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Londrina 2018 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM METODOLOGIA PARA O ENSINO DE LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS PATRICIA SOARES ALVES DA SILVA A ESCOLA COMO LUGAR DO ASSISTENTE SOCIAL

A ESCOLA COMO LUGAR DO ASSISTENTE SOCIAL · Prof. Fábio, sinceramente preciso dedicar esse lugar mais que especial a você. Pela aposta firme em minha proposta, pela parceria, pelo

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Londrina 2018

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM METODOLOGIA PARA O ENSINO DE LINGUAGENS E SUAS

TECNOLOGIAS

NOME DO(S) AUTOR(ES) EM ORDEM ALFABÉTICA

PATRICIA SOARES ALVES DA SILVA

A ESCOLA COMO LUGAR DO ASSISTENTE SOCIAL

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PATRICIA SOARES ALVES DA SILVA

Londrina 2018

A ESCOLA COMO LUGAR DO ASSISTENTE SOCIAL

Dissertação apresentada à UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias. Orientador: Prof. Dr. Fábio Luiz da Silva.

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Dados Internacionais de catalogação-na-publicação Universidade Norte do Paraná

Silva, Patricia Soares Alves da. S582e A escola como lugar do Assistente social/ Patricia Soares Alves da

Silva. Londrina: [s.n], 2018. 63f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em Metodologias para o Ensino

de Linguagens e suas Tecnologias). Universidade Norte do Paraná.

Orientador: Prof. Dr. Fábio Luiz da Silva

1 - Ensino - dissertação de mestrado - UNOPAR 2- Ensino 3-

Escola 4- Questão social 5-Assistente social I- Silva, Fábio Luiz da; orient. II- Universidade Norte do Paraná.

CDU 372.361

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PATRICIA SOARES ALVES DA SILVA

A ESCOLA COMO LUGAR DO ASSISTENTE SOCIAL

Dissertação apresentada à UNOPAR, no Mestrado em Metodologias para o Ensino

de Linguagens e suas Tecnologias, área e concentração em Formação de

Professores e Ação Docente em Situação de Ensino como requisito parcial para a

obtenção do título de Mestre conferida pela Banca Examinadora formada pelos

professores:

_________________________________________ Prof. Dr. Fábio Luiz da Silva

Universidade Norte do Paraná - UNOPAR

_________________________________________ Profª. Drª. Okçana Batini

Universidade Norte do Paraná - UNOPAR

_________________________________________ Profª. Drª. Cláudia Neves da Silva

Universidade Estadual de Londrina - UEL

Londrina, 29 de Agosto de 2018.

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Esse trabalho não poderia ser dedicado a outra pessoa mãe, ele é seu não por produção, mas por total suporte! Essa dissertação é sua Minha Mãe “carçuda”.

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AGRADECIMENTOS

“Quando o Senhor Deus nos trouxe de volta para Jerusalém, parecia

que estávamos sonhando. Como rimos e cantamos de alegria! Então as outras

nações disseram: O Senhor fez grandes coisas por eles! De fato, o Senhor fez

grandes coisas por nós, e por isso estamos alegres. Ó Senhor, faze com que

prosperemos de novo, assim como a chuva enche de novo o leito seco dos rios.

Que aqueles que semeiam chorando façam a colheita com alegria!

Aqueles que saíram chorando, levando a semente para semear, voltarão cantando,

cheios de alegria, trazendo nos braços os feixes da colheita.” Salmos 126.1-6

Deus, procuro palavras ao me ajoelhar que possam expressar minha

gratidão a Ti por todo o suporte e por Sua presença em minha vida, a cada instante,

mas não encontro. Faço da minha vida, portanto, canal de manifestação da Sua

Glória pois, sem Tua presença, eu não estaria aqui.

Mãe. Dona Rosilda Soares de Andrade... Ah mãe. Sua presença na

minha vida é Deus manifesto em carne, me abraçando, cuidando, secando lágrimas,

gargalhando, sendo e estando. É você mãe... tudo que sou é porque você sempre

esteve lá, é porque está aqui. Obrigado mãe.

Prof. Fábio, sinceramente preciso dedicar esse lugar mais que

especial a você. Pela aposta firme em minha proposta, pela parceria, pelo cuidado,

pela calma, pela dedicação, pela constância em não me abandonar e não desistir de

mim mesmo eu dando todo o trabalho que dei. Sou grata, muito grata a Deus por

sua vida nesse momento da minha vida. Caminhando ao meu lado para subir mais

este degrau.

Meu querido “Presente de Deus”, meu filho Matheus, obrigada por

suportar meus gritos e principalmente minhas ausências. Obrigada por estar ao meu

lado e dizer que se fosse um daqueles livros de dez páginas você me ajudaria a

revisar. Um dia quando você passar no vestibular de medicina certamente passará a

entender o que é essa loucura pela qual a mamãe passou.

Minha “luz”, meu filho Lucas, vou tentar juntar palavras que

expressem o que significa agradecer seu sorriso, seu abraço, seu chameguinho

enquanto eu insistia em permanecer teclando.

Amigos? Sim alguns amigos merecem o meu obrigado, mas há

alguém em especial que desejo honrar com meu muito obrigada. Cinthia, querida,

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cada incentivo em forma de frase, palavra, abraço, olhar, oração. Vou dizer obrigada

na ausência de uma palavra melhor, pois na verdade não tenho palavras para

agradecer sua presença durante todo esse período.

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Então tomou Samuel uma pedra, e a pôs entre Mizpá e Sem, e chamou-lhe Ebenézer; e disse: Até aqui nos ajudou o Senhor.

1 Samuel 7:12

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SILVA, Patricia Soares Alves. A escola como lugar do assistente social. 2018. 63 f. Dissertação (Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias.) – UNOPAR, Londrina, 2018.

RESUMO

Essa dissertação consiste em uma revisão de literatura acerca das diversas expressões da questão social que podem se manifestar no espaço da escola. Para isso, considerou-se as especificidades das ações dos profissionais de Serviço Social, os Assistente Sociais, diante das demandas da área da educação, em outras palavras, esses profissionais podem auxiliar os professores em sua atuação em sala de aula, considerando os limites de atuação proporcionado pelas diferentes formações. Uma vez que é a atividade que qualifica o espaço, é partir do conceito de compreensão de lugar praticado que se fundamentou a discussão do cotidiano escolar e do lugar do Assistente Social na escola. A escola é, portanto, um espaço antropológico no qual se determinam as percepções resultantes do lugar e das relações estabelecias no mesmo, dando-lhe significado. Considerando que o objetivo da escola é a transmissão do conhecimento científico, artístico e filosófico acumulado pela humanidade, considera-se que a escola é mais do isso. Ela reúne as mais diversas demandas do desenvolvimento dos alunos e dos professores. Por isso, a escola é um lugar onde emergem os mais variados conflitos, frutos da interação entre diferentes sujeitos. Nessa perspectiva de análise, o ensino passa a requerer habilidades e competências diversas dos profissionais envolvidos nesse trabalho. É necessário um profissional que estabeleça uma relação de intervenção efetiva junto essa realidade. O trabalho dos Assistentes Sociais nas escolas não deve ser confundido com aquele sob responsabilidade dos professores, seu trabalho está intimamente vinculado ao fortalecimento das redes de sociabilidades e na efetivação do acesso aos serviços sociais e processos sócio institucionais. O espaço de atuação do Assistente Social representa uma peculiaridade fundamentada na intervenção direta junto aos problemas sociais. Logo, a presença do Assistente Social no ambiente da escola facilita o acesso aos serviços socioassistenciais, por meio das informações, encaminhamentos, inserção e atendimento em programas sejam da própria escola, sejam dos diferentes setores que compõem a rede de atendimento à família e seus sujeitos. Portanto, o Assistente Social é um articulador estratégico no atendimento aos alunos e suas famílias, por um conjunto de ações integradas de orientações que podem contribuir para promover melhoria no desempenho escolar dos alunos.

Palavras-chave: Ensino. Escola. Questão Social. Assistente Social. Lugar.

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SILVA, Patricia Soares Alves. School as place of social assistant. 2018. 63 f. Dissertation (Master in Methodologies for the Teaching of Languages and their Technologies.) - UNOPAR, Londrina, 2018.

ABSTRACT

This dissertation consists of a literature review about the various expressions of the social question that can manifest in the school space. In order to do so, we considered the specifics of the actions of Social Work professionals, the Social Assistants, in face of the demands of the education area, in other words, these professionals can help the teachers in their classroom performance, considering the limits of performance provided by the different formations. Since it is the activity that qualifies the space is based on the concept of understanding of place practiced that was based the discussion of the school daily and the place of the Social Worker in the school. The school is, therefore, an anthropological space in which the perceptions resulting from the place and the relations established in the same are determined, giving it meaning. Considering that the goal of the school is the transmission of scientific, artistic and philosophical knowledge accumulated by humanity, it is considered that school is more of that. It meets the most diverse demands of student and teacher development. For this reason, the school is a place where the most varied conflicts emerge, fruit of the interaction between different subjects. In this perspective of analysis, the teaching starts to require different skills and competences of the professionals involved in this work. It is necessary for a professional to establish an effective intervention relationship with this reality. The work of social workers in schools should not be confused with those under the responsibility of teachers, their work is closely linked to the strengthening of networks of sociability and to the effective access to social services and socio-institutional processes. The scope of the Social Worker represents a peculiarity based on direct intervention with social problems. Therefore, the presence of the Social Worker in the school environment facilitates access to social assistance services, through information, referrals, insertion and care in programs that are of the school itself, be they of the different sectors that make up the network to care for the family and its subjects. Therefore, the Social Worker is a strategic articulator in the care of students and their families, for a set of integrated actions of guidelines that can contribute to promote improvement in the students' school performance.

Key-words: Teaching. School. Social Issues. Social Work. Place.

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LISTA DE ABREVIATURAS OU SIGLAS

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

CEDEPSS Centro de Documentação e Pesquisa em Políticas Sociais e Serviço

Social

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

ENESSO Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social

LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 12

2 EXPRESSÕES DA QUESTAO SOCIAL ........................................................ 19

2.1 ASSISTENTE SOCIAL – FORMAÇÃO PROFISSIONAL ............................... 22

3 A ESCOLA E O ASSISTENTE SOCIAL ........................................................ 29

4 LUGAR E NÃO LUGAR ................................................................................. 38

4.1 A ESCOLA COMO LUGAR DO ASSISTENTE SOCIAL ................................. 45

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 56

REFERÊNCIAS ..............................................................................................58

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1 INTRODUÇÃO

A escola é lugar da transmissão dos conhecimentos historicamente

produzidos pelo homem às novas gerações. No entanto, verifica-se que outras

demandas se manifestam durante a efetivação dos processos de ensino e de

aprendizagem e que estão para além das competências e atribuições dos

profissionais da educação, os professores. O problema proposto parte da realidade

dessas manifestações e procura responder à questão do lugar do Assistente Social

na escola, especialmente a pública.

O objetivo desse estudo é identificar a escola como lugar do

Assistente Social a partir da investigação da crescente interseção entre os campos

da Educação e do Serviço Social. Considerando a escola como um lugar de

múltiplas manifestações da questão social, defende-se a profissão de Assistente

Social como fundamental para a aperfeiçoamento dos resultados acadêmicos dos

alunos, por meio da melhoria das condições de trabalho dos professores.

A relevância dessa pesquisa está em contribuir para uma reflexão

que auxilie os docentes e os gestores escolares na prática do ensino em escolas,

considerando que os conflitos, hoje existentes no interior das escolas, ampliam as

demandas que lhes são entregues.

Geralmente, a escola se configura num espaço pelo qual o aluno

transita, lugar de passagem em direção à vida adulta. Caracteriza-se, também, como

lugar de manifestação da questão social, em suas diferentes dimensões de

vulnerabilidades sociais e econômicas. Essa realidade implica em conflitos para os

quais os agentes da escola não estão, via de regra, plenamente capacitados para

lidar, por não ser detentores de atribuições e conhecimentos técnicas específicas,

próprios do Assistente Social.

Essa reflexão sugere a necessidade de profissionais no espaço

escolar que possam significá-lo como um lugar, também, de mediação dos conflitos

nele manifestos. Isso propiciaria atenção às situações de fragilidade social e

diferentes desproteções que se manifestem na escola. Objetiva-se, assim, a

melhoria dos processos de ensino e de aprendizagem pelo engajamento de outros

profissionais, que auxiliariam os professores em sua prática cotidiana. A escola,

portanto, é também o espaço e o lugar do Assistente Social.

O espaço, segundo Certeau (1998) é um lugar praticado, ou seja,

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um espaço antropológico no qual se determinam as percepções resultantes do lugar

e das relações estabelecias no mesmo, dando-lhe significando. Em consequência, é

a atividade que qualifica o espaço. É a partir deste conceito, que compreende o

espaço como lugar praticado, que se fundamentará a discussão do cotidiano escolar

e do lugar do Assistente Social.

Partiu-se de uma revisão de literatura acerca das diversas

expressões da questão social que podem manifestar-se no espaço da escola. Para

isso, consideramos as especificidades das ações dos profissionais de Serviço

Social, os Assistente Sociais, diante das demandas da área da educação. Em outras

palavras, pressupomos que esses profissionais podem auxiliar os professores em

sua atuação em sala de aula, considerando os limites de cada área, proporcionado

pelas diferentes formações.

O acesso e usufruto das políticas sociais ocorre em espaços nos

quais os serviços e programas são executados; onde identidades e significações

estão manifestas por meio daquilo que historicamente as definiram. Por isso,

consideramos que a escola não é um espaço natural. Em geral, é o segundo lugar

ocupado pela criança depois da casa/família. Sendo assim, essa instituição passou

por diversos processos de transformação, de maneira que as escolas e os princípios

sobre os quais elas foram construídas significam a existência de diversas histórias

que dependeram de diferentes contextos sociais e culturais, de diversas

perspectivas sobre a educação e sobre as necessidades de uma pessoa ainda no

desenvolvimento de sua identidade.

