Upload
aldairlucas
View
214
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
7/28/2019 A evoluo.pdf
1/10
ARTIGOS
RICI: R.Ibero-amer. Ci. Inf., ISSN 1983-5213, Braslia,v. 5, n. 2, p. 19-28, jul./dez. 2012.
19
A evoluo dos arquivos e do conhecimento em Arquivologia
Maria Teresa Navarro de Britto Matos
Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Resumo: Reflexo descritiva, fundamentada em pesquisa bibliogrfica, sobre a evoluo dosarquivos e do conhecimento em arquivologia. Trata da epistemologia do conhecimento,
buscando evidenciar a epistemologia em arquivologia. Destaca as abordagens cronolgicas
difundidas na literatura arquivstica para dar suporte ao estudo da histria dos arquivos e do
conhecimento em arquivologia; e os perodos mais significativos na evoluo do conceito de
arquivo e do conhecimento arquivstico, no ocidente.
Palavras-chave: Histria dos arquivos; Arquivologia; Pesquisa - Arquivos
Title: The evolution of archives and knowledge in archival science
Abstract: Descriptive reflection, based on bibliographic research on the evolution of archivesand knowledge in archives science. Treats about the epistemology of knowledge, seeking
evidence in archival epistemology. It highlights the chronological approaches widespread in
archival literature to give the necessary support for the study of the history of archives and
archival knowledge, and the most significant periods in the evolution of the concept of
archives and archival knowledge in the West.
Keywords: Archival history; Archival science; Research - Archives
1 INTRODUO
O estudo foi motivado, quando, na condio de professora e pesquisadora do Instituto
de Cincia da Informao, da Universidade Federal da Bahia, compartilhamos do interesse em
resgatar e compreender a evoluo dos arquivos e do conhecimento em arquivologia.
Posteriormente, a partir da experincia vivenciada na direo do Arquivo Pblico do Estado da
Bahia, buscamos responder a certo nmero de questes, dentro de uma abordagem histrica:
qual a definio de Arquivo Pblico? Quais os usos sociais e polticos de um Arquivo Pblico?
Quais os rumos que conduzem a prtica arquivstica e a teoria do conhecimento em
7/28/2019 A evoluo.pdf
2/10
ARTIGOS
RICI: R.Ibero-amer. Ci. Inf., ISSN 1983-5213, Braslia,v. 5, n. 2, p. 19-28, jul./dez. 2012.
20
arquivologia? Enfim, tentar traar a evoluo dos Arquivos Pblicos e do conhecimento em
arquivologia, atravs do tempo.
A reflexo desenvolvida possui um carter descritivo. Aplicamos um procedimento
qualitativo no levantamento, na seleo, na leitura e na interpretao de bibliografia
especializada sobre a temtica histria dos arquivos e do conhecimento em arquivologia.
Em um primeiro momento, procedemos a uma breve reviso bibliogrfica sobre
epistemologia, de forma a estabelecer a reflexo sobre a epistemologia da arquivologia, em
geral. Em seguida, foram destacadas e consideradas abordagens cronolgicas difundidas na
literatura arquivstica para fundamentar o estudo da histria dos arquivos e do conhecimento
em arquivologia. Vale mencionar a base terica utilizada para esta etapa: Agustin Vivas
Moreno (2004); Armando Malheiro da Silva et al. (1999); e Jos Ramn Cruz Mundet (1994).
Finalmente, destacamos os perodos mais significativos na evoluo do conceito de arquivo e
do conhecