315), Alfred

    Schtz e Thomas Luckmann definem a realidade social, como a soma total de

    dois objetos e conhecimentos de mundo cultural e social, vividos na mentalidade

    do senso comum de alguns homens que vivem juntos inmeras relaes de

    interao.

    Para Habermas, esse conceito representa uma perspectiva que se ope exterioridade do sistema do sujeito em ao, a sociedade concebida a partir

    da perspectiva do sujeito em ao (HABERMAS, 1987 [1968], p. 117). Para

    Habermas e Schtz, o mundo de vida implica negociaes, que se compreendem

    mutuamente, contribuindo para que a comunicao entre os sujeitos tenha lugar

    (categorias que Schtz denomina tipificaes e receitas). Segundo Habermas, o

    mundo de vida constitui um transfundo moldador e contextual dos processos

    pelos quais se alcana a compreenso (ibid., p. 204).

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    10/24

    Josep Pont Vidal

    226

    Podem-se distinguir trs aspectos ou perspectivas do mundo de vida(Lebenswelt), os quais aparecem de forma diferenciada, conforme se analisam

    sociedades primitivas ou arcaicas, ou sociedades mais complexas. Nestas ltimas,

    esses componentes aparecem diferenciados devido racionalizao do mundo

    de vida. O mundo de vida composto pelas subesferas da cultura, da sociedade e

    da personalidade. E as formas interpretativas fazem referncia a cada um desses

    elementos.

    Na anlise de sistemas, preciso levar em conta a interconexo das aes,

    assim como o significado funcional das aes e sua contribuio para a manuteno

    do sistema. O sistema desenvolve suas prprias caractersticas estruturais. Entreessas estruturas, figuram a famlia, a magistratura, o Estado e a economia. A

    sociedade entendida como um sistema social; o indivduo, como um membro

    da comunidade em ao e da comunicao social; a cultura, como o repertrio

    dos saberes prticos e tericos. Existe uma diferenciao fundamental entre o

    mundo de vida e o sistema: o primeiro conceito implica o ponto de vista

    subjetivo das pessoas que atuam na sociedade, enquanto o segundo expressa uma

    perspectiva externa.

    Nas sociedades menos desenvolvidas, o mundo de vida e o sistema

    encontram-se interligados; j nas sociedades modernas ou avanadas, encontram-se

    separados, assumindo diferentes formas e dinmicas. Nas sociedades modernas,

    o sistema controla o mundo de vida. A crtica feita por Habermas dimenso da

    racionalidade instrumental adquire pleno sentido quando se analisa a sociedade

    moderna, luz da sociologia da subjetividade, superando dessa forma a viso

    reducionista da anlise cientfica e terminolgica elaborada por Karl Marx.

    Habermas parte da hiptese central segundo a qual, quanto mais o crescimento

    social e a mudana estiverem correlacionadas pela racionalidade externa dos

    processos de investigao, tanto mais a civilizao cientfica dever fundamentar-se

    no conhecimento e, portanto, na informao de seus cidados. Segundo Habermas,

    ao estabelecer um vnculo entre as mudanas possveis da sociedade e sua interao,ou a colonizao pela racionalidade externa de criao de conhecimento, a

    civilizao cientfica, racionalidade tcnica, aparece como instrumento de

    controle e de dominao das pessoas.

    O processo civilizatrio apoiado na razo tem-se mostrado como uma

    racionalidade perversa e dominadora, com efeitos perversos. Como j apontaram

    diversos autores da Escola de Frankfurt (Habermas, Marcuse e Adorno) e outros

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    11/24

    A dialtica entre o "sistema" e o "mundo de vida" na biogeografia urbana

    227

    mais contemporneos (Beck, Giddens e Lasch), essa racionalidade que assume umaaparncia de liberdade manifesta-se e centra-se no controle tcnico da natureza e

    do homem, desfigurando dessa forma o fio condutor original da cultura ocidental,

    que em resumo o combate ao autoritarismo e a emancipao das pessoas.

    Uma caracterstica comum dos autores e pensadores da segunda gerao da

    Escola de Frankfurt a nfase no papel da cultura e da tcnica, como instrumentos

    de dominao poltica: hoje, a dominao eterniza-se e amplia-se no s mediante a

    tecnologia, mas como tecnologia; e esta proporciona a grande legitimao ao poder

    poltico expansivo, que assume em si todas as esferas da cultura (HABERMAS,

    1987 [1968], p. 49). Podemos reconstruir a Histria da tcnica sob o ponto devista de uma objetivao gradual da ao racional teleolgica (ibid., p.52). Nesse

    contexto, cabe formular a pergunta: o que significa desenvolvimento tecnolgico

    para a regio Amaznica?