Na visão de Certeau (1998), o espaço forma uma história de

múltiplos sentidos, constituída de fragmentos de trajetórias diversas, sem autor, mas

com interações de espaços. Deste modo, o ambiente educacional pode ser um local

de trocas de valores, pontos de vista, culturas, entre outros. A busca por uma

identidade, um espaço, que nos permita existir em meio à turbulência dos

acontecimentos contemporâneos, é um desafio cotidiano. Encontrar raízes diante de

tantas efêmeras possibilidades pode parecer um obstáculo impossível de se

ultrapassar. Além disso, desde o momento em que nascemos, ocupamos um espaço

que está em constante interação com outros lugares praticados.

Pensar sobre os conceitos de espaço e de lugar, é interessante

apresentar a ideia de não-lugar que, segundo Augé (1994), seriam aqueles espaços

caracterizados como locais não identitários e com os quais os sujeitos, de modo

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geral, não estabelecem nenhum tipo de vínculo relacional enquanto os ocupam. Os

não-lugares são, segundo Augé (1994) instalações de circulação acelerada de

pessoas e bens como trevos, aeroportos e vias expressas. A escola, portanto, é um

espaço de identidade ou um não-lugar, ou seja, apenas um espaço incapaz de

produzir vínculos de pertencimento?

Para Carvalho (2005, p.99), a escola corre sempre o risco de tornar-

se um não-lugar para os professores quando, por exemplo, “deixam de ser

responsáveis pela produção dos objetivos, conteúdos e métodos de seu trabalho

(transferidos para equipes técnicas, pacotes de ensino, livros didáticos e outros)”.

Nesse caso, ocorreria um estranhamento entre os professores e seu trabalho. Para

Silva e Silva (2012, p.359), a escola pode tornar-se um não-lugar quando “[...] é

produtora de um ensino transeunte, preocupado com o excesso de informação sem

grandes sentidos, um lugar de rápida circulação de saberes”. No entanto, devemos

lembrar que não-lugar e lugar (ou espaço vivido, na conceituação de Michael de

Certeau) são situações limites e que constantemente coexistem.

Podemos considerar que, apesar dos riscos de a escola perder sua

capacidade de criar vínculos, ela ainda é um espaço de prática social, pois oferece

dados e referências sobre e para a vida das crianças (sujeitos). Além disso, a escola

pode ser reconhecida como uma agencia social pois, ao preparar os alunos para a

vida além da escola, é constituída por “gente real agindo no mundo social através da

ação coletiva” (KLEIMAN, 2007, p.415). Assim, inserida na sociedade desde o início

da modernidade, a escola se constituiu a partir das demandas econômicas, políticas

e culturais de uma classe social, a burguesia, mas que foi se ampliando à medida

em que a sociedade exigia maior escolarização. Por isso, a educação formal e o

acesso à escola sempre estiveram intrinsecamente ligados à condição econômica

das famílias.

No Brasil, a universalização do acesso à escola ocorreu de forma

lenta e ainda permanece incompleta em muitos sentidos. Esse processo

caracterizou-se pela ampliação nas especificidades existentes no espaço escolar. O

contexto escolar passou a produzir desafios que demandam soluções cotidianas e

que são fundamentais para o êxito dos professores e dos alunos nos processos de

ensino e de aprendizagem. Mesmo considerando que o objetivo da escola seja a

transmissão do conhecimento científico, artístico e filosófico acumulado pela

humanidade, devemos considerar que a escola é mais do isso. Nela reúne-se,

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também, as mais diversas demandas do desenvolvimento dos alunos e dos

professores. Por isso, a escola é um lugar onde emergem os mais variados conflitos,

frutos da interação entre diferentes sujeitos e realidades.

Os alunos vão para a escola e levam consigo uma história de vida,

uma cultura, seus sonhos. Quando chegam nesse ambiente educacional, muitas

vezes, deparam-se com uma realidade de descaso de seus direitos básicos: ensino

de qualidade, merenda escolar, material escolar, entre outros. Pode-se dizer, nessa

perspectiva de análise, que a inserção dos alunos de população socioeconômica

precária ou vulnerável, alterou o contexto sociopolítico que envolvia o ambiente

escolar. O ensino passou a requerer habilidades e competências diversas dos

profissionais envolvidos nesse trabalho. Tornaram-se necessários profissionais que

estabeleçam uma relação de intervenção efetiva e positiva nessa realidade.

Destacamos, como Almeida (2000), que a prática dos Assistentes Sociais nas

escolas deve ser diferenciada daquele sob responsabilidade dos professores.

Mesmo se considerarmos a dimensão socioeducativa resultante do trabalho do

Assistente Social, seu trabalho está mais intimamente vinculado ao fortalecimento

das redes de sociabilidades e na efetivação do acesso aos serviços sociais e

processos sócio institucionais. Por isso, “a área de educação tem se constituído em

mais um importante espaço de atuação do Assistente Social” (BRESSAN, 2001,

p.12)

As ações dos Assistentes Sociais possuem um aspecto educativo

que, se não representa o centro de sua atuação, faz parte do processo de trabalho

no qual se insere esse profissional. Por outro lado, o professor, no âmbito da escola,

participa dos processos que envolvem a questão social, à medida que, no cotidiano

escolar, os alunos demandam atendimento para além dos letramentos e da

transmissão de conhecimentos. Nessa perspectiva, fundamentando a necessidade

de intervenção direta sobre problemas sociais, a escola se apresenta como espaço

de atuação – portanto um lugar - do Assistente Social.

O Assistente Social na escola deve contribuir para o acesso aos

serviços socioassistenciais, por meio das informações, encaminhamentos, inserção

e atendimento em programas que sejam da própria escola ou dos diferentes setores

que compõem a rede de atendimento às famílias e seus sujeitos. Portanto, o

Assistente Social é um articulador estratégico no atendimento aos alunos e suas

famílias, por um conjunto de ações integradas de orientações que podem contribuir

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para promover melhoria no desempenho escolar dos alunos.

Assim, ao Assistente Social compete o reconhecimento e o

fortalecimento dos espaços (ou dos lugares, se preferirmos) de formulação e

construção coletiva para os quais, juntamente com outros profissionais, seja capaz

de formular estratégias políticas e técnicas para modificar a realidade. Esse

profissional pode produzir, por suas ações e intervenções, resultados concretos na

melhoria das condições materiais, culturais e sociais de vida dos sujeitos sobre os

quais incidem suas ações. Como profissional que pode colaborar com a integração

das famílias na escola, o Assistente Social representa um importante papel na ação

educacional, podendo criar um conjunto de medidas de auxilio e suporte às famílias

por meio, por exemplo, da garantia das necessidades básicas de subsistência.

Compete destacar que as ações do Assistente Social, na escola,

devem ser pensadas e efetivadas em conjunto com a equipe escolar, da qual o

profissional do Serviço Social deve um parceiro nas ações desenvolvidas pelos

outros profissionais que trabalham na educação, especialmente nas escolas. As

ações sociais são resultado do trabalho realizado em conjunto dessa equipe, que

tem como objetivo em comum a garantia, não somente da permanência do aluno na

escola, mas principalmente a qualidade do ensino. Especialmente se considerarmos

o desenvolvimento dos alunos enquanto sujeitos inseridos na sociedade.

No entanto, com o crescimento acelerado da sociedade e o

desenvolvimento global do sistema econômico capitalista, tornou-se comum que

muitas famílias depositem na escola a responsabilidade pela condução absoluta do

processo educacional de seus filhos. A construção das ações de ensino deve ser

realizada em conjunto, escola e família. O desenvolvimento e crescimento do aluno

em sua vida escolar dependerá em muito do envolvimento familiar no processo, mas

o tempo para diálogo, orientação e acompanhamento das famílias aos filhos nas

suas responsabilidades escolares tem sido cada vez menor. Esse é um fenômeno

no qual o Assistente Social pode e deve atuar.

Há, ainda, um outro desafio posto ao profissional do Serviço Social

na educação. No exercício de suas habilidades e competências, o Assistente Social

deve estimular a comunidade escolar a participar dos processos que ocorrem na

escola. Defendemos que a comunidade escolar realmente se concretiza pelas ações

dos educadores, dos alunos, dos professores, dos responsáveis familiares, dos

técnicos administrativos, dos porteiros, entre outros que compõem a dinâmica

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escolar.

Entre as atribuições técnicas do Assistente Social está a articulação

com as instituições assistenciais privadas e/ou públicas, em caráter estratégico no

atendimento às demandas socioeconômicas, especificamente no âmbito da

educação. Essa atuação deve constituir-se em um conjunto de ações orientadas e

executadas com vista ao aprimoramento da qualidade de vida do aluno e do seu

desempenho acadêmico.

Como já foi destacado, a formação educacional dos sujeitos

(crianças/adolescentes) não se realiza exclusivamente na sala de aula, mas

compreende um conjunto de atividades que, desempenhadas pela escola e na sala

de aula, viabilizará qualidade de vida (atual e futura) como sujeitos e cidadãos de

direito. Equidade e justiça social, na universalização de acesso aos bens e serviços

são os princípios fundamentais seguidos pelo Assistente Social no exercício das

suas funções. Por isso, a importância de um profissional que identifique as

necessidades dos alunos, tornando-se figura capaz de viabilizar a igualdade de

condições e a promoção de uma perspectiva autônoma de garantia de direitos e

cidadania plena.

Considerando as diversas situações que ocorrem cotidianamente

nas escolas e suas salas de aula e que dificultam o ensino e a aprendizagem, a

escola é um espaço/lugar apropriado para a ação do Assistente Social, visto que sua

presença pode e deve contribuir para a efetivação dos objetivos do sistema

educacional. Muitas dessas situações originam-se em questões sociais que

escapam da competência profissional do professor; levando o Assistente Social a

auxiliar na construção de uma escola que permita esse espaço tornar-se realmente

um lugar onde se deseje estar, que signifique ao aluno algo não apenas

momentâneo, mas principalmente lhe represente possibilidade de superação e

mudança.

Considerando que as relações entre Educação e Serviço Social têm

sido objeto de reflexões por parte de diversos estudiosos, como Souza (2008),

Martins (2012) e Vieira (2016), por exemplo, e que a escola é certamente um campo

para atuação do profissional de Serviço Social, essa dissertação defende que o

Assistente Social pode, por meio das práticas peculiares à sua função, contribuir

para que a escola torne-se um lugar, ou seja, um espaço onde o fazer cotidiano dê

significado pleno à existência dessa instituição e possa ser parte integrante e

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positiva da identidade de alunos e professores.

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2 EXPRESSÕES DA QUESTAO SOCIAL

O conflito capital-trabalho é a gênese da questão social e possui

múltiplas expressões – pobreza, desemprego, violência, discriminação de gênero,

raça, etnia e orientação sexual, trabalho precário, dificuldade de acesso à saúde, à

educação e ao trabalho, falta de moradia, violação dos direitos das crianças e

idosos. No Brasil, são diversas as expressões da questão social na vida da

população, em especial da infanto-juvenil, principalmente por causa das

desigualdades sociais existentes, mas também pela ineficiência ou insuficiência da

ação pública nas diferentes políticas – educação, saúde e proteção social. As

crianças e os jovens são, muitas vezes, os sujeitos mais atingidos pelos efeitos

perversos da desigualdade social brasileira, estando vulneráveis às situações de

risco, como o uso de substancias psicoativas e a violência, por exemplo.

A questão social, cuja gênese é o conflito capital-trabalho, possui atualmente expressões múltiplas [...], e como tal, carece da articulação de ações diversificadas capazes de inserir no jogo social e garantir direitos aos invalidados não só pela “desfiliação, mas pela própria conjuntura histórica do país. [...] Ao longo da história, atingidos diretamente pelo cenário de destituição do país e, em sua maioria, vivendo em situação de pobreza e sem o amparo suficiente das intervenções do Estado, as crianças e os jovens são as vítimas que mais sofreram e sofrem os efeitos perversos da desigualdade social brasileira, [...]. (BADARÓ, 2013, 168)

Como efeito, mas contribuinte em certo sentido, da desigualdade

social sobre a população infanto-juvenil vê-se uma educação deficitária, cujos

dilemas contemporâneos são fatores que constituem facetas da questão social e

que atuam diretamente sobre a vida das crianças e jovens. Assim, é necessário

reconhecer a questão social e problematizá-la, alçando-a à esfera da

responsabilidade pública para seu enfrentamento.

Na contemporaneidade, a contradição entre o capital e o trabalho é

promotora da questão social, no entanto, com o agravante da mundialização do

capital e da precarização das condições de trabalho, além da instabilidade nas

relações trabalhistas. A história do Brasil, em particular, tem sido marcada pelo

assalariamento precário ou não-assalariamento, pela desvalorização humana, pelo

trabalho e pela naturalização da pobreza (COSTA, 2000).

Por isso, para compreender a exclusão social de grande parcela da

população brasileira, em especial das crianças e adolescentes, é preciso considerar

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o modelo de desenvolvimento político, econômico, social e cultural que prevaleceu

na formação de nossa nação, visto que ele, aliado a outros fatores históricos,

favoreceu a concentração de poder e de riqueza, alimentando a desigualdade social

no país.

Considerado o padrão de desenvolvimento que vigorou no Brasil

durante muito tempo, segundo o qual primeiro o país deveria concentrar seus

esforços para fazer a economia crescer e, somente depois, atuar na redução dos

desequilíbrios sociais – fato já apontado na década de 1970 por Santos (1979) -,

podemos compreender a precariedade das redes de proteção social existentes em

nosso país. Como consequência, durante um longo período, a enorme concentração

de renda no país - expressa no coeficiente Gini 1 próximo a 0,60 - garante o lugar do

Brasil entre os que detêm as piores distribuições de renda do mundo. Essa

“escandalosa desigualdade que concentra nas mãos de poucos a riqueza nacional

tem como consequência níveis dolorosos de pobreza e miséria” (CARVALHO, 2004,

p. 208).

