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A Divorciada, de Francisca Clotilde

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"Em 1902, Francisca Clotilde publicou o romance A Divorciada. Livro que chocou a sociedade por se tratar de um tema tão antifamiliar. Pioneira no tema “divórcio” na Literatura Brasileira."Fonte: http://www.recantodasletras.com.br/biografias/1789435

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(ROMANCE)

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~ . c J l a r i a ® u g , c n i a t t o s , ~anto~

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C A R T Ã O D E V I S I T A

Não pense o leitor benevolo que vair diante dos olhos um romance de sce-s apparatosas, cheio de peri pecias erno- .

nantes e de lances extraordinarios.E' uma historia singela de duas crea-

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II

Não está filiado á escola alguma dosgrandes Mestres; os seus personagens exis-tem, e a côrverdadeira que apresentam é omerito unico da obra extI'emamente sin-gela.

Relevem os innumeros defeitos, a sim-plicidade rustica da forma, a pobreza decolorido, devida talvez ao meio excessiva-mente burguez em que se deslisou a vida

da-Divorciada.

A autora.

I

SOL avisinhava-se do occaso.A impressão suggestiva do crepus-

.de uma bella tarde de Maio vibrava do-nte' nos espíritos mais crentes, fazendo-ensar por instantes nas cousas do céo.Alegremente o sino da capellinha brancasituada em uma pequena elevação domi-o povoado, chamava os devotos aos

cicios do mez mariano.entia-se um cheiro agradavel de mange-S e boninas levados em bouquets pelas

rigas mais bellas do logar, e meninas emo. cantarolavam baixinho os versos quem de responder por occasião da no-

a .

dos os semblantes apresentavam signaestisfação e ao chegarem ao adro da egrejauma verdadeira festa. Quando se appro-

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ximára O moço encarregado de exercer asfuncções de celebrante e que era um dos maisguapos mancebos do povoado, de rosto sym-

pathico, olhar expressivo, sorriso insinuante,a alegria augrnentava, e mais de um rostode devota se denunciava coberto de um ruobõ r mysterioso ao corresponderern a saud a-ção feita com aquelle bom modo que mos-tra o homem superior, mesmo sob a appa-rencia rustica do filho do campo.Era muito estimado o Chiquinho, já pelas

excellentes qualidades que o collocavam em

esphera superior a elos outros seus conterra-neos, já pela influencia política de seu pai,homem de rija tempera e que, embóra de ge-nio violento e sujeito a explosões bem intern-pestivas, era de uma rectidão de caracter a-toda a prova. Alem disso o Chiquinho tinhaalguns conhecimentos bebidos na leitura con-stante de livros que lhe emprestava o vigario,que o nomeára procurador da capella e que.nelle depositava a maior confiança.

D'ahi o chamarem-no para todas as festas.Si havia um terço de promessa levavam-

no quasi processionalmente para tiral-o, sium pobre agonisava n'um grabáto miserável Iem mansarda escura, lá ia o rapaz, e era con-

A DIVORCIADA 1 1

Iador vêl-o, tão cheio de vida, os bellos tra-traduzindo a dôr de vôr soffrer um se-Ihante, a recitar as orações ria hora su-

a. Os pobres adoravam-no, e raro era o1 desprotegido da fortuna que não o es.

hía para padrinho dos filhos.Para as moças era um - Santo Antoninhoe te porei,-e noite de S. João choviam asminhas de voz melliflua e olhares ternosconvidal-o para passar ::I. fogueira.Elle, que não era perfeito, porque nesteJIe de lagrimas todos temos as nossas fra-ezas, tinha o fraco de borboletear e conju-a sempre o verbo amar por méra brinca-a.Contavam que urna moça filha de um ama-

nista tivéra por elle uma f~rte paixão e as-ltára-Ihe o coração por todos os modos, semlher o mínimo resultado e contentando-seser, depois de muitos suspiros, e quiçá de

itas 'lagrimas, uma simples priminha deueira como as outras .A irmã do Viga rio manifestára-se tambemmo assaltante de seu coração e era bemnita ella, com uma cõr teutadôra de jambouns cabellos negros a emmoldurarem-Iherosto gentil.

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Bateu igualmente em retirada, e depoisdella muitas outras fizeram as mesmas tenta-tivas e sempre com um resultado negativo.

Não perdiam entretanto as esperanças, equando o Chiquinho com o livro do mez ma-riano debaixo do braço entrou ri'aquella bo-nita tarde de. maio na capella para resar osexercicios do 10° dia, mais de um suspiro selevantou e muitos olhares fizeram delle o alvode suas settas.

Elle cumprimentou as que estavam á por-ta principal com um sorriso que mostrava-

lhe serem agradáveis aquelles signaes de es-tima e entrando respeitosamente na aceiadaigrejinha foi ajoelhar junto da cornmoda, ondese guardavam os paramentos sacerdotaes. Umsilencio respeitoso e ungido de fé estabele-ceu-se de prornpto. Cessaram os cochichos,as cantoras subiram ao côro, e minutos maistarde ás ultimas vibrações do sino, resoavamvozes de uma frescura deliciosa, sem atavios

de arte, simples e harmoniosas como gargan-teios de ave pelas rarnarias frondentes, e oChiquinho, já defronte do altar mór resavacom voz cheia, de um timbre varonil (, "Vinde,Espirito Santo".

Quando terminada a ladainha foi ler o

I

A Dn'or.CIADA 13

para antes da meditação levantou-se umurro entre o povo feminino e foi precisoum psiu meio severo quebrasse aquelle

ar intempcstivo. O que se passára de ex-dinario? .begára no trr-m das 6 e 3/4 a familia doDeI Pedrosa que viéra pedir ao clima do

tP0 o restabelecimento completo de- umanas dilectas filhas, a Nazareth, a quem o

prescrevera mudança' de clima pelaia que ainda apresentava, convalescente

m a febre prolongada.

tres moças, ao saltarem do trem, ven-s preparativos da novena correram mes-e guarda-pó á capellinha, e com a maioreerimonia, as duas mais velhas, affectan-res de pracianas, que não fazem caso deiros foram-se aboletando nos degráos,JUDto do «elebrante que, um tanto enfia-:::mudou a entonação da voz e mastigoude. uma vez as palavras do-Acto parais da meditação.am bem bonitas as recemvindas e tinham

chie especial que distingue a eearense,mo trajada com um modesto vestid inhohita.aço justiça a minhas patricias dizendo

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que possuem no olhar, nos gestos, no modode andar uma graça que as torna superioresa muitas moças de outros Estados que fre-

quentam casas de modas e não tiram dasmãos os jornaes illustrados.

Não se cansavam as devotas do logar deexaminar as pracianas, e desde- o penteadofeito com um certo exagero até a grega queenfeitava o abainhado das saias, tudo foi sub-mettido á mais rigorosa analyse.

Diziam baixinho: Qual dellas será a tisi-

ca ~ Deve ser a mais magra e a mais triste.Vejam como está apertada! Aquelle espartí.lho é que a mata.

, Terminou a novena e o Chiquinho quesorrateiramente estivéra observando ás moçaslevantara-se.

Sahiu o povo, o sachristão apagou as ve-las e em breve a monotonia habitual dospequenos povoados substituiu os ipstantes

festivos que se tinham passado com a rapi-dez propria das horas felizes da vida.

As ultimas vibrações do sino perderam-se ao longe, emquanto a lua emergindo nocéo azul banhava a terra em uma doce e

•poética claridade.

A~AAAAAAAAAAAA~AAAAAAAAAAAAAAAAAAe J .: § . • ~ - é.~~""-~<t= i0lF-'~'êí<9'-""®i9~

II

CAVA por traz da estação a casa P111 queia residir tcrnporariarnent« o Coronel Pe-tl com a f'amilia. Grande, porém m al l1ivi.

não accornmo.lava bem os moradorescompartimento mais sympathico e queecia melhor abrigo á uma moça nas con-es de Nazareth, a filha convalescente doonel, era um cujas jancllas davam parado da estrada da Redernpção.

hipassava ella grande parte da manhãar o horisonte onde se recortavam os

is das serras e que apresentava umaectiva magnifica cim 0-; verdes cana-

s o as plantações dos siti'JS á rnirgr-m doescnhan.lo se ao longe. Abstrahida emdc~valloios de doo ntc, pensando que hapoucos mezes achava-se forte, capaz de

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acompanhar as irmãs no seu viver de socie-dade indo corri ellas ás reuniões, aos thea-tros e á avenida, conquistando applausos, por

que realmente era bella e destacava-se den-tre as outras pela velludez de seus olhos deum negro duvidoso e pela g entileza de seusorriso que tentava os corações mais refrac-tarios ás expansões de affecto deixava-se em-balar pela suavidade das recordações.

Era uma creatura privilegiada, tinha umaalma de eleição sempre disposta á bondade,procurando ensejo para derramar consola-

ções no soffrimento alheio. Chorava pelosoutros, sentia pelas creanças infelizes umaternura especial. As outras chamavam-na deirmã de caridade e ella era realmente dignadesse titulo quando sentava ao collo um pe-querrucho que a desgraça orpha~~ra. bemcedo e cobria de beijos suas íacesinhas es"maecidas onde timidamente appareciam sor-risos que se accentuavam á tepidez d'aqueIlascarícias nascidas ao influxo da caridade.

Quando a molestia attingiu-a pesou sobre acasa uma tristeza de morte, um presentimcn.to negro de fatalidade, e o pai que a idola-trava ainda mais depois da morte da esposa,.curtiu longas torturas em noites de insomnia,

A DIVORCIADA.

o perder a mais bella esperança de sua

dos os cuidados foram empregados para

ão se rcalisasse a previsão do medico eontando ao menos dilatar-lhe a t'xis-que tinham abandonado a capital e~eitar·se ávida insípida do campo. Na-, desde que chegara, apresentava algu-elhoras. Fôra aos exercicios do mezo, visitara a estação, passeiára até ae a não ser a tossesinha pertinaz quequeda, teria inspirado alguma espc-e prornpto restabelecimento.mpanhava as irmãs nos passeios hy-

pela manhã até o rio e, cornquanto ti-eeeio do banho frio, não deixava deo rosto e aprazia-se em br incar naorno uma menina despreoccupada e

avam-lhe nessas occasiões as cô res ro-

sorriso dos bons tempos enflorava-IheS, e era realmente lindo o amorenadoTosto purpurcando-sc com o exercicioado e infantil.ia-se bem, longe d'aquelle bulício da

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Sempre tivéra uma grande predilecçãopela vida obscura dos legares pequenos.

A existenc.ia de febre em meio de prazeres

que, á força de se repetirem, acabam por en-fastiar causava-lhe tedio. Admirava-se quandolia romances, do meio entontecedor das gran-des capitaes.

Revoltava-se com aquellas noites de loucu-ra passadas na opera de Pariz, nos restau-rantes, em que a saúde dos moços se arruí na

e a falta de repouso acarreta conscquenciasfunestas para o vigor physico e o bom humor.Era tão feliz o casal rústico morando em umacasinha perdida na folhagem, perto de um re·gato murmurante que lhes trazia agradavelfrescura e onde os páss aro s CIO doce rcvoada,vinham dessedentar-se nas horas de calor!

Parece que no isolamento os corações secomprehendem melhor, pois que o habito domundo extremamente corrompido, crosta qua-

si sempre a flôr das af feiçõc s no seu plenodesenvolvimento.

Lêra aos 13 annos 4:P3U]O e Virginia> cguardára no intimo do coração a íragranciavirginal d'aquellc poema que immortalisou oamor ingenuo de duas creanças feridas rude-

A blvORCIADA 19

te pelos golpes do mais cego e implaca-destino.as suas longas horas de insomnia, ou nos'os de fraqueza que a prostravam n'um;pamento de modórra recordava os me-detalhes das scenas passadas entre ascreanças que se tinham identificado ade uma não poder passar sem a outra,ginava que no logar de Virginia não te-mbarcl1do, ausentando-se do seu com-iro de infancia. Chorára tanto ao desen-d'aquelle idyllio infantil e apostropháraínopportuna que cortara a ventura daamiguinha de Paulo.

doença arrancando-a aos prazeres daatirara-a á tranq liilla existencia doc no seu espi rito fazia-se uma grandeEsquecera-se de tomar os remcdios,

a-se tonificar ao influxo d'aquelle ar li-ue lhe levava aos pulmões o puro oxi-o, de que era tão escasso o ambientoaça. Projectou fi 'aquelle dia ir visitaroente de que lhe haviam falado na ves-Era uma velhinha que sé finava con,a pela cruel tuberculose Sentia um de-

;ardente de suavisar o soffrimento dacreatura, que devia ter começado como

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o seu, levando-lhe um pouco de conforto,ella que ás vezes tinha tanta necessidade deconsolação. Convidou as irmãs e á tardinha

foram as tres do outro lado do rio á casinhada doente. Ella, inspirada pela generosidadede seu coração angelico, levava uma caixade passas e uma garrafa de vinho do Porto, cligeira corno se estivesse bôa caminhava. adi-ante apressada para chegar e levar seu au-xilio á familia da misera enferma. A' porta docasebre estacou admirada. Era uma miseriaque transparecia na propr ia phisionomia dos

moradores.Parecia que ahi só existiam ruinas, só ha-via cousas que se desmoronavam. Um cheiroactivo de hortelã tresandava, e a humidadesentia-se no sólo desigual e nas paredes ondeo cupim passara deixando o rastilho denun-ciador. Corno se podia viver sem a menorcommodidade, exposto ás correntes de ar,n'aquelle quarto escuro onde a morte encon-

trava elementos os mais favoraveis para exe-cutar sua missão destruidora? Sentiu umacompaixão indefinivel apoderar-se della, e em-

. quanto as outras recuavam receiosas, ella pe-netrou ousadamente no quarto infecto, per-guntou pelo estado da doente, tornou-lhe o

A ÍHVÓRCiADÀ 21

e não poude reprimir um movimento desa ouvindo uma vóz que partira de um .para onde não olhára ainda. Então,

ue ella tem febre ~ Conheceu a pessõae dirigira a pergunta e o som daquelIaia que tinha um encanto inexprimi-ocu-lhe agradavelmente aos ouvidos.,elIa tem febre, respondeu. E seus

ue se tinham levantado para observarbaixaram-se meio envergonhados, porolhar deIle lhe fôra direitinho ao co-

o explicar a emoção subita que lheaquelle olhar ~

o emtanto era bem simples o gesto dofôra com o mais visivel acanhamento

ilé formulara a pergunta acerca do és-bril da doente.reth sentiu acerejarern-se-Ihe as fa-palledecidas, recordando o dia em quera ao povoado e fôra assistir aos exer-

na capellinha branca, cujas janellasjá desbotadas pela acção· do tempom receber com alegria o ar virifican-mattagaes em flôr. Vieram-lhe ra-te ao espirito as versões que corriam.do rapaz; sua caridade, seus bons

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costumes, O ascendente que exercia sobre oshabitantes do povoado, envolveram-no ao seuolhar como em uma es pécie de aureola e

achou-o muito superior aos janotas da cida-de, ridiculamente enfatuados nos seus uni-formes custosos. com pretenções a agradarpela forma de dar o laço na gravata e collo.car ao peito uma orchidca meio desabrocha-da. Este possuía a tez crestada pelo sol docampo, as mãos eram callejadas pelo traba-lho grosseiro; mas que expressão de bonda-de não se lia nos seus olhos! quantos be-

neficias espalhava a mãos cheias pelos po-br-es e desvalidos! O pensamento da moçaestabelecia comparação e trouxe-lhe a con-clusão de que neste mundo o thesouro maissolido, a recommendação mais preciosa é umcaracter honesto e uma consciencia semmancha.

Demorou um pouco a visita, e ao sair, en-tre palavras de animação prometteu voltar.D'ahi 'em diante ia quasi sempre visitar adoente e rarissimas vezes deixou de encon-trar o Chiquinho no casebre da pobre.

Estahelccêra-se uma especie de intimidade. respeitosa entre os dois. A' força de se ve-rem quasi todos os dias acabaram por dese-

A DIVORCIADA 2 3

entreter relações mais estreitas, e assimO Chiquinho [alou que tinha urna irmãesma idade da Nazareth, esta perguntou-eigamente : Porque já não levou-a lása ? Quando a enferma chegou aos ulti-momentos os dois jovens, já unidos porinexpIicavel sympathia, suavisaram-Ihema e foram os dedinhos transparentesritativa moça que lhe cerraram as pal-s, emquanto as filhas soltavam gritossespero vendo-se agora completamente

paradas n'aquelle casebre que se de-va como as derradeiras esperanças dera que a morte viéra bruscamente inter-er.

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MELHoKAVAsenSivelmenteaNazareth. Des-apparecôra o fastio, fugira a insomnia e,

a não ser a pallidez .que ainda subsistia e uma

tosse fraca ao menor esforço, julgal-a-iamcompletamente curada.O medico que viéra um domingo mostrara-

se satisfeito e prcscrevêra um regimen pura-mente hygienico. Voltára a alegria, accentua-vam-se as esperanças e o Coronel Pedrosaesfregando as mãos, gesto que lhe era habi-tual, quando estava satisfeito dizia: A moci-dade e a sciencia triumpharam da morte I O

que elle não podia. prevêr era que o coraçãode sua filha estava ferido pelo dardo traiçoeirodo deus vendado e que em sua cabecinharomanesca germinava pela primeira vez umaideia de amor. O Chiquinho levára a irmã ácasa do Coronel.

25DiVORCIADA=====rena, elegante, uns olhos avelludados ede meiguice, um sorriso engraçado, a

.conquistára as sympathias de todos.uco timida, mas tendo certo espíritomodo de responder por pequeninas, corando quando lhe dirigiam a pa-fiose mostrou desageitada e falou como sobre a maneira de viver do po-sobre a festa do Padroeiro, que estava, terminando por convidar as moçasiarem donativos para o leilão da ul-ite. Era o período mais alegre que

de passar.ria muita animação, pois a novenar de noitarios e era celebrada pelo

ulinha, a filha mais velha do Coronelrtteu bordar um porta-cartões para oa Elvira faria uns bolos e a Nazarethia vir da capital uma prenda.i inho lisongeado pelo bomacolhí-

íspensadoá

irmã conversava com umaidade agradável e sorria de vez emante a 'perspectiva de um S. João ani-em que por certo teria ensejo de darsorte, como nos annos anteriores.ez, porém, as priminhas não o at-

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2 6 F. CLUTILD~27DIYORCIADA. .

trahiam, e apenas um rostinho pallido aindaconservando uns vestígios de doença, umrostinho, onde refulgiam dois olhos incom-

paraveis fazia o desejar a vinda da noite feliz.Que mudança se operara nelle! Andavaalegre como si uma esperança de lisongeirofuturo lhe allumiasse a alma. Até ali borboleteára ligando pouca importancia ás torturasque fazia soffrer, e si lhe di~iam que algumamoça soffria por elle, achava ISSO bem absurdoe não lhe remordia a consciencia, porqueafinal que culpa tinha de o quererem, si elle

não se declarava? O caso, porem, mudava.Uma attracção invencivel, o quer que era queelle não podia explicar impellia-o ta gostar

~da Nazareth. Ah! o coração tem exigenciast.erriveis e aos 20 annos faz explosões de .Vesuvio '! Comprehendia que não lhe era in-differente : mas quem poderia affirmar que,prestando~lhe alguma attenção, ella ~bedeciasomente a um capricho de coqueterie, que-

rendo passar menos insipida aquella tempo-rada no campo? Achava uma loucura julgar-se amado. Si .bem que o amor podesse nas-cer de um olhar, o tempo de suas relaçõesera tão curto! E depois sentia-se arnesqui-nhado diante della I Com todo oseu appara-

e bôa educação o esmagava. Protestouar-se d'aquella casa; mas o Coronel ins-para que elle viésse passar os serões.

ue motivo apresentaria para justificar aauscncia, depois de ter offerecido comfranqueza a sua' amizade ~ Ser-lhe iacustoso deixar de ir todas as noites á

d'aquella que lhe perturbára o socego econvivencia o [azia tão feliz. Poucasia á loja do Tho m az , o seu intimo ami-nde outr'ora passava horas esquecidasdo a bisca ou palestrando descuidosa-

Outra qualquer distracção aborre-.J achava insípidos 0-; passeios á Redem-aborrecidas as conversas das calçadas,

cs priminhas que andavam a torturinar-s ouvidos palavras meigas faziam-no

oso e hypocond riac«. A noite, sim, tinhaelle irradiações de aurora. Esperava as/2 com uma anciedáde febril contandonutos, o coração parecia querer' saltar-

o peito quando subia a calçada e a Na-h que o esperava sempre de branco comachenêz cõr do rosa diz ia entre séria eha: Tardou tanto! Queria deixar hojepao enfastiar-se ~a sim é que achava tristes, enormemen-

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F. eU.TII DE

te tristes as horas que estivéra a esp<lral·o, ejá impaciente naquella noite fôra a estaçãoassistir a chegada do trem e convidara as

outras a irem pagar a visita da Loló. Afinalelle chegara e na sala onde as irmãs faziamcrochet e o pai lia os ultimos jornaes des-prendiam os idyllios de seu primeiro amor ecomo as flores que esperam o sereno da noitepara desatar as petalas expandiam os coraçõesao sentimento que os prendia, sem que umasó pala vra mais terna tivesse sido proferidaentre ambos.

No meio das phrases indifferentes que in-tercalavam na conversação passava-lhes peloespirito a ideia de uma separação proxima ecalavam-se de subito, e a brincando com asborlas do cachenez e elle ante vendo umabysmo que havia de surgir quando chegasseo momento de fazer as suas declarações.

IV

m eblina fria e impertinente.to azul do céo estava toldado deDto que soprava com mais for-

ava as pobres florinhas, que tinhamviçosas e, como as melhores cou-, haviam levado unia existencia

fi sentia-se um pouco indisposta,he uma pontinha de febre, talvez.

mudança de tempo, tossia de quan-ndo, e nm quebranto de fraqueza

a-lhe o corpo.~ rahidamente um romance francezesejava traduzir certas passagen;bem ás condições em que se acha-ha-se a heroina do livro uma,

ajosa que arrostava com a vontadea ra casar com um pintor que lhe

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30 F. CLOTILDE

1 1

conquistara inteiramente a alma. No logar daprotogonista teria feito o mesmo. Os pais nãotinham o direito de oppor-se ás inclinações

dos 'filhos, desde que visavam um fim legiti-mo. Era muito obediente, idolatrava o pae,mas si a sua felicidade dependesse de alguemque elle visse com máos olhos saberia reagir.Não era possi vel que a contrariassem. Habi-tuada desde a infancia á toda sorte de mimoss ó podia esperar a continuação desse carinhoem que a haviam envolvido e que era comoum manto agasalhador muito tepido e macio

estendido continuamente sobre a sua Ira-qucza Voltava-lhe a reflexão. Fazia mal emler romances que lhe exaltavam a imaginaçãodoentia Para que havia de estar pensandoem casamento'? Convinha-lhe cuidar primeiro da saude , E depois que ideial era o seu '?

Um matuto que não sabia entrar em umsalão, que nã o poderia ser apresentado namelhor roda sem provocar censuras e

ironias. Como haviam de escarnecer-lhe om áo gosto'! Devia acabar aquelle idyllio (lueem má hora começara. Desgostár o seu pae-sinho tão bom, tão carinhoso para desposar umroceiro que mal conhecia, sacrificar a suamocidade á uma chimera de momento, matar

31\ DIVORGrADA

o .ue lhe acenava em horisontes bemtrocar a vida alegre das senhoras dem pela rude existencia de mulher de

nez !Envergonhava-se de que o seuromanesco a tivesse levado tão longe.Ide uma existencia a dois longe doss do mundo n'uma casinha perdidaverdura dos prados era belIo, mas

inexequivel para uma moça nas suases.va em tudo isso e uns arrepios desaram-lhe pela epiderme. Deram

Uma vóz ouviu-se no limiar: Dão, E o Chiquinho com o mesmo ar pra-de quem se desvanece de uma hon ra• concedida, entrou na sala Sentiuimeira vista que a Nazareth não esta-ouviu-lhe a tossesinha fraca, a respi-araçada, o olhar incerto. Vexado,p de repente perdeu a graça que

abitual e antes de 8 horas sahiu di-

e uma de suas tL 1 . '3 vióra de Ióra comssar uns dias em casa e clle tinhaade de ir mais cedo. Uma prima! Ade repente ('nciumára,se ! Amava-o

f . Cahiam por terra todas as objecçõesllmADA 3

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A DIVORCIADA32 F. CLOTILDE

voejavam sedentas do aroma das flo-hára o Chiquinho antipathico n 'aquella

que estivéra a fazer ha pouco, desfazia-se acamada de gelo que ella superpozéra ao ardofebril de seu coração, já não pensava no gran-

de affecto do pae, no desdem das irmãs, noveredictum da -sociedade. Pensava somentenaquella prima. que viéra intempestivamente,como a apresentar-se e a ím pô r- se.

