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Nem todos os regimes militares das decadas de 1960 e 1970 foram, a principia,
anticomunistas ou antimarxistas. Os mil itares peruanas que tomaram o poder
em 1968 refletiam uma clara influencia de varias ideias tiradas do marxismo, dn tt>o ria da dependencia, dos movimentos de nacional e da teologia
da Mas essas ideias nao eram universais en tre o estamento militar
pentane e foram descartadas rapidamente quando os programas de reforma
sc depararam com dificuldades importantes. Havia ecos do reformismo militar
peru a no no governo militar de Rodriguez Lara no Equador. Esses do is governos
mili tares receberam o apoio do Partido Comunista de scu pais porque os comu-
nistas esperavam que os governos militarcs de cunho nacionalista e reformista oferecessem ao partido mais oportunidades de exercer influencia politica, es-
pecialmente movimento trabalhista, do que os governos eleitos. De fa to, no
Peru o seguidor mais fie! do governo militar foi o Partido Comunista, que s6
passou para a oposiyaO com a greve geral de 1977. No Panama, o general Torri-
jos tambem representava urn tipo de governo populista e nacionalista apoiado
pelo Partido Comunista . Porem o epis6dio mais dnistico de radicalismo militar sobreveio com o efemero governo do general Torres na Bolivia. Torres, que nao
contava com muito apoio en tre os mili tares, obteve a aprovayao da esquerda
quando expulsou o Peace Corps, nacionalizou as minas de zinco Math ilde e
clevou os salar ies dos mineiros. Mas Torres foi Ionge demais ao concordar com
os partidos e sin dicatos marxistas na de uma assembleia popular: os
mili tares niio quiseram aceita r scu sistema de "podcr dual" eo dcpuseram em
agosto de 1971. No Uruguai, o Partido Comunista, pensando que urn governo
militar seria nacionalista e reformista, niio se op6s a militar em fevere iro de 1973. Inclusive abandonou a greve geral que teve Iugar no inicio da ditadura militar, em junho de 1973, na equivoca de que poderia
negociar com os militares. Na onde o pior da repressao era supor-
tado pelos movimentos guerrilheiros peronistas e trotskistas, e onde existiam
estreitos vinculos comerciais com a URSS, as criticas do Partido Comunista ao
regime foram muito reticentes. Nao obstante, os regimes autoritarios militares, sobretudo na Argentina, no
Brasil, no Chile e no Uruguai, estavam decididos a eliminar todo movimento
politico que pudesse representar uma a sua autoridade. A esquerda
nao tinha foryas para resistir a tanta brutalidade dos militares, e os militantes
esquerdistas sofreram uma repressao que foi do exilio ao assassinate. Os sindi-
catos viram-sc reduzidos a ineficacia, os partidos politicos foram proibidos ou controlados, a imprensa e os demais meios de foram postos sob
o controle do governo e somente a Igreja gozou de uma oportunidade m uito
restrita de defender os direitos humanos basicos cont ra a repressao do Estado.
(Embora se deva dizer que na Argentina e no Uruguai a lgreja dificilmente desempenhou algum papel na defesa desses direitos.)
0 efeito final desses regimes autoritarios sabre a esquerda foi profunda. No
Cone Sui especialmente, a esquerda iniciou urn processo de cujo
resultado foi enfatizar o valor da democracia. Mais do que as de Lenin, as ideias de Gram sci e que passaram a ser o guia. A democracia deixou de ser vis ta como
urn pretexto burgues, e as deixaram de ser consideradas uma fraude.
A revoluc;:ao nicaraguense foi vista como urn ponto focal da solidariedade,
mas, diversamente de Cuba, nao como urn modelo a emular. Os movimentos
guerrilheiros ficaram desacreditados nos paises onde sua violencia tinha dado
origem a governos militares. Em alguns pafses, porem, a I uta armada prosseguiu.
Na Col6mbia, que havia escapado a onda de ditaduras militares, os comunistas das Fare continuaram a hostilizar os governos civis. No Peru, os guerrilheiros
do Sendero Luminoso criaram Na America Central, onde as
eram manipuladas fraudulentamente, os militares recorriam a repressao e os partidos civis eram fracos, e onde, esp ecialmente na Guatemala, os conflitos
raciais deram as pretensoes dos guerrilheiros de serem os representantes dos pobres, os grupos de guerrilheiros nao viam outra alternativa sen ao tentar
conquistar o poder por meio da luta armada.
A DECADA D E 1970: DERROTA NO CHILE,AVAN < (j
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internacional porque colocava uma questao de relevancia universal para a es-
querda: Seria possivel urn a transi~ao pacifica para o socialismo numa sociedade
pluralista e democnitica? As razoes do golpe de Estado que pos fim ao governo
em 1973 tern sido debatida incessantemente e as "li~oes" do Chile foram usa"
das por diferentes grupos da esquerda para justificar distintas ~~trat~gias . N_o
pr6prio Chile nao havia consenso sobre como se dev1a segUir o cammho ch-
leno para o socialismo", e, de fa to, os meios e os fins eram objeto de urn debate interminavel. Porem a pr6pria existencia de urn continuo debate interno fez
do Chile urn centro de interesse da esquerda internacional, pois nao se tratava
da imposi~ao a partir de cima de urn rlgido regime revolucionario, mas de urn
governo democratico que tentava conquistar o apoio popular princ~palmente p~lo dialogo e pela persuasao. Ademais, havia tantos paralelos entre o sistema politico chileno e 0 de alguns paises europeus que se acompanhava a experiencia para
deJa tirar alguma li~ao que se pudesse aplicar em outras partes.
No en tanto, como golpe de 1973 buscaram-se outras liyoes: o que a esquerda
internacional podia aprender com os erros da esquerda chilena? Como podia a
. esquerda de urn pais qualquer ali men tar a esperan~a de chegar ao poder diante da oposi~ao da direita nacional e internacional? 0 efeito do fracasso do gov~rno ~a Unidad Popular foi polarizar a esquerda na America Latina. Os grupos ma1s rad1
cais, como os sandinistas na Nicaragua e os grupos pr6-cubanos em outros paises,
decidiram intensificar o conflito armado. Seu argurnento era o de que o golpe
havia demonstrado que chegar ao socialismo pela via pacifica era simplesmente uma ilusao. No plano internacional, os grupos mais radicais, tais como os partidos
pr6- chin~ses, tam bern chegaram a conclusao de que o Chile demons_trava qu: a ~ia pacifica era impossivel. Segundo a extrema-esquerda, diante da oposi~ao da dimta,
dos militares e dos Estados Unidos, a revolu~ao armada era a unica esperanya de alcan~ar 0 poder. Esse argumento foi aceito inicialmente no Chile pelo MIR (Mo-
vimiento de Izquierda Revolucionaria), mas este logo foi eliminado pelo governo mill tar. 0 Partido Comunista chileno tambem preconizava a !uta armada, mas s6 veio a adotar essa politica em 1980, e mesmo en tao numa escala modesta.