No Brasil, até o fim dos anos 2000, existia um grande contingente de

excluídos no seio da sociedade e a população convivia com cerca de 15% de

indigentes e 34% de pobres (BADARÓ, 2013). A injustiça social brasileira pode ser

percebida mesmo quando a questão é observada sob a óptica particular e

simplificadora em que “há pobreza apenas na medida em que existem famílias

vivendo com renda familiar per capita inferior ao nível mínimo necessário para que

possam satisfazer suas necessidades mais básicas” (BARROS; HENRIQUES;

MENDONÇA, 2000, p. 124). Caso consideremos outros aspectos que seriam

necessários para a construção de uma sociedade justa, o cenário é ainda pior.

A exclusão social é acima de tudo, múltipla e não uniforme, pois

existem desigualdades variadas entre os cidadãos em diferentes aspectos sociais,

políticos, econômicos e culturais, o que representa acesso diferenciado a bens,

serviços e direitos (BRANDÃO, 2004). Por isso, é indispensável ver a exclusão

1 Desenvolvido pelo matemático italiano Corrado Gini, o Coeficiente de Gini é um parâmetro

internacional usado para medir a desigualdade de distribuição de renda entre os países. O coeficiente varia entre 0 e 1, sendo que o quanto mais próximo do zero menor é a desigualdade de renda num país, ou seja, melhor a distribuição de renda. Quanto mais próximo do um, maior a concentração de renda num país. O índice de Gini do Brasil é de 0,549 (ano de 2016) o que demonstra que nosso país, apesar dos avanços econômicos dos últimos anos, ainda tem uma alta concentração de renda. Porém, devemos destacar um avanço do Brasil neste índice, já que em 1990 era de 0,607.(BARROS; HENRIQUES; MENDONÇA, 2000).

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social em uma dimensão que vá além do déficit de renda.

Essa realidade persiste ainda na segunda década do século XXI, a

despeito de alguns indícios de mudanças desse quadro, com uma alteração na

dinâmica da concentração de renda, ao ponto desse período ser caracterizado pela

da redução da desigualdade de renda, da “mesma forma que a década de 90 foi a

da conquista da estabilidade, e a de 80, a da redemocratização” (NERI;

CARVALHAES, 2008, p. 13).

A continuidade desse processo depende, em grande parte, das

políticas públicas que norteiam o sistema educacional brasileiro. A educação,

entende-se, é um instrumento importante de desenvolvimento social e fator

fundamental a entrada e permanência no mercado de trabalho. Nas oportunidades

que se abrem, o fator educacional atua como discriminador tanto no que se refere à

empregabilidade, ao acesso a salários mais dignos, quanto participação dos

cidadãos na riqueza cultural da humanidade.

No Brasil, apesar de encontrarmos diversos discursos que destacam

a importância da educação, em especial a educação básica, constata-se um grande

número de crianças fora da escola ou abandonando-a ainda nas primeiras séries. Os

motivos apontados como justificativa para o abandono e evasão escolar são

diversos, especialmente a necessidade de o aluno contribuir para a renda familiar.

No entanto, mesmo aqueles que permanecem na escola acabam por não receber o

ensino que têm direito.

Recentemente, dados da PNAD/2016-2017 revelam que o país

ainda está distante de atender a meta 3 do PNE2 e, que entre os muitos desafios

para tornar real esta meta está em suprimir o atraso que vem das séries anteriores,

o que esbarra num elevado índice de evasão escolar e em um modelo curricular

muitas vezes ultrapassado, cuja base tem um grande número de disciplinas.

Além disso, por mais que a identificação social dos sujeitos pobres

como estudantes seja corrente e a escola assuma um papel relevante para a

socialização e formação das crianças e jovens, o processo de integração dos

sujeitos à escola pode ser dificultado por desigualdades e chances restritas. A

precariedade socioeconômica vivida por estes sujeitos pode ser assumida como

2 Plano Nacional de Educação PNE. Universalizar, até 2016, o atendimento escolar para toda a população de 15 (quinze) a 17 (dezessete) anos e elevar, até o final do período de vigência do PNE, a taxa líquida de matricula no ensino médio para 85% (oitenta e cinco por cento). (PNE, 2014)

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identidade desde a mais tenra idade, moldando o que parece possível e o que

definitivamente não é, impondo limites e proibições (SOUZA, 2003). Com isso, na

concorrência com outros segmentos sociais, alunos pobres se encontram em

situação desfavorável devido à distribuição desigual de capital econômico, social e

cultural.

Assim, um perverso ciclo de exclusão social passa a ser

constantemente produzido e reproduzido. Sujeitos marcados pela baixa autoestima

e por um senso de derrota antecipada podem desistir da disputa antes mesmo de

tentar concorrer. Nessa sociedade excludente, alguns são considerados culpados

pela própria incapacidade de concorrência ou pela falta de adaptação ao sistema.

Da mesma forma que é atribuída a uma escolha moral e de caráter individual as

situações de marginalização. Aqueles que conseguem permanecer na escola e

evoluir no processo de aprendizagem, passam a ser vistos como mais aptos, mais

capazes do que os outros, como se existissem igualdades de condições e de

oportunidades.

Embora muitos desses sujeitos, sejam crianças e/ou adolescente

não estejam ‘nas ruas’, e sim junto às famílias, vivem em condições subumanas

(RIZZINI; BARKER; CASSANIGA, 1999). Essas condições internalizadas,

produzidas e reproduzidas resultam ações que podem prejudicar os processos de

ensino e de aprendizagem e, por conseguinte, terminar por promover a escola como

espaço meramente transitório, um não-lugar, invés de lugar promoção à superação

de diversas vulnerabilidades e, principalmente, um lugar de construção de uma

identidade positiva.

2.1 ASSISTENTE SOCIAL – FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Antes de iniciarmos nossa reflexão sobre o lugar do Assistente

Social na escola, cabe uma breve descrição do processo de sua formação

profissional. Segundo Martins (2012), existe uma diversidade de instituições de

ensino que ofertam o curso de graduação em Serviço Social e esse fato revela

diferentes perspectivas de formação profissional. Isso mesmo com a proposta de um

currículo mínimo, que foi colocada no início da década de 1982.

O currículo mínimo foi a expressão de um processo histórico,

resultado da resistência acadêmica à ditadura militar. Nessa proposta de currículo, a

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matriz do ensino em Serviço Social buscava valorizar a História do Serviço Social, a

Teoria do Serviço Social e a Metodologia do Serviço Social, além do Estágio

Supervisionado. Além disso, consolidou-se a pós-graduação com o fortalecimento de

mestrados e doutorados (MARTINS, 2012).

O curriculo mínimo para formação dos Assistentes Sociais somente

foi alterado a partir de regulamentação da profissão, já na década de 1990. Segundo

Martins (2012), entre 1994 e 1996, diversos eventos foram realizados objetivando

uma nova proposta nacional. Esse processo, contou com a participação, também,

dos profissionais de Serviço Social, por meio de seus órgãos representativos.

Realizaram-se sucessivas oficinas que discutiram a revisão curricular. Em 1996, foi

aprovada a nova proposta de curriculo para o curso de Serviço Social; proposta esta

que revela os anseios dos profissionais e a inovação na formação dos futuros

profissionais, desvelando uma maneira diferente de formação à atuação dos

Assistentes Sociais.

Para Martins (2012), o que se destaca nessa época é a opção pelo

paradigma da teoria social crítica, rompendo-se com a perspectiva tradicional da

profissão. É neste período que se dá a introdução do estudo da Política Social e

vinculação da atuação profissional no âmbito das políticas sociais públicas, de

ordem decisiva para a significação social da profissão a relação entre Estado e

sociedade de classes.

As Diretrizes Curriculares da Associação Brasileira de Ensino e

Pesquisa em Serviço Social de 1996 (ABESS; CEDEPSS, 1996), reconheceu que há

um objeto específico à ação deste profissional: a questão social. Ou seja, o

Assistente Social é o profissional que atua diretamente no conjunto de expressões

que definem as desigualdades da sociedade. Justamente na linha de tensão que há

entre a produção da desigualdade e a produção da resistência a essa condição é

que atua o Assistente Social.

O reconhecimento da questão social como objeto de intervenção profissional, demanda uma atuação profissional em uma perspectiva totalizante, baseada na identificação dos determinantes socioeconômicos e culturais das desigualdades sociais. A intervenção orientada por esta perspectiva crítica pressupõe a assunção, pelo(a) profissional, de um papel que aglutine: leitura crítica da realidade e capacidade de identificação das condições materiais de vida, identificação das respostas existentes no âmbito do Estado e da sociedade civil [...] (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2007, p. 25).

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As Diretrizes Curriculares atuais representam avanços como o

amadurecimento da compreensão do significado social da profissão e a tradição

teórica que permite a leitura da realidade da profissão e apontam para a

consolidação de um projeto profissional. Além da percepção das demandas e da

compreensão do significado social da profissão e do desvelar das diversas

possibilidades de ações nas realidades e no exercício profissional. A proposta de

alteração nas Diretrizes curriculares aponta para a formação de um profissional com

capacitação teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa para a apreensão teórico crítica do processo histórico como totalidade. Considerando a apreensão das particularidades da constituição e desenvolvimento do capitalismo e do Serviço Social na realidade brasileira. Além da percepção das demandas e da compreensão do significado social da profissão[...]. (ABESS, 1996, p.02)

Na lógica proposta pelos eixos norteadores da formação profissional

do Assistente Social, as matérias se desdobram em diversos e diferentes conteúdos

curriculares, de variadas formas didático-pedagógicas; lógica esta que expressa

inovação do processo de ensino/aprendizagem até então fragmentado.

A profissão de Assistente Social consiste em um conjunto de

determinantes que comporão a forma do trabalho desse profissional lhe é

imperativo; a medida em que

O processo de trabalho em que se insere o Assistente Social não é por ele organizado e nem é exclusivamente um processo de trabalho do Assistente Social, ainda que nele participe, de forma peculiar e com autonomia ética e técnica. (IAMAMOTO, 2001, p.107).

O trabalho do Assistente Social tem um efeito singular no tratamento

das questões das condições materiais e sociais daqueles cujo a sobrevivência

depende do trabalho. Por sua ação este profissional interfere no processo de

reprodução da força de trabalho por meio dos serviços sociais previstos em

programas; atua sobre questões que dizem respeito à sobrevivência social e

material dos setores majoritários da população trabalhadora, viabiliza o acesso não

só a recursos materiais, mas as ações implementadas e subjetivas que incidem

sobre as condições de sobrevivência social dessa população.

Nessa perspectiva, como afirmamos anteriormente, ao Assistente

Social compete o reconhecimento e o fortalecimento dos espaços de formulação e

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construção coletiva em que, juntamente com outros profissionais, seja capaz de

formular estratégias políticas e técnicas para modificar a realidade, transformando o

espaço praticado em lugar de identidade coletiva.

O trabalho do assistente social pode produzir resultados concretos nas condições materiais, sociais e culturais da vida de seus usuários, em seu acesso e usufruto de políticas sociais, programas, serviços, recursos e bens, em seus comportamentos, valores, seu modo de viver e de pensar, suas formas de luta e organização, suas práticas de resistência. (YASBEK, 2002, p.180).

O acesso e usufruto de políticas sociais se dá em espaços nos quais

os serviços e programas são executados, em que identidades e significações são

impressas por aquilo a que historicamente lhe definiram.

É nesta tensão entre produção da desigualdade e produção da rebeldia da resistência, que trabalham os Assistentes Sociais, situados nesse terreno movidos por interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade. (IAMAMOTO, 2005 p. 28).

Os Assistentes Sociais trabalham com a questão social nas suas

mais variadas expressões cotidianas, tais como os indivíduos as expressam no

trabalho, na família, na saúde, na educação etc.

O trabalho do Assistente Social se materializa por seus meios de atuação, por um saber específico, que produz a profissão na esfera social, assim como dos produtos resultantes das atividades sociais que permeiam todo o processo social, promovendo a significação do que é ser Assistente Social. O Assistente Social tem sido historicamente um dos agentes profissionais que implementam políticas sociais, especialmente políticas públicas (IAMAMOTO, 2005 p. 20).

A expectativa, ou perfil, esperado para o Assistente Social está para

o profissional que se mostre comprometido com os valores e princípios norteadores

do Código de Ética Profissional do Assistente Social, formulando e implementando

propostas para o trabalho com a questão social através de políticas públicas, de

organizações da sociedade civil e de movimentos sociais ou terceiro setor.

Esta continuidade, porém, é um movimento: se nela se põem e repõem eixos teórico-metodológicos, núcleos temáticos e indicativos profissionais, este acúmulo se opera por incorporações que introduzem inflexões que, ao enriquecer, matizar e diferenciar a perspectiva em tela, desenham visíveis mudanças no seu processo. (NETTO, 2011, p. 268)

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Compete ao processo de formação do Assistente Social a

apreensão crítica dos processos sociais numa perspectiva de totalidade; bem como

a análise do movimento histórico da sociedade brasileira, com destaque para a

apreensão das particularidades que envolvem o desenvolvimento do sistema

econômico social capitalista no país.

Segundo o texto das Diretrizes Curriculares (BRASIL, 1996),

compete ao Assistente Social estar apto pelo processo de formação a identificar as

demandas presentes na sociedade, visando formular respostas profissionais para o

enfrentamento da questão social, considerando as novas articulações entre público

e privado.

Fica claro pelos pressupostos das Diretrizes Curriculares que o

Serviço Social é uma profissão interventiva e atua nas expressões da questão social.