Seria talvez bonita! Ha tantas creaturinhahellas nestes povoados pequenos e- devia seforte e sadia, ella que não respirara os ares perniciosos da cidade e tinha o sangue enriquscido de globulos varrnelhos, emquanto o se

deppauperava-se e convertia-se em lymphaJulgavam-na tísica. Ouvira muitas vez

quando passava cochicharem e lamentarem

na baixinho.Pobre moça I Está no ultimo gráo!Tudo isto lhe causava um mão estar in

explicável e a ideia da morte lhe roçavaimaginação como um descanso a que tinhdireito depois de tanto soffrimento. Pensque eram bem felizes as moças que morriaem plena exuherancia de juventude e iam croadas de flores de laranjas em um caixazul enfeitado de cravos e jasmins dormirultimo somno em um logarzinho ridentecernlterio, onde as aves gorgeiavam e as bo

reola de poesia que o circurndára já:Jgía em torno de sua fronte.

ho nom com) os outros, tendo alémdesprestig io da vulgaridade. Aca-aborrccel-o, e no dia seguinte quan-

lesse com o ar sonso que não deixavaeer o menor vislumbre de galanteiooncederia a honra de recebel-o. Eratal prima. Tinham nascido um para

Seria um rebaixamento para elIaasneira de apaixonar-se. Sua natu-aI revoltava-se, contra aquellcs im -coração. Sentia-se, porem, triste to-resolução de mostrar-se reservada.() Chiquinho. De que o accnsava ?e que os olhos delle tinham scin-ue irrompiam do incendio que lheurdarnento a alma; mas os lahios

am dito ain.la. Era uma creauçan 'aquellas tolices. Em breve re-á capital e tudo estaria acabado. Sie a saude poderia passeiar, espai-pirito nos passeios em casa daso socego das naves silenciosas dos

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34 F. CLOTILDEADIVORCIADA

templos, ao longo da praia vendo o movimen.to incessante das ondas -. Ia cuidar seriamen.te de melhoras para o seu organismo depau.

perado. Recomeçaria a usar os remedios,voltaria aos seus habitos de caridade, torna-ria a ser a creança descuídosa e feliz, a quemnem apropria molestia causava grande inquie.tação.

Deitou-se mais cedo. Continuava a neblinae uma rajada de vento humido levantava-seno silencio da noite tornando mais imperiosaa necessidade do agasalho. .Não conseguiu

dormir, a cama tinha espinhos que a magoa.vam, pesadellos acommettiam-na em sacudi.dellas bruscas, uma sensação estranha inva-dia-a do estomago para a garganta, experi-mentou uma tensão fortissima nos nervos, epela madrugada as irmãs despertaram assus-tadas ouvindo-a gritar e estrebuchar forte-mente n'um ataque de nervos que bem podiser o preludio da molestia que faz tantas vi-

étimas entre as moças e que se manifesta sobtão extravagantes e variadas formas: o hys-terismo. .

O Coronel Pedrosa mandou vir o medico.Conversaram ambos muito tempo. Ao termi-nar a conversa o medico dizia á meia vóz,

i estivesse falando comsigo mesmo:ssas moças romanticas curam-se maisa com banhos de egreja do que com

preparados therapeuticos que eu pos-itar.

amores viriam muito a proposito. paraNazareth d 'aquella abatimento que aSerá bom aconselhar o Coronel a

te de arranjar-lhe um noivo.

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PASSOU a crise. Nazareth melhorou consi-deravelmenle.

As alegres manhãs do Junho trouxeram-

lhe ensejo de dar longos passeios atravez dasestradas, onde o barnburral viçoso soltava o

cheiro agreste.Estava corada, já não tossia, passára a

diga que a invadia ao mais leve esforço.medico declarou-a livro de perigo.

A prima do Chiquinho voltárae, depois de vêl-a acalmara-se o ciume

Nazaroth.A moça era feia, magricella, picada

bexigas, de um acanhamento estupido, nãosabendo ligar duas ideias. Não era d'ali quelhe viria o mal. Sentia-o no seu proprio cora-ção, pois tinha certeza do que s~u pae nãoapprovaria sua escolha.

A DIVORCIADA 37

!ám que brevemente chegaria do Rioum primo que se formára e que des-cia lhe apresentavam como noivo.

ão ligára a menor importancia a essee pouc~s v~zes a imagem do primoava na imaginação. Era forte, sy m-:cheio de espirito,. um tanto zombe-cista; mas não lhe agradava. Fizerana Academia, onde conquistára

bavam-no sempre, procuravam in-n'alma uma grande estima por elIe .ão, porem, conservava-se indifferen.

o~s que conhecia o Chiquinho, ádéa de que o primo voltaria no fimentr~sf,~cia-a. Tinha um bom pre-a eximir-se á responsabilidade decto de casamento: a sua má saude.o caso haviam de surgir insistencias. m os obstáculos para que elIa corsse confiadamente ao amor de Chi-ipodésse esquecel-o !Todos os dias

a tratal-o com rudeza, sahir á horaevia apparecer, mostrar-lhe que nãoo de sua visita; mas quando davall:ava impaciente para o relogio e ume passava contrariava-a e fazia-aue poder tinha o amor!

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38 F. CLOTILDE~======:~~~=========~

Não havia argumento a que não resistisse,logica que não derrotasse. Até ali a existen_cia se lhe dcslisára pura e limpida como umarroio por entre margens cobertas de flores ..Não pensara em trocal-a por outra: o affectodo pae e das irmãs enchia-a de ineffavel ven-tura, e de repente quando oseu organismo en-fraquecido pela doença pedia repouso, umolhar do Chiquinho havia transtornado tudo.Até ali dominara-se diante das irmãs, ciosade seu segredo, na timidez de que a ridicu-larisassem; convencia-se da desigualdade de

posições entre ella e o Chiquinho, avaliava odesejo .que o pai tinha de assegurar-lhe umfuturo explendido dando-lhe um esposo quelhe franqueasse brilhante entrada na socie-dade.

Casar-se com um matuto ! Si ha dois mezesatraz lhe tivessem prognosticado semelhantecousa ter-se-ia rido, solida no despreso quetinha pelos homens vulgares. Agora estava a

prender-se sem querer, tentando fugir ás ma-lhas que a envolviam e que, parecendo frageis,offereciam uma resistencia inesperada.. Vinham-lhe ímpetos de pedir ao pai que a

levasse d'ali para o Quixadá, para outro logaronde não lhe fosse possivel ver o Chiquinho,

»:A DIVORCIADA

falar delle. Ser-lhe-ia comtudo preci-esentar razões e bem penosa se tornariassão d'aquelle sentimento que a delicia-

as que tambem a torturava n'um grandeo de revolta e de vergonha.ordou um dia disposta a dar o golpe de-n'aquelle 'amor que se enraizava. So-1 1 noite inteira com o Chiquinho ven-

O lado da prima que tinha a pelle fres-signal de varíola, os olhos fascinan-

uma vóz dulcifluamente encantadora.do almoço falaria ao papai, já se sentia

o havia mais necessidade de prolongarda n'aquelle povoado insípido. Vinha-:nostalgia da cidade que lhe appareciasuas ruas alinhadas, bem claras, onde

grupos desenfastiando-se dos peza-vida. Desejava ver de novo as aveni-:vaivem dos habitués do passeio fazia-ades. Causar-lhe-ia bem o aturdimen-eceria no meio do bulício a imagem

~istia em acompanhal-a, Quanta ínco-I Amava os logares ermos, silencio-os como até ha bem pouco fôra suaia, e agora lamentava não estar emça bem populosa, onde não faltasse

de manhã á noite houvesse a

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= = 4 = O = = = = = = = = = = = F = . = ú = L = O T = I = L = b = E = = = = = = = = ~

mais delirante animação, o mais ardente fre,mito de vida.

Fôra bastante razoavel a té ali. Era tidacomo muito ajuisada e em situações difficeisquando se tratava de alguma questão de Iami,lia pediam logo a sua opinião que era acatada

Como mudára assim ~I .

Esperou o pai ao almoço para falar-lhe doproximo regresso, balbuciou palavras, ensaioutermos; mas quando ia formular o desejo devoltar á capital, lembr ou-se do Chiquinho, re-cordou-se do sonho da vespera e entregou-se

cegamente á vontade do destino que a impel-lia n'uma corrente fatal a gostar delle.O pai estivéra muito amavel, e como se

adivinhasse a procella que lhe ia n'alma falou-lhe com a maior ternura.

Conversaram sobre o que deviam fazerquando voltassem á cidade, construiram lar-gos planos para o futuro. .

O nome do sobrinho bacharel era entre-

meiado de adjectivos encomiasticos.- Si ou-visses como elle falia bem, dizia o Coronel, éum prodigio de oratoria, e com que facilidadeprepara um discurso. Fiquei pasmo um diade ouvil-o discorrer sobre a emancipação damulher. E' um grande apologista dos direitos

4 tDIVORCIADA

o e tem ideias muito originaes sobreque a mulher ha de representarmprehender bem os seus deveres.

eutãra-o distrahida, pensando na4Jlzera á velha doente, em cuja casaprimeira vez o Chiquinho.o mal allumiado por uma vela queo á imagem da Virgem sobre a mesi-

nehosa. Tres moças a chorarem bai-resaltar desse quadro sombrio aearidoso rapaz consolando aquellasprocurando dar um lenitivo ás an-

~desolavam os habitantes d'aquellcnas,esqueceria o olhar que elle lhe lan0, como a pedir-lhe desculpa pelaolhal-a de frente. Fõra a timidezra que mais a fascinara. Defronteordicar o pedunculo de uma rosaraao cabello, corando e empallide-a al~ernativa de medo e esperança,

OUVIr-lhe a arenga cncomiasticacia ao primo, disse pausadamen.do a flôr :

e tudo isso eu não acho o Ar-llíico.estarias de ser sua mulher?

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42 F. cr.o 'nr.o a=========================~

-Deus me livre de tal.Fôra bem energico o gesto de repulsa Com

que ella acompanhou esta phrase.

O Coronel ficou desorientado e talvez asuspeita de um amor nascente lhe surgisseao espirito, porque respondeu.

-H as de mudar de opinião quando vireso rapaz. Nada de precipitarmos os aconteci-mentos. Eu sou de opinião que - o casamen-to e mortalha no céo se talham.

VI

Devia ser um axioma o que o pai lheéra ultimando a conversa. «O casa-a mortalha no céo se talham».

attracção irresistivel impellia-a Ia-para o Chiquinho.

lautil luctar. A corrente do affectoa impetuosamente para o lado delle.aterno,que até ali a escudára garan-s assaltos do coração, ia ser pretc-ím a natureza.ita prende-se ao ninho emquantossario o conchego materno e a ali-

que lhe tráz no bico a mãe solicita;que pode devassar o ar, distende asue acabaram de ernplu mar e vôahe ser dado ir algures, n'um galho.entoar o epithalamio. de seus amo.o noivado que ha de ensinar-lhe

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A DIVORCTADA 45. CLOTILDE

a harmonia suave do primeiro idyl1io,do á lúz do sol, por entre as ramariascentes, sôb os jasmineiros em botão.

Nazareth começava a sentir o desejf) li

desprender o vôo.Já c affecto paterno não b:tava á sua felicidade. Desde os 8 annos, idaem queperdêra sua mãe, vivêra refugian'aquelle seio amigo que lhe dava o balsarnnos momentos de afflicção e lhe tornava a cxitencia uma aurora de venturas.

Sentia mais fundas as saudades da infacia. Via-se pequena, rodeada de mimos, bejada e acariciada de vez em quando. A .imgem de sua mãe emmoldu~ada.e.m um mmrefulgente desenhava-se-lhe nitidamente

espirito. . . .. Si elIa fosse viva dir-lhe-ia tudo, abrilhe-ia o coração na expansão de uma condencia completa

Com o pai não se animava tanto. E sessas recordações do tempo ditoso que nmais voltaria, guardando nos recessos d'alo segredo de seu amor, reservada para cas irmans que a observavam secretamencalando-se com prudencia fOI passando o tepo até que Dezembro chegou e uma bellanhã o telegramma de que o Arthur chega

~uinte pôz toda a casa em alvoroço.e Julinha andavam n'uma az amareparando uma recepção condignacharel. Viraram e reviraram o po-tQdas as direcções á procura deam encommendas para a cidade,obter flôres.apresentou um aspecto de festa.ocadas cortinas nas portas, enfeita-com bandeirinhas e Iestões. .'0 tapete foi desenrolado e collo-

6:do sofá.

ece que vamos esperar um noivo;nha, sorrindo maliciosa.em nos diz que breve: não desabro-e nós flôres de larangeira, retor-~ olhando intencionalmente para

pletamente abstrahida fazia flôres

de canarios que lhe déra a irmã

ho cantava na gaiola, e ella acom-e vêz em quando com o olhar dis-

uções das avesinhas, pensavao em breve desapparecer o soce-a e que aproxima vinda do primoenrso á sua existencia.

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F. CLOTILDE=====

A DIVORCIADA 47

Percebia os gracejos das irmãs, iam agoraapoquental-a com projectos de casamentoCessaria o doce- periodo de seu enlevo. A hora

tranquilla em que recebia a visita do Chiqni_nho não se reproduziria mais e assim que o :primo chegasse com aquelle genio de troçarde tudo, descobriria o sentimento que a prer,dia ao moço e ridicularisaria sua inclinação,Não podiam' agora tratar de casamento.

Os recursos do Chiquinho eram muito li.mitados e depois elle sabia que o Coronelnão consentiria.

Gostava delle para parceiro de jogo; mas.para genro achava-o medíocre.Elle tinha um bocado de orgulho e não s

rebaixaria. Aguardando o futuro encorajava-se no amor de Nazareth que conhecia e qu

não podia mais esconder aos olhos de muitagente.

Com a pr óx ima chegada do primo bac ha

rel entristeceu-se. Ouvira em casa falarem do.

projectos de-noivado e adivinhou que elle cscolheria a mais gentil, a mais prendada di)

tres, aquella que lhe revolucionara a alma esubjugára a um simples gesto de carinho.lucta era desigual. Ficar-Ihe-ia bem fugir, ausentar-se aos poucos, esmagando suas espe

truindo de uma vêz seus planos? Sondaria o terreno, e si visse

areth fraquejava teria coragem de

relações e esquecel-a-ia.O dia. O bacharel foi recebidoElvira e Julía com a mais fran-e. Abraçou-as como si ellas fos-

mans, mas ao ver a N azareth ligei-rada, muito linda no seu gesto deuns longes de desconfiança que

sobresahir suas feições graciosas,lexo.

nr os braços; mas um clarão de~brou-lhe a vista. Uns cabellosfrisos naturaes tornaram-no ti-

t o galã da côrte, que dcsemba-penetrava nos camarins das ac-oudoirs das damas a;>istocraticasender a mão á prima e dizer-lhemmovida: Mas que mudança I

da! E' uma cearense que honra

seguiu-se o

olhos para a prim.nha

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4 8 F. CLOTILDE A DIVORCIADA 49

mais nova. «Nem parecia terdizia:

Que bonita cô r lhe roseava as faces! Q

nova seiva de vida e saúdé lhe alentava o o

ganismo!Não havia nada comparavel á mocidad

E que bom era o ar do campo! No Rio a genrespirava um ambiente impregnado de micI'bios, asphixiava-se na atmosphera das ruestreitas, onde a multidão se acotovellavDepois as noites passadas em claro, nos thatros, nos cafés-concertos, nos logares

divertimento estragavam a organisação marobusta.Elle pretendia demorar-se alguns dias

povoadoO aspecto de suas casinhas mal alinhad

formando irregularmente uma praça agrad

ra-lhe.A companhia das primas cornpensal-o

da monotonia a que se ia sujeitar.

E com um olhar terno contemplandNazareth que se rubo risava perguntava-IEncommódo-a, minha prima'? Sou de 01'

nario falador e quando me tornar cac ête dig

com franqueza. .A' tarde depois do jantar foram

e ença do Arthur puzéra de alarma adedos ociosos. Uns achavam-no an-.com o seu ar zombeteiro, outros

iavam-no e attribuiam ao desernba-praciano a-juelle eterno sorriso quea nos labios. Foram até a casa daa quem a N azareth cerrá rn os olhos.estavam a fazer renda e a mais novaa em crochet.. é o Snr. DI'.

adas queriam armar a unica redee havia no casebre. Desenrolaram

rias. Viviam agora de trabalhar deã.noíte. pois o irmão' que embarcárarte ainda não déra notici:J.s.Ao fOSS0 esta moça, e designavam a

, ainda peior seria. Ella todas as se-os envia ás sextas-feiras uma bôa

m de bella, santa, dizia meio serio ovolta 110 passeio.

. feliz será o mortal que merecer o, prima.

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~~~~~~-~~~~~ A DIVORCIADA

VII

• hou no Arthur um rival e teve me-~l-o triumphante a esmagal-o com umdespreso. Procurou a Nazareth e um

elIa animou-o. Oh I como a achoua sua toilelte de musselina branca,estacavam uns lacinhos azues ! Osfrisados erguidos e adornados comde rosa-amelia formavam-lhe umae belleza e graça é de toda aquellade adoravel emanava um encantoia o coração mais avêsso ás manifes-ternura.

ahia entre as outras com uma ele-tural que despréza os atavios e nãorequintes da vaidade para exhibir-ente. O Chiquinho contemplan-cio entristecia-se. O tal bacharel

parenthesis ás delicios-as palestras,-se entre elle e a eleita de su'alma elher e portanto facil de variar, so-condições vantajosas que lhe tra.CQm o primo. .um pretexto para falar-lhe maisente e sabendo que ella aindareceiando tonturas, pediu-lhe a

ma quadrilha.emos a segunda, quer? disse-lhe

- QUIZÉRAM festejar a chegado do Dr. couma dansa, para a qual foi convidado

Cbiquinho com a família, o agente da estaçã

o telegraphista, as manas uo Silvino, o maiocommerciante do povoado e mais uma familique visitava as pracianas uma vez por outra.

Chamaram um tocado r de harmonica ebacharel tendo acolhido com enthusiasmo

'- .ideia do festejo que lhe iam offerecermostro

se muito expansivo e cada vez mais gracejdor.

Abriu a dansa com uma valsa escolhenpara seu par a Loló. O Chiquinho _estava rtrahido. Uma sombra de melancolia velavlhe o semblante.

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52 F.CLOTILDE

ella pon do a descoberto os dentinhos eburneos no mais angelica dos sorrisos.

A segunda quadrilha é a dos namorados e

isso equivaliaá

uma confissão. O Chiquinhocambaleou de alegria; mas de repente sentiu-se apoderado de uma raiva incxprirnivel ou-vindo o Arthur que se achegara da Nazarethdizer-lhe com o desembaraço que somente acõrte entre noivos póde autorisar.

-Prima. você andou levianamente conce-dendo áquelle rapaz a segunda quadrilha.

EUa mordeu os labios.

-Andei levia'namente porque ~ tornou ella80rpresa.-Não sabe que é dos que se amam a segun-

da quadrilha?-Eu como não amo ninguem posso dan-

sal-a com quem quizér.-Reflicta, prima, e desligue-se do com-

promisso.-Eu só tenho uma pala, ra.

Admirado da accentuação energica comque Nazareth profer ira esta ultima phrase,Arthur, pratico no traquejo da sociedade eportanto apto para conhecer o segredo .de uNmcoração ainda puro e que a hypocflsla naocontaminára, viu de repente levantar-se um

A DIvORCiADA

10 á realisação dos seus projectos.que vira a Nazareth no esplendor demosuraque ti convalescença poetisára ,e sentia que a affeição que ella lhe

lspensar não era sufficiente para tor-liz.eo Coronel Pedrosa e as filhas não ti-escoberto elle via perfeitamente poraição que o ciume nascente tornavaais viva.zareth amava o matutinho I R om an-

natureza procurara aquelle idyllio

nisar as horas de insipidêz que deviaange do bulício da cidade. Eram as-ulhere Não faziam questão de es-pr . er que apparecia co .n palavras40 enfeitiçava-as. Elle não havia deque aquelles amores se desenvol-

:Obstal-O'S-ia,e si fosse preciso luctarompto para tudo. O ciume dava-lheompanhou com olhar febril as

uadrilha que a Nazareth con-hiquinho e no fim dando vasas ao'ue lhe fermentava n'alma, debicoumas o matuto, desenvolveu todo otroça que o animava e levou-o a umrroroso.

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54 F. CLOTILDE

Nazareth percebeu o jogo do primo, ava-liou o vexame do .Chiquinho c compadecidade ser ella a causadôra dclle pediu-lhe quedasculpasse os gracejos um tanto pesados doArthur.

_E' genio, dizia e11a. Está sempre a levartudo ao ridiculo.

Ao terminar a dansa quando penetrou noquarto invadiu-a uma tristeza im~~nsa.

Ouvindo as irmans falarem baixinho com-prenhendeu que zombavam d'e11a e dev~rasaborrecida desatou a chorar em uma das crises

nervosas que a assaltavam depois da noite emque tivera a primeira ameaça do ataque hys-

terico.O primo entrava como uma aza negra a

perturbar a limpidez do céo de suas esperan-ças. Começou a aborrecel-o.

VIII

a da esquerda, onde de ordinarioil"onel Ped rosa joga va longas par-am ão com o sobrinho, o candieiroao sopro do vento e em tom con-lles conversavam ás 11 horas das de ter saboreado o café com al-to .tinham-se recolhido cedo. Naza-ára uma enxaqueca e as outrasdo um longo passeio e voltaram

o dialogo.o suspeitava e nem teria imagi.hante cousa. .gabo-me de bom phisiol0gista er-lhe, meu tio, que a prima está

do rapaz.

ível que a Nazareth tão ajuizada,

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56 F. CLOTILDE~~====~~==========-tão extremosa para commigo caia na asneirade se deixar levar como uma moçoila qual-quer? !

Vou interrogal-a e fica certo de que a Co-

nheço muito bem para affiançar-te que, si en-tre ella e o rapaz existir alguma inclinação,francamente m'o confessará .

-Meu tio confia assim nas mulheres ~-Minha filha tem um genio excepcional e

jamais proferirá uma mentira.-Deus queira que desta vêz ella seja sín-

cera.-O que me cumpre Jazer si infelizmen-

te ella está enamorada, eu o sei. Consen-tir em uma união que a rebaixe, nunca! Le-val-a-ei por meios brandos porque nes~escasos o rigor de nada ser ve e aggrava mais asituação. Então si ella resistir, veremos ".

O amor ás vezes transforma-se em rigor,e quando se trabalha para o bem d'aquelleque procura um carní n ho errado.,: forçamos

muitas vezes os impulsos do coraçao e nos re-vestimos com a couraça da severidade.~ -Bem despressa evaporaram-se as minhasillusões.

-Cumpre a ti fazer a conquista plena docoração de minha filha. Aquillo entre ella e o

A DIVORCIADA5 7

sympathia passageira'um belIo dia. Eu sei como essas cou~sam. Um passeio no campo por

hã formosa. quando ha flores em pro-aves gOl'geiam ~ispõe os moços ásdo sentimento. Depois, coitadinha!nto já enfastiava-a da capital e desdede sua mãe é elIa o meu iJolo e adivi-das as vontades. Já vês que tenho aUa uma bôa retribnÍção e jamais arata.

uida ao dialogo foram descansar. O

em, que é rebelde quando a imagi-excitada fugiu-lhes das palpebras e

aram a revol ver-se na rede sem dor-

que á~ '. 1/~da manhã levantaram-sepertar o corpo do quebranto de in-

um banho nas agoas do rio quedamente, encrespada a superficies matinaes, alagando os canaviaes

undancia de curso, deslisando emóSas por baixo da ponte, murmure-ÍXoso a acarioiar as pedrinhas (}os

do banho fitando a Nazar"eth que pen-110sem frente ao espelho do toilet-o Coronel : Quero falar comtigo.

