A Escravidão urbana no Rio de Janeiro uma visão de Debret

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OFICINA

A Escravido urbana no Rio de Janeiro Uma viso a partir de Debret

Por Aline Beatriz B. Nunes Beatriz Lbano Bastos Juliana e Silva Pereira*

Rio de Janeiro, outubro de 2005

Graduao em Histria UNIRIO. Atividade realizada na disciplina Metodologia do Ensino de Histria ministrada pela Profa Keila Grinberg no 1 semestre de 2005.

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_________________________________________ Guia do Professor1. Descrio da OficinaEsta oficina busca trabalhar a escravido urbana na cidade do Rio de Janeiro, analisando a funo dos escravos na cidade, sua cultura e costumes. Como principal fonte sero utilizadas obras de Debret. Jean Baptiste Debret, pintor francs, integrou a Misso Artstica Francesa que veio ao Brasil em 1816, solicitada por D. Joo VI. Visitou e registrou aspectos de diversas cidades brasileiras, mas foi o Rio de Janeiro que mereceu destaque no conjunto de sua obra. Aquarelas desse autor sero utilizadas para que o aluno possa perceber de forma concreta os elementos presentes na escravido existente na cidade durante o sculo XIX. Algumas obras do artista sero selecionadas e apresentadas aos alunos, instigando-os a perceber as caractersticas prprias da escravido urbana. Como auxlio ser oferecido um guia de investigao que servir como agente facilitador para a anlise das figuras.

2. ObjetivosO objetivo bsico desta oficina familiarizar o aluno com a leitura de imagens, considerando-as como fonte histrica. O aluno dever perceber que as imagens dizem mais do que aparentam, podendo ser utilizadas como instrumento documental que retratam uma determinada poca. A oficina requer meticulosidade para examinar os detalhes de gravuras, levando o aluno a ser capaz de ir alm da imagem. Outro objetivo consiste em trabalhar com o aluno a capacidade de relacionar documentos escritos com documentos iconogrficos, reconhecendo as diferentes linguagens dos diversos tipos de fontes. Por fim o aluno dever ser capaz de analisar atravs das imagens os elementos especficos da escravido urbana na cidade do Rio de Janeiro, na primeira metade do sculo XIX.

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____________________________________________ Guia do Professor3. ContedosOs contedos conceituais desta oficina pem em evidncia como era a escravido na cidade do Rio de Janeiro, na primeira metade do sculo XIX, salientando a cultura e as funes dos escravos urbanos. A cultura dos escravos urbanos - Lngua e instruo - Conduta social - Roupas - Arte e instrumentos musicais - Cozinhas africanas - Canes e danas - Funerais As funes dos escravos na cidade - Carregadores e caadores - Barqueiros e marinheiros - Operrios e trabalhadores em pedreiras - Acendedores de lampio e varredores de rua - Profissionais especializados e artesos - Msicos e artistas - Vendedores ambulantes e criados - Supervisores e donos de propriedades

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____________________________________________ Guia do Professor4. EstratgiasEsta oficina poder ser introduzida indagando aos alunos se so capazes de imaginar o cotidiano da cidade do Rio de Janeiro, h duzentos anos atrs. A partir dessa discusso, o professor poder entrar no mrito da escravido urbana, analisando o papel exercido pelos escravos e sua funo social. As obras de Debret sero o agente facilitador para a realizao da proposta da oficina. O professor dever expor algumas imagens pintadas pelo artista, promovendo uma discusso em que podem ser levantadas questes como: Que tipo de vestimenta o escravo est usando? Qual o local que ele se encontra? Em que o escravo est trabalhando? Caso houver disponibilidade de recursos na escola, como material audiovisual, interessante sua utilizao, facilitando e enriquecendo o trabalho. Um guia de observao ser fornecido aos alunos, que podero estar divididos em grupos, possibilitando e facilitando a percepo dos elementos presentes nas gravuras. O professor alm de desenvolver a questo da escravido urbana, deve atentar para a importncia da arte, utilizando como exemplo Debret. Deve-se focar a Misso Francesa como um todo, a presena de outros artistas e o motivo pelo qual eles vieram ao Brasil.