Igualmente, o Assistente Social insere-se como um profissional que atua nas

relações sociais de produção e reprodução da vida social. Compete, assim, à

formação universitária formar profissionais preparados para o mercado de trabalho,

pois significa uma das fontes de produção de conhecimento e aqueles que concluem

a formação universitária de forma geral devem estar prontos adentrar o mundo do

trabalho.

As Diretrizes Curriculares para o curso de Serviço Social se

organizaram para não permitir a fragmentação e segmentação das disciplinas, nem

a abstração dos conteúdos concretos. Elas buscaram estimular o caráter

interdisciplinar, a superação do formalismo e o estabelecimento da indissociabilidade

nas dimensões de ensino, pesquisa e extensão. Recusou-se a fazer a separação

entre o ensino prático e o teórico, entre a intervenção e a investigação, entre a

política e a ética.

O Serviço Social é uma profissão histórica e socialmente marcada

pelas lutas sociais, uma profissão que atua diretamente nas mais variadas

expressões da questão social; com princípio da consolidação do exercício da

cidadania e garantia de acesso a direitos.

Nessa perspectiva, é importante destacar a promulgação da LDB

(Lei de Diretrizes e Bases) em Dezembro de 1996, fez-se necessário avaliar de

forma critica as inovações decorrentes desta lei que representava a flexibilização da

educação nacional em especial para o ensino superior, identificando as implicações

objetivas desta para a implementação do projeto ético-político profissional do Serviço

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Social (BRASIL, 1996).

Profissional que atua nas expressões da questão social, formulando e implementando propostas de intervenção para seu enfrentamento, com capacidade de promover o exercício pleno da cidadania e inserção criativa e propositiva dos usuários do Serviço Social no conjunto das relações sociais e no mercado do trabalho. (ABESS; CEDEPSS, 1996, p. 1)

Essa alteração interfere na perspectiva da ética na formação

profissional dos Assistente Sociais no que confere as competências e habilidades

gerais e especificas dos mesmos. Segundo essas diretrizes, à medida que a

formação profissional deva viabilizar a capacitação teórico-metodológica e ético-

política do profissional como requisito fundamental para o exercício de suas

atividades, é necessário a compreender o significado social da profissão e seu

desenvolvimento sócio histórico, como é necessário, aliás, para qualquer profissão.

Além disso, é importante desvelar as possibilidades de ação contidas na realidade,

identificando as demandas presentes na sociedade, a fim de formular respostas

profissionais para o trabalho com a questão social. Nesse sentido, a escola revela-se

como uma possibilidade de ação do Assistente Social, pois está repleta de

demandas sociais.

A formação profissional deve possibilitar ao Assistente Social

decifrar de forma clara a realidade dos processos sociais, inclusive na escola, em

sua totalidade, de maneira a colaborar de forma objetiva para a efetivação dos

direitos dos indivíduos. Cabe a esses profissionais dar acesso a serviços que se

constituem parte no processo de formação das dimensões cognitivas e sociais dos

indivíduos, como a escola.

Portanto, a escola, esse ambiente rico em expressões da questão

social das mais variadas formas, explicitas e/ou implícitas é lugar privilegiado para a

ação do Assiste Social. Em questões que podem ser identificadas como “puramente

escolares”, como as situações que envolvem o fracasso escolar, por exemplo, o

Serviço Social pode contribuir para a melhora do ambiente escolar. No entanto, são

naquelas questões que vão além do desinteresse pelo estudo é que vemos a papel

do Assistente Social. Nessas questões em especial, que antes de serem escolares

são sociais é que o profissional de Serviço Social pode realizar um atendimento

junto à equipe interdisciplinar. Cabe ao Assistente Social fomentar uma abordagem

junto ao usuário das políticas sociais tornando-o como sujeito de direito;

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desenvolvendo estratégias que promovam o protagonismo e a autonomia desses

usuários.

Deste prisma, o Assistente Social tem em sua prática profissional um

conjunto amplo de ações, que não se limitam à execução, mas também a tomada de

decisões conjuntas num processo racional e ético.

Assim, considerando a educação como uma política social pública

inscrita em um sistema político e econômico complexo com interesses bem definidos

no que diz respeito a mudanças sociais, a ação do Assistente Social faz-se se

grande importância. Por isso, pensar a proteção social à família, à infância e o

amparo às crianças é pensar em espaços sociais e ciclos de vida, o que está

intrinsecamente ligado à educação formal, aquela que ocorre no ambiente escolar.

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3 A ESCOLA E O ASSISTENTE SOCIAL

Ao pensar na organização dos dias e da vida pode-se perceber que

cada sujeito tem um modo determinado de organizar uma rotina em relação ao

tempo e as atividades que pretende desenvolver. Em se tratando de crianças, em

especial no ocidente, a escola é desde muito cedo um dos espaços de orientação de

ações, entretanto, não se trata de um espaço natural ocupado pela criança, mas o

segundo lugar ocupado por esta, após a casa ou em melhor definição, a família.

Foram necessárias diversas transformações e incontáveis ideias

acerca da institucionalização da escola para que se firmasse um modelo de

instituição escolar. Diversos processos decorridos em diferentes povos e nações nas

quais as implicações do processo de educação agiram e que tiveram implicações

sobre as necessidades das pessoas em desenvolvimento e sobre a competência da

referida instituição.

A preocupação com a educação está presente desde a antiguidade.

Independente das civilizações que se observe, existe um processo educativo. Em

inúmeros casos, é possível verificar a educação acontecendo no ambiente familiar,

no próprio ambiente da casa. Nessa realidade, os valores eram transmitidos dos pais

aos filhos, pois já neste momento era possível perceber que havia uma gama de

saberes cujo aprendizado era percebido importante e indispensável à vida.

No entanto, uma educação mais próxima daquilo que chamaríamos

de formal nem sempre foi acessível a todos. No período medieval, por exemplo, o

acesso ao conhecimento letrado era restrito a uma parcela mínima da população e

estava frequentemente ligada ao recrutamento dos líderes religiosos. Até porque a

civilização medieval era basicamente agrícola e com pouco movimento comercial na

maior parte do tempo. Em outras palavras, “a civilização medieval é basicamente

uma civilização da palavra e dos sentidos, em que a transmissão dos conhecimentos

e das tecnologias prescinde das instituições especializadas e de textos escritos”

(PETITAT, 1994, p.49).

Já no período do declínio dos tempos medievais, percebe-se

mudança na referida situação quando começa um processo de formalização das

escolas e da educação. Com o desenvolvimento da vida urbana e com a

rearticulação das atividades comerciais, a necessidade de controle e organização

dos negócios e a administração das cidades passam a exigir a formação de pessoas

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capacitadas para estes postos. Assim, as instituições de ensino passaram a se abrir

para o público leigo, no entanto, a presença de membros da Igreja que lecionavam

em tais instituições ainda era marcante. Pode-se dizer que até aqui “o saber”

permanecia restrito a uma pequena parcela da população.

Destaca-se que a escola moderna, por este viés analítico, não

emerge de uma evolução natural da escola medieval. Um dos pressupostos aqui

determinantes de análise é o de que não são inerentes à natureza humana ou a

algum conhecimento da essência do homem as condições de possibilidade da

escola moderna, antes pelo contrário, a escola moderna se constitui de forma

gradual e por demandas econômicas e políticas de uma classe social emergente – a

burguesia.

Nascia uma nova ordem social que enfatizava o talento, individualismo, potencial de cada um independente da origem; pregava a igualdade perante a lei e não a igualdade material; colocava os homens no centro das decisões [...]. (FRANCISCO FILHO, 2003, p. 116)

Ainda quanto aos princípios da escolarização moderna, ressaltam-se

que, entre os séculos XV e XIX, foram inúmeras e profundas as mudanças na

sociedade europeia. Os adventos desencadeados por diversos acontecimentos de

ordem econômica (com o florescer do capitalismo, do mercantilismo, da Revolução

Industrial), religiosa (com a Reforma Protestante e a Contrarreforma), política (com

as Revoluções Inglesas e a Revolução Francesa) e ideológica (com o Renascimento

Cultural e o Iluminismo).

Assim, enquanto na Idade Média a vida das pessoas era regrada

pelo clero e o que movia a sociedade era a ideia de Deus e a grande preocupação

era o além, o Renascimento instaurou, a partir do século XV uma nova concepção

de homem e uma nova visão de mundo, a partir de uma concepção de natureza e de

seus princípios. O movimento renascentista foi um movimento de ordem cultural que

propiciou rupturas com a visão teocêntrica da sociedade e do mundo, até então

disseminada na Europa.

Segundo Francisco Filho (2003) foi no final do século XVI que se

consolidam as mudanças e reestruturações no processo de escolarização que

deram origem à escola moderna. A educação, que até este momento visava uma

formação religiosa, passa a prezar pelo individualismo, pela formação do sujeito

urbano, pelo humanismo e pelos cuidados e valorização corporal. Sem que esse

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processo tenha sido linear ou sem contradições.

Com a Reforma Protestante, além da ênfase no humanismo, nasce

uma preocupação com a educação pública revelado pela produção de um sistema

de ensino organizado, mesmo que de alcance limitado. Apesar de ganhar

proporções de “popular”, esse processo de escolarização não excluiu saberes como

a leitura, a escrita, os cálculos e até mesmo os cantos religiosos, antes destinados à

educação dos nobres e, acrescentou ao processo a obrigatoriedade da frequência e

ainda o tempo de permanência na escola. Simultaneamente a essas mudanças, a

Reforma Protestante acrescentou à esfera educacional uma nova visão sobre a

infância, em que “a criança deixa de ser o homenzinho da Idade Média, e torna-se

um ser fraco que é preciso subtrair às influências perniciosas, mediante sua

submissão a uma continua supervisão” (PETITAT, 1994, p.77).

É a contar desta percepção sobre a infância – e futuramente sobre a

adolescência -, que ocorre a reestruturação da organização do ambiente escolar em

classes, subdividindo as crianças em níveis de aprendizagem, controlando a

frequência escolar, mantendo-se as práticas já existentes de divisão das matérias e

também de controle do tempo; tecnologias estas diretamente relacionadas ao

controle do mestre sobre os alunos.

Acontecimentos históricos já mencionados, como o Renascimento, o

aumento das atividades comerciais, a revitalização das cidades, a Reforma

Protestante e a nova concepção sobre a infância, foram determinantes para a

escolarização desde os princípios da modernidade e, se mantém até a escola

contemporânea. É a partir destes fenômenos que a escola passa a exercer controle

sobre o tempo e os corpos dos sujeitos a ela ligados, viabilizado pela separação e

vigilância contínuos. As práticas escolares, a obrigatoriedade da frequência escolar e

as demais práticas escolares passam a estar alinhadas com as necessidades

econômicas e sociais vigentes na nova sociedade capitalista, passando a preparar

corpos e mentes úteis.

Objetivando solucionar os problemas surgidos com crescimento das

cidades e das atividades econômicas, foram criadas as escolas técnicas. Essas

tinham uma dinâmica de ensino que as diferenciava das demais escolas existentes.

Destaca-se que esta prática estava diretamente relacionada às ideias do Iluminismo.

Ideias que se baseavam na observação e experimentação. Desta forma, a partir do

século XVIII ocorreu uma valorização dos conhecimentos científicos (PETITAT,

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1994).

Os principais ideais, neste caso, foram inspirados em princípios de

liberdade e democracia, que regiam a orientação cívica e patriótica; o Estado como

responsável pela educação independente da Igreja; a obrigatoriedade escolar para

todas as crianças; a obrigatoriedade e gratuidade para a crianças cursarem o ensino

primário; a neutralidade religiosa – ou laicismo; e, o início da unificação do ensino

público nos diferentes graus de acesso – ensino básico ao superior. É preciso

lembrar, no entanto, que esse processo foi lento e se manifestou de maneiras

diversas pelas diferentes sociedades.

Mesmo que desde o movimento iluminista a educação universal

passe a ser considerada fundante da sociedade ilustrada, somente depois da

Revolução Francesa é que se pode considerar que uma educação universal se

concretiza. É neste momento em que os sujeitos da classe baixa passam a

frequentar as instituições de ensino. O colégio não era apenas e tão somente um

prédio, passa a ser uma instituição. Assim, com um local específico e com

atendimento individualizado, a escolarização passa a contribuir e a facilitar o controle

dos indivíduos.

Portanto, o aparecimento desta instituição está visceralmente ligado ao desenvolvimento do capitalismo. Com a Revolução Industrial, a partir de 1750, sentiu-se a necessidade de um número maior de pessoas que soubessem pelo menos ler, escrever e contar. Pessoas essas que seriam jogadas nas nascentes indústrias, fornecendo mão-de-obra para o manejo das máquinas. Por outro lado, a burguesia já no poder percebeu também a necessidade de "socializar" e "educar" a massa trabalhadora existente nos grandes centros urbanos, para formá-los como "bons" cidadãos e trabalhadores disciplinados. Com isso, vemos a Escola surgindo com claras funções: inculcar os valores, hábitos e normas da classe que domina, ou seja, inculcar a ideologia burguesa e, com isso, mostrar a cada um o lugar que deve ocupar na sociedade, segundo sua origem de classe. (COIMBRA, 1989, p. 14-16)

Com o surgimento das instituições políticas e das práticas

econômicas típicas do capitalismo, perde espaço a noção de que a educação

familiar era suficiente para formar as pessoas para a convivência e desenvolvimento

pessoal e social. Visto que isso significa uma relação entre o mundo do trabalho e a

educação, agora baseada nas transformações que constituem o desenvolvimento do

homem que é capaz de viver e se organizar em grupo.

Considerado a importância da discussão em torno do espaço escolar

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e da definição do lugar, é preciso lembrar que ela está diretamente relacionada à

compreensão do desenvolvimento da ideia de que crianças são pessoas em

processo de desenvolvimento. Em nível nacional, essa compreensão e concepção

está demarcada em especial pelo artigo 6º do ECA:

Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento (BRASIL, 1990).