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5 8 F. CLOTILDEA DIVORCfADA= 59

Vamos passeíar. Um estremeci.mento imperce_ptivel agitou-lhe o corpo franzmo. Esgarçára_se o véo que encobrira o doce segredo <ieseus

amores. O pai sabia tudo. E fôra o primo en-ciumado, cheio de despeito que a denunciára!Preparou-se para a defesa. EUa herdára

altivez do genio de sua mãe. Não se mancharia com uma mentira. Confessaria sem a menorhypocrisia o que lhe ia no intimo. Oprimo andára muito erradamente apresentando-se coares de Othelo. Ella havia de pedir-lhe explicações. Não tinha ainda falado de seu amor a

Chiquinho e somente. os olhos trocavam a sconfldenoias mutuas.

Recatada e modesta como uma verdadeirdonzella chrístã achava inconveniente um namro sem o fito do casamento, e desde que se sentira affeiçoada devéras ao Chiquinho descans~va n'aquella estima e deixava que os acontecimentos se succedessem, porque confiava queProvidencia velaria por ella.

Não desgostaria o pae casando co~tra a. vontade delle . mas tambem não se sacrificaria a, ~ceitando por marido um homem que nao am~se. Estava sempre a ouvir falar dos graves 1

convenientes de um casamento sem amorUma sua collega que casára.com um paroar

inada pelas fulguraçães do dinheirotrouxera do norte, depois de uns mezes

rosa lucta domestica, voltára para aa. E, abandonada. vegetava triste-uestrada domundo e arrastando pesa-o fardo da vida. Em plena juventude,alegrias e as esperanças podiam íne-mhava no 'Seupapel de desprezada e

a reclamar o seu direito porque o rnarí-para longe e constava-lhe que iIludiraelIa se casára civilmente. O que lhe

er o pai? Certamente ia falar-lhe notas vezes discutido.lu muito tempo fingindo ler para dís-oCcupação e foi com um sorriso queá pergunta do Coronel: Estás prorn-

papai, já estava á sua espera.u um engraçado chapeosinho de pas,ligeiramente as irma'ns e dando o

desceu a calçada, emquanto o primo'ava distrahidamente o horisonte e a .serras que se perdiam ao longe.o passeio o Coronel com uma sub-avel procurou sondar o coração da-lhe do Arthur, disse-lhe que elloa mente o desejo de casar com

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60 F. CLOTILDE

A DIVORCIADA

ella e que só dependia do seu con sentimenr-, rea-liasarse o enlace. Como lhe seria grato vêl-ounidos! Tinha pelo Arthur quasia estima d

um pai, apreciava o seu talento robusto eComprehendia que elle era desses que chegam á

mais altas posições sociaes, pois contava coelementos poderosos para se salientar. Era ufuturo de -rosas que a Nazareth preparava parsi casando-se com elle. Era melhor decidir-alogo, voltariam para a cidade, ella j á estava forte, não havia mais necessidade de estar no ís

lamento d'aquella aldeia sem vida.

Alem disto os matutos eram pretencíoso,maldizentes Constava-lhe que commentavaa familiarídade della com o Chiquinho e queste, animado pelo acolhimento delicado que lhhaviam feito levantára as vistas até a espheem que ella estava collocada.

A Nazareth indignou-se e n'um accento navoso disse que o Arthur não passava de IIIntrigante reles e que quería impôr-s~ u.sa~domeios muito baixos. Ella amava o ChíquínhE se assim fosse ha veria nisso um crime? Eque guardasse o pergaminho e fosse. espe.euIpara outros lados. Começára. por ~ntIpathIsaIe estava certa de que acabaria odiando-o. Lmentou não ser pobre e obscura. A felicida

va ás vezes nos lares rnaís des[a vore-illuminando-os com um esplennor do

~ro, a posição eram estorvos á mo-e por entre a senda florida das íllusõos

a altiva desanando os temporaes da vi-iexigiu a confis~il0 franca e de repen-° ar severo do juiz que não é suscepti_ndulgencias perguntou: O teu coração, minha filha?

:tornou-se rubra, um suspiro agitou-llJe

e baixando os olhos disse:posso acceitar a proposta do primonunca hei de chegar a amal-o !

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A DIVORCIADA 63

IX

phenesi para o corpo inanimado daliando-a com lágrimas,

ida olhou fixo para o Chiquinho que

o fíoára extatíoo na porta e bradou'o sei que necessidade havia de vir des-deIla Icomo a filha o amava! Recalcára, , o

o no mümo d'alma ; mas diante daa de uma separação torturante ven-uinho com a dor de ausentar-sa della~ba~ido, não se pudera conter e mai;

:4Ommada pelos nervos deixára explo-ento no grito que antecedera o des-O

CHIQU1NHO tomára uma resolução extr

ma: ia embarcar para o norte!Consultára o coração e este lhe aconselhá

que interpuzésse entre elle e a Nazareth o abymo da ausencia.

Fõra cruel o sacrificio ; mas o orgulho nobde quem não se rebaixa inspiràra-lhe um alvtre supremo,' Na vespera da partida fora depedir-se do Coronel, e no momento em q

estendêra a mão febril á N azareth dísséra-l

com a vóz estrangulada:· Rese por mim!EUa sentira de subito uma nuvem escureclhe a vista, zumbiram-lhe os ouvidos, o n ógarganta comprimiu-lhe a respira7 ão e, S

que ninguem podesse susteI-a, cahiu sem s

tidos,O pai allucinado, não calculando o que di

ivel golpe para o Chiquinho! Via ae até ali adorára em silencio, com

nado ~e quem ama pela primeiraa.•pallida como um Iyrio emmur-

era para fugir aquelle amor que sedo ~odo mais energico que elle iaaria ,a, terra da patria, fugiria aofamiha, alancearia de saudades orno, despedaçaria o seu proprío ,se martyrlO era preferivel a vêl-aoutro e sentir o despreso do pai a

e

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A DIVvRCIADAF. CLOTILDE

Seria cobarde fugindo o terreno, livre para,;qUE!o seu rival triunphasse ? Não!

A dignidade só lhe apresentava aquelle

minho; era o mais honroso.Si a Nazareth esperasse uma epocha propcia e constante se conservasse solteira aguadando a vinda delle ainda poderiam ser felizesmas si ouvisse as seducções do prímo e o esqncesse, então estaria tudo acabado!

Longe da Patria, exposto ás intempries de um clima insalubre, sujeito ao trablho rude do seringueiro, gastaria a melhor qu

dra de sua existencia, comtanto que podesobter dinheiro, fazer-se impôr pelo prestígio iresistivel do ouro. Comprehendia que a prín opal causa da repulsão que lhe tinha o paiNazareth era a sua pobreza.

Hoje, como os ísraelítas de outrora, os 11mens adoravam o bezerro de ouro e tudo ficadeslumbrado pelas fascinações da riqueza.proprio genio devia tragar humilhações am~

gas, curtir miserias occultas, arrostar um~ ~rI

de privações porque muito alem das VIVI.

fulgurações da intelligencia brilhavam as SOl

tillações de urna libra esterlina. .EUe estacara sorpreso diante do gesto I

perioso com que lhe haviam ordenado q

via de sair de fronte erguida, por-uma palavra desrespeitosa lhe ir-

os labios dirigindo-se aquella porsacrificar. Não via outro alvitre a

mais ultrapassaria o limiar d'a-d'onde injustamente fôra expul-rteza que, assim mesmo pequenoia sombra ao noivo que queriam

azareth.

das indecisões e das tristezas queuma alegria estonteante dava-

e lenitivo. Era amado!nos olhares, nos gestos, nos sor-

ntil moça e o seu desespero nodespedida mais puséra em evi-

ndcza desse amor que tinha todasidades e todo o casto frescõr da

de obrigava-o a partir quando a

desvendára um horisonte côr deibuição do seu affecto, e lá bemidão dos f1ore~taes amazonicos,te a despoetisado do exílio, ha-

r tlté as fézes ó calix do soffrí-

har buscando no lidar sem tre-

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TA O ferro o vapor.brandamente caminha sobre o dorso

ado dos verde-mares cearenses.m luar bellissimo. A bordo divertem-e se julgam felizes e aproveitam aa noite para matar agradavelmente o

am atráz os coqueiraes da praia. Aprinceza do norte desappareceu na'o horisonte e diante do mar immen_confunde com o cé o azul, todos os

oncentram-se pensando na mages-ens e nas tJ'isteza~ do apartaménto.muitas lagrirnas na oecasião dos

:Filhos que sahiam pela primeira vêzaterno em procura dos meios de'a negados pelo sólo cearense, tãotão sujeito á crise das seccas, pais

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68 F. CLOTILDEA DIVORCIADA 69

de farn ilia que cansados de um trabalho e~te-ril deixavam a esposa e os filhos e deslumbra_dos pela vertigem do ouro iam muitas veze

encontrar a morte nos fó cos miasmaticos dopantanos do norte, pobres rapazes que svendiam a um patrão consciencioso que os sr.duzia com promessas fallazcs de grandes proventos e quebravam todos os laços para s

. aventurarem a ganhar no fim de tantos trabalhos um mesquinho saldo que mal chegavpara salvar a familia de morrer de fome, enchiam o vapor, e emquanto as ondas soluçan

tes confundindo-se com o gemido das mãesentoavam o poema eterno da dõr oceaníciam elles tratando de atordoar-se. de esquecepelo mar á Ióra

O Chiquinho soffria o que não se pode dscrever. Com a frente encostada ás mãos vipassar como n'um sonho, a revoada de recodações.

Desde aquella tarde de maio, lirnpid

cheia de harmonias e de perfumes agrestaté o momento horrivel em que o pai de Nzareth o interpellara tão rudemente atirandlhe em cheio o desprezo em que o envolvitudo se lhe gravava no espirito. Via-se tlonge, tão abandonado! Nem mais os affag

davam-lhe a doçura balsamica quevisa as agruras da vida. Só não ti-afogo da amizade. Eram estranhos

~ue o fitavam, ninguem podia com-lia magoa que o opprimia.em toda a refulgencia de seu brilhoinda mais força á saudade. Queva a claridade da noite, si dentroa havia o trevôr dos abysmos ?

ia buscar alento para a lucta emenhára?

DOS momentos de desanimo. o en-

sse o desejo que tinha de con-posição digna na sociedade, depela posse do ouro a ter accéssooda, com certeza teria desanima;ia na primeira opportunidade.ia de ir para diante, os obstaculoseendrariam a coragem. Quando,ou tl annos voltass« ao Ceará tra-

eiras recheiadas e poderia en-orilmente aquelles que hoje oa m o

a desforra em regra. Saboreavao prazer de se ver collocado bem.ser permittido dominar e impôr-

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XI

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=se a esses que constituiam a parte sã da so-ciedade e que em muitos casos poder-se-iamcomparar aos phariseus hypocritas semelhan_tes, na ph rase de Christo, a sepulchros bran-

queados por fóra e no intimo encerrando po-dridões.

D'envolta com os calculos interesseiros,com os projectos que lhe fervilhavam no ce-rebro inspirando-lhe audacias e asso mos deanimo nunca experimentados, appareeia-Ihede novo a imagem mcig a e chorosa da Na-zareth, via ainda uma vez agitar-se o lenei-nho branco-mensageiro do ultimo adeus-

ouvia o estertor de um soluço, e um granderemorso de haver perturbado a calma d'a-quella existencía virginal matava-lhe porinstantes a energia.

Tornava-se de repente fraco, e á luz dluar que se espraiava sobre a immensid~dedas aguas, ouvindo o gemer do oceano m-domito chorava ... chorava e arrependia-sede ter deixado a terra natal matando em flôa mais bella esperança de sua vida.

sados 6 mezes.

areth para quem a partida do Chiqui-

um golpe cruel c que o acoimár.i':V'endo-o ausentar-se sem lhe incutirrança só lida, quiz conservar-se no

ans voltaram para a capital: ella,.stinou-ss a p~rmanecer ali 'no legarnecêra o Chiquinho, e sem enco n-estimulos para dar dcsenvolvímsn ,eto que lhe consagrava, sem um Ic-

e a consolasse nos momentos amar-a, passava os dias a espalhar he-ornando-se uma espécie de provi-ra os desventurados.

o instante procuravam-na os po-

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72 F. CLOTILDE A DIVORCIADA 7 3

A Sr." Agueda-ll décana das cegas-guia.da pela netinha, uma morenita galante cujar bregeiro agradava mesmo com os vestidinhos maltrapilhos, tinha por ella uma predi

Iecção especial. As creanças orphãs encontravam em seus carinhos o conforto de que hviam mister, os doentes a enfermeira solicite a pharmaceutica caridosa que lhes davremedios e os tratava com o devotamento da.irrnãns de caridade, todos os que soffriamtodos os que viviam desamparados sem fa rn í

lia, sem um agasalho expostos aos revezeda existencia mereci un della uma consolaçãe uma esmola. E com que modestia e recolhimento ella serneiava os beneficios! Num vislumhre de ostentação, nem um desejde attrahir sobre si a attenção dos outroConsolava as miscrias alheias para consolse a si propria; sentia um ineffavel prazem ver que podia ser util aos desprotegidda sorte, e tendo sido a caridade o élo que

prendia ao Chiquinho queria, exercendo sepre essa virtude, continuar a missão benefia que se impuzéra. Com o mesmo gesto agelico que tivéra a cabeceira da. m?ribunn'aquella tarde em que vira o Chiquinho . exugando o suor da agonia da pobre velhi

'a a todo o momento e a sua pre-udada com bençãos e sorrisos de'a-se como um clarão beatificou rosto gracilmente emmoldn-

bêllos louros quando ella penetra-io da miseria, semelhante a umja missão na terra fosse suavisarerramar um balsamo nos cora-os, O cé o para compensal-a tal-a que a pungia com a derrocadasões de moça fortalecera-lhe a

a-lhe coragem para arrostar a vi-

eíos de uma verdadeira filha deosta ao contacto do mundo e porblime na sua abnegação.lhe vinha á ideia abandonar de

ilompas da existencia e votar-sete ao be n dos outros; mas nãoverJadeira vocação e, diante deda virgem de Nazareth, risonhaCOmo seu manto estrellado, pa-

ta a refugiar todos os misera-m lagrimas que protegesse o Chi-

rrompia-Ihe d'alma purissima eas emanações das madresil vas

ndia ao throno do Eterno por

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F. CLOTILDEA DIVORCIADA 75

entre as supplicas das virgens, noivas queem vez das flores de laranjeira, colhiam sau~dades rorejadas de prantos.

O pai censurava-a pela vida que levava

querendo attrahil-a de novo por excessos 'damorosa ternura invidava tudo para condu•.zíl-a á capital e fazel-a esquecer o máo epi-sodio que fôra corno urna pagina sombria nlivro luminoso de sua existencía.

O primo vinha um domingo e outro espairecer no povoado, e diante delle, como se fi-casse esterilisada de subito a fonte de suasensibilidade, tornava-se c ncentrada e my.•

santropa.A aureola do anjo caritativo desappareci

um sentimento de odio mal suffocado moderava-lhe o desejo de fazer bem e n'aquelles dios pobres eram privados de sua visita e d_consolo que ella lhes dispensava.

Apenas uma palavra doce sahia-Ihe dolabios, si alguma creancinha protegida poseu amante desvelo vinha trazer-lhe braçad

de flõres agrestes perguntando se estava doente.

O Arthur voltava despeitado protestandnão repetir a visita; mas aos domingos, ímpulsionado por urna força invenoivel, tomav

chegava um tanto envergonhado ee ar trocista que o distinguia, á casaperguntar onde estava a prima sen-

ação tão forte apoderar-se dellestava ao portal e não podia susterdo coração sedento de amor.

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XII

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A DIVORCIADA

nte ; todas essas esperanças, po-pguiam diante do gesto frio, pesa-

avalanche a reprimir-lhe osím-

medrosamente, sem o desemba-fr'ora, deixando transparecer nosão de seu affecto, tinha grandeúlsão que ella manifestava.artidas amorosas, fanfarrão em

onjuanescas, habituado a consí,r um passa-tempo agradavel, via

ente dominado por aquella mo-. a e nevroticJ que tinha a ma-bem aos outros e timbrava emTalvcz que sendo infeliz, fazendoseu altruísmo essencialmentese algum di rei to á uma retrí-um ar rn'elancolicJ, deu para

.anto ao longo do arvoredo som-enluaradas, como um poeta

, passava horas esquecidas na(Ias estradas silenci08as appa--pesar inconsülavel e sentindo6- o martyrio de quem ama sem

COMO elle estava mudado!Diante do indifferentismo da prima de

fízéra-se o gelo que envolvia su'alma, via p

um outro prisma, divisava novos hoÍ'isontsentia-se apto para ernprehendimentos marrojados Pensava nas doçuras da familíno concheg» intimo do lar e vinha-lhe do ago o desejo enor:ne de casar-se, de abandnar por uma vez a vida de solteiro propena aventuras, ávida de sensações noyas.

Oh! como seria deliciosa uma existencíadois na identidade de sentimentos, no 00

munisrno de ídeias que fazem de dois seuma só alma!Si ella o amasse teria forças para ama 00

pleta regeneração. Tinha esperanças de vcel-a e á força de dedicação e per'eYer~nconquistar seu coração ainda cheio da 1

veiu mais triste e scismativo doa n'urn momento em que se

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A DIVORCIADA 797 8 F. CLOTILDE

encontrou a sós com Nazareth, pediu-lhe colagrimas na vóz que não o deixasse resvalnas profundezas di) aby smo. Achava-se no ca

rel de um despenhadeiro, à falta de uma aITe"ção duradoura, sanccionada por Deus e pela lelprocurava distracções em amores fáceis, nalternativas do jogo. Passava noites em elatentando a fortuna sem ter outro fito maisque atordoar-se, matar o tempo que tinha aletídã o das horas que valem seculos.

EUa podia estender sobre elle suas azasarminho e salval-o n'um bello impeto denerosidade e então fazia-se muito terno 00

. inflexões de supplica, quasi a implorar-lhejoelhos a felioidade que lhe reousava.

Tão bôa para todos, entornava-lhe n'alo fel dos desenganos, o veneno lethal da dcrença Que mal tão grande lhe havia elle feitGuardava-lhe odio porque falara ao tio de ssympathia pelo Chiquinho ' ?

Aquillo era uma creanoice, uma phaníde moça que começa a sonhar e a ter vaganceíos de amor. Tudo pas-;aria. EUe rodeialia de ternura, construiria um altar de que eseria o idolo e podiam ser muito felizes.

Dependia della, unicamente deUa. r3alisaquelle sonho.

ova de amizade lhe dera o outro ' ?

ª-se e fugira, não dando um passoa energica resístencia que encon-

ím que ella desejava ser amada ' ?

, apesar de repellido, conservára-sevido apenas pela impetuosidade deo que mais se consolidava em fren-uIos qu~ surgiam, estava a espe-

nça que o absolveria ou condemna-~ ívelmenteresse o levava a implorar a piedade

ra tão prodiga para com os outros ' ?rventura alguem que neoessitasseorto do que elle ' ? Vegetára desdesem uma affeiçã o solida, o tio eraais proximo e o unico que ligárasse ao seu bem estar.ra um pergaminho, achava-se ca-

par uma posição honrosa nasocio-aspirar ás mais altas posições; mas.8 elIe uma questão secundaria.itlVO mais importante que tinha ema para onde convergiam t~dos osera a posse do coração da prima.

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Que ell~ se resolvesse e a ventura. sorriria p

ambos. Nazareth ouvira-o calada, os 01h08

n'um ponto distante, pensando talvez na

de soffrimento que o Chiquinho passa Tanote; mas as palavras do primo não lhtão mal aos ouvidos. Emquanto eram phrde galanteio, madrigaes ridículos repetidosmillesima vez, ella sentia uma repulsão en

me por elle ; sua vaidade não accei tava a insação dos termos rebuscados; mas desdesabendo a ternura de que era dotada appellpara o seu coração e revelara singelamente

dores secretas que o trucidavam ouvira-o cpadecida.

-Eu quizéra, primo, disse ella no finalconversa dar-lhe a ventura a que aspiro;não devo' enganal-o. Será sempre para mimirmão. Si acceita a minha amizade nestasdíções farei tudo para que ella lhe possa serE deste dia em diante associou-o a suas ode caridade. Incansavel percorreu com ell

choupana dos pobres anediando cabecinhasras, enxugando lagrimas de semblantes egados. .

Uma pobre mulher perdera o filho UnICO

estava no norte e no auge do desespere qattentarcontra apropria existencia. EUa1

falou-lhe da resignação, pintou-faria vendo seu filho morrer cru':'dois facinorosos, mostrou-lhe o

nobre e de edificante no soffrimen-desvaira por um excesso quasie tanto fez que a mãe desoladarimas a saudade cruciante que

:ra a morte acabou. por se submet-aos decretos da Providencia.:vez uma pequerrucha que ficárae chorava desesperadamente semtrou em seu coração todo o desve-ura de uma irmã mais velha solí-

avel em fazer o hemonão errára appellando para suaEra o caminho uníoo pelo qualparto de seu coração.eonquístal-a era um pouco maiso caso não desanimava.

são muitas vezes esquecidos, eque a Nazareth não acabaria poruinho?muito bem as mulheres e ha-re em contacto com aquellasaflectidamente especulam com

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82 F CLOTILDE

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Depois a Nazareth vivia muito isoladatre o pai euma tia já. velha, e o i~olamento pdispõe á ternura. Quem sabe SI elle nãoria victorioso tentando conquistal-a? XIII

eI Pedrosa perdêra completamen-om humor que lhe era habitual.aido as partidas de gamão, dei-

vezes de responder ás perguntasmostrando-se de todo alheio ao:va em torno delle.

pouco appetite, dormia mal eem que passou a braços com ais pertinaz. Um dia olhando compronuncinda para Nazareth disse-és a mais nova de minhas filhas,qual eu tenho tido sempre uma

~pecial.a felicidade tem sido o grandea vida. Tens necessidade des mais prudentes e de ume, e por consequencia atten-

vou dizer:

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. CLOTILDEA DIVORCIADA

Vejo que ainda não esqueceste o pretcioso matuto que perfidamente perturbosocego de tu'alma e po~ isso não prestadevida attenção a teu primo.

Affliges-me tanto com esse teu modopensar que já vou, me s,entindo doente e orque pouco viverei, pOIS, como sabes: qquer desgosto intimo ,affe~ta extraordmamente a minha orgamsaçao. Quererás secausa de minha morte '? Tu que eu amo co mais acrysolado affecto e por quem daté a ultima gotta de meu sangue haser culpada da amargura q,ue me. enveI:en

os derradeiros dias da existencia ~ Nao,não posso esperar isso de ti.

-Que quer o papae que eu faça parafique satisfeito? Tanto se interessa que

case com o primo ! , ,-Mas si eu vejo nisso a tua felicidade-Um casamento sem amor pode traz

felicidade ~ ,-Conforme. Tenho visto mUltas. fi

que se casam sem ter grande syrnpathia ~noivos depois de casadas chegam a astios devéras' e outras que se casam ve,rdaramente a[:aixonadas, passados os primedulçores da lua de mel arrependem-se e

yrios de uma tremenda desillu-

ai me aconselha a casar com oa não o ame ~!

o-te que esqueças aquellas Iou-s seriamente. Sempre te dis-

tuas irmãns pelo bom senso quenova revelaste, Não queiras porde nervoso estragar o teu Iutu-eu viver não consentirei que

a contrair uma união indignamorrer e persistires em seguirnclinaçã« has de -sentir o remo r-s vilipenJiado a memoria.não fale assim. Eu não quero ca-jo mesmo outra vida senão ado até hoje ao teu lado e de mi-

melhor ires para um conventode caridade.

viver por muito tempo, sinto-

o e ultimamente tenho soffri-

feito si consentisses em casar-ur,

ue lhe falta a elle para te agra-m talento, ha de fazer uma

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86 F. CLOTILDE A DIVORCIADA 87

lirilhante carreira, pois o seu nome foi sepre aureolado na academia Dispõe de tdos os element03 para te fazer feliz, e, co

está devéras subjugado por ti, perdoarádesdens com que adualmente o tratasfará o possi vel para que venhas a amal

muito.Nazareth calou-se. Temia contrariar o p

que era muito carinhoso, mas que se mtrára bastante severo relativamente aos seamorescom·úChiquinho. Vendo-o com oseblante amargurado, onvindo-lhe a voz t

mula receiou aggravar a situação e sem amar-se a erguer a vista para elle, levantou-subtilmente, entrou no quarto e desatou esoluços que comprimia para que não fosseouvidos pelo pai.