Se uma resposta da esquerda ao golpe foi advogar a necessidade da violencia,
outra resposta foi diametralmente contraria: agora a esquerda devia moderar
sua politica e suas ay6es para que nao ocorressem as condi~oes que baviam
suscitado os golpes. Os revisionistas argumentavam que a esquerda devia dei
xa r de imaginar o poder exclusivamente em termos de for~a, como algo que se
devia possuir fisicamente. A esquerda devia deixar de concentrar-se nas rela~oes
de propriedade com a exclusao de outros fatores: uma simples transferencia
da propriedade para o Estado nao resolveria nada e, de fato, podia criar mais
problemas do q~e res~lve-los. Era impossivel derrotar os militares pela fors;a. u~ governo radical tmha de adquirir uma legitimidade tao generalizada que n~~ desse margem a ocorrerem as condis;oes que provocaram a interven~ao rniii~ar: a desordem social, os confli tos politicos fora das esferas parlamentar e eleltoral_- I~so significava fazer concessoes it dircita e ten tar obter
0 apoio das
c~a~ses me~Ias e estabeJecer uma rela~ao de trabalh o com os se ton~s empresa-r~ais. As ahan~as politicas cram consideradas necessarias e a democracia era VIsta como algo valioso por direito pr6prio.
, . .Este revisionismo tinha dimensoes internacionais. 0 Partido Comunista Jta!Jano chegou a conclusao de que era necessaria fi rmar urn acordo hist6rico com o.partido go~ernan te, a Democracia Crista, para evitar urn golpe como
0 do Chile; e. o part1~0. frances utilizou argumentos semelhan tes em sua alians:a como Part1do SocialJsta. 0 caso chileno tornou-se fu ndamental para
0 debate
sobre o eurocomunismo, ao inculcar nos defensores das ideias revisionis tas a necessidade de nao criar inimigos imp]adveis na direita.
. A Uniao Sovietica tentou deter o movimento rumo ao eurocomunismo tlrando conclusoes contrarias do fracasso do governo de Allende. Numa serie de artigos publicados na World Marxist Review que analisavam
0 caso do Chi-
le, a tes.e sovietica era de que "uma das condi~oes absolutas para impedir os bene.ficws revolucionarios" era que "a democracia deve servir ao povo e nao
dar h berdade de a~ao as for~as contra-revolucionarias". 0 papel primordial da classe trabalhadora nao pode ser substitufdo por uma "abordagem plural ista
que desconsidere ou atenue o papel de destaque da classe trabalhadora"J6.
Da mesma rnaneira que a revolu~ao cubana estabeleceu a pauta para a es-querda na decada de 1960 na America Latina, o fracasso do governo de Allende
~ez o me~mo para a de I :no. Todavia, enquanto a experiencia cubana teve grande mfluencia .nas lutas de hberta~ao nacional do Terceiro Mundo, as Jis:oes do Chile eram consideradas mais aplicaveis a Europa. Uma das razoes pel as quais He Ki . . nry
ssrnger VlU co~ preocupa~ao o governo da Unidade Popular foi 0
efeito que 0
seu sucesso podia ter em pafses como a Ita.Jia e a Grecia. Ao contrario de Cuba
porem, a experie~cia ch~ena terminou nurn brusco fracasso e induziu a esquerd: a fazer urna anahse critica em vez de imitar, como no caso de Cuba.
Citado ern Isabel Turreot, La Union Soviitica en America Latina: El Cnso de'" Unidad Popular Chilwa, Mexico, D. F., 1984, p. 226.
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Na America Central, cuja hist6ria politica caracterizou-se por freqilentes
e encarni~ados conflitos sociais, as tensoes aumentaram na decada de 1970 a medida que o desenvolvimento econ6mico piorava ainda mais a desigual dis-
t ribui ~ao de renda. 0 proletariado rural e urbane expandiu-se enormemente,
enquanto dim inuiam os sahi rios reais e aumentava a concentrac;:ao da terra
destinada ao cultivo. A resposta dos grupos dirigentes as reivindicac,:oes das
d~sses trabalhadora e media foi a repressao violen ta. A resposta dos grupos
oprimidos foi formar coligac;:oes revolucionarias de base ampla. As lic;:oes do Chile nao passaram despercebidas aos !ide res da FSLN na Nica-
ragua, porem muito mais importantes eram as tradic;:oes nacionalistas e revo-
lucionarias do pais c as li c,:ocs aprendidas nos longos anos de acirrado conflito
com o governo de Somoza. 0 movimento sandinista, do mesmo modo que o
FMLN em El Salvador e o movimento guerrilheiro na Guatemala, estava muito
afastado dos sectaries grupos de foco dos anos 1960. Esses movimentos eram interclassistas e suas ideias inspiravam-se em varias fontes, como a teologia da
libertac;:ao, o jacobinismo radical, va ries tipos de marxismo; e eram suficien-tementc fl exiveis para adaptar suas ideias as mudanc;:as da realidade. Somente
na Nicaragua, contudo, conseguiram tamar o poder. Ap6s uma postura a principia bastante sectaria, a FSLN acabou percebendo
que urn movimento vitorioso tinha de abranger forc;:as contradit6rias tanto nas
cidades quanta no campo. Necessitava nao s6 do apoio dos camponeses sem
terra, mas tambem do dos camponeses medics, ja que o tamanho desse grupo
e sua hostilidade diante da agr icultura capitalista em grande escala faziam com que seu apoio fosse decisive para o exito da revoluc;:ao. De m odo analogo, nas cidades ele precisava con tar com o apoio das classes medias, que tinham crescido
na decada de 1960 a ponto de compreender cerca de urn quinto da popula~ao economicamente ativa. Essa ampla coligac;:ao social significava que o programa
politico da FSLN tinha de ser popular, democratico e antiimpcrialista. A FSLN
insistia em que nao se considerasse a revoluc;:ao uma decorrencia de alguma
!6gica econ6mica ineludivel que determinaria quais eram os partidarios da
revolu~ao e quais eram seus oponentes. 0 processo revolucionario era vista, em vez disso, como urn movimento politico consciente, o fruto da opressao
exercida por Somoza mais do que a explorac;:ao sistematica por parte de uma
classe capitalista. Tradicionalmente, os movimentos insurgentes de esquerda nao assumiram
na America Central a forma de partidos pollticos, mas de frentes unidas a partir
de cima por urn comando militar e integradas por uma ampla variedade de
organizaqoes populares que nao tern necessariamente uma unidade ideol6gica
clar.a. A FSLN recebia apoio de muitos setores da sociedade, ainda que fosse
mu1to pequeno o nfunero dos que participavam no combate. Ate a ofensiva final de 1979, havia cerca de trezentos militantes divididos em tres fao;:oes.
