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UNIVERSIDAD AUTNOMA DE ASUNCIN
FACULTAD DE CIENCIAS JURDICAS, POLTICAS Y SOCIALES
DOCTORADO EN DERECHO INTERNACIONAL
A EDUCAO PRISIONAL NO MERCOSUL, UNIDADE
PRISIONAL DE BOM JESUS, ESTADO DO PIAU, BRASIL
Benigno Nez Novo
ASUNCIN, PARAGUAY
2010
Benigno Nez Novo
A EDUCAO PRISIONAL NO MERCOSUL, UNIDADE
PRISIONAL DE BOM JESUS, ESTADO DO PIAU, BRASIL
Tese apresentada Universidad Autnoma de Asuncin como requisito parcial para a
obteno do ttulo de Doctorado en Derecho Internacional.
Orientador/tutor: Prof. Dr. Gustavo Abrahan Auadre Canela
ASUNCIN, PARAGUAY
2010
http://e.uaa.edu.py/user/view.php?id=789&course=1
Novo, Benigno N. (2010). A educao prisional no MERCOSUL, unidade prisional
de Bom Jesus, Piau, Brasil. Benigno Nez Novo. 156 p.
Orientador: Prof. Dr. Gustavo Abrahan Auadre Canela.
Tese acadmica em Doutorado em Direito Internacional UAA, 2010.
http://e.uaa.edu.py/user/view.php?id=789&course=1
Benigno Nez Novo
A EDUCAO PRISIONAL NO MERCOSUL, UNIDADE
PRISIONAL DE BOM JESUS, ESTADO DO PIAU, BRASIL
Esta tese foi avaliada e aprovada para a obteno do ttulo de licenciado, Doutor em
Direito Internacional pela Universidad Autnoma de Asuncin UAA.
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
Agradecimento
Em primeiro lugar a Deus pela disposio e sade para realizar este trabalho.
Ao professor Dr. Gustavo Abrahan Auadre Canela que orientou a minha pesquisa com
competncia, sempre se mostrando solcito e incentivando a dissertao em torno do tema.
Aos reeducandos (detentos) que de forma especial contriburam para que a presente
avaliao pudesse transcorrer de forma harmoniosa e satisfatria.
A Gerncia que nos deu toda a liberdade de acesso as dependncias da Unidade
Prisional para que pudssemos realizar a coleta de dados e informaes para embasar a
presente dissertao.
Aos Coordenadores, agentes penitencirios, policiais militares, professores da escola
da penitenciria, Gerente da 14 Gerncia Regional de Educao de Bom Jesus que de forma
sensvel se dispuseram a colaborar e atender as solicitaes que lhes foram encaminhadas.
Aos pais, Ramn e Eduvigis pela fora, incentivo e com os quais deixei de estar
presente por muitas horas e em muitas oportunidades para elaborao deste trabalho.
Por fim, gostaria de prestar uma homenagem aos amigos conquistados ao longo do
desenvolvimento deste trabalho e a todos que contriburam para a concretizao.
http://e.uaa.edu.py/user/view.php?id=789&course=1
Os direitos humanos so um conjunto de princpios aceitos universalmente,
reconhecidos constitucionalmente e garantidos juridicamente. O objetivo dos direitos
humanos assegurar a qualquer pessoa o respeito sua dignidade, na sua dimenso
individual e social, material e espiritual. garantir que qualquer pessoa, independentemente
de sua nacionalidade, sua religio, suas opinies polticas, sua raa, sua etnia, sua
orientao sexual tenha a possibilidade de desenvolver plenamente todos os seus talentos.
(Pierre Toussaint Roy
Srgio Haddad)
SUMRIO
Lista de Figuras....................................................................................................................... vii
Lista de Tabelas..................................................................................................................... viii
Lista de Grficos...................................................................................................................... ix
Lista de Abreviaturas, Siglas e Smbolos................................................................................... x
Resumo.................................................................................................................................... xi
Resumen.................................................................................................................................. xii
INTRODUO..........................................................................................................................1
1 A PRISO................................................................................................................................7
1.1 Histrico....................................................................................................................7
1.2 Sistemas Penitencirios Clssicos.............................................................................8
1.2.1 Sistema Pensilvnico........................................................................................8
1.2.2 Sistema Auburniano.........................................................................................9
1.2.3 Sistema Progressivo Ingls..............................................................................9
1.2.4 Sistema Progressivo Irlands.........................................................................10
1.2.5 Sistema de Elmira..........................................................................................11
1.2.6 Sistema de Montesinos...................................................................................11
1.2.7 Sistema Brostal..............................................................................................13
2 A FALTA DE ACESSO A EDUCAO PRISIONAL...............................................22
2.1 As Realidades do Sistema Prisional Brasileiro....................28
2.2 Reintegrao Social..........................40
2.3 Educao de Detentos..................................42
2.3.1 A Educao prisional nos Estados Unidos..........................54
2.3.2 A Educao prisional na Europa.........................56
2.3.3 A Educao prisional na Amrica Latina...........58
2.3.4 A Educao prisional no MERCOSUL......................................66
2.3.5 A Educao prisional no Brasil..................................................78
2.3.6 A Educao prisional no Estado do Piau..................................83
3 EDUCAO E TRABALHO............................................................................................84
3.1 Necessidade de Estmulo................................................................................................85
3.1.1 As Dificuldades do Exerccio do Direito Educao...........................................85
3.2 A Escola Virtual..............................................................................................................86
4 O SISTEMA PRISIONAL DO ESTADO DO PIAU...........................................................94
4.1 A Unidade Prisional de Bom Jesus................................................................................97
4.2 Marco Operacional.........................................................................................................99
4.3. Pressupostos................................................................................................................102
4.3.1 Pressuposto 1......................................................................................................102
4.2.2 Pressuposto 2......................................................................................................102
5 METODOLOGIA DA PESQUISA.....................................................................................102
5.1 Descrio do Lugar do Estudo......................................................................... 102
5.2 Fontes de Dados................................................................................................104
5.3 Tipo e Mtodo de Estudo..................................................................................104
5.3.1Tipo..........................................................................................................104
5.3.2 Mtodo....................................................................................................104
5.4 Populao e Amostra......................................................................................... 104
5.4.1 Populao..................................................................................................104
5.4.2 Amostra.....................................................................................................105
5.5 Tcnicas de Coletas de Dados............................................................................105
5.6 Tcnicas de Anlise de Dados............................................................................105
6 DISCUSSO E ANLISE DOS RESULTADOS..............................................................105
7 CONCLUSES E RECOMENDAES...................................................................125
BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................135
ANEXOS...............................................................................................................................144
Anexo 01. Ofcio solicitando permisso e acesso a Penitenciria Regional Dom Abel Alonso
Nez......................................................................................................................................144
Anexo 02. Questionrio apresentado e dirigido ao Gerente da Unidade Prisional de Bom
Jesus, Estado do Piau, Brasil..................................................................................................146
Anexo 03. Questionrio apresentado e dirigido aos detentos (reeducandos) que frequentam a
Escola da Penitenciria Regional de Bom Jesus, Estado do Piau, Brasil..............................148
Anexo 04. Questionrio apresentado e dirigido aos professores que ministram aulas na Escola
da Penitenciria Regional de Bom Jesus, Estado do Piau, Brasil..........................................149
Anexo 05. Fotografias.............................................................................................................151
Figura 3 - ENTRADA DA PENITENCIRIA REGIONAL DE BOM JESUS, PIAU,
BRASIL..................................................................................................................................151
Figura 4 - VISO DA ENTRADA DA ESCOLA DA PENITENCIRIA...........................152
Figura 5 - JARDIM DA ESCOLA UM DOS TRABALHOS DOS REEDUCANDOS DA
ESCOLA.................................................................................................................................152
Figura 6 - REEDUCANDOS EM SALA DE AULA.............................................................153
Figura 7 - PROFESSORA MINISTRANDO AULA DE GEOGRAFIA..............................153
Figura 8 - PROFESSORA MINISTRANDO AULA DE PORTUGUS..............................154
Figura 9 - REEDUCANDOS CORRIGINDO TAREFAS EM SALA DE AULA................154
Figura 10 - ARTESANATO PRODUZIDO POR DETENTO QUE FREQUENTA A
ESCOLA DA PENITENCIRIA...........................................................................................155
Figura 11 - JARDINS DO PRDIO DA ADMINISTRAO DA PENITENCIRIA
CONSTRUDOS PELOS REEDUCANDOS.........................................................................155
Figura 12 - PLANTAES REALIZADAS PELOS REEDUCANDOS..............................156
Figura 13 - VISO DE CIMA DOS PAVILHES DA PENITENCIRIA REGIONAL DE
BOM JESUS...........................................................................................................................156
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Organograma da Secretaria da Justia e de Direitos Humanos do Estado do
Piau..........................................................................................................................................96
Figura 2 Organograma da Unidade de Reintegrao Social e Penitenciria da Secretaria da
Justia e de Direitos Humanos do Estado do Piau onde se encontra a Coordenao de ensino