Chorou muito tempo I As irm ã n s nãotavam ahi para consolal-a. a tia pouca attção prestava a essas cousas que ella cham.l

-dengues de menina mimosa. Alem d.ISentretida com os arraojos domesticos nem Iginava a proce11a que se desencadei~vacoração torturado da sobrinha. Entendla poco de sentimental idades. Casára-se por coveniencia, amára o marido por habito e alha unica que tívéra de sua união casára

·0de Janeiro, de onde poucas ve-evia.a o convite do irmão para passar

ma Nazareth no povoado, e alim a lide caseira e com os traba-ivo de uma horta levava horasfeliz de vegetar n'aquella exis-a. sem preoccupações pelo diaabituada a viver aqui e ali, con-asse certas commodidades e ti-ntinho onde plantasse suas hor-

va de flores, não tinham utíli-a no entender della e ninguemque as rosas e os jasmins en-ista. Preferia as couves, as al-olhos, as cebolas e as vinagrei-os cravos e begonias que podes-um jardim.creatura material dessas que vi-

e não olham por outro pris-o do bem estar proprio. Quem, pois, as dores moraes da

.m se animava a procurar nellavo. Conhecêra-Ihe o egoismo,para receber censuras quan-

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8 8 F. CLOTILDE A DIVORCIADA

do precisava de consolação resignou-se afrer calada a má impressão que deixáraseu espirito a conversa que tivéra com o

Exigia elle então que ella desposasse o ArtQue lhe competia fazer?- Sacrificar-sesatisfazel-o, matar de um só golpe todaillusões de moça para acceder ás aspirado primo? Elle que dirigisse as vistas poutra parte. Não faltavam moças an cí

por se casar ; com certeza podia escolhermelhores condições e muito mais no «a s

o tornarem feliz.

Veiu-lhe um desejo ardente de actudo aquillo tomando a resolução herde ir ser irrnan de caridade. CedamDeus a chamava para-essa vida calma asentando-lhe obstaculos, offerecendo-lhevações a que ella não resistiria ficandoentregue á sua naturesa que ás vezesquejava.

Era preferivel viver nos hospitaes d

tando-se ao tratamento dos pobres, exercea todos os momentos a missão mais subque a mulher pode desempenhar, ou enscreanças nos collegios velando pelo devolvimento do bem nos corações tenrospequenitos, mostrando-lhes o verdadeir

ir para não se enveredarem nosaixões. De que lhe servia viver

aterno. ao lado das irmans, ven-

ariado e uma hora por outrapor não se ter casado com o

a vida religiosa senão '0 des-de tudo que o mundo apresen-uetor, o completo despreso portros ambicionam, e o que se-encia se sacrificasse os impul.

<coração e acceitasse um noivo

issem sem elIa sentir por elIerosa?ndições o casamento tornar-rtura lenta que elIa amaldi-instante. Mas seu pai andavamortificado !EUa bem sabialh 'o dis.séra manifestando oha de vêl-a casada com o

ear-se? O amor filial insp].ões de um heroismo admira-prece fervorosa pedia com la-e a protegesse e suggerisse-

solução.

imagem do Chiquinho ap-

89

=

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90F. CLOTILDE

. 111e sempre e mesmo no meio da oparecia- "- virginal' que ascendia pura e fragr

çao d .te ao throno do Eterno, o, nome o quer

t subia-lhe aos Iabios e ella oausen e , .

1· na mesma supplica em que pedívo via ifi , dDeus forças para o enorme sacri icio e

quecel-o. XIV

da Gloria, a sobrinha do Coronelosa, morava no Rio de Janeirocha de seu casamento realisado

marido era empregado no Hospi-lr e ganhava apenaso sufficien-

m vivendo com muita economia,gostava de ostentar a belleza eIformava com os escassos rendi-

ão lhe permittiam ter bonitosornos indispensaveis á garri-ureza frivola .

.e mal educada deixava-se galan-

as vezes passando nas lojas, ondeexpunham centenares de objectoséxhibição da vaidade feminil sus-ia 'comsigo mesma: Si eu quizes-uelles ornatos!

lhes um olhar de cubiça fitando

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I ·

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93DIVORCIADA

ludibriado tangeu-a a ponta-a plantar batatas.rosto valeu-a. Um moço dou-

e um barão que se achava emeu-a no transe difficil em que

oude.brilhar, pisar em tapetes,-e offuscar as outras cslrellasTeve um cortejo de adorado-

t " ê á mariposa fascinada pelahe queima as azas, deixou-se

• lso ~rilho ? : l riqueza compra-farnia, e VIveu essa vida ficti-na o organismo e atrophiaento bom.meio honesto' especulou commaneira mais vil c quando-se em casa do irmão a fazer

ha, ella no Rio de Janei-o os últimos degl'áos de

ao hospital, victirna de umadeixou ás portas da morte.0, ao sahir dó hospital, umpudor levantou se-lhe do iu-a revolta da consciencia queremente o seu procedimento

depois desconsolada o seu modesto vesde merinó já desbotado e as botinas que

viam perdido o lustre primitivo EUa era. rmente bonita e possuia certa distincçao q

nalureza concede a algumas mulheres fade-as sobresahir dentre outras que trmelhor e occupam posição mais eleva-i

mundo.Ti n ha '24 an nos e desde o s J 5 vivê ra

sempre Ióra das vistas maternas. Poucotimava a mãi e corn eUa se parecia no

de encarar as cousas. Casára-se paralivre de andar por casas alheias supportdesafôros, agoentando imposições; macabo de tres dias de casada, si algum sedlhe tivesse offerecido uma existencia luxteria abandonado o marido sem um arde remorso. O seu ideial era ser lisongau,rahir a attenção. Encontrou no mei

que vivia facilidades para sustentar. suadade sem dar escandalo, e mystenosa

de aventura em aventura deixou-se prem amores faceis. O marido, si desconde suas fraquezas, fechava os olhos esoplticamente ia supportando-a e~ casoque afinal sabia guartiar as convenlencl

Um dia, porém, deu-se um encontro

\1

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I,

94F. CLOTILDE

7

9 5

hados pela luz brilhante de umade Abril sentiu dilatar-se-lhe aembrou-se U O luarido tão bom, tã

uesceollente que lhe guardara. a repdos assaltos da maledicencia e sentiu u

fundo despreso por si mesma. Como ofraga no supremô esforço pa,ra livrar-ondas enfurecidas agarra-se a taboa deção, ella procurou salvar-se <ia .degraque a esmagava. e procurem refugio no

lho.- Entrou a instancias de uma amigalhe conservára fjrme nos dias advers

uma fabrica de camisas e, corno tinha ghabilidade para costuras e queria gran

confiança LIa dona do estabelecimentconservou-se honestamente podendodentro em poucos mezes algum saldo.

Teve desejos de voltar ao Ceará. O

materno, uepois da existen.c~a temque levára era como o arCO-ll'lS da pa

metter-Ihe bonançosOs dias. .

Felizes os que se vendo repelhdosdos tem para descançar i fronte umamoroso de mãe inuulgente e sempl'e

ta ao peruão!Conseguiu transportar-se ás plaga

çoadas da terra da liberdade e quan. s CO

o nosso abençoado solo e viu o

tos de manter-se no caminho do

o asqueroso deixava-o na Capitale a casinha mobiliada e parecen-de noi vos on de estreára seus

dos até a enfermaria silenciosahospital em que expiára as horastudo lhe veiu á imaginação e.soffrér o despreso dos paren-bem collocados, entrou nas ruascom o aspecto modesto e a ap-a de mulher inimiga de vaida-

:de sua reputação.rosto a mascara da hypocrisia.orpresa para alegrar a mãe eIa não estava na capital e fôrapaohia á Nazareth hospedou-se• onde foi recebida como uma

m marido dés pota e tres diaso trem, dirigia-se ao povoadoerna cahiu-lhe em cheio sobrede luz que lhe esgarçava opassado criminoso.

, I

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96 F. CLOTILDE

/'V""\f'\/'I./\/\./"IJA/\../V\/\.AAA"V\f\/\/"\./\JfV"\,f'\.

-~ eJ(9 "êX9~ ~4§í(tSi O marido a -visse com aquelle atado de mulher escrupnlosa e intransisi podesse sondar com o olhar de umlogista aquelle rosto de uma bellezateria exclamado:

Eis o perfeito prototypu da maldadrefalsada e da hypocrisia mais fina!

xv

e 15 dias a Maria da Gloria achava-lramente á vontade em casa doconquistar de todo o coração in-areth, que, levada pela sua bon-vira nella uma victima do casa-otogonista interessante de umintimos _que despedaçam a

ilias.ena ouvira a descripção feitaa habilidade de uma cornicaas opportunas e sabe pintaras mais triviaes, a longa se-

que o marido lhe fizérasof-

niado ! Si ouvisse a accusaçãosobre elle pesava teria esbo-mulher desleal que o cobriraprocurava no seio dos paren-

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98 F. CLOTILO EA DIVORCIADA 99

tes nobilitar-se r-hamando o odioso sobrque merecia apenas compaixão.

Fingiu admiravelmente o papel de mhonesta, procurou com a mais refinada h

erisia impôr-se á estima de todos, e vedoçura do caracter de sua prima maisfez os maiores esforços para conquista

a confiança.Nazareth precisava de desafogar as

que lhe iam n'alma, tinha necessidade dseio amigo onde repousasse nos mommais amargurados. N ada mais attrahenteos que soffrem do que o soffr imento al

A prima com o diadema de martyrio,do subido o Calva rio dos desenganostão nova e bella, fascinou-a.

Teve por ella uma affeição de irmã,tou-lhe a innocente histeria de seus amobotão de lyrio que não chegãra a eleschar, falou-lhe dos projectos do pai esua opinião sobre a attitude que lhe eu

tomar.A outra ouviu-a com um ar muitopungido, consolando-a offerecendo-lhesamo da amizade leal prompta a choraella e .d'epois comprehendendo o terrenqu~ pisava aconselhava-a a que obed

fôra muito infeliz porque não ti-cção de sua mãe.era tão bom moço, parecia amal-a

tremo. Pontue não lhe agradava ~ertel'-se-ia nos seringaes do norte.um fóco de corrupção. Calumnia-nenses como o fizéra com o mari-lhes os costumes com as côresO s-donos de barracão eram to-as mulheres, Jesus! EIla nemal-as.h defendia o Chiquinho; mas no

que a prima tinha razão emque fizésse a vontade do pai. .tivesse apresentado outro alvi-gado desassisada. Todos que anselhavam-lhe a mesma causa.coração recriminava-a quandovagamente em casar-se com o

perjurio que ella commetteria?

promessa alguma, e seu amora inclinação que nem tivéra

.star-se por meio de palavras.Ia vendo-a ás vezes vacillardvogar a causa do Arthur car-es do quadro em que o emmol-

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100 F. CLOTlLDE101

durava e com tanta arte se insinuava nração inexperiente da incauta jovem qubdi ' eicava a vontade e só faria qualquer cde accôrdo com a prima.

Já a consultára sobre a hora da visitlares dos pob~es alternavam-se na distr]ção das esmolas e ambas igualmente bconquistavam bençãos e applausos por tparte.

O Arthur fazia da Gloria sua confidencerto do ascendente que elia exercia 80

animo irresoluto da Nazareth, lhe co nf íát

seus projectos de felicidade, pintara-lhe avida de solteiro no isolamento de um qu

de hotel, pois não lhe ficava bem abusahospitalidade do tio, falou -lhe dos perique estava exposto si não o sustivesse a hdo abysmo a caridosa mão da Nazareth e, 1exagero proprio da Gloria, maldisse o dique tivéra a ideia de vir do Sul ascraviscoração que era tão livre.

Elle amava a prima, é verdade, capti

se nos seus olhos cheios de doçura, natileza que se espalhava de toda a sua pesmas o seu affecto era um pouco mabriaque meROS apreciava nella era a bond'alma, aquelle instincto delicado de

ar felicidade, de enxugar pran-

reciar os seus sentimentos cari-

ais depressa fazer a conquistaãosinho indomavel, o unico queresistir á força de sua enormeno intimo achava ridiculas tan-ões de- piedade.ia evitar o soffrimento dos ou-

o que a Nazareth tivesse uma"a que convertesse as mansardas

05

trapos da miseria em rou-didas, ficaria· sempre muita,r relativamente a minorar osesmagam os pobres morado-de lagrimas. Era, pois umaIesejo immoderado de ' fazerrualmente ser o desabafo desa que estivesse a Iancearça misericordiosa e a im-

W tissão consoladôra e quasi

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103DIVORCIADA

XVI

alminha. sel-

a do Coronel, o desejo sempre

r . O I · elle .de ver a filha unir-setinham ainda maior força p

t. ara

a cons ancia da NazarethI C I

' . noo riquinho. Vendo o paiIapo-

.mpre aborrecido, já um pouconho~ que tão prodigamente lheentiu um como remorso accu-causa de toda aquella trans-

em saber o que fizesse paraçã o pe~osa em que se acha--se á ?ISCripção da prima. .te avezinha cahia afinal e te d' n re

e rapina. O genio do mal

Q ro~esque~i~o. Atordoada, semda felIcld~de própria e que-

8 alegrar o pai, satisfazer a pri-Arthur do tenebroso pélago

veu-se a dar o sim ao alme-Pobre Chiquinho l Lá

ul tA' . nose a mazoma devias ter

s vezes nesse desenlace e sen-presentimento de tão cruel

E

STREITAVA-SE cada Vf'Z mais a amientre a Nazareth c Maria dr Gloria.

A serpe tentadora dotada decncantogestionadores prendia pouco a poucoperfidas malhas o coração ingálUO e lea

candida donzella.Com uma subtileza admir:vel ella ap

rára-se da vontade da Nazarth e , comexercesse sobre ella uma frça hypnofazia-a ceder facilmente ao eu influxo

O Arthur repetia as -sitas duas vna semana, já se julgava .oivo, sentiaa imagem do outro ia seJesvanecendopoucos e elle conquista' cada dia alterreno no coração da rma. A's vezes,diante de alegria aper!va furtivamentmão da Gloria dizendc,he: você é a~m

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104 105CLOTILDE

Para que te serviria o dinheiro adqdo á custa de tanto sacrifício si aquellaquem trabalhavas com tal extremo esqute e te deixava por outro ~

O casamento foi marcado para SetemA Nazareth não quiz enxoval pomposogrcssando á capital para cuidar em propse retrahiu-se eornpletameute. Não sahicasa, recebia as visitas constrangida, mver o 'pai satisfeito e voltando a tratal-aa ternura de outr'ora sentia-se compepelo sacrificio que fizéra esperava o dicasamento pedindo a Deus que a sustipara não fraquejar.

A Gloria irradiava de satisfação. Tinhnho a causa do Arthur, trabalhara parafelicidade; era justo que esperasse alrecorri pensa.

Que planos architectára para o futurozéra um estudo perfeito do genio da faze aquelle coração cheio de todas as bondmas irresoluto e fraco agradava-lhe. F

possível p.ara continuar a exercer sobra mesma influencia.

No dia do casamento, quando a Nazjá vestida de noiva olhava-se ao espelhmirada da pallidêz que se lhe espr~lá

atirou-se-Ihe aos braços quasie-lhe: Quero pedir-te umabaudones !

que eu não tenho no mundo

e qu e na tua companhia dar-ente.

que havia. ue SOl' a mesma,o lhe .mudarIa o modo de pen-Iagrirnas aljofrarcrn os bellosum pensamento negro assal-o. .

mbe?I uma das victimas dor-se~la algum dia na dura

.pe?lr a prot0ção dos outros ~ntímo .u.m desejo invencivelem esprrito o lencinho bran-~,ue se agitava da portinho_v ia -lhe um sentido adeus em abysmo entre ambos t~r-elle apartamento!ou-lhe as faces deu lh. ,- e umano aos olhos e quando en-

os atavios nupciaês provo-SUSsurro de admiração entreados.

Diziam todos.

lhoso e commovido olhou-a'

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106 F. CLOTILDE

deslumhrado. Ia abdicar sua liberdade dteiro, entregar os braços ás algemas dsamento; mas era tão bella a mulher afazia este sacrificio que certamente lhereceria plena compensação. XVII

r de novo a Nazareth dezoito.depois de casada. Em frente aazuladas cortinas contempla

que dorme. E' seu filhinho deO louro e gentil Oscar, que ellaoroso desvelolhe a vida agradavel, prende-aum élo ind issoluvel que talvezestreitado tanto si aquella cre-·1 não os tivesse approximadotro.o extasi de uma adoração ver.materna contempla o filho ador-sorriso de indetinivel ternuraos labios que se agitam n'urnrece.o relogio prestes a marcar 11

.'

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~ DIVORCIADA08 109

horas, e um certo movimente de inquise nota em suas feições tão serenas.E' que o marido sempre ponctual a

ás 9 horas demora-se naquella noite.

Ter-lhe-á acontecido alguma cousa?po decorre. Já meia noite soou e ellapoder conter abandona o berço do filhao quarto da prima. ~

-Gloria, Gloria, brada nervosa.A outra levanta-se sobresaltada,

porta e ao vêl-a cheia de impaciencia p

tranquillisal-a.-Teu marido está bom, entretem-se

a jogar. Não te afflijas, vai te habituessas excursões nocturnas que todo 0·1

da bôa sociedade é obrigado a fazer.Querias então que o Arthur vivesse

mente a te fazer a côrte ~Ah! louquinha, quão mal conhece

mens!Nazareth revolta-se ante aquella lin

d a prima que achava muito natural o

deixal-a sosinha e ir arriscar grossas qno voltarete ou no baccarat.

Não o pintava ella assim antes dnunca lhe-havia falado dessa possibiliir pro curar distrações longe della, fi

sorrisos do filho -. encantammais a vida do lar e ame-

ra a prima sorpreza·' •tal ar d ' ~as ve no seu

e zombarIaIcuio.a para que]1 ~ que receia. e a nao supp ,ciumes do Arthur f ozes,

, sobre a attrac à al~ sobre o pe-erce n'aquelles qçue

Osdlab~lica que

e, e vendo-a dis o e deIxam do-errompido mu'~ s~a a.recomeçarffrendo, 'sáe ~ o r~ndJfferente ao

em trente a crea~c .cuhra de novoIn a adorme_

horas, sôarn umas ' .que tem as no't apos outrasgôres da ales passadas em

urora come,quando el1a eçam a ro-

dormitar um ,exhausta da vigi-stada . pouco.

,POIS sente emo com violen . purrarem ao olhar desvCa

I.a.dOmarido entra

Ira o o h Iitrra a mulh b ' a Io en-

er ruscama e depois cá b ente, sa-ito. e so re o tapete

mprehende que 'sentO o Arthur está

Imento de asco invade-a

110 F. CLOTILDE

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Lágr im as profusas lhe irrornpom lios o}e, como si um circulo de ferro lhe comprimia garganta, sente falta de ar levanta-se drientada e achega-se mais do berço do filhoali que vae procurar refugio para a clô r e

que lhe causa o despertar cio sonho.N'este momento a creancinha de.-peboceja de manso, agita os bracinhosquasi imperceptível sorriso abre-lhe a bnha rubra. A moça comprime-a ao seiosa-Ihe a cabecinha sobre o coração dilaccde repente pelo dardo do mais cruel d

gano e já mais alliviada chó ra, chó ra .•

Que horrorosa mudança! O Arthurna vespera tão bom, tão terno aprescntsnovo dominado pelo vicio. E que vícimais abjecto de todos, aquelle que collhomem ao nivel do animal.

Deverá dizer ao pai o proceclimenmarido ~

Foi a primeira vez que elle nssim prcumpre-lhe, portanto, ser indulgente.A prima bem o disse. Elle não p o r l i

eternamente a fazer-lhe a cõrtc. Quanver mais calma pensará o que deve"fazsou o dia febril escondendo as lagrim

A DIVORCIADA111

r que a quer subjugar de vêz

-n~ as Péllavras que eUa lhe

d"omIn~da pela impacicncia darido, fô ra pedir-lhe um

- DOU .olaçao. •

não toma ao scrio COu~aalgu-

do n('1Ia certos modos inteira-dos <rue apresentara no ." I prrn,

} ' : 1 . com () enCanto dulci .CI~slmo

e leal, de um a ternura inequi-

tantu qu e a trouxé l ap:lra cas:a

ra-a com ti dedicaç80 dea A . e uma. pensar nIsto levára o d'á 't 1 ; 1 .

nOI e, depois do chá f'.' , ICIJUa quando viu o Arthur que p _.posto enfiar o paletó e asIr. prcpa-

-o l,el/indo-lhe amoro~amentas ca l) . e

( U -se ao O uvir a prima di-a certa malicia.

na prima a me.\lma confiança

nova que espera conselho e

8

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112 F. CLOTILDE

-Então, vae dar uni passeio? O a r :

te ha de fazer-lhe bem.Olhou-a com uma expressão inde

não poude conter duas lagrimas irnpque lhe queimaram as faces. O maridva ao jogo, atirar-se-ia de novo á embrE fôra para saval-o desses vicios q~ecasára. Havia de salval-o de novo. Ede seu filho e contava que Deus havia~ge~a. .

Achava ínexplicavel o procedim

prima. Que tinha ella que vêr com os pdo Arthur f Olhou-a de novo e. ao vbella o quer que fosse de diabolico a lhparecer no rosto, veio lhe ao espírito usamento medonho. A sua lealdade repEstava nervosa, não pensava cousa neacertadamente.

Que interesse teria a, Gloria em

sua desgraça?Resignou-se a soffrer calada, e no oao entrar em casa' do pai apparentou oar prasenteiro dos bons tempos. Nãoabsolutamente que ninguem desconfiseu soffrimento.

XVIlI

atirou-se em cheio ao jogo.grandes quantias, e impellido

da cobiça que o incitava ádes

rçadú a contrahir emprestimosse ao sogro. O Coronel es-e pedido, emprestou o dinhei-gou a filha.o nã o "está procedendo bem,se está endividando e é preci-

ntou falar-lhe um dia em que

eito afim de fazel-o entrar• lembrou-lhe o filho por cujovelar cuidadosamente' elle ,do a cabeça como quem levausas mais serias da vida

Não te fica

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F. CLOTILDE14 A DIVOnCTADA 115

bem quereres te intrometter com avida.

Ella tragou o calix mais amargo;

. freu longas noites o abandono immere a não ser o filho que a prendia á viddesejado morrer. Cahiam por terra toesperanças. Fôra horrivelmente caspela leviandade com que acceitára ummento sem amor. A's vezes o ciume mvalhe o marido a conquistar outra mdeixando-a já aborrecido, ávido deamores.

Mas não! ·Eram outros vicios quepolgavam e rara era a noite em que o slito alcoolisado não o denunciava.

EUa fugia delle n'um grande sentde repulsão e vinham-lhe impetos, acambaleando, o olhar allucinado, deo filho e voltar á casa paterna.

A Gloria vendo-a um dia chorar.

bordado em que trabalhava achegoue com a entonação affectuosa do teque a seduzia para o casamento disse-

c : E's uma louquinha, Nazareth, emfinares por teu marido.

Elle cansará depressa desta existe.ciosa e voltará arrependido: Distrae-

runhamento acabará por te adoe- .vir que tomas muito a serio ose te dá será muito difficil a sua re-

te tentadora citou mil exemplosque soffriam atrozes desgostosa e apparentavam felicidade em

é guardar as conveniencias ,-te de fazer o papel de victima,lagrimas e vamos passeiar.aer principio recusou-se; mas afi-

o marido comprehendesse quea ciumes delle e despresava-o,trações nos passeios, tornou-seurou atordoar os desgostos que; mas coitada I Ao voltar da-

'os onde seu prazer fôra sim-fic.ticio sentia-se mais desgraça-diante do berço do filho orava

grimas copiosas. Um mundoa esmagava. A epocha de suavinha-lhe ã memoria e sem

Iindo-a como uma lembrança. ~em do Chiquinho lhe surgiammando-a, exprobando-a pora a um juramento que os la-

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F. CLOTILDE16 A DIVORCIAbA 1 1 7

bios não tinham proferido, mas que o cohavia formulado. .

Uma especie de volupruosidada amarvadia-a no .seu soffrimento. As torturracsque experimentava alliavam-se melonge ás dores physicas do Chiquinhonorte, longe da patria entregue aos azasorte, soffrendo mil cncommodos emma inhospitaleiro que lhe envenenava ae lhe estragava o organismo. S , 3 U pai jâ :ter comprehendido o procedimento ido marido. Pedir-lhe-ia que interviés

de recriminal··o e ver se lhe acordavaos sentimentos de brio que pareciam acidos.

Uma manhã, depois do almoço, vesfoi á casa do pai. Encontrou-o á ler, anomia contristada parecendo a braç

algum desgosto. Falaram longameu:queixou-se de ser o grande culpadocidade que sobre ella pesava.

O Arthur tinha-o illudido completmas nem tudo estava perdido. EUe eto moço, podia voltar ao caminhoEUa que se revestisse de resignação.

