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Camila Lopes Petrilli
Regulao da atividade da glndula pineal
por estimulao purinrgica
So Paulo
2012
Camila Lopes Petrilli
Regulao da atividade da glndula pineal
por estimulao purinrgica
So Paulo
2012
Dissertao apresentada ao
Instituto de Biocincias da
Universidade de So Paulo, para
obteno do Ttulo de Mestre em
Cincias, na rea de Fisiologia
Geral.
Orientadora: Prof Dr Zulma F.
S. Ferreira.
FICHA CATALOGRFICA
Petrilli, Camila Lopes
Regulao da atividade da glndula pineal por estimulao purinrgica/ Camila
Lopes Petrilli; orientadora Zulma F. S. Ferreira. So Paulo, 2012.
105 f.
Dissertao (Mestrado) Instituto de Biocincias da Universidade de So Paulo.
Departamento de Fisiologia.
1. Glndula Pineal. 2. Purinas. 3. Melatonina. I. Universidade de So
Paulo. Instituto de Biocincias. Departamento de Fisiologia. II. Ttulo.
COMISSO JULGADORA
Prof(a). Dr(a). Prof(a). Dr(a).
Prof. Dr.
Orientadora
iv
minha famlia e amigos.
v
No importa aonde voc parou...
Em que momento da vida voc cansou...
O que importa que sempre possvel e necessrio Recomear.
Recomear dar uma chance a si mesmo...
renovar as esperanas na vida e o mais importante...
Acreditar em voc de novo.
Sofreu muito nesse perodo?
Foi aprendizado...
Chorou muito?
Foi limpeza da alma...
Ficou com raiva das pessoas?
Foi para perdo-las um dia...
Sentiu-se s por diversas vezes?
porque voc fechou as portas at para os anjos...
Acreditou que tudo estava perdido?
Era o incio da sua melhora...
Pois ...
Agora hora de reiniciar...
Carlos Drummond de Andrade
No devemos ter medo dos confrontos...
at os planetas se chocam e do caos nascem as estrelas.
Charles Chaplin
vi
AGRADECIMENTOS
No me prendo a nada que me defina.
Sou companhia, mas posso ser solido...
Tranquilidade e inconstncia, pedra e corao.
Sou abraos, sorrisos, nimo, bom humor, sarcasmo, preguia e sono.
Msica alta e silncio.
Serei o que voc quiser, mas s quando eu quiser.
Clarice Lispector
Agradeo Deus, pois sem Ele, nada disso seria possvel.
Agradeo aos meus pais e ao meu irmo, pelo apoio incondicional e dedicao
nesta e em todas as etapas da minha vida.
minha av por ser meu exemplo enquanto trilho meu prprio caminho.
Aos meus tios, tias e primos pela presena constante, apoio e carinho
especialmente nos momentos difceis.
Aos meus amigos de faculdade Biu, Gabi, M, Nati, Nati Mackenzie e Z, por
estarem sempre comigo (mesmo que de longe) e compreenderem (na maioria das
vezes) a minha ausncia, durante a realizao deste trabalho.
Agradeo aos amigos que fiz na USP, Alex, Ceci, Nathi, Leopoldo, Bruno, Kelly,
Nathali, Danilo (Presuntinho), por todos os cafs e cervejas que tomamos juntos,
pelas conversas no corredor, por terem tornado mais feliz esta etapa da minha vida.
vii
Agradeo famlia LaboCrono: Adriessa, Alessandra, Cludia, Daiane, Erika,
Eliana, Marina, Luciana, Leila, Gabriela, Leticia, Eduardo, Pedro, Sanseray, Luis,
Dbora, Sandra, Edurardo (Mohamed), por terem sido sempre muito mais que
colegas de trabalho, por terem compartilhado comigo experincias, conhecimento,
alegrias, tristezas, por terem sido minha cabea quando quem falou mais alto foi meu
corao. Obrigada por tudo, sem vocs nada disso seria possvel.
Agradeo ao Marco meu melhor amigo, companheiro, parceiro de todas as
horas e namorado, por ter me aguentado e dividido comigo todos os momentos desta
caminhada.
Agradeo Dr Valerie Simonneaux do Laboratoire de Neurobiologie des
Rhythms em Estrasburgo na Frana, pelo auxlio na realizao de alguns ensaios.
Agradeo em especial Prof Dr Regina Pekelmann Markus por ter aberto as
portas do laboratrio para mim, pela compreenso, por me surpreender, instigar e
me ensinar a cada dia uma coisa nova.
Agradeo minha orientadora Prof Dr Zulma, pela oportunidade, pacincia,
confiana, respeito e principalmente por todos os ensinamentos profissionais e
pessoais ao longo destes anos.
Agradeo, por fim, o auxlio financeiro da FAPESP (2009/12307-8), CAPES e
CNPq, cuja contribuio foi fundamental para a realizao deste trabalho.
Sumrio
INTRODUO .................................................................................................................. 1
1. Sistema Purinrgico ........................................................................................................ 1
1.1 Perspectiva Histrica ............................................................................................ 1
1.2 ATP......................................................................................................................... 2
1.3 Receptores Purinrgicos ....................................................................................... 6
1.3.1 Receptores P1 ................................................................................................. 7
1.3.2 Receptores P2X ............................................................................................... 7
1.3.3 Receptores P2Y ............................................................................................... 9
2. Mecanismos moleculares de transduo de sinal de receptores purinrgicos ........ 12
2.1 Protena ativadora 1 (AP-1) ................................................................................ 12
2.2 Fator de transcrio nuclear kappa B(NF- B) .................................................. 13
3. Glndula Pineal ............................................................................................................ 15
3.1 Morfologia e Inervao da Glndula Pineal ..................................................... 16
3.2 Vias metablicas de sntese e degradao da melatonina ............................... 17
3.3 Controle da Sntese de Melatonina .................................................................... 21
3.4 Atividades Biolgicas da Melatonina ................................................................ 23
3.5 Receptores Purinrgicos na Glndula Pineal.................................................... 24
OBJETIVOS ....................................................................................................................... 30
MATERIAL E MTODOS ............................................................................................... 32
1. Animais ......................................................................................................................... 32
2. Drogas e Reagentes ...................................................................................................... 32
3. Preparo de Drogas ........................................................................................................ 34
4. Cultura de Glndula Pineal ......................................................................................... 35
5. Cultura de Pinealcitos ................................................................................................ 35
6. Dosagem de indolaminas por cromatografia lquida de alta eficincia (HPLC) .... 37
7. Dosagem radioimunolgica de melatonina ............................................................... 37
8. Extrao de protena nuclear ....................................................................................... 38
9. Ensaio de Eletromobilidade em Gel (EMSA) ............................................................. 39
10. Ensaio de supershift .............................................................................................. 40
11. Extrao de RNA ................................................................................................... 40
12. Sntese da fita de DNA complementar (cDNA) por transcriptase reversa ....... 41
13. RT-PCR em tempo real .......................................................................................... 42
14. Ensaio de atividade enzimtica da AA-NAT ...................................................... 43
15. Ensaio de atividade enzimtica da HIOMT ........................................................ 44
16. Anlise dos resultados .......................................................................................... 44
RESULTADOS .................................................................................................................. 47
1. Efeito da estimulao purinrgica sobre a produo de NAS e melatonina
induzidas por isoproterenol em glndulas pineais em cultura .................................... 47
2. Efeito da estimulao purinrgica sobre a produo de melatonina induzida por
isoproterenol em pinealcitos .......................................................................................... 48
3. Mecanismo molecular envolvido na estimulao de receptores purinrgicos P2Y1
na glndula pineal............................................................................................................. 49
3.1 Protena Ativadora 1 (AP-1) ............................................................................... 49
3.2 Fator de transcrio NF- B................................................................................. 50
3.2.1 Decurso temporal ......................................................................................... 50
3.2.2 Estudo funcional - Efeito de PDTC sobre a produo de NAS e
melatonina induzida por isoproterenol ................................................................... 52
4. Expresso gnica das enzimas AA-NAT e HIOMT na glndula pineal de ratos ... 53
5. Atividade enzimtica das enzimas AA-NAT e HIOMT em pinealcitos isolados . 54
6. Efeito do antagonista seletivo A3P-5P sobre a produo de NAS e melatonina
induzida por isoproterenol .............................................................................................. 55
DISCUSSO...................................................................................................................... 59
CONCLUSES ................................................................................................................. 69
RESUMO ........................................................................................................................... 71
ABSTRACT ........................................................................................................................ 72
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ................................................................................ 73
SMULA CURRICULAR ................................................................................................. 87
ANEXOS ............................................................................................................................ 90
Lista de Abreviaturas
alfa
beta
[Ca2+]i concentrao intracelular de Ca2+
2-Cl-adenosina 2-cloroadenosina
2-ClATP 2-cloroATP
2MeSADP 2-metiltioADP
2MeSAMP 2-metiltio AMP
2MeSATP 2-metiltio ATP
5-HIAA cido 5-hidroxi-indolactico
5-HIAL 5-hidroxi-indolacetaldedo
5-HL 5-hidroxitriptofol
5-HT serotonina
5-HTP 5-hidroxitriptofano
5-MIAA cido 5-metoxi-indolactico
5-ML metoxitriptofol
A2P5P adenosina 2, 5-bifosfato
A3P5P adenosina 3, 5-bifosfato
A3P5PS adenosina 3'-fosfato-5'-fosfosulfato
AAAD aminocido aromtico descarboxilase
AA-NAT enzima arilalquilamina N-acetiltransferase
AC adenilil ciclase
ADP adenosina 5'difosfato
ADPS adenosina 5'-O-2-tiodifosfato
AFMK N1-acetil-N2-formil-5-metoxiquinuramina
Akt tirosina quinase e serina/treonina quinase
AMK N1-acetil-5-metoxiquinuramina
AMP monofosfato de adenosina
AMPc adenosina monofosfato cclico
AMP-PNP adenosina paranitrofenilfosfato
ANOVA anlise de varincia
AP-1 protena ativadora 1
ATP adenosina 5'-trifosfato
BAPTA 1,2-bis (O-aminofenoxi) etano-N, N, N', N'-cido tetraactico
bZIP zper de leucina bsico
CaMKII protena quinase dependente de calmodulina tipo II
CAT catalase
CRE elementos responsivos a AMPc
CREB protena ligante ao elemento de resposta do AMPc
CYP450 citocromo P450
DAG dicilglicerol
DNA cido desoxirribonuclico
EMSA ensaio de eletromobilidade em gel
E-NPPs ectonucleotdeo pirofosfatase/fosfodiesterase
E-NTPDases ecto-nucleosdeo-trifosfato-difosfohidrolases
epm erro padro da mdia
EPPO eosinilperoxidase
GMPc guanosina monofosfato cclico
HIOMT enzima hidroxindol-O-metiltransferase
HRP horseradish peroxidase
IB-MECA N6-(3-iodo-benzil)-5-(N-metilcarbamoil) adenosina
ICER repressor induzido por AMPc
IDO indolamina-2,3-dioxigenase
IKB protena inibitria kappa B
IKK protena quinase de IKB
IP3 trifosfato de inositol
ISO isoproterenol
IB protena inibitria kappa B
MAOB monoamina oxidase B
MAPKs protenas quinases ativadas por mitgenos
MPO mieloperoxidase
NAS N-acetilserotonina
NECA 5'-N-etilcarboxamidoadenosina
NF-B fator nuclear kappa B
NO xido ntrico
NPY neuropeptdeo Y
NSQs ncleos supraquiasmticos
NTPDase nucleosdeo-trifosfato-difosfohidrolases
PCR Reao em cadeia da polimerase
PDTC pirrolidina ditiocarbamato
PKA protena quinase dependente de AMPc
PKC protena quinase dependente de clcio
PLA foslolipase A
PLC fosfolipase C
PLD fosfolipase D
PPADS cido piridoxalfosfato-6-azofenil-2, 4'-disulfnico
PVN ncleo paraventricular
QR2 quinona redutase 2
RHD domnio de homologia Rel
RNAm cido ribonuclico mensageiro
RNS espcies reativas de nitrognio
ROS espcies reativas de oxignio
R-PIA (R)N6-fenilisopropiladenosina
STAT3 transdutor de sinal e ativador da transcrio 3
TAD domnio de ativao de transcrio
TPH triptofano-hidroxilase
TPOH enzima triptofano hidroxilase
UDP uridina-5'-difosfato
UTP uridina-5'-trifosfato
M e mM micromolar e milimolar, respectivamente
INTRODUO
INTRODUO 1
INTRODUO
1. Sistema Purinrgico
1.1 Perspectiva Histrica
O termo sistema purinrgico refere-se sinalizao celular desencadeada
por purinas e pirimidinas. Adenosina, adenosina 5'-difosfato (ADP) e adenosina
5'-trifosfato (ATP) so as molculas conhecidas como purinas e, uridina-5'-
trifosfato (UTP) e uridina-5'-difosfato (UDP) representam as pirimidinas. Uma
vez liberados, estes nucleotdeos interagem com receptores purinrgicos
especficos mediando diferentes eventos biolgicos, tais como:
neurotransmisso, contrao do msculo liso, resposta imunolgica, agregao
plaquetria, entre outros (Burnstock, 2006).