dos presdios do Estado do Piau...............................................................................................97
Figura 3 - Entrada da Penitenciria Regional de Bom Jesus, Piau, Brasil.............................151
Figura 4 - Viso da entrada da escola da penitenciria...........................................................152
Figura 5 - Jardim da escola um dos trabalhos dos reeducandos da escola..............................152
Figura 6 - Reeducandos em sala de aula.................................................................................153
Figura 7 - Professora ministrando aula de geografia..............................................................153
Figura 8 - Professora ministrando aula de portugus..............................................................154
Figura 9 - Reeducandos corrigindo tarefas em sala de aula....................................................154
Figura 10 - Artesanato produzido por detento que frequenta a escola da
penitenciria............................................................................................................................155
Figura 11 - Jardins do prdio da administrao da penitenciria construdos pelos reeducandos
.................................................................................................................................................155
Figura 12 - Plantaes realizadas pelos reeducandos.............................................................156
Figura 13 - Viso de cima dos pavilhes da Penitenciria Regional de Bom Jesus...............156
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Dados Consolidados do Ministrio da Justia, em 2006...................................29
http://pessoas.hsw.uol.com.br/framed.htm?parent=presidios.htm&url=http://www.mj.gov.br/depen/sistema/consolidado%202007.pdf
LISTA DE GRFICOS
Grfico 1 Grau de escolaridade dos detentos da Penitenciria Regional de Bom
Jesus....................................................................................................................................... 105
Grfico 2 Avaliao do processo ensino-aprendizagem pelos detentos da escola da
penitenciria........................................................................................................................... 106
Grfico 3 Processo ensino-aprendizagem voltado para a realidade do
detento.................................................................................................................................... 107
Grfico 4 Avaliao dos detentos sobre a carga horria da escola da Penitenciria Regional
de Bom Jesus.......................................................................................................................... 107
Grfico 5 Avalia o que pode ser feito para melhorar o processo ensino-aprendizagem
segundo os detentos (reeducandos)........................................................................................ 108
Grfico 6 - O que pode ser feito para aumentar as vagas na escola da penitenciria segundo os
detentos.................................................................................................................................. 109
Grfico 7 - O que pode ser melhorado para que o processo ensino-aprendizagem e a carga
horria atendam seus objetivos segundo os professores........................................................ 109
Grfico 8 - O que pode ser modificado na rea de ensino e aprendizagem para melhorar o
aproveitamento dos reeducandos segundo os professores..................................................... 110
Grfico 9 - O que pode ser modificado na rea de ensino e aprendizagem para melhorar o
aproveitamento dos reeducandos segundo o gerente da Penitenciria................................... 111
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SMBOLOS
LEP Lei de Execuo Penal
Art. Artigo
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica
ONU Organizao das Naes Unidas
CF Constituio Federal
RDD Regime Disciplinar Diferenciado
AIDS Sndrome da Imunodeficincia Adquirida
EUA Estados Unidos da Amrica
LEP Lei de Execuo Penal
US$ Dlar
R$ Real
CPI Comisso Parlamentar de Inqurito
DEPEN Departamento Penitencirio Nacional
FUNAP Fundao de Amparo ao Trabalhador Preso
MOBRAL Movimento Brasileiro de Alfabetizao
EJA Educao de Jovens e Adultos
PEB Programa de Educao Bsica
CESU Centro de Exames Supletivos
MEC Ministrio da Educao
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educao
SEDUC Secretaria Estadual da Educao e Cultura
PL Projeto de Lei
PT Partido dos Trabalhadores
SP So Paulo
PSDB Partido Socialista Democrtico Brasileiro
GO Gois
PDT Partido Democrtico Brasileiro
RS Rio Grande do Sul
SECAD Secretaria Nacional da Administrao
MJ Ministrio da Justia
SNDH Secretaria Nacional de Direitos Humanos
PL Partido Liberal
RJ Rio de Janeiro
MEB Movimento de Educao de Base
IDH ndice de Desenvolvimento Humano
INFOPEN Sistema de Informaes Penitencirio Nacional
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria
BB Educar Programa da Fundao Banco do Brasil
EMATER/PI Instituto de Assistncia Tcnica e Extenso Rural do Piau
RESUMO
Esta tese tem por objetivo demonstrar um panorama atual da situao em que se encontra o
sistema educativo prisional no MERCOSUL que administrado na penitenciria de Bom
Jesus, Estado de Piau, Brasil, tendo como primeira hiptese examinar o papel da educao
dentro do "Programa de Recuperao" na poltica de transformao e recuperao do
condenado. Como segunda hiptese procura demostrar importncia do ensino ministrado na
escola com base na realidade local do condenado. O desenho desse estudo no experimental,
transversal, do tipo descritivo. Atravs da anlise de diversos documentos, das experincias
com os estudantes e de uma recopilao dos questionrios com professores, detentos e gerente
a respeito do sistema implementado que o modelo de poltica pblica para a educao
aplicada na escola da priso de Bom Jesus, tendo uma histria recente, busca-se entre outras
questes, compreender o papel que desempenha a educao bsica na penitenciria, buscando
descrever e analisar a relao entre a educao escolar e a recuperao dos presos. Ademais, o
trabalho se determina a examinar a educao desenvolvida na priso com base no prprio
exame interno que foi realizado com os condenados a respeito do programa educativo de que
eles participam. Dada a especificidade da questo e a ateno a escassa produo de literatura
cientfica neste campo de estudo, acredita-se que este material pode contribuir para levantar a
discusso no mbito da educao penitenciria que existe at hoje, na realidade, a recuperao
dos condenados tem sido uma preocupao para os advogados, cientistas sociais e psiclogos,
quando deveria ser uma preocupao de toda a sociedade.
Palavras-chave: Condenados; Sistema educativo administrado na penitenciria; Educao de
jovens e adultos; Recuperao; Preocupao de toda a sociedade.
RESUMEN
Esta tesis tiene por objetivo disertar un panorama actual de la situacin en que se encuentra el
sistema educativo prisional del MERCOSUR que es administrado en la penitenciara de Bom
Jesus, del Estado de Piau, Brasil, y tiene como primera hiptesis examinar el papel de la
educacin dentro del "Programa de Recuperacin" en la poltica de transformacin y
recuperacin del condenado. Como segunda hiptesis se busca la importancia la enseanza
ministrado en la escuela con base en la realidad local del condenado. El dibujo de ese estudio
es no experimental, transversal, de tipo descriptivo. A travs del anlisis de diversos
documentos, de las experiencias con los estudiantes, y de una recopilacin de los
cuestionarios con profesores, detentos y gerente, respecto del sistema implementado, que es el
modelo de la poltica pblica para la educacin aplicada en la escuela de la prisin de Bom
Jesus, misma que tiene una historia reciente, buscamos entre otras cuestiones, comprender el
papel que desempea la educacin bsica en la penitenciaria, buscando describir y analizar la
relacin entre la educacin escolar y la recuperacin de los presos. Adems, el trabajo se
determina a examinar la educacin desarrollada en la prisin, con base en el propio examen
interno que han realizado los condenados respecto del programa educativo en el que ellos
participan. Dada la especificidad de la cuestin, y en atencin a la escasa produccin de
literatura cientfica en este campo de estudio, se cree que este material puede contribuir para
insertar la discusin respecto al mbito de la educacin penitenciaria, ya que hasta hoy, en la
realidad, la recuperacin de los condenados slo ha sido una preocupacin para los abogados,
cientficos sociales, trabajadores sociales y psiclogos, cuando que debera de ser una
preocupacin de toda la sociedad.
Palabras clave: Condenados; Sistema educativo administrado en la penitenciara; Educacin
de jvenes y adultos; Recuperacin: Preocupacin de toda la sociedad.
1
INTRODUO
O estabelecimento da priso como instrumento da pena se deu pelo Cdigo Penal
Francs em 1791 e generalizou-se no mundo. A priso surgiu no fim do Sculo XVIII e
princpio do Sculo XIX com o objetivo de servir como pea de punio. A criao de uma
nova legislao para definir o poder de punir como uma funo geral da sociedade, exercida
da forma igual sobre todos os seus membros. Foucault (1987) diz que a priso se fundamenta
na privao de liberdade, salientando que esta liberdade um bem pertencente a todos da
mesma maneira, perd-la tem, dessa maneira, o mesmo preo para todos, melhor que a
multa, ela o castigo, permitindo a quantificao da pena segundo a varivel do tempo:
Retirando tempo do condenado, a priso parece traduzir concretamente a ideia de que a
infrao lesou, mais alm da vtima a sociedade inteira (Foucault, 1987, p. 196).
O crescimento vertiginoso da populao prisional e do dficit de vagas, a despeito dos
esforos dos governos dos estados e da federao para a gerao de novas delas, por seu
turno um elemento revelador de que a construo de novas unidades no pode mais ser o
componente fundamental das polticas penitencirias, seno que apenas mais um componente,
dentro de um mosaico bem mais amplo. Pesquisas recentes estimam, por exemplo, que mais
de 60% (sessenta por cento) da populao prisional seja composta por reincidentes (talvez no
no sentido tcnico-jurdico do termo, mas no sentido de que saram do sistema e a ele vieram
a retornar, em situao de reincluso), o que aponta, dentre outras coisas, para o papel
absolutamente deficitrio que vem sendo desempenhado pelo assim chamado tratamento
penal, nas unidades prisionais do pas. bem verdade que entre a superlotao de
estabelecimentos penitencirios e a qualidade desses servios subsiste uma relao de mtua
implicao. Mas ainda assim, restam ainda outros fatores que devem ser trabalhados junto
gesto dos sistemas penitencirios estaduais, como estratgias para torn-los melhores.
O nvel educacional geralmente baixo das pessoas que entram no sistema carcerrio
reduz seus atrativos para o mercado de trabalho. Isso sugere que programas educacionais pode
ser um caminho importante para preparar os detentos para um retorno bem-sucedido
sociedade. Reconhecendo essa possibilidade, a LEP determina que os detentos recebam
oportunidades de estudo, garantindo-lhes, em especial, educao escolar primria. A lei
tambm promete aos detentos treinamento vocacional e profissional.
A educao no sistema penitencirio iniciada a partir da dcada de 1950. At o
princpio do Sculo XIX, a priso era utilizada unicamente como um local de conteno de
pessoas uma deteno. No havia proposta de requalificar os presos. Esta proposta veio a
2
surgir somente quando se desenvolveu dentro das prises os programas de tratamento. Antes
disso, no havia qualquer forma de trabalho, ensino religioso ou laico.
