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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema” “A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema” AUTOR: CLÁUDIO EUGÊNIO REIS BRESSANE. SUMÁRIO: 1 – DA EXPOSIÇÃO DO FATO E DO DIREITO. 2 - DA IMPORTÂNCIA DA SÚMULA E DA JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE ESPECIALMENTE EXPRESSADA PELOS PLENÁRIOS DOS TRIBUNAIS SUPERIORES. 3 - DA NOCIVIDADE DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL SIMULTÂNEA. 4 – DO CABIMENTO DO PEDIDO DE INSTAURAÇÃO DO PROCESSO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. 5 – DA IMPERIOSA NECESSIDADE DE INSTAURAÇÃO DO PROCESSO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. 6 – DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NO ÂMBITO DO CSTJ. 7 – DAS TRANSCRIÇÕES. 8 – DO CONFRONTO ANALÍTICO. 9 – DA COMPETÊNCIA DA COLENDA CORTE ESPECIAL PARA CONHECER E JULGAR DO PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. 10 – DA INCLUSÃO DO JULGAMENTO NA SÚMULA DA JURISPRUDÊNCIA DO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 11 – CONCLUSÕES Cláudio Eugênio Reis Bressane 1

“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies

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Page 1: “A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies

“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

AUTOR: CLÁUDIO EUGÊNIO REIS BRESSANE.

SUMÁRIO: 1 – DA EXPOSIÇÃO DO FATO E DO DIREITO. 2 - DA IMPORTÂNCIA DA

SÚMULA E DA JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE ESPECIALMENTE EXPRESSADA PELOS

PLENÁRIOS DOS TRIBUNAIS SUPERIORES. 3 - DA NOCIVIDADE DA DIVERGÊNCIA

JURISPRUDENCIAL SIMULTÂNEA. 4 – DO CABIMENTO DO PEDIDO DE INSTAURAÇÃO

DO PROCESSO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. 5 – DA IMPERIOSA

NECESSIDADE DE INSTAURAÇÃO DO PROCESSO DE UNIFORMIZAÇÃO DE

JURISPRUDÊNCIA. 6 – DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NO ÂMBITO DO CSTJ. 7 –

DAS TRANSCRIÇÕES. 8 – DO CONFRONTO ANALÍTICO. 9 – DA COMPETÊNCIA

DA COLENDA CORTE ESPECIAL PARA CONHECER E JULGAR DO PEDIDO DE

UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA. 10 – DA INCLUSÃO DO JULGAMENTO NA

SÚMULA DA JURISPRUDÊNCIA DO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 11 –

CONCLUSÕES

1 – DA EXPOSIÇÃO DO FATO E DO DIREITO.

Há mais de vinte e cinco anos, os dignos Secretários do Tribunal de

Justiça e dos Tribunais de Alçada (dois cíveis e um criminal) do Estado de

Cláudio Eugênio Reis Bressane 1

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

São Paulo, em vez de intimarem, pessoalmente, os representantes do

Ministério Público, nos moldes preceituados pela Lei Orgânica Nacional

do Ministério Público1 e pela sistemática processual civil2 e penal3

brasileira, permitem-se a entregar os autos, singelamente, no protocolo da

Instituição.

Ao setor administrativo, não resta outra alternativa senão recebê-

los, registrá-los e distribuí-los aos Procuradores de Justiça, que, a partir

daí, tomam ciência pessoal e inequívoca das decisões do Poder Judiciário

Importante deixar consignado que a Procuradoria-Geral de Justiça

do Estado de São Paulo, em razão do descomunal volume de processos,

organizou-se, internamente, por conta da praxe administrativa assentada

pelo próprio Poder Judiciário de remeter os autos, singelamente, ao

Ministério Público, fixado, pois, o termo a quo, para a interposição do

Apelo Raro, a partir do dia em que o membro respectivo lançar o ciente

nos autos.

1 Art. 41, inciso IV, da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do

Ministério Público): “Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no

exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica: ... omissis... IV -

receber intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição, através da entrega

dos autos com vista”. 2 Art. 236, § 2º, do CPC: “A intimação do Ministério Público, em qualquer caso, será feita

pessoalmente”. 3 a) art. 370, § 4º, do CPP: “A intimação do Ministério Público e do defensor nomeado

será pessoal”; b) art. 390, do CPP: “O escrivão, dentro de três dias após a publicação, e

sob pena de suspensão de cinco dias, dará conhecimento da sentença ao órgão do

Ministério Público”; e c) art. 800, § 2º, do CPP: “Os prazos do Ministério Público contar-

se-ão do termo de vista, salvo para a interposição do recurso (art. 798, § 5º)”.

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Para tanto, a Procuradoria-Geral de Justiça, há muitos anos, criou

Setor de apoio aos Procuradores de Justiça pareceristas, objetivando,

especificamente, a interposição dos Recursos Extremos.

Estabeleceu-se essa prática administrativa para efetivar o acesso à

Instância Extraordinária, por conta dos inúmeros óbices ao conhecimento

da Súplica Máxima e, sobretudo, em respeito aos interesses públicos

defendidos pelo Ministério Público, em Juízo (arts. 127, caput, e 129 e

incisos, ambos da CF).

Acontece que, de uns tempos para cá, de súbito, e sem que

houvesse alteração substancial no ordenamento jurídico ou modificação

relevante no quadro fático preexistente, a E. Presidência do C.

TACRIM/SP principiou a indeferir, por intempestividade, Recursos

Especiais.

Assim o fez por julgar que os prazos devem fluir a partir da data da

simples entrega dos autos no protocolo da Instituição, criando, ao arrepio

da lei, a intimação ficta para os membros do Ministério Público.

Depois, em vez de indeferi-los, passou, de forma incomum, a

anotar no R. despacho de admissão o tema, em debate, deixando-o para

ser dirimido pelo CSTJ.

A rigor, diante de eventual intempestividade, deveria, de forma

fundamentada, não admitir o Apelo Raro e, obrigatoriamente, intimar o

recorrente, para tomar as providências cabíveis, mas não fazer simples

apreciação no R. despacho de admissão, sobre esse pressuposto

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recursal, e determinar a subida dos autos, sem manifestação do

sucumbente.

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

Essa última postura impossibilitou a defesa do recorrente, porque a

digna Secretaria do C. TACRIM/SP não costuma intimar, pessoalmente,

os representantes do Parquet dos respeitáveis despachos de admissão,

sendo que todos os processos, nessas iguais condições, subiram à

revelia.

Por conta dessa novel conduta, incontáveis Recursos Especiais tiveram e continuam tendo seguimento negado, o mesmo acontecendo com Agravos de Instrumento, com ponderosos prejuízos aos legítimos interesses da Justiça Pública, porque são consideradas, apenas e tão-somente, as escassas e parciais informações inseridas nos respeitáveis despachos de admissão.

Esse procedimento adotado pela E. Presidência do C. TACRIM/SP é, em tudo e por tudo, inconstitucional, porque contraria os princípios do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, inciso LV, da CF).

Gravíssima essa conjuntura, porque, nessas últimas e inúmeras oportunidades, o Ministério Público ficou sem fala e, consequentemente, impedido de demonstrar o que, realmente, acontece de verdadeiro, no Estado de São Paulo.

De fato, já em 02/06/1988, no julgamento do RE nº 113.410-1/SP, em que fora relator o eminente Ministro Octávio Gallotti (RTJ 132/1300-1305), o E. Plenário do CSTF analisara, de forma minuciosa, exatamente a mesma controvérsia, sendo que - repita-se - em termos fáticos, nada se modificara de lá para cá, a não ser, apenas, o aumento astronômico dos processos.

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A ementa dessa respeitável decisão Plenária diz:

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PRAZO DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO SÓ COMPUTÁVEL A PARTIR DA CIÊNCIA PESSOAL DO ACÓRDÃO RECORRIDO, PELO MEMBRO DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, E NÃO DESDE O SIMPLES INGRESSO DOS AUTOS EM SERVIÇO ADMINISTRATIVO DA PROCURADORIA GERAL DA JUSTIÇA (LEI COMPLEMENTAR Nº 40/81, ART. 20, V).

Nesse substancioso e esclarecedor julgamento, houve declaração

de votos vencedores dos eminentes Ministros Célio Borja, Carlos Madeira,

Sydney Sanches, Aldir Passarinho, Oscar Corrêa e Moreira Alves.

Destaque-se, entretanto, o ilustrado voto vencedor do eminente

Ministro Sydney Sanches, que fora Magistrado, aqui no Estado de São

Paulo, o qual bem dispôs a questão, verbis:

Sr. Presidente, a intimação do representante do Ministério Público, todos sabemos, deve ser pessoal, como diz a L.C. nº 40/81. E se não puder certificar que foi realmente pessoal, antes do ciente lançado por aquele nos autos, só a partir de tal ciência é que se deve contar o prazo para o recurso. E não pode ser considerada, como intimação pessoal de um Procurador da Justiça, aquela consistente na simples entrega dos autos na Secretaria, a um setor meramente administrativo, que não representa o Procurador, nem o Ministério Público, como membro deste. Se se configurar abuso do representante do Ministério Público, consistente em receber os autos e não lançar o ciente, isso deve ser apurado, e certificado, caso por caso, inclusive mediante certidão da Secretaria do Tribunal, até porque o abuso não se presume. Aliás, o ato de intimação e a respectiva certidão são do Poder Judiciário e não do próprio M.P., no âmbito administrativo. Enfim, não se pode afirmar que

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tenha sido pessoal uma intimação impessoal, indireta, feita em pessoa que não representa aquele a quem a intimação é dirigida. Acompanho, enfim, o eminente Relator.

Interessante, também, trazer à colação o R. voto vencedor do eminente Ministro Carlos Madeira, verbis:

Senhor Presidente, fui relator de dois desses acórdãos citados pelo eminente Ministro Octávio Gallotti, mas a mim foi dada a explicação pelo Dr. Procurador-Geral de Justiça e o Procurador Dr. Damásio, de que a Procuradoria recebe, em média 300 processos por dia, do Tribunal de Alçada Criminal e do Tribunal de Justiça. O Setor Administrativo é que recebe, não há condições do Procurador tomar conhecimento do processo imediatamente. Votei acolhendo o parecer da Procuradoria-Geral da República em dois processos, acompanhei o eminente Ministro Aldir Passarinho, terça-feira passada, onde ele sustentara a tempestividade do recurso, exatamente devido a essas circunstâncias.

