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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL A ÉTICA NA PESQUISA AGROPECUÁRIA: PERCEPÇÃO DOS PESQUISADORES DA EMBRAPA Regina Lucia Ramos Lourenço Orientador: Marcel Bursztyn Dissertação de Mestrado Brasília-DF: Fevereiro/2006

A Ética Na Pesquisa Agropecuária

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O presente trabalho analisa a percepção dos pesquisadores da Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (Embrapa) a respeito da ética na pesquisa agropecuária. O estudo éexploratório e adotou abordagens qualitativa e quantitativa, sendo as pesquisas realizadas noperíodo de julho a setembro de 2005. A pesquisa qualitativa utilizou entrevistas individuaissemi-estruturadas com 21 formadores de opinião (dirigentes atuais, ex-dirigentes e ocupantesou ex-ocupantes de cargos estratégicos) e serviu de base para construção de um questionárioobjeto da pesquisa quantitativa.

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A ÉTICA NA PESQUISA AGROPECUÁRIA:

PERCEPÇÃO DOS PESQUISADORES DA EMBRAPA

Regina Lucia Ramos Lourenço

Orientador: Marcel Bursztyn

Dissertação de Mestrado

Brasília-DF: Fevereiro/2006

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A ÉTICA NA PESQUISA AGROPECUÁRIA:

PERCEPÇÃO DOS PESQUISADORES DA EMBRAPA

Regina Lucia Ramos Lourenço

Dissertação de Mestrado submetida ao Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do Grau de Mestre em Desenvolvimento Sustentável, área de concentração em Política e Gestão de C&T, opção Profissionalizante.

Aprovado por:

___________________________________________________ Marcel Bursztyn, Doutor (CDS/UnB) (Orientador) ____________________________________________________ Magda Eva Soares de Faria Wehrmann, Doutora (CDS/UnB) (Examinadora Interna) ____________________________________________________ Cyro Mascarenhas Rodrigues, Doutor (Embrapa) (Examinador Externo) Brasília-DF, 23 de fevereiro de 2006

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LOURENÇO, REGINA LUCIA RAMOS

A Ética na Pesquisa Agropecuária: Percepção dos Pesquisadores da Embrapa, 213p. (UnB-CDS, Mestre, Política e Gestão de C&T, 2006).

Dissertação de Mestrado – Universidade de Brasília. Centro de Desenvolvimento Sustentável.

1. Ética na pesquisa 2. Integridade científica

3. Pesquisa agropecuária 4. Ética institucional

5. Gestão da ética

É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta dissertação e emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e nenhuma parte desta dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem a autorização por escrito da autora.

REGINA LUCIA RAMOS LOURENÇO

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DEDICATÓRIA

A minha mãe, Professora Maria Ramos Silva (in memorian), a quem devo o prazer de me lançar em vôos mais altos.

A Romualdo, meu marido, meu grande incentivador em todos os empreendimentos em que me

aventuro e que merece toda a minha admiração e amor.

Aos meus filhos Karen Roberta e Rhaicon, como prova de que esforço e determinação nos levam a realizar sonhos.

Ao meu pai, Waldemar Bispo da Silva (in memorian), por meio de quem fui apresentada à

simples e ao mesmo tempo complexa contemplação da vida.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, que me proporciona, a cada dia, oportunidades de crescimento pessoal e profissional.

À Embrapa, empresa séria e à frente de seu tempo, que compreende a necessidade de se capacitar pessoas como forma de desenvolvimento do país, na pessoa de seus gerentes,

pesquisadores e demais empregados, pela viabilização desse curso e pela disposição em contribuir para as pesquisas, objeto deste trabalho.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Marcel Bursztyn, pessoa com a qual tive o privilégio de estudar e conviver. Profissional competentíssimo e pessoa humana admirável. A ele, cuja paciência e

tranqüilidade, tiveram o poder de tirar todas as minhas dúvidas e de transformar grandes problemas em simples soluções.

À Magali dos Santos Machado, minha conselheira acadêmica, que me acompanhou nessa

jornada com boa vontade, disposição e eficiência.

A todos os Professores do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, pessoas competentes e comprometidas com a causa do desenvolvimento da

humanidade com maior justiça social, em especial ao Prof. Dr. Arthur Oscar Guimarães, que me apresentou o desenvolvimento sustentável e por meio de quem pude me tornar uma

militante.

Durante nossa vida, adotamos vários ídolos, que são pessoas que admiramos e a quem tributamos respeito e afeto. Às vezes eles participam ativamente da nossa vida como é o caso

de Tércia Zavaglia Torres Ribeiro, amiga de todas as horas, de todas as situações. Às vezes são pessoas que passam por nossa vida e que deixam importantes lições (mesmo que não

tenham tido essa intenção). É o caso do Prof. Dr. Mário César Ferreira, da UnB, pelo incentivo recebido nesse empreendimento.

Aos doutores Levon Yeganiantz, Diva Dusi, Julio Lhamby e Paulo Fresneda, pela

contribuição durante diferentes etapas desse projeto.

Aos meus irmãos, que contribuíram com a minha educação e em especial a Margareth Ramos pelo apoio à concretização desse ideal.

Aos amigos que compreenderam (ou não), meu retiro progressivo para a realização desse

curso.

Ao pessoal da SNT pelo apoio imaterial.

Àqueles que acompanharam passo a passo o desenvolvimento desse trabalho, incentivando-me e contribuindo para o meu equilíbrio espiritual e emocional: Romualdo, Karen Roberta,

Rhaicon, Míriam Galante, Márcia Cardoso, José Viégas e Cristina Menezes. Ao Pedro Mendes agradeço o apoio logístico.

Enfim, a conclusão de um mestrado é produto de uma soma de realizações e da ajuda

de muitas pessoas. A todos que colaboraram direta ou indiretamente com a realização desse curso,

o meu

Muito Obrigada!!!

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RESUMO

O presente trabalho analisa a percepção dos pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) a respeito da ética na pesquisa agropecuária. O estudo é exploratório e adotou abordagens qualitativa e quantitativa, sendo as pesquisas realizadas no período de julho a setembro de 2005. A pesquisa qualitativa utilizou entrevistas individuais semi-estruturadas com 21 formadores de opinião (dirigentes atuais, ex-dirigentes e ocupantes ou ex-ocupantes de cargos estratégicos) e serviu de base para construção de um questionário objeto da pesquisa quantitativa. Este continha 16 questões, sendo oito sobre o tema “ética na pesquisa” e oito sobre variáveis demográficas. Da população estudada (1.846 pesquisadores), houve um retorno de 492 questionários, totalizando 26,65%. As respostas das entrevistas foram analisadas com base em técnicas de análise de conteúdo e as respostas dos questionários foram analisadas por meio de tratamento estatístico (análises descritivas). Os resultados das pesquisas foram apresentados a partir dos temas abordados no questionário, seguidos das análises das entrevistas, com recortes das falas dos sujeitos. Estes permitem afirmar a existência de um grande interesse entre os pesquisadores ouvidos pelo tema objeto do estudo e ao mesmo tempo uma falta de clareza de uma grande parte das pessoas sobre o que seria ética na pesquisa agropecuária. A grande maioria acredita que a ética, a ciência e a pesquisa devem se complementar (63%); que a ética deve ser levada em consideração em todo o processo de pesquisa (94,51%); e que a pesquisa agropecuária deve estar incluída entre as discussões sobre bioética (85%). Entretanto, por meio de ambas as pesquisas, nota-se falta de priorização da empresa com relação ao assunto e falta de conhecimento dos pesquisadores a respeito do Código de Ética da Embrapa (41%), estabelecido por meio da Deliberação nº 16, de 17.12.2004, único documento onde podem ser encontradas algumas normas específicas sobre a ética na pesquisa na empresa. O estudo recomenda uma ampla discussão na empresa sobre o tema, culminando na implantação de uma “gestão da ética” na pesquisa. Apresenta ainda elementos em que a Embrapa poderá se basear para propor políticas e diretrizes com relação ao assunto. PALAVRAS-CHAVE: Ética na pesquisa; Integridade científica; Pesquisa agropecuária; Ética institucional; Gestão da ética.

Page 7: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

ABSTRACT

The present study analyses the perception of researchers from Brazilian Agricultural Research Corporation (Embrapa) concerning the ethics in the agricultural research. The study was exploratory and used qualitative and quantitative approaches. The data collection was performed from July to September of 2005. In the qualitative survey was a used semi-structured individual interview with 21 opinion makers including current and former directors and strategic officers of the corporation, and served as a basis for construction of the quantitative survey questionnaire. This questionnaire enclosed 16 questions, eight referring to “ethics in research” and eight concerning to demographic variables. From the total population included (1.846 researchers), 492 returned the questionnaire, representing 26,65%. The information obtained during the personal interviews was analyzed using technical analysis of contents and the answers of the questionnaires through some statistical procedures (descriptive analyses). The results were presented according to the topics of the questionnaire, followed by the analysis of interviews, using parts of the recorded statements. It is possible to assert that there exists an enormous interest among the researchers who were interviewed about the subject and, at the same time, a lack of clarification for part of people about the significance of ethics in agricultural research. The great majority believes that ethics, science and research must be complementary to each other (63%); that ethics must be considered in all research procedures (94,51%); and that agricultural research must be included in all bio-ethics discussions (85%). Meanwhile, it was noted that there is a lack of prioritization from Embrapa concerning the subject and the lack of awareness among researchers regarding Embrapa’s Ethical Code (41%), established through Deliberation number 16 from 12.17.2004, the sole official document were it can be found some specific information about ethics in research in the corporation. The study recommends an ample discussion within Embrapa concerning the matter, and concludes with a suggestion for the implementation of an “ethical management” attitude in agricultural research. Also, some elements are being proposed to Embrapa as approaches for the establishment of effective policies and basic lines regarding the subject. Key words: Ethics in research; Scientific integrity; Agricultural research; Institutional ethics; Ethical management.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS LISTA DE TABELAS LISTA DE QUADROS LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 14 PARTE I – MARCO TEÓRICO E INSTITUCIONAL ..................................... 22 1. C&T E ÉTICA .......................................................................................... 23 1.1. O QUE É CIÊNCIA? .................................................................................. 23 1.1.1. A COMUNIDADE CIENTÍFICA .............................................................. 24 1.1.2 RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA E SOCIEDADE ....................................... 26 1.1.3 ETHOS DA CIÊNCIA ............................................................................... 29 1.2. TECNOLOGIA .......................................................................................... 36 1.3. JULGAMENTO DA C&T ......................................................................... 38 1.4. ÉTICA NA CIÊNCIA ................................................................................ 44 1.4.1. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E ÉTICA DA

SUSTENTABILIDADE ............................................................................. 49

2 ÉTICA E PESQUISA AGROPECUÁRIA ............................................. 52 2.1. ÉTICA NA PESQUISA AGROPECUÁRIA ............................................. 52 2.1.1 CONCEITOS DE ÉTICA .......................................................................... 52 2.1.2 ÉTICA NA PESQUISA ............................................................................. 61 2.1.3. BIOÉTICA ................................................................................................. 63 2.1.4. ELEMENTOS PARA UM CONCEITO DE ÉTICA NA PESQUISA

AGROPECUÁRIA ..................................................................................... 65

2.2. A ÉTICA NA EMBRAPA, A PARTIR DE SUAS NORMAS E DEMAIS DOCUMENTOS ........................................................................

74

2.2.1. IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA EMBRAPA .......................................... 74 2.2.2. COMO A ÉTICA ESTÁ INSERIDA FORMALMENTE NOS

DOCUMENTOS DA EMPRESA .............................................................. 76

2.2.3. “GESTÃO DA ÉTICA” NA EMBRAPA .................................................. 79 2.2.4. NORMAS ESPECÍFICAS SOBRE “ÉTICA NA PESQUISA” NA

EMBRAPA ................................................................................................. 80

PARTE II – MARCO EMPÍRICO 85 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ..................................................... 86 3.1. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA ................................................................ 86 3.2. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA ............................................................... 90 3.2.1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA PRIMEIRA FASE DA

PESQUISA ................................................................................................. 93

3.2.2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA SEGUNDA FASE DA PESQUISA .................................................................................................

98

3.3. LIMITAÇÕES DO MÉTODO ................................................................... 106

Page 9: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

4. DADOS DEMOGRÁFICOS E RECEPTIVIDADE DA PESQUISA 107 4.1. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DEMOGRÁFICOS

DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA QUALITATIVA ..................... 107

4.2. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DEMOGRÁFICOS DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA QUANTITATIVA ..................

111

4.3. RECEPTIVIDADE DA PESQUISA .......................................................... 121 5. OPINIÃO DOS ATORES SOBRE ÉTICA NA PESQUISA 123 5.1. RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA, PESQUISA E ÉTICA ............................. 124 5.1.1. CONCEITOS DE ÉTICA FORMULADOS PELOS ATORES ................ 128 5.1.2. EM QUE MOMENTO A ÉTICA DEVE SER LEVADA EM

CONSIDERAÇÃO NA PESQUISA .......................................................... 131

5.2 RELAÇÃO ENTRE PESQUISA AGROPECUÁRIA E BIOÉTICA ........ 132 5.3. CRENÇAS DOS PESQUISADORES QUANTO A ÉTICA NA

PESQUISA NA EMBRAPA ...................................................................... 138

5.4. CONDUTA ÉTICA DOS NOVOS PESQUISADORES EM RELAÇÃO AOS MAIS ANTIGOS ..............................................................................

146

5.5. INFLUÊNCIA OU INTERFERÊNCIA POLÍTICA NA ATIVIDADE DE PESQUISA NA EMBRAPA ...............................................................

151

6. OPINIÃO DOS ATORES SOBRE AS NORMAS DE ÉTICA NA PESQUISA NA EMBRAPA ....................................................................

156

6.1 PRINCÍPIOS ÉTICOS EM QUE OS PESQUISADORES SE BASEIAM NA EXECUÇÃO DA PESQUISA. ............................................................

156

6.2. CONFLITOS ENTRE PRINCÍPIOS PESSOAIS E ATIVIDADE DE PESQUISA NA EMBRAPA ......................................................................

169

6.3. INTERFACE DOS SISTEMAS DE AVALIAÇÃO COM A QUESTÃO DA ÉTICA .................................................................................................

173

6.4. PRINCÍPIOS OU QUESTÕES ÉTICAS NA PESQUISA AGROPECUÁRIA .....................................................................................

179

6.5. CUMPRIMENTO PELOS PESQUISADORES DOS PRINCÍPIOS ÉTICOS DA PESQUISA ...........................................................................

184

6.6. COMO O GRUPO DE FORMADORES DE OPINIÃO PERCEBE A ÉTICA NA PESQUISA E AS NORMAS DE ÉTICA NA PESQUISA NA EMBRAPA ..........................................................................................

188

6.7. NORMAS DE ÉTICA COMO ELEMENTO QUE INFLUENCIA A ATIVIDADE DOS PESQUISADORES DA EMBRAPA .........................

193

6.8. NORMAS SOBRE RESTITUIÇÃO DE RESULTADOS DE PESQUISA OU DIREITO DE PROPRIEDADE ÀS COMUNIDADES OBJETO DA PESQUISA...........................................................................

197

6.9. TEMAS SOLIDÁRIOS .............................................................................. 200 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................ 203 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 208 APÊNDICES

Page 10: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – Classificação da ética. Fonte: Caiñas-Queiroz (1998) .................. 58 FIGURA 2 – Exemplificação de interfaces na classificação da ética ................ 59 FIGURA 3 – Número de entrevistados de acordo com a forma da entrevista ... 96 FIGURA 4 – Distribuição percentual da idade dos respondentes, por faixa

etária ............................................................................................. 115

FIGURA 5 – Distribuição percentual do tempo de serviço na Embrapa, por faixas .............................................................................................

116

FIGURA 6 – Distribuição dos respondentes em relação ao gênero, em percentual ......................................................................................

117

FIGURA 7 – Função atual dos respondentes, em percentual ............................. 120 FIGURA 8 – Função exercida por maior período de tempo durante a vida

profissional, em percentual ........................................................... 121

FIGURA 9 – Relação existente entre ciência, pesquisa e ética, na visão dos pesquisadores, em percentual .......................................................

125

FIGURA 10 – Momento em que a ética deve ser levada em consideração na pesquisa, segundo a percepção dos pesquisadores, em número de respostas ...................................................................................

131

FIGURA 11 – Relação entre pesquisa agropecuária e bioética, em percentual ... 133 FIGURA 12 – Afirmativas dos respondentes sobre o tema “ética na pesquisa”,

em número de respostas ................................................................ 139

FIGURA 13 – Esquema sobre “modos inter-relacionados de abordagem da ética no âmbito das empresas” ......................................................

141

FIGURA 14 – Princípios éticos em que os pesquisadores se baseiam na execução da pesquisa, em número de respostas ...........................

157

FIGURA 15 – Pesquisadores que conhecem o Código de Ética da Embrapa, em percentual ......................................................................................

160

FIGURA 16 – Conflitos entre princípios pessoais e atividade de pesquisa na Embrapa, em percentual ...............................................................

170

FIGURA 17 – Percepção dos respondentes sobre cumprimento dos princípios éticos da pesquisa pelos pesquisadores da Embrapa, em percentual ......................................................................................

184

Page 11: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 – Informações sobre a população pesquisada .................................. 102 TABELA 2 – Número de sujeitos convidados e que efetivamente participaram

da primeira fase da pesquisa, por cargo ........................................ 108

TABELA 3 – Informações sobre os sujeitos participantes da pesquisa qualitativa .....................................................................................

110

TABELA 4 – População pesquisada e total de questionários respondidos, com o percentual, por unidade ..............................................................

112

TABELA 5 – Número e percentual da população pesquisada em relação aos respondentes, por cargo ................................................................

114

TABELA 6 – Informações sobre a população pesquisada e o total de pesquisadores que respondeu ao questionário (respondentes) .....

118

TABELA 7 – Distribuição dos respondentes em relação a área de pesquisa ...... 119

Page 12: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Princípios éticos ou morais do trabalho de pesquisa, segundo Valls (2001) ................................................................................

70

QUADRO 2 – Questões éticas da área de ciência, segundo Maffia e Mizubuti (2004) ..........................................................................................

71

QUADRO 3 – “Preceitos específicos” de ética na pesquisa constantes no Código de Ética da Embrapa ......................................................

81

QUADRO 4 – Estrutura ocupacional de cargos de provimento efetivo da Embrapa ......................................................................................

89

QUADRO 5 – Conceitos de ética formulados pelos atores ................................ 129 QUADRO 6 – Questões de ética na pesquisa apresentadas pelos

pesquisadores da Embrapa .......................................................... 180

QUADRO 7 – Questões que surgiram no decorrer do trabalho e que não se referiam diretamente ao objeto das pesquisas realizadas ...........

200

Page 13: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A&A Acompanhamento e Avaliação BCA Boletim de Comunicações Administrativas da Embrapa C&T Ciência e Tecnologia CIRAD Centre de Coopération Internationale en Recherche Agronomique pour le

Développement CLT Consolidação das Leis Trabalhistas Cobea Colégio Brasileiro de Experimentação Animal CT&I Ciência, Tecnologia e Inovação DE Diretoria Executiva da Embrapa DGP Departamento de Gestão de Pessoas da Embrapa Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EUA Estados Unidos da América FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento OGM Organismos Geneticamente Modificados P&D Pesquisa e Desenvolvimento PA Pesquisa Agropecuária PCS Plano de Cargos e Salários da Embrapa PD&I Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação PDE Plano Diretor da Embrapa PPA Plano Plurianual SAAD Sistema de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação de Resultados do

Trabalho Individual SAU Sistema de Avaliação de Unidades SNPA Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária TNS Técnico de Nível Superior (cargo existente na Embrapa) UC Unidade Central da Embrapa UD Unidade Descentralizada da Embrapa

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INTRODUÇÃO

A ciência e a tecnologia estão na base do padrão de desenvolvimento da modernidade.

O Século XX iniciou-se como promessa esperada pelos horizontes que se descortinavam

diante das potencialidades aportadas pelo progresso.

O conhecimento científico, sem dúvida, foi fundamental para o modo de vida que se

enraizou no último século, sendo responsável pela cura de doenças, aumento da expectativa

de vida, tendo impactado todos os aspectos da vida e se fazendo presente no nosso dia-a-dia.

Entretanto, a ciência resolve inúmeros problemas, mas também tem gerado outros. Ao mesmo

tempo em que há avanços no campo da economia, há também retrocessos na esfera da justiça

social, com um crescente fosso separando ricos de pobres.

Contrariamente ao que se pensava, a ciência e a tecnologia, ao mesmo tempo em que

podem ser “libertadoras” de necessidades, são também portadoras de riscos. Em diferentes

esferas da sociedade ocorrem discussões sobre os avanços da ciência e suas implicações.

Essas discussões vão desde questões, cujas implicações seriam muito pequenas, até reflexões

que envolvem o futuro da humanidade. A falta de barreiras na pesquisa e o conhecimento

científico, como forma de dominação e cessação das conquistas com relação aos direitos

humanos, são preocupações com as quais o mundo se depara.

A partir do uso de bombas para destruição em massa, são questionados o poder que um

só homem, ou um grupo, ou mesmo uma nação terá com a posse de conhecimentos

científicos, sem uma base ética que impeça seu uso de maneira inapropriada, mesmo que os

pesquisadores responsáveis pelas descobertas científicas tenham tido boas intenções. Isso fica

bem evidente na obra de Bronowski (1979).

Por outro lado, observa-se atualmente que, em alguns assuntos polêmicos, os cientistas

não chegam a um consenso, seja porque não há estudos suficientes, ou porque não há tempo

suficiente de aplicação de técnicas para avaliar as implicações da adoção de produtos da

ciência. Com relação a esse assunto, têm-se vários exemplos, como: a transgenia, a clonagem

e a propriedade intelectual de conhecimentos tradicionais. Questionamentos como: até onde

devemos dispor do poder do homem de criar a vida? A liberdade de decisão do homem de

utilizar alimentos resultantes de técnicas que interferem na natureza e outros assuntos

Page 15: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

15

polêmicos são outras preocupações recorrentes na sociedade. Algumas dessas questões

impactam a humanidade atual e as gerações futuras.

Enfim, são muitos os questionamentos sobre a ciência e sua atuação. Com todas essas

considerações, surge a pergunta: são necessárias as discussões sobre ética na ciência? A

ciência pode estar dissociada de seus resultados? Os cientistas devem considerar os impactos

político e social de suas pesquisas? Os cientistas estão isentos da responsabilidade sobre o uso

dos conhecimentos que ajudaram a produzir?

A saída para todas essas questões passa necessariamente pelo diálogo entre os atores

envolvidos. A sociedade sabe que todos sofrerão, caso sejam implementadas soluções

inadequadas. Os desastres causados pelo homem podem ter implicações para esta geração e

para as gerações futuras.

Nesse ponto, a ética em C&T aparece como um fórum adequado para o debate e para a

tomada de decisão sobre essas questões.

A junção da ética com a pesquisa, sendo a ética uma disciplina da filosofia e a pesquisa

uma forma de expressão da C&T, é muito importante e desejável. Pertencentes a dois

mundos, a ética e a pesquisa, embora não estando sempre juntas, não devem andar separadas.

Essas questões, que vêm sendo pontuadas neste trabalho, são cruciais para a Embrapa, uma

vez que esta lida com vida e deve trabalhar no sentido de poder oferecer respostas para a

sociedade quando em situações, muitas vezes desafiantes, sobre assuntos que lhe são afetos.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é uma empresa pública, de

C&T, cuja missão, segundo o seu plano diretor, é:

Viabilizar soluções para o desenvolvimento sustentável do espaço rural1, com

foco no agronegócio, por meio da geração, adaptação e transferência de

conhecimentos e tecnologias, em benefício dos diversos segmentos da

sociedade brasileira. A missão será cumprida em consonância com as políticas

governamentais, enfatizando a inclusão social, a segurança alimentar e as

expectativas de mercado e a qualidade do meio ambiente.

Page 16: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

16

Desde a sua criação, a Embrapa sempre buscou uma conduta ética compatível com a sua

missão, sendo os seus valores bastante difundidos entre os seus empregados em geral. A sua

própria missão já oferece parâmetros que podem medir essa conduta ética. Além disso, a

Embrapa conseguiu consubstanciar esses valores em um documento, que é o Código de Ética

da Embrapa, aprovado pela Deliberação nº 16, de 17.12.2004.

Entretanto, não basta apenas a empresa ser ética em sua conduta. É preciso mostrar que

além de sua conduta ser pautada na ética, a empresa conta com uma “política de ética”

descrita claramente e acessível a todos os atores envolvidos (empregados, governo e

sociedade em geral), mostrando o seu comprometimento com essa política para os seus

clientes, para os seus empregados e para a sociedade em geral.

Essa conduta ética é um diferencial importante, na medida em que a sociedade começa a

cobrar ações no sentido de mudar o paradigma de desenvolvimento vigente, em sintonia com

os princípios da sustentabilidade. Dessa forma, a sociedade tem valorizado empresas, que

além de cumprirem com competência sua missão, têm também realizado isso de forma ética,

preservando o meio ambiente e contribuindo de alguma forma para a justiça social.

Para todas as empresas, e principalmente para uma empresa que trabalha com C&T, a

necessidade de ser e se mostrar uma empresa ética, torna-se cada vez mais evidente, uma vez

que a sociedade exige cada vez mais segurança no desenvolvimento e na aplicação da ciência.

Observa-se que estão sendo questionados os limites éticos da pesquisa e da ciência. Dessa

forma, os padrões de conduta devem estar bem explicitados pela comunidade científica e

pelas organizações, visando assegurar à sociedade o padrão ético perseguido. A sociedade é

quem financia a C&T, sendo sua cliente e ainda potencial vítima de condutas não éticas de

instituições e de má utilização de resultados de pesquisa por pessoas, grupos ou países mal

intencionados.

Focando na Embrapa, empresa onde foi realizado o presente trabalho, tem-se alguns

questionamentos, como: quais os princípios éticos que a Embrapa persegue na execução da

pesquisa? Em que princípios os pesquisadores se baseiam para realizar a pesquisa? O que os

pesquisadores pensam sobre ética na pesquisa agropecuária? Como é a realizada a “gestão da

1 Espaço Rural é caracterizado no IV Plano Diretor da Embrapa (2004, p. 20) pela “baixa densidade populacional, relação intensa com os recursos naturais e a biodiversidade, e dinâmica socioeconômica subsidiária à dos espaços urbanos“.

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ética” na Embrapa? Como imprimir princípios éticos na pesquisa sem emperrar a ciência?

Esses questionamentos surgem no momento em que se expressa na sociedade, por um

lado o distanciamento do homem em relação aos princípios éticos elementares e, por outro, a

exigência, a expectativa e a busca determinada por esses princípios, fundamentais para a

manutenção da vida e a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

O interesse da autora pelo tema ética de uma forma geral não é novo. Entretanto, o

interesse pelo tema da ética na pesquisa surgiu naturalmente pelo fato de ela trabalhar em uma

empresa de pesquisa desde 1977. Também ganhou forma quando, no ano de 1998, a autora foi

designada, juntamente com outros colegas, para compor o “Comitê de Ética em Pesquisa”,

nos termos da Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde, apesar desse comitê não ter sido

atuante. Em 2003 também a autora foi designada e participou do Grupo de Trabalho que

elaborou o Código de Ética da Embrapa. A oportunidade de realizar um estudo como esse foi

desafiadora e interessante, na medida em que este pode colaborar com o desenvolvimento

humano e sustentável, introduzindo o tema ética na pesquisa agropecuária na empresa.

O tema ética pode ser enfocado segundo diferentes ângulos. Esse trabalho envolve

reflexões sobre, no mínimo, quatro dimensões, que são: ética geral; ética em C&T e na

pesquisa; ética profissional, que se refere mais a profissão; e ética organizacional ou

institucional, que se refere a ética defendida pela instituição a qual o profissional serve.

O tema é bastante atual e importante, na medida em que a ética em C&T e a ética

institucional, abordadas nesse trabalho, fazem parte das preocupações, reivindicações e

anseios da sociedade.

A ética institucional também está sendo o foco de várias empresas. Não só é importante

ser uma empresa ética como também demonstrar isso para a sociedade, com condutas éticas,

disseminando os valores da empresa entre os empregados e entre a comunidade em geral.

Nesse sentido, este estudo mostrou-se oportuno, tendo em vista o momento em que se

buscam opções para o crescimento baseado apenas na economia, uma vez que este não vem

trazendo resultados satisfatórios para o desenvolvimento pleno de todos os seres humanos e

nem da sua grande maioria. É importante também num momento em que a sociedade e o

governo se encontram no dilema de estabelecer ou não limites para a pesquisa. Questões

como sustentabilidade, justiça social, certificação ambiental (avaliação de impactos

Page 18: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

18

ambientais), coerência entre o discurso e a prática, educação ambiental fazem parte de uma

das preocupações atuais do nosso tempo.

Acredita-se que o estudo da ética em C&T, orientado dentro dos princípios

metodológicos da ciência, proporcionará à Embrapa ampliar sua vantagem competitiva para

enfrentar desafios atuais e futuros. Não restam dúvidas de que, cada vez mais, a sociedade

cobra das empresas políticas e procedimentos éticos, sendo que ao fazê-lo, as organizações

estarão impulsionando o seu progresso institucional e promovendo o desenvolvimento do país

sem, contudo, prejudicar a sustentabilidade.

Não se pode esquecer também que a Embrapa, como empresa pública, tem uma

responsabilidade diferenciada, uma vez que estas têm como objetivo maior contribuir para o

bem comum da sociedade a que pertencem. Nesse sentido, a Embrapa tem tido uma postura

bastante pro-ativa, mostrando sua preocupação com ações, que podem ser comprovadas por

meio dos Balanços Sociais que a empresa publica há alguns anos. Nesses documentos

encontra-se uma série de ações que mostram o compromisso ético da Embrapa para com a

nossa sociedade.

O presente estudo proporciona uma oportunidade de a Embrapa rever suas políticas e

práticas sobre o assunto, deixando claro para a sociedade e para os seus empregados qual é a

conduta ética que a empresa persegue. O estudo poderá oferecer contribuições à instituição,

na medida em que visa a contribuir para subsidiar a elaboração de documento corporativo

sobre ética na pesquisa agropecuária; servir como referencial para a realização de concursos

públicos para o cargo de Pesquisador; e subsidiar estudos sobre políticas de gestão de C&T e

sobre gestão de recursos humanos.

Ao nível dos pesquisadores e do conhecimento em geral, a dissertação poderá contribuir

como ponto de partida para maiores reflexões sobre o tema "ética na pesquisa agropecuária" e

para que haja uma maior internalização da ética em C&T na cultura das instituições de

pesquisa e na prática dos pesquisadores. Poderá contribuir ainda como referencial para

definição de procedimentos éticos na pesquisa.

O objetivo geral deste trabalho é entender e analisar a percepção que os pesquisadores

da Embrapa têm com relação a ética na pesquisa agropecuária.

Page 19: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

19

Para atingir esse objetivo geral, têm-se como objetivos específicos: identificar os

princípios éticos que norteiam a atividade de pesquisa; identificar como os pesquisadores

percebem a questão da ética na pesquisa; e verificar se os princípios éticos estão contidos nas

normas e demais documentos da Empresa.

Para atingir esses objetivos foi realizado um estudo exploratório, adotando abordagens

qualitativa e quantitativa. As pesquisas foram realizadas no período de julho a setembro de

2005. A pesquisa qualitativa utilizou entrevistas individuais semi-estruturadas com 21

formadores de opinião (dirigentes atuais, ex-dirigentes e ocupantes ou ex-ocupantes de cargos

estratégicos) e serviu de base para construção de um questionário, objeto da pesquisa

quantitativa. A população estudada pela pesquisa quantitativa compunha-se de 1.846

pesquisadores da Embrapa, lotados na sede e nas unidades descentralizadas localizadas no

território nacional. Houve um retorno de 492 questionários, correspondendo a um percentual

de 26,65%, em relação a população. As respostas das entrevistas foram analisadas com base

em técnicas de análise de conteúdo e as respostas dos questionários foram analisadas por meio

de tratamento estatístico (análises descritivas). Os resultados das pesquisas foram

apresentados a partir dos temas abordados no questionário, seguidos das análises das

entrevistas, com recortes das falas dos entrevistados.

Procurando dar uma construção lógica, para melhor entendimento do tema abordado,

este trabalho está organizado em duas partes e em seis capítulos. A primeira parte contém dois

capítulos e trata do marco teórico e institucional. A segunda parte contém quatro capítulos e

trata do marco empírico.

Apresentar um referencial teórico sobre C&T e ética foi o ponto de partida para a

reflexão sobre o tema e se constituiu em seu primeiro capítulo. Inicia fazendo uma explanação

sobre o que é ciência, comunidade científica e ethos da ciência. Oferece uma reflexão sobre o

julgamento da ciência, isto é, sobre a imagem da ciência na atualidade. Esses temas são

enfocados buscando chegar ao tema objeto deste trabalho que é a ética, evolvendo para o

conceito de desenvolvimento sustentável e ética da sustentabilidade, como uma opção ao

paradigma de desenvolvimento baseado apenas em aspectos econômicos.

O segundo capítulo trata de dois temas, sendo o primeiro referente ao termo "ética"

como é entendido na literatura, passando pela bioética, evoluindo para a apresentação de

elementos para se construir um conceito de ética na pesquisa agropecuária. O segundo tema

Page 20: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

20

abordado por esse capítulo é a ética na Embrapa, do ponto de vista de suas normas e demais

documentos, procurando oferecer um panorama da ética no modo como foi institucionalizada

na empresa.

Apresentar os procedimentos metodológicos da pesquisa se constituiu no foco do

terceiro capítulo. Inicialmente foi narrado o contexto organizacional onde a pesquisa foi

realizada, oferecendo ao leitor dados mínimos sobre a empresa, para melhor entendimento da

pesquisa, como sua estrutura e modus operandi, bem como sobre o cargo de Pesquisador,

objeto da pesquisa. Também apresenta a caracterização da pesquisa, onde são descritos os

procedimentos metodológicos propriamente ditos. Nesse capítulo, encontram-se dados que

permitem conhecer a população pesquisada. Ao final, encontram-se expostas as limitações da

pesquisa, que foram identificadas no decorrer da mesma.

O quarto capítulo apresenta os dados demográficos das pesquisas qualitativa e

quantitativa, oferecendo análises sobre os mesmos. Explana também sobre a receptividade das

pesquisas, onde por meio de dados é analisado o interesse no tema objeto deste trabalho

demonstrado pelos atores em todas as etapas de desenvolvimento do mesmo.

A percepção dos atores sobre ética na pesquisa é o foco do quinto capítulo, que oferece

dados sobre o que pensam os participantes das pesquisas realizadas, com apresentação de

resultados colhidos sobre vários sub-temas que permitem compreender como os

pesquisadores percebem esse tema dentro da empresa e em geral. Permite chegar a algumas

conclusões, que vão sendo clarificadas no decorrer da explanação de cada sub-tema.

O sexto capítulo trata da percepção dos atores sobre as normas de ética na pesquisa na

Embrapa, mostrando como os atores se sentem em relação às normas da empresa. Permite

ainda compreender como o tema "ética" está internalizado na Embrapa, a partir de suas

normas e documentos, do ponto de vista dos atores ouvidos. Contém ainda reflexões sobre os

códigos de ética aos quais o pesquisador está submetido e sobre princípios éticos da pesquisa.

Finaliza abordando questões que não se referiam ao tema estudado, mas que surgiram no

decorrer do trabalho, com um item intitulado “Temas Solidários”.

Ao final, encontram-se as conclusões, que sintetizam os resultados e servem de base

para recomendações, que no decorrer do trabalho foram surgindo, como forma de contribuir

para o tema estudado. Ao final, dentro do espírito de que um mestrado profissionalizante deve

Page 21: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

21

expressar o compromisso de apontar aplicações práticas, sugere-se uma agenda de pesquisa,

com o objetivo de aprofundar o estudo que esta dissertação deu início.

Page 22: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

22

PARTE I

MARCO TEÓRICO E INSTITUCIONAL

Page 23: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

23

1. C&T E ÉTICA

Esse capítulo oferece um panorama sobre a C&T e a ética em C&T, apresentando

reflexões acerca das finalidades do conhecimento científico e da necessidade de se considerar

a ética na ciência. Explora ainda alternativas para o atual paradigma de desenvolvimento

(baseado no crescimento econômico), como, por exemplo, o desenvolvimento sustentável.

1.1. O QUE É CIÊNCIA

A palavra “ciência” tem diversos significados, conforme assinala Merton (1979, p. 38 e

39):

1) um conjunto de métodos característicos por meio dos quais os

conhecimentos são comprovados;

2) um acervo de conhecimentos acumulados, provenientes da

aplicação desses métodos;

3) um conjunto de valores e costumes culturais que governam as

atividades chamadas científicas; ou

4) qualquer combinação dos itens anteriores.

Ciência é um “Conjunto organizado de conhecimentos relativos a um determinado

objeto, especialmente os obtidos mediante a observação, a experiência dos fatos e um método

próprio” (GUIMARÃES, 1997, p. 25). Sáenz e Capote (2002, p. 6) definem ciência como

“um corpo de conhecimentos sobre os fenômenos naturais, obtidos por meio do uso

sistemático de métodos objetivos”.

Page 24: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

24

Caracteriza-se como ciência as “reconstruções racionais do funcionamento da natureza e

das coisas, apoiadas na investigação das relações fenomenológicas e no diálogo do cientista

com a realidade” (ROCHA, 1996, p. 122).

A meta institucional da ciência é o “alargamento dos conhecimentos certificados”

(MERTON, 1979, p. 40). Nesse caso, fora dos métodos e valores científicos, o produto da

investigação não é considerado como ciência.

Assim, pode-se concluir que ciência é o conhecimento devidamente organizado,

adquirido com base em um método, que permite compreender uma determinada realidade.

A grande maioria do conhecimento científico é produto europeu e data dos últimos

quatro séculos. “Nenhuma outra civilização ou época manteve essas comunidades muito

especiais das quais provêm a produtividade científica” (KUHN, 1975, p. 210). Portanto, o

grande poder da ciência e sua importância em todos os aspectos da vida são muito recentes. O

mundo antes era influenciado fortemente por forças divinas, demoníacas e mágicas. O

progresso cumulativo de conhecimentos que a ciência produzia funcionava como arma contra

a ignorância e a superstição e traziam inúmeras invenções que melhoravam a qualidade de

vida das pessoas (RAVETZ, 1982, p. 366).

São inegáveis as contribuições da ciência para a humanidade. Estas foram responsáveis

pela cura de doenças, aumento da expectativa de vida, bem como impactaram todos os

aspectos da vida.

1.1.1. A comunidade científica

A comunidade científica é uma comunidade à parte, que possui características próprias,

regida por normas próprias. A seguir são apresentadas algumas dessas características.

Comunidade científica, no sentido lato, pode ser entendida como (SCHWARTZMAN,

2001, p. 16):

Um grupo de indivíduos que compartilham valores e atitudes científicas e que

se inter-relacionam por meio das instituições científicas a que pertencem. Diz-

se que uma comunidade científica é formada por indivíduos que têm em

Page 25: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

25

comum habilitações, conhecimento e premissas tácitas sobre algum campo

específico do saber. Nessa comunidade, cada indivíduo conhece seu campo

específico e algo das áreas adjacentes. Há uma certa sobreposição do trabalho

e das especialidades, e ninguém possui uma compreensão exaustiva e

sistemática de todo o campo.

Schwartzman (2001, p. 15), ao se referir ao desenvolvimento da comunidade científica,

discorda que a ciência deva ser organizada de acordo com um modelo idealizado, como

propôs Merton. Para ele, comunidade científica “deve ser entendido como ‘um tipo ideal’, no

sentido weberiano: é uma construção intelectual que explicita os valores e as ações sociais

existentes e nos ajuda a compreender as suas conseqüências, implicações e tensões com outras

formas de ação social”.

Existe outro elemento que caracteriza a ciência como um sistema social, que é:

Existência de um sistema de autoridade que defende os critérios de probidade,

plausibilidade e aceitabilidade dos resultados – critérios que de modo geral não

constituem um traço explícito do método científico, mas que de qualquer

maneira são uma parte integral e fundamental do seu funcionamento

(SCHWARTZMAN, 2001, p. 16).

A comunidade científica se destaca ainda pela hierarquia que há, “baseada na

experiência, em títulos acadêmicos, trabalhos publicados e, em alguns casos, cargos

ocupados” (YEGANIANTZ, 1987, p. 104). Dessa forma, não se baseia na igualdade e sim em

uma “confederação meritocrática, dirigida por uma epistemocracia” (MARCOVITCH, 1985,

citado por YEGANIANTZ, 1987, p. 104).

Kuhn (1975, p. 204 e 205), discorrendo sobre os paradigmas da ciência, cita como uma

das características da ciência normal, o fato de o progresso ser mais fácil de ser observado,

uma vez que na comunidade científica não há uma competição acirrada. Em outras áreas, os

profissionais perdem tempo em disputas entre si, sempre uma querendo contradizer a outra e

assim demoram a caminhar. A comunidade científica normal, como não há escolas

competidoras, não fica o tempo todo reexaminando seus fundamentos e questionando seus

objetivos e critérios. Esta aceita um paradigma comum, de forma que aumenta a competência

e a eficácia da comunidade. Sua energia não é gasta em discussões e competições

Page 26: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

26

intermináveis com seus pares; ao contrário, a idéia é partir de conhecimentos já consagrados

para evoluir no campo científico.

1.1.2. Relação entre ciência e sociedade

A literatura (KUHN, 1975, p. 206; MERTON, 1979, p. 38) aponta o fato de a

comunidade científica amadurecida viver num certo isolamento da sociedade em geral. São

apresentadas a seguir opiniões de alguns autores.

O conhecimento científico, sua descoberta e avaliação, está nas mãos da comunidade

científica. Os cientistas trabalham, tendo como seus “clientes”, os seus pares, já que a

comunidade em geral não compreende o método científico e não foi preparada para utilizar

esse conhecimento puro.

Outras áreas de conhecimento trabalham para a sociedade e dependem da aprovação

desta. Assim, preocupados com opinião da sociedade, têm que buscar uma interação com esta,

procurando se fazer entender. O cientista, no caso da ciência normal, não tem de se preocupar

com o que a sociedade ou com o que as outras escolas vão pensar, de forma que não perde

tempo entre uma descoberta e outra. Eles não têm de se justificar perante seu público, uma

vez que este é constituído de pessoas esclarecidas, com valores e conhecimentos semelhantes

(KUHN, 1975, p. 206).

Assim, tendo como “avaliadores” pessoas que compreendem o método científico, o

autor assinala que é mais fácil para os cientistas do que para outros profissionais trabalharem

na base da cooperação, o que permite um desenvolvimento mais rápido, observável.

Entretanto, a interação com a sociedade ou a falta dela, gera uma série de questões, como as

citadas a seguir.

A ciência está sujeita a questionamentos e a intempéries. Os privilégios que os cientistas

gozavam como seres autônomos, separados, que visavam o bem comum, apesar de não

estarem totalmente integrados à sociedade em que viviam, de tempos em tempos são

questionados. A ciência, que vivia em segurança, hoje precisa se justificar perante a sociedade

onde está inserida (MERTON, 1979, p. 37 e 38).

Page 27: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

27

Há autores que atribuem o distanciamento entre ciência e sociedade à questão da

comunicação. Martins & Coutinho (1999), por exemplo, advertem:

Essa dificuldade em se perceber o valor da ciência é resultado do fato de os

cientistas, em todos os tempos, terem criado uma linguagem hermética que

impede ao público leigo o acesso ao conhecimento que geram.

Conseqüentemente, o conhecimento fica entrincheirado nos domínios das

universidades e institutos de pesquisas, distante do público ao qual deveria

servir... Apenas a democratização do conhecimento científico o torna acessível

e é capaz de barrar o avanço da superstição e da pseudociência.

Vários autores (MERTON, 1979, p. 37-38; RAVETZ, 1982, p. 366; SCHWARTZMAN

2002) escreveram sobre a mudança ocorrida na interação entre a ciência e a sociedade, no

sentido desta última questionar a ciência e da perda do status da ciência como sendo uma

atividade própria dos cientistas para se tornar questionável pelo público leigo.

Merton (1979, p. 37-38), discorrendo sobre ciência e sociedade, afirma que os “ataques

insipientes e reais à integridade da ciência têm levado os cientistas a reconhecerem sua

dependência de certos tipos de estrutura social”. Como “as crises convidam à autocrítica”, os

cientistas foram obrigados a “examinar de novo seus fundamentos, revisar seus objetivos,

buscar sua explicação racional”, levando-os a se reconhecerem como parte da sociedade, com

suas obrigações e interesses e, portanto, a repensar a interação ciência e sociedade.

Observa-se, pelo exposto, que a relação entre ciência e sociedade precisa ser melhorada,

no sentido de uma maior interação entre ambas, uma vez que a sociedade é a “consumidora”

dos resultados da ciência e da tecnologia e sua potencial vítima, no caso de condutas

equivocadas ou mal intencionadas dos cientistas ou de segmentos da sociedade.

Mudança de paradigmas na ciência

Thomas Kuhn, que é importante referência na história da ciência, escreveu sobre os

paradigmas da ciência, que seriam “um conjunto de crenças, visões de mundo e de formas de

Page 28: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

28

trabalhar, reconhecidos pela comunidade científica”, que há nos “diversos momentos

históricos e nos diferentes ramos da ciência” (MINAYO, 1994, p. 17).

Para Kuhn (1975), o conhecimento científico não cresce de modo acumulativo e

contínuo. De tempos em tempos, ocorreria o que ele chamou de revoluções, provocadas por

descobertas que põe em dúvida o conhecimento até então consagrado na comunidade

científica. Sua teoria faz uma distinção entre a ciência normal e a “extraordinária”. Este

entende que ciência normal seria aquela onde são aceitos os mesmos paradigmas (princípios,

teorias) por um período de tempo. Sobre esse aspecto, o autor citado assinala que

“Normalmente, os membros de uma comunidade científica amadurecida trabalham a partir de

um único paradigma ou conjunto de paradigmas estreitamente relacionados. Raramente

comunidades científicas diferentes investigam os mesmos problemas” (p. 204 e 205).

A ciência extraordinária traria mudança de paradigmas, que se constituiria num

processo que inicia com um período de crise, onde são redefinidos alguns problemas, não se

encaixando mais em paradigmas antes aceitos. Dessa forma, há uma crise na comunidade

científica entre os proponentes e os conservadores, podendo se encaminhar para a mudança de

paradigmas. Para que ocorra essa mudança proposta por um novo possível paradigma e sua

respectiva aceitação pela comunidade científica são necessárias duas condições que são:

Em primeiro lugar, o novo candidato deve parecer capaz de solucionar algum

problema extraordinário, reconhecido como tal pela comunidade e que não

possa ser analisado de nenhuma outra maneira. Em segundo, o novo

paradigma deve garantir a preservação de uma parte relativamente grande da

capacidade objetiva de resolver problemas, conquistada pela ciência com o

auxílio dos paradigmas anteriores (KUHN, 1975, p. 212).