5. Informaes adicionais.No Rio de Janeiro existem alguns locais passveis de visitao, que podem ser ricamente utilizados no processo de aprendizagem proposto nesta oficina. As obras de Debret podem ser encontradas em exposio no Museu Nacional de Belas Artes e no Museu Castro Maia. H locais como a Biblioteca Nacional e o Instituto Histrico e Geogrfico Brasileiro, onde a vida e obra de Debret podem ser pesquisadas, alm de possurem tambm vrias informaes sobre a Misso Artstica Francesa.

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_____________________________________________ Guia do ProfessorAlm disso, torna-se fundamental ressaltar o papel da leitura de imagens no ensino de Histria. Embora h algum tempo as imagens venham sendo encaradas como documentos, alguns historiadores continuam trabalhando na maioria das vezes com os documentos escritos, sendo este o terreno onde se sentem mais vontade. Segundo Eduardo Neiva, em seu artigo Imagem, histria e semitica1, a imagem encanto e enigma. Muito provavelmente, esse enigma constitui se no uma ameaa, ao menos uma barreira e um obstculo ao trabalho da pesquisa histrica. Portanto, conforme Maria Helena Simes Paes, no nos deve causar estranheza o fato dos professores de Histria resistirem a propor a seus alunos leituras de imagens. Apesar das imagens exigirem uma leitura particular, extremamente importante que os estudantes entrem em contato com elas e que as leiam no como ilustraes, mas como documentos.2 No se pode deixar de levar em conta as condies de produo, resgatando a imagem em sua insero social, examinando quem o autor, quais as suas vinculaes institucionais e em que situao social a produziu. Engana-se quem interpreta imagens somente partindo de uma expresso de tcnicas plsticas. Ainda que isso exista, as imagens corporificam concepes culturais coletivas. Entende-se, ento, que no se deve tomar uma gravura de Debret, sem levar em considerao as preocupaes poltico-ideolgicas do artista, suas vinculaes institucionais durante o Imprio e o contexto no qual est inserido. O sculo XIX no Brasil presencia mudanas profundas na histria das artes plsticas em relao aos sculos anteriores, cujo sentido no pode ser compreendido sem referncia chamada Misso Artstica Francesa. Jean-Baptiste Debret, pintor francs, integrou a Misso Artstica Francesa que veio ao Brasil em 1816, solicitada por D. Joo VI. O primeiro objetivo da Misso era promover o ensino artstico no pas. Visitou e registrou aspectos de diversas cidades brasileiras, mas foi o Rio de Janeiro que mereceu destaque no conjunto de sua obra.

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NEIVA, Eduardo. Imagem, histria e semitica. In: Anais do Museu Paulista, nmero 1, 1993. PAES, Maria Helena Simes. Jornal Bolando aula de Histria. Santos, GRUHBAS Projetos Educacionais. Junho/Julho, 1998.

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_____________________________________________ Guia do ProfessorDebret em suas telas retratou no apenas a paisagem, mas sobretudo a sociedade brasileira, as atividades urbanas, no esquecendo de destacar a forte presena dos escravos, enfim, usos e costumes do Brasil da poca. Como pintor oficial da Corte portuguesa e, posteriormente, do Primeiro Imprio, documentou cenas oficiais, retratando tambm a nobreza. Sua pintura reflete o tringulo cultural e poltico luso-franco-brasileiro no momento de criao do Brasil independente.

6. Bibliografia ALGRANTI, Leila Mezan. O Feitor ausente: estudos sobre a escravido urbana no Rio de Janeiro 1808-1822. Rio de Janeiro: Vozes, 1988. BELLUZZO, Ana Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes. So Paulo: Metalivros; Salvador: Fundao Emlio Odebrecht,1994. Volume 3. BURMEISTER, Hermann. Viagem ao Brasil atravs das provncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, So Paulo: EDUSP; 1980. DEBRET, Jean-Baptiste. Viagem pitoresca e histrica ao Brasil. So Paulo: Crculo do Livro, 1982. HILAIRE, Saint. Viagens pelas provncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. So Paulo: USP, Belo Horizonte: Itatiaia; 1975. KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808 1850). So Paulo: Companhia das Letras, 2000. LEITE, Jos Roberto Teixeira. Dicionrio crtico da pintura no Brasil. Rio de Janeiro: Artlivre, 1988. LOCKHART, James, SCHWARTZ, Stuart B. A Amrica Latina na poca Colonial. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2002. NAVES, Rodrigo. A Forma difcil: ensaios sobre arte brasileira. So Paulo: tica, 1996. SILVA, Marilene Rosa Nogueira da. Negro na rua: a nova face da escravido. So Paulo, Hucitec; Braslia, CNPq; 1988. SOARES, Mariza de Carvalho. Devotos da cor: identidade tnica, religiosidade e escravido no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2000. SPIX, J. B. Viagem pelo Brasil: 1817-1820. So Paulo: Melhoramentos, Braslia: Intituto Nacional do Livro; 1976. 6

RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca atravs do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, So Paulo: EDUSP; 1979. WEHLING, Arno, WEHLING, Maria Jos C. M. Formao do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. Srie Documentos Histricos. Brasil: Histrico e Geogrfico. So Paulo: Codil, sem data. Vol. 1, srie 3.

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______________________________________________________________ Guia do Aluno

1. IntroduoEstamos no incio do sculo XIX. Portugal se recusa a aceitar os desmandos de Napoleo Bonaparte e invadido pelas tropas francesas. Temendo a morte, o rei portugus Dom Joo VI, sua famlia e sua corte fogem para a colnia na Amrica: o Brasil. Ao chegar aqui, o rei se depara com uma terra extica aos olhos do homem europeu. Por isso, resolve transformar sua colnia em algo parecido com Portugal foram criadas a Biblioteca Nacional, Banco do Brasil, Jardim Botnico e foram reformadas as ruas e o ambiente urbano. Para retratar o Brasil, Dom Joo VI, em 1816, convida artistas franceses dando origem Misso Artstica Francesa, da qual fez parte Jean-Baptiste Debret. Este artista pintou muitas paisagens brasileiras, dando maior destaque ao Rio de Janeiro. Debret procurou traar um painel social da cidade. Apresenta muitos aspectos relacionados ao trabalho escravo, ora acentuando o lado mais expansivo das relaes sociais, ora expondo servios extenuantes, como os de carregadores e trabalhadores das moendas. Mostra o trabalho dos negros de ganho que percorrem as ruas da cidade, prestando vrios tipos de servios. Seus desenhos de nossa paisagem, atividades urbanas, a relao entre senhores e escravos, festas religiosas, indgenas, enfim, usos e costumes do Brasil colnia comprovam a sensibilidade do artista. A beleza da cidade do Rio de Janeiro encantava os estrangeiros que aportavam na baa de Guanabara, eles admiravam as casas caiadas de telhas vermelhas sombra das montanhas recobertas pela floresta tropical.3 Entretanto, a beleza das paisagens do Rio contrastava com o ndice elevado da populao escrava. A desvalorizao do trabalho manual, fenmeno tpico das sociedades escravistas, contribua para a manuteno do comrcio de negros escravos. Estes eram exibidos e vendidos em mercados e eram em sua maioria, crianas e adolescentes entre

KARASCH, Mary. A vida dos escravos no Rio de Janeiro 1808 1850. So Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 19.

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cinco e quinze anos totalmente alheios educao e cultura. A partir da sobreviver tornava-se objetivo dos escravos, que sob o aoite dos seus senhores vivem uns poucos anos e morrem sem sada.4 Aos escravos cariocas cabia trabalhar na agricultura e em atividades como vendas, servios e transporte, servindo assim, de bestas de carga da cidade. Eram as mquinas de seus senhores, forados a trabalhar at a exausto em atividades desprezadas pela sociedade. Agora voc ter a misso de observar algumas obras de Debret, reconhecendo aspectos caractersticos da escravido urbana no Rio de Janeiro, na primeira metade do sculo XIX.

2. Algumas informaes sobre a escravido no Rio de Janeiro2.1. Fontes primrias A utilizao de fontes primrias de grande relevncia para o estudo da Histria. Elas representam aquilo que se pensava, ordenava ou vivia-se no passado. E por isso que quando estudamos Histria, torna-se fundamental nos remetermos a riqueza de informaes encontradas nessas fontes. Por isso, apresentamos a seguir algumas fontes primrias. So elas as vises de alguns viajantes que estiveram no Brasil, na primeira metade do sculo XIX.

