A eleição de bispos

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  • A ELEIO DE BISPOS'SERVIDORES DO EVANGELHO DE JESUS CRISTO

    PARA A ESPERANA NO MUNDO'

    A Reforma do Papad01 o ttulo do livro de D. John Raphael Quinn,lanado nos Estados Unidos no incio de dezembro de 1999.O autor,arcebispo emrito de So Francisco, EUA, quis entregar, pessoalmente,ao Papa uma cpia do escrito. O prprio Pontfice tinha convidado osfiis, na Encclica Ut unum sint 2, sobre o ecumenismo, a refletir juntoso "exerccio" do primado. A inteno do arcebispo, revelada numaentrevista3, atender, com grande respeito e amor Igreja, ao convitedo Sucessor de Pedro.

    Conforme a apresentao que os entrevistadores fazem, este prela-do fora presidente da Conferncia dos Bispos norte americanos e, comfama de moderado, decidiu pedir renncia do ofcio de arcebispo.Tinha 66 anos, sem nenhum problema de sade. Embora tenha sido

    I J. R. QUINN, The reform of tile papacy. The costly call to cilristiall llllity, New York:The Grossroad Publishing Company (data).2 JOO PAULO lI, Carta Encclica Ut Wlum sillt sobre o empenho ecumnico, inL'OSSERVATORE ROMANO - edio semanal em portugus, 03 de junho de 1995, pp.(259) 7ss, n. 96 do documento.3 G. O'CONNELL / G. FERRO, (a cura di) "Riformare il Papato per unire i cristiani -intervista a monsignor John Raphael Quinn" Jesus 1 (2000) 12-18.

  • eleito pela grande maioria dos irmos bispos para participar do Snodosobre as Amricas, no pde participar dessa assemblia por ser'emrito'4. Em 1997,o arcebispo fez uma conferncia na qual deixavaclaro que um srio repensar o 'exerccio' do primado petrino significaabrir espao para grandes mudanas, antes de tudo, uma radical refor-ma da Cria Romana. Depois dessa conferncia, seguida por muitosbispos, veio o livro.

    Na entrevista, D. John afirma que, na busca de um autnticoecumenismo, preciso levar em conta que as outras Igrejas e comuni-dades eclesiais consideram no s o nosso discurso sobre a unidade,mas tambm a nossa prtica, por exemplo, o modo como vivemosinternamente a colegialidade. Perguntado sobre os problemas nestecampo, o arcebispo responde: um dos problemas principais a extre-ma centralizao existente - "centralizao" no no sentido de verRoma como centro de comunho, mas no sentido do rgido controle daparte de Roma sobre milhares de detalhes da vida cotidiana nas Igrejaslocais. Esta centralizao no existia no primeiro milnio, diz ele, e nofaz parte da essncia do primado. Pode-se perceb-Ia, por exemplo, emquestes como a nomeao dos bispos que, freqentemente, acontececom uma consulta mnima, ou mesmo sem consultar a Igreja local.

    E o arcebispo aponta como remdio contra a centralizao, em pri-meiro lugar, a busca da prtica de uma colegialidade5 muito mais autn-tica, real e eficaz. Isso implica, entre outras coisas, numa real participa-o das Igrejas locais e regionais na nomeao dos bispos; em segundolugar, reformar a Cria Romana e, em terceiro, reconsiderar o ColgioCardinalcio que representa uma diminutio da colegialidade episcopal.

    Na linha de reflexo deste "mestre da doutrina"6, colocam-se al-guns telogos7 No que diz respeito nomeao de bispos, referindo-se ao novo Cdigo de Direito Cannico (CIC),de 1983,Gonzlez Fausdiz que "se trata de um texto que mais decepcionou em seu conjunto,

    4 O c. 344, n 2 do Cdigo Cannico da Igreja Latina, diz o seguinte: "O Snodo dosBispos est sujeito diretamente autoridade do Romano Pontfice, a quem compete: 2- confirmar a eleio dos membros que, de acordo com o direito especial, devem sereleitos, bem como designar e nomear outros membros".5 K. WALF, Derecho Eclesistico = Biblioteca de teologia, 12, Barcelona: Herder, 1988,pp. 15s.6 C. 375 do CIC de 1983.7 C. GONZLEZ VALLS, Querida Igreja, So Paulo: Paulus, 1998, pp. 69-74. J. LGONZLEZ FAUS, A autoridade da verdade - momentos obscuros do magistrioeclesistico, So Paulo: Loyola, 1998, p. 246; Idem, 'Nenhum bispo imposto (s. Celestino,papa) - as eleies episcopais na histria da Igreja, So Paulo: Paulus, 1996, pp. 143ss.J. Y. CONGAR, Igreja e papado - perspectivas histricas, So Paulo: Loyola, 1997. K.WALF, Derecho ..., Op.cit., pp. 15s. J. COMBLIN, Vocao para a liberdade = Temas deatualidade, So Paulo: Paulus, 1998.

  • por ser excessivamente conservador"s, E comenta a seguir o c. 377 doreferido CIC.

    Hoje, quando falamos da realidade jurdica na Igreja Catlica,referimo-nos a dois instrumentos de comunho, como que "dois pul-mes"9:o Codex Iuris Canonici (CIC), vlido para a igreja de rito la-tino e o Codex Canonum Ecclesiarum Orientalium (CCEO), vigentedesde 1991 para as igrejas orientais. Entendendo-se o CIC e o CCEOcomo uma expresso, historicamente situada, do direito no mistrioda Igreja, santa e pecadora, no creio que se possa falar de decepodiante do texto (direito enquanto '''norma positiva"), embora seja sem-pre possvel questionar, no autntico esprito da communio, a prxis(direito cannico enquanto "conjunto de relaes entre os fiis"). Par-ticipando do carter tendrico da Igreja, no podemos negar que oDireito Eclesiat na sua prtica, pode se distanciar do ideal traado noprprio texto da lepo. O direito como 'norma' diferente do direitoenquanto "conjunto de relaes", A vida surpreendente e apresentasituaes sempre novas. No papel do Direito criar - e nem seriacapaz - a realidade. Ele simplesmente a encontra, acolhe, contempla eaponta critrios, a partir da Tradio Cannica, para medi-Ia (kanon).Tais critrios, na vida da Igreja de Cristo, s podem se fundamentarbem na relao que o prprio Senhor estabeleceu com seu Reino.