Esse mesmo autor alerta que essa escolha de paradigmas, além dos aspectos científicos,

fundamenta-se ainda em aspectos alheios aos mesmos. A esse processo, ele chamou de

revoluções científicas, que podem levar ao progresso científico.

Discorrendo ainda sobre as revoluções científicas, Kuhn (1975, p. 207 e 209) afirma que

já na educação da comunidade científica, o efeito da insulação da sociedade em geral fica

patente. Enquanto nas outras disciplinas a leitura de livros e o conhecimento sobre outros

Page 29: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

29

autores servem de base para a construção do conhecimento, na comunidade científica, nas

“ciências da natureza contemporânea”, bastam os manuais, pois o que o neófito precisa saber

encontra-se nos manuais atualizados. “Nessas áreas, o estudante fia-se principalmente nos

manuais, até iniciar sua própria pesquisa... Até os últimos estágios da educação de um

cientista, os manuais substituem sistematicamente a leitura científica da qual derivam”. Este

autor acrescenta que a educação do cientista é “rígida e estreita”. A educação científica

quando repudia um antigo paradigma, não usa mais os livros e artigos que o tomavam como

base. No mundo científico não tem museu de arte ou biblioteca dos clássicos. Eles vêem o

passado como caminho para o futuro, orientado para o progresso.

1.1.3. Ethos da ciência

Ethos é uma palavra que vem do grego éthos, que tem os seguintes significados2:

a) costume, uso, característica;

b) modo de ser, temperamento ou disposição interior, de natureza

emocional ou moral;

c) o espírito que anima uma coletividade, instituição, etc.; e

d) aquilo que é característico e predominante nas atitudes e

sentimentos dos indivíduos de um povo, grupo ou comunidade, e

que marca suas realizações ou manifestações culturais.

Partindo desses significados, ethos da ciência seria o que caracteriza a comunidade

científica, o elemento estável da conduta da comunidade científica, ou seja, aquilo que a

distingue de outros grupamentos humanos.

Merton (1979, p. 39) considera o ethos da ciência como valores e normas que

constituem em obrigação moral dos cientistas. Explica:

2 Dicionário Aurélio – Século XXI.

Page 30: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

30

As normas são expressas em forma de prescrições, proscrições, preferências e

permissões, que se legitimam em relação com valores institucionais. Esses

imperativos, transmitidos pelo preceito e pelo exemplo e reforçados por

sanções, são assimilados em graus variáveis pelo cientista, formando assim

sua consciência científica ou se preferirmos usar a palavra moderna, seu

superego.

Vários autores falam sobre o ethos da ciência. Entretanto, para refletir sobre esse

assunto, não se pode deixar de analisar o ethos da ciência, segundo a visão de Merton (1979).

Esta compreenderia quatro passos, que chamou de “imperativos institucionais”:

universalismo, comunismo ou socialização, desinteresse e ceticismo organizado, cuja

descrição será apresentada a seguir.

Os “os imperativos institucionais (mores) derivam da meta em vista e dos métodos.

Toda a estrutura de normas técnicas e morais leva à consecução do objetivo final.” Os mores

da ciência se referem a prescrições morais e técnicas e “têm uma explicação racional

metodológica, mas são moralmente obrigatórios, não somente porque são eficazes do ponto

de vista do procedimento, mas também porque são considerados justos e bons” (MERTON,

1979, p. 41).

Universalismo

Esse imperativo vincula obrigatoriamente a investigação com a observação e

conhecimentos previamente confirmados. As verdades científicas, sua aceitação ou rejeição,

não podem depender de “atributos pessoais ou sociais do requerente”. Dessa forma, aspectos

como raça, nacionalidade, religião ou mesmo regime político de um país não devem ser

considerados. A objetividade deve ser sempre preservada em detrimento do particularismo

(MERTON, 1979, p. 41 e 42).

Entretanto, esse mesmo autor adianta que o etnocentrismo não é compatível com o

universalismo e questões como o nacionalismo, como o nazismo ou mesmo o patriotismo

associado a guerras podem levar à assimilação de normas segregacionistas. O patriotismo é

Page 31: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

31

perfeitamente legítimo quando se trata de valores; entretanto, quando julgado de acordo com

o universalismo, revela-se vergonhoso (MERTON, 1979, p. 42 e 43).

Esse mesmo autor (p. 42 e 43) adverte ainda sobre as tensões que o cientista e a ciência

são submetidos, em decorrência de incompatibilidades (etnocentrismo, por exemplo). Cita

casos de guerra, onde já houve posicionamentos diferentes dos cientistas, porém cientistas de

todas as nacionalidades solidarizaram-se com o padrão universalista, reafirmando “o caráter

internacional e impessoal, virtualmente anônimo, da ciência”. De acordo com esse imperativo,

não cabem hierarquias ou vetos, com relação às descobertas científicas.

Cabe aqui refletir sobre a dificuldade de operacionalização desse imperativo num

mundo com as mais diversas segregações, onde há interesses claros e velados nas relações

entre países e entre grupos. E como a atividade científica faz parte desse contexto, torna-se

difícil se manter alheio a essas disputas de interesses. O próprio Merton (1979, p. 45)

reconhece essa dificuldade, quando assinala que o “universalismo é tortuosamente louvado

em teoria, mas suprimido na prática”.

No caso de preconceito, por exemplo, este se constitui numa forma comum de proteção

de verdades individuais e culturais, constituindo-se numa defesa do ser humano, contra o que

lhe é estranho e que provoca medo.

“Communality” ou "Comunismo”3

No “comunismo”, as descobertas são produtos da colaboração social e estão destinadas

à comunidade, constituindo-se patrimônio comum, que devem ser compartilhadas. Assim, os

direitos de propriedade na ciência “são reduzidos ao mínimo pelas razões e princípios da ética

científica”. Nesse caso, os cientistas receberiam como recompensa pelas suas descobertas e

contribuições para a ciência, a gratidão e a estima, que “se a instituição funciona com um

3 O termo “communality” foi traduzido para o português como “comunismo”, que por evocar conceitos político-econômicos, não reflete a idéia que Merton quer repassar com o termo. Alguns autores utilizam o termo “socialização”, referindo-se ao conhecimento. Artigos escritos em língua espanhola utilizam o termo “comunitarismo” que parece mais adequado, uma vez que dá idéia de comunidade. Entretanto, esse vocábulo não existe na língua portuguesa.

Page 32: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

32

mínimo de eficácia, são mais ou menos proporcionais aos aumentos trazidos ao fundo de

conhecimento” (MERTON, 1979, p. 45 e 46).

Os cientistas são reconhecidos e “recompensados”, por meio de prêmios4 ou ainda

podem ter seu nome atribuído a uma descoberta ou a uma teoria (YEGANIANTZ, 1987, p.

105). Estes também se sentem recompensados quando alcançam o respeito e apoio dos pares.

É fundamental para a ciência a comunicação dos resultados, na forma de publicidade

das descobertas e desenvolvimento científicos, entendida esta como obrigação moral.

Exemplificando a importância desse imperativo para a herança cultural da ciência, Newton

afirmou que “se enxerguei mais longe foi porque estava sobre os ombros de gigantes”. Esta

declaração “exprime ao mesmo tempo o sentimento de estar em dívida com a herança comum

e a confissão do caráter essencialmente cooperativo e acumulativo das realizações científicas”

(MERTON, 1979, p. 48). Também confirma que o progresso científico depende de gerações

passadas e presentes.

Merton (1979, p. 48) afirma que “o comunismo do ethos científico é incompatível com

a definição de tecnologia como ‘propriedade privada’ numa economia capitalista”. Essa

questão parece realmente se constituir em um conflito, uma vez as patentes “registram direitos

exclusivos de uso e, muitas vezes, de não-uso”. Dessa forma, têm-se no mínimo duas

propostas: “as que pedem remuneração econômica para os descobrimentos científicos e as que

pedem uma mudança do sistema social para deixar que a ciência prossiga em sua tarefa”.

Tentativas de dar a essa questão um desfecho que agrade a maioria têm sido muitas.

Ainda há muito a avançar sobre o tema propriedade intelectual, comum no sistema capitalista.

Entretanto, parecem compreensíveis casos em que patentes são precedidas de real

investimento em CT&I. Sem essa proteção, os investimentos seriam inviáveis.

4 Existem alguns prêmios internacionais e nacionais, que consideram as contribuições dos cientistas para o avanço da ciência, sendo o mais famoso deles, o Prêmio Nobel. Na Embrapa, há o Prêmio Frederico Menezes Veiga, um dos mais tradicionais prêmios científicos do Brasil. Este foi instituído em 1974, com periodicidade anual e é concedido “àqueles que, no campo da pesquisa agropecuária, tenham se destacado pela realização de obra científica ou tecnológica de reconhecido valor ou trabalho que signifique marcante contribuição ao desenvolvimento agrícola nacional”, conforme o site http://www21.sede.embrapa.br/noticias/banco_de_noticias/ 1999/abril/bn.2004-11-25.2074677779/mostra_noticia, acessado em 22.11.2005.

Page 33: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

33

Desinteresse

O desinteresse se refere à busca do conhecimento científico por motivações outras que

não aquelas fruto de recompensas econômicas, emocionais ou sociais. Nesse caso, o cientista

seria movido pelo amor à humanidade e pela preocupação com a melhoria da sua qualidade de

vida ou mesmo o amor à verdade, ao conhecimento.

São muitas as motivações atribuídas aos cientistas, na medida em que “a instituição

impõe uma atividade desinteressada”. Assim, “é do interesse do cientista conformar-se, sob

pena de sanções e, na medida em que a norma foi assimilada, sob pena de conflito

psicológico” (MERTON, 1979, p. 49).

Esse autor considera que o fato de não haver fraudes nos anais da ciência, o que parece

excepcional quando comparada a outras esferas de atividade, foi atribuído às qualidades

pessoais dos cientistas. As explicações para esse fato poderiam ser, além da citada no

parágrafo anterior referente a instituição já impor uma atividade desinteressada, outros fatores

como: a pesquisa científica implica a verificabilidade dos resultados e nisso eles têm em seus

pares, avaliadores vigilantes e exigentes; o cientista não lida com uma clientela leiga, como

outros profissionais, o que faz com que a fraude seja menos provável na comunidade

científica. “É provável que a reputação da ciência e sua elevada posição ética na estima dos

leigos sejam devidas, em grande parte, às realizações tecnológicas. Toda nova tecnologia

atesta a integridade do cientista” (MERTON, 1979, p. 49-51).

É fácil compreender esse imperativo na teoria. Entretanto, quando se vai para o campo

da prática, há outros fatores que interferem, como ressalta Haguette (1997, p. 156), em um

discurso sobre pressupostos epistemológicos da pesquisa participante:

A ciência é social, isto é, ela é um produto do intelecto humano que responde

a necessidades concretas de determinado momento histórico, necessidades

estas definidas pelos grupos no poder. Logo, ela é também histórica, situada.

Seus métodos – regras e técnicas de produção de conhecimento – são

avaliados por homens que formam a comunidade científica. Enquanto homens,

os cientistas são possuidores de interesses, motivações, emoções e

superstições; enquanto membros de determinada classe – a dominante, ou a

Page 34: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

34

serviço dela – os cientistas definem o campo ‘do científico’ a partir dos

interesses objetivos daquela classe. Conseqüentemente, nem a ciência é

neutra, nem a forma de produzi-la – processo de geração de conhecimento.

Kneller (1980, citado por CENCI, 2005, p. 87) também concorda com essa visão de que

a ciência não pode ser e nunca deve ter sido neutra, quando afirma que esta, “na seleção de

tópicos a investigar, é influenciada pelos seus financiadores; e, na escolha dos pressupostos

para as suas tradições de pesquisa, é influenciada por visões de mundo e ideologias”.

Assim como estes, são muitos os autores que de forma direta ou indireta contestam a

existência desse imperativo na prática, como se poderá observar no item 1.3. (Julgamento da

ciência).

Fazendo ainda uma analogia com as teorias de motivação de Maslow e de Herzberg5,

esse imperativo “desinteresse” deveria compor, no caso do primeiro, a escala mais alta das

necessidades humanas, ou seja, necessidade de estima ou ainda necessidade de auto-

realização. No caso da teoria de Herzberg, os aspectos motivacionais intrínsecos. Entretanto,

para que as necessidades citadas se constituam na busca de uma pessoa, é necessário que

outras menos elevadas (como as necessidades fisiológicas, de segurança, no caso da teoria de

Maslow e os fatores higiênicos, no caso da teoria de Herzberg) tenham sido atingidas total ou

parcialmente. Dessa forma, o desinteresse absoluto do cientista na escolha do seu objeto de

pesquisa, do método e da forma como produzir e divulgar o resultado final, torna-se muito

difícil.

5 Maslow hierarquizou as necessidades humanas em uma pirâmide, baseado na importância e na influência sobre o comportamento humano. Essas necessidades seriam, indo do nível mais baixo para o mais alto: necessidades fisiológicas; de segurança; sociais; estima e de auto-realização. Nesta última estariam as necessidades mais elevadas, ligadas a pela realização do potencial de cada pessoa. Entretanto, esse processo de satisfação de necessidades não é estático, estando sujeito a variações. Herzberg criou a teoria dos dois fatores para explicar o comportamento das pessoas. Os primeiros fatores seriam os fatores higiênicos ou extrínsecos. Estes seriam fatores localizados no ambiente, fora do controle da pessoa, como: salário, benefícios sociais, condições de trabalho etc. Os segundos seriam os fatores motivacionais ou intrínsecos, que englobariam sentimentos de crescimento individual, de reconhecimento profissional e necessidades de auto-realização (CHIAVENATO, 1994, p. 168-170 e 176-177).

Page 35: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

35

Ceticismo Organizado

O imperativo mertoniano “ceticismo organizado” refere-se à obrigatoriedade de se

submeter os enunciados científicos à prova. Esse é “um mandato ao mesmo tempo

metodológico e institucional”. Refere-se à “supressão do julgamento, até que ‘os fatos estejam

à mão’, e o exame imparcial das crenças, de acordo com critérios empíricos e lógicos”

(MERTON, 1979, p. 51).

A questão da prova remete a Popper (1975, p. 49 e 50), que afirma que para se certificar

da objetividade dos enunciados científicos, estes têm de ser submetidos à prova e a repetições

para que não sejam confundidos com simples coincidência. Declara que só reconhecerá “um

sistema como empírico ou científico se ele for passível de comprovação pela experiência”.

Não que se exija que todo enunciado científico tenha sido submetido a testes infinitos antes de

merecer aceitação, mas que ele se mostre capaz de ser submetido a testes. Sugere como

“critério de demarcação, não a verificabilidade, mas a falseabilidade de um sistema”. Para

este autor, em ciência, não pode haver enunciados que devam ser aceitos “resignadamente”

como verdadeiros “simplesmente pela circunstância de não parecer possível, devido a razões

lógicas, submetê-los a teste”.

Voltando ao imperativo “ceticismo organizado”, Merton (1979, p. 51-52) considera que

este tem colocado a ciência em conflito com outras instituições, uma vez que “o pesquisador

científico não respeita a separação entre o sagrado e o profano, entre o que exige respeito sem

crítica e o que pode ser objetivamente analisado”. Esse fato traz problemas com a Igreja, com

a Economia ou com o Estado, como se esse imperativo ameaçasse a distribuição do poder

vigente. “O conflito acentua-se sempre que a ciência leva sua pesquisa a zonas novas, nas

quais já existem atitudes institucionalizadas, ou sempre que outras instituições ampliam sua

área de controle”.

Os imperativos mertonianos são tentativas de educar para evitar a conduta imprópria na

ciência, constituindo-se em uma base, um ponto de partida para que se possa chegar ao ethos

da ciência. Eles funcionam como premissas básicas, uma vez que cada um em si traz

problemas de operacionalização e que estes não esgotam valores e normas que devem se

constituir em obrigação moral dos cientistas.

Page 36: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

36

1.2. TECNOLOGIA

A palavra tecnologia, segundo Cattani (1997, p. 254) vem do grego tecknologia, cujo

significado é “tratamento ou descrição sistemática de uma ou mais ‘teknai’ (artes plásticas,

ofícios)”. A tecnologia é o domínio pelo homem de um conjunto de conhecimentos, que se

aplicam para gerar bens e serviços.

Também foi conceituada como sendo um “conjunto de conhecimentos científicos e

empíricos, de habilidades, experiências e organização requeridos para produzir, distribuir,

comercializar – nos casos em que se aplique - e utilizar bens e serviços”. Nesse conceito,

encontram-se incluídas variáveis como: conhecimentos teóricos, práticos, meios físicos,

know-how, métodos e procedimentos produtivos, gerenciais e organizacionais (SÁENZ E

PAULA, 2001, p. 43).

A tecnologia, como a ciência, pode ser vista de dois diferentes pontos de vista: como

um conjunto de conhecimentos (científicos e empíricos requeridos para produzir, distribuir,

comercializar bens e serviços) ou como uma atividade (aplicação para conhecimentos já

existentes), alertam Sáenz e Capote (2002, p. 47).

A ciência e a tecnologia estão na maioria das vezes interligadas, apesar de ser possível

distinguí-las conceitualmente. De acordo com as novas tendências, a distinção entre C&T é

possível, mas começa a perder sua relevância, na prática (WEBSTER, 1991, p. 4).

Sobre essa diferença, Merton (1979, p. 48) assinala que a ciência prevê divulgação,

enquanto a tecnologia é definida como “propriedade privada”, fato que reflete um conflito.

Entretanto, essa parece ser a característica que mais distingue a ciência da tecnologia.

O binômio C&T foi formado a partir da Revolução Industrial e contribuiu para o

desenvolvimento do capitalismo (CATTANI, 1997, p. 254).

A relação entre C&T é clara. Tanto a ciência pode ser utilizada para criação de novas

tecnologias como o contrário. Sáenz e Paula (2001, p. 44) chamam a atenção para o fato de as

novas tecnologias também suscitarem a demanda de pesquisas científicas para melhor

compreensão destas e para seu aperfeiçoamento.

Page 37: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

37

Fourez (1995, p. 203 e 204) assegura que a distinção entre ciência e tecnologia

encontra-se nos lugares sociais onde os conhecimentos são aplicados, conforme expressa:

Os saberes científicos se aplicam em um lugar restrito, os laboratórios, e se

ligam a uma instituição particular: a comunidade científica. Pelo contrário, os

saberes tecnológicos ou as ciências aplicadas são utilizados na realidade social

tomada globalmente, no mundo exterior. Os dois tipos de saber destinam-se

sempre a ser aplicados, portanto, mas em lugares diferentes.

Alguns autores, Freeman e Soete (1997, p. 15); Sáenz & Paula (2001, p. 44) referem-se

aos termos “tecnologias avançadas” e “alta tecnologia” para distinguir setores da economia

que precisam mais de técnicas científicas do que os setores tradicionais.

Pelo que foi visto, conclui-se que a C&T possuem uma relação inquestionável entre si,

conformando a área cinzenta, onde esses dois conceitos se imbricam.

É importante acrescentar que à sigla C&T foi incorporada a palavra inovação,

transformando-a em CT&I. Esse acréscimo, como explicam Sáenz e Paula (2001, p. 48),

longe de ser apenas uma questão semântica, envolve uma idéia básica quando se refere ao

desafio da globalização. A falta de compreensão dessa idéia gera problemas nos níveis macro

e micro, como explicam:

- Em primeiro lugar, o desenvolvimento de uma tecnologia deve ser visto

como parte de um processo de inovação, ou seja, não é suficiente gerar

tecnologias, é necessário inovar;

- A tecnologia é um bem perecível e, como tal, deve ser transformada em

inovação antes de alcançar a obsolescência; de outra forma todos os recursos

investidos em sua geração se perderão;

- O locus, o centro de gravidade da inovação está radicado nas empresas e/ou

instituições onde são introduzidas as novas tecnologias – empresas do setor

produtivo ou naquelas instituições não necessariamente comerciais, como

hospitais, escolas etc. Nesse sentido, essas instituições inovadoras devem

receber uma atenção especial nos mecanismos que se estabeleçam para

impulsionar a inovação tecnológica.

Page 38: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

38

Pesquisa e desenvolvimento (P&D) também aparecem envolvendo um novo conceito. O

Manual Frascati traz a seguinte definição: é o “trabalho criativo realizado sistematicamente

com o fim de aumentar o conhecimento, incluindo o conhecimento do homem, da cultura e da

sociedade, e a utilização dessa bagagem de conhecimentos para idear novas aplicações”

(SÁENZ e CAPOTE, 2002).

1.3. JULGAMENTO DA C&T

O conhecimento científico, através dos anos, passou por algumas sentenças, por meio

do julgamento da sociedade. A ciência alternou de status de uma atividade inquestionável,

com resultados sempre benéficos, para uma atividade realizada por homens e como tal, sujeita

a incorreções. Considerando a responsabilidade que envolve a ciência e a posição dos

cientistas, apontam-se questões que remetem a desmitificação do conhecimento, suscitadas na

literatura, sem contudo ter a pretensão de esgotá-las.

Ravetz (1982, p. 366) assinala que:

Até recentemente, a história da ciência era uma estória de sucessos. Os

triunfos da ciência representavam um processo cumulativo de conhecimento

crescente e uma seqüência de vitórias sobre a ignorância e a superstição; a

ciência era uma fonte de invenções para a melhoria da vida humana. A recente

tomada de consciência da existência de profundos problemas morais dentro da

ciência, da limitação ou condicionamento de seu desenvolvimento por forças

externas, assim como dos perigos de mudanças tecnológicas sem controle,

desafiaram os historiadores a realizarem uma reavaliação crítica dessa sua

antiga e singela fé na ciência.6

Esse mesmo autor cita a influência de técnicas, de instituições, de políticas de estado, de

movimentos políticos, de nações e ideologias e também de guerras na evolução da ciência.

O conhecimento científico, uma vez que estava baseado na razão e na observação

controlada da realidade, “era apresentado e defendido como um conhecimento iluminado,

6 Tradução extraída do Esquema de Aula 01, História da Ciência, de E. B. Viotti (2004).

Page 39: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

39

produtor de verdades superiores àquelas reveladas pela religião ou pelo sentido comum”. Esse

conhecimento, juntamente com o conhecimento técnico “prometia riqueza e saúde, resultados

práticos que outras formas de conhecimento não poderiam proporcionar.” Dessa forma, os

cientistas acreditavam que o público deveria apreciar o seu trabalho, dar todo o apoio, bem

como os recursos que eles necessitassem, “mas deixando que eles resolvessem o que era

melhor para todos”. Isso ocorreu durante séculos, em países ocidentais mais desenvolvidos e

“permitiu que a ciência e a tecnologia se desenvolvessem a níveis extremamente elevados”

(SCHWARTZMAN, 20027).

Entretanto, a sociedade começou a questionar os benefícios proporcionados pela

ciência, como explica Yeganiantz (1987, p. 106):

No início deste século predominava a crença de que os cientistas eram capazes

de, mais cedo ou mais tarde, implantar a felicidade na face da Terra, com a

solução de todos os problemas existentes, uma vez que possuíam sua

autonomia e auto-regulação... Nos anos 70, acabou a fé cega na ciência e nos

cientistas. Mais realista, a sociedade dos anos 70 parou para pensar nos

benefícios proporcionados pela ciência e pela tecnologia. Descobria-se afinal

que a ciência tem os seus limites, e às vezes produz alguns mau efeitos

colaterais. Ao mesmo tempo o conhecimento científico destituiu-se de seu

caráter de ‘Verdade Absoluta’ e passou a ser entendido como um conjunto de

soluções provisórias.

Visando apresentar uma informação atual sobre esse assunto - ciência e sociedade - em

2002 e 2003 foi realizada uma pesquisa de percepção pública da ciência8 (VOGT e POLINO,

2003) em quatro países (Argentina, Brasil, Espanha e Uruguai), onde foram pesquisadas

7 Nesse artigo Schwartzman (2002), faz uma analogia entre a rede de relação entre os produtores de conhecimento e a sociedade, com a relação de outra rede, que é a dos jogadores e de técnicos de futebol e a população. Ambas são atividades especializadas e devem conviver com a sociedade, mostrando sua atividade, já que a mesma interfere na vida das pessoas, porém sem deixar essa atividade e seus resultados serem influenciadas por leigos.

8 Essa pesquisa foi realizada dentro do Projeto Ibero-Americano de Indicadores de Percepção Pública, Cultura Científica e Participação dos Cidadãos, de responsabilidade da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) e da Rede Ibero-Americana de Indicadores de Ciência e Tecnologia (RICYT/CYTED). Na Argentina, a pesquisa foi realizada em dezembro de 2002 e nos outros países foram realizadas em fevereiro de março de 2003, envolvendo ao todo 762 pessoas, sendo 300 da Argentina, 162 do Brasil, 150 da Espanha e 150 do Uruguai.

Page 40: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

40

algumas variáveis. Apesar de ser um estudo de proporções pequenas, em relação ao número

de países existentes, é interessante observar alguns resultados. No quesito “utilidade da

ciência” (p. 20-21), a maioria dos entrevistados dos quatro países, 72%, concordou que “o

desenvolvimento da ciência e da tecnologia é o principal motivo de melhoria da qualidade de

vida da sociedade”. Entretanto, a grande maioria, 85,9% “nega que a ciência e a tecnologia

possam solucionar todos os problemas”.

A literatura nos lembra de problemas de pequenas e de grandes proporções ocorridos

decorrentes da C&T ou do seu mau uso. Ravetz (1982) lembra as bombas atômicas que

caíram sobre os civis de Hiroshima e Nagasaki. Webster (1991, p. 2) cita os casos da usina

atômica de Chernobyl; do reator nuclear “Three Mile Island”9, no estado da Pensilvânia, nos

EUA. Valls (2001, p. 73) lembra também Bophal.

Bronowski (1979), um cientista que participou do projeto que desenvolveu a bomba

atômica, relata sua visita a Nagasaqui, em novembro de 1945, após a explosão da bomba

atômica. Naquele momento ficou claro o poder da ciência usado como meio de destruição.

Esse depoimento vindo desse cientista é importante, pois remete a um questionamento: será

que todos os participantes do projeto que levou a construção da bomba atômica, se

questionados, concordariam com o seu uso em guerras, para exterminar civis? Bursztyn

(2002, p. 161) lembra que esse cientista foi um dos primeiros a chamar a atenção para o fato

de a humanidade poder interferir no seu próprio futuro, com poder mesmo de auto-extinção.

A imagem da ciência vem sofrendo abalos e a sociedade começa a exigir

responsabilidade frente a algumas conseqüências do desenvolvimento científico e

tecnológico.

Por outro lado, a ciência trouxe conhecimentos que a humanidade não esperava. A

teoria de Darwin, por exemplo, chocou porque sugeria que o homem, os animais e as plantas

não foram parte de um projeto, de um objetivo, e sim chegaram a essa forma pela seleção

natural e dirigindo-se a nenhum objetivo: “a seleção natural, resultando de simples

competição entre organismos que lutam pela sobrevivência, teria produzido homem com

animais e plantas superiores”. Dessa forma, o autor faz uma provocação com a incômoda

pergunta: “O que poderiam significar ‘evolução’, ‘desenvolvimento’ e ‘progresso’ na

9 Segundo Webster (1991, p. 2), até o momento em que havia escrito, o processo de descontaminação dos resíduos radioativos continuava e já tinha custado um bilhão de dólares, que era três vezes o custo da construção daquela usina.

Page 41: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

41

ausência de um objetivo especificado?”. Uma analogia entre a teoria evolucionista de Darwin

e a evolução das idéias científicas, leva a considerar que estas podem ter mudado, sem ter um

objetivo bem definido, por meio da seleção pelo conflito decorrente das revoluções, sem uma

“verdade científica permanentemente fixada, da qual cada estágio do desenvolvimento

científico seria um exemplar mais aprimorado” (KUHN, 1975, p. 214-215 e 216).

Alguns autores questionam o fato de a ciência ser totalmente impessoal. Merton (1979,

p. 40) questiona qual das diversas estruturas sociais favoreceria mais o desenvolvimento da

ciência. Esse questionamento não encontra amparo no imperativo institucional

“universalismo”.

Considerando a questão da meritocracia, há autores que contestam o fato de a ciência

ser regida por uma simples meritocracia. Webster (1991, p. 8) acredita que grupos melhor

posicionados no estabelecimento científico devem provavelmente contar com maior apoio

para seus trabalhos. Bourdieu (1975, citado por WEBSTER, 1991, p. 8) argumenta que “o

mercado de bens científicos tem suas leis próprias e elas não têm nada a ver com ética ou

normas... Reivindicações de legitimidade [de idéias] derivam da força relativa do grupo cujos

interesses elas expressam”. Isso significa que “alguns cientistas e suas áreas de pesquisa

podem gozar de uma posição favorável em termos de reconhecimento, independente da

‘qualidade’ do trabalho que produzem.” (WEBSTER, 1991, p. 9).

Observa-se ainda que em alguns assuntos polêmicos, os cientistas não chegam a um

consenso, seja porque não há estudos suficientes, ou porque não há tempo suficiente de

aplicação, para avaliar as implicações da adoção de produtos da ciência. Dessa forma, quando

se apresentam assuntos polêmicos, como clonagem e transgenia, ocorre em parte da sociedade

desinformada muita desconfiança sobre os reais objetivos dessas técnicas. Nesses casos, a

atuação da comunidade científica, com seus debates, que em casos normais seriam muito bem

vistos, concorre para a geração de insegurança na sociedade em geral.

Concorrendo ainda para o tema da falta de consenso sobre alguns assuntos e para o fato

do imperativo mertoniano “desinteresse” ser altamente questionável, Schwmartzman (2002)

considera que algumas questões científicas são realmente complexas e de natureza

especializada e nem sempre os cientistas e tecnólogos têm respostas a essas questões. Cita

como exemplos, os alimentos transgênicos, as novas tecnologias de clonagem, os problemas

de poluição ambiental, dentre outros. Argumenta que:

Page 42: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

42

As controvérsias e perplexidades existem dentro do próprio mundo da ciência,

que não é, como os cientistas às vezes pretendem, uma república de sábios em

busca das grandes verdades, mas uma arena altamente competitiva, aonde se

disputa recursos, projetos, financiamentos, carreiras e reputações10.

Enfim, são muitos os questionamentos sobre a ciência e sua atuação. A realidade hoje é

que tem-se um bloco pequeno de países considerados desenvolvidos e um grande número de

países no bloco dos “em desenvolvimento”. As teorias do desenvolvimento procuram fazer

um diagnóstico da natureza e causas da pobreza das nações, para buscar estratégias de

superação dos problemas de subdesenvolvimento (VIOTTI, 1997, p. 13).

Alguns autores (SUNKEL, 1975, p. 3; VIOTTI, 1998, p. 2) consideram, com base em

dados (por exemplo, de renda per capita), que antes da Revolução Industrial, não havia muita

diferença entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos ou que, a partir desse evento,

essa diferença aumentou rapidamente (FREEMAN, 2002, p. 206). A verdade é que depois

desse fato histórico, as economias se dividiram, com crescimento geométrico em alguns

países hoje considerados desenvolvidos.

Aqui aparece a questão da competitividade econômica, permeando todas essas fases de

desenvolvimento no qual são “classificados” os países. O conceito de competitividade traz

embutidas as razões atribuídas por cada autor à mesma.

Uma economia é competitiva quando consegue pelo menos igualar sua produção com

os padrões de eficiência do resto do mundo (ARAÚJO JR., 1996, p. 85). Para esse autor,

competitividade internacional é a “capacidade adquirida pelos agentes econômicos para

acompanhar o ritmo do progresso técnico e utilizar eficientemente o acervo de conhecimentos

disponível pela sociedade contemporânea”.

Viotti (1997, p. 14), também atribui a divisão das economias ao progresso técnico. Este

autor cita ainda a teoria da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL),

da Organização das Nações Unidas (ONU), que assegura que o surgimento de nações

desenvolvidas e subdesenvolvidas é atribuído “a diferentes processos de apropriação de

ganhos de produtividade, resultantes do progresso técnico”.

10 Com relação a esse assunto, Schwmartzman (2002) cita LEWONTIN, R. (2002); GREENBERG, D. S. (2002) e LATOUR, B. (1993).

Page 43: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

43

Observa-se que competitividade é um conceito dinâmico e que para a manutenção de

posições competitivas, há a necessidade de investimento em desenvolvimento tecnológico

(STAUB, 2001, p. 5) e de renovação contínua de processos tecnológicos (SÁENZ e PAULA,

2001, p. 42). Enfim, pode-se concluir que a C&T desempenha papel determinante para o

crescimento econômico dos países em economias capitalistas.

CT&I “são elementos-chave para o crescimento, a competitividade e o desenvolvimento

de empresas, indústrias, regiões e países”, na medida em que estas perpassam todos os

segmentos da vida. “Também têm importância fundamental na determinação do estilo de

desenvolvimento de regiões ou nações e na forma como este afeta no presente e afetará no

futuro a qualidade de vida da população em geral e de seus diversos segmentos” (VIOTTI e

MACEDO, 2003, p. xxi).

Com a compreensão da importância da C&T para o desenvolvimento dos países, entre

as novas tendências que marcam a evolução das relações entre C&T e sociedade, a C&T é

hoje uma preocupação dos Estados, estando dentro da arena política. Assim, os governos

estão envolvidos com o financiamento, administração e regulação da C&T (WEBSTER,

1991, p. 5).

Nota-se que é cada vez mais difícil sustentar a idéia de que a ciência é “neutra” e

impessoal. A literatura não deixa dúvidas quanto a relação entre a inovação tecnológica e a

competitividade.

Nicolsky (2001, p. 104)11 considera que:

A pesquisa tecnológica não está localmente acoplada à pesquisa científica,

mas à demanda real do mercado, que deve então ser atendida para que a

propriedade intelectual da inovação, ou patente, tenha valor econômico. A

pesquisa tecnológica não se alimenta da pesquisa científica local diretamente,

mas do acervo de conhecimentos existentes, tanto científicos quanto

tecnológicos e, até, de conhecimentos culturais. Enfim, de tudo o que for

necessário mobilizar para proporcionar satisfação ao consumidor, usuário ou

cliente.

11 Nesse caso, Nicolski (2001) está discorrendo sobre o modelo dinâmico de inovação no Brasil.

Page 44: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

44

É interessante observar que, a inovação é fundamental tanto para os que estão

interessados em acelerar ou manter a taxa de crescimento em seus países, quanto para aqueles

que discordam dessa preocupação ser limitada à questão da quantidade de bens. Em outras

palavras, para se modificar a direção do crescimento baseado apenas no avanço da economia,

concentrando esforços na melhoria da qualidade de vida, também é necessária a inovação. O

avanço tecnológico pode servir para proteger os recursos naturais e o meio ambiente. Como

exemplo dessa possibilidade tem-se a prevenção e a resolução de problemas de poluição; a

reciclagem de rejeitos, de forma economicamente viável (FREEMAN e SOETE, 1997, p.

107).

Inovação implica “dar um destino econômico para uma nova idéia, que pode ser ou não,

resultado de um invento genuíno”. Inovar, portanto, é “realizar na vida econômica uma nova

combinação de fatores de produção para produzir um novo produto ou para aplicar um novo

processo de produção, sempre visando transacionar produtos no mercado”. Dessa forma,

invenção é diferente de inovação (VERMULM, 2001, p. 1).

Com isso, observa-se que a C&T, na pessoa de seus atores, tem que se esforçar para

sustentar o status de neutralidade e impessoalidade, buscando e se baseando em princípios

universais lícitos.

1.4. ÉTICA NA CIÊNCIA

Na sociedade hoje ocorrem várias discussões sobre os avanços da ciência e de suas

implicações. Essas discussões vão desde questões, cujas implicações seriam muito pequenas,

até discussões que envolvem o futuro da humanidade.

Após o uso do conhecimento científico para construir bombas de destruição em massa,

a sociedade tomou consciência do poder que, em tese, um só homem tem para destruir o

planeta. Dessa forma, são temidos tanto a falta de barreiras da pesquisa, entrando num campo

perigoso de dominação e cessação das conquistas com relação aos direitos humanos, como no

“poder de fogo” que um só homem12 ou um grupo ou mesmo uma nação terá com os

12 O filme Dr. Strangelove (Dr. Fantástico) dirigido por Stanley Kubrick retrata bem essa situação. Ele tinha o poder e usou esse poder.

Page 45: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

45

conhecimentos científicos à disposição (mesmo que os criadores sejam éticos e que tenham

tido boas intenções).

Buarque (1990, p. 14) assinala que a partir de 1945, depois das reações provocadas pela

explosão das bombas atômicas, surgiu uma preocupação básica dos físicos, biólogos e

químicos com a “ética do comportamento técnico/científico, nas suas pesquisas e nas

produções decorrentes dela”.

Webster (1991, p. 5-6) também crê que a visão tradicional de que a C&T são “neutras”,

não sendo influenciadas por processos sociais mais amplos, "não pode mais ser sustentada”,

ficando cada vez mais difícil os cientistas se apresentarem como especialistas independentes

em assuntos de interesse social.

Entretanto, a sociedade sabe que todos sofrerão caso sejam implementadas soluções

inadequadas, tanto as nações ricas como as pobres. Os desastres causados pelo homem podem

ter implicações para esta geração e para as gerações futuras.

Com todas essas incertezas, há que se buscar princípios que abriguem essas

preocupações, como o princípio da precaução, o princípio da responsabilidade. Goldim (2002)

lembra o Princípio da Precaução, conforme definido na Conferência RIO 1992:

O Princípio da Precaução é a garantia contra os riscos potenciais que, de

acordo com o estado atual do conhecimento, não podem ser ainda

identificados. Este Princípio afirma que a ausência da certeza científica

formal, a existência de um risco de um dano sério ou irreversível requer a

implementação de medidas que possam prever este dano.

O Princípio da Responsabilidade, conforme evoca Hans Jonas, adverte: “O homem nos

é o único ser conhecido que pode ter responsabilidade. Na medida em que ele a pode ter, ele a

tem. A capacidade de responsabilidade significa já a colocação sob seu imperativo: o próprio

poder leva consigo o dever” (BARTHOLO JR. E BURSZTYN, 2002, p. 173).

Observa-se que sobre a questão de estabelecer limites para a ciência, não existe

consenso na literatura. Há autores que defendem a total liberdade da ciência. Diniz (2004)

considera que “cientistas são pessoas que questionam constantemente a maneira como vemos

o mundo. Sem a liberdade para esse questionamento, a ciência perde seu sentido”. Denuncia

haver um “grau de cerceamento da liberdade de expressão científica ao redor do mundo.

Page 46: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

46

Cientistas são demitidos, presos, exilados e torturados simplesmente porque seu trabalho

científico vai de encontro a interesses econômicos, políticos e religiosos”. Advoga que a

ciência precisa ser livre “para ser um dos motores do desenvolvimento de um país”,

advertindo que:

Fora de um ambiente livre é impossível saber se os resultados apresentados

pelos cientistas correspondem a um trabalho que é o mais rigoroso e imparcial

possível, ou se são simplesmente uma justificativa para interesses específicos

disfarçada sob a autoridade do discurso científico.

Garrafa (2000, p. 175) cita Jonas (1990), que analisa “a liberdade da pesquisa apóia-se

exatamente no fato de que a atividade de investigar, juntamente com o conhecimento, deve

estar separada da esfera da ação”. Sobre esse assunto, Garrafa (Ibidem) declara que “se a

ciência como tal, não pode ser ética ou moralmente qualificada, pode sê-la, no entanto, a

utilização que dela se faça, os interesses a que serve e as conseqüências sociais de sua

aplicação”.

Há autores que acreditam que deve haver certa combinação entre qualidades morais e

capacidade de investigação, que testemunham a competência profissional do pesquisador

(YEGANIANTZ, 1987, p. 105).

Foi realizada uma pesquisa13 nos EUA, com cientistas da área médica dos Institutos

Nacionais de Saúde (NIH), com 3.247 questionários respondidos, onde um terço afirmou ter

cometido “alguma improbidade em seus estudos nos últimos três anos”. O questionário

continha 16 perguntas a respeito de má-conduta científica, com diferentes graus de gravidade,

desde “você manteve registros inadequados de suas pesquisas?”, até “você falsificou ou

‘fabricou’ dados de pesquisa?” Questionava ainda sobre a mudança do projeto, da

metodologia ou dos resultados de estudos, por pressões de fontes de financiamento. Nessa

questão, 15,5% responderam afirmativamente, o que remete à questão do ambiente atuando na

integridade da pesquisa. Apesar do estudo se restringir à área médica nos EUA, os dados são

preocupantes. Como o estudo evidencia, as “pequenas” infrações no mundo científico podem

fazer mais mal à integridade da comunidade científica do que os grandes escândalos que de

vez em quando são noticiados pela imprensa (NOGUEIRA, 2005). Realmente, grandes

13 Essa pesquisa foi conduzida por Brian C. Martinson, Melissa Anderson e Raymond de Vries.

Page 47: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

47

escândalos têm destaque garantido na mídia, de forma a oferecer a oportunidade dos atores

interferirem para a redução dos danos ou para a inibição de incidentes futuros. Entretanto,

casos de fraude e adulteração de resultados, podem causar danos não calculados, com

impactos negativos à imagem da ciência.

Azevedo (2005) escrevendo sobre integridade científica no Brasil, relata que o

Escritório de Integridade Científica (Office of Research Integrity – ORI) dos EUA, informou

que no período de 1994 a 2003, houve 133 casos de “má condução científica, 53% por

falsificação de dados, 29% por fabricação de resultados, 36% por ações conjuntas de

fabricação/falsificação, entre outras desonestidades ocorridas com menores freqüências”.

Diante disso, essa autora aponta um inquietante questionamento: “Será ingenuidade admitir

que em um país tão maculado por corrupções, nos mais diversos níveis, tenha conseguido o

milagre de somente os honestos tenham se dedicado à pesquisa científica”. Apesar de o

questionamento ter sido feito para o Brasil, pode-se generalizar para a comunidade científica

em geral, uma vez que a corrupção não é um problema que ocorre apenas no Brasil. Nesse

artigo, a autora questiona ainda se “não teria chegado o momento para maiores reflexões e

respostas como anda a integridade científica no Brasil”. Mais uma vez pode-se também

aumentar o universo, estendendo esse questionamento em nível mundial.

Coutinho e Gurgel (2004) afirmam que por algum tempo “cientistas e políticos viam os

preceitos éticos como um estorvo que impediam ações mais ousadas, mais futuristas e, até

mesmo, mais necessárias à humanidade”. Esse fato resultou em “práticas científicas e

políticas afastadas completamente dos princípios morais: uma ruptura entre moral e política

(Maquiavel, por exemplo), e uma ruptura entre moral e ciência (Comte, por exemplo)”.

Outros autores, como Schwartzman (2002) e Yeganiantz (1987), vão mais longe:

“Já não há tanta certeza sobre a bondade das tecnologias, nem a convicção de

que a ciência conduza a um conhecimento eticamente superior, apesar da crise

das demais interpretações normativas da realidade, inclusive as religiosas. O

mundo da ciência e da tecnologia, que antes se mantinha protegido e isolado, é

hoje invadido por todo tipo de interesses e motivações, e já não comparte uma

cultura implícita, como antes parecia ser. Paradoxalmente, isto se dá ao mesmo

tempo em que a importância da tecnologia para a geração de riqueza e de poder

é maior do que nunca (SCHWARTZMAN, 2002)”.

Page 48: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

48

“Se não existir uma firme convicção de levar-se a sério o problema social, a

pesquisa pode servir apenas para satisfazer a curiosidade científica e, em casos

relacionados com problemas sociais, para reivindicar, alertar e denunciar, e não

para solucionar estes problemas (YEGANIANTZ, 1987, p. 105)”.

Como se vê, a ciência tem uma série de desafios. Essa tem que considerar seu impacto

político e social e ambiental. Dessa forma, entende-se que a sociedade deve participar da

ciência e da pesquisa, de alguma forma. Também a comunidade científica deve participar da

formulação de políticas, não cabendo nessa idéia, o insulamento existente na comunidade

científica.

Ao resumir essa questão, Garrafa (2000, p. 176) lembra que:

A ética sobrevive sem a ciência e a técnica; isto é, sua existência não depende

delas. A ciência e a técnica, no entanto, não podem prescindir da ética, sob

pena de transformarem-se em armas desastrosas para o futuro da humanidade

nas mãos de minorias poderosas e/ou mal-intencionadas.

Com todas as reflexões apresentadas neste capítulo, observa-se que há questionamentos

sobre o fato de a ciência ser impessoal e moralmente inatacável.

Hans Jonas propõe “fundamentar uma modernidade ética apta a restringir a capacidade

humana de agir como um destruidor da auto-afirmação do ser, expressa na perenização da

vida” (BURSZTYN, 2002, p. 167).

A ciência “pode apresentar elementos parciais (pontuais) podendo testar a coerência de

uma certa visão e afinar certas análises. Entretanto, a ciência não pode jamais responder à

questão ética: Queremos nós assumir tal decisão?” (FOUREZ, 1995, p. 306).

Encontram-se também autores que acreditam que à ciência cabe explorar o

conhecimento e oferecer resultados e que a decisão se estes resultados serão ou não utilizados,

cabe à sociedade. Essa visão retira da ciência a responsabilidade ética, ou seja, de certa forma,

a ética é colocada fora da ciência, e é repassada à sociedade. Cabe saber se a sociedade detém

os conhecimentos necessários e dispõe de fóruns para avaliar o custo/benefício da tomada de

Page 49: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

49

decisão sobre assuntos polêmicos. Além disso, num regime democrático, a tomada de

decisões sobre aplicações da ciência pela sociedade leiga, poderia ser alvo de manobra de

grupos mais favorecidos e de maior peso na mídia, como também estar sujeita à cultura de

cada povo.

Observa-se que a C&T vive um momento delicado em que tem que repensar suas bases,

trazendo para si questionamentos, visando incluir em seu bojo, avaliações não só referentes à

produção de conhecimentos como a questões maiores como a aplicabilidade dos

conhecimentos, impactos de suas descobertas sobre a questão da desigualdade social e

pobreza das nações, bem como sobre seus impactos na qualidade de vida das gerações atuais e

das gerações futuras. Isso requer uma maior reflexão, com olhar diferenciado, em relação ao

processo e resultados da C&T, o que leva a considerações sobre a mudança de foco,

priorizando a questão da ética na ciência.

1.4.1. Desenvolvimento sustentável e ética da sustentabilidade

A palavra “desenvolvimento” hoje não encontra uma uniformidade de conceitos e

expectativas. Bartholo Jr. e Bursztyn (2002, p. 163) reconhecem, a partir de interpretações da

Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), da ONU, uma

diferenciação entre conceitos como “crescimento”, que estaria relacionado com a expansão

qualitativa da economia e a palavra “desenvolvimento”, que envolveria elementos

qualitativos, como distribuição de renda e avanços sociais.

Assim surge uma opção ao estilo de desenvolvimento atual, baseado no crescimento

apenas econômico, que é o desenvolvimento sustentável.

A definição de desenvolvimento sustentável mais conhecida é a adotada pela Comissão

Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em Brundtland, em 1987 (GUIMARÃES,

2001, p. 55), que entende desenvolvimento sustentável como “aquele que satisfaz as

necessidades das gerações atuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras de

satisfazer suas próprias necessidades”.