O conceito de purinas como molculas sinalizadoras extracelulares surgiu
em 1929 com a demonstrao realizada por Drury e Szent-Gyrgyi que o
nucleosdeo adenosina e o nucleotdeo monofosfato de adenosina (AMP),
extrados do msculo cardaco de roedores, podiam reduzir a contratilidade
cardaca, aumentar a dilatao arterial, reduzir a presso sangunea e inibir a
contrao intestinal. Em 1934, Gillespie foi o primeiro a apontar uma relao
entre a atividade das purinas e sua estrutura, demostrando que a desaminao
reduzia grandemente sua atividade, e que a remoo dos grupamentos fosfatos
da molcula influenciava, no apenas a potncia, mas tambm o tipo de
resposta, sendo que ATP induzia a um aumento da presso sangunea,
INTRODUO 2
enquanto adenosina produzia hipotenso. Esta foi a primeira indicao de que
adenosina e ATP atuavam de forma distinta, o que sugeria a existncia de
diferentes receptores para purinas. Contudo, a denominao receptores
purinrgicos s foi formalmente reconhecida em 1978, quando Burnstock
props a existncia de duas classes de receptores denominadas P1, em que a
adenosina o ligante natural e, P2 que reconhecem principalmente ATP, ADP,
UTP e UDP (para reviso Ralevic & Burnstock, 1998). Em 1985, Burnstock e
Kennedy, tendo como base ensaios farmacolgicos, estabeleceram a distino
entre dois tipos de receptores P2, denominados P2X e P2Y. Posteriormente, com
base em suas estruturas moleculares e mecanismos de ao, a classificao dos
receptores P2 foi consolidada em 1994 em uma importante reviso de autoria
dos pesquisadores Abbracchio e Burnstock (para reviso Burnstock, 2007b).
1.2 ATP
O ATP uma molcula de distribuio ubqua no sistema nervoso central
e perifrico e fundamental atividade celular. composto de trs fosfatos, um
acar e um anel de adenina (Figura 1). A ligao entre os dois ltimos grupos
fosfato uma ligao fraca e instvel. Quando quebrada, o ATP alterado para
ADP e um fosfato, liberando energia para ser usado em reaes celulares. ATP
uma molcula solvel e, portanto, facilmente transportada. A maior parte das
molculas do ATP sintetizada na mitocndria e difunde-se para o citoplasma
e para as membranas.
INTRODUO 3
Figura 1. Representao estrutural do ATP. O ATP composto de trs fosfatos, um acar e
um anel de adenina, quando a ligao entre os dois ltimos grupos fosfato quebrada, o ATP
convertido em ADP e um fosfato, liberando energia para ser usada no metabolismo celular.
Em condies metablicas normais a concentrao citoplasmtica de ATP
10 mmol/L. Este ATP citoplasmtico utilizado como fonte de energia em
eventos celulares que envolvem, por exemplo, a Na+/K+-ATPase, enzima
responsvel por manter o potencial de membrana em repouso; a Ca2+-ATPase,
responsvel pela homeostase de Ca2+ no citoplasma; vrias protenas quinases
envolvidas na transduo de sinal; H+-ATPase, presente na membrana da
vescula sinptica e responsvel por acidificar o lmen vesicular e gerar um
gradiente de prtons necessrio para a captao de neurotransmissores; eventos
de exocitose propriamente ditos; dentre outras (Sperlagh & Vizi, 1996).
Alm dos estoques citoplasmticos e mitocondriais, o ATP est presente
em todos os tipos de vesculas sinpticas nos terminais nervosos, podendo ser
armazenado de forma isolada ou juntamente com outros neurotransmissores
INTRODUO 4
como noradrenalina, acetilcolina e glutamato. Quando co-estocado com outros
neurotransmissores o contedo vesicular de ATP excedente em nmero de
molculas e, dependendo do tipo de vescula, as propores variam de 2:1 a
50:1, correspondendo a concentrao de ATP a cerca de 1-200 mM dentro da
vescula (Sperlagh & Vizi, 1996).
A liberao de ATP de muitas clulas uma resposta fisiolgica ou
fisiopatolgica como estresse mecnico, hipxia, trauma ou processos
inflamatrios (Burnstock, 2006). Alm das evidncias da liberao de ATP por
exocitose vesicular em clulas neuronais (Pankratov et al., 2007), estudos
tambm suportam a liberao vesicular de ATP em astrcitos (Bowser & Khakh,
2007) atravs da ao de lisossomos (Zhang et al., 2007). Mecanismos adicionais
da liberao de nucleotdeos incluem transportadores que ligam ATP, canais
acoplados conexina ou panexina, como, por exemplo, o P2X7, um subtipo de
receptor P2X ou canais de nions dependentes de voltagem (Sabirov & Okada,
2005; Scemes et al., 2007).
Aps a liberao, ATP e outros nucleotdeos sofrem rpida degradao
enzimtica, degradao esta, funcionalmente importante, uma vez que
metablitos do ATP atuam como ligantes fisiolgicos em vrios receptores
purinrgicos (Zimmermann, 2006). Vrias famlias de enzimas esto envolvidas
na hidrlise de ATP liberado para o meio extracelular: (1) ecto-nucleosdeo-
trifosfato-difosfohidrolases (E-NTPDases), das quais NTPDase 1, 2, 3 e 8 so
extracelulares; (2) ectonucleotdeo pirofosfatase/fosfodiesterase (E-NPPs); (3)
INTRODUO 5
fosfatases alcalinas e (4) ecto-5'-nucleotidases. A enzima NTPDase1 hidrolisa
ATP diretamente para AMP e UTP a UDP, enquanto a enzima NTPDase2
hidrolisa ATP a ADP. A enzima 5'-nucleotidase finaliza esta cascata ao hidolisar
o AMP a adenosina (Figura 2) (para reviso, Burnstock, 2006).
Figura 2. Representao esquemtica do sistema purinrgico envolvendo ATP, enzimas
de degradao e receptores. O ATP, liberado por exocitose vesicular do terminal nervoso
simptico, atua como cotransmissor em receptores purinrgicos P2X e P2Y. ADP e
adenosina so gerados atravs da atividade de ectonucleotidases ativando receptores P2Y
e P1 especficos. A liberao de ATP pode tambm ser efetuada via canais na membrana
celular evocando aes autcrinas ou parcrinas.
INTRODUO 6
1.3 Receptores Purinrgicos
Na tabela 1 apresentamos um resumo das caractersticas farmacolgicas e
mecanismos de transduo dos receptores purinrgicos.
Tabela 1 Caractersticas Farmacolgicas e Mecanismos de Transduo dos
Receptores Purinrgicos
Receptor P1 Receptor P2
Ligante endgeno
Adenosina
ATP ADP UTP UDP
Dinucleotdeos de adenosina
Subgrupo A P2X P2Y
Tipo de Receptor
Acoplados protena G:
Gs, Gq, Gi, Go Canal inico
Acoplados protena G: Gq/11, Gi, Gs
Subtipos A1, A2A, A2B, A3 P2X1-7 P2Y1, P2Y2, P2Y4, P2Y6,
P2Y11, P2Y12, P2Y13, P2Y14
Efetores IP3, Ca2+, AMPc Ca2+> Na+> K+ IP3, Ca2+, DAG
, AMPc
Agonistas
R-PIA CGS21680 IB-MECA
NECA
Seletivo P2X , -mATP , -mATP
Bz-ATP
No-seletivo ATPS
2MeSATP Ap4A
Seletivo P2Y
ADP 2MeSADP
ADPS UTP/UDP
Antagonistas XAC, CSC,
MRS 1067
Suramina, reativo azul. PPADS (receptor acoplado a PLC)
A3'P5'P, A2'P5'P, A3'P5'PS (P2Y1), 2MeSAMP (P2Y12)
Abreviaturas: R-PIA - (R)N6-fenilisopropiladenosina; CGS21680 2-p-(2-Carboxietil) fenetilamino-5-N-etilcarboxamidoadenosina; IB-MECA - N6-(3-iodo-benzil)-5-(N-metilcarbamoil) adenosina; NECA - 5'-N-etilcarboxamidoadenosina; XAC Congnero amino xantina; CSC - 8-(3-clorostiril) cafena; MRS 1067 - 3,6-dichoro-2'-isopropiloxi-4'-metilflavona; , -mATP - , -metileno adenosina 5-trifosfato; , -mATP - , -metileno adenosina 5-trifosfato; Bz-ATP benzoil ATP 2(3)-O-(4-Benzoylbenzoyl) adenosina 5-trifosfato; ATPS adenosina 5-O-(3-tio) trifosfato; 2MeSATP 2-metil(tio) adenosine- 5'- O- trifosfato;Ap4A - diadenosinetetrafosfato; ADP - adenosina 5'difosfato; 2MeSADP 2-metil(tio) adenosina 5difosfato; ADPS - adenosina 5-O-(2-tiodifosfato); UTP - uridina-5'-trifosfato; UDP -uridina-5'-difosfato; PPADS - cido piridoxalfosfato-6-azofenil-2, 4'-disulfnico; A3'P5'P - adenosina 3, 5-bifosfato; A2'P5'P - adenosina 2, 5-bifosfato; A3'P5'PS - adenosina 3'-fosfato-5'-fosfosulfato; 2MeSAMP 2 metil(tio) monofosfato de adenosina.
