A escuta diferente - o processo de difusão da música independente na Rádio UFSCar

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UNVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS DEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS

A escuta diferente: o processo de difuso da msica independente na Rdio UFSCar

Aluna: Nayara Araujo Benatti Orientador: Jorge Leite Junior

So Carlos 2011

UNVERSIDADE FEDERAL DE SO CARLOS DEPARTAMENTO DE CINCIAS SOCIAIS

A escuta diferente: o processo de difuso da msica independente na Rdio UFSCar

Aluna: Nayara Araujo Benatti Orientador: Jorge Leite Junior

Monografia apresentada Universidade Federal de So Carlos como requisito obteno do ttulo de bacharel em Cincias Sociais.

So Carlos 2011

Agradecimentos

Este trabalho parte da vontade de compreender o que est acontecendo com a msica, e para isso, foi fundamental as inmeras conversas e opinies de todas as pessoas que, em algum momento, cantarolam um pedao solto de uma cano qualquer.

Um abrao gigante toda equipe da Rdio UFSCar, funcionrios, estagirios, bolsistas e programadores que debateram conceitos, ideias, perspectivas, promovem festas e incentivam o cenrio musical da cidade; ao pessoal do GERCPM que me deu as bases para comear a pensar em tudo isso sempre com timas referncias; s equipes do Massa Coletiva e Aparelho Coletivo pelo trabalho dirio em promover e trazer parte da cena independente para SancaCity; aos amigos e professores da Sociais que garantem conhecimento para a vida de como ser analtico e crtico da sala de aula mesa de bar.

E famlia mais que querida que frequentou todos os eventos, ouviu diversas msicas, carregou equipamento, montou e desmontou estruturas, apoiou as crises e hoje canta junto e escuta (de forma) diferente, um beijo imenso!

RESUMO A presente pesquisa pretende investigar o papel realizado pela radiodifuso no contexto da democratizao dos meios da informao e formao, tendo a difuso e produo independente da msica como estratgias de incentivo e manuteno deste processo. A produo independente trabalhada se refere s novas formas de divulgao da msica, atendendo demandas de um pblico que procura por seguimentos musicais de acordo com seu repertrio especfico. Para estudar a capacidade destes novos processos em democratizar o acesso musica independente - e cultura independente como um todo, vista como conjunto de valores e expresses nicos para cada grupo - esta pesquisa ir estudar a Rdio UFSCar, comprometida com a disseminao da produo cultural do cenrio alternativo, a fim de estimular a integrao social e a formao de um pblico ativo e crtico atravs de sua programao.

Palavras-chave: msica independente, formao de pblico, radiodifuso, democratizao cultural

SumrioIntroduo................................................................................................................................................ 1 Parte 1. Rdio UFSCar, emissora educativa de So Carlos 1.1 Apresentao e funes de uma emissora educativa ..................................................................... 3 1.2 Pesquisa entre ouvintes .................................................................................................................. 13 I. Como voc conheceu a Rdio UFSCar? ..............................................................................................16 II. Enquanto ouvinte, voc se sente incentivado a participar da programao? .....................................17 III. Atravs da programao da emissora, se sente estimulado a pesquisar outros canais de divulgao da musica independente? ......................................................................................................21 IV. Voc frequenta os eventos produzidos pela Rdio ou por parceiros dela? Quais? .......................... 22 V. Quais programas voc geralmente escuta? ........................................................................................ 24 VI. Como voc classifica sua ateno a este programa? ........................................................................ 26 VII. Por quanto tempo costuma ouvir este programa? ........................................................................... 27 VIII. O que gostaria de ouvir: Mais durante a programao? E menos durante a programao?...........27 IX. Em relao aos apresentadores, qual sua opinio quanto diversidade de sotaques, estilos de apresentao e informalidade que a emissora prope em sua programao? ........................................ 29 X. Como voc interpreta o slogan da emissora Escute Diferente? ..................................................... 34 1.3 Pesquisa entre programadores I. Como voc conheceu a Rdio UFSCar? ............................................................................................. 39 II. Por que escolheu a Rdio para fazer seu programa? ......................................................................... 40 III. Alm do seu programa, quais outros programas da emissora costuma ouvir com frequncia? .............. 41 IV. Como divulga seu programa e de que forma costuma receber feedback de seus ouvintes?............. 41 V. Proponha maneiras de desenvolver a Rdio ...................................................................................... 43 VI. Como voc interpreta o slogan da emissora Escute Diferente? ................................................... 54 Parte 2. O que , afinal, a msica independente? 2.1 Momento Histrico .......................................................................................................................... 59 2.2 Relao com gravadoras, pirataria e rdios online ............................................................................62 2.3 Novos estdios e cauda longa ...........................................................................................................66 2.4 Difuso da Cena Independente e Polticas de fomento .................................................................... 72 2.5 Msico empreendedor e liberdade de produo ............................................................................... 84 2.6 Co-produo e amadorismo atravs do pblico ................................................................................88 2.7 Msica como arte e questo de gosto ............................................................................................... 89 2.8 Cena musical e o cover .................................................................................................................... 92 2.9 Indstria cultural e o independente ...................................................................................................95 Concluso .............................................................................................................................................. 97 Bibliografia ......................................................................................................................................... 101

Anexos Anexo 1. Apresentao da programao da Rdio UFSCar .................................................................103 Anexo 2. Questionrio aplicado entre ouvintes ....................................................................................108 Anexo 3. Questionrio aplicado entre programadores ..........................................................................109 Lista de Tabelas Tabela 1. Grade de Programao da Rdio UFSCar ..............................................................................13 Tabela2. Programas citados pelos ouvintes ........................................................................................... 24 Tabela 3. Programas citados pelos programadores .................................................................................41 Lista de Grficos Grfico 1. Como voc classifica sua ateno a este programa? ............................................................. 26 Grfico 2. Por quanto tempo costuma ouvir este programa? ................................................................. 26 Grfico 3. Demonstrao da Cauda Longa .............................................................................................6

INTRODUOEste trabalho prope a discusso sobre o papel da radiodifuso no contexto de democratizao dos meios de informao dividido em duas partes. Primeiro, analisamos as funes de uma emissora educativa como a Rdio UFSCar, pautada na difuso da msica independente e do conhecimento cientfico. Feito isto, analisamos o cenrio da msica independente, procurando compreender o que a independncia desta msica e como ela trabalhada dentro do contexto em que a emissora est inserida. Para isso, apresenta-se a atuao da Rdio UFSCar como uma rdio pblica educativa de fomento e fortalecimento na produo de contedo pelas mdias alternativas, principalmente quando se trata da msica independente, tendo como papel fundamental contribuir para a formao crtica de seus ouvintes atravs de uma produo que se diferencie das mdias padro. Alm de ser um espao de "transformao do cidado passivo em ator social ativo e consciente de seu papel na construo de uma sociedade mais justa e igualitria atravs da participao dos meios de comunicao disponveis [Lorenzon, 2009]. Dessa forma, a Rdio UFSCar deve ser um canal de entretenimento cultural que tem como pretexto ser de qualidade e excelncia, atravs de contedo que atinja diferentes nichos, experimentao e diferenciao em seu formato, oferecendo ao ouvinte uma experincia nica de comunicao ao promover uma programao diferente e dando espao para diversidade de opinies, sendo um canal complementar de informao. A Rdio editorialmente construda como um instrumento para comunicar o pblico que existe um espao de produo cultural alternativo e que ele est aberto para ser consumido, (re) produzido e modificado, passando para o ouvinte a posio tambm de agente de mudana, constituindo uma nova estrutura de produo dos meios de comunicao e de divulgao de diferentes produes culturais e estilos musicais, sendo vista como um veculo de consumo de msica independente, com suas lgicas especficas de circulao, produo e difuso, e do incentivo participao da sociedade na programao de seus meios de comunicao. E com esta proposta o estudo da Rdio UFSCar uma forma de medir a capacidade destes processos em democratizar o acesso msica de diferentes vertentes, entendendo a produo artstica como um conjunto de valores e expresses nicos para cada grupo, e sua disseminao como uma forma de estimular a formao de um pblico ativo e crtico, seja atravs da programao da emissora como tambm pelos artistas que percorrem o chamado circuito da msica independente.

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Parte 1. Rdio UFSCar, emissora educativa de So Carlos possvel que o rdio propicie aos ouvintes programas que tenham um contedo que v alm do simples entretenimento; que seja utilizado como instrumento de democratizao do saber. Cabe s rdios chamadas educativas possibilitar alternativas de programao que tenham como objetivo contribuir na formao de uma viso mais ampla da realidade social; que busque a construo da cidadania, entendendo que: cidadania a participao dos indivduos de uma determinada comunidade em busca da igualdade em todos os campos que compe a realidade humana, mediante a luta pela conquista e ampliao dos direitos civis, polticos e sociais, objetivando a posse dos bens materiais, simblicos e sociais, contrapondo-se hegemonia dominante na sociedade de classes, o que determina novos rumos para a vida da comunidade e para a prpria participao [MARTINS, 2000]

Apresentao da Rdio UFSCarA Rdio UFSCar uma emissora educativa operando em 95,3 FM na cidade de So Carlos 1 e na internet via streaming, atravs do site www.radio.ufscar.br, onde possui podcast2 da maioria de seus programas para audio online ou download gratuito. Sua concesso foi outorgada Fundao de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico da UFSCar (FAI), transmitindo oficialmente em agosto de 2007, aps alguns meses de testes e organizao do que viria a ser a emissora. No inicio de 2006 alunos e funcionrios da UFSCar sistematizaram informaes a respeito de novas formas de comunicao e como incluir a universidade neste cenrio em construo. Para isso, foi criada a Rdio UFSCar como um projeto de extenso da universidade3, sendo estabelecido que esta nova rdio seria utilizada como ferramenta para propagar as diretrizes da prpria universidade e dos caminhos que a comunicao pode seguir para se tornar um meio democrtico e compromissado com a sociedade. Esta ideia est baseada na participao da populao, permitindo livre acesso aos meios de produo e distribuio de conhecimento - o empoderamento da sociedade civil. A reflexo [para formao da emissora] aconteceu em torno de cinco temas: especificidade dos meios de comunicao1 2

Alguns locais da cidade o sinal ainda de baixa qualidade, mesmo em pontos dentro do campus da universidade Podcast um arquivo em udio, no caso, dos programas da emissora que so disponveis para download ou para escutar online 3 A cidade possui tambm a Rdio Universitria de So Carlos operando no dial 102,1FM, emissora relacionada com a USP

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educativos; objetivos para as rdios e TVs universitrias; formao de recursos humanos; espao para experimentao; e pblico almejado. [Pezzo, 2006]. Para isso, os envolvidos no processo de construo da nova rdio se dividiram em grupos de trabalho, sendo:

Grupo de Trabalho voltado para o contedo, encarregado em elaborar quais

seriam as diretrizes editoriais do novo veculo, assim como sua identidade visual e organizao de experincias piloto de produo. O grupo tambm assumiu funes administrativas para formao da emissora.