Assim, somente nos meados dos anos 50, constatou-se o insucesso deste sistema
prisional, o que motivou a busca de novos rumos, ocasionando na insero da educao
escolar nas prises. Foucault (1987, p. 224) diz: A educao do detento , por parte do poder
pblico, ao mesmo tempo uma precauo indispensvel no interesse da sociedade e uma
obrigao para com o detento, ela a grande fora de pensar.
A grande maioria dos indivduos presos no tiveram melhores oportunidades ao longo
de suas vidas, principalmente a chance de estudar para garantir um futuro melhor. Nesse
sentido, o tempo que despender atrs das grades pode e deve ser utilizado para lhe garantir
estas oportunidades que nunca teve, por meio de estudo e, paralelamente, de trabalho
profissionalizante. Alm de ajeitar as celas, lavar corredores, limpar banheiros etc., os
detentos precisam ter a chance de demonstrarem valores que, muitas vezes, encontram-se
obscurecidos pelo estigma do crime. Existem casos de detentos que demonstram dotes
artsticos, muitos deles se revelando excelentes pintores de quadros e painis de parede, alm
de habilidades com esculturas, montagens, modelagens, marcenaria etc. Tambm, decoram as
celas de acordo com sua criatividade e sua personalidade. Estas artes devem ser incentivadas,
pois uma forma de ocupar o preso, distraindo-o e aumentando sua autoestima. a chance de
mostrar a ele de que existe a esperana de um amanh melhor alm das grades que o separam
do mundo exterior.
As superlotaes, os envolvimentos de presos em organizaes criminosas e a falha de
pessoal, so os principais problemas enfrentados pelas penitencirias brasileiras. Outro fator
que estamos acostumados a ver nos noticirios a questo das rebelies em presdios, sempre
com resultados lastimveis de sentenciados que so mortos por seus prprios companheiros,
funcionrios e familiares de detentos transformados em refns, resgates e fugas audaciosas e
espetaculares realizadas por criminosos, e por fim, a incapacidade das autoridades em face de
organizaes de criminosos, cada vez mais presente nos Estados brasileiros.
Assistncia ao Preso, ao Internado, ao Egresso e aos seus Dependentes faz referncia a
um movimento de promoo dos direitos dos apenados, internados, egressos, dependentes e
familiares, criando condies para que estes possam exercer a sua autonomia. Esse processo
deve ser mediado pela incluso dos beneficirios na agenda das polticas pblicas de governo
e pelo apoio a aes de instituies pblicas e privadas, de carter permanente, que tenham
como objetivo prestar atendimento aos beneficirios, na forma e nos limites da lei: material,
3
jurdica, educacional, social, religiosa e principalmente sade ao egresso, aps a edio do
Plano Nacional de Sade no Sistema Penitencirio.
Com efeito, a educao precisa transmitir significados presentes na vida concreta de
quem se pretendem educar ou reeducar; de modo diverso, no produz resultado,
aprendizagem.
Mediante a conscincia reflexiva, simblica, o homem desenvolve a linguagem,
utilizando-se da palavra; d sentido vida, segundo os significados que advm
fundamentalmente dos smbolos, das palavras, dos nomes. Assim, os conceitos (smbolos) so
necessrios s experincias dos indivduos em conexo realidade. Logo, o processo da
aprendizagem precisa mobilizar tanto os significados, os smbolos, quanto os sentimentos, as
experincias a que eles se referem.
O sistema prisional dos Estados Unidos tem seus alvos. As minorias so as mais
afetadas. Seus clientes so basicamente pobres, negros e latinos (rabble class). Os negros
representam a minoria da populao, mas so a maioria dentro dos presdios. Um de cada 19
homens negros est na priso. Enfim, segundo John Irwin, o encarceramento serve para
governar a ral.
Na Europa, numerosos pases aprovaram leis que garantem o direito dos presos
educao. Essas normas legais apresentam geralmente muita semelhana, embora,
principalmente nos pases do Leste europeu, observe-se uma distncia considervel entre o
que prescrevem as leis e a vida cotidiana nas prises.
Na Amrica Latina, a reabilitao prisional, pretendida pela legislao penal, tem
patenteado, na prtica, o desalento, a aflio e a definitiva rebeldia contra uma sociedade que
fecha as portas ao egresso.
A educao deve ser vista como um direito, no para a reintegrao. Claro que isso
muito importante, mas se a reintegrao for impossvel, a educao continua a ser um direito.
No devemos instrumentalizar a educao unicamente para um papel social ou do tipo
poltico-social. A educao pode ser uma soluo se for uma educao ao longo da vida, no
apenas do tipo profissional ou a reeducao. para muitos presos a primeira oportunidade de
compreender sua histria e de tratar de desenvolver seu prprio projeto de vida.
No Estado do Piau os presos de todas as penitencirias pblicas estaduais so
beneficiados com o programa Educando para a Liberdade.
Na priso, o trabalho, qualquer que seja sua traduo em atividades, considerado
educativo; a educao escolar, por sua vez, no considerada trabalho intelectual.
4
A remio pelo estudo, no entanto, deve vir acompanhada de outras medidas que
possibilitem e valorizem as atividades educativas no interior dos presdios.
A pesquisa uma atividade voltada para a soluo de problemas, atravs do emprego
de processos cientficos, e que parte de uma dvida ou problema que com o uso do mtodo
cientfico busca uma resposta ou soluo.
O desenho desse estudo no experimental, transversal, de tipo descritivo. A pesquisa
foi sem manipular deliberadamente as variveis trata-se de uma pesquisa em que no fazemos
variar intencionalmente as variveis independentes. O modelo transversal por que o
procedimento consiste em situar um grupo de pessoas num contexto.
A educao importante na recuperao, muitos detentos tm baixos padres de
escolaridade. Uma parcela significativa no domina as competncias bsicas de leitura e
escrita, esse baixo nvel de escolaridade afetou suas vidas e pode ter contribudo para que
cometessem delitos, por isso os programas e projetos de educao nos presdios so
importantes para desenvolver nos encarcerados seu senso de autovalorizao.
Nossa pergunta do problema a seguinte:
De que maneira a educao prisional pode se tornar um instrumento na recuperao de
detentos do MERCOSUL, na Unidade Prisional de Bom Jesus no Estado do Piau, Brasil?
O objetivo geral da pesquisa o seguinte: Investigar como a educao pode se tornar
um instrumento na recuperao de detentos da Unidade Prisional de Bom Jesus no Estado do
Piau, Brasil.
Os objetivos especficos da pesquisa so: 1) Descrever os projetos, tcnicas e mtodos
educacionais que podem ser aplicadas para resultados no melhoramento dos ndices de
recuperao de detentos da Unidade Prisional de Bom Jesus no Estado do Piau, Brasil; 2)
Verificar as condies para aumentar a oferta de ensino na unidade Prisional de Bom Jesus; 3)
Identificar a realidade carcerria atual no aspecto da formao adequada dos profissionais da
rea de educao voltado para a realidade da Unidade Prisional de Bom Jesus.
Esta pesquisa justifica-se da seguinte maneira: A educao um dos instrumentos
importantes na recuperao, muitos detentos tm baixos padres de escolaridade. Uma parcela
significativa no domina as competncias bsicas de leitura e escrita, esse baixo nvel de
escolaridade afetou suas vidas e pode ter contribudo para que cometessem delitos.
Os programas e projetos educacionais precisam ser desenvolvidos dentro das prises
para que se trabalhe a conscientizao dos educandos ajudando a desenvolver seu senso de
autovalorizao. Pois um indivduo que nasceu na misria e por consequncia no teve acesso
5
a uma educao satisfatria ou a de nenhum tipo, no pode agir com discernimento em seus
atos.
A delimitao e alcance desta pesquisa so relevantes cientificamente e contribuem
para mudar e melhorar o processo ensino-aprendizagem da escola da penitenciria de Bom
Jesus que se diga no se finda por aqui tal estudo devendo ser continuado porque como
dissemos anteriormente a educao processo que necessita constantemente ser aprimorado,
melhorado e que no se esgota.
Os resultados sero teis para os Estados Partes do MERCOSUL, para a Secretaria da
Justia e dos Direitos Humanos do Estado do Piau, Secretaria Estadual de Educao e
Cultura do Estado do Piau, Gerncia da Penitenciria Regional de Bom Jesus e para a 14
Gerncia Regional de Educao de Bom Jesus.
Em efeito, este estudo est estruturado em captulos da seguinte forma: No captulo
primeiro feita a reviso do tema Priso, os Sistemas Penitencirios Clssicos e um histrico
sobre a priso.
Nos captulos segundo e terceiro tratado o marco terico do estudo. Nele se
desenvolvem os fundamentos tericos de diferentes autores sobre o objeto de estudo. A Falta
de Acesso Educao e as Realidades do Sistema Prisional Brasileiro, a Reintegrao Social
demonstrando que o grande desafio recuperar e reintegrar o detento na comunidade, mas
para isso necessrio diagnosticar os que desejam trabalhar e estudar. Os efeitos nocivos do
encarceramento sobre os condenados impossibilitam qualquer tentativa de recuperao, no
havendo como se falar em reinsero e reeducao em um ambiente de excluso e explorao
ao quais os presos esto submetidos, caractersticas estas que exercem, na verdade, uma
funo marginalizadora, sendo um fator crimingeno de educao e promoo ao crime e ao
trabalho praticamente escravo.
Na priso, o trabalho, qualquer que seja sua traduo em atividades, considerado
educativo; a educao escolar, por sua vez, no considerada trabalho intelectual.
O captulo quarto apresenta a necessidade do estmulo para educao e trabalho, as
dificuldades do exerccio do direito educao e como o uso das tecnologias como a escola
virtual podem ajudar na recuperao de detentos.
No quinto captulo o estudo do Sistema Prisional do Estado do Piau com destaque
para a Unidade Prisional de Bom Jesus.