    Habermas prope alternativas colonizao e explorao da natureza

    por parte da racionalidade tcnica, procurando dar um tratamento diferenciado

    ao que era usual. Trata-se de perceber a natureza, no com base em uma nova

    concepo de tcnica, mas como uma atitude alternativa. Portanto, deve-se

    considerar a natureza como um interlocutor com quem se realiza uma possvel

    interao e uma comunicao. Os conceitos de Habermas contribuem com um

    instrumento analtico para compreender o papel do ser humano dentro do sistema

    tecnocrtico da cidade. No entanto, no meu entender, o conceito sistemase centra

    na racionalidade tcnico-cientfica relegando a complexidade do sistema nos

    aspectos referentes ao meio ambiente.

    O conceito de complexidade ambiental de Enrique Leff, desenvolvido

    emA complexidade ambiental(2003 [2000]), e claramente inspirado em filsofos

    como Levinas, no paradigma da complexidade de Edgar Morn e nas contribuies

    da fsica quntica de Ilya Prigogine. Para Leff, complexidade ambientalno envolve

    apenas a fazer as coisas de forma diferente, mas preparado para uma pedagogia

    baseada em uma nova racionalidade baseada na re-apropriao do conhecimentodo ser humano e do mundo no mundo. No , para Leff, ecologizao do mundo,

    mas de um pensamento que, com base na ciberntica e viso sistmica e funcional,

    - j abordada por Luhmann (1986; 1997; 1991)- ultrapass-las, para incorporar a

    incerteza do caos e da possibilidade de ordem da natureza. Este conhecimento

    rompe a tradicional dicotomia entre o sujeito e o objeto do conhecimento para

    reconhecer o potencial para valores reais com base na incorporao do saber.

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    12/24

    Josep Pont Vidal

    228

    Em seguida, explicam os conceitos e categorias de base do pensamentode Enrique Leff, bsicos para entender e interpretar a ao do homem no meio

    urbano: a complexizao do real; a complexizao do conhecimento do mundo real;

    a complexizao das interpretaes. Respeito a complexizao do conhecimento

    do real, Leff argumenta, que o real sempre foi complexo. Leff desenvolve uma

    viso crtica da cincia em intepreta-la como simplificadora da complexidade do

    mundo real. A cincia dominante durante sculos foi construda de uma economia

    baseada em uma racionalidade mecanicista tecnolgica que negou o potencial da

    natureza. A complexifizao do conhecimento do mundo real, significa que a partir

    de uma clara inspirao foucaultiana, a proposta de uma conscincia ecolgica(2003, p. 39) com base em uma racionalidade ambiental interpretada como uma

    estratgia conceitual no domnio da energia e do conhecimento. Por ultimo, a

    complexifizao de interpretaes, significa que o significado real do mundo

    construdo no discurso sobre os diferentes interesses sociais. Leff considera a

    hermenutica como um mtodo para abrir os caminhos dos sentidos do discurso

    ambiental. Finalmente, depois de pensar em aderir natureza complexa destes

    aspectos mencionados, complexificao de ser inclui a necessria reflexo sobre a

    complexidade, o ser do ente, das coisas, do mundo, do ser humano (Ibid., p. 52).

    Esta contribuio de Leff finaliza com um apelo para a necessidade de promover

    a aprendizagem da complexidade ambiental, entendendo que este processo no

    um meio, mas como uma nova compreenso do conhecimento sobre o mundo.

    Este tipo de conhecimento est alm do conhece-te a ti mesmo (Ibid., 2003, p.

    61), integrando o conhecimento do homem e do sentido da vida.

    3 CONHECIMENTO E BIOGEOGRAFIA URBANA

    As reas de conhecimento interessaram-se pelos estudos ambientais,

    estabelecendo-se diferentes marcos tericos e conceituais. Das Cincias Sociais e

    da Sociologia, derivou o campo epistemolgico da Sociologia do Meio Ambiente

    (FERREIRA, 2000, entre outros), na rea do conhecimento denominada Cincias

    Ambientais (MENDONA, 1993). Nesta linha de pesquisa, destacam-se os

    estudos de impacto ambiental realizados na cidade de Buenos Aires (DANIELE

    et al., 2006), um estudo de caso em uma cidade espanhola (GARCA-ABAD, 1995)

    e metodologias para as eco auditorias (TORRES, 1997).

    As Cincias Ambientais ampliaram-se com base no enfoque paisagstico

    e na Biogeografia Urbana (GARCA-ABAD, 1995). Essas cincias constituem

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    13/24

    A dialtica entre o "sistema" e o "mundo de vida" na biogeografia urbana

    229

    a sntese de reas de conhecimento procedentes da Geografia e da Ecologia,enquanto a Biogeografia Urbana constitui uma sntese epistemolgica da Biologia

    e da Geografia Urbana. evidente que essa nova rea de conhecimento pode

    realizar importantes contribuies para o objeto central da disciplina, a cidade e

    o meio ambiente (Figura 1). A Biogeografia Urbana uma disciplina cientfica ou

    ainda uma linha de investigao (Ibid., 1995), de carter emprico-analtico. No

    existe uma unanimidade sobre este pressuposto, ainda que diversas universidades

    onde se ministram a disciplina a delimitam a outros campos do saber. Segundo a

    revista Serie Geogrfica5,editada pela Universidade de Alcal de Henares na Espanha,

    a disciplina tem os seguintes objetivos:Apresentar a distribuio geogrfica das diferentes coberturas vegetais em relaocom a disposio geral do resto dos elementos territoriais; discriminar casualmenteos fatores que intervieram naquela; mostrar a composio, afisionomia e a estruturadas formaes vegetais; tratar essas formaes como o habitatoriginal dos diferentestipos de vida animal, estudando suas interaes; analisar as distribuies particularesque configuraram no passado e no presente os elementos vivos da superfcieterrestre: a flora e a fauna.

    Segundo a definio realizada pela equipe de professores da citada

    universidade, a Biogeografia Urbana, focaliza seu campo de interesse epistemolgico

    e de investigao exclusivamente nos aspectos animal e vegetal de um territrioespecfico urbano - excluindo o papel do ser humano como responsvel da

    manuteno ou destruio do habitat. A revista Serie Geogrfica6 enfatiza que

    essa disciplina constitui tambm um ramo da Biologia, pois os organismos

    vivos so seus protagonistas principais. Constata-se, entretanto, uma falta de

    discusso terica em relao ao humana e interao, ao constituir o habitat

    uma conseqncia de tal ao (VIDAL, 2006). Acrescenta-se a este fato, a questo

    metodolgica nesse tipo de estudos. Diversos autores que adotam uma perspectiva

    dialtica (THIELEN, 2005) e educacional (LINDAU, 2006) tm proposto uma

    srie de reflexes, ao mostrar essas contradies. Para esclarecer a natureza da

    cincia e suas possibilidades conceituais, para contribuir com instrumentos de

    interveno para a mudana ambiental, baseio-me na classificao dos tipos de

    conhecimento proposta por Habermas.

    No ensaio Conhecimento e interesse, (1987 [1968]) Habermas estabelece uma

    tipologia de saberes baseada em uma concepo claramente pedaggica. O autor

    5 Serie Geogrfica,n.14, 1995, p. 96.6 Ibid., n.14, 1995, p. 95.

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    14/24

    Josep Pont Vidal

    230

    distingue trs tipos de cincias: as cincias emprico-analticas, as cincias histrico-hermenuticas e as cincias de ao sistemtica.

    Nas cincias emprico-analticas, associadas ao interesse tcnico do

    conhecimento, as teorias apoiam-se nas conexes hipottico-dedutivas de

    proposies formuladas e enunciadas a partir de hipteses que podem ser analisadas

    empiricamente. O saber produzido por essa estratgia um saber de prognsticos,

    sua pedra angular constituda pelo objetivismo das observaes.

    Nas cincias histrico-hermenuticas, ligadas a um interesse prtico, o

    conhecimento obtido a partir da compreenso sistemtica das hipteses. Em

    conseqncia, no se avaliam enunciados, por no existir uma disposio terica.A compreenso realizada por meio do sentido, em que se do casos evidentes.

    CIUDAD

    YMEDIO AMBIENTE

    GEOGRAFIA ECOLOGIA

    Biogeografia

    Biogepgrafia

    urbana

    Geografia

    del paisaje

    Geosistema

    urbano

    Geografia

    urbana

    Ecologia

    vegetal

    Ecologia

    animal

    Ecologia

    del paisaje

    Ecosistemaurbano

    Ecologia

    urbana

    ACTUACIONESOrdenacion

    del territorio

    Gesto

    medioambiental

    Figura 1: Estrutura das cincias que tratam da cidade e do meio ambiente.Fonte: Adaptao de Garca-Abad Alonso (1995).

    Finalmente, a terceira forma de obteno de conhecimento diz respeito scincias de ao sistemtica. Nessas cincias, intervm uma orientao crtica e uma

    orientao emancipatria, cada uma com categorias e paradigmas nos processos

    de investigao. Exemplos dessas cincias so a Economia, a Sociologia e a Poltica.

    Essas cincias tm como objetivo produzir o saber monolgico. Entretanto,

    Habermas amplia essa interpretao algo reducionista da cincia quando se

    trata das cincias sociais. Essas cincias, alm de analisar e examinar enunciados

    tericos, aprendem variveis de ao social, as quais se encontram influenciadas

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    15/24

    A dialtica entre o "sistema" e o "mundo de vida" na biogeografia urbana

    231

    e determinadas pela ideologia. Em que tipo de cincias se enquadra a BiogeografiaUrbana? Segundo a tipologia de Habermas, esta disciplina se encontraria entre

    as cincias emprico-analiticas e as cincias de ao sistemtica, dependendo

    da orientao e objetivos epistemolgicos e conceituais predominantes. Neste

    texto defende-se a necessidade de imprimir uma orientao emancipatria,

    disciplina ao ser a ao do ser humano o que determina o habitat na medida de

    sua conservao ou destruio. (Quadro 1).

    Enfoque Interesse Conjunto lgico Disciplina Biogeografia urbanaEmprico

    analtico

    Tcnico de

    controle

    Trabalho/ tcnica

    / informao

    Dirigida a estdios de diagnstico e

    prognstico. Dados quantitativosHistricohermenutico

    Dialgico,consensual

    Linguagem/consenso /interpretao

    Dirigida a estdios focalizando opapel e a responsabilidade do serhumano

    Dados qualitativosCrticodialtico

    Crtico,emancipador

    Poder/emancipao /critica

    Dirigida a mudar a atual situao nasurbes

    Dados qualitativos quantitativos

    Fonte: Adaptado de Sanchez Gamboa.Quadro 1. Relao entre tipos de abordagens metodolgicas e as possibilidades da Biogeografia urbana

    4 AS CIDADES E A GUA NA AMAZNIA

    A Amaznia caracteriza-se por sua complexidade, cultural, multitnica,

    sociopoltica e econmica, na qual sobressaem dois fenmenos: o rpido aumento

    da populao urbana em 2008, cerca de 80% da populao do Par e, no estado

    de Amap supera 90% em relao populao rural, com o conseguinte aumento

    das cidades, e o papel fundamental que desempenham a gua e os rios, no que diz

    respeito economia, aos recursos naturais, aos transportes, aos aspectos culturais

    ou simblicos, tudo analisado por inmeros autores. (Quadro 2).

    As dinmicas das cidades da Amaznia brasileira s comearam a

    ser estudadas sistematicamente em diferentes perspectivas nos ltimos anos

    (CASTRO, 2009; COELHO, 1997). Na dcada de 60, houve um desenvolvimento

    desordenado, surgiram novos ncleos urbanos, como as company townse as agrovilas,

    e as cidades j existentes cresceram desordenadamente. O poder pblico municipal

    interveio de forma reativa, geralmente com pouco planejamento, impulsionando

    a construo de conjuntos residenciais, embora totalmente insuficientes para

    acolher a maioria de populao procedente das migraes intra-regionais. As

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    16/24

    Josep Pont Vidal

    232

    incipientes polticas pblicas urbanas priorizaram o atendimento das demandasbsicas, como a construo de conjuntos residenciais e o saneamento, deixando

    totalmente relegado a um segundo plano o planejamento de outras infra-estruturas,

    como os espaos pblicos e de lazer, os espaos verdes, as formas alternativas de

    transporte pblico e a reciclagem de materiais e refugos urbanos.

    Unidades da Federao Populao residente

    Total (A) Urbana (B) Rural (%) B/A

    Par 6 192 307 4 120 693 2 071 614 66,5

    Amazonas 2 812 557 2 107 222 705 335 74,9

    Rondnia 1 379 787 884 523 495 264 64,1Tocantins 1 157 098 859 961 297 137 74,3

    Acre 557 526 370 267 187 259 66,4

    Amap 477 032 424 683 52 349 89,0

    Roraima 324 397 247 016 77 381 76,1

    TOTAL 12 900 704 9 014 365 3 886 339 69,9

    Fonte: Censo Demogrfico 2000 (IBGE, 2001).Quadro 2: Evoluo da populao residente nas cidades da regio Amaznica.

    A paisagem urbana das regies metropolitanas de Belm e de Manaus

    sofreu os efeitos do crescimento desordenado do territrio, de tal forma que oscentros urbanos adquiriram uma densidade muito elevada devido construo

    de numerosas construes elevadas com edifcios que superam os 30 andares, em

    espaos e superfcies muito reduzidas. Ao mesmo tempo, o centro histrico das

    cidades foi abandonado, at pelos antigos habitantes, transformando-se em lugar

    de prostituio e de marginalidade social. Como conseqncia do pouco ou nulo

    controle municipal sobre a edificabilidade e a densidade das novas edificaes,

    assistiu-se a uma densificao urbana, com os conseguintes problemas causados pelo

    aumento incessante de estacionamentos de automveis, caminhes e nibus.

    Paralelamente, as periferias urbanas multiplicaram-se, devido chegada

    macia de imigrantes rurais e de outras regies, o que provocou uma situao de

    excluso social de propores alarmantes. O transporte pblico dessas periferias

    mostra-se j saturado em decorrncia da falta de planejamento das necessidades

    de transporte ou da adoo de planos procedentes, em geral de planos municipais

    defasados e caracterizados pelo baixo ndice de investimentos.

    As cidades amaznicas vivem uma crise do espao pblico escasso,

    degradado e sujeito especulao imobiliria aspectos j analisados por diverso

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    17/24

    A dialtica entre o "sistema" e o "mundo de vida" na biogeografia urbana

    233

    autores (MORENO, 1998; VAN DICK, FIGUEIREDO, 1998; OLIVEIRA,SCHOR, 2009). A lgica urbana capitalista impregna as metrpoles em geral; nas

    brasileiras, em especial, h uma crescente crise do espao pblico, em parte devido

    s polticas herdadas de governos autoritrios de outras dcadas e, em parte, pelo

    recente desenvolvimento urbano desordenado caracterizado pela especulao

    incontrolada do espao do centro das cidades. Cada vez mais, necessrio analisar

    o habitatcom base na significao da vida cotidiana das pessoas (COSTA, 1998).

    Para a regio da Amaznia, significa estudar o habitat a partir da perspectiva

    arquitetnica e de habitao popular (VAN DICK; FIGUEIREDO, 1998), a

    remodelao ambiental a partir de obras de infra-estrutura (MORENO, 1998),ou a qualidade de vida nos assentamentos (GABRIELE, 1998).

    A esses fatores, acrescenta-se o empobrecimento da paisagem urbana,

    considerado um direito humano emergente (Frum Universal das Culturas,

    Barcelona, 2004), com a respectiva perda da atratividade de viver no centro da

    cidade e nas periferias e a constante deteriorao da qualidade de vida dos cidados.

    Essa perda de atratividade acentuou-se com a construo de espaos e de vias

    rpidas, inseguras e inspitas. Os equipamentos coletivos, como centros de sade,

    centros cvicos e culturais, passaram a ser espaos especializados, sem nenhuma

    relao com o entorno ou com o bairro em que esto instalados e sem ligao com

    os cidados. A falta de disponibilidade de espao pblico constitui um problema

    de primeira magnitude para os planejadores municipais, j que a disponibilidade de

    espao pblico, com os correspondentes servios pblicos, possibilita a evoluo

    social e cvica da cidade.

    Em razo desses dficits estruturais, surge o desafio da cidade sustentvel.

    Atualmente, no possvel conceber nem operar um urbanismo que no

    incorpore os critrios da sustentabilidade ambiental e do respeito pelo entorno.

    O territrio conformado por uma paisagem urbana e rural concreta cada vez

    mais o elemento central do planejamento urbanstico. A incorporao do enfoque

    ambiental passou a ser um exerccio reducionista para a incorporao da paisagemnatural. As cidades na Amaznia enfrentam problemas de poluio atmosfrica

    e de contaminao hdrica devido falta de tratamento adequado dos resduos

    industriais e domsticos.

    Essa situao de presso urbanstica teve tambm conseqncias para a

    produo agrcola. Cada vez mais reas agrcolas, reservasflorestais e reservatrios

    de gua foram ocupados desordenadamente, com a conseqente perda do espao

    necessrio para o crescimento ordenado e o atendimento de futuras necessidades

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    18/24

    Josep Pont Vidal

    234

    ecolgicas e naturais dos centros urbanos, o que evidente especialmente nasgrandes regies metropolitanas. A deteriorao dos centros urbanos acarreta

    um aumento da ghetorizao. Esse fenmeno consiste na recluso dos atores

    sociais em bairros deteriorados ou assentamentos informais. A cidade tende a

    uma tribalizao, com a emergncia de grupos violentos e a criao de polcias

    privadas por parte das elites.

    Nessas condies, difcil que possam criar e desenvolver projetos coletivos

    de cidade. Diversas experincias de cidades mostram a necessidade de consolidar

    uma cultura cvica e participativa conjuntamente com a implementao de

    programas destinados a assegurar a cooperao social e a criao de empregos.Essas dinmicas, impulsionadas pelo poder municipal, levam criao de

    movimentos cidados de apoio s iniciativas dos poderes locais, contra os grandes

    grupos econmicos e as corporaes.

    Nesse contexto, o projeto de cidade surge como uma possibilidade de

    transformao da cidade em uma cidade democrtica, aberta e participativa, com

    um projeto de desenvolvimento econmico prprio. As cidades, a partir de suas

    instituies polticas democrticas e de suas manifestaes sociais e culturais,

    tm de dotar-se de um projeto de cidade que seja capaz de criar as sinergias

    necessrias para animar toda a sociedade a participar.

    As Cincias Ambientais e reas afins de conhecimento deram um impulso

    s aes polticas em matria de meio ambiente urbano, ao compreender a cidade

    como um ecossistema7. De fato, a problemtica urbana da Amaznia, no se reduz

    apenas ao urbano, sino que se estende ao rural. No so apenas as cidades e a

    populao que nelas vive que constituem um dos desafios ambientais da Amaznia.

    Embora a Amaznia encerre a maior bacia hidrogrfica do mundo, compreendendo

    sete pases, uma parte importante da populao da regio carece de gua potvel.

    Quando a populao dispe de gua corrente, com uma elevada probabilidade, essa

    gua no apta para o consumo humano ou estar poluda, como demonstram

    diversos estudos. A Amaznia tambm possui uma das maiores reas de bosquesmidos do planeta. No entanto, esses recursos naturais tampouco esto livres da

    ao humana e de suas contradies.

    A situao ecolgica e a m utilizao dos recursos hdricos, como

    demonstram numerosos estdios (BRAZ, 2003; SILVA, 2003; BECKER, 2003),

    7 Segundo Trepl (1987), o ecossistema urbano caracteriza-se pelo baixo nvel de integrao dosseus elementos, pela escassa autorregulao, pelo predomnio dos processos fsicos sobre osbiolgicos e pela dependncia dos recursos provenientes da fora do sistema.

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    19/24

    A dialtica entre o "sistema" e o "mundo de vida" na biogeografia urbana

    235

    no sofrero mudanas substanciais a no ser que seja realizada uma ao educativae sensibilizadora com a populao que vive nessa rea. Essa situao mostra-nos, em

    uma perspectiva ecolgica, uma parte da complexidade da regio Amaznica.

    Por tudo isso, no pode passar despercebida a pobreza e a excluso social s

    quais est submetida a maioria da populao dessa regio. Embora no constitua

    o ponto central desta investigao, fenmenos derivados dessa situao, como o

    desemprego, a violncia urbana e domstica ou o analfabetismo esto estreitamente

    interligados. Como efeito desses fenmenos, preciso evocar outros talvez menos

    visveis, mas nem por isso menos relevantes para a integrao da sociedade, como

    as enfermidades e os transtornos psicossomticos causados pelo desemprego delonga durao ou pelo consumo de drogas, a violncia ou a incerteza em relao ao

    futuro. Essa situao mostra a complexidade e a inter-relao dos fenmenos, visto

    que existem inmeros atores envolvidos, com responsabilidades e competncias

    em diferentes nveis, os quais atuam com base em diferentes racionalidades sociais,

    polticas e tcnicas.

    CONSIDERAES FINAIS

    Das cincias ambientais em geral, como de todas as cincias afins, surge a

    necessidade de analisar o fenmeno urbano partindo de sistemas complexos ede paradigmas que ultrapassem as limitaes da perspectiva atual. No obstante,

    no contexto de desenvolvimento da Amaznia, a cincia no pode limitar-se a

    produzir conhecimentoper se,deve produzir conhecimento segundo o paradigma

    da sustentabilidade ecolgica e social, para o desenvolvimento sustentvel. A

    Biogeografia Urbana e as Cincias Ambientais no podem limitar-se a analisar esses

    fenmenos com base em sua rea de conhecimento tcnico-cientfica ou em um

    conhecimento instrumental, ignorando as relaes sociais, culturais e econmicas

    existentes entre esses fenmenos; dada a complexidade desses fenmenos, devem

    estud-los em uma perspectiva multidisciplinar.

    As Cincias Ambientais e a Biogeografa Urbana so reas de conhecimento

    tcnico, com uma enorme capacidade de anlise das causas e dos efeitos das

    aes pblicas na regio Amaznica. Assim, essas cincias no esto isentas do

    aparato instrumental de legitimao da cincia, podendo levar em conta elementos

    holsticos, baseados em uma dialtica entre a ao do homem e sua concepo

    subjetiva das possibilidades de transformao da realidade.

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    20/24

    Josep Pont Vidal

    236

    As cidades da Amaznia enfrentam enormes desafios e problemas ambientais,estruturais e sociais, que requerem um comprometimento das cincias em geral para

    a busca de solues. Os recursos hdricos esto sendo explorados irracionalmente,

    sendo principalmente os centros urbanos os principais consumidores e poluentes.

    Surge a necessidade de estabelecer uma conexo epistemolgica e conceitual

    entre os elementos da Biogeografia Urbana e das Cincias Ambientais em geral

    e os elementos epistemolgicos que ultrapassem a anlise restrita dos aspectos

    vegetais e animais que conformam as cidades para estabelecer um vnculo com a

    ao humana, causadora dos desequilbrios ecolgicos.

    Parafi

    nalizar, cabe lembrar que o interesse emancipatrio das pessoas achave para compreender como deve ser regulada a nova sociedade proposta por

    Habermas. Essa nova sociedade apoia-se, segundo Habermas, na liberdade de

    expresso, pela qual o pensamento se produz a partir do dilogo, quer dizer, a partir

    de uma relao dialtica entre teoria e prtica. Esse pensamento sustenta-se na

    teoria da racionalidade, na qual o indivduo faz valer sua autoridade epistemolgica

    que interage e se comunica por meio da comunidade.

    REFERNCIAS

    AMIN, M.; XIMENES, T. (Org.). Habitat nos pases amaznicos. Belm,NAEA, UNAMAZ, 1998.

    AMORIM, J.M. de. Geografia Scio-Ambiental ou Geografia do meio Ambiente?

    In: Geoambiente on-line. Revista Eletrnica do Curso de Geografia do Campus

    Avanado de Jata-GO, n. 5 jul/dez. 2005.

    ARAGON, L.; CLSENER-GODT, M. (Org.). gua da Amaznia, Belm,

    UNESCO, 2003.

    ARAUJO, G. H. de S.; ALMEIDA, J. R. de; GUERRA, A. J. T. Gesto ambiental

    de reas degradadas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

    BECKER, B. Insero da Amaznia na geopolitica da gua, in: ARAGON,

    L.; CLSENER-GODT, M. (Org.) gua da Amaznia, p. 273-299, Belm,

    UNESCO, 2003.

    BRAZ, V.N. Poluio dos recursos hdricos da Amaznia: Aspectos urbanos,

    in: ARAGON, L.; CLSENER-GODT, M. (Org.)gua da Amaznia, p. 153-

    161, Belm, UNESCO, 2003.

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    21/24

    A dialtica entre o "sistema" e o "mundo de vida" na biogeografia urbana

    237

    CARRASCO AQUINO, R. J. La ciudad sostenible, movilidad y desarrollometropolitano, su aplicacin y anlisis comparativo entre las reas

    metropolitanas del Valls y Puebla. Barcelona: UPC, 2001.

    CASTRO, E. (Org.) Cidades na floresta. So Paulo: Anablume. 2009.

    COELHO, M. C. N. Cidades da Amaznia em busca de novas interpretaes e de

    novos rumos. In: FATHEUER, J.; ARROYO, J. C.; MACHADO, J. A.Amaznia:

    estratgias de desenvolvimento sustentvel. Belm: UFPA, 1997. p. 48-55.

    COELHO, M.; SIMONIAN.; L.; FENZL, N., Estado e polticas pblicas na

    Amaznia. Belm, CEJUP / UFPA / NAEA, 2000.CONSEJO INTERNACIONAL PARA LAS INICIATIVAS AMBIENTALES

    LOCALES. El desarrollo sostenible y Agenda 21 local: una responsabilidad y

    un compromiso municipal. 1994. Disponvel em: . Acesso em: 6 mar. 2008).

    COSTA, S. M. G. da. Como vejo minha casa: representaes do espao-casa

    numa rea de baixada de Belm. In: AMIN, M. M.; XIMENES, T. Habitat nos

    pases amaznicos. Belm: UNAMAZ, 1998. p. 69-108.

    DANIELE, C.; ROS, D.; DE PAULA, M.; FRASSETTO, A. Impacto y riesgo dela expansin urbana sobre los valles de inundacin en la Regin Metropolitana de

    Buenos Aires. In: BROWN, A. et al. (Ed.). Situacin ambiental Argentina 2005.

    Buenos Aires: Fundacin Vida Silvestre Argentina, p. 457-461, 2006.

    DREW, D. Processos interativos homem-meio ambiente. So Paulo: DIFEL,

    1986.

    FERREIRA, Lcia da C. A importncia da interdisciplinaridade para a sociedade.

    In:A interdisciplinaridade nas cincias ambientais.Braslia: Pnuma/MCT/

    PADCT-Ciamb, 2000.

    FRUM UNIVERSAL DE LAS CULTURAS. Carta de los derechos humanos

    emergentes. Barcelona, 2004.

    GABRIELE, M.C. Assentamentos Urbanizados e Qualidade de vida: uma

    contribuio reforma urbana, in: AMIN, M.; XIMENES, T. (Org.). Habitat

    nos pases amaznicos. Belm, NAEA, UNAMAZ, p. 296-356, 1998.

    GAMBOA, S. http://www.fe.unicamp.br/gepeja/arquivos/gamboa-ABORDA

    GENSCIENTIFICASEINTERESSESHUMANOS.doc. (consulta: 10/10/09)

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    22/24

    Josep Pont Vidal

    238

    GARCA-ABAD ALONSO, J. J.. Biogeografa urbana: presentacin del caso deAlcal de Henares. Anales de Geografa de la Universidad Complutense,

    Madrid, n. 15, p. 315-323, 1995.

    GLOBAL VISION. Sustainable City. [Geo-2-2001]. Disponvel em:

    . (Acesso em: 6 /08

    /2007).

    HABERMAS, J. Theorie des kommunikativen Handelns. Bd.1:

    Handlungsrationalitt und gesellschaftliche Rationalisierung, Frankfurt

    am Main, Racionalidad de la accin y racionalizacin social. Madrid: Taurus,[1981] 1987.

    .Theorie des kommunikativen Handelns. Bd. 2: Zur Kritik der

    funktionalistischen Vernunft), Frankfurt am Main, Cr tica de la razn

    funcionalista. Madrid: Taurus, [1981] 1987.

    . Conscincia moral e agir comunicativo. Rio de Janeiro: Biblioteca

    Tempo Universitrio, [1983] 1989.

    . Tcnica e cincia como ideologia. Lisboa: Edies 70, [1968]

    1993.. Conhecimento e interesse. Ro de Janeiro: Guanabara. [1968] 1987.

    TORRES, M. A. (Coord.). Cap a la reforma ambiental urbana: aportacions

    des de la metodologa de les ecoauditories municipals. Barcelona: Universitat de

    Barcelona, 1997. 154 p.

    KUNZLER, C.M. A teoria dos sistemas de Niklas Luhmann, in: Estudos de

    Sociologia, Araraquara n. 16, p. 123-136, 2004.

    LANNA, A. E. Gerenciamento de bacias hidrogrficas: aspectos conceituais

    e metodolgicos. Braslia, DF: IBAMA, 1995.LEFF, E. (coord.). A complexidade ambiental. So Paulo, Cortez Editora,

    [2000] 2003.

    LINDAU, H. G. L. Em busca de uma construo metodolgica complexa para a

    educao ambiental. CAESURA Revista Crtica de Cincias Sociais e Humanas,

    Canoas, v. 27, p. 23-33. 2006.

    LUHMANN, N. System und Funktion. Frankfurt a. M.: Suhrkamp, 1984.

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    23/24

    A dialtica entre o "sistema" e o "mundo de vida" na biogeografia urbana

    239

    . Soziale Systeme,Frankfurt am Main: Suhrkamp, [1984] 2001.

    . kologische Kommunikation, Opladen: Westdeutscher Verlag,

    1986.

    . Soziologie des Risikos, Frankfurt. a.M.: Suhrkamp, 1991.

    . Die Gesellschaft der Gesellschaft, Frankfurt. a.M.: Suhrkamp.1997.

    MARCUSE, H. El hombre unidimensional. Barcelona: Seix Barral, [1964]

    1967.

    MELIC, A. Entomologa urbana: Diversidad biolgica versus biocenosis

    urbana. Bol. SEA, n. 12, p. 39-42, 1995.

    MENDONA, F. Geografia e meio ambiente. So Paulo: Contexto, 1993.

    NN.UU. Our Common Future. World commission on environment and

    development.1987. New York. (Acesso em: http://futurocomum.ning.com)

    NUNES, B.F. A interface entre o urbano e o rural na Amannia brasileria, in:

    CASTRO, E. (Org.). Cidades na floresta. So Paulo: Anablume, p.41-59, 2009.

    OLIVEIRA, J.A.; SCHOR, T. Manaus: transformaes e permanncias, do forte

    metrpole regional, in: CASTRO, E. (Org.) Cidades nafl

    oresta. So Paulo:Anablume, p. 59-99, 2009.

    PARAN. Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Manual de avaliao de

    impactos ambientais. Curitiba: IAP, 1993.

    PERNAS, B. Reinventando el espacio. Revista 8 de Marzo, Madrid, n. 30, jul.

    1998. Disponvel em: . Acesso

    em: 10 jan. 2006.

    PINTO, P.M. Unidades de conservao, turismo e excluso social no Parque

    Estadual Serra dos Martrios/Andorinhas. Belm, 2006. Dissertao de

    Mestrado, UFPA.

    ROBINSON, W. H. Urban Entomology. London: Chapman & Hall, 1996.

    SILVA, P. Gesto de recursos hdricos: Uma questo vital ao desenvolvimento,

    in: ARAGON, L.; CLSENER-GODT, M. (Org.)gua da Amaznia, p. 421-

    453, Belm, UNESCO, 2003.

  • 5/20/2018 A Dial tica Entre o Sistema

    24/24

    Josep Pont Vidal

    240

    SCHTZ, A. The Structure of the Life World. (Versin en espaol: Lasestructuras del munde de vida. Buenos Aires: Amorrurtu, [1973] 2003).

    THIELEN, H. Idias para uma ecologia dialctica-dialgica. CAESURA Revista

    Crtica de Cincias Sociais e Humanas, Canoas, n. 27, p. 5-22, jul./dez. 2005.

    TREPL, L. Geschichte der kologie. Vom 17. Jahrhundert bis zur Gegenwart.

    Frankfurt, 1987.

    VAN DICK, A; FIGUEIREDO, L. A ao do capital imobilirio na produo

    de habitao popular: estudo na rea de expanso de Belm, in: AMIN, M.;

    XIMENES, T. Habitat nos pases Amaznicos, Belm, UNAMAZ, UFPA, p.109-171, 1998.

    VIDAL, J. P. Para o (re)descobrimento do ser humano: possibilidades das Cincias

    Sociais. Paper do NAEA, Belm, n. 201, 2006.

    . A realidade social externa ao indivduo? Uma aproximao pesquisa

    qualitativa. Paper do NAEA, Belm, n. 203, 2006.

    . Niklas Luhmann: un pensador polmico. Universidad Autnoma

    de Barcelona, Bellaterra, 1996.

    WITKOSKI, A.C. Terras, Florestas, guas e Trabalho. Os camponesesamaznicos e as formas de uso de seus recursos naturais. Manaus:

    Universidade Federal do Amazonas, 2007.

    Revistas

    Serie Geogrfica.Universidad de Alcal de Henares.

    Texto submetido Revista em outubro de 2008 e aceito para publicao em agosto de2009