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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A EVOLUÇÃO DA ARTE NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA ANA CLAUDIA BORDALLO DE FIGUEIREDO RAPOSO ORIENTADOR: Prof. Diva Maranhão Rio de Janeiro 08/2002

A EVOLUÇÃO DA ARTE NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E SUA ... CLAUDIA BORDALLO DE FIGUEIREDO RAPOSO.pdf · processo seja pleno o seu mediador precisa estar profundamente consciente

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A EVOLUÇÃO DA ARTE NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E SUA

CONTRIBUIÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

ANA CLAUDIA BORDALLO DE FIGUEIREDO RAPOSO

ORIENTADOR:

Prof. Diva Maranhão

Rio de Janeiro

08/2002

II

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A EVOLUÇÃO DA ARTE NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA E SUA

CONTRIBUIÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

ANA CLAUDIA BORDALLO DE FIGUEIREDO RAPOSO

Trabalho monográfico apresentado

como requisito parcial para a obtenção do Grau

de Especialista em “Lato Sensu” em Docência

do Ensino Fundamental e Médio.

Rio de Janeiro

08/2002

III

Agradeço a Deus que me

inspirou a buscar este novo caminho de

auto conhecimento, contribuindo para a

minha qualificação profissional e a minha

família que com seu amor alimentou esta

busca.

IV

Dedico a todos os artistas que

souberam com seu olhar contar a

história da nossa Humanidade e aos

mestres que sabem recontar suas

histórias.

V

“Toda obra de arte é filha de

seu tempo e muitas vezes, mãe dos

nossos sentimentos”.

Kandinsky

VI

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................. 1 CAPÍTULO I HISTÓRICO DAS ARTES NO ENSINO BRASILEIRO ............................... 3 CAPÍTULO II PCN E AS QUATRO ÁREAS DA ARTE ..................................................... 2.1 – As artes e principais objetivos ........................................................... 2.2 – A dança e principais objetivos ........................................................... 2.3 – A música e principais objetivos ......................................................... 2.4 – O teatro e principais objetivos ...........................................................

789

1010

CAPÍTULO III PROBLEMAS, PROPOSTAS E SOLUÇÕES APONTADAS PELOS ARTE EDUCADORES ............................................................................... 3.1 – Extinção da polivalência .................................................................... 3.2 – Disciplina obrigatória ......................................................................... 3.3 – Sem especialista ............................................................................... 3.4 – Proposta curricular ............................................................................ 3.5 – Questão salarial ................................................................................. 3.6 – Capacitação de professores ..............................................................

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CAPÍTULO IV A ARTE NA FORMAÇÃO DA CIDADANIA ................................................ 4.1 – As experiências que deram certo ......................................................

1920

CONCLUSÃO ............................................................................................. 28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................... 29

VII

RESUMO

Falar de arte não é uma tarefa fácil. No entanto, aquele que a realiza

ou a estuda sempre tem dela uma concepção, mesmo que inconsciente. A arte

é fruto do embate homem/mundo, e por meio dela interpreta sua natureza

construindo formas ao mesmo tempo em que descobre, inventa, figura e

conhece.

É desta experiência que o aluno precisa vivenciar e para que este

processo seja pleno o seu mediador precisa estar profundamente consciente

desde mecanismo. Este trabalho fará uma reflexão do ensino das artes nas

escolas brasileiras, seus conflitos e suas conquistas. Mostras que as artes tem

um valor importante na formação do aluno, tornando-o um ser consciente,

crítico e criativo atuando na transformação da história da humanidade.

VIII

INTRODUÇÃO

A arte é a primeira linguagem do homem. Antes de

escrever, o homem primitivo fez desenhos nas cavernas, assim

como acontece com qualquer criança antes da alfabetização.

Depois, utilizaram também a dança, o teatro e a música para

expressar suas emoções e sentimentos religiosos. Tudo o que está

a nossa volta foi imaginado, desenhado, esculpido, pintado e

muitas vezes dançado e cantado — além das obras de arte, os

móveis, as casas, as roupas, os objetos. Um bom mestre-de-obras

tem conhecimento de arte noções de espaço, linhas retas e curvas,

formas, cores — Um eletricista, como lembra a professora Ana

Barbosa, diretora do Museu de Arte Contemporânea da USP, será

um profissional muito melhor se conhecer arte, pois saberá que

uma determinada disposição de pontos de luz numa sala dará a

sensação de aumento ou diminuição do espaço. Uma câmara de

televisão realizará melhor seu trabalho se estudar obras de arte, os

IX

ângulos o enfoque, a respectiva. E quem trabalha na indústria de

tecidos precisa ter noções de cores, texturas, padronagens, que

fazem parte do estudo da arte. Estamos em diversas situações do dia-a-dia cercadas

por obra de arte, sem muitas vezes não darmos conta disso.

É preciso exercitar esse olhar atento não só dentro de

museus, galerias e salas de aula, mas no cotidiano da cultura popular, na erudita e nos

meios de comunicação. O papel do professor é colocar-se como apresentador deste

universo artístico, estimulando nos seus alunos a capacidade deles ampliarem e

exercitarem os diferentes sentidos, tão pouco trabalhados — como o tato, a visão e a

audição e aprimorar seus gestos e linguagens.

Neste contexto, abordaremos a princípio que apesar

deste potencial das artes no ensino escolar, ela foi ao longo do tempo fracamente

aproveitada e trabalhada.

Retrataremos estas falhas e mostramos as recentes

conquistas apoiadas nas Leis Diretrizes e Bases e a PCN das artes.

Mais adiante veremos que a classe trabalhando

integrada e estruturada, aliada as escolas que dêem o devido suporte, já se pode ver

frutos colhidos deste esforço.

Esforço este que busca no currículo escolar um lugar ao

sol como as outras consideradas “disciplinas”.

X

CAPÍTULO I

HISTÓRICO DAS ARTES NOENSINO BRASILEIRO

Embora o ensino de arte esteja previsto por lei na

escola brasileira desde o inicio da década de 70, sua história, e muito mais longa do que

o registro oficial indica, perfazendo um percurso enriquecido pelas diversas teorias de

ensino que impulsionaram os professores a procura de novos caminhos na

reestruturação de seu trabalho educacional.