No captulo sexto tratada a Metodologia. Neste captulo se prepara o projeto para o
trabalho de campo, descrevendo brevemente o lugar de estudo, identificando as fontes de
6
dados, explicando o tipo e mtodo de estudo, especificando a elaborao e validao dos
instrumentos de pesquisa, e aclarando as tcnicas de anlise de dados.
O captulo stimo apresenta a discusso e a anlise dos resultados. Nele se elaboram
um sistema de organizao e apresentao dos dados.
No oitavo captulo se apresentam as concluses e recomendaes. As concluses mais
importantes, os pontos fortes da pesquisa a partir dos objetivos atingidos, o alcance dos
objetivos especficos e a confirmao das hipteses atravs dos resultados obtidos.
7
1 A PRISO
1.1 Histrico
Ao buscar a origem da priso a partir do surgimento da civilizao, constata-se que na
antiguidade, mais precisamente na Roma Antiga prevaleciam as penas corporais e de morte,
sendo que a priso constitua meio para encarcerar os acusados somente at o julgamento ou
execuo.
Naquela poca, no existia um local certo com uma arquitetura prisional definida para
recolher os encarcerados, os quais ficavam geralmente em fortalezas reais, calabouos, torres
ou edifcios diversos. Messuti (2003, p. 28) registra que existiam em Jerusalm quando houve
a invaso dos caldeus, trs prises que se localizavam uma no portal de Benjamin, outra no
palcio do rei e a ltima na residncia de um funcionrio pblico.
Afora estas experincias isoladas de priso, segundo Leal (2001, p. 33) foi a Igreja
que, na Idade Mdia, inovou ao castigar os monges rebeldes ou infratores com o recolhimento
em celas localizadas em uma ala prpria do mosteiro com o fim de recolhimento e orao.
A Idade Mdia, tambm, marcada pelo aspecto estritamente punitivo da pena atravs
do sofrimento fsico corporal infligido aos acusados para libertao da alma com os suplcios,
a forca, a roda.
No sculo XVI, com a crise do sistema feudal e a migrao da populao dos campos
para as cidades com cenrio de pobreza e misria na Europa, o aumento da criminalidade foi
inevitvel e forou a construo de vrias prises para segregar mendigos, prostitutas e
vagabundos com o fim disciplinar e corretivo atravs do trabalho, especialmente pelos crimes
cometidos contra o patrimnio que no se solucionariam com a pena de morte que fatalmente
exterminaria milhares de delinquentes assolados pela fome.
Nesta poca, a priso mais antiga de acordo com Leal (2001, p. 34) foi a House of
Correction, inaugurada em 1552 na cidade de Bridewell, na Inglaterra, com disciplina
extremamente rgida para emenda dos delinquentes.
Outro modelo de inspirao para poca foi o de Rasphuis de Amsterdam, inaugurado
em 1596, onde o trabalho era obrigatrio, a cela individual era utilizada somente a ttulo de
punio com vigilncia contnua e leituras espirituais.
Percebe-se, desta forma, que a priso surgiu para a segregao de mendigos,
prostitutas e vagabundos, fato sociolgico que merece registro pela atualidade da
problemtica da populao carcerria atual, no se olvidando da sua finalidade: corretiva
atravs do labor.
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A partir desta poca, comeou a se desenvolver estudos e ideias sobre o sistema
penitencirio, especialmente a preocupao com a questo humanitria da priso, destacando-
se dentre os mais importantes: a obra Reflexes sobre as prises monsticas de Jean Mabillon
(1695), o clssico revolucionrio Dos Delitos e das Penas de Cesare Beccaria (1764), O
Estado das Prises na Inglaterra e no Pas de Gales de John Howard (1776).
1.2 Sistemas Penitencirios Clssicos
As teorias de execuo das penas, sustentadas por Cesare Beccaria, John Howard e
Jeremias Bentham, germinaram, nos Estados Unidos, no sculo XVIII, o movimento de
criao de sistemas penitencirios padronizados, cujos mais famosos foram experimentados
em colnias prisionais sob o influxo do notvel poltico Benjamin Franklin, autor da
Constituio norte-americana de 1787, que, no campo do Direito Penal, escreveu, em 1723, a
obra From Liberty and From Necessity of Penaltys Pleasure (Da Liberdade e da Necessidade
do Prazer da Pena).
Os Sistemas Penitencirios Clssicos, que prosperaram nos Estados Unidos, na Europa
e serviram de modelo para o mundo, a partir do sculo XIX, foram tambm incitados por
organizaes comunitrias, objetivando suavizar a vida dos condenados nas prises. A mais
famosa dessas organizaes foi a Philadelphia Society for Alleviating the Miseries of Public
Prisons (Sociedade de Philadephia para Aliviar a Misria das Prises Pblicas), criada em
1787, que conseguiu introduzir modificaes nas leis penais, como a abolio dos trabalhos
forados, dos aoites e das mutilaes, alm de restries ao emprego da pena de morte que
passou, em 1794, a ser aplicada, na Philadephia, apenas aos homicdios dolosos.
Os Sistemas Penitencirios Clssicos so:
1. Sistema Pensilvnico; 2. Sistema Auburniano; 3. Sistema Progressivo Ingls; 4.
Sistema Progressivo Irlands; 5. Sistema de Elmira; 6. Sistema de Montesinos; e 7. Sistema
Borstal.
1.2.1 O SISTEMA PENSILVNICO
O Sistema Pensilvnico, tambm conhecido como Sistema de Philadephia, foi
implantado na Eastern Penitentiary, na Philadelphia, em 1829, cuja construo foi inspirada
na Penitenciria Panopticon idealizada por Jeremias Bentham, na Inglaterra. A base do
Modelo Pensilvnico era o isolamento celular, com trabalho no prprio interior da cela,
separando os presos para evitar promiscuidade e fazer com que todos meditassem sobre seus
crimes com o objetivo de melhora pessoal. A solido foi to cruel, no estado de esprito dos
enclausurados, que muitos foram vtimas de loucura. Somente podiam visitar os presos o
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diretor do estabelecimento, os guardas, o capelo e os membros da Sociedade de Philadelphia
para Aliviar a Misria das Prises Pblicas.
A nica leitura permitida era a Bblia. O completo isolamento em relao ao mundo
exterior no permitia nem mesmo receber ou enviar cartas. O Modelo Pensilvnico serviu de
orientao para os regimes celulares da Europa, comeando em prises da Inglaterra,
Alemanha e Blgica com as devidas adaptaes nesses pases.
1.2.2 O SISTEMA AUBURNIANO
O Sistema Auburniano foi implementado na Penitenciria de Auburn, em Nova Iorque,
a partir do ano de 1818. Impunha o trabalho em comum durante o dia, sob absoluto silncio,
punindo com variados castigos qualquer tentativa de comunicao. noite, o isolamento
celular tambm era absoluto para descanso da labuta diria e como meio de evitar a corrupo
dos condenados. Por isso, ficou conhecido nos Estados Unidos como silent system. Os presos
no podiam, inclusive, receber visitas, nem mesmo de familiares e eram proibidos exerccios e
distraes de qualquer espcie, com direito apenas a rudimentar instruo e aprendizado
proporcionados pelos funcionrios da priso. Interessante anotar que a desumana imposio
das regras do silncio propiciou o aparecimento da linguagem indireta, utilizada,
universalmente, at hoje pelos presos, por via de gestos, leitura dos dedos ou dos lbios e
pancadas nas paredes.
Uma lei de 1821, do Estado de Nova Iorque, determinou que os presos de Auburn
ficassem divididos em trs classes: a) delinquentes mais velhos e mais perigosos, que
deveriam ficar em isolamento celular completo; b) delinquentes que deveriam ficar trancados,
em suas celas, trs dias por semana; c) delinquentes que deveriam ficar isolados apenas um
dia por semana. Nos demais dias, os delinquentes da segunda e da terceira classes deveriam
trabalhar em silncio absoluto.
A Penitenciria de Auburn foi construda pelos prprios presos, com 108 celas
propcias ao silncio e ao isolamento. As crticas ao sistema comearam, quando foram
constatados vrios casos de mortes provocadas pela tuberculose e pela loucura. Mesmo assim,
o Sistema Auburniano era o sistema da preferncia norte-americana, enquanto que o Sistema
Pensilvnico era o mais adotado na Europa.
1.2.3 O SISTEMA PROGRESSIVO INGLS
O Sistema Progressivo Ingls surgiu na Inglaterra, em 1840, motivado pelas
deficincias correcionais e reformadoras do Modelo Pensilvnico e do Modelo Auburniano.
Sua origem atribuda ao capito da Marinha real inglesa Alexander Maconochie que,
sensibilizado com as pssimas condies dos presos, especialmente os que eram deportados
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nos enfers flottants para a Austrlia, resolveu idealizar um sistema diferenciado que
representasse a substituio dos anteriores sistemas de represso. Maconochie introduziu esse
novo sistema, chamado de Mark System, na Priso da Ilha de Norfolk, na Austrlia, onde era
diretor, e l cuidava dos presos deportados pela Justia da Gr-Bretanha.
O Mark System estabeleceu uma forma de indeterminao da pena, que era medida em
razo do trabalho, da boa conduta do condenado e levando em conta a gravidade do delito
praticado. Com base nesses trs fatores, eram atribudas marcas ou vales, diariamente, que
poderiam ser subtradas em razo de faltas praticadas. Ao obter determinado nmero de
marcas ou vales, o condenado era posto em liberdade.
O Mark System alcanou excelentes resultados, por isso passou a ser aplicado em toda
a Inglaterra, com a adoo de trs perodos progressivos, da o nome Modelo Progressivo. O
primeiro perodo era chamado de perodo de prova, implicava em isolamento celular completo
diurno e noturno, com trabalho isolado e obrigatrio durante o dia. Quando atingia quatro
marcas ou vales, o apenado passava para o segundo perodo, onde era imposto o isolamento
noturno, porm, durante o dia, ele era submetido a trabalho em comum sob a regra do silncio
nos Public Work-Houses (Casas de Trabalho Pblico). Continuando a ser beneficiado com
quatro marcas ou vales, o condenado chegava ao terceiro perodo, onde, aps certo tempo e
com bom comportamento, alcanando as quatro marcas ou vales, podia obter o ticket of leave,
uma espcie de livramento condicional.