A' noite procurou o genro no Clelle jogava sob palavra, chamou-o d

as graves inconveniencias de seu, falou-lhe com energia e ter-o que si elle não mudasse deurgado do seio da gente limpa e

com o maior despreso todas asaté ali lhe dispensavam amizade.uviu-o calado sem saber o quevergonhado na vilania de suaquando elle retirou-se, em veza e p-edir á esposa perdão paraes de seu proceder, tornou aouou a jogar com a fleugma e

que caracterisam o jogador

poucos dias o Arthur caminharante na senda do vicio e, semagir contra a força impetuosaava chegaria &0 ultimo degrao

Poucas horas demorava-se emda mulher com o rosto guar-de lagrimas mal contidas. o

o do filho banhado nas graçasâ'rimeiros dias de vida, fazia-

vam-lhe remorsos. Uma oé-ra almoçar não encontrou aVa a Gloria bordando silencio-d a que precedia á sala de jan-

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118 F. CLOTILDE A DlV()RCIADA 119

tar. O Arthur sentou-se-lhe aosobre as decepções que xoffrera ultimamno jogo. Um azar terrivel, disse elle, esem dinheiro, crivado de d ivi das e já vejzer-se em tomo de mim um vácuo no cir

dos amigos. A meu sogro nada pedire'minhas eco no mias foram-se todas; não qfavor es do governo e mesmo um E'mpregcondições em que m e acho só me trariares difficuldades. E' tal' de para sahir d

d açal em que me atirei.~E porque o primo não embarca p

norte t Lá depre ssa g an h aria uma fosem sugeitar-se a certas humilhações.

-Mas a Nazareth e me u filho ~-Ora, a Nazareth ! Tem o papai que

a deixará soffrer privações, e depois pvocê que ella se ntirá muito esta se paraçã

Ultimamente o supporta por honra dma. Como todas as moças avezadas ajulga-se com o direito de trazer o maricravisado aos seus menores caprichos eque elle se rebella envolve-o no despreso

profundo.O Arthur sentiu revoltar-se-Ihe a con

cia ante a linguagem da prima. Cahia acara que ella trouxera afivellada ao rosto

ezes, afim de illudir a bôa fé daapoderar-se inteiramente de suaendo agora a conducta que elIe.nselhava-o a que embarcasseulher e o filho e fosse levar a vidade quem tenta a fortuna por todosesmo os mais illicitos.que ella pagava a hospitalidade,

de que a prima incautamente lhe

nceiava por morde r' o seio que lheho.

da liberdade de outr'ora já lhepel de virt ao sa que estava repre-

th já não tinha por ella aquellaa que fazia consultal-a a todo otia-o desde o ultimo dia em queasseia r juntas e ella mostrara-lheo um ador ador frenetico de suaoltãra-se e fugira da cornpa-uito digna para enveredar no080 du adulterio, fechara os ou-fldas insinuações d á serpente.-a ao casamento; mas ao abys-

'a conjugal, nunca I1) filho a escudava, assim mesmo

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1 2 0 F. CLOTILDE 1 2 1DIVORCIADA

pequeno e Iragil, inconsciente no seu SOl

angelico, puro corno as emanações das bnas nas tardes de Maio. Ia agora trabalharvingar-se do despreso que experimentava

modos frios e reservados da Nazareth.Os vicios do Arthur facilitavam-lhe osjectos de vingança. Jamais tivera unimento sincero para com a prima. Esforç'para vél-a casada, conscia do ascendentesobre ella exercia: mas desde a 'primeilllcue sondara a bondade de su'alrna apodese de uma inveja horrorosa.

Muitas vezes zombára do Arthur, a

chamava ironicamente de marido modedono de casa inimitável.

Quero ver si o primo ha de ir até onesta vida concentrada e sedentaria de mciumento.

Um dia elle ha de cansar.Suas previsões realisaram-se, e .a Na

apezar de sua meiguice e dos encantonella seduziam logo á primeira vista foterida pelo jogo. Soifrendo com umade animo admirável aquelle despreso nucido a consolação unica que tinha era refse no amor do filho.

Oh l bem feliz a mulher que no meio d

a existencia trucidada por desen-m para amenisar-lhe as torturas

oíãoante de um filho innocente ! Sóm avaliar o bem que faz a carícia

a creaturinha innocente, aindalíto do mundo e candida como os~e esvoaçam, junto ao throno deconsiderar-se verdadeiramente des-11e11aque no supremo auge da dôra estreitar ao seio um corpinho ten-iêz lhe infiltra n'alma o balsamopara todos' os males da vida.

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~~~~~~~~~~~~~~~

~/V"'J'VVVVVVv:-~:,:~rVV·V\/V\A/V\.fV\

""êXil@X9 @X9 ••..$e x 9 <i J J@ " @.<9~19-@Xi)-e:19-

123DIVORCIADAb::============------

o.genro delle é freguez aqui da casa.dalle?! Omoço mostrou-se verda-admirado. Receiando perguntar

de agasalhar-se e lá em cima noespecíe de desfallecimento inva-IX

REINA. grande balburdia no Hotel do NChegou o vapor trazendo grande qu

dade de passageiros do Acre e alto-Purús,paroaras são recebidos pel0.absequioso protario com finezas e offerecimentos e rodepela multidão de ociosos que sempre ~e pmovimento á chegada dos vapores-vindosq uelles rios. .

Um vago cheiro de ma rezia evapora-sbagagens espalhadas em desordem. Um rde 2.J annos, moreno e forte, um tanto p

achega-se do dono do Hotel e depois desobre o quarto em que deve se aboletar eca do agasalho de uns cearenses que voldos seringaes adoentados precisando melcommodos, perguntou-lhe com um certo trná vbz :

~Conhece o Coronel Pedrosa ?

ntimento triste apoderou-se delle.ria pisara o torrão da patria!

havia dois annos.perdido nos flores-zonía, a braços com a rudeza de umm tregoas, exposto ás ínternperics,a maior coragem para conquistaruna. A s saudades e ultimamente o1 1e o assaltara não lhe permittirammais e com um saldo de cinco con-ra-se a voltar ao Ceará. Quantasndo os encommodos de sua vida de• mordido de piuns, cansado pelo lí-te vinham-lhe impetos de transpôrde e vir cahir nas praias alvejan-

luz, da gráciosa patria de Iracema!céo entristecido com os negroresão tinha o azulfestivo do bellissimodo Ceará, onde em noite" escurasrenas de esplendor inexcedivel eas ha toda a poesia. ineffavel, de

rbo.

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J2 4 125. CLOTILDE A DIVORCIADA

A imagem da filha do Coronel não o deie na distancia mais se retemperava o senfto affectuoso que lhe votara.

Conquistar um futuro para torn3.r-sadella, chegar ao torrão patrio enalte~idomerecimento de um trabalho honestoproporcionasse meios de subsistir semsado aos outros, era o ideial que tinha ema suprema aspiração de su'alma generosa.

A saude ameaçada por um beri-beri qu:modificado beneficamente na viagem afízéra-o voltar mais depressa sem ter con

do a fortuna que o tentava; mas era .suação, depois de leniti var as saudades e gosencantos da vida da família por algunsvoltar e atirar-se de novo ao trabalho. A

ples palavras que o dono do Hotel proferiresposta á sua pergunta tinha perturbadogria estonteante que sentira ao pisar na anossas praias. Mas que tolice a sua! Onel tinha tres filhas. Podia bem ser qdas mais velhas se houvesse casado e &

reth continuasse solteira aguardando oNão! Ella era a mais linda, a mais a

da. Tinha um iman poderoso na bonse evolava de sua pessoa e que lhe dena pureza de sentimentos como a esse

te. mesmo ocultas, embalsamamncias deliciosas.ho embalde procurou descansar

imas horas. Pouco enjoára nasentia um atordoamente na cabe-e tar que o privava de dormir. O

meia noite, quando um grandeevantar-se sobresaltado.

ão ao dinheiro que trazia amarrachou-o íntacto. Viu que algumasrmiam em quartos visinhos aosra-se inquirindo a causa d'aquelle

ativo e, por uma curiosidadeavel n'aquellas circumstancias,sas e desceu. Em um dos salões

gatina diversos homens procura-ois jogadores. que em um mo-se tinham aggredido violenta-e as maiores injurias.de pagar-me, seu tratante, osroubou!

que se trata r perguntou um su-ia interessado pelo restabeleci-em.andija que jogou sob palavra ear o documento.arei, e ladrão é quem faz pato-

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F. CLOTILDE26 A DIVORCIADA 127

ta para ganhar illicitamente o dinheiro-Bem, vou ter com o seu sogro e

eRpa1har nos jornaes, em publico, que

Arthur Pedr osa Guimarães é um misum patoteiro, uma creatura indigna d

em sociedade-Mas, Sr., dizia o homem, que

querer conciliar as cousas, entendam-segente limpa O Dr. Arthur assigna omento e está terminada a questão. Asdejogo são sagradas e a palavra de um hde bem vale dinheiro.

-A palavra de um homem de bevaler muito; mas a de um tratante nã

valor algum. O Dr. Arthur é a escojogadores. Progrediram os insultos. Erivel o cspectaculo que apresentavamles dois homens meio atordoados peloa se cobrirem de doéstos.

-Não assigno o documento, nãoeste papel sujo, berrava o Arthur. Si

dinheiro pagar-Ihc-ia osf'regando-c n-Então ha de ver amanhá o honiSr. Coronel Pedrosa, si não quizer verdo genro reduzido á ultima infamiaos 500$000 que me ficou a dever.

O Chiquinho ouviu tudo aquillo,

a influencia de um pesadelloroximou-se do homem que

a terminar a questão pergun-

o à genro do Coronel Pedrosa ?u-se com a mais nova e a mais

has delle.sco despertar O soalho fugiuChiquinho, faltou-lhe oxygenio

o heroico fêl-o voltar á razão.nce viu a existencia da Naza-da, trucidada a todo o momen-ria feito tão feliz! Comprehen-eonducta do Arthur já descon-mo entre aquelles jogadores,soffrendo epithetos injuriosos,r com altivez a divida que C011-

m minuto horrivel destes quetomar' uma resolução de quees a desgraça.ou a ventura da

:e sondou a extensão do abys-atirara inconsciente, levadacasar-se, e um sentimento

mou-o.

9

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128

129F. CLOTILDE

A DIVORCIADA.====~::::=

de jogo. Pobre Nazareth! Fôra .".nho o destino que a fizéra escolhernheíro de sua existencia um ho -

di.ções do Arthur.

at'via o pergaminho que o salien-o cobria de vilipendios, depre-tremedal do vicio ~quasi arrependido de ter vindo dor desfeito o bellismo sonho de sua:va apenas concluir negocias im-e o detinham na capital para irmãe e receber na benção arnoro-via entornar-lhe na fronte o con-

itivo para as des illusõ es que lheacoragem.

Approximou-se do Arthur cabisbaixda tremulo de colera, chamou-o á pa

,vando-o para umajanella que se abriado passeio, por onde entrava uma ra í

do vento da meia noite com um ch ~d't el1'

e pi angas e resedas e disse-lhe.-Si o Dr. quizer eu posso arranjar

500$000 para satisfazer o seu compromTalvezque oArthuraindatranstorna

lucta que sustentára não tivesse conhseu generoso protector, talvez que codo-o uns restos de dignidade o tivesse

bido de acceitar o seu offerecimento .,tão publico oinsulto e havia tantas amemaior publicidade, que elle agarrouauxilio que lhe cahia do céo e, sem. perguntar o nome do moço, apoderocedula de 500$000 dizendo: - O amicurar-me-à para ser embolsado do SC '1l .

ro ; eis aqui o meu cartão.O Chiquinho contemplou o pedaci

papel em que se lia em bonitos cal '

Bacharel Arthur Pedrosa Guimarães.amarrotou-o com um gesto de desatirou-o pela janella á fóra. Causava-lo procedimento d'aquelle homemmomentos depois via-o já sereno, se

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A DIVORCIADA 131

xx

áz vindo do norte apresentan-ta generosidade no momentoo Arthur ia ser talvez corrido

ub não podia ser senão o 'Chi-ação della adivinhava-o e con-ergonha.11ea encontrasse feliz, rodeadas fõra bem cruel o seu fadario !ornára-se um jogador insacia-e revolver no vicio não hesi-maiores baixesas.500$000 provava-o exuberan-

DE,vAGARINHO para não assustar oque está adoentado ha tres dia

zareth entra na alcova e senta-se junlett.

Lagrimas silenciosas deslizam-se-Ias faces empallideciclas pelas insomtiriuas, pelo soffrimento que a tornadeiramente desgraçada.

Um novo pezar lhe accentúa ase a graciosa bocca que outr'ora dealegres sorrisos tem a expressão dafunda magoa.

Soube ha poucas horas pela prisuccedêra ao marido no Hotel. Elllhe o occorrido com todas as particuparecendo deleitar-se em que ellaaté que ponto de degradação chegárido.

e com todas as forças para nãofamias que elle fazia recair 90-

resolução e, já fortalecidaos sentimentos. que a guiavam,gavetas do toilette e della ti-estojo de velludo carmezim.peram de dentro scintillações. Era um riquissimo adere-S com que o pai a presenteá.u casamentodelle para pagar a divida

500$000 não lhe sahiam da

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i32A DIVOI\C1ADA 133

F. CLOTILDE

da prima. Tinha desejos de vol-bril de peccadora.ça do tio e das prinias insplrávà-

o

ortificação. Não tinha pela mãeapaz de dedicação e pouco lheusar-lhe um desgosto.

~ pensamento de suggerir ao Ar-de embarcar para o norte e deanhia delle aventurar-se na es-sua belleza que agora esplendia

o dos 25 annos. As cousas nãoinuar n'aquelle pé. O lar do pri.

re um volcão e a Nazareth lealo era não se sujeitaria por muitoinfame arrastada pelo marido.daçaria aquelle grilhão que ain-por causa do filho. O nome dova dcsconceituado publicamen-O do Hotel fôra grandomente. 'O Coronel já não ia á casa delle

lindo-se indignado pela sua con:e .

vez que lhe podéra Ialar frenteselhara-o vivamente a que em-

a o norte.

envergonhado, eu que semprefronte erguida. O Sr. atira todos

Sentia-se humilhada diante do Chi

1 1. . d qu

e e vingara-se o esquecimento emenvol.vêra e devia estar plenamente

feito.Nada diria. Ultimamente escondia

os menores desgostos, porque sentia-o do e as suas revelações apressariam o desfatal.

Chamou a ama do menino e vest:com muita simplicidade disse que iaumas compras, recorurnendou-lhe a cr

com muita insistencia e sahiu.A Gloria mordeu 0'3 beiços despeA prima emancipára-se de sua tutcll

Já sahia e entrava sem ligar-lhe aimportancia. Via-a enxugar as lagrimasdo ella entrava furtivamente no quarttava que elIa já a supportava por mércadeza e o odio ia lançando raizes 11

coração, onde nunca tinham germina

não mãos instincLos.O proprio Arthur a informára d

do Hotel e, depois de inJagações sobrpaz, chegara a saber definitivamente qo Chiquinho.

Que terrivel coinciuencia !Já estava cansada de viver sob

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134 F. CLOTILDE A DIVORCIADA 135

os dias lama ao meu nome impolluto.mulher soffre-o por dignidade e eu sintum dia não poderei conter-me e o esc

será maior. Cumpre, portanto, evital-oEstava, pois, definitivamente assenproxima partida do Arthur.

O sogro recommendal-o-ia a amigotinha em Manáos, facilitar-lhe-ia todoscursos para que fizesse uma viagem de

A filha volveria ao tecto paterno,acolhida com todos os mimos e cuidadse dispensam as almas martyrisadas inmente. Si o Arthur comprehendendogror de seu procedimento trabalhasseregenerar-se seria de novo recebido cbraços abertos. Pobre Coronel! A deda filha abalára-lhe fortemente a sauesperança que lhe sorria mais proximdo tumulo.

Em certas oocasíões revestia-se de co

e quando o netinho lhe sorria incons .gentil estendendo os bracinhos como padír-lhe protecção, desejava viver muito aamparar aquelle ente fragil.

Fóra cruelmente punido no seupela filha ! .

Achava que um principe se honraria

êra o sobrinho a quem prognos-ro lisongeiro para que a vissemorrer tranquillo; mas Deus

mal o rapaz que ousára con--to a belleza da Nazareth, deixan-por ella e expulsára-o como um! Agora cllc voltara a tempo0:11 um rasgo de genero,idadee oorrompido que em poucosuma fortuna.

eía se revelara fazendo-o beberdo desengano. Urgia debellarr partido a seguir era fazer comse para longe buscar a reha-

balho a que até ali se eximirade um dia para outro o em-r da abastança domestica e doía.

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1 37DIYORCIADA!k===========------

avenidas frescas rescendentesrese Iás em flor. A Nazarethum sophá tremula, nerVOS8-,a

1agrill1as que vinham do âmago doXXI seja a Sr." ? perguntou-lhe o Chí-

rmado pelo criado de que ella o

DAvAM6 horas no relogio da Sé.O Chiquinho tendo acabado de j

saboreára uma pequenína chicara do delicafé-a melhor sobremesa-e muito pref

aos doces e bons bocados e preparava-seir dar, umas voltas no passeio.

A noite promettia ser linda. Estrellapareciam aqui e ali no caris do firmamSoprava o brando zephiro agitando hastbertas de flores e o velho mar a soluçar.mente embalava os ouvidos na rude

das ondas; Uma senhora com o rosto oem um véo cõr de li láz com pontinhos b

entrou em um dos salões latteraes do H

faiou baixinho ao creado. Este achegouChíquinho e chamou-a á parte.

Os salões áquella hora estavam. dSahiam os freguezes para fazer a dIgas

&lavra.d'aquella "óz fez o rapaz estreme-do-se ao braço do sophá agitadomoção subita.u o véo e um semblante bellissi-do pelo vestígio da dor [1ppareceu,o embaraço. visível da moça.

iora ' E não encontrava palavras ,olhos, como si elle fosse cul-m ella, ou como sí não. lhe assísdireito de olhal-a de frente.u a carteirinha que guardara no

m er tirou a importancia de 500$000dizendo:t u i r - I h e os t l O O $ O O O que empres-rido hontem e agradecer-lhe a

intervenção, pedindo-lhe ao mes-culpa.ho olhou o dinheiro com o mes-

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138 F. CLOTILDE

A DIVQRCIADA 139

di"se-lhemo gesto de asco com que olhára o caesteve um momento calado. Depois Ilni

do-se de subito, tendo acordado nelle f

te a dignidade que já estivera prestescal' aos pés por causa daquella creatura ,lhe:

-Eu não tenho negocios com a Sr.1marido é que deve entender se commigotituir-me o dinheiro que lhe emprestei.

-Mas, Sr., eu lhe peço receba este dievitando assim algum desgosto,

O Chiquinho contemplou aquella mulh

amava tanto tremula e quasi lacrimosarendo resgatar uma divida que os desvarímarido tinham contrahido. Estava alli,salão de Hotel, que de uma hora para outdia ser invadido até pelos proprios jogadcumpria terminar aquella entrevista ppara ambos,

Vinham aos labios do Chiquinho paem borbotão para recriminar a Nazaretsua instancia; porém elle as comprimia,tando-se a suspirar e fital-a c impungídvantára a cabeça, seus olhos se encontraos della traduziram tão eloquentemente aria de muitas lagrimas, o poema secretores tão lancinantes, que elle compadeceu

m, minha senhora, acceito o di-nto-a porque é verdadeiramente

represadas desceram, e sob oindiscreto que mal encobria a

ea do dolorido semblante. viu-asfulgirem como pérolas. EUe quera de longe ávido por ver a mu-pertencia a oútro, elle _que cur-vehementes no exilio, nas estra-

dos seringaes, sôb a treva do céo

noites de escuro, ou na correntealosos em fragil canôa, vendo a-se sobre elle da bocca escanca-bio ou do seio dos pantanos pes-uejou diante d'aquellas lagrimas.mão gelada que ella apenas to-os tremulos e entrou desorien-

0, emquanto ella se afastava li-sonho que se evapora.

os salões se encheram. A . musicaava variações soberbas, ouvia-passos. o alegre zunzun dos pra-nsões da mocidade festivao lá em cima no quarto ainda es-

_ .....& _ ~~P.L. P.L. . r: , _-RL RJ..-

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1~O F. CLOTILDE

curo julgou-se mais desgraçado do qUI) 1 1 , :

meira vez que dormira no barracão 1 0

patria milhares de legoas, perseguido) pelrão dos piuns, sem poder conciliar o s

tendo pesadellos horriveis. .Atirou-se á cama mesmo vestido eque tinha febre Era o sangue que se revonára , abalando-lhe todo o organismo

Não poude dormir e ás 11 horas dessalão onde jogavam.

Bebeu um calix de cngna " a~celldéU uruto e, sentado junto a janella, acompai,jogo n'aquella noite bem animado. invejafleugma d'aquella gente que perdia talnheiro, sem que um só musculo do ronotasse a mais leve alteração,

I"\J\..~AA"\.f\.j"\A'\/"\A\.J\.A'\/'\.fV\.f"V"\J"\./\./'VV"A

AAAAAAAJ\.A~AAAAAAAAAA/'\AAAAA~

~~:;:;':s~eC"C:(§=w(9@i§@i§@X9@(§ex9@X9

XXII"

voltou do Hotel cansada, sob aortissima dos nervos que haviamél abalo, a Nazareth mudou ásupa e recomeçou a sua tarefa de

Q filho.dera um pouco; a creança dor-ella mais tranquilla com relaçãoo pequenito sentára-se na chaíse

de descansar um pouco das emo-ntadas. Parecia que estivera a so-a pouco tempo de sua visita novisto mesmo o Chiquinho ~ Sim,

bello e mais sympathico do quepela ultima vez. Sempre bom era o marido do vexame em que seinfames co mpromissos de jogo, edo não via a humilhação que

ida pelo nobre rapaz.

142 F. CLOTILDE

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A DIVORCIADA 145

Como se podia descer tão depress, ada abjecção ~! Ella já não acre litava naneração do Arthur. Via o sangue frioelle arrostava o clamor da opinião publo recriminava acremente, admirava o c

. com que elle ria dos conceitos odiososcontra seu nome. . .

E aquelle homem tão moço e já tãocido no vicio era o pai de seu filho! !

O que fazer para recondusil-o ao cabem?

Palavras nada produziam, lagrimveriam para exasperal-o. Pelizmente o

va ali bem perto de braços aberto') pbel-a, prompto a indomnisal-a dos soff~que lhe trouxera o tal casamento vistosôb um prisma tão lisongeiro. Mas, qse enganaria n'aquellas condições?. Quem supporia um moço como o Araz de rebaixar-se tanto ~

Tinha pena d'elle, A lama em quedára ennodoava-Ihe tambem a pureza

recahia até sobre r.s arrninhos do berrepousava o filhinho ído'atrado :\Iel'!~profunda m editação roi arrancada. ( f ,

suas scismas pelos passos do maridtrava.

a um semblante alegre, o olhar es-impido. Acercou-se do berço, beijoudo filho, tão rosea por entre a cam-

~misinha e sentou-se junto da mu- • • •

tens, filha ~ perguntou-lhe dando á

flexão amorosa e misturada de com-oravas ~encontrou palavras para respon-ção do marido, e apenas uma Ia-

loquente do que as outras correu-o da face esmaecídae te tenho causado afflíções , minha

e queres?em é sujeito ao erro e aquelle que10caminho sinuoso do vicio diffi-orna a estrada limpa do bem; mastá perdido. Vim hoje ter comtigoajudes a sair de um máo passoe seriamente compromettido e não-rne do Ceará sem liquidar minhaso ,

'das de jogo!de dois annos elle tinha desba-

nito capital, tinha estragado quasiexpondo aos azares da banca mal-

t O

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1 4 6 F. CLOTILDEA DIVORCIADA

dita do baccarat e do voltareteunico filho.

Esperando sempre uma bôa collo«mamente já não pedia favores ao govquem o sogro fazia opposição e viviapara o vicio a que se abraçara com verdelirio.

Ah! ojogo, quantas famílias temá miséria, quantas lagrimas tem arranesposas e ás mães! .

A Nazareth conservou-se um Instada, depois enxugando u~a nova la?ri

víéra perolar-lhe a face, disse ao marld~Que queres que eu faça para te hm áo pnsso em que te achas, meu pothur ~ Commovida ante o ar melancoeÚeapresentava-fêz-se terna, quiz salum excesso de bondade, disposta ao ssublime no seu papel de victima resmisericordiosa. .