    Quanto ao cdigo latino, h 33 anos, a Assemblia Geral do Snododos Bisposll traara uma srie de princpios que deveriam inspirar otrabalho dos grupos de estudo da anunciada e to desejada reformadas leis cannicas na Igreja Catlica. Dois destes so especialmenteinspiradores para o tema a que nos propomos neste escrito, a saber, oquarto e o quinto:

    - A reviso completa do sistema das faculdades dos Ordinriose dos outros Superiores, aos quais precso reconhecer as devi-das faculdades de dispensa das leis gerais da Igreja;- A aplicao do princpio de subsidiariedade na Igreja, de modoque, por um lado, fique salva a unidade legislativa nas coisas

    8 J. I. GONZLEZ FAUS, 'Nenhum bispo imposto ..., Op. cit., pp. 141s.9 G. NEDUNGATI, "Presentazione del CCEO" in Enchiridion Vaticanum 12 - documentiuJficiali della Santa Sede, 1990, Bologna: Dehoniane, 1992, p. 889,10 K. WALF, Derecho Eclesistico ..., Op. cit., pp, 15s11 Em outubro de 1967, depois de um estudo da Reunio Geral do Snodo dos Bispos,foram aprovados quase por unanimidade dez princpios a serem seguidos na revisode todo o Cdigo.

  • fundamentais e nos principais enunciados do direito, como ocaso das instituies de maior importncia e, por outro lado,sejam tuteladas as legtimas necessidades e exigncias das Igre-jas locais e a correta autonomia delas, por meio de uma sadiadescentralizao, para o prprio bem das comunidades e decada fiel12

    A leitura conjunta dos dois princpios deixa claro e explcito o vn-culo entre eles: o quinto trazido luz (eruitur) pelo quarto. Quandose l no c. 381 1 do ele que o Bispo Diocesano, na diocese que lhefoi confiada, dispe de "todo poder ordinrio, prprio e imediato quese requer para o exerccio de seu mnus pastoral", est sendo aplicadoo princpio quarto. A Constituio Dogmtica sobre a Igreja, do Con-clio Vaticano II, em seu nmero 27 que fonte para o citado cnon,diz que os bispos, em virtude desse poder, "tm o direito sagrado e,diante do Senhor, o dever de legislar para os seus sditos, de julgar eregular tudo quanto diz respeito organizao do culto e do apostolado.A eles est confiado plenamente o ofcio pastoral, isto , a solicitudehabitual e cotidiana das suas ovelhas, e no devem ser consideradosvigrios do Romano Pontfice, (grifo nosso) j que esto revestidos depoder prprio, e so chamados, com toda a verdade, os chefes dospovos que governam. Por isso, o seu poder no fica anulado pelopoder supremo e universal, mas antes por ele confirmado, fortaleci-do e defendido, conservando o Esprito Santo intacta a forma de regi-me que Cristo Senhor nosso estabeleceu na sua Igreja". Esse quartoprincpio aparece tambm na formulao dos cc. 391, 1, 333 1 eigualmente no enunciado geral do c. 87 tambm do CIC.

    12 O texto latino dos princpios foi assim redigido: 40. - Ut Summus Legislator etEpiscopi il1 cura al1imarum cOl1cordem operam praestel1t et pastorum mUl1us modomagis positivo appareat, quae huc usque extraordil1ariae eral1t facultates circadiscpel1satiol1em a legibus gel1eralibus, ordil1ariae fial1t, reserva tis iis tal1tum Supremaepotestati Ecclesiae ul1iversalis veI aliis auctoritatibus superioribus, quae propter bOl1umCOmmlll1e exceptiol1em exigal1t. 50. - Probe attel1datur ad pril1cipium, quod e superiorecruitllr et pril1cipium sllbsidiarietatis vocatllr, il1 Ecclesia eo magis applical1dum, quodofficium Episcoporum cum potestatibus adl1exis es iuris divil1i. Hoc pril1cipio, dumIIl1itas legislativa ct ius ul1iversale et gel1crale serval1tur, col1vel1iel1tia etiam et l1eces-sitas propugl1al1tllr providel1di IItilitati praesertim sil1gulorllm il1stitutorum per iuraparticlllaria et per sal1am alltol1omiam potestatis exsecutivae particlllaris illis agl1itam.Eodem igitur pril1cipio il1l1ixllS, 110VUS Codex sive illribus particularibus sive potestatiexsecutivae demal1det, qllae ul1itati disciplil1ae Ecclesiae 1ll1iversalis l1ecessaria 11011sil1t, ita IIt sal1ae sic dictae 'decel1tralizatiol1i' opportlll1e provideatur, remoto periculodisgregatiol1is vel COl1stitutiol1is Ecclesiarum l1atiol1alium. PONTIFICIA COMMISSIOCODICI IURIS CANONICI AUTHENTICE INTERPRETANDO, Codex luris Cal1ol1iciallctoritate Ioal1l1is Pauli PP. Il promulgatus - fOl1tium al1l1otatiol1e et il1dice al1alytico-alphabetico allctus, Citt dei Vaticano: Vaticana, 1989, p. XXV. Para o texto em portu-gus, d. Cdigo de Direito Cal1l1ico, traduo da Conferncia Nacional dos Bispos doBrasil, notas e comentrios do Pe. Jesus S. Hortal, SJ, So Paulo: Loyola, 1983, p. XXIX.