INTRODUO 7
1.3.1 Receptores P1
Os receptores P1 so receptores metabotrpicos, acoplados protena G,
cujo ligante endgeno a adenosina. Quatro diferentes subtipos de receptores
P1 foram clonados e caracterizados: A1, A2A, A2B e A3 e, como todos os
representantes da superfamlia dos receptores acoplados a protena G, estes
apresentam 7 segmentos transmembrnicos, o terminal amino voltado para o
meio extracelular e o terminal carboxil para o meio intracelular (Ralevic &
Burnstock, 1998; Burnstock 2007b). Estes diferentes subtipos se diferenciam pelo
tipo de protena G a que esto acoplados e pela transduo de sinais que
desencadeiam, sendo A1 e A3 ligados protena inibitria Gi/o e A2A e A2B
ligados protena estimulatria GS (Fredholm et al., 2001). Quando ativados, os
receptores A1 e A3 inibem a adenilil ciclase (AC), levando a uma diminuio no
monofosfato cclico de adenosina (AMPc) e um aumento na concentrao
intracelular de Ca2+ ([Ca2+]i), por uma via que envolve a ativao da enzima
fosfolipase C (PLC). Os receptores A2A e A2B por sua vez, levam a uma ativao
da AC, aumentando a concentrao intracelular de AMPc (Abbracchio et al.,
1995; Fredholm et al., 2001).
1.3.2 Receptores P2X
Os receptores P2X so protenas de membrana que formam canais inicos
na bicamada lipdica da membrana celular. Em resposta a agonistas, estes
canais permitem a passagem rpida, no-seletiva, de ctions de acordo com a
INTRODUO 8
seguinte permeabilidade inica: Ca2+>>Na+>K+. Dessa forma, a principal via de
sinalizao ativada por esses receptores o aumento da [Ca2+]i, que leva
despolarizao da membrana e ativao de diversas quinases intracelulares
como protena quinase dependente de clcio (PKC), protenas quinases ativadas
por mitgenos (MAPKs) e protena quinase dependente de clcio-calmodulina
tipo II (CaMKII) conferindo, ativao de receptores P2X, eventos
intracelulares complexos (Kles et al., 2008).
Os receptores P2X so conjuntos homomricos ou heteromricos de trs
subunidades proticas. At o momento, foram clonados sete subtipos de
receptores P2X (P2X1-7). Considerando que muitos desses receptores so
expressos na mesma clula, a formao de receptores heterotrimricos pode
produzir um grande nmero de complexo de receptores com caractersticas
farmacolgicas e funcionais diferenciadas (Ralevic & Burnstock, 1998; Roberts et
al., 2006).
A plasticidade funcional destes receptores pode ser tambm observada
atravs de sua interao com vrias macromolculas que podem modificar a
localizao, o trfego e a expresso destes receptores na membrana celular alm
de regular sua ativao, cintica de dessensibilizao e seletividade inica
(Kles et al., 2008).
INTRODUO 9
1.3.3 Receptores P2Y
Assim como os receptores P1, os receptores P2Y pertencem superfamlia
dos receptores acoplados protena G, e acoplam-se com protenas G dos tipos
Gq/11, Gs e Gi. Estruturalmente apresentam sete domnios transmembrnicos,
domnio amino-terminal constitudo de diversos stios de glicosilao e domnio
carboxi-terminal intracelular com diversos stios de ligao/fosforilao para
protenas quinases. Alguns resduos positivamente carregados nos domnios 3,
6 e 7 so cruciais para ativao do receptor por agonistas (Abbracchio et al.,
2006).
At o momento foram clonados em mamferos oito subtipos de receptores
P2Y (P2Y 1, 2, 4, 6, 11, 12, 13, 14). Estes nmeros indicam a ordem cronolgica em que
foram clonados. Os nmeros que faltam representam receptores que no
ocorrem em mamferos como o receptor p2y3 de aves, o receptor tp2y,
encontrado em peru e o receptor p2y8, expresso na placa neural de Xenopus
laevis ou receptores que possuem certo grau de identidade com os receptores
P2Y, mas que no respondem a nucleotdeos (p2y5, p2y7, p2y9, p2y10 e p2y15)
como o receptor inicialmente denominado p2y7 que atua como um receptor
para leucotrieno B4, mas no para nucleotdeos (para reviso Abbracchio et al.,
2006).
Segundo a diviso farmacolgica proposta por Abbracchio e
colaboradores (2006), os receptores P2Y podem ser subdivididos em: (I)
receptores que respondem preferencialmente aos nucleotdeos de adenina, ATP
INTRODUO 10
e ADP, incluindo os receptores P2Y1, 11, 12, 13; (II) receptores que respondem
preferencialmente aos nucleotdeos de uracila, UTP ou UDP, P2Y4 e P2Y6 em
humanos; (III) receptores de seletividade mista, que respondem igualmente ao
ATP e ao UTP, P2Y2; e (IV) receptores que respondem apenas a compostos de
uracila difosfato com aucares (UDP-glicose e UDP-galactose), como P2Y14.
Classicamente, os antagonistas mostram o seguinte perfil: suramina
antagoniza a maior parte dos receptores P2Y com exceo do receptor P2Y4;
PPADS (cido piridoxalfosfato-6-azofenil-2, 4'-disulfnico) um potente
antagonista apenas de receptores P2Y1; reativo azul 2 no efetivo no bloqueio
de receptores P2Y2 (tabela 1) (von Kugelgen, 2006).
No mecanismo de transduo, os receptores P2Y1, 2, 4, 6, 11 acoplados a
protena Gq/11 estimulam a enzima PLC, e levam formao de trifosfato de
inositol (IP3) e diacilglicerol (DAG), com subsequente mobilizao de [Ca2+]i; o
receptor P2Y11, acoplado protena Gi/0, estimula a enzima AC aumentando os
nveis de AMPc, enquanto os receptores P2Y12, 13, 14, por acoplamento protena
Gi/0, inibem a atividade desta enzima. Os receptores P2Y podem ainda ativar
fosfolipase A (PLA), fosfolipase D (PLD), MAPK, tirosina quinase e
serina/treonina quinase (Akt) (revisto por Franke & Illes, 2006).
Portanto, as respostas funcionais decorrentes da ativao de receptores
purinrgicos podem ser reguladas por uma srie de vias de mensageiros
intracelulares (Figura 3). Alteraes na translocao de fatores de transcrio
como AP-1 (protena ativadora 1), NF- B (fator nuclear kappa B), CREB
INTRODUO 11
(protena ligante ao elemento de resposta do AMPc) e STAT3 (transdutor de
sinal e ativador da transcrio 3) tm sido descritas (Burnstock, 2007a).
Figura 3. Representao esquemtica dos mecanismos de sinalizao purinrgica.
Nucleotdeos e nucleosdeos se ligam a receptores P1 e P2Y acoplados a enzimas efetoras
de transduo de sinal. A ativao destas enzimas leva gerao de segundos mensageiros
ou a estimulao de protenas quinases que regulam a expresso de genes alvo. As
respostas funcionais, portanto, podem ser reguladas por uma srie de vias de segundos
mensageiros, como por exemplo, via de ativao de adenilil ciclase (AC), fosfolipase C
(PLC), fosfolipase A (PLA), fosfolipase D (PLD), estimulando monofosfato de adenosina
cclico (AMPc), Ca2+, diacilglicerol (DAG), trifosfato de inositol (IP3) e xido ntrico (NO),
protena quinase ativada por mitgeno (MAPK), protena quinase dependente de clcio
(PKC), quinase serina/treonina (Akt) e protena quinase dependente de clcio-calmodulina
(CaMK). Alteraes na translocao de fatores de transcrio como AP-1, NF-kB, CREB e
STAT3 tm sido descritas. A ativao de receptores P2X com subsequente aumento da
[Ca2+]i pode resultar tambm na ativao das diversas quinases citadas (adaptada de
Burnstock, 2007a).
INTRODUO 12
2. Mecanismos moleculares de transduo de sinal de receptores
purinrgicos
2.1 Protena ativadora 1 (AP-1)
A protena ativadora 1 (AP-1) um complexo dimrico formado por
molculas das famlias Jun (c-Jun, JunB e JunD) e Fos (c-Fos, FosB, Fra1 e Fra2).
Os genes da famlia Jun so proto-oncogenes de resposta primria, induzidos
por estmulos extracelulares, como fatores de crescimento, hormnios e outros
mitgenos que, quando expressos, codificam para protenas nucleares com
atividade de fatores de transcrio (Ryseck et al., 1988). Tais genes, juntamente
com a famlia dos genes Fos codificam fosfoprotenas nucleares, que se
associam e formam o fator de transcrio AP-1.
Estas protenas tm em comum um domnio rico em resduos de leucinas
essencial para a dimerizao e ligao com o DNA, composto por sete
aminocidos que formam homodmeros jun-jun ou heterodmeros fos-jun, na
forma de -hlices, denominados zper de leucina bsico(bZIP). O complexo
AP-1 regula a transcrio de genes alvos, positiva ou negativamente,
dependendo da composio dos dmeros (Angel & Karin, 1991; Sassone-Corsi et
al., 1988).
Na glndula pineal de ratos o fator de transcrio AP-1 exibe um ritmo de
atividade in vivo temporalmente correlacionado com o ritmo de produo de
melatonina, sendo a atividade noturna do AP-1 cinco vezes maior que a
encontrada na fase de claro. Este padro de ativao tem sido tambm
INTRODUO 13
demonstrado em glndulas pineais em cultura estimuladas por noradrenalina,
onde o acmulo das protenas JunB e cFos tem sido demonstrado em extratos
nucleares de pineais aps estimulao tanto in vitro como in vivo (Carter, 1994).
2.2 Fator de transcrio nuclear kappa B (NF- B)
O fator de transcrio NF- B (do ingls, nuclear factor kappa B) composto
por uma famlia de protenas que possuem em comum uma sequncia de 300
aminocidos denominada de domnio de homologia Rel (RHD, do ingls, Rel
homology domain). Estas regulam a expresso de uma grande variedade de
genes, sendo uma via central na resposta imunolgica inata e adaptativa.
Atualmente, fazem parte da famlia Rel cinco subunidades que apresentam-se
como homo ou heterodmeros: p50 e p52 (p50 gerada atravs da clivagem de
p105, e p52 a partir da protena p100), que no possuem um domnio de
ativao de transcrio (TAD, do ingls, transcription activation domain), sendo
ento, responsveis pela inibio da transcrio de um gene; e Rel A (ou p65),
Rel B e c-Rel, que possuem este domnio e podem atuar positivamente sobre a
transcrio gnica (Hayden & Ghosh, 2008).
Quando inativos, os dmeros encontram-se no citoplasma associados a
uma famlia de protenas inibitrias, I B, que mantm o dmero do NF-B
sequestrado no citoplasma, impedindo sua translocao ao ncleo e sua
associao com o DNA (Hayden & Ghosh, 2008). Estmulos diversos induzem a
ativao de protenas quinase de I B (IKKs), que so quinases responsveis por
INTRODUO 14
fosforilar as molculas de I B e fazer com que estas sejam degradadas via
proteassoma, permitindo a translocao nuclear do dmero NF- B (Verma et al.,
1995; Hayden & Gosh, 2008).
