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ISSN 2176-1396
A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NO ENSINO SUPERIOR: AVALIANDO
O PROCESSO
Nathália Savione Machado1 - UFPR
Marina Lupepso2 - UFPR
Marineli Joaquim Meier3 - UFPR
Eixo – Avaliação da Educação
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
A avaliação de curso é essencial para conhecer o perfil dos cursistas e avaliar o processo ensino
e aprendizagem. A Coordenação de Integração de Políticas de Educação a Distância (CIPEAD),
vinculada à Pró-Reitoria de Graduação e Educação Profissional (PROGRAD) da Universidade
Federal do Paraná (UFPR), elaborou e aplicou um instrumento de avaliação em vários cursos a
distância. O presente artigo objetiva analisar os resultados da avaliação final dos cursos de
educação a distância na referida instituição. O referencial teórico apresenta um breve contexto
da EaD no Brasil a partir das legislações nacionais relacionadas à temática (BRASIL, 1996;
BRASIL, 2015 e BRASIL, 2017). Nos procedimentos metodológicos descreve-se como a
pesquisa foi realizada. Desenvolveu-se um instrumento semiestruturado de avaliação,
utilizando a ferramenta GoogleDocs, para o preenchimento das respostas e tabulação pelo
software Excel. A avaliação final foi respondida por 1300 estudantes de 23 cursos no período
de 2014 e 2016. Os resultados foram compilados em gráficos e encaminhados para os
coordenadores dos respectivos cursos. A avaliação apresentou o panorama atual dos cursos a
distância na instituição e aponta melhorias a serem feitas nos cursos ofertados em várias
dimensões: pedagógicas, tecnologias educacionais, tecnologias de informação e comunicação,
de organização, dos atores da EaD, entre outros. Os resultados foram analisados a partir dos
pressupostos de pesquisadores sobre EaD como Mattar (2012), Moore e Kearsley (2012) e
Machado e Moraes (2015). Espera-se que os resultados auxiliem coordenadores de cursos e
professores a conhecer o perfil dos atores envolvidos no processo, as possíveis lacunas e
1 Mestranda em educação e novas tecnologias na UNINTER. Especialista em gestão do trabalho pedagógico pela
Faculdade Internacional (UNINTER). Pedagoga pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Técnica
em assuntos educacionais UFPR. E-mail: [email protected]
2 Mestranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). Especialista em Educação
a Distância pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Pedagoga na UFPR. Email: [email protected].
3 Doutora em Enfermagem pela Universidade Federal de Santa Catarina (2004). Mestre em Tecnologia pela
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (1998). Especialista em Educação a distância. Graduada em
Enfermagem com Habilitação em Licenciatura pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1984).
Atualmente é professora Associada I da Universidade Federal do Paraná, Graduação e Programa de Pós-Graduação
em Enfermagem - Mestrado e Doutorado. E-mail: [email protected].
1229
necessidades, tornando possível encontrar soluções de acordo com as especificidades de cada
perfil.
Palavras-chave: Avaliação Educacional; Educação a Distância; Ensino Superior.
Introdução
A Educação a distância - EaD ao longo do seu desenvolvimento e crescimento, alcançou
diversos estudantes em lugares e tempos distintos. Um processo de avaliação amplo é
fundamental para permitir o planejamento e possibilitar o repensar da prática pedagógica no
processo de ensino e aprendizagem.
O artigo relata a análise do processo da educação a distância na Universidade Federal
do Paraná - UFPR, bem como suas diversas possibilidades enfrentadas e as estratégias adotadas
diante de seu resultado. Desenvolveu-se um instrumento semiestruturado de avaliação, voltado
à prática avaliativa contínua, formativa e mediadora do processo ensino e aprendizagem.
Será apresentado o contexto da educação a distância no Brasil e sua expansão, o papel
da avaliação final na educação a distância, o método da pesquisa, os resultados, a discussão e
as considerações.
Espera-se que o resultado auxilie coordenadores, professores e outros atores da EaD a
conhecerem o perfil dos atores envolvidos no processo, as possíveis lacunas e necessidades que
mobilizam a busca de soluções no processo ensino aprendizagem.
Educação a Distância no contexto do Ensino Superior
O contexto histórico da educação a distância no Brasil parte de uma trajetória social e
tecnológica, tendo seu marco institucional com a entrada em vigor da Lei nº 9.394/96,
conhecida como Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN (BRASIL, 1996).