  • Foi Pio XI quem formulou pela primeira vez o prinCIpIO desubsidiariedade na Encclica Quadragesimo Anno, de 15 de maio de1931, para proteger da ingerncia abusiva do Estado a autonomia dafamlia, em relao especialmente educao dos filhos13 Pio XII,falando aos cardeais em 1946, afirmou explicitamente que asubsidiariedade pode ser adaptada vida interna da Igreja, com exce-o de sua estrutura hierrquical4 E no s Pio XII. Os snodos inter-nacionais de 1967 e 1969 foram favorveis a aplicao do princpio desubsidiariedade no direito cannico e nas Conferncias dos Bispos. Asubsidiariedade tem um fundamento doutrinal e se aplica Igrejauniversal. Todavia, a subsidiariedade deve ser vista no contexto daverdade crist e com esta equilibrada. O Papa Pio XII contrape asubsidiariedade na Igreja centralizao das sociedades totalitrias denosso tempol5.

    O Pe. Ghirlanda comenta este prinClplO, dando-lhe a noo e omodo de aplicao vida da Igreja. preciso conservar, na Igreja, oque de instituio divina, a saber, "0 poder na Igreja tem origem noAlto (cc. 129 1, 618 do CIC) e no do povo; a estrutura fundamentalda Igreja estabelecida pelo prprio Cristo e no pelos membros daestrutura social aps um compromisso entre as vrias foras nela pre-sentes; o bem comum assim como o de cada um na Igreja de ordemsobrenatural e no s natural; os direitos e os deveres dos fiis en-quanto tais so conferidos pela prpria Igreja no batismo e, portanto,no precedem a incorporao nela; na Igreja, e preservada a justaautonomia de cada um dos grupos sociais, torna-se necessria a inter-veno da autoridade superior tambm nas competncias da autorida-de inferior (LG 22, cc. 331, 333, 336 do CIC) para a defesa e o desen-volvimento da santidade e da unidade da prpria Igreja e pelo fato deque a Igreja universal, una, santa, catlica e apostlica no umaconfederao de igrejas particulares, mas a comunho entre as Igrejasparticulares, de modo que ao mesmo tempo ela existe a partir delas enelas est presente e operante" (LG 23, 26, c. 369 do CIC)16.

    O citado autor conclui que o princpio foi aplicado na elaboraodo CIC de 1983. Basta ver os constantes apelos ao direito particular ouao direito prprio. Entretanto, a expresso "justa autonomia", que apa-rece no c. 586 do CIC, referindo-se aos institutos de vida consagrada,no usada para as Igrejas particularesl7

    13 G. GHIRLANDA, Introduo ao Direito Eclesial = Introduo s disciplinas teolgi-cas, So Paulo: Loyola, 1998, p. 84,.14 AAS 28 (1946) 144s.15 G. O'CONNELL / G. FERRO, (a cura di) "Riformare il Papato ..., Op. cit., pp. 12-18.16 G. GHIRLANDA, Introduo ao Direito Eclesial..., Op. cit., p. 85.17 lbidem.

  • o Cdigo de Direito Cannico de 1917no inclua entre as ordenssagradas o "episcopado" (c. 949 do C/C 1917).O atual c. 1009do C/C,tendo em vista sua natureza jurdica, simplesmente distingue os trsgraus da ordem sagrada: episcopado, presbiterado e diaconato, sementrar na discusso acerca da sacramentalidade dos trs graus e adiferena entre episcopado e presbiterado. O Vaticano lI, na LumenGentium 21, diz que "com a consagrao episcopal conferida a ple-nitude do sacramento da ordem". Mais feliz parece ser a formulaodo c. 325 do CCEO: "os clrigos, em razo da ordenao sagrada, sedistinguem em bispos, presbteros e diconos". Usa a palavra ordo nosingular.

    Sob o ponto de vista cannico, a fundamentao teolgica do mnusepiscopal, codificada no c. 375, seguindo o quarto princpio acimaenunciado, de suma importncia, pois para o canonista no bastasimplesmente revestir de frmulas jurdicas as concluses teolgicas epastorais, sem se mergulhar no esprito de tais conclusesl8.

    O Cnon 375 retoma o ensinamento do Vaticano lI, nos nn. 20s daConstituio dogmtica Lumen Gentium. Da leitura deste cnon resul-tam as seguintes concluses:

    Em primeiro lugar, os bispos so os sucessores dos Apstolos exdivina institution9 Esse princpio eclesiolgico fundamental j tinhasido afirmado no c. 330.

    Em segundo lugar, os bispos so os pastores da Igreja. So "osmestres da doutrina, os sacerdotes do culto sagrado e os ministros dogoverno" (c. 375, 1), pelo que eles tm uma trplice funo ou poder:de ensinar, de santificar e de governar (c. 375, 2).

    Em terceiro lugar, os bispos recebem o seu poder - seu trplice'munus'- mediante a prpria consagrao. esta, de fato, que confereaos bispos a plenitude do sacerdcio, imprimindo neles um cartersacramental prprio, que lhes constitui mestres e pontfices in personaChristi e, como tais, insere-os na ordem episcopapo. Com a doutrina

    18 PAULO VI, "II Congresso Internacional de Direito Cannico, Milo, 17 de setembrode 1973" in Communicationes 5 (1973) 124. Cf. tambm: JOO PAULO II, Consto Ap.Sapientia Christiana, art. 75: "A faculdade de direito cannico, latino ou oriental, temo objetivo de cultivar e promover as disciplinas cannicas luz da lei evanglica einstruir os estudantes a fundo nas mesmas ..." AAS 71 (1979) 494." "Por instituio divina", expresso usada em Direito Cannico para indicar uma leidivina e no simplesmente eclesistica.20 F.A. PASTOR," 'Authenticum episcoporum magisterium'. Las conferencias de obisposy el ejercicio de Ia 'potestas docendi' "Periodica 29 (2000) 91s.