Bartholo Jr. (2001, p. 20), propõe como “fundamento para uma ética da

sustentabilidade” a formulação de Jonas (1979), que conceitua desenvolvimento sustentável

Page 50: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

50

como “a incorporação ao horizonte da intervenção transformadora do mundo da necessidade,

o compromisso com a perenização da vida”.

Esse desenvolvimento, segundo Guimarães (2001, p. 56) seria um desenvolvimento

medido com réguas diferentes das econômicas atuais (acumulação de bens e serviços, cultura

do consumismo). Sugere um desenvolvimento onde “haja mudanças qualitativas na qualidade

de vida e felicidade das pessoas”. Esses aspectos mais que as dimensões mercantis

transacionais no mercado, “incluem dimensões sociais, culturais, estéticas e de satisfação de

necessidades materiais e espirituais”. Desenvolvimento onde se priorize o bem estar do ser

humano e a “integridade ecossistêmica do planeta”.

Guimarães (2001, p. 65), conclui que:

A realidade empírica demonstra que a acumulação de riqueza, isto é, o

crescimento econômico, não é e não será jamais um requisito ou uma

precondição para o desenvolvimento do ser humano, pois o que determina tal

desenvolvimento é o uso feito por uma coletividade de sua riqueza, e não a

riqueza em si mesma.

Complementa dizendo que:

O afã do crescimento ilimitado baseado na crença do desenvolvimento

tecnológico, igualmente ilimitado, só é capaz de produzir a alienação dos seres

humanos, transformando-os em robôs que buscam incessantemente a

satisfação de necessidades que têm sempre menos relação com as

necessidades de sobrevivência e de crescimento espiritual (p. 67).

Assim, termos como desenvolvimento sustentável e ética do desenvolvimento, remetem

a um outro paradigma de desenvolvimento.

Guimarães (2001, p. 55 e 48) fala sobre ética do desenvolvimento, “na qual os objetivos

econômicos do progresso estão subordinados às leis de funcionamento dos sistemas naturais e

aos critérios de respeito à dignidade humana e de melhoria da qualidade de vida das pessoas”.

Esse autor sugere um novo paradigma de desenvolvimento:

Apto a inserir o ser humano no centro do processo de desenvolvimento,

considerar o crescimento como um meio, e não um fim, proteger as

Page 51: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

51

oportunidades de vida das gerações atuais e futuras e, por conseguinte,

respeitar a integridade dos sistemas naturais que permitem a existência de vida

no planeta.

Bartholo Jr. e Bursztyn (2002, p. 172 e 176) lembram da necessidade de conscientização

sobre a “responsabilidade pela perenização da vida”, para que se possa entender o conceito de

sustentabilidade, visto que “as gerações futuras são vulneráveis a nossos atos, mas a recíproca

não é verdadeira”. Na atualidade, ao mesmo tempo em que o homem adquire conhecimento

sobre as forças da natureza, mais é temido o poder de intervenção do homem sobre a própria

natureza.

Fica claro em Bursztyn (2001, p. 64) que o conceito de sustentabilidade deve combinar

dois momentos. O primeiro seria a consideração dos direitos das gerações futuras. O segundo

seria a solidariedade com o “outro”, no presente.

Há ainda outras questões que dificultam a visão do meio ambiente como um bem a ser

protegido, como o desenvolvimento sustentável requer, que é a visão mercadológica do

parâmetro econômico vigente e uma questão mais complicada e que envolve outras reflexões

que é o antropocentrismo. Alguns autores opinam que somente o ecocentrismo aponta uma

perspectiva para a sobrevivência do ecossistema.

Como se pode observar essa questão ética ainda requer muita discussão e

posicionamento, uma vez que a responsabilidade dos cientistas é muito grande e determinante

para essa mudança de paradigma no desenvolvimento.

Em Bartholo Jr. e Bursztyn (2002, p. 183), encontra-se um desfecho para essa questão:

Decisões em consonância com o princípio ‘sustentabilidade’ são decisões

éticas, que contribuem para a manutenção e aperfeiçoamento de sistemas de

sustentação da vida. O fortalecimento de códigos de conduta e diretrizes para a

comunidade científica e tecnológica contribui decisivamente para a

consciência ambiental e o desenvolvimento sustentável.

Page 52: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

52

2. ÉTICA E PESQUISA AGROPECUÁRIA

Este capítulo está dividido em dois itens. O primeiro apresenta reflexões acerca da ética,

da ética na pesquisa, da bioética, evoluindo para a apresentação de elementos para um

conceito de ética na pesquisa agropecuária. São apresentados também alguns princípios éticos

ou questões éticas referentes à pesquisa, segundo alguns autores, buscando compreender

melhor o tema.

A segunda parte do capítulo apresenta o tema ética na Embrapa, procurando mostrar a

sua importância para a empresa e como esse tema está inserido formalmente nas normas e

demais documentos da empresa. Apresenta ainda um diagnóstico sobre a “gestão da ética” na

Embrapa e analisa os preceitos éticos da pesquisa constantes no Código de Ética da Embrapa.

2.1. ÉTICA NA PESQUISA AGROPECUÁRIA

Este item contém os seguintes tópicos: conceitos de ética; ética na pesquisa; bioética; e

elementos para um conceito de ética na pesquisa agropecuária. Também encontram-se citados

alguns princípios éticos na pesquisa agropecuária, encontrados na literatura.

2.1.1. Conceitos de Ética

Regular a relação entre os homens é uma necessidade antiga, objeto de várias

disciplinas e conteúdos dentro destas. A ética faz parte da filosofia, uma disciplina cuja

origem remonta a mais de 2.500 anos. É um termo muito rico de reflexões e de significados

na literatura.

A palavra ética vem do grego “ethos”, que tem dois significados: a) a palavra escrita

com “e” minúsculo (com “eta”), significa morada do ser, no sentido de casa; e b) a palavra

escrita com “E” maiúsculo (com “epsílon”), significa costumes, ou “conjunto de valores e de

hábitos consagrados pela tradição cultural de um povo” (BOFF, 2003, p. 28 e 29).

Page 53: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

53

Gardner (1965, p. 21) assinala que a discussão sobre ética tradicional levanta dois

conceitos distintos que é o direito (que seria o certo) e o bem. Acrescenta que:

O conceito de direito envolve as noções de dever, de lei moral e de

imperativos; o conceito de bem envolve a idéia dos bens ou fins almejados.

No primeiro caso, a vida ideal é apreciada em termos de obediência à lei; no

segundo, como satisfação de desejos e realização de fins... Alguns pensadores

éticos – Immanuel Kant, por exemplo – têm sustentado que a questão

concernente ao direito, ao certo, é primária; outros – Aristóteles, por exemplo,

consideraram o bem como a mais importante.

Entretanto, esse autor concorda com o fato de que uma e outra são importantes e de

certa forma dependentes. Enquanto Kant introduziu o conceito de dever, como uma obrigação

humana, Aristóteles fundamentou a ética na noção do bem ou alvo (Ibidem, p. 22).

Abbagnano (1982, p. 360), também trata de duas concepções fundamentais da ética:

1) a que a considera como ciência do fim a que a conduta dos homens se deve

dirigir e dos meios para atingir tal fim; e deduz tanto o fim quanto os meios da

natureza do homem; 2) a que a considera como ciência do móvel da conduta

humana e procura determinar tal móvel com vistas a dirigir ou disciplinar a

mesma conduta. Essas duas concepções, que se entrelaçaram variadamente na

Antiguidade e no mundo moderno, são profundamente diferentes e falam duas

linguagens diversas. A primeira, com efeito, fala a linguagem do ideal a que o

homem está dirigido pela sua natureza, e por conseguinte, da ‘natureza’ ou

‘essência’ ou ‘substância’ do homem. Já a Segunda fala dos ‘motivos’ ou das

‘causas’ da conduta humana ou das ‘forças’ que a determinam e pretende ater-

se ao conhecimento dos fatos.

Acrescenta ainda que:

A confusão entre ambos os pontos de vista heterogêneos foi possibilitada pelo

fato de ambas se apresentarem habitualmente na forma aparentemente idêntica

Page 54: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

54

de uma definição do bem. Mas a análise da noção do bem mostra logo a

ambigüidade que ela oculta: já que bem pode significar ou o que é (pelo fato

de que é) ou o que é objeto de desejo, de aspiração etc.: e estes dois

significados correspondem exatamente às duas concepções de ética.

A ética é o estudo crítico da moralidade e esse estudo pressupõe que o homem é livre e

responsável. “A não ser que ele seja livre em sentido bem real, não pode ser considerado

responsável pelos seus atos; e se não é responsável por esses atos, não há sentido em falar

deles como tendo significação ética”. (Gardner, 1965, p. 19). Apesar de existirem concepções

diferentes, ética, em geral, é a ciência da conduta (ABBAGNANO, 1982, p. 360). Entretanto,

este estudo não pretende oferecer uma extensa discussão etimológica do termo e nem acerca

dos autores clássicos que são referências sobre o assunto. Os conceitos de ética são aqui

apresentados para servir de base para construção de outros conceitos.

Há uma relação estreita entre os conceitos de ética e moral. Em geral, no dia a dia,

usam-se essas expressões como sinônimas. Entretanto, há diferenças.

Moral é uma palavra que vem do latim “mos-mores”, que significa “os costumes e

valores de uma determinada cultura” (BOFF, 2003, p. 29). Em geral seu significado diz

respeito ao conjunto de normas ou regras de conduta de uma pessoa, de grupos, ou mesmo de

uma época, considerados válidos.

De acordo com Abbagnano (1982, p. 652), a palavra moral pode ser vista com dois

significados, que são: o mesmo que ética; e “o objeto da ética, a conduta enquanto dirigida ou

disciplinada por normas, o conjunto dos mores. Neste significado, a palavra é usada nas

seguintes expressões: ‘a moral dos primitivos’, ‘a moral contemporânea’ etc.”. Nesse caso

estaria sujeita a avaliação, principalmente positiva.

Hengel (apud ABBAGNANO, 1982, p. 387) distingue eticidade de moralidade. A

moralidade é conceituada como “a vontade subjetiva, isto é, individual ou privada, do bem”.

A eticidade é “a realização do mesmo bem em realidades históricas ou institucionais, que são

a família, a sociedade civil e o Estado”.

Apesar de se encontrar muito a palavra ética como sinônimo de moral, Boff (2003, p.

27-28) considera:

Page 55: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

55

Todas as morais, por mais diversas, nascem de um transfundo comum, que é a

ética. Ética somente existe no singular, pois pertence à natureza humana,

presente em cada pessoa, enquanto a moral está sempre no plural, porque são

as distintas formas de expressão cultural da ética.

Boff (Ibidem, p. 30) utiliza duas formulações práticas que visam explicar bem essa

diferença. Quando se diz que a pessoa não tem ética, significa dizer que:

Essa pessoa não possui princípios, age oportunisticamente, consoante as

vantagens que possa auferir; dela não se poderá esperar nenhum

comportamento coerente e previsível, porque não possui uma opção

fundamental de vida. Não tem ética, por exemplo, um jornalista que trai seus

princípios para fazer, por bom dinheiro, a campanha de um político

notoriamente corrupto. A alegação de que faz um ‘trabalho profissional’ não

justifica a traição ética do jornalista ou de qualquer outro profissional.

Quando se diz que a pessoa não tem moral, significa dizer que:

Essa pessoa não possui virtudes, mente, engana clientes, rouba dinheiro

público, explora trabalhadores, faz violência em casa. Essa pessoa pode até ter

ética (princípios e valores fundamentais), mas age em contradição com os seus

princípios.

Pode acontecer de uma pessoa não possuir ética e nem moral. Nesse caso, ela “age

aleatoriamente, consoante seus interesses mais imediatos” (Ibidem).

Dentro de um contexto prático, a ética estuda os juízos de apreciação referentes à

conduta humana, sob a ótima do bem e do mal, do justo e do injusto.

Romano (2001) lembra o conceito de ética relativa a determinado povo:

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56

A ética é o conjunto de hábitos, de atitudes, de pensamentos, de formas

culturais de um povo, adquiridas ao longo do tempo, durante longo tempo.

Uma ética não surge de repente, brotando do nada. A ética, deste modo, vai se

sedimentando na memória e na inteligência das pessoas, irradiando-se em atos

que são feitos sem muitos esforços de reflexão ou crítica. A ética é o que se

tornou quase uma segunda natureza das pessoas, de modo que seus valores são

assumidos, digamos, automaticamente ou sem crítica.

Yeganiantz (1987, p. 104) lembra que apesar da ética ser um conceito que varia no

tempo, guarda uma essência:

A ética estuda os princípios normativos do comportamento humano e os

valores morais que dirigem a vida dos homens... Por mais que esses valores

sejam variáveis, ou inconstantes, há um fato imutável, o de ser o homem um

animal moral, isto é, que se conduz segundo valores e que se vê julgado,

punido ou gratificado, ainda segundo esses valores dominantes na sociedade.

Singer (1998, p. 20), acredita que “A ética exige que extrapolemos o ‘eu’ e o ‘você’ e

cheguemos à lei universal, ao juízo universalizável, ao ponto de vista do espectador imparcial,

ao observador ideal, ou qualquer outro nome que lhe dermos”. Esse mesmo autor (p. 9) cita a

ética prática, que considera “a aplicação da ética ou moralidade (usarei indiferentemente essas

duas palavras) à abordagem de questões práticas, como... o uso de animais em pesquisas e

para a fabricação de alimentos, a preservação do meio ambiente”, dentre outros.

Valenti e Silva (1995, p. 27), discorrendo sobre ética no trabalho, ressaltam que “a

filosofia moral ou, simplesmente, a ética surge no contexto social de repente, quando a

convivência torna-se difícil, em função de situações que demandam consenso no

entendimento humano e diferenças entre escalas de valores”. Cada classe profissional se

organiza e define condutas aceitáveis ou não, para conhecimento e cumprimento por todos.

Para Teixeira (2005, p. 131 e 133), ética “é um conjunto de normas de conduta que

devem ser postas em prática no exercício de qualquer profissão. É, por assim dizer, a ação

‘reguladora’ do desempenho das profissões, que exige que o profissional respeite seu

Page 57: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

57

semelhante quando no exercício da sua profissão”. Mais adiante, resume: “O homem não

deve construir seu bem à custa da destruição de outros. Isso é ética”.

Esse mesmo autor enumera princípios que parecem comuns no exercício de toda

profissão: honestidade, sigilo, competência, prudência, coragem, perseverança, compreensão

(afinidade interpessoal), humildade, imparcialidade e otimismo (p. 135 a 138).

A ética é um “quadro de princípios, preceitos e regras de comportamentos implícitos nas

leis ou vindos da tradição e de usos e costumes correntes a que pessoas devem-se submeter,

sendo julgadas pelo seu cumprimento” (YEGANIANTZ, 1987, p. 103).

O Código de Ética da Embrapa oferece o seguinte conceito de ética “Ética é a promoção

dos costumes e atos considerados como sendo os melhores e mais justos, sem distinção ou

discriminação de qualquer natureza”.

Cañas-Quirós (1998) apresenta um esquema didático (Figura 1) que permite visualizar

melhor o conceito e uso do termo ética. Explica que ao se falar em ética como ciência

normativa, referente à retidão dos atos humanos, com base em princípios racionais, trata-se de

“ética geral”, que remete a metafísica e a antropologia filosófica e busca explicar questões

como liberdade, natureza do bem e do mal, felicidade e outros. Chama de “ética especial” ou

“ética aplicada”, aquela que busca levar para a prática os fundamentos gerais da ética. Os

princípios básicos seriam sedimentados no plano individual, familiar e social. O nível social

se subdivide em outros ramos, como ética internacional, ética econômica, ética profissional.

Já esta última se subdividiria em ética das diversas profissões, cujo exemplo apresentado foi

ética médica, ética do jornalismo e ética da educação.

Page 58: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

58

Ética

Figura 1: Classificação da ética. Fonte: Cañas-Quirós (1998).

O esquema apresentado facilita a visualização da abrangência da questão. Entretanto,

não retrata a interface que cada aspecto desses tem com o outro. Buscando atender a essa

necessidade, partindo do raciocínio do autor citado, utilizou-se a Figura 2. Por meio dela,

pretende-se mostrar a interdependência de cada uma dessas abordagens. Entende-se que a

ética institucional e a ética profissional utilizam-se de conceitos e princípios provenientes da

ética pessoal (pontos de interseção A e B). A ética institucional por sua vez também se utiliza

da ética profissional e vice-versa (ponto de interseção C), sendo praticamente impossível

separar totalmente umas das outras ou medir o quanto uma está contida na outra. O ponto de

interseção D retrata o ponto comum entre as várias dimensões da ética, ou seja, os princípios

lá contidos podem ser requisitados para qualquer atividade do indivíduo, independente do

local e do papel desempenhado. Entretanto, todas essas abordagens, ética pessoal, profissional

e institucional estariam contidas na ética geral.

Ética Geral

Ética Geral

Ética Aplicada

Ética Individual

Ética Familiar

Ética Social

Ética Internacional

Ética Econômica

Ética Profissional

Ética Médica

Ética do Jornalista

Ética do Educador

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59

Figura 2: Exemplificação de interfaces na classificação da ética.

A ética é um tema amplamente discutido e canaliza uma série de artigos e sub-temas.

No decorrer desse trabalho, encontrou-se vários olhares e várias conceituações, como: ética

pessoal, ética protestante, ética profissional, ética organizacional ou institucional, ética

empresarial, ética planetária, ética mundial, ética periférica, ética prática, ética aplicada, ética

das virtudes, ética da convicção, ética da responsabilidade, ética do discurso, ética agrícola,

ética holística.

Ainda na visão aplicada, Weil (1993, 19-23) caracterizada a ética em duas formas, que

chamou de ética moralista e ética espontânea ou essencial. A ética moralista seria aquela

adquirida de forma artificial, por pressão de fora e se confunde muito com moral. Já a ética

espontânea seria aquela despertada dentro do próprio indivíduo, conforme explica:

Ética moralista é por conseguinte uma ética forjada, artificialmente criada pela

pressão social, contrariando os supostos instintos egoístas, e posteriormente

racionalizada pela inteligência sob a forma de máximas moralizantes

elaboradas por filósofos religiosos ou materialistas, mas todos racionalistas.

Page 60: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

60

O que caracteriza a ética espontânea ou essencial é:

O homem visto como um organismo vivo que contém os princípios do

universo... Os valores da Ética têm que ser despertados. A Ética e os seus

valores são endógenos, isto é, vêm de dentro. Uma vez despertados a

sabedoria e o verdadeiro amor altruísta dentro do ser humano, a regras morais

são dispensáveis.

Esse mesmo autor adverte que a ética moralista e a espontânea se complementam e que

a primeira é necessária para aqueles que ainda não conseguiram despertar a segunda.

Deontologia é uma palavra que vem do grego “déon, déontos” e que significa dever.

Juntamente com o sufixo “logia”, compõem a palavra deontologia, que significa “conjunto de

deveres, princípios e normas adaptadas por um determinado grupo profissional”. De acordo

com a página da web “Psicologia.com.pt”, considerando que “a deontologia é uma disciplina

da ética especial adaptada ao exercício de uma profissão”, existem muitos códigos

deontológicos referentes a determinadas profissões. Estes, regra geral, “têm por base as

grandes declarações universais e esforçam-se por traduzir o sentimento ético expresso nestas,

adaptando-o, no entanto, às particularidades de cada país e de cada grupo profissional”.

Ética organizacional, segundo a visão de Humberg (2002, p. 25) é:

Um comportamento regido por padrões claros, explícitos, que correspondem à

postura real dos dirigentes... Ou seja, a ética é parte daquilo que se define

como cultura ou filosofia organizacional: são padrões de comportamento que

correspondem a valores reais, aceitos e assumidos pelos componentes da

organização, a partir de sua cúpula.

Para esse autor (p. 56) “a ética é como a água: corre de cima para baixo”, no sentido de

que a empresa se parece com o seu dono. Nesse caso, os dirigentes têm de ter e mostrar uma

conduta ética adequada, pois caso não o façam, darão aos seus colaboradores o direito de

fazer o mesmo. Argumenta: “As empresas se parecem muito com o dono. Se ele é corrupto, a

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61

tendência é que o diretor seja corrupto e o faxineiro não veja nenhum problema em levar

detergente para casa...”. No caso de empresa pública, o “dono”, que é a sociedade brasileira,

se faz representar pelos seus dirigentes. Dessa forma, as instituições devem investir no padrão

ético dos seus dirigentes em todos os níveis.

Singer (1998, p. 21), discorrendo sobre a tomada de decisões, cita duas possibilidades,

que é o vazio ético absoluto, onde ele considera que há um desconhecimento total de

considerações de natureza ética e um estágio pré-ético de pensamento, onde a consciência

ética não está ainda totalmente desenvolvida. Essas duas possibilidades podem existir na

empresa e esta pode atuar no sentido do desenvolvimento da consciência ética, com

estratégias semelhantes às da educação.

Para efeito deste trabalho, considerar-se-á o conceito de ética aplicada ao mundo do

trabalho e da pesquisa, ou seja, considerando que a ética envolve reflexão, seria um conjunto

de princípios morais assumidos por uma classe de profissionais ou pelos integrantes de uma

organização, que guiará a conduta dos integrantes daquela classe. Dessa forma, a ação de cada

indivíduo deverá refletir esse conjunto de princípios, que já estarão devidamente

internalizados pelos mesmos.

2.1.2. Ética na pesquisa

Pesquisa é a investigação sistemática, baseada em um método, para se chegar à

compreensão de uma determinada realidade.

Minayo (1994, p. 17 e 18), discorrendo sobre o conceito de metodologia de pesquisa,

conceitua pesquisa como:

A atividade básica da Ciência na sua indagação e construção da realidade. É a

pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do

mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a pesquisa vincula

pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser intelectualmente um problema se

não tiver sido, em primeiro lugar, um problema da vida prática. As questões

Page 62: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

62

de investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e circunstâncias

socialmente condicionadas. São frutos de determinada inserção no real, nele

encontrando suas razões e seus objetivos. Toda investigação se inicia por um

problema com uma questão, com uma dúvida ou com uma pergunta,

articuladas a conhecimentos anteriores, mas que também podem demandar a

criação de novos referenciais.

A Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde

(CNS/MS)14 define pesquisa como:

Classe de atividades cujo objetivo é desenvolver ou contribuir para o

conhecimento generalizável. O conhecimento generalizável consiste em

teorias, relações ou princípios ou no acúmulo de informações sobre as quais

estão baseados, que possam ser corroborados por métodos científicos aceitos

de observação e inferência.

Essa resolução define ainda: pesquisa envolvendo seres humanos, como uma “pesquisa

que, individual ou coletivamente, envolva o ser humano de forma direta ou indireta, em sua

totalidade ou partes dele, incluindo o manejo de informações ou materiais”; risco da pesquisa,

que seria a “possibilidade de danos à dimensão física, psíquica, moral, intelectual, social,

cultural ou espiritual do ser humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela decorrente” e

dano associado ou decorrente da pesquisa, que seria o “agravo imediato ou tardio, ao

indivíduo ou à coletividade, com nexo causal comprovado, direto ou indireto, decorrente do

estudo científico”.

Buscou-se na literatura um conceito de ética na pesquisa, que atendesse ao presente

estudo. Entretanto, a maioria dos conceitos encontrados, não tinha a ver com a idéia aqui

tratada, referindo-se mais ao comprometimento do pesquisador com o objeto da pesquisa e

Esta é uma resolução do Conselho Nacional de Saúde, órgão pertencente ao Ministério da Saúde e estabelece as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. Institui os Comitês de Ética em Pesquisa (CEP), a quem devem ser submetidas as pesquisas envolvendo seres humanos, e versa sobre suas atribuições. Estabelece ainda a composição e atribuições da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP/MS), “instância colegiada, de natureza consultiva, deliberativa, normativa, independente, vinculada ao Conselho Nacional de Saúde”. Informações sobre a Resolução 196/96 foram extraídas do site http://www.ensp.fiocruz.br/etica/resolucoes.cfm#pre, acessado em 14.05.2005.

Page 63: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

63

não com princípios na execução da pesquisa ou com o comprometimento do pesquisador com

o uso dos resultados da pesquisa.

Para elaboração de um conceito de ética na pesquisa seria necessário combinar

qualidades morais com capacidade de investigação (YEGANIANTZ, 1987, p. 105), visando a

busca do conhecimento tendo como foco o bem da humanidade.

2.1.3. Bioética

A bioética tem sua origem na ética médica e o termo foi utilizado pela primeira vez em

1971, pelo oncologista Van Rensselder Potter, que a propunha como uma nova disciplina

(SCHOLZE, 2002, p. 192-193). Segundo a autora, citando Warren T. Reich, bioética é: “O

estudo sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e da saúde, examinada à

luz dos valores e dos princípios morais”. Dissecando a definição acima, são identificados três

elementos:

Trata-se do estudo sistemático da conduta humana, vale dizer o estudo

científico e orgânico, uma construção lógica guiada pelo pensamento racional,

com vínculo de coerência interna para alcançar um resultado científico em

determinada área de pesquisa. A bioética seria, então, sistemática no sentido

de que pensa seu campo de estudo segundo uma configuração lógica interna

que o domínio da ética ou o biológico não chegariam, isolados, a configurar

adequadamente. Quanto ao segundo elemento, a área das ciências da vida é

um campo que compreende, em uma visão global e interdisciplinar, o estudo

da promoção da qualidade de vida do homem e dos ecossistemas, conjugando

reflexões ecológicas, antropológicas e éticas. Por fim, a definição de Reich

destaca que na bioética a conduta humana é examinada à luz de valores e

princípios morais (Ibidem, p. 197-198).

Bioética “é um ramo da ética aplicada que reúne um conjunto de conceitos, princípios e

teorias, com a função de dar legitimidade às ações humanas que podem ter efeito sobre os

fenômenos vitais e a vida em geral”, conceitua Yeganiantz (2001, p. 140).

Page 64: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

64

Observa-se que algumas profissões que lidam diretamente com o corpo humano, como a

medicina, a odontologia e a enfermagem, encontram-se preocupadas com a questão da ética

na pesquisa, que pode ser comprovada devido ao número de publicações sobre o assunto.

Esses estudos são motivados por abusos ocorridos na experimentação com o ser humano já

vivenciados no mundo e estes advogam a favor da proteção das pessoas e de grupos mais

vulneráveis, buscando o respeito ao ser humano.

Os princípios da bioética são encontrados na literatura facilmente. Apesar de não haver

uma uniformidade dos princípios encontrados, observa-se que o foco, em geral, é o respeito

ao indivíduo.

A Resolução 196/1996 do CNS/MS, que regulamenta aspectos éticos da pesquisa

envolvendo seres humanos, já cita anteriormente, explicita algumas exigências éticas e

científicas fundamentais para pesquisa:

a) consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo e a proteção a grupos

vulneráveis e aos legalmente incapazes (autonomia). Neste sentido, a pesquisa

envolvendo seres humanos deverá sempre tratá-lo em sua dignidade, respeitá-

lo em sua autonomia e defendê-lo em sua vulnerabilidade; b) ponderação entre

riscos e benefícios, tanto atuais como potenciais, individuais ou coletivos

(beneficência), comprometendo-se com o máximo de benefícios e o mínimo

de danos e riscos; c) garantia de que danos previsíveis serão evitados (não

maleficência); d) relevância social da pesquisa com vantagens significativas

para os sujeitos da pesquisa e minimização do ônus para os sujeitos

vulneráveis, o que garante a igual consideração dos interesses envolvidos, não

perdendo o sentido de sua destinação sócio-humanitária (justiça e eqüidade).

Em um artigo sobre ética na pesquisa envolvendo seres humanos, Azevedo (2004)

enumera certas preocupações referentes a esse assunto, como: evitar que a população seja

utilizada de forma abusiva como sujeito de investigação; conflito de interesses dos

“pesquisadores que também atuam nas empresas – ou, em alguns casos, até mesmo são sócios

delas – que colocarão no mercado o produto desenvolvido com seu conhecimento”. Advoga a

importância de o pesquisador colocar “sua postura de independência de julgamento e de

moralidade científica acima dos interesses comerciais”.

Page 65: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

65

A Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos15, em seu

Artigo 13, fala sobre as responsabilidades inerentes às atividades dos pesquisadores:

As responsabilidades inerentes às atividades dos pesquisadores, incluindo

rigor, cautela, honestidade intelectual e integridade no desempenho de suas

pesquisas, bem como aquelas relacionadas à divulgação e utilização de suas

descobertas, devem ser alvo de atenção especial no âmbito da pesquisa sobre o

genoma humano, em função de suas implicações éticas e sociais.

Formuladores de políticas públicas e privadas de desenvolvimento científico

também possuem responsabilidades específicas nesse aspecto.

2.1.4. Elementos para um conceito de ética na pesquisa agropecuária

Quatro pesquisadores estão sentados à mesa do restaurante da

empresa, conversando sobre a questão da política no Brasil. A conversa

gira em torno da corrupção, lavagem de dinheiro, caixa 2, contratação

de parentes, falta de compromisso com as promessas feitas nas

campanhas, enfim, sobre a falta de ética na política. Demonstram

repulsa pelo comportamento dos políticos e condenam sua falta de

compromisso com a função pública. Depois dois deles saem e os que

ficam mudam a conversa e um propõe que o outro o coloque como co-

autor de um trabalho que este está fazendo sozinho e vice-versa, para

conseguirem mais pontuação no sistema de avaliação de desempenho

da empresa.

Esse comportamento trai a moral e a ética, no mínimo, pelos motivos: a) se a pessoa

não ajudou a escrever o artigo e é citado como co-autor, isso não corresponde à verdade; b) o

comportamento apesar de parecer inocente, não reflete uma preocupação com os outros

indivíduos, uma vez que com uma mentira, esses conseguiriam ser melhor avaliados,

prejudicando outros.

15 Essa declaração foi adotada pela Conferência Geral da UNESCO, em sua 29ª sessão, em 1997 e encontra-se disponível no site: http://www.dhnet.org.br/direitos/direitosglobais/paradigmas_textos/genomahum.html, da

Page 66: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

66

Esse é um exemplo hipotético16, mas reflete bem um problema comum quando se fala

em ética, que é a condenação do ato dos outros e a falta de crítica sobre nossas próprias ações

e, conseqüentemente, a não ligação das mesmas com um comportamento errado ou antiético.

Essa é uma tendência do ser humano, de julgar os outros com um rigor maior do que julga a si

próprio. Procurou-se um exemplo que ferisse a ética na pesquisa, mas poderia ser outro

qualquer. A todo o momento, em atos cotidianos, o ser humano pode estar cometendo deslizes

éticos, sem a devida crítica de seus próprios atos, que nos outros não só seriam notados como

também condenados. Janine (2004) denuncia esse procedimento: “Faz parte do nosso discurso

social, da nossa fala com o outro, afirmar: eu sou ético, num mundo em que o resto não o é.

Eu sou do bem. O mundo está de pernas para o ar, tudo está errado, mas eu não”. Romano

(2001) explica: “A idéia de se monopolizar o bem, jogando o mal para os nossos adversários,

para os que agem e pensam diferente de nós, acompanha a idéia de monopolizar a verdade...”

Depois dessa ilustração, retorna-se à questão da ética na pesquisa agropecuária. Na

literatura, não foram encontrados muitos títulos enfocando especificamente a ética na

pesquisa agropecuária, do ponto de vista da comunidade científica. Entretanto, encontra-se

muito a discussão e expressão de preocupações com a ética em assuntos afetos a pesquisa

agropecuária na literatura e na mídia eletrônica, digital e escrita, por parte de estudiosos e da

sociedade em geral. Cita-se, dentre outras, pesquisas biotecnológicas e utilização de animais

em pesquisas.

No caso da biotecnologia, há leis no Brasil que regulam sua utilização (Lei de

Biossegurança17), inclusive com a criação de órgãos reguladores.

No caso da utilização de animais em pesquisa, tem-se atualmente no Brasil projeto de

lei que dispõe sobre esse assunto. O Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea)18,

UNESCO, acessado em 04.10.2005.

16 Esse exemplo foi criado a partir de um caso hipotético semelhante, citado no artigo de Cláudio Thomas, intitulado “A Ética do Jornalista: o outro lado da questão”, disponível no site: http://www.hottopos.com/mirand4/suplem4/aticado.htm, acessado em 03.04.2005.

17 A Lei de Biossegurança (Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005) estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados (OGM) e seus derivados; cria o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS); reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança (PNB).

18 O Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea) é um órgão da sociedade civil, sem fins lucrativos e de caráter científico-cultural, com sede em São Paulo. É formada por pesquisadores e técnicos interessados em experimentação animal. Esses princípios éticos estão disponíveis na página da web: http://www.biotecnicas.hpg.ig.com.br/etica.htm, acessado em 03.11.2005.

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67

em Junho de 1991 editou os “princípios éticos na experimentação animal”, com nove artigos

sobre o assunto, reconhecendo que:

O progresso dos conhecimentos humanos, notadamente os referentes à

biologia, à medicina humana e dos animais, é necessário. O homem precisa

utilizar animais em busca de conhecimento, para se nutrir, se vestir e trabalhar.

Assim, ele deve respeitar o animal, seu auxiliar, como um ser vivente como

ele.

Quando se fala em animais, lembra-se logo de Peter Singer, que é um veemente

defensor de sua causa. Este autor não concorda com a discriminação dos animais com base na

espécie. Defende a igualdade para os animais, pelo fato dos mesmos terem direitos por

possuírem a capacidade de sofrer. A sua obra oferece detalhes de experiências científicas com

animais, tentando provar que a grande maioria delas é irrelevante para o desenvolvimento

científico e que poderia ser evitada.

Tem-se ainda no Brasil leis sobre a questão da propriedade intelectual e outras que

regulamentam segmentos da atividade agropecuária. Vale ressaltar que essas leis não versam

diretamente sobre ética. Entretanto, têm uma interface com a ética, na medida em que

regulamentam questões que podem estar localizadas naquela zona cinzenta, onde não se tem

um limite claro entre o correto e o questionável.

Yeganiantz & Macedo (2000, p. 127 e 143) propõem a introdução da ética agrícola,

“como um meio de encontrar sinergias e ligações entre a economia agrícola, a sociologia rural

e a filosofia moral, por meio de um processo educacional e de reformulação da política

agrícola”.

A ética agrícola nega que a agricultura, enquanto uma atividade estritamente

econômica, seja aética. O fundamental é superar o direito econômico e

consagrar o direito do desenvolvimento sustentado que pressupõe a

prevalência da ética nas relações individuais e sociais, relacionadas com a

produção agrícola, segurança alimentar, erradicação da forme e proteção do

meio ambiente.

Page 68: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

68

Esses autores sugerem ainda que a ética agrícola seja incorporada como um

“componente obrigatório dos novos cursos relacionados com as ciências naturais e agrárias”.

No Código de Ética da Embrapa, publicado em 10.01.2005, encontram-se alguns

princípios de ética na pesquisa, que serão analisados mais detidamente no próximo item.

Algumas questões atuais, que refletem a preocupação da sociedade com os rumos e com

os resultados da ciência e a opinião de alguns cientistas, merecem referência.

Sobre os organismos geneticamente modificados, os transgênicos, é grande a discussão.

Os que se posicionam contra, alertam para além dos problemas que podem ocorrer no meio

ambiente e sobre a saúde humana. Também citam as implicações econômicas, sociais e

políticas dessa técnica, em nível mundial.

Entretanto, é comum encontrar opiniões contrárias na comunidade científica e na

sociedade em geral. No caso exemplificado, alguns acreditam que a transgenia é uma

segurança para a população, na medida em que é uma técnica nova e como tal passará por

testes, além dos pesquisadores conhecerem o gene que foi alterado, de forma que, em tese,

facilitaria ainda mais controlar seus possíveis efeitos na alimentação.

Outros profissionais citam a questão de que há outras técnicas também questionáveis

como mutagênese19, ou mesmo o uso de fertilizantes (agroquímicos) que não despertou tanto

o interesse e questionamentos da sociedade. Cita-se também a questão dos alimentos

“orgânicos”, cujo monitoramento da qualidade da água utilizada é uma questão fundamental,

uma vez que caso a água esteja contaminada, o alimento pode ser prejudicial à saúde. Outros

ainda vão mais longe, lembrando que tudo tem um risco e que hoje é muito difícil imaginar

um alimento que não tenha passado por um processo de melhoramento.

Há quem alegue que a própria agricultura já agride de certa forma o meio ambiente,

trazendo impactos para o mesmo. Sabe-se que a projeção da população do planeta para 2050 é

de nove bilhões, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a

Alimentação (FAO, 2001). Essa previsão é certamente um grande desafio para a agricultura,

uma vez que esta terá que atender a um número crescente de pessoas, com praticamente a

mesma quantidade de terra agricultável.

19 Mutagênese é um processo que consiste na modificação na informação genética, que resulta em células ou indivíduos com características diferentes.

Page 69: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

69

Mais do que nunca é necessária uma reflexão sobre alternativas para se obter técnicas

que possibilitem alimentar as pessoas, porém que gerem menos impactos negativos sobre o

meio ambiente e com menos riscos para a população.

Princípios éticos na pesquisa agropecuária

O setor agropecuário inclui uma ampla gama de atividades. Busca-se, nesse item,

encontrar princípios que se apliquem pelo menos à maioria das funções, classificadas como

“agropecuária”.

Não foram encontrados na literatura os princípios éticos da pesquisa agropecuária,

descritos claramente, sob esse título. Entretanto, foram encontrados alguns princípios da

pesquisa, que podem fazer parte de uma discussão sobre sua aplicabilidade ou não para a

pesquisa agropecuária. No Quadro 1, são citados os princípios que Valls (2001, p. 70-73)

chamou de éticos ou morais do trabalho de pesquisa.

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Quadro 1: Princípios éticos ou morais do trabalho de pesquisa, segundo Valls (2001)

PRINCÍPIOS DETALHAMENTO

Finalidades últimas “Levar em conta finalidades últimas, e não apenas refletir de maneira imediata sobre os meios e os objetivos de curtíssimo prazo”

Prudência “Voltar a recorrer à reflexão, buscando uma certa prudência, que já foi definida, como regra do agir”

Universalização ou “universalizabili-dade”

Princípio da universalização, ou seja, “antes de me decidir por uma ação, deveria refletir sobre essa máxima que pretendo seguir é digna de ser universalizada”. Essa Lei é o contrário daquela que orienta que se deve levar vantagem em tudo

Respeito “Respeito pela dignidade do ser humano”. Valls lembra Kant, que formula esse princípio “dizendo que sempre é preciso tratar a humanidade, em nós mesmo ou nos outros, também como um fim em si e jamais apenas como um meio”

Princípios da área médica

Sugere ainda buscar os princípios éticos da área médica: Beneficência; Não-maleficência; da Justiça e outros, buscando também estudar o juramento de Hipócrates

Ação do duplo efeito

Ação do duplo efeito, “onde se busca um bem maior precisando aceitar uma conseqüência menos boa que acompanha o resultado”. Segundo o autor este e os próximos princípios seriam salvaguardando o da universalização

Mal menor Princípio do mal menor, “quando somos obrigados a agir escolhendo entre dois resultados negativos”

Bem maior Ligado ao “princípio chamado ‘regra de ouro’ do fazer aos outros o que se quer que façam em nosso proveito”

Custo e Benefício Custo e benefício, que é um “princípio nascido na economia e transplantado principalmente para os setores administrativos”

Separação das decisões macro e micro

Princípio da separação das decisões macro e micro. “A direção geral se responsabiliza pelos investimentos básicos e as instâncias inferiores agem da melhor maneira possível, administrando os meios e os recursos que foram deixados à sua disposição”

Page 71: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

71

Maffia e Mizubuti (2004) citam algumas questões éticas comuns às várias áreas da

ciência, que foram organizadas no Quadro 2, contendo detalhamento, no caso do tema

requerer. Esses autores, diferente de Valls (2001), na maioria das vezes, caracterizam as

questões, na forma de má conduta científica. Explicam que há dois tipos de má conduta

cientifica, aquela caracterizada como “negligência” (quando o cientista não tem intenção de

fraudar) e a “desonestidade deliberada” (quando inclui ações de má fé, premeditadas).

Entretanto, o julgamento das intenções não é uma tarefa fácil.

Quadro 2: Questões éticas da área de ciência, segundo Maffia e Mizubuti (2004)

QUESTÕES ÉTICAS DETALHAMENTO

Atitudes opostas às normas

mertonianas

Particularismo (ao invés do universalismo);

Individualismo (ao invés de comunitarismo);

Tendenciosidade (ao invés de desinteresse); e

Dogmatismo organizado (ao invés de ceticismo

organizado)

Divulgação de informações erradas Por negligência

Invenção, modificação ou deleção

de dados

Por desonestidade deliberada

Plágio Cópia de idéias ou trabalhos de outras pessoas,

sem consentimento. Traduções ou cópias

textuais de material publicado sem o devido

crédito ao autor

Pirataria Roubo de idéias ou de materiais ocorridos na

academia ou na indústria. Biopirataria refere-se

a coleta e transporte de amostras

Page 72: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

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Quadro 2: Questões éticas da área de ciência, segundo Maffia e Mizubuti (Continuação)

QUESTÕES ÉTICAS DETALHAMENTO

Propriedade intelectual/

Conflito de interesse

Configuração de conflito de interesse. Para melhor entendimento são feitos os questionamentos “A quem pertencem os dados e os produtos obtidos em pesquisas financiadas com recursos públicos?” E os “resultados obtidos por cientistas de instituições públicas, em pesquisas financiadas com recursos de empresas privadas?”

Originalidade da idéia Refere-se a certeza da não influência de outros projetos e envolve ainda o respeito ao trabalho dos colegas e o não uso de informações confidenciais obtidas sob sigilo. Pode ocorrer a apropriação indevida de idéias e execução de trabalhos similares, que pode se constituir em conflitos de interesse quando pesquisadores atuam como consultores para avaliar projetos de pesquisa

Análise, julgamento e comunicação dos resultados

Os autores, revisores e editores devem se pautar na ética, no caso de artigos submetidos para publicações

Falsificação de dados preliminares Essa má conduta objetiva enganar agências financiadores de projetos

Análise, interpretação de resultados e redação de artigos científicos

Refere-se à corrida pela prioridade da publicação, incorrendo em erros que podem comprometer os resultados e a sua interpretação

Submissão de um mesmo artigo para mais de uma revista

Usando idiomas diferentes

Page 73: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

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Quadro 2: Questões éticas da área de ciência, segundo Maffia e Mizubuti (Continuação)

QUESTÕES ÉTICAS DETALHAMENTO

Consultoria x atividades de pesquisa

Autoria/co-autoria de artigos científicos

Conflito entre o público e o privado

Maffia e Mizubuti (2004, p. 2) atribuem a má conduta científica a vários fatores como:

Premência de gerar informações em curto período de tempo, necessidade de

ajustar os dados a uma hipótese preconcebida, pressão de resultados

satisfatórios pelas agências de fomento, pressão pela necessidade de satisfazer

os critérios de produtividade (publicar ou perecer), em geral induzidos pelo

desejo de reconhecimento e, ou, fama e pela necessidade de apoio financeiro.

Entretanto esses fatores ou desculpas devem ser inaceitáveis pelos pares, pela

academia e pelas agências financiadoras. Vale refletir no que poderia

acontecer à ciência e à tecnologia se a má conduta científica fosse atividade

corriqueira. Felizmente, não o é, mas tem-se que cerceá-la.

Estes autores registram que o Professor Sydney Brenner (2003), do The Salk Institute –

La Jolla, EUA, ao ser questionado sobre qual o padrão ético que os pesquisadores deveriam

adotar na área das ciências da vida, respondeu que seriam dois: “o primeiro, válido para todos

os cientistas, é dizer a verdade. O segundo é representar os interesses de toda a humanidade”.

Observa-se que os princípios citados por Valls (2001) são bem diferentes das “questões

éticas” citadas por Maffia e Mizubuti (2004). Essa diferença pode ser atribuída pelo fato de o

primeiro ser filósofo e dos segundos serem doutores na área de ciências agrárias. Essa

diferença pode ser observada, uma vez que o primeiro cita princípios bastante amplos, que

podem ser utilizados em várias atividades. Já os segundos autores, citam questões com maior

especificidade, ligadas ao dia a dia da pesquisa.

Page 74: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

74

Azevedo (2005) escrevendo sobre integridade científica no Brasil, destaca ainda a

importância da manutenção dos diários na pesquisa.

Goldim (2002) destaca a autoria de projetos, artigos e livros como uma das questões

éticas que mais têm gerado preocupações. Cita problemas como: a omissão de autores,

inclusão indevida e também o uso indevido de material de pesquisa. Argumenta que a

inclusão de todos os autores e a não omissão de qualquer pessoa que preencha requisitos de

autoria, como um dever moral.

Esses são apenas princípios ou questões que devem servir de base para discussão. Cada

categoria de profissionais deve, por meio de reflexões e discussões, chegar aos princípios

éticos de sua profissão. Com a reflexão e discussão pela categoria, pode-se também obter um

maior comprometimento, assim como uma melhor internalização desses princípios. É de suma

importância a discussão e a definição de normas gerais de conduta para todas as atividades,

principalmente para aquelas que podem interferir diretamente ou indiretamente no futuro da

humanidade.

2.2. A ÉTICA NA EMBRAPA, A PARTIR DE SUAS NORMAS E DEMAIS

DOCUMENTOS

Esse item contém os seguintes tópicos: importância da ética na Embrapa; como a ética

está inserida formalmente nos documentos da empresa, onde é apresentado o Código de Ética

da Embrapa; “gestão da ética” nas Embrapa; e normas específicas sobre “ética na pesquisa”,

onde são citados os “preceitos específicos” de ética na pesquisa, juntamente com uma

avaliação dos mesmos.

2.2.1. Importância da ética na Embrapa

O panorama do início do Século XXI mostra que o mundo vive em profundas

transformações, que estão cada vez mais rápidas e que abrangem aspectos sociais, políticos e

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econômicos, como globalização da economia, avanços tecnológicos, mercado cada vez mais

competitivo, clientes distantes e exigentes, dentre outros. As empresas passam a se preocupar

não só com seus produtos, processos e serviços, mas também com a sua imagem junto à

sociedade, o que passa também pelo seu compromisso ambiental.

A sociedade adquire maior consciência e, cada vez mais, exige ética em todas as esferas

da vida humana. Esses princípios éticos devem ser respeitados no relacionamento da empresa

com os clientes, fornecedores, concorrentes, empregados, sócios e acionistas, autoridades,

candidatos e governos e com o público em geral (MOREIRA, 1999).

Nas empresas existe uma preocupação institucional tanto com as questões éticas como

com a responsabilidade social e a disseminação de valores. Muitas instituições estão

preocupadas em saber se podem ser chamadas de empresas éticas. Nesse caso, indicadores do

nível de ética de uma organização se fazem necessários (ARRUDA E NAVRAN, 2000, p. 26-

27). Esses indicadores de responsabilidades éticas são importantes na medida em que dão à

empresa um retrato da qualidade do cumprimento de sua missão na sociedade, com critérios

voltados para os anseios atuais da sociedade, como desenvolvimento sustentável,

cumprimento do papel social, certificação ambiental, educação ambiental, coerência entre

discurso e prática, avaliação de impactos ambientais e outros.