1.2.4 O SISTEMA PROGRESSIVO IRLANDS
O Sistema Progressivo Irlands foi criado por Walter Crofton, em 1854, ento diretor
das prises da Irlanda.
Esse sistema difere do Sistema Progressivo da Inglaterra em dois pontos. Em primeiro
lugar, o Sistema Ingls contm trs perodos de execuo da pena, enquanto no Irlands h
quatro, pois Crofton introduziu um perodo intermedirio entre a priso em comum (segundo
perodo do Sistema Ingls) e o livramento condicional. Nesse perodo intermedirio, com o
feitio de antecedente da priso aberta, foi adotado o trabalho externo que preparava o preso
para o futuro livre com a obteno do ticket of leave (liberdade condicional).
Outro detalhe diferenciado do Sistema Progressivo Irlands, em relao ao Ingls,
residia no fato dos detidos no serem obrigados aguardar silncio durante o trabalho em
comum.
O Sistema Progressivo Irlands, pelas benficas modificaes experimentadas, no
sentido de oferecer ao condenado vantagens por etapas, passou a influir, positivamente, nos
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aprimoramentos dos regimes da Europa e dos Estados Unidos, espraiando-se posteriormente
por todos os continentes.
1.2.5 O SISTEMA DE ELMIRA
Com base no Sistema Progressivo Irlands, surgiram nos Estados Unidos, os Regimes
de Reformatrios, cujo mais famoso foi o Sistema do Reformatrio de Elmira, no Estado de
Nova Iorque em 1869.
Com o Reformatrio de Elmira, a reao contra a criminalidade pela cura do
condenado se apresenta mais claramente na evoluo prtica da poltica penitenciria. Criou-
se o sistema unitrio de pena e medida de segurana, mediante o critrio de avaliao do
condenado. S admitia jovens delinquentes entre 16 e 30 anos de idade, sujeitos a uma pena
relativamente indeterminada com a fixao de um mnimo e de um mximo. Aps o
condenado passar por uma classificao inicial, era submetido a um sistema de marcas ou
vales, concedidas em razo da evoluo no trabalho, boa conduta, instruo moral e religiosa.
O aprendizado de um ofcio era obrigatrio e a disciplina era do tipo militar. Quando
alcanava a terceira fase, o apenado tinha direito ao livramento condicional e recebia um
peclio, como forma de ajuda financeira para as primeiras necessidades.
Em 1915, no s Elmira, mas todos os regimes de reformatrios comearam a declinar
nos Estados Unidos. As crticas mais fortes residiam no fato de que os jovens ficavam
deprimidos com a rigorosa disciplina militar, castigos pesados e um ambiente de segurana
mxima que no condizia com o sentido terico de reformulao moral para a regenerao do
condenado. Na verdade, comeava a surgir nos Estados Unidos, com repercusso na Europa, o
entusiasmo pela adoo das prises abertas.
1.2.6 O SISTEMA DE MONTESINOS
Em 1835 o coronel Manuel Montesinos e Molina foi nomeado governador do Presdio
de Valncia, na Espanha, onde procurou implantar um diferenciado e eficiente regime
prisional, cujo xito lhe valeu o reconhecimento pelo grande esforo empreendido em busca
de um exerccio humanitrio na priso. Seu lema era: os maus tratos irritam mais do que
corrigem e afogam os ltimos alentos da moralizao.
O Sistema de Montesinos, como ficou conhecido sua experincia, apresentou
peculiaridades na vida prisional, que distinguiram esse modelo espanhol dos outros existentes
na Europa e nos Estados Unidos.
Foram estas as caractersticas do sistema de Montesinos:
a) No admitiu o regime celular, porque alm de gerar a mortificao apenado, no
permitia a socializao em absoluto isolamento.
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b) Influiu eficazmente no esprito dos reclusos com menos castigo e mais autoridade
moral.
c) Procurou o equilbrio entre o exerccio da autoridade e a misso pedaggica, com
vistas correo do recluso.
d) Nenhuma sano disciplinar deveria ter carter infamante.
e) O poder de disciplina estava em conformidade com o princpio da legalidade, por
isso instituiu um Cdigo Interno com regulamento para os presos.
f) Ocupava o preso com o trabalho por ser o melhor instrumento para se conseguir o
propsito reabilitador da pena.
g) O trabalho do preso era remunerado para despertar o seu interesse por alguma
atividade produtiva.
h) Editou uma prtica penitenciria que se constituiu em importante antecedente da
priso aberta, visto que o Presdio de Valncia no possua um s ferrolho que pudesse
resistir ao arrombamento de qualquer apenado, os guardas eram, na maioria, pessoas idosas,
pois o mais importante era criar no preso a ideia de que ele deveria ser corresponsvel pela
segurana do estabelecimento, em respeito aos seus hbitos de subordinao e moralidade.
i) Introduziu no sistema uma espcie de liberdade condicional, reduzindo um tero da
condenao como recompensa boa conduta do preso, apoiado numa interpretao do art. 303
da Ordenao Geral dos Presdios do Reino, de 1834, que lhe serviu de fundamento jurdico.
Frequentemente se atribui a Manuel Montesinos e Molina o pioneirismo pela criao do
instituto da liberdade condicional.
j) Estabeleceu a prtica da concesso de licenas de sada temporria dos presos. No
se conhecia antes essa iniciativa em nenhum outro Sistema.
l) Considerar benfica a integrao de grupos de presos mais ou menos homogneos,
quer dizer, sem uma rgida separao entre perigosos e no perigosos, no encontrando
nenhum inconveniente nessa mesclagem, pois entendia que os bons poderiam auxiliar os
maus no estmulo modificao do interior humano.
Manuel Montesinos e Molina foi realmente notvel com seu Sistema. No somente
pela viso, mas principalmente pela excelente e inovadora prtica prisional, que representou
um marco no penitenciarismo da Espanha e do mundo.
Interessante anotar que sua rica experincia com priso adveio do tempo em que, aps
a Guerra da Independncia, na Espanha, em 1809, foi submetido durante trs anos a severo
encarceramento em um Arsenal Militar em Tolon, na Frana.
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Em 1854, ele pediu demisso do cargo de Governador do Presdio de Valncia. Suas
contrariedades resultaram, principalmente, da crise em torno do trabalho do preso.
O regime laboral do Sistema de Montesinos era to eficiente que os fabricantes e
artesos, em virtude da competio, apresentaram reclamao contra essa concorrncia,
alegando, inclusive, que a mesma no estava sujeita onerosa carga de impostos. O Governo
atendeu aos clamores dos empresrios livres e logo a produo na priso foi diminuindo,
perdendo a qualidade, chegando ao ponto de no conseguir matria-prima e sofrer forte
campanha publicitria colocando em descrdito o trabalho na priso.
Sem ajuda do Governo e sem o apoio da comunidade, Manuel Montesinos e Molina
deixou o comando do Presdio que, lamentavelmente, a partir da, se tornou ineficiente no
mister de soerguimento social e moral dos apenados.
1.2.7 O SISTEMA BORSTAL
O estabelecimento do tipo Borstal, implantado para jovens delinquentes, na Inglaterra,
em 1902, merece tambm destaque na trajetria dos Sistemas Penitencirios Clssicos.
A priso Borstal ficava no Condado de Kent, inaugurada desde 1893 para presos
adultos, que l ficavam em condies pessoais no recomendveis. Com a reforma, Borstal se
transformou em uma priso para delinquentes, entre 16 e 21 anos, bem adaptada para oferecer
instruo moral e profissional aos presos.
O grande avano do Sistema Borstal foi o pioneirismo no modelo de regime
penitencirio aberto na Inglaterra. Isso comeou quando, em 1930, um grupo de jovens presos
se deslocou para um acampamento na cidade de Nottinghamshire e l construiu uma moradia
para eles e para os que viessem posteriormente. Os prprios presos concebiam a moradia
como priso.
Estava, assim, semeada a primeira casa penal aberta, bem acolhida pela comunidade,
tanto que, nos anos posteriores, o prprio Governo apoiou a fixao de outras unidades do
Borstal, com o mesmo perfil, para jovens delinquentes, na Inglaterra.
Verifica-se, pelo exposto, a louvvel disposio de se conseguir bons resultados pela
via da priso. No h dvida de que enorme foi o esforo dos Sistemas Penitencirios
Clssicos, no sentido de dotar o modelo de privao de liberdade com crescentes iniciativas,
visando aliviar o pesadelo da contnua violao dos direitos humanos nos crceres e
possibilitando, igualmente, a real correo dos delinquentes.
Veja-se que os Sistemas Penitencirios Clssicos serviram de ponte para a orientao
do tratamento prisional, desenvolvido no sculo XX, sob a gide de duas vertentes:
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a) individualizao cientfica da pena e de sua execuo com mtodos de investigao
e conhecimento de personalidade do preso;
b) administrao penal sustentada pelas opes de regime fechado, regime semiaberto
e regime aberto de cumprimento de pena.
Os resultados prticos no geraram as mais produtivas e infalveis experincias,
todavia valeu a contribuio desses Sistemas Clssicos, como ingrediente merecedor de
reconhecimento, na luta incessante em busca de prestgio para o processo regenerador que a
anormalidade prisional no permite alcanar.
A priso surgiu no fim do Sculo XVIII e princpio do Sculo XIX com o objetivo de
servir como pea de punio. A criao de uma nova legislao para definir o poder de punir
como uma funo geral da sociedade, exercida da forma igual sobre todos os seus membros.