  • formulada pelo Conclio, fica resolvida uma questo discutida porsculos sobre a natureza do Episcopado. A consagrao episcopal um verdadeiro sacramento que imprime um verdadeiro carter, ocarter episcopal, distinto do presbiteraFI. Uma distino, porm, degrau e no de essncia, uma vez que os presbteros recebem a mesmafuno do ministrio apostlico em grau subordinado ordem episco-pal. Essa distino se d no campo jurisdicional, visto que o bispoconsagrado legitimamente, por direito divino, participa do poder deensinar e governar pleno e supremo sobre a Igreja universal, prpriodo Colgio dos Bispos; o presbtero, por sua vez, recebe da autoridadelegtima o poder de governo correspondente ao ofcio que lhe con-ferido na Igreja particular22.O episcopado o sacramento da Ordemno seu grau supremo, mediante o qual o eleito se configura a Cristode modo eminente, modo quo maior fieri nequit, disse Paulo VI nahomilia pronunciada aos 20 de outubro de 1963, depois da consagra-o episcopal de quatorze novos bispos missionrios.Consequentemente, o poder que os bispos tm - tambm o de governo- no lhes derivado do Romano Pontfice, mas, atravs da consagra-o sacramental, do prprio Cristo, de quem so "vigrios" na prpriaIgreja Particular (LG, 27).

    Em quarto lugar, o poder dos bispos de santificar, de ensinar e degovernar, no pode ser exercido a no ser na comunho hierrquicacom o Romano Pontfice, cabea do Colgio dos Bispos, e com osoutros membros do mesmo Colgio. Isso porque, na sua misso pas-toral, o bispo no isolado. Ele cumpre a sua funo na medida emque membro do Colgio Episcopal. Porm, para a efetiva pertena aoColgio, no suficiente a consagrao episcopal; requer-se tambm a"comunho hierrquica"23com a cabea e com os outros membros (LG

    21 Sobre a natureza do sacerdcio catlico: J. RATZINGER, Compreender a Igreja hoje- vocao para a comlllzho, Petrpolis: Vozes, 1992.22 G. GHIRLANDA, "Ordine sacro" in C. C. SALVADOR / V. DE PAOUS / G.GHIRLANDA, (a cura di), NlIovo Dizionario di Diritto canonico, Milano: San Paolo,1993, pp. 741ss.23 O Cardo Ratzinger prope um significado da palavra "hierarquia". Diz ele que atraduo correta provavelmente no "poder sagrado", mas sim "origem sagrada". Apalavra arch pode ter ambos os significados, origem ou poder. Mas o significado maisprovvel "origem sagrada". Continua a transmitir-se, pois, a fora de uma origem,e a fora de uma origem que sagrada, volta sempre a ser, por assim dizer, o novocomeo de cada gerao na Igreja. "No vive da simples continuidade das geraes,mas da prpria fonte sempre nova e presente, que se volta sempre a comunicar atravsdo sacramento. Julgo que isto , primeiro, uma outra perspectiva importante, que acategoria que corresponde ao sacerdcio no seja a do poder. Tem, pelo contrrio, deser passagem, de tornar presente um incio e de se por disposio para isso. Se seentende o sacerdcio, o ministrio episcopal e o ministrio papal, essencialmente comopoder, ento est tudo distorcido e deformado. Ns sabemos pelos Evangelhos quehouve conflitos entre os discpulos sobre o lugar que cada um ocupava, que houve

  • 22, c. 335). Isto significa que, se os poderes episcopais tm como fonteradical, ontolgica, a consagrao sacramental, o seu exerccio requera mediao eclesistica, ou seja, a "determinao jurdica" - a missiocanonica - da parte da autoridade hierrquica, no caso, do RomanoPontfice, cabea do Colgio EpiscopaF4. este o sentido da "NotaExplicativa Prvia" que, por expresso mandato de Paulo VI, foi anexa-da ao esquema da Constituio Lumen Gentium, antes de sua aprova-o aos 16 de novembro de 1964. A "determinao jurdica" a que serefere esta Nota a missio canonica, sem a qual os atos sacramentaisseriam ilcitos, embora, por si, vlidos (com exceo do sacramento dapenitncia para o qual no basta o poder de ordem - c. 966, 1),enquanto os atos de administrao seriam, por si, sem nenhum efeito.Nesta 'Nota' se inspirou o legislador para formular o c. 3752: "Episcopiipsa consecratione episcopali recipiunt cum munere sanctificandimunera quoque docendi et regendi, quae tamen natura sua nonnisi inhierarchica communione cum Collegii capite et membris exercerepossunt".

    Com esses pressupostos, no h como pensar na figura do bispo,hoje, a no ser enquanto representante da "Igreja universal perante aIgreja local, e a Igreja local em face da Igreja universal. Deste modo eleserve unidade. No permite que a Igreja local se feche sobre si mesma,mas se abra para o todo, para que as foras vivificantes dos carismaspossam circular livremente. Da mesma forma que ele abre a Igrejalocal em face da Igreja universal, assim tambm leva Igreja universala voz particular de sua diocese, seus dons particulares, suas realiza-es e seus sofrimentos. Tudo pertence a todos. Cada rgo im-

    desde o incio e que continua a haver a tentao de se fazer um poder do fato de serdiscpulo. No se pode, pois, contestar que essa tentao exista em cada gerao, etambm na gerao de hoje. Mas h, ao mesmo tempo, o gesto do Senhor, que lava osps aos discpulos e os toma capazes de se sentarem mesa com Ele, com o prprioDeus. Com este gesto Ele diz, por assim dizer: o sacerdcio isto. Se no gostais disto,ento no sois sacerdotes. Ou tambm, como Ele diz me de Zebedeu: a condioprvia a de beber o clice, o que significa sofrer com Cristo. Se depois esto sentados direita ou esquerda ou noutro lugar qualquer, tem de ficar em aberto. E issosignifica tambm que ser discpulo significa beber o clice, entrar na comunidade dedestino do Senhor, ser algum que lava os ps do prximo, algum que sofre antes ecom o Senhor. Este o primeiro ponto; a origem, o verdadeiro sentido de hierarquiano , certamente, o de construir uma estrutura de poder, mas de manter algo presente,que no vem simplesmente de um indivduo. Ningum pode perdoar pecados, por simesmo, ningum pode transmitir, por si, o Esprito Santo, ningum pode, por si, trans-formar o po na presena de Cristo ou mant-Ia presente. preciso prestar um servioem que a Igreja no se torna numa empresa que se administra a si mesma, mas voltasempre a viver a partir da sua origem", J. RATZINGER, O sal da terra - o cristianismoe a Igreja Catlica no limiar do terceiro milnio - uma entrevista com Peter Seewald,Lisboa: Multinova, 1997, pp. 150s.( Ttulo original: Salz der Erde, Stuttgart, 1996).24 L.CHIAPPETIA, Prontuario di Diritto Canonico e concorda/ario, Roma: Dehoniane,1994, pp. 1270ss.