Não basta apenas a empresa ser ética em sua conduta. É preciso mostrar que além de

sua conduta ser pautada na ética, esta conta com uma “política de ética” descrita claramente e

disponível, mostrando seu comprometimento com essa política para seus clientes, para seus

empregados e para a sociedade em geral.

A Embrapa deve contar com uma política atuante de “gestão da ética” em geral, em

todos os segmentos da empresa, visto que é uma exigência do próprio governo. Além disso,

deve contar com uma gestão igualmente atuante da ética na pesquisa. Por ser uma empresa

que trabalha com C&T, os padrões de conduta adotados pela comunidade científica e pela

empresa, devem estar bem explicitados, visando assegurar à sociedade o padrão ético

perseguido pela empresa. Além disso, no caso de empresa pública é a sociedade quem

financia a C&T, de forma que a empresa deve explicações à mesma sobre seu procedimento.

Não foram realizadas pesquisas exaustivas sobre o tema em empresas semelhantes à

Embrapa. Nas pesquisas disponíveis não se encontrou muita coisa a respeito de ética na

pesquisa. Percebem-se, por enquanto, apenas interesses e intenções. Apenas para

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76

exemplificar, foi realizada uma entrevista com o Dr. Philippe Petithuguenin, Diretor Regional

do Centre de Coopération Internationale en Recherche Agronomique pour le Développement

no Brasil. O CIRAD20 não possui ainda código de ética e seu diretor assinala que esse assunto

“ética na pesquisa” é novo e considera que essa preocupação data de uns 10 anos. Atualmente,

dispõe de um comitê de ética cujos membros não são funcionários do órgão. São autoridades

reconhecidas na sociedade, que tiveram ou que têm responsabilidades em nível de governo ou

de centros de pesquisa e que detêm conhecimentos científicos. Suas atividades são proativas

(estudos, visitas) e sob demanda (dificuldades com alguma metodologia, algum assunto

novo); eles se reúnem duas vezes por ano, em março e setembro, e apresentam apenas

recomendações.

2.2.2. Como a ética na pesquisa está inserida formalmente nos documentos da empresa

A Embrapa é uma empresa que explicita em seus documentos a preocupação com a

ética, que é um dos valores que sempre estiveram inseridos nos seus planos diretores.

No IV Plano Diretor (PDE), em vigor para o período de 2004 a 2007, a “ética e

transparência” são declaradas como valores da instituição, ao lado de outros como:

aprendizagem organizacional; perspectiva global e interdisciplinaridade; pluralidade e

respeito à diversidade intelectual; responsabilidade social; rigor científico e valorização do

conhecimento e autodesenvolvimento.

A “ética e transparência”, são definidos no IV PDE como o comprometimento com a

“conduta ética e transparente, valorizando o ser humano e todos os grupos da sociedade”. O

PDE, como documento orientador para as ações da Embrapa, na medida em que contém a

missão, os valores e objetivos da Embrapa, é uma referência aos empregados, determinando

alguns padrões de comportamento.

20 O CIRAD é uma instituição pública da França, com missão semelhante a da Embrapa. Possui aproximadamente 1.800 funcionários, sendo por volta de 1.200 na França e os demais distribuídos em outros países. No Brasil, tem-se 28 pesquisadores. A atividade-fim da empresa é pesquisa aplicada, sempre para um resultado, na área de agricultura, florestal e pecuária. Pesquisas mais fundamentais são realizadas pelo IRD (Inst. Pesquisa Desenvolvimento) e pelo CNRS (Centro Nacional de Pesquisa Científica). O CIRAD não é um órgão internacional, mas de cooperação internacional. Ele não faz pesquisa em outros países sozinhos, mas em parceria. A entrevista foi realizada dia 03.05.2005.

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77

A Embrapa instituiu, em dezembro de 2004, uma norma específica que regulamenta a

conduta ética dos seus empregados, o Código de Ética da Embrapa. Mesmo antes de haver

uma norma específica sobre ética, a Embrapa já obedecia a normas de procedimentos

funcionais e de conduta, estabelecidas no artigo 37 da Constituição Federal (como por

exemplo, os princípios básicos da administração pública: legalidade, impessoalidade,

moralidade, publicidade); na Consolidação da Lei do Trabalho; no Código de Ética

Profissional do Servidor Público do Poder Executivo Federal (aprovado pelo Decreto nº

1.171, de 22.06.1994); e no Código de Conduta da Alta Administração Federal21. Os

profissionais também têm à sua disposição, os códigos de ética de sua profissão.

O estatuto da Embrapa, aprovado pelo Decreto nº 2.291, de 04.08.1997, contém os

objetivos sociais e cita as competências da alta administração da Empresa e do pessoal em

geral. Desse estatuto constam algumas normas de conduta.

Código de Ética da Embrapa

O Código de Ética da Embrapa22 foi elaborado por um grupo de trabalho instituído pela

Diretoria Executiva da Embrapa (DE) e foi baseado no Código de Ética Profissional do

Servidor Público Civil do Poder Executivo, ao qual os empregados da Embrapa devem

cumprimento. A decisão da DE pela criação de um código de ética originou-se de uma

demanda do Governo Federal.

O grupo de trabalho contou com integrantes da Sede da Embrapa e das unidades

descentralizadas localizadas no Distrito Federal, dada a facilidade geográfica. Antes e durante

a elaboração desse código, buscou-se a participação de todos os empregados, por meio de

solicitações, na intranet da empresa (memorandos e meio eletrônico).

21 O título “Código da Alta Administração Federal”, escrito em 2005 pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República, reúne normas sobre ética. Oferece um capítulo com perguntas e respostas sobre o assunto. Dispõe ainda de um quadro intitulado “regulação da conduta”, contendo matérias reguladas, com informações sobre suas respectivas normas e supervisão, classificados por assunto.

22 O Código de Ética da Embrapa foi instituído por meio da Deliberação n◦ 16, de 17.12.2004 e publicado no Boletim de Comunicações Administrativas (BCA), n◦ 02/2005, de 10.01.2005.

Page 78: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

78

Após sua elaboração, o código foi apresentado a toda a empresa, como proposta,

solicitando sugestões. Várias unidades ou empregados individualmente, apresentaram

contribuições, que foram analisadas pelo grupo e suas contribuições inseridas ou não. Após

essa fase, o documento foi enviado à DE, que também enviou contribuições, que foram

igualmente analisadas. Após todas essas etapas, partindo-se da premissa de que o código era

de conhecimento e aprovação de todos os empregados, o mesmo foi aprovado e publicado no

Boletim de Comunicações Administrativas (BCA)23, para conhecimento de todos.

O código da Embrapa “se constitui em instrumento orientador e educativo do

comportamento ético desejado pelos integrantes da organização”24. Dessa forma, não estão

inseridas penalidades em seu bojo, com o argumento de que a aplicação dessas e seus graus

encontram-se disponíveis em outras normas da Empresa e na CLT.

Todos os empregados da Embrapa estão sujeitos ao Código de Ética. Essa

obrigatoriedade fica bem clara no Capítulo I, por meio do Art. 5º, que estabelece “O exercício

de cargo ou função na Embrapa exige conduta compatível com os preceitos da lei, do Código

de Ética e das normas da Empresa”.

Esse código possui seis capítulos, envolvendo os seguintes itens: Princípios e Valores

Fundamentais; Do Relacionamento da Embrapa com seus Empregados; Do Relacionamento

dos Empregados com a Embrapa; Ética na Pesquisa; Comissão de Ética; e Disposições

Gerais.

O comportamento ético está contido em dois grupos de recomendações, conforme

estabelece a “Nota sobre o Código de Ética da Embrapa”. O primeiro é “voltado para o

relacionamento com a Empresa, seus integrantes e público externo (Valores, Normas e

Relações Interpessoais), e o segundo (Capítulo IV), relacionado com as atividades de

pesquisa”. Essa divisão foi estabelecida “em face da complexidade e importância estratégica

das atividades realizadas na Embrapa”.

23 O Boletim de Comunicações Administrativas (BCA) é o instrumento oficial de comunicação administrativa da Embrapa.

24 Conforme Nota sobre o Código de Ética da Embrapa, assinado pelo Grupo de Trabalho que elaborou a proposta de Código de Ética da Embrapa.

Page 79: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

79

2.2.3. “Gestão da ética” na Embrapa

A Embrapa tem muitas normas internas e externas que dispõem direta ou indiretamente

sobre a conduta e os valores éticos, como se pode observar nos itens anteriores.

A Empresa dispõe de dois modelos de contrato de trabalho: um para o pessoal de nível

médio e outro para o pessoal de nível superior. No segundo caso, a cláusula oitava determina

que o empregado “obriga-se a cumprir, rigorosamente, as normas regulamentares, as ordens

de serviço e todos os demais atos reguladores das relações de trabalho, emanadas da alta

administração da Embrapa”. Além disso, a cláusula décima primeira reza que vigoram para o

empregado que está sendo contratado, “O Plano de Cargos e Salários da Embrapa e as normas

internas de pessoal”. A expressão “normas internas de pessoal” é bem abrangente,

englobando, em sentido lato, todas as normas. O contrato de trabalho constitui um acordo

entre as duas partes interessadas – empresa e empregado – estabelecendo para ambos direitos

e obrigações.

Entretanto, “gestão da ética” pressupõe primeiramente a elaboração e implantação de

uma “política de ética”. A partir dessa política, são estabelecidas as estratégias, que

subsidiarão o planejamento. Esse planejamento deverá incluir os objetivos a serem

alcançados, as linhas de ação e os programas detalhados para seu alcance, bem como os

recursos que serão necessários. O ciclo do planejamento também deverá prever como será

executado o que foi planejado, bem como prever a correção do plano, à luz dos resultados por

ele gerados.

Fazendo uma avaliação com os dados aqui apresentados, conclui-se que o Código de

Ética da Embrapa pode até ser considerado uma “política de ética”, segundo alguns autores25.

Quanto à estratégia que é decorrente da política, podem-se captar intenções. Porém,

considerando que estratégia é um processo e não um evento isolado, e que essas se constituem

processos de planejamento e ação, não se encontrou declarações que pudessem computar

como estratégia para a “política de ética”. Com certeza, isso se deve à novidade do assunto e à

necessidade de tempo para se internalizar tanto o conceito quanto a importância de se mostrar

à sociedade uma intenção e a certeza de um comportamento ético da Empresa. Pode-se

Page 80: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

80

também inferir a baixa priorização que tem sido dada ao assunto pela Empresa, apesar de se

notar sensibilização e conscientização.

Dessa forma, conclui-se que a Embrapa atualmente está na fase da promoção da ética,

ou seja, promover a discussão, a participação, o conhecimento e a observância do padrão

ético. Demonstra também intenções de implantar uma “gestão da ética”.

2.2.4. Normas específicas sobre “Ética na pesquisa” na Embrapa

Com referência a normas ou outros documentos específicos sobre ética na pesquisa,

tem-se o disposto no Capítulo IV, “Ética na Pesquisa”, do Código de Ética da Embrapa. Este

capítulo é constituído de um único artigo, que estabelece que “o empregado da Embrapa

observará, em sua conduta, os seguintes preceitos específicos”, em número de sete. Dessa

forma, todos os empregados devem conhecê-los e não só aqueles que ocupam o cargo de

Pesquisador. No Quadro 3 são descritos os “preceitos éticos” da ética na pesquisa, seguidos

de uma avaliação ou de considerações sobre os mesmos.

25 Segundo Whitaker & Arruda (1999), “o conteúdo do código de ética é formado de um conjunto de políticas e práticas específicas, abrangendo os campos mais vulneráveis”.

Page 81: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

81

Quadro 3: “Preceitos específicos” de ética na pesquisa constantes no Código de Ética da

Embrapa

PRECEITOS ESPECÍFICOS AVALIAÇÃO/COMENTÁRIOS

I – Atuar com iniciativa, criatividade e

espírito inovador na busca de soluções,

incentivando e facilitando a expressão

dessas mesmas características nos seus

pares

Esse primeiro item se refere à ética geral

da instituição e se aplica a todos os

cargos e funções e não somente à função

de pesquisa. Considerando que esse

capítulo é específico sobre ética na

pesquisa, esse inciso poderia estar

contido em outro capítulo, como, por

exemplo, nos “Princípios e Valores

Fundamentais”

II – Empenhar-se para desenvolver uma

visão integrada do processo de inovação

tecnológica, certificando-se de que as

soluções viabilizadas estejam em

consonância com as metas institucionais

da Embrapa e com o benefício social aos

quais suas atividades são pertinentes

Compreende-se esse inciso como uma

estratégia de inserção da idéia e do

conceito de inovação nos trabalhos

desenvolvidos pela empresa, dada a sua

importância para o desenvolvimento do

país.

O benefício social tem a ver com a missão

pública da Embrapa

III – Não utilizar meios ilícitos ou

contrários às normas e orientações da

Empresa na busca de notoriedade para si,

para sua equipe, para sua Unidade ou

para terceiros

Esse inciso lembra o imperativo

mertoniano “desinteresse”, que deve ser

um dos princípios básicos da atividade

científica em geral

Page 82: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

82

Quadro 3: “Preceitos específicos” de ética na pesquisa constantes no Código de Ética da

Embrapa (Continuação)

PRECEITOS ESPECÍFICOS AVALIAÇÃO/COMENTÁRIOS

IV - Atentar para o rigor técnico-científico

das informações transmitidas e esclarecer

quando se tratar de opinião pessoal,

sempre que se manifestar sobre as

atividades da Embrapa perante os meios

de comunicação e a opinião pública

Essa questão se deve ao fato de que a

empresa tem uma missão pública e como

tal, deve se precaver contra declarações

claramente pessoais, precipitadas ou

equivocadas, que possam trazer prejuízos

à imagem da empresa ou até mesmo do

país

V – Zelar pelos direitos de propriedade

intelectual das informações técnico-

científicas a que tenha acesso

A Embrapa conta com legislação interna e

externa de propriedade intelectual.

A Lei de Inovação Tecnológica

certamente vai contribuir para a

resolução de alguns conflitos de interesse

VI – Priorizar, no processo de

planejamento, execução e validação de

pesquisa, a preocupação com o meio

ambiente, a biodiversidade, o ser humano

e o bem-estar dos animais de pesquisa,

especificando eventuais efeitos negativos

no uso da tecnologia, produto ou

processo gerado

A incorporação da preocupação com o

meio ambiente, com a diversidade e com o

ser humano são demandas atuais e estão

contidas no conceito de desenvolvimento

sustentável.

O bem estar dos animais de pesquisa

começa a tomar consistência com autores e

entidades que o defende, como Peter Singer

e o Cobea.

A especificação dos “efeitos negativos no

uso da tecnologia, produto ou processo

gerado” tem a ver com a responsabilidade

do pesquisador e da empresa

Page 83: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

83

Quadro 3: “Preceitos específicos” de ética na pesquisa constantes no Código de Ética da

Embrapa (Continuação)

PRECEITOS ESPECÍFICOS AVALIAÇÃO/COMENTÁRIOS

VII - Não prestar serviços de consultoria

ou assistência técnico-administrativa em

atividades concorrentes com as exercidas

na Embrapa

Esse assunto tem interface com a questão

contratual. Na Embrapa não há adicional

por dedicação exclusiva. Nesse caso, em

tese, os pesquisadores poderiam prestar

consultoria em horário diferenciado

daquele praticado na empresa.

Entretanto, tem-se aí uma questão

controversa, pois não está definido no

código o que seria “atividade

concorrente”.

Também esse caso, a Lei de Inovação

Tecnológica deverá contribuir para a

resolução de alguns conflitos referentes a

esse tema.

Podem ocorrer situações onde, apesar da

atividade ser concorrente com a da

Embrapa, seja interesse dessa última a

consultoria. Nesses casos, essa

consultoria poderia ser prestada, se

devidamente autorizada pela Empresa

Os itens abordados no código não abarcam a totalidade de princípios citados nesse

trabalho. Entretanto, esse fato é compreensível, uma vez que o código é uma norma geral, não

cabendo esgotar os princípios da atividade de pesquisa. O importante é saber se esse código

ou outros documentos sobre esse assunto contém o que a direção da empresa, o que os

Page 84: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

84

pesquisadores e demais empregados acreditam que deva se constituir em princípios da ética

na pesquisa na empresa.

Page 85: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

85

PARTE II

MARCO EMPÍRICO

Page 86: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

86

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo ocupa-se dos procedimentos metodológicos que foram aplicados à

presente investigação, explicitando a forma como o trabalho foi realizado, seus materiais,

métodos e procedimentos, de forma a possibilitar a construção de critérios de validade

científica.

Os procedimentos metodológicos estão descritos em três subitens. A “caracterização da

empresa” apresenta a Embrapa, sua estrutura e modus operandi e a caracterização do cargo de

Pesquisador na estrutura da empresa, visando permitir melhor entendimento do próximo item

que é a “caracterização da pesquisa”. Por último, apresentam-se as “limitações do método”.

3.1. CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA

A Embrapa é uma empresa pública, criada pela Lei 5.851, de 07.12.72, e instalada em

26.04.73, com personalidade jurídica de direito privado, patrimônio próprio, autonomia

administrativa e financeira. Está sediada em Brasília-DF e é vinculada ao Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

À Embrapa compete, além de cumprir a missão para a qual foi criada, coordenar o

Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA). Este é constituído por organizações

estaduais de pesquisa agropecuária, por universidades e organizações do setor privado.

A administração da Embrapa é composta por: a) Conselho de Administração,

constituído por seis membros, inclusive com a participação do setor privado; b) Diretoria

Executiva, constituída por quatro membros e presidida por um diretor-presidente; c) Unidades

Centrais (UC), que são órgãos de caráter administrativo-normatizador, que compõem a Sede

da Empresa, em número de 15; e d) Unidades Descentralizadas (UD), distribuídas pelo

território nacional, em número de 40.

As Unidades Descentralizadas estão divididas em 37 centros de pesquisa, que são

responsáveis pela pesquisa e pelo desenvolvimento tecnológico; e três centros de serviços,

Page 87: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

87

que servem de apoio ao desenvolvimento da pesquisa e também promovem a interação entre

as unidades.

Os centros de pesquisa estão classificados em: centros de pesquisa de temas básicos, em

número de 11; centros de pesquisa de produtos, em número de 14; e centros de pesquisa

ecorregionais, em número de 12. Essas unidades, juntamente com os centros de serviço

trabalham de forma integrada.

A Embrapa, em 21.08.2005, contava com 8.601 empregados, sendo 2.246 na carreira de

P&D, no cargo de Pesquisador.

A Embrapa orienta suas ações por um instrumento denominado Plano Diretor da

Embrapa (PDE), que estabelece as grandes linhas que orientam suas ações durante um

período de tempo. O PDE é a base de todo o planejamento da empresa, sendo um importante

instrumento de gestão estratégica, na medida em que estabelece e comunica as grandes linhas

que orientarão a Empresa nos próximos quatro anos, permitindo o realinhamento das ações de

pesquisa e desenvolvimento (P&D) e de transferência de tecnologia. Esse documento é

definido com base em estudos dos cenários e se baseia em tendências e eventos potenciais e

de determinantes e condicionantes externos.

Para estabelecer o IV Plano Diretor para o período de 2004 a 2007, foram considerados

aspectos da visão de futuro para a pesquisa e o desenvolvimento do espaço rural e do

agronegócio brasileiros, como a importância estratégica do agronegócio; as tendências

mundiais e suas implicações para o desenvolvimento do espaço rural e do agronegócio; as

tendências a longo prazo no desenvolvimento do espaço rural e do agronegócio brasileiros; e

as implicações para a CT&I (Ciência, Tecnologia e Inovação).

O IV PDE foi definido, tendo por finalidade “contribuir para tornar realidade as

diretrizes definidas pelo governo brasileiro com vistas a criar empregos, desconcentrar a renda

e reduzir as desigualdades regionais, promovendo o crescimento sustentável e servindo ao

compromisso de inclusão social”26.

Além da missão da Empresa, citada na introdução deste trabalho, O PDE, ainda contém

a visão, os valores, o foco de atuação, os objetivos estratégicos, as diretrizes estratégicas e os

projetos estruturantes e integrativos da empresa.

Page 88: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

88

Para atingir a missão institucional e ser uma empresa de referência no Brasil e no

exterior, a Embrapa enfatiza os seguintes valores: aprendizagem organizacional; ética e

transparência; perspectiva global e interdisciplinaridade; pluralidade e respeito à diversidade

intelectual; responsabilidade social; rigor científico e valorização do conhecimento e

autodesenvolvimento.

É importante ressaltar que “Apesar do grande surto do progresso industrial, a agricultura

brasileira continua sendo um dos mais importantes setores da economia nacional, participando

com uma parcela significativa, senão a maior, do crescimento geral do País”27 (CABRAL,

2005, p. 285).

A Embrapa é uma empresa de pesquisa reconhecida internacionalmente e que contribui

de forma muito atuante para o desenvolvimento do espaço rural e para o agronegócio

brasileiro, sendo uma das grandes responsáveis pelo seu desenvolvimento.

Para administrar seus recursos humanos, a Embrapa “incorpora ao seu enfoque

empresarial o princípio de gestão por resultados, destaca a importância da parceria e

contempla a visão prospectiva de atendimento às necessidades de seus clientes”, conforme

estabelece seu Plano de Cargos e Salários (1998, p. 24).

Visando compreender melhor a pesquisa, apresentam-se no próximo item informações

sobre a estrutura de cargos da empresa, que permitirá melhor entendimento do cargo objeto

dessa pesquisa.

Caracterização do cargo de Pesquisador na estrutura da empresa

A Embrapa utiliza o Plano de Cargos e Salários (PCS) como instrumento gerencial de

administração de seus recursos humanos. Nesse documento encontram-se explicitados a

estrutura de cargos e salários, o valor interno de cada cargo, segundo a complexidade de seus

26 EMBRAPA. Secretaria de Administração e Estratégia. IV Plano Diretor da Embrapa: 2004-2007. Embrapa: Brasília, DF, 2004, página 3. 27 Essa frase, apesar de parecer atual, foi escrita em 1972, fazendo parte da introdução do Relatório do Grupo de Trabalho que propôs a criação da Embrapa. Este relatório, intitulado “Sugestões para a Formação de um Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária”, ficou conhecido como “Livro Preto”.

Page 89: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

89

processos e funções, bem como outras políticas e diretrizes de administração de recursos

humanos da Embrapa.

A estrutura ocupacional da Embrapa compõe-se de duas carreiras funcionais, que são:

a) Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), onde se encontra o cargo de Pesquisador, que se

desmembra em três níveis funcionais, que são: Pesquisador I, Pesquisador II e Pesquisador

III; b) Suporte à Pesquisa e Desenvolvimento, onde se encontram os demais cargos, que são:

Técnico de Nível Superior (contendo também três níveis), Assistente de Operações (em dois

níveis) e Auxiliar de Operações (com três níveis), como se pode observar no Quadro 4.

Quadro 4: Estrutura ocupacional de cargos de provimento efetivo da Embrapa. Fonte: Plano

de Cargos e Salários da Embrapa (1998, p. 21)

CARREIRAS

FUNCIONAIS

CARGO EFETIVO NÍVEL REQUISITO DE

ESCOLARIDADE

Pesquisa e

Desenvolvimento

(P&D)

Pesquisador I

II

III

Curso Superior Completo

Título de Mestre

Título de Doutor

Técnico de Nível

Superior

I

II

III

Superior Completo

Assistente de Operações I

II

2º. Grau Completo

Suporte à P&D

Auxiliar de Operações I

II

III

1ª. Série do 1º. Grau

4ª. Série do 1º. Grau

1º. Grau Completo

A descrição sumária do cargo de Pesquisador, constante no PCS, é: “Elaborar, executar,

coordenar e avaliar programas, projetos e subprojetos de pesquisa e desenvolvimento,

relacionados com a atividade fim da empresa”. O cargo envolve responsabilidades técnicas e

administrativas, que são: a) técnicas: elaborar, executar, coordenar e avaliar programas,

projetos e subprojetos de pesquisa; orientar tecnicamente as pessoas envolvidas nos

Page 90: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

90

processos, projetos e subprojetos sob sua responsabilidade; coletar, sistematizar, analisar

dados e disseminar informações resultantes de projetos e subprojetos de pesquisa; b)

administrativas: gerenciar processos, projetos, programas e equipes de pesquisa.

Os principais resultados ou produtos esperados dos profissionais enquadrados no cargo

de Pesquisador são, conforme o PCS: conhecimentos gerados e disponibilizados para uso;

tecnologias e processos desenvolvidos, patenteados e disponibilizados para uso; metodologias

geradas e disponibilizadas para uso; trabalhos técnico-científicos publicados; livros

publicados ou capítulos de livros publicados; programas, projetos e subprojetos de pesquisa

avaliados; docência e instrutorias em programas de capacitação internos realizadas;

consultorias técnicas realizadas; extensionistas e produtores rurais treinados e orientados;

variedades agrícolas mais produtivas geradas; plantas melhoradas geneticamente; raças de

animais melhoradas geneticamente; sementes e mudas melhoradas; recomendações sobre

sistemas de produção geradas e disponibilizadas; contratos, convênios e acordos negociados;

recursos financeiros e/ou materiais captados.

Considerando que a Embrapa é uma empresa de pesquisa, a carreira de P&D é

responsável pela atividade-fim da empresa, ocupando o cargo de Pesquisador o ápice da

estrutura de cargos e salários da empresa.

3.2. CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

O presente estudo pode ser caracterizado como exploratório. Esses estudos permitem

“aumentar o conhecimento do pesquisador acerca de fenômenos que deseja investigar;

esclarecimento de conceitos; estabelecimento de prioridades para futuras pesquisas”

(MACEDO, 2005, p. 52).

A decisão pela pesquisa exploratória foi tomada tendo em vista o volume reduzido de

publicações específicas sobre ética na pesquisa agropecuária e dado o interesse em obter

maiores informações sobre o assunto. Com esse estudo, buscou-se analisar os princípios

éticos na pesquisa agropecuária, em nível de percepção dos pesquisadores, visando

compreender como os pesquisadores percebem a questão da ética na pesquisa e como esta

interfere na sua atuação profissional.

Page 91: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

91

Optou-se por realizar a pesquisa em duas fases, sendo uma, utilizando pesquisa

qualitativa e outra, utilizando pesquisa quantitativa. A pesquisa qualitativa trata de realidades

que não podem ser quantificadas, trabalhando com “um universo de significados, motivos,

aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo de

relações, dos processos e dos fenômenos, que não podem ser reduzidos à operacionalização de

variáveis” (MINAYO, 1994, p. 21-22).

A pesquisa qualitativa parte da indução para a generalização. Esta, em relação à

pesquisa quantitativa, caracteriza-se por buscar investigar um assunto em profundidade,

utilizando entrevistas individuais ou em grupos, preocupando-se mais com a profundidade da

análise do que com a representatividade. O volume de informações é maior e a análise

subjetiva.

A pesquisa qualitativa se constituiu na primeira parte do presente estudo e foi realizada

por meio de entrevistas semi-estruturadas. Foram entrevistados altos gestores da Embrapa e

pessoas que haviam ocupado altos postos de gerência e que, por essa razão, detinham uma

visão estratégica e de conjunto da empresa, na medida em que atuavam ou já haviam atuado

na época em um nível estratégico. Essas pessoas se constituíam em formadores de opinião na

empresa. Essas entrevistas, a partir deste item, para efeito desse trabalho, serão identificadas

como “entrevistas com o grupo de formadores de opinião”.

Foi realizada uma análise dos dados dessa pesquisa qualitativa, procurando estabelecer

comparações com a literatura, visando primeiramente formular as questões que comporiam a

pesquisa quantitativa, visto que o objetivo do trabalho era colher a percepção do conjunto de

pesquisadores da Embrapa sobre o tema.

A pesquisa quantitativa constitui a segunda parte deste estudo e foi realizada por meio

de um questionário, aplicado aos pesquisadores da Embrapa.

Para a realização deste estudo, de um modo geral, foram utilizadas as seguintes

técnicas: levantamento bibliográfico, levantamento documental na empresa e coleta de dados

por meio de entrevistas preliminares e entrevistas semi-estruturadas (pesquisa qualitativa) e

por meio de um questionário (pesquisa quantitativa).

Para identificar os princípios éticos que norteiam as atividades de pesquisa, foram

utilizadas as seguintes técnicas: levantamento bibliográfico sobre o tema C&T e ética em

Page 92: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

92

C&T e pesquisa documental sobre o tema na empresa, com relação ao que existia à época da

pesquisa sobre o tema, buscando identificar políticas corporativas e normas éticas que os

pesquisadores seguiam no exercício da atividade de pesquisa.

Com o objetivo de identificar como os pesquisadores da Embrapa percebem a questão

da ética na pesquisa, utilizaram-se como técnicas: o levantamento bibliográfico, a pesquisa

documental, as entrevistas preliminares e semi-estruturadas com formadores de opinião e os

questionários para a população pesquisada.

Para verificar se os princípios éticos da pesquisa estavam contidos nas normas ou

documentos da empresa, utilizaram-se as seguintes técnicas: análise documental, entrevistas

semi-estruturadas com formadores de opinião e questionário a ser aplicado aos pesquisadores,

visto que o estudo em questão, buscava identificar a percepção dos mesmos.

A pesquisa documental visava identificar o que existia na Embrapa à época da pesquisa

com relação a políticas corporativas sobre ética em C&T ou ética em pesquisa, buscando

normas éticas que os pesquisadores seguiam no exercício da atividade de pesquisa. Analisou-

se ainda os códigos de ética a que estão submetidos os pesquisadores e outros documentos

que transmitiam direta ou indiretamente valores éticos da instituição.

Além de buscar normas escritas, por meio das entrevistas iniciais e das entrevistas semi-

estruturadas, buscou-se identificar também normas tácitas utilizadas na pesquisa.

Os resultados da pesquisa são apresentados a partir da pesquisa quantitativa, seguidos

de explicações complementares e observações colhidas na pesquisa qualitativa, buscando

deixar à disposição do leitor os diversos olhares sobre os assuntos tratados. Os dados de

ambas não se opõem, mas se complementam. Segundo Minayo (1994, p.22) “a realidade

abrangida por eles interage dinamicamente excluindo qualquer dicotomia”.

A diferença entre as questões pesquisadas nas entrevistas com os formadores de

opinião, objeto da pesquisa qualitativa e as do questionário, objeto da pesquisa quantitativa

ocorreu por terem as primeiras se constituído em um dos insumos para elaboração do

questionário (pesquisa quantitativa).

A seguir, encontra-se uma descrição dos procedimentos metodológicos utilizados em

cada uma das fases da pesquisa.

Page 93: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

93

3.2.1. Procedimentos metodológicos da primeira fase da pesquisa

Neste item encontra-se descrito como foi realizada a pesquisa qualitativa, visando

compreender os procedimentos metodológicos utilizados. Nesse item serão explicitados: a)

instrumento utilizado na pesquisa; b) escolha e seleção dos sujeitos; c) coleta de dados, com

os procedimentos para entrada no campo e forma de condução da entrevista; d) tratamento e

análise dos dados.

Instrumento utilizado

Para a coleta de dados, foi utilizada entrevista semi-estruturada, que é uma técnica

utilizada em pesquisa qualitativa. Entrevista semi-estruturada caracteriza-se por ter um roteiro

(Apêndice A). Esse roteiro foi elaborado, com base no levantamento bibliográfico, na análise

documental da empresa e em entrevistas iniciais com pessoas que tinham visão estratégica da

empresa e formadores de opinião. Nessa fase, foram ouvidos vários empregados da empresa,

sendo nove pesquisadores (três chefes de UDs, dois pesquisadores de UD, sendo um

presidente de um comitê de ética e quatro pesquisadores da Sede) e três Técnicos de Nível

Superior, sendo que um deles foi o coordenador da elaboração do Código de Ética da

Embrapa. Essas entrevistas foram abertas, sem obedecer a roteiros e foram anotadas, de forma

a permitir enumeração de dados importantes sobre o assunto, visando a elaboração do roteiro

da entrevista.

Após a elaboração do roteiro da entrevista, o mesmo passou por uma etapa de validação,

visando sua adequação e melhoria aos propósitos da pesquisa e ainda testar a compreensão e

aplicabilidade das questões (avaliação de conteúdo). Foram convidadas a participar dessa fase

sete pessoas. Destas, cinco efetivamente participaram, sendo que três eram pesquisadores da

Embrapa (dois dominavam o assunto, sendo um estudioso do tema e outro presidente de um

comitê de ética); uma era pesquisadora da Universidade de Brasília e dois eram ocupantes do

cargo TNS (formadores de opinião).

Page 94: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

94

Nessa fase, foram acrescentadas duas questões que não tinham relação direta com a

questão da ética, para verificar o nível de interface com o tema. Foram retiradas algumas

questões que não tinham relação direta com o tema e outra que era redundante.

O roteiro da entrevista foi dividido em três grupos de questões, que eram: a) questões

referentes à opinião do pesquisador sobre si mesmo; b) questões relacionadas à percepção do

pesquisador com relação ao grupo de pesquisadores, ou seja, aos seus pares; c) questões

relacionadas à percepção do pesquisador com relação às normas da Embrapa sobre o tema.

Foi realizado ainda um teste piloto, que serviu para adequar a forma de condução da

entrevista. Com isso, as entrevistas seguintes foram ajustadas, principalmente explicando

melhor aos participantes a divisão em grupos de questões citada no parágrafo anterior, para

que o entrevistado se situasse melhor dentro do contexto da entrevista. Também, a partir dessa

entrevista, mudou-se a forma de realização, no sentido de entregar para o entrevistado, antes

do início da entrevista, uma cópia do roteiro, contendo as questões que seriam perguntadas.

Observou-se que essa medida pode dar a alguns entrevistados maior segurança com relação

aos assuntos que seriam abordados. A primeira entrevista, apesar de ter sido realizada como

teste piloto, foi considerada no estudo, por ter atingido os objetivos propostos.

Escolha e seleção dos sujeitos

Como esse projeto se propunha a realizar um estudo sobre a percepção que os

pesquisadores da Embrapa têm com relação à ética na pesquisa agropecuária, nessa primeira

parte da pesquisa foram utilizadas entrevistas individuais, semi-estruturadas, com

pesquisadores cujo perfil incorporava a visão de conjunto da atividade de pesquisa e que

tinham uma visão estruturada da Embrapa, visando colher os diversos olhares sobre o tema.

Assim, participaram da pesquisa, pesquisadores e Técnicos de Nível Superior que

ocupavam, em julho e agosto de 2005, época em que foram realizadas as entrevistas, cargos

de direção da empresa (Diretoria Executiva, Chefes de Unidades Centrais e Chefes de

Unidades Descentralizadas) e pessoas que já haviam ocupado cargos de direção (ex-

presidentes, ex-diretores, ex-chefes de UCs e de UDs), divididos nas seguintes categorias: a)

Page 95: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

95

Diretoria Executiva; b) Ex-presidentes; c) Ex-diretores; d) Chefes e ex-chefes de Unidades

Centrais; e) Chefes e ex-chefes de Unidades Descentralizadas.

Coleta de dados

As entrevistas foram realizadas individualmente, durante os meses de julho e agosto de

2005, de forma interativa28 ou por meio de e-mail.

Primeiramente foi estabelecido um contato com as pessoas, pessoalmente ou por

telefone, onde estas eram convidadas a participar da entrevista, oportunidade em que era

marcado dia e horário para a entrevista. Nessa oportunidade eram fornecidas informações

sobre o estudo (tema, objetivo) e os critérios pelos quais o sujeito foi convidado a participar.

No dia e horário marcados para a entrevista, eram informados novamente os objetivos

da pesquisa e um breve resumo da metodologia a ser utilizada, para permitir ao entrevistado

entender melhor a pesquisa. Após uma conversa inicial que tinha como objetivo deixar o

entrevistado à vontade, era entregue uma cópia do roteiro da entrevista para que o

entrevistado também tivesse acesso à pergunta por escrito. Após esse procedimento, eram

feitas as perguntas, na forma de uma conversa, tendo como base o roteiro, evitando-se

interrupções, a não ser aquelas necessárias ao melhor esclarecimento de alguma questão ou

perguntas que surgiam no decorrer das entrevistas ou ainda visando voltar ao tema em

questão, no caso de eventual desvio do assunto. Ao final de cada entrevista, verificava-se se

foram respondidas todas as questões listadas no roteiro.

Na oportunidade, era solicitada ao entrevistado autorização para gravação da entrevista.

Todos os entrevistados concordaram em ter sua entrevista gravada. Também foram

questionados quanto à sua preferência com relação à divulgação da entrevista: a) divulgação

de suas opiniões sem restrições, citando fontes; b) divulgação, citando o cargo, de forma

genérica; c) divulgação dos dados sem citar nomes ou cargos, apenas de forma agregada.

28 Interativa, segundo o Dicionário Aurélio – Século XXI, versão eletrônica, é um “meio de comunicação que permite ao destinatário interagir, de forma dinâmica, com a fonte ou o emissor”.

Page 96: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

96

Durante as entrevistas surgiu uma quarta forma, criada pela maioria dos respondentes, que foi

a divulgação ser feita da forma que a pesquisa exigisse ou da forma que autora preferisse.

Algumas pessoas, em número de seis, foram ouvidas utilizando-se os recursos da

internet, por meio de correio eletrônico (e-mail), conforme pode ser observado na Figura 3.

Encontram-se nesse caso as pessoas que não estavam em Brasília (quatro casos), por questão

de limitação geográfica e outras duas que por, algum motivo, não foi possível realizar

entrevista de forma interativa.

Forma da Entrevista (Total 21)

15

6

InterativaPor e-mail

Figura 3: Número de entrevistados de acordo com a forma da entrevista.

Para cada entrevista foram preenchidas fichas de apontamento de campo, sendo uma

contendo a parte descritiva (características físicas do entrevistado; reconstrução do diálogo;

comportamento do entrevistado e comportamento do entrevistador) e outra contendo a parte

reflexiva (reflexões sobre a análise; sobre o método; sobre conflitos e dilemas éticos em

responder as questões; e sobre a fala do entrevistado). Essas fichas eram preenchidas logo

após a entrevista, registrando as primeiras impressões, com o objetivo de auxiliar as análises

dos discursos dos sujeitos.

Page 97: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

97

Tratamento e análise dos dados

Os dados colhidos nas entrevistas foram transcritos e analisados, com base no

referencial teórico sobre o assunto. Também foram analisados à luz dos documentos e normas

da empresa sobre o assunto.

Para a análise dos dados, utilizou-se a análise de conteúdo, que se configura em um

conjunto de técnicas cuja aplicação Gomes (1994, p. 74) destaca duas funções:

Uma se refere à verificação de hipóteses e/ou questões. Ou seja, através da

análise de conteúdo, podemos encontrar respostas para as questões formuladas

e também podemos confirmar ou não as afirmações estabelecidas antes do

trabalho de investigação (hipóteses). A outra função diz respeito à descoberta

do que está por trás dos conteúdos manifestos, indo além das aparências do

que está sendo comunicado. As duas funções podem, na prática, se

complementar e podem ser aplicadas a partir de princípios da pesquisa

quantitativa ou da qualitativa.

Os dados foram interpretados, estabelecendo dimensões e categorias de análises.

Optou-se por apresentar os resultados da pesquisa qualitativa, estabelecendo

comparações, a partir dos resultados da pesquisa quantitativa e em itens separados, no caso de

questões que não foram abordadas na pesquisa quantitativa.

3.2.2. Procedimentos metodológicos da segunda fase da pesquisa

Page 98: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

98

Este item se ocupa da forma como foi realizada a pesquisa quantitativa, visando

compreender os procedimentos metodológicos propriamente ditos, abordando os seguintes

itens: a) instrumento de medida, descrevendo a construção, validação do questionário e sua

descrição; b) população pesquisada, incluindo sua caracterização; c) coleta de dados,

incluindo explicações sobre o sistema PHP Surveyor29; e d) tratamento e análise dos dados.

Instrumento de medida

A partir do levantamento bibliográfico, da análise documental e da análise das

informações colhidas na pesquisa qualitativa (entrevistas iniciais e entrevistas semi-

estruturadas), foi elaborado um instrumento de coleta de dados, o questionário. Este visava

colher a percepção dos pesquisadores sobre o tema objeto da pesquisa. A seguir, encontra-se

explicitada a forma como foi validado o questionário e a sua descrição.

Validação do questionário

O questionário foi validado em três fases, durante o período de 8 a 22 de agosto de

2005. Na primeira fase, foram convidados a participar seis Pesquisadores e cinco Técnicos de

Nível Superior, formadores de opinião na empresa. Destes, apenas um Pesquisador não pôde

participar em tempo hábil. Essa validação tinha por objetivo verificar se as questões tinham

relação com os objetivos da pesquisa (avaliação de conteúdo) e também visando uma

avaliação semântica. Nessa fase, foi acrescentada uma questão, houve pequenos ajustes no

enunciado de outras e uma mudança de ordem de uma questão para ser a última, visto que era

uma espécie de conclusão.

Na segunda fase, participaram pessoas leigas, que não pertenciam aos quadros da

Embrapa, em número de quatro, e sua participação tinha o objetivo tanto de marcar tempo de

29 O PHP Surveyor é um sistema criado para a realização de pesquisas. Maiores informações sobre esse sistema poderão ser obtidas por meio do site: http://phpsurveyor. sourceforge.net/, acessado em 18.09.2005.

Page 99: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

99

respostas como de verificar a compreensão das questões. Nesse exercício, verificou-se que

dez minutos eram suficientes para responder ao questionário. Dessa forma, no e-mail que

encaminhava o questionário e no próprio questionário, foi solicitado aos pesquisadores dez

minutos do seu tempo para responderem ao mesmo.

Os participantes da primeira e da segunda fase da etapa de validação foram convidados

a participar por meio de uma carta (Apêndice B), onde encontravam explicitados os objetivos

da pesquisa e um breve resumo da metodologia utilizada.

Após essas fases, o questionário foi transportado para o sistema PHP Surveyor, numa

versão que estava sendo adaptada e testada para uso pela Embrapa. A terceira fase de

validação foi realizada, solicitando a alguns pesquisadores que respondessem ao questionário

por intranet e o enviasse da forma que o sistema orientava, para detectar possíveis falhas no

mesmo e em seu envio. O sistema funcionou perfeitamente e essas respostas, após atingirem

seu objetivo, foram desconsiderados. Nessa fase, participaram seis pessoas, sendo quatro

Pesquisadores e dois Técnicos de Nível Superior.

Descrição do questionário

O questionário continha oito questões referentes ao tema “ética na pesquisa

agropecuária”; oito referentes a variáveis demográficas, visando estabelecer um perfil dos

respondentes e uma questão aberta ao final, totalizando 17 questões.

As variáveis demográficas pesquisadas foram: unidade de lotação, nível do cargo (uma

vez que todos ocupavam o cargo de Pesquisador), idade, sexo, tempo de trabalho na Embrapa,

área de pesquisa, função atual e função que o pesquisador exerceu maior período de tempo.

A última questão tinha como objetivo oferecer um campo para que os respondentes

acrescentassem algo sobre o tema, caso quisessem. Seu enunciado era “Você gostaria de

acrescentar mais alguma coisa sobre o tema ética na pesquisa?” Do total de 492 respondentes,

174 preencheram esse campo com declarações, totalizando 35,36% do total de respondentes.

Os entrevistados utilizaram ainda outros campos destinados a outros assuntos para

Page 100: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

100

apresentarem suas opiniões gerais sobre o tema, contabilizando-se mais 20 declarações,

totalizando, dessa forma, 196 casos (39,84%) de opiniões/definições/sugestões sobre o tema.

O questionário foi acompanhado de um e-mail (Apêndice C) contendo informações

sobre a pesquisa, como, título, objetivos e um breve resumo da metodologia. Esse e-mail

solicitava a colaboração do pesquisador, no sentido de dedicar dez minutos do seu tempo para

responder ao questionário.

O corpo do questionário continha as mesmas informações do e-mail, de forma mais

resumida, como pode ser observado nos Apêndice D.

População pesquisada

Para atender ao objetivo proposto pelo estudo, que era realizar um estudo sobre a

percepção que os pesquisadores da Embrapa têm com relação a ética na pesquisa

agropecuária, optou-se por trabalhar com a população e não com uma amostra.

Em 21.08.2005 havia na Embrapa um total de 2.246 pessoas na carreira de P&D, no

cargo de Pesquisador. Este cargo é seriado e tem três níveis, sendo: Pesquisador I, onde

estavam enquadrados 44 pesquisadores que detêm o nível de graduação; Pesquisador II, onde

estavam enquadrados 820 pesquisadores, que detêm o nível de mestrado; e Pesquisador III,

onde se encontravam 1.382, que detêm o nível de doutorado.

Para se chegar à população pesquisada, partiu-se do número total de pesquisadores, ou

seja, 2.246, de onde foram subtraídos os que se encontravam nas categorias: licença sem

vencimento e licença médica por longo período. Considerando que o questionário foi enviado

pela intranet da empresa, ou seja, enviado a todos os que têm e-mail da empresa em pleno

funcionamento, foram subtraídos ainda os que por algum motivo não tinham e-mail; os que se

encontravam realizando cursos de pós-graduação e os que se encontravam à disposição de

outros órgãos. Dessa forma, a população pesquisada se constituiu de 1.846 pesquisadores.

Caracterização da população

Page 101: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

101

Sobre a população pesquisada, têm-se as informações descritas a seguir, considerando a

posição de 21.08.2005.

Do total de 1.846, havia 24 ocupantes do cargo de Pesquisador I, 567 ocupantes do

cargo de Pesquisador II e 1.255 ocupantes do cargo de Pesquisador III.

No caso do Pesquisador I, o tempo de serviço mínimo era de 11 anos. Isso ocorre

porque, por razões de política interna de recursos humanos, há sete anos a Embrapa não

contrata pessoas no cargo de Pesquisador I, ou seja, com apenas graduação. O tempo de

serviço médio é de 22 anos e o tempo de serviço máximo é de 31 anos.

Já no caso dos cargos de Pesquisador II e III, ocorre uma situação mais ou menos

semelhante, ou seja, o tempo de serviço mínimo é zero, uma vez que a Embrapa tem efetuado

contratações recentemente e por esse motivo, o tempo de serviço médio é de 16,68 e 17,63

anos, respectivamente e o tempo de serviço máximo é de 31 e 34 anos, respectivamente.

Englobando os três níveis do cargo, tem-se a seguinte situação: o tempo de serviço

mínimo é de zero ano e o tempo máximo, de 34 anos, sendo que a média é de 17,39 anos.

Essa realidade, comparada com o total de empregados da Embrapa, ou seja, com 8.601, se

difere um pouco, tendo em vista as recentes contratações para o cargo de pesquisa. No caso, o

tempo de serviço mínimo de todos os empregados é zero, o tempo máximo 58 e o tempo

médio de serviço é de 23 anos.

Com relação à idade, ocorre o mesmo fenômeno: no cargo de Pesquisador I, a idade

mínima é de 37 anos; a idade média é de 53,64 (média alta, compreensível pelo mesmo

motivo anterior, ou seja, não contratação de pesquisadores em nível inicial, de graduação) e a

idade máxima é de 66 anos.

Já nos cargos de Pesquisador II e III, as informações se aproximam, sendo a idade

mínima 27 anos para os dois cargos; a idade média 47,73 e 48,27, respectivamente e a idade

máxima 72 e 78 anos, respectivamente.