Durante umas duas lguas no deixamos de encontrar homens a p e a cavalo, os negros que conduziam descarregando os cargueiros que pela manh haviam levado cidade com provises, rebanhos de bois e varas de porcos, tocados por mineiros, avanavam lentamente, fazendo turbilhes de p, e a cada momento nossos ouvidos eram chocados pelo rudo confuso que faziam nas vendas os escravos confundidos aos homens livres de classe inferior. HILAIRE, Saint. Viagens pelas provncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. So Paulo: USP, Belo Horizonte: Itatiaia, 1975, p. 26.

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Idem p.70.

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Para um europeu, o espetculo chocante e quase insuportvel. Durante o dia inteiro esses miserveis, homens, mulheres, e crianas, se mantm sentados ou deitados perto das paredes desses imensos edifcios e misturados uns aos outros (...) a nica coisa que parece inquiet-los uma certa impacincia em conhecer seu destino final, por isso o aparecimento de um comprador provoca entre eles muitas vezes, exploses de alegria. RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca atravs do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia, So Paulo: EDUSP, 1979, p. 256.

H exemplos de suicdios de escravos aos quais seus senhores negaram a alforria mediante pagamento, que podiam realizar. Deve constituir um sentimento mais do que aflitivo o de ser escravo de algum, principalmente quando se dispe dos meios necessrios para adquirir a liberdade. Nesta situao, muitos escravos procuram molestar seus donos, na esperana de que estes passem a outrem que lhes d tratamento mais suave. BURMEISTER, Hermann. Viagem ao Brasil atravs das provncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, So Paulo: EDUSP, 1980, p. 72-73.

2.2. Informaes gerais

Tabela 1 A NACIONALIDADE DE ESCRAVOS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO 1832 Nmero Nmero Nmero AFRICANOS 455 Cabund 3 Macu, Mecena 2 frica Ocidental 30 Camund 26 Moambique 98 Cabo Verde 1 Cassange 21 Quelimane 13 Calabar 6 Rebollo 1 Origem Africana Mina 23 Camundongo 4 desconhecida 2 Centro-Oeste Africano 303 Quiama 2 Congo Norte 120 Songo 77 Cabinda 57 Sul de Angola 74 BRASILEIROS 61 Congo 52 Benguela 3 Cabra 5 Munjolla 11 Ganguella Crioulo 48 Angola 176 Incerto: Moanje 7 Pardo 8 Norte de Angola 99 Mohanje 120 NACIONALIDADE Ambaca 3 frica Oriental 7 DESCONHECIDA 105 Angola 39 Inhambane Total 621 Fonte: Arquivo Nacional, Cd. 388, Polcia, Imposto de Escravos, 1831-1833. Apud: KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808 1850). So Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 51.

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Tabela 2 IDADE DOS AFRICANOS IMPORTADOS PARA O RIO DE JANEIRO 1838-1852

Idade 5-9 10-14 15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-54 Total

Homens 17 89 105 85 17 6 3 3 1 327

% 5,20 27,22 32,11 25,99 5,20 1,84 0,92 0,92 0,31

Mulheres 12 41 27 14 2 4 3 3 2 108

% 11,11 37,96 25,0 12,96 1,85 3,70 2,78 2,78 1,85

Total 29 130 132 99 19 10 6 6 3 435

% 6,67 29,89 30,34 22,76 4,37 2,30 1,38 1,38 0,69

Fonte: Arquivo do Itamarati, III, Colees Especiais, 33, Comisses Mistas (trfico de Negros), Lata 4, Mao 3. Apud:

KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808 1850). So Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 69.

Os viajantes que visitaram o mercado de escravos antes de 1830 confirmam a pouca idade dos novos africanos. Embora no faam comentrios, em geral, sobre bebs ou crianas engatinhando no mercado, foram consistentes em suas observaes de crianas e adolescente.KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808 1850). So Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 68.

A concluso parece evidente, especialmente para o perodo posterior a 1830: os novos africanos vendidos no mercado do Rio eram principalmente crianas acima de cinco ou seis anos de idade e adolescentes jovens. Idem p. 70.

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Tabela 3 CAUSAS DAS MORTES DE ESCRAVOS ENTERRADOS PELA SANTA CASA DA MISERICRDIA, 1695-1839

% do Total 53,60 7,84 7,27 5,06 4,82 4,79 3,86 2,24 2,14 2,11 1,57 0,79 0,69 0,66 0,57 0,44 0,44 0,44 0,42 0,15 0,12 100,02 Fonte: Ubaldo Soares. A Escravatura na Misericrdia (Rio de Janeiro, 1958), p. 138. Apud: KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808 1850). So Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 212.