  • portante, e a contribuio de cada um necessria para o todo. Porisso o sucessor de So Pedro deve entender seu ofcio de tal maneiraque no sufoque os dons particulares de cada Igreja local, no as sub-meta a uma falsa uniformidade, mas permita que atuem num inter-cmbio vital do todo. Estes imperativos valem para o bispo em seulugar e valem com tanto mais razo para a direo comum que osbispos exercem por meio do snodo ou da conferncia episcopal. Damesma forma que, alm dos direitos sagrados que provm do sacra-mento, o Papa s deve impor aqueles elementos do direito humanoque so realmente necessrios, assim tambm devem proceder o bispoe a conferncia episcopal em seu prprio mbito. Estes devem se res-guardar de uniformismo pastoral. Eles tambm devem seguir as nor-mas de So Paulo: 'No extingais o Esprito ... examinai tudo e ficaicom o que bom'(lTs 5,19.21). Tambm aqui no deve haveruniformismo nos planejamentos pastorais, mas preciso criar espaopara a multiformidade, ainda que penosa, dos dons de Deus, natural-mente sempre debaixo do critrio da unidade da f. No se devemacrescentar mais formas humanas do que as que se fazem necessriaspara a tolerncia e para a boa convivncia"25. Os bispos so chamadosa ser 'servidores do Evangelho de Jesus Cristo para a esperana domundo', conforme os Lineamenta para o prximo Snodos dos Bis-pOS26.

    a) O direito do Romano Ponffice (C, 377, 1 do CIC e c. 181, 2 doCCEO) 27,

    c) 377, 1: O Sumo Pontfice nomeia os Bispos livremente, ou confirmaos que foram legitimamente eleitos.c) 181, 2: Os demais bispos so nomeados pelo Romano Pontfice,salvos os cc. 149 e 168.

    Sabe-se que, nos primeiros sculos, os bispos eram eleitos (princ-pio eletivo) pelo Clero e pelo Povo, com a aprovao dos bispos mais

    25 J. RA TZINGER, COlllpreender a Igreja ..., 01" cil., pp. 52-56.2. Cfr. L'OSSERVATORE ROMANO - edio semanal em portugus, I" de agosto de1998, pp. (419) 3 - (434) 18.27 Como fontes, foram propostas pela Pontifcia Comisso para interpretao do Cdi-go as seguintes: 377 1: cc. 329 2 3, 332 1 do Cdigo de 1917; Decreto ChrislusOOlllinus (CO 20), 28 de outubro de 1965, AAS 58 (1966) 673-696; PAULO VI, MotuProprio Ecclesiae Sanelae (ES 1,10),06 de agosto de 1966, AAS 58 (1966) 757-787. 377 2: Sacra Congregatio ConcistoriaIis (SCC - at 31 de dezembro de 1967) DecretoInler suprema, 19 de maro de 1919, AAS 11 (1919) 124-128; SCC, Decreto Maxilllalllsellll'er, 20 de novembro de 1921, AAS 13 (1921) 13-16; SCC, Decreto Quae de eligcndis,19 de maro de 1921, AAS 13 (1921) 222-225; SCC, Decreto Quo cXl'ediliori, 30 de abril

  • prximos, vizinhos ou do metropolita a quem competia consagrar oeleito. Um tal procedimento que, a partir do sculo IV, foifreqentemente dificultado pelos imperadores bizantinos, com a no-meao direta dos Bispos, especialmente nas sedes patriarcais noOcidente teve mais longa durao. A intromisso dos soberanos come-ou na Europa com Carlos Magno e cresceu, em seguida, com a cria-o do "feudalismo eclesistico", por obra de Oto I, o Grande, da casade Saxnia (912-973). A situao eclesistica se torna gravssima nosculo sucessivo, dando lugar "luta pelas investiduras", conduzidaem particular, com firmeza, por Gregrio VII28 (1073-1085). AConcorda ta de Worms, concluda aos 23 de setembro de 1122, entreCalixto II e Herinque V, colocou fim oficial dramtica luta, que duroucerca de 50 anos. Com isso, a eleio dos bispos foi salva da ingernciado Imperador. De fato, porm, conforme o direito das Decretais, aeleio cannica passou quase completamente s mos dos Captulosdas Catedrais, com excluso dos outros eclesisticos e dos leigos.

    Posteriormente, o Romano Pontfice procura fazer valer os seusdireitos de Cabea da Igreja, e comeou a reservar-se a nomeao dosbispos (sc. XIlI). Tal reserva se tornou quase geral no sculo XIV,mas, em seguida, pela presso dos soberanos, a Santa S foi obrigadaa ceder, e muitos prncipes (Francisco I da Frana, Concordata de1516) obtiveram o poder de nomear Bispos para o seu territrio. Opapa conferia a instituio cannica e concedia a bula.