Educacional Artística é o nome que se deu ao ensino de

três linguagens da arte – plástica, musical e cênica – a partir, da lei 5.692/71 (Diretrizes

e Bases da Educação), que institui a obrigatoriedade da disciplina nos currículos de 1º e

2º grau. Antes existia o ensino de desenho, canto e coral, no então curso secundário, ou

iniciativas pioneiras, como as Escolinhas de Arte. Para conhecermos mais a fundo este

processo veremos que a visão humanista e filosófica que marcaram as tendências

tradicionalistas e escolanovistas foi onde se acalantou o ensino das artes na grade

XI

curricular. Estas tendências moldam as ações escolares desde o inicio do século e ainda

hoje vigoram.

Na primeira metade de século XX, as disciplinas

desenho, trabalhos manuais, música e canto orfeônico faziam parte dos programas das

escolas primárias e secundárias, que transmitiam padrão e modelos das culturas elitistas.

As habilidades manuais, os “dons artísticos” eram meramente confundidos com uma

visão utilitarista e imediatista da arte. Os exercícios e modelos padronizados e

convencionais eram dirigidos por livros e manuais didáticos. A figura central na sala de

aula era o professor, que repassava uma visão rígida e preestabelecida de padrões

estéticos acadêmicos e caráter puramente reprodutivo.

A disciplina Desenho era apresentada sob forma de

desenho geométrico, desenho do natural e desenho pedagógico, considerado mais pelo

seu aspecto funcional, visando uma aplicação imediata e a qualificação para o trabalho.

As atividades de dança e teatro eram incluídas somente

em datas festivas. As crianças não representavam, mas copiavam o que lhe haviam

marcado com rigor em treinos mecanizados em música, com tendência tradicionalista e

espírito coletivo e cívico fora reflexo do momento político vivido na década de 30. O

canto orfeônico foi idealizado neste espírito pelo compositor Heitor Villa Lobos e este

projeto tinha como grande objetivo constituir uma referência no ensino escolar apoiada

em uma linguagem musical de forma consistente e sistemática. Pela falta de preparo dos

professores, as aulas ficaram limitadas à aspectos matemáticos e visuais do código

musical das peças orfeônicas, alcançando somente a exaltação de caráter

folclórico,cívico, traços marcantes da época sócio política do país.

Este quadro foi alterado entre os anos 20 e 70 que sob

influência do movimento modernistas e aliados ao pensamento escolanovista deram

uma nova dimensão ao ensino de arte nas escolas brasileiras.

O desenvolvimento da criança e seu processo de

criação, a sua forma de expansão e compreensão com o mundo é valorizado. As artes

trabalharam como um canal para esta expressão e dada esta leitura estimulando-se o

crescimento ativo e progressivo do aluno. Os professores da época estudaram estas

novas teorias em sintonia com o exterior, o que colaborou com o rompimento da rigidez

estética, linha marcante reprodutivista da escola tradicional.

XII

Todas as cadeiras artísticas passaram a existir com

outro enfoque. Os sentidos são explorados e as crianças são estimuladas a experimentar,

improvisar e criar.

Apesar do riquíssimo material que o movimento

modernista proporcionou por décadas e oferecendo um vasto recurso, reconhecido

mundialmente pela sua originalidade, os cursos de formação de professores eram

escassos. E bastasse que professores de quaisquer matéria ou pessoas com alguma

habilidade na área (artistas e estudiosos de cursos de belas artes, conservatórios)

poderiam assumir disciplinas de desenho, Desenho Geométrico, Artes Plásticas e

Música.

Os “professores” de Desenho, Música ou Artes tinham

o direito de atuar, mas não recebiam uma orientação de como trabalhar com arte ou para

quê. Assim os professores continuaram aplicando os mesmos exercícios a que estavam

acostumados. Na verdade, o que antes se chamava Desenho, Música ou Artes passou a

receber o nome de Educação Artística.

Quando o professor voltou a faculdade para se habilitar

— os cursos foram implantados a partir de 1973 — a questão se agravou, pois aí ele

encontrou polivalência. A licenciatura curta se dispõe a preparar o professor em dois

anos, para ensinar artes visuais, música e teatro para o 1º grau (Ensino Fundamental). A

licenciatura plena e adquirida em mais um ano e confere habilitação para o 2º grau

(Ensino médio). Em muitos estados, entretanto, apenas a curta é suficiente para habilitar

professores de 2º grau (Ensino Médio).

Para a professora Ana Mae Barbosa, “a colocação da

obrigatoriedade da Educação Artística foi uma jogada com o sentido de parecer que as

autoridades davam importância às humanidades, ao mesmo tempo em que retiravam do

currículo matérias como História e Filosofia. Mas não queriam nada a sério, pois

criaram um curso universitário de preparação para professores de Educação Artística

que é um absurdo epistemológico. Como se pode ensinar todas as artes a uma pessoa em

apenas dois? Pretenderam usar a arte como mascaramento ideológico do currículo, não

permitindo que o ensino tivesse qualidade”, afirma.

No curso de Magistrado, a situação não é melhor. A

matéria em geral é dada no último ano, muitas vezes por um pedagogo e não um

especialista da área acentua Miriam Celeste Martins, da Associação de Arte –

XIII

Educadores do Estado de São Paulo. “O que ele transmite é uma pastinha com modelos

para festa, capas de provas, etc”.

A Educação Artística sofreu um novo golpe com o

parecer 785/86 e a resolução 6/86, co Conselho Federal de Educação que reformulou o

núcleo comum do 1º e 2º graus, privilegiando as chamadas disciplinares básicas. Em

abril de 1987, um manifesto de arte educadores do Estado de São Paulo reivindicava,

seu êxito, a renovação dessa legislação, “que induz as escolas a retrocederem ao

esquema ancestral e reducionista de ler, escrever, e contar”. Nos últimos anos o

movimento dos artes educadores tem-se intensificando através de associações estaduais

e da federação, promovendo encontros, debates e congressos. O Manifesto de

Diamantina, aprovado no I Encontro Nacional de Arte Educação, em 1985, de grande

repercussão nos meios educacionais, colocou as reivindicações da área, que ainda

atuais. Entre elas a presença de um especialista de reconhecida participação na área das

artes, do país, na comissão de alto nível constituída para reestruturar a universidade

brasileira. E a criação de uma comissão nacional de Arte Educação, para reformular os

currículos de arte, com a participação de representantes da categoria, estudantes, MEC e

Ministério da Cultura, formada no Encontro de Associações de Arte Educadores em São

João Del Rey (1986), mas que não entrou em funcionamento.