A translocao nuclear de NF- B pode ser funcionalmente avaliada
atravs da utilizao de ferramentas farmacolgicas como pirrolidina
ditiocarbamato (PDTC), composto que impede a ligao do NF- B s regies
promotoras do gene aps a entrada no ncleo celular inativando-o (Ziegler-
Heitbrock et al., 1993; Wolchok et al., 1994; De Plaen et al., 2006; Jiang et al.,
2008).
Trabalhos de nosso grupo tm demonstrado o envolvimento da via NF- B
na sntese de melatonina pela glndula pineal de ratos. A glndula pineal
apresenta uma expresso constitutiva de dmeros p50/p50 de NF- B com um
ritmo de translocao nuclear, inverso ao da melatonina. Desta forma, durante a
fase de claro, os nveis constitutivos de NF- B so crescentes, sofrendo uma
queda brusca no incio da fase de escuro (Cecon et al., 2010). Uma vez que
p50/p50 no possui o domnio de transativao (Hayden & Ghosh, 2008), ele
atua como repressor da transcrio gnica o que explica seus baixos nveis
durante a noite, permitindo a produo de melatonina. De fato, a inibio do
NF- B constitutivo potencia a sntese de melatonina induzida por
noradrenalina em pineais em cultura (Ferreira et al., 2005). Contudo, em pineais
de ratos em cultura por 48 horas a presena dos dmeros de NF- B p50/p50 e
INTRODUO 15
p50/RelA foi encontrada, revelando o estado de ativao celular induzido pela
manipulao experimental (Carvalho-Sousa et al., 2011).
3. Glndula Pineal
A identificao da glndula pineal como um rgo distinto do crebro
remonta aos sculos III e IV aC. Galeno de Prgamo (130-200 DC) parece ter
sido o primeiro a descrever a localizao da pineal, no crebro humano,
caracterizando-a como uma glndula (anloga aos gnglios linfticos), e
nomeando-a konareion (conarium em Latim) por sua forma de pinha. O rgo foi
posteriormente denominado glndula pinealis, da glndula pineal. Vrias foram
as interpretaes do seu papel funcional, que incluem desde um esfncter
controlador do fluxo do esprito animal at a interpretao de Ren Descartes
(15961650) de sede da alma ou como o rgo de coordenao das funes
psicofisiolgicas do organismo (Arendt, 1995).
Presente em todos os vertebrados, a glndula pineal um rgo
neuroendcrino cuja produo hormonal classicamente controlada pelo ciclo
de iluminao ambiental caracterstico do dia e da noite. Esse controle tal que,
na enorme maioria das espcies estudadas (seja de atividade diurna, noturna ou
crepuscular), a produo de melatonina, hormnio produzido e liberado por
esta glndula, exclusivamente noturna e a magnitude e durao de sua
concentrao plasmtica est na estrita dependncia da durao da fase de
INTRODUO 16
escuro. Dessa forma, esta caracterstica de produo noturna da melatonina
fator decisivo para que o organismo possa prever e se adaptar s variaes
dirias e sazonais (para reviso Simmoneaux &Ribelayga, 2003).
3.1 Morfologia e Inervao da Glndula Pineal
O parnquima da pineal constitudo de diferentes tipos celulares. O tipo
celular mais abundante o pinealcito, clula produtora de melatonina. Outros
tipos celulares incluem astrcitos, de localizao proximal ao pednculo pineal
e micrglia, difusamente distribuda por todo o parnquima da glndula
(Meller & Baeres, 2002; Carvalho-Sousa et al., 2011; da Silveira Cruz-Machado
et al., 2012).
A glndula pineal de mamferos inervada por fibras de vrias origens,
sendo que a principal via reguladora do ritmo de produo de melatonina
uma via multissinptica que se inicia na retina. As informaes fticas captadas
pela retina atravs do fotopigmento melanopsina chegam aos ncleos
supraquiasmticos (NSQs), uma das estruturas anatmicas mais importantes na
gerao e manuteno de ritmos circadianos em mamferos, via fibras retino-
hipotalmicas e, a partir da, so transmitidas para a rea retro-quiasmtica do
ncleo paraventricular (PVN) do hipotlamo que se projeta direta ou
indiretamente, sobre a coluna intermediolateral da medula espinal (Provncio et
al., 2000). Esta, por sua vez, projeta-se sobre o gnglio cervical superior de onde
partem fibras simpticas que inervam a pineal (Klein & Moore, 1979). O
INTRODUO 17
principal neurotransmissor dessas terminaes simpticas a noradrenalina,
que estimula a sntese de melatonina agindo sobre os adrenoceptores e ,
presentes na membrana dos pinealcitos (Klein & Weller, 1970). Alm do
neurotransmissor noradrenalina, as terminaes nervosas simpticas liberam
neuromoduladores como o neuropeptdeo Y (NPY), ATP, entre outros (Schon et
al., 1985; Zhang et al., 1991; Mikkelsen & Mller, 1999; Mortani-Barbosa et al.,
2000).
A existncia de uma cotransmisso noradrenrgica-purinrgica na
glndula pineal foi funcionalmente evidenciada atravs de um ensaio que
permitiu acessar a importncia de ambos os transmissores (noradrenalina e
ATP) no metabolismo da glndula pineal. Sob estimulao eltrica transmural
dos terminais nervosos que inervam a pineal, a incubao com o antagonista
-adrenrgico propranolol, bloqueou completamente a produo de
N-acetilserotonina (NAS), precursor imediato da melatonina, enquanto os
antagonistas de receptores P2, PPADS e suramina, bloquearam parcialmente
esta produo, apontando para a relevncia fisiolgica do papel da
cotransmisso noradrenrgica-purinrgica neste sistema (Mortani-Barbosa et al.,
2000).
3.2 Vias metablicas de sntese e degradao da melatonina
A melatonina, hormnio mais conhecido da pineal, tem sua sntese
iniciada a partir do aminocido triptofano, proveniente da circulao, que
INTRODUO 18
hidroxilado pela enzima triptofano-hidroxilase (TPH) formando
5-hidroxitriptofano (5-HTP), o qual descarboxilado pela enzima aminocido
aromtico descarboxilase (AAAD), gerando assim a serotonina
(5-hidroxitriptamina 5-HT). A serotonina pode ser acetilada pela ao da
enzima arilalquilamina N-acetiltransferase (AA-NAT) originando a NAS, que
metilada pela enzima hidroxi-indol-O-metiltransferase (HIOMT) formando a
melatonina (Sugden et al., 1989; para reviso Simonneaux & Ribelayga, 2003).
Vrios componentes desta via, como serotonina, NAS e melatonina
apresentam grandes variaes circadianas, sendo secretados diretamente para a
circulao sangunea (Chattoraj et al., 2009; Carter et al., 2012).
A melatonina secretada gera diversos metablitos bioativos. Pelo menos
seis enzimas transformam melatonina em diferentes metablitos. A enzima
citocromo P450 (CYP450) converte melatonina a 6-hidroximelatonina e tambm
a metaboliza a N1-acetil-N2-formil-5-metoxiquinuramina (AFMK). Alm desta,
as enzimas indolamina 2,3-dioxigenase (IDO), horseradish peroxidase (HRP),
mieloperoxidase (MPO) e eosinilperoxidase (EPPO) tambm convertem
melatonina a AFMK. Pela ao da enzima arilamina formamidase (AFM) ou da
catalase (CAT), AFMK pode ser metabolizado outra amina biognica - N1-
acetil-5-metoxiquinuramina (AMK). A melatonina tambm substrato da
enzima melatonina deacetilase formando 5-metoxitriptamina (revisto por Tan et
al., 2010).
INTRODUO 19
Alm da transformao enzimtica, vias pseudoenzimticas e interaes
da melatonina com radicais livres tambm geram AFMK, AMK, ciclo-3-
hidroximelatonina, N-nitrosomelatonina e 2-hidroximelatonina tanto em
condies in vitro como in vivo (revisto por Tan et al., 2010).
Durante a fase de claro, na qual no h produo de melatonina, a
concentrao de serotonina no pinealcito regulada atravs da via da
monoamina oxidase B (MAO B). A serotonina sob a ao da MAO B
transformada em 5-hidroxi-indolacetaldedo (5-HIAL), e este, por sua vez, sob a
ao da enzima aldedo desidrogenase convertido em cido 5-hidroxi-
indolactico (5-HIAA) ou sob a ao da enzima lcool desidrogenase
transformado em 5-hidroxitriptofol (5-HL). Ambos podem ser O-metilados por
ao da HIOMT, formando respectivamente o cido 5-metoxi-indolactico (5-
MIAA) e metoxitriptofol (5-ML) (Klein et al., 1981) (Figura 4).
INTRODUO 20
TRIPTOFANO
5 - HTP
SEROTONINA
NAS
MELATONINA
lcool desidrogenase
Aldedo
desidrogenase
TPH
AAAD
AA - NAT
HIOMT
6-HIDROXIMELATONINA AFMK
6-SULFATOXIMELATONINA A MK
CYP450
5 - H IAL
5 - H IA A 5 - H L
5 - MIAA 5 - M L
MAO B
AFM/ CAT 5-MT
IDO/ CYP450/
HRP/ MPO/
EPPO
Figura 4. Vias Metablicas de sntese e degradao da melatonina. A sntese de melatonina
iniciada a partir do aminocido triptofano, que hidroxilado pela enzima TPH formando 5-
HTP, o qual descarboxilado pela enzima AAAD, gerando assim a serotonina, esta pode ser
acetilada pela ao da AA-NAT originando a NAS, que metilada pela HIOMT formando a
melatonina. A enzima CYP450 converte melatonina a 6-hidroximelatonina e tambm a
metaboliza a AFMK. As enzimas IDO, HRP, MPO e EPPO tambm convertem melatonina a
AFMK. Pela ao da enzima AFM ou da CAT, AFMK pode ser metabolizado AMK. A
melatonina tambm substrato da enzima melatonina deacetilase formando 5-MT. Durante a
fase de claro, a serotonina sob a ao da MAO B transformada em 5-HIAL, e este, por sua vez,
sob a ao da enzima aldedo desidrogenase convertido em 5-HIAA ou sob a ao da enzima
lcool desidrogenase transformado em 5-HL. Ambos podem ser O-metilados por ao da
HIOMT, formando respectivamente o cido 5-MIAA e 5-ML (adpatado de Simonneaux &
Ribelayga, 2003).
INTRODUO 21
3.3 Controle da Sntese de Melatonina
Na glndula pineal, a ativao dos adrenoceptores essencial para a
produo de melatonina. Adrenoceptores 1 possuem um ritmo dirio, de
modo que a maior densidade desses receptores na glndula pineal seja
encontrada na transio claro/escuro (Romero & Axelrod, 1974; Panger et al.,
1990). A noradrenalina liberada pela estimulao do terminal simptico na
glndula pineal na fase de escuro, ativa adrenoceptores 1 e 1 elevando a
[Ca2+]i e a concentrao de AMPc, respectivamente (Sugden et al., 1986). A
estimulao de adrenoceptores 1 potencia o efeito induzido pela estimulao
de adrenoceptores 1, mas no capaz de elevar sozinha os nveis de AMPc
(Chik et al., 1988).
O Ca2+ e o DAG ativam a PKC, potencializando o aumento do AMPc, pois
essa enzima pode fosforilar a AC ou a protena Gs, ativando-as. O AMPc e o
Ca2+ so fundamentais para o processo de ativao da enzima AA-NAT (Klein
et al., 1983; Chik et al., 1988; Sudgen et al., 1988). A AA-NAT, quando fosforilada
pela protena quinase dependente de AMPc (PKA), interage com a protena
14-3-3 formando um complexo protegido contra protelise proteassomal (Klein
et al., 2002).