Contudo, igual ao movimento cubano, que tambem era reduzido numerica-
~ente, a FSLN conseguiu mobilizar uma ampla oposic;:ao contra uma ditadura
un~opul~r. Contava co~ o apoio da Igreja Cat6lica. Utilizava a Iinguagem do nac10nahsmo e aprove1tava as mem6rias de Sandino. Contava tambem com
os sentimentos antinorte-americanos pr6prios de urn pais que havia sofrido
nas maos dos Estados Unidos. Segundo urn dos seus principais lfderes, Carlos Fonseca, a FSLN baseava-se no marxismo por sua analise dos problemas sociais
e sua capacidade de inspirar organiza~oes revolucionarias, mas tambem fazia uso do liberalismo por sua defesa dos direitos humanos, e do cristianismo social por sua capacidade de difundir ideias progressistas.
As condic;:oes pioraram quando, na decada de 1970, um movimento sindical
r~vitaliza~o organizou greves contra a diminui~ao dos salarios. As reduo;:oes do mvel de v1da tam bern provocaram o crescimento dos sindicatos militantes entre os trabalhadores colarinho-branco, como os professores e os profissionais da
saude. 0~ radicais cat6licos comec;:aram a organizar sindicatos de camponeses e comumdades de base, que proliferaram depois do terremoto de Managua. A crescente oposic;:ao a Somoza, que nao era menor por parte dos setores empresariais e dos Estados Unidos, e o progressive apoio aos sandinistas in-
clusive elementos conservadores da Igreja Cat6lica, culminaram na vit6ri~ da insurreic;:ao em 1979.
0 Partido Comunis ta Nicaraguense, o PCN, foi espectador desses aconteci-
mentos, enquanto continuava defendendo uma !uta padfica contra Somoza. Essa cautela receberia mais tarde fortes criticas da Uniao Sovietica, que virtualmente
descartou o PCN e preferiu estabelecer relao;:oes com o governo sandinista. Ao
contrario do que ocorreu com a revoluo;:ao cubana, os acontecimentos na Nica-
ragua fizeram com que Moscou modificasse sua postura polltica e se mostrasse
fav~r~vel a luta armada para a America Latina em vez da via pacifica para 0 socialismo. Enquanto Moscou ti.nha esperado dezesseis meses para proceder
ao reconhecimento diplomatico de Cuba, reconheceram os vitoriosos sandi-
nistas urn dia depois que estes tomaram o poder. Porem a URSS mostrou-se
cautelosa na ajuda militar e econ6mica que deu a Nicaragua_ cuja proporo;:ao com a extensao da Nicaragua era muito menor do que a concedida a Cuba. E. compreensfvel que a URSS atuasse com cautela no que se referia a contrair na
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regiao outro importante compromisso economico e militar na mesma escala
que o de Cuba. No entanto, a esquerda latina-americana nao respondeu ao triunfo da
revolw;:ao nicaragiiense da mesma maneira que havia recebido a de Cuba.
Considerava que a revoluyao nicaragtiense era uma forma particular de !uta
que tinha sentido naquele pais: nao era passive! de exportayao, pelo menos para
fora da America Central. A esquerda latina-americana estava mais consciente do
que antes de que cada pais tinha suas pr6prias tradi~oes, sua propria estrutura local de poder e seus proprios problemas especificos. Agora encarava-se com
ceticismo a ideia de que havia uma formula aplicavel universalmente, fosse a
do Komintern ou a da revoluyao cubana.
Ao mesmo tempo em que os sandinist as saiam vitoriosos em Nicaragua, o
movimento guerrilheiro em El Salvador via-se envolvido numa longa guerra de desgaste. Suas origens eram as cisoes ocorridas dentro do Partido Comunista e do
Partido Democrata Cristae no final da decada de 1960. 0 Partido Comunista
de El Salvador aferrava-se tenazmente ii. cren!Ya de que era necessaria que are-
vo!uyao passasse por varias eta pas e se recusava a apoiar a !uta armada. Acabou formando sua propria ala armada em 1980, mas entao ja havia perdido apoio
e nao era mais que uma for!Ya menor no conjunto da guerrilha. Nem mesmo
com o apoio do Partido Comunista a guerrilha p6de repetir a experiencia da
Nicaragua. A elite econ6mica de El Salvador era muito mais unida do que a
da Nicaragua, onde se havia cindido gravemente por causa das atividades.da
d inastia Somoza. Em El Salvador o exercito era uma institui!Yao mais autono-
ma do que na Nicaragua. A guerrilha salvadorenha era mais sectaria do que a
nicaragtiense. E, no caso de El Salvador, a part icipa!YaO dos Estados Unidos na
!uta contra a guerrilha foi maciya. Fossem quais fossem as razoes das diferen!Yas entre os movimentos nicara-
gtiense e salvadorenho, o certo e que sublinharam a ideia de que uma estrategia que dava bons resultados num pais nao os daria necessariamente em outro.
Ao iniciar a decada de 1980, a esquerda ainda estava absorvendo as liyoes da derrota de AlJer{de, os conflitos da AmericaCentral, o questionamento da or-
todoxia ideologica por parte dos partidos comunistas revisionistas da Europa
e a versao cada vez menos atraente do socialismo que Cuba oferecia. Se essas
liyoes eram dificeis de absorver, muito m ais o seriam para a esquerda quando,
no final da decada, aconteceu o colapso do movimento comunista na Europa
Oriental e na Uniao Sovietica.
A D~CADA DE 1980: A ESQUERDA AFOGADA EM CONFUSAO
Ate os anos 1980, a esquerda latino-americana havia-se encontrado diante
de wna economia que, apesar das desigualdades da renda, aprescntava niveis razoaveis de crescimento geral. Com a crise da divida n os anos 1980, 0 crcsci-
mento interrompeu-se bruscamente e as desigualdades da renda se acentuaram.
Nao era facil a tarefa de planejar medidas alternativas para opor aos pacotes de ajuste or todoxo que se estavam aplicando. 0 contexte politico no qual a esquerda
tinha de atuar tambem mudou quando os militares devolveram o poder aos civis em diversos paises: o Peru em 1980, a Argentina em 1983, o Brasil em 1985, o
Uruguai em 1985 e o Chile em 1990.0 contexte internacional estava mudando
de forma ainda mais espetacular, quando o sistema sovietico foi totalm ente
recha~Yado nos paises da Europ a oriental e a Uniao Sovietica embarcou numa serie de reformas radicais. Em bora na politica interna Castro continuassc sendo urn marxista-leninista a moda antiga, na politica internacional Cuba enfatizava
.as relayc5es entre Estado e Estado e questc5es amplas como a crise da divida; 0 apoio aos grupos insurretos foi reduzido de maneira drastica.
Se sempre foi dificil definir a esquerda em termos de urn programa ou urn comportamento comum, a definiylio tornou-se cada vez mais dificil na decada
de 1980. No Chile a esquerda continuava estruturada em torno de partidos e
movimentos tradicionais, mas em outros pafses era relativamente difusa, parecida
com a esquerda mexicana, que abrangia grande numero de par tidos, grupos
p~Hticos, sindicatos de trabalhadores, movimentos populares organizados e pu-bhca~oes dirigi9.as as massas que flutuavam de maneira continua tanto na forma
. como na composi~ao. Em varios paises proliferaram as organiza!Yoes das bases,
que freqtientem ente se suspeitava serem manipuladas pelos par tidos politicos.