Foucault (1987) diz que a priso se fundamenta na privao de liberdade, salientando que
esta liberdade um bem pertencente a todos da mesma maneira, perd-la tem, dessa maneira,
o mesmo preo para todos, melhor que a multa, ela o castigo, permitindo a quantificao
da pena segundo a varivel do tempo: Retirando tempo do condenado, a priso parece
traduzir concretamente a ideia de que a infrao lesou, mais alm da vtima a sociedade
inteira (Foucault, 1987, p. 196).
Alm disso, a priso possibilitou a contabilizao dos castigos em dias, em meses, em
anos se estabeleceu equivalncias quantitativas delito-durao, da vem expresso de que
a pessoa presa est pagando sua dvida.
A priso, como hoje se configura, representa um grande fracasso da justia penal.
Convive-se com denncias ou constataes que a no ser pela mudana dos nmeros
estatsticos se repetem desde os primrdios da criao da instituio-priso: - as prises no
diminuem a taxa de criminalidade, ao contrrio tende a aument-las; a priso provoca
reincidncia; a priso fabrica delinquentes pelo tipo de existncia que os obriga a levarem,
como a promiscuidade, imposio de trabalhos inteis e sem nenhum carter educativo; abuso
de poder, corrupo e incapacidade dos gerenciadores do sistema; favorecimento de
organizaes criminosas e prontas para cumplicidades futuras; proibies e falta de condies
aos egressos para se inserirem na sociedade, fazendo-os retornarem priso; desestruturao
familiar indiretamente causada pela falta do seu provedor, dentre outras.
Segundo Foucault (2004, p. 223) a resposta s crticas ou colocaes acima apontadas
tem se repetido:
H um sculo e meio que a priso vem sendo dada como seu prprio remdio; a
reativao das tcnicas penitencirias como a nica maneira de reparar seu fracasso
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permanente; a realizao do projeto corretivo como o nico mtodo para superar a
impossibilidade de torn-lo realidade.
Clamar pela ajuda da sociedade para auxiliar na efetivao de mudanas neste quadro
tem sido um chamamento muitas das vezes, dirigido ao vazio, pela realidade com a qual se
depara, e pela falta de se vislumbrar perspectivas de melhora. O trabalhador brasileiro, mesmo
estando na contingncia de trabalhar cerca de quatro meses e meio por ano apenas para estar
em dia com seus impostos, v-se refm da marginalidade, pois a ningum, at ao indivduo
medianamente informado, escapa percepo de que as prises no esto cumprindo o seu
papel, isto , no recuperam, no ressocializam o detento e a bandidagem (termo
utilizado popularmente) prolifera e est sempre um passo frente da lei. Depara-se na mdia,
ou em outros meios de comunicao com expresses como: a Cadeia uma escola do crime
na cadeia o indivduo entra primrio e sai ps-graduado no crime bandido bom bandido
morto, e assim por diante.
Tal situao se prolifera com a conivncia do Estado, permitindo a perpetuao de
uma cultura arcaica. De acordo com Frei Betto (apud Kotscho, 2003, p.41):
O sistema penitencirio, tal como ele existe na sociedade capitalista, principalmente
aqui no Brasil, extremamente cruel, no s porque confina fisicamente o homem, sem que
esse homem possa compreender o problema da liberdade, seno em relao sua locomoo
fsica, mas ele destri a subjetividade do homem, no sentido de no lhe oferecer nenhuma
possibilidade de racionalizao da situao em que se encontra.
De acordo com Foucault (1987) a priso tambm se fundamenta pelo papel de
aparelho para transformar os indivduos, servindo desde os primrdios como uma:
[...] deteno legal [...] encarregada de um suplemento corretivo, ou ainda uma empresa de
modificao dos indivduos que a privao de liberdade permite fazer funcionar no sistema
legal. Em suma o encarceramento penal, desde o incio do sculo XIX, recobriu ao mesmo
tempo a privao de liberdade e a transformao tcnica dos indivduos.
A histria do sistema penitencirio no Brasil revela que, desde o incio, a priso foi
local de excluso social e questo relegada a segundo plano pelas polticas pblicas,
importando, consequentemente, a falta de construo ou a edificao inadequada dos edifcios
penitencirios, na maioria das vezes improvisados.
Estabelecia o Livro V das Ordenaes Filipinas do Reino, Cdigo de leis portuguesas
que foi implantado no Brasil durante o perodo Colonial que decretava a Colnia como
presdio de degredados. A pena era aplicada aos alcoviteiros, culpados de ferimentos por
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arma de fogo, duelo, entrada violenta ou tentativa de entrada em casa alheia, resistncia a
ordens judiciais, falsificao de documentos, contrabando de pedras e metais preciosos.
A utilizao do territrio colonial como local de cumprimento das penas se estende at
1808, ano marcado por mudanas significativas rumo autonomia legal e aos anseios de
modernidade, to em voga naqueles tempos, segundo assinala Pedroso.
A instalao da primeira priso brasileira mencionada na Carta Rgia de 1769, que
manda estabelecer uma Casa de Correo no Rio de Janeiro.
Registra-se, tambm, a Cadeia construda na cidade de So Paulo entre 1784 e 1788,
conhecida simplesmente como Cadeia e estava localizado no ento Largo de So Gonalo,
hoje Praa Joo Mendes. Era um grande casaro assobrado, onde funcionava tambm a
Cmara Municipal. Na parte inferior, existiam as salas destinadas priso e, no piso superior,
os espaos para as atividades da Cmara. Para l eram recolhidos todos os indivduos que
cometiam infraes, inclusive escravos, e era onde aguardavam a determinao de penas
como o aoite, a multa e o degredo; uma vez que no existia, ainda, a pena de priso.
A Constituio de 1824 estabelecia, no art. 179, que as prises deveriam ser seguras,
limpas, arejadas, havendo a separao dos rus conforme a natureza de seus crimes.
O Cdigo Criminal de 1830 estabeleceu a pena de priso com trabalho para vrios
crimes, implicando a construo de Casas de Correo com celas individuais e oficinas de
trabalho e uma arquitetura prpria para a pena de priso. O caf e a industrializao
proporcionavam um estmulo cada vez maior para o crescimento populacional e tambm
econmico do pas, mas as casas de recolhimento de presos do incio do sculo XIX
mostravam condies deprimentes para o cumprimento da pena por parte do detento,
inclusive local onde se recolhiam escravos, menores e loucos.
O Cdigo Penal de 1890 estabeleceu novas modalidades de penas: priso celular,
banimento, recluso, priso com trabalho obrigatrio, priso disciplinar, interdio, suspeio
e perda do emprego pblico e multa. O artigo 44 do Cdigo considerava que no haveria
penas perptuas e coletivas. As penas restritivas de liberdade individual eram temporrias e
no deveriam exceder trinta anos, eram elas: priso celular, recluso, priso com trabalho
obrigatrio e priso disciplinar.
A priso celular, inspirada no modelo pensilvnico e de Roquete foi a grande novidade
da reviso penal de 1890 e foi considerada punio moderna, base arquitetural de todas as
penitencirias.
No entanto, o aumento gradativo e constante da populao carcerria confrontou-se
com as limitaes de espao das prises, inviabilizando o direito cela individual.
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No interior do pas o problema alcanou dimenses grandiosas e por muitos anos e que
nem o Cdigo Penal de 1940 conseguiu apaziguar, segundo assinala Brito, dada a
insuficincia das prises municipais onde se acumulam, entre paredes e grades, homens de
todas as condies sociais, e at menores, mulheres e loucos. E o que mais chocante , muitas
delas de fachadas modernizadas, por exigncias de urbanismo, mas cujo interior vale por um
escrnio e por um contraste desalentador do que se mostra fora (Brito, 1947, p. 442).
Registra-se que no sculo XIX j existia uma sociedade para melhoria das prises, um
movimento para torn-la mais eficaz.
No sculo XX, comearam os primeiros estudos para a elaborao de uma legislao
penitenciria, conforme ressalta Barbosa (1993, p. 87), mencionando que em 1937 elaborou-
se o Projeto de Cdigo Penitencirio pelos juristas Cndido Mendes, Lemos Brito e Heitor
Carvalho, enquanto em 1957, outro Anteprojeto de Cdigo Penitencirio foi elaborado por
Oscar Stevenson e em 1963, o Professor Roberto Lyra elaborou o Anteprojeto de Cdigo de
Execues Penais.
No entanto, nenhum destes Anteprojetos vingou vindo a ser promulgada em 1984 a
Lei n 7.210, que estabeleceu sobre a execuo penal, fruto de comisso nomeada pelo ento
Deputado Abi-Ackel, marco do Direito Penitencirio no pas.
O crime no apenas uma questo de no educao, mas tambm de muitos outros
fatores que fazem parte de nossa realidade, entretanto, podemos adequar esta sua afirmativa
questo do condenado pena privativa de liberdade, afirmando que o meio mais seguro de
tornar o homem menos inclinado a reincidir no crime respeitando os seus direitos como
cidado e ser humano que .
A Lei de Execuo Penal diz que o preso, tanto o que ainda est respondendo ao
processo, quanto o condenado, continua tendo todos os direitos que no lhes foram retirados
pela pena ou pela lei.
Significa, portanto, que o preso ao receber sua condenao, perde a liberdade, mas no
seu direito a um tratamento digno, sem violncia fsica ou moral.
senso comum que a violncia somente gera violncia. Faz parte da natureza humana
comportar-se de forma hostil em um ambiente destrutivo, at como forma de integrar o
indivduo ao meio em que vive. A violncia, infelizmente, est hoje institucionalizada em
decorrncia de uma estrutura mantida a fora, que privilegiam poucos, em prejuzo de muitos.
Hodiernamente o fenmeno social que mais preocupa a sociedade. Por outro lado tambm
questo de preocupao a violncia oficial que se revela na inexistncia de uma poltica
carcerria eficaz e reeducadora.