Grupo de Trabalho voltado para a tecnologia, o que motivou a utilizao de

software livre em todo seu funcionamento, em uma pesquisa que trabalhou com sistemas de transmisso, custos de implantao, sistematizao e operao. A emissora foi assim implementada como uma atividade de extenso da universidade, sendo um espao para pesquisa e prtica no campo de produo e democratizao de contedo. O projeto apresentava tambm como comit gestor representantes da Pr-Reitoria de Extenso, da Coordenadoria de Comunicao Social e do Departamento de Artes e Comunicao. Na perspectiva de extenso, vista como um dos pilares da universidade junto do ensino e da pesquisa, trabalhamos aqui com o trabalho de Sandra de Deus que analisa o desempenho das emissoras ligadas s universidades, creditando a elas espao de laboratrios para o complemento da formao e, por pertencerem a universidades federais, configuram-se, em ltima anlise, em emissoras pblicas determinadas a permitir a participao dos mais diferentes segmentos sociais e garantir o debate de ideias heterogneas. [Deus, 2003]. assim tambm apresentada a emissora em seu Projeto Editorial: As diretrizes editoriais definidas para a Rdio UFSCar tm o objetivo de garantir a independncia do veculo e a coerncia e consistncia de seu projeto. Visam tambm constituir um documento de referncia que permita o debate e acompanhamento constante pelas comunidades interna e externa Universidade, tornando a Rdio assim um meio de comunicao verdadeiramente democrtico e que atenda s expectativas e demandas da sociedade. [Projeto Editorial, 2006] A Rdio4 tambm participa do movimento de incluso digital atravs do uso de software livre e da transmisso de sua programao atravs da rdio online, sendo um meio de comunicao gratuito e de qualidade, e atuante no movimento de democratizao da comunicao no Brasil e no mundo

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Vamos tratar a Rdio UFSCar apenas como Rdio, em maiscula, no decorrer deste trabalho

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facilitando o acesso s expresses artsticas e ao conhecimento cientifico e tecnolgico e, consequentemente, contribuir para a diminuio das diferenas sociais" [idem] A emissora foi pioneira na utilizao de software livre5 em seu funcionamento, atravs do sistema de automao Rivendell6 - mantendo a emissora 24horas no ar e 100% em software livre do qual a equipe da emissora foi responsvel pela traduo e complementao de toda sua documentao (processo de instalao, configurao e administrao) alm do prprio programa, contedo que at ento era disponvel apenas em ingls. Esse processo de traduo acompanhou, e hoje se fortalece, atravs da wiki do software, listas de discusses e seu cdigo fonte aberto e disponvel para download. Com isto, a Rdio se tornou tambm plo para troca de experincias e apresentao do sistema para novas rdios, a fim de disseminar e difundir a utilizao de cdigos abertos e o desenvolvimento do Rivendell. Junto universidade, a Rdio prope a disseminao do conhecimento produzido dentro e fora do meio acadmico, estimulando a experimentao e a formao do pblico - que tambm ator na construo da programao - atravs de constante interatividade, transformando os receptores passivos em produtores e transformadores do contedo [ibidem]. Um ponto importante em seu editorial a relao de contato estabelecida entre a emissora e a comunidade atingida por ela, assim como o acompanhamento e discusso sobre suas diretrizes e realizaes. Essa questo foi colocada diversas vezes durante a pesquisa de campo produzida, tanto entre programadores quanto entre ouvintes e equipe, sempre na perspectiva de aumentar esse relacionamento e a comunicao da emissora com o pblico. Como um projeto de extenso da UFSCar, a Rdio uma forma de trazer esse objetivo associada ao ensino e pesquisa, sendo responsvel principalmente por tornar acessvel o conhecimento cientfico produzido na universidade e suas parceiras. Tem na difuso cultural seu maior projeto, cultura esta sob a perspectiva do sc. XX como sistema de significao, por meio do qual uma dada ordem social comunicada, vivida, reproduzida, transformada e estudada dentro do campo cientfico, mas com uma linguagem acessvel para os diferentes pblicos [Campomori, 2008]. E ainda cultura vista como o quarto pilar na construo de uma universidade capaz de abrigar resistncia, liberdade, cidadania e socializao e na qual coexistam excelncia acadmica e relevncia social [idem].

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Em 2011, a emissora ganhou o prmio A Rede voltado para prticas de incluso digital na categoria Desenvolvimento de Contedo Poder Pblico. Ler mais em http://www.arede.inf.br/inclusao/ Acessado em 21/11/2011 6 Para mais informaes, acessar o site http://www.rivendellaudio.org/ Acessado em 21/11/2011

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A emissora, como foi citado, uma concesso FAI como uma rdio educativa de So Carlos. Mostrou-se importante neste trabalho analisar quais so as funes de uma emissora educativa e o que a difere de uma emissora comercial, principalmente em sua relao com a comunidade local. A autora Ivete Roldo [2006] apresenta as caractersticas da constituio em relao determinao dessas funes, sua fraqueza e falta de preciso nas informaes presentes no documento, mostrando que o nmero de rdios educativas muito pequeno em relao ao nmero de emissoras existentes, e ainda que muitas delas so outorgas relacionadas a polticos que fazem uso da emissora para campanhas de seus partidos7. A mesma crtica feita por Sandra de Deus falta de um amparo legal s emissoras, o que em sua viso dificulta o trabalho conjunto e troca de experincias entre as mesmas, fazendo com que cada uma formate sua programao sem uma realizao conjunta, mesmo que entre as emissoras universitrias8. Esse isolamento apontado como um dos motivos pelo qual ocorre constantemente a reproduo do que as rdios comerciais veiculam pelas emissoras educativas e, com isso em nada contribuem para a formao de novos profissionais do jornalismo e para a transformao da universidade e da sociedade [Deus, 2007]. E tambm no incentivam a participao da comunidade na produo das emissoras, em seu contexto de disseminao de conhecimento e cidadania aos ouvintes, assim como suas funes de valorizao e preservao da memria histrica e cultural da comunidade da qual parte como defendido por Marlene Blois, emissora educativa como um espao de expresso da cultura popular em mbito local, regional e nacional [Blois, 2003]. A Rdio integrante da Associao das Rdios Pblicas do Brasil, a ARPUB9, fundada em 2004, define que a misso institucional de uma rdio pblica deve ser a de difundir, irradiar e produzir cultura, educao, cidadania, entretenimento, informao e prestao de servios, buscando atingir um pblico cada vez mais amplo da sociedade e mesmo aquelas mantidas com recursos pblicos, devem manter independncia dos poderes estatais para assim garantir sua qualidade e autonomia10. Em palestra cedida durante as comemoraes de aniversrio de trs anos da Rdio UFSCar, Orlando Guilhon, presidente da ARPUB, faz sua anlise sobre uma rdio pblica e educativa se referindo Rdio UFSCar como um canal de entretenimento que deve, como pr-requisito bsico, ser

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Neste sentido, Jos Sarney foi um dos polticos que mais obteve concesses pblicas utilizadas para campanha partidria Para saber mais, ver sobre a Rede IFES, rede de integrao entre as universidades federais do pas no campo de rdio e TV. 9 Hoje, segundo o site da ARPUB, so 46 emissoras filiadas de todo pas 10 Citaes retiradas da Carta de Princpios da ARPUB de 2004 Disponvel em: . Acesso em out. 2011

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cultural com qualidade e excelncia, atravs de contedo que atinja diferentes nichos, experimentao e diferenciao em seu formato, oferecendo ao ouvinte uma experincia nica de comunicao ao promover uma programao diferenciada, como uma alternativa s rdios que funcionam majoritariamente atravs de jab, dando espao para diversidade de opinies e sendo um canal complementar de informao. As rdios educativas, vistas como um contraponto s rdios comerciais, devem se atentar questo de seu contedo, tendo a incumbncia de resgatar e fortalecer o objetivo primeiro do rdio brasileiro, que nasceu com o intuito educativo e cultural [Roldo, 2006] sem se limitar simplesmente no entretenimento e informao sem reflexo, mas sendo direcionada formao de cidados, e no de meros consumidores dentro de um sistema mercadolgico, sendo o ouvinte um sujeito ativo dentro do processo de radiodifuso11 e dentro de um processo de transformao social, ao invs de sedimentar a realidade desigual do pas. Neste sentido, Roldo afirma que, no caso das emissoras influenciadas por polticos, fica difcil negar que o contedo de uma programao radiofnica seja o jornalismo, os programas de variedades e mesmo a programao musical, venha carregado de ideologia a servio desse ou daquele pensamento ou interesse. e neste sentido, emissoras educativas devem sempre estabelecer neutralidade poltica, mesmo em relao poltica dentro da universidade. Como a emissora foi criada no mesmo ano que de eleio dos atuais reitor e prefeito da cidade, e s teremos nova eleio no prximo ano (2012), ainda no possvel dizer qual relao poder ser estabelecida com uma nova reitoria e prefeitura - entendendo que a atual apia a emissora nesses quatro anos de existncia. Um diferencial da emissora frente s comercias, e de uma forma geral em todos os tipos de mdias de grande alcance, que a Rdio UFSCar no tem espao para propaganda, seja divulgao de lojas e empresas, propagandas polticas (com exceo dos horrios eleitorais obrigatrios) ou qualquer formato de divulgao com fins comerciais ao longo de sua programao. Todos seus intervalos so construdos com vinhetas que divulgam a programao, spots educativos como o Pr Estudo com dicas de estudos, eventos e campanhas que tenham relao com a proposta da emissora, como a Banda Larga um Direito Seu, que busca a rede banda larga gratuita para todos. Na composio da programao de uma emissora educativa, importante tambm entender que

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Radiodifuso o servio de telecomunicaes que permite a transmisso de sons (radiodifuso sonora) ou a transmisso de sons e imagens (televiso) destinada a ser direta e livremente recebida pelo pblico. segundo Decreto no 52.795, de 31 de outubro de 1963

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a grande marca que a difere de uma rdio comercial. As formas utilizadas para concretizar seus propsitos e chegar aos ouvintes vo desde as mais didticas - os cursos e sries instrucionais - at realizaes menos formais, mas no menos educativas, como o radio jornalismo, sries e spots culturais ou de utilidade pblica, selees musicais, a prestao de servios comunidade, propostas

descompromissadas de interesses comerciais e modismos fabricados. a educao aberta e continuada se realizando em linguagem coloquial e com forte apelo afetivo. [Blois, 2003]