Esta Lei caracteriza a educação a distância como uma modalidade de educação, bem como traz
outros avanços significativos e democráticos. Em seu artigo 80, normatiza o credenciamento,
regulamentação e emissão de diplomas estabelecendo as normas de controle e avaliação da
EaD. Recentemente foi homologado o Decreto n. 9057/2017 que compreende a educação a
distância de forma mais ampla, tendo a seguinte redação:
1230
modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de
ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de informação
e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com
acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades
educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e
tempos diversos. (BRASIL, 2017 p.1).
A democratização e o reconhecimento da EaD como modalidade de ensino permitiu o
seu crescimento junto ao surgimento de novas tecnologias. Entre os anos 1980 e 1990, com o
avanço da internet e a formalização desta modalidade, novas formas de ensinar e aprender
começaram a integrar o cotidiano da educação favorecendo o modelo de educação on line que
alcança um público numericamente significativo e em diversas localidades (KENSKI, 2012).
O Brasil está em processo de consolidação da EaD e há um crescimento expressivo desta
modalidade, principalmente na Educação Superior. Segundo o censo do ensino superior, em
2014, foram contabilizadas 1,34 milhões de matrículas na EaD, representando 17,1% do total
de matrículas da educação superior (BRASIL, 2015).
O Ensino Superior tem um papel fundamental na sociedade, estimulando a criação de
bens culturais e desenvolvendo o pensamento reflexivo e científico. A educação a distância
permite sua expansão por meio da mediação didático-pedagógica e tecnológica.
Neste contexto, a UFPR atua na articulação contínua com todos os setores, favorece a
oferta de cursos de graduação, pós-graduação, aperfeiçoamento, de extensão e, ainda, tem
qualificado docentes, tutores e técnicos-administrativos para atuarem na modalidade a
distância.
O papel da Avaliação na Educação a Distância
O crescimento da educação a distância, demanda a avaliação da consolidação desta
modalidade na UFPR analisando os elementos que compõem esse processo que envolve
aspectos pedagógicos, tecnológicos, tecnologias de informação e comunicação, tecnologias
educacionais, atores do ensino, entre outros. Os resultados dessa avaliação sugerem adequações
em várias dimensões, considerando ainda o perfil de cada turma.
Entende-se que, a avaliação na educação a distância é um processo sistemático, que
diagnostica as necessidades, fornece subsídios para o aperfeiçoamento do processo de ensino e
aprendizagem, (BRASIL, 2007) considerando o perfil dos alunos, professores, tutores e
coordenadores dos cursos e todos os demais envolvidos na EaD.
1231
Os Referenciais de qualidade para a educação a distância devem nortear o processo de
avaliação sendo orientado que as instituições planejem e implementem sistemas de avaliação
institucional, que produzam melhorias de qualidade nas dos cursos e no processo pedagógico
(BRASIL, 2007). No âmbito educacional, a avaliação tem a incumbência de indicar os
resultados dos objetivos estabelecidos, mas, além disso, ela perpassa todo o processo e todos os
envolvidos, gera transformações positivas diante das dificuldades encontradas, com o intuito
de atingir a excelência (LUCKESI, 2005). Seu papel é fundamental para reorientar e renovar as
ações pedagógicas em uma instituição, como auxiliar no planejamento da gestão, sendo
considerada como a soma de diversos fatores que se unem a um objetivo comum. Neste mesmo
sentido, Casanova (1995 apud ARREDONDO e DIAGO, 2009, p. 36) entende a avaliação
como:
Um processo sistemático e rigoroso de coleta de dados, incorporando ao processo
educacional desde o início, de maneira que seja possível dispor de informação
contínua e significativa para conhecer a situação, formar juízos de valor com respeito
a ela e tomar as decisões adequadas para prosseguir a atividade educacional,
melhorando-a progressivamente.
Entre 2014 e 2016 a UFPR teve 140 ofertas de cursos na modalidade a distância,
ofertando 58 desses cursos em programas de formação continuada voltado para professores da
educação básica. Foram ofertados cursos de graduação, pós-graduação, aperfeiçoamento e de
extensão. Mais de 16 mil cursistas se matricularam em algum curso a distância da UFPR neste
período. Assim, mediante esses números surge a demanda de avaliar os cursos ofertados em
todos os seus aspectos.