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O modelo de sociedade em que hoje vivemos no valoriza a condio humana e por
esse motivo acaba tornando-se tambm fato gerador de violncia. A falta de percepo deste
fenmeno social campo frtil s ideias fceis e bem acolhidas pela sociedade. H os que
defendem o endurecimento da lei e que colocam as ideologias humanistas e os defensores dos
direitos humanos como elementos contrrios ao combate da criminalidade. Acusam os
organismos humanitrios de desconsiderarem o lado da vtima, porm somente apresentam
como proposta para atenuar o sofrimento dos vitimados a subjugao do ofensor.
As prises que surgiram como forma de humanizao das penas na verdade acabaram
por se tornar um depsito de lixo humano. A pena continua a ser encarada por todos como
mero ato de vingana. Muitos at entendem que a situao ideal seria torn-la at mais
rigorosa.
Verificamos, assim, que a estrutura do sistema carcerrio est voltada unicamente para
o castigo, quanto aos direitos do preso descritos na Lei de Execues Penais, de 1.984, e
normativos como a Constituio Federal e demais tratados sobre direitos humanos so
reiteradamente descumpridos. H de se convir, entretanto, que no nada inteligente manter
uma pessoa presa por longo perodo, submetendo-a a toda espcie de desrespeito ao ser
humano que , para depois libert-la, fazendo com que a sociedade experimente o resultado
de sua criao. Algo deve ser feito, ainda no curso do cumprimento da pena, para tentar
devolver a pessoa ao convvio social munida de valores que no a faam enveredar pelo
caminho da reincidncia.
Ao reiterar sistematicamente que os Direitos Humanos s servem para proteger
bandidos, acaba por ser aceito como verdadeiro, quando, na realidade, fruto de profunda
ignorncia e acarreta, em nosso meio, a fragilizao de conquistas democrticas que a
humanidade levou sculos para firmar. Na verdade, os Direitos Humanos existem para quem
deles precisa, e, por no serem excludentes, acabam alcanando tambm queles que um dia
os violaram. Os presos em nosso pas so vtimas de incessantes afrontas aos Direitos
Humanos. As condies de nossas cadeias e penitencirias, j de todos conhecidas,
transformam as penas privativas de liberdade em medidas de extrema crueldade. O grau de
violncia contra acusados de praticar um crime parece ser aceito socialmente ou mesmo
encorajado. O conceito de Direitos Humanos tido como forma de proteo a criminosos e a
necessidade de acalmar a sensao generalizada de insegurana pblica alimenta o desejo da
populao por medidas mais fortes e mais repressivas contra suspeitos de terem cometido
crimes.
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As regras mnimas da ONU sobre tratamento de presos soam como piada para ns. Os
Tratados Internacionais de Direitos Humanos, dos quais nosso Pas signatrio, so
solenemente ignorados. Descumprimos, reiteradamente, a Lei de Execues Penais em
inmeros dispositivos, com destaque, bvio, para os que dispem sobre os direitos do preso.
Se acreditssemos que os rigores positivados da pena e da execuo fossem
instrumentos eficazes no combate violncia e criminalidade, teramos resolvido alguns de
nossos mais terrveis problemas. Na verdade, a violncia e a criminalidade so, na realidade,
filhas das injustias sociais.
remota a ideia de que os presos no tm direito algum. O condenado amaldioado
e, sofrendo a pena, objeto da mxima censura da coletividade, que o priva de toda a
proteo do ordenamento jurdico que ousou violar. O criminoso desprezvel e vil, servo da
pena, perde a paz e est fora do direito. necessrio entender que, por fora da nossa ordem
jurdica positivada, o encarcerado no perde a cidadania, sujeito de direitos na execuo. Ele
titular, ainda, de todo o rol de direitos fundamentais previstos na Constituio que sejam
compatveis com a situao em que se encontra. Qualquer medida restritiva de sua liberdade
deve vir prevista em lei, ser proporcional pena atribuda ou virtualmente projetada,
preservando-se sempre a liberdade jurdica residual que no foi tocada pela sentena
condenatria.
A perda ou restrio provisria da liberdade no acarretam a supresso de direitos
fundamentais. O crime no retira do homem sua dignidade. O indivduo, por mais vil que
possa parecer, sempre sujeito de direitos.
Apesar de a Constituio Federal prever no seu artigo 5, inciso XLIX, do Captulo
dos Direitos e Garantias Fundamentais, que " assegurado aos presos o respeito integridade
fsica e moral", o Estado continua fracassando nas prerrogativas mnimas de custdia.
incapacidade de gerenciamento do Estado some-se a incompetncia do modelo prisional
vigente para a recuperao dos presos. O resultado desta mistura um local onde no existem
as mnimas condies de respeito aos direitos humanos. E sem respeito pessoa humana,
como a garantia da dignidade e da integridade fsica, o que se produz a cada dia so pessoas
desprovidas de humanidade.
O preso no s tem deveres a cumprir, mas sujeito de direitos, que devem ser
reconhecidos e amparados pelo Estado. O recluso no est fora do direito, pois se encontra
numa relao jurdica em face do Estado, e, exceto os direitos perdidos e limitados a sua
condenao, sua condio jurdica igual das pessoas no condenadas.
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Denota-se que muito embora tenhamos em nosso ordenamento ptrio dispositivo legal
que visa garantir a integridade fsica do condenado e o respeito sua dignidade humana,
infelizmente parecem estarem esquecidos. Falta na realidade, vontade poltica e seriedade na
administrao pblica com atitudes srias, a fim de mudar a situao catica que chegou hoje
nosso sistema prisional, porm, h que se ter em mente que somente teremos soluo quando
nossos planos de segurana forem planejados com serenidade e no no calor de crises visando
apenas saciar os anseios da sociedade.
A verdade que apenas se tem procurado oferecer solues para os efeitos,
esquecendo-se que o problema est a exigir remdios heroicos para as causas. Se atacarmos os
efeitos, as causas persistiro e as consequncias crescero numa razo geomtrica.
Tendo a pena privativa de liberdade o objetivo no apenas de afastar o criminoso da
sociedade, mas, sobretudo, de exclu-lo com a finalidade de ressocializ-lo, note-se que a pena
de priso atinge o objetivo exatamente inverso: ao adentrar no presdio, o apenado assume o
seu papel social de um ser marginalizado, adquirindo as atitudes de um preso habitual e
desenvolvendo cada vez mais a tendncia criminosa, ao invs de anul-la.
preciso a transformao do sistema para que a reforma do condenado seja propiciada
por instrumentos como a educao e o trabalho, de modo a dar-lhe condies de levar uma
vida digna quando sair do estabelecimento prisional, e evitar que o crcere seja mais penoso
do que deve ser.
A inteno, ento, buscar alternativas para sancionar os criminosos, que no os isolar
socialmente. Isto porque a pena de priso determina a perda da liberdade e da igualdade, que
derivam da dignidade humana. E a perda dos direitos fundamentais de liberdade e igualdade
representa a degradao da pessoa humana, assim como a tortura e o tratamento desumano,
que hoje so expressamente proibidos pela Constituio Federal.
Por mais que se pretenda que a pena privativa de liberdade deva preparar o sujeito
para a vida livre, o certo que propicia a formao de uma sociedade antinatural, na qual o
sujeito carece das motivaes da sociedade livre, adquirindo caractersticas rudes e primitivas,
que costumam persistir aps a recuperao da liberdade, e, que ao entrar em conflito com a
sociedade livre, tm a oportunidade de manifestar-se.
A ideia dos direitos do preso tem origem bem recente. Decorre da consequncia lgica
de se considerar a privao de liberdade como uma medida extremada, cujos limites devem
ser estabelecidos, e que, em definitivo, reforado pela comprovao de que um mal, para o
qual ainda no se encontrou substituto, e, nem mesmo parece existirem esforos srios para
reduzi-lo, pelo menos em nosso pas.
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Nossa Lei de Execuo Penal no passa de uma "carta de inteno".
A falta de infraestrutura e o total descaso dos nossos governantes tem contribudo de
forma significativa para a transformao das penitencirias brasileiras em verdadeiras
"escolas do crime". Se por um lado, os maus tratos, as celas lotadas, as condies precrias, a
falta de alimentao adequada e o meio insalubre trazem o arrependimento do preso pelo
crime cometido, por outro, tambm trazem a revolta.
Alm disso, a falta de um acompanhamento psiquitrico e a no utilizao de
atividades intelectuais e esportivas acabam por arruinar a integridade fsica e moral do
apenado, propiciando dessa forma ao cultivo de pensamentos perversos e banais, no
contribuindo de forma alguma a sua reabilitao, pelo contrrio, prejudicando-o ainda mais.
Como se no bastasse, quando o delinquente readquire a liberdade, depara-se com os
obstculos impostos por uma sociedade preconceituosa e excludente que no consegue
enxerg-lo como um indivduo normal (isso no caso de ele ter sido realmente recuperado),
aplicando-lhe outras sanes igualmente severas, que a falta de oportunidade no mercado de
trabalho, o desemprego, a falta de cidadania bsica, etc. Diante do exposto, a nica alternativa
voltar a cometer os mesmos crimes, a fim de que possa sobreviver.
Em 1991, O Instituto da UNESCO para a Educao (IUE), lanou um projeto para
investigar e promover a educao nas prises tendo como pblico alvo os adultos
sentenciados e encarcerados. Umas das metas do projeto consistia em contribuir para o
desenvolvimento do potencial humano que se restringia devido s desvantagens sociais. Os
objetivos principais do projeto eram identificar estratgias bem sucedidas da educao bsica
nos contextos prisionais, de modo a dar a elas visibilidade, condies de refinamento e
replicabilidade.