    O Conclio Vaticano II (CD 20) pediu que no mais se concedessemprivilgios de apresentao ou nomeao de bispos s autoridadescivis e que, onde existissem, as mesmas autoridades renunciassemespontaneamente a eles. No aboliu, porm, o direito de eleio deque gozam alguns cabidos catedralcios. Hoje, excetuadas algumassedes da Alemanha, da ustria e da Sua, em que a eleio dos bisposcompete aos Captulos das Catedrais, os bispos, na Igreja Latina, sonomeados geralmente pela Santa S. O Cdigo atual no quis suprimir

    de 1921, AAS 13 (1921) 379-382; SCc, Decreto Ad proponendos, 20 de agosto de 1921,AAS 13 (1921) 430-432; ES 1, 10; Consilium a publicis Ecclesiae Negotiis (CPEN), Norlllaede prolllovendis ad Episcopale lIlinisteriulIl in Ecclesia Latilla, (NPEM, lI-X), 25 demaro de 1972, AAS 64 (1972) 386-391 377 3: SCc, Resposta 25 de abril de 1917, AAS9 (1917) 232-233; SCc, Decreto Regulas apprillle, 29 fevereiro de 1924, AAS 16 (1924)160-161; NPEM, XIII-XV; Secretaria Status, Instruo Secreta cOlltillere, 4 fevereiro de1974, 1, 7, AAS 66 (1974) 91 377 4: CO,26; NPEM, XIII, 3. 377 5: CO, 20; NPEM,XV (cfr. PONTIFICIA COMMISSIO CODICI IURIS CANONICI AUTHENTICE INTER-PRETANDO, Op. cit., p. 108).2H H leituras diferentes da obra de Gregrio VII. Importante no esquecer o contextohistrico de tal obra. COMBLIN, Jos, Vocao para a liberdade (col. Temas de atua-lidade), So Paulo: Paulus, 1998. A. BARREIRO, 'Povo Sallto e Pecador' A Igreja ques-tiollada e acreditada = Teologia e Evangelizao, 11, So Paulo: LoyoIa, 1994, pp. 1325.

  • tais privilgios, pelo que o c. 377, 1 afirma que compete ao RomanoPontfice nomear livremente os bispos ou confirmar os candidatoseleitos legitimamente. Esta norma vale, conforme o c. 1, para a IgrejaLatina. As Igrejas Orientais, patriarcais e arquiepiscopais, so gover-nadas pelos respectivos Snodos dos Bispos, dotados de poderlegislativo, judicial e, em determinados casos, tambm administra ti-V029 Tambm a eleio de bispos questo tratada, nas Igrejas Orien-tais, em snodo (c. 110, 3).

    b) O atual procedimento (c. 377, 2-4)

    2. Pelo menos a cada trs anos, os Bispos de uma provncia eclesis-tica ou, onde as circunstncias o aconselhem, os Bispos de uma Con-ferncia de Bispos, por meio de consulta comum e secreta, faam umalista de presbteros, tambm dos que so membros de institutos devida consagrada, mais aptos para o episcopado, e a enviem S Apos-tlica, mantendo-se o direito de cada Bispo apresentar S Apostlicaos nomes de presbteros que julgar dignos e idneos para o mnusepiscopal30 3. Salvo legtima determinao em contrrio, sempre que deva sernomeado um Bispo diocesano ou Bispo coadjutor, compete ao Legadopontifcio, para formar os chamados ternos, fazer indagaes individu-almente, e comunicar S Apostlica, junto com seu voto, o que suge-rirem o Metropolita e os Sufragneos da provncia, qual pertence ouest unida a diocese a ser provida, como tambm o presidente daConferncia dos Bispos; alm disso, o Legado pontifcio oua algunsmembros do colgio dos consultores e do cabido da catedral; se julgaroportuno, indague, individualmente e em segredo, tambm a opinio deoutros, de ambos os cleros, e tambm de leigos eminentes em sabedoria. 4. Salvo legtima determinao em contrrio, o Bispo diocesano quejulgue ser necessrio dar sua diocese, um auxiliar, proponha SApostlica uma lista de pelo menos trs presbteros mais idneos paraesse ofcio.

    Com o decreto do dia 25 de maro de 1972, Paulo VI emanou asnovas normas a serem seguidas para a nomeao dos Bispos na IgrejaLatina3!. Dessas normas foram tirados os pargrafos segundo e quartodo c. 377, os quais, portanto, devero ser integrados s outras prescri-es contidas no referido decreto, salvas as modificaes realizadaspelo ele.

    29 cfr. CCEO, cc. 110 e 15230 Quanto ao c. 377 2, o texto da Legislao Complementar ao ClC emanada pelaCNBB o seguinte: A indicao de candidatos ao episcopado ser feita, ao menos detrs em trs anos, pelas Comisses Episcopais Regionais, ou pela reunio dos Bispos daProvncia Eclesistica.31 Cfr. Enchiridion Vaticanum 04 - documenti ufficiali della Santa Sede, 1971 - 1973,Bologna: Dehoniane, 1991, pp. 1008-1012,nO' 1593-1624.

  • 1. - dever dos bispos de uma provncia eclesistica ou, eventu-almente, da Conferncia dos Bispos, elaborar, ao menos de trs emtrs anos, um elenco reservado dos presbteros, particularmente id-neos ao episcopado, e transmiti-lo Santa S (2), para os trmites doLegado Pontifcio.

    2. - Permanece o direito de cada bispo submeter, separadamente, Santa S, nomes de candidatos considerados dignos e idneos aoofcio eclesistico (2).

    3. - Tratando-se da nomeao concreta de um bispo diocesano oude um bispo coadjutor para uma determinada sede, ser preciso faz-10 mediante a apresentao de uma "terna", a no ser que tenha sidodeterminado legitimamente de modo diverso. A tarefa mais importan-te cabe, por si, ao nncio, que dever fazer as oportunas sondagens(escrutnio - processo informativo) e transmitir Santa S, juntamentecom o prprio voto (parecer), as sugestes do Metropolita e dosSufragneos da provncia a que pertence a diocese a ser provida etambm do Presidente da Conferncia dos Bispos (3).

    4. - Quanto nomeao do bispo auxiliar, a iniciativa deixadaao bispo diocesano, a no ser que tenha sido disposto legitimamentede modo diferente. Ele poder propor Santa S um elenco de pelomenos trs presbteros. Isto, evidentemente, no limita a liberdade doRomano Pontfice, que poder no acolher a sugesto ou mesmo de-signar como bispo auxiliar um sacerdote no elencado na "terna".