Englobando os três níveis do cargo de Pesquisador, tem-se que a idade mínima do cargo

de Pesquisador é de 27 anos e a máxima de 78 anos. A média de idade é de 48,17 anos. Em

Page 102: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

102

relação ao total de empregados da empresa, esses números se diferem. Nesse caso, a idade

mínima é de 20 anos; a máxima de 82; e a idade média é de 46 anos.

Em relação ao gênero, a maioria é do sexo masculino, ou seja, 1.367 pesquisadores,

correspondendo a 74,05% e 479 do sexo feminino, correspondendo a 25,95%. Esse dado,

quando comparado ao total dos empregados da empresa, 8.601, guarda uma correlação, uma

vez que na empresa 76% eram do sexo masculino e 24% eram do sexo feminino.

Para efeito de melhor compreensão, apresenta-se a seguir uma tabela, contendo

informações sobre a população pesquisada.

Tabela 1: Informações sobre a população pesquisada.

Nível

Cargo

PESQ. I PESQ. II PESQ. III Variáveis

Resultados Nº % Nº % Nº %

TOTAL

Tempo de

Serviço

Mínimo

Máximo

Médio

11

31

22

-

0

31

16,67

-

0

34

17,63

-

0

34

17,39

Idade Mínimo

Máximo

Média

37

66

53,64

-

27

72

47,72

-

27

78

48,27

-

27

78

48,17

Gênero Masculino

Feminino

18

6

0,97

0,32

423

144

22,92

7,8

926

329

50,16

17,83

74,05%

25,95%

TOTAL 24 1,3 567 30,71 1.255 67,99 1.846

A formação básica dos pesquisadores à época da pesquisa estava distribuída em 54

cursos, sendo: a) Agronomia, com 66,03%; b) Ciências Biológicas, com 7,58%; c) Medicina

Veterinária, com 6,44%; d) Engenharia Florestal, com 4,33%; e) Zootecnia, com 2,38%; e f)

Engenharia Rural/Agrária/Agrícola, com 2,22%. Os 11,02% restantes, estavam distribuídos

por outros cursos, onde havia menos de 2% de pesquisadores em cada um.

Page 103: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

103

Quanto a função, os pesquisadores estavam distribuídos em 243 funções de pesquisa.

Apesar de a Empresa ser uma empresa de grande porte (8.601 empregados à época da

pesquisa), com 40 unidades e muitas linhas de pesquisa; o grande número de funções é

explicado pelo fato de não haver padronização dessa variável “função de pesquisa” na

Empresa, razão pela qual cada um dos pesquisadores se descreve na função na qual ele

considera que se encontra. Esse fato resulta em muitas funções, em graus de especificação das

funções muito diferenciados. Apenas para exemplificar, sem estabelecimento de juízo de

valor, cita-se uma seqüência de oito funções, especificadas da seguinte forma: “química;

química analítica; química de interfaces; química de macromoléculas; química do solo;

química dos produtos naturais; química orgânica; e química, física, fis-quím., bioq.,

alimentos”.

Coleta de dados

A coleta de dados foi realizada no período de 22.08.2005 a 23.09.2005, por meio de

uma lista contendo o e-mail dos pesquisadores, criada especialmente para esse fim. O

primeiro e-mail contendo o questionário foi enviado em 22.08.2005 e o segundo (Apêndice

C), com o objetivo de lembrar aos respondentes a data estabelecida, foi dia 05.09.2005. Os

questionários foram acompanhados de e-mail que explicitavam os objetivos da pesquisa e

convidavam os pesquisadores a participar da pesquisa. A última carta estabelecia um prazo

para devolução dos mesmos.

Alguns pesquisadores não conseguiam acesso ao questionário por motivos diversos: o

sistema da unidade não permitia acesso a programas desconhecidos (a versão do PHP

Surveyor utilizada estava em fase de testes na Embrapa); o microcomputador do pesquisador

não estava equipado para acessar ao programa; falta de interação entre o homem e a máquina,

que é um dos problemas limitantes das novas tecnologias. Alguns, em número de 54,

solicitaram o envio do questionário de outra forma. Nesses casos, o questionário foi enviado

em word e eles devolveram preenchidos, por e-mail. Após isso, os dados foram transportados

para o sistema PHP Surveyor.

Page 104: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

104

PHP Suveyor

O PHP Surveyor é um sistema que tem por objetivo realizar pesquisas. Ele é totalmente

on-line e tem as funções de realização da pesquisa, recolhimento dos dados, tabulação destes

e ainda fornece análises estatísticas básicas dos resultados das questões. Por ele é possível

dispor as questões em um único bloco ou agrupá-las em grupos de questões.

O questionário, contendo 17 questões, que formavam um só bloco, foi transportado para

esse sistema e enviado, por meio da rede interna da Embrapa (intranet), a uma lista, contendo

o e-mail dos pesquisadores.

Esse sistema permite um controle da qualidade da pesquisa, possibilitando ainda o

controle de problemas com referência a campos não preenchidos. Antes de ser enviado, o

sistema faz uma crítica, avisando aos respondentes quando não houve preenchimento total das

questões e só permite o envio do questionário quando este está totalmente preenchido.

O PHP Surveyor foi criado para fazer pesquisas para jornais e depois foi

disponibilizado na web, para realização de pesquisas, aberto ao público. Este sistema reduz o

tempo de realização de pesquisas, o tempo de preenchimento do questionário e apresenta uma

excelente interface com os usuários, além de reduzir em muito a carga administrativa de

trabalho do pesquisador.

A versão do PHP Surveyor utilizada nesta pesquisa foi uma versão que estava em fase

de testes pelo Departamento de Informática, para uso da Embrapa e só era acessada na rede

interna da Empresa.

Em 22.08.2005, por meio de um e-mail, foi enviada uma carta, convidando os

pesquisadores a participar da pesquisa e informando um link para o questionário, disponível

no sistema.

Como essa versão do sistema estava em teste, houve alguns problemas em algumas

unidades, que, por motivos técnicos, não receberam o questionário. Também alguns

pesquisadores de algumas unidades não conseguiam acessar o sistema por meio do link

fornecido no e-mail. Foram recebidos nessa fase 26 e-mail de pessoas que não conseguiram

acessar o link.

Page 105: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

105

Dessa forma, em 05.09.2005, quando foi enviada uma nova carta lembrando os

pesquisadores e solicitando aos mesmos responderem ao questionário, foi disponibilizada

uma outra forma de acesso ao questionário, com um outro link. Também foi dada a opção de

os pesquisadores terem acesso ao questionário em word, por intermédio de um diretório da

empresa. Notou-se que o questionário chegou a unidades onde não havia chegado

anteriormente. Entretanto, mesmo com essas duas formas de envio disponíveis, foram

recebidos 110 e-mails relatando problemas ou solicitando o envio do questionário de outra

forma, uma vez que as pessoas não haviam conseguido acessar o questionário em nenhuma

das formas disponibilizadas. A todos que solicitaram, foi enviado o questionário em word,

para o e-mail dos solicitantes.

Outra dificuldade encontrada foi que a versão do PHP Surveyor disponível pela

Embrapa, só era acessada nos computadores da Empresa. Entretanto, com todos os

contratempos, conclui-se que o PHP Surveyor é um sólido sistema de pesquisa, que facilita

muito o trabalho do pesquisador.

Tratamento e análise dos dados

Os pesquisadores respondiam ao questionário e o enviavam para um link do sistema

PHP Surveyor, que dispunha de um banco de dados, onde as questões iam sendo

contabilizadas, à medida que as pessoas respondiam. Foram realizadas análises por meio de

tratamento estatístico (análises descritivas). Para isso utilizou-se o PHP Surveyor e o pacote

estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences).

Foram ainda considerados na análise, os questionários em que havia comentários, como

auxiliar na interpretação dos dados.

3.3. LIMITAÇÕES DO MÉTODO

Page 106: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

106

Foram identificadas algumas limitações metodológicas na realização da pesquisa, que

serão enumeradas, procurando esclarecer as razões.

No caso da primeira parte do trabalho, ou seja, na pesquisa qualitativa, considerou-se

que nas entrevistas por e-mail obteve-se índice menor de respostas. Além disso, na entrevista

interativa, existe o contato face a face, onde, Macedo (2005, p. 78) vê vantagens de

fidedignidade.

Na segunda parte do trabalho, ou seja, na pesquisa quantitativa, considerou-se que a

utilização do sistema PHP Surveyor foi ao mesmo tempo um facilitador e em alguns casos um

obstáculo. Primeiro, porque o sistema não funcionava igual em todas as unidades, sendo que

em algumas, os questionários foram recebidos bem mais tarde ou foram recebidos de forma

desigual. Segundo, porque o fato do envio do questionário por e-mail, por meio da internet,

para ser acessado e respondido por meio de um endereço eletrônico, constitui uma excelente

ferramenta quando não há nenhuma dificuldade com relação à interação homem-máquina.

Entretanto, transforma-se em um problema quando o acesso não é possível. Nesses casos,

podem-se obter respostas contrárias, como, gerar na pessoa consultada um comportamento de

aceitação de desafios, que o impulsionará a buscar recursos para atender à solicitação ou a

renúncia, no sentido da desistência de se atender à solicitação.

Outra questão que pode se constituir em uma limitação do método identificado na

segunda parte do trabalho, ou seja, na pesquisa quantitativa, é a distância entre o discurso e a

prática. Ou seja, entre o que é dito e o que e praticado. Outra questão é a da “desejabilidade

social”, que é um termo utilizado na psicologia que se refere à tendência que algumas pessoas

têm de, na hora de responder a pesquisas por meio de questionários, darem a resposta que elas

acreditam ser a mais socialmente aceita. Porém, os problemas citados não são exclusivos

desta pesquisa, sendo comuns em coletas de dados por meio de questionários.

Page 107: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

107

4. DADOS DEMOGRÁFICOS E RECEPTIVIDADE DA PESQUISA

Esse capítulo apresenta e analisa os dados demográficos dos participantes das pesquisas

qualitativa e quantitativa e explana sobre a receptividade da pesquisa pelos atores.

4.1. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DEMOGRÁFICOS DOS

PARTICIPANTES DA PESQUISA QUALITATIVA

Participaram da pesquisa qualitativa 21 pessoas, divididas nas seguintes categorias:

diretoria atual; ex-presidentes; ex-diretores; chefes e ex-chefes de UCs; e chefes e ex-chefes

de UDs.

Na categoria “Diretoria Atual” da Embrapa, foram convidados a participar os quatro

diretores, sendo um diretor-presidente.

Dos seis ex-presidentes convidados a participar, somente quatro puderam efetivamente

participar. Destes, dois ainda trabalham na empresa.

Sete ex-diretores foram convidados e apenas um não pôde participar. Dos que

participaram, quatro continuam trabalhando na Embrapa e dois encontram-se à disposição de

outro órgão.

Dos chefes de Unidades Centrais convidados, em número de cinco, dois não puderam

participar. Dos que participaram, dois eram ex-chefes de unidade e um era chefe do

departamento que gerencia pessoas e que é responsável pela gestão da ética na empresa.

Foram convidados a participar da entrevista, por e-mail, onze Chefes de Unidades

Descentralizadas. Destes, somente cinco participaram. Dos outros, dois prometeram enviar a

entrevista depois e não enviaram; um se recusou a participar por causa da sua agenda, que

estava muito cheia naquele período e três não se justificaram. Também a época em que foram

realizadas as entrevistas, foi uma fase de muita atividade na empresa (tendo havido até uma

reunião de chefes de todas as unidades da Embrapa em Brasília). Dos seis que participaram,

Page 108: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

108

três eram chefes na época; dois eram ex-chefes e um era gerente de nível logo abaixo de

Chefe de UD. Este foi ouvido devido a interface que o trabalho desenvolvido pela área

(propriedade intelectual) tem com o assunto tratado nesta dissertação. Esses dados podem ser

melhor visualizados por meio da Tabela 2.

Participaram efetivamente da primeira parte da pesquisa (entrevista), 21 sujeitos.

Gaskell (2002, p. 71) considera esse número dentro do limite máximo (entre 15 e 25

entrevistas), por duas razões: primeiro por haver sempre “um número limitado de

interpelações, ou versões da realidade” e segundo pelo tamanho do corpus que deverá ser

analisado, entendendo corpus como o “conjunto limitado de materiais determinados de

antemão pelo analista, com certa arbitrariedade, e sobre o qual o trabalho é feito”.

Tabela 2: Número de sujeitos convidados e que efetivamente participaram da primeira fase da

pesquisa, por cargo.

NÚMERO DE ENTREVISTADOS CATEGORIA TOTAL DE

CONVIDA-

DOS

PESQUISA-

DORES

TNS/OUTROS

CARGOS

TOTAL

Diretoria Atual 4 3 1 4

Ex-presidentes 6 2 0 2

Ex-diretores 7 4 2 6

Chefes e ex-chefes de

UCs

6 1 2 3

Chefes e ex-chefes de

UDs

11 5 1 6

TOTAL 34 15 6 21

Quanto à forma de divulgação da entrevista, dos 21 entrevistados, três optaram pela

primeira opção dada, isto é, “divulgação das suas opiniões, sem restrições, citando fontes”.

Outros três optaram pela segunda forma de divulgação dos dados, que era a “divulgação

citando cargo, de forma genérica”. Nove outras, a grande maioria, optaram por deixar a

divulgação das entrevistas serem feitas da forma como a pesquisa exigisse.

Page 109: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

109

Entretanto, considerando que seis outros entrevistados optaram pela “divulgação

apenas de forma agregada”, decidiu-se por fazer as citações de forma agregada, sem

identificar os respondentes.

De uma forma geral, o assunto foi bem recebido e os convidados demonstraram muito

interesse em participar da entrevista, fazendo isso com aparente boa vontade.

Caracterização dos sujeitos

Dos 21 entrevistados na pesquisa qualitativa, 15 eram da carreira funcional P&D e

ocupavam o cargo de Pesquisador (sendo três Pesquisadores II e 12 Pesquisadores III); cinco

eram da carreira funcional Suporte à P&D e ocupavam o cargo de Técnicos de Nível Superior

(sendo um TNS II e quatro TNS III) e um era ocupante de cargo comissionado30.

Quanto à escolaridade, dois tinham nível superior, seis detinham o grau de mestre; dez

detinham o grau de doutor e três eram pós-doutores.

A média de idade era de 54 anos e o tempo médio de serviço na Embrapa é de 24,66

anos.

A grande maioria dos sujeitos (18 pessoas) estava lotada na Embrapa e três, apesar de

serem empregados da Embrapa, estavam lotados em outros órgãos.

Dos entrevistados, 17 eram do sexo masculino e quatro do sexo feminino.

Quanto à formação básica, a maioria havia cursado Agronomia (12); seguido de

Administração (2); Direito (2); Engenharia Química (1); Química (1); Física (1); Ciências

Econômicas (1) e Ciências Sociais (1), conforme pode ser melhor visualizado na Tabela 3.

30 Cargo comissionado pode ser ocupado por profissionais pertencentes ou não ao quadro efetivo da Empresa e “compreendem as atividades e responsabilidades pela gestão técnico-administrativa da Empresa e pelo assessoramento técnico e jurídico à Diretoria Executiva e às unidades organizacionais da Embrapa”, conforme explicitado na página 9 do Plano de Cargos e Salários da Embrapa (1998).

Page 110: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

110

Tabela 3: Informações sobre os sujeitos participantes da pesquisa qualitativa.

VARIÁVEIS DADOS VALORES TOTAL

Cargo Pesquisador II:

Pesquisador III:

TNS I:

TNS III:

Cargo Comissionado:

3

12

1

4

1

21

Lotação Embrapa:

Outros órgãos:

18

3

21

Tempo de Serviço na Embrapa Mínimo:

Máximo:

Média:

Moda:

Mediana:

Desvio padrão:

Variância:

2

32

24,66

30

27

8,54

73,03

Idade Mínimo:

Máximo:

Média:

Moda:

Mediana:

Desvio Padrão:

Variância:

33

74

54,48

52

54

8,23

67,66

Gênero Masculino:

Feminino:

Masculino: 17

Feminino: 4

21

Escolaridade Graduação:

Mestrado:

Doutorado:

Pós-doutorado:

2

6

10

3

21

Formação Básica Agronomia:

Administração:

Direito:

Outros:

12

2

2

5

21

4.2. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS DEMOGRÁFICOS DOS

PARTICIPANTES DA PESQUISA QUANTITATIVA

Page 111: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

111

Na pesquisa quantitativa buscou-se a participação da população, em número de 1.846

pesquisadores. Destes, houve retorno de 492 questionários, correspondendo a 26,65% desta

população. Esse item objetiva oferecer informações sobre os respondentes, visando formar um

perfil dos mesmos.

Em relação ao alcance da pesquisa por unidade de lotação, o questionário foi enviado

para todas as unidades da Embrapa e para a Sede da empresa. A Tabela 4 mostra o número de

pessoas, por unidade, que teoricamente receberam o questionário; o número de respostas e o

percentual de respostas em relação à população pesquisada.

A unidade onde houve maior percentual de respostas, em relação ao número de

questionários enviados foi a Embrapa Monitoramento por Satélite, com 68,75%, seguida pelas

unidades: Embrapa Roraima, com 52,38% e Embrapa Informação Tecnológica, com 50% de

respostas.

Outras unidades que ficaram com um percentual na casa dos 40%, foram: Embrapa

Informática Agropecuária, com 46,15%; Embrapa Suínos e Aves, com 44,44%; Embrapa

Clima Temperado, com 40,27% e Embrapa Rondônia, Embrapa Hortaliças e Embrapa

Instrumentação Agropecuária, com 40%. Na casa dos 30%, ficaram seis unidades.

As unidades onde houve menor percentual de respostas foram: Embrapa Transferência

de Tecnologia, com zero%. Uma possível explicação para esse fato, é que essa unidade é a

única que tem vários pequenos escritórios distribuídos em diversas cidades, onde estavam

lotados dez pesquisadores, integrantes da população pesquisada. Nesses escritórios não se

pode afirmar que os e-mails que foram encaminhados realmente chegaram aos destinatários.

Entretanto, ainda assim ficaria sem explicação a falta de respostas dos oito pesquisadores

integrantes da população pesquisada, lotados na sede desta unidade.

Nas outras unidades não citadas, o percentual de respostas foi superior a 11%.

Page 112: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

112

Tabela 4: População pesquisada e total de questionários respondidos, com o percentual, por

unidade

UNIDADES DA EMBRAPA POPULAÇÃO

PESQUISADA

NÚMERO DE

RESPOSTAS

PERCENTUAL

DE

RESPONDENTES

Monitoramento por Satélite 16 11 68,75

Roraima 21 11 52,38

Informação Tecnológica 6 3 50

Informática Agropecuária 26 12 46,15

Suínos e Aves 36 16 44,44

Clima Temperado 72 29 40,27

Hortaliças 45 18 40

Instrumentação Agropecuária 15 6 40

Rondônia 20 8 40

Caprinos 30 11 36,67

Pantanal 25 9 36

Café 17 6 35,29

Trigo 56 19 33,92

Pecuária Sudeste 30 10 33,33

Agroindústria de Alimentos 40 13 32,50

Cerrados 85 27 31,76

Mandioca e Fruticultura 74 22 29,72

Sede 73 21 28,76

Florestas 53 15 28,30

Algodão 46 13 28,26

Amapá 15 4 26,67

Amazônia Ocidental 47 12 25,53

Gado de Corte 51 13 25,49

Page 113: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

113

Tabela 4: População pesquisada e total de questionários respondidos, com o percentual, por

unidade (Continuação)

UNIDADES DA EMBRAPA POPULAÇÃO

PESQUISADA

NÚMERO DE

RESPOSTAS

PERCENTUAL

DE

RESPONDENTES

Semi-árido 53 13 24,53

Arroz e Feijão 54 13 24,07

Meio Norte 50 12 24

Tabuleiros Costeiros 47 11 23,4

Agropecuária Oeste 31 7 22,58

Gado de Leite 62 14 22,58

Milho e Sorgo 62 13 20,96

Agroindústria Tropical 55 11 20

Soja 70 14 20

Meio Ambiente 58 11 18,96

Agrobiologia 32 6 18,75

Recursos Genéticos e Biotecnologia 111 20 18,01

Solos 46 8 17,39

Amazônia Oriental 105 18 17,14

Acre 29 4 13,79

Uva e Vinho 39 5 12,82

Pecuária Sul 25 3 12

Transferência de Tecnologia 18 0 0

TOTAL 1.846 492 -

Dos respondentes, dois ocupavam o cargo de Pesquisador I, 149 ocupavam o cargo de

Pesquisador II e 341 ocupavam o cargo de Pesquisador III, representando respectivamente

8,33%, 26,28% e 27,17% da população pesquisada, conforme pode ser melhor visualizado na

Tabela 5.

Page 114: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

114

Tabela 5: Número e percentual da população pesquisada em relação aos respondentes, por

cargo.

CARGO Nº POPULAÇÃO

PESQUISADA

Nº RESPOSTAS PERCENTUAL

POPULAÇÃO

PESQUISADA

Pesquisador I 24 2 8,33

Pesquisador II 567 149 26,28

Pesquisador III 1.255 341 27,17

TOTAL 1.846 492 26,65

A média de idade dos respondentes é de 46,34 anos, sendo a idade mínima 27 anos e a

máxima 70 anos. A mediana é 47,09 e a moda , 54. O primeiro quartil é 37, o segundo 47 e o

terceiro 54. O desvio padrão é 9,5.

Observa-se que a média de idade dos respondentes (46,34 anos) ficou abaixo da média

de idade da população pesquisada, que era de 48,17 anos, o que leva a dedução de que houve

um número maior de respostas dos pesquisadores mais novos, conforme pode ser melhor

visualizado na Tabela 6.

Para fins de melhor análise, optou-se por criar categorias de idade, que ficaram

distribuídas da seguinte forma: a) 27 a 35 anos; b) 36 a 43 anos; c) 44 a 51 anos; d) 52 a 69

anos e e) 60 acima31. O intervalo entre as categorias de idade são oito na primeira e sete nas

subseqüentes, conforme pode ser visualizado na Figura 4.

31 A partir dos 60 anos, o empregado da Embrapa contratado a partir de janeiro de 1995, pode se aposentar integralmente pela Ceres, que é a empresa de seguridade, que atende aos empregados da Embrapa. Essa participação na Ceres é voluntária.

Page 115: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

115

Percentual

30,0%

25,0%

20,0%

15,0%

10,0%

5,0%

Faixa etária60+52 - 5944 - 5136 - 43

0,0%<= 35

Idade dos respondentes, por faixa etária

Figura 4: Distribuição percentual da idade dos respondentes, por faixa etária.

O tempo de serviço médio na Embrapa era 16,49 anos, sendo o mínimo de zero e o

máximo 56 anos. A mediana ficou em 16 e a moda, 3. O primeiro quartil é 3, o segundo 16 e

o terceiro 28. O desvio padrão é 11,23.

Observa-se que a média de tempo de serviço dos respondentes (16,49 anos) ficou um

pouco abaixo da população pesquisada, que foi de 17,39 anos, o que leva a deduzir que houve

um maior número de respostas dos novos contratados, conforme pode ser melhor observado

na Tabela 6.

Também na variável “tempo de serviço na Embrapa”, foram criadas categorias para fins

de análise com outras variáveis. Nesse caso, as categorias ficaram dessa forma: a) zero a

Page 116: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

116

cinco anos; b) seis a 10 anos; c) 11 a 15 anos; d) 16 a 20 anos; e) 21 a 25 anos; f) 26 a 3032

anos e g) 31 anos acima, conforme pode ser verificado na Figura 5. O intervalo entre essas

categorias de tempo de serviço é de 5 anos. Pe

rcen

tual

30,0%

25,0%

20,0%

15,0%

10,0%

5,0%

Faixas de tempo de serviço na Embrapa (emanos)

31+26 - 3021 - 2516 - 2011 - 156 - 100,0%

<= 5

Tempo de serviço na Embrapa, por faixa

Figura 5: Distribuição percentual do tempo de serviço na Embrapa, por faixas.

Dos respondentes, 340 eram do sexo masculino, representando 69% e 152 do sexo

feminino, representando 31% conforme Figura 6.

32 O tempo de serviço mínimo para aposentadoria, segundo a lei é de 30 anos de contribuição para o INSS. A aposentadoria integral pode ser requerida após 30 anos de serviço para mulheres e 35 anos de serviço para homens.

Page 117: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

117

Gênero

69%

31%

Maculino Feminino

Figura 6: Distribuição dos respondentes em relação ao gênero, em percentual

A população pesquisada contava com 25,95% representantes do sexo feminino, o que

leva a concluir que houve um número maior de resposta das pesquisadoras ao questionário.

Para melhor visualização da relação entre os dados da população pesquisada e os dados dos

respondentes, apresenta-se a seguir a Tabela 6.

Page 118: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

118

Tabela 6: Informações sobre a população pesquisada e o total de pesquisadores que respondeu

ao questionário (respondentes)

VARIÁVEIS VALORES POPULAÇÃO

PESQUISADA

RESPONDENTES

Tempo de

Serviço

Mínimo:

Máximo:

Média:

Mediana:

Moda:

Desvio

Padrão:

Variância:

0

34

17,39

-

-

-

-

0

34

16,45

16

3

11,10

123,42

Idade Mínimo:

Máximo:

Média:

Mediana:

Moda:

Desvio

Padrão:

Variância:

27

78

48,17

-

-

-

-

27

70

46,34

47.09

54

9,5

90,34

Gênero Sexo Número Porcentagem Número Porcentagem

Masculino

Feminino

1.367

479

74,05%

25,95%

340

152

69%

31%

Com relação à área de pesquisa, utilizou-se uma categorização utilizada em um trabalho

da empresa (Anexo C da Instrução de Serviço DGP Nº 1, de 14 de junho de 2005), onde estas

estão divididas em 14 áreas. As áreas de pesquisa com maior densidade demográfica foram:

Sistema de Produção Vegetal, com 12,40%; Melhoramento Genético Vegetal, com 11,38%; e

Recursos Genéticos e Biotecnologia, com 8,33%, conforme pode ser observado na Tabela 7.

Page 119: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

119

Entretanto, essa divisão não se mostrou adequada, uma vez que 31,91% marcaram

“Outros”, especificando 78 diferentes áreas. Outras 11 pessoas se descreveram em duas áreas

e nove se descreveram em três áreas ou mais. Para essa diversidade de áreas encontra-se uma

explicação no item “Caracterização da População”, no Capítulo 3. Dessa forma, optou-se por

não utilizar essa variável para fins de análises em relação a outras.

Tabela 7: Distribuição dos respondentes em relação a área de pesquisa.

ÁREA DE PESQUISA FREQÜÊNCIA PERCENTUAL

Sistema de produção vegetal 61 12,4

Melhoramento genético vegetal 56 11,38

Recursos genéticos e biotecnologia 41 8,33

Caracterização de recursos naturais 29 5,89

Fertilidade de solos e nutrição de plantas 26 5,28

Socioeconomia 25 5,08

Manejo e conservação de solos e água 22 4,47

Sistema de produção animal 20 4,07

Nutrição animal 14 2,85

Sistema de produção de forrageiras 11 2,24

Gestão ambiental 10 2,03

Melhoramento genético animal 8 1,63

Processos administrativos 8 1,63

Desenvolvimento regional 4 0,81

Outra área 157 31,91

Com relação à função exercida à época da pesquisa (agosto e setembro de 2005), a

grande maioria, 330 pessoas, respondeu que estava desenvolvendo atividades de pesquisa

(68%), seguido de atividades de pesquisa e gerenciais (123 pessoas, totalizando 25%),

conforme pode ser observado na Figura 7.

Page 120: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

120

Como se pode inferir pelos resultados, houve uma boa participação do segmento

gerencial da empresa nessa pesquisa (29%).

Função atual dos respondentes, em percentual

68%4%

25%

1% 2% Atividades de pesquisa

Atividades gerenciais

Atividades de pesquisa egerenciaisAtividadesadministrativas

Outras atividades

Figura 7: Função atual dos respondentes, em percentual

A pesquisa questionava também sobre a função que o pesquisador exerceu maior

período de tempo na sua vida profissional. Novamente nessa questão, a maior freqüência foi

em atividades de pesquisa (421 pessoas, representando 85% dos respondentes), seguida de

atividades de pesquisa e gerenciais (49 pessoas, representando 10%), como pode ser melhor

avaliado na Figura 8.

Page 121: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

121

Função exercida por maior período durante a vida profissional, em percentual

85%

3%10% 1% 1%

Atividades de pesquisa

Atividades gerenciais

Atividades de pesquisa egerenciaisAtividades administrativas

Outras atividades

Figura 8: Função exercida por maior período de tempo durante a vida profissional, em

percentual

4.3. RECEPTIVIDADE DA PESQUISA

Esta pesquisa, desde o início, foi muito bem recebida pelos pesquisadores, desde as

entrevistas preliminares, passando pela Diretoria Executiva e pelos demais integrantes do

grupo de formadores de opinião, entrevistado na primeira fase da pesquisa e também pelos

pesquisadores em geral, ouvidos por meio do questionário, na segunda fase.

O questionário foi muito bem recebido, tendo um percentual de respostas de 26,65%, o

que é considerado um bom percentual em pesquisa social. Pode-se inferir com isso e pelas

declarações dos sujeitos participantes da pesquisa, que o tema desperta ou traduz o interesse

dos pesquisados. Confirmando esse interesse, a seguir são apresentados alguns outros

indicativos dessa constatação.

Page 122: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

122

Nas entrevistas semi-estruturadas, 100% dos entrevistados consideraram o assunto

muito importante, a pesquisa atual e estratégica para a Embrapa e demonstraram muito

interesse em discutir o tema na empresa.

Na última questão do questionário, questão aberta cujo enunciado era: “Você gostaria

de acrescentar mais alguma coisa sobre o tema ética na pesquisa?”, do total de respondentes

(492), houve 196 (39,84%) declarações contendo opiniões/definições/sugestões/elogios. Estas

foram de 175 pessoas (35,57% do total de respondentes) e outras 20 declarações, sendo que

algumas dessas foram de pessoas que já haviam se pronunciado anteriormente. Alguns, além

de sua opinião, deram também os parabéns pela escolha do tema, por o considerarem

importante, estratégico e oportuno.

O questionário foi enviado dia 22.08.2005, por volta de 11h20. Nesse mesmo dia de

disponibilização do questionário na intranet, houve 123 respostas por meio do sistema PHP

Surveyor, ou seja, 25% dos respondentes.

Quando foi enviado novamente o questionário, como forma de lembrar aos

respondentes, dessa vez com uma outra forma de acesso, já que se notou que no primeiro

envio não havia chegado a algumas unidades, ocorreu fenômeno semelhante. O questionário

foi enviado por volta das 11h30 do dia 05.09.2005 e nesse mesmo dia foram recebidos 132

questionários, ou seja, 26,83%. Dessa forma, constata-se que mais da metade dos

questionários foram respondidos no mesmo dia em que foram recebidos.

Outro fato que comprova o interesse pelo tema é que, como já foi dito nos

procedimentos metodológicos, muitos pesquisadores não conseguiam acesso ao questionário

por motivos diversos. Alguns, em número de 54, entraram em contato com a autora deste

trabalho, solicitando o envio do questionário de outra forma. Destes, grande parte declarava

que fazia questão de participar da pesquisa por considerarem o tema muito importante e

oportuno para a empresa. Nesses casos, o questionário foi enviado em word e eles devolveram

preenchidos, por e-mail.

Computou-se ainda 110 e-mails recebidos de pesquisadores nessa fase do trabalho,

solicitando o envio do questionário por e-mail ou emitindo opiniões gerais sobre a pesquisa e

sobre o tema.

Page 123: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

123

5. OPINIÃO DOS ATORES SOBRE ÉTICA NA PESQUISA

Apesar do imenso conhecimento que a humanidade dispõe hoje sobre si mesma, o agir

do homem e suas motivações estão longe de serem totalmente compreensíveis ao próprio

homem. A questão principal parece residir no fato de os seres humanos serem diferentes entre

si.

Essa é uma pesquisa de percepção. Robbins (1999, p. 62 e 63) define percepção como

“um processo pelo qual indivíduos se organizam e interpretam suas impressões sensoriais a

fim de dar sentido ao seu ambiente”. A percepção está condicionada a características de quem

percebe: atitudes, motivações, interesses, experiências e expectativas, dentre outras; a fatores

da situação: tempo, local de trabalho, situação social; e a fatores no alvo observado: novidade,

movimento, som, tamanho, fundo e proximidade. Dessa forma, a percepção não corresponde

necessariamente a realidade em si, mas à visão de cada um.

Apesar da dificuldade de se compreender totalmente o processo da percepção e mesmo

o fato de ela não constituir a realidade objetiva, é importante estudá-la, uma vez que “o

comportamento das pessoas, é baseado em suas percepções do que a realidade é, e não na

realidade em si. O mundo como ele é percebido é o mundo que é comportamentalmente

importante” (Robbins, 1999, p. 62).

Os próximos capítulos apresentam a opinião dos atores sobre o tema objeto desse

trabalho. Os atores foram os dirigentes e ex-dirigentes da Embrapa e os pesquisadores em

geral. Estes foram ouvidos em duas etapas. A primeira, por ocasião da pesquisa qualitativa,

por meio de entrevistas iniciais e entrevistas semi-estruturadas. Esse grupo de pessoas

doravante será caracterizado como “grupo de formadores de opinião”. A segunda etapa foi

por ocasião da pesquisa quantitativa, quando foram ouvidos os pesquisadores da Embrapa,

por meio de um questionário.

Os resultados das pesquisas serão apresentados, organizados de acordo com os

resultados da pesquisa quantitativa realizada com os pesquisadores, por meio do questionário.

Em seguida, caso haja correspondência das questões do questionário com as das entrevistas,

serão oferecidas análises das entrevistas, com declarações dos sujeitos, colhidas na primeira

fase do trabalho, isto é, na pesquisa qualitativa. Quando for o caso, seguirão algumas citações

Page 124: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

124

dos respondentes da questão aberta do questionário utilizado na pesquisa quantitativa. Serão

apresentadas ainda análises de questões que foram abordadas somente nas entrevistas. Todos

esses olhares contribuirão para melhor entendimento dos temas tratados.

Para melhor entendimento do texto, as citações de autores serão apresentadas da mesma

forma em que o texto é escrito, entre aspas, assim como as declarações dos sujeitos da

pesquisa qualitativa e os comentários constantes no questionário da pesquisa quantitativa. As

citações que ultrapassarem três linhas serão apresentadas com um deslocamento e em letra

menor. As declarações dos sujeitos da pesquisa qualitativa estarão formatadas na mesma letra

utilizada no texto, em itálico. Os comentários dos questionários estarão em letra diferente,

Book Antiqua. As declarações dos sujeitos das entrevistas preliminares serão apresentadas

também em Book Antiqua, em itálico.

As declarações feitas pelos sujeitos participantes da pesquisa qualitativa (entrevistas)

serão acompanhadas do número correspondente a sua codificação, precedido da palavra

“Sujeito”. As declarações feitas pelos participantes da pesquisa quantitativa (questionário)

serão acompanhadas do número do questionário, precedido pela letra “Q”.

Este capítulo apresenta resultados sobre os seguintes temas: relação entre ciência,

pesquisa e ética; relação entre pesquisa agropecuária e bioética; crenças dos pesquisadores

quanto a ética na pesquisa na Embrapa; conduta ética dos novos pesquisadores em relação aos

mais antigos; influência ou interferência política na atividade de pesquisa na Embrapa.

5.1. RELAÇÃO ENTRE CIÊNCIA, PESQUISA E ÉTICA

Perguntados sobre a relação entre ciência, pesquisa e ética, a maioria dos pesquisadores,

63% (305 pessoas) acreditam que “A ética, a ciência e a pesquisa devem se complementar”;

34% (169 pessoas) acreditam que “A ética deve estar acima da ciência e da pesquisa”.

Apenas 11 pessoas têm opiniões diferentes, sendo que destas, 2% (nove pessoas)

acreditam que “Às vezes, a ciência e a pesquisa devem ficar acima da ética” e 0,20% (uma

pessoa) acredita que “A ciência e a pesquisa devem estar acima da ética” e 0,20% (uma

Page 125: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

125

pessoa) não vê relação entre ciência, pesquisa e ética, conforme pode ser melhor visualizado

na Figura 9.

Relação entre ciência, pesquisa e ética

63%

34%

1% 0%2% 0%

A ética, a ciência e apesquisa devem secomplementar A ética deve estar acimada ciência e da pesquisa

Às vezes, a ciência e apesquisa devem ficaracima da ética Outras opiniões

A ciência e a pesquisadevem estar acima daética Não há relação entreciência, pesquisa e ética

Figura 9: Relação existente entre ciência, pesquisa e ética, na visão dos pesquisadores, em

percentual

Com relação à pesquisa qualitativa, dos 20 sujeitos que foram questionados sobre se a

ciência deveria estar acima da ética, 11 responderam com convicção que não. Um deles

explica: “Não, porque a ética é parte integrante das relações humanas. Se a ciência é uma

produção humana, a ética tem que reger a ciência” (Sujeito 12). Outro pesquisador, apesar de

não querer amarras para a ciência, considera a ética fundamental para a prestação de contas à

sociedade, conforme declara a seguir:

A ciência deve observar a ética, mas ela não deve estar acima da ética. Eu

acho que, apesar da ciência não poder ter nenhum tipo de amarras, mas a

ética, ela é fundamental para você prestar contas à sociedade, ver o que você

Page 126: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

126

está fazendo... Porque existem diferentes tipos de interpretação daquilo que

você está fazendo (Sujeito 5).

Um entrevistado assinala que a ética vai além, quando afirma que “a ética é uma

questão que transcende a ciência e perpassa todos os segmentos” (Sujeito 3).

Dentro da fala de três pessoas, há uma observação de que a ciência deve obedecer ao

momento, o contexto da sociedade, no sentido de a ética acompanhar a sua evolução. Esse

tipo de argumentação em relação à ciência, observando pela ótica do imperativo institucional

“universalismo”, de Merton (1979), só é possível compreender quando se pensa em um

conceito lato de sociedade, uma vez que sua visão segmentada embute fatores como religião,

raça, regime político do país e outros.

Uma pessoa acredita que na ciência já há ou deve haver um comportamento moral

incluído, tendo em vista que “a ciência já é montada dentro de uma ética” (Sujeito 6). Outro

acredita que se deve “desenvolver a ética como um valor de pesquisa, considerar os

relacionamentos que o avanço do conhecimento, que a tecnologia, que a inovação pode ter no

contexto da sociedade” (Sujeito 10).

Outras cinco pessoas, dentro das suas declarações, lembram situações que remetem a

Kuhn (1975) sobre o que este chamou de “ciência extraordinária”, quando ocorreria a

mudança de paradigmas, decorrente de transformações sociais e ruptura da ética vigente.

Essas declarações podem guardar relação com as nove pessoas que responderam no

questionário que “Às vezes, a ciência e a pesquisa devem ficar acima da ética”. Como

ilustração, apresentam-se declarações que expressam essa idéia.

“É importante comentar que o próprio avanço da ciência leva a

transformações sociais – decorrentes da interação da sociedade com os novas

descobertas – e que podem também levar a mudanças de valores e costumes,

revolucionando assim os próprios princípios éticos da sociedade em questão”

(Sujeito 18).

“Historicamente esta questão vem a discussão quando as descobertas da

ciência (em benefício da sociedade) estão a proporcionar uma grande ruptura

Page 127: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

127

na ética vigente, como no momento em que ela se coloca acima da ética”

(Sujeito 20).

“Como a ética é relativa ao grupo social que a desenvolve e a estabelece,

muitas vezes em função de novos avanços da ciência, as questões éticas

precisam ser rediscutidas e reformuladas pelos grupos sociais envolvidos. Ex.

célula-tronco” (Sujeito 21).

Por fim, tem-se a declaração de uma pessoa, que acha difícil separar a ética da ciência e

justifica.

Esse tipo de informação padece no meu modo de entender de um vício de

origem enorme, como se existisse uma separação nítida entre ciência e ética.

Ciência é uma atividade humana, ética é outra atividade humana, é muito

difícil você separar no cérebro do cientista... Aonde começa a ética e aonde

começa a ciência. De forma que essas coisas são inter-relacionadas... Quer

dizer, os procedimentos científicos não são independentes da ética do

pesquisador e de certa forma também a ética do pesquisador não é

independente da formação científica que ele tem. O pesquisador, por exemplo,

que tem uma formação científica do tipo positivista, ele tem uma ética que é

inerente à visão positivista a respeito da vida. E quando ele começa a

trabalhar dentro da ciência, está usando de certa forma o positivismo como

paradigma. Nesse caso, para um cientista positivista não tem como separar os

critérios da ciência dos critérios do positivismo... Agora quando vem questões

muito delicadas, ligadas com a vida, ligada com a possibilidade de você fazer

um invento... que tem um poder destruidor da humanidade, eu acho que aí o

cientista, quem sabe, pode colocar de lado um pouco as ideologias que tem e

começar a pensar na humanidade, no direito que a humanidade tem à vida.

Mas isso é só para as questões muito complicadas, a questão mais simples, no

meu modo de entender, não tem como separar a ciência e ética (Sujeito 4).

A seguir, apresenta-se um comentário anotado em um questionário que expressa a

opinião da maioria e que, de certa forma, lembra a ética da sustentabilidade:

Page 128: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

128

Sem ética não pode haver ciência alguma que contribua de fato para o

desenvolvimento, do ponto de vista individual, do ente humano e

coletivamente da humanidade. (Q. 1)

Pode-se concluir que a maioria dos pesquisadores e do grupo de formadores de opinião

concorda que a ciência e a ética devem ter uma relação estreita ou a ética deve estar acima da

ciência, representando 96,34% da pesquisa quantitativa e 14 pessoas da pesquisa qualitativa.

Esses números não deixam dúvidas quanto a essa questão.

5.1.1. Conceitos de ética formulados pelos atores

Os conceitos de ética na pesquisa não se constituiu em uma pergunta direta feita nas

entrevistas ou no questionário. Entretanto, houve uma reivindicação em todas as etapas desse

trabalho, no sentido da apresentação na pesquisa de conceitos de ética e de ética na pesquisa.

Porém, como a pesquisa era de caráter exploratório e o estudo pioneiro na empresa, não se

considerou estratégico oferecer um conceito formado.

Apesar disso, surgiram alguns conceitos de ética, de ética na pesquisa e de ética na

pesquisa agropecuária (PA) nos vários momentos do trabalho (Quadro 5). Estes são citados a

seguir, contendo a instância (meio) onde foi citado, seguido do número do sujeito, que o

expressou.

Page 129: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

129

Quadro 5: Conceitos de ética formulados pelos atores

TEMA CONCEITOS MEIO

A ética está mais acima da ciência e da pesquisa ou de qualquer

outra instituição humana... É a base fundamental da vida...

Pertence ao campo da espiritualidade... É a inclinação natural e

intuitiva para o “certo e justo”.

Q. 1

Ética por definição é dinâmica (opõe-se à moral, que é definida).

Ela não deve contemplar a mim ou a meu grupo, tem que ser

definida na dinâmica da relação com o outro.

Q. 25

A ética é sempre pessoal, ou melhor, impessoal do ponto de

vista espiritual, universal, mas “acessada” somente por meio da

nossa consciência pessoal.

Q. 144

A ética trata dos nossos valores, nossos fins e objetivos, e dos

meios lícitos para atingi-los. É auspicioso que o discurso ético

seja difundido, questionando certos valores, contestando

determinados fins e determinadas aplicações do conhecimento.

Q. 418

Ética em

geral

A ética cuida do uso da liberdade. Sendo assim, a liberdade

científica deve ser eticamente orientada.

Q. 291

Page 130: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

130

Quadro 5: Conceitos de ética formulados pelos atores (Continuação)

TEMA CONCEITOS MEIO

A ética na pesquisa é componente da ética profissional.

Portanto, norteadora da elaboração de projetos, acesso a

recursos naturais, comunidades tradicionais, administração e

utilização do dinheiro público, execução de atividades...

Q. 154

Na grande maioria quem tem "ética na pesquisa" diria também

"Ética geral" são pessoas que tem um elevado nível educação (de

comportamento, de caráter) de berço.

Q. 157

A ética na pesquisa é reflexo do código de conduta pessoal. Se

um pesquisador costuma mentir para diversos propósitos, quem

me garante que seus resultados de pesquisa não foram forjados?

A ética na pesquisa, não pode ser dissociada da ética pessoa.

Q. 180

Ética na

pesquisa

Quem não tem ética pessoal, não tem ética na pesquisa, e isso

tem acontecido muito na Embrapa. Ética norteia a vida de cada

pessoa e no mundo atual, são poucos que tem mostrado isso.

Outros fatores estão acima da ética, principalmente na pesquisa.

Q. 472

Ética na

PA

Ética na pesquisa agropecuária é ser fiel à verdade dos eventos

observados, analisando-os com imparcialidade, sem forjar

resultados.

Q. 1

Muitas pessoas confessaram não saber o que significa realmente a palavra ética, tanto

nas entrevistas semi-estruturadas como no questionário. Nestes, encontram-se pelo menos

quatro pessoas que declararam que o tema não era bem claro para ele, outro gostaria de saber

o que se entende por ética na pesquisa, outro disse não ter conhecimento do tema e outro

declarou seu desconhecimento total do tema ética na pesquisa.

Page 131: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

131

5.1.2. Em que momento a ética deve ser levada em consideração na pesquisa

Perguntados sobre esse tema, dos pesquisados que responderam ao questionário,

94,51% (465 pessoas) responderam que a ética deve ser levada em consideração em todo o

processo de pesquisa.

Como a questão permitia a marcação de mais de uma alternativa, nas etapas do processo

de pesquisa, houve uma distribuição mais ou menos semelhante, cuja percentagem variou de

16,46% (81 pessoas), na seleção dos projetos a 19,11% (94 pessoas) na elaboração das

propostas, conforme pode ser visualizado na Figura 10.

465

94 93 92 85 81

10

100

200

300

400

500

1

Momento em que a ética deve ser levada em consideração na pesquisa

Em todo o processo depesquisa

Elaboração das propostas

Definição de propostas

Análise do projeto

Avaliação dos resultados

Seleção de projetos

Não deve ser levada emconsideração na pesquisa

Figura 10: Momento em que a ética deve ser levada em consideração na pesquisa, segundo a

percepção dos pesquisadores, em número de respostas

Esse resultado vem ao encontro do obtido no item anterior, “Relação entre ciência,

pesquisa e ética”, onde, somados, 97% reconhecem na ética um componente importante para

ser aliado à pesquisa, na medida em que responderam que “a ética, a ciência e a pesquisa

devem se complementar” (63%) e que “a ética deve estar acima da ciência e da pesquisa”

(34%).

Page 132: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

132

A grande maioria dos pesquisadores da Embrapa que responderam ao questionário,

além de reconhecerem a importância do componente ético na ciência e na pesquisa (97%),

também acreditam que a ética deve ser levada em consideração na pesquisa em todas as suas

etapas (94,51%). Dessa forma, pela opinião dos atores ouvidos, fica claro que não só a

avaliação técnica da pesquisa deve ser considerada, como também a avaliação ética, em todo

o processo da pesquisa.