Em roedores, o aumento do AMPc e, consequentemente, a ativao da
PKA fazem com que a subunidade cataltica da PKA fosforile o fator de
transcrio CREB. Este, por sua vez, se liga ao seu stio CRE (elementos
INTRODUO 22
responsivos a AMPc) na regio promotora do gene da aa-nat, induzindo a
transcrio seguida da traduo citoplasmtica da enzima (Klein, 2007).
Um dos mecanismos de regulao inibitria sobre a AA-NAT envolve a
sntese da protena ICER (repressor induzido por AMPc, do ingls, inducible
cAMP early repressor). Esta protena inibe a transcrio do gene da aa-nat
reduzindo a atividade desta enzima. Esse fator contribui para a queda da
atividade da AA-NAT que ocorre no fim da fase de escuro (Stehle et al., 1993).
Por sua vez, a atividade da enzima HIOMT no perodo noturno apresenta
um aumento de 1,5 vezes, enquanto o seu RNAm tem um aumento de 2 vezes
(Ribelayga et al., 1999a, b; Simonneaux & Ribelayga, 2003). O ritmo circadiano
do RNAm da HIOMT dependente da estimulao adrenrgica, atravs da
ativao do receptor -adrenrgico, e do aumento na concentrao de AMPc.
Contudo, o ritmo da atividade da enzima HIOMT parece ser dependente de
eventos ps-transcricionais, induzidos por neurotransmissores que aumentam a
concentrao intracelular de Ca2+ (Simonneaux et al., 1999).
Apesar de a glndula pineal ser considerada o principal local de sntese de
melatonina, diversos estudos tm mostrado que muitos tecidos e rgos extra-
pineais so capazes de sintetizar melatonina. Estes incluem retina (Iuvone et al.,
1983; Zmijewski et al., 2009; Mennenga et al., 1991; Iuvone et al., 2002; Tosini et
al., 2007), glndula de Harderian (Djeridane et al., 1998), glndula tireide de
rato (Kvetnoy, 1999; Garca-Marn et al., 2012), medula ssea (Tan et al., 1999;
Conti et al., 2000), trato gastro-intestinal (Huether et al., 1992; Huether, 1993;
INTRODUO 23
Bubenik, 2002), clulas epidrmicas (Slominski et al., 1996, 2002; Fischer et al.,
2008), ovrio (Itoh et al., 1999), testculos (Tijmes et al., 1996) e clulas
imunocompetentes (Carrillo-Vico et al., 2004, 2005; Pontes et al., 2006; Naranjo et
al., 2007).
A melatonina, advinda desta produo extra-pineal, tem sido envolvida
num amplo espectro de atividades biolgicas apresentando, portanto, atravs
de comunicaes autcrina e parcrina, um importante papel na coordenao
de eventos intracelulares.
3.4 Atividades Biolgicas da Melatonina
Alm de seu importante papel na transmisso da informao ftica
ambiental, a melatonina atua tambm, por exemplo, como antioxidante, na
modulao da interao clcio-calmodulina (Benitez-King et al., 1993); na
inibio da translocao nuclear de fatores de transcrio (Gilad et al., 1998;
Cecon et al., 2010); potencia a produo de interleucina 2 (IL-2), IL-6 e interferon
gama em linfcitos e moncitos humanos (Garcia-Maurio et al., 1997); entre
outros.
Como antioxidante, a melatonina possui capacidade tanto de sequestrar
diretamente radicais livres quanto de potenciar a atividade de enzimas
antioxidantes. Estes efeitos so gerados tambm por seus metablitos, AFMK e
AMK, molculas com maior atividade antioxidante do que a prpria
melatonina, capazes de reagir diretamente com molculas reativas como,
INTRODUO 24
espcies reativas de oxignio (ROS) e espcies reativas de nitrognio (RNS)
(para reviso Tan et al., 2007).
Seus efeitos so mediados atravs da atuao em receptores especficos
(MT1 e MT2) acoplados protena G que esto localizados na membrana
celular. Estes receptores podem estar acoplados a diferentes isoformas da
protena G, variando de acordo com sua localizao nas clulas e tecidos
(Dubocovich et al., 2005; Hardeland et al., 2009). A melatonina pode tambm
atuar em um receptor citoplasmtico, homlogo a enzima quinona redutase 2
(QR2), denominado MT3 (Nosjean et al., 2000), ou ainda por mecanismos
independentes de receptores, ou seja, diretamente com protenas citoslicas e
nucleares, j que possui alto coeficiente de partio leo-gua atravessando
facilmente as membranas celulares (Shida et al., 1994).
3.5 Receptores Purinrgicos na Glndula Pineal
A capacidade de pinealcitos em cultura gerarem adenosina a partir de
ATP extracelular sugeriu a presena de ectoenzimas e a existncia de um
sistema purinrgico funcional na pineal (Nikodjevic & Klein, 1989). Ensaios de
ligao com radioligantes adenosinrgicos em membranas de pineais de rato,
demonstraram a existncia de stios de ligao seletivos para estes receptores
nestas preparaes (Sarda et al., 1989).
Funcionalmente, as evidncias de um papel para a adenosina na fisiologia
da pineal foi demonstrada atravs do acmulo dos segundos mensageiros
INTRODUO 25
AMPc e monofosfato de guanosina cclico (GMPc) em pinealcitos de rato
estimulados com concentraes crescentes de adenosina e dos anlogos (R)N6-
fenilisopropiladenosina (R-PIA), 5'-N-etilcarboxamidoadenosina (NECA) e 2-
cloroadenosina (2-Cl-adenosina). A natureza estimulatria desta resposta, a
potncia relativa dos agonistas testados e o efeito de antagonistas seletivos
corroboraram o envolvimento do receptor A2B na pineal (Nikodijevic & Klein,
1989; Gharib et al., 1992).
Em glndulas pineais em cultura a estimulao de receptores de
adenosina pelo anlogo NECA aumentou o acmulo de AMPc de maneira
similar observada com a estimulao -adrenrgica por isoproterenol (ISO).
Esta resposta foi potenciada pela estimulao simultnea com ISO e NECA.
Enquanto os nveis de AMPc induzidos por ISO foram associados a um
aumento na atividade da AA-NAT e sntese de melatonina, o aumento dos
nveis intracelulares deste segundo mensageiro induzido pela estimulao do
anlogo NECA no aumentou a atividade da AA-NAT e nem os nveis de
melatonina (Nonaka et al., 1991). Contudo, em pinealcitos isolados, o anlogo
NECA (100 M) potenciou o efeito estimulatrio de ISO (3 M) sobre a
produo de melatonina pela pineal, efeito este bloqueado por antagonista
clssico de receptor para adenosina e consistente com a ativao de receptor A2B
(Nicholls et al., 1997).
In vivo, a administrao de ISO elevou a atividade da AA-NAT e sntese de
melatonina, contudo, a administrao do anlogo NECA no alterou nenhum
INTRODUO 26
destes parmetros analisados (Nordio et al., 1992) em contraste com outro
estudo no qual a administrao de NECA resultou em um aumento nos nveis
do precursor NAS e de melatonina 2 a 4 horas aps a administrao
intraperitoneal durante a fase de claro (Gharib et al., 1989).
A presena de receptores A2B e A3 foi tambm demonstrada em clulas
tumorais da pineal de ratos, onde o receptor A2B estaria acoplado positivamente
enzima AC e ao receptor A3 acoplado negativamente enzima AC e acoplado
a PLC (Suh et al., 2001). Estas clulas tumorais tambm possuem receptores
P2Y1 e P2Y2 acoplados PLC (Suh et al., 1997). Um acoplamento seletivo dos
receptores purinrgicos e adrenrgicos neste modelo tem sido sugerido, uma
vez que, a estimulao do receptor P2Y1 no apresentou nenhum efeito sobre o
acmulo de AMPc induzido por ISO, enquanto a estimulao do receptor P2Y2
levou inibio do acmulo de AMPc induzido por ISO (Suh et al., 2001).
A presena de receptores P2 em glndulas pineais de rato mantidas em
cultura foi caracterizada por nosso grupo. Em glndulas estimuladas com
noradrenalina, o aumento na produo de NAS, nas glndulas e nos meios de
incubao, foram potenciados por ATP e seu anlogo no hidrolisvel
adenosina paranitrofenilfosfato (AMP-PNP) de maneira dependente de
concentrao. Suramina, antagonista P2, bloqueou o efeito do ATP, mas no o
da adenosina, tambm testada neste estudo. Estes resultados constituram os
primeiros achados de que a glndula pineal de ratos possui receptores P2, que
INTRODUO 27
quando estimulados, potenciam a produo de NAS induzida por
noradrenalina, no tendo efeito por si s (Ferreira et al., 1994).
De acordo com a seletividade a agonistas e mecanismos de transduo
estes receptores foram caracterizados como receptores P2Y1. Os agonistas 2-
metiltio ATP (2MeSATP), 2-cloroATP (2-ClATP), adenosina 5'-O-2-tiodifosfato
(ADPS), ATP e ADP, mas no UTP, potenciaram a produo de NAS induzida
por noradrenalina de maneira dependente da concentrao. O agonista
2MeSATP no induziu o acmulo de AMPc, nem inibiu sua formao em
glndulas estimuladas por forskolin. A inibio da PLC pelo composto U73122
bloqueou o efeito potenciador do agonista 2-MeSATP, efeito no observado na
presena de seu anlogo inativo U73343. Finalizando esta caracterizao, o
efeito potenciador do agonista 2-MeSATP foi bloqueado na presena do
antagonista PPADS (tabela 1) (Ferreira & Markus, 2001).
As respostas funcionais da estimulao de receptores P2Y1 na pineal
tambm foram avaliadas atravs da tcnica de microfisiometria. Na presena do
quelante de Ca2+ BAPTA, a velocidade de acidificao extracelular induzida por
ADP inibida, bem como na presena dos antagonistas seletivos P2Y1,
adenosina 3, 5-bifosfato (A3P5P) e adenosina 3'-fosfato-5'-fosfosulfato
(A3P5PS) (Ferreira et al., 2003).
Deste modo, na glndula pineal de ratos, o ATP, coliberado com
noradrenalina do terminal nervoso simptico, potencia a produo do
precursor NAS de maneira dependente de concentrao, efeito este mediado
INTRODUO 28
por receptores P2Y1. A estimulao destes receptores ativa uma protena Gq
ligada estimulao da PLC, gerando IP3 e DAG. O IP3, atuando em seus
receptores no retculo endoplasmtico, induz a liberao do Ca2+ desses
estoques, tendo como consequncia um aumento da [Ca2+]i. O Ca2+ e o DAG
ativam a PKC, que potencia o aumento do AMPc j induzido pela estimulao
-adrenrgica. Este efeito pode ocorrer pela fosforilao da AC ou da protena
Gs. O Ca2+ tem um papel potenciador da sntese do AMPc intracelular tambm
por atuar atravs do complexo clcio/calmodulina na ativao da AC (Tzavara
et al, 1996).