Doenas Tuberculose Pulmonar Ttano Diarria Convulses Elefantase (Filarase) Desinteria Coqueluche Hidropisia Febre Perniciosa Opilao Gastroenterite Pleurisia Gangrena Febre Gstrica Ataque Epilptico Anasarca (Edema Generalizado) Meningite Pneumonia Febre Maligna Ascite (Edema do Estmago) Suicdio Total

Nmero 2182 319 296 206 196 195 157 91 87 86 64 32 28 27 23 18 18 18 17 6 5 4071

Poucos eram os escravos que podiam esperar uma vida longa aos cuidados de senhores benevolentes.KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808 1850). So Paulo: Companhia das Letras, 2000, pg 167.

Sob o aoite deles, [senhores] os negros vivem uns poucos anos e morrem sem sada. Idem, pg 170.

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Tabela 4 ALUNOS DO RIO DE JANEIRO 1834

Cor Brancos Pardos Negros Totala

Adultos 331 35 1 367

Menores 986 152 8 1146

Total 1317 187 9 1513a

% 87,21 12,4 0,6

Taxa por 1000 72,5 47,8 3,3

Fonte: Arquivo Nacional, IJ6 169. Secretaria de Polcia da Corte. Ofcios com anexos, 3 out. 1834.

Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808 1850). So Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 296.

Exclui 33 estrangeiros. Apud: KARASCH,

Uma vez que apenas nove negros estavam matriculados em 1834, as escolas obviamente no alfabetizavam os escravos. Como podemos ento entender os escravos alfabetizados? Uma explicao que eles acompanhavam as crianas escola e aprendiam ouvindo as lies. Os que no tinham essa oportunidade talvez procurassem tutores particulares que alugavam comumente seus servios no sculo XIX.KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808 1850). So Paulo: Companhia das Letras, 2000, pg 297.

2.2. Algumas questes

1- Atravs das fontes citadas acima podemos perceber que Debret no foi o nico viajante que esteve no Brasil em busca de informaes sobre o nosso pas. Outros estudiosos tambm visitaram diversos locais, inclusive o Rio de Janeiro. Verifique nas citaes acima quem eram esses outros viajantes e quais foram os locais visitados por eles.

2- Atravs das tabelas acima podemos verificar vrias informaes sobre a escravido no Rio de Janeiro. Dessa forma, observe as tabelas e verifique alguns dados: A tabela 1 retrata a nacionalidade dos escravos pertencentes ao Rio de Janeiro no ano de 1832. Segundo ela, a maioria dos escravos localizados no Rio era proveniente de qual pas? Na tabela 2 encontramos informaes sobre a idade dos africanos importados para o Rio de Janeiro.

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- A qual perodo esta tabela se refere? - Eram importados para o Rio de Janeiro mais africanos do sexo masculino ou feminino? - Com relao aos escravos do sexo masculino, quais eram as faixas etrias que importavam maior e menor nmero de escravos? E com relao ao sexo feminino? Justifique! Na tabela 3 podemos encontrar informaes sobre as diversas causas das mortes dos escravos enterrados pela Casa da Misericrdia no Rio de Janeiro entre 1695 e 1939. - Verifique na tabela as trs principais causas das mortes dos escravos. - Observe tambm qual era a doena que menos provocava mortes. A tabela 4 retrata quem eram os alunos do Rio de Janeiro no ano de 1834. Segundo a tabela, quem mais freqentava as escolas? A presena do negro era significativa?

3. A viso dos Historiadores

Na sociedade carioca, como no resto da sociedade brasileira, a escravido imprimiu sua marca. E a partir das relaes que se estabelecem entre senhores e escravos que gira a produo e que se articulam os demais grupos sociais. A escravido no Rio de Janeiro e no resto do pas, lanou de forma definitiva suas razes profundas, contaminando toda a vida brasileira mesmo aps trs sculos de dominao. ALGRANTI, Leila Mezan. O feitor ausente: estudos sobre a escravido urbana no Rio de Janeiro 1808-1822. Rio de Janeiro: Vozes, 1988, p. 41.