O relatrio da UNESCO (1993: p. 60) indica que os prisioneiros so geralmente
jovens, entre 18 a 25 anos. A maioria constituda por homens, e a presena feminina nas
prises varia entre 2% e 7% da populao total prisional. A mulher uma minoria na priso,
tanto em nmero quanto em visibilidade. As recomendaes de estudos prisionais indicam a
necessidade de no continuar ignorando s necessidades de perfil prisional das mulheres
apenadas. Em muitos momentos, as dificuldades das mulheres so as mesmas dos homens (o
ambiente, o sistema, a superpopulao, etc.), entretanto existem questes especficas que
precisam ser observadas (a situao dos filhos, a gravidez, o emocional, as necessidades, as
habilidades, etc).
Na esfera internacional, a educao prisional de qualidade e apropriada ao contexto em
sido vista como uma parte obrigatria e essencial nas atividades de reabilitao prisional.
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Entre as pesquisas que procuram esclarecer o perfil do universo prisional destaca-se a
publicao da UNESCO - Instituto para a Educao denominada "Educao Bsica nas
Prises" (1995). O documento oferece fundamentao, conceitos e relatos globalizados
procurando resgatar iniciativas educacionais, a elucidao de contextos prisionais em
diferentes culturas seguindo uma perspectiva de educao vitalcia e de direitos humanos.
2 A FALTA DE ACESSO EDUCAO PRISIONAL
O direito educao escolar como condio ineliminvel de uma real liberdade de
formao (desenvolvimento da personalidade) e instrumento indispensvel da prpria
emancipao (progresso social e participao democrtica) um direito humano essencial
para a realizao da liberdade e para que esta seja utilizada em prol do bem comum. Desta
forma, ao abordarmos a educao nas prises importante ter claro que os reclusos, embora
privados de liberdade, mantm a titularidade dos demais direitos fundamentais. O acesso ao
direito educao do recluso deve ser assegurado universalmente, a todos e todas, dentro da
perspectiva acima delineada e em respeito s normas que o asseguram.
Em mbito internacional, as Regras mnimas para o tratamento de prisioneiros,
elaborado no 1 Congresso das Naes Unidas sobre Preveno do Crime e Tratamento de
Delinquentes, realizado em Genebra, em 1955, estabeleceu uma garantia especfica
educao nas prises. Em que pese este documento ser um marco na garantia do direito
educao das pessoas presas, as orientaes previstas neste so restritivas, e no afirmam o
carter universal deste direito.
Em documentos internacionais mais recentes, tal como Declarao de Hamburgo, de
1997, a abordagem do direito educao de pessoas presas avanou, afirmando-se
expressamente na Declarao a preocupao de estimular oportunidades de aprendizagem a
todos, em particular, os marginalizados e excludos (item 11) e no Plano de Ao para o
futuro, aprovado neste encontro, no item 47, o reconhecimento do direito de todas as pessoas
encarceradas aprendizagem: a) proporcionando a todos os presos informao sobre os
diferentes nveis de ensino e formao, e permitindo-lhes acesso aos mesmos; b) elaborando e
implementando nas prises programas de educao geral com a participao dos presos, a fim
de responder a suas necessidades e aspiraes em matria de aprendizagem; c) facilitando que
organizaes no-governamentais, professores e outros responsveis por atividades educativas
trabalhem nas prises, possibilitando assim o acesso das pessoas encarceradas aos
estabelecimentos docentes e fomentando iniciativas para conectar os cursos oferecidos na
priso aos realizados fora dela. (Declarao de Hamburgo, 1997, tema 8, item 47).
http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/DeclHamburgo.pdf
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No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao (L. 9394/96, que estabelece
parmetros dos nveis e modalidades de ensino no pas) no traz nenhuma referncia
educao de jovens e adultos presos. A abordagem especfica da educao nas prises foi
estabelecida na Lei de Execuo Penal - LEP (L. 7210/84).
Neste documento, a assistncia educacional do preso expressamente prevista como
um direito no inciso VII, do artigo 41. Contudo, ao especificar nos artigos 17 a 21 (conferir
nota) como se dar a assistncia educacional, observa-se certa restrio s oportunidades
educacionais nos presdios se comparada educao fornecida aos jovens e adultos que no
se encontram no sistema prisional: apenas o 1 grau (ensino fundamental) foi previsto como
obrigatrio, no sendo prevista a possibilidade de acesso ao ensino mdio ou superior para os
detentos que cumprem pena em regime fechado (que no pode sair da priso), o que viola
normas constitucionais que postulam como dever do estado a progressiva universalizao do
ensino mdio gratuito (artigo 208, inciso II) e o acesso aos nveis mais elevados do ensino,
da pesquisa e da criao artstica, segundo a capacidade de cada um (artigo 208, inciso V).
Alm disto, nos artigos da LEP possvel identificar uma forte valorizao do trabalho
em detrimento ao direito educao: o artigo 126 assegura a remio penal atravs do
trabalho, mas no garante educao o mesmo benefcio. Esta valorizao do trabalho frente
educao, alm de no incentivar a procura por escolarizao, refora a sua
descaracterizao como um direito, colocando a educao formal como um privilgio, um
plus concedido aos detentos.
Neste tema, tambm relevante apontar que hoje matria de discusso no Congresso
Nacional a remio da pena pela educao (Projeto de Lei 5189/05). Este pode ser um
importante passo para o fortalecimento e universalizao do direito educao nas prises,
segmento to marginalizado e discriminado em nossa sociedade.
A valorizao do direito ao trabalho frente educao traz tambm como
consequncia um maior estmulo educao como mecanismo de acesso e preparo para o
mercado de trabalho, em detrimento de outros objetivos do direito educao, como
desenvolvimento pessoal ou a formao para a cidadania. Alm da LEP, a educao nas
prises foi tambm abordada no Plano Nacional de Educao e no Plano Nacional de
Educao em Direitos Humanos.
O Plano Nacional de Educao estabeleceu em sua 17 meta que, no perodo de 10
anos, os poderes pblicos devero: Implantar, em todas as unidades prisionais e nos
estabelecimentos que atendam adolescentes e jovens infratores, programas de educao de
jovens e adultos de nvel fundamental e mdio, assim como de formao profissional,
http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/Lei9.394de1996_LDB.pdfhttp://www.acaoeducativa.org.br/downloads/Lei10.172de2001_PNE.pdf
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contemplando para esta clientela as metas n 5 (financiamento pelo o MEC de material
didtico-pedaggico) e n 14 (oferta de programas de educao distncia).
J no Plano Nacional de Educao em Direitos Humanos, a meta 26 determina que os
Poderes Pblicos devero: apoiar a elaborao e a implementao de programas para
assegurar a educao bsica nos sistemas penitencirios.
De maneira geral, as normas referentes educao penitenciria deixam margem a
interpretaes ambguas, tanto na afirmao do direito educativo, como em relao
responsabilidade por sua implementao. Os textos fazem insistentes referncias parceria
entre Estado e sociedade civil.
Se, de um lado isto pode ser positivo, uma vez que possibilita o controle social sobre o
ambiente prisional, geralmente fechado em rgidas estruturas hierrquicas; de outro tende a
estimular a transferncia da responsabilidade do Estado para as organizaes civis, muitas
vezes impossibilitando a correlao com o sistema de ensino oficial.
As pessoas privadas de liberdade constituem um dos grupos severamente
marginalizados que esto submetidos violao endmica de seu direito a educao.
Dos 440 mil presos no Brasil, 75% no completaram a educao bsica e 12% so
analfabetos. Apenas 18% dos detentos tm acesso a alguma atividade educacional
ainda assim, incluindo cursos como o de violo. Esses dados, colhidos entre setembro de 2008
e fevereiro de 2009, constam do relatrio preliminar sobre a situao da educao nas prises
brasileiras apresentadas junto Comisso de Educao e Cultura pela relatora brasileira
da Organizao das Naes Unidas (ONU) para o Direito Humano Educao, Denise
Carreira.
De acordo com o relatrio, alm de a educao ser vista como um privilgio pelo
sistema prisional, o processo educacional no contnuo: basta haver qualquer tumulto no
presdio para ser interrompido.
As condies de estudo so precrias: faltam salas de aula e os espaos que poderiam
ser aproveitados so adaptados para funcionar como celas. Alm disso, os professores
enfrentam a desconfiana dos agentes penitencirios, que interferem no contedo. "O contato
fsico, como aperto de mos, cerceado. Professoras j foram afastadas sob acusao de
envolvimento sentimental com detentos", disse a relatora.
Outro problema apontado pelo relatrio o conflito entre horrio de trabalho e estudo.
Quem trabalha segundo Denise, dificilmente vai encontrar tempo para estudar. E, como a
demanda maior do que a oferta feita triagem por bom comportamento.
http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/PNEDH.pdf
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O controle "extremo" do acesso ao papel se constitui outro grave problema. Alm disso,
materiais escolares so destrudos em busca de drogas.
A educao um direito social assegurado pela Constituio Federal e consagrado na
legislao internacional. No entanto, quando se trata da populao encarcerada, tal direito
parece no ter o mesmo grau de reconhecimento. Se fato que as camadas pobres da
populao so privadas de vrios direitos, entre eles, o direito a uma educao de qualidade,
essa realidade torna-se ainda mais contundente e pior mais invisvel ou naturalizada em se
tratando de pessoas condenadas pelo sistema de justia penal. No Brasil, em muitas
instituies penais, a oferta de servios educacionais inexistente, insuficiente ou
extremamente precria, o que se soma a regimes disciplinares e legais que no incentivam ou
mesmo inviabilizam o engajamento de pessoas presas em processos educacionais.
Nos ltimos anos, observa-se em escala mundial a perda do ideal reabilitador das
prises, concomitante a um recrudescimento das polticas de segurana pblica, o que resulta
em ampliao da populao presa e no abandono das medidas ditas ressocializadoras no
interior dos sistemas penitencirios.
As pessoas com discapacidades ou dificuldades para a aprendizagem tornam-se objeto
de estigmatizao e discriminao em particular com respeito educao dos sistemas
penitencirios que sistemati