Note-se que o Procurador-Geral de Justiça, à época, estivera, pessoalmente, no CSTF, a explicar as particularidades da movimentação de processos no Estado de São Paulo.

Em outra oportunidade, o CSTF, no RE nº 111.550/SP, rel. Min. Sydney Sanches, 1ª Turma, j. 06/03/1989, publicado na RDA nº 176/48-53, mais uma vez, voltou a apreciar o mesmo tema, proclamando, sobretudo, a sua jurisprudência dominante, a respeito, cuja ementa é a seguinte:

MINISTÉRIO PÚBLICO. INTIMAÇÃO DA SENTENÇA. EM RECENTES JULGADOS DO E. PLENÁRIO DO STF, FICOU ENTENDIDO QUE A INTIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO DEVE SER PESSOAL, ISTO É, HÁ DE SER FEITA

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À PESSOA DE SEU REPRESENTANTE, E O PRAZO PARA O RESPECTIVO RECURSO É DE SE CONTAR DA DATA EM QUE LANÇA O “CIENTE” DO JULGADO – E NÃO DAQUELA EM QUE OS AUTOS SÃO REMETIDOS PELO CARTÓRIO OU SECRETARIA DO TRIBUNAL A UMA REPARTIÇÃO ADMINISTRATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO, ENCARREGADA APENAS DE RECEBER OS AUTOS, E NÃO AUTORIZADA LEGALMENTE A RECEBER INTIMAÇÕES EM NOME DESTE.

E, agora, recentemente, o CSTF reafirmou a sua jurisprudência dominante a respeito da questão:

PENAL – PROCESSUAL PENAL – HABEAS CORPUS – RECURSO – TEMPESTIVIDADE – DÚVIDA – LIVRAMENTO CONDICIONAL – CP, ART. 83, IV.I – O prazo para recurso do Ministério Público começa

a fluir da data em que o referido órgão teve inequívoca

ciência da decisão recorrida. Em caso de dúvida, deve-se decidir em favor de sua admissibilidade. Precedentes do STF: HC 70.719-BA, Néri, ´DJ´ 25/04/97; RE 132.031-SP, C. de Mello, RTJ 159/943 e HC 71.342-SP, Velloso, ´DJ´ 20/4/95.II – Não havendo prova de que o representante do Ministério Público fora intimado da decisão em data anterior, há que prevalecer a data em que ele apôs o seu ciente (STF-HC nº 82.938/SP, rel. Min. Celso de Mello, j. 24/06/03) (grifos do original)

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No mesmo sentido é a doutrina4 e a jurisprudência dominante dos C. Tribunais Federais, particularmente enunciada pelos E. Plenários respectivos5 (Na nota de rodapé nº 5, as decisões plenárias estão sublinhadas e grafadas em negrito e itálico, para bem facilitar a localização).

Acrescentando, cabe, nesse passo, perguntar o que é intimação, em termos processuais?

INTIMAÇÃO. Derivado do latim intimatio, de intimare

(ordenar, dar a saber, declarar), genericamente, na 4 Hélio Tornaghi, Comentários ao Código de Processo Civil, Revista dos Tribunais, 1975,

vol. II, p. 204; E.D. Moniz de Aragão, Comentários ao Código de Processo Civil, Forense,

7ª edição, Rio de Janeiro, 1992, p. 331; Pontes de Miranda, Comentários ao Código de

Processo Civil, Forense, 2ª edição, p. 421; Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães

Gomes Filho e Antonio Scarance Fernandes, Recursos no Processo Penal, Revista dos

Tribunais, 2ª edição, revista e atualizada, 1997, p. 100; Julio Fabbrini Mirabete, Código de

Processo Penal Interpretado, Atlas, 8ª edição, atualizada até dezembro de 2000, pp.

808/809, 871 e 1564; Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal Anotado, Saraiva,

19ª edição, atualizada, 2000, pp. 273 e 295; Hugo Nigro Mazzilli, Regime Jurídico do

Ministério Público, Saraiva, 2ª edição, revista, ampliada e atualizada, à luz da LOMPU, da

LONMP e da LOEMP, 1995, p. 332; Fernando da Costa Tourinho Filho, Código de

Processo Penal Comentado, Saraiva, 3ª edição, revista, modificada e ampliada, 1998, 1º

vol., pág. 643, 2º vol. p. 530; Eduardo Espínola Filho, Código de Processo Penal

Anotado, 2ª edição, 1946, Vol. IV, p. 195/196, Vol. VII, p. 669; José Frederico Marques,

Elementos de Direito Processual Penal, Bookseller, Campinas/SP., 1998, 1ª edição, 2ª

tiragem, atualizada por Victor Hugo Machado da Silveira, Volume III, p. 60; José

Frederico Marques, Instituições de Direito Processual Civil, Millennium, Campinas/SP, 1ª

edição, revista, atualizada e complementada por Ovídio Rocha Barros Sandoval, 2000, p.

456; Moacyr Amaral Santos, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Saraiva, 5ª

edição, 1980, 2º volume, pp. 157/158; Nelson Nery Junior e Rosa Maria Andrade Nery,

Código de Processo Civil Comentado, Revista dos Tribunais, 4ª edição revista e

ampliada, atualizada até 10/03/1999, p. 707.

5 STF-RE nº 66979/SP, rel. Min. Themístocles Cavalcanti, 2ª Turma, j. 16/05/1969, RTJ 51-01,

p. 210; STF-HC nº 53.663/ES., rel. Min. Moreira Alves, 2ª Turma, j. 29/08/1975, RTJ 75/440-

442; STF-HC nº 54/490/RJ., rel. Min. Cunha Peixoto, 1ª Turma, j. 04/06/1976, RTJ 81/361-362;

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terminologia jurídica, é empregado para designar todo ato processual que tem por fim levar ao conhecimento de certa pessoa, seja parte ou interessada no feito, ato judicial ali praticado, a pedido da outra parte ou por ofício do juiz. É, assim, a ciência, geralmente em caráter de ordem e de autoridade, que deve ser dada à pessoa, parte ou interessada em um processo, a respeito de despacho ou de sentença nele proferida,

STF-HC nº 59.684/SP, rel. Min. Cordeiro Guerra, 2ª Turma, j. 23/04/1982, DJU 04/06/1982, RTJ

102/584-591; STF-RE 93.464/RJ, rel . Min. Alfredo Buzaid, 1ª Turma, j. 11/05/83, RTJ 102/285-

287; STF-RE nº 101970/RS, rel. Min. Djaci Falcão, 2ª Turma, j. 10/04/1984, DJU 25/05/1984, p.

8236, RTJ 109-03, p. 1281; STF-RE nº 114049/SP, rel. Min. Aldir Passarinho, 2ª Turma, j.

27/05/1988, DJU 07/04/1989, p. 4911; STF-RE nº 114791/SP, rel. Min. Aldir Passarinho, 2ª

Turma, j. 31/05/1988, DJU 07/04/1989, p. 4912; STF-RE nº 113.410-1/SP, rel. Min. Octávio

Gallotti, Tribunal Pleno, j. 02/06/88, RTJ 132/1300-1305; STF-RE nº 115256/SP, rel. Min.

Carlos Madeira, 2ª Turma, j. 03/06/1988, DJ 01/07/1988, p. 16909; STF-RE nº 112.243/SP., rel.

Min. Francisco Rezek, 2ª Turma, j. 16/08/88, RTJ 128/1321-1323; STF-RE nº 115.000/SP., rel.

Min. Francisco Rezek, 2ª Turma, j. 23/08/88, RTJ 1151/1153; STF-HC 73422/MG, rel. Min.

Marco Aurélio, Rel. p/ o Acórdão Min. Maurício Corrêa, 2ª Turma, j. 12/03/1996, DJ

19/12/1996, p. 50161; STF-RE nº 111.550/SP, rel. Min. Sydney Sanches, 1ª Turma, j.

06/03/1989, RDA nº 176/48-53; STF-HC nº 72969-0/SP., rel. Min. Ilmar Galvão, 1ª Turma, j.

14/11/95, DJ 15/12/95, Ementário nº 1813/02; STF-HC nº 82.938/SP, rel. Min. Celso de Mello, j.

24/06/03; REsp 2385/SP., rel. Min. Edson Vidigal, 5ª Turma, j. 06/08/1990, DJ 10/09/1990; REsp

nº 8677/RJ., rel. Min. Assis Toledo, 5ª Turma, j. 03/04/91, DJ 15/04/91, p. 4307; REsp nº

7954/SP., rel. Min. José Dantas, 5ª Turma, j. 24/04/1991, DJ 06/05/1991; REsp nº 34.288/4-PR,

rel. Min. Flaquer Scartezzini, 5ª Turma, j. 1º/09/1993, DJU 27/09/1993, p. 19.826; REsp nº

37.904/0-DF., rel. Min. Cid Flaquer Scartezzini, 5ª Turma, j. 31/08/1994, DJ 26/09/1994; REsp

nº 67.713/MG., rel. Min. Cesar Rocha, 1ª Turma, j. 15/12/95, DJ 25/03/96, p. 8.549; REsp nº

116056/MG, rel. Min. José Dantas, 5ª Turma, j. 05/03/1998, DJU 06/04/1998, p. 147; REsp nº

115421/MG, rel. Min. Ari Pargendler, 2ª Turma, j. 19/03/1998, DJU 06/04/1998, p. 80; REsp nº

172.040/RN, rel. Min. Vicente Leal, 6ª Turma, j. 26/08/1998, DJ 28/09/1998; STJ-Embargos de

Divergência no Recurso Especial nº 123.995/SP (98/23579-5), rel. Min. Felix Fischer, 3ª

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

ou de qualquer outro ato judicial ali promovido, a fim de que o intimado, bem ciente do ocorrido, possa determinar-se, segundo as regras prescritas em lei, ou fique sujeito às sanções nesta cominadas...” (grifos, em negrito, correspondem aos grifos, em itálico, do original)6.

Seção, j. 26/08/1998, DJ 05/10/98, p. 15; REsp nº 159230/DF, rel. Min. Vicente Leal, 6ª Turma,

j. 15/12/98, DJ 22/02/99, p. 139; REsp nº 121098/SP, rel. Min. Garcia Vieira, 1ª Turma, j.