No mesmo debate de direes para a programao de uma rdio educativa, Blois aponta a necessidade dessas emissoras em no se limitarem a ser uma rdio na comunidade, mas da comunidade, e nessa condio deve no s satisfaz-la em suas necessidades e interesses, mas, tambm, ser um meio de promov-la socialmente, procurando estabelecer relaes com as minorias e grupos especficos. Neste quesito, podemos citar os Programas Especiais Negras. O primeiro, Ns na Caixa, produzido por moradores do Cidade Aracy, bairro da periferia de So Carlos, que formam o grupo de rap Subloco Coletividade. Alm do programa que apresenta o cenrio local e nacional do rap, o grupo tambm promove aes dentro do bairro, como o Cidade Aracy - A Festa, tocam em palquinhos das universidades, j lanaram alguns clipes feitos pelos membros do grupo e colaboradores, e mantm tambm uma parceria com o Fator Acochativo, que une as bandas Aeromoas e Tenistas Russas, Malditas Ovelhas e o Subloco, projeto entre as duas bandas instrumentais da cidade com o grupo de rap, J o Vozes Negras produzido por um rapaz negro de classe mdia baixa morador do bairro Santa Felcia, com acesso precrio educao, conhecido por ser bastante cara de pau por entrevistar diversas celebridades do cenrio da msica black atravs de telefonemas e contatos que procura estabelecer para a produo do programa. Em termos de contedo, o programa tem uma tima proposta de dialogo entre o movimento negro da cidade, mas falta auxlio na construo de pautas para o programa, na diversidade musical e tcnica de apresentao, o que pode se dar devido falta de instruo para produzir contedos e utilizar determinadas ferramentas apesar do grande empenho de seu programador.12

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Ns na Caixa e Vozes

Explicaremos no decorrer do trabalho o funcionamento dos Programas Especiais, que so propostos pela comunidade

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Tambm neste sentido importante perceber a funo da rdio educativa na formao de recursos humanos [Blois, 2003], como a equipe da Rdio que conta com estagirios e bolsistas trabalhando em todas as reas (recepo, produo, jornalismo, programao musical, edio de udio e apresentao), e com papel fundamental para manuteno da emissora - hoje a edio dos programas feita quase 100% por estagirios, e a grade de programao diria (organizao de horrios e numerao dos programas que devem ir ao ar) tambm feita com o auxlio de estagirios, alm de outras funes fundamentais para manuteno da emissora no ar 24h por dia. Seria interessante um estudo especfico em relao ao trabalho que a emissora realiza na formao extracurricular de sua equipe, e um acompanhamento dos mesmos para medir at que ponto o objetivo de formao vem sendo atingido, e como esse aprendizado utilizado pelos ex-estagirios aps sua passagem pela emissora13 na construo de fato da interface entre universidade e formao de profissionais aptos a determinadas funes para o mercado de trabalho e para alm disso integrar a sociedade de forma cidad. A programao da emissora hoje dividida em dois setores: os Programas da Rdio, produzidos pela equipe da emissora, e os Programas Especiais, propostos por qualquer pessoa interessada em produzir um programa, os chamados programadores. Os Programas da Rdio em sua maioria unem o jornalismo cada um com um enfoque diferente para as pautas, como notcias gerais ou apenas de So Carlos e regio, pesquisas cientficas e aqueles focados na veiculao de msicas, tambm de diferentes estilos conforme o programa. Os Programas Especiais so ainda mais abrangentes devido ao numero de programadores, tendo do sertanejo de raiz ao independente nacional atual, produzido na cidade ou fora de So Carlos e mesmo do Brasil14. Na perspectiva de uma rdio educativa, vemos hoje na programao dois principais programas que trabalham diretamente com a interface entre escola e rdio, sendo o Ensino Bsico em Revista, produzido por professores e alunos da escola estadual Jesuino de Arruda, e a rdio novela Verdades Inventadas produzida atravs de uma parceria entre o Labi (Laboratrio Aberto de Interatividade), a Rdio UFSCar, a FAI UFSCar, com patrocnio da PETROBRAS e Ministrio da Cultura atravs do Prmio Roquette Pinto, organizado pela ARPUB. O Prmio Roquette Pinto uma homenagem ao educador Edgar Roquette-Pinto (1884 - 1954), que trabalhou com o desenvolvimento da educao no comeo do sculo XX, preocupado13

Os contratos tm durao mxima de dois anos, nos ltimos dois anos vrias pessoas, por motivos diversos, deixaram o estagio antes da concluso deste perodo 14 O Anexo 1 deste trabalho tem a grade de programao completa com apresentao de cada programa

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principalmente com a instruo do povo brasileiro por meio de programas educativos veiculados pela rdio [Costa, 2004] e criou uma rdio educativa15 vinculada Academia Brasileira de Letras, a Rdio Sociedade do Rio de Janeiro, em 1923, tendo como principal ideia a do rdio como meio de democratizar a educao e a cultura [idem]. A rdio novela Verdades Inventadas a histria do cotidiano da personagem Laura em suas chamadas experincias imaginrias em que estabelece dilogos com grandes nomes da cincia, como Einstein, Lavoisier, Darwin, Mendel entre outros estudiosos que apresentam suas pesquisas de forma didtica e simples ao longo do programa. A rdio novela possui 37 episdios, todos disponveis online16, que foram veiculados na emissora duas vezes por semana, s 8h e s 12h30, durante os meses de abril a junho, e no programa Paidia, tambm produzido pelo LAbI, toda tera-feira s 18h. Durante sua veiculao na emissora, vrios professores entraram em contato para utilizarem o programa em suas aulas, no temos dados sobre o que foi efetivamente colocado em prtica, no entanto, a receptividade e a qualidade do programa do margem para acreditarmos que ele pode ser usado como um timo meio interdisciplinar entre educao e rdio, ultrapassando os limites alcanados pela escola bsica. J o programa Ensino Bsico em Revista hoje a nica parceria da emissora diretamente com o sistema de ensino escolar. O programa conta com a participao dos alunos da escola Jesuino de Arruda17 na discusso de temas atuais dentro deste ambiente, como uso de drogas, bullying, vestibular, etc, alm de ser tambm um espao para apresentao de alunos que tocam instrumentos ou cantam. Uma das alunas que participa frequentemente do programa integrou tambm a 2 edio do Tenho uma Banda, programa voltado para incentivar as chamadas bandas de garagem ou amadores, profissionalizar seu trabalho atravs de msicas autorais apresentadas na Rdio e no festival produzido ao final da temporada do programa, com distribuio de prmios como aulas de instrumentos e gravao de cd em estdio. Como apresenta Roldo, a programao musical da emissora educativa deve ser pensada para no ser elitista, mas tambm no ser apenas uma reprodutora das msicas distribudas de forma massificada em emissoras e outros meios de comunicao. Na Rdio, importante a diversidade de estilos musicais contemplando as das mais diferentes regies, se tornando educativa tanto no contedo apresentado pelas discusses propostas pelos locutores, quanto pelas msicas veiculadas.15

Segundo Nlia Bianco, a emissora de Roquete possua uma programao educativa que era voltada para palestras cientficas e literrias, acessveis apenas para o pblico que possua recursos para adquirir o aparelho de rdio, alm da falta de qualidade na transmisso das ondas de rdio. Ver: BIANCO, Nlia R. Del. Rdio no Brasil Tendncias e perspectivas. p.185 16 No endereo http://viagensdalaura.wordpress.com/ Acessado em nov 2011 17 Escola Estadual do primeiro ao segundo grau, localizada no Bairro Vila Prado, em So Caros

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O jornalismo da Rdio tem importncia fundamental em seu Projeto Editorial quando se pensa na formao de pblico ativo e propositivo, sendo responsvel por estar sempre aproximando os processos de comunicao aos de educao, compartilhando contedo jornalstico produzido dentro dos meios acadmicos, mas tambm do saber popular, valorizando a cultura produzida por diferentes fontes de conhecimento, sem apontar hierarquia nesses saberes, e assumindo que a Rdio transmite conhecimento diversificado para ouvintes com diferentes conhecimentos e concepes [Projeto Editorial]. Alm disso, o jornalismo da Rdio responsvel pela prestao de servios de interesse pblico atravs de campanhas educativas, discusso com especialistas em diferentes temticas e propondo a participao do ouvinte para abranger novos temas. Dentro disto, a emissora possui como diferencial estar dentro de um plo universitrio de conhecimento, tendo a possibilidade de ter em suas discusses a presena de importantes pesquisadores sobre as mais variadas reas e pontos de vistas diferentes, colocando o conhecimento cientfico produzido dentro da universidade de forma atual e acessvel a todos os ouvintes. Hoje na emissora existem quatro programas pautados na transmisso de informao, sendo o Antenado, o Megafone, o Notcias UFSCar e o Rdio UFSCar Convida, programas produzidos pela equipe da emissora, e o Paracatuzum e Agora Falando Srio, sendo Programas Especiais. No campo do jornalismo e disseminao do conhecimento, o programa Rdio UFSCar Convida, produzido e apresentado pelo jornalista responsvel da emissora, entrevista professores da universidade ou pesquisadores que vem UFSCar para apresentarem o desenvolvimento de suas pesquisas. um programa voltado exclusivamente para a divulgao cientifica, e est disponvel em podcast no site da emissora. A temtica variada, abrangendo principalmente o campo das humanas, e uma forma de aumentar o dilogo entre as vrias pesquisas realizadas dentro e fora do campus. Outro espao de divulgao na programao so os spots chamados Minha Pesquisa que trazem em cerca de 1 minuto alunos falando sobre seus projetos de pesquisa. Hoje o spot no mais produzido por falta de um responsvel na equipe para gravao desse material, mas em diversas conversas pelo campus percebe-se que h uma demanda vinda dos alunos para ocuparem esse espao de divulgao, como uma forma de trocar informaes sobre as pesquisas atravs da emissora. Para que o spot volte a ser produzido necessria divulgao deste espao, para que os pesquisadores interessados entrem em contato para participarem; levar as pessoas at o estdio, mesmo que para uma visita rpida, uma forma de apresentar a estrutura fsica da emissora, incentivando a aproximao11