Maffia e Mizubuti (2004) reforçam esse resultado, quando afirmam que os

questionamentos éticos devem estar presentes desde a concepção da idéia, ou seja, na

elaboração do projeto, até os “impactos da publicação do trabalho científico ou do uso da

tecnologia ou produto gerado”.

5.2. RELAÇÃO ENTRE PESQUISA AGROPECUÁRIA E BIOÉTICA

Quando perguntados sobre “Qual a relação entre a pesquisa agropecuária e bioética?”,

com quatro sugestões de respostas, 85% (417 pessoas) responderam que a “Pesquisa

agropecuária deve ser incluída nas discussões sobre bioética”. Outros 13% (64 pessoas)

acreditam que “Somente uma parte da pesquisa agropecuária deve estar incluída nas

discussões sobre bioética”. Já a resposta “Pesquisa agropecuária não deve estar incluída nas

discussões sobre bioética”, é a opinião de 1% (sete pessoas), conforme Figura 11.

Page 133: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

133

Relação entre pesquisa agropecuária (PA) e bioética

85%

13%

1%1%

PA deve estar incluída nasdiscussões sobre bioética

Somente uma parte da PAdeve estar incluída nasdiscussões sobre bioética

PA não deve estar incluídanas discussões sobrebioética

Outra opinião

Figura 11: Relação entre pesquisa agropecuária e bioética, em percentual.

Esse resultado guarda relação com as opiniões dos entrevistados na primeira fase desse

trabalho, a pesquisa qualitativa, onde, dos 21 sujeitos ouvidos, a imensa maioria, 20

reconhece que há algum tipo de relação entre a pesquisa agropecuária e bioética, apesar de

dois deles confessarem não ter certeza do conceito de bioética. Desse total, 11 profissionais

responderam com certeza que acreditavam que a pesquisa agropecuária faz parte da bioética.

Nove responderam com frases que reconhecem algum tipo de relação, como: dois sujeitos

responderam que “a bioética está relacionada à pesquisa agropecuária”. Outros responderam

que a bioética influencia ou permeia a pesquisa agropecuária. Outros ainda acreditam que “a

bioética é o campo de ação da pesquisa agropecuária”; “a pesquisa agropecuária deve estar

condicionada à bioética”; “a bioética é fundamental para a pesquisa agropecuária”.

Das pessoas ouvidas, apenas um respondeu textualmente que não sabia o que é bioética,

abstendo-se dessa forma de dar sua opinião.

Dentre os que têm plena convicção de que a pesquisa agropecuária faz parte da bioética,

apresenta-se, para efeito de melhor compreensão de suas opiniões, as seguintes declarações:

Page 134: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

134

“Eu acho que sim. A pesquisa agropecuária está tratando sempre com vida. A

Embrapa é uma empresa que trata objetivamente com a vida, em seus

diversos momentos. Então a bioética é parte integrante da nossa atividade. A

ética, a bioética tem que ser sempre um pano de fundo da atividade de

pesquisa da empresa. Não tem como ela ficar afastada das atividades da

empresa” (Sujeito 12).

“Faz, porque nós temos áreas como a transgenia, como a clonagem, como a

genômica, como a biologia molecular, como a manipulação de DNA, que

obrigatoriamente você está... inserindo-se naquilo que se chama o cerne, a

parte mais refinada dos sistemas biológicos. Então, portanto, a pesquisa

agropecuária, ela também é influenciada, faz parte da questão bioética”

(Sujeito 13).

Entre as declarações dos sujeitos que reconhecem algum tipo de relação entre pesquisa

agropecuária e bioética, destacam-se:

“Eu acho que a pesquisa agropecuária está intrinsecamente relacionada à

bioética porque a pesquisa agropecuária permeia em várias sessões a questão

biológica, quer dizer, nós estamos no, limiar de decisões, de como utilizar

recursos biológicos, como modificá-los, como difundi-los, então ela é

indissociável da bioética... O animal é biológico, então nesse caso você tem

toda a questão da bioética. Se eu trabalho, por exemplo, com animais e

vegetais, com microorganismos, que é o nosso caso, eu tenho campo somente

trabalhando com a modificação, com a prospecção, modificação,

disseminação de elementos vivos, do "bio", eu tenho interferência e faço parte

dessa questão. Somos uma empresa que tem relação com a bioética” (Sujeito

3).

“A bioética, ela permeia a pesquisa agropecuária porque assim como a gente

falou que a ética... está presente nos contornos metodológicos, nos

fundamentos metodológicos, a bioética está mais ligada à forma, quer dizer, a

maneira, a valorização que eu faço da vida ou das coisas que têm vida. Eu

posso pensar em bioética na parte humana, posso pensar na natureza a

Page 135: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

135

utilizar a bioética, então sim, eu acho que as ciências agronômicas de uma

maneira geral. Aqui eu estou falando agronômica não só no aspecto vegetal,

da parte vegetal, o agronômico grandão que envolve também a parte de

pecuária, lidar com animai. Eu acho que necessariamente tem uma cobertura

ética essa coisa, tem fundamentos éticos” (Sujeito 6).

“A pesquisa agropecuária está, tem que estar condicionada à bioética, uma

vez que a pesquisa agropecuária trabalha com seres vivos” (Sujeito 7).

“A bioética é fundamental para a pesquisa agropecuária contemporânea.

Com a evolução das sociedades humanas muitas práticas e métodos de

pesquisa do passado começam a ser questionados. Além disso, surgem novas

questões com implicações muito maiores em termos de bioética. Dando

alguns exemplos: no passado, fazer pesquisas com camundongos e mesmo

grandes animais eram inquestionáveis pelos fins ou resultados visados. Hoje,

questiona-se principalmente os métodos que submetem quaisquer animais ao

sofrimento ou aos comportamentos não-naturais. Inclusive, este critério

passou a ser importante na seleção de propostas por algumas instituições de

apoio a pesquisa científica. Outro exemplo: com a chegada da técnica de

engenheiramento, e a possibilidade de troca de genes mesmo entre o reino

animal e vegetal, crescentemente questiona-se essa interferência “brutal” (tal

é a grandeza da mudança) do homem no meio ambiente. Todas essas

discussões levam à bioética que se relaciona ao direito do homem interferir

na ordem estabelecida no Universo. E que leva a uma outra grande

discussão: antropocentrismo ou ecocentrismo do mundo?” (Sujeito 18).

Quando questionados sobre o fato de não se ver a pesquisa agropecuária muito ativa nas

discussões sobre bioética, ou mesmo encabeçando-as, ouvem-se declarações como:

“A questão médica é muito maior porque nós estamos em um mundo que é

antropocêntrico. Quem é o ser pensante aqui? Na realidade a saúde humana

transcende... Se você manipula outros animais não têm o mesmo aspecto... do

que uma manipulação no homem. A grande questão é a clonagem humana

que não é permitida, entre aspas, mas a clonagem animal já está e vegetal

Page 136: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

136

então nem se fala. Então isso está levando que a questão bioética seja mais

ligada a questão humana. Mas se você olhar pela ótica da semântica e do

objetivo, nós deveríamos estar bem mais entrosados... Nós estamos num

processo... Essa legislação mais recente, tanto em nível nacional quanto

internacional, questões ligadas a... barreiras não-tarifárias, estão levando a

questão da produção agrícola, rastreabilidade, as origens dos produtos, como

eles foram produzidos do ponto de vista ambiental, bioético e social. Isso vai

crescendo e exigindo uma tomada de posição nesse sentido. Antigamente, o

pessoal comprava e não interessava aonde, agora tem toda uma questão de

como está, a origem, quanto que a gente está devastando... se tem trabalho

escravo, se é OGM... Então está entrando na pauta não apenas legislação,

mas do que é palpável, quer dizer de exportação. A tendência é, quer queira

quer não queira, entrar” (Sujeito 3).

“Isso tem uma razão muito simples, porque a medicina, a enfermagem, elas

estão ligadas diretamente com o ser humano. Agora se nós considerarmos que

o ser humano é apenas parte de uma grande arquitetura do universo chamado

vida, então... E veja que os genes hoje de uma drosófila, ou, por exemplo, os

genes de qualquer animal, de um símio, de um macaco... O número de genes

compatíveis com o ser humano, são altos, altíssimos, então significa que a

origem da vida foi uma única... A medicina trata da questão humana, mas tem

N outras profissões que trata da vida com um todo. Então, portanto, não há

como você... ter uma vida humana e uma vida dos outros animais, dos outros

seres” (Sujeito 13).

“Isso é um mal de início, eu acho... A bioética nasceu muito ligada à parte

humana, da medicina. Então você vê a bioética muito ligada a isso daí. Eu

acho que é um viés... mas a bioética... ela está ligada à vida, está ligada à

planta, ela está ligada aos pequenos animais, aos animais microscópicos, ela

está ligada aos grandes animais, quer dizer você não pode ser tão rigoroso

em bioética. Você não é ético, se você valoriza só a parte humana. Essa ética,

ela está pela metade ou menos da metade, quer dizer, eu não posso maltratar

você, mas eu maltrato o meu animal doméstico... ou eu admito que a carne

que eu estou comendo, que os procedimentos de criação... de abatimento

daquele animal até chegar à mesa onde eu consumo, possa ser feito de

Page 137: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

137

qualquer forma. Isso não é ético. A ética está dentro de uma área maior

chamada de moral. A ciência moral, ela comporta as discussões éticas... A

filosofia moral se interessa por esse tipo de problema, não só na parte

humana. Então quem é ético em termos de comportamento humano apenas, é

meio ético ou menos de meio ético porque você tem que ser ético com a vida,

você tem que ser ético com o ambiente... no meio ambiente no qual você vive...

Se ela (a bioética) não está relacionada à vida total, abrangendo os outros

animais, eu acho que tem algum defeito, deve ser defeito de início” (Sujeito

6).

“Na verdade, hoje o grande foco que eles estão dando para bioética é a

questão dos organismos geneticamente modificados. Isso é parte da pesquisa

agropecuária. Eles não consideram, a própria mídia não coloca essa questão

como parte da pesquisa agropecuária, mas é. OMG para a questão agrícola

é. O que eles estão colocando como foco na bioética são as questões do

genoma humano, inseminação artificial, essas coisas diretamente focadas nas

questões do genoma humano. Mas não é só isso. Principalmente porque todas

as mudanças na genética dos alimentos têm, de qualquer modo, alguma

influência na nossa vida, e a gente tem que saber disso” (Sujeito 12).

Assim, não restam dúvidas sobre a posição dos atores quanto a essa questão. É opinião

da quase totalidade das pessoas ouvidas que a pesquisa agropecuária deve estar incluída nas

discussões sobre bioética.

As definições sobre bioética encontradas e a Resolução 196/1996, do Comitê de Ética

em Pesquisa da Fiocruz/MS, dá abrigo a essa convicção. Essa Resolução define pesquisas

envolvendo seres humanos, como “pesquisa que, individual ou coletivamente, envolva o ser

humano de forma direta ou indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo o manejo de

informações ou materiais”. Atendo-se a essa definição, a pesquisa agropecuária envolve seres

humanos, de forma indireta. Assim, entende-se perfeitamente legítima e desejável que a

pesquisa agropecuária como um todo se aproxime da bioética, participando de suas

discussões, o que permitiria que aquela usufruísse dos constructos teóricos da bioética,

contribuindo assim para maior amplitude da bioética em termos de visão das ciências da vida.

Page 138: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

138

5.3. CRENÇAS DOS PESQUISADORES QUANTO A ÉTICA NA PESQUISA NA

EMBRAPA

No questionário havia uma questão, com várias afirmativas, cujo enunciado era:

“Quanto ao tema ética na pesquisa na Embrapa, você acredita que”. Nessa questão, poderia

ser assinalada mais de uma alternativa. As cinco primeiras afirmativas mais assinaladas foram

extraídas do discurso dos entrevistados por ocasião da pesquisa qualitativa. Dessas

afirmativas, 52,03% (256 pessoas) assinalaram que a ética na pesquisa “Deve obedecer a

princípios éticos gerais, sem, contudo, limitar avanço do conhecimento”.

A segunda questão mais assinalada foi “Necessita ser melhor discutido na Embrapa

pelos pesquisadores e pela direção da empresa”, com 49,19% (242 pessoas). A afirmativa “É

preciso criar instâncias institucionais que permitam a interação entre a sociedade e a C&T” foi

assinalada por 44,72% (220 pessoas).

Pela ordem, outra questão que os pesquisadores mais assinalaram foi a afirmativa de

que a ética na pesquisa “Não deve ser a única questão a definir se uma pesquisa vai avançar

ou não”, com 22,36% (110 pessoas). A afirmativa que a ética na pesquisa “Não deve servir a

outros objetivos, como por exemplo, limitar a ação dos países em desenvolvimento”, foi

assinalada por 16,87% (83 pessoas).

Dos respondentes, somente 1,22% (seis pessoas) acreditam que o tema “Está

devidamente tratado na Embrapa, não necessitando de outras ações”. Outros 1,22% (seis

pessoas) expressaram outras opiniões, como pode ser observado na Figura 12.

Page 139: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

139

256 242220

11083

6 60

50

100

150

200

250

300

1

Crenças sobre ética na pesquisa na Embrapa Deve obedecer a princípioséticos gerais

Necessita ser melhor discutidona Embrapa

Criação de instânciasinstitucionais visando interaçãoentre a sociedade e a C&T Não deve ser a única questão adefinir se uma pesquisa vaiavançar ou nãoNão deve servir a outrosobjetivos

Está devidamente tratado naEmbrapa

Outras opiniões

Figura 12: Afirmativas dos respondentes sobre o tema “ética na pesquisa”, em número de

respostas.

Encontram-se, a seguir, as afirmativas oferecidas no questionário, seguidas do

percentual de respostas e de maiores dados ou de análises sobre as mesmas.

A ética na pesquisa deve obedecer a princípios éticos gerais (52,03%)

Essa preocupação com a limitação do avanço do conhecimento é recorrente no

questionário e nas entrevistas. Nota-se no pesquisador uma preocupação com o não

engessamento da ciência e da pesquisa.

Entende-se como perfeitamente genuína e lícita essa preocupação, na medida em que a

ética na pesquisa, por envolver vários interesses nacionais e internacionais, deve se apoiar em

questões objetivas e universais, buscando sempre legitimação em acordos reconhecidos e

consagrados internacionalmente como a Declaração de Direitos Humanos, da ONU e outros.

Page 140: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

140

O tema ética na pesquisa necessita ser melhor discutido na Embrapa (49,19%)

Essa é outra reivindicação recorrente em todos os momentos da pesquisa, que o tema

deve ser mais discutido pelos pesquisadores e pela direção da empresa. Esse assunto

despertou o interesse de todas as pessoas contactadas e ouvidas. Estas frisaram o interesse,

discorreram sobre sua importância ou sobre a necessidade de se inserir o assunto em pauta na

empresa.

No “Portal Academus”, numa apresentação da “Evolução do conceito de ética nos

negócios e nas empresas33”, encontra-se um esquema que explica a “existência de três modos

inter-relacionados de abordagem da ética no âmbito das empresas”. Esse esquema (Figura 13)

permite compreender a importância da discussão em geral nas empresas, na medida em que o

processo que permite atuar de forma ética envolve fases como: pensar sobre ética, que

envolve a parte teórica; falar sobre ética, envolvendo a parte semântica (significado das

palavras); e atuar eticamente, envolvendo a parte prática. Apesar de esse ser um esquema

simplista se comparado à complexidade do comportamento humano, ele oferece uma visão

didática do tema.

33 O site esclarece que o texto citado foi baseado no livro "Fundamentos de Ética Empresarial e Econômica" de Maria Cecília Coutinho de Arruda e outros. São Paulo, Atlas, 2001. Encontra-se disponível no site: http://www.eticaempresarial.com.br/conteudo_eticanegocios.asp, acessado em 12.05.2005.

Page 141: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

141

Figura 13: Esquema sobre “modos inter-relacionados de abordagem da ética no âmbito das

empresas”. Fonte: Portal Academus.

A possibilidade de se oferecer fóruns para discussão é importante e possibilita ainda ao

profissional se inteirar da política geral da sua área. Valls (2001, p. 69) argumenta que:

Opiniões são convicções ainda não demonstradas cientificamente, e portanto

não devem ser defendidas com fanatismo, isto é, excesso de certeza ...

Portanto, o profissional da área deve dispor-se a opinativamente pesar e

sopesar os prós e os contras dos métodos, dos procedimentos e das tecnologias

que têm de utilizar.

Complementa, dizendo que “Opinião é exatamente isso, um saber que talvez esteja

certo, mas que pode a qualquer momento ser corrigido por outra opinião melhor”. Como

exemplo de reflexão, cita um dilema atual: “quais são os prós e os contras do uso de produtos

transgênicos, e quais são, por outro lado, os prós e os contras do não uso deles?”.

Page 142: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

142

É verdade que o uso indiscriminado de novas técnicas deve ser visto com cautela e é

verdade também o contrário. Igualmente deve ser visto com cautela o não uso de técnicas que

permitirão resolver problemas de alimentação da população sem evidências ou estudos que

demonstrem ser essas técnicas prejudiciais ao homem e ao meio ambiente. Para se chegar a

respostas desse tema e de vários outros, não há como fugir à discussão com os atores

envolvidos, facilitando a troca de informações técnicas.

Nos comentários apostos nos questionários, 40 pessoas (8,13% do total) assinalaram a

necessidade de se discutir sobre o assunto na empresa, visando (serão citadas as palavras

utilizadas pelos respondentes): definição; internalização; divulgação; reflexão; ser objeto de

debate entre pesquisadores; priorização pela DE; ser objeto de discussões permanentes; ser

objeto de campanhas; constituir-se em fórum amplo de discussão; esclarecimentos;

estabelecimento de diretrizes claras; discussão em maior profundidade do tema.

É emblemática a opinião de um pesquisador, onde ele enfatiza a necessidade de se

discutir a questão ética, com a argumentação de que “Um pesquisador não pode estar focado

apenas nos aspectos técnicos da pesquisa” (Q. 448).

Criação de instâncias institucionais que permitam a interação entre a sociedade e a C&T

(44,72%)

Essa é uma questão onde fica clara a preocupação dos pesquisadores em melhorar a

comunicação entre a C&T e a sociedade. Essa também é uma reivindicação atual da

sociedade, que cada vez mais quer se inteirar dos resultados da C&T, para poder também

participar de alguma forma da tomada de decisão sobre alguns assuntos, principalmente sobre

temas polêmicos. Como declarou um pesquisador nos comentários do questionário, “A

sociedade decide, muitas vezes de forma intuitiva, se as descobertas da ciência devem ser

incluídas em seus princípios de convívio” (Q. 1).

Dessa forma, há a necessidade das organizações que trabalham com C&T de

disponibilizar informação e conhecimento dirigidos a vários segmentos da sociedade,

buscando se fazer entender, para evitar que a mídia (impressa e televisiva) promovam

determinados assuntos em demasia, em detrimento de outros.

Page 143: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

143

Houve uma discussão muito grande na sociedade, cujo ápice no Brasil se deu em

2003/2004, sobre alimentos transgênicos. Sabe-se que há ainda poucos estudos sobre os

impactos dos alimentos transgênicos no organismo humano, talvez pelo pouco tempo também

do uso dessa técnica, o que não habilita resultados conclusivos. Entretanto, sem entrar em

juízo de valor sobre esse tema, sabe-se que há técnicas que também poderiam ser igualmente

questionadas e que não despertaram na mídia tanto ou nenhum interesse. O próprio trabalho

de biotecnologia, com o melhoramento de cultivares, modifica de certa forma, as propriedades

naturais dos alimentos. Entretanto, hoje não se imagina alimentar a humanidade, com um

número crescente tanto de nascimentos como de expectativa de vida, sem esse

desenvolvimento da agricultura e pecuária.

Valls (2001, p. 68), discorrendo sobre a questão da interação entre a ciência e a ética,

entre a ciência e a filosofia, aponta duas saídas, que são:

A formação de pesquisadores anfíbios, treinados para se movimentar nos dois

âmbitos, e a criação de comitês interdisciplinares, em que gente de várias

especialidades, até mesmo movidos pela lei da simpatia que se desenvolve em

grupos específicos, acaba aprendendo a dialogar de mesmo modo objetivo,

senão fraterno.

Um fato que pode provocar mudanças nessa interação ciência e sociedade é a inserção

de empresas públicas ou privadas atuando como intermediários entre essas duas instituições,

desenvolvendo competências técnicas e de relacionamento com a sociedade, configurando-se

como verdadeiras “tradutoras entre os mundos da ciência e da tecnologia e a sociedade mais

ampla”. Dessa forma, “com essa dupla competência, elas podem angariar o respeito e a

legitimidade tanto da área científica e técnica quanto dos movimentos e organizações sociais”

(SCHWARTZMAN, 2002).

A Embrapa tem investido em formas de comunicação à sociedade dos resultados das

pesquisas realizadas, tendo uma atuação bastante ativa em ações de transferência de

tecnologia e de comunicação com a sociedade. Além disso, trabalha no sentido de reduzir o

tempo entre a produção do conhecimento e das tecnologias e sua disponibilização para os

usuários e para a sociedade em geral. Todas as unidades atuam na área de transferência de

Page 144: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

144

tecnologia e existe uma unidade que possui essa missão, que é a Embrapa Transferência de

Tecnologia, com sede em Brasília/DF. Conforme informa sua página na web34, esta unidade:

Promove a articulação intra e interinstitucional para o estabelecimento de

redes de transferência de tecnologia. A partir das redes, novos arranjos

institucionais são formados entre a Embrapa e instituições dos setores público

e privado e do terceiro setor, acelerando o processo de disponibilização dos

resultados da pesquisa junto aos diversos setores produtivos brasileiros.

Exemplos desses mecanismos são as Vitrines Tecnológicas, Unidades

Demonstrativas, Dias de Campo, Cursos de formação de Agentes

Multiplicadores, participação em exposições, dentre outras ações de

transferência de tecnologia. Na busca da promoção de novos arranjos

institucionais, a Embrapa Transferência de Tecnologia vem avançando em

programas com alto potencial catalisador do processo de transferência de

tecnologias inovadoras para o agronegócio. Exemplos dessas iniciativas são o

Programa Alimentos Seguros - PAS Campo, com foco nas boas práticas

agrícolas e agropecuárias e o Programa de Apoio ao Desenvolvimento de

Novas Empresas de Base Tecnológica Agropecuária e à Transferência de

Tecnologia - PROETA, que enfoca a incubação de empresas.

Entretanto, percebe-se ainda a necessidade de a Embrapa investir na formação de

profissionais que possam fazer a ponte entre o pesquisador e a sociedade, que possa atuar no

sentido de compreender e se inteirar das pesquisas que estão sendo realizadas e de transmitir,

comunicar estrategicamente essas pesquisas e seus resultados à sociedade e vice-versa. Dessa

forma, poderiam ser minimizados problemas enfrentados pela empresa em épocas em que são

questionadas as novas técnicas como os enfrentados, por exemplo, por ocasião do foco nos

transgênicos.

Além disso, outro passo importante seria atuar no sentido de aumentar as oportunidades

de participação da sociedade ou de segmentos da mesma, nas atividades da empresa.

34 Site da Embrapa Transferência de Tecnologia: http://www22.sede.embrapa.br/snt/aunidade.htm, acessado em 21.10.2005.

Page 145: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

145

A ética não deve ser a única questão a definir se uma pesquisa vai avançar ou não (22,36%)

Essa é uma outra preocupação recorrente nesse trabalho e que pode novamente ser

explicada pela questão da quebra de paradigmas (KUHN, 1975), já explanada no item 1.1.2.

(Relação entre ciência e sociedade).

A idéia aqui defendida pode consistir no fato de a sociedade estar em constante

mudança. Por exemplo, as vacinas, quando foram descobertas, provocaram na sociedade da

época, uma reação contrária muito forte. Entretanto hoje as vacinas são consideradas

fundamentais para se evitar várias doenças, como também para a erradicação total das

mesmas. No mundo atual, deixar de vacinar crianças é que é considerado como uma atitude

contrária a princípios éticos.

A ética na pesquisa não deve servir a outros objetivos (16,87%)

Essa preocupação dos pesquisadores, com o fato de a ética na pesquisa não servir a

outros objetivos, como por exemplo, limitar a ação dos países em desenvolvimento, parece ser

compartilhada em todo o mundo. O século XXI começou com discussões sobre clonagem

humana, e dessa vez não com base hipotética e sim real. Podem-se observar as preocupações

inclusive dos países desenvolvidos não só com relação à proibição ou não da clonagem

humana no seu país, como pela possibilidade de perder o bonde da história ou o “status

científico” do país, caso em outros países seja liberada a clonagem e no seu não. Isso remete à

competição existente entre os países, que segundo o contexto apresentado no Capítulo 1, tem

relação com a inovação (que pressupõe investimentos em P&D) e com investimentos

cumulativos em C&T, conforme explanado no item 1.3 (Julgamento da Ciência).

Além disso, durante o trabalho observou-se preocupação de alguns atores com a

utilização do termo ética como discurso social, sem nenhuma correlação com a prática ou

como desculpa para ações não amparadas tecnicamente.

Page 146: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

146

O tema ética na pesquisa está devidamente tratado na Embrapa (1,22%)

O número de pessoas que acredita que não há necessidade de outras ações na Embrapa

com relação ao tema “ética na pesquisa” é muito pequeno (seis pessoas, correspondentes a

1,22%). Em geral, a grande maioria dos profissionais ouvidos tanto na pesquisa qualitativa

quanto na quantitativa, pelas suas respostas ou declarações, contradizem essa afirmativa.

5.4. CONDUTA ÉTICA DOS NOVOS PESQUISADORES EM RELAÇÃO AOS MAIS

ANTIGOS

Na entrevista semi-estruturada havia a seguinte questão: “Você considera que há

diferenças entre os novos pesquisadores e os mais antigos, em relação a conduta ética na

pesquisa?”

A grande maioria considera que há diferenças entre os pesquisadores novos e os antigos.

Acreditam que essas diferenças podem ser observadas em vários aspectos, mas não têm

certeza que teria alguma relação com a ética e nem com a ética na pesquisa. Inferências sobre

essas diferenças há muitas, como por exemplo: maior comprometimento dos antigos para com

a empresa; diferenças na educação (os pesquisadores mais novos são educados em uma outra

realidade, tiveram educação mais liberal); os novos são mais individualistas; os novos estão

mais comprometidos com suas carreiras; os novos teriam mais essa percepção da ética por

que têm mais acesso à informação devido à tecnologia. Essa pessoa afirma que isso se deve à

internet e não a sua formação na universidade.

Apesar disso, um pesquisador que entrou na Embrapa na época de sua criação35,

afirmou que quando ele foi admitido, em 1973, já encontrou essa conversa de que eles, que na

época eram novatos, não tinham o mesmo comprometimento que os outros.

35 A Embrapa foi criada a partir do Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária (DNPEA), do Ministério da Agricultura, tendo absorvido os recursos humanos deste departamento.

Page 147: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

147

Sobre o fato de o novo pesquisador ter mais compromisso com a sua carreira,

Yeganiantz (1987, p. 103), discursa sobre a questão da diminuição da lealdade institucional e

da ascensão da profissional, que levaria a um maior envolvimento com a comunidade

profissional do que com a organizacional, conforme será explanado no próximo capítulo.

Uma pessoa argumenta, reconhecendo a diferença com base em valores: “Existe

(diferença), em relação à conduta eu não diria, mas em relação aos valores talvez. Porque isso

faz parte do nível da diferença de gerações, diferença de padrões sociais, não tanto da

Embrapa em si, mas da sociedade mesmo” (Sujeito 7).

Outra pessoa afirma que, apesar de reconhecer diferenças na administração da carreira,

não se pode afirmar nada sobre esse assunto por falta de estudos, conforme explica:

Nós conhecemos muito pouco das diferenças dos novos pesquisadores e dos

antigos, sob qualquer aspecto... Questão de produtividade, questão de

relacionamento, questão de valores, questão de comprometimento com a

empresa, de visão de carreira. Nós não conhecemos. Devíamos estudar essas

diferenças, até porque esses novos vão ser daqui a pouco 50% novos, 50%

antigos. Hoje talvez tenha aí uns 8% de novos, 10%, mas a tendência que

tenha cada vez mais novos, mas a Embrapa não conhece nada dos novos

pesquisadores. Qualquer pessoa que faz uma afirmação entre novos e antigos

é uma percepção limitadíssima. É de um novo pesquisador, talvez,

comparado, ou dois novos, ou três novos que eu conheço, comparados com

2000... Então eu acho que é difícil dar essa resposta, não acredito que

ninguém possa... porque a visão que cada um tem é muito pequena... Se a

Embrapa agregar os 500, estudar os valores, os comportamentos, as relações

desses 500 e dos outros 2000, aí você pode fazer um comparativo e dizer:

“Oh, eles são substancialmente diferentes nisso e nisso e nisso”. A gente sabe

que algumas diferenças existem entre os novos e os antigos; os novos têm uma

menor identificação com a empresa, eles estão muito mais centrados nas suas

próprias carreiras. Essas coisas a gente sabe, a percepção pelo contato e não

é só na Embrapa, é a característica da nova carreira. As carreiras são

pessoais e as carreiras dos antigos são da empresa. Acho que isso faz uma

grande diferença hoje e aí eu não estou falando de pesquisador, eu estou

falando de qualquer profissional que está em qualquer organização. Carreira

hoje é algo pessoal e as carreiras que nós fizemos eram as carreiras que as

Page 148: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

148

empresas nos davam. Hoje o conceito de carreira é outro, cada um tem a sua

própria carreira. Eu tiro a camisa da Embrapa e visto a camisa do Banco

Central, eu tiro a do Banco Central e visto a camisa de outro lugar. A relação

de carreira dos antigos é diferente, entre aspas casou com a empresa e num

casamento até que muito mais sólido, às vezes, do que os outros casamentos

lá fora, que não rompe de jeito nenhum (Sujeito 2).

Somente duas pessoas responderam afirmativamente a essa questão, ou seja, acreditam

que há diferenças em relação à conduta ética dos novos contratados. Um deles reconhece a

questão da carreira da qual o anterior falou, entretanto acredita que esse fator influencia a

conduta ética. O outro cita um fato ocorrido que ele computou como indicador de mudanças

nesse aspecto, conforme declarações a seguir.

“Eu acho que sim... Os pesquisadores, principalmente da Embrapa e os

empregados em geral que estão há mais tempo... eles tem um espírito

corporativo muito mais forte do que os profissionais que... entraram nesse

último concurso. A gente tem notado isso. Não têm espírito mais de corpo, de

acreditar na Embrapa, de acreditar que tem uma carreira a fazer na Empresa

e que é aí que ele vai construir a vida dele... o conceito profissional, o

currículo dele. Nós temos constatado inclusive com certa taxa três vezes

maior que a média histórica da empresa, de perda de profissionais do último

concurso. Isso mostra um pouco e também há manifestações comportamentais

que nos indica que não há esse compromisso tão grande com a Empresa. Há

um compromisso com a carreira individual e se, em algum momento, se

oferecer uma coisa melhor... Muitas vezes nós que somos da Embrapa há

mais tempo, nós recebemos propostas melhores e não saímos porque a gente

acreditava e acredita em valores, acredita em uma carreira... A gente acredita

que podemos evoluir, que se pode fazer um mestrado, um doutorado. Não

temos percebido muito isso. Há uma visão mais individualista, no sentido de

que, não estou generalizando, mas percebe-se uma tendência e é importante a

gente pegar esse sinal logo no início, que estão procurando melhorar a

carreira, fazer um pouco da carreira na Embrapa, melhorar o currículo e não

perder tempo, mas já pensando em sair, muitas vezes. Por que isso tem

influência com a ética? Claro que tem, porque se eu falo: “Olha, eu quero

ficar nessa empresa e eu quero apostar nela por 20 anos”, o outro fala “Não,

Page 149: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

149

eu quero apostar nela por dois anos”, aí ele pode rifar coisas que seriam de

interesse da corporação, numa perspectiva individual, enquanto que o outro

“Eu não vou botar meu individual à frente, porque a médio e a longo prazo eu

perco”. Tem diferença importante” (Sujeito 15).

“Há diferenças entre os novos e os pesquisadores mais antigos. Os antigos

têm uma profunda visão de que fazem parte da história da Embrapa e lutam

para manter o seu desempenho institucional, a sua imagem etc. Por quê?

Creio que a visão de uma empresa pública é diferente, o contexto

contemporâneo é diferente, refletindo num mercado de trabalho que valoriza

muito o individualismo e a competição. Um indicador dessa mudança: em

uma das campanhas salariais recentes foi proposto (pelos empregados mais

novos) até sabotar experimentos e projetos de pesquisa como forma de

mostrar insatisfação e a disposição no embate empregado x empregador. Esse

tipo de proposta era inimaginável em épocas passadas, tal era o orgulho que

os empregados tinham da instituição. Além disso, vale lembrar que enquanto

os empregados do passado tinham a idéia de pertencimento em relação à

Embrapa, os novos empregados já não possuem esse sentimento: podem ir

embora a qualquer momento, sem nenhum sentimento de perda” (Sujeito 18).

Acredita-se que essas afirmações são graves e que a Embrapa poderá investigar melhor

essa variável, uma vez que a empresa está em processo de renovação do quadro de pessoal.

Estudos sobre esse assunto poderão subsidiar políticas de recursos humanos.

No estudo realizado na área médica, com pesquisadores dos Institutos Nacionais de

Saúde (NIH) dos EUA, sobre má-fé na ciência, já citado anteriormente (NOGUEIRA, 2005),

os pesquisadores foram divididos em dois grupos: os que estavam em início de carreira e os

que se posicionavam no meio da carreira. Observou-se neste estudo que “os pesquisadores

experientes (média etária de 44 anos) se mostraram menos éticos que seus colegas

principiantes (com, em média, 35 anos)”. Apontam como possíveis razões “o fato de que os

cientistas mais experientes já conhecem melhor o sistema e têm menos medo de serem pegos,

ou o fato de que cientistas mais jovens se delataram menos nos formulários, com medo de

serem expostos”. O estudo citado, pela sua amplitude (3.247 sujeitos), mostrou que a idade e,

Page 150: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

150

por inferência, tempo de trabalho, não necessariamente é indutora de procedimentos éticos,

pelo menos na área médica dos EUA, em relação àquela população estudada.

Uma afirmação de Kuhn, um filósofo da ciência, traduzida por Dutra (1999), mostra a

importância da interação entre os cientistas jovens e os membros mais antigos:

Kuhn procura mostrar de que modo, nas ciências naturais maduras, a educação

científica leva o candidato a cientista a se incorporar a uma comunidade de

investigadores. Essa comunidade possui determinados padrões de

comportamento em face do saber e de sua prática investigativa. O jovem

cientista estará formado no momento em que for capaz de se comportar do

mesmo modo que os membros mais antigos daquela comunidade.

Essa afirmação outorga aos pesquisadores antigos uma grande responsabilidade, na

medida em que estes são responsáveis pelo início de uma formação profissional dos novos

pesquisadores, constituindo-se em modelos. Também atribui à empresa responsabilidade, na

medida em que essa fase é fundamental, para realinhamento da cultura da empresa e para

incorporação de novos valores. Exige ainda dos novos pesquisadores uma postura de

aprendiz.

Ainda em relação à diferença entre os novos e os pesquisadores mais antigos, a título de

conclusão desse assunto, segue uma declaração:

Acho que com relação à ética na pesquisa não. Há com relação a valores

novos, são valores morais, valores sociais, que são novos, mas que fazem

parte da própria evolução humana. Mas quando você parte para questão da

ética, usando... conceitos... “não fazer nada para outro que não quero que

faça para mim”... Eu acho que nesse extremo os novos, ao se relacionarem

com os mais antigos, eles percebem a importância dos valores que são éticos,

pertinentes àquele grupo. É extremamente importante que os novos

pesquisadores se aproximem dos mais velhos, porque os mais velhos

passaram às vezes por muitas situações em que eles ainda irão passar, que

são desses conflitos éticos, que são dos conflitos do conhecimento, que em

muitas ocasiões eles tiveram que romper para poder avançar no

Page 151: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

151

conhecimento. Essa aproximação é extremamente salutar e desejável que

aconteça, para que a empresa continue evoluindo e tendo um corpo técnico

profissional competente e responsável (Sujeito 12).

Nos comentários da pesquisa quantitativa, há duas afirmações sobre a importância de se

divulgar a conduta ética da empresa para os novos contratados. Há também um sentimento

expresso por um pesquisador sobre a falta de respeito demonstrada por pesquisadores mais

novos pela bagagem de conhecimento e experiência dos mais antigos.

A ética de cada pessoa é reflexo da moral de conduta. O respeito ao

conhecimento e experiência dos pesquisadores mais antigos nem

sempre é levado em conta pelos mais novos. Falta ética no

desenvolvimento das pesquisas (Q. 379).

O sistema de “gestão de conhecimentos” prevê atuação no sentido da troca de

conhecimentos entre os novos e mais antigos pesquisadores.

5.5. INFLUÊNCIA OU INTERFERÊNCIA POLÍTICA NA ATIVIDADE DE

PESQUISA NA EMBRAPA

Na entrevista semi-estruturada, quando perguntados sobre se o entrevistado já havia

sentido influência ou interferência política na sua atividade de pesquisa na Embrapa, dos 18

que responderam a essa questão, sete deles disseram não ter sentido, porém onze respondentes

disseram que sim.

Entretanto, percebeu-se que essa pergunta foi entendida de diferentes formas pelos

entrevistados. Em geral, entendem influência política como natural, uma vez que a Embrapa é

uma empresa pública e como tal deve respeitar as diretrizes do governo federal. Com relação

a interferência política, consideraram-na como negativa. As declarações a seguir, comprovam

essa avaliação.

Page 152: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

152

“Se a interferência ou influência política é de política governamental, isso é

normal que aconteça. Cada governo tem uma estratégia, uma proposta, e a

Embrapa tem que se adequar às grandes linhas políticas. Em diversos

momentos da nossa história nós tivemos essa adequação. Num primeiro

momento da Embrapa, tinha toda uma política de governo que era voltada

para substituição de importação. Então o foco de pesquisa estava em cima de

produtos que eram importados e que deveriam ser substituídos no mercado

nacional. Então tem toda uma trajetória nisso. Mais recentemente, com a

orientação política de atender as populações mais carentes, com os

programas de agricultura familiar, fome zero, esses programas bem focados

no governo, evidentemente que a empresa também volta, por orientação

política, para esses grandes programas. Agora, quando a gente fala na

política partidária ou na pressão de políticos no resultado de pesquisa ou

atividade de pesquisa, eu particularmente nunca senti. Senti sim essas

grandes políticas nacionais, que eu acho que são legítimas” (Sujeito 12).

“Se o contexto é das políticas que a empresa estabelece, sim, você tem

interferência porque nem sempre todas as decisões que a empresa estabelece,

que a empresa define, são decisões que você esteja inteiramente à vontade.

Então há uma interferência, uma influência sim. Uma série de ações que você

implementa, talvez não fossem as ações que você acharia que são as mais

adequadas. São corretas dentro do poder que a empresa tem de determinar a

sua política, mas não é aquela questão que eu considero a mais adequada.

Então há influência sim, claro que há, entendida a influencia sobre essa

ótica” (Sujeito 2).

Apesar de reconhecer que a condição de empresa pública sujeita a Embrapa às diretrizes

governamentais, esse entrevistado exterioriza seu sentimento em relação às mudanças de

orientação governamental e às mudanças “ideológicas”.

“Eu acho que política partidária, política específica não. Sofre influência em

função de mudanças de orientação governamental. Isso sofremos

recentemente. Leva para um foco muito forte, para um tipo de público e que

houve uma pressão ideológica ‘A Embrapa não trabalha com o pequeno

Page 153: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

153

produtor’. Sempre trabalhou, agora não ficou levantando a bandeira de que

era só isso. O grande problema na política são as questões de natureza

ideológica. Num determinado momento focar apenas num aspecto que aquela

ideologia dominante, por questões de natureza política, está querendo

favorecer, e que nem sempre ela representa uma realidade. Ela representa, às

vezes, um viés ideológico de um grupo que desconhece uma realidade, ou que

tem uma visão totalmente distorcida da realidade, e que acha que aquela é a

solução do mundo. Então, só fazer isso para aquele foco. Isso não é verdade,

Às vezes, nesse ponto, a empresa como um todo é pressionada. E ela tem

conseguido nesses anos todos superar essas questões. Não que ela não seja

pressionada ou que não haja esse tipo de tentativa, até mesmo de cerceamento

das opções da empresa. Mas ela tem conseguido superar essas questões,

mostrando que atua em diferentes frentes... O grande problema, e isso já

aconteceu na Embrapa, é quando a discussão sai do campo científico e passa

só para o campo ideológico. Aí a empresa morre. Mas ela já passou por essas

situações, onde houve essa discussão apenas ideológica, mas ela conseguiu

avançar. O problema é ela ficar estagnada nas discussões meramente

ideológicas e a ciência e a pesquisa acabam sendo influenciados

negativamente. Ela passou por essas situações, mas conseguiu avançar e está

se mantendo ainda extremamente produtiva para a sociedade de um modo

geral” (Sujeito 12).

Entre os que disseram não a essa pergunta, que não sentiram interferência ou influência

política na sua atividade de pesquisa, em número de sete, declaram da seguinte forma: “Não,

não senti. Eu senti tentativas de influência, mas que não foram, não chegaram ao ponto de me

colocarem contra a parede. Eu jamais fui colocado contra a parede” (Sujeito 4) e “Como todos

os demais também. Você nunca está livre disso. Agora, de política rasteira, essa política

partidária, isso não” (Sujeito 6).

Alguns entrevistados acreditam que a Embrapa nesse ponto é até privilegiada por sofrer

muito pouca influência política, como pode ser confirmado nas falas a seguir.

“A gente percebe que a Embrapa até certo ponto é um pouco protegida contra

influências políticas. Quando eu digo influência, é influência político-

partidária. Nós temos influência de política de governo. Eu acho que isso aí é

Page 154: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

154

importante para Embrapa. É uma empresa do governo e precisa estar

vinculada e atender esses anseios de uma política maior” (Sujeito 10).

“A Embrapa dá muita liberdade e nós somos privilegiados porque tem

mudanças e mais mudanças de governo e a Embrapa sempre teve um respeito

muito grande de quem faz política nesse país” (Sujeito 5).

“A gente pode dizer que a Embrapa é uma instituição que, de uma forma

agregada, tem pouca influência, tem sofrido pouca influência política... Mas

não que isso venha afetar diretamente os projetos de pesquisa, ou andamentos

da execução dos projetos de pesquisa” (Sujeito 7).

“Olha, dizer que não há influência ou interferência política também seria

outro exagero. Porque nós não vivemos em um mundo à parte, nós vivemos

em um mundo real. Então, não deixa de haver algumas interferências. Agora,

cabe a direção da instituição, aos gestores desta instituição, separar ou tentar

separar, ou proteger, da melhor forma possível, para que a influência seja a

menor possível. Isso daí eu acho que a Embrapa tem feito com competência.

Tem havido uma compreensão por partes dos políticos e de modo geral a

interferência política não tem sido realmente algo que agente possa dizer que

tenha prejudicado as ações da Embrapa ao longo dos anos” (Sujeito 13).

Outro entrevistado sentiu interferência no atual governo, tendo relatado dessa maneira:

Eu trabalhei na Embrapa desde 1977, portanto desde a época da ditadura

militar. E de 1977 até 2002 eu nunca havia sentido nenhuma interferência

política na minha atividade na Embrapa... Tanto que colegas meus, de direita

ou de esquerda eram contemplados e integravam equipes em igualdade de

condição com outros colegas e nunca lhes foi perguntado a qual partido ou a

qual religião pertenciam. E no atual governo isso ocorreu. E, no meu ponto

de vista, foi um retrocesso muito grande, porque eu acho que uma instituição

de pesquisa, ela não pode ter como limitante um problema... ideológico ou

político. Ela tem que fazer o que é preciso fazer para o avanço da ciência e da

Page 155: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

155

tecnologia, atendendo seu objetivo social, vamos dizer assim. Infelizmente no

último governo houve sim a partidarização da Embrapa (Sujeito 14).

Outro entrevistado acredita que há uma interferência com relação à política interna da

Empresa, quando afirma: “Há um certo tipo de cerceamento que se traduz numa classificação

informal de classes de pesquisadores” (Sujeito 17).

A importância das normas na minimização de problemas dessa natureza é assinalada por

um entrevistado:

Como qualquer instituição pública, a Embrapa sofre pressões de ordem

política que podem interferir na sua atividade de pesquisa. Todavia, isso vem

sendo minimizado pelo estabelecimento de normas internas de funcionamento,

que possam ser extensão da legislação vigente. Um exemplo: toda a

contratação de pesquisadores e do quadro de empregados em geral é por

concurso público. O mesmo acontece na escolha dos dirigentes; é um

concurso de escolha de um misto de competência científica com gerencial

(Sujeito 18).

Foi perguntado também com referência ao corpo de pesquisadores em geral, se o

entrevistado acreditava que o pesquisador da Embrapa sofre influência ou interferência

política na sua atividade de pesquisa. Os resultados se mostram semelhantes, ou seja, quem

diz que não sentiu influência ou interferência política acha que os outros também não

sofreram, com exceção de três entrevistados que, apesar de não terem sentido, acreditam que

os outros sofreram influência ou interferência política. Em geral, as opiniões coincidem com

as da questão anterior.

Dado esse resultado na pesquisa qualitativa, esse tema não se mostrou suficientemente

consubstanciado para fazer parte dos assuntos que seriam pesquisados no questionário.

Entretanto, nos comentários, surgiram preocupações com os seguintes temas: “Partidarização

política que se acentuou no Governo Lula, plágio das idéias, dificuldade de discutir ‘temas

sensíveis’, coação moral etc.” (Q. 183); “Separar ética de convicções políticas” (Q. 188) e

“Não misturar ideologia política com ética de pesquisa” (Q. 249).

Page 156: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

156

6. OPINIÃO DOS ATORES SOBRE AS NORMAS DE ÉTICA NA

PESQUISA NA EMBRAPA

Esse capítulo discorre sobre a percepção dos pesquisadores e do grupo de formadores de

opinião com relação as normas de ética na pesquisa na Embrapa.

Aborda-se os seguintes itens: em que os pesquisadores se baseiam em relação aos

princípios éticos na execução da pesquisa; conflitos entre princípios pessoais e atividade de

pesquisa na Embrapa; interface dos sistemas de avaliação com a questão da ética; princípios

ou questões éticas na pesquisa agropecuária; cumprimento pelos pesquisadores dos princípios

éticos na pesquisa; como o grupo de formadores de opinião percebe a ética na pesquisa e as

normas de ética na pesquisa na Embrapa; normas de ética como elemento que influencia a

atividade dos pesquisadores da Embrapa; normas sobre restituição de resultados de pesquisa

ou direito de propriedade às comunidades objeto da pesquisa; e temas solidários. Este último

item aborda questões que não se referiam diretamente ao tema proposto por esse trabalho, mas

que surgiram no decorrer do mesmo.