Metodologia
Foi desenvolvido, pela equipe da Coordenação de Integração de Políticas de Educação
a Distância, vinculada à Pró-Reitoria de Graduação e educação Profissional da UFPR, um
instrumento de avaliação final do curso, semiestruturado utilizando a ferramenta Googleforms,
para o preenchimento das respostas e tabulação (UFPR, 2014).
O instrumento foi aplicado com a finalidade de mapear o grau de satisfação dos cursistas
sobre o material didático, a tutoria a distância e presencial, o professor, equipe de coordenação
e sobre o ambiente virtual de aprendizagem - AVA. Foram elaboradas 33 questões objetivas e
três questões abertas. O formulário foi disponibilizado no ambiente virtual de aprendizagem
dos cursos pela equipe da CIPEAD com anuência da coordenação dos cursos e/ou enviados por
1232
e-mail aos coordenadores que encaminharam aos respectivos cursistas. Obteve feedback de 23
cursos (vinte e três) entre maio de 2014 e maio de 2016, totalizando 1300 respostas. Os
resultados das avaliações foram compilados em gráficos e encaminhados para os coordenadores
dos cursos.
Resultados
A maioria dos cursistas, 65,2%, eram professores da rede pública de ensino, público
alvo dos programas de formação continuada.
Gráfico 1: Área de atuação profissional dos participantes
Fonte: as autoras (2017)
A avaliação apontou que a maior parte dos cursistas está satisfeita com o material
didático, tutoria, docência, ambiente virtual de aprendizagem e coordenação, mas apontam
melhorias em alguns desses elementos.
Quanto ao conteúdo foi questionada a pertinência dos assuntos abordados, a adequação
dos conteúdos ao objetivo do curso, a relação entre o conteúdo e a carga horária e a objetividade
dos textos. Nesses aspectos, em média 90% dos respondentes se dizem satisfeitos ou muito
satisfeitos. Ainda apareceram avaliações que indicam que o conteúdo pode melhorar (8,1%),
ou que havia excesso de textos (6,3%).
Quanto à organização do material 56% consideram ótimo e 38,9% satisfatório. Quanto
ao layout do material e quanto as video-aulas o resultado ótimo e satisfatório se predominam.
A tutoria a distância tem o papel da mediação entre o estudante e o conteúdo cabendo a
ela a orientação, apoio, indicação de materiais complementares, suporte técnico-pedagógico,
dentre outras funções. Quanto a atualização do tutor em relação aos conteúdos 89% estão
satisfeitos ou muito satisfeitos, e 7,5% apontam que pode melhorar. Um total de 61% dos
estudantes afirmam que o tutor sempre disponibiliza materiais para complementação dos
estudos, 27,9% mencionam que só acontece às vezes e 6% comentam que nunca aconteceu.
Sobre o acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem pelo ambiente virtual pelo
1233
tutor, 81,7% dos cursistas afirmaram que aconteceram sempre, 14,4% que aconteceu às vezes
e apenas 1,5% apontou que nunca aconteceu. Mais de 80% afirmam que o tutor sempre
esclarece dúvidas e responde as mensagens pela plataforma. Menos de 10% afirmaram que só
aconteceu às vezes. Quanto à correção das tarefas 92,2% afirmaram que os tutores sempre
corrigiram as tarefas.
O tutor presencial é o tutor que fica no polo de apoio presencial e dá suporte ao curso,
principalmente nos encontros presenciais e nas aplicações de avaliações. Ele é a pessoa que
geralmente está mais próxima do estudante pela proximidade física. Porém, nem todos os cursos
têm o tutor presencial.
Quanto ao atendimento do estudante pelo tutor presencial nos horários estabelecidos,
69% afirmam sempre serem atendidos, 25,6% apontam não saber opinar e 4,3% apontam que
nunca foram atendidos. Quanto ao auxílio no desenvolvimento das atividades e ao uso do
ambiente virtual de aprendizagem mais de 68% afirmaram que sempre foram atendidos e 22%
afirmam não saber opinar.
O professor elabora ou seleciona o conteúdo, propõe as atividades, ainda, grava ou
indica vídeos e orienta os tutores no desenvolvimento das tarefas. Sobre o domínio de conteúdo
pelo docente, 73% dos cursistas apontam estarem satisfeitos e 8,3% acham que pode melhorar.