com a Rdio. interessante que alm dos spots na programao, estejam tambm disponveis no site links para o trabalho e contato com o pesquisador responsvel, formando uma rede de comunicao entre os envolvidos atravs da emissora. No projeto editorial da Rdio foi proposta a realizao do Conselho Editorial como um mecanismo de participao de todos os interessados em seu funcionamento, tanto na programao, quanto o uso de tecnologias, divulgao e todas as etapas de produo em que as pessoas queiram interagir. Este conselho, at a entrega deste trabalho, foi discutido apenas internamente pelos funcionrios da emissora, e nenhuma proposta ou plano de concretizao foi estabelecido de forma ampla para a comunidade ou outros membros da equipe. O que claro que h uma vontade tanto de funcionrios da Rdio quanto de programadores de que este conselho exista e seu funcionamento seja abertamente discutido, e h indcios de interesse tambm por parte da reitoria, sendo fundamental o projeto do PDI Plano de Desenvolvimento Institucional aplicado em 2011. E maro de 2011 foi realizada uma reunio geral com participao de 8 programadores especiais, os funcionrios e apenas eu de estagiria a sensao dos outros estagirios/bolsistas era de que o convite no havia se estendido para toda a equipe, o que pessoalmente tambm percebi, e algumas pessoas disseram que no poderiam ou no gostariam de participar. Ao apresentar histricos e desafios, foi focada a importncia na estruturao dos processos dentro da emissora, principalmente no que se refere relao entre programadores e seus programas irem ao ar da forma correta (horrio, edio), e todos os processos que so necessrios para que seu projeto editorial acontea na prtica. Teve bastante importncia para os programadores a relao com a comunidade universitria e socarlense, e para a direo da Rdio a articulaes atravs da ARPUB e outras redes que interligam bandas com a emissora e consolidao de seu trabalho em mbito local e nacional. Na reunio, o assunto mais discutido pelos programadores foi a divulgao da emissora pela cidade, o conhecimento que a populao tem de sua existncia e de determinados programas. Ficou claro para todos que a emissora possui baixa comunicao direta com o pblico, e foi proposta a produo de mais material publicitrio, como outdoor, busdoor, flyers, etc. Esta pesquisa se alimentou bastante da opinio dos programadores na produo dos questionrios18 que foram aplicados, e foi fundamental a comparao do andamento desta reunio com o resultado dos questionrios aplicados.

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Os anexo 2 e 3 so os questionrios utilizados para a pesquisa

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Pesquisa entre ouvintesComo forma de sistematizao das informaes para anlise da Rdio UFSCar, usamos a proposta de Susana Sanguineti, organizadora do livro Mtodos para conocer nuestras emissoras de radio - Cartografias regionales [2001]. No livro, a autora apresenta tanto mtodos quantitativos quanto qualitativos, e por isso utilizamos alguns eixos propostas na pesquisa qualitativa, e algumas informaes quantitativas que se mostraram pertinentes. Na anlise quantitativa, a Rdio UFSCar uma emissora com programao 19% de produo prpria, feita pelos funcionrios da emissora. Outros 21% se referem a programas produzidos por outras emissoras, que so parceiras atravs da ARPUB, ou produzidos em outras cidades e que so veiculados em outras emissoras, como os programas Radiola, Loaded, Orelha Extra, a Voz do Brasil. A maior parte da programao, somando 60%, so co-produes, o que na Rdio chamado de Programas Especiais, onde os proponentes produzem o contedo e apresentao, e a emissora assume a parte tcnica de gravao, edio e transmisso, como o Independncia ou Marte, Amanhecer do Serto, Corneta, etc. Segue uma lista com os programas presentes na grade de programao da emissora:

Tabela 1. Grade de Programao referente ao segundo semestre de 2011

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A programao da emissora segue o modelo mosaico, onde h programas de temticas variadas numa composio ecltica de estilos musicais e contedos pautados, como pode ser visto na apresentao de todos os programas presentes na grade da emissora, no Anexo 1. Para promover a pesquisa, foi produzido um questionrio para ouvintes e outro para programadores, envolvendo a programao, relao com a emissora, etc. Iremos apresentar as perguntas e respostas, mostrar a opinio dos ouvintes fazendo um paralelo entre o que eles apontam e o Projeto Editorial da emissora, no sentido de perceber o que est sendo realizado de seu projeto e o que est sendo demandado pelo pblico. Para iniciar essa etapa de anlise, vale apresentar a construo do questionrio e como foi sua aplicao. As perguntas foram feitas pensando nas questes que esta pesquisa aborda, como a msica independente e a relao entre ouvintes e a programao. Para aproveitar a pesquisa, foram inseridas algumas questes tcnicas que sero usadas aqui apenas como referncias, como programas mais citados e perodo de maior audincia. A aplicao do questionrio aconteceu de abril a maio, e esteve disponvel apenas online atravs do site da emissora, sendo divulgado por redes sociais, email, mailing da UFSCar, atravs da CCS - Coordenadoria de Comunicao da UFSCar, e por alguns programadores durante suas inseres ao vivo na programao. O questionrio foi divulgado tambm pelas redes sociais, principalmente Facebook e Twitter, e foi notvel a diferena de participao quando utilizamos apenas as redes sociais da Rdio, com cerca de 15 participantes em 3 semanas, enquanto que atravs da CCS19 em apenas um dia tivemos o mesmo nmero de respostas. Ao final dos dois meses, tivemos a participao de 104 ouvintes, e todas as respostas participaram da anlise que segue. Pelas respostas, foi possvel notar que a grande maioria das pessoas que responderem estavam de alguma forma vinculadas universidade - docentes, discentes ou funcionrios - e alguns outros profissionais de reas como agente de segurana penitenciaria, produtor cultural, msico, polcia militar, astrnomo, entre outros, demonstrando diversidade na ocupao dos ouvintes. Pelo fato da emissora trabalhar com software livre20, utilizamos a ferramenta Google Analyctics para verificar o sistema operacional que foi utilizado pelos usurios do site no perodo em que a

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O mailing da CCS inclui funcionrios, docentes e discentes da UFSCar, com o envio do Inforede dirio nos dias da semana, alm de jornais locais e regionais 20 H uso de software proprietrio na rea grfica e de webdesign, funes exercidas por um estagirio. Logo, diferente do que acontece na rea de edio de udio, por exemplo, no h uma pessoa apta a ensinar a utilizao de softwares livres de edio grfica, como o Gimp, um dos programas equivalentes ao PhotoShop

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pesquisa esteve aberta. A pesquisa comeou logo aps a atualizao do site, com novo template21 e os podcasts disponveis. Ao longo de dois meses, o site teve cerca de 8mil visitas, com tempo mdio de permanncia de 3min, o que demonstra que as pessoas acessam, mas no navegam pelo site. Quanto ao uso do sistema operacional, predominou o Windows, com 71,55%, o Linux com 18,28% (sistema operacional utilizado pela emissora atravs da plataforma Ubuntu) e o Macintosh com 7,59% de usurios. O pressuposto do questionrio era que os participantes de alguma forma, seja ela assdua ou no, eram ouvintes da emissora, j que participaram de forma espontnea da pesquisa. Por isso se mostrou importante saber quais deles conheciam o Projeto Editorial da Rdio UFSCar e os princpios de construo da programao da emissora. As respostas apresentaram o seguinte resultado: dentre os 104 ouvintes que participaram da pesquisa, apenas 21 afirmaram ter lido o projeto editorial da emissora. Nos programadores, todos afirmarem j terem lido o projeto. O contedo do Projeto Editorial como j foi apresentado, e sua leitura na ntegra, acredita-se, no se faz necessria todos os ouvintes. No entanto, importante que eles conheam suas principais diretrizes, para compreender inclusive a composio musical e jornalstica da emissora, e notar o elemento diferencial da mesma: no uma rdio mainstreaming22, uma emissora educativa, voltada para difuso da msica independente, do conhecimento produzido dentro e fora da universidade, buscando a democratizao deste conhecimento e do espao para que a sociedade civil faa parte da construo da programao. Tendo entendimento destas questes, os ouvintes podero ser agentes ativos dentro da programao, participando e tambm podendo cobrar da emissora a realizao de suas funes. A estratgia de comunicao da emissora, alm claro da prpria FM, utiliza seu site oficial, com divulgao de notcias e eventos da cidade, com matrias produzidas pela CCS, por jornais locais, notcias que chegam por e-mail ou so garimpados pela equipe. No site tambm existe os Discos da Semana, dois lanamentos, sendo um nacional e um internacional, do cenrio independente da msica, que recebem uma resenha postada no site e um horrio na programao em que todas as faixas dos discos so tocadas ao longo da semana. H tambm espao para divulgao dos programas que vo ao ar no dia, onde alguns poucos programadores enviam o release do programa que ser transmitido para ser postado e assim divulgar previamente a programao. Este sistema ainda no teve uma boa resposta dos programadores, apenas uma minoria produz seus releases para divulgao, o que faz com que o site21 22

Template o visual do site, como ele apresentado, como cores, disposio das informaes e sua estrutura de navegao Mainstreaming se refere produo voltada a uma maioria de consumidores, a cultura de massa

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frequentemente contenha apenas indicao do horrio e da temtica geral do programa, e no sua programao do dia, sendo ainda uma ferramenta subutilizada e que requer maior ateno dos prprios programadores. Outra forma de divulgao a utilizao de redes sociais. Hoje a emissora possui seu usurio no Orkut, rede social que est em baixa nos ltimos anos, com 855 amigos. No Facebook, a rede social em expanso nos anos de 2010 e 2011, a emissora possui uma pgina com pouco mais de 5mil curtir, e sua manuteno vem sendo feita por toda equipe com divulgao de contedo. utilizado tambm o Twitter, com 2297 seguidores, e tambm mantido por toda equipe, com semelhante contedo do Facebook23. Alguns programas tambm possuem seus prprios perfis nas redes sociais, sendo importante por divulgar o programa em si, mas tambm a continuidade dos projetos em outros momentos, como eventos promovidos pela equipe do programa. Alis, outro eixo de divulgao da emissora se d atravs da realizao de eventos por programadores ou parceiros sob a chancela apoio da Rdio, o que importante para difundir o nome da emissora para diversos pblicos e em diferentes circunstncias. Inclusive, o programa produzido pelo grupo de samba Conversa de Botequim divulga a emissora em todos seus shows, suas redes sociais e at mesmo em seu carto de visita. Aes semelhantes acontecem com grupos voltados para o pblico de rock, do sertanejo, do acordeon, e de outros programas com diferentes temticas.

I. Como voc conheceu a Rdio UFSCar? Atravs do formato de divulgao da emissora exposto aqui, perguntamos aos ouvintes e programadores como eles tomaram conhecimento da Rdio UFSCar. As respostas foram importantes tambm para demonstrar a ocupao dos participantes da pesquisa, aonde a maioria veio da UFSCar, sendo ou tendo sido aluno da universidade. Como as respostas foram bastante semelhantes, puderam ser divididas nos seguintes grupos: 1.Atravs da UFSCar, sendo alunos ou ex alunos, professores e funcionrios, e tomando conhecimento da emissora atravs de cartazes, eventos e notcias, sendo um total de 35,2% o conhecimento com algum tipo de vnculo com a UFSCar

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Nmeros referentes ao dia 17 de agosto de 2011. A linguagem amigos, curtir e seguidores se referem s pessoas que esto conectadas na rede social da Rdio, no necessariamente que acompanha seu contedo.