6.1. PRINCÍPIOS ÉTICOS EM QUE OS PESQUISADORES SE BASEIAM NA

EXECUÇÃO DA PESQUISA

Questionados sobre “Com relação aos princípios éticos na execução da pesquisa, você

se baseia em:”, a grande maioria 85,16% (419 pessoas) respondeu que se baseia em seu

código de ética pessoal (princípios pessoais). Como essa questão permitia assinalar mais de

uma resposta, 55,49% (273 pessoas), responderam se basear no código de ética de sua

profissão, seguidos do Código de Ética da Embrapa, com 46,95% (231 pessoas); Código de

Ética do Servidor Público, com 16,26% (80 pessoas); e “na ética da sua religião”, com

14,84% (73 pessoas). Acreditam que no trabalho de pesquisa não há necessidade de se

considerar princípios éticos, 0,6% (três pessoas), conforme pode ser visualizado na Figura 14.

Page 157: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

157

Outras 4,27% (21 pessoas) deram outros tipos de respostas, as mais diversas, das quais

se destaca: “Faço sempre uma reflexão sobre os resultados previsíveis da minha atitude ou da

minha pesquisa no todo social, tento sempre ser ético. Ter liberdade, mas com

responsabilidade e consciência.” (Q. 370).

419

273231

80 7321 3

050

100150200250300350400450

1

Princípios Éticos Código de ética pessoal

Código de ética daprofissão

Código de Ética daEmbrapa

Código de Ética doServidor Público

Ética da religião

Outros

Não há necessidade de seconsiderar princípios éticosno trabalho de pesquisa

Figura 14: Princípios éticos em que os pesquisadores se baseiam na execução da pesquisa, em

número de respostas

Encontram-se, a seguir, as afirmativas oferecidas no questionário, seguidas do

percentual de respostas e de maiores dados ou de análises sobre as mesmas.

Código de ética pessoal - princípios pessoais (85,16%)

A conduta das pessoas é baseada em princípios em que esta acredita e que defende. Um

código de ética pessoal se constitui em uma série de princípios e valores nos quais seu

comportamento é baseado. Suas ações são julgadas por esse código individual, conduzindo-as

ao que se considere justo e correto e a deixa “com a consciência tranqüila”. Dessa forma, em

Page 158: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

158

tese, o comportamento individual de cada pessoa manifestaria os seus valores e princípios.

Nem sempre, porém, os atos das pessoas são resultados de grandes reflexões, pois a maioria

dos seus princípios já estão internalizados e são manifestados naturalmente em suas ações.

O código de ética pessoal é formado ao longo da vida, podendo haver mudanças em

alguns aspectos a qualquer tempo, decorrentes de novas reflexões sobre algum tema. Esse

código reflete o sistema de valores da pessoa. Como é formado o nosso sistema de valores?

Robbins (1999, p. 87) afirma que “uma porção significativa é determinada geneticamente. O

resto é atribuído a fatores como cultura nacional, imposição familiar, professores, amigos e

influências ambientais semelhantes”. Acrescenta que “Esse sistema é identificado pela

importância relativa que destinamos a esses valores como liberdade, prazer, amor-próprio,

honestidade, obediência e igualdade”.

Esse código é importante para que se possa buscar a integridade da conduta ética, visto

que no dia a dia a pessoa está exposta a fragmentações como: conduta familiar, conduta

profissional, conduta institucional, conduta religiosa e outras.

Quando uma pessoa se depara com um outro código de conduta, como por exemplo, um

código institucional ou com um sistema de valores institucional, estes são comparados com a

sua ética pessoal e se inicia um processo de adaptação ou acomodação. Caso os valores

embutidos no código ou na cultura da instituição sejam muito diferentes daqueles em que a

pessoa acredita, e caso haja muitos conflitos de valores e não seja possível a interferência do

indivíduo para mudança desses valores, pode haver uma não adaptação da pessoa ao trabalho

ou a instituição.

O alto índice de respostas a essa alternativa, 85,16%, é perfeitamente compreensível, na

medida em que até em nossas pequenas ações recorre-se a esse sistema de valores individuais.

É também desejável, uma vez que para que se viva bem, é necessário estar em paz consigo

mesmo. Entretanto, o Código de Ética Pessoal, sendo individual, não necessariamente tem

que ter firme compromisso com o bem comum (ética geral) ou com a missão da instituição

(ética institucional) ou com qualquer outra dimensão relacionada ao outro ou à instituição.

Ainda mais evocando a questão do “livre arbítrio”, que parece um atributo do ser humano,

que o deixa muito à vontade para tomar decisões no plano individual.

Na tentativa de explicar esse resultado, pode acontecer de, por falta de conhecimento do

Código de Ética da Embrapa, que é uma norma institucionalizada, os pesquisadores tenham

Page 159: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

159

que recorrer à instância pessoal, para balizar suas ações na condução da pesquisa. Nesse caso,

torna-se necessária a intervenção da empresa nesse assunto, para oferecer ou divulgar melhor

seu sistema de valores, que certamente foi resultado de um envolvimento maior de

empregados, visando objetivos gerais, que um sistema de valores individual pode não

contemplar. Além disso, esse procedimento poderia contribuir para a redução de conflitos de

interesses entre o pessoal e o institucional, entre o público e o privado.

Código de Ética Profissional (55,49%)

Toda profissão possui um código de ética, que regula a ação dos profissionais

pertencentes àquela classe.

Yeganiantz (1987, p. 103), em um artigo sobre a ética na administração da pesquisa,

discursa sobre a ascensão da ética profissional:

Como a necessidade de coerção decresce com a maturidade da civilização, as

novas formas de organização, que substituirão as burocracias tradicionais,

terão que levar em conta a diminuição da ética de lealdade institucional e a

ascensão de ética profissional. Haverá maior envolvimento do profissional na

comunidade profissional, do que seu envolvimento na organização que o

emprega... Como resultado, o estímulo do trabalho e a convivência com as

oportunidades de construir através da pesquisa devem ser baseados não só no

método científico, mas também na ética profissional.

Caso essa previsão se configure, há a necessidade das empresas buscarem meios de

atuar não só na ética institucional como também na ética profissional, incentivando a

interação dos profissionais com sua classe.

Page 160: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

160

Código de Ética da Embrapa (46,95%)

Nessa questão, 46,95% (231 pessoas) responderam que baseiam seus princípios éticos

na execução da pesquisa nesse código. Esse resultado é muito reconfortante para a empresa,

uma vez que esse documento foi publicado no início do ano de 2005 e que o tema não passou

por um processo de divulgação maciça e nem foram implementadas estratégias para sua

internalização e acompanhamento.

Houve também uma outra questão destinada a identificar o conhecimento ou não desse

código pelos pesquisadores. Eles foram questionados quanto ao conhecimento do Código de

Ética da Embrapa, objeto da Deliberação nº 16, de 17.12.2004, publicado no BCA nº 02/2005,

de 10.01.2005. Dos respondentes, a grande maioria, 41% (201 pessoas) respondeu

desconhecer o código. Já 38% (188 pessoas) afirmaram que o conhecem superficialmente.

Outros 8% (37 pessoas) afirmaram que conhecem somente os itens que se referem a pesquisa.

Quem declarou que conhece todo o seu conteúdo foi apenas 13% dos respondentes (66

pessoas), conforme Figura 15.

Conhecimento do Código de Ética da Embrapa

41%

38%

13%

8% Não conhece

Conhecesuperficialmente

Conhece todo oseu conteúdo

Conhece somenteos itens que sereferem a pesquisa

Figura 15: Pesquisadores que conhecem o Código de Ética da Embrapa, em percentual

Page 161: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

161

Por meio de análises realizadas, nota-se que dos 231 pesquisadores que responderam

que se baseiam no Código de Ética da Embrapa, 41 (17,71%), afirmam não conhecê-lo na

questão posterior, que questionava sobre o conhecimento ou não do referido código. Dessa

forma, refazendo os cálculos, tem-se que 38,62%, ou 190 pesquisadores baseiam seus

princípios éticos na execução da pesquisa no Código de Ética da Embrapa.

Como explicação para esse fato, pode-se recorrer à questão da “desejabilidade social”,

que é um termo utilizado na psicologia que explica a tendência que algumas pessoas têm de,

na hora de responder a pesquisas por meio de questionários, darem a resposta que elas

acreditam ser a mais socialmente aceita. Isso pode ocorrer por várias razões, dentre elas, o

fato de a pessoa querer repassar uma imagem melhor de si mesma ou da instituição em que

trabalha. Há temas, entretanto, onde a ocorrência desse fenômeno é maior. Dentre eles, pode-

se inferir o tema da ética, uma vez que este está relacionado com valores considerados nobres

pela maioria dos seres humanos. Esse fenômeno pode ter ocorrido em outros resultados

apresentados nesta pesquisa.

Fazendo uma avaliação desses números, conclui-se que 87% dos respondentes (426

pessoas) não conhecem o Código de Ética da Embrapa em sua totalidade (41% que o

desconhecem; 38% que o conhecem superficialmente e 8% que conhecem apenas os itens

referentes a ética na pesquisa).

Na pesquisa qualitativa não se encontrou resultado muito diferente. Dos 21

entrevistados, apenas quatro pessoas declararam conhecer o Código de Ética da Embrapa,

apesar de 17 estarem trabalhando na Embrapa normalmente. Outro resultado surpreendente é

que mesmo o código sendo novidade, dos onze chefes participantes das entrevistas, apenas

dois declararam conhecê-lo, ou seja, os chefes como representantes da empresa, desconhecem

uma norma da empresa sobre ética. Especulando sobre esse resultado, tem-se tanto o fato de

não se dar ao assunto a importância devida, como também o fato das pessoas já terem a

segurança da sua ética.

Com relação aos quatro que conheciam, três emitiram opiniões, como: o código não está

internalizado ainda; é bastante genérico; é bastante geral, precisa ser mais específico com

relação à pesquisa; foi pouco divulgado e não está implementado efetivamente.

Page 162: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

162

Um dos entrevistados sugere a necessidade de uma consolidação dos códigos a que o

pesquisador da Embrapa está sujeito, conforme declaração a seguir.

Eu acho que precisa ter alguma coisa, um código de ética estabelecido pela

Embrapa, de uma maneira mais clara, entende? Com isso, eu não quero dizer

que a Embrapa não tem que código de ética, não. Eu acho que ela tem vários

códigos de ética. Tem código de ética dos empregados, tem código de ética do

relacionamento dos empregados com a sociedade etc. Esses códigos não

estão bem feitos e não estão bem divulgados. Você é funcionário da Embrapa

você sabe que se você fizer certas coisas você vai embora. Então tem leis

gerais do país, e tem coisas específicas da Embrapa. Agora, essas coisas, no

meu modo de entender, não estão primeiro devidamente formuladas. Não

estão devidamente divulgadas e são de muitas naturezas. Eu acho que nós

precisamos de um uma coisa parecida com uma consolidação desses vários

códigos de ética da Embrapa, de modo que seja mais fácil para o pesquisador

saber o rio que ele está navegando (Sujeito 4).

Essa reivindicação é legítima e desejável, na medida em que permitiria ao pesquisador e

aos outros profissionais saber claramente o que a empresa e o país esperam dele como

servidor público. Também para a empresa seria um importante instrumento facilitador da

gestão de seus recursos humanos.

Outras opiniões surgiram também nos comentários dos questionários, considerando o

código muito vago (Q. 83); aborda apenas superficialmente a questão da ética na pesquisa (Q.

435).

Sobre esse mesmo código, há sugestões como: “Fazer ampla divulgação” (Q. 267);

“Maior divulgação entre os pesquisadores” (Q. 136); “A Embrapa deve exercitar seu próprio

código de ética” (Q. 354); “Internalizar a proposta aprovada e aperfeiçoar” (Q. 492); “O

código de ética da Embrapa, em vigor, precisa ser exercitado/implementado para depois

melhorar. Não há experiência sobre o assunto na Embrapa” (Q. 492).

Outro pesquisador lembrou uma questão interessante: “O Código da Embrapa não foi

discutido pela sociedade. Sugiro o envolvimento dos CAEs de cada unidade na construção de

códigos descentralizados, que subsidiarão um nacional participativo” (Q. 83).

Page 163: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

163

Interessante que duas pessoas declararam não conhecer o código, mas se interessaram

por conhecê-lo após tomarem conhecimento desta pesquisa, conforme as declarações:

“Desconhecia o BCA 02/2005. Faltou divulgação do documento e/ou atenção da minha parte

quando ocorreu a divulgação. Contudo, após leitura deste questionário, procurei rapidamente

a Deliberação 16/2004 no site da Embrapa...” (Q. 108) e “Gostaria apenas de informar que

vou buscar o BCA 02/05 para me inteirar do conteúdo do Código de Ética da Embrapa. Sei da

sua existência, admito sua importância, mas ainda não dediquei o tempo devido ao assunto”

(Q. 489).

Código de Ética do Servidor Público (16,26%)

Afirmam basear seus princípios éticos na execução da pesquisa no “Código de Ética

Profissional do Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal” 16,26% dos respondentes

(80 pessoas). Esse código foi aprovado pelo Decreto 1.171, de 22.06.94 e é destinado ao

Servidor Público Civil do Poder Executivo Federal. Dessa forma, estende-se aos empregados

da Embrapa, uma vez que essa é uma empresa pública.

Esse código é dividido em dois capítulos, sendo o primeiro constituído de: a) das regras

deontológicas; b) dos principais deveres do servidor público; e c) das vedações ao servidor

público. A parte que trata das regras deontológicas, no Capítulo I, Seção 1, §II, estabelece

que:

O servidor público não poderá jamais desprezar o elemento ético de sua

conduta. Assim, não terá que decidir somente entre o legal e o ilegal, o justo e

o injusto, o conveniente e o inconveniente, o oportuno e o inoportuno, mas

principalmente entre o honesto e o desonesto, consoante as regras contidas no

art. 37, caput e § 4º, da Constituição Federal.

O referido código faz uma distinção entre conduta ética, que se refere a honestidade e

conduta legal, justa, conveniente e oportuna. O § III, desse mesmo capítulo, estabelece que:

Page 164: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

164

A moralidade da Administração Pública não se limita à distinção entre o bem

e o mal, devendo ser acrescida da idéia de que o fim é sempre o bem comum.

O equilíbrio entre a legalidade e a finalidade, na conduta do servidor público,

é que poderá consolidar a moralidade do ato administrativo.

O segundo capítulo trata das comissões de ética, enfocando sua criação e

funcionamento.

Analisando o Código de Ética do Servidor Público, observa-se que ele é constituído de

orientações gerais com relação à conduta do servidor público e não se refere diretamente à

atividade de pesquisa e apesar disso, conta-se com tantos pesquisadores que o conhecem e se

baseiam nele.

Outro aspecto a se surpreender positivamente é que na Embrapa não se tem registro da

distribuição desse documento para os empregados ou para as unidades. Apesar disso, esses 80

pesquisadores afirmam conhecê-lo e segui-lo no exercício de seu trabalho de pesquisa.

Esse resultado lembra novamente a questão da “desejabilidade social”, já explanado no

item anterior (Código de Ética da Embrapa).

Ética da Religião (14,84%)

Quando se fala em ética da religião, 14,84% (73 pessoas) afirmam que se baseiam nessa

ética. Esse resultado parece reconfortante, à luz da opinião de Mondin (1980, p. 79), que

afirma:

A religião, com efeito, é um fenômeno real, típico do homem, porém é

também um fenômeno muito problemático e – ousarei dizer – o mais

problemático de todos. Isso por um motivo bastante claro: enquanto todas as

outras atividades humanas (embora sejam problemáticas) referem-se a objetos

cuja existência está fora de discussão, a atividade religiosa, ao contrário,

dirige-se a um objeto do qual até sua existência é colocada em questão.

Page 165: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

165

Entretanto, esse resultado é inferior, em termos percentuais, às respostas a questões

similares da pesquisa qualitativa (entrevistas com o grupo de formadores de opinião). Estes,

quando perguntados sobre “Sua vinculação religiosa influencia a sua atividade de pesquisa?”,

12 entrevistados responderam que não, sendo destes, três responderam que não tinham

religião e três declararam não ter forte vinculação religiosa. Outros seis responderam que sim,

que a sua vinculação religiosa inflencia a sua atividade de pesquisa. Uma pessoa respondeu

que não sabe porque nunca ficou exposto a uma situação limite.

Havia outra pergunta na entrevista que questionava sobre o mesmo assunto, referindo-se

ao que o pesquisador pensava sobre seus pares. A questão era “Você acha que diferentes

vinculações religiosas influenciam a atividade de pesquisa do pesquisador da Embrapa?”.

O resultado desse questionamento foi que oito pesquisadores responderam que não;

quatro acham que pode sim influenciar, seis acham que influencia, um acha que não deveria

influenciar e um respondeu que não sabe. Interessante que nessa questão não necessariamente

se encontra correlação entre o que o pesquisador responde sobre si e o que ele responde sobre

seus pares. Dos respondentes, apenas a metade deu respostas semelhantes a essas duas

perguntas, sobre o que ele pensa e sobre o que ele pensa dos outros.

Dessa forma, obtêm-se um resultado diferente daquele obtido no questionário. Nas

entrevistas, a questão da religião teve um peso bem mais alto.

Quanto aos que disseram não, que a vinculação religiosa não influencia a atividade de

pesquisa, alguns justificaram o fato de o Brasil não ter fanatismos religiosos como se vê em

outros países e que na Embrapa também não há radicalismos religiosos, ou que o tipo de

pesquisa que a empresa realiza não vai de encontro a padrões religiosos, ou ainda que “Com

planta você não tem tanto problema, mas com o ser humano isso fica muito mais forte”

(Sujeito 11).

Há uma pessoa que acredita que hoje não influencia, mas prevê um conflito religioso no

futuro:

É possível que na mudança que nós estamos vivendo de hoje para frente,

possamos vir a ter algum conflito religioso, na medida em que certamente

Page 166: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

166

avançaremos nessas áreas que têm um conflito religioso mais complexo, que é

o desenvolvimento de conhecimentos de biologia molecular, de genética mais

avançada, de biotécnicas. Quando nós entramos nesse campo de biologia

avançada, nós certamente começamos a até certo ponto ter um conflito com

dogmas e com conceitos de religião. É possível que passe a ter algo daqui

para frente” (Sujeito 10).

Dos que acreditam que a vinculação religiosa influencia a atividade de pesquisa, alguns

justificam o fato de o homem ser um todo, não sendo possível separá-lo em partes, conforme

declaração a seguir.

Eu acho que influencia... Não existe isso, a hipótese de você pegar e separar o

gerente daquele que tem convicções religiosas, o trabalho de casa do trabalho

daqui, a relação de casa da relação do trabalho. Essas coisas formam um

todo, então a minha vinculação influencia sim, com toda certeza (Sujeito 2).

Outro pesquisador discursa sobre o tipo de influência que a sua religião exerce e

exerceu na sua vida:

Minha vinculação religiosa influencia a minha vida toda... Agora não

influencia a escolha do projeto de pesquisa. Influencia o tipo de trabalho que

eu escolho... As religiões ao contrário do que se imaginam, elas raramente

dizem que você não deva fazer uma coisa. Elas são muito flexíveis em relação

às coisas que a gente deve fazer aqui no mundo... A religião católica, por

exemplo, ela diz que eu tenho que amar os outros, agora como amar os outros

é uma escolha minha, eu tenho que saber fazer essa escolha. Então ela tem

uma influência muito grande porque afinal de contas eu vivo a minha religião

e as coisas que eu procuro falar e fazer e as atitudes que eu tomo em relação

a outras pessoas são muito influenciadas pelo tipo de espiritualismo que eu

estou ligado. Portanto, isso tem uma influência grande... porque eu decidi

trabalhar na extensão rural, porque eu decidi trabalhar aqui na Embrapa,

nessas coisas todas, a minha religião pesou. Agora o que eu faço aqui dentro

da Embrapa e o que eu fiz dentro da extensão rural, a religião apenas foi um

Page 167: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

167

guia de caráter geral, não foi um guia específico. Quando as coisas

específicas surgiram, eu tive que decidir por mim mesmo e cada religião diz

uma coisa, eu não devo tomar decisão para prejudicar os outros (Sujeito 4).

Outro acredita que não há incompatibilidade em ser cientista e ter princípios religiosos,

conforme argumenta:

Para mim não há incompatibilidade entre você ser um cidadão com princípios

religiosos e ser um ótimo cientista. A questão de Deus dentro dessa discussão,

independe da religião. Eu nunca achei impeditivo, muito pelo contrário. Eu

acho que a medida que a ciência avança provavelmente ela, mais claramente,

traz ao homem a presença de Deus (Sujeito 13).

Ainda dos pesquisadores que acreditam que a religião influencia a atividade de

pesquisa, há um que cita a quebra de paradigmas (o que lembra Kuhn e sua teoria) e discursa

sobre como seria hoje a humanidade caso tivesse ficado parada em dogmas da religião de

outros tempos. Argumenta sobre a necessidade de se colocar as questões religiosas de um

ponto de vista atemporal, para evitar equívocos. Continua seu raciocínio:

O ser humano não é impermeável às suas influências religiosas... Cabe a

cada um, e aí tem o livre arbítrio, decidir, no momento em que ele está

trabalhando na pesquisa, quais são os limites que ele tem que respeitar. O

fato de você ter que respeitar limites não quer dizer que você seja impedido de

fazer coisas, por que senão não há avanços na ciência... Se ela ficar restrita

a um conjunto de valores, ela não quebra paradigmas. A quebra dos

paradigmas se dá quando os valores estão em ebulição, em conflito, se

tornando insustentáveis. Aí se estabelece um novo paradigma. Esse é um

momento de crise, de sofrimento, pessoal até para os pesquisadores. Ás vezes,

as pessoas pensam que eles são de euforia, não, às vezes é um momento de

crise pessoal, porque algumas das coisas que ele acreditava, naquele

momento, ele tem que romper e passar a acreditar em coisas novas, referentes

a novas evidências. E a religião ela não é impeditiva disso. A religião é do

ponto de vista dos conceitos e não só dos dogmas religiosos. Dos conceitos

Page 168: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

168

novos que as religiões também têm que experimentar. Se ficássemos nos

dogmas da religião passada, a gente não teria descoberto o mundo. O mundo

não girava, depois era uma mesa plana. Então, essas questões religiosas têm

que ser colocadas de um ponto de vista atemporal... Se a gente for analisar a

historia da religião a gente pode ver que ela foi equivocada e continua

equivocada em muitas coisas. Esse é o ponto que acho extremamente

importante do pesquisador, quando ele está diante de evidências e que ele tem

que confrontar os seus valores morais, religiosos, e esse é um momento

dolorido. Porque ele está em choque profundo com suas crenças, com seus

valores e que tem evidências científicas que mostram o contrário. Se ele parar

ele não avançou, ele não rompeu, e aí ele deixou de contribuir socialmente. E

aí ele deixou de ser ético. A ética estaria indo oferecer aquela oportunidade

de novo conhecimento para ser discutido pela sociedade, incluindo nesse

momento, a própria crítica a ele. Porque se as evidências que ele tem

mostram que aqueles valores são equivocados naquele momento, que devem

ser ultrapassados, ele tem o dever, como cientista, de disponibilizar esse

conhecimento e ser objeto da crítica. Pode ser que aquele conhecimento não

seja totalmente correto, mas é assim que se processa a evolução. Esse é um

tema até pouco explorado. Deveria ser mais explorado (Sujeito 12).

Já outro entrevistado externou preocupação quanto à religião impondo restrições para o

avanço da ciência (Sujeito 14).

Outra pessoa acha que não deveria influenciar, entretanto acredita que a motivação do

pesquisador pode ser de ordem pessoal, inclusive religiosa. Argumenta:

A vinculação religiosa, eu acho que essa é uma decisão de foro íntimo e que

não deveria influenciar. Agora a gente sabe bem que muita gente... Então

essa é a motivação da ciência e do pesquisador, da pesquisa, que pode estar

motivada por uma razão pessoal, vamos dizer religiosa inclusive, da

curiosidade, ou porque ele acredita na teoria evolucionista. Então ele quer

realmente mostrar e provar que há evolução no processo e que isso é que é

preponderante, ou quem é criacionista, vai imaginar que tem um criador e

que em algum momento começou com esse criador e quer mostrar e provar

isso fazendo ciência. Há várias motivações... Eu respeito os valores

Page 169: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

169

individuais, as crenças, mas em ciência, em princípio, você não deve ter

crenças, não deve ter conceitos pré, seria pré-conceito, ou juízo anterior que

seria pré-juizo. Toda vez que eu tenho já um juízo ou que eu tenho um

conceito eu não estou fazendo uma boa ciência, porque, em principio, eu já

tenho uma resposta para aquilo... O cientista, o método científico, a mente

aberta, as condições abertas... para encontrar resultados que eu mesmo não

sabia, que era desconhecido. É a busca do desconhecido, de dar respostas a

coisas não respondidas ainda. Se eu já tiver uma resposta, que muitas vezes a

religião faz com quê ou mesmo a ideologia, a gente está fazendo pouca

ciência. É estar aberto para o novo, para coisa que a gente não pode nem

imaginar e que elas vão acontecer, ou podem acontecer. Então, se eu já tiver

uma resposta eu não estou fazendo muita pesquisa (Sujeito 15).

Outro pesquisador afirma que as convicções científicas é que mexeram nos seus

fundamentos religiosos (Sujeito 6).

Enfim, com o resultado da pesquisa quantitativa e com essas afirmações referentes a

pesquisa qualitativa, nota-se que essa questão merece ser explorada em outros fóruns, para

melhor compreensão do assunto.

6.2. CONFLITOS ENTRE PRINCÍPIOS PESSOAIS E ATIVIDADE DE PESQUISA

NA EMBRAPA

Foi feita a seguinte pergunta no questionário: “Você já vivenciou conflitos entre seus

princípios pessoais e sua atividade de pesquisa na Embrapa?” A maioria, ou seja, 52% (257

pessoas) responderam que não; 38% (185 pessoas) responderam que sim e 10% (50 pessoas)

responderam não se lembrar, conforme Figura 16.

Page 170: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

170

Conflitos

38%

52%

10%

Sim

Não

Não me lembro

Figura 16: Conflitos entre princípios pessoais e atividade de pesquisa na Embrapa, em

percentual

Na pesquisa qualitativa, quando questionados sobre “Você já vivenciou conflitos entre

seus princípios pessoais e sua atividade de pesquisa na Embrapa?”, a grande maioria, 14

entrevistados, não vivenciou esses conflitos. Alguns se justificaram, atribuindo esse fato às

seguintes causas: “A atividade de pesquisa na Embrapa é muito aberta”; “A Embrapa dá

liberdade de ação para os pesquisadores”; “Só os radicais têm conflitos”. Essa “liberdade”

está bem explicada na seguinte declaração:

A Embrapa sempre permitiu que os conflitos pessoais, que são de crenças,

valores, dos indivíduos quando no exercício de sua atividade, que a gente

pudesse questionar esses princípios frente às determinações da empresa.

Então, se aconteceu conflito... esses conflitos sempre foram produtivos,

porque o avanço do conhecimento gera conflitos pessoais. Aquelas crenças

que a gente tem quando a gente é adolescente e que são muito influenciadas

pela cultura vigente, à medida que a gente vai tomando conhecimento dos

avanços sociais, dos avanços econômicos, dos avanços científicos, dos

Page 171: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

171

avanços tecnológicos, elas começam a ser revistos. Então não

necessariamente o conflito é negativo. Na maioria das vezes é positivo,

porque permite você rever seus conceitos, rever seus valores e adotar novos

valores... Então se houve conflito... sempre tiveram resultado positivo, nunca

negativo, nunca no sentido de eu ter sido ou restringido na minha atividade

ou inibido por acreditar em certas coisas que a Embrapa em determinado

momento não acreditava. Ao contrario, em todos os momentos da minha

carreira profissional, quando tinha algum conhecimento ou conceito novo, e

que eu propus à empresa, estes conhecimentos e conceitos novos, embora às

vezes conflitantes com a cultura da empresa, foram aceitos e gradativamente

foram até absorvidos. Do mesmo modo aconteceu comigo: quando eu tinha

alguns conceitos arraigados, e nas discussões dentro da empresa, esses

conceitos foram modificados. Porque aquele conceito que existia dentro da

Embrapa, ou ele era mais adequado que o meu, quando nos momentos que eu

modifiquei os meus conceitos, ou ele era menos adequado do que os meus no

momento que eu propus conceitos e a comunidade aceitou. Acho que isso é

parte da dinâmica, que acho muito salutar, da própria Embrapa (Sujeito 12).

Alguns atribuíram também ao tipo de trabalho “genética animal, melhoramento de

plantas” que desenvolvem que não dá margem a conflitos dessa natureza.

Dos sete que declararam ter passado por conflitos, dois citaram a atividade de

gerenciamento, que, segundo eles, pode trazer ou não conseqüências para a atividade fim da

empresa, que é a atividade de pesquisa.

Um entrevistado citou um conflito pessoal, onde foi obrigado a trabalhar num programa

que discordava politicamente e eticamente. Nesse caso, o pesquisador, após considerar até

pedir demissão, resolveu trabalhar efetivamente no programa, por entender seu papel como

sendo uma missão no sentido de mitigar os efeitos negativos do programa (Sujeito 3).

Outro pesquisador acredita que a atividade de pesquisa é muito polêmica, envolvendo

vários aspectos e às vezes resolvendo problemas e criando outros para a sociedade, conforme

explica:

Page 172: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

172

Se tem coisa polêmica é atividade de pesquisa... Porque você tem que olhar a

questão do meio ambiente, como estou agredindo? Questão da equidade

social, a quem está servindo isso? A questão da competitividade econômica, a

questão da sanidade, se isso faz bem para as pessoas. Agora qual a

tecnologia que consegue, ao mesmo tempo, ter o devido equilíbrio para

atender a todas essas características? É muito difícil. Às vezes é uma

excelente tecnologia que aumenta a competitividade das empresas, mas vai

criar um problema ambiental de tal ordem que vai criar uma externalidade e

o Estado é quem vai acabar pagando por isso... Então, essas são questões que

vão avançando ao longo da historia dos homens. A gente enxerga isso.

Quando se iniciou as máquinas a vapor e as primeiras máquinas a entrar na

agricultura que retiravam as cascas dos cereais, do trigo, do arroz etc.,

centenas de milhares de pessoas que trabalhavam foram dispensadas, houve

movimentos até de quebra dessas máquinas. Naquela época, essas máquinas

tinham a união com o diabo, não é verdade? Então, era ético destruir

centenas de lares? Se assim não fosse, nós estaríamos até hoje lá (Sujeito 8).

Três pesquisadores, sendo dois por meio da entrevista e um por meio do questionário,

destacam a importância da normatização na redução dos conflitos:

“Se você implantar uma política com princípios claros e você estabelecer

normas que possam implantar ou operacionalizar essa política ... você então

cria mecanismos exatamente para eximir, para não haver conflitos, porque as

relações passam a ser institucionais e não interpessoais... Você vai sempre

manter um diálogo institucional e nunca pessoal... Por isso que é importante

ter normas. (Sujeito 14)”

“O fato da Embrapa possuir normas rígidas (e detalhadas) que não permitem

desvios facilita de forma decisiva a minimização desses conflitos na medida

em que muitos dos limites já estão previamente estabelecidos” (Sujeito 18).

“Ciência e pesquisa devem ser feitas sempre com ética. Mas, em casos como

pesquisas com transgênicos e células tronco, em que não há ainda legislação

definida, fica difícil apontar o que é ou não antiético” (Q. 5).

Page 173: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

173

Observa-se que o número de pessoas que enfrentam ou enfrentaram conflitos é

relevante, tanto na pesquisa quantitativa como na qualitativa. Observa-se ainda que quanto

mais definições e conhecimento há na empresa dos seus valores e procedimentos éticos,

menor a possibilidade de conflitos.

6.3. INTERFACE DOS SISTEMAS DE AVALIAÇÃO COM A QUESTÃO DA ÉTICA

Essa questão foi abordada na entrevista com o grupo de formadores de opinião, com a

seguinte pergunta: “Em que medida os sistemas de avaliação da Embrapa têm interface com a

questão da ética"?

A Embrapa conta com sistemas de avaliação em diversos níveis: institucional (Sistema

de Avaliação de Unidades, SAU), de projetos e de pessoas (Sistema de Acompanhamento e

Avaliação dos Resultados Individuais, SAAD).

Quanto se fala em avaliação, cada entrevistado entendeu de uma forma essa questão, de

forma que não se pode computá-la em número de respostas. Uns acham que sim, outros

acham que não, sendo que cada um viu a questão de um ângulo próprio.

Sobre esse tema, apresentam-se algumas declarações que se destacaram por algum

motivo. Alguns focaram a pergunta na forma de operacionalização dos sistemas. Assim

responderam que estes sistemas são operacionalizados por pessoas e dessa forma têm

interface com a ética, uma vez que ao se avaliar uma pessoa implicitamente está se avaliando

seu comportamento ou que essa avaliação embute a ética ou a falta desta, no proceder do

avaliador.

Dois entrevistados reconhecem que os sistemas de avaliação não avaliam o componente

ético, a não ser a parte subjetiva do SAAD, conforme declaram:

“É um tema novo e nós não temos ainda normatizado e conseqüentemente

isso não é avaliado dentro da empresa. A não ser, quando você, aí foge um

pouco da ética na parte de pesquisa em si, mas na parte comportamental.

Page 174: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

174

Nosso sistema de avaliação de desempenho de pessoas, o SAAD, quando você

faz uma avaliação subjetiva... onde o chefe imediato vai avaliar o seu

funcionário... ele leva em consideração o comportamento, a ética da pessoa.

Mas isso é uma coisa também intuitiva, de cada um, sem estar isso explícito

no sistema de avaliação” (Sujeito 5).

“O sistema de avaliação da Embrapa é um sistema muito eficiente... do ponto

de vista técnico em si. Do ponto de vista de questões relacionadas a ética nós

trabalhamos muito pouco... Existe uma parte subjetiva muito pequena que

seria aquela questão da análise dos seus superiores, dos seus chefes. Aí

poderia haver realmente uma questão mais relacionada a ética e a moral,

mas de modo geral, em nosso sistema, realmente não leva em consideração

muito este quesito... seja o SAAD, seja o SAU” (Sujeito 13).

A grande maioria reclama da questão desses sistemas, na sua operacionalização, gerar

uma competição maléfica entre unidades e entre pesquisadores, na medida em que estes são

utilizados para premiação, promoção e para destinação de recursos para unidades e projetos.

“Sinceramente, eu acho que o sistema de avaliação da Embrapa precisa ser

mais revisto... O sistema põe a gente para competir por besteiras e não está

trazendo melhoria para empresa. Só não vê quem não quer” (Sujeito 11).

“Os sistemas de avaliação traduziram da melhor forma possível o que os

preceitos da sociedade moderna atual (e com base no neoliberalismo

econômico) colocam para os indivíduos: uma competitividade sem

cooperação. Precisamos estimular o contrário, mais cooperação, como forma

de resolução de conflitos” (Sujeito 17).

Há pessoas que consideram os sistemas de avaliação da empresa adequados, como se

pode comprovar na declaração a seguir.

Page 175: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

175

“A avaliação dos projetos de pesquisa é bem focada. Você também tem

avaliação de desempenho dos empregados... onde são aferidas várias coisas.

Além do desempenho profissional é aferido também o grau que o seu

relacionamento na empresa com seus companheiros de trabalho se verifica.

Tem varias instâncias de avaliação em que permite a empresa externar para

cada um de seus funcionários as grandes linhas, os seus princípios éticos.

Tem valores na empresa, que podem traduzir como princípios éticos da

empresa, são valores que são expressos nos processos de avaliação, tanto dos

projetos de pesquisa, quanto no desempenho individual do pesquisador ou do

empregado da empresa” (Sujeito 12).

A declaração a seguir, lembra a função pública da empresa:

Tudo que tem respeito a gente, tem interface com a questão ética. Você está...

julgando pessoas. Pode prejudicar, pode estimular e pode derrotar uma

pessoa, um determinado pesquisador. Portanto, tem muito a ver com a

questão ética. Por isso, que tem que ter um sistema justo, e tem que ter um

sistema o mais impessoal possível, para poder atender a princípios éticos da

impessoalidade, da justiça, que são coisas fundamentais na ética... As pessoas

dizem que avaliação de desempenho é duro, de fato é... mas... desperdiçar

recursos públicos também é um pecado grave. Então você tem que pesar uma

coisa contra a outra. Você pode estar prejudicando um pesquisador, mas o

que você está procurando é tornar essa empresa mais eficiente, portanto,

economizar recursos públicos e deixar sobrar mais dinheiro para outras

atividades que também são importantes (Sujeito 4).

Um provoca, levantando a questão da quantidade x qualidade e questionando o foco da

avaliação:

Taí algo importante... que merece ser profundamente discutido: avaliação e

ética. O que eu avalio: eficiência, eficácia ou efetividade? Eu avalio o quê? O

paper? Eu avalio o lançamento de uma variedade e dou o crédito. Mas e se

essa variedade não prestar, de que valeu o crédito que eu tenho? E se essa

variedade a despeito de prestar não for adotada pelo conjunto? De que

Page 176: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

176

adiantou aquele esforço? Portanto, a avaliação da Embrapa teria que ter

muita ligação com estas questões que eu coloquei. De que vale o paper? Ele é

importante para o avanço da ciência para dar conhecimentos a todos. Mas

não deveria valer mais do que a tecnologia efetivamente adotada pelo

agronegócio ou pela agricultura familiar, ou qualquer setor que seja o alvo

ou cliente da Embrapa... Então, além da avaliação da Embrapa, sob o ponto

de vista da questão ética, precisaria haver uma avaliação dos pesquisadores,

pelas direções da Embrapa, o quanto eles estão... comprometidos, com foco

no cliente, com rapidez na elaboração de respostas, com a transparência

administrativa (Sujeito 8).

Na declaração seguinte, um entrevistado tenta estabelecer uma ligação entre avaliação e

atitude ética:

O sistema de avaliação da Embrapa, ele acaba tendo muitos defeitos. Ele é

um sistema que tem que ser aperfeiçoado... O sistema de avaliação pode

gerar uma frustração no pesquisador, que isso vá colocar em cheque a ética...

Às vezes, a pessoa frustrada acaba tendo atitudes que teoricamente não

seriam as mais éticas... Quer dizer ela está com uma frustração com a

empresa... Então isso pode acabar de certa forma influenciando sim nas

decisões éticas de cada pesquisador (Sujeito 9)...

Outro entrevistado faz uma avaliação mais ampla dos sistemas de avaliação:

O principal foco em que se dá a avaliação de convergência em relação aos

valores e costumes recomendados pela Embrapa se da na avaliação do

projeto de pesquisa, o principal instrumento, meio que leva aos fins da

Empresa: os resultados que irá oferecer à sociedade brasileira. E nesse

contexto, a Embrapa está introduzindo na avaliação questões relacionadas

aos princípios da ética, da bioética, de responsabilidade social em relação ao

meio ambiente, conforme já fizeram algumas instituições de fomento à

pesquisa (Sujeito 18).

Page 177: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

177

Notou-se que, em geral, as respostas a essa questão se encheram de passionalidade não

observada em nenhuma outra, mostrando que pode se observar aí uma fragilidade que poderia

ser melhor analisada.

Nos questionários, essa questão não foi investigada. Apesar disso, nos comentários das

questões surgiram reclamações com referência aos sistemas de avaliação da empresa. As

declarações giram em torno da questão da competitividade entre unidades e pesquisadores.

Também levantam a questão dos pesquisadores, na ânsia de serem bem avaliados ou de terem

suas unidades bem avaliadas, lançarem mão de artifícios que estariam no limiar da ética ou

que se configuram mesmo como atitudes antiéticas, como as citadas a seguir.

“Considero importante discutir dentro da empresa como os sistemas

de avaliação vigentes (SAAD, PAT, SAU) tem induzido indivíduos e

unidades a comportamentos não éticos” (Q. 93).

“Ética tem conceitos muito individuais. Certamente há muita coisa por

aí que eu acho eticamente incorreto, mas que a própria empresa

estimula com o sistema competitivo entre pesquisadores e Unidades”

(Q. 111).

“Necessitamos de voltar a olhar o colega pesquisador como um

parceiro, amigo, companheiro e não como um competidor capaz de

usurpar suas idéias e/ou dados para se promover” (Q. 131).

“Acredito que as exigências burocráticas quanto à comprovação de

atividades estão forçando à quebra da barreira da ética. Hoje, a

preocupação maior é produzir ‘papel’ e não atender às demandas da

sociedade” (Q. 171).

Page 178: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

178

“O SAAD fomenta o tipo de comportamento competitivo negativo

onde alguns pesquisadores deixam de colocar co-autorias de trabalhos

laboratoriais da pesquisa” (Q. 191)...

“Acredito que o panorama da ‘ética na pesquisa da Embrapa’ mudou

drasticamente nos últimos anos, principalmente como efeito colateral

do sistema de avaliação individual e de unidades (SAAD e SAU)” (Q.

262).

“No sistema de avaliação da Embrapa, que premia a produção (quanti

e qualitativa) não é incomum casos de autoria de trabalhos técnico-

científicos onde, por falta de ética, alguns colegas são listados como

autores, mesmo não tendo ou com pífia participação” (Q. 322).

“O SAAD está levando o mesmo trabalho a ser publicado várias vezes

ou um trabalho ser desdobrado em três ou mais trabalhos para fazer

currículo. Os Editais na Embrapa estão levando a elaboração de

projetos fora da área do pesquisador na busca por recursos” (Q. 326).

“Os sistemas de avaliação da Embrapa incentivam a competição, e,

muitas vezes, levam a atitudes antiéticas durante relacionamentos

internos” (Q. 414).

“O que nós temos presenciado, hoje, com o advento do SAU e do

SAAD, uma verdadeira guerra entre Unidades e entre pesquisadores,

aonde vale tudo, inclusive os meios antiéticos para conseguirem seus

objetivos” (Q. 418).

“O SAAD provoca disputa entre as equipes sendo um instrumento

para evidenciar atitudes antiéticas” (Q. 467).

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179

Essa cultura de concorrência e de competição observada na Embrapa se repete em um

contexto mais amplo, que é a sociedade. Entretanto, confirmando o que já foi dito, há a

necessidade da Embrapa realizar levantamentos que possam esclarecer melhor essa questão

ou de se fazer auditorias no SAU e no SAAD para verificar onde estão ocorrendo os

problemas para que possam ser tomadas as providências devidas.

6.4. PRINCÍPIOS OU QUESTÕES ÉTICAS NA PESQUISA AGROPECUÁRIA

Durante a realização desse trabalho houve várias instâncias onde se pode colher

sugestões de princípios ou questões éticas que poderiam ser analisadas, visando sua utilização

na pesquisa agropecuária. Essas instâncias foram: as entrevistas iniciais, as entrevistas semi-

estruturadas e os comentários apostos nos questionários.

A seguir, apresenta-se uma série de questões que poderão servir de base para um

trabalho de discussão entre os pesquisadores visando sua utilização ou não. No Quadro 6,

encontram-se os temas, juntamente com a descrição (caso necessário para o entendimento) e a

instância (meio) onde foram citados, seguidos da identificação dos sujeitos, quando for o

caso. Também, na última coluna encontra-se o número do inciso do Capítulo IV (Ética na

Pesquisa) do Código de Ética da Embrapa, com o qual o tema tem relação, quando for o caso,

ainda que essa relação seja indireta.

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180

Quadro 6: Questões de ética na pesquisa apresentadas pelos pesquisadores da Embrapa

TEMA DESCRIÇÃO/COMENTÁRIOS MEIO INC.

Manipulação de dados Produção de resultados que não existem EP III

Divulgação

precipitada de

informações

EP IV

Roubo de idéias e de

materiais

- Roubo de idéias e materiais

- Pirataria de idéias

EP e

Q. 301

III

Apropriação de

informações

Uso/apropriação das informações das pesquisas,

sem o devido crédito/reconhecimento do

verdadeiro obtentor/gerador da informação

Q. 16

Q. 179

III

Parcerias Oportunidades iguais para as empresas EP III

Competição Competição a serviço da falta de ética entre

unidades e dentro das unidades, entre

pesquisadores

EP

Q. 30

III

Utilização de posição

hierárquica

- Utilizar de uma posição para exigir autoria ou co-

autoria de trabalho

- Tirar vantagem de um contexto

EP III

Busca de notoriedade - Trabalhar estrategicamente visando o resultado

geral mais para ganhar prestígio para si ou para a

unidade

- Fazer o planejamento pensando nos resultados

individuais

EP III

Responsabilidade pela

função pública

Usar o dinheiro público com responsabilidade EP

Responsabilidade do

pesquisador

O pesquisador também deve ser responsável pelo

uso que é dado ao seu trabalho, ou seja, pela

finalidade da pesquisa

Q. 229 VI

Page 181: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

181

Quadro 6: Questões de ética na pesquisa apresentadas pelos pesquisadores da Embrapa

(Continuação)

TEMA DESCRIÇÃO/COMENTÁRIOS MEIO INC.

Adoção de diários de

pesquisa

- Adoção de cadernetas de campo para anotação

pelo responsável técnico dos avanços e resultados

da pesquisa

- Adoção de livros de laboratório, para diariamente

serem anotados os avanços de cada experimento

ou projeto de pesquisa

- Esses procedimentos são utilizados em outros

países e resguardam o pesquisador e a empresa

administrativamente e judicialmente

S. 14

Avaliação do impacto

estratégico

Realizar avaliações de cada projeto da empresa,

envolvendo os aspectos políticos, econômicos,

sociais e jurídicos

EP

Autoria e Co-autoria - Colocar o nome de pessoas em trabalhos que eles

não atuaram efetivamente

- Pessoas figurando como autoras sem terem sido

EP e

Q. 322

V

Publicações - Fazer publicações desnecessárias para ganhar

“pontos”, visando benefícios pessoais (promoção

etc.)

- Duas ou mais publicações iguais. Dividir assuntos

mínimos num artigo para computar mais trabalhos

- Desdobramento de trabalhos, com diferenças

mínimas entre pesquisas para aumentar o número

de publicações

EP

Q. 64

Q. 326

V

Page 182: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

182

Quadro 6: Questões de ética na pesquisa apresentadas pelos pesquisadores da Embrapa

(Continuação)

TEMA DESCRIÇÃO/COMENTÁRIOS MEIO INC.

Conflitos de interesse - É necessário definir a atuação de empregados

em empresas privadas, em consultorias e em

atividades docentes

- A Embrapa como empresa pública de direito

privado precisa tomar muito cuidado para

não se converter em mão-de-obra pública a

serviço exclusivo de multinacionais. O

exemplo da soja transgênica desenvolvida

pela Embrapa patrocinada pela Monsanto...

Q. 72

Q. 370

Avaliação de

questões ambientais,

sociais e outras

- A pesquisa deve ser desenvolvimento

observando esses aspectos

- Há demanda crescente pela produção e

rastreamento de produtos oriundos de sistemas

que respeitem esses fatores

Q. 113 VI

Descarte de resíduos

de laboratório

Q. 237

Meritocracia Buscar a meritocracia como princípio na Embrapa Q. 349

Biopirataria Quando as propostas de pesquisa saem da

Embrapa para serem analisadas por consultores

externos nos tornam a empresa e os pesquisadores

vulneráveis a biopirataria. Como o sistema

Embrapa (MPs) é muito lento corre-se o risco de

perder o ineditismo

Q. 434

Tratamento

dispensado aos

animais

Castração e outras formas de violência a sua

integridade física, condições de fome e

subalimentação, exposição aos medicamentos etc.