A maioria, 82% afirma que as atividades propostas contribuem para o aprendizado e 11,4% não
souberam opinar. Sobre a participação dos professores no ambiente virtual de aprendizagem a
avaliação demonstra que a participação docente pode ser estimulada. Mais da metade dos
respondentes (60,4%) afirmam que os docentes sempre participam e 20,3% afirmam que a
participação aconteceu às vezes. Sobre a indicação de materiais complementares 65,4%
mencionam que os docentes sempre indicam e 23,5% indicam que só acontece às vezes. Quanto
a disponibilização de videoaulas 51,7% pontuaram que sempre foram disponibilizadas e 24,4%
que somente às vezes foi disponibilizado.
Sobre a aula inaugural, questionando se o primeiro encontro atendeu as expectativas
quanto à resolução de dúvidas e instruções iniciais, 56,6% dos respondentes informaram que
foi satisfatório, 21,7% indicaram que foi ótimo e para 13,4% foi razoável. Quanto ao retorno
de problemas ou dificuldades encontradas durante o curso 73,3% se consideram satisfeitos.
Gráfico 2: grau de satisfação dos estudantes quanto ao retorno dos problemas e/ou dificuldades encontradas
durante o curso
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Fonte: as autoras (2017)
Sobre a interação por meio do ambiente virtual de aprendizagem percebeu-se que há
relevante interação entre os tutores e alunos, 87% mencionam utilizar o ambiente virtual de
aprendizagem - AVA como meio de interação e que a mesma acontece por meio da plataforma
MOODLE. Entre os cursistas a interação é considerada alta, 78% afirmam sempre usam a
plataforma para interação. Segundo os cursistas a comunicação entre estudantes e docentes, por
meio da plataforma sempre acontece (65,8%) e para 20% dos estudantes essa comunicação só
acontece às vezes.
Gráfico 3: interação no AVA entre os estudantes e tutores, professores e cursistas
Fonte: As autoras (2017)
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Nas questões abertas foi solicitado que os discentes comentassem sobre a vivência no
curso e fizessem sugestões. Muitas críticas apareceram sobre a atuação do tutor, a interação,
falta de correção e feedback das atividades.
Outros aspectos sobre a aula presencial foram destacados nas falas. Apontaramse
críticas sobre a ausência das aulas presenciais, a falta de organização das aulas, o objetivo
pedagógico e a didática docente.
Alguns aspectos positivos como a oportunidade de formação continuada e a importância
das temáticas dos cursos para a para a prática docente, a flexibilidade da EaD e gratuidade do
curso foram os mais relevantes e recorrentes.
A percepção dos cursistas
As questões objetivas relacionadas à percepção dos estudantes ao final do curso
referiam-se às seguintes categorias: conteúdos, textos, materiais, tutor a distância, tutor
presencial, professor e ambiente virtual de aprendizagem. Em todas as categorias o grau de
satisfação dos cursistas foi de 50% ou mais.
Quadro 1: categorias das respostas da avaliação final dos cursos
Conteúdo Atual, pertinente, está adequado aos objetivos e à carga horária do curso.
Textos São claros e concisos.
Material É organizado.
Tutor a distância Está atualizado quanto aos conteúdos, fomenta o interesse dos alunos nos fóruns e
debates, disponibiliza materiais para complementação dos estudos, acompanha o
processo de ensino e aprendizagem no AVA, esclarece dúvidas, responde as mensagens
no AVA e corrige as tarefas.
Tutor presencial Atende os estudantes nos horários pré-estabelecidos, auxilia os cursistas no
desenvolvimento das atividades individuais ou em grupos nos encontros presencias,
orienta quanto ao uso do AVA, estabelece comunicação permanente com os cursistas
durante o curso.
Professor Nas aulas presenciais o professor domina o conteúdo, propõe atividades que
contribuem para o aprendizado, participa dos fóruns no AVA, propõe avaliações
compatíveis com os conteúdos disponibilizados no AVA, indica materiais de leitura
complementar da disciplina.
AVA De fácil utilização e possibilita a interação.
Fonte: UFPR (2014).