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2.Tivemos tambm um grande numero de ouvintes (29,6%) que a conheceram "zapeando no dial" por acaso, ao procurar uma estao no aparelho de rdio, encontrando a freqncia da emissora 3. Atravs de indicao de amigos, familiares ou professores com um total de 25% 4. Os outros foram atravs de determinados programadores, sendo citados: Orquestras do Mundo, Tenho uma Banda, Paracatuzum e Independncia ou Marte 5. E atravs de redes sociais, sendo citado o Facebook e Twitter Pelo resultado, o questionrio abrangeu muito mais o campo universitrio da UFSCar do que a cidade como um todo, o que coloca o pblico alvo da emissora, ao menos em termos de participantes desta pesquisa, como a comunidade do campus. A quantidade de pessoas que encontraram sem querer ao pesquisar as estaes no aparelho de rdio tambm se mostrou grande, o que contraria um problema tcnico vivenciado por algumas pessoas quanto dificuldade de sintonizar o dial 95,3FM com qualidade preocupao constante da equipe da emissora, promovendo reparos em cabos e conexes.

II. Enquanto ouvinte, voc se sente incentivado a participar da programao? Em caso positivo, de quais formas j participou? A prxima questo seguiu ainda a mesma proposta do vnculo que pode ser criado entre a emissora e seus ouvintes, pretendendo medir o grau de incentivo participao que a emissora oferece e indicar em quais momentos isso acontece. Para isso, foram dadas algumas indicaes de possibilidades, como atravs de pedidos de msicas, participao em programas de entrevistas, proposio de seu prprio programa. Em alguns programas ao vivo, tanto da Rdio quanto os Especiais, os ouvintes podem participar atravs das redes sociais, pois normalmente so acompanhadas pelos apresentadores 24. H tambm entrevistas feitas atravs de skype, requerendo aviso prvio para que os tcnicos de udio habilitem essas funes dentro do estdio, e tambm h participao de ouvintes via e-mail. O telefone, seja para pedido de msicas ou conversas dentro do estdio, ainda um problema na emissora, pois dificilmente os ouvintes conseguem ligar e falar ao vivo nos programas, e tambm a qualidade do som baixa, sendo incomodo ouvir a programao nesses momentos, devido a problemas tcnicos que envolvem a

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O programador Helvio Tamoio do Paracatuzum utiliza com maestria as diferentes formas de se comunicar ao vivo com os ouvintes, tendo uma agitao considervel nas redes sociais, utilizao de skype, telefonemas e entrevistas presenciais.

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torre de transmisso da emissora, que sofre com cortes de potncia devido ao sinal de outras emissoras, e tambm problemas internos que vem sendo testados, como cabos e conexes, como foi comentado. A participao dos ouvintes, segundo as respostas, se deu atravs de entrevistas, sendo citados os programas Paracatuzum, Orquestras do Mundo, Ecos de Tupac Amaro, Ganja Groove, Eu Escuto Diferente, Notcias UFSCar e Rdio UFSCar Convida. Tiveram ouvintes que participaram trazendo sua banda nos estdios da Rdio, sendo citados os programas Mofo e Tenho uma Banda - a no indicao do programa Independncia ou Marte curiosa, visto que o programa que tem maior fluxo de bandas na emissora, o que pode ser explicado devido maioria das bandas serem de outras cidades. Essa questo contou com duas percepes diferentes, algumas pessoas ressaltaram que esperavam que, tomando como exemplo uma das respostas, "a UFSCar produzisse de fato, uma rdio alternativa e diferente" e, outras que se mostraram contentes com os resultados apresentados pela emissora, parabenizando sua programao e espao para participao. Dentre as reclamaes, todos os ouvintes que disseram ter proposto programas reclamaram da falta de feedback da emissor. Foi comentado tambm sobre a falta que alguns ouvintes sentem de ter uma forma mais rpida de participao para mandar recados, lembrando que o Twitter e Facebook, segundo as respostas, no supre essa necessidade. Dentre os ouvintes que disseram no participar da emissora, as respostas foram em sua maioria por falta de interesse ou oportunidades, e afirmaes como "no penso ser to aberto assim [para participao da programao]", viso que acompanha por diversos ouvintes em outros momentos da pesquisa. Os ouvintes que participam, indicaram um grande uso de canais virtuais de comunicao e alguns comentaram que j ganharam o Kit da Rdio (sorteado no ano de 2010 pelo Eu Escuto Diferente, em programas especiais ou alguns sorteios de festas). Outros afirmaram que indicam a emissora para suas bandas conhecidas, por sentirem que h espao para essa participao. Algumas pessoas tambm ligaram a sua participao na emissora com a presena no Festival CONTATO, e um ouvinte demonstrou interesse em saber formas para poder visitar os estdios da emissora25. Dentre as sugestes, foi proposto que a participao tivesse maior interao com o apresentador ao longo da programao. Selecionamos quatro respostas que se mostraram representativas no decorrer do questionrio e o que a emissora tem feito a respeito:

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A visita na emissora gratuita e aberta, basta que o interessado entre em contato para agendamento quando um grande nmero de pessoas, como escolas.

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[Enquanto ouvinte, voc se sente incentivado a participar da programao? Em caso positivo, de quais formas j participou?] No. Sempre vai ter o lance do interesse, da amizade, do fulano que conhece beltrano, esse tipo de coisa. Os meus comentrios so cerca de participar de programas de entrevistas, programa prprio e principalmente ter seu material divulgado na rdio. Tocar ao vivo na rdio ento s com cunha, amizade de algum.

Os programas de entrevista, em especial o Rdio UFSCar Convida, exige um preparo do jornalista na produo das pautas e disponibilidade de tempo do entrevistado (j que o programa tem 1hora de durao). Devido a essas caractersticas, necessrio agendamento com antecedncia para participar do programa, atravs do contato com o jornalista responsvel. Quanto participao de bandas, h a questo de disponibilidade tanto de estdio quanto de um programa em que a proposta da banda se encaixe. A equipe em si no tem como habito convidar bandas para participarem de seus programas, o que acontece apenas em situaes especficas. J os programadores especiais tm total liberdade para convidarem msicos e bandas, sendo os programas Independncia ou Marte e Mofo os que mais usufruem dos estdios da emissora com esse intuito. Neste ponto, necessrio entrar em contato com os programadores e verificar a sua disponibilidade e relao com a temtica do programa. No incio da vida da Radio UFSCar, senti incentivada a propor uma idia de programa. Mas eu, como outras pessoas que conheo que propuseram idias para programas, nunca recebi nenhum retorno da Radio UFSCar, ento, sentese desmotivado a se envolver.

Este um gargalo, tanto na parte tcnica quanto de espao na programao. A emissora conta hoje com uma grade com cerca de 40 programas, em sua maioria com 1 hora de durao. Com exceo dos programas ao vivo, que so minoria, todos os outros exigem um tempo de gravao e edio, alm de espao dentro da grade. Na parte tcnica, h apenas um estdio de gravao, e a equipe de edio formada primordialmente por bolsistas e estagirios de 12, 20 ou 30 horas semanais. Na parte de19

programao, h um receio da direo em abrir espao para mais programas com dilogos longos e retirar espaos de playlists musicais, uma vez que a prioridade hoje na programao a musica. Ao longo desses dois anos, vrias propostas foram arquivadas ou no encaminhadas conforme seria necessrio, a maioria com pouco ou nenhum dilogo com os proponentes. Noto que essa uma preocupao da Rdio [a participao], mas pessoalmente, no teria tempo, por conta de minhas atividades, para participar das atividades e programas da Radio. Ela um caso de amizade e encontro musical para mim. Enquanto for prazerosa a ouvidos e coraes, a amizade e fidelidade continua.

importante notar que a participao pode se dar no apenas dentro da programao, com entrevistas e pedidos musicais, mas como essa resposta, um ouvinte que pode difundir a emissora em seus relacionamentos, e nesse momento da pesquisa, aproveitou para expressar sua opinio, sendo uma forma de participao. Sei que posso. Sugiro que a rdio incentive mais a que os docentes, funcionrios e grupos de pesquisa sugeriram temas de debate, notcias etc.

Essa motivao crucial para oxigenao do debate dentro da emissora. No incio do ano foi realizada uma pequena campanha para promover maior dilogo entre pesquisadores e programao, com convite para que o pblico propusesse temas ou mesmo que os professores indicassem suas pesquisas, voltados principalmente para o Rdio UFSCar Convida. O convite teve tima circulao pela mdia, como sites das universidades da cidade e de diversas reas do conhecimento. Alguns pesquisadores encaminharam e-mails com sugestes de pautas e elas foram absorvidas conforme a disponibilidade. Depois de alguns dias as sugestes diminuram, mas deixou o indicativo da necessidade e da resposta positiva que tais aes tomam dentro da emissora.

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III. Atravs da programao da emissora, se sente estimulado a pesquisar outros canais de divulgao da msica independente? Sobre o estmulo que a programao da emissora oferece para a pesquisa do cenrio da msica independente, alguns ouvintes disseram que ela no estimula na pesquisa neste sentido, ou que a programao no apresenta novas musicas e bandas, mas sim sons e temticas especficas, tendo usado como exemplo os programas Paracatuzum e o Conversa de Botequim, voltado para o samba. Outros ouvintes disseram que no reconhecem esse trabalho de divulgao da musica independente na emissora por ouvir apenas programas especficos (talvez aqui o conhecimento do projeto editorial da emissora se faa importante). Ou ainda que sim, atravs da emissora conheceu "iguarias musicais. Outros ainda disseram que j pesquisavam o cenrio independente antes de ter conhecimento da emissora, e a utiliza como mais um canal de audio, pesquisando em ferramentas disponveis na internet, como blogs, sites, redes sociais e emissoras online. De modo geral, o nmero entre os que afirmaram pesquisar outros canais de msica foi sensivelmente maior do que aqueles que no buscam outras fontes. Dentre eles, tivemos aqueles que apiam o projeto, mas no pesquisam por falta de tempo ou interesse, ou que preferem ouvir suas prprias selees musicais, e ainda aqueles que no se estimulam a pesquisar o cenrio independente, mas passaram a ter um contato inicial com essa produo atravs da Rdio. freqente no e-mail da emissora chegar perguntas querendo saber o que estava sendo tocado em determinado horrio, dizendo que adoraram, nunca tinham ouvido e gostariam de conhecer mais. Para isso, o atual site da emissora disponibiliza uma lista com as ltimas cem msicas tocadas, tendo nome da banda e da faixa veiculada26. Alguns ouvintes disseram que eventos de So Carlos, como palquinhos da Federal e do CAASO, so fontes para conhecer novas bandas, assim como a produo de outros grupos da cidade, sem determinar quais seriam eles, mas podemos citar dentro da emissora o Massa Coletiva, Aparelho Coletivo (os dois vinculados ao Circuito Fora do Eixo), o Ganja Groove, Subloco Coletivo, entre outros. Outras rdios com vnculo com instituies de ensino tambm foram apontadas como fonte de conhecimento musical, sendo citada a Rdio Eldorado, RUC (Rdio Universidade de Coimbra), Rdio

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Esse sistema foi bastante elogiado pelo pblico atravs de e-mail, mas pouco tempo depois passou a apresentar erros diariamente a partir das 21h, deixando de mostras a lista das msicas. O problema no tinha sido corrigido at a entrega desse trabalho.