15/12/1997, DJU 20/04/1998, p. 25; REsp. nº 174755/DF, rel. Min. Barros Monteiro, 4ª Turma, j.

23/02/1999, DJU 28/06/1998, p. 118; REsp nº 192049/DF, rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma, j.

09/12/1999, DJU 1º/03/1999, p. 367, RSTJ 115/461; REsp. nº 196966/DF, rel. Min. Ruy Rosado

de Aguiar, 4ª Turma, j. 07/12/1999, DJU 28/02/2000, p. 88, REVJMG 151/535, RMP 13/492 e

RSTJ 133/386; REsp nº 192049/DF, rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma, j. 09/02/1999, DJ

01/03/1999, p. 367, JSTJ 3/329, RDJTJDFT 59/160 e RSTJ 115/461; REsp. nº 123983/MG, rel.

Min. Francisco Peçanha Martins, 2ª Turma, j. 19/09/2000, DJU 16/10/2000, p. 297; STJ-HC nº

12485, rel. Min. Hamilton Carvalhido, 6ª Turma, j. 06/02/2001, DJU 25/06/2001, p. 240; STJ-

Embargos de Declaração no REsp nº 267.610/SP, rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, 5ª Turma, j.

15/02/2001, DJ 02/04/2001, p. 323; STJ-Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº

338477/RS, rel. Min. Edson Vidigal, 5ª Turma, j. 07/06/2001, DJ 20/08/2001, p. 535; REsp nº

300.157/MG, rel. Min. Gilson Dipp, 5ª Turma, j. 04/10/2001; REsp nº 277974/SP, rel. Min.

Gilson Dipp, 5ª Turma, j. 04/10/2001, DJU 29/10/2001, p. 247; REsp. nº 241.823/SP., rel. Min.

Gilson Dipp, 5ª Turma, j. 16/10/01, DJ 04/02/02, p. 456; EAREsp nº 244525/DF., rel. Min.

Francisco Falcão, 1ª Turma, j. 18/10/2001, DJ 12/11/2001, p. 217; REsp nº 219.659/PA, rel. Min.

Felix Fischer, 5ª T., j. 16/04/2002, DJU 06/05/2002, RT 803/548-550; REsp nº 258034/SP., rel.

Min. Gilson Dipp, 5ª Turma, j. 02/05/2002, DJ 03/06/2002, p. 237; REsp nº 271173/SC, rel. Min.

Gilson Dipp, 5ª Turma, j. 07/05/2002, DJ 03/06/2002, p. 239; REsp nº 91.544/MG., rel. Min.

Barros Monteiro, 4ª Turma, j. 04/06/02, DJ 16/09/02, p. 187; STJ-RMS nº 12.294/SP., rel. Min.

Felix Fischer, 5ª Turma, j. 13/08/02, DJ 16/09/02, p. 203, RT 812/503-506; REsp 331929/SP., rel.

Min. Felix Fischer, 5ª Turma, j. 17/09/02, DJ 14/10/02, p. 250; Embargos de Declaração no

Mandado de Segurança nº 7.246/DF., rel. p/ o Acórdão Min. Gilson Dipp, 3ª Seção, j.

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

Note-se, então, que a ciência pessoal e inequívoca do membro do Ministério Público só se concretizará quando ocorrer, alternativamente, uma das três situações seguintes:

1.1) lançar o ciente nos autos;

1.2) quando houver, nos autos, certidão do Escrivão de que

intimara, pessoal e inequivocamente, o membro do Ministério Público;

1.3) e quando houver, nos autos, certidão do Escrivão de que o

membro do Ministério Público recusara-se a lançar o ciente.

A partir daí, sim, o membro do Parquet poderá determinar-se segundo as regras prescritas em lei, ou ficar sujeito às sanções nesta cominadas.

13/11/2002, DJ 31/03/03, p. 144; STJ-Agravo Regimental no Recurso Extraordinário do ROMS

nº 11258/GO, rel. Min. Edson Vidigal, Corte Especial, j. 16/10/2002, DJ 16/12/2002, p. 224 ;

REsp 302.352/SP., rel. Min. José Arnaldo da Fonseca, 5ª Turma, j. 12/11/2002, DJ 09/12/2002, p.

369; REsp 254087/MG, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, 4ª Turma, j. 20/02/03, DJ

17/03/03, p. 233; REsp nº 337052/SP, rel. Min. Eliana Calmon, rel. p/ o Acórdão Min. Franciulli

Netto, 2ª Turma, j. 08/10/2002, DJ 09/06/2003, p. 210; REsp 509885/SP, rel. Min. Eliana

Calmon, 2ª Turma, j. 13/05/2003, DJ 09/06/2003, p. 261; REsp 478130/RS, rel. Min. José

Arnaldo da Fonseca, 5ª Turma, j. 13/05/2003, DJ 09/06/2003, p. 291; REsp 337159/SP., rel. Min.

Gilson Dipp, 5ª Turma, j. 03/04/2003, DJ 12/05/2003, p. 321; REsp nº 469766/SP., rel. Min.

Gilson Dipp, 5ª Turma, j. 06/05/03, DJU 04/08/03, p. 372; REsp 326660/SP., rel. Min. Gilson

Dipp, 5ª Turma, j. 06/05/03, DJ 04/08/03, p. 354; REsp 416299/SP., rel. Min. Gilson Dipp, 5ª

Turma, j. 15/05/03, DJ 16/06/03, p. 374; EREsp. nº 259.682/SP, rel. Min. Gilson Dipp, 3ª Seção,

j. 11/06/2003, Informativo de Jurisprudência/STJ, nº 0176, período de 9 a 13 de junho de 2003.6 De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, Forense, 4ª edição, 1975, p. 857.

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

Tal é a importância da intimação pessoal e inequívoca dos membros do Ministério Público, para interposição de recurso (art. 880, § 2º, c.c. o art. 798, § º 5º, letra “c”, ambos do CPP), que o CSTF já decidira que se houver dúvida entre a certidão de intimação pessoal e inequívoca, formalizada pelo Escrivão do feito, e a ciência pessoal lançada nos autos, vale esta última e não aquela (STF-HC nº 73422/MG, rel. Min. Min. Maurício Corrêa, j. 12/03/1996, DJU 19/12/1996, p. 50161).

No mesmo sentido mais os seguintes julgamentos:

PENAL – PROCESSUAL PENAL – HABEAS CORPUS – RECURSO – TEMPESTIVIDADE – DÚVIDA – LIVRAMENTO CONDICIONAL – CP, ART. 83, IV.I – O prazo para recurso do Ministério Público começa

a fluir da data em que o referido órgão teve inequívoca

ciência da decisão recorrida. Em caso de dúvida, deve-se decidir em favor de sua admissibilidade. Precedentes do STF: HC 70.719-BA, Néri, ´DJ´ 25/04/97; RE 132.031-SP, C. de Mello, RTJ 159/943 e HC 71.342-SP, Velloso, ´DJ´ 20/4/95.II – Não havendo prova de que o representante do Ministério Público fora intimado da decisão em data anterior, há que prevalecer a data em que ele apôs o seu ciente (STF-HC nº 82.938/SP, rel. Min. Celso de Mello, j. 24/06/03) (grifos do original).

PROCESSUAL PENAL – RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO – PRAZO – TERMO INICIAL – HAVENDO

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

DIVERGÊNCIA DE DATAS ENTRE CERTIDÃO GENÉRICA DO CARTÓRIO, REFERENTE À INTIMAÇÃO DA SENTENÇA AO PROMOTOR E A DATA DO “CIENTE” NA PRÓPRIA SENTENÇA APOSTO PELO REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO, PREVALECE ESTA ÚLTIMA. EM MATÉRIA DE RECURSO, NA DÚVIDA, DECIDE-SE EM FAVOR DA SUA ADMISSIBILIDADE, EM CONSEQÜÊNCIA DO PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO (REsp nº 8677/RJ., rel. Min. Assis Toledo, 5ª Turma, j. 03/04/91, DJ 15/04/91, p. 4307)

PROCESSUAL PENAL – APELAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO – TERMO INICIAL. 1. HAVENDO DIVERGÊNCIA ENTRE A DATA DA CERTIDÃO GENÉRICA DO CARTÓRIO, INTIMANDO O REPRESENTANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA DECISÃO, E A DATA DO “CIENTE” APOSTO PELO PROMOTOR, DEVE PREVALECER ESTA ÚLTIMA. 2. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO (REsp nº 46390/SP., rel. Min. Edson Vidigal, 5ª Turma, j. 19/03/98, DJ 13/04/98, p. 134).

Para fins de interpretação do inciso IV, art. 41, da Lei nº 8.625, de 12/02/1993, de capital importância não confundir:

1.4) o simples ato de o Escrivão apor carimbo de vista nos autos ao

Ministério Público;

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

1.5) a singela entrega dos autos pelo Escrivão no protocolo do

Ministério Público;

1.6) e a imprescindível ciência pessoal e inequívoca do membro do

“Parquet”, certificada nos autos;

Esses três atos cartorários são muito nítidos e distintos.

O Escrivão deve apor o carimbo de vista nos autos, entregá-los no protocolo da Instituição e também intimar, pessoal e inequivocamente, o membro do Ministério Público, certificando nos autos, para que nenhuma dúvida permaneça quanto ao dies a quo da fluência do prazo.

Mostra-se ilegal o fato de o Escrivão apor mero carimbo de vista nos autos e entregá-los, singelamente, no protocolo da Instituição, em mãos de funcionário burocrático, sem intimar, pessoal e inequivocamente, o membro do Ministério Público.

Por isso, o prazo não deve ser contado a partir da aposição de carimbo de vista nos autos ou da simples entrega no protocolo da Instituição, em mãos de funcionário burocrático, porque falta, ainda, a imprescindível e obrigatória intimação pessoal e inequívoca.

Caso contrário, parte do prazo ficará em mãos de funcionário burocrático, o que se constituirá em rematado absurdo, se considerados os princípios processuais que informam a intimação das partes e o amplo sentido do devido processo legal.