    Segundo o Pe. Hortal, no h grandes novidades nesse procedi-mento, acima descrito. O autor faz observao, dizendo que "0 NncioApostlico continua a ter uma interveno decisiva na elaborao dalista trplice a ser apresentada Santa S. E comentando o processo denomeao diz que h dois momentos diferentes: seleo de candidatosao episcopado, em geral, e seleo de candidatos a uma diocese con-creta, em particular. Diz, tambm, que para o Brasil h uma disposi-o especial da Santa S, pela qual a seleo de candidatos ordemepiscopal era feita pelas Comisses Episcopais Regionais. Em muitoscasos, elas coincidem com as Provncias Eclesisticas, para as quaisparece ter-se deslocado ultimamente a funo de seleo, tal como estprevisto no Cdigo. A consulta a clrigos e leigos sobre os candidatosao episcopado s permitida individualmente e no em corpos colegiados.A praxe atual, que possivelmente continuar, que a Nunciatura Apos-tlica, sob segredo pontifcio, promova consultas de informao, inde-pendentemente das que os bispos puderem ter feito"32

    32 JS. HORTAL, comentrio ao c. 377, in Cdigo de Direito Cannico, traduo daCNBB, CO-ROM, Documentos da Igreja, So Paulo: Paulinas Multimdia.

  • 5. Doravante, no se concede s autoridades civis nenhumdireito ou privilgio de eleio, nomeao, apresentao oudesignao de Bispos.

    O quinto pargrafo do c. 377 codifica o desejo expresso pelos Pa-dres conciliares no decreto C/zrstl/s Oomnl/s, n. 20.

    2. A idoneidade dos candidatos (c. 378 do CIC e c. 180do CCEO)

    O primeiro pargrafo do cnon indica, sumariamente, os dons e asqualidades requeridas no candidato ao episcopado, a saber, firmezade f, bons costumes, piedade, zelo pelas almas, sabedoria, prudncia,virtudes humanas e toda outra qualidade que demonstre a aptido dosujeito ao cumprimento do ofcio. Com relao s virtudes humanas,o Diretrio pastoral dos bispos, emanado pela Congregao dos bis-pos aos 22 de fevereiro de 1973, afirma expressamente: "alm dasvirtudes sobrenaturais, devem brilhar no bispo tambm aqueles doteshumanos, com justia muito apredados na sociedade, os quais ajudama prudncia pastoral que nasce da caridade, e lhe permitem de tradu-zir-se continuamente em atos de sbio cuidado das almas e de bomgoverno do clero e do povo. Entre estes dotes, recordem-se: um ricosentimento humano, um esprito bom e leal, um carter constante esincero, uma mente aberta e uma viso de conjunto, um corao sen-svel s alegrias e sofrimentos dos outros, um constante empenho pelajustia, uma grande capacidade de autocontrole, gentileza, tolerncia,discrio e prudncia, uma s inclinao ao dilogo e escuta, umapronta disponibilidade a colocar-se a servio do prximo"33.Boa repu-tao. A idade de ao menos 35 anos. Ao menos cinco anos depresbiterato. Doutorado ou ao menos o mestrado em sagrada Escritu-ra, teologia ou direito cannico, conseguido em um Instituto de Estu-dos Superiores aprovados pela S Apostlica. Em casos particulares,pode tambm ser suficiente que o candidato seja verdadeiramente peritonas citadas disciplinas. O n. VI das Normas emanadas por Paulo VIespecifica ainda mais essas qualidades34. O juzo definitivo sobre aidoneidade dos candidatos compete S Apostlica (2)35.

    JJ Enchiridion Valicanllm 04 - dOCllmenli .".Op. cil., pp. 1258-1261, n. 1996.J4 Ibidem, pp. 1012-1015, n. 1605.J5 L. CHIAPPETIA, Pronlllario di Dirilto Canonico e concordalario, Roma: Dchonianc,1994, pp. 1271-1273.

  • o CCEO, no c. 180, elenca os seguintes requisitos para que algumseja considerado idneo para o episcopado: 1.- deve ser insigne pelafirmeza em sua f, bons constumes, piedade, zelo pelas almas e pru-dncia; 2. - boa fama; 3. - no ligado por vnculo matrimonial; 4. -de ao menos trinta e cinco anos; 5. - ordenado presbtero h, pelomenos, cinco anos; 6.- doutor, ou licenciado ou, ao menos, perito emalguma cincia sagrada.

    " um acaso que os grandes santos no tenham estado somente emtenso com o mundo, mas tambm com a Igreja, com a tentao daIgreja de se tornar mundo, e que tenham sofrido por obra da Igreja ena Igreja? .. O que falta Igreja de hoje (e de todos os tempos), no soos panegiristas da ordem constituda, e sim, homens nos quais a hu-mildade, a obedincia no menor do que a paixo pela verdade,homens que do testemunho, no obstante toda possvel deturpao eataque; numa palavra, homens que amem a Igreja mais do que a co-modidade e a tranqilidade do prprio destino"36.

    Essas palavras so inspiradoras de uma autntica impostao doDireito Eclesial. Se a vida tenso, vale o princpio ius sequitur vitam.Tambm o Direito tenso, no sentido construtor da palavra.

    Estreitamente ligado ao tema da eleio dos bispos na vida daIgreja est o modo de conceber o primado do Romano Pontfice. E hdiversas maneiras de ver o ministrio de Pedra, segundo GonzlezFaus. A primeira considerar o papa como "nica fonte de autoridadena Igreja e sua pedra angular", outra maneira ver "Pedra dentra docolgio apostlico (no fonte do colgio), e em relao de difcil comu-nho com o carisma representado pelo 'discpulo amado' (cf. Ia. 21,20ss), ou com o vicariato de Cristo que na Igreja exercem os pobresetc.". Com a doutrina da colegialidade, o "Vaticano 11 deu tambm opasso da primeira para a segunda dessas concepes. O fato, porm,de que a colegialidade ainda continue indita na Igreja ressalta a di-ficuldade e as resistncias dessa mudana"37.E o autor cita SoBernardoescrevendo a Eugnio III para lembrar-lhe que a Igreja Romana mee no soberana das Igrejas, que o papa um dos bispos e no o sobe-rano deles.