Em 1988, com a promulgação da Constituição, iniciou-

se a discussão sobre a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que seria

sancionada apenas em 20 de dezembro de 1986. Convictos da importância de acesso

escolar de ensino básico também da área de arte houve manifestações e protestos de

inúmeros educadores contrários a uma das versões da referida lei que retirava a

obrigatoriedade da área.

Com a Lei nº 9.394/96, reconsideram a Arte disciplina

obrigatória na Educação Básica. Vê-se que apesar dos duros conflitos chegava-se a

novas concepções e novas metodologias para o ensino e a aprendizagem de arte nas

escolas.

É neste cenário que se fechou o antigo milênio e não

causou novas discussões para o novo milênio. Uma destas é o novo marco curricular de

identificara área por arte (e não mais por Educação Artística) e de incluí-la na estrutura

curricular como área de conteúdos próprios e não apenas como atividade. Outros

estudos interferindo na melhoria do ensino e da aprendizagem, ressaltando a educação

XIV

da estética, do cotidiano, o encaminhamento pedagógico artístico que tem por requisito

uma maior integração do fazer artístico, a apreciação da obra de arte e a sua

contextualização histórica.

CAPÍTULO II

PCN E AS QUATRO ÁREAS DA ARTE

Os parâmetros curriculares nacionais estabelecem

quatro grandes áreas no ensino de arte para o terceiro e quarto ciclos: Artes Visuais,

Dança, Música e Teatro. O conteúdo de cada uma delas vai depender do que os alunos

já estudaram nos ciclos anteriores, para que haja continuidade no processo de

aprendizagem. Vale lembrar que não será necessário fechar um tema até o final para daí

então passar para o seguinte. Eles podem ser trabalhados de forma intercalada no

decorrer do ano, de acordo com o planejamento pedagógico, buscando sempre

conteúdos e aprendizagens que colaborem para a formação do cidadão. Todo este

trabalho visa também promover a igualdade de participação e compreensão sobre a

produção nacional e internacional da arte.

Na PCN das artes, não estão definidas as modalidades

artísticas que devam ser trabalhadas a cada ciclo. Dão condições para que cada equipe

possa checar o seu conteúdo, ao seu projeto curricular, sabendo-se que nas escolas, há

uma diversidade de material e equipe de profissionais de comunidade para comunidade.

Ressalta-se, portanto que esses aspectos fundamentais são o leme para os projetos a

serem desenvolvidos.

Para PCN, o estudo, a análise e a apreciação das formas

podem contribuir tanto para o processo pessoal de criação dos alunos como também

XV

para o conhecimento progressivo e significativo da função que a arte desempenha nas

culturas humanas.

Este conjunto de conteúdos está inserido no contexto de

ensino e aprendizagem em três aspectos vitais.

• a produção – o fazer artístico, no âmbito do fazer do aluno e dos produtores

sociais da arte.

• a fruição – refere-se a relação estabelecida do aluno e a obra de arte e do

universo a ele relacionando.

• A reflexão – refere-se a construção do conhecimento sobre o trabalho

artístico pessoal e dos colegas e vê-la como produção da história e da

multiplicidade das culturas humanas, com ênfase na formação cultivada do

cidadão. Para seleção destes conteúdos é fundamental que estejam

compatíveis com as possibilidades de aprendizagem do aluno. E para que se

forme um cidadão, os trabalhos ao longo da escolaridade, deverão valorizar

as manifestações artísticas de povos e culturas de diferentes épocas,

incluindo a contemporaneidade. Finalmente o conhecimento e a ação

artística deverão ter suas especificidades.

2.1 – As Artes Visuais e principais objetivos

Nunca as pessoas foram tão bombardeadas por imagens

como nestas últimas décadas. É uma explosão de cores, formas e luzes inéditas na

história. Saber ver e perceber as manifestações visuais, distinguindo sentimentos, idéias

e qualidades fazem parte das aulas de Artes Visuais. Além do cultivo das formas

tradicionais, como pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, objeto e cerâmica, o

século XX acompanhou o nascimento de outras modalidades de expressão visual.

Inclui-se nesse rol as artes gráficas, o cinema, a televisão a computação, o vídeo e a

holografia. Elas podem ser combinadas de diferentes modos.

Principais objetivos:

XVI

• Construir, expressar-se e comunicar-se em artes plásticas e visuais,

articulando percepção, imaginação, memória, sensibilidade e reflexão.

• Interagir com diferentes materiais, e meios (computador, vídeo cinema e

fotografia);

• Reconhecer e usar diversas técnicas;

• Desenvolver relação de autoconfiança, com a própria produção artística;

• Valorizar a diversidade estética e artística;

• Analisar criticamente elementos da linguagem visual cotidiana (vitrines,

roupas, objetivos domésticos, meios de comunicação).

2.2 – A Dança e principais objetivos

Por meio da dança, o aluno experimenta um meio de

expressão da palavra. Ao “falar” com o corpo, ele abre a oportunidade de conhecer, a si

mesmo de outra maneira e melhorar sua auto-estima. O simples prazer de movimentar o

corpo alivia o stress diário e as tensões escolares. Para isso é importante que o corpo

não seja tratado como instrumento, mas como forma de comunicação. Pouco adianta,

Por exemplo, ensaiar exaustivamente uma coreografia se a atividade for apenas

mecânica e tratada de modo alienante.

Principais objetivos:

• Valorizar diversas escolhas de interpretação e de criação, em sala de aula e

na sociedade;

• Situar e compreender as relações entre corpo, dança e sociedade;

• Buscar informações sobre dança em livros e revistas ou em conversas com

profissionais.

2.3 – A Música e principais objetivos

XVII

Ouvir música faz parte da cultura do

adolescente principalmente. Ele dá identidade ao grupo de

amigos, é companheira nos momentos de solidão e ajuda a moldar

atitudes e comportamentos. Mas que tipo de música é essa? Rock,

reggae, tecno, dance, pagode, rap. O jovem como grande

receptador desses produtos, precisa abrir no máximo seu leque de

repertórios, participando de eventos de cultura popular, shows,

concertos e festivais. A escola estimulando o aluno a desenvolver

relações com outros grupos faz crescer sua cultura musical.