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

Daí o equívoco demonstrado no entendimento jurisprudencial aflorado no CSTJ que diz:

O prazo de recurso para o Ministério Público começa a fluir da intimação pessoal de seu representante, que se aperfeiçoa com a entrega dos autos com vista e não da data de aposição do seu ciente, o que lhe confere posição privilegiada de absoluto controle dos prazos processuais e acarreta afronta aos princípios do devido processo legal e da igualdade das partes (Cf., por exemplo, REsp nº 231245/SP., rel. Min. Fernando Gonçalves, 6ª Turma, j. 14/08/01, DJ 10/09/01, p. 420; e EDREsp. 303358/SP., rel. Min. Fernando Gonçalves, 6ª Turma, j. 03/12/02, DJ 19/12/02, p. 463;)

Equivocado, porque não é razoável que a intimação do membro do Ministério Público possa se aperfeiçoar com a singela entrega dos autos com vista, sem que o Escrivão efetive a intimação pessoal e inequívoca.

Repita-se que se mostram irrelevantes a aposição do carimbo de vista e a simples entrega dos autos no protocolo da Instituição, sem a imprescindível e obrigatória intimação pessoal.

O que importa – na verdade – é a certidão do Escrivão de que intimara, pessoal e inequivocamente, o representante do Parquet; caso contrário o dies a quo só poderá fluir a partir do dia em que apuser ciência nos autos.

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

A Instituição do Ministério Público e, sobretudo, a sociedade não podem ser sacrificadas, porque o Escrivão deixara de cumprir o seu sagrado ofício de intimar as partes; se o Escrivão não satisfizer, integralmente, o seu dever, a responsabilidade é sua e não da parte.

Portanto, ao analisarem a tempestividade do recurso, cabem ao

Magistrado e à parte contrária certificar-se da data em que o Escrivão

intimara, pessoal e inequivocamente, o representante do Ministério

Público ou da data em que este apusera ciência nos autos.

Está-se, também, a fazer tábula rasa do princípio da razoabilidade

dos prazos7, tendo em vista a notória problemática que envolve a

intimação dos Procuradores de Justiça do Estado de São Paulo, por força

do volume descomunal de processos que são remetidos à Procuradoria-

Geral de Justiça para ciência.

Desconsiderar, pura e simplesmente, dificílima situação de fato e julgar que os prazos devem fluir a partir da simples entrega dos autos no protocolo da Instituição, em mãos de funcionário burocrático, implica em contrariar dois princípios básicos atinentes à tempestividade e aos prazos, ou seja, o da inteireza dos prazos e o de sua interpretação em benefício do recorrente.

7 “É admissível o excesso em determinadas circunstâncias. A contagem do prazo não

deve ser rigorosa”. No sentido do texto: STJ, HC 6.223, 6ª Turma, Rel. Min. Vicente

Cernicchiaro, DJU 8.6.98, p. 178; STJ, HC 7.137, 6ª Turma, Rel. Min. Vicente Leal, DJU

29.6.98, p. 321; STJ, RHC 8.229, 6ª Turma, Rel. Min. Vicente Cernicchiaro, DJU 22.3.99,

p. 258; STJ, RHC 8.234, 6ª Turma, Rel. Min. Vicente Cernicchiaro, DJU 3.5.99, p. 162 ( in

Damásio E. de Jesus, Código de Processo Penal, Saraiva, 17ª edição, atualizada, 2000,

nota ao art. 798, p. 511)

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

Nesse aspecto, Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho e Antonio Scarance Fernandes ministram os seguintes ensinamentos, verbis:

Os prazos processuais em geral, e os recursos em particular, sujeitam-se a dois grandes princípios retores: o princípio da inteireza dos prazos e o de sua interpretação em benefício do recorrente. O princípio da inteireza dos prazos indica a necessidade, no caso concreto, do efetivo conhecimento de seu termo a quo, de modo a preservá-los em sua plenitude. Isso compreende a plena observância da adequação e da congruência dos prazos para a garantia maior do contraditório e do direito de defesa, indicando a exigência de os prazos serem contados sempre de modo a não reduzi-los e mantendo-se como pedra basilar para a contagem o inequívoco conhecimento do dia em que começaram a fluir. Na Alemanha e na Itália, as respectivas

Cortes Constitucionais tomaram firme posição em defesa desse princípio,

que resulta do art. 6º, inc. 3º, alínea b da Convenção Européia dos Direitos

do Homem, que assegura expressamente ao acusado “o direito de dispor de

tempo e das facilidades necessárias à preparação de sua defesa”. Especificamente com relação aos recursos e à sua tempestividade, o princípio da interpretação em favor do recorrente visa a preservar a garantia do duplo grau e do controle das decisões judiciárias, impondo que qualquer dúvida a respeito da tempestividade seja sempre dirimida em favor da admissibilidade, de modo a assegurar o reexame da decisão impugnada. No sentido do texto, RTJ 89/799 e 106/1.179; RT 573/366.

Também o STJ vem assentando que, na dúvida, se decide a favor da

admissibilidade do recurso, em conseqüência do princípio da pluralidade de

graus de jurisdição (REsp. 13.491, MG, DJU 21.10.1992, p. 14.572). Tem-se

afirmado, também, que se o réu, ao ser intimado da sentença, manifesta em

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tempo hábil o desejo de apelar, não será considerado intempestivo o recurso

porque só assinou o termo após o decurso do prazo (STF, RT 662/370). 8

Quanto ao início do prazo para o Ministério Público, Ada Pellegrini Grinover, Antonio Magalhães Gomes Filho e Antonio Scarance Fernandes, também, ensinam, verbis:

Para o Ministério Público, o art. 798, § 5º, deve ser combinado com o previsto no art. 800, § 2º CPP, que dispõe que “os prazos do Ministério Público contar-se-ão do termo de vista, salvo para a interposição dos recursos”. Admite-se, assim, que o início do prazo recursal, para o MP, é o da intimação (letra a do art. 798, § 5º) ou do dia em que manifeste nos autos ciência inequívoca da decisão (letra c do mesmo artigo). A praxe tem sido a remessa dos autos ao Ministério Público a fim de que tome conhecimento da decisão, sendo o termo a quo o do dia em que vier a lançar nos autos a sua ciência. No caso de divergência entre essa data e da certidão do escrivão que refere intimação em outro dia, deve prevalecer a primeira, em homenagem ao princípio da solução da dúvida sobre a tempestividade em favor da admissibilidade (ver supra, n. 60). No sentido de que o prazo

corre a partir da aposição de ciente pelo representante do MP: STF, RTJ

75/440, 81/136, 102/584; STJ, RE 7.954, SP, DJU 06.05.1991, p. 5671 e RE

2.385, SP, DJU 10.09.1990, p. 9.132; TJSP, RT 533/317. 9

De regra e considerando a praxe administrativa atual, os funcionários burocráticos do Ministério Público, ao menos no Estado de São Paulo, não conseguem no prazo de dois, cinco e quinze dias (prazos para a interposição de Embargos, Agravos e Recursos Extremos, respectivamente) preparar os autos de modo a

8 Recursos no Processo Penal, 2ª edição, revista e atualizada, 1997, p. 98/99.9 Ob. cit. nota de rodapé anterior, p. 100.

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entregá-los em mãos do Procurador de Justiça para tomar ciência pessoal e inequívoca.

Merecem consideração, no caso, as peculiaridades da nossa unidade federativa, que não encontra similar no Brasil, por força da enorme população e por, via de conseqüência, do descomunal volume de processos.

O Estado de São Paulo possui, hoje, 36.966.527 de habitantes.

Para efeito comparativo, abaixo do Estado de São Paulo vêm, na seqüência, os Estados de Minas Gerais com 17.835.488, Rio de Janeiro com 14.367.225, Bahia com 13.066.784, Rio Grande do Sul com 10.179.801 e os demais com população inferior a 10.000.000 de habitantes (dados obtidos no site www.ibge.gov.br/ibgeteen/mapas – Censo 2000 – Acesso 14/08/2003).

Dê-se relevo, em especial, aos Embargos de Declaração e aos Agravos de Instrumento na medida em que, nesses, os prazos são ínfimos.

Essa forma singular de contar o prazo só seria possível se os 350 Juízes de Segunda Instância (132 Desembargadores e 218 Juízes de Alçada) e os 202 Procuradores de Justiça fossem acomodados num único Prédio, com estrutura administrativa a funcionar nos moldes de primeiro mundo.

Mas, infelizmente, não é essa a realidade.

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A prevalecer a tese de que o prazo deve fluir a partir da data da singela entrega dos autos no setor administrativo (INTIMAÇÃO FICTA), irremediavelmente, estará comprometida a atuação do Ministério Público (arts. 127, caput, e 129 e incisos, ambos da CF), ao menos, no Estado de São Paulo.

Terá sido essa a intenção do legislador constitucional e infraconstitucional?

Acredita-se que não!

Outra extravagância seria manter, por exemplo, os 202 Procuradores de Justiça do Estado de São Paulo, em plantão diário e permanente, no Protocolo da Instituição, a fim de tomarem ciência pessoal e inequívoca das respeitáveis decisões do Poder Judiciário.

Outra medida descabida, seria, também, designar um Procurador de Justiça ou mesmo alguns deles para, em nome dos demais, tomarem ciência do volumoso número de decisões proferidas pelos quatro Tribunais Paulistas.

A extrema seriedade da intimação não se coaduna com ciência tomada por atacado e, máxime, por Procuradores de Justiça que não tiveram, antes, nenhum contato com o processo.

Causa espécie que os interesses públicos sejam tratados com tamanho desapreço!

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Com o devido respeito às doutas opiniões contrárias10, não há igualar singelo escritório de advocacia com a complexidade administrativa do Ministério Público do Estado de São Paulo.

Nivelá-los contraria o princípio da razoabilidade, decorrente do

princípio da isonomia.

Os membros do Ministério Público, de modo geral, salvo

vergonhosas e raríssimas exceções11, em vez de senhores dos prazos

processuais, como afirmam, injustamente, alguns julgados12, são, na

verdade, escravos da absurda burocracia que impera, aliás, na

administração pública brasileira, atingindo todos os Poderes (Legislativo,

Executivo e Judiciário).