EUe contou-lhe os prejuísos que tiultimas noites, pintou-lhe com as 111.

sas cõres as alternativas ela vida de J

seducção terrível do vicio sobre as'. II afracas e terminou pedindo- re :-e~brilhantes para empenhal-o e aSSImde credores impertinentes

dirigir-se ao sogro que ultima-elle mostrando-lhe o mais pro-. A tranquillidade do lar estava,

s della Havia de encontrar oas joias e então elever-lhe-iasalvação.a misera responder?

dasflzéra-se do adereço para pa-. so mais serio do marido. Ti-, mas de que lhe serviria va-

A a questão do marido eram osreduziriam mil vezes mais e

nele facilidade de serem vendi-das?hesitar sentiu se contrariado eque recebeu encheu-se de raiva.chaves do toilette, abriu ner-a em que ella gu-rrdava oes-

revirou-a, ernquanto ella chora-te e nada encontrando exaspe-

-se dolla com um gesto brutalóraató ali, nem mesmo quan-ida e sacudiu-a dizendo:

dar o adereço ainda mesmo con.é.

genio da Nazareth revoltou-se

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. .

148 F. CLOTILDE A DIVOR.CIADA====~=

e levantando-se já sem lagrimas erecta.berba nos assamos da dignidade que nãoxava praticar uma vilania, nem mesmo

ohar-se com uma mentira respondeu:-Eu não posso dár-lhe o adereçohontem empenhei-o para pagar a dividibaixa que o Sr. contrahiu no Hotel do

Um relampago que lhe tivesse deslude repente a vista não o teria assustado t

Comprehendeu que a mulher sabilembrou-se do passado, e um pensamenme surgiu-lhe no cerebro desvairado.

Que pressa tivéra ella de pagar osdo rapaz! Tinha então falado com ellea informára tão bem do occorrido t Cteza haviam falado a respeito de suafamante I O adio cegou-o, e hallucinagido pelo demonio que lhe soprava ado palavras de vingança deixou aquasi desmaiada, nem ouviu os va

filho que acordára assustado com oseus' passos e sahiu pela rua á fora c

louco.Subtilrnente a Gloria penetrou

e abalando a prima ainda entorpeci

lhe de chofre:-Vai salvar teu marido da desgr

e com a tua leviandade. Nazarethyictima de um pesadello e abrindoarrecida, sahiu desorientada, tro-

()-tapete, como se estivesse sob a.:de um somnarnbulismo estranho.ve um sorriso mephistophelico .olhos scintillaram e fechando ~em seguimento da prima sabere-temão os deleites ambrosiacos da

I •

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XXIII

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A DIVORCIADA 1 51

ornem está louco ou tem a razãopelo alcool, disse afinal.r a bebado ha pouca distancia

ratava sem o menor vislumbre detuna da familia não teria certa-tle entregar-se ao hediondo vicioez.njectados, os labios crispados emos, o gesto de furor, a vóz "roucado nelle indicava uma paixãoplodira furiosa ameaçando chc-

() extremo O Chiquinho tinha co,

am aquellis bravatas que o fa-as lembrava-se que tinha dian.do da mulher que,ainda na vesa expressão mais viva da dôr

mblante, da mulher que viéraa resgatar a divida do marido,hida para dar expansão ao vicioelle amára tanto tque amav;reprimisse o sentimento no

o .e, a imagem tantos dias, tantaseeo estrellado a bordo, ou ema terra do exílio, jamais dei.ella. P~voáva aquella imagemda, quasí sem abrigo tendo ape-

OARTHUR no desvario da coloraaconselhava a vingar-se no pobr

da desfeita que a mulher acabava de tarecusando o adereço, entrou treslmente no salão do Hotel e vendo o Chique acabava de justar suas contas, disir ernbóra na madrugada seguinte i

sobre elle insultando-o, cobrindo-o de

tOS injuriosos.-Cobarde ! Especulador! bradava e

dendo todo o sentimento de delicadeconservando O menor gesto de homem

mado á pratica da bôa sociedade. II .A turosidade era um calculo infame. Eutudo o que se passou e não consentiteus intentos se realisem.

O Chiquinho estupefacto nem soub

cipio o que responder.

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A DIVORCIADA 153~ = = = = = = = = = = = = = - - - - - - - - - -

nas o companheiro que, exhausto pelolho e com o coração livre tratava de entse ao descanço.

Vagando na íragil canôa sobre a cocaudalosa dos rios gigantescos sentia na

que encrespava a superficie das águas umulo de esperança e toma va-a por mende um protesto de amor e fidelidade vi

tt\fl'a do berço onde ella pensava igunelle e implorava a Deus por SU3. felie

Desilludira-se ante a realidade crumatara .de um só golpe todas as aspí

de su'alma. Nos primeiros momentos tse de odio por ella; mas sabendo-acompadecêra-se de seu infortunio e I a

va-a.A fatalidade collocava-o em frente d

e este, desvairado atrevia-se a insultaltuitamente como si elle fosse um farro.qualquer sem direito á menor attenção.

Si elle o tivesse aggrcdido reservad

el-o-ia desprezado como a um louco;aggressão tivêra por testemunhas. upessoas, e elle seria um miseravel SI ase calado.

Havia de degradar-se

[lludira e nem lhe déra a menor pro,zade durante a ausencia ?a cobardia, e elle jamais fugira do

seguiu-se o tem peste ar da colerauma desforra immediata.ma destresa de quc ninguem á pri-

o julgaria capaz, agarrou o insul-punho e disse-lhe:vai retratar-se do que disse e reti-ltos que me dirigiu, senão eu esbo-

quiz intervir; porem a maiorspectadores era a favor do Chiqui-. vamesmo que elle désse uma li-Vidobacharel, a quem ainda na ves-

tão magnanimamente de um apu-o emprestando-lhe avultada som-

maldizente, verdadeii (I parasitae falar dos outros e á custa dos

~ou logo um mysterio n'aquellerene que bem podia ser motivado

que é bem bonita a.mulher do DI'.urou baixinho, e . .. quem sabe f

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155DIVORCIADA154 F. CLOTILDE

e trazia no bolso feriu-o de umMas o quer que fosse de estranho o

o a não terminar a phraseA Nazareth entrava no salão do Cl

desvario de uma afflição terrivel e aopecto fez-se um silencio imponente.A mão que o Chiquinho erguêra par

fetear o atrevido bacha rei cahiu inerte.Os espectadores mal respiravam,un

padecidos d'aquella mulher tão jovema quem o marido dava tão crueis deoutros desejosos de que o escandalo roos diques da conveniencia.

Ella, a pobre moça, mal podia cborbotão de pranto que lhe corria aodo rosto vendo o marido pr-estes a saffronta mais cruel que um homem pofrer de outro: ser esbofeteado em pu

Ficou extatica sem dar um passo,zer um gesto. Apenas a eloquencia damas, o poder imperioso da formosuralada pelo soffrirnento indicavam que eU

Talvez que nem a visse o Arthur craiva, ebrio de furor.

Aproveitando o momento em quetentes d'aquella triste scena se distrahia entrada da Nazareth atirou-se de nobre o seu antagonista, e sacando o

vacillou, quiz falar; mas a voze na garganta. A perda de san-

ou-lhe vertigem e cahiu, emquan-sahia precipitamento, sem queasse em detel-o, tão grande fôrarapido o ataque.a acudir o Chiquinho; mas um80 repercutiu nos ambitos do sa-I"eth. debatia-se em um violentol'VOS e jazia semi-morta esten-o.foi enorme. Soaram os apitos,s no encalço do fugitivo, e em,& - o medico, trataram os quedo mais interesses de reanimar. as.

ar o Coronel.a escrevia elle as cartas maisigo de Manáos recomrnendan-

lido e tremulo ao Hotel, t~ ven-filha, a quem o ether fazia re-pouco os sentidos julgou-se

,d~ e infeliz que desejou nãotuída ávida.

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15B

157F. CLOTILDE

A DIVORCIADA

nos braços apertando-o bem

ração.xo d'aquella tepidez suave comosentiu-se reanimar.

epetidas vezes o rostinho angelicoe depois dirigiu-se ao quarto da

Sim! A motre era preferivel á umtencia tão atormentada como a que ell atava, ligada á uma creatura sem dec·

a

. fi devi d arO im evra ser esastroso, si não eno caminho do dever regenerando-se dsado envilecido. Grossas lagrimas corrlongo das faces do venerando Coronelnem pensava em contêl- as, nem seconstrangido diante d'aquella gente pverdadeira dôr impôe sempre respe'ito.

Afinal a Nazareth abriu os olhos ese despertasse de um forte ·pesadello·rou-se ao pai n'um gesto febril desa

soluços.-Quero sahir d'aqui,

para fóra.Quero respirar!N'este tempo o

o ~xame feito no feril1lento do Chideclarava ser grave o estado delle

era preciso levarem-no á Santa Casa,via mais facilidade de fazer-se um

em regra. .O Coronel tendo acompanhado á

filha que fôralevada cuidadosamentecadeira mandou ver o netinho e um

-a . por muito tempo, bateu á portamguern respondeu. Aquella hora

ia ido ~

• •

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I I

159DIVORcrADA

XXIV

m seu cérebro desvairado umao pungia: a desolação de sua po-e o esperava tão alegre,· anciosa-o nos braços! Como prevenil-a

licidade? Devia levar-lhe a tristelegramma no seu terrivellaconis~

ESTARA' d isperto f .

Ainda atordoado, parecendo ca influencia de um máo sonho, o Chi

.ern uma enfermaria reservada, para orecommendado pelo medico nem pocoordenar as ideias.

Na vespera telegraphára para a famivenindo-u de que no dia seguinte ida;çal-a e a fatalidade fizera delle umaA Nazareth lhe era funesta! Por cauamor que clle recalcára no intimocom o maior heroismo, estava so erorosas dôres! Mas ... que culpa tinbresinha t Não era igualmente um aNão soífria o maior supplicio que umapode experimentar neste mundo-a~queneia de um casamento desastrad

No meio dos pensamentos sem ne

não podia ficar assim sem explí-

'tiemora. Ia pedir que escrevessem,do o ~ue se tinha passado; masu pai sob um pretexto qualquer.na revolução que haveria eme tudo era alvoroço e festa, não

o pranto. Fazia-lhe mal qualquerrte, pois o medico reoommendá-

as para que ligar tanto interesselias condições?ncarregada da enfermaria veiuedio e com a delicadeza que temca~idade agei~ou-lhe a cabeça.sserro, passou-lhe a mão pela

Id a e recommendou-lhe que des-

o podésse fazer I O somno éara os que soffrcm; mas a Ira-tão rehelde que Em vão procu-

para esquecer.

A DIVORCIADA 161

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160 F. CLOTILDE

leito, e mais baixo, como si qui-inguem a ouvisse disse-lhe:ima da N azareth, e vim a pedido

Era a hora da visita. Uma mulherjpyem,. envolta em um vro negro e osentrou na enfermaria e acompanhada dmoça que auxiliava a irmã nos seus mi

de caridade approximou-se da cama do

quinho.Este sentiu o coração bater com ma'

ça e lançou um olhar curioso sobre a rvinda que erguêra o véo. Era a primeique via aquelle rosto levemente morenofulgiam dois olhos negros a despchispas de l ú z .

Achou bem graciosa aquelJa moça eo frescôr da idade, elegante, a desprensi esta graça irresistivel que denuncialher da moda e lembrou-se da Nazareth,

Que lhe quereria aquella jovem?o conhecia? Que interesse podia ligar ado em que elle se achava?

-Como vai? lhe perguntúu ella, estdo-lhe a mãosinha aristocratica, bet

veias azues e tresandando de leveá

ede rosas.

-Melhor, reslJ{)lHlcu clle, muitoobrigado! Apenas a fraqueza me enc

ainda bastante.Então ella desembaraçadamente se

não poude dizer mais nada o Chi-meio de seu soffrimento a lembran-alecia-o! Não o esquecêra de todo!generosa para com elle. Sabendo-oesposo tresloucado que lhe inflin-rigorosas torturas mandava aqu.il-

ns eira informar-se das condiçõesava.

mentia descaradamente, pois sa-

a da prima desde a vespera ; mas.. 'a impellia fazendo aquella visita

mguagem melliflua de actriz comludir os mais espertos descreveuvida intima da Nazareth, o arre-que ella sentia de haver casado,~ue soffria por ver o marido jo:

~Iadamente atirando todos os re-ilia na voragem do vicio e ter-

ndo-Iho que para satisfazer a divi.que o marido contrahira para

1 1

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162 F. CLOTILDE1 6 : : \DIvnRC1ADA

com elle empenhãra .o adereço de brila melhor joia que possuia.

O Chiquinho ouviu-a falar sem ba

uma palavra e quando ella ia retir::tr-se

do pelo encanto que a envolvia e que eá confiança ao primeiro lance de vistalhe o obsequio de receber os ~OO$Odesempenhar o adereço._ -Espero que a Sr.· ha de arranjmuito bem. Será o maior obsequio queprestar-me e eu jamais o esqu erei.

Guardara o dinheiro em uma cartelestava sôb o travesseiro, abriu-a com

esforço e entregou á Gk ria a quantiacebêra na antevespera das propriasNazareth.

Poderia acaso desconfiar d'aqucllara adoravel, de voz tão blandiciosa, paa Nazarcth não tinha segredos?

Satisfeito por ter tido uma prova pde que ella não o odiava e antes ligresse á sua saude conservou- c caltardou a a-lormecer.

O somno fêz-lhe um bem enorme, eo medico veiu vêl-o encontrou-o nassongeiras condições.

u repetir o remedio.e que, alem do medicamentoinfluira poderosamente para a~rapáz.

A D!VOnCIAD \. 1 6 5

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xxv

mostram-se prasenteiras e prepa-etes de flores para desfolhar á suaUns fremitos de alegria sacodem os'ncel'os d'aquella gente que não sa-umprimentos em phrases rebusca-ue revela o sentimento d'alma nadas faces, na expressão dos olhosalviçareira dos sorrisos.vêz o Chiquinho casa mesmo, diza, a filha do carpina que era umaaentes do rapaz.. Dizem que os seringaes são mui-~ara quem vai sosinho a vida ainda

OUVE-SE o apito do trem.Na casa do Chiquinho

alvoroço.A Loló radiante de alegria dá um

della ao espelho e collocando nos nebellos um boião de rosa branca chamaos irmãos para irem á estação.

A mãe não sabe o que faça para qmoço seja o melhor possivel. .

Vai da cassarola de gallinha feita dpardo á frigideira do lombo appetitoos ovos para a omelette, limpa o palit .rcita os guardanapos, verifica si está

ordem e ainda lhe sobra tem po parperta da rua.A visin hança está igualmentl' al

Todos querem bem ao rapáz e deseçal-o depois de tão longa ausencia.

?A namorada do Chiquinho, aquel-[U a da cidade casou.um que cara vai ficar o Chiqui-em si elle casasse com ella emm anuo ficava viuvo.orno tarda o trem i dizia uma outra.Mariquinhas já foi para a estaçãodo correio.

um silvo mais approximado, eentos o fumo da machina turboute nitidez do ar.dos meninos de taboleiro resoou.é I O leite! O cuscú~! A aguar-

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dente da bôa! As cegas, á cuja frenSr.' Agueda, levantaram-se, o galpãdeserto e o rumor que se agita sechegada dos trens se fez ouvir n'um cdo espantoso .

Nada de Chiquinho !

Não veiu ! Não veiu! dizia apontada.

-E' possivel ?! E o velho percorcarros indagando, já afflicto, .pensantivesse acontecido alguma causa ao fil

Elle ha de telegrapha r. Teria pe

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A DIVORCIADA

167

tos nas càssarolas, pois ningueme almoçar com aquelle desanimoã uma decepção.

egramma! Até que emfim !, nervosa a Loló apoderou-se doue lhe entregára o agulheirr easgar o envolucro.ta acontecido, meu Deus ~ Parahiquinho meu pai ~explodiram.

untas se fizeram; a visinhançaos que esperavam fartar-se no

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A DIVORCIADA=======

169

a Pa-

XXVI

thur abraçou-a n'um transporte de

. Aqucllas duas almas torpes estavam:eiam de hora em diante trabalhar jun-sua felicidade culpada.te 1hes acenava com a perspectivaauferidos á custa das maiores infa-

A GLORIA atravessou ligeiramenten'aquelle andarzinho faceiro co

corria ás aventuras no Rio de Janeiroo véo descido, como quem deseja não snhecida,dirigiti-se a uma casinha retirOiteiro, por traz do Collegio das educan

N'ella morava um sapateiro compadmãe da Gloria e que lhe era muito dee fô ra ali abrigar-se o Arthur, até povrar-se da enrascada em que se enferindo o rapaz.

Afflicto para sahir da Capital. ondemomento para outro podia ser desccombinára com a Gloria ir esta visitente á Santa Casa e arranjar as comodo que os taes 500$000 voltassem ásO estratagema tivéra bom resultado.

A Gloria entrou resplandecente

estava em poder embarcar disfar-de modo a não serem conhecidos.'ateiro prometteu arranjar as passa-ha um amigo que/morava na praia ee se encarregar desses negócios, me-

bôa esportula.casa delle foram o Arthur c a Glo-dia seguinte; elle com uma simplesperario e ellasingelamente vestida,uma costureira despreoccupada e

maram passagem no' vapor "Espi-

- a ao vel-os tão junto.'! sempre en-versas mysteriosas que eram dois

reand o os dulçores da lua de melnte nenhum conhecido mais perspi-ívinhar que sob aquelle trajo gros-avaso um bacharel que deixára

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170

desmoralisa-

F. CLOTILD~A DIVORCIADA 171

fSi==========:::~~====

nome na Academia e ainda ha poucoflanàva nos Clubs perdendo sommas f

sas tentado pelo demonio do jogo.

A Gloria, para chegar ao fim a quepunha, persuadira ao Arthur que anão o amava e mais de uma vez lhe conra ter-se arrependido do casamento qutrahira, somente para tomar uma desforausencia do namorado, a quem jamaiscêra.

Calumniava a prima com o maior sfrio, com aquella indifferença que tintr'ora para saquear as bolsas dos rapasentimento polluidos.

O Arthur c••nsiderava a mulher captodas as deslealdades e felicita vá-seferido o antigo rival, pondo-o ao menalgum tempo Ióra de combate.

Fazer da Gloria sua amante era umfeerico; mas associar- se aos provent

ella podia auferir na indecente especulsua belleza era mil vezes mais agrada

Incapaz de comprehender a bellezada esposa, passada a embriaguez sros mezes de casado, ahandonára·a comente pelo jogo e em seguida, preso cmais em solidas correntes, subme

the mal soffrer aquelle despreso bemver fecharem-se á sua passagem asse lhe. franqueavam e sobretudo arecursos que não lhe permittia sa-aixão devoradora causava-lhe des-loucura.heiro a todo otranse era o seu ideial.er nas condições da Gloria, cheiaõe s e de defeitos, convinha-lhete. Assim pactua- am de corpo e

juntos. . _jogavam. O Arthur arriscou al-iro é ganhou. Isto era um bom aus-lle que ia entregar-se d'ali em di-sorte de aventuras. A Gloria quizá sombra até chegarem ao Pará.'

vin?a expô r-se assim tão depres-~lOS da rapaziada de bordo. Fi-rmentada do epílogo de suasturas e a cama do Hospital onde

. 'noites de febre em vigilias de-ão lhe sahia da imaginação.

80 saber marcar bem o alvo paratrabalho.tomou amizade com um dono de

A DIVORCIADA 173

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172 F. CLOTILDE

Identes até Canutama, onde se demo-guns dias.rthul' voltando para o hotel deu comete em que a prima explicava-lhe a

terminava dizendo:brei o meu compromisso; mas comodos não se beijam trata de procurarsob a protecção da dama de ouros,u aventurar-me nas campanhas doso amor.eravel! bradou o Arthur amarrotan-ete. Mas; afinal de contas aquellaa podia ser-me fatal, e assim foi me-

:batido a linda plumagem!

seringal que ia ao Alto-Purús levando almiseros cearenses suggestionados pormessas deslumbradoras e a quem encant

os bellos olhos da Gloria velados pelaseductora modestia.

Saltaram juntos no Pará. O amasollis

vou-os a um bom hotel, pagou a demostrou-se generoso e, vendo o fracoArthur tinha para o jogo, favoreceu-o em

tand o-lhe dinheiro.A Gloria fez-se garrida, e vendo que

jeito estava enfeitiçado, pôz em campo amanobras com as quaes contava sempreria.

O Arthur com a febre de jogo tornum trambôlho e, corno o amazonista el'apagão sacudido, e indinheirado parenão ter em muita conta os contos de reitando-se de desfructar a vida, uma bellem que o Arthur jognva arriscando I

que lhe déra' o amigo, a Gloria fugiu 00e no outro dia, no vapor da casa fornra, singravam ambos as aguas do rio.Enlevados nas promessas que se t< l1a

ao outro de se queft~rem muito e de clogo que chegassem ao ponto terminalgem, proseguiram em agradavel tra

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~~H~~nH'~"~~~tHH~H~~H~~J}HtH}

~ r@ @ @OO ~~> @ ~T1fffftttt1t1~~f'U~ff'Uf.t1~f.'f~·U1~'fUí'f

pultura. Desde a fatal noite em queexhibira tão desastradamente nootel, trouxera a filha para sua casadella com o mais affectuoso des-

XXVII s tambem tinham sido incansaveis1 1 pobre moça de attenções e cui-

ta de muito extremo consegui-voltasse d'aquelle desanimo quepolgal-a.ais o Coronel pronunciara o nomehavia posto a irmã em campo pararadeiro ela Gloria; mas tinham

todas as investigações.-se diariamente elo estado donal tivéra a satisfação ele saberem convalescença, fôra paraque arranjara uma engenhosaexplicar a aggressão de que Iôrado inteiramente a coberto a re-azareth.

vem-se 3 mezes que o Arthur em-

o mais leve indicio havia sidoroteiro que seguira.

tava um mimo, era oraio de solo interior d'aquelle lar mergulha-• Quando entreabria um sorriso

DEPoIs de muitos dias passados n'ummento que fazia nec ia.r uma grave

midade, a Nazareth pôde levantar-seum curto passeio no jardim. Estava-sedo inverno, as flores cheias ainda da 1nia hybernal espalhavam emanações devissimos perfumes. Entrava alegremenraio ele sol por entre as ramarias deramanchão de madresilvas e jasmins,sombra o Coronel gostava de tomarcafé á tarde.

EUa muito pallida contemplava. em

cio a pequena área ajard~na?a ~uc sedia a seus pés e uma lagrimâ aljofaralava-lhe o rosto gentil.

O pai achegou-se della, o andar V ?arrastando os pés, parecendo soffrer l~

mente um mal que não custaria m ui

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meigo sacudindo OR bracinhos n'umdesenvolto e gracil parecia animar acreaturas que o infortunio firira tão dedadarnente, e como que lhes dizia nos b

cios encantadores :-Não sou eu o maismensageiro da esperança, a melhor gada paz?

Para que tantas lagrimas ~Realmente ellas iam escasseando

porção que os seus sorrisos se tornavamf'requentes.

A Nazareth quando o tinha nossentia um calor benefico aquecer-lhe oção regelado e desejava viver para popertar por muito tempo o corpinho nseo que lhe communicava resignaçãoforto e experimentar ainda a doçura bad'aquelIes beijos a compensal-a dosde fel que seus labios haviam tragado.

Pensava a miúde no Chiquinho fericausa della e arriscando-se a morreaquelle pensamento não lhe caursva

leve remorso.Sentia por elle um affccto calm

o soffrimento tivesse sanctificado aqutima e dado ao seu amor um caract

elevado,

iava o marido e pedia a Deus como trouxesse regenerado e arrcpen-

Ia tarde de Maio descêra ao jardim

e no banquin ho rustico veiu-lhequeno povoauo onde fôra conva-hou os olhos c pareceu-lhe ver umaio ruinada. Em um quarto malagonisava uma velhinha tisica,uas raparigas na flõr da idadeesesperadamente. Ella sustentavaluz bruxoleava ao vento que en-tersticios das paredes' esburaca-

rapaz moreno e syrnpathlco em .gava aos labios da moribunda oredempção. Esse quadro estavaQ seu espírito que parecia ter-see scena na vespera.u arrancal-a á essa reminiscen-dulçurosa recordação do passadoia uns laivos de saudade e ha-vemente no hombro disse-lhe com

pensavas, minha filha?um sorriso desconsolado e, ava-

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---liando o que o pai soffria por causamostrou -se calma.

-Eu nem sei mesmo em-que pensapai.