Principais objetivos:

• desenvolver a percepção auditiva e memória musical;

• pesquisar, explorar, compor e interpretar sons de diversas naturezas e

procedências;

• utilizar e cuidar da voz como meio de expressão e comunicação musical;

• conhecer, aplicar e adotar atitudes de respeito diante da variedade

manifestações musicais do país;

• estabelecer relações entre a música feita na escola, as veiculadas pela mídia e

as que não produzidas localmente;

• conhecer usos e funções da música em épocas e sociedades distintas.

2.4 – O Teatro e principais objetivos

É irreverente ao ser humano a necessidade de contar

histórias, narrar fatos e recriar acontecimentos. O teatro, dessa

forma, sempre constitui um meio de compreender a realidade em

que vivemos e transcender seus limites. Trata-se de um jogo de

construção que promove o desenvolvimento da criatividade, abre

XVIII

as possibilidades de compartilhar descobertas e idéias,

sentimentos e atitudes. Não se pode perder de vista que a pratica

teatral está ligado às tradições da época e da cultura das quais

foram criadas.

Principais objetivos:

• Compreender o teatro nas diversas dimensões / artísticas, histórica e social;

• Pesquisar recursos materiais disponíveis na escola e na comunidade

atividades teatrais;

• Conhecer os períodos da história do teatro;

• Usufruir a produção teatral da escola, da comunidade e do circuito cultural;

• Reconhecer o teatro como forma de desenvolvimento da solidariedade.

XIX

CAPÍTULO III

PROBLEMAS, PROPOSTAS E SOLUÇÕES APONTADAS PELOS

ARTE EDUCADORES

Apesar da PCN das Artes e da Lei de

Diretrizes e Bares, o ensino de arte está correndo perigo.

Relegado á um segundo plano, sobrevivendo devido à dedicação

isolada e nem sempre estimulada de muitos profissionais, esse

aspecto fundamental da educação ocupa um espaço restrito no

ensino, principalmente no público, oferecido na maioria das

escolas como atividade e não disciplina é, com raras exceções,

reduzido a cópias mecânicas de modelos é aprendizado de música

para eventos comemorativos. Uma situação reveladora do descompromisso da

sociedade para com a arte, que muitos acreditam, “não serve para ganhar dinheiro e,

portanto, não tem importância”. Arte não tem pretensão de formar nos artistas, escolas,

mas para desenvolver os sentidos e a percepção. Segundo Olga Reverbel, do Instituto de

Educação de Porto Alegre, “No Brasil, nunca se deu importância à arte e a cultura” e

XX

acrescenta que por isso que as disciplinas de Educação Artísticas são dadas apenas

como obrigação, sem qualquer integração com outras disciplinas.

Herdeira de uma tradição que começa com o

renascimento, e que estabelece a hegemonia da linguagem verbal, a escola brasileira não

se deu conta ainda que no mundo de hoje, o futuro já chegou. Ela pouco usa ou

desconhece as novas linguagens – das telas da TV e cinema aos computadores, dos

vídeos à propaganda – deixando de lado a intenção prestigiando apenas a lógica e as

coisas concretas. Para a professora Lucimara Lara, da Escola Municipal Magalhães

Drumonnd, de Belo Horizonte, “a arte é o instrumento que lhe possibilitará uma

identificação maior com a escola”. O propósito da arte é de alinhar todos os

conhecimentos, indo de frente com a nossa educação segmentada. O ser humano é um

todo, que não se identifica com coisas fragmentadas. As escolas que acertarem este

descompasso, e forem bem ministradas, apresentarão reflexos nas demais disciplinas.

Quem garante está análise é a presidente da Federação de Arte – Educadores e

Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

A importância da arte na formação do ser humano

integrado é a tecla diária em que batem as entidades da área para resgatar a

obrigatoriedade de disciplina.

No momento da elaboração da Lei de Diretrizes e

Bases, a Federação dos Arte Educadores do Brasil, alertou que se o espaço das Artes

não forem realmente ocupado no seu devido valor e reconhecimento, as escolas

formarão homens e mulheres adaptáveis, cuja inteligência será servil à técnica e as

ciências já feitas e prontas, do pensamento pronto.

3.1 – Extinção da Polivalência

A formação dos professores é outra preocupação dos

arte educadores, que reivindicam a extinção da licenciatura curta e da polivalência. No I

congresso de Federação de Arte Educadores do Brasil (1988), foi sugerida a criação de

um curso com duração mínima de quatro anos, com mais um de especialização. Os arte

educadores recomendam ainda que a arte seja incluída como função básica na

XXI

preparação dos estudantes do magistério e enfatizam a necessidade da presença do

professor especialista nas primeiras séries do 1º grau.

No mês de junho do ano anterior, essas reivindicações

foram levadas pelas entidades à Comissão de Educação e Cultura do Congresso

Nacional, com vistas ainda à elaboração do LDB.

Os arte educadores entendem que os projetos de lei

apresentados omitem a permanência do ensino de arte nos currículos de 1º e 2º graus, o

que acarretará prejuízos irreparáveis para toda sociedade. Como acentua Ana Mae

Barbosa: “A arte deve estar no currículo para fazer o indivíduo recorrer a cultura de seu

país.” Queremos um Brasil futuro com gente que seja capaz de decodificar seu país,

conhecendo sua história e sua arte.

3.2 – Disciplina Obrigatória

Com sua luta de vários anos, os arte educadores

pretendem que a Educação Artística seja transformada em Ensino de Arte e que seja

obrigatória enquanto disciplina, da pré-escola (Ensino Infantil) ao 2º grau (Ensino

Médio), o que ainda encontramos em muitos Estados é uma atividade que não passa do

2º ciclo do Ensino Médio. E mesmo quando ministrada como disciplina, consta apenas,

em uma das séries, com uma carga que varia dentre uma e duas aulas semanais.

Em alguns estados confirma-se o quadro da Educação

Artística traçado pelos especialistas da área. No Rio Grande do Sul a Educação Artística

não aparece no currículo do Ensino Fundamental (2º ciclo) e, na maioria das vezes

como atividade extracurricular, em apenas uma série, com duas aulas semanais. Isto se

deve, na opinião da Assessora Técnica da Educação do Estado, Mirtô Todesco, a dois

motivos: a má interpretação da resolução 785/86 do Conselho Federal de Educação e a

carência crescente de professores especializados.