Dar tratamento isonômico às partes significa tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas desigualdades. Igualdade no sentido de garantia constitucional fundamental quer significar isonomia real, substancial e não meramente formal. 13

10 STJ-HC nº 14650/MG, rel. Min. Edson Vidigal, 5ª Turma, j. 07/12/2000, DJU

05/03/2001, p. 196; REsp nº 231245/SP., rel. Min. Fernando Gonçalves, 6ª Turma, j.

14/08/01, DJ 10/09/01, p. 420; EDREsp 303358/SP., rel. Min. Fernando Gonçalves, 6ª

Turma, j. 03/12/02, DJ 19/12/02, p. 463; REsp 327433/DF, rel. Min. Fernando Gonçalves,

6ª Turma, j. 04/02/03, DJ 24/02/03, p. 315. 11 Apelação não conhecida, porque o representante do Ministério Público,

injustificadamente, apresentou razões recursais seis anos após a interposição do recurso

– RT 787/511-515.12 Vide nota 10.13 Nelson Nery Júnior e Rosa Maria Andrade Nery, Código de Processo Civil Comentado,

4ª ed., revista e ampliada, RT, atualizado até 10/03/1999, nota 1 ao art. 5º, da CF, p. 87.

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

O princípio da igualdade de todos perante a lei, porém,

não pode ser tomado em sentido literal, porque a

realidade mostra que os destinatários finais, isto é, os

cidadãos, isoladamente ou em grupo, não se encontram

na suposta ou desejada situação igualitária, e isso sob os

muitos aspectos que podem ser considerados: político,

social, econômico, cultural, profissional. Daí deriva, de

resto, o conhecido conceito de igualdade, tirado pela negativa: tratar desigualmente os desiguais, na medida

em que se desigualam. É dizer, a igualdade, ao contrário

do que se supõe, ou se deseja, aparece, na prática, mais

como exceção do que como regra, aparecendo visível e

efetiva em poucas situações, como no exercício de Direito

Político, onde, de fato, a cada pessoa, indistintamente,

corresponde um voto (“one man, one vote”), ou no acesso

aos cargos públicos, em que se exige o concurso público

(CF, art. 37, II). Mesmo nesses exemplos, é notório o

quanto certos fatores influem e desequilibram a

pretendida igualdade, especialmente as diferenças de

ordem econômica e cultural dos sujeitos concernentes. 14

O legislador processual civil, por sua vez, reconheceu, explicitamente, as dificuldades operacionais da Fazenda Pública e do Ministério Público, ao computar em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer (art. 188, do CPC).

14 Rodolfo de Camargo Mancuso, Divergência Jurisprudencial e Súmula Vinculante, RT,

1999, p. 101.

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

A respeito do princípio da isonomia e do benefício de prazo, Antonio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco ensinam, verbis:

No processo civil encontram-se prerrogativas, como as concedidas à Fazenda e ao Ministério Público, instituídas com vistas ao interesse público e em razão da natureza e organização do Estado. Por isso, Fazenda e Ministério Público gozam da dilação de prazos prevista no art. 188 do Código de Processo Civil: as partes não litigam em igualdade de condições e o benefício de prazo se justifica, na medida necessária ao estabelecimento da verdadeira isonomia. A Fazenda, em virtude da complexidade dos serviços estatais e da necessidade de formalidade burocráticas; o Ministério Público, por causa do desaparelhamento e distância das fontes de informação e de provas. Outras prerrogativas, que se justificam pela idoneidade financeira e pelo interesse público, são a procrastinação do pagamento das despesas processuais (dispensa de preparo) e a concessão da medida cautelar independentemente de justificação prévia e de caução (CPC, arts. 27, 511 e 816, inc. I). 15

No mesmo diapasão, as prerrogativas outorgadas à Defensoria Pública, por meio da Lei nº 1.060/50, especialmente a intimação pessoal de todos os atos do processo, em ambas as instâncias (§ 5º, art. 5º).

As normas legais nada mais fazem do que discriminar situações.

Entretanto, a discriminação constitucional é aquela que, justificadamente, reconhece a diferença entre uma situação e outra, a fim de

15 Teoria Geral do Processo, 16ª ed., Malheiros Editores, SP, 2000, p. 54.

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

igualá-las; e a inconstitucional é a que cria perseguições e favoritismos em relação a determinadas pessoas e Instituições16.

Há plena correspondência lógica entre o benefício da intimação pessoal e inequívoca, nos autos (fator discriminatório), e a situação real do Ministério Público, enquanto Instituição incumbida de defender os interesses públicos, de indiscutível valor constitucional (arts. 127, caput, e 129 e incisos, ambos da CF), em relação aos demais interesses.

E para exercer esses pesadíssimos misteres depende, infelizmente, de emperrada burocracia governamental.

Em razão de tudo o que já fora dito, até aqui, vale, também, nessa quadra, fazer algumas considerações a respeito do REsp nº 478.788/SP, rel. Min. Felix Fischer, 5ª Turma, j. 01/04/2003, cuja ementa é a seguinte:

Embora, como regra, seja prerrogativa do Parquet a intimação pessoal, tal não pode prevalecer quando da entrega dos autos na Procuradoria até a interposição do recurso decorre prazo que escapa de qualquer referencial justificável (v.g. art. 799 do CPP). O prazo é próprio e não impróprio.

Esclareça-se que não foi o Ministério Público do Estado de São Paulo que transformou o prazo próprio em impróprio.

Por que?

Porque os Tribunais de São Paulo, por decisão unilateral e há muitos anos, entregam os autos, singelamente, no Protocolo da

16 Celso Antonio Bandeira de Mello, Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade, 3ª ed.,

4ª Tiragem, Malheiros, março/1977, pp. 12, in fine e 26.

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

Instituição do Ministério Público, sem efetuar a imprescindível e obrigatória intimação pessoal e inequívoca dos Procuradores de Justiça, nos autos.

Enfim, quem transformou o prazo próprio em impróprio foi o Poder Judiciário e não o Ministério Público, mesmo porque o ato de intimação e a respectiva certidão são do Poder Judiciário e não do próprio M.P., no âmbito administrativo, conforme já acentuado pelo E. Plenário do CSTF, na decisão acima referenciada.

Não se pode olvidar, outrossim, a manifesta imprecisão do V. Acórdão, em comento, no ponto em que fala de referencial justificável entre o tempo em que os autos são entregues no Protocolo da Instituição até a interposição do Recurso, lembrando o art. 799, do CPP.

Esqueceu-se, no caso, que o Escrivão não pode, apenas, apor carimbo de vista dos autos e entregá-los, singelamente, no Protocolo da Instituição, sem efetuar, também, a imprescindível e obrigatória intimação pessoal e inequívoca do membro do Ministério Público, nos autos (cf. art. 880, § 2º, c.c. o art. 798, § 5º, letra “c”, ambos do CPP., assim como, os itens 1.1 a 1.6, acima)

Ademais, levando em apreço a atual praxe administrativa, impossível aferir, em cada caso concreto, qual o referencial justificável de tempo entre a entrega dos autos no Protocolo e a ciência pessoal e inequívoca do Procurador de Justiça, porque muitos fatores interpõem-se nesse período a atrasar esse fundamental procedimento.

Por exemplo, entre os inúmeros fatores imagináveis, pinça-se o mais grave deles, ou seja, a possível corrupção do funcionário burocrático, por parte da defesa, para delongar a entrega dos autos ao Procurador de Justiça, alcançando, assim, a não admissão do Apelo Raro, por intempestividade!

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Qual seria, também, o referencial justificável, em termos burocráticos, para os Procuradores de Justiça dos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Amapá, Pernambuco etc ou para os Promotores de Justiça das Comarcas do Rio de Janeiro/RJ, Porto Alegre/RS, Ribeirão Preto/SP, Criciúma/SC, Mossoró/RN etc.

A imprecisão seria total!

É necessário ficar bem definido o dies a quo da fluência do prazo.

Daí se conclui que a intimação pessoal e inequívoca do Procurador de Justiça ou de qualquer membro do Parquet, nos autos, é tarefa a ser executada, exclusivamente, pelo Escrivão do feito, competente legal, para tanto, como determina a sistemática processual civil e penal brasileira, assim como, a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público.

Impensável, portanto, que os prazos processuais dos membros do Ministério Público, que cuidam dos interesses públicos primários (arts. 127, caput, e 129 e incisos, ambos da CF), fiquem a mercê de simples funcionários burocráticos!

Todavia, contrariando o V. Acórdão, em análise, e na esteira do entendimento acolhido pelo E. Plenário do CSTF (docs. 7/12, anexos), traz-se à confronto decisões proferidas pela E. Corte Especial, E. Terceira Seção e E. Segunda Turma, todas do CSTJ, já mencionadas na nota de rodapé nº 5, mas, agora, com as respectivas ementas:

1.7 - Agravo Regimental no Recurso Extraordinário no ROMS nº 11258 (1999/0094246-9), rel. Min. Edson Vidigal, Corte Especial, j. 16/10/2002, DJ 16/12/02, p. 224, verbis:

É certo que o Ministério Público goza do privilégio processual de receber intimação pessoal ex vi do CPC, art. 236, § 2º,

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fluindo o prazo para recorrer da data do ciente aposto pelo seu representante, formalidade que se opera nos termos da Lei nº 8.625/93, art. 41, IV.

1.8 - Embargos de Divergência no Recurso Especial nº 123.995/SP (98/23579-5), rel. Min. Felix Fischer, 3ª Seção, j. 26/08/98, DJ 05/10/98, p. 15, verbis:

I – O Ministério Público federal, tal qual o estadual (v. arts. 41, inciso IV da LONMP e 18, inciso II, alínea h da LOMPU), tem a prerrogativa da intimação pessoal, em qualquer processo e grau de jurisdição, a qual se efetiva com a entrega dos autos ao agente do Parquet.II – Funcionário, do Ministério Público, não tem poderes para receber intimação.III – Embargos de divergência acolhidos.