No entanto, essa perspectiva nem sempre foi defendida. No início da

conquista e da colonização portuguesa, as ideias vinculadas à educação eram

diferentes. Segundo Xavier (1994, p.43), por exemplo, existiam alguns elementos

necessários à instrução dos indigenas:

A leitura, a escrita e o calculo eram, de fato, os conteúdos próprios para a instrução, que davam base para a compreensão das Sagradas Escrituras. Ter acesso aos catecismos, livros, cantos religiosos, realizar o complicado calculo dos dias e das festas religiosas, entender e acompanhar ativamente os ritos e os sacramentos era tudo o que se esperava da instrução dos gentios. Isso os civilizava, pacificava, transformando-os em súditos da Coroa e “filhos de Deus” (XAVIER, 1994, p. 43).

Com o intuito de controlar tempo, espaço, relações pessoais e até

mesmo os corpos dos indígenas, foi necessário aos jesuítas utilizarem-se de

diversos mecanismos disciplinares que persistem até a escola atual.

Mais adiante na história da formação da nação brasileira, novos

elementos foram sendo acrescentados. A formação de caráter técnico representou

uma ruptura com o sistema de ensino dos jesuítas, no entanto, o ensino primário

continuou primando pelo aprendizado da leitura e da escrita, assim como nas

instituições jesuítas (RIBEIRO, 1994).

O processo de reestruturação econômica provocada pela

industrialização da segunda metade dos anos de 1920 e o rompimento com os

acordos que mantinham as elites no poder pela instauração de uma nova ordem

política prepararam o cenário para que, em 1932, o Manifesto dos Pioneiros da

Educação se efetivasse diante do descontentamento dos educadores frente a uma

omissão dos governantes quanto temas ligados a educação.

Para os participantes deste movimento era importante que a escola

pública existisse de forma gratuita, obrigatória, adaptada ao cotidiano industrial e

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urbano que se iniciava e que fosse laica.

Entendendo a complementariedade à política governamental

vigente, Vargas mostrou-se simpatizante aos ideais educacionais do Manifesto dos

Pioneiros, visto que esse favorecia a criação e escolas de ensino técnico

profissionalizante; o que era visto pelo então presidente como um instrumento

atenuante das questões sociais.

Essa nova proposta de educação, a partir de 1930, sobre uma base

estadunidense, corresponde às práticas escolares no Brasil que passam a ser

influenciadas pela Escola Nova, que

Enfatizou os “métodos ativos” de ensino-aprendizagem, deu importância substancial à liberdade da criança e ao interesse do educando, adotou métodos de trabalho em grupo e incentivou a prática de trabalhos manuais nas escolas; além disso, valorizou os estudos de psicologia experimental e, finalmente, procurou colocar a criança (e não mais o professor) no centro do processo educacional (GHIRALDELLI JUNIOR, 1994, p. 25)

Segundo Petitat (1994), na Europa, a transferência da

responsabilidade de disseminar o patriotismo para a escola, juntamente com a sua

estatização, está diretamente relacionada a três principais acontecimentos. Estes

acontecimentos são relacionados por ele como sendo o surgimento do Estado

Nação, as transformações relacionadas à separação da religião e da educação e a

nova ordem econômica que se instalava nos séculos XVIII e XIX.

Desta forma, o Estado passa a ser responsável pela elaboração das

políticas educacionais, no que diz respeito aos métodos e programas de

funcionamento das escolas e da sua relação com a divisão do trabalho. A

estatização do ensino promoveu a garantia da educação gratuita, obrigatória e

universal, bem como o rompimento com a prática do ensino religioso nas escolas.

No Brasil, essas transformações marcam um dos momentos

considerados de maior expressão da educação e, em especial quanto às leis que

conduziam o ensino secundário, à época sob um caráter elitista, decorrente do

período do Estado Novo a partir de 1937. O ensino brasileiro contemporâneo, no

que diz respeito à aquisição de competências, exigência de avaliações e notas,

guarda aspectos da educação escolar de 1930 e meados de 1940, embora

conduzido por ideais democráticos.

Após quinze anos da Era Vargas, com o processo de

redemocratização de 1946 e uma nova Constituição (a quinta) os princípios da

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democratização do ensino voltam a estar presentes. Nessa Constituição ficou fixado

que a União deveria “fixar as diretrizes e bases para a educação nacional” (BRASIL,

1946, art. 5, inciso XV); com isso em 1948 foi instituída a comissão que deu início à

elaboração da Lei de Diretrizes e Bases que, anos mais tarde seria aprovada na

forma da Lei nº 4024, em 1961 (BRASIL, 1961).

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961 fixou a

educação nacional como “inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de

solidariedade humana, [...] direito de todos, a ser dada no lar e na escola” (BRASIL,

1961) e atribuiu ao MEC (Ministério da Educação e Cultura) a responsabilidade de

“valer pela observância das leis do ensino e pelo cumprimento das decisões do

Conselho Federal da Educação”; e ainda “estabeleceu a organização do sistema de

ensino e a obrigatoriedade do ensino primário a partir dos sete anos de idade”

(BRASIL, 1961). No entanto, durante os governos militares, novas propostas para a

educação nacional foram colocadas em prática, a partir de 1971. Uma nova estrutura

foi criada, para atender uma sociedade que se transformava rapidamente.

Com a redemocratização do país, a história da escola nacional inicia

o período de debates de educadores, juntamente com os políticos, para constituir

uma nova perspectiva para a educação escolar. Após oito anos de tramitação, foi

aprovada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. As principais mudanças trazidas

pela Lei nº 9394/96 (BRASIL, 1996) envolviam critérios mais flexíveis na avaliação

do aproveitamento escolar; diferentes mecanismos para combater a reprovação e

defasagem escolar, ampliação da carga horária para oitocentas horas/aula anuais;

descentralização pedagógica e maior autonomia da mesma. Também ocorre a

indicação para criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais; e a organização do

sistema de ensino em educação básica (educação infantil, ensino fundamental de

oito anos e ensino médio) e ensino superior. Essa é, a grosso modo, a estrutura e o

sistema educacional que fundamentam a educação nacional e a partir dos quais

temos de pensar a participação do Assistente Social no campo da educação.

Assim, compreende-se que o projeto pedagógico que a profissão de

assistente social vem construindo vincula-se a uma concepção de Educação e de

sociedade que persegue a possibilidade de uma nova forma de sociabilidade, sem

exploração de qualquer espécie. Supondo, com isso, a erradicação de todos os

processos de exploração, opressão e alienação. Esses são princípios balizadores do

Código de Ética do Assistente Social, que representam uma concepção

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emancipatória que: “não está na origem da profissão e nem se fez de forma

espontânea, mas que se deram tecidas nas lutas sociais que subsidiaram as

condições sócio-políticas que possibilitaram aos assistentes sociais estruturar seu

projeto profissional” (IAMAMOTO, 1992, p. 31).

Hoje, defende-se o acolhimento das diferentes culturas, valores e

crenças na educação de crianças e jovens. Além disso, acredita-se no

estabelecimento de canais de comunicação, de inclusão do conhecimento familiar

no trabalho educativo, do acolhimento das famílias e das crianças na instituição.

Tudo isso representa espaços para o trabalho do assistente social.

Na escola contemporânea, a escolarização além de ter a função de

controle individual dos sujeitos por meio de dispositivos e/ou mecanismos como

provas, exames e outros instrumentos de verificação da aprendizagem dos alunos,

depende da organização do espaço da sala de aula e da rotina das atividades, ou

seja, do padrão e das normas, que embasam o processo de escolarização.

A partir desse raciocínio, a educação é, então, compreendida como

um direito. No entanto, nem sempre essa educação está disponível e acessível de

forma igualitária. Como já sugerimos, o acesso e a permanência dos sujeitos na

escola são permeados de contradições diversas. Em especial quando analisamos a

importância da universalização da educação como responsável pelo estender ao

ingresso dos sujeitos da população de classe baixa à escola. Desperta, então, a

questão que diz respeito a permanência destes sujeitos no universo escolar, visto

que garantir o acesso não significa equiparar condições.

Há, com a universalização da escolarização, uma ampliação nas

especificidades existentes no universo da escola em que o contexto escolar denota

desafios cotidianos ao êxito dos alunos no processo de aprendizagem, e também

aos profissionais responsáveis pelo ensino. Estas especificidades tratam do

entendimento que a escola não é o lugar apenas de aquisição do conhecimento

científico e/ou tecnológico, mas seu contexto reúne também as mais diversas

demandas de desenvolvimento dos alunos. Isso, considerando que a escola é o

lugar onde emergem os mais variados conflitos devido ser um espaço comum a

diferentes sujeitos em desenvolvimento.

A entrada na escola, nas últimas décadas, dos alunos da população

de classe baixa, alterou o contexto sociopolítico, econômico e cultural que determina

o ambiente escolar. Isso passou demandar novas habilidades e competências dos

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diversas dos profissionais envolvidos no trabalho da educação. Por isso, tornou-se

necessário profissionais que estabeleçam relações de intervenção mais efetivas

diante desse novo cenário. Isso significa oportunidade e necessidade de ação do

Assistente Social na escola, apesar de

O trabalho desenvolvido pelos Assistentes Sociais não se confunde ao dos educadores. Em que pese a dimensão sócio-educativa de suas ações, sua inserção tem se dado no sentido de fortalecer as redes de sociabilidade e de acesso aos serviços sociais e dos processos sócio-institucionais. (ALMEIDA, 2000, p. 21)

A presença do Assistente Social no ambiente da escola deve facilitar

o acesso dos alunos e de suas famílias aos serviços socioassistenciais, por meio

das informações, encaminhamentos e inserção em programas, sejam da própria

instituição, sejam dos diferentes serviços que compõem a rede de atendimento.

Considerando a questão da educação prevista desde os primórdios

da formação da instituição escolar, vinculada a intenção de promoção e

desenvolvimento dos conhecimentos dos alunos, bem como as demandas

socioeconômicas que se manifestam no espaço próprio da educação, a ação do

Assistente Social deve ser, nesse caso, de articular estrategicamente o atendimento

aos alunos e às suas famílias, por um conjunto de ações integradas de orientação

que promovam melhoria no desempenho escolar dos alunos.

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4 LUGAR E NÃO LUGAR

A busca de um espaço em meio à turbulência dos acontecimentos

modernos é um impasse para quem busca seu pertencimento, sua identidade.

Encontrar raízes em meio a tantos terrenos férteis pode parecer um desafio. Porque,

desde que nascemos, ocupamos um espaço e este sofre interferências externas de

outros lugares. Portanto, para compreendermos o lugar do Assistente Social na

escola, precisamos pesar sobre o conceito de lugar. Especialmente nesse momento

em que os meios de comunicação e transporte têm alterado nossa percepção de

tempo e espaço. Segundo Reis,

Muito se discutiu sobre estes novos locais inaugurados a partir da cultura do excesso que se explicitava na época: com a popularização das comunicações via dispositivos informacionais e em rede, com a explosão da facilidade de deslocamento ao redor do globo em meios de transporte cada vez mais rápidos e acessíveis à grande parte da população, e com o surgimento de novos lugares visando acolher esses sujeitos em trânsito permanente – tanto em aeroportos e estações de trens, em autoestradas, em templos de consumo desenfreado e frenético, como os hipermercados e os shopping centers, quanto nos globalmente conectados e em rede. (REIS, 2013, p. 137).

Um dos pesadores que se dedicaram a uma reflexão sobre esse

tema foi Marc Augé, professor da École des Hautes Études en Science Sociales.

Esse autor, em 1994, em sua obra “Não lugares: introdução a uma antropologia da

supermodernidade” descreve claramente o que ele chama de “era de individualismo

e velocidade excessiva”, com a abertura de novas frentes de consumo e informação.

Para Tosi,

Essa desconcertante constatação opera uma verdadeira mutação na análise antropológica na medida em que a localização e a interação dos indivíduos que formam comunidades, suas relações de identidade e seus espaços de representação compartilham e ultrapassam matrizes espaciais específicas das culturas e apresentam outras mediações marcadas pela presença de não lugares que se intensificaram recentemente. (TOSI, 2015, p.1)

Outro autor que trata dessa temática, apesar da diferença de

perspectiva em relação a Augé é Michel de Certeau, também foi professor da École

Pratique des Hautes Études. Ele acredita que o sujeito interfere no mundo por meio

da linguagem, práxis comunicacionais ou apenas por caminhar na cidade. Essas

expressões de linguagem se dão a partir dos discursos resultantes entre o mundo e

o sujeito, relativos aos espaços e lugares. Há, nesse sentido, uma relação entre o

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espaço/lugar e os discursos sobre eles, que lhes fornecem um sentido. Precisamos

descobrir como ocorre a produção desses sentidos “[...] a partir das interações

sociais dos indivíduos, agora mediados pela rede e por múltiplos dispositivos

tecnológicos, buscando discutir como esses processos discursivos podem influenciar

na produção de não lugares ou em sua desconstrução (REIS, 2013, p. 137).

Se, como pensa Certeau, o espaço é o lugar praticado, então não

existem lugares isolados. Então, lugar existe mesmo coabitando outros lugares,

cada qual ocupando seu espaço. Apesar da hegemonia dos espaços – na

perspectiva de Certeau -, há aqueles lugares que parecem não pertencer a pessoa

alguma, lugares transitórios (os não-lugares, na visão de Augé) ou indivíduos que

parecem não pertencer a lugar algum, em virtude das condições sociais e culturais

em que vivem. Bonfim (2011) afirma que a crise do mundo contemporâneo, incluindo

uma crise cultural, que pode ser vista na perda dos padrões morais e políticos, nos

revela uma ruptura com a tradição, criando uma lacuna entre o passado e o futuro.

Essa “falha” pode estar na raiz do crescente não-pertencimento antevistos por Augé.