Conversaram alguns instantes 80

sas triviaes.Em seguida fazendo um violento

o Coronel tirou do bolso um pedaço dmarcado com um lapis encarnado e má filha.

A leitura do fragmento fez subirda Nazareth uma onda de sangue.

Entregou-o ao' pai e disse resolut-São muito infames esses que p

analysar a vida alheia para deleitarcom escandalos e novidades; mas eu S

hei de fazer.-Devias requerer o divorcio, ro

de uma vez os laços que te prendemmiseravel.

-Oh !meu pai, não fale assim lpai de meu filho e eu, no caraoter d

posa, tenho o dever de soccorrel-o etal-o em casos como este em que seagora. . .. Abandonal-o quando elle expia ode uma vida viciosa, á mingoa do

A DIVORCIA1JA 1 7 9

IJlS, seria de m in ha parte uma acção

e jamais praticarei assim.re e admiravel o teu procedimento,• mas has de fazer um sacrifício

tu a saude debilitada, no teu fi-oim que já me sinto proximo doo teu marido colher os fructos

as que praticou. Deus é infalli-jus~ça e cedo ou tarde pune os

fosse feliz eu não me resolveria aao seu destino; mas é desgraça-sosaband onal.n á corrente da 801'-

. EUa releu o trecho do jornalfirmeza; Estou decidida a em-rirneiro vapor e espero que nãomeu designio que é dictado pela

-se já com um passo mais firmemirou o heroismo inquebrantavelsquecer as tortui as soffridas e a.ao encontro do mando, de quema nestes termos :

ontem ao Hospital de Misericor-o que foi acommettido de uma

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XXVIII

~~~~~~~~~~~~~~

J"\../\./"'J\./,\"/'V"\..r\.rV\/"'V\.rI./'\../\..rv"v/\AA~

- oi.s-@;@ -e,@)-':::-@)(§""~~-ex9~ongestão na Hospedaria. * * quando se egava a um jogo desenfreiado em que pero ultimo oeitil.

Tratando-se de verificar a identida

referido moço, chegou-se a saber que écharel Arthur Pedrosa Gui.m~rãe~, ~ecasado com uma senhora dlstmctlsslma,de um íllustre Coronel que prestou relevserviços á causa do bem PUb~ICO.

Lamentamos este acontecimentoencher de afflição a familia do inditoso·h rel que tão mal sabe presar os seusc a , ilt dd 'homem bem educado aVI an o-se na

e .. t txas espeluncas do vicio erc. e c.

RONELPedrosa teve que conformar-com a deliberação da filha, que, emuma resolução inspirada pelo dever,

logo de a pôr em pratica.ecidido que a mãe da Gloria acom-a Nazareth na viagem e o Oscar fi-tregue aos carinhos do avô e aosdas tias. Custou a Nazareth mu itaso ter que separar-se do filho, alegriasua existencia; .mas a natural bon-ue era dotada impulsionava-a e não'8 diante dos maiores sacrificios parao marido ávida infamante que arras-

a em mil planos para chamalo aoo bem, caso eUe se restabelecesse,

a tivesse de sair do Ceará, onde aos mais doces laços da família e da

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A DIVORCIADA 18&

amizade, preferiria ir viver com o malgures e a poder da mais solicita affeiç:tconquistal-o em uma rehabilitação com

Durante a viagem chorou amarga

A fuga do Arthur, o desapparecimento dafia tinham-lhe esphacelado a alma. Afõra ingrata em extrem o, pagando-lhemais. negra traição a generosa e fidalgpitalidade que lhe dér a.

A's vezes pensava nas. consequencíunião do marido com a Gloria e ummccimento de indignação sacudia-lhe ovos provocando-lhe nauseas.

O balanço do vapor, o murmurio ddas a entoarem a queixa saudosa do mvava-lhe o espirito ao passado e, comdo-o ao presente horroroso,experimensensação de quem se vê no cairel ddespenhadeiro prestes a sentir a vertigfascinação.

Saltou no Pará abatida physicatnente

no moral robustecida pela coragem

tornava capaz de grandes dedicações.rou a casa de um amigo de seu pai, utuguez rico, o Sr. Amorim, a quemcommcndada, e depois de ter descansgumas horas, dirigiu-se á Santa Casa.

Q ver o marido como uma creaturaia, atirado ao leito da caridade ,u-a uma crise nervosa, 'da qual'depois de ter chorado convulsíva-ante uma hora.ur conheceu-a, teve mesmo umdo-a á borda do seu leito e no diatransportado para a casa do ami-o, onde foi tratado com todo o

eth não se poupou ás maiores fa-u noites e noites velando cuidado-

e elle tomasse a poção receitadaá hora marcãda e teve a satisfa-o dentro de 20 dias completamenteo. Teve vontade de perguntar; mas a tia antecipou-se, e ao sa-lha se Internara nos seringaes em .de um ho mem que lhe prometteranão pôde conter uma explosão;.de dor. O amor materno sensíhí-

as creaturas mais endurecidas. edesgraça da mulher que se dei-or falazes promessas e tudo sa-m homem as vezes incapaz dava de affeição.rido bom a Nazareth interro-

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!84 , F. lLOTILDE==~==~======~~~======~~

A DIVORCIADA::::====

t85

g0U-O, afim de saber si elle conti'ahit'a d i

c em que disposições se encontrava, si qdemorar-se ainda no Pará, ou preferia

até M anáos, onde o pai desejava quabrisse es críptorio de advogado j

Y citar ao Ceará é que não cOlwinhareconhecendo quanto a presença do tilneccssaria ao velho Coronel, já hastanente e cheio de maguas, precisando d'araio, de sol como uma planta defínhadfC1Ü estar separada elo filho. Alem distoma do Amazonas pod ia ser fatal á crean

ainda estava no perigoso período datição .

EUe respondeu que devia uns 400$0desejava pagar com a máxima brevipedia á mulher que esperasse ainda

, dias na capital do Pará.O amigo franqueava a casa, pois devi

des favores ao Coronel e desejavaconcorrer para a cura moral do Arthur.

disto a bel1eza e a bondade inexcellivelzareth tinham-lhe despertado o maior.resse e ser-lhe-ia grato vêl-a feliz indda do que soffrêra. Animou muitooffereceu-lhe seu auxilio com a melhtade, e ambos tiveram uma amar a d

a ú chegou a noite e não viram o Arthurza do chá.leio tol-o-ia empolgado de novo t

generoso homem tratou de indagar nasas casas de jogo mais em voga e soubeverdadeiro despr.izer que elle não somentea de pagar as dividas, mas arriscára aindaentemente em grandes paradas todo o

oro que a mulher lhe dera para satisfazercompromissos !

A DIVORCIADA 1 87

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XXIX

calada, esmagada sob aquella brutalo de alcool e de m áos sentimentos, epelo procedimento do marido na casateve apenas no pranto o desafogo da

intensa. Esperou que elle estivessee no outro dia falou-lhe da viagem para

TmSTE d'aquelle que envereda nas sinusidades do vicio, si a dextra da Pro

dencia não o detem no seu caminhar incer

O Art hur insensivel ao amor puro daposa, verdadeiro anjo do lar a estender sobelle as nevadas az as, sem olhar para o futujá esquecido da forte lição que lhe dóra o ilamento do Hospital, ao lado dos desherdae dos miseráveis , continuou ajogar com phnesi, com loucura. Quando perdia vingase no absy ntho, esquecia os revezes devicio no seio de outro vicio mais degrada

Entrou por duas vezes completamentebriagado. Maltratou a Nazareth com paladesabridas, acoimando-a de ciumenta.alarde dos dias passados a bordo ao ladoGloria referencias zrosselras ao matutob

500$000, como chamava ao Chiquinho.

sso dinheiro está se exgotando, disse,s fica bem abusar tanto tempo da de-ospitalidade que nos foi dispensada.-me com que pagar as minhas divi-, e eu estou prompto a acompanhar-m do mundo.

, as tuas dividas serão pagas. Voucomprar passagens," pois o vapor de-amanhã c pedirei ao ~r. Amorim parar-se de tudo.mente fazes muito pouco em mim,

some tão mentecapto que me deixeom as tuas promessas!no desejas é que a minha desmoralí-

conhecida, pois: em vez de me fa-s meios. para pagar meus compro--encarregas alguern de liquidal-os ;consenti rei.

ar-me o dinheiro de que preciso já eescandalo será medonho e eu nar-

188 A DIVORCIADA 189F. CLílTILDE

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!

rarei ao nosso obsequioso hospede a spassada no Hotel do Ceará comtigo e o temorado, aquem sinto não ter ferido no cora

A pobresinha ass im ultrajada levanrosto aljofrado de lagri mas e ante a exprde tão sympathica physionomiadivinisadamartyrio, qualquer outro que não fosse othur ter-se-ia apoderado de vergonha e cade ioelhos pedindo perdão dos erros qtru;..:idavam tanto. Elle, porem, conserv:impassível. A Nazareth, como se obedeà uma força autonoma, abriu o hahú e

delle o dinheiro que lhe entregou tremeA' noite esperaram embalde o ArthuSr. Amorimvendo a moça enxugar as 1mas disse-lhe:

-Minha senhora, o seu marido mVolte para o Ceará onde a espera m o amseu pai e o carinho de seu filho Não é pme pése hospedal-a, no que tenho a msatisfação, mas no pé em que as cousa

seu marido não tardará a arrastal-a ao.do abysmo em que resvalou. .,

No outro dia estava no dOl111l11Oubgrande roubo feito em um importante elecimento de um p~rtuguez, ainda aparcom o Sr. Amorim.

azareth quando ouviu falar- nelle teveesalto. Dojogo á embriaguez desceriao-ao furto 1 Era horrivel pensal-o I Eto mais tard e suas previsões se rea-

quando a policia entrou em casa doorim á procura do Dr. Arthur Pedro-jogador de profissão, inculcado comoe do roubo feito em uma importantemercíal da praça de Belem.as fezes do calix. A inditosa Nazarethcom o stoicismo da virtude ret empe-mais rudes e oontinuas provas. De-

uma crise que a colJocou em umao enorme pôde levantar-se e a suaideia foi voltar ao Ceará.

. Amorim pediu-lhe que se demorasseuns dias para avigorar as forças gran-abatidas, depois do que acompa-sua terra.ali que liquida r um negocio e apro-ensejo para pôr á disposição della

anhia durante a viagem,spera da partida' a Na zareth quiz irá hospedaria que o marido maisa afim de pagar-lhe as divida se.com o dono da casa a seu respeito.

190 A DIVORCIADA. 191F. CLOTILDE

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Ao entrar na sala teve uma grande sorsa que a deixou extatica. P

O Chiquinho sentado a um soph ã parentregue á funda meditação, e ao vêl-a levtou-se como impellido por uma força estra

-O Sr.!-A Sr."!

Affluiam as palavras aos labios; maslhia-as a emoção Iortissima de se verem atão inesperadamente Conservaram-sedos por alguns momentos.

Afinal serenando um pouco a Naz

perguntou ao rapáz :-Ficou de todo restabelecido?-Felizmente, minha Sr.", ainda não h

chegado minha vez; mas como está mudAcha-se doente? Reside agora nesta cap

Convidou-a a sentar-se, porque viu-amula, prestes a desmaiar. O Sr. Amorimfalar ao dono da casa pedindo-lhe a con

Arthur, e ella, já não podendo ~er-se csentou-se machinalmente no sophá. O Chnho conservou-se levantado, apezar do trque o invadira.

-Estou aqui simplesmente de passeigo amanhã para o Ceará.

Ah!

perguntar-lhe pelo marido; mas tala pareceu-lhe uma indiscriçãomitta-me que lhe agradeça o interes-m ou pela minha saude mandando a

a visitar-me em seu nome na enferma-anta Casa. Eu não merecia tanto;mo eu desejava vêl-a !Tinha tanto quee, e nada me occorre neste momento.ia perguntar-lhe qual o motivo do odioarido me vota e porque razão quiz.amente matar-me.da lhe posso dizer, e sei ia melhor que

erguntasse. Tenho soffrido muito enfcsso-Ihe tudo porque reconheço aerosidade e talvez seja esta a ultimanos encontremos.volta aos seringaes, á procura de ume lhe sõrri no horisonte vasto de suaia de moço, emquanto eu, triste e des-a [,elo in fo rtúni o , vo lvo lao lar paternorefugiar-me dos vondavaes da sortes que não falham nunca: entre meu.filho innocente.

~ôde continuar. Uma torrente de la-nudou-lhe o rosto. O Chiquinho ven-

uella afflição teve vontade de cahir-és para pedir-lhe perdão.

19 2 F. CLOTILDE

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Mas de que se accusava para com ella fTêl-a-ia DffendíJo ao menos com um pe

monto indigno ~ Não! EUe a considel'avmais perfeita e a mais elevada de todas as

Ihcres e respeitava-a com o mesmo acatato que~l'jbutavaásua mãe e irmã. xxx

:AYl!'TARJS praias cearenses,alvasegra_íosas, banhadas por um claro sol de ju.êr emergir dentre os coqueiraes a cida-, immortalisada pelas victorias dajan-

Iicionista, ao sentir o bafejar das bri-nhas a refrescar-lhe a fronte, ao pensãrppi oximava do lar, onde abraçaria seumaus o onde teria a inef[avel venturar uma e mil vezes o filhinho idolatra,zaretli mediu toda a extensão de seuio. Voltava só, tendo perdido o gran-do qne fizera, havendo sido inuteisprovas de acrysolacla dedicação quearido.mulher de um ladrão!ava- r, sentia repulsào ror si rnes-

1 3

l D ~ 1 ~ = = = = = = = = = F = . = C = I = , O = T = 1 = L = = D E = = = = = = = = ~ ~ A DIVORCIADA 195

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ma. Por um funesto encadciamento, o Artdeixara-se ir de um vicio a outro, até aíund

se de todo no lodaçal mais immundo. Comhendia que elle só por um milagre consegregenerar-se e depois a má reputação, esta

doa que ás vezes muitos annos de vida regnão apagam, ennublaria sempre a sua felide, si é qne ella poderia desfructal-a um di

Como o viajante tentado pela belloza

fructos do Mar Morto buscando apanhal-ofre a desillusão de encontrar-lhos no íntivacuo das cousas apodrecidas, assim aventurada creatura illudira-se com o a

lisongoiro do primo e, querendo saival-obortinaacm e elo vicio, saoriflcára o sosua vid~ ínteira.itornára-se infeliz, e agorque não recaísse sobre ella a infamia q.uechára, cumpria-lhe quebrar de ~ma v.o z

que a prendiam procurando o ~l'\~OrclO.em terra com o coração opprimido ; ma

que o pai não tivesse de chofre a ~oticiadesastre entrou em casa serena e simula

ma. Quem pôde, porem, enganar os •esquadrinhadores de um pai estremeciCoronel ao estreitar a filha notou-lhegios de fraqueza estampados no ro~oa densidade das maguas que a haVIam

urante a estada no Par.í, As irmãs aco-a corn lagr-imas o o Oscar, na íngenuada idade papagueou a palavra : vovó !

lhand i desconfiado para a Naza: oth.'tarde o Coronel informado da nova ín-

tícad 1 pelo genro tomou-se da maisgna ção e tmpóz á filha que rompessevêz os grilhões que a acorrentavam

esgraeado ,

COI'l'Í para o teu infortuní I fazendo quepor marido o ultimo elos miseravois .,um filho sobre quem se l'cflcctirá aconducta delIe. E', portanto, indís-

subuuhír a creançaá

essa illfdicidader a cxistencia de s bresalros e torturas

rovídencíar no sentido de arranjardi} modo a qu te divorcies Hei deo parado]: o do infame, e então vcn-e pela lei dessa- jugo desmoralisador,orrer tranquillonel t ính bõas relações em 1\1an;10s ctos pontos do interior do e tado do: \.)Sül'CYCU empenhando-se com ins-.abo de poucos mezes sabia onde

thur.

--encarregou um advogado de grande

196----o F. CLOTILDR

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A DIVORCIADAnomeada de tratar da questão do divorcio de sfilha, e conseguiu o resul~ado que desl'iagraças a pertinazes esforços" •

O genro continuava a mesma vida vící

nos centros do Amazonas,ámargem dos

ri

onde fazia toda a sorte de vergonhosas esplações, e alliado a um dono de seringal doscíenoia elastica e cujo unico fito era enriquroubando os inditosos fregueze~, encontrougo campo para expandir o seu genio díssíp

Os mais baixos ramos de negocio foramtos em execução por elle e dentro em poucopo era conhecido como um elemento perni

so, de quem se arreceavam os homens pre só não conseguia juntar dinhoiro porque o .1h'0 absorvia, todo insaciavel, impellinpara que vazasse na banca o producto mquerido e que deixava espoliados tantos entos que nelle confiavam.

A Gloria era mais precavida e encarafuturo com o olhar medroso de quem n

sente bem com a oonscíenoía.O homem que a trouxera do Pará fõrama de suas espertezas e convicto do que elllia cedêra-a a um outro. A seducção dotentára a mísera tresloucada, e sem um vibre de dignidade tratava apenas de jun

197=

para mais tarde abandonar a vida ínoorn-dos seringaes e vir ostentar a belleza em5, onde lhe acenavam grandes visões de

ístencía luxuosa, entontecedôra, n'umainfinita, no mercadejamento torpe quea mulher ao abysmo sem fundo da des-e onde s ó as azas refulgentes do anjo do

adímento, banhado em prantos de C011-perfeita poderão puríôcal-a redimidaz do perdão!

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A DI\'Or\(~IA1)A IO ! >

XXXi

ysolar su'alma virtuosa na adversidade,ístan, resig'nava-se, Tinha de viver dalite totalmente sequestrada do mundo oc-

a mais triste posição na casa paterna,commentarios se faziam a respeito

ue a conheciam ele perto faziam-lhe jus-iedavam-se de seu infortunio; poremnhos?

vam -lhe aos ouvidos, pela tagarelicedos cs rumores de fora, e doia-lhe ser

ada desfavoravelmente.". uíam o desfecho triste de seu casamen ,ídez de genío, ao seu ciume ímpla-

DIVORCJAD,~ ! E~ta palavra fatídica "ill

, o-pirito da :;azaroll~ logo pela mquando desporta:'H o o ~OlTISO do fil.ho lh

viava um bom dia dulciflcante e cheio deranças e de p12• .

Quebrára todos os laços que a uniamrido: mas seucoracão igualmente se U8S

cara. Que tcrri vcl desenlace tivera o seu

men~! .Perguntava a si mesma no silencio, r

da e desolada, o q ue hav ia feito pa IImero

rude castigo, e a sua consciencia de nadvrohava Iiepousava serena na cr-rteza do

cumprido.Quantas supplicas leYanta.\'~ todos

ao Deus bondoso para que desvia S0 odo caminho do mal!

Elle não lhe escutara a prece fo. yorvS3

ôz fazia o papel do victírna, e a pro-tação da inditosa moça soffría ínvos-sseíras,

a o Hotel apparecia pintada óó rn

côres, como um verdadeiro drama de

mplicado, no qual o matuto era o po-rdia, o Adonis preferido,

mada! Embóra se 'encerrasse entroredes, vivendo exclusÍyamonto paravia de attingil-a o bote traiçoeiro da

do luctára muito antes de tomar a 1'0-

A DIVORCIADA 201

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'200 . . CLOTILDE

solução decisiva de requerer o divorcio' masultima proeza do Arthur arrancára-lh~ a V

da dos olhos e despedaçara-lhe de todo a ens

gia que a sustinha.Um ladrão! O ser que a sociedade expdo gremio como um elemento de destruiçãrespeito da propriedade, o ente que synthetoda a infamia que o homem pode praticar.

Seu filho havia de sentir mais tarde agonha da conducta indigna do pai e não podemarchar-de fronte erguida, por entre a rapazifeliz e orgulhosa de seus progenitores.

Si algum dia lhe dissessem: Teu paium ladrão, elle si tivesse a nobresa de carado avô, a altivez de genio da mãe, morde pejo! Era horroroso pensal-o !

Depois a sua posição de mulher separamarido pungia-a cruelmente até os recessosma, como um sty lete agudo.

Si não fosse a má saude do Coronel qlle

a dia se aggravava, impellinJo-o para oedescanso, teria desejado morrer.O filho ficaria sem apoio, e ella tornar-

causadõra de seu infortunio. Assim estatura fragil hauria elementos de coragem nomaterno e no meio do desolamento em quvia cuidava do filho com a mais extrema t

ívorciada ! Esta palavra maldita causa-a mesma impressão que o lettreíro escr í-

ás paredes do salão do festim baby Ioníco

io Balthazar.ra castigada simplesmente porque se ca-i'deixando o coração occupado pela imagemro.o Oscar balbuciante dizia: papá, ella en-olhos de lagrimas e ensinava-lhe a cha-

ovô ,

tão era engraçado ouvil-o, depois de ba-mãosinhas, todo elle desfeito n'um sorriso

e afaceírava as covinhas do rosto dizer:vovô!a manhã o velho fôra ao jardim e trou-e lá uma rosa, uma linda Paul-Neron co-de gouas de orvalho.eníno que o recebia sempre alegre, pu-no enthusia srno engraçado da infancia,u a m ãosinha para a flôr e disse: Papá I

o o velho conservasse a rosa nas mãosou mais forte: vovô! vovô!orvalho que rorejava a flor juntou-seperola de uma lagrima, que das faceso deslisava silenciosamente.

A DIVORCIADA 203

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XXXII

desespero que á custa de muitos esfor-nseguiu debellar, para não aggravar omelindroso do doente.te só alliviava um pouco quando lhe tra-

o neto e, á luz daquelle sorriso adoravelynthetisava um poema de amor e de soffri-, esquecia a prostração que o molestavarimentava um pouco de conforto. Eradar-lhe sempre este calmante, e a crean-

mo se na ignorancia de sua ínnocencia~e o be .n que fazia ao avô, de vez emo chamava-o em altas vozes, zangando-sef) não o traziam junto ao leito do en-

OCORONEL chegol~a u,:ntal ex:remo de fqueza que um dia nao se pode le vaní

As filhas convidaram-no a fazer uma peque

excursão no jardim, e elle forcejou por seem pé; mas invadiu-o uma tontura forte e

obrigado a cahir.Mandaram vir o medico que sahiu bem

animado.-O mal dolle tem uma causa moral forti

ma que os recursos da therapeutica talvezpossam debellar ; em todo caso cumpre alital-o confortavelmente distrahil-o dand,

um regimen puramente hygienico quandlhe restaurarem as forças, e assim talvezv iva "mais algum tempo.·

As filhas ouviram esta declaração afloom pranto, e a Nazareth que sabia pe rf

mente o que matava o pobre pai entrego

ão o avô envolto na treva do crepuscu-ida c omenino aureolado com 0 esplen-lvorada, prenuncio de auspiciosos dias,um ao outro a alegria ineffavel, a unica,oça os travores da vida. .a tarde o velho chamou a Nazareth e-a entr istecida, o sulco de lagrimas re-11cavar-lhe o bello rosto, outr'ora loução

lyrio desabrochado, tomou-lhe a mãocissimo carinho e disse-lhe:

inha filha, eu morreria contente si tefeliz, unida a um homem de bem que,

do a belleza de tu'alma, comprehendesse

F. CLOTILDEli. DIVORCIADA--'

205

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ssu",tad<1chamou ~3 irmãs e perceberamque eram os symptomas da morte que se

oximavarn. Mandaram chamar o medico,am vir o sacerdote, e ambos entraram ao

mo tempo.-Nada tenho a fazen, disse o facultativo; ae está imminente!padre desempenhou sua missão consola-e C0'11 todos os signaes da mais perfeitaição recebeu o Coronel os ultímos sacra-

Era cnterneccdór vêl-o beijar o sym-da redempção e com os olhos humidosas filhas que não chorassem.

erenou um pouquinho e quiz beijar o neto.rouxeram-lh'o e, elle agarrando-se ao pe-rucho n'um derradeiro esforço beijou re-s vezes as Iace sinhas rosadas.p...ís dirigindo-se á Nazareth, disse-lhe en-rtadamente : Trata de viver para o teu fi-para tuas irmãs. Tens de me substituira terra.

as côres ela aurora douravam o horisonteíando a manhã, as avesínhas despertasarn a orchestra maviosa de gorgeios, asentreabriam a corolla rociada pelo pran-oite, quando aquelle espírito attribulado,o martyrio da filha impellira depressa

o valor inexcedivel de tua virtude inquebrant",vel Deus não o quiz. Todos os meus calculfalharam, as illusões que o meu affecto pater

nal, quiçá um pouco egoista, crcára para o tefuturo desfizeram-se ante a realidade acabrunhadora. Sinto-me a dois passos do tumul)morro tranquillo porque sempre trilhei o caronho indicado pelo dever. Peço-te que vívpara teu filho, para seres o arrimo de tuirmãs.

Não te entregues á uma dor excessiva, resgna-te e pensa que esta vida transitoria n

vale as mortífícaçõ es que nella experimenmos.

Eu levo um uníco remorso: o de haver 00corrido para tua infelicidade.

Sei que alem do tumulo Deus ha de recopensar os que aqui penaram e levaram pacietes ao Calvario a cruz do sacrifíoio ; e esta asrança me fortalece. Promettes-me cuidar doEu t'o peço, e os pedidos dos moribundos tum valor enorme.

EUa não respon dia porque os soluços ebargavam-lhe a palavra.

Notou que a voz do pai enfraquecia, quseu olhar tornava-se embaciado. Cobria-Ihcorpo um gélido suor.

206 F. CLOTILDE

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para d tumulo, desprendia-se do envolucro t

rena para ascender ás regiões immortaes. Dpedaçava-se um dos élos fortíssimos que prdíam Nazareth á vida. Apenas o affecto d

irmãs e o carinho do filhinho reatavam-lhenaufragío de sua ventura, tão implacavelmetrucidada pela aspereza da sorte.

As ultimas palavras do pai resoavam-ljs,ouvidos como um reclamo de vida, e ella ouvimurmurar com o accento debilitado pelosroxismos da agonia: Vive para teu filho ~

Sim, era preciso viver para que a mimcreaturinha não ficasseorphã,cluplamente orp

Seria a mais forte piova de energia quepedíria á sua coragem.

Embora o viver lhe fosse extremameamargo, devia sacríflcar-se para que o fi

crescesse sob sua tutella, para que bebesseseu exemplo as puras lições do amor ao dovnão podesse um dia resvalar ni negro aby

do vicio e da desmoral.sação, corno o

Arthur.EUa havia de estender sobre elle as azas pctoras,equandolhefraquejas:"eacorrtgem p .ao espirito do pai as forças de que havi~ .IlU

O espirito dos que se vão deve auxrhaI'-nos transes dífflceis da vida.

XXXIII

M A febre maligna que sobreveiu quandoo Oscar completava 2 annos de idadeou á Nazareth, extremamente ciosa dado filho, a procurar na povoação, onde

convalescer, melhoras para o estado me-oso em que elle se achava.

s puros ares do campo ricos de oxigenio egnados do olôr silvestre das flôres ma-dcra~'1 ao pcqucníto o vigõr que lhe fugi-ambIente corrompido da capital.colorido das faces voltou mais rubro os. ,graCIOSOS tor:1avam-se mais interessan-

phraseado meigo e gorgeiado foi toman-a expressão maís alacre, e, como paramar a Nazareth do que havia soffrido,r reunia o que se pode desejar na crean-18 mimosa.

tmava sua desolada mãe, dava-lhe o Ie-

208 A DIVORCIADA. CLOTILDE 2 0 9

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nitivo no meio das dõres mais fundas, era osantelmo a guial-a na noite borrascosa de suaoxistencia. O que seria della si não fosse aquel-Ia creança meiga que tinha nos olhares irra-diações do paraiso e assim mesmo pequeno efragillimo abroquelava-a contra os perigos?

Agora poderia ella ter alguma esperançdas alegrias terreuas ? Fõra escrav.1 de um

estrella infausta, o infortunio perseguia-a aioda no albõr da mocidade, e desde a estrela dmarido no vicio experimentára os maiortormentos que podem torturar um coraç

feminino.A morte do pai deixara-a aniquilada, e

não fosse o pedido quasi supplicante feito coa vóz estertorada dos agoni:qntcs e a crenque a escudava, ter-se-ia refugiado no suicdio recurso extremo dos entes fracos e sverdadeira religião.

No povoado, para disfarçar a tristez.a q

a envolvia em uma continua treva, contmua mesma missão de caridade que iniciára

bons tempos de sua adolt,cencia; voltav

a nevrose do bem.Tinha sêde de lenitivar as afflições

outros e agora, possuidora de uma fortunagular, reservára a parte do filho e se comp

a em repartir entre os miseraveis a que eraa.Entrar nos lares sombrios onde a mí .1ia iseria

a O J ra era levar um raio de sol uma 'd b . , sensa-. e em estar, o pão alvo e macio para osmt~s, a roupinha agasalhadora para asa~cInhas esfarrapadas. Privava-se de com-didades para que a necessidade dos outrosse valida. '

Tinha o cortejo dos cegos, dos aleijados,doen,tes que lhe cercavam a porta de ma-á noite.

Suas visitas eram para elles.As irmãs a principio censuravam-na hran-ente; mas vendo que aquelle ardôr de~lhar beneficios dava-lhe refrigerio ao co-o desolado, acabaram associando-se ásolas prcfusamsnn, scrneadas por sua ge-osa mae.

ubstit~ia, vantajosamente o Chiquinho

eus, m~stercs de câridade O menor elo-ue faziam dclla era chamarem-na-mãeobres.

~ creancinhas sobretudo festejavam-na eIam-na batendo as palminhas e chaman-de moça bonita.

1 4

210 F. CLOTILDB

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o Oscar tendo diante dos olhos exemplosfrisantes de amor do proximo já distribuia esmolas entre os pobresinhos, e quando alguvinha esmolar elle corria para dentro apresado e solicito e dizia: Mamãe! mamãe! vnha dar uma esmolinha ao pobre!

Pairava sobre aquella familia composta d

quatro mulheres e uma creança uma serendade como a que vem depois das grandes tmentas.

Modesto e simples offerecia sempre hostalidade ao viandante, soccõrro ao necessido, auxilio ao desamparado da fortuna.

E não ostentava as suas moradoras a p -tica dos beneficios; era reservada e discra caridade que magnanimamente dispensava todos indistinctamente, cumprindo á rissublime dictame do Evangelho «Que aesquerda não veja o que f á z a direita > •

A familia Pedrosa era para os habitada pequena povoação uma providenci~,angelica impulsionadora daquelle movito caridoso merecia de certo que Deusdemnisasse do que havia soffrido.

XXXIV

CAÚ do Chiquinho está em festas.Eil-o pela segunda vê z em regresso do

e, sadio, róbusto, já sem a pallidez quexéra na primeira viagem.

eina o mais effusivo enthusiasmo, repera alegria franca e cornmunicativa em todosoradores do povoado.excelIente rapaz foi recebido com mu-e flores.a plataforma da -estação achava-se a me-gente e todos á porfia queriam abraçár orraneo trabalhador e honrado que se ati-â lucta pela vida expondo-se aos azaresstino, em sólo estranho, sob um climao e pernicioso.trou em verdadeiro triumpho pela porta

ttro, e foi com delírio que abraçou a bôaha, como elle chamava sua mãe.

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F. CLOTILDEA DIVORCIADA

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D'esta vez não o deti vera o punhal traçoei_ro do rival dissipado e indigno e fôra gosar osdulçores do affecto dos seus progenitoreem dulcissima paz, entre as serras verdcjan

tes e os campinaes floridos, onde passára des-cuidoso os melhores dias da vida n» cp11ch

deleitosa da infancia.-Nem o Sr. Bispo seria recebido assim

dizia a Mariquinhas do correio com o ar dquem gosta de troçar, um pouco philosophaá moda de Democrito, encarando as cousapelo lado mais comico.

-Vejam as cegas corno se alvorocaraI

continuava o Ambrosio, o professor, pigarrando, ás voltas com a bronchite que nãodeixava. Hoje a Sr." Agueda esquece a maca

e arregirilenta o seujbatalhão para fazer connencia ao recem-chegado.

A velha Fortunata, andando muito devogarinho e tossindo quando se approximouestação, para mais aggravar o seu estadoexcitar assim á caridade publica pergunto

-O Seu Chiquinho já foi para casa 1 Achegou o pai dos pobres ~Já sei que hoje coum pirãosinho descansada ~

E mais ligeira, á proporção que se affas

dirigiu-se á casa do rapaz á busca da es-~a.

Veêm-se doidos os paroaras quando che-do norte a um povoado. Chovem os pedi-

, apparecem as comadres. surgem os afi-dos, os mendigos invadem a casa, e sup-do que os que vêm do pretenso el-doradozem fabulosas riquezas, todos aspiram apequenino quinhão.O Chiquinho com o bom modo que lhe eraitual recebeu a todos com delicadeza, dis-uiu algumas esmolas e depois do jantar á

e deu um passeio pelo povoado e quasi áinha dirigiu-se á casa da familia Pedrosa ,ava-o ahi uma missão penosa; mas que seuzéra a cumprir porque elle, como a Na-th, fazia bem até mesmo aos que lhe ha-feito mal, ou podiam retribuir-lhe comis negra ingratidão.pproximou-se tremulo, sentindo o cora-ulsar desordenadamente.

ercorrêra aquelle caminho tantas vezesora com o coração palpitante de emoção:ternura I

o bater palmas assaltou-o um receio es-o de ser mal recebido.as porque? Elle já soubera pela familia

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da morte do Coronel e ao ver a Nazareth tra~jandu rigoroso lucto, pallíd~, com os traçosde uma dôr intima tirando-lhe o frescôr da

face mimosa, estendeu-lhe a mão que resfriá-ra e apertou a della silenciosamente. EUa en-xugou depressa a lagrima que viéra balouçar-se na extremidade dos longos cilios e offere-ceu uma cadeira ao rapaz.

Passada a primeira emoção o Chiquinhodisse, :

-Minha senhora, um triste e penoso dever

obrigou-me hoje a importunal-a com a minhapresença. Seu marido, ..-Meu marido t l Ah I já não o tenho! A

lei separou-me delle para sempre.-Escute-me. Eu não ignorava isso; mas

um impulso de caridade me faz dirigir-lhe umasupplica a favor de um infeliz. ODr. Arthurchegou um dia doente e sem o menor recursoá minha barraca. A Providencia ou a fatali-

dade talvez fizeram-no ir procurar um refugiona humilde e tosca habitação do rude se-ringueiro que elle cobardemente aggrediraque só por um milagre pôde escapar ao golptraiçoeiro. Meu primeiro impeto foi ati ral-de porta ã fó ra , porque me repugnava esta

o do meu assassino, do seu algôz; masbrei-me de que pagar o mal com o bem épreceito de nossa Santa religião e acolhi

esventurado dando-lhe os soccorros de queia mistér.~oitado! 'Expiou em crueis soffrimentosdesvarios de sua vida. Longas noites passeindo á cabeceira d'e seu leito, e somente onome, minha Sr.", o nome de seu filho lheiam dos labios.-Meu Deus, não me deixeis morrer sem,sem pedir-lhe perdão do mal que lheei, dizia de quando em quando.azareth nada dizia; mas o pranto corriadante e via-se o palpitar infrêne do cora-.soh o corpinho de chita preta.Consegui que me melhorasse, addusiu ouinho, e como constantemente me pediatrouxesse ao Ceará, fiz-lhe o pedido, e

a. eis-me aqui diante da Sr.· para implo-

he um pouco de compaixão, não para osposo, que não o merece; mas para oseu filho!O pai de meu filho! Sim eu dar-lhe-eiperdão inteiro: mas vêl-o I Pense bem

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Parece-me um sacrifício alem de minhasforças.

Depois o Sr. que o acolheu como um chris-tão perfeito continúe a sua obra de misericor_dia.

-Elle quer vêla, ao menos por um instan-te, e está perdido. Deixei, o a luctar com amorte e, para evitar commentarios e o ciesper-tal' do interesse entre os maldizentes e ociosos ,não o quiz trazer a este povoado, onde a Sr.'se acha. O caso é urgente, minha ST.a, e com-prehende, sim deve comprehender o esforçoque faço para aconselhar-lhe esta nobre re-solução '

A Sr." que é a mãe dos desventurados levesua bondade, a meiguice de su'alma até o leitodo desditoso e dê-lhe o bál samo de seu per-dão, a esmola ungida de piedade de uma pa-lavra sua. Levantou-se á espera da decisão.Via-se-lhe o tremor nervoso agora mais pro-nunciado.

A Nazareth não teve tempo de responder,porque o Oscar entrou trazendo nas mãos i-

nhas uma grande fatia de pão, e na gargan-teiada e dulçurosa linguagem dos innocentesdisse:

-Olha, mamãe, é para o aleijadinho do al-endre este pedaço de pão.EUa estendeu a mão ao Chiqu'inho e, ane-

iando os cabellos louros do filho, murmurou

soluta: Irei IEm torno delles parecia fulgir o diadema

ne deve circundar a fronte dos heróes.

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xxxv

OARTHUR está irremediavelmente perdi-do.

A vida desregrada que levou no norte, al-liada aos rigores do clima minaram-lhe o or-

ganismo. A molestia chegou ao extremo, e éinevitavel a morte.

Vê em derredor do leito visões sinistras,o phantasma do remorso apavora-o durant .anoite, e n'um delirio horrível estorce-se no lei-to sem gosar um momento de repouso.

Os nomes da mulher e do filho saem-lhe amiude dos labios e em certos momentos gritaallucinadamente: Quero vêl-os I Preciso deseu perdão!

Falaram-lhe em mandar vir o sacerdote;elle, porem, recusou. Queria antes a ~bsolvi-ção partindo das mãos da Nazareth. Fora elleo grande culpado de sua desventura, fôra o seu

rocedimento indigno que a arrastára pela ruaamargura.fazendo-a verter o pranto acerboe lhe crestára o viço dajuventude. Emquan-o jogo conservou-o debaixo de seu poder

potico embriagou-se no atordoamento queabafar o remorso; passado en tretanto o

riodo da felicidade e quando os primeirossaltos da adversidade se fizeram sentir,entãobeou-se da esposa e do filho,tão cruelmen-desprezados, e veiu-lhe do seio d'alma en-pecida um arrependimento devorador. .Esse remorso pungente aggravava-lha . aostração physica e todos os dias approximá-

-se a grandes passos do tumulo.Ver a mulher afim de receber de seus Ia-os uma phrase de perdão, implorar comos supplices o esquecimento de uma vidaira de degradação e de opprobio, era o.• o desejo que lhe agitava o peito. Confia-que a bondade desvelada do seu caritativolvador obteria da Nazareth esta ultima'rcê.

Como eUe, avaliando a fidalguia da con-ta do mancebo philantropico, sentia-sesquinhado diante de tanta exceltitude detimentos!

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Quem procedia d'aquelle modo era inca-p á z de praticar baixezas. .

Scismava assim quando o apito do tremquebrou o silencio da tarde, já envolta na

meia luz crepuscular. Uma especie de torpôrdominava-o pouco a pouco, como se fosse amorte que chegasse suavemente, sem o horrorda agonia.

Ouviu passos e a porta abrindo-se deupassagem á Nazareth vestida de preto trazen-do o filhinho pela mão. Elle levantou umpouco a cabeça que pendia enlanguecida e,n'um esforço enorme conseguiu sentar-se.

Estendeu os braços para a creança linda, cujorosto emmoldurado em cabellos de ouro asse-melhava-se ao de um cherubim e o Oscar re-cuou.

-Não conheço aquelle homem, mamãe,disse com receio, prestes a chorar.

Então ella impelliu-.o brandamente para oleito e o Arthur pôde beijar o filho. Segu-rou a mão gelada da mulher e com a entona-ção dos que já tem um pé no tumulo murmu-rou:

-Perdôe-me ... Si eu pudesse, pediria oseu perdão de joelhos; mas ... sinto-me mo~-rer ... rese por mim ... Talvez as suas suppli-

cas resgatem todos os erros de minha vida sa-turada de opprobrio. Deus .. Vinha entrando' osacerdote que haviam chamado para fazer umanova tentativa junto do enfermo.

Era um velho respeitavel de sorriso meigo,de coração modelado pelas doces theorias doEvangelho. Nazareth approximou-se doArthure disse-lhe:

E' preciso reconciliar-se com Deus paradepois im plo rar o perdão das creaturas.

Elle baixou a cabeça, n'um gesto de assen-timento, e tendo ficado a sós com o ministroda Religião, contou-lhe a tétrica historia desua vida com signaes da mais vehemente com-puncção. Depois chamando a mulher pediu-lheque o perdoasse e ouvindo as palavras deIndulgente compaixão que ella lhe dirigia nomais alto gráo de bondade e caridade ínexce-diveís, seu rosto cobriu-se de grande sereni-dade.

Um como reflexo que se desprendia da fron-te da magnanima creatura que tudo esquecêra

- e perdoara, rodeou-o por instantes.

Tomou em uma das mãos a mãosinha avel-Judada do filho, e, fitando a imagem do Cru-cificado que se achava em uma mesinha de-fronte do seu leito, pronunciou devagar entre

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O arquejar dos derradeiros esforços que Iázoespirito ao desprender-se do envolucro terre-

no:-Meu Deus, recebei a minha alma e puri-

fícae-a na fonte inexhaurivel de vossa mise-ricordia. Fui em extremo culpado; mas estesanjos mostraram-me as excellencias do arre-pendimento e dissiparam com alluz do perdãoo negrôr de minha vida. Perdoai-rne tambeme dai áquelles que me salvaram a verdadeirafelicidade na terra! Nazareth ... Oscar!. ..

A vóz sumiu-se gradativamente, e em bre-ve só se lhe ouviram uns balbucíos confusos.

Uma lagrima deslisou-se-Ihe ao longo do sem-

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XXXVI