Segundo Mirtô Todesco, o

objetivo da resolução era aumentar a

carga horária de Português e

Matemática, para isso, as escolas

praticamente expulsaram a

Educação Artística do currículo. E o

XXII

parecer 179/79, do Conselho

Estadual de Educação, foi

estabelecer diretrizes para o

desenvolvimento da Educação

Artística no Ensino Médio, facilitou a

supressão da disciplina, ao

assegurar a cada escola a

flexibilidade didática para sua

implantação. O resultado desta

medida é que hoje é raríssimo

encontrar professor de Educação

Artística do Ensino Fundamental, e

nos demais, quase sempre o que

existe é um professor polivalente de

música, desenho e arte, que põe um

disquinho para tocar ou manda a

criança fazer um desenho sem um

objetivo grande.

Sem currículo mínimo e sem programa comum, a Educação Artística é

ministrada de acordo com a realidade de cada escola. Se há um professor especializado,

a escola aproveita, caso contrário, o ensino fica a cargo dos professores de Educação

Física ou mesmo de outras disciplinas, desde que possuam alguma habilidade manual.

Em 1978 a Educação Artística quase foi banida do currículo das escolas

oficiais de Minas Gerais: retirada do antigo 1º grau menor permaneceu apenas na 7º e 8º

séries. A gritaria dos professores foi grande e, no ano seguinte, ao menos na 3º série

oficialmente voltou a ter a disciplina.

Quando não há um critério definido para admissão dos professores, alguém

que tiver algum curso área da disciplina, ou quem for mais jeitoso para coisa é

considerado apto a lecionar.

3.3 - Sem especialista

XXIII

Segundo Eliane Terezinha Guedes, diretora do

departamento Cultural do Sindicato da União dos Trabalhadores de Ensino de Minas

Gerais (UTE) e professora de Educação Artística licenciada, afirma que a resolução da

Secretaria Estadual da Educação que trouxe de volta a Educação Artística para a 3º série

coloca que nas demais ela deve permear o conteúdo escolar (trabalhando a

interdisciplinaridade).

Nas quatro primeiras séries não existe o especialista,

também de acordo com uma resolução da secretaria, que diz. “Quem dá aulas é o

regente, só fui as supervisoras pedagógicas não á colocaram no programa. Então as

crianças ficam sem aulas na 3º série”.

Como a carga horária foi reduzida, criou-se um

excedente de professores, convidados a lecionar outras disciplinas mesmo sem

habilitação. Os que não quiseram hoje trabalhar em funções burocráticas na escola ou

lecionam ao mesmo tempo em vários lugares, para completar a carga horária de 18

horas semanais, o mínimo para lecionar em cada disciplina. De acordo com a equipe da

Educação Artística de CENP (Coordenadoria de Ensino e Normas Pedagógicas), a

resolução 7/89 da Secretaria Estadual de Educação tornou a disciplina obrigatória no

mínimo em duas séries consecutivas, da 5º a 8º. Nesse caso, o conselho da escola

delibera sobre a importância da matéria. Nos CEFAM, (Centro de Formação de

Profissionais do Magistério), a Educação Artística está incluída na grade curricular, com

maior espaço.

3.4 – Proposta curricular

O CENP chegou a distribuir para rede uma proposta

curricular para o ensino da disciplina, que estava fundamentada em não apresentar um

conteúdo comum ao professor.

Esta proposta trata-se de um subsídio dando ao trabalho

com artes nas escolas várias visões que se complementam: o papel da arte, reflexões

sobre criatividade e como lidar com ela em classe, sugestões de diversos níveis de

integração de linguagens expressivas nos vários estágios de desenvolvimento dos

alunos. As delegacias de ensino passaram a promover cursos tendo como base o

documento da proposta.

XXIV

3.5 – Questão salarial

No Ensino Público ainda há falta destes profissionais.

O mercado de trabalho se ampliou, mas a questão salarial promove a evasão na área,

como de resto acontece em outras disciplinas.

No Rio de Janeiro foram profissionais habilitados, os

tempos de aula é insuficiente e dificilmente o aluno tem aulas que exploram as três

linguagens previstas no PCN de artes. A Educação Artística é obrigatória em todo o

Ensino Fundamental e tem exigência de avaliação.

O maior problema hoje ainda enfrentado é a falta de

professores. Quando existem, eles estão habilitados para uma linguagem apenas e as

aulas passam a ser ou de música ou de teatro ou de artes plásticas. Quando não há

especialistas, desloca-se um professor de outra disciplina para “tampar horário” que

prejudica ainda mais o aluno, desenvolvendo um conceito artístico errôneo ao aluno.

Muitas vezes discrimina as crianças, destacando sempre os que têm jeito. Em vez de

desenvolver o espírito crítico da criança, as aulas acentuam o lado narcisista, que pode

inclusive deformá-las.

No Rio, como no resto do país, a Educação Artística

padece de outros maus. Faltam outros recursos, espaço físico, condições mínimas para o

desenvolvimento da disciplina. Quando não há salas especiais, o professor precisa

preparar a sala, e isso leva tempo. Para os que têm criatividade, conseguem suplementar

estas barreiras, levando os alunos usarem o espaço de seus corpos, sucatas, sons. Mas

para que este trabalho tenha bons resultados ele precisa receber treinamento adequado.

3.6 – Capacitação de professores

Esta sendo elaborado com recursos do MEC, um

projeto que visa integrar professores e artistas para troca de experiências através de

cursos e oficinas que desenvolvem a criatividade do profissional.

Em Pernambuco os conteúdos estão sendo revistos,

dentro da proposta da Secretaria de Educação do Estado, revendo uma questão que

preocupa a equipe, de abolir a visão de Educação Artística como preparadora de eventos

XXV

comemorativos e difundir a idéia de interdisciplinaridade, ou seja, fazendo com que a

arte integre não só as atividades de dança, música e teatro, mas que também esteja a

serviço de disciplina como Português, Matemática e Ciência.

Atualmente, a falta de especialização é justamente um

dos principais problemas enfrentados pela Secretaria de Educação Foi feita uma

pesquisa pelo Departamento de Cultura e o resultado apontou a falta de especialização

em 86% dos professores de Educação Artística do Ensino Fundamental do 2º ciclo.

Para enfrentar o problema, o Departamento está

atuando em duas frentes: solicitou aos professores que optassem por Educação Artística

e outra disciplina e está partindo para participação dos professores em ambientes de

oficinas de arte através de educadores de apoio (antigo supervisores), que por sua vez

são capacitados por técnicos e educadores do Departamento de Cultura.