Podemos definir sociedade como um sistema de interações

humanas culturalmente padronizadas. Esse sistema é composto por símbolos,

normas, valores, posições e papéis. Pode-se, ainda, definir sociedade como o

coletivo de cidadãos de um país, que é governado por instituições nacionais, que

deveriam aspirar o bem-estar dessa mesma coletividade. Ora, como a sociedade

pode ser compreendida pelas manifestações culturais, diversas são as formas pelas

quais se materializam as habilidades, os talentos e o desenvolvimento das tradições

ao longo do tempo. Isso significa afirmar que “[...] a cultura não deve ser reduzida a

simples sinônimo de sociedade, tal qual tantas vezes se lê nos compêndios que

imprimem uma simetria sinonímia entre os dois termos [...]” (BONFIM, 2011, p.3).

Certeau (1998), em sua obra “A invenção do Cotidiano”, afirma que

“preciso interessar-se não apenas pelos produtos culturais oferecidos no mercado

dos bens mas pelas operações dos seus usuários” (CERTEAU, 1998, p. 13). É

necessário, para esse autor, ocupar-se com as diferentes formas de marcar os

desvios sociais produzidos pelas práticas. A cultura está, portanto, em grande parte

nas práticas cotidianas dos indivíduos. Muitas dessas práticas são formas de

resistência às imposições daqueles que têm o “poder”.

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Os mecanismos de resistências são os mesmos, de uma época para outra, de uma ordem para outra, pois continua vigorando a mesma distribuição desigual de forças e os mesmos processos de desvio servem ao fraco como último recurso, como outras tantas escapatórias e astúcias, vindas de “imemoráveis inteligências”, enraizadas no passado da espécie, nas “distâncias remotas do vivente”, na história das plantas ou dos animais tema aristotélico inesperado num homem que preferia ao lógico naturalista da Grécia Antiga e escrita poética da filosofia platônica. (CERTEAU, 1998, p. 19).

Assim, quem constrói o espaço são as pessoas, ao praticar os

espaços. No caso da escola, são alunos, professores e demais profissionais que lá

vivem é que transformam o “lugar escola” em “espaço escola”, por meio de sua

prática. Para Certeau (1998), lugar é uma configuração instantânea de posições,

uma relação de estabilidade, exemplo de uma rua, praça entre outros lugares

planejados e construídos. Já o espaço é para Reis

[...] a prática do lugar, ou seja, como os sujeitos o transformam a partir das suas ocupações, apropriações e vivências. Os sujeitos, em seus itinerários cotidianos, simbolizam o lugar a partir das interferências, tanto corporais quanto cognitivas, nessas configurações físicas. (2013, p.140)

Quem transforma a rua geometricamente feita em espaços é o

pedestre, ou seja, ao ocupar os espaços, caminhar por eles os passos moldam os

lugares e os transformam em espaços que se inscrevem como símbolo criando

significados, compartilhados de forma simbólica pela comunicação, modificando os

usos que os sujeitos fazem dos mesmos. O mesmo poderíamos afirmar da escola.

Assim,

É possível entender esse uso dos lugares e a sua apropriação em espaço de vivência como um discurso, construído pelo caminhante, e que está para a cidade tal qual a enunciação está para a língua. Entende-se tal perspectiva a partir de uma função tríplice que cria esse discurso: ao caminhar, o sujeito se apropria das possibilidades permitidas pelas configurações espaciais disponíveis, assim como um locutor se apropria da língua; ao mesmo tempo, é uma realização espacial do lugar, do mesmo modo que proferir uma palavra é o ato sonoro da língua; por fim, implica relações entre os outros indivíduos que ocupam o mesmo espaço, na forma de contratos pragmáticos, mesmo que implícitos. (REIS, 2013, p. 140-141).

Mas muitas pessoas são movidas a ocupar um espaço, ou são

levadas pelas situações a agirem assim. A escola é um desses espaços em que é

fundamental ocupar um lugar. No entanto, como já afirmamos, o lugar pode atuar de

maneira interativa com outros locais, ocupados por pessoas que buscam a troca de

conhecimento, valores, experiências, cultura, entre outras. Por isso, devemos

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considerar a

[...] comunicação humana como elemento fundamental à transmissão de formas simbólicas e ao compartilhamento de significados comuns, e que, cremos, é a força motriz que impulsiona e transforma a relação que os sujeitos estabelecem com os lugares e espaços, lugares e não lugares [...] Na contemporaneidade, essas marcas deixadas pelos transeuntes, tanto físicas quanto simbólicas, podem ser compartilhadas e sobrepostas umas às outras, mediadas por tecnologias que vão desde a linguagem até, mais recentemente, as redes informacionais móveis. (REIS, 2013, p.141)

O espaço, na visão de Certeau (1998), forma uma história de

múltiplos sentidos, constituída de fragmentos de trajetórias diversas, sem autor, mas

com interações de espaços. Neste sentido, o ambiente educacional pode ser um

local de trocas de valores e culturas (objetos culturais). Bonfim (2011, p 4) exprime

que “depois de transformarem-se num valor para aquisição de status social, os

objetos culturais passaram a ser tratados como quaisquer outros valores” e adverte

que

[...] o consumo dos objetos culturais leva ao seu desaparecimento. Mas só é possível compreender esse consumo mediante a admissão da necessidade de diversão que a sociedade de massa tem enquanto algo tão fundamental ao processo vital biológico quanto o repouso e o trabalho”. (BONFIM, 2011, p.4).

Nesse consumo de objetos culturais, interagem diversos indivíduos,

que ocupam diferentes lugares e espaços. Essas diferenças entre as pessoas e os

lugares que ocupam, além da multiplicidade de indivíduos e espaços, definem as

relações de interatividade que podem ser expressas na educação, cultura e na

política. Para compreender o espaço que as pessoas ocupam é importante entender

o lugar que ocupam e também o que consiste no não-lugar. É preciso relacionar os

conceitos de espaço e lugar, compreender e apreender o pertencimento como uma

relação subjetiva dos sujeitos com os espaços, qualificando-os como lugares. Em

especial no que diz respeito a escola. Por isso, a reflexão sobre o lugar ou o espaço

que deva ser ocupado pelo Assistente Social na escola. Precisamos descobrir como

criar uma identidade entre esse profissional e o espaço/lugar escolar.

A escola, enquanto um desses campos é registrada como espaço de ação social que deve, pelo menos, prestar o seu subsídio de informações sobre a vida das crianças que a frequentam. É concebida como uma agência social que se transformou em lugar de preparação para a vida, onde se há de viver plena e harmoniosamente. Sua tarefa é estender até o lar a sua

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atividade educativa. Para isso, tem que ser organizada com o propósito de buscar elementos positivos do caráter, da personalidade da criança no seu meio familiar, compreendendo o alunado de acordo com as influências ambientais, no intuito de modificá-lo para facilitar o trabalho educativo de ajustamento social. [...] A ação do Serviço Social vem apoiar-se como agente de ligação entre o lar (a família), a sociedade e a escola para dar unidade à ação educacional, criando um conjunto de medidas de ajuda às famílias através do provimento de necessidades básicas de subsistência, de vida higiênica e sadia (SOUZA, 2005, p. 30).

Considerado a definição de lugar, a partir da percepção do ambiente

“Escola”, é fundamental estabelecer o contraponto entre o lugar e o não-lugar, visto

que lógica da afirmação do lugar se estabelece pela afirmação e conceito de não-

lugar. Os não-lugares são caracterizados como locais “dessimbolizados, não

identitários e com os quais os sujeitos, em geral, não estabelecem nenhum tipo de

vínculo relacional enquanto os ocupam”, afirma Reis (2013, p.140). Diferente da

estabilidade de um lugar, o não lugar é móvel como um trem, avião e demais locais

instáveis. Marc Augé analisa os não-lugares a partir da análise de três figuras que

ele denomina de “supermodernidade”: a factual (tempo), a espacial (espaço) e a

individualização das referências (CARVALHO, 2005).

A primeira transformação da “supermodernidade” refere-se ao

tempo, em especial a partir do século XX, quando as atrocidades das guerras

mundiais, dos totalitarismos, trouxeram a descrença nas grandes narrativas e/ou

sistemas de interpretação, colocando em dúvida a história como portadora do

sentido de evolução da humanidade. Essa transformação trouxe não apenas a

alteração da percepção do tempo, mas também do uso que fazemos dele, da

maneira como dispomos dele.

A segunda transformação seria a do espaço, que se manifesta no

encolhimento do planeta por meio de transportes cada vez mais rápidos, pela

comunicação via satélite ou fibra ótica, que transmite imagens e informações que

podem ser manipuladas, exercem influência e expressam, de longe, as mensagens

das quais são portadoras. No caso das escolas, essa característica pode ser sentida

na dificuldade das instituições escolares em acompanhar o desenvolvimento

constante e acelerado dos meios de comunicação.

A terceira figura do excesso da modernidade vem a ser a do ego, do

indivíduo, que se caracteriza pelo processo de individualização das referências. NO

entanto, a individualidade não deve ser vista de maneira absoluta “[...] visto ser

impossível dissociar a identidade coletiva da identidade individual, não simplesmente

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porque a representação do indivíduo é uma produção social mas também porque

toda representação do indivíduo é, necessariamente, uma representação do vínculo

social que lhe é consubstancial”, afirma Carvalho (2005, p.97).

Compreender a essência humana em suas semelhanças e

diferenças, dentro da sua individualidade ou pluralidade é fator primordial para a

busca de um lugar ou não-lugar nesta relação humanista voltada para a realidade

política, social, cultural e educacional em que estamos posicionados.

Um fenômeno fundamental para compreender os lugares transitórios

(nã0-lugares), assim como estações de trem, aeroportos, rodoviárias e ambientes de

culturas modernas como mercados, shopping centers entre outros é a

sobremodernidade ou supermodernidade, que

Se caracteriza por fazer coexistir realidades distintas a partir da planetarização tanto de fluxos financeiros e políticos como de pessoas, a partir dos meios de transporte cada vez mais velozes que permitem o deslocamento físico a grandes distâncias e em um curto espaço de tempo, ou ainda a partir das tecnologias de comunicação que interconectaram todos os pontos do globo e alteraram nossa percepção tanto de tempo quanto de dimensão da Terra.[...] A sobremodernidade é justamente este cenário paradoxal no qual convivem uniformização e planetarização de fluxos informacionais e financeiros, ao mesmo tempo que se acentuam particularismos; países cuja lógica social é guiada pelo excesso de consumo e cujas populações vivem na miséria, sem condições básicas de sobrevivência; múltiplas possibilidades de contato, comunicação e interação em escala global, e conflitos regionais e globais exatamente por falta de entendimento. (REIS, 2013, p.138).

Assim, três fatores são indispensáveis para explicar este fenômeno

da sobremodernidade são eles: o excesso de informação, de individualismo e de

imagens, que se relacionam os aspectos já mencionados antes (tempo, espaço e

individualismo). A informação representa toda a aceleração da história, de todos os

cantos, em tempo real, um desafio para os historiadores e ameaça aos significados

que criam as identidades. Neste sentido, as imagens demonstram o qual dinâmico é

o mundo e levam as pessoas a pensar seu papel no mundo por meio das imagens.

Especialmente em relação ao mundo virtual.

O ciberespaço se revela também como um traço da sobremodernidade: a supremacia do tempo sobre o espaço. Augé afirma ainda que “estamos na idade do imediatismo e do instantâneo. A comunicação se produz na velocidade da luz. Assim, pois, nosso domínio do tempo reduz nosso espaço (AUGÉ apud REIS, 2013, p.138).

Por isso, “os padrões e regras que prevalecem ao se erigir, construir

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e decorar o mundo em que nos locomovemos perdem sua validez e se tornam

positivamente perigosos ao serem aplicados ao próprio mundo acabado” (ARENDT,

apud BONFIM, 2011, p.6).

O excesso de individualismo, surgido a partir da relação cada vez

mais intensa com os meios de comunicação – especialmente as redes sociais -, que,

como dissemos, fornecem aos sujeitos uma perspectiva distinta do mundo e do

tempo. A partir da exposição a uma realidade transformada em espetáculo e

efêmera, uma atualidade transitória, produz-se nos sujeitos solidões interativas.

Então, temos ao mesmo tempo lugares que, na verdade, são não-lugares, pois não

criam identidades e que podem ser as escolas e indivíduos que não se identificam

com os espaços que frequentam, refugiando-se no ciberespaço, que também não

deixa de ser um não-lugar, pois a efemeridade é sua característica fundante.

O lugar do indivíduo e seu trânsito pelos não-lugares é um fator de

análise e discussão imprescindíveis para a compreensão do profissional de ensino,

aluno e a relação destes no espaço em que estão inseridos. Pois,

A identidade do professor tende a ser definida, na literatura expressa em periódicos nacionais, de forma multidimensional e interdimensional. De modo geral, a literatura pesquisada pelas autoras define a identidade do professor como a de um ser em movimento, construindo valores, estruturando crenças, atitudes e agindo em função de um tipo de eixo pessoal/profissional que o distingue dos outros. (CARVALHO, 2005, p. 97).

A identidade e a profissionalidade são, portanto, definidas em função

do vínculo social que lhe é consubstancial e, assim, afetadas pelas figuras de

excesso da “supermodernidade”: o tempo, o espaço e a individualização das

referências que produzem não-lugares, conforme analisaremos adiante.

Nesse processo, destacam-se como fatores contrários à profissionalização do magistério: a frustração na profissão, derivada dos baixos salários; a ausência de condições para o bom exercício profissional; a má-formação inicial; a ausência de processos de formação continuada; as más relações de trabalho; as múltiplas exigências extraclasse; a dupla jornada de trabalho; o descaso das políticas públicas; a heterogeneidade da categoria; o seu crescimento numérico; a expansão e a concentração das empresas privadas no setor; as excessivas regulamentações e a consequente perda de autonomia; a tendência ao corte de gastos sociais e a repercussão dos salários sobre os custos da força de trabalho docente; a feminização do magistério; a docência como emprego provisório e segundo salário, dentre outros [...] Como fatores favoráveis à profissionalização, destacam-se: a natureza específica do trabalho docente. (CARVALHO, 2005, p. 97).