Reivindicavam com vigor os direitos de cidadania; inspiravam-se urn pouco no
catolicismo radical; e incorporavam grupos que ate en tao nao se haviam mostrado
politicamente ativos, sobretudo as mulheres e os desempregados. Raras vezes suas reivindicayoes eram primordialmente politicas, mas quando 0 ambiente
politico nao respondia, ou mesmo se mostrava hostil, en tao a exigencia gera1 de democracia ficava vinculada inevitavelmente a seus objetivos concretos.
. Em muitos palses apareceu urn sindicalismo explicitamente classista, que
combinava a aylio militante com a hostilidade contra os particles tradicionais da
esquerda, que continuavam fieis aos pressupostos Ieninistas sobre a subordina-
~o do movimento sindical ao partido de vanguarda. Na Colf>mbia, ocorreram numerosos paros cfvicos (greves cfvicas), organizados por urn conjunto de asso-
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A partir dos anos 1970, o PCM havia enfatizado a luta pelos direitos demo-
cn1ticos: por seus pr6prios direitos como partido politico e pela autonomia.
dos sindicatos. Tinha aspira~oes a tornar-se urn partido de massas em vez de
elites e propos urn programa de reformas moderado numa tentativa de obter O maximo de apoio passive!. Seguin do o exemplo do Partido Comunista Italiano,
dedicou muitos recursos a tarefa de adquirir poder na esfera municipal, em bora os resultados tenham sido modestos (o melhor deles, apesar de temponirio, foi q controle da cidade de Juchitan, em Oaxaca, com outros grupos da esquerda).
Abandonou seu anticlericalismo e passou a preconizar a revogac;ao da proibic;ao const itucional dos direitos politicos e eleitorais para o clero. Reconheceu que tinha a responsabilidade de estimular a criac;ao de organizac;oes autonomas
de mulheres. Em novembro de 1981, o Partido Comunista Mexicano se dissolveu e, junto
com outros quatro partidos, criou o Partido Socialista Unificado de Mexico (PSUM). Foi a culminac;ao de dez anos de debate interno e de mudan~as de politica que h aviam levado inclusive a alianc;a eleitoral com o partido trotskista, o PRT (Partido Revolucionario de los Trabajadores). Em 1968, o Partido Comunista Mexicano denunciou a invasao sovietica da Tchecoslovaquia e, mais tarde, fez o mesmo com a do Afeganistao. Reconheceu o aumento de interesse pelas ideias
marxistas em conseqtiencia da rebeliao estudantil de 1968 e tentou modernizar-se para atrair o apoio das pessoas interessadas no marxismo como ideologia.
0 partido mexicano nao havia dei.xado a semilegalidade antes de 1977 e em 1979 participou de eleic;oes pela primeira vez ap6s trinta e dais anos: re-cebeu cerca de 5,1% dos votos. A tentativa de modernizac;ao nao esteve isenta
de problemas. Provocou acirradas disputas internas que foram resolvidas sem que as solu~oes satisfizessem aos conservadores nem aos reformistas. Somente
alguns dias depois da formac;ao do PSUM, o segundo partido em ordem de
importancia, e que o PMT (Partido Mex.icano de los Trabajadores) se retirou, e houve continuas lutas internas entre os partidos motivadas par sua atitude
perante 0 governo, pela ideologia do novo partioo,:porsua:postuta diante do bloco sovietico, por seu papel no movi"mento siridical e pelo poder que o novo partido tinha sabre os elementos que o constituiam.
Urn tra~o que complica o panorama da esquerda no Mel9co e a presen~a de partidos esquerdistas, como o Partido Popular Socialista (PPS); que na verdade
sao satelites do PRI. Esses partidos, apesar de estarem subordinados politica-
mente ao PRJ, perfilham ao mesmo tempo urn marxismo-leninismo dogmatico e combinam o stalinismo com a cren~a na revolu~ao mexicana. Continuam
atraindo apoio: nas elei~oes de 1998, foi a esquerda satelite que viu aumentar fortemente o numero de votos obtidos, ao passo gue os da esquerda indepen-
dente diminuiram. Conquanto normalmente esses partidos tenham obtido uma
vota~ao dirninuta- 4,7% em 1979 e 2,96% em 1982 -, obtiveram 21,04% dos
votos em 1988, quando apoiaram a Frente Democnitica Nacional. A atrac;ao da
coliga~ao FDN residia em parte no seu Hder e candida to a presidencia, Cuauhte-moc Cardenas, filho do presidente reformista, e em parte em seu nacionalismo
revolucionario. A coligac;ao enfatizava a democracia politica e a autonomia das organizac;oes de massas, porem sua mensagem era suficientemente imprecisa para que surgissem duvidas sobre ser ela simplesmente a esquerda do PRl ou uma organizac;ao socialista autenticamente nova. A coligac;ao era uma fragil combina.yao de elementos muito dispares que iam do anticomunista Partido Autentico de Ia Revoluci6n Mexicana (Parm) ao stalinista mas oportunista PPS.
Teve de enfrentar a acirrada oposic;ao do PRl porque concorria diretamente com ele pelo apoio dos grupos e eleitores que haviam sido a espinha dorsal do
PRl. Alem disso, assemelha-se ao PRl pelo carater pouco democratico de suas praticas internas e sofre de continuas dissensoes e divergencias igualmente internas. Em marc;o de 1990 o rebatizado PRD (Partido Revolucionario De-mocnitico) concordou em incorporar os movimentos populares ao partido,
porem a relac;ao entre este e os m ovirnentos populares esta Ionge de ser clar a e e pouco provavel que se parec;a com a estreita relac;ao organica que existe entre os movimentos sociais e o PT no Brasil.
Se o partido mexicano tomou o caminho da reforma, o Partido Comunista
Chilena seguiu na dire~ao contniria e depois de 1980 advogou a !uta armada contra a ditadura do general Pinochet. 0 partido foi pec;a fundamental na cria-
~ao de urn pequeno movimento de guerrilha urbana cuja ac;ao mais espetacular
foi a tentativa quasevitoriosa de assassinar Pinochet em setembro de 1986. 0
partido chilena sempre foi leal a Uniao Sovietica, muito mais, por exemplo, do que os partidos da Venezuela e do Mexico. A partir de 1980, Moscou julgou conveniente enfatizar a I uta armada, e nao e inverossfmil supor que a mudanc;a
de politica do partido chilena tenha correspondido a nova linha adotada em Moscou. Afinal, o partido era ilegal no Chile e a maioria dos seus lideres estavam
exilados na Uniao Sovietica. Nao resta duvida de que os lfderes sovieticos se sentiam envergonhados ao ver que os partidos comunistas locais nao apoiavam as insurrei~oes vitoriosas como fizeram no caso de Cuba e da Nicaragua. 0 Partido
Comunista Chilena era o mais bern organizado da America Latina e, segundo
os estrategistas sovieticos, se algum partido tinha a possibilidade de liderar, em
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vez de seguir, a revoluc;:ao, esse partido era o chileno, especialmente num pais
que tinha urn governante que era objeto da condenac;:ao internacional.