S. 18 VI

Page 183: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

183

Quadro 6: Questões de ética na pesquisa apresentadas pelos pesquisadores da Embrapa

(Continuação)

TEMA DESCRIÇÃO/COMENTÁRIOS MEIO INC.

Relação entre os

pesquisadores

A ética também deve ser levada em conta na

relação entre os pesquisadores, assim como na

atividade de pesquisa

Q. 246 Ética

Geral

Relação entre

pesquisadores e

outros empregados

Há necessidade de discussão sobre a ética nas

relações entre pesquisadores e entre os

funcionários de modo geral

Q. 248 Ética

Geral

Assédio Moral Apesar desse item não fazer parte diretamente da

ética na pesquisa, surgiu como uma questão que

deve ser discutida

Q. 110 Ética

Geral

Legenda:

EP – Entrevistas Preliminares

INC. – Inciso do Capítulo IV (Ética na Pesquisa) do Código de Ética da Embrapa

Embora alguns desses temas encontrem correspondência direta ou indireta no Código de

Ética da Embrapa, a maioria das preocupações externadas pelos pesquisadores não está em

nível de especificação citadas no código. Isso ocorre porque sobre essa questão da ética, para

regulação da conduta ética, notam-se, no mínimo, duas instâncias, que são: a) os princípios;

b) as matérias reguladas36. Os princípios corresponderiam às intenções maiores, às premissas

básicas. Já a matéria regulada compreenderia o detalhamento das questões éticas.

Para se chegar a um documento como esse, é necessário o envolvimento de todos os

atores, em amplas discussões, visando chegar a definições nesse nível.

36 As expressões “regulação da conduta” e “matéria regulada” são utilizadas no Código de Conduta da Alta Administração (2005), constante nas referências bibliográficas. Este documento, além de reunir em um único documento as normas sobre essa matéria, ainda oferece um quadro intitulado “regulação da conduta”, que cita situações específicas, em nível alto de especificação acompanhadas da informação sobre as normas que a regulam.

Page 184: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

184

6.5. CUMPRIMENTO PELOS PESQUISADORES DOS PRINCÍPIOS ÉTICOS DA

PESQUISA

Perguntados se “Os pesquisadores da Embrapa, no exercício de suas atividades, estão

cumprindo os princípios éticos da pesquisa”, 38% (188 pessoas) responderam que “quase

sempre”. Responderam não saber 34% (166 pessoas). Já 17% (84 pessoas) responderam

positivamente.

Responderam negativamente 5% (23 pessoas). Outros 6% (31 pessoas) optaram por

especificar sua opinião sobre o tema, conforme Figura 17.

Cumprimento dos princípios éticos da pesquisa

38%

34%

17%

6% 5%

Quase sempre

Não sei

Sim

Outra opinião

Não

Figura 17: Percepção dos respondentes sobre cumprimento dos princípios éticos da pesquisa

pelos pesquisadores da Embrapa, em percentual.

Nota-se que a certeza de que os pesquisadores estão cumprindo os princípios éticos da

pesquisa é muito baixa (17%), em relação aos que declararam não saber (34%) e em relação

aos que afirmaram que “quase sempre” (38%). Esse resultado pode ter ocorrido por diversos

Page 185: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

185

motivos. Na tentativa de explicá-lo, tem-se: a) falta de conhecimento maior sobre o que seria

ética na pesquisa; b) falta de conhecimento sobre um documento específico de ética na

pesquisa, na medida em que 41% responderam não conhecer o Código de Ética da Embrapa,

que contém um capítulo sobre o assunto; c) dificuldade de se avaliar todos os pesquisadores,

devido a falta de dados; d) dificuldade em se situar na posição de avaliador pos-facto; e) falta

inserção na cultura da empresa do conceito de ética e de ética na pesquisa.

Outra questão é que, se levarmos em consideração que esta é uma pergunta sobre a

percepção que os pesquisadores têm dos seus pares, ainda temos outros complicadores que

são os “erros” de percepção no julgamento dos outros. Cita-se, por exemplo, o efeito de halo,

que é o fato de julgarmos uma pessoa por apenas uma de suas características. Trazendo para

esse estudo, esse efeito poderia ser emprestado para tentar explicar esses resultados. É difícil

para os pesquisadores responderem sobre a atitude dos outros 2.246 pesquisadores que

compunham em 21.08.2005 o universo de pesquisadores da empresa, ainda mais que estes

estão lotados na Sede ou em 40 unidades distribuídas pelos vários estados do país. Nesse

caso, as respostas categóricas podem ter origem tanto na imagem que têm da instituição,

quanto na imagem que têm da sua própria unidade, bem como na imagem de um grupo de

pesquisadores.

Sobre esse efeito de halo, Robbins (1999, p. 66) cientifica que:

A propensão para o efeito de halo operar não é aleatória. Pesquisas sugerem

que é provável que ela seja mais extrema quando os traços a serem percebidos

são ambíguos em termos de comportamentais, quando os traços têm tons

morais e quando quem percebe está julgando traços sobre os quais tem

experiência limitada.

Outro “erro” de percepção seria a questão da projeção, que consiste na tendência que o

ser humano tem de atribuir a outros características que são suas. Trazendo para esse estudo, o

resultado que mostra que 34% (166 pessoas) responderam não saber se “os pesquisadores da

Embrapa, no exercício de suas atividades, estão cumprindo os princípios éticos da pesquisa”,

poderia ser decorrente do fato de não terem claro um conceito de ética na pesquisa; dessa

forma, também não se sentiram à vontade para julgar os colegas.

Page 186: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

186

Ainda com relação à pesquisa quantitativa, na categoria “outra opinião”, com 6%, as

respostas foram as mais diversas. Interessante como houve respostas aparentemente

semelhantes às do questionário, mas que não satisfizeram o respondente, tanto que ele

respondeu, especificando sua resposta. Um exemplo desse fato ocorreu quando três pessoas

responderam “acredito que sim” e uma “penso que sim”, quando havia uma resposta “sim”, à

sua disposição e a pesquisa era de percepção. Nesse caso, o respondente considerou “sim”

diferente de “acredito que sim” e de “penso que sim”.

Outro caso é o de duas pessoas, que responderam “nem sempre”, quando havia uma

resposta “quase sempre”. Nesse caso, as pessoas viram diferenças entre “nem sempre” e

“quase sempre”.

A título de ilustração, cita-se a opinião dos respondentes dessa categoria “outra

opinião”, registrada nos questionários. Há alguns que demonstram certo descontentamento

com a questão da ética na sua unidade: “Não há ética nessa unidade da Embrapa” (Q. 283).

Outra declaração nesse sentido:

“Na Embrapa onde trabalho vejo os que se preocupam... com ideais de

equidade, justiça social e, portanto, ética, fazem parte de uma minoria. Os

demais estão preocupados em pesquisar qualquer coisa (desde que seja

pesquisa) independente de "o quê" ou "para quem" seja. Para os que se

preocupam com ética na pesquisa, o mais importante em pesquisa é um

resultado que concretize em equidade e transformação concreta da sociedade

e que produza justiça social. Para os demais o importante é estar sempre

pesquisando temas da moda e ter uma enorme quantidade de artigos

publicados” (Q. 14).

Outro discorre sobre os sistemas de avaliação da empresa, que para ele gera competição

negativa. Afirma que apenas uma minoria cumpre os princípios éticos e explica o por quê:

“Em função da política de competição entre unidades (ranqueamento) e

internas para premiação, instituiu-se o "salve-se quem puder" entre os

pesquisadores. Não existe mais equipe e todo mundo quer (precisa ser) líder

de projeto a qualquer preço” (Q. 25).

Page 187: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

187

Ainda nos comentários dos questionários, há declarações, como “Infelizmente esse tema

tem sido ignorado por muitos e se passa a régua de acordo com panelas ou interesses

próprios” Q. 294; “As chefias não tem ética” (Q. 285); “A influência dos valores éticos

pessoais na definição das hipóteses de das pesquisas pode direcionar os resultados para fins

unicamente pessoais do cientista” (Q. 297).

Pelos outros resultados e pelas entrevistas, nota-se que as pessoas ouvidas têm a

convicção de que a Embrapa é uma empresa ética. Nas declarações a seguir, encontra-se essa

constatação.

“A Embrapa é uma empresa ética, mas daí a responder por todos os

pesquisadores já é mais difícil. Acredito que alguns infringiram a ética, mas a

maioria não” (Q. 10).

“Acredito que os resultados da empresa demonstram que a ética vem fazendo

parte do nosso dia a dia. Casos isolados estão fora da média e devem ser

desconsiderados” (Q. 200).

Outro pesquisador filosofa:

O próprio modelo de desenvolvimento econômico, social, político e científico

nos quais se assentam a nossa civilização carecem de uma maior percepção da

verdade subjacente a realidade óbvia do mundo fenomênico. É natural da

humanidade a iniqüidade. Portanto seria uma pretensão muito grande

acharmos que sempre estamos agindo estritamente de forma ética, no sentido

que eu atribuo o termo (Sujeito 144).

Acredita-se que essa seja uma questão básica para uma empresa de pesquisa, ou seja, o

cumprimento dos princípios éticos. Apesar de ser um estudo de percepção, que carrega todas

as características já citadas, entende-se como fundamental a imagem que a empresa tem não

só na sociedade como também com os seus empregados, pois esta pode se refletir no

Page 188: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

188

desempenho dos mesmos e em última análise, da empresa. Entretanto, para se chegar a uma

análise mais apurada sobre esse tema, são necessários estudos mais aprofundados sobre esse

tema.

6.6. COMO O GRUPO DE FORMADORES DE OPINIÃO PERCEBE A ÉTICA NA

PESQUISA E AS NORMAS DE ÉTICA NA PESQUISA NA EMBRAPA

Com relação à questão da ética na pesquisa, nota-se nas entrevistas preliminares, nas

entrevistas com o grupo de formadores de opinião uma falta de clareza ou de segurança com

relação ao que seria ética ou ética na pesquisa.

Uma pessoa participante da entrevista semi-estruturada, explicando o fato de que na

pesquisa agropecuária não se vê muitas discussões sobre a questão ética, afirma:

Historicamente a questão da agricultura tem sido muito isolada. As

universidades agrícolas, as faculdades, as escolas agrícolas, grandes parte

delas surgiram e se mantém como escolas ou universidades isoladas, mesmo

na época que a história filosófica era parte dos currículos, ela estava à parte.

Então a agricultura sempre foi um segmento que não permeou muito com esse

lado... Se você imaginar a medicina, ela teve outro caminho, fora o fato do

homem estar acima de tudo. Então eu acho que a gente deve olhar para o tipo

de atividade, os atores que estão evolvidos e o histórico, os campos de

interesse que na realidade dominaram o processo... A percepção da finitude

dos recursos naturais também é recente, a finitude dos recursos tanto

genéticos, florestais, como água, tudo. Diz-se que o olhar começou quando

Gagarin foi e viu tudo da Terra e percebeu como um todo, enfim (Sujeito3).

Entretanto, todos acham importante a discussão e a maioria aceita um passivo nesse

assunto ou acredita que é um assunto novo e como tal deve estar na pauta de discussões tanto

dos altos gestores como dos pesquisadores em geral.

Page 189: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

189

Com relação à questão das normas de ética na pesquisa na Embrapa, obteve-se um

resultado que vem ao encontro dos que já foram apresentados.

Na entrevista semi-estruturada com o grupo de formadores de opinião, perguntados se

“Você considera que a Embrapa tem normas específicas quanto a ética na pesquisa?”, dos 21

respondentes, nove afirmam que não. Dentre estes, dois acreditam que deveria ter e três

acham que há os valores do PDE, há diretrizes gerais e um cita também as regras gerias de

procedimento.

Entre os que acreditam que a Embrapa não dispõe de normas específicas, um explica:

A Embrapa tem várias recomendações sobre diversos temas, sobre forma de

se portar, sobre forma de conduzir, forma tratar os temas abordados, mas

esta questão relacionada a ética, como ciência e parte da filosofia... Talvez,

pela própria formação nossa, cartesiana, grande parte de nossos

pesquisadores, dos nossos cursos de pós-graduação foram em ciência pura, a

gente não tenha dado a atenção que deveria. Existe recomendação, mas eu

acredito que agente pode avançar mais ainda sobre isto (Sujeito 13).

Quatro pessoas ficaram em dúvida, sendo duas pessoas que responderam não conhecer,

um não tem certeza, outro não sabe.

Oito pessoas responderam com certeza que sim. Dessas uma não se lembra; três citam o

Código de Ética da Embrapa (e um conjunto de normas que regem o funcionamento da

Embrapa); outro acredita que “tem instrumentos e conhecimento bastante claros” e que tem

procedimentos; outro acha que há várias normas que podem ser qualificadas como de ética;

outro ainda cita “os documentos referenciais orientadores da formulação de pesquisa

existentes nos macroprogramas contemplam os princípios gerais que norteiam a ética na

empresa” (Sujeito 16).

Entre os que acreditam que a Embrapa tem normas específicas, destaca-se a seguinte

declaração:

Page 190: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

190

A Embrapa tem um processo de avaliação da programação e dos projetos de

pesquisa que passa por diferentes instâncias de avaliação em que as questões

de natureza ética sempre são percebidas e são evidenciadas quando alguma

proposta fuja a estas questões. Mais recentemente, há grupos que são

formalmente constituídos, particularmente na questão da bioética, da questão

dos recursos genéticos, das questões mais avançadas da genética, que tratam

desta questão, sempre tendo em vista a sustentabilidade, os impactos, os

efeitos. Então, por trás desses conceitos, a questão ética é sempre vigente.

Acho que a Embrapa tem instrumentos e tem conhecimentos bastante claros

com relação à pesquisa (Sujeito 12).

Nota-se que não há um consenso nessa questão, sendo que uns acham que sim, que as

várias normas existentes na empresa podem ser consideradas normas específicas de ética e

outros não. Dos onze chefes ouvidos, seis acreditam na há normas específicas e cinco acham

que não.

É oportuno lembrar que a percepção sobre a existência das normas é igualmente

importante à própria existência das mesmas, uma vez que na percepção podem estar incluídos

o conhecimento e a internalização das normas.

Quando perguntados sobre “Você acredita que as normas da Embrapa quanto à ética na

pesquisa são suficientes e adequadas para resguardar a ética na empresa (com relação aos

pesquisadores, gestores e sociedade em geral)?”, dos 18 que deram sua opinião, onze

acreditam que não e seis acreditam que sim. Um entrevistado tem críticas quanto a forma

como foi elaborado o código e faz algumas recomendações de como deve ser tratado o

assunto daqui para a frente:

O processo de estabelecimento do código de ética foi um processo de pouco

envolvimento da comunidade ou dos pesquisadores ou do próprio corpo

técnico com uma discussão da ética... Foi muito mais o cumprimento de uma

exigência, digamos de governo... do que efetivamente uma discussão do que é

a ética de uma instituição pública, do que é a ética numa instituição de

pesquisa... quer dizer... o que significa a ética dentro de uma instituição de

ciência e tecnologia? Como é que isso funciona? O que precisa ser feito? Eu

acho que precisa de discutir essa questão da ética e a direção da empresa

Page 191: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

191

principalmente. Eu não gosto muito de atribuir responsabilidades à diretoria

não, porque eu acho que a diretoria assume aquilo que se propõe a ela... O

DGP tem uma responsabilidade nisso, de... fazer uma discussão mais ampla,

com uma estratégia... que se transforme numa preocupação da agenda da

empresa, do discurso da diretoria, do discurso dos chefes da unidade...

Discutindo a questão da ética na cúpula da empresa você tem condição de

induzir a discussão para baixo da empresa. Eu não acredito que seja possível

discutir a questão da base para cima porque ela vai se esgotar no segundo ou

terceiro escalão, porque ela não faz parte da agenda da empresa... A direção

da empresa precisa colocar na agenda... de diretoria como preocupação

institucional e provocar a discussão nos diferentes níveis da empresa, aí... a

gente estará fazendo alguma coisa em termo de ética que tenha consistência,

que tenha principalmente durabilidade, que tenha sustentabilidade para não

ficar uma discussão da ética porque está na moda discutir a ética ou porque o

país está mergulhado numa crise ética. Então agora virou moda discutir ética

(Sujeito 2).

Dois outros entrevistados discorrem sobre a importância dos canais de discussão. Um

deles considera que a Embrapa deveria investir mais na discussão de temas na empresa.

O que falta na Embrapa, hoje, são canais para discutir qualquer coisa. Nós nos

tornamos burocratas, nós não criamos seminários para discussão de temas.

Dificilmente você vê alguém com tempo para discutir, para se propor a discutir temas

específicos. E eu acho que a direção geral devia se preocupar em forçar a discussão

de temas como, por exemplo, a ética na pesquisa para ver qual é a opinião geral dos

pesquisadores, o que eles pensam disso. E, em função da estratégia da empresa, da

estratégia colocada pelas instituições maiores sobre pesquisa agropecuária, se criar

as normas internas. Porque as normas têm que estar a serviço de uma estratégia... As

normas e a estrutura de uma organização estão sempre a serviço de uma estratégia

(Sujeito 8).

... Vimos ao longo do tempo colocando ética como um valor da empresa, mas

eu acho que frente às transformações e as mudanças que nós estamos

vivendo... certamente deverá haver na empresa um debate mais aprofundado

das implicações da ética na condução de nossos trabalhos, de colocação

Page 192: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

192

desse valor frente a essas mudanças que estamos vivendo e que certamente

viveremos daqui para frente. Então é algo que deve ser retomado com um

peso maior na empresa (Sujeito 10).

Um entrevistado opina sobre a necessidade de documentos específicos sobre o tema e

de grupos ou instâncias responsáveis pela gestão da ética na empresa:

... Se você olhar o plano diretor da Embrapa... Tem os seus valores, a ética e

tem definições, tem expectativas, tem orientações nesse sentido. Mas é muito

diferente você ter um plano diretor, uma coisa genética, ampla, ela é

balizadora, geral. É como se a gente falasse assim: “Bom, porque eu tenho

um plano diretor da Embrapa ou mesmo de uma unidade, o resto já está

resolvido”. Então eu não precisaria ter programação de pesquisa, eu não

precisaria ter agenda institucional, eu não precisaria ter uma agenda na área

de Recursos Humanos... Então o detalhamento disso é necessário... Acho

fundamental, nós precisamos ter. E não somente normas, mas nós precisamos

ter um grupo que faça gestão. Há questões que são polêmicas, há questões

que não são respondidas a priori. Na medida em que você tem, por exemplo,

na área administrativa uma legislação, você tem o Tribunal de Contas, você

tem auditoria, então você pode fechar isso perfeitamente, no sentido das

decisões. Na medida em que nós não temos os equivalentes à ética, resolvidos,

não temos um tribunal de contas da ética. Nós não temos uma legislação com

especificidades. A ética, no caso da pesquisa agropecuária, não existe.

Podemos ter uma comissão nacional, mas são gerais... Então nós não

especificamos, nós não detalhamos. Precisaria, além dessa especificação, a

gente estabelecer pelo menos algumas regras gerais, de procedimento, até de

relacionamento com os atores. A gente precisaria ter também um colegiado,

um comitê gestor, alguém, um grupo, que no caso a caso também

respondesse. Porque aí tem vários componentes, desde a jurídica até a

componente mais técnica, se fazer um experimento de uma determinada coisa

é correto ou não. Mas tecnicamente eu vou justificar que eu preciso desse

resultado, mas é correto fazer isso? Como é que nós julgamos? (Sujeito 15).

Page 193: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

193

Outros lembram a questão da educação que é de fundamental importância, tanto a

questão da educação básica que o empregado já dispõe quanto a importância da empresa atuar

nesse sentido no caso da ética.

Enfim, como se pode observar pelas respostas acima, a maioria do grupo de formadores

de opinião acredita que a Embrapa não dispõe de normas específicas quanto a ética na

pesquisa que sejam adequadas e suficientes. A grande maioria também acredita que as normas

de ética na pesquisa existentes não resguardam a empresa, com relação aos pesquisadores, aos

gestores e à sociedade em geral.

6.7. NORMAS DE ÉTICA COMO ELEMENTO QUE INFLUENCIA A ATIVIDADE

DOS PESQUISADORES DA EMBRAPA

Na entrevista semi-estruturada, questionados sobre “Em que medida as normas relativas

a ética influencia a atividade dos pesquisadores”, o grupo de formadores de opinião, em sua

grande maioria acredita que influencia.

Alguns acham que não influenciam porque não existem, mas vêem vantagens na criação

delas, como se pode observar nas declarações a seguir:

Eu acho que elas não influenciam hoje... nós não temos normas relativas à

ética... Então não há o que se falar em que a ação do pesquisador esteja

limitada por qualquer norma ética da empresa, diferentemente de algumas

organizações, está lá para padrões de comportamento, você não pode fazer

isso, você está limitado a isso. Eu vou dar um exemplo, não há nenhuma

norma na Embrapa que diga que o pesquisador que está trabalhando com o

melhoramento de uma determinada variedade, que ele por uma questão da

norma ética da empresa, não deva aceitar o convite de uma viagem de uma

empresa que concorre com a Embrapa. A Embrapa desenvolve uma variedade

suponhamos de milho. Um código de ética e uma norma ética deveriam deixar

claro para o pesquisador qual é o limite do relacionamento dele. Eu posso

aceitar uma viagem paga por uma empresa “A” que também está fazendo

melhoramento genético de milho, que vai lançar uma variedade que a

Page 194: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

194

Embrapa também está pesquisando? Eu posso receber uma viagem dessa

empresa para os Estados Unidos paga todas as despesas? É ética esse tipo de

relação com alguém que é concorrente com a Embrapa? Quer dizer isso não

está explicitado nas normas claramente, está dito às vezes verbalizado: ‘Olha,

ressalvado os interesses de concorrência com a Embrapa. A relação com os

parceiros deve respeitar os interesses da empresa’, mas onde é que está o

limite desse interesse? Onde é que está o conflito de interesses, quando é que

está explicitado isso?”(Sujeito 2).

“Se a Embrapa tivesse um conjunto de normas relativamente claras, se esse

conjunto de normas éticas fossem suficientemente amplas para ajudar cada

pesquisador tomar sua decisão” (Sujeito 4).

“Se você tem uma norma, em princípio naturalmente ela vai determinar sob a

forma que aquele pesquisador vai proceder ou não. Você veja: essa nova lei

de inovação, antes eu vi pesquisadores sendo processados, demitidos, e

execrados, por que... servia a alguns setores do setor privado e servia a

Embrapa também. Mas como... esse setor privado se apossou de certa forma...

dos resultados dessa pesquisa, esse pesquisador foi processado como se

tivesse fazendo algo dirigido... Hoje as normas que exigem inovação

tecnologia vendem exatamente isso. Aquele pesquisador era aético antes?

Claro que não. Hoje isso é legal. Então, as normas vêm para legalizar os

valores que nós pensamos a respeito” (Sujeito 8).

Outro entrevistado lembra da importância redobrada para a Embrapa como um todo,

dado o tamanho de sua estrutura:

A Embrapa são 36 centros de pesquisa, não sei quantas outras unidades

descentralizadas, além da sede. É um universo muito grande espalhado no

Brasil inteiro. Então, a vantagem de você estabelecer uma norma é porque ela

tenta padronizar os procedimentos de uma forma global, de uma forma geral

na Embrapa como um todo (Sujeito 14).

Page 195: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

195

Porém esse mesmo entrevistado destaca a importância do acompanhamento de normas:

Não adianta nada ter uma norma, se não houver uma fiscalização para

acompanhar o seu cumprimento e penalização... no caso dela não vir a ser

cumprida por alguém ou por quem ela alcança. Então, se for implantado um

código de ética na Embrapa, tem que ser levado em consideração esses

pressupostos (Sujeito 14).

Um entrevistado lembra a importância da participação dos pesquisadores na elaboração

de normas sobre ética na pesquisa:

Sem a participação deles, se isso é feito, a influência tende ser a zero, a

desconhecer a coisa. É tanto que quando você perguntou pra mim, eu falei no

geral, eu não disse o documento qual era, porque eu não ando com ele, eu

não preciso dele para essa coisa grosseira... Mas agora é interessante a gente

discutir isso no dia a dia, em reunião que se faz com os outros pesquisadores,

discutir essa interferência. Aí sim, isso é bonito, é educativo, a gente gosta. Se

tiver um documento aí eu deixo ao meu lado porque eu vejo a minha

participação naquela coisa também. Uma coisa vinda de cima para baixo,

dizendo ponto um, ponto dois, ponto três, o que é certo, aí eu mando para

aquele lugar, não fica na minha mesa, eu não preciso de ninguém para me

dizer isso, para me impor isso. Mas eu preciso de muita gente para estar

sempre discutindo isso para gente não dar errada, aí eu preciso, mas de

norma, de fiscalização policialesca eu não preciso (Sujeito 6).

Outro entrevistado explica em detalhes a forma de avaliação dos projetos praticada na

Embrapa e a sua interface com a ética:

Há um grande número de projetos que são compostos por esse processo de

aprovação, ou que são reprovados, porque não contemplam, não só questões

de natureza técnica, mas às vezes questões de natureza também que implicam

em ética. Quando eu falo em ética, é porque ou eles não são adequados

àquele momento, ou eles não são devidamente avaliados em termos dos

Page 196: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

196

impactos que podem causar na sociedade, no ambiente. Então esses projetos,

naquele momento, pelo conhecimento daquele grupo, ele são ou reprovados

ou encaminhados para reformulação. Ele passa por três grandes instancias,

pela análise dos pares. São pesquisadores que normalmente a Embrapa

coloca como consultores ad-hoc para fazer a avaliação do projeto e emitir um

parecer sobre a sua pertinência técnica, econômica, social, sustentabilidade,

impacto ambiental. Então, esse grupo faz essa primeira avaliação. Esse

conjunto de relatórios ou de pareceres é submetido a um comitê técnico que

também avalia, aprova ou não aquelas recomendações, reformulam ou não

aquelas reformulações. Depois se faz um novo encaminhamento, um novo

conjunto de pareceres consolidado e encaminha a um grupo gestor de

programação, que é a última instancia aonde esses projetos são avaliados,

podendo nessa trajetória... serem rejeitados, reprovados, pedidos para

reformular e quando são reformulados, voltam para esse processo novamente.

É um processo que estabelece crivos em diversas instâncias, no sentido de

você ter no final um projeto que seja não só consistente tecnicamente, mas

que atenda a esses grandes princípios da empresa. Na verdade o que acontece

com os projetos de pesquisa, quando eles passam por este processo todo é que

eles têm não só que atender a uma necessidade da sociedade, mas também as

essas referências da empresa. A questão ética é considerada, a

responsabilidade social da empresa é considerada, a visão estratégica da

empresa com relação àquela determinada área é considerada. Todos estes

elementos são colocados como filtros para julgamento desses projetos de

pesquisa. Uma idéia do pesquisador, ela não sai simplesmente e vai para

aplicação pratica, ela passa por um crivo até chegar ser aprovada

institucionalmente pela empresa, receber recursos de natureza humana,

financeira, de infra-estrutura para poder ser realizada, senão ela não é feita”

(Sujeito 12).

Um entrevistado se manifesta, emitindo uma espécie de conclusão para esse item: “É

difícil avaliar a influência da ética nas atividades dos pesquisadores. Para tanto, é necessário

uma pesquisa direta com os pesquisadores, no formato de entrevista ou outro tipo de coleta de

informações” (Sujeito 18).

Page 197: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

197

6.8. NORMAS SOBRE RESTITUIÇÃO DE RESULTADOS DE PESQUISA OU

DIREITO DE PROPRIEDADE ÀS COMUNIDADES OBJETO DA PESQUISA

Nas entrevistas com o grupo formador de opinião, havia a seguinte pergunta: “Você

considera que as normas que regem a pesquisa na Embrapa asseguram algum tipo de

restituição de resultados de pesquisa ou de direitos de propriedade às comunidades objeto de

pesquisa (apropriação de conhecimento)?”.

Pelas respostas, percebe-se que esse parece ser um assunto novo e nem todos os

entrevistados tinham conhecimento do assunto. No geral, as respostas foram uniformes nessa

questão. Os entrevistados consideram que, quanto a restituição às comunidades objeto da

pesquisa, a Embrapa devolve à sociedade e que isso já é suficiente, na medida em que ela é

uma empresa pública e trabalha para a sociedade. Além disso, participam que raramente a

Embrapa trabalha com alguma comunidade em especial e quando trabalha há um contrato

onde são estipulados os direitos e obrigações. Consideram ainda que por já haver uma lei

maior versando sobre esse assunto, à qual a Embrapa deve obediência, esta poderá ou não

criar uma norma interna. Dessa forma, apesar da Embrapa não dispor de normas sobre esse

assunto, está subordinada a normas maiores37.

Esse assunto ainda é bastante polêmico, na medida em que não se tem ainda

devidamente definido o que é patrimônio genético, bem como outras expressões utilizadas na

lei.

Citam-se aqui as opiniões diferentes ou alguma declaração que retrate bem o que está

ocorrendo. Uma declaração retrata a novidade do assunto:

“Atualmente, sim. Muito pouco tempo pra cá: 2,3 anos, esta... passou a ser

uma preocupação, porque até pouco tempo... não havia essa preocupação e a

legislação brasileira também não se preocupava com isso. Agora, a partir da

37 A Medida Provisória nº 2.186-16, de 23.08.2001, “Regulamenta o inciso II do § 1o e o § 4o do art. 225 da Constituição, os arts. 1o, 8o, alínea "j", 10, alínea "c", 15 e 16, alíneas 3 e 4 da Convenção sobre Diversidade Biológica, dispõem sobre o acesso ao patrimônio genético, a proteção e o acesso ao conhecimento tradicional associado, a repartição de benefícios e o acesso à tecnologia e transferência de tecnologia para sua conservação e utilização, e dá outras providências”. Disponível no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/MPV/2186-16.htm, acessado em 20.10.2005.

Page 198: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

198

lei de acesso que é a medida provisória 2186 de 2001 é que esse direito ficou

garantido em lei e, portanto, a Embrapa também passou a se preocupar com

isso” (Sujeito 7).

“Isso na realidade passa a ser um objeto de discussão e de reestruturação das

normas de modo geral. A norma de relação internacional começa a discutir

isso. Nós teremos que fazer essa discussão interna. Hoje não tem um

arcabouço claro com relação a isso, mas eu acho que certamente é algo que

deverá ser parte das nossas discussões. Que você trabalhe de forma integrada

e que os benefícios sejam distribuídos. Aliás, é esse o discurso nosso para que

a gente consiga fazer estruturação de cadeias produtivas envolvendo todos os

segmentos, inclusive o conhecimento de geração de ciência e tecnologia como

parte da cadeia produtiva. É importante que se discutam essas participações

diferenciadas e que cada um tenha direito a recuperar parte do seu esforço

afinal desse trabalho. Eu acho que é um assunto que merece mais discussão”

(Sujeito 10).

“A Embrapa mais recentemente tem trabalhado como objeto de pesquisa

comunidades, comunidades indígenas, quilombolas... Porque até então ela

trabalhava mais produtos e serviços indistintos para as comunidades. Nesses

casos... a apropriação de conhecimentos está sendo feita diretamente na

comunidade. Está havendo esta consciência na Embrapa. Nós temos um

programa de agricultura familiar em que os princípios desse programa são de

apropriação de conhecimento pela comunidade. A demanda tem que sair da

comunidade. Não há mais nesses casos uma torre de marfim em que o

pesquisador é endeusado e que ele não tem responsabilidade junto àquelas

comunidades. Estes projetos eles não são aprovados se não tiverem um forte

apelo da comunidade e uma forte interação e os resultados serem

apropriados pela comunidade. Isso é parte integrante do processo de

avaliação desse projeto. Então, é impossível hoje, com a consciência que a

Embrapa tem do seu papel com relação a essas comunidades, um projeto que

seja feito não nascer das relações intrínsecas que o pesquisador tem com

aquela comunidade e que aquele conhecimento tem que ser apropriado na

comunidade. Nos últimos projetos, a título de exemplo, nós percebemos

Page 199: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

199

alguns projetos que tinham a intenção, mas que não tinham o compromisso.

Nenhum deles foi aprovado” (Sujeito 12).

Outra pessoa teme que esse assunto possa dificultar as atividades científicas, como

declara:

Nós temos uma legislação nacional que ela trata disso. Às vezes, até de forma

exagerada. Porque o fato de você fazer uma coleta em qualquer comunidade

não significa que obrigatoriamente você tem que retornar alguma coisa. Hoje

nós temos inclusive um conselho a nível nacional, que é o Cegem, que trata

dessa questão, dos recursos genéticos. Nós acreditamos que se você realmente

utiliza de algum conhecimento que foi trabalhado por alguma comunidade,

isso deve obrigatoriamente retornar como benefícios. Mas o exagero também

de chegar isso ao extremo e até dificultar as atividades científicas, forçando a

negociações nem sempre as mais, sei lá, claras, isso pode ser um impeditivo.

Isso pode ser um impeditivo para o desenvolvimento científico do país (Sujeito

13).

Esse assunto parece trazer outras implicações para a empresa. Uma pessoa questiona o

nome de uma das unidades da Embrapa, que é Transferência de Tecnologia, argumentando

que esse termo “É muito questionado externamente porque a transferência é unilateral e na

realidade a gente, numa construção, devemos considerar o saber tácito dessa outra rede”

(Sujeito 3).

Como se pode depreender do que foi exposto, esse assunto ainda requer muita discussão

dentro da empresa, até mesmo para compreender suas implicações.

Page 200: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

200

6.9. TEMAS SOLIDÁRIOS

Em pesquisas desse tipo, é comum surgirem temas que não foram objeto da pesquisa,

mas que são levantados, quando a pesquisa é reconhecida como um instrumento ou como um

fórum para apresentar questionamentos.

Esse fenômeno também pode ocorrer por inexistência ou desconhecimento pelo sujeito

dos canais institucionais adequados. Pode ocorrer ainda pela oportunidade proporcionada pelo

instrumento ou pelo levantamento de assuntos que remetem a preocupações vivenciadas pelos

respondentes.

Essas questões serão citadas para serem objeto de estudo pelos canais competentes,

quando for o caso.

Nessa pesquisa, foram levantadas as questões citadas no Quadro 7.

Quadro 7: Questões que surgiram no decorrer do trabalho e que não se referiam diretamente

ao objeto das pesquisas realizadas

MEIO TEMA DECLARAÇÕES (transcrições literais)

Entrevistas

Preliminares

Avaliação de

projetos

Os pesquisadores precisam de suporte para avaliação

do impacto estratégico, envolvendo os aspectos

políticos, econômicos, sociais e jurídicos de cada

projeto da Embrapa, até mesmo por proteção, o

impacto jurídico.

Q. 452 Conduta na

política

Se consideramos deputados como servidores públicos,

não existe código de ética do servidor público...

Q. 485 Conduta na

política

Com tanta falta de ética escancarada a toda a nação

brasileira, com nossos parlamentares, líderes do povo

dando os piores exemplos, fica até difícil falar de

ética...

Page 201: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

201

Quadro 7: Questões que surgiram no decorrer do trabalho e que não se referiam diretamente

ao objeto das pesquisas realizadas (Continuação)

MEIO TEMA DECLARAÇÕES (transcrições literais)

Q. 405 Sobrecarga de

trabalho

Existe sobrecarga dos pesquisadores na busca por

recursos financeiros, na divulgação de seu trabalho na

mídia, na busca de parcerias contínuas... entre outros.

Perde-se mais tempo elaborando propostas de

captação de recursos externos e projetos em rede que

na atenção que devia estar sendo dada a resultados

atingidos (não falo cronograma atingido, mas

conteúdo oferecido a sociedade).

Q. 405 Conflito de

papéis

Pessoas em cargos gerenciais não querem perder

contato com a pesquisa, o que é impossível. Ou se é

administrador ou pesquisador. Como resultado, a

estrutura administrativa passa a ser usada de forma

inapropriada...

Q. 405 Resgate de

valores

Essa pesquisa está de parabéns porque esse tipo de

trabalho deve ser coordenado diretamente por quem é

de fora da Unidade; por quem é isento quanto a

resposta obtida na pesquisa. É hora de parar para

pensar o que estamos fazendo com e na nossa

Embrapa e agir enquanto há tempo de resgatar seus

valores.

Q. 434 Ineditismo de

propostas de

pesquisas

Quando as nossas propostas de pesquisa saem da

Embrapa para serem analisadas por consultores

externos nos tornamos vulneráveis a biopirataria.

Como o sistema Embrapa (MPs) é muito lento

corremos o risco de perder o ineditismo.

Page 202: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

202

Quadro 7: Questões que surgiram no decorrer do trabalho e que não se referiam diretamente

ao objeto das pesquisas realizadas (Continuação)

MEIO TEMA DECLARAÇÕES (transcrições literais)

Entrevistas

Preliminares

Leis externas à

Embrapa que

regulamentam

a atividade de

pesquisa

As leis no Brasil são frágeis (em excesso, detalhistas e

complicadas). Elas privilegiam quem não está dentro da lei.

Para a Embrapa trabalhar numa simples coleta, existem

tantas leis, tantos formulários; é necessário o preenchimento

de tanto documento. Entretanto, se for só passear, ninguém

incomoda. A pessoa pode colher material a vontade. O

pesquisador de outro país, quando mal intencionado, colhe

a vontade e ninguém o incomoda porque ele não falou que

ia fazer pesquisa. Para o mal intencionado não há punição,

ele fica na cadeia dois dias, depois sai e fica por isso

mesmo. O Brasil (Ibama, Ministério da Saúde) faz leis que

de certa forma atrapalha o trabalho da Embrapa, que é uma

empresa pública séria. Não fiscaliza os outros.

Page 203: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

203

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

O estudo sobre a ética na pesquisa agropecuária é pioneiro no Brasil. Não foram

encontrados estudos sobre esse tema específico.

O objetivo geral desta dissertação, que era realizar um estudo sobre a percepção que os

pesquisadores da Embrapa têm com relação à ética na pesquisa agropecuária, foi atingido. O

trabalho apresentou um panorama da percepção dos pesquisadores sobre o tema e ofereceu

um diagnóstico de como a questão da ética está sendo tratada na Embrapa. Deu início também

a uma identificação dos princípios éticos que norteiam a atividade de pesquisa.

Esta dissertação, pela própria organização e apresentação, já expôs algumas conclusões

ao longo das análises. Assim, neste tópico, serão enfatizadas algumas que merecem destaque.

Os princípios e valores fundamentais, objeto do estudo da ética, perpassam os conceitos

da filosofia e das religiões desde as mais antigas até as atuais. O homem sempre buscou

códigos básicos escritos ou tácitos para orientar e organizar a vida em sociedade, até mesmo

como forma de preservação da espécie.

Com relação a ética em C&T, conclui-se que há muito que refletir sobre os limites

éticos da pesquisa, explicitando princípios básicos e padrões de conduta que deverão ser

praticados pela comunidade científica. Eles contribuiriam para coibir práticas erradas ou

configuradas como má-fé, buscando sempre a integridade da ciência, que é seu maior

patrimônio junto à sociedade.

Por tudo o que foi levantado por meio desse estudo, da pesquisa qualitativa, da pesquisa

quantitativa e pelo contexto regulatório, pode-se concluir que:

⇒ Há certo desconhecimento por parte de alguns gerentes e de alguns

pesquisadores da Embrapa sobre o que seria especificamente “ética na

pesquisa agropecuária”;

⇒ O tema desperta ou traduz o interesse de todos os atores ouvidos, o que mostra

que o ambiente da Embrapa está favorável à atuação da empresa em políticas

Page 204: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

204

nessa área. Apenas para exemplificar, em uma das questões do questionário,

49,19% dos pesquisadores acredita que o tema ética na pesquisa “necessita ser

melhor discutido na Embrapa pelos pesquisadores e pela direção da empresa”.

Em outras questões o interesse dos atores pelo tema se torna também muito

evidente;

⇒ O Código de Ética da Embrapa pode ser um ponto de partida para que se

introduza o assunto na empresa, mas como fundamento norteador da conduta

ética dos pesquisadores da empresa ainda carece de ajustes e aprofundamentos.

O estudo também mostrou que:

⇒ Dos pesquisadores que responderam à pesquisa quantitativa, 39,84% opinaram

na questão aberta e em outros campos do questionário, com declarações

contendo opiniões, definições, sugestões ou elogios sobre o tema e sobre a

pesquisa. Além disso, foram recebidos 110 e-mails de pesquisadores,

solicitando o questionário em word ou emitindo opiniões, o que confirma mais

uma vez o interesse dos atores no assunto estudado;

⇒ A grande maioria dos atores ouvidos, isto é, 97% dos pesquisadores

reconhecem a estreita relação entre a ciência, a pesquisa e a ética. Destes, 63%

acreditam que “a ética, a ciência e a pesquisa devem se complementar” e 34%

acreditam que “a ética deve estar acima da ciência e da pesquisa”. Na pesquisa

qualitativa também a grande maioria reconhece a relação da ética com a

ciência e a pesquisa. Em outro questionamento, 94,51% acreditam que a ética

deve ser levada em consideração em todo o processo de pesquisa. Dessa forma,

fica muito clara a importância da ética na pesquisa, na opinião dos atores;

⇒ Dos pesquisadores que responderam à pesquisa quantitativa, 85% acreditam

que a pesquisa agropecuária, como um todo, deve estar incluída nas discussões

sobre bioética. Nesse caso, é necessário que a Embrapa se adiante, correndo

Page 205: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

205

atrás do “passivo”, uma vez que as discussões sobre bioética já contabilizam

alguns anos;

⇒ Dos respondentes do questionário, 41% declaram desconhecer o Código de

Ética da Embrapa. Analisando as respostas, conclui-se ainda que 87% dos

respondentes não conheciam o código em sua totalidade;

⇒ Quando perguntados se os pesquisadores estão cumprindo os princípios éticos

da pesquisa, as respostas afirmativas totalizaram 17%. Os que não sabiam 34%

e os que responderam “quase sempre”, 38%. Acredita-se que em uma empresa

de pesquisa, a certeza do cumprimento dos princípios éticos pelos pares

deveria ser em maior número. Entretanto, como essa pesquisa não investigou

os motivos desse fenômeno, conclui-se que essa questão merece um estudo

mais aprofundado, visando compreender suas razões, para que sejam tomadas

medidas para resolução dos problemas encontrados.

Durante a realização das pesquisas, observou-se um número considerável de

pesquisadores que teceram considerações com relação aos sistemas de avaliação da empresa,

tanto o de avaliação de unidades (SAU), como o de avaliação de desempenho de pessoas

(SAAD). Apesar de esse assunto não ter se constituído no foco dessa pesquisa, nota-se que as

reclamações giram principalmente na percepção de que esses sistemas fomentam a

competição negativa entre empregados e unidades. Considerando que esse fato não é bom

para a empresa, tornam-se necessárias medidas, visando conhecer essa realidade e intervir, se

for o caso, visto que esses sistemas interferem no dia a dia dos profissionais, podendo, em

última análise, interferir na motivação dos mesmos.

Enfim, pensar em ética não é uma tarefa fácil. As pessoas em geral não gostam de se

envolver com o assunto, dada a complexidade do tema. Entretanto, o fato de ser complexo

não inviabiliza sua melhor compreensão.

Outra questão que merece ser destacada aqui é que quando se fala em ética, os

pesquisadores consultados afirmam que é uma “questão de berço”. Essa dissertação não

procurou refutar a visão de que a ética é algo que se traz do “berço”. Seria, contudo,

impossível supor que todas as novas e complexas questões que circunscrevem o debate já

Page 206: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

206

estivessem equacionadas e incutidas nas mentalidades de todos como atributo

comportamental a priori. Nesse sentido, é lícito considerar que, caso não se disponha dessa

bagagem de princípios e conhecimentos, há sempre a possibilidade de se adquirir, pois o

crescimento do ser humano em todas as dimensões acontece, em tese, durante toda a sua vida,

de forma que é perfeitamente possível apreender e internalizar princípios, sejam eles no

campo pessoal, profissional ou outros. Assim, a empresa pode e deve atuar, investindo na

educação para a ética.

O estudo mostrou que cabe à Embrapa:

⇒ Investir em uma “política de ética” na empresa. Esse investimento se refletirá

na ética na pesquisa, lembrando que os pesquisadores representavam em

agosto de 2005, 26% do seu quadro funcional. Como parte dessa política

deverão ser disponibilidados canais de orientação sobre conduta funcional e

sobre procedimentos éticos nas unidades da empresa, com pessoas treinadas,

fomentando um ambiente de aprendizado, no qual as pessoas reflitam sobre

seus atos e mudem de atitude, caso estes não estejam condizentes com os

princípios éticos que a organização persegue;

⇒ Investir na discussão e definição de princípios norteadores da conduta ética na

pesquisa, buscando o envolvimento maciço do pessoal da carreira de P&D,

como compartes no processo. Esse procedimento poderá contribuir como

forma de proteger a empresa de atuações dentro de um “vazio ético” ou em

estágio “pré-ético” de pensamento, conforme tão bem caracteriza Singer (1998,

p. 21). A participação, além de contribuir para um produto representativo,

favorece a internalização e a conscientização, gerando co-responsabilidade;

⇒ Oferecer canais para os pesquisadores que fomentem a discussão de temas que

tangenciam ou que interferem na atividade de pesquisa, como, por exemplo, a

ética;

⇒ Investir no padrão ético dos seus dirigentes em todos os níveis. A

disseminação da ética pelo exemplo e comprometimento do corpo gerencial da

Page 207: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

207

empresa é uma ferramenta muito eficiente de internalização de conceitos,

conforme adverte Humberg (2002, p. 56). Lembrando ainda que uma das

responsabilidades do segmento gerencial é atuar como peças centrais na

questão da educação, orientando o pessoal sob sua supervisão;

⇒ Disponibilizar para os pesquisadores e para os demais empregados um

documento orientador que reúna as diversas normas sobre ética a que estes

estão submetidas;

⇒ Oferecer ou divulgar melhor os canais que poderão ser utilizados pelos

empregados para denúncias de atitudes antiéticas ou de desvios de conduta.

Estas deverão ser devidamente apuradas, tomando as medidas cabíveis

(orientação, treinamento, investimento na formação, punição etc.), visando

proteger a imagem da empresa e demonstrar a determinação da instituição em

se buscar uma conduta correta. Esses canais deverão ser confiáveis, com

mecanismos de proteção e garantia de sigilo aos denunciantes.

Entende-se que a presente dissertação, que trata no meio acadêmico de um desafio

inerente a uma instituição de pesquisa, tem caráter exploratório. Ainda há muito que descobrir

e compreender sobre o tema. Este trabalho, mais que pretender ser conclusivo e definitivo,

busca servir de base para estudos mais aprofundados do tema. Entende-se que o assunto aqui

tratado é da maior relevância e como tal merece priorização e maiores reflexões tanto na

empresa como em outros segmentos.

Page 208: A Ética Na Pesquisa Agropecuária

208

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