XXVI

CAPÍTULO IV

A ARTE NA FORMAÇÃO DA CIDADANIA

Podemos observar que através do trabalho de artes, o

aluno exercita seu espírito crítico, individual e consciente dos dramas humanos e sociais

e muitas vezes retratados em obras de grandes artistas, como, Sebastião Salgado, Lasar

Segall, Siron Franco.

Com está consciência o aluno desenvolve uma relação

com o mundo passando a perceber e respeitar diversidades culturais, temporais,

históricas. Ao alcançar este patamar ele cria autonomia para refletir pelo seu olhar.

Questões políticas e sociais estando apto a exercer sua cidadania com dignidade.

Muitas vezes está liberdade de expressão, fruto

de quantidades de descobertas vividas em várias fases do desenvolvimento do

aluno, são cadastrados, moldados “ou seja” mal trabalhadas.

Está interrupção é uma perda muitas vezes irreparável,

padronizando o produzir, o compreender, limitando infinitas possibilidades de trocas e

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crescimento. Isso se dá pela falta de preparo dos orientadores que não estão aptos a

conviver com estas diversidades.

O trabalho das artes é um “processo de aculturamento”,

no qual precisa ser vivida, experimentada, à medida que o aluno cria domínio sobre o

seu meio ambiente.

Segundo Fayga Ostrower, a criatividade é um potencial

inerente ao homem, e a realização desse potencial é uma de suas necessidades.

E graças à natureza criativa do homem é que se elabora

o contexto cultural. Para estar apto a transformar, dar forma, precisa desenvolver e

trabalhar com esta natureza. Quando esta não é trabalhada a pessoa se torna rígida,

repressiva, vivendo somente a verdade de um meio cultural, tratando-se daí uma

deformação ou alienação.

Há muito tempo, o ser humano vive alienado de si

mesmo. As riquezas, os conhecimentos sobre o mundo e os meios técnicos não

alteraram sua condição humana. Sempre colocado diante de múltiplas exigências e

bombardeado por um fluxo ininterrupto de verdades contraditórias, atropelando seu

ritmo orgânico, e em vez de integrar-se como individual e ser social sofre um processo

de desintegração.

Que estes processos de manifestação estejam claros

para os orientadores e que estas estejam em constante alerta para não fazer de suas

aulas, sessões de esmagamento do potencial criador do aluno, e não exigir sua

reprodução fiel do objetivo analisando, não fazer da comparativa e leitura dos trabalhos

produzidos um ‘round’ dos que fazem bonito e dos que fazem feio. Mas que ele possa

incitar no aluno a percepção de si mesmo para perceber o “seu mundo” e se relacionar

com estas diversidades perceptuais, transformando em ser consciente-sensível-cultura.

Segue adiante, relatos de experiência bem sucedidas

que retratam como a realidade pode ser estudada e discutida com as linguagens

artísticas e como os alunos aproveitam bem estes conteúdos.

4.1 – As experiências que deram certo

Nas experiências a seguir pode-se comprovar que

a arte bem trabalhada tem um rico legado a formação do indivíduo.

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Experiência 1 – Tons opacos exibem tristeza

Lasar Segall nasceu em 1891 em Vilna, capital da

Lituânia, que na época estava sob a dominação da Rússia. A maioria da população de

Vilna era composta de judeus, mas a população judaica era obrigada pelos russos a

viver num gueto. Esses tristes acontecimentos foram chamados de Pogroms. A família

de Segall era ortodoxa e enfrentou as dificuldades do domínio russo. Ele se mudou

definitivamento para o Brasil em 1923. Aqui conheceu os artistas da Semana de Arte

Moderna de 1922. Mais tarde transformou-se num dos grandes nomes do nosso

Modernismo. Segall se impressionou com a paisagem brasileira. Quando chegou passou

a acentuar as cores de seus quadros. Pintou personagens sofridos como prostitutas e

pobres. Em suas obras valorizou a figura do trabalhador. Em 1937, ele pintou o quadro

Pogrom.

O sofrimento judeu é também um tema importante

deste artista em sua obra. O aluno Thales Aronis pintou com guache alguns personagens

do quadro. Em vez de usar tons opacos, como no original, Thales aplicou cores

berrantes. “Dessa forma, os alunos descobriram que os tons fracos, usados por Segall

antes de morar no Brasil, tornam a pintura triste”, explica a orientadora Ana Ligia.

Experiência 2 – Preocupação com a ecologia

Siron Franco nasceu em Goiás Velho (GO), em 1947, caçula numa família

de treze filhos. Mudou-se para Goiânia na infância e aos 13 anos já ganhava a vida

retratando pessoas ricas ou copiando quadros do espanhol El Greco (1541 – 1614) para

igrejas.

Ele se define como um repórter visual, porque gosta de

inserir temas do momento em suas pinturas, esculturas e instalações. Em 1990, por

exemplo, montou, também em frente ao Congresso Nacional, uma bandeira brasileira

composta de centenas de caixões. Era um protesto contra a mortalidade infantil. Em

1997, outra vez em Brasília, fez uma escultura em homenagem ao índio pataxó Gaudino

Jesus dos Santos, que em abril daquele ano morrera queimado por cinco jovens na

capital federal.

XXIX

Os alunos de Ana Lígia gostaram dos quadros em que Siron Franco retrata o

caso do césio 137, acidente radioativo que aconteceu em Goiânia (GO), em setembro de

1987.

Uma cápsula de césio 137, material usado em exames de raios X, foi

encontrada por catadores de papel nas ruínas de um instituto radioterapia. O césio

causou a morte de cinco pessoas.

A defesa da ecologia é um dos temas prediletos do artista. No quadro

Casaco de Pele, de 1984, ele critica o extermínio de espécies. O desenho que a aluna

Carolina Paschoal fez, reproduziu a obra. A preocupação de Siron com a natureza se

tornou famosa em 1986, quando ele montou, em frente ao Congresso, em Brasília, uma

instalação com antas esculpidas em tamanho natural.

Experiência 3 – Sem terras de jornal

Sebastião Salgado nunca estudou fotografia. Tem 55 anos e nasceu

em Aimorés (MG). Formou-se em Economia em Vitória (ES), EM 1967. Mudou-

se então para São Paulo, para fazer mestrado, e em 1969 foi viver em Paris,

onde obteve o doutorado. Em 1971 começou a trabalhar na Organização

Internacional do Café (OIT), em Londres. Viajou para vários países africanos

por causa do trabalho. Foi quando começou a fotografar.