0 Partido Comunista tambem respondia ao isolamento politico que !he fora
imposto nao s6 pelo governo mas tambem pelos outros partidos da oposic;:ao.
Depois do golpe, a p rincipia ten tara formar amp las alian c;:as com os democrata-
crisUios e tam bern, com maio r sucesso, criar uma frente comum com a ala mais
radical do Partido Socialist a, dirigido por Clodomiro Almeyda. Ate mesmo os
socialistas, que cram mais radicais, sentiram-se incomodados com sua alianc;:a
com os comunistas, quando estes criaram o grupo de guerrilha urbana, a Frentc
Patri6tica, e parecia muito pouco provavel que no futuro o partido pudesse
renovar a antiga alianc;:a entre comunistas e socialistas que tinha sido a base da
politica da esquerda no Chile desde a decada de 1950. 0 Partido Comunista
procurou conservar sua identidade diferenciando-se do processo renovador que ocorria dentro dos partidos socialistas e enfatizando sua lealdade as posic;:oes
ortodoxas. 0 partido estava muito consciente de que era extremamente dificil
organ izar urn movimento guerr ilheiro num pais com pouca tradic;:ao de violencia
politica e com urn governo tao eficientcmente repressive como ode Pinochet, e
a Frente Patri6tica foi concebido mais como uma operac;:ao em pequena escala
do que como uma m acic;:a insurreic;:ao urbana. Os lideres sovieticos, que na epoca enfrentavam o desafio do eurocomunismo,
ansiavam por mostrar que pelo menos urn partido importante era fie! a tese de que a violencia revolucionaria tinha urn papel a desempenhar no em bate politico. Porm
0 partido do Chile tam bern estava reagindo a mudanc;:a social. A base tradicional do partido no movimento trabalhista era muito mais fraca por causa da ofensiva do
governo Pinochet contra os sindicatos. Por outro !ado, os jovens desempregados
das favelas estavam dispostos e desejosos de en frentar violentamente a policia eo
exercito depois que eclodiu o movimento de protesto social contra o regime em
1983. 0 Partido Comunista tinha mais probabilidade de conquistar a leal dade desse
grupo organizando a violencia em Iugar de condena-la. 0 partido foi contrario .a participayao no plebiscita que em outubro de 1988 pos fim as esperanc;:as de PJ-
nochet de ocupar a presidencia por mais oito a nos. No ultimo momenta o partido
aceitou o plebiscita e exor tou seus membros a votarcm contra Pinochet, mas foi excluido da coligac;:ao que se formou para organizar a campanha, como sucedeu
tambem nas eleic;:oes de dezembro de 1989, que deram a vit6ria a oposic;:ao. A experiencia chilena demonstrou que uma politica de isolamento e intran-
sig~ncia trazia escassos beneficios a urn processo de redemocratizac;:ao, mas nao estava claro que houvesse outra estrategia capaz de trazer beneficios maio res. 0
Partido Comunista Chileno, como outros partidos similares de todo o mundo,
foi profundamente abalado pelos acontecimentos ocorridos na Europa oriental
e na antiga Uniao Sovietica. Como outros partidos sim ilares, passou por uma
crise de defecc;:oes, expulsoes e cisoes, e hoje encontra-se diante de urn futuro
no qual seu papel parece incerto na melhor das hip6teses e marginal na pio r.
0 Peru foi o unico pais da America Latina onde o com unismo inspirado pela
China gerou apoio popular, tanto urbano quanto rural . 0 movimento guerrilheiro
urbana, Sendero Luminoso, que iniciou suas operac;:oes em 1980, apesar de haver
sido formado uma decada antes, e o mais conhecido dos movimentos de inspi-
ratyao chinesa. 0 Sendero Luminoso foi uma facc;:ao (Bandeira Roja) do partido
maofsta ate que se separou em 1969-1970.0 Sendero Luminoso brotou de uma influente subcultura de maoismo no Peru. 0 maofsmo tinha fortya ideol6gica nos
circulos estudantis, e o principal sindicato de professores era controlado pelo partido maoista Patria Roja.
0 Partido Comunista do Peru, favoravel a Moscou, apesar de sua intluencia
no movimento sindical, nao tinha criado quadros s6lidos e d isciplinados como
os oo Partido Comunista chileno. Uma base industrial muito mais fragi l, a con-
correncia da Apra e a nos de repressao haviam contribuido para criar wn partido de proporc;:oes modestas. Era tambem urn partido muito cauteloso. Do mesmo
modo que a maio ria dos partidos da esquerda, recebeu com alegria, como vimos,
o golpe militar de 1968, que levou ao poder urn govern a reformista chefiado pelo
general Velasco. Ao contrario de outros partidos da esquerda, continuou a apoiar
esse governo muito tempo depois que se esvaeceu o impulso reformista. Ate a greve
geral de 1977 o Partido Comunista peruano nao fez parte da oposic;:ao ao governo
militar. Os setores sociais que desejavam protest ar contra a politica do governo, e
contra o forte declinio do padrao de vida depois de 1972, recorreram a partidos
mais radicais. Depois do fracasso da guerrilha castrista no comec;:o da decada
de 1960, essa opc;:ao particular parecia menos atraente e, embora os trotskistas
contassem com certo apoio, a prisao de seu lider popular, Hugo Blanco, e suas
continuas disputas internas limitaram tambem seu atrativo.
Com a ruptura entre a Uniao Sovietica e a China, urn pequeno grupo havia
deixado o partido ortodoxo para formar urn partido maoista. No entanto, logo
surgiram divisoes em torno da questao de decidir sea I uta revolucionaria tinha
de ser principalmente urbana ou rural, eo novo partido nao tardou a conquis-
tar apoio entre os decisivos setores medias, sobretudo entre os professores e os
estudantes universitarios. 0 clima ideol6gico geral criado pelo governo Velasco
nos seus primeiros anos era tolerante com os movimentos radicais e permitiu
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que os rnaoistas formassem urn poderoso sindicato de professores, o Sutep, que
nao levou muito tempo para enfrentar o governo, as vezes de maneira violenta;
com respeito a remunera~ao e as condi~oes de trabalho dos professores.
Nesse meio tempo, o Sendero Luminoso corne~ou pacienternente a formar
quadros e a buscar apoio na empobrecida regiao de Ayacucho, onde as condi~oes
economicas e sociais favoreciam seu crescimento. Apesar de pobres, mesmo pelos
padroes peruanos, nao havia urn a classe de gran des proprietarios para suprimir as
organiza~oes camponesas. Ayacucho tinha ouvido muitas promessas de reforma
agniria da boca do governo Velasco, mas os beneffcios reais eram escassos. Nessa
regiao remota, o governo e a policia exerciam pouca autoridade. A populayao
da regiao, em grande parte indigena, estava muito ressentida como governo urbano
e branco de Lima. A Universidade de Ayacucho era controlada pelos maoistas; o
mais famoso dos professores e di retor de pessoal da universidade era ninguem
menos que Abimael Guzman, o lider e ide6logo do Sendero Luminoso.