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UEL, FM Tribuna de Apucarana, Rdio UNESP, Rdio USP e Rdio Verdes Mares, o que apresentou tambm uma grande diversidade entre os prprios ouvintes. Um ponto interessante das respostas, pensando na anlise da emissora, so aqueles que acreditam que a Rdio seja insuficiente no quesito pesquisa musical, por ser informal na divulgao das bandas e msicas ou que divulga um cenrio independente27 diferente daquele que o ouvinte se identifica, fazendo-o preferir pesquisar atravs de livros, amigos e internet. Dentro desse mesmo quadro, tivemos aqueles que disseram no compreender o que "esta independncia" tratada na programao da emissora. Uma resposta que exemplifica esse ouvinte: [Atravs da programao da emissora, se sente estimulado a pesquisar outros canais de divulgao da musica independente?] No. Pelo contrrio, volto a procurar canais que se dizem comerciais porque mesmo com todos os problemas e mercantilismo eles sempre tem espao para programaes de qualidade.

Voltaremos a essa questo conceitual da msica independente na segunda parte do trabalho, apresentando a relao estabelecida entre independente e qualidade. IV. Voc frequenta os eventos produzidos pela Rdio ou por parceiros dela? Quais? Continuando com a pesquisa, perguntamos tambm aos ouvintes se eles frequentam os eventos produzidos pela Rdio ou por seus parceiros, e quais seriam eles. Esta questo foi feita pensando na formao de pblico pelos produtores da cidade que tambm acompanhem o cenrio da msica independente, e foram citados eventos que possuem alguma relao com a universidade - por serem produzidos dentro do campus ou por produtores vinculados universidade, como o Festival Contato, produzido por membros da Rdio UFSCar e outros parceiros, eventos do Massa Coletiva e Aparelho Coletivo, coletivo vinculado ao Circuito Fora do Eixo de produtores culturais independentes, Arte pra Bixo, atividade dos calouros promovida pela Rdio em parceria com o DCE e a Prograd, Tenho uma Banda, parte do projeto que contempla tambm um programa na emissora, Festival de Talentos, evento realizado em comemorao aos quatro anos da UFSCar, Eventos do Contribuintes da Cultura, Eventos do SESC e Baile do Bixo promovido pelo DCE durante a calourada.

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importante frisar que esta pesquisa trabalha com o cenrio musical relacionado programao da emissora, que como veremos, tem seu alcance limitado

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Dentre as respostas, separamos algumas que exemplificam a vises apresentadas:

"Sim trabalhei nos 4 Festival Contato, fundei o massa coletiva e organizei os 3 primeiros grito rock! Porm a curadoria dos eventos sempre igual e s contempla as bandas do movimento fora do eixo! Talvez fosse interessante contemplar todos os gneros e gostos justamente por ser uma rdio dentro da UFSCar." Sim, mas por conta da pouca diversidade cultural da cidade de So Carlos. Penso que os eventos so muito parecidos e com pouca diversidade de gneros e discusses culturais. No freqento: os eventos parecem ser dirigidos comunidade de alunos.

interessante notar nas respostas, primeiramente, que o pblico no faz distino sob quais so os produtores dos eventos, como Rdio, Prefeitura ou Contribuintes, sendo mais importante nas respostas os eventos em si do que sua produo, o que na verdade muitas vezes reflexo de sua curadoria na programao, como foi criticado. Outro ponto importante explicar rapidamente o Circuito Fora do Eixo, que est interligado diretamente com a questo da msica independente na emissora O Circuito foi fundado em 2005 por coletivos independentes de MT, PR, AC e MG, e tornouse, segundo seus membros, um movimento legtimo da cultura brasileira, apostando em empreendimentos coletivos na cadeia produtiva cultural, com foco inicial na msica independente. Hoje, conta com mais de 70 coletivos e representantes em 26 Estados brasileiros, trocando tecnologias e conhecimentos cotidianamente, decidindo e trabalhando em aes conjuntas e diversas linguagens, tais como a Msica, a Economia Solidria, o Audiovisual, a Comunicao Livre, as Artes Cnicas 28. Em So Carlos existem dois coletivos do Circuito, o Massa Coletiva voltado para o audiovisual e o Aparelho Coletivo, voltado para a msica e responsvel pelas festas chamadas Noite Fora do Eixo, onde trazem bandas para So Carlos que esto em turn pelo pas atravs do Circuito.

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Informaes retiradas do site oficial http://foradoeixo.org.br/institucional Acessado em agosto 2011

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A Rdio UFSCar est ligada ao Fora do Eixo em algumas aes, principalmente o Festival CONTATO que tem o Circuito como parceiro, e em diversos momentos traz bandas que so agenciadas pelo Fora do Eixo.

V. Quais programas voc geralmente escuta? Como j foi citado, a programao da emissora se divide entre os programas da Rdio UFSCar, produzidos pela equipe da emissora, os Programas Especiais, propostos pela sociedade civil, e programas distribudos por outras emissoras que possuem sua veiculao compartilhada por vrios rdios do Brasil. Com isso, perguntamos aos ouvintes quais so os programas que eles escutam, e nas respostas tivemos tanto nome dos programas, quanto dos programadores, estilos musicais ou horrio em que o programa veiculado. Dentre os programas citados, a distribuio mostrada na tabela seguinte:

Tabela2. Programas citados pelos ouvintes

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As respostas que no indicaram o nome de um programa especfico entraram na tabela como uma categoria Outros. Nela tivemos a citao de apresentadores que, por serem responsveis por mais de um programa, no foi possvel indicar um programa especfico. Dentre eles, foi citado Marco Escrivo, Lucas Ferreira e Mauro Lussi. Nesta mesma categoria se enquadrou referncias estilos musicais, como "rock alternativo a noite", rap, blues, msica africana, classic rock e "ritmos latinos como salsa". E tambm perodos, como entre 18h e 23h, e principalmente os horrios que so normalmente de entrada e sada do trabalho, sendo 8h, 12h, 14h e 18h - sendo um momento de acesso ao rdio possivelmente durante o trnsito. Alm disso, tiveram aqueles ouvintes que deixaram vaga a especificao de um programa, tendo indicado temas, como programas de entrevistas com pesquisadores, jornalismo, e ainda aqueles que disseram ouvir vrios programas ou ouvir a emissora em horrios diversos. Segue uma breve apresentao dos programas mais citados: 1. Antenado O programa apresentado por Mauro Lussi e Joo Eduardo Justi. Configurando como um programa da Rdio, vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 8h s 10h, com noticias e seleo musical bastante diversa, indo do rock clssico musica africana de determinada regio 2. Paracatuzum Apresentado por Helvio Tamoio tem como grande diferencial ser pautado em conversas feitas por telefone ou ao vivo, tendo a musica apenas como descanso durante as 2h de programa, que vai ao ar s quartas-feiras s 17h 3. Orquestras do MundoCom pesquisa de Edison Mariano e locuo de Patrcia Verges, sem duvida o programa que possui ouvintes mais ativos na emissora, sempre comentando aps cada programa atravs do site e mandando e-mails elogiando a seleo musical, que como o nome diz, apresenta orquestras de diferentes partes do mundo e via ao ar todo domingo das 13h s 14h

3.1 Arte do Blues Apresentando por Gomide, professor do departamento de qumica da UFSCar, o programa apresenta uma grande diversidade da msica blues no mundo, e vai ao ar toda tera s 21h, com reprise no domingo s 19h Como se pode ver, no h uma relao direta estabelecida entre os programas mais citados. O Antenado veiculado no horrio de incio das aulas da UFSCar no perodo da manh e comeou a ser produzido no incio de 2010. O Orquestras tambm teve inicio em 2010, e conta claramente com25

participao de ouvintes amigos da equipe atravs de comentrios no site. O Paracatuzum voltado para dilogo, e desde meados de 2011 passou a ter duas horas de durao, aps 3 anos na emissora. O Arte do Blues tambm j est na Rdio h 3 anos, e eventualmente produz festas em casas de show da cidade.

VI. Como voc classifica sua ateno a este programa? Para os ouvintes, alm de sabermos quais os programas ouvidos, perguntamos tambm como eles classificam sua ateno a este programa, e tivemos as seguintes respostas:

Grfico 1. Como voc classifica sua ateno a este programa?

Esta questo foi assim elaborada tendo como base que ouvintes que sintonizam a emissora em determinado horrio propositalmente, so ouvintes que se interessam pelo programa em questo e organizam seu tempo para acompanh-lo. Aqueles que sintonizam na Rdio nos horrios indicados casualmente, demonstram que a programao a que ele tem acesso coincide com seu horrio disponvel, como o horrio em que est no trnsito. Essa opo foi a que teve maior resposta entre os ouvintes, com 65,4% de casualidade, e 34,6% de ouvintes que sintonizam a Rdio especialmente para ouvir o programa. A pergunta seguinte acompanha a mesma lgica, ao verificar por quanto tempo as pessoas costumam se manter sintonizadas durante o programa indicado, tendo as seguintes respostas:

Grfico 2. Por quanto tempo costuma ouvir este programa?