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O conteúdo dos cursos e os textos de estudo disponibilizados no AVA foram bem
avaliados. Mesmo apresentando um ótimo grau de satisfação, alguns cursistas relataram
sugestões de melhoria. O participante 9 sugere que os conteúdos sejam disponibilizados em
mais de uma mídia “como por exemplo, em pdf e em video-aulas [...]. Isso poderia melhorar o
curso ainda mais”. Já para o participante 42 o conteúdo é muito extenso e a “linguagem muito
difícil de ser compreendida”. Também foi relatado pelo participante 37 que houve “excesso de
conteúdo” incompatível com a carga horária do curso (UFPR, 2014).
De um modo geral, mesmo que o conteúdo tenha sido bem avaliado na maioria, é
relevante considerar as ponderações dos cursistas. Rever a maneira como os conteúdos foram
abordados e a linguagem adotada favorecem o processo de ensino e aprendizagem. Bawa (2016)
sugere algumas recomendações para melhorar a retenção em curso online, como programas de
orientação obrigatória para estudantes e outros atores da educação, aprimoramento da interação
e da comunicação mediada por computador, desenvolvimento de classes de aprendizagem
colaborativa e uma estrutura tecnológica e de recursos humanos com expertise para a oferta de
cursos online de qualidade.
Os materiais utilizados nos cursos foram avaliados positivamente. Para Machado e
Moraes (2015, p. 77) o material didatico e a “base de estudo para o aluno na educacao a
distancia”. Segundo os autores, o material deve possibilitar a interacao e a relacao teoria e
pratica, alem de apresentar uma linguagem clara e concisa, estar em consonancia com o plano
de ensino da disciplina, apresentar uma sequencia nos conteudos, servindo de base para a
elaboracao do banco de questoes avaliativas.
Dentre as ponderações relacionadas aos materiais, alguns cursistas manifestaram o
interesse na versão impressa do material, além da virtual. O participante 954 relata que
considera necessário o material impresso, “visto que no nosso ambiente de trabalho (sala de
aula), não temos acesso ao computador”. O participante 964 também se manifesta a favor da
disponibilização do material impresso. “Talvez o material didático poderia ser impresso e
entregue ao aluno no início do curso. Isso facilitaria o estudo” (UFPR, 2014).
A necessidade de alguns cursistas no acesso ao material impresso corrobora com a
proposição de Moore e Kearsley (2012, p. 78), de que “o texto e, sem margem de duvida, a
midia mais comum empregada na educacao a distancia” e pode ser apresentado sob diversas
formas como “livros didaticos, livros que reproduzem artigos ou capitulos” ou ate mesmo em
guias de estudo.
1237
Entretanto, detectaram-se relatos que sugerem variedade de materiais e das mídias
utilizados no decorrer do curso. De acordo com o participante 488, “seria interessante se no
decorrer do curso fossem disponibilizados outros meios de aprendizagem (vídeos, áudios,
imagens, etc.) pois 90% do material é texto e a leitura excessiva é cansativa e isto além da
desmotivação ocorre uma queda no rendimento” (UFPR, 2014).
O relato do participante 488 elucida a necessidade de refletir sobre os formatos de
materiais e mídias utilizados, e, ainda atividades que contemplem os diferentes estilos de
aprendizagens (ALONSO e GALLEGO, 2002). As turmas são heterogêneas, portanto, há uma
diversidade de estilos de aprender entre os estudantes que precisam ser considerados ao elaborar
ou selecionar os materiais que serão adotados em um curso a distância.
Outro ponto mencionado pelos cursistas sobre a diversificação das mídias é a
disponibilização de mais video-aulas. Segundo Moore e Kearsley (2012, p. 82), o vídeo é uma
“midia poderosa para atrair e manter a atencao”, uma vez que “consegue mostrar a sequencia
de acoes envolvidas; pode mostrar closes, movimento lento ou acelerado, perspectivas
multiplas, e assim por diante”.
Em relação à tutoria e docência dos cursos, as avaliações foram, em sua maioria,
positivas. Para o participante 94
o contato com tutores e com a coordenação do curso sempre esteve presente desde o
começo do curso, os tutores sempre manifestaram interesse em manter contato com
os alunos, tirar dúvidas, conversar pela plataforma sobre suas possíveis dificuldades
com as matérias e verificar andamento de conteúdos por parte dos alunos (UFPR,
2014).