Portanto, a participao do sistema purinrgico na fisiologia da glndula
pineal sugere um papel complexo para estas molculas. Tendo em vista a
existncia de relatos to conflitantes em relao regulao da produo de
melatonina, seu precursor NAS e os eventos intracelulares desencadeados,
buscamos nesta dissertao investigar os efeitos da co-estimulao purinrgica
sobre a produo de melatonina propriamente dita aprofundando esta
investigao sobre os mecanismos moleculares envolvidos na estimulao dos
receptores P2Y1 caracterizados na pineal.
OBJETIVOS
OBJETIVOS 30
OBJETIVOS
O objetivo geral deste trabalho foi avaliar a participao da estimulao
do receptor purinrgico P2Y1 sobre a produo de melatonina induzida pela
estimulao -adrenrgica. Para tanto, avaliamos:
A produo de melatonina e N-acetilserotonina em glndulas pineais em
cultura e em pinealcitos isolados estimulados com o agonista
-adrenrgico isoproterenol (0,1 M) na ausncia ou na presena de
concentraes crescentes do agonista ADP (0,01 mM - 1 mM);
O mecanismo molecular envolvido atravs da anlise da translocao
nuclear dos fatores de transcrio AP-1 e NF-B em glndulas pineais em
cultura estimulados com ADP (1 mM);
A expresso gnica e a atividade enzimtica das enzimas AA-NAT e
HIOMT envolvidas na biossntese de melatonina aps estimulao por
ADP (0,01 1 mM);
Estudo com o antagonista seletivo de receptores P2Y1- A3P5P
MATERIAL E MTODOS
MATERIAL E MTODOS 32
MATERIAL E MTODOS
1. Animais
Foram utilizadas ratos (Rattus novergicus) machos, da linhagem Wistar,
pesando entre 180 e 210g, provenientes do biotrio do Instituto de Biocincias
da Universidade de So Paulo. Os animais foram alojados em gaiolas de
polipropileno, mantidas em sala com temperatura e umidade controladas,
recebendo gua e rao ad libitum. O ciclo claro/escuro empregado foi o de
12/12 h (luzes acesas s 06h30 e apagadas s 18h30), sendo o horrio de acender
das luzes, considerado como Zeitbeger Time zero (ZT 0). Em todos os
experimentos os animais foram sacrificados por decapitao, em ZT 3, e as
glndulas pineais foram imediatamente colocadas em cultura ou armazenadas a
-80C. Todos os procedimentos foram realizados de acordo com a aprovao
previa da Comisso de tica em Uso de Animais Vertebrados em
Experimentao (CEA) do Instituto de Biocincias (protocolo 106/2010, anexo
1).
2. Drogas e Reagentes
As drogas e reagentes utilizados esto listados a seguir, de acordo com a
procedncia.
Amersham Biosciences (Reino unido): [125I]-2-iodomelatonina.
Beker (Brasil): gua estril para injeo.
Bio-Rad (Richmond, CA, EUA): acrilamida; SYBR Green.
MATERIAL E MTODOS 33
Calbiochem (Darmstadt, Alemanha): NP40 (Nonidet-P40)
Gibco BRL (Grand Island, NY, EUA): estreptomicina, glutamina,
penicilina.
Hoeschst (Brasil): cido ascrbico.
INRA (Frana): anticorpo originado de coelho especfico para melatonina
(R19540).
Invitrogem Life Technology (Carlsbad, CA, EUA): ditiotreitol (DTT),
fluoreto de fenilmetilsulfonil (PMSF), dNTP mix, PCR 5x, Superscript III
RT, DNase I, T4 polinucleotdeo quinas, Primers (senso e antisenso) para
aa-nat (5'-AGCGCGAAGCCTTTATCTCA-3' e 5'-AAGTGCCGGATCTC
ATCCAA-3'), hiomt (5'-AGCGCCTGCTGTT CATGAG-3 e 5'-GGAGCG
TGAGAGGTCAAAG-3) e 14-3-3 (5'-TGATCGGGATCTGGTGTA-3' e
5'- TCCACCATTTCGTCGTATCG-3'); Primers (senso e antisenso) para
18S: (5-CGGCTACCACATCCAAGGAA-3 e 5-GCTGGAATTACC
GCGGCT-3).
Merck (Brasil): A3P-5P adenosina-3, 5-bifosfato; acetato de sdio;
cido ctrico; cido clordrico; cido perclrico; lcool etlico; EDTA (do
ingls, ethylenediaminetetracetic acid dissodium salt); metanol;
metabisulfito de sdio;
Perkin Elmer (Boston, MA, EUA): Easy TidesR Adenosine
5'- triphosphate, [-32P].
MATERIAL E MTODOS 34
Promega (Madison, WI, EUA): oligonucletotdeo consenso para NF-B
(5'-AGTTGAGGGGACTTTCCCAGGC-3'); AP-1 (5'-CGTTGATGAGTC
AGCCG GAA-3').
Santa Cruz Biotechnology (Santa Cruz, CA, EUA): anticorpos para as
subunidades de NF-kB p50 (sc-114X); RelA (sc-109X).
Sigma-Aldrich (St. Louis, Missouri, EUA): poli (dIdC) double strand;
glicerol; bisacrilamida (N'-methylenebisacrylamide); N-acetilserotonina
(NAS); melatonina (MEL); HEPES; meio de cultura BGJb; (-) arterenol
bitartarato de sdio (noradrenalina); corticosterona; isoproterenol
bitartarato de sdio; adenosine 5'-difosfato (ADP); Pirrolidina
ditiocarbamato (PDTC).
3. Preparo de Drogas
Solues estoque de NAS (1 mM) e melatonina (1 mM) foram preparadas
em 0,1 M de cido clordrico acrescido de 0,02% de metabissulfito de sdio e
0,02% EDTA dissdico. Os estoques permaneceram congelados a -20C at o
uso por um perodo inferior a 30 dias. No momento do uso os padres foram
diludos em cido perclrico 0,1 M acrescido de 0,02% de metabissulfito de
sdio e 0,02% de EDTA dissdico.
As solues estoque de isoproterenol (10 mM) foram preparadas em cido
clordrico 0,01 M. As diluies foram realizadas em soluo aquosa de cido
ascbico (50 mg/L).
MATERIAL E MTODOS 35
As demais drogas utilizadas e listadas acima foram, quando necessrio,
diludas em gua deionizada purificada por sistema Milli-Q (Millipore ).
4. Cultura de Glndula Pineal
A cultura de glndulas pineais foi realizada segundo protocolo proposto
por Parfitt et al. (1976) e modificado por Ferreira et al. (1994). As pineais recm
removidas dos animais foram cultivadas em placas de cultura de 24 poos
(TPP), uma glndula por poo em 200 L de meio de cultura BGJb, pH 7,4,
acrescido de glutamina (2 mM), penicilina (100 U/mL) e estreptomicina
(100 g/mL) e mantidas a temperatura de 37C em atmosfera com 95% de
saturao de O2 e 5% de CO2 por 48 horas. O meio foi trocado aps 24 h. e no
momento anterior ao tratamento. Decorridas 48 h., as glndulas foram
submetidas estimulao e incubadas por 5 h. de acordo com os protocolos
experimentais. Aps o tratamento em cultura, as glndulas pineais foram
imediatamente armazenadas a -80C para posterior anlise da expresso gnica
das enzimas AA-NAT e HIOMT bem como da translocao nuclear dos fatores
de transcrio AP-1 e NF-B. Os meios de cultura foram armazenados a -20C
para posterior dosagem do contedo de NAS e melatonina.
5. Cultura de Pinealcitos
Os pinealcitos foram preparados conforme tcnica descrita por
Simonneaux et al. (1999). As glndulas pineais foram retiradas de grupos de
5-10 animais e colocadas em meio de dissociao contendo (mM): NaCl 137,3;
MATERIAL E MTODOS 36
KCl 5; NaH2PO4 0,7; cido 2-[4-(2-hidroxietil)1-piperazinil]-etanosulfnico
(HEPES) 25; albumina fetal bovina (BSA, 1 g/L) e glicose
(1,8 g/L), pH 7,4. A seguir foram incubadas em meio de dissociao
modificado complementado com cistena (1mM), EDTA (0,5 mM), DNase 0,01%
e papana (2 U/mL). Este meio de dissociao modificado foi incubado
previamente por 10 min. a 37oC para ativao da papana com cistena. Aps a
primeira incubao, o sobrenadante com clulas dissociadas foi removido,
centrifugado (240 x g, 5 min.) e ressuspenso em meio contendo inibidor de
tripsina
(0,1 mg/mL), BSA (0,1 mg/mL) e DNase (0,01%). O tecido no dissociado foi
mais uma vez incubado com meio de dissociao fresco por mais 10 min. e
tratados como descrito at a completa dissociao. O pool de clulas dissociadas
foi finalmente centrifugado por 10 min. a 107 g e ressuspenso na densidade de
70000 clulas/mL em meio DMEM acrescido de penicilina (100 U/mL),
estreptomicina (100 g/mL) e soro fetal bovino (10%). As clulas dispersas
foram colocadas em placas e mantidas 37oC, 5% CO2, overnight. Decorrido este
perodo, os pinealcitos isolados foram submetidos estimulao e incubados
por 5 h. de acordo com os protocolos experimentais para a anlise da atividade
enzimtica das enzimas AA-NAT e HIOMT bem como do contedo de
melatonina.
MATERIAL E MTODOS 37
6. Dosagem de indolaminas por cromatografia lquida de alta
eficincia (HPLC)
O contedo de NAS e melatonina presentes no meio de cultura foi
determinado por HPLC (Waters System, Milford, MA, EUA). O sistema
cromatogrfico foi composto por uma bomba Waters 1525 operada
isocraticamente em temperatura ambiente, uma coluna de fase reversa Resolve
C18 (partcula esfrica de 5 m; 3,9x150 mm) (Waters System, Milford, MA,
EUA) e um detector eletroqumico Waters 2465 operado em modo DC
(corrente contnua), controlado pelo programa computacional Empower
(Waters System, Milford, MA, EUA). A fase mvel para a dosagem de NAS
(acetato de sdio 0,1 M, cido ctrico 0,1 M, EDTA 0,15 mM e metanol 10% pH
3,7) e para a dosagem de melatonina (acetato de sdio 0,1 M, cido ctrico 0,1 M,
EDTA 0,15 mM e metanol 25%, pH 3,7) fluiu com fluxo de 0,95 mL/min. e 0,50
mL/min., respectivamente. O potencial do detector foi ajustado para +0,90 V
versus eletrodo de referncia Ag/AgCl. Para a realizao da anlise, 20 L do
meio de cultura ou de padres para cada analito foi injetado diretamente no
sistema cromatogrfico.
7. Dosagem radioimunolgica de melatonina
A concentrao de melatonina nos meios de cultura de pinealcitos
dispersos estimulados com isoproterenol (1 M) na ausncia ou na presena de
ADP (0,01 1 mM) foi determinada em duplicatas de 25 L utilizando
anticorpo especifico para melatonina produzida por coelho (R19540; diluio
MATERIAL E MTODOS 38
final de 1/40000) e [125I]-2-iodo melatonina (Barassin et al., 1999). As amostras e
a curva padro foram incubadas com 200 L de anticorpo e 100 L do
hormnio marcado por 18 horas. A precipitao do anticorpo ligado foi feita
com a adio de 500 L de anticorpo anti-coelho (produzido por cabra) por 15
min. em gelo seguido de centrifugao por 15 min. (3000 x g; 4C). A
radioatividade foi quantificada por contador gama (Packard) e o limite de
sensibilidade do mtodo foi de 0,5 pg/tubo. As diluies foram todas feitas em
tampo de tricina 0,1 mol/L contendo 0,9% de NaCl e 0,01% de gelatina.