Em 1973, aos 29 anos, voltou para Paris e

resolveu virar fotógrafo. Um ano depois, entrou para a agência Sygma; em

1975, passou para a Gamma; em 1979, para a Magnum. Ele defende idéias de

esquerda. Fotografa apenas em preto-e-branco e contra a luz. Ganhou os mais

importantes prêmios do mundo na área. Desde 1993 Salgado está trabalhando

no registro de correntes migratórias em dezenas de países.

Sebastião Salgado consagrou-se com reportagens humanas e sobre

temas sociais. Ele dedica meses ou anos para desenvolver um tema a fundo.

Fez, por exemplo, um documentário sobre os camponeses da América Latina e

outro sobre a seca em paises africanos.

De 1986 a 1993, viajou para fotografar

trabalhadores braçais e de diversos países, formando a exposição

“Trabalhadores”. No livro “Terra”, ele mostra episódios vividos por militantes do

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (TSM). Os alunos se inspiram

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na obra para montar uma maquete que representa um acampamento de sem-

terras. Além de montar os bonecos, as crianças construíram com sucata as

árvores e a mobília do acampamento. Elas também pintaram um cenário que

serviu de fundo para maquete. A barraca foi montada por funcionários da

escola.

Experiência 4 – Alunos acompanham criação do artista:

Aproximar o artista plástico e sua do aluno da

escola pública é o objetivo do Projeto Mário Nunes (um dos fundadores da

Escola de Belas Artes do Recife), desenvolvida pelo Departamento de Cultura

da Secretaria da Educação de Pernambuco, responsável pela área de

Educação Artística.

A cada quarta-feira, um grupo de alunos da rede

vai ao ateliê de um artista, que expõe uma parte significativa de seu processo

de criação. Os alunos observam e indagam sobre tudo o que vêem, como

aconteceu no ateliê de Guita Charifker, em Olinda. Ao fazer uma aquarela, ela

explica: “O importante nessa técnica é dosar a quantidade de água, para que a

aquarela não fique seca”. E se um tom da cor se misturar com outro mesmo

espaço?, perguntou uma aluna. “Não tem problema, a aquarela tem uma

transparência que permite até três pinceladas no mesmo local. Uma a mais,

entre tanto, pode saturar”, explicou Guita.

O projeto é coordenado por artistas plásticos e

arte educadores e tem o objetivo de desmistificar a obra de arte como fruto de

iluminados, pessoas especiais que trabalham com material caro e sofisticado,

explica a arte educadora Clarice Amorim: “Fornecemos ao artista material

simples, como grafite, nanquim e guache”. O trabalho é do artista, o aluno

apenas participa observando.

Além de aproximar o artista da escola, o projeto

pretende despertar o aluno a percepção estética da apreciação da arte, furto da

vida e do sentimento de mundo do artista, explica Clarice Amorim. A próxima

etapa é uma exposição itinerante dos trabalhos em várias escolas da rede,

promovida pelo Departamento de Cultura. “Inverteremos o processo

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tradicional”, afirma Paulo Marcondes, diretor do Departamento. “O ambiente de

galeria é que irá para a escola”.

Experiência 5 – Alfabetizar com arte, uma boa experiência

Em Curitiba uma turma de 30 alunos de 1º grau

Maria Nicolas, no bairro de Vila Isabel, é um dos muitos exemplos da

importância da Educação Artística na alfabetização. Em pouco mais de três

meses as crianças já estavam, em sua maioria, lendo e escrevendo. A

professora Marlene Aparecida Comin acredita que o desempenho dos alunos

tem muito a ver com a integração dos conteúdos de alfabetização com

atividades de Educação Artística, uma prática que ela adotou como regra.

Utilizando os poucos recursos da escola – papel

jornal, pinces atômicos, cola, lápis de cera e de cor – e com sucata recolhida

pelos alunos, as aulas são um misto de brincadeira e aprendizagem. Foi assim

quando ela introduziu as sílabas pe e te, da palavra peteca. Com folhas de

jornais, a turma fez muitas petecas e brincou com elas. Resultado: onde essas

sílabas aparecem, são imediatamente reconhecidas.

Já na fase de leitura e cópia de textos, Marlene usou música. Depois

de ler e copiar o texto de A Casa, poema musicado de Vinícius de Moraes, as

crianças cantaram e, mais tarde, partiram para o desenho. Em imensas folhas

de papel jornal, no chão do hall de entrada da escola, a turma recebeu a tarefa

de desenhar a “casa engraçada” da música. “É tão gostoso ler, escrever e

desenhar, tudo de uma vez”, declara entusiasmada Fernanda Gonçalves, e

anos.

Com está prática, Marlene e a turma já fizera, jogos de boliche com

garrafas vazias, bolas de meia e outros brinquedos: “Acho mais fácil trabalhar a

alfabetização assim. A arte é a primeira escrita das crianças. É através dela

que as crianças. É através dela que as crianças se mostram ao mundo”.

Experiência 6 – Integração ao currículo traz bons resultados

XXXII

Em Belo Horizonte, uma experiência bem-

sucedida demonstra que a integração da Educação Artística com as demais

disciplinas não é um bicho-de-sete-cabeças. Essa experiência está

acontecendo na Escola Municipal Magalhães Drummond, no bairro Alta

Barroca, onde a professora Maria Helena Crosara, regente de uma classe

especial com alunos de 7 a 12 anos que ainda não são alfabetizados, nota uma

nítida diferença no desenvolvimento das crianças.

É o resultado do trabalho da professora de

Educação Artística Rosimar Lucia Lara. Semanalmente, as classes do pré à 4ª

série têm duas aulas semanais de 50 minutos cada, uma a mais do que no

restante das escolas da rede.”Foi uma conquista nossa este ano”, conta Rose.

Ela propôs à direção da escola usar o horário reservado para Ensino Religioso

na grade curricular para conseguir mais tempo para sua disciplina.

Rose trabalha dança, música, teatro, máscara feitas com sucata que

os alunos trazem de cada. Em qualquer atividade, ela se coloca no papel de

observador e provocador, incentivando as crianças a criarem por elas próprias.

Atualmente a professora vem dando muita importância ao teatro, devido à

agressividade dos alunos: “Através do teatro as crianças representam suas

próprias histórias de vida, embora não tenham consciência disso. Ao colocar

tudo para fora, os relacionamentos costumam melhorar“, explica. Outras vezes

as crianças usam máscaras, uma brincadeira que serve para representar os

diferentes tipos sociais. “Quando o aluno é tímido, nunca insisto para que ele

participe. No máximo, posso pedir que me ajude em alguma coisa. No final, ele

acaba aderindo”.