0 Sendero Luminoso professava admira~ao pelas ideias de Mao no auge
da revolu~ao cultural, durante a qual alguns dos lideres do Sendero chegararn a residir na China. Tambem se inspirava nas ideias indigenistas de Mariategui.
Seus lideres, cuja maio ria eram mesti~os, opunham-se a qualquer organizayao
das bases que nao fosse a do partido. 0 Sendero Luminoso recriou as estruturas
autoritarias da sociedade andina substituindo o dominio dos proprietarios pelo domlnio do partido. Estava organizado numa estrutura de celulas envolta no
maior sigilo, que era dificil de penetrar. Era extremamente cruel e violento e usava o terror para impor seu dominio. A resposta do governo consistiu inicialmente
em permitir que os militares tomassem medidas igualmente selvagens contra
o grupo e se calcula que o ntimero de mortos, em grande parte camponeses
inocentes, chegou a quase cinco mil entre 1980 e 1988. 0 Sendero Luminoso
realizou uma grande mudan~a de estrategia em 1988 ao declarar que as cidades
eram rna is "necessarias" que "secundarias". Conquistou certo apoio nas favelas
urbanas de Lima e em alguns sindicatos industriais. Tambem publicava urn jornal,
El Diario. Sua capacidade de causar estragos no fragil sistema politico do Peru era indubitavel; mas 0 qu~ dava margem a dtlviaas era saber se. 0 movi..qlento podia fazer mais do que isso. Suas propostas polfticas extremamente simples e
seus metodos violentos lembravam o Camboja de Pol Pot.
0 crescimento do Sendero Luminoso criou problemas para o mosaico de partidos- comunista ortodoxo, trotskista, pr6-chines, castrista- que compunharn
a esquerda no pais. A hist6ria da esquerda no Peru e urn processo interminavel de unificayao e divisao. A esquerda conseguiu bons resultados nas elei~oes de
1978 para a assembleia constituinte, com 29,4% dos votos. 1bdavia, a retirada
dos trotskistas enfraqueceu a coliga~ao, e nas elei~oes de 1980 concorreram cinco listas distintas de esquerdas, as quais, no conjunto, obtiveram apenas 14,4%
dos votos. A maioria dos grupos esquerdistas uniram-se em 1980 para formar
a Izquierda Unida, fazendo que os votos da esquerda aumentassem para 29%
do total nas elei~oes municipais de 1983, tendo o lider da IU, Alfonso Barr antes, assumido o controle de Lima com 36,5% dos votos. Era 6bvio que o crescimento
da esquerda refletia a grave crise econ6mica associada a insatisfa~ao geral como governo do presidente Belaunde Terry, mas refletia tambem urn grande traba1ho
organizacional que a esquerda realizara com as bases e uma seria tentativa de
formular uma polftica que consistisse em algo mais que expressar denuncias ret6ricas dos males do capitalismo.
No en tanto, a esquerda estava Ionge de ser unida. Em sua condi~ao de prefeito de Lima, Barrantes teve de enfrentar uma serie de ocupa~oes de terra organi-zadas p ela extrema esquerda de sua pr6pria coliga~ao. Essa falta de unidade causou uma diminuiyao dos votos da esquerda para 21 o/o em 1985, embora ela
tenha continuado a segunda forc;:a eleitoral. Mas as divisoes se intensificaram
e refletiram a atitude amblgua que importantes elementos da coligac;:ao da lU
adotaram perante a democracia (compartilhada, e verdade, por alguns grupos
da direita e inclusive pelo governo da Apra). A questao da violencia polftica
continuou sendo uma linha divis6ria entre os que queriam colaborar no processo democnitico, apesar de todos os seus defeitos, e os que desejavam derruba-lo e
substitui-lo por uma ordem diferente. Barrantes foi criticado pelos que diziam que o principal foco de atividade tinha que ser as ruas e as fabricas, em vez do
Congresso. 0 primeiro congresso nacional da JU, em janeiro de 1989, assistiu a
uma cisao decisiva quando Barrantes levou consigo alguns delegados moderados para formar uma coligac;:ao rival, a Izquierda Socialista. Os votos obtidos pela
esquerda nas elei~oes municipais de 1989 despencaram par~ 11 ,5% e os dois candidatos da esquerda que concorreram as elei~oes presidenciais em 1990 obtiveram em conjunto apenas 11% do total dos votos37.
- Uma resposta a decadencia do comunismo ortodoxo, e a crescente perda de'atra~ao do modelo cubano- e em contraste com a violencia associada com a guerrilha em palses como o Peru, a Colombia e El Salvador- foi o renovado
37. Esta se~ao baseiase em grande parte em Lewis Taylor, "One Step forward, Two Steps Back:
The Peruvian lzqt~ ierda Unida 1980-1990", ]oumal ofCommutJiJt StuditJ, 6(1), 1990.
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536 interesse pelo socialismo de tipo essencialmente parlamentar e eleitoral. A rea~ao
aos anos de ditadura militar e a supressao das liberdades fundamentais entre
alguns setores da esquerda foi uma avalia~ao muito rna is positiva dos beneficios
da democracia formal. 0 crescimento de movimentos social-democn1ticos na
Europa, em especial o partido socialista de Felipe Gonzalez na Espanha, foi
uma fonte de inspira~ao. 0 trabalho da Internacional Socialista na America
Latina forneceu vinculos internacionais, mais estimulo e urn pouco de ajuda financeira. Ao analisar mais detidamente a estrutura social da America Latina,
1
a esquerda mais moderada percebeu a importancia de atrair as classes medias,
assim como as novas organiza~oes populares que nao eram sindicatos , nem
expressoes da !uta de classes, e que deviam mais as inst itui~o es inspiradas pela
Igreja Cat6lica do que a esquerda marxista. 0 Partido Socialista chileno, apesar de continuar sendo urn partido com
diversas fac
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influ~ncia e o partido contribuiu de maneira decisiva para a consolida
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cconomia. A Frente Ampla consolidou seu dominio sabre a esquerda ao opor-se a lei que concede anistia aos oficiais militares que praticaram viola~oes dos direitos
humanos. A Frente Ampla beneficiou-se do sistema sindical uruguaio, que, em
contraste com o da maioria dos paises da America Latina, tern urn hist6rico de
evolu~ao aut6noma, scm estar incorporado a maquina do Estado nem colonizado por urn dos do is partidos principais. Mas a Frente Ampla era fraca fora deMon-
tevideu, tendo obtido apenas 9% dos votos, e os trabalhadores sindicalizados que
vptam maci~amente na Frente consti tuem apenas 19% da popula~ao adulta de Montevideu e uma porcentagem insignificante em outros lugares. Ao deixarem a
Frentc, os partidos moderados reduziram suas possibilidades gerais de obter bons
resultados eleitorais. Ate certo ponto, a sobrevivencia da Frente foi urn testemunho
da imobilidade geral do sistema politico uruguaio, mais do que da forma~ao de urn novo e inovador movimento esquerdista.