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Nesta questo, a grande maioria dos ouvintes mostrou que sua ateno programao est muito mais veiculada com sua disponibilidade de tempo, e no com o contedo do programa em si. Esta situao, nas perspectiva da rdio como formadora de pblico, demonstra que sua programao, de forma geral, no prende a ateno dos ouvintes e no faz parte de seu cotidiano ou mesmo hobby, sendo limitada a contribuio da programao no processo de formao de ouvintes tanto para a emissora quanto para o contedo que est sendo veiculado. VIII. O que gostaria de ouvir: Mais durante a programao? E menos durante a programao? Como se pode imaginar, uma grade contando com 42 programas29, a possibilidade de diversidade musical imensa, e a flutuao de ouvintes tambm. Como se pode ver na descrio de cada programa, h maior nmero de programas voltados para vertentes do rock, no entanto, necessrio que outros estilos sejam apresentados ao logo da programao da emissora, uma forma de cumprir seu papel em relao diversidade apresentada. Frente a isso, atravs da aplicao do questionrio com os ouvintes, foi perguntado O que gostaria de ouvir: Mais e Menos durante a programao?, no sendo especificado se trata de estilos musicais ou notcias. Dentre as opinies, uma minoria mostrou estar satisfeita com a programao, sem dar sugestes de mudana, acreditando que ela est completa ou pelo menos no caminho correto, e nesse grupo muitos frisaram que dentre os horrios em que ouve, especificando que no acompanha a emissora frequentemente, a programao est boa. Foi tambm elogiado o jornalismo que apresenta notcias com olhares diferentes. J o que se quer ouvir mais, tivemos os seguintes pedidos - mais artistas locais, sendo citado o Girafulo, Rochedo de Ouro e Quizumba - maior participao de convidados que explanem sobre questes diversas, como o Plano Nacional de Cultura - mais divulgao acadmica e cientifica, noticias sobre eventos que acontecem na cidade e regio, transmisso de esporte e maior experimentalismo nas apresentaes. - quanto musica, foi pedido que se apresentasse mais sobre histrias e curiosidades das musicas tocadas, manifestaes culturais, e inmeros estilos musicais foram citados

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Sendo que o Notcias UFSCar e Rdio UFSCar Convida so apenas com entrevistas sem veiculao de nenhuma msica, e o Paracatuzum, apesar de tocar algumas msicas, essencialmente um programa de entrevistas.

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Nas opinies do que se deseja ouvir menos, vrias pessoas disseram no saber ou no ter opinio sobre o que modificar na programao, e algumas pessoas reafirmaram que ouvem apenas no horrio de um programa especfico, por isso no conhecem toda a programao. Dentre os que opinaram, foram feitas vrias criticas sobre a quantidade de comentrios, preferindo que tivesse mais msica e menos "falao" ou debates mais interessantes, e menos conversa entre apresentadores quando o programa no tem esse fim. Repensar as entrevistas mais longas "Entrevistas muito demoradas, cuja escolha do entrevistado de gosto duvidoso (na minha opinio), aumentar a quantidade de entrevistas de cunho acadmico ou "programas com finalidades scio-educativas" um dos pilares da programao de uma educativa na viso de Roquette Pinto, como j colocamos aqui - dar mais espao para grupos excludos (sendo citado "loucos, crianas, velhos"), especiais temticos e msicas mais conhecidas do pblico, com o comentrio: "musica boa, mesmo que no seja to diferente assim"30. No campo musical, foi pedido que se tocasse menos sertanejo, menos funk ou pagode. Essas respostas so estranhas programao, visto que o estilo sertanejo tocado principalmente no programa Amanhecer no Serto com msicas antigas ou o sertanejo de raiz. O pagode e funk no tocado na emissora em nenhum programa e at hoje no foi feita nenhuma proposta de um programa especial desta temtica, e visto o perfil da direo da Rdio, tal proposta teria dificuldade em ser aceita para integrar a programao - de forma geral, o rock e suas vertentes so mais bem recebidos em relao a outros estilos. Foi pedido tambm menos msicas "alternativas" sendo na maioria no sentido de msicas muito diferentes, como psicodlicas, experimentais, ou mesmo "loucas" ou "mpb cabeudas", e ainda sempre as mesmas msicas de determinados artistas, podendo ter maior diversidade dentro do repertrio do cantor. A relao entre msica alternativa e os pedidos dos ouvintes marcou bastante a definio de alternativa como experimental. No campo da seleo musical, importante frisar que no existe na emissora o jab, taxa paga pelos msicos s emissoras de rdio para garantir a execuo de suas faixas. O jab ilegal, mas em grande parte da bibliografia tratado como um processo j institucionalizado, se no legalmente, pelo menos recorrentes dentro das emissoras. Na Rdio, apesar de no haver pagamento de jab, h uma demanda de bandas muito maior do que o absorvido pela programao, seja pela qualidade da msica no agradar os programadores da emissora, ou simplesmente pela quantidade de contedo que chega30

Na segunda parte do trabalho, sobre msica independente, falaremos sobre a questo do gosto musical

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at a emissora ser muito maior do que a capacidade que a equipe possui de processar todas as informaes para encaminh-las na programao. Existe o Cadastro de Bandas, feito atravs do site, e que por algum perodo era veiculado durante o Ba da Web, produzido por uma estagiria que ouvia todas as msicas inscritas, selecionava algumas, pesquisava sobre as bandas e colocava na programao diariamente s 16h. No entanto, com a sada desta estagiria e a qualidade que em geral era baixa dos msicos inscritos, o Cadastro de Bandas deixou de ser acompanhado. Hoje, h 240 bandas inscritas, mas no h dados do nmero de bandas que j tocaram na emissora ou de quais delas produzem msicas de qualidade no seu aspecto tcnico, independente de seu estilo musical.

IX. Em relao aos apresentadores, qual sua opinio quanto diversidade de sotaques, estilos de apresentao e informalidade que a emissora prope em sua programao? Assim como a diversidade de estilos musicais pautada na programao da emissora, o mesmo acontece com o formato de apresentao, sendo inclusive um dos pontos citados em seu Projeto Editorial: Alm disso, a Rdio deve no s estar aberta participao de estudantes, professores e funcionrios de todos os departamentos da Universidade, como tambm fomentar constantemente essa aproximao, visando assim a concretizao da to almejada relao entre as diferentes reas de conhecimento e a formao de profissionais e cidados crticos em relao aos meios de comunicao e conscientes de seus direitos e deveres relacionados liberdade de expresso. Deve ser incentivada a participao tambm de pessoas externas UFSCar, estudantes de outras instituies e membros da comunidade, participao esta novamente regida por normas e contratos que possibilitem uma relao compromissada entre a Rdio e as pessoas envolvidas em seu processo dirio de construo.

Assim, os sotaques e estilos de locuo abrangem diferentes idades, indo dos jovens de 20 anos aos senhores de at 74 anos31, das apresentaes com linguagem mais formal quando a temtica do31

O programador mais velho da emissora o David Saidel do programas Cordas e Acordeon, que respondeu pergunta sobre idade com muito bom humor aos seus 74 anos. Na idade mais jovem, desconsideramos os alunos que apresentam o Ensino Bsico por serem rotativos no programa, mas participam alunos de 12 anos em algumas edies

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programa exige, como noticirio ou programa de cultura cientfica e tecnolgica, ou ainda para nichos de pblico, como a linguagem usada por rappers ou sertanejos, e ainda sotaques, j que tem na programao alm de variedade em sotaques regionais do Brasil, ainda um locutor italiano, um africano e outro portugus. Essa diversidade, que por vezes integra informalidade no formato de apresentao e mesmo experimentalismo na forma com que se apresenta o programa, foi tambm questionada para os ouvintes durante a pesquisa, com a seguinte pergunta: Em relao aos apresentadores, qual sua opinio quanto diversidade de sotaques, estilos de apresentao e informalidade que a emissora prope em sua programao? e as respostas foram divergentes, tendo desde elogios at fortes crticas. Dentre as crticas, foi dito que h locutores sem dico para falar, excesso de erros na apresentao, brincadeiras e conversas que ocupam espao das msicas, que a informalidade por vezes parece falta de preparo dos locutores, e quantidade de pessoas falando ao longo do programa, o deixa confuso. Vrias crticas foram feitas quanto ao uso de grias, advrbios e palavras de apoio, como "a", "na verdade", e erros gramaticais ou pronncia errada de palavras. J os elogios disseram que a diversidade na apresentao tima, mostrando ser bem humorada e informal como pontos positivos, aproximando ouvinte e apresentador, e a percepo de que essa abertura diversidade facilita a participao de pessoas de fora da Rdio, como em entrevistas ou mesmo apresentao. A questo da informalidade dividiu opinies, h os que gostam e os que a acham exagerada, tendo como principal argumento de que por se tratar de uma rdio vinculada universidade, pode haver um grau de informalidade na apresentao, porm com qualidade e uso correto da linguagem, de forma coerente com a universidade a que est vinculada. Algumas respostas selecionadas sobre os locutores na percepo dos ouvintes:

Positiva: justamente isso que atrai a ateno dos ouvidos. O rdio um veculo que mais estimula o crebro (no meu humilde pensar). Enquanto ouve, cria as imagens, pensa na sequncia, no desfecho, etc... A TV apresenta tudo pronto, no dando possibilidade de criao mental.

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Acho isso bem bacana. Gosto muito da diversidade, no s de sotaques quanto de experincias (isso que o legal do nossa pas, e da cidade de So Carlos - que recebe gente de todos os lugar). A parte da informalidade tambm bem interessante, pois os ouvintes se sentem como se estivessem participando de uma roda de bate-papo. No fica uma coisa engessada.

Razovel: Depende. Quanto a diversidade - sotaques, estilos, etc. - nada contra. Fico um pouco espantada pela juventude de vrios apresentadores (pelo menos a deduo pela voz/linguagem) e pelo recurso muitas vezes excessivo de jarges e expresses de "galera" - estas me parecem parte compreensvel da estratgia de dialogo com a juventude, mas tambm abrem um perigoso flanco para banalizao lingustica . E me incomodam duas coisas: a) os erros de portugus de apresentadores (conjugao verbal, concordncias, pronncia, etc...), b) e as vezes o carter excessivamente opinativo de certas questes tratadas. Neste dois pontos me inquieta o "alcance pblico" (repercusso) uma vez que se trata de uma rdio de vnculo universitrio e seu contraponto a outras atividades da rdio de pesquisa, informao e divulgao absolutamente finas e elegantes.

"Eu gosto da informalidade e da diversidade. Por outro lado, nas entrevistas, s vezes difcil entender a escolha do entrevistado. Algumas vezes so pessoas que falam um portugus sofrvel, talvez at por falta de estudo. Eu entendo e apoio as polticas de incluso, mas uma rdio de uma IES contribuindo para a difuso de erros de portugus, isso bom? A outra questo a distribuio politicamente tendenciosa do espao para entrevistas na rdio. Eu nunca ouvi ningum que no fosse alinhado atual administrao (Prefeitura e Reitoria) sendo entrevistado. Ser que s os alinhados fazem contribuies importantes para a UFSCar ou para a cidade e por isso so entrevistados? E a diversidade, como fica?"