O trabalho integrado da Educação Artística

também vem sendo conseguido diminuir a agressividade das crianças na hora

do recreio, provocada pelo pequeno espaço físico do local. Conseguiram

brinquedos com a comunidade, as professoras contam histórias e o recreio

sempre termina com grupos de crianças fazendo cantigas de roda.

Os alunos da classe especial gostam muito das

aulas: “Tudo é legal. Pena que as aulas sejam poucas”, opina Claidson Nunes

de Souza, 12 anos. Mesmo assim, os resultados são muito bons, comenta a

professora Maria Helena, que procura pautar suas aulas pelo que acontece na

XXXIII

de Educação Artística: “Ao fazer o relato da aula de Rose, eles já estão

desenvolvendo a capacidade de expressão”.

Experiência 7 – Um projeto inovador transforma a escola

“Eu não sabia que podia fazer isso”, diz Paulo

Vitório dos Santos, 12 anos, 2ª série da Escola Estadual de 1º Grau Pedro

Leão Vallerie, em Campinas (SP), exibindo orgulhoso seu caminhãozinho de

papelão. Ao seu lado, Juliano de Souza, 11, 5º série, que construiu um arpão

de madeira com a ajuda do pai, afirma: “Nessas aulas a gente prova que

criança também sabe fazer as coisas”. São as aulas de Educação Artística da

professora Rosa Maria Caíres que, há dois anos, têm provocado uma grande

transformação na escola: “Eu estava muito insatisfeita de dar as aulas

tradicionais, sempre com trabalhos de eventos comemorativos, e fui fazer um

curso na Escola Tempo & Espaço, em São Paulo. Esse projeto mudou a minha

vida e a da escola”, diz.

O Centro de Desenvolvimento da Tecnologia da

Criança é um projeto que se propõe a resgatar e estimular o direito de

expressão das crianças e começou em 1987, com 10 escolas públicas de

Campinas, em convênio com o a Tempo & Espaço, junto às indústrias Bosch.

Os resultados são surpreendentes.

O processo é simples: o aluno desenha o projeto

do que quer construir e depois sai em busca do material. O grupo troca idéias,

traz coisas de casa ou procura em volta da escola. Tampinhas, carretéis,

arame, garrafas, capim, tudo isso se transforma em aviõezinhos, casas, robôs,

moinhos de vento, castelos e carrinhos nas mãos dos alunos. Depois de

prontos, eles, mesmos avaliam os trabalhos.

No distante Parque Valença, habitado por

imigrantes, em sua maioria de operários e empregados na área de serviços, as

crianças não têm para onde ir. Agora, a escola é um ponto de referência

importante na comunidade, aonde os alunos vão com prazer para aprender e

brincar. “Até o relacionamento em casa mudou”, constata Wilma Rodrigues

XXXIV

Jurumeia, mãe de Anderson, 15 anos, 5ª série. “Essas aulas são maravilhosas.

Depois que o projeto começou a gente tem mais entendimento em casa”.

Anderson trabalha pela manhã até as 14 horas numa padaria e vai correndo

para a escola.

Como as aulas são dadas em salas comuns e não

há espaço para guardar o material e os brinquedos prontos, cada aluno leva e

traz seus trabalhos da escola para casa. Para resolver o problema, a

associação de moradores decidiu construir um galpão e está solicitando

doação de materiais a empresas. A construção será feita em mutirão.

“Até a televisão foi um pouco deixada de lado”,

afirma a diretora Jane Pereira de Souza, grande incentivadora de Rosa. E,

apesar de ainda encontrar alguma resistência, o projeto foi aprovado pela

maioria dos professores, como Neuza Dirce Marcellari, do 1º grau menos, que

alfabetiza com base nas idéias de Emilia Ferreiro: “Para os alunos foi um

prêmio, eles estão mais dinâmicos e muito mais dedicados”. E bastante

criativos. Tatiana, 8 anos, 1º série, transformou uma bucha de tomar banho em

um aviãozinho. Cristiano, 11, 3ª série, fez um navio, batizado Titânic, a partir de

tábuas e lata. Já Giovana, Cida e Lurdes, 8ª série, se inspiraram na novela Que

rei sou eu?, da TV Globo, para construir um castelo de isopor e papelão.

O 1º Grau menor tem aulas de Educação Artística uma vez por

semana; 5ª e 6ª séries, duas vezes; e 7ª e 8ª uma: “Como na disciplina não

reprova, antes os alunos não se esforçavam”, diz Rosa. “Agora isso acabou,

eles fazem tudo por prazer”.

XXXV

CONCLUSÃO

Cabe ao Arte Educador, trabalhar pela libertação,

tendo, porém, consciência permanente de que o processo será continuo, que algum grau

de opressão sempre existirá e que nunca alcançarão a libertação total. Mas é exatamente

essa busca que dá sentido à sua vida profissional.

O processo educacional para fluir deve ser dinâmico,

para que se possa estimular novas gerações a construir um futuro melhor com base no

conhecimento crítico e analítico da história.

No equilíbrio da teoria x prática, objetiva x subjetiva é

que se pode construir um desenvolvimento global. A educação plena é dialética e exige

superação provisória das contradições, mediante a formulação de sínteses, também

provisórias, constituindo dois pólos contraditórios, mas que orientam nosso pensamento

e nossa ação num dado momento.

É esse movimento constante que torna a educação um

processo vivo e palpitante, que não cessa de se renovar.

E é nesse contexto, que os movimentos artísticos

pulsam e é deste olhar que arte pode legar aos alunos desenvolvendo sua consciência

desta dinâmica humana.

Os professores na prática da democracia devem

preparar-se constantemente, pois é nela que se conhecem os verdadeiros educadores. De

que maneira? Construindo aos poucos, na exata medida em que vai sendo vivenciado

pela produção escolar. E nesta produção vai se exercitando a consciência de cidadania

criando desde então oportunidades concretas para tanto.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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Paulo: Ed. Moderna, 1996.

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ELIAS, Marisa Del Cioppo. (Org.) Pedagogia Freinet. Campinas, São Paulo: Ed.

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PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAL – Arte, Ministério da Educação e

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REVISTA NOVA ESCOLA – Set 1994 / Ago 1999 / Ago 2001 (Caderno de

Atividades)