Ao tutor compete favorecer a aprendizagem e instigar o desenvolvimento da autonomia
dos estudantes, atendendo o mais breve possível às dúvidas e demais demandas dos cursistas
(MACHADO e MORAES, 2015).
No que diz respeito à tutoria a distância as principais considerações foram em relação
ao retorno dos tutores nas solicitações feitas pelos estudantes e o feedback das atividades. O
participante 139 relata que “o curso proporcionou maior integração com as minhas colegas de
equipe, os contatos com a Tutora foi sempre correspondido”. Já o participante 347 afirma que
“o tutor deve participar mais e trocar experiências e fazer comentários nas avaliações para
que o educador cresça profissionalmente melhorando seus olhares a respeito do assunto”
(UFPR, 2014).
1238
Analisando as afirmações dos estudantes é importante ter clareza do papel do tutor a
distancia. De acordo com Machado e Moraes (2015, p. 45), o tutor a distancia, apesar de estar
fisicamente distante dos cursistas, e quem acompanha o processo de ensino e aprendizagem.
Dentre suas principais funcoes deve “dinamizar a interacao entre os alunos, aperfeicoar a
experiencia de aprendizagem planejada para as disciplinas, estimular a participacao em debates
on-line e extrapolar a transmissao do conhecimento” sanando tambem as duvidas dos
estudantes por meio do AVA.
O tutor presencial, por sua vez, tem a incumbência de motivar o processo de ensino e
aprendizagem e organizar os encontros presenciais nos polos de apoio dando suporte técnico-
pedagógico e promovendo o engajamento dos estudantes (MACHADO e MORAES, 2015). A
participante 117 declara sua satisfação com o curso e a tutoria presencial: “fiquei muito
satisfeita com o curso que fiz e quero deixar o meu agradecimento em especial á minha tutora
presencial, que ela sempre estava disposta a explicar e ensinar” (UFPR, 2014).
O relato da participante 117 evidencia o papel e a importancia do tutor presencial. Para
Machado e Moraes (2015, p. 47) o tutor presencial “e um elo muito importante no processo de
ensino e aprendizagem na modalidade a distancia”, uma vez que e ele o responsavel em
reconhecer as necessidades dos estudantes, assegurar a legalidade do processo e aproximar os
cursistas de suas realidades culturais.
Para integrar os principais agentes promotores do processo de ensino e aprendizagem,
o professor merece papel de destaque. Na educação a distância o professor precisa se reinventar,
uma vez que ele assume novas funções como elaborar o material didático, saber se posicionar
frente às câmeras, bem como acessar e realizar interações no AVA (MACHADO e MORAES,
2015). Bawa (2016) reforça a atualização e a formação específica desses profissionais que
atuam na educação online como imprescindível para a qualidade do ensino.
O participante 523 relata que sentiu falta dos professores no AVA. Já o participante
1213 sugere mais aulas presencias. “Apesar do curso ser a distância, senti falta de mais aulas
e contato com professores na forma presencial, trabalhando o conteúdo de forma mais
aprofundada”. O participante 1059 também sente essa necessidade. “Sugiro que sempre tenha
essa aula expositiva, pois a presença e as informações que o/a professora dá na aula presencial
nos motivam e sempre acrescentam e muito em nossos estudos” (UFPR, 2014).
A partir dos relatos supracitados, percebe-se a importância da atuação do professor nao
só nos encontros presenciais, mas no ambiente virtual de aprendizagem. Para Machado e
1239
Moraes (2015, p. 40), o docente que atua na EaD precisa desenvolver a “habilidade da
comunicacao escrita”, “perceber minuciosamente cada detalhe ou ausencia do aluno no
ambiente virtual de aprendizagem”. O docente que atua na EaD precisa desenvolver seu
trabalho de forma ativa, dando todo o suporte necessário aos discentes e tutores.
Em relação ao ambiente virtual de aprendizagem ele deve ser de fácil utilização e
promover a interação, o que corrobora com os pressupostos de Machado e Moraes (2015) de
que o AVA deve possibilitar diferentes formas de interação. A maioria dos cursistas considerou
o ambiente virtual de aprendizagem de fácil utilização. Entretanto, há que se considerar que
existe uma parcela de estudantes que nunca realizaram um curso a distância e que possuem
algumas dificuldades em manusear as tecnologias, conforme demonstra o relato do participante
410. “A primeira coisa que tinha que ser feito é informar o aluno de como utilizar a plataforma.