1.9 - REsp nº 337.052/SP (2001/0095182-9), rel. Min. Franciulli Netto, 2ª Turma, j. 08/10/2002, DJ 09/06/03, p. 210, verbis:

EMENTA OFICIAL. O Código de Processo Civil (art. 236, § 2º), a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei n. 8.625, de 12.2.93 – art. 41, IV), o Estatuto do Ministério Público da União (Lei Complementar n. 75, de 20.5.93 – art. 18, II, “h”) e a Lei Orgânica do Ministério Público estadual (Lei Complementar estadual n. 734, 26.11.93 – art. 224, XI), dispõem de forma clara e inequívoca que a intimação do órgão do Ministério Público deve ser pessoal. Sem intimação pessoal não se pode cogitar do início da contagem e da fluência dos prazos processuais, raciocínio que se aplica a todos os feitos, indistintamente. Se assim é, não se pode deixar de fora ou conceber uma interpretação baseada em inferências, em se tratando, no caso concreto, com se trata, de feito que versa

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sobre improbidade administrativa. Iterativos precedentes deste Sodalício e do Excelso Pretório. Recurso Especial conhecido e provido, para afastar a intempestividade e determinar o retorno dos autos à Corte de origem para prosseguir no julgamento dos embargos infringentes.

2 - DA IMPORTÂNCIA DA SÚMULA E DA JURISPRUDÊNCIA DOMINANTE ESPECIALMENTE EXPRESSADA PELOS PLENÁRIOS DOS TRIBUNAIS SUPERIORES.

No que diz respeito à súmula e à jurisprudência dominante dos

Tribunais Superiores especialmente expressada pelos Plenários

respectivos, coteje-se a doutrina, verbis:

Desconhecer o labor jurisprudencial de decisões

superiores, e já incorporadas ao universo jurídico, é

descartar, sic et simpliciter, regras elementares de

hermenêutica, que mandam acatar a jurisprudência

evidente, desde que não esparsa ou conflitante”. A seu

turno, J.J. Calmon de Passos, referindo-se à decisão

plenária de um Tribunal Superior, considera que a “força

vinculante dessa decisão é essencial e indescartável, sob

pena de retirar-se dos Tribunais Superiores precisamente

a função que os justifica. Pouco importa o nome de que

ela se revista – súmula, súmula vinculante, jurisprudência

dominante, uniformização de jurisprudência ou o que for,

obriga. Um pouco à semelhança da função legislativa põe-

se, com ela, uma norma de caráter geral, abstrata, só que

de natureza interpretativa. 17

17 Rodolfo de Camargo Mancuso, ob. cit. nota 14, p. 121.

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Confirma-se, assim, a tendência de se atribuir cada vez mais relevância à jurisprudência (dominante, pacífica, sumulada ou, como agora se afirma no § 3º, art. 475, do CPC, “do plenário” de algum Tribunal) como fundamento das decisões judiciais.18

E confira-se, também, a enfática jurisprudência do CSTJ, verbis:

Essa preocupação, no sentido de que haja uniformidade acerca da interpretação do direito federal entre as turmas e ministros que compõem as Cortes superiores, foi recentemente manifestada, de modo enérgico, em julgado relatado pelo e. Ministro Humberto Gomes de Barros, assim ementado: “O Superior Tribunal de Justiça foi concebido para um escopo especial: orientar a aplicação da lei federal e unificar-lhe a interpretação, em todo o Brasil. Se assim ocorre, é necessário que sua jurisprudência seja observada, para se manter firme e coerente. Assim sempre ocorreu em relação ao Supremo Tribunal Federal, de quem o Superior Tribunal de Justiça é sucessor nesse mister. Em verdade, o Poder Judiciário mantém sagrado compromisso com a justiça e a segurança. Se deixarmos que nossa jurisprudência varie ao sabor das convicções pessoais, estaremos prestando um desserviço a nossas instituições. Se nós – os integrantes da Corte – não observarmos as decisões que ajudamos a formar, estaremos dando sinal, para que os demais órgãos judiciários façam o mesmo. Estou certo de que, em acontecendo isso, perde sentido a existência de nossa Corte. Melhor será extingui-la. (STJ, Corte Especial, AEREsp 228432/RS, j. 01/02/2002, DJU 18/03/2002, p. 163. Do julgamento, unânime, participaram os Ministros Vicente Leal, José Delgado, Fernando Gonçalves,

18 José Miguel Garcia Medina, O prequestionamento nos Recursos Extraordinário e

Especial, RT, 3ª ed., revista, atualizada e ampliada, 2002, p. 34.

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Felix Fischer, Antônio de Pádua Ribeiro, Nilson Naves, Edson Vidigal, Garcia Vieira, Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro)19 (grifos, em negrito, correspondem aos grifos, em itálico, do original).

3 - DA NOCIVIDADE DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL SIMULTÂNEA.

Na seqüência, meritório ressaltar que as providências do legislador para afastar a divergência jurisprudencial possuem manifesto interesse público.

Sobre o tema, Rodolfo de Camargo Mancuso profere os seguintes ensinamentos, verbis:

Quando nossos Tribunais deferem recurso fundado em divergência jurisprudencial (v.g. na hipótese da CF, art. 105, III, c) dois interesses são atendidos: o imediato, do recorrente e um mediato, representado pelo interesse público a uma resposta judiciária de melhor qualidade, na qual a isonomia judiciária venha completar a isonomia legal. É sempre útil ter presente que a purgação da divergência jurisprudencial não implica, minimamente, em qualquer conotação de crítica ou atitude censória em face do órgão a quo, mas tão-somente significa o necessário reequilíbrio de uma delicada equação cujos termos são, de um lado, o respeito à livre persuasão racional do magistrado e, de outro, a preservação da instrumentalidade do processo, tudo pressupondo a busca do valor justiça. E este valor fica descurado quando casos análogos vêm, contemporaneamente, decididos em modo diverso, sem que uma relevante alteração nas fontes substanciais do Direito Positivo justifique a discrepância das respostas judiciárias. O processo

19 José Miguel Garcia Medina, ob. cit. nota 19, p. 396/397.

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instrumentando a aplicação do Direito no caso concreto, e o Judiciário, a seu turno, viabilizando aquela função, devem ambos se irmanar na consecução de uma justiça de boa qualidade, a saber: justa, jurídica, econômica e tempestiva (grifos, em negrito, correspondem aos grifos, em itálico, do original).20

No ponto, de fundamental importância lembrar a sábia e sempre

atual observação de Alfredo Buzaid manifestada, no item 3, do prefácio da

clássica obra de autoria de Sydney Sanches, intitulada “Uniformização de

Jurisprudência”, verbis:

Na interpretação e aplicação do direito aos casos concretos o juiz está sujeito à influência de poderosos elementos econômicos, políticos e sociais e a exegese que adota pode revelar tendências que se afastam do imperativo da lei, algumas vezes para mitigar-lhe o rigor, outras vezes pelo advento de circunstâncias que exprimem melhor entendimento. Sem entrar no palpitante problema da evolução da jurisprudência através de uma construção sociológica, que permite uma variação sucessiva na interpretação do mesmo preceito legal, o que preocupa o legislador é a divergência simultânea dada pela hermenêutica dos tribunais; em outras palavras, não repugna ao jurista que os tribunais, num louvável esforço de adaptação, sujeitem a mesma regra jurídica a entendimento diverso, desde que se alterem as condições econômicas, políticas e sociais; mas lhe repugna que sobre a mesma regra jurídica dêem os tribunais interpretação diversa e até contraditória, quando as condições em que ela foi editada continuam as mesmas. O dissídio resultante de tal exegese descoroçoa os litigantes. Por isso o Código de Processo Civil erigiu a uniformização da

20 Rodolfo de Camargo Mancuso, ob. cit. nota 14, p. 207/208.

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jurisprudência como um dever do poder Judiciário (grifos do original).

Diante de situações como a retratada nos autos, seria

recomendável a aplicação da técnica denominada distinguishing21, vigente

no regime da common law, como fez acertadamente o Tribunal de Justiça

do Estado do Ceará, no julgamento da Apelação nº 98.020/0, 1ª Câmara,

j. 29/08/2000, rel. Des. Fernando Luiz Ximenes Rocha, publicado na RT

787/511-515, quando, então, não a conhecera, porque o membro do

Ministério Público, injustificadamente, apresentara razões recursais seis

anos após a respectiva interposição, fato, aliás, já apontado acima (v.

nota de rodapé nº 11).

4 – DO CABIMENTO DO PEDIDO DE INSTAURAÇÃO DO PROCESSO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.

4.1 - Há, no âmbito do CSTJ, divergência jurisprudencial em torno

da interpretação do art. 41, inciso IV, da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro

de 1993 (LONMP), e de toda a sistemática processual civil e penal

brasileira, quanto ao início do prazo para a interposição de recurso, (1º)

se da data da intimação pessoal e inequívoca de seus membros, nos autos ou (2º) se da data do simples ingresso dos autos em serviço administrativo da Instituição, conforme será demonstrado nos itens 4 e

5, abaixo (grifou-se).

21 Prática utilizada pelos Tribunais para fundamentar a não-aplicação do precedente a

determinado caso (in Rodolfo de Camargo Mancuso, ob. cit. nota 14, p. 172).

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4.2 - A quaestio iuris, ademais, é de relevante interesse

nacional.22

Com efeito, a Instituição do Ministério Público, além de ter a seu

encargo pesadas funções institucionais (arts. 127, caput, e 129 e incisos,

ambos da CF) e muitas outras, decorrentes de legislação

infraconstitucional, depende, infelizmente, para exercê-las, de entravada

estrutura administrativa, fruto das lastimáveis condições culturais, sociais,

econômicas e políticas do povo brasileiro.

Lembre-se, ainda, que o Recurso Especial possui natureza

essencialmente objetiva.

Portanto, estará em julgamento a interpretação do inciso IV, do art.

41, da Lei nº 8.625/93 (LONMP), e toda a sistemática processual civil e

penal - que prescrevem a intimação pessoal e inequívoca dos 22 “O critério da relevância, embora banido dos regimentos internos, é critério que não pode ser

relegado ao absoluto abandono. O Tribunal Nacional existe para julgar as questões relevantes,

não as irrelevantes. Se é uma questão que se apresenta como muito relevante, no sentido de que a

sua decisão interessa não apenas ao caso concreto, às partes, mas à sociedade, à comunidade em

geral, se é caso que vai se repetir milhares ou dezenas de milhares de vezes, então é conveniente,

até, que o Superior Tribunal de Justiça apresente, de logo, o seu posicionamento, que julgue tal

lide e dê um sólido ponto de referência para os tribunais locais. Se houver uma manifesta e

evidente relevância, entendo, pois, que o recurso deve ser admitido pela letra “a” (Min. Athos

Carneiro, em “Encontro de Presidentes de Tribunais”, realizado no STJ em setembro de 1990, p.