~~~~~~~~~~~~~~"'1'V\../'VVv'"\/'VV~"r./\./V\.rv\.I"V\/"\.

~~ ~ 'iX§" iX§-:o:..~@'(9~~~

A MORTE quebrara de uma vêz a odiosadeia que prendia Nazarsth ao desve

rado bacharel, que terminára tão mal a carra iniciada do modo mais brilhante!

Tristissimo e eloquente exemplo d« vi

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, porque agora ella estava em M anáos e

tregára-s(' a todos os desregramentos.incipio tivera um grande triumpho, ar-ra sêdas, ornava-se de brilhantes, fizéra

ra a outras infelizes suas companheiras;

começavam os dias aziagos. Uma mo-que se ino culára no seu organismo eubira ao rosto n'uma asquerosa erupçãoa desfigurára, fazia com que della se dis-o

S8em os adoradores de outr'ora ..oram escasseando os recursos o o •

o apogêo do vicio dourado cahiu na mi-mais negra, passou da casa atapetada,

de móveis ricos para o casebre nú e de

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A DIVORCIADA

elhava á uma pequenina flôr vermelha per-"ra a expressão dos alegres sorrisos e des-hía cavando uma ruga precoce na face lu-ia e averrnelhada.

O corpo era um horror! Si os amadoresa plástica o vissem recuariam assombrados.s pés enormemente inchados tinham prúri-

os incessantes que a obrigavam a coçal-os

é verter sangue.A vida tornara-se-lhe o peior dos suppli--íos.Lamentou ter sahido do Ceará, onde a

ndade da prima a acolhêra com tanto cari-9, sentiu a consciencia exprobar-lhe a per-

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Ah! si a pudesse ver!~~~~H~H,~~H~~~~~H~~~~~~~~~~~~H~H

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Sentia-se isolada, maldita.Todos fugiam do seu contacto, o seu cor-

po decompúnha-se como um farrapo de car-ne apodrecida, e ella havia de morrer como

um cão tinhoso, á mingua, só, privada do au-xilio de Deus e dos homens.

Nem o leito do hospital a abrigaria.Aventurára-se uma vêz a sahir para men-

digar e quando a viram, muitos fecharam asportas.

Tentou um ultimo esforço para voltar aoCeará. '

Foi á casa de uma senhora rica, cuja ca-ridade era proverbial e pediu-lhe os meios dese transportar á terra natal.

A bondosa dama apiedou-se de tanto in-fortunio e obteve-lhe o recurso pedido. Nãoconseguiu, porem, embarcar. O commandan-te do vapor não a quiz acceitar a bordo, poisos passageiros reclamaram com energia e afi-nal foi para o hospital, n'um canto isolado,

onde só a caridade se atrevia a penetrar e lámorreu miseravelmente.

~ -(@ O O ~ ij ~ ~ ~ ~@ OO~@

1 t 1 1 í t t t t t ~ t i t 1 t t t t t 1 í t 1 t 1 t t t t t t t t t t t t t t t t ~

XXXVII

QUE linda surgiu a manhã!Parece que por urna transformação na

ordem da natureza a estação pluvial do Cearámudou-se em uma ridente primavera!Abril está a findar, e as avesinhas jubilo-

sas enchem o ar de sonoridades dulcíficantes.Revestem-se de flores os campos verdejantese deleitam a vista offerecendo a mais beIla e~prasivel das perspectivas.

Corre o arroio crystallíno entre cespedegalcatifadas de musgo, onde o bamburral cresce,trescalando o cheiro agreste que faz a gentedelíeíar-se no seio pacifico do campo.

As borboletas se foram em emigração a1-viçareir~; mas as flores de chanana abrem aseorolkrs brancas semelhando azas espalmadas,erdidas no meio da folhagem.

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os quaes, após as mais horrificas provações,

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A Nazareth está Iíndíssíma com o ves-tido côr de lilaz que lhe dá ao rosto for-moso uma sombra de melancolia e o Chi-quinho um tanto pallido no seu uniformepreto, elegante e sem a timidez que tinha

outr'ora.Duas alas de meninas vestidas de branco

desfolham flores sobre os noivos, repicamalviçareiramente os sinos, pois não ha nadaque melhor exprima a alegria popular do queessa harmonia cheia de mysterios que elevao espirito e faz o homem pensar nas deliciasde uma vida melhor.

O padre faz uma bella allocução falando

do amor puro qlle une duas almas, identi-ficando-as pelos laços sagrados do casa-mento.

Exhorta o noivo a que ame sempre com amesma ternura a esposa, pois é a melhor fe-Iicidad« que o homem pode encontrar na vi-da : a posse de uma m ulhor bôa que o com-prehenda e o ajude a soffror os males de queestá cheia a existencia ; á noiva que obedeça

ao esposo e lhe seja fiel como a Egreja é aJesus Christo.

O conjugo uobis sanccíona a uniâo.ds doiscorações, que de ha muito se estremeciam,

encontravam o repouso no seio carinhoso damais doce ventura.

Agora sim vinha a compensação! Fica-vam bem longe as saudades, o amargar da

ausencia, os extensos dias de inquietação ede receios torturantes !

Surgia 3 alvorada rosea que trazia os diaslimpidos e auspiciosos.

Sahiram os recem-desposados sob a mes-ma chuva de petalas deflo ros, e de um cantoa outro ouvia-se a voz de uma velhinha que,juntando as mãos, dizia: Deus os faça felizes!Deus os abençôe !

A' tarde o jantar dos pobres esteve na ~1-tura de uma verdadeira festa. Foram as mo-ças que serviram as miseras creaturas, enada faltou para que todos ficassem satis-feitos e repetissem seus votos pela felicidadedos que não esqueciam os soflrimentos dosoutros e , no meio dos mais frementes transpor-tes de jubilo tratavam d~ enxugar lagrimasalheias.

O Oscar batia as palminhas alvoroçadodiante dos pobres e ria porque um velho-oGonçalves-comia com extrema voracidade,enchendo as bochechas e murmurando de

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vez em quando: Que de comer bom I Que

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guisado incellente í Não ha nada como a ri-queza!

O menino applaudia igualmente a Sr."Agueda que comia no mesmo prato com a ne-

ta, muito bonitinha, vestida decentemente ede um momento a outro perguntava:

-lnda tem comida no prato, Adelina 1Terminado o festim da caridade foram dis-

tribuídos pelos meninos bolos e confeitos e amultidão espalhou-se com os mais expressi-vos signaes de contentamento.

Desceu a noite. O plenilunio illuminouo povoado com o seu esplendor deslum-

hrante.Foram-se retirando os convivas, e em breve

só ficaram as pessoas da familia.Foi servido um chá intimo, e no meio das

expansões de prazer que fechavam com cha-ve de ouro a festa do enlace de duas almasnobres, 'ouviu-se a vózinha do Oscar, adorme-cido no quarto proximo, que dizia a sonhar:

-Vovô! Vovô! Está aqui o vovô!A lembrança do Coronel que do alto via a

ventura da filha afinal realizada foi a unicasombra que ennublou a felicidade d'aquelle

lar abençoado.

A noite continuava bella. As estrellastinham irradiações deslumbradõras em umcéo de turqueza, as flores meio fanadas in-censavam coin seus perfumes o thalamo dosrecém-casados, cuja união Deus abençoara

do céo.