Esta visão a respeito do professor é reforçada na importância de um

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profissional capaz de atender às necessidades de um aluno em relação a uma

situação de risco; ou de desproteção em relação aos seus direitos. Proteções estas

que devem ser assistidas pelas políticas públicas como representação de uma

cultura nacional.

4.1 A ESCOLA COMO LUGAR DO ASSISTENTE SOCIAL

O Assistente Social tem como compromisso lutar pela garantia dos

direitos e contribuir para o crescimento social, político e cultural dos sujeitos. Na

educação assume a responsabilidade de trabalhar em busca do desenvolvimento do

aluno, no processo de formação cidadã, na perspectiva da transformação sua

realidade. A escola é um espaço de ação social, pois oferece dados e referências

sobre a vida das crianças, criando uma identidade com essa instituição. Como já

afirmamos, a escola pode ser conhecida como uma agência social, no sentido de

que é um local onde as práticas sociais acontecem, e deve preparar o aluno para a

vida adulta, por meio de diversas atividades. Podemos até mesmo afirmar que uma

das tarefas mais importantes da escola é estender até o lar a atividade educativa.

Para isso deve organizar-se de tal forma que busque desenvolver elementos

positivos de comportamento e competências cognitivas de valor.

A ação do Serviço Social vem apoiar-se como agente de ligação entre o lar (a família), a sociedade e a escola para dar unidade à ação educacional, criando um conjunto de medidas de ajuda às famílias através do provimento de necessidades básicas de subsistência, de vida higiênica e sadia. (SOUZA, 2005, p.30)

Também já comentamos que os alunos, mas também os

professores, levam para a escola toda uma herança cultural, além dos sonhos e

desejos. No entanto, alunos e professores nem sempre encontram na escola um

ambiente que proporciona os seus direitos básicos. Ensino de qualidade e

aprendizagem significativa exigem uma série de elementos: desde merenda escolar

saudável e nutritiva até um edifício confortável. Sem condições ideais de trabalho,

muitos professores estão descontentes e isso acaba por prejudicar o ensino e o

aprendizado.

É inegável a importância do professo na formação das novas

gerações. Para Carvalho (2005), o professor está atuando como sujeito individual e

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coletivo, cujo saber docente - de experiência – é constituído em sua relação com o

saber científico. Enfim, a participação de professores na pesquisa de sua própria

prática tem sido especialmente valorizada nos últimos anos, o que significa que o

professor tem ganho o vez e voz, exercendo o papel de ator coletivo social na

transformação do cotidiano escolar. No entanto, isso ainda está longe do ideal, pois

a realidade é contraditória e, muitas vezes, o professor não ocupa um lugar e nem o

não-lugar, mas o que chamamos de entre lugares.

Analisar os lugares, os não-lugares e os entrelugares dos professores dos/nos processos de formação continuada implica dar voz aos professores, buscando o sistema de signos que, engendrado nas relações de mercado, de saber e poder, em sua materialidade discursiva, constitui as suas representações. (CARVALHO, 2005, p. 98)

A linguagem é o referencial de discurso social. Uma destas marcas

discursivas no ambiente escolar é a literatura, que representa a visão de mundo do

homem em seu lugar.

Uma literatura diz o seu próprio estatuto: sendo apenas um simulacro, ela é a verdade de um mundo de prestígios condenado à morte. O “não importa quem” ou “todo mundo” é um lugar – comum, um topo filosófico. Esta personagem geral (todo o mundo e ninguém) tem como papel dizer uma relação universal das ilusórias e loucas produções escritas com a morte, lei do outro. Ele joga em cena a própria definição da literatura como mundo e do mundo como literatura. Além de não ser mais representado aí, o homem ordinário da como representação o próprio texto, no e pelo texto, e ele reconhece ainda por cima o caráter universal do lugar particular onde permanece o louco discurso de uma sabedoria sábia. (CERTEAU, 1998, p. 60)

Assim, devemos considerar que a sociedade se constitui a partir das

interações entre os sujeitos, e que essas relações são mediadas simbolicamente

pela linguagem. Paralelamente, isso torna-se um produto resultante das ações dos

indivíduos, que surge na constante troca e interpretação de símbolos, que é o

cimento que permeia a sociedade e dá coesão a ela. A escola tem um papel muito

importante nesse sentido, pois é ela a responsável, desde o início da modernidade,

pela transmissão dos elementos dessa linguagem que permeia a cultura e a

constitui. A atenção essa característica permite compreender o motivo de

professores e alunos não conseguirem encontrar um lugar na escola, transformando-

a em um não-lugar.

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Apesar de refletir a ideologia dominante, a escola e a educação, em geral, constituem-se por excelência em veículo de disseminação de conhecimentos e ideologias, e é justamente aí que Gramsci vislumbra a possibilidade de intervir. (MARTINS, 2012, p.77)

Considerando que a transmissão do conhecimento historicamente

acumulado pela humanidade e a formação da identidade de alunos e professores é

fundamental na escola, então é preciso considerar a importância da comunicação.

Aqui, entendida como um processo fundamental da espécie humana. Os seres

humanos são atores sociais, que não somente reagem a estímulos externos, mas

também produzem sentido de forma deliberada em suas práticas, para si mesmo e

para os demais seres humanos.

Sendo atores sociais dotados da capacidade de criar um espaço

pelas práticas cotidianas, os alunos e professores podem sofrer com diversos

obstáculos e condições existentes costumeiramente na escola. Cansaço, debilidades

físicas das mais diversas origens, deficiência de alimentação (falta e/ou

inadequação), dificuldades financeiras, entre outros fatores, influenciam o ensino e a

aprendizagem. Justamente aqui encontramos o lugar para o Assistente Social na

escola. Há diversas questões na escola que fogem da competência profissional dos

professores. Questões que estão relacionadas à suas vidas pessoais e profissionais,

além daqueles referentes aos alunos e suas famílias.

Assim, embora tenham ocorrido avanços na concepção do trabalho

do Assistente Social, há especificidades que se mantém presentes na perspectiva de

atuação. Houve tempo em que

O Serviço Social realizava ‘Inquéritos Sociais’ como diagnóstico da situação familiar, social e escolar dos alunos. O seu trabalho estava voltado, ainda, para revelar a personalidade do aluno aproveitando suas aptidões. Para isso, selecionavam-se os alunos que possuíam mais qualidades morais e maiores capacidades de adaptação social – “Assim sendo, a escola muito pode beneficiar-se desse auxílio, na realização da tarefa de orientar as aptidões das crianças e de reajustar as mal adaptadas, por circunstâncias estranhas, ao seu valor pessoal.” (SOUZA, 2005, p. 31)

Nesse período, os professores não compreendiam a importância do

trabalho do Assistente Social, em sua natureza e finalidade. Poucos recursos

também contribuíram para o recuo do trabalho do Serviço Social no campo da

educação. Então, nessa época, o Serviço Social na escola deveria ter como função

orientar as famílias em busca da ordem social, em nome dos valores morais da

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época. Já houve um tempo que que

[...] a evasão escolar, o fracasso, a insuficiência e a dificuldade na aprendizagem, a má conduta dos alunos interferindo nas aulas e na disciplina escolar eram questões voltadas para o Serviço Social. Entretanto, era um trabalho que poderia ser desenvolvido junto com outros serviços da escola, no sentido de contribuição sócio pedagógica. (SOUZA, 2005, p.31-32)

Com a ampliação da concepção de educação pública e com a

reafirmação de uma escola pública de qualidade e que fosse obrigatória, além de

gratuita para todos, escola pública passou a ser uma luta dos educadores

brasileiros. Dessa maneira, a função da escola foi ampliada e as preocupações

modificam-se um pouco. Temas como aqueles ligados às funções sociais da escola,

as novas teorias pedagógicas, permanência dos alunos, ensino e educação de

qualidade, cuidados com as diferenças e desigualdades sociais e culturais, além de

uma formação voltada para a cidadania crítica e plena, tornaram-se corriqueiros.

Podemos dizer que, no final dos anos 1990, ainda havia uma

contradição fundamental na educação brasileira. De um lado, houve uma quase

universalização da educação, de um outro lado, a qualidade não acompanhou a

expansão da rede escolar. A contradição entre quantidade e qualidade não foi

resolvida. Aspectos pedagógicos, culturais e sociais no interior das escolas não

permitem, mesmo nos dias de hoje, que a escola pública seja realmente igual para

todos. O conceito de qualidade é um daqueles que servem para inúmeros debates.

Ressalta-se, também, a circulação de significados muito difusos para a expressão qualidade de ensino, seja por razões ideológicas, seja pelo próprio significado que o senso comum atribui ao termo, dependendo do foco de análise pretendido: econômico, social, político, pedagógico etc. O próprio campo educacional, nos âmbitos institucional, intelectual e associativo, está longe de obter um consenso mínimo sobre os objetivos e as funções da escola pública na sociedade atual. (LIBÂNEO, 2012, p.15)

No Brasil, o Plano Decenal de Educação para Todos (1993-2003),

elaborado no Governo Itamar Franco, destinava-se à recuperação da educação

nacional. Seu conteúdo esteve presente nas políticas e diretrizes para a educação

dos governos que se seguiram. Os seguintes itens estavam presentes: a

universalização do acesso à escola, o financiamento e o repasse de recursos

financeiros, a descentralização da gestão, os Parâmetros Curriculares Nacionais, o

ensino à distância, o sistema nacional de avaliação, as políticas do livro didático, a

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Lei de Diretrizes e Bases (Lei no 9.394/96), entre outras.

Para compreender essa temática educacional e o papel dos

professores nas escolas, aqui consideradas não-lugares, devemos estar cientes que

no mundo real a escola não corresponde aos belos ideais desses documentos.

Carvalho (2005) contribui com essas reflexões sobre a realidade dos professores no

início do século XXI.

a ausência de continuidade dos programas e projetos; o baixo índice de compromisso dos professores; o fraco acompanhamento dado aos professores comprometendo os resultados, apesar de reconhecerem a riqueza do material didático de tais “pacotes”; a realidade de que tais programas e projetos chegam aos professores não por meio das escolas em si, nem pelo MEC ou SEDU (mesmo gerados em âmbito nacional e estadual), visto que os projetos e programas citados chegam aos professores por meio dos sistemas municipais de ensino etc. (CARVALHO, 2005, p.100)

Quando percebemos a importância da educação, que encontramos

nos discursos teóricos, a não se aplica à prática, compreendemos como é evidente o

descaso do poder público com a educação. Isso prejudica, em especial, o aluno, que

faz parte desse contexto e que deveria ser o beneficiário e coautor do ensino público

de qualidade no Brasil. Para entender a constituição da escola como um não-lugar

devemos estar cientes dessa diferença entre o discurso que encontramos na política

e/ou na academia e aquilo que realmente ocorre nas escolas, nas salas de aula.

Por isso, podemos considerar que a escola, assim como shopping

centers, ruas, praças, bares, lanchonetes, aeroportos, rodoviárias, residências,

centros de consumo e outros espaços de fluxo contínuo, pode ser considerada um

não-lugar que se caracteriza de linguagens e discurso próprios. Um exemplo desse

tipo de discurso:

[...] o insucesso da escola tradicional decorreria de seu modo de funcionar, pois ela está organizada com base em conteúdos livrescos, exames e provas reprovações e relações autoritárias. Busca-se, então, outro tipo de escola, abrindo espaços e tempos que venham atender às necessidades básicas de aprendizagem (reduzidas, como veremos adiante, a necessidades mínimas), tomadas como eixo do desenvolvimento humano. Nessa perspectiva, a escola se caracterizará como lugar de ações socioeducativas mais amplas, visando ao atendimento das diferenças individuais e sociais e à integração social. Com apoio em premissas pedagógicas humanitárias, concebeu-se uma escola que primasse, antes de tudo, pela consideração das diferenças psicológicas de ritmo de aprendizagem e das diferenças sociais e culturais, pela flexibilização das práticas de avaliação escolar e pelo clima de convivência – tudo em nome da intitulada educação inclusiva. (LIBÂNEO, 2012, p. 17)

Em geral, encontramos discursos que pensam a escola como um

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obstáculo do que como uma possibilidade. A desqualificação dos professores como

agentes sociais diminui a sua identificação com a escola. Por isso, mesmo se

considerarmos a importância do professor e sua expressão diante da necessidade

de formação continuada e das condições para que os processos de ensino e de

aprendizagem, como é apontado por Carvalho (2005) parece que o não-lugar

ocupado pelos professores nesse processo tem diminuído o campo de

possibilidades de mudança.

As relações entre os sujeitos nas escolas devem ser consideradas

fator fundamentais para a construção de uma nova realidade educacional em nosso

país. Nessa nova visão da escola, alunos e professores trocam experiências e vivem

em um crescimento individual e social, que deve ser motivado pela valorização da

troca, que pode ocorrer em um ciberespaço de descobertas e avanços sociais. É na

origem dessa interação social, fator preponderante para nosso estudo, onde está a

atuação do Assistente Social na escola.

A concepção de uma escola para a integração social, segundo nos parece, tem sua origem na mencionada Declaração Mundial sobre Educação para Todos, de 1990. Lido sem intenção crítica e sem a necessária contextualização, esse documento apresenta um conteúdo muito atraente, chegando a surpreender o leitor por suas intenções humanistas e democratizantes. (LIBÂNEO, 2012, p.17)

Nos documentos que tratam da educação no Brasil, podemos

encontrar princípios como esses: satisfazer as necessidades básicas de

aprendizagem de todos; universalizar o acesso à educação básica como base para

a aprendizagem e o desenvolvimento humano permanentes; concentrar a atenção

na aprendizagem necessária à sobrevivência; ampliar os meios e o raio de ação da

educação básica; d) propiciar um ambiente adequado à aprendizagem; fortalecer

alianças (autoridades públicas, professores, órgãos educacionais e demais órgãos

de governo, organizações governamentais e não governamentais, setor privado,

comunidades locais, grupos religiosos, famílias). Conforme a Declaração Mundial

sobre Educação para Todos. Mesmo que consideremos tais princípios como

desejáveis, podemos perceber alguns problemas que persistem nas escolas.