79/80, “apud” DJU 5.8.91, p. 10.020). “O Superior Tribunal de Justiça, pela relevância da sua

missão constitucional, não pode deter-se em sutilezas de ordem formal que impeçam a apreciação

das grandes teses jurídicas que estão a reclamar pronunciamento e orientação pretoriana” (RSTJ

26/378), maioria). O caso era de ação negatória de paternidade” (in Theotonio Negrão, Código de

Processo Civil, Editora Saraiva, 34ª edição, atualizada até 14/07/2002, nota 4 ao art. 255, do

RISTJ, p. 1834).

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membros do Ministério Público em todo o País – tendo em vista a

Carta Política (quaestio iuris), e não o local e específico tema que envolve

a intimação dos Procuradores de Justiça do Estado de São Paulo

(quaestio facti) (grifou-se).

O que vem ocorrendo, por exemplo, com a E. Presidência do C.

TACRIM/SP (quaestio facti) comprova, em termos práticos, as

desastrosas conseqüências da divergência jurisprudencial simultânea.

É certo que acontecimentos semelhantes poderão ocorrer a

qualquer momento, em qualquer foro do território nacional e sob os mais

variados motivos, a comprometer, assim, a função jurisdicional do Estado

(arts. 127, caput, e 129 e incisos, ambos da CF) e o próprio Estado

Democrático de Direito (art. 1º, da CF).

5 – DA IMPERIOSA NECESSIDADE DE INSTAURAÇÃO DO PROCESSO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.

A divergência jurisprudencial, em debate, é muito grave, porque

atinge de morte o princípio da legalidade (art. 5º, inciso II, da CF), a

atuação constitucional do Ministério Público (arts. 127, caput, e 129 e

incisos, ambos da CF) e os legítimos interesses da Justiça Pública.

Não é razoável que os membros do Ministério Público fiquem a

mercê dos humores, dos preconceitos, das ideologias e dos ‘segundos

códigos’ do Magistrado.23

23 Comentário de Alberto Silva Franco quanto à impossibilidade de fixar a pena aquém do

mínimo legal, em face das circunstâncias atenuantes (in Código Penal e sua

Interpretação Jurisprudencial, RT, vol. 1, Tomo I, Parte Geral, 6ª edição, revista e

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O exemplo típico – repita-se - está na conduta da E. Presidência do

C. TACRIM/SP, aqui revelada, a qual, de súbito, sem nenhum fundamento

novo, contrariando a doutrina, R. decisão Plenária e jurisprudência

dominante do CSTF e CSTJ, assim como, rompendo prática

administrativa de mais de vinte e cinco anos, simplesmente, passou a

contar o prazo fictamente, ou seja, a partir da data da simples entrega dos

autos no setor administrativo da Instituição.

Isso pôs - e continua pondo - a perder inúmeros processos,

trazendo, em conseqüência, solene prejuízo aos legítimos interesses da

Justiça Pública.

Urge ao CSTJ, por sua vez, agora, na qualidade de Tribunal de Superposição, e através de sua Egrégia Corte Especial, elucidar, de vez, se o prazo para os membros do Ministério Público deve fluir a partir:

5.1 - da data do carimbo de vista aposta nos autos pelo Escrivão;

5.2 - ou da data do simples ingresso dos autos em serviço administrativo da Instituição;

5.3 - ou da data da ciência pessoal e inequívoca, certificada nos autos.

Ou melhor: se o inciso IV, art. 41, da Lei nº 8.625, de 12 de

fevereiro de 1993 (LONMP)24, e se toda a sistemática processual civil25 e

penal26 brasileira - que prescrevem a intimação pessoal e inequívoca dos membros do Ministério Público em todo o País - possuem

ampliada, p. 1072)24 Vide integral transcrição do texto legal na nota 1.25 Vide integral transcrição do texto legal na nota 2.26 Vide integrais transcrições dos textos legais na nota 3.

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

fundamento de ordem axiológica, eficácia social e validade formal, em

face da Carta Magna (grifou-se).

Se a decisão derradeira for no sentido da intimação pessoal e

inequívoca, nos autos - o que se espera, por medida de Justiça - e

respeitando as naturais características de cada Estado, por conta do

princípio federativo (art. 1º, da CF), é claro que caberá, a partir de então,

aos Presidentes dos Tribunais locais, juntamente com os Procuradores-

Gerais de Justiça, definirem, em termos burocráticos, a melhor forma de

efetivarem-na, pois não seria bem essa a nobre função dos Colendos

Tribunais Superiores.

Igualmente deverá ocorrer em todas os municípios, respectivos,

sedes de Comarca (Justiça Estadual de primeira instância).

Nessas mesmas considerações, incluem-se, intuitivamente, o

Colendo Supremo Tribunal Federal, o Colendo Superior Tribunal de

Justiça, os Colendos Tribunais Regionais Federais, a Justiça Federal de

primeira instância, a Justiça do Trabalho, a Justiça Eleitoral, a Justiça

Militar, em relação aos representantes do Ministério Público que atuam

perante todas essas jurisdições.

6 – DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL NO ÂMBITO DO CSTJ.

Em relação ao inciso IV, art. 41, da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público)27, há

27 Vide transcrição desse dispositivo legal na nota 1.

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

divergência jurisprudencial entre as Colendas 4ª e 5ª Turmas, de um lado, e a Colenda 6ª Turma, de outro.

7 – DAS TRANSCRIÇÕES.

7.1 – 5ª TURMA, REsp. nº 192049/DF, rel. Min. Felix Fischer, j. 09/12/1999, DJU 1º/03/1999, p. 367, publicado na RSTJ 115/461 (repositório oficial de jurisprudência):

VOTO - O SR. MINISTRO FELIX FISCHER (Relator):

Quanto à preliminar de intempestividade levantada pela

nobre defesa, é bem de ver que ela improcede “in totum”. Embora o parquet, ao contrário do asseverado

pelo recorrente, não possua na esfera criminal o prazo em

dobro – o que é prerrogativa, por regra excepcional (cfe.

REsp nº 92.690 – DF, DJU de 14.4.97 e RMS nº 8.021 –

MG, DJU de 19.05.97), no cível – o inconformismo

especial foi interposto no prazo (v. art. 26 da Lei nº

8.038/90). Isto porque o agente do Ministério Público foi

cientificado do v. acórdão vergastado no dia 24.04.98 (sexta-feira), fls. 1.013, e o recurso acabou sendo

interposto no dia 11.05.98 (segunda-feira), fls. 1.014. E, a

intimação se caracteriza como sendo a ciência dada à parte, no processo, da prática de um ato. Portanto, ela

deve ser realizada nos termos da lei. No caso do

Ministério Público (v.g. art. 41, inciso IV da Lei nº

8.625/93, art. 18, inciso II, alínea h da L.C. nº 75/93 e art.

370, § 4º, do CPP com a redação dada pela Lei nº

9.271/96), bem assim, também, no do defensor público

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

(art. 5º, § 5º, da Lei nº 1.060/50), a intimação é pessoal. Sob pena de se tornar letra morta a prerrogativa, a

assertiva genérica da intimação, sem indicação de quem

foi intimado e sem o ciente, por óbvio, não pode ter valor.

Suponhamos, “ad argumentandum tantum”, que o

agente ministerial se recusasse a apor o ciente, o servidor

do Poder Judiciário, incumbido de cientificá-lo, deveria

atestar a esdrúxula situação. Assim, também, no caso de

ciência inequívoca da decisão. Todavia, a certidão

genérica, repetindo, carece de sentido, até porque a

intimação tem que ser feita na pessoa do agente do

parquet com atribuições para recebê-la e não na de funcionário do MP. Nesta linha, tem-se diversos

precedentes, a saber: a) Embargos de Divergência no REsp nº 123.995-SP, Terceira Seção, de minha relatoria,

julgado em 26.08.98, publicado no DJU de 05.10.98; b)

REsp nº 172.040-RN, 6ª Turma, Relator Ministro Vicente Leal, julgado em 26.08.98, publicado em 28.09.98; c)

REsp nº46.390/SP, 5ª Turma, Relator Ministro Edson Vidigal, DJU de 13.04.98, p. 134; d) REsp 34.288-PR, 5ª

Turma, Relator Ministro Cid Flaquer Scartezzini, DJU de

27.09.93, p. 19.826; e) HC nº 73.422-MG, Segunda Turma-STF, Relator Ministro Maurício Corrêa, DJU de

19.12.96, p. 50.161. “In casu”, a diferença entre o

recebimento dos autos por funcionário e o ciente, pelo

agente do “parquet”, foi de apenas um dia. Além de

inexistir indício de abuso, a intimação pessoal deveria ter

sido levada a efeito por servidor do Poder Judiciário e não

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

do “parquet” (grifos, em negrito, correspondem aos

grifos, em itálico, no original).

7.2 - 4ª TURMA, REsp. nº 196966/DF, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. 07/12/1999, DJU 28/02/2000, p. 88, publicado na RSTJ 133/386 (repositório oficial de jurisprudência):

VOTO - O SR. MINISTRO RUY ROSADO DE AGUIAR

(Relator): A exigência de intimação pessoal do

representante do Ministério Público somente se satisfaz

com o seu ciente aposto nos autos, correndo a partir

desta data o prazo para interposição do recurso. É nesse

sentido a jurisprudência do egrégio Supremo Tribunal

Federal, já referida nos autos, com transcrição de

comentários de Theotonio Negrão, e também os

precedentes deste Tribunal: ‘Art. 236. 25ª. Em recentes

julgados do egrégio Plenário do STF, ficou entendido que

a intimação do Ministério Público deve ser pessoal, isto é,

há de ser feita à pessoa de seu representante, e o prazo

para o respectivo recurso é de se contar da data em que

lança o ciente do julgado – e não daquela em que os

autos são remetidos pelo cartório ou secretaria do

Tribunal a uma repartição administrativa do Ministério

Público, encarregada apenas de receber os autos, e não

autorizada legalmente a receber intimações em nome

deste (STF-RDA 176/148). Prazo de recurso

extraordinário só computável a partir da ciência pessoal

do acórdão recorrido, pelo membro do MP estadual, e não

desde o simples ingresso dos autos em serviço

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

administrativo da Procuradoria Geral da Justiça (Lei

Complementar nº 40/1981, art. 20-V) (STF: Pleno: RTJ

132/1.300). Nos termos do art. 20 da Lei Complementar nº

40/1981, assegura-se ao MP a intimação pessoal, em

qualquer grau de jurisdição. Assim, o prazo para recorrer

tem como termo inicial aquela intimação, não incidindo o

disposto no art. 506, III, do CPC (STJ – RT 700/196). O

início do prazo recursal para o órgão do MP começa a fluir

a partir da intimação pessoal de seu representante com a

aposição de seu ciente (STJ, Quinta Turma, REsp nº

34.288-4-PR, Rel. Min. Flaquer Scartezzini, j. em

01.09.1993, deram provimento, v.u., DJU de 27.09.1993,

p. 19.826, 2ª col., em.). (“in” Código de Processo Civil e

Legislação em Vigor, nota 25ª endereçada ao § 2º do art.