Eu quase perdi o curso porque não sabia nem como entrar e utilizar o Moodle” (UFPR, 2014).
Bawa (2016) pontua que as dificuldades no manuseio das tecnologias é frequente, bem
como as limitações na compreensão dos ambientes de aprendizagem. Como na EaD o AVA é
o principal canal de comunicação entre cursistas, tutores e professores, é fundamental que todos
se sintam aptos a navegar pelo ambiente e conheçam suas principais funcionalidades. Machado
e Moraes (2015, p. 66) elucidam que os estudantes devem ser estimulados a frequentar o AVA
e interessarem-se “pelos conteudos, pelas informacoes e pela possibilidade de criar novos
conhecimentos” para que percebam que sao coautores de seu processo de ensino e
aprendizagem. É previsto e recomendado que todos os cursos que utilizam o AVA propiciem
um período de ambientação (uma semana a um mês), no qual são propostos exercícios para uso
do AVA em suas funções básicas, viabilizando a continuidade no curso.
No que diz respeito ao processo de interação no AVA muitos cursistas fizeram diversas
observações. De acordo com o participante 401 “poderia ter um chat para que os colegas
pudessem interagir melhor, e também horários marcados com o professor no ambiente virtual
para que pudéssemos esclarecer as dúvidas”. Em relação aos fóruns, o participante 488 relata
que suas expectativas foram atendidas, pois os fóruns “permitem conhecer outras realidades,
conhecimentos e ideias” aplicáveis ao contexto profissional (UFPR, 2014).
Partindo do pressuposto de que “a interacao decorre do encontro de pessoas que
estabelecem relacoes e discutem posicoes, englobam ideias e ate sentimentos comuns”
(MACHADO e MORAES, 2015, p. 62), o relato do participante 401, ao sugerir a inclusão de
1240
um chat, ilustra a necessidade que alguns estudantes sentem em aprofundar e manter o processo
interativo dentro do AVA.
O processo de interação pode ocorrer de diversas maneiras, seja estudante/estudante,
estudante/tutor ou estudante/professor. No que diz respeito a interação entre os cursistas, Mattar
(2012) esclarece que ela pode ser síncrona ou assíncrona, favorece o processo de aprendizagem
colaborativa e cooperativa e o sentimento de compor um grupo, além de desenvolver a
criticidade e auxiliar no desenvolvimento da capacidade de trabalhar em equipe.
Em relação à interação entre estudante/professor e estudante/tutor, Mattar (2012) afirma
que independente de ser síncrona ou assíncrona, deve-se promover a motivação dos estudantes
e fornecer um feedback constante que contribua no aprendizado.
Abramenka (2015) reforça em sua pesquisa a valorização da interação com os
instrutores e colaboração como elementos importantes, destaca ainda a interação assíncrona
como a preferida.
Sendo uma das atividades mais comuns na EaD (MATTAR, 2012), o fórum foi o
recurso mais utilizado nos cursos participantes da pesquisa. De acordo com Mattar (2012), os
fóruns de discussões permitem a interação de forma assíncrona entre os participantes sobre um
determinado tema. Permite que o professor e/ou tutor acompanhem o processo de discussão e
promovam o debate entre os cursistas. Os tutores mediam debates e não devem assumir as
discussões (MATTAR, 2013), entretanto precisam ter presença suficiente para que os
estudantes não se sintam abandonados.
Considerações
A avaliação final representou o panorama atual dos cursos a distância na instituição
pesquisada e aponta melhorias a serem feitas nos cursos ofertados em várias dimensões:
pedagógicas, tecnologias educacionais, tecnologias de informação e comunicação, de
organização, dos atores da EaD, entre outros.
O resultado das avaliações foi enviado aos coordenadores dos cursos e acredita-se que
a partir dele será possível planejar os próximos cursos adaptando as unidades de acordo com o
perfil do aluno. Avalia-se o retorno dos instrumentos como positivo e pretende-se incorporar a
avaliação dos cursos como uma política institucional. Acrescenta-se que os instrumentos
elaborados serviram de modelos para outros instrumentos que foram adaptados para diversos
cursos da instituição.
1241
REFERÊNCIAS
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