No Brasil, o Partido dos Trabalhadores (PT) formou-se em parte por se ter per-cebido a insuficiencia do Partido Comunista como meio de expressao das reivindi-
ca~oes dos sindicatos. 0 PT originou-se do novo sindicalismo que se desenvolveu nas industrias metalurgicas da regiao de Sao Paulo. Em 1978, depois de urn anode
militancia trabalhista, os novas Uderes sindicais, sobretudo Luis Inacio da Silva (Lula),
chegaram a conclusao de que a militancia no local de trabalho era insuficiente para alcan~ar seus objetivos mais amplos. Segundo disse Lula:
Em minha opiniiio, a esquerda brasilcira cometeu en os ao Iongo da sua
hist6ria exatamentc porque foi inca paz de compreendcr o que sc passava na
cabe~a dos trabalhadores c de elaborar a partir da! uma doutrina original[ ... ].
Nao nego que o PCB foi uma for~a influente durante muitos anos. 0 que eu
nego ~ que seja justo dizer aos trabalhadores que cles tern de ser comunistas.
0 unico procedimento justo e dar aos t rabalhadores a oportunidade de scr o que mclhor lhes convier. Nao queremos impor doutrinas. Queremos formular
uma doutri!la justa, que emane da organizayao de nossos trabalhadores e que
ao mesmo tempo seja o resultado da nossa pr6pria organiza~ao ...
0 PT tor~ou-se o ~aior partido explicitamente socialista da America Latina. Seu apoio eleitoral aumentou de 3% dos votos totais em 1982 para 7% em 1986.
Nas eleir;:oes municipais de 1988, os candidatos do PT assumiram o controle de
10. Cit ado numa cntrevista com Lula em A de/ante, London, January 1981, p. 6.
36 cidades, entre elas Sao Paulo, onde a candidata do partido era uma imigrante
procedente do empobrecido Nordeste, Luiza Erundina. Os votos totais do PT
nas cern maiores cidades do pais representaram 28,8% do total. Apesar de ter suas raizes no movimento sindical urbana, o partido tam bern cresceu nas zonas
rurais, onde conta com o apoio da Igreja radical e das comunidades de base. No primeiro turno das eleis;oes presidenciais de 1989, Lula, 0 candida to do PT,
o~teve 16,08% dos votos e ficou em segundo Iugar, por uma margem estreita, d1ante de Leone! Brizola (PDT), que obteve 15,74%. No segundo turno, Lula
(37,86%) foi derrotado por Fernando Collar de Mello (42,75%), apesar de
haver moderado seu programa politico radical como intuito de atrair o centro tatica que quase funcionou. '
0 ~T tambem procurou adotar urn modelo novo de organiza~ao interna, que, d1versa~ente dado PCB, respeitasse a autonomia do movimento sin-dical. ~ ~is_sao do partido nao era liderar os trabalhadores, mas expressar suas reJvmdJcas;oes na esfera politica. A organiza~ao do partido dava enfase a democracia participativa. A organiza~ao central do partido seria 0 chamado "nucleo de base'; que se comporia de membros filiados de uma vizinhanr;:a, de
urn grupo profissional ou de urn local de trabalho ou de movimentos sociais
e se dedicaria mais a atividades politicas permanentes do que a atividades
eleitorais esporadicas. 0 partido foi concebido para dirimir as diferenr;:as que
normalmente existem entre urn movimento social e urn partido. Se, na pratica,
~uitos n~cleos funcionaram em grande parte como organizas;oes eleitorais, amda ass1m o nfvel de participas;ao dos membros do PT, que se calculam em cerca de seiscentos mil, continuava sendo extraordinariamente elevado pelos padroes dos partidos brasileiros.
Essa estrutura participativa era muito apropriada para a politica de oposir;:ao
que foi necessaria para impor-se ao govern a militar. Estava menos clara que essa
estrutura funcionasse numa democracia competitiva. Muitos dos membros e
lfderes do partido procediam mais do radicalismo cat6lico do que do marxismo e
estavam mais preocupados em preservar a autonomia das organiza~oes sindicais . e populares do que em criar urn partido polftico disciplinado. Houve muitos
con,flitos intern as_ no PT, em especial entre os membros petistas do Congresso e
os hderes do partJdo fora do Congress a . Os tres partidos trotskistas brasileiros
tra~~avam todos dentro do PT, muito em bora o maior deles, a Convergencia Soc1alista, concebesse o PT como uma frente que tinha de radicalizar-se sob a
dires;ao de uma vanguarda revolucionaria que combatesse no PT a influencia
da lgreja e do grupo parlamentar. Essa variedade de posturas polfticas nao con-
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. . a disci !ina do partido, mas a derrota dos trotskist_as no_congresso tnbuiU para . : fi I de 1991 permitiu uma maior umfica-;:ao. do partido reahza o no na - s6 entre os partidos do Brasil mas
0 :T era indubitav~lme::i~~~:~ ~:oAmerica Latina. Estava firmemente inclustve entre os parttdos l de 60% dos sindicatos do
I t balhadora e contro ava cerca enraizado na c asse ra t rivado No Congresso oPT
bl. as urn pouco menos nose or P setor pu tco e apen - d d tados vinculados ao movimento
'd maior propor~ao e epu era o partt o com a . . . normas de atua~j:aO e pniticas
. . ntos socials. Tentou cnar 'trabalhlsta e a movtme d C 't~ Central do partido deviam ser
1 30% dos postos o omt novas: por exemp o, . bl as que impediram seu a van yo. 0
lh res Mas surgtram pro em . ocupados por mu e . .
3 tidario muito pouco ideol6gtco:
PT era urn partido ideol6gtco num stste~da p dr e esquerda em especial do velho fr d safio de outros part! os '
Teve de en en taro ~ . ocial-democrata PSDB. Estendeu a mao partido populista radtcal de B~tzola e dod s as a maioria dos brasileiros
dos das ctdades e o campo, m aos pobres orgamz~ . . membros de organiza-;:oes sociais, e em pobres nao cram smdtcahzad~s nem actamente no direitista Collar de Mello 1989 esses setores votaram mats comp d'fi uldades
dos os art idos de esquerda, o PT teve I c do que em Lula. _Como t~ fazer fr~nte a crise econ6mica que nao se parecessem para propor medtdas par_ f do no passado nem constituissem simples
c6 las que hav1am racassa 'd com as ,, rmu d E bora o apego do PT a uma I eo-d l't'ca neoliberal o rto oxa. m imita
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democraticas da direita e do centro politicos do istmo. Apesar das negocia~Yoes
de paz entre governos e guerrilhas, ainda n ao estava clara que a esquerda na
America Central fosse evoluir para algum tipo de social-democracia.