Assim, uma socialização escolar baseada sistematicamente no individualismo, na competição, na falta de solidariedade, implica uma especialização estreita do acadêmico-profissional, como um obstáculo, quase intransponível, para a percepção e a compreensão do conjunto dos

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processos sociais e produtivos. Face ao exposto, torna-se evidente que a escola da “supermodernidade”, baseada em suas figuras de excesso factual, espacial e de individualização das referências, efetiva-se intensamente na dicotomia entre os lugares e os espaços-tempos da criação e da ação política e/ou do entrelugar (espaço político e de poder) da formação continuada. (CARVALHO, 2005, p.103)

Justamente na lacuna, no lapso, entre o desejável e o real é que se

encontra o lugar do Assistente Social na escola. Por exemplo, o respeito às

diferenças pode ser um campo de atuação desse profissional. Pois que a escola

deve ser um espaço democrático, onde o conhecimento deve levar ao crescimento

dos indivíduos e das comunidades. Por isso o cuidado que devemos ter com a

individualidade e com a herança cultural que os sujeitos levam para a escola.

Mesmo que o espaço na escola seja repartido, onde cada um tem parte, uma

história de vida em conjunto, formada de valores e comportamentos.

Pensando nos campos de atuação dos Assistentes Sociais,

podemos elencar as áreas onde tais profissionais pode, trabalhar: na saúde pública;

nos hospitais; na promoção do bem-estar familiar; na proteção do menor; na atuação

que promova indivíduos e grupos com deficiência; na indústria; nos programas

governamentais de habitação; no desenvolvimento das comunidades; na seguridade

social; nos sindicatos e, é claro, na educação.

Desta forma, o lugar do Assistente Social na escola está vinculado

às garantias dos direitos dos indivíduos e das comunidades. Para que esse tipo de

prática possa ser efetivada e gerar uma identificação entre esse profissional e a

escola, ele deverá utilizar os seus instrumentos técnicos-operativos. Como

entrevistas, diagnósticos, estudos sociais, entre outros para identificar pontos a

serem melhorados no ambiente escolar. Isso levaria a uma melhora no acolhimento

às famílias, aos alunos, aos professes. Caso tenha sucesso, haverá fortalecimento

dos vínculos familiares e comunitários. Devemos lembrar, no entanto, a necessidade

de incluir essa perspectiva no Projeto Político Pedagógico da escola, de modo que

esse profissional defenda o cumprimento daquilo que foi estabelecido na LDB.

Assim, podemos perceber que a junção de seus instrumentos técnico-operativos de

trabalho, sua formação acadêmica e suas competências profissionais podem

contribuir com as seguintes ações no ambiente escolar:

- Pesquisa de natureza socioeconômica e familiar para

caracterização da população escolar;

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- Elaboração e execução de programas de orientação sócio

familiar visando prevenir a evasão escolar e melhorar o

desempenho e rendimento do aluno e sua formação para o

exercício da cidadania;

- Participação, em equipe multidisciplinar, da elaboração de

programas que visem prevenir a violência, o uso de drogas e

o alcoolismo, bem como que visem prestar esclarecimentos

e informações sobre doenças infectocontagiosas e demais

questões de saúde pública;

- Articulação dom instituições públicas, privadas, assistenciais

e organizações comunitárias locais, com vistas ao

encaminhamento de pais e alunos para atendimento de suas

necessidades;

- Realização de visitas sociais com o objetivo de ampliar o

conhecimento acerca da realidade sócio familiar do aluno, de

forma a possibilitar assisti-lo e encaminhá-lo

adequadamente;

- Elaboração e desenvolvimento de programas específicos

nas escolas onde existam classes especiais;

- Empreender e executar as demais atividades pertinentes ao

Serviço Social, previstas pelos artigos 4º e 5º da Lei 8662/93,

não especificadas acima. (CFESS, 2000)

Então, o lugar do Assistente Social na escola está vinculado ao

desenvolvimento humano da criança e do adolescente, ação que deverá ser

realizada em conjunto com os professores. A melhoria de vida dos alunos depende

de uma boa articulação desses dois profissionais.

Quando pensamos naquilo que o Estatuto da Criança e do

Adolescente apresenta em termos de proteção integral às crianças e aos jovens, o

ambiente escolar deveria contar com uma equipe multidisciplinar capaz de garantir a

o pleno desenvolvimento humano. Ora, o Serviço Social é uma profissão capaz de

fazer isso, ou seja, intervir positivamente nas escolas, conjuntamente com equipes

multidisciplinares de forma a acrescentar sua percepção à dos demais profissionais.

Para tanto, deve instrumentalizar-se de um conjunto teórico-

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metodológico, ético-político e técnico-operativo capaz de operacionalizar suas ações

de forma eficaz e, com isso, dar respostas efetivas às demandas existentes no

cotidiano da escola. Tais ações devem ser efetuadas via políticas sociais, lugar onde

os profissionais do Serviço Social devem atua, seja na formulação, implementação,

execução, monitoramento ou em sua avaliação (ENGLER; GUIRALDELLI, 2008).

Além de garantir direitos já existentes, o Assistente Social deve

participar ativamente nas lutas comunitárias por direitos ainda não garantidos. Isso

nos leva a compreender essa profissão em um sentido menos abstrato e ligado à

Política de Educação, entendida como um direito social a ser universalizado um dos

momentos deste processo de mobilização e luta social. Nesse sentido, a concepção

de educação à qual nos referíamos não está dissociada das estratégias de luta pela

ampliação e consolidação de direitos sociais e humanos. A educação deve, nessa

perspectiva, é construtora do processo de formação de autoconsciência, que deve

desvelar, denunciar e buscar a superação das desigualdades sociais que

caracterizam a sociedade brasileira (ALMEIDA, 2012)

Conforme Ribeiro (2015), a intervenção do assistente social na

escola deve ser uma atividade veiculadora de informações, que trabalha com as

consciências e com a linguagem, que é a parte fundamental das relações sociais.

Assim, as ações praticadas pelo profissional de serviço social devem ser percebidas

para além da simples resolução de problemas emergenciais, mas como elemento

capaz de fortalecer a política de educação enquanto parte da política social, que tem

como objetivo essencial garantir os direitos sociais. Esse seria, justamente o lugar

do Assistente Social na escola.

As contribuições do Assistente Social no ambiente escolar, devido

às suas particularidades profissionais, podem ser de grande valia. Martins (1999),

apresenta as seguintes atribuições para a prática do Serviço Social na escola:

[...] melhorar as condições de vida e sobrevivência das famílias e alunos; favorecer a abertura de canais de interferência dos sujeitos nos processos decisórios da escola (os conselhos de classe); ampliar o acervo de informações e conhecimentos, acerca do social na comunidade escolar; estimular a vivência e o aprendizado do processo democrático no interior da escola e com a comunidade; fortalecer as ações coletivas; efetivar pesquisas que possam contribuir com a análise da realidade social dos alunos e de suas famílias; maximizar a utilização dos recursos da comunidade; contribuir com a formação profissional de novos assistentes sociais, disponibilizando campo de estágio adequado às novas exigências do perfil profissional (MARTINS, 1999, p. 70)

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Assim, os Assistentes Sociais devem atuar de tal forma que

construam uma identidade com a escola e, simultaneamente garantam que a escola

se transforme em um lugar, um espaço onde a prática cotidiana tenha sentido. A

contribuição desses profissionais no campo da educação está relaciona àquelas

expressões da questão social que se manifesta nas escolas. Dessa forma, a

inclusão do Serviço Social no ambiente escolar deve ser uma decisão consciente e

que objetive o fortalecimento das políticas públicas.

Essa compreensão é importante, pois os outros profissionais que

atuam na escola encontram-se sobrecarregados. Atualmente, eles devem ser mais

do que professores, diretores ou da equipe pedagógica, tendo de resolver conflitos,

ouvir problemas, “apagar incêndios” cotidianos. Uma realidade que faz sobrar pouco

tempo e energia para o desempenho das reais tarefas de ensinar e gerir. Por isso é

importante garantir que a escola seja um lugar onde os diretos sejam realmente

respeitados. Especialmente se considerarmos a realidade mais comum das

comunidades pobres brasileiras.

Estes fatores são, sem dúvida, responsáveis pela fragilização dos da

escola no Brasil. As famílias não têm o devido suporte dar conta da criação de suas

crianças e jovens e acabam, muitas vezes, reproduzindo as práticas que violam os

direitos mais básicos. Como, por exemplo, o trabalho infantil, a exploração sexual, a

violência doméstica (físicas ou psicológicas), alcoolismo e conflitos no interior dos

lares (MONTEIRO, 2015).

São problemas que podem ser abarcados pelo trabalho do

Assistente Social nas escolas: baixo rendimento escolar; evasão escolar;

desinteresse pelo aprendizado; problemas com disciplina; insubordinação a qualquer

limite ou regra escolar; vulnerabilidade às drogas; atitudes e comportamentos

agressivos e violentos (CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL, 2001, p. 23).

Almeida (2005) traz uma colocação bastante pertinente para essa

abordagem do trabalho desse profissional, em relação a percepção da educação

como possibilidade de expressão da questão social.

A política educacional é, assim, expressão da própria questão social na medida em que representa o resultado das lutas sociais travadas pelo reconhecimento da educação pública como direito social. E aqui deve ser ressaltada uma das principais características da realidade brasileira: o fato de a educação não ter se constituído até o momento em um direito social efetivo e universalmente garantido, um patrimônio da sociedade civil, conforme ocorreu em vários países como etapa fundamental do processo

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de consolidação do próprio modo de produção capitalista, ou seja, como um valor social universal e como condição necessária ao desenvolvimento das forças produtivas (ALMEIDA, 2005, p.4)

Na verdade, todos os profissionais envolvidos na educação,

inclusive os Assistentes Sociais, devem compreender que a relação próxima entre

escola e a família deve existir e ser estimulada para que seja garantido o acesso aos

direitos básicos, como o direito à vida humana, que devem estar assegurados, de

acordo com o estabelecido no artigo 6º da Constituição Federal como direitos

fundamentais: “A educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a

segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência

aos desamparados” (BRASIL, 1988).

Na escola, quando defendemos que ela é um lugar da atuação do

Assistente Social, estamos evidenciando os princípios éticos fundamentais para que

os direitos fundamentais possam ser usufruídos. Dentre eles destacamos o

reconhecimento da liberdade como valor ético central, o que nos leva às demandas

políticas a ela inerentes, a autonomia, a emancipação e plena expansão e

expressão dos indivíduos sociais.

Assim, para além de ser alguém para onde se enviam os problemas,

devemos compreender que o lugar do Assistente Social na escola é caracterizado

por uma dimensão educativa. Mesmo que essa atuação represente uma

peculiaridade que se fundamenta na intervenção direta nos problemas sociais,

campo próprio do Serviço Social. A presença do Assistente Social no ambiente da

escola deve, portanto, facilitar o acesso dos alunos e das famílias (e dos professores

e funcionários, por que não?) aos serviços socioassistenciais aos quais todos têm

direito. Por meio das informações, dos encaminhamentos, da inserção e do

atendimento em programas de atendimento à família e seus sujeitos.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Destacado o ambiente escolar como um lugar de manifestação das

múltiplas expressões da questão social e, considerado o fato da formação

profissional do Assistente Social em atendimento as demandas manifestas daquelas,

é que se propôs a abordagem do lugar deste profissional junto a escola.

Não há dúvidas de que pensar que a Escola é Lugar para o

Assistente Social é um desafio com importante destaque ao fato de que este desafio

se configura em um campo de atuação a ser explorado.

É indispensável conceber que o processo de ensino e aprendizagem

não se faz pela atuação de um único profissional, mas pela atuação conjunta dos

envolvidos – pedagogos, psicopedagogos, psicólogos, assistentes sociais entre

outros. E, que este processo não compreende apenas a apreensão dos

conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, mas também se

relaciona à garantia e permanência do aluno na escola de maneira que o promova

enquanto sujeito social.

Compete ao Assistente Social nas atribuições especificas de sua

atuação trabalhar junto a família e demais serviços da rede na perspectiva do

desenvolvimento dos alunos, na medida em que seu desenvolvimento no processo

de ensino e aprendizagem – educativo, é prejudicado por fatores sociais.

É necessário destacar que as demandas cotidianas da escola e suas

salas de aula não se constituem exclusivamente de didáticas de aprendizagem das

disciplinas pedagógicas, mas se fomentam das diversas manifestações das

questões sociais a que os alunos – sujeitos em desenvolvimento, estão submetidos

nos diferentes espaços que ocupam e por onde transitam.

O território em que moram, as famílias a que fazem parte, as

condições socioeconômicas de seu núcleo familiar, as vulnerabilidades a que estão

sujeitos os alunos, todos esses são fatores a serem considerados para avaliação e

desvelar da realidade que incide sobre seu desenvolvimento.

A partir deste princípio pode-se afirmar que a formação educacional

não se dá exclusivamente em sala de aula, mas abrange “N” atividades que,

desenvolvidas pela escola, propiciará aos alunos um desenvolvimento satisfatório

enquanto sujeitos sociais.

Nessa perspectiva o profissional apto a essa atuação de forma a

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realizar a articulação estratégica de atendimento às demandas dos alunos e suas

famílias com vistas a melhoria no desempenho acadêmico do mesmo é o Assistente

Social.

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