8. Extrao de protena nuclear
Para a extrao de protena nuclear, as glndulas pineais obtidas aps o
cultivo foram homogeneizadas individualmente em 100 L de tampo de lise
(HEPES 10 mM, KCl 10 mM, EDTA 0,1 mM pH 8,0, glicerol 10%, DTT 1 mM e
PMSF 0,1 mM) com auxlio de um homogeneizador e pistilo para tubo plstico
de 1,5 mL de volume. Em seguida, foram adicionados 7 L de NP40 (10%).
Aps breve agitao em vortex e incubao em gelo por 15 minutos, as
amostras foram centrifugadas (12000 x g; 1 min.; 4 C) e o sobrenadante,
correspondente a frao citoplasmtica do extrato, descartado. O pellet formado
foi ressuspenso em 50 L do mesmo tampo de lise e seguiu-se uma nova
centrifugao (12000 x g; 1 min.; 4C). Novamente o sobrenadante foi
descartado e as amostras foram ressuspensas em 20 L de tampo de extrato
nuclear (HEPES 10 mM, KCl 0,5 M, EDTA 1 mM pH 8,0, glicerol 10%,
MATERIAL E MTODOS 39
DTT 1 mM e PMSF 0,1 mM). Aps incubao de 15 min. em gelo, sob agitao,
as amostras foram centrifugadas (20000 x g; 5 min.; 4C) e o sobrenadante
contendo o extrato protico nuclear foi transferido para um novo tubo e
armazenado a -20C. A quantificao do contedo de protena no extrato
nuclear foi realizada a 280 nm no espectrofotmetro ND-1000 (Nanodrop,
Wilmington, DE, EUA).
9. Ensaio de Eletromobilidade em Gel (EMSA)
Os extratos de protena (5 g) foram primeiramente incubados com
tampo de ensaio (Tris-HCl 10 mM pH 7,5, MgCl2 1 mM, NaCl 50 mM, DTT
0,5 mM, EDTA 0,5 mM pH 8,0, 4% glicerol e 1 g de poli (dIdC) por 20 min. a
temperatura ambiente, e em seguida adicionou-se 1 L de uma sonda de
oligonucleotdeo dupla-fita correspondente ao consenso para NF-B
(5'-AGTTGAGGGGACTTTCCCAGGC-3', Promega, Madison, WI, EUA) ou
AP-1 (5'-CGCTTGATGAGTCAGCCGGAA-3'; Promega, Madison, WI, EUA)
marcada com o radioistopo 32P. Os extratos foram incubados com a sonda
(cerca de 30.000 c.p.m.) por 30 min. a temperatura ambiente. Em seguida,
adicionou-se 2L de tampo de corrida (Tris HCl 250 mM pH 7,5, 4% glicerol) e
as amostras foram aplicadas em gel de poliacrilamida no-desnaturante, 6% de
acrilamida: bisacrilamida (37,5:1). Aps a eletroforese (150 V, 1h. 30min.) em
tampo 0,25x de Tris-borato/EDTA (TBE), o gel foi seco a vcuo (Gel Dryer
Vacuum System Fisher Biotech, Wembley, Australia), exposto ao filme XAR-5
MATERIAL E MTODOS 40
(Kodak , Rochester, NY, EUA) em cassete apropriado por 48 h. a -80C. Aps
esse perodo, o filme foi revelado por imerso em soluo reveladora (Kodak ,
Rochester, NY, EUA; 5 min.) e fixadora (Kodak , Rochester, NY, EUA; 10 min.).
As autoradiografias foram quantificadas atravs do software Image J.
10. Ensaio de supershift
As subunidades de NF-B presentes nos extratos nucleares de glndulas
pineais tratadas ou no com ADP (1 mM, 1 min.) foram identificadas atravs do
ensaio de EMSA. Foram utilizados 6 g de protena de um pool de 4 extratos de
cada grupo experimental. Neste ensaio foram adicionados anticorpos
especficos para subunidades de NF-B: RelA e p50 (1 g/mL, 45 minutos)
antes da incubao dos extratos com a sonda consenso para NF-B-32P. As
demais etapas que se seguiram foram realizadas conforme o protocolo de
EMSA descrito anteriormente.
11. Extrao de RNA
O RNA total de cada glndula pineal foi extrado utilizando-se 1 mL de
Trizol, seguido de 200 L de clorofrmio. Aps agitar manualmente
vigorosamente por 15 segundos, os tubos foram mantidos por cerca de 3 min. a
temperatura ambiente e centrifugados (12000 x g; 15 min.; 4C), separou-se a
fase aquosa que contem o RNA. O RNA foi precipitado com 400 L de
isopropranol por 10 min. a temperatura ambiente, seguido de centrifugao
(12000 x g; 10 min.; 4C). O sobrenadante foi removido, o pellet lavado duas
MATERIAL E MTODOS 41
vezes com 500 L de etanol 75%, centrifugado (7500 x g; 5 min.; 4 C) e o
excesso de etanol evaporado a temperatura ambiente por cerca de 10 min. Aps
esse perodo, o material foi ressuspenso em 10 L de gua estril para injeo
(RNAse free) e tratado com DNase conforme instrues do fabricante.
Resumidamente, a cada amostra foi adicionado tampo 10x DNase I (1 L) e
DNase I (1 U/L). As amostras foram incubadas por 15 min. a temperatura
ambiente e, para inativao da DNase foi acrescentado EDTA (25 mM) seguido
de incubao a 65 C por 10 min. A concentrao de RNA foi determinada por
espectrofotometria, utilizando o espectrofotmetro ND-1000 (Nanodrop).
12. Sntese da fita de DNA complementar (cDNA) por
transcriptase reversa
A sntese de cDNA, a partir de RNA total (0,5 g) e random primer foi
realizada utilizando-se SuperScript III. A mistura de RNA, random primer
(50 ng) e dNTP mix (10 mM) foi incubada inicialmente a 65C por 5 min.
Imediatamente aps a incubao, foi transferido para cuba com gelo,
adicionando-se tampo PCR 5x (4 L), DTT (0,1 M) e Superscript III RT
(200 U/ L), finalizando um volume de 20 L. A mistura foi homogenizada e,
aps breve centrifugao, incubada por 5 min. a 25C, 50C por 55 min., sendo a
reao inativada a 70C por 15 min. O cDNA produzido foi utilizado nos
ensaios de PCR ou estocado a -20oC at o uso. Reaes na ausncia de
transcriptase reversa foram realizadas como controle negativo para avaliar
possvel contaminao genmica das amostras analisadas.
MATERIAL E MTODOS 42
13. RT-PCR em tempo real
Para determinar a expresso gnica das enzimas AA-NAT e HIOMT, os
cDNAs construdos (1 L) foram incubados com os respectivos primers senso e
antisenso (300 nM) na presena de iQ SYBR GreenSupermix (mix 2x, 50% do
volume final; 12,5 L) que contm, dentre outras substncias, a iTaq DNA
polimerase. A expresso gnica da protena ribossomal 18S tambm foi
analisada, pelo mesmo procedimento, utilizando-se primers especficos (50 nM)
o que possibilitou a normalizao interna dos dados. Neste ensaio o fluorforo
SYBR Green intercala-se ao DNA dupla-fita formando um complexo capaz de
emitir fluorescncia. A reao em cadeia da polimerase, responsvel pela
amplificao da expresso dos genes alvos, foi acompanhada em tempo real
utilizando-se o aparelho iCycler (BioRad Laboratories). Os sete primeiros
minutos da etapa de desnaturao (95C) foram seguidos por 40 ciclos de
amplificao (10 seg. de desnaturao a 95C e 1 min. de anelamento e
elongao a 60C). Como uma forma de se averiguar a amplificao de
produtos inespecficos utiliza-se melting curves, as quais so feitas ao final do
experimento e analisadas para cada amostra. Durante essa fase, a temperatura
baixada 1C a intervalos de tempo determinados e o pico de fluorescncia
obtido em cada poo, numa temperatura que coincide com o Tm (do ingls,
melting temperature) do produto esperado. Produtos inespecficos formam picos
de fluorescncia em Tms diferentes na curva. Em todos os ensaios foram
MATERIAL E MTODOS 43
includos controles negativos com gua e RNA de pineais que no foram
incubados com a transcriptase reversa.
Os primers (senso e antisenso) para aa-nat e hiomt utilizados foram,
respectivamente: 5'-AGCGCGAAGCCTTTATCTCA-3', 5'-AAGTGCCGGAT
CTCATCCAA-3', 5'-AGCGCCTGCTGTTCATGAG-3', 5'-GGAAGCGTGAGA
GGTCAAAGG-3'. Os primers (senso e antisenso) para a 18S foram: 5'-CGGCTA
CCACATCCAAGGAA-3' e 5'-GCTGGAATTACCGCGGCT-3'. A concentrao
do RNAm foi calculada usando-se o valor do threshold cycle (Ct) da amplificao
dos genes alvo. A quantificao relativa foi feita pela formula 2-Ct onde Ct
representa a diferena entre os ciclos normalizada pela referncia interna (18S) e
um calibrador (glndulas no estimuladas por isoproterenol).
14. Ensaio de atividade enzimtica da AA-NAT
A atividade da enzima AA-NAT foi determinada por ensaio radiomtrico.
Os pinealcitos dispersos foram sonicados (4C) em 100 L de tampo de
fosfato de sdio (0,05 M; pH 6,8) contendo 0,35 mM de acetil coenzima A. 40 L
dos homogenatos foram incubados (37C por 20 min.) com triptamina (10 mM)
e (14C)-acetil coenzima A (10 mM; atividade especifica final de 44 mCi/mmol)
em um volume final de 80 L. O produto radioativo da reao
(14C N-acetilserotonina) foi extrado com 1 mL de clorofrmio gelado e
saturado com ar. As amostras foram colocadas em um recipiente de cintilao
por 18 horas, at que seu contedo evaporasse. Ao final, 3,5 mL de lquido de
MATERIAL E MTODOS 44
cintilao foram adicionados aos tubos e a radioatividade de cada tubo foi
determinada em um contador (Beckman ).
15. Ensaio de atividade enzimtica da HIOMT
A atividade da enzima HIOMT foi tambm determinada por ensaio
radiomtrico. Os pinealcitos dispersos foram sonicados (4C) em 100 L de
tampo de fosfato de sdio (0,05 M; pH 7,9). 50 L do sobrenadante foram
ento incubados (37C por 30 min.) com N-acetilserotonina (1 mM) e 14C-S-
adenosyl-L-methionine (43,8 M; atividade especifica final de 52,7 mCi/mmol)
em um volume final de 100 L. A reao foi interrompida com a adio de 200
L de tampo de borato de sdio (12,5 mM; pH 10) e 1 mL de clorofrmio. Os
tubos foram ento centrifugados por 5 min. (13000 x g; 4 C) e o produto
radioativo da reao (14C melatonina) foi extrado com 800 L de clorofrmio.