Se Cuba ainda representava urn ponto de uniao para a esquerda na America Central, ja nao se podia dizer o mesmo da revoluyao nicaragi.iense, derrotada nas
el e i ~Y6es de 1990. 0 movimento sandinista tinha dificuldade de mudar de um
partido de vanguarda que liderara uma revolu ~Yiio pa ra urn partido de esquerda
democratica que participava de elei~Y6es competitivas42 Nao obstante, que os
sandinistas continuavam inspirando Jealdade foi demonstrado pelo fa to de que,
apesar de urn colapso econ6mico sem precedente e das terriveis conseqi.iencias
da guerra contra os contras e da hostilidade de grande parte da Igreja Cat6lica,
cles obtiveram 40o/o dos votos nas elei~Y5es de 1990 e conservaram muito poder
no novo governo de Violeta Chamorro. Mas a derrota dos sandinistas foi urn
golpe na confian~Ya da esquerda na America Central e, de fa to, em toda a America
Latina. Os antecedentes da esquerda no poder nao eram atraentes. 0 hist6rico
economico de Cuba era pessimo e seu futuro polftico, incerto. 0 hist6rico
economico da Nicaragua era, embora por razoes diferentes, ainda pior e, alem
do mais, o povo havia votado para derrotar a revolu ~Yiio. Ainda assim, e possivel vislumbrar para a esquerda na America Latina alguns
beneficios advindos do colapso do comunismo internacional. A esquerda ja nao
teria de justificar ou desculpar as pniticas antidemocraticas do bloco comunista. J a nao teria de. defender regimes que ofendiam as crenyas democraticas Iibera is. : A esquerda ja nao teria de enfrentar o mesmo grau de hostilidade dos Estados: i
Unidos. Poderia comc~Yar a libertar-sc da acusayil.O de que a esquerda no poder I degenerara automaticamente em autoritarismo.
42. A confusao do movimento sandinista ~bern captada numa declara~ao de Jos~ Pasos, chefe1
.
adjunto do departamento internaciona l da FSLN. "Tcmos de converter-nos num partido
modcrno. H~ alguns prindpios que nao mudam: o pluralismo politico, o nao-alinhamento,~
a economia mista:Nosso antiimperialismo continua o mesmo, rna~ nao t Q antiimperialismci'
d~ Marx ou Lenin. Para n6s significa a nao-ingertncia em nossos assuntos in ternes, e sao
Estados Unidos quem se ingere. Cont inuamos acrcditando que o socialismo e a meta. nao ~de modo ncnhum o socialismo que su rgiu no Lest c, ncm a socialismo de Cuba,
a peresrroika. 0 mais aceitavel para n6s seria talvcz o socialismo sueco, mas e muito Que tipo de socialismo podc ter urn pals pobre ~ a questa a que vamos agora debater".
urn a entrevista em Tile Guardian, London, 30 April 1990.
No inicio da decada de 1990, a esquerda do mundo todo defrontou-se corn
problemas tao gran des quanta os enfrentados pela esquerda na America Latina,
ou ainda m aiores. Na verdade, poder-se-ia afirmar que, comparativamente, apesar de todos os reveses, a esquerda latina-americana achava-se numa situ-
ayao relativarnente mais favoravel do que em outros Jugares. Pelo menos nao
era dilacerada pelos conflitos etnicos de alguns outros paises. Nem teve de se hav_er com a forya mobilizadora popular do fundamentalismo religiose. Em
mmtos outros lugares do mundo a esquerda tinha sofrido pelo fa to de estar no
governo numa epoca de recessao econ6mica internacional. Na America Latina
a direita estava no poder. Era passive] que, se a polltica econ6mica neoliberal
niio desse resultados tiio bons quanta os prometidos por seus defensores, as vantagens de estar na oposis;ao se manifestassem no futuro.
Os fa to res que deram origem a esquerda niio haviam desaparecido. A. recessiio economica da decada de 1980 acentuou a desigualdade e piorou a pobreza na America Latina. As fors;as da direita continuavam exercendo urn controle desproporcional sabre o poder polftico. Os pobres e os desvalidos tinham poucas possibilidades de recorrer a justis;a dentro dos sistemas juridicos e institucionais vi gentes. Era verdade que a esquerda dos anos 1990 niio oferecia nenhum programa distintivo
que fosse politicamente popular. Sua for~a decorria rna is da natureza inaceitavel da vida para a maioria do povo do que da viabilidade de opyoes pollticas.
A esquerda latina-americana niio foi a unica a comprovar que 0 novo con-
texte exigia uma nova resposta. Os partidos socialistas europeus responderam abrayando resolutamente a ideia da economia de mercado e descartando a
maioria dos programas que haviam preconizado no passado. Mas questoes
que ocupavam urn Iugar destacado na Europa, como as preocupayoes com a
ecologia ou como meio ambiente, nao tinham adquirido a mesma importancia,
no final da decada, para a esquerda latina-americana em sociedades onde as
prementes questoes da pobreza e da privas;ao eram mais urgentes. Questoes como a destruiyiio da floresta amaz6nica ou os efeitos da minerayao do ouro e
de outr~s atividades sabre o destino dos povos nativos do Brasil despertavam m_~is preci~:up_as;ao internacional. E tarnpouco a esquerda latino-americana se mostrava especialmente receptiva ao debate ern torno da desigualdade entre
tOs -sexos. Alguns partidoscomprometeram-se a trabalhar a favor da igualdade
dos sexos em teoria, mas na pratica houve poucas mudanyas nos costumes
tradicionais. Na decada de 1980, o socialismo na America Latina corria perigo
de tornar-se uma doutrina conservadora, com os olhos postos no passado, enquanto a direita polftica tornava a iniciativa ideo16gica.
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Nao obstante, no seculo XX a esquerda havia estabelecido na America Latina uma presenp e urn prestigio cujas bases eram mais s6lidas do que em
muitas outras partes do mundo. Se outros partidos tinham adotado as ideias
da esquerda, isso atestava a for~a e a pertinencia dessas ideias. A esquerda criou partidos politicos, sindicatos e grupos intelectuais que desempenharam papeis
fundamentais na politica dos paises latino-americanos. As ideias do socialismo
e do marxismo inspiraram alguns dos maiores escritores e intelectuais desse seculo na America Latina. Alguns grupos da esquerda justificaram e usaram a
vi olen cia para alcan~ar seus objetivos, mas a maioria deles se abstiveram e todos sofreram os efeitos da violencia muito maior do Estado. A esquerda desempenhou
urn papel importante na !uta pela democracia contra os regimes autoritarios
nos anos 1970 e 1980. Muitos homens e mulheres comuns uniram-se a esquer-da porque queriam igualdade, justi~a e liberdade. Esses valores s6 se tinham concretizado de maneira muito imperfeita na America Latina contemporanea.
A esquerda dos anos 1990 deparou-se com a dificil tarefa de idealizar novas
formas de alcan~ar velhos objetivos.
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