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A crtica feita pela primeira ouvinte sobre o uso da lngua portuguesa recorrente em vrios momentos da emissora - por e-mail, comentrios no site e dessa vez na pesquisa. J houve quem dissesse que por ser uma emissora da universidade, a locuo deveria ser mais voltada para o uso do lngua culta, no exatamente formal, mas sem os ditos jarges e grias utilizados informalmente. J houve tambm crticas pessoais contra alguns apresentadores, por seus sotaques ou vcios de linguagem. Nas duas questes, a direo da Rdio se colocou a favor dos locutores, uma vez que a programao aberta para qualquer pessoa da sociedade produzir e apresentar seu programa, e o uso da linguagem informal como uma forma de tornar a emissora mais acessvel, j que diversas vezes o contedo pode ser mais elaborado, como entrevistas com pesquisadores de assuntos bem especficos, fazendo da linguagem informal um contraponto. Essa defesa, no entanto, no explica os erros de portugus que no so uma caracterstica da informalidade ou de uso excessivo de grias e vcios de linguagem - expresses como a ou gerundismos. Quanto ao contedo, sejam as notcias, como ser noticiado o local dos radares32 na cidade, as opinies transmitidas pelos locutores ou entrevistados, tambm j foi alvo de criticas em outros momentos. De forma geral, h espao para que qualquer pessoa interessada apresente seu trabalho em diversos programas, cada um com seu formato especfico. No entanto, na grande maioria das vezes, so pessoas da equipe que procuram pautas para os programas, e no os pesquisadores que entram em contato com a emissora, fazendo com que se crie uma tendncia pela facilidade em criar pautas, por temticas que sejam conhecidas dos programadores ou que estejam em pauta por algum motivo. Nesse quesito, a posio desta pesquisa, que para promover a diversidade necessria maior participao dos interessados, assim como so os programadores especiais que ditam o estilo musical da programao de que fazem parte, so os pesquisadores e a sociedade como um todo que auxiliam na indicao de pautas, evitando o comodismo ou tendncias nas pautas produzidas pela equipe da emissora, mas tambm sendo um agente ativo dentro da programao, mais que apenas ouvinte crtico, um dos principais pilares para a concretizao do projeto da emissora - essa discusso volta importncia da existncia de um Conselho Editorial em que os caminhos para dilogos e propostas sejam mais abertos e claros a todos os interessados.32

Um ouvinte entrou em contato indignado por ser passado o local do radar como uma forma de incentivo a que motoristas respeitassem a velocidade apenas no local vigiado, enquanto em outras regies ficasse permitido dirigir em alta velocidade. Essa critica levou campanha diria do Trnsito Consciente no programa Antenado fazendo um apelo pelo transito seguro e motoristas conscientes independente do local do radar.

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Negativa: Acho pssimo. Pra mim isso o que mais deixa a desejar na rdio, locutores despreparados, linguajar chulo, informaes erradas, etc. Quase nem escuto diversidade de sotaques: no me parece representar muito bem a diversidade cultural da comunidade da UFSCar. So sotaques principalmente paulistas.

Mais uma vez essas crticas so constantes, e em alguns programas ntido o despreparo na apresentao, com informaes confusas, erradas ou pouco inusitadas, quando se pensa na proposta da programao em trazer contedo diferente. Encerro essa etapa da pesquisa com a opinio de um ouvinte que trouxe diversos pontos sobre a emissora j discutidos aqui, de forma crtica s FMs e em especial proposta da Rdio UFSCar: Tudo em exagero notado. Sugiro maior profissionalismo e busca de uma identidade prpria da emissora, e menos preocupao com esse falso discurso de que devemos estar no reino da diversidade. Respeito a manifestaes e possibilidades diversas no sinnimo de ecletismo cego. Isso burrice catica. preciso, como j disse, afirmar uma identidade singular para a rdio, que na sua singularidade revele habilidade para lidar e apresentar o diverso, e no supor que a riqueza de uma rdio est na quantidade de perspectivas distintas que ela tenta incorporar. Isso esquizofrenia, e preciso dizer basta esquizofrenia cultural, sobretudo, musical. As FMs comuns primam por exageros histricos, por submisso completa a idias de mercado de que quem no faz rudo no ouvido. Mas rudo no msica e cultura no rudo. Como fruto de uma instituio pblica e com responsabilidades sociais, e no com um mercado perverso e pobre, de tanto perseguir riquezas, a UFSCar FM no pode se submeter a parmetros empobrecedores de nossa cultura. Nossa grande e internacionalmente reconhecida MPB tacava, nos anos 60 e 80, em nossas Rdios AM, e por isso era popular. Hoje, sequer tocada em FMs, pois a lgica no levar ao ouvinte a ser tocado qualitativamente, e sim, tocar a ateno com vistas a audincias. Vocs (a nossa Rdio)33

no pode jamais ceder a tamanha grosseria e falta de respeito para com nosso povo, que em nome de nmeros, ostensivamente conduzido insensibilidade musical, esttica, cultural, tica etc. Espero haver contribudo de alguma forma para pensarem os porqus e para qus de nossa Rdio, que deve, sim, ter carter forte, ser surpreendente, refinada, inteligente. Chega de aceitao da burrice nesse pas, em nome de falsos discursos sobre cultura, socializao e modernidade. Vocs (nossa Rdio) tm obrigao de zelar pela preservao e elevao do nvel cultural de nosso povo. No os acuso de no concorrerem a isso, mas apenas sugiro ateno e bom senso em Relao aos seus objetivos nesse pas, nessa cidade. Cuidado com os discursos fceis, que s conduzem mesmice pela ditadura da mediocridade." X. Como voc interpreta o slogan da emissora Escute Diferente? Para encerrar esse reconhecimento da emissora, foram feitas questes mais especficas e conceituais, Como voc interpreta o slogan da emissora Escute Diferente?, numa procura por perceber o que se entende do slogan, se reflete na programao e proposta da emissora, tendo as seguintes respostas, que foram dividas em grupos:

O slogan relacionado programao musical: Que a rdio preza por uma programao musical desvinculada de exigncias contratuais com bandas e seus produtores, podendo veicular msicas, na maioria das vezes, que no so transmitidas pelas demais rdios. O slogan retrata claramente o propsito da emissora, de ser uma rdio educativa, que divulga a msica independente, que mostra a msica resistente ao mainstream, mas tambm sem abandon-lo, enfim, uma programao diferente, de fato. Embora, devo admitir, em alguns momentos da programao j ouvi sons diferentes at demais (risos). No meu entender trata-se da misso da rdio, difundir msicas do cenrio independente, muitas vezes no presentes nas grandes redes de radiodifuso, justamente por serem desatreladas da idia de produo da msica como um produto.34

Pra mim o grande motivo para escutar essa rdio, confesso que no gosto de tudo que ouo a, mas pelo menos descubro msicas muito boas ou, no mnimo, originais.

A primeira resposta interessante porque traz a questo de contratos com distribuidores para circulao da msica na emissora, o pagamento do jab construindo programaes com pequena diversidade no apenas de estilo, mas de faixas tocadas, j que esse sistema favorece quem paga para ser, afinal, ouvido. Na Rdio UFSCar no se tem esse tipo de relao, e o que mais tocado est relacionado a necessidades especficas, como divulgao de um evento, principalmente o Festival CONTATO, onde a programao do festival passa a fazer parte da programao da emissora. A segunda e terceira percepo so interessantes em vrios pontos: primeiro, os ouvintes aproximam a funo de rdio educativa com divulgao da msica independente, definio que no encontramos na bibliografia pesquisada, mas que foi sempre entendida como funo da Rdio UFSCar no campo de divulgao e construo de uma programao diversificada neste trabalho, sendo assumido nesse caso como uma das funes da emissora por ser educativa. O segundo ponto dos ouvintes que a programao traz msica independente como resistente ao mainstreaming, mas sem abandon-la (parafraseando o ouvinte) fazendo um contraponto direto entre o que aqui pode ser entendido como dois estilos musicais diferentes. Por vezes entendendo que o independente no atrelado uma funo direta de msica como produto, que pode ser veiculado sem causar desconforto - ou como ele mesmo diz, que s vezes a programao voltada para o independente pode ser diferente at demais, mostrando que h uma falta de hbito ou desconforto na audio de determinadas msicas, como dito pelo ultimo ouvinte citado, h msicas boas ou, no mnimo, originais. Na segunda parte deste trabalho iremos discutir sobre a questo da msica independente procurando alguns caminhos para entender esse desconforto e falta de hbito em se ouvir a msica veiculada na emissora.

Alm da msica, o contedo Interessante, remete ao lance da Musica Independente. Escutar ouvindo o contedo do som e dos programas, e no as propagandas, comerciais e musicas massificadas.

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Oua produes radiofnicas (msicas, programas em geral) com caractersticas diferentes daquelas veiculadas nas rdios comerciais e com uma diversidade de tipologias (estilos, locais de origem, finalidades). Eu o interpreto como uma nova experincia, uma nova forma de sentir msica, de entrar em contato com cultura, de adquirir conhecimento. Eu penso que esse slogan muito bonito, pois refere-se ao fato, precisamente, de no somente ouvirmos msicas, pensamentos, idias e notcias veiculados pelos "grandes meios de comunicao" nacionais e internacionais, seno tambm produes independentes, notcias "ocultas" pelas grandes cadeias "(des) informativas" e pelos jornais de grande tiragem...

"Esse slogan leva a refletir sobre trs aspectos: tanto o de se ouvir um mesmo som, porm de forma diferente, estando o fator diferenciador na pessoa que recebe o som. Por outro, para se ouvir diferente, um receptor comum precisaria de uma musicalidade que fosse diferente. Ou ento, ambos so diferentes, o que mais se aproxima da realidade, cada receptor ouvindo a sua maneira uma Rdio que produz coisas inusitadas. Imagino que vai alm do fato de escutar. Na real penso que o "escute" diferente quase um "veja" diferente, ou "pense" diferente. No fim das contas: abra sua mente. a) Penso em uma emissora que escapa da mediocridade mercantilizada da cultura; b) tambm a idia de mosaico cultural, com valorizao de mltiplos estilos musicais, c) a intercalao de fruio meramente musical com outras "tarefas" miditicas como informao, crtica, dilogo com a comunidade e diversidade cultural Quando os ouvintes fazem um paralelo entre Escute Diferente e o contedo geral da programao, a ideia de diferente ser tambm aquele que ouve, e no apenas o que se ouve, ficou muito ntida e trouxe uma caracterstica no apenas emissora, mas tambm s pessoas que se disponibilizam36

a, de fato, escutar diferente e se colocar de forma diferente. Escutar para ouvir o contedo, e no apenas para receb-los de forma passiva, como a proposta no editorial da emissora. Nesta perspectiva tambm foi criada a expectativa de que a programao t