O Rio de Janeiro, juntamente com Pernambuco, Maranho e Bahia, era um dos focos de penetrao de grupos africanos. As necessidades variavam, porm a mo-de-obra durante quase trs sculos e meio era a mesma. Era o negro lavrador, minerador, domstico, boiadeiro. Com o desenvolvimento das cidades, observamos estes negros sendo

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destinados a atividades bem diferenciadas das que originalmente motivaram a retirada to violenta do seu territrio. SILVA, Marilene Rosa Nogueira da. Negro na rua: a nova face da escravido. So Paulo: Hucitec, Braslia: CNPq, 1988, p. 53.

Nas proximidades do mar, nas ruas, caladas, concentram-se as melhores casas, o melhor comrcio, as igrejas mais ricas. Alguns endereos de pretos forros, entretanto, mostram que dentro dos limites da vala a cidade cresce misturando pretos e brancos, ricos e pobres num espao onde a hierarquia parece estar mais inscrita no corpo e mesmo nas casas que na distribuio do espao urbano. SOARES, Mariza de Carvalho. Devotos da cor: identidade tnica, religiosidade e escravido no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2000, p. 137.

Da perspectiva dos senhores de escravo do Rio de Janeiro, havia apenas um papel apropriado para os cativos: realizar todas as atividades manuais e servir de bestas de carga da cidade. Eles eram no somente as mquinas e os cavalos da capital comercialburocrtica, mas tambm a fonte de riqueza e do capital de seus donos. KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808 1850). So Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 259.

3.1 Algumas questes 1- A escravido marcou de forma muito intensa a vida cotidiana da Colnia brasileira. Analise esta afirmao e justifique sua resposta. 2- A partir da leitura dos trechos apresentados, responda: - como era o dia-a-dia dos escravos na cidade do Rio de Janeiro? - que tipo de servio esses escravos prestavam cidade?

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4. Imagens de Debret 5Guia de Observao: Voc dever analisar as imagens abaixo e escrever um texto observando os seguintes aspectos:

O local onde o escravo se encontra, que tipo de construes existem ao seu redor; A roupa usada pelo escravo e seus adereos; O que ele est fazendo, qual atividade est desenvolvendo; Os instrumentos que est usando; A situao que est vivenciando; Que pessoas esto por perto; Como essas pessoas esto se portando e como esto vestidas.

(...) quase todo o transporte de cargas se fazia por escravos trabalhando como carregadores. O nmero dstes era evidentemente determinado pelo pso do fardo. p. 115.Comentrios de Debret retirados de Brasil Histrico e Geogrfico. Srie Documentos Histricos. So Paulo: Codil, sem data, volume 1, srie 3.5

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Fazendo-se todo o transporte, de pessoas como de mercadorias, em carros e carruagens, a cavalo ou em lombo de burro, era, evidentemente, enorme o consumo de capim no Rio de Janeiro. (...) se utilizavam os negros de ganho no seu ofcio de carregadores. No lhes faltava trabalho, porquanto o branco considerava desprezvel mostrar-se com um pacote na mo, por menor que fsse. p. 106.

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(...) os barbeiros ambulantes, fgaros, nmades que sabiam tornar sua profisso bastante lucrativa: manejando com habilidade navalha e tesoura, consagram-se faceirice dos negros de ambos os sexos, igualmente apaixonados pela elegncia do corte de seus cabelos. Compenetrados e sagazes, vagueiam desde manh pelas praias nos pontos do desembarque pelo cais, nas ruas e praas pblicas, ou em torno das grandes oficinas, certos de encontrar fregueses entre os negros de ganho, os pedreiros, os carpinteiros, os marinheiros e as quitandeiras. p. 116.

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A pena do aoite, aplicvel a todo escravo negro culpado de falta grave: roubo, tentativa de fuga, etc., figurava no cdigo penal. O nmero de chibatadas variava de 50 at 200. E o castigo era infligido em praa pblica. p. 115.

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As lavadeiras que eram muito cuidadosas, tinham a vaidade de entregar a roupa no somente bem passada e bem arranjada dentro de uma cesta como ainda perfumada com plantas odorferas. Uma famlia rica tinha sempre negras lavadeiras e uma mucama encarregada especialmente de passar as peas finas. Mas as casas pobres, possuidoras apenas de um negro, mandavam-no lavar roupas nos chafarizes da cidade, em particular o da Carioca ou o do Campo de Santana. p. 103.

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Escravo sapateiro

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Escravo Cirurgio

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