236, p. 00230, 29ª edição, Editora Saraiva, 1998)’. Sobre

a necessidade de intimação pessoal, ver também: REsps

nºs 105.805-MG, 119.272-MG, 90.228-SP e 15.361-PE.

Sobre a necessidade de intimação pessoal, ver também:

REsp nº 105.805-MG, REsp nº 119.272-MG, REsp nº

90.228-SP, REsp nº 15.361-PE. Assim, tempestivo o

recurso, interposto dentro do prazo de trinta dias contado

da data do ciente do Dr. Procurador.

7.3 - 6ª TURMA, REsp. nº 189673/DF, rel. Min. Fernando Gonçalves, j. 14/03/2000, p. 133, publicado no JSTJ 16/410 (repositório autorizado de jurisprudência):

VOTO - O EXMO. SR. MINISTRO FERNANDO GONÇALVES (RELATOR): O Ministério Público tem a

prerrogativa de ser intimado pessoalmente nos processos

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

em que intervém. Contudo, essa intimação é feita

mediante a entrega dos autos com vista à Procuradoria de

Justiça. A propósito, confira-se a literalidade da Lei

Complementar nº 75/93 (Lei Orgânica do Ministério

Público da União): ‘Art. 41. Constituem prerrogativas dos membros do Ministério Público, no exercício de sua função, além de outras previstas na Lei Orgânica: ...“omissis”... IV – receber intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição, através da entrega dos autos com vista; ‘A lei é clara. O prazo

recursal começa a fluir a partir da entrega dos autos com

vista, pois é nesse momento que se considera intimado o

membro do Ministério Público. A não ser assim, a fluência

do prazo para o MP, que já é contado em dobro,

dependeria única e exclusivamente da vontade de seu

representante em apor o ciente no processo. Esse

entendimento desvirtua a vontade da lei. O legislador não

quis deixar ao talante dos órgãos do Ministério Público a

decisão sobre o início do prazo. Se o quisesse, bastaria

referir-se ao ciente e não à entrega dos autos com vista,

como fez. Nesse sentido, já me pronunciei, “in verbis”: ‘PROCESSO PENAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. PRAZO RECURSAL. CONTAGEM. MINISTÉRIO PÚBLICO. INTIMAÇÃO PESSOAL. 1. Tendo o Ministério Público sido intimado pessoalmente do acórdão em questão, consoante certidão, não há falar em contagem do prazo recursal a partir da ciência pessoal da decisão, que, segundo a recorrente, teria sucedido, tão-somente, com a distribuição interna dos

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

autos em 13/08/97. Os entraves burocráticos ocorridos na Procuradoria-Geral da República, não têm o condão de suspender a fluência do prazo. 2. Embargos rejeitados.’ (EEREsp. nº 123.995-SP, Rel. Min. FERNANDO GONÇALVES, DJU. 06.04.98). Em

inúmeros casos a Corte tem mantido esse entendimento.

Confira-se: ‘PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TEMPESTIVIDADE. RECURSO ESPECIAL. REEXAME DE PROVAS. USUÁRIO DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. DESCLASSIFICAÇÃO DO CRIME DE TRÁFICO. SÚMULA Nº 07. AGRAVO REGIMENTAL. – Por prerrogativa legal, o Ministério Público deve receber intimação pessoal em qualquer processo de qualquer grau de jurisdição. E esta intimação se efetua por meio de entrega dos autos com vista. É o que preceitua o art. 41, IV, da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei nº 8.625/93). – Constatado que o agravo de instrumento foi ajuizado tempestivamente, impõe-se o acolhimento do agravo regimental. – Na hipótese, ainda que tenha sido verificado a tempestividade do agravo de instrumento, correta a decisão hostilizada ao promover o trancamento do recurso especial cuja pretensão implica no reexame das provas produzidas para desclassificar o crime de tráfico de substância entorpecente para o de uso tipificado no artigo 16, da Lei nº 6.368/76, vedado a teor da súmula nº 07, do STJ. – AGRAVOS REGIMENTAIS PROVIDOS. Agravo de instrumento desprovido.’ (AGA nº 172.901 – DF, Rel.

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“A divergência jurisprudencial, no âmbito do CSTJ, em torno do dies a quo do prazo para interposição de recurso, por parte dos representantes do Ministério Público, se da data da intimação pessoal e inequívoca ou se data do simples ingresso dos autos no serviço administrativo da Instituição, assim como, a conduta da E. Presidência do C. TACRIM/SP, em relação ao tema”

Min. VICENTE LEAL, DJU, 03.11.98). ‘PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TEMPESTIVIDADE. RECURSO ESPECIAL. REEXAME DE PROVAS. DELITO. DESCLASSIFICAÇÃO. SÚM. 7/STJ. – Por prerrogativa legal, o Ministério Público deve receber intimação pessoal em qualquer processo de qualquer grau de jurisdição, e esta intimação se efetua por meio de entrega dos autos com vista. É o que preceitua o art. 41, IV, da Lei Orgânica Nacional do Ministério Público(Lei 8.625/1993). – Constatado que o agravo de instrumento foi ajuizado tempestivamente, impõe-se o acolhimento do agravo regimental. – Na hipótese, ainda que tenha sido verificado a tempestividade do agravo de instrumento, correta a decisão hostilizada ao promover o trancamento do recurso especial, cuja pretensão implica no reexame das provas produzidas quanto à desclassificação do delito imputado. – Agravo regimental provido. Agravo de instrumento desprovido.’ (AGA nº 133.202 – PR, Rel. Min. VICENTE

LEAL, DJU, 17.11.97) ‘AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MIISTÉRIO PÚBLICO. PRAZO. INTIMAÇÃO. Proferida a sentença, o Ministério Público requereu carga do processo para o dia 29.08.94 até o dia 1º de setembro, tendo ciência inequívoca no dia 29/08, quando recebeu os autos. É prerrogativa do Ministério Público receber intimação pessoal, através da entrega dos autos com vista. Recurso improvido.’ (REsp nº

121.098-SP, Rel. Min. GARCIA VIEIRA, DJU, 20.04.98)

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(grifos, em negrito, correspondem aos grifos, em itálico,

do original e os grifos sublinhados correspondem aos

grifos, em negrito, do original).

8 – DO CONFRONTO ANALÍTICO.

Como se verifica pelas transcrições, ora feitas, evidente a identificação entre os casos trazidos à colação, ou seja, a aplicação do inciso IV, art. 41, da Lei nº 8.625, de 12 de fevereiro de 1993 (LONMP).

A questão que lhes envolve é a seguinte:

O prazo para os membros do Ministério Público começa a fluir a partir:

8.1) da data do carimbo de vista aposta nos autos pelo Escrivão?

8.2) ou da data do simples ingresso dos autos em serviço administrativo da Instituição?

8.3) ou da data da ciência pessoal e inequívoca, certificada nos autos?

Entretanto, as soluções apresentam-se divergentes.

As Colendas 4ª e 5ª Turmas entenderam que a fluência do prazo para interposição de recurso conta-se a partir da data da intimação pessoal e inequívoca do membro do Ministério Público.

A Colenda 6ª Turma, por sua vez, julgou que o prazo deve fluir a partir da data em que os autos são entregues no setor administrativo da Instituição.

9 – DA COMPETÊNCIA DA COLENDA CORTE ESPECIAL PARA CONHECER E JULGAR DO PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA.

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Com efeito, compete à Colenda Corte Especial conhecer e julgar da

quaestio iuris, porque ela é comum a mais de uma Seção (inciso VI, art.

11, do RISTJ).

Os membros do Ministério Público atuam tanto na área cível como

na criminal.

10 – DA INCLUSÃO DO JULGAMENTO NA SÚMULA DA JURISPRUDÊNCIA DO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

Será objeto de súmula o julgamento tomado pelo voto da maioria

absoluta dos membros que integram a Colenda Corte Especial, em

incidente de Uniformização de Jurisprudência. Também poderão ser

inscritos na súmula os enunciados correspondentes às decisões firmadas

por unanimidade dos respectivos membros, em um caso, ou por maioria

absoluta em pelo menos dois julgamentos concordantes (§ 1º, art. 122, do

RISTJ).

A inclusão da matéria objeto de julgamento na Súmula da

Jurisprudência do Tribunal será deliberada pela C. Corte Especial, por

maioria absoluta dos seus membros (§ 2º, do art. 122, do RISTJ).

11 – CONCLUSÕES.

11.1 – A respeitabilidade das decisões plenárias dos Tribunais Superiores, sob pena de comprometer o princípio da isonomia, porque os cidadãos devem ser tratados igualmente não só diante da norma legislada como também da norma judicada.

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11.2 - A divergência jurisprudencial simultânea, sobretudo nos moldes retratados, é extremamente nociva para os interesses públicos.

11.3 - Se o Tribunal a quo julgar intempestivo o Recurso Especial deve indeferi-lo e determinar a intimação da parte sucumbente para, se quiser, interpor Agravo de Instrumento.

11.4 - O prazo para o Ministério Público começa a fluir a partir da ciência pessoal e inequívoca do seu membro e não desde o simples ingresso dos autos em serviço administrativo da Instituição.

São Paulo, 18 de agosto de 2003.

CLÁUDIO EUGÊNIO REIS BRESSANE PROCURADOR DE JUSTIÇA

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