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    ALDOFORNAZIERI   SEG, 07/03/2016 - 08:33ATUALIZADO EM 07/03/2016 - 10:17

    A ditadura judicial da Lava Jato e aradicalização da crise, por Aldo Fornazieri

    A ditadura judicial da Lava Jato e a radicalização da crise

    por Aldo Fornazieri

    No passado recente o autoritarismo se apresentava pela força das baionetas. Os tempos mudaram

    e hoje ele se viabiliza pelo permanente estado de exceção implementado pelas arbitrariedades do

     judiciário e do Ministério Público e garantido pelos camisas pretas da Política Federal que,

    fortemente armados, ao mando daqueles, invadem residências e conduzem à força cidadãos para

    depor ao arrepio daquilo que prescreve a própria lei.

    Se o Estado de Direito já vinha sofrendo as vicissitudes antes da atual crise política pela

    indesmentível conduta parcial e enviesada do judiciário contra os pobres, contra os negros, contra

    as mulheres e outras minorias, com a operação Lava Jato a violação do Estado de Direito elevou-se a  estatuto de estado de exceção judicial. Este estado se configura pela violação sistemática e

    politicamente orientada de direitos e garantias individuais plasmados na Constituição e nas leis.

    Os valores constitucionais que brotaram das trágicas experiências dos regimes totalitários e da

    Segunda Guerra estabeleceram de forma indiscutível a primazia da proteção do ser humano e das

    várias dimensões de sua dignidade. Depois de instalada a operação Lava Jato, o Estado de Direito

    vem sendo sistematicamente violado. Em nome do combate à corrupção constroem-se

     justificativas genéricas e politicamente orientadas para promover mais de 100 conduções

    coercitivas, para manter prisões ilegais, para prender e soltar ao sabor da vontade arbitrária dospromotores e do juiz Sérgio Fernando Moro.

    Não resta mais do que sombra do conteúdo republicano que a operação Lava Jato tinha no seu

    início. Ela foi transformada numa fábrica de conduções coercitivas, de pressões psicológicas ilegais

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    sobre presos e de produção de delações premiadas de duvidosa credibilidade. As delações

    coercitivas e sob tortura sempre foram a base de caça aos inimigos dos regimes autoritários e

    totalitários.

    A troika de Curitiba – MPF, juiz Moro e PF – conduzem cada vez mais a Lava Jato não só para a

    adoção de medidas excepcionais na plano jurídico, mas para a prática de medidas assemelhadas

    aos regimes autoritários e até mesmo totalitários. Essas práticas, que vem sendo

    sistematicamente denunciadas, seguem a seguinte lógica: acusa-se, prende-se e só depoisconstroem-se os fatos para justificar as ilegalidades. Os regimes autoritários e totalitários são

    vezeiros nestas práticas.

    O artigo 218 do Código do Processo Penal é taxativo em afirmar que o mecanismo da condução

    coercitiva só se aplica nos casos em que a testemunha regularmente intimada deixar de

    comparecer sem motivo justificado. Ao contrário do que afirma a nota do MPF acerca da condução

    coercitiva do ex-presidente Lula, não há nenhuma jurisprudência firmada que justifique a

    condução ao arrepio da lei. Dai os protestos de juristas insuspeitos como Walter Maierovitch e

    José Gregori, respectivamente Secretário Nacional Antidrogas e Ministro da Justiça do governoFHC, assim como do ministro do Supremo Marco Aurélio Mello contra a arbitrariedade de Moro e

    do MPF.

    Estado de Exceção e Totalitarismo

    A mesma violência do arbítrio que foi praticada contra Lula foi praticada também, de forma

    absurda, contra o caseiro do sítio de Atibaia e contra cerca de 117 pessoas durante no decurso da

    operação Lava Jato. Se Lula e outras pessoas devem explicações à sociedade e à Justiça que lhe

    seja garantida a segurança e o direito de fazê-lo dentro da lei. É inconcebível que os agentes da

    lei sejam os promotores da violação dos direitos e da segurança dos cidadãos. O que está em jogonão é a defesa de Lula, do governo e do PT, que merecem muitas críticas. O que está em jogo é a

    defesa da democracia e do Estado de Direito.

    O que fica claro é que a troika de Curitiba quer revestir de legalidade um instrumento de

    sistemática ilegalidade. É aqui que a Lava Jato começa sua aproximação com o totalitarismo.