    36 J. RATZINGER, II nuovo popolo di Dio, Brscia: Queriniana, 1971, pp. 284/286,citado por B. SECONDIN / T. GOFFI, Curso de Espiritualidade - experincia, sistem-tica, projees, So Paulo: Paulinas, 1994, p. 622.37 J. L GONZLEZ FAUS, A autoridade ..., Op. cit., p. 246. Cfr. tambm as conclusesdessa obra.

  • Mas falar de colegialidade no significa "simplesmente descentra-lizar (a centralizao no sempre e necessariamente negativa; elatrouxe grandes benefcios para a Igreja na reforma gregoriana e mes-mo na reforma catlica ps-tridentina), mas trata-se de evitar que o'centro' fique isolado e refm de um 'partido', e de um 'partido conser-vador'. Depois do Vaticano 11 avanou-se muito nesse sentido. Masainda muito o que resta por fazer"38.

    Sobre a eleio de bispos, Gonzlez Faus perpassa, com olhar detelogo, a histria da Igreja e sintetiza-a, depois de analis-Ia, dizendoque no incio, uma Igreja "fermento" conserva, perante a sociedade, oprincpio eletivo. Mais adiante, e conforme nos aproximamos do se-gundo milnio, uma Igreja identificada com a sociedade no conseguemanter em p o princpio eletivo. Esta situao vai levando s "reser-vas" papais, que primeiro so uma emergncia excepcional e acabamconvertendo-se numa prtica habitual. Neste contexto pode-se com-preender a grande importncia que tem a recuperao da liberdade daIgreja no Conclio Vaticano 11. E a reivindicao de Gregrio VII final-mente atendida. O papa livre, diante de quaisquer outros poderes,para eleger os bispos. Trata-se de uma "reconquista pacfica" da liber-dade. Essa liberdade, no entanto, condio para uma volta s ori-gens, para a fidelidade da Igreja si mesma39.Uma volta origem40.

    O atual Cdigo de Direito Cannico deixa aberta a possibilidade,na eleio dos bispos, de uma retomada "discreta" (no sentido de"discernida"41) do princpio eletivo que vigorava na Igreja dosprimrdios. Gonzlez Faus reconhece e aplaude no c. 377 a aboliodefinitiva e legal das regalias, a busca de proporcionar a Roma a in-formao requerida, embora concentrando esse trabalho nas mos donncio "a quem incumbe, no s recolh-Ia, seno decidir quem so aspessoas idneas para proporcion-Ia". Finalmente, assinala que o pa-rgrafo primeiro deixa aberta a legitimidade e a possibilidade de umretorno ao princpio eletivo. Talvez porque esta prtica eletiva conti-nue vigente para as igrejas orientais unidas a Roma42,ainda que ocorpo eleitoral se limite aqui a uma assemblia de patriarcas e bispos.

    38 A. BARREIRO, 'Povo Santo e Pecador' ..., Op.cit., pp. 132s.39 J. I. GONZLEZ FAUS, 'Nenhum bispo imposto ..., Op. cit., pp. 143ss.40 Cfr a etimologia da palavra "hierarquia" na nota 23.41 O fato de a Igreja ter necessidade de recuperar o princpio eletivo para recuperar-sea si mesma, no significa que isto deva ser feito precipitadamente, nem com decreto,nem sem as ponderaes necessrias para ir encontrando o caminho, nem com umatotal absolutizao das igrejas locais que impedisse ser a Igreja uma comunho decomunidades ou uma "Igreja de igrejas". Esta uma importante reflexo de G. Faus.42 O c. 87 do CCEO estabelece que o Patriarca pode providenciar que, no Sinodo dosBispos da Igreja Patriarcal, sejam eleitos alguns bispos da cria patriarcal, conforme oscc. 1811 e 182-187.

  • Seja qual for a razo, o artigo primeiro deste cnon mostra que nonos encontramos diante de uma situao definitivamente fechada, masnuma etapa histrica aberta ao futuro43

    Para Gonzlez Faus, o atual sistema de nomeao de bispos levaimplicitamente a crer que a autoridade e a misso dos bispos proce-dem do papa. Se a autoridade episcopal procede do papa (e no deCristo), s o papa o verdadeiro bispo. A 'colegialidade episcopal'fica reduzida a uma "condescendncia benvola" e o ecumenismo setorna impossvel.

    Concluindo seu trabalho de tese de doutorado, o Pe. Ghirlanda jaugurava que a doutrina sobre a natureza do Episcopado e sobre aorigem e o exerccio do poder dos Bispos tivesse sido mais aprofundadano Conclio e, consequentemente, no ele. De maneira explcita, esseaprofundamento faltou em relao a dois pontos fundamentais para avida da Igreja, a saber, o da natureza e exerccio do poder primacialdo Sumo Pontfice e o do poder exercido pelos leigos. Tem-se a im-presso que o Conclio se fixou de tal maneira no Episcopado em sique perdeu de vista aquelas duas relaes44 a partir desseaprofundamento, com boa vontade de corao, que se pode ver umdireito eclesial afinado com a vida da Igreja.

    Roberto Natali Starlino obteve o Mestrado em Teologia, em 1983, pela PontifciaUniversidade Gregoriana de Roma, com a dissertao La "Comunione di Vita" eL'omosessualit nel Matrimonio in I/na sentenza rotale, e especializao em Jurispru-dncia, em 1994. Desde 1995, d direo e acompanhamento espiritual no Seminriode Mariana, MG, onde ainda coordena os estudos de Teologia e exerce o magistrio;desde 1996, ensina Direito Cannico no CES-BH; e desde 1998, juiz no TribunalEclesistico Interdiocesano e de Apelao em Belo Horizonte.

    Endereo: Seminrio So Jos - TeologiaCaixa Postal 1135420-000- Mariana - MG

    43 J. I. GONZLEZ FAUS, 'Nenhl/m bispo imposto ... , Op. cit., pp. 141s.H G. GHIRLANDA, 'Hierarc!lica Com11lunio' significato della forml/la nella 'LI/metlGentil/m' = Analecta Gregoriana, 216 Series Facultatis Iuris Canonici: Sectio A, n 9,Roma: Universit Gregoriana, 1980, pp. 410ss.