As amostras foram colocadas em um recipiente de cintilao por 18 h., at que
seu contedo evaporasse. Ao final, 3,5 mL de lquido de cintilao foram
adicionados aos tubos e a radioatividade foi determinada em um contador
(Beckman ).
16. Anlise dos resultados
Os dados esto apresentados como mdia erro padro da mdia (epm).
A comparao entre dois grupos foi realizada atravs do teste t de Student e,
a comparao de mais de dois grupos atravs de anlise de varincia (ANOVA)
seguida pelo teste de Newman-Keuls. A probabilidade de 5% (p
MATERIAL E MTODOS 45
considerada como diferenas significativas entre os grupos. Toda a anlise
estatstica foi realizada atravs do software GraphPad Prism verso 5.00
(GraphPad Software).
RESULTADOS
RESULTADOS 47
RESULTADOS
1. Efeito da estimulao purinrgica sobre a produo de NAS e
melatonina induzidas por isoproterenol em glndulas pineais
em cultura
Glndulas pineais em cultura foram estimuladas com o agonista
-adrenrgico isoproterenol (0,1 M, 5h) na ausncia ou na presena do
agonista seletivo para o receptor P2Y1, ADP (0,01 - 1 mM). Em glndulas
estimuladas com isoproterenol, estimulao purinrgica com ADP levou a um
aumento concentrao dependente da produo de NAS (Figura 5A), enquanto
a produo de melatonina foi reduzida (Figura 5B).
Figura 5. Curva concentrao-efeito ao ADP (0,01 1 mM) na produo de NAS (A) e
melatonina (B) nos meios de incubao de glndulas estimuladas com isoproterenol (ISO,
0,1 M). Os dados representam media epm de 7 - 8 glndulas por ponto, obtidos de 3
culturas diferentes.
-5 -4 -30
20
40
60
80
100
ADP log (M)
NA
S (
ng
/20
0 m
L)
ISO 0.1 mM
-5 -4 -320
40
60
80
100
ADP log (M)
ME
LA
TO
NIN
A (
ng
/20
0 m
L)
ISO 0.1 mM
AA B
RESULTADOS 48
2. Efeito da estimulao purinrgica sobre a produo de
melatonina induzida por isoproterenol em pinealcitos
A produo de melatonina foi tambm avaliada em pinealcitos isolados
estimulados com isoproterenol (ISO, 1 M) na ausncia ou na presena de ADP
(0,01 - 1 mM) por 5 horas.
Em pinealcitos dispersos, o tratamento com ADP (0,01 1 mM) tambm
levou inibio da produo de melatonina de maneira dependente de
concentrao em clulas estimuladas com isoproterenol (Figura 6) assim como
observado anteriormente em glndulas em cultura.
Figura 6. Efeito da estimulao purinrgica sobre a produo de melatonina em
pinealcitos isolados. Os pinealcitos foram estimulados com isoproterenol (ISO, 1 M) na
ausncia ou presena de ADP (0,01 1 mM) por 5 horas. Valores representam mdia epm;
n = 3-4 poos por ponto.
-5 -4 -30
5000
10000
15000
20000
ADP log [M]
ME
LA
TO
NIN
A (
pg/2
00
mL
)
ISO 1 mM
RESULTADOS 49
3. Mecanismo molecular envolvido na estimulao de receptores
purinrgicos P2Y1 na glndula pineal
Considerando a grande diversidade de transduo de sistemas operados
por receptores purinrgicos e a presena constitutiva dos fatores de transcrio
AP-1 e NF-B na pineal (Carter, 1997; Cecon et al., 2010), investigamos o
mecanismo molecular dos efeitos da estimulao dos receptores P2Y1 em
extratos nucleares de glndulas pineais estimuladas com ADP (1 mM) atravs
da tcnica de EMSA. A via do fator de transcrio NF-B foi tambm
funcionalmente avaliada atravs da utilizao de pirrolidina ditiocarbamato
(PDTC - 12,5 M), inibidor da atividade do NF-B, em glndulas em cultura
estimuladas com ADP (1 mM).
3.1 Protena Ativadora 1 (AP-1)
A anlise do fator de transcrio AP-1 foi realizada em extratos nucleares
de glndulas pineais em cultura estimuladas com ADP (1 mM) por diferentes
tempos (0,5 - 5 min.). A anlise quantitativa do filme auto-radiogrfico exposto
ao gel obtido no ensaio das amostras submetidas tcnica descrita de EMSA,
revelou um aumento significativo na translocao nuclear do fator de
transcrio AP-1 0,5 minuto de estimulao, sendo o aumento mximo
detectado aps 1 minuto, mantendo um plat de translocao at 5 minutos,
tempo mximo utilizado neste estudo (Figura 7).
RESULTADOS 50
Figura 7. Decurso temporal da translocao nuclear do fator de transcrio AP-1 em extratos
nucleares de pineais em cultura estimuladas com ADP. Glndulas pineais de ratos cultivadas
por 48 horas foram estimuladas com ADP (1 mM) nos tempos 0,5, 1, 2 e 5 min. Os valores
representam mdia epm do 3-4 glndulas por ponto. *p
RESULTADOS 51
Figura 8. Decurso temporal da translocao nuclear de complexos NF-B p50/p50 e
p50/RelA em extratos nucleares de glndulas pineais em cultura estimuladas com ADP.
Glndulas pineais de ratos cultivadas por 48 horas foram estimuladas com ADP (1 mM)
nos tempos 0,5, 1, 2 e 5 min. A Gel representativo de EMSA caracterizando os complexos
p50/p50 e p50/RelA identificados atravs de supershift (SS) na presena de anticorpos
especficos. B - Anlise grfica atravs do Programa Image J mostrando a banda de retardo
(SS) correspondente s subunidades testadas. C - Gel representativo de EMSA de extratos
nucleares de pineais estimuladas por ADP nos tempos 0,5. 5 min. D - Anlise
densitomtrica do decurso temporal da translocao nuclear dos complexos
NF-B/DNA em pineais estimuladas por ADP nos tempos especificados. Os valores
representam mdia epm de 7 glndulas por ponto.
RESULTADOS 52
M
ISO 0
,1
M
ISO +
PDTC
12,
5 1 m
M
ISO +
ADP
ISO +
PDTC
+ A
DP
0
20
40
60
80
100
* *
NA
S (ng/2
00
L)
M
ISO 0
,1
M
ISO +
PDTC
12,
5 mM
ISO +
ADP
1
ISO +
PDTC
+ A
DP
0
20
40
60
80
**
ME
LA
TO
NIN
A (ng/2
00
L)
3.2.2 Estudo funcional - Efeito de PDTC sobre a produo de NAS e
melatonina induzida por isoproterenol
Para verificar o envolvimento do NF- B sobre a produo de NAS e
melatonina, avaliamos o efeito do inibidor da atividade da via do NF- B, PDTC
sobre a produo destas indolaminas induzida por isoproterenol. Glndulas
pineais em cultura foram previamente incubadas com PDTC (12,5 M) por 30
min. e ento com isoproterenol (0,1 M) na ausncia ou na presena de ADP
(1 mM) por 5 horas. Como observado anteriormente, a estimulao purinrgica
de glndulas pineais em cultura com ADP, levou a uma potenciao da
produo de NAS, induzida por isoproterenol, e a uma inibio da produo de
melatonina. Estes efeitos observados sobre o contedo de NAS e de melatonina
no foram alterados em glndulas pr-tratadas com PDTC (Figura 9).
Figura 9. Efeito de PDTC sobre o contedo de NAS e melatonina nos meios de incubao
de glndulas estimuladas com isoproterenol na ausncia e na presena de ADP.
Glndulas pineais em cultura foram pr-tratadas com PDTC (12,5 M, 30 min.) e
estimuladas com isoproterenol (ISO, 0,1 M), na ausncia e na presena de ADP (1 mM) por
5 horas. Os dados representam media epm de 4 glndulas por ponto. * p
RESULTADOS 53
4. Expresso gnica das enzimas AA-NAT e HIOMT na
glndula pineal de ratos
A seguir avaliamos a expresso do RNAm das enzimas AA-NAT e
HIOMT na glndula pineal de ratos atravs da tcnica quantitativa de RT-PCR
em tempo real. Uma curva de diluio de cDNA revelou a alta eficincia de
amplificao das reaes (dados no mostrados), sendo 18S o gene housekeeping
de escolha.
Glndulas pineais cultivadas por 48 horas foram estimuladas com
isoproterenol (0,1 M), na ausncia e presena de ADP (0,01 1 mM), por 5
horas. O tratamento com ADP no foi capaz de alterar a expresso de aanat
(Figura 10A) e hiomt (Figura 10B) quando comparado ao grupo tratado com
isoproterenol.
Figura 10. Efeito da estimulao purinrgica sobre a produo dos transcritos aa-nat e hiomt.
Glndulas pineais em cultura estimuladas com isoproterenol (ISO, 0,1 M) na ausncia e na
presena de ADP (0,01 1 mM) por 5 horas tiveram a quantidade do RNAm dos genes aa-nat e
hiomt determinados por RT-PCR em tempo real. Os valores foram normalizados a partir de
glndulas no estimuladas (basal). A - Produo do transcrito aa-nat. B- Produo do transcrito
hiomt. Os valores representam media epm, n = 7-8 glndulas por ponto.
-5 -4 -30
20
40
60
80
100
ADP log (M)
RN
Am
aa
-na
t
(U
nid
ad
es a
rbitr
ria
s s
ob
re b
asa
l)
ISO 0,1 mM
-5 -4 -3
0.0
2.5
5.0
ADP log (M)
RN
Am
hio
mt
(U
nid
ad
es a
rbitr
ria
s s
ob
re b
asa
l)
ISO 0,1 mM
A B
RESULTADOS 54
5. Atividade enzimtica das enzimas AA-NAT e HIOMT em
pinealcitos isolados
A atividade das enzimas AA-NAT e HIOMT foi ento avaliada em
pinealcitos isolados, funcionalmente validados pela produo de melatonina
como apresentado no tem 2, e estimulados por 5 horas com isoproterenol
(1 M) na ausncia ou presena de ADP (0,01 - 1 mM). Os produtos radioativos
dos ensaios de atividade enzimtica das enzimas AA-NAT
(14C-N-acetilserotonina) e HIOMT (14C-melatonina) foram determinados por
contador . O tratamento com ADP no foi capaz de alterar a atividade da
enzima AA-NAT quando comparado com o grupo tratado com isoproterenol
(Figura 11A), bem como a atividade da enzima HIOMT (Figura 11B).
Figura 11. Efeito da estimulao purinrgica sobre a atividade das enzimas AA-NAT e
HIOMT. Glndulas pineais em cultura estimuladas com isoproterenol (ISO, 1 M), na ausncia
ou presena de ADP (0,01 1 mM) por 5 horas. A - Atividade enzimtica da AA-NAT. B -
Atividade enzimtica da HIOMT. Os valores representam a mdia epm; n = 3-4 poos por
ponto.
-5 -4 -3200
300
400
500
600
ADP log [M]
AA
-NA
T p
M/p
oo
l/h
ISO 1 mM
-5 -4 -310
15
20
25
30
ADP log [M]
HIO
MT
pM
/poo
l/h
ISO 1 mM
A B
RESULTADOS 55
6. Efeito do antagonista seletivo A3P-5P sobre a produo de
NAS e melat