    Como agentes públicos, Moro, o MPF e a PF, ao usarem mecanismos ilegais, deixam de agir sob o

    império da lei e começam a agir em nome do Estado. O Estado era tudo no nazismo de Hitler, no

    fascismo de Mussolini e no comunismo soviético.

    Quando o Estado é elevado à categoria de soberania em detrimento da lei já não há Estado

    Democrático de Direito, pois, este, por definição, tem seu poder limitado pela lei. E o que limita o

    poder do Estado, e por isto ele é “de Direito”, são os direitos dos cidadãos. Quando o Estado está

    acima da lei instaura-se o arbítrio de grupos e de indivíduos que se apoderam de partes do

    Estado. É isto o que aconteceu com a troika de Curitiba: se apoderaram de parcela do Estado

    para executar suas vontades arbitrárias.

    Ao instaurar um estado de permanente ilegalidade, o estado de exceção da Lava Jato estabelece

    uma segunda aproximação com o totalitarismo nazista num aspecto muito bem captado porHannah Arendt em sua obra “ As Origens do Totalitarismo”. Ela observa que no início, os nazistas

    desencadearam uma avalanche de leis e decretos. Mas depois se verificou que sequer observavam

    as próprias leis, suplantadas por movimentos sucessivos em busca de seus objetivos políticos

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    geralmente implementados pela polícia secreta do Estado. No caso da Lava Jato, o Ministério

    Público parece ser o centro da produção dos objetivos políticos, o juiz Moro o seu avalista e

    legitimador e a PF, a executora.

    As ações ilegais do estado de exceção de Curitiba são justificadas pela necessidade de debelar a

    corrupção sistêmica. O que comanda as ações da troika não é a lei, mas a ética, dissolvendo-se

    assim a diferença entre lei e ética pregada por Hitler. “O Estado total não deve reconhecer

    qualquer diferença entre a lei e a ética”, afirmou Hitler em discurso coligido por Arendt. Omovimento total procura justificar, em nome da ética, as ações arbitrárias ao arrepio da lei.

    O Judiciário como parte da crise institucional

    Ao contrário do que procuram justificar Moro e o MPF em suas notas explicativas, a condução

    coercitiva de Lula, além de violar a sua dignidade e de agredir o respeito que ele merece, não

    garantiu a sua segurança e não preservou a sua imagem. Pelo contrário, desencadeou ondas de

    violência e um clima de linchamento físico e moral do ex-presidente e de petistas. O PT passou a

    ser atacado em várias cidades do Brasil.

    Setores da imprensa estimularam e estimulam esse vandalismo político, esse clima de “juízo

    final” - expressão arrogantemente usada por alguns jornalistas que, pela sua idiotia, mal

    disfarçam o caráter propagandístico de sua atividade e o estímulo ao linchamento que promovem.

    A imagem bisonha e ridícula que setores da mídia deixarão desta crise para a posteridade e para

    a história é o “escândalo dos pedalinhos”.

    O juiz Moro e o MPF não podem reclamar tolerância com suas palavras e estimular a violência com

    seus atos. A máscara da neutralidade já caiu e a Lava Jato mostra sistematicamente que não é

    imparcial e que não segue o preceito democrático da isonomia. Persegue uns e protege outros.

    Definitivamente, o judiciário perdeu a condição de ser o mediador da atual crise política ao

    ingressar nela como parte politicamente interessada. Parte politicamente interessada que quer

    derrubar o governo e inviabilizar a candidatura de Lula em 2018. Desta forma, a crise politica

    caminha rapidamente para uma crise institucional, uma crise entre poderes. As crises

    institucionais costumam serem crises prolongadas. Os vencedores de hoje podem se tornar os

    derrotados de amanhã.

    Na medida em que as instituições não são capazes e perderam a legitimidade de resolver e

    mediar a crise, esta só tem duas maneiras de ser resolvida: 1) dados os impasses, os vários

    atores em disputa negociam uma saída satisfatórias para o país; ou, 2) a crise encontrará uma

    solução vinda dos tumultos das ruas. Esta segunda opção, neste momento, parece ser a mais

    provável e, talvez, a mais desejável, pois as instituições do Estado republicano e o sistema de

    representação política deixaram de funcionar e perderam a sua legitimidade. O Judiciário deixou

    de ser o guardião imparcial da lei e da Constituição. O mais conveniente nesses casos é que a

    cidadania, o povo, reconstitua o sistema politico pela sua ação.

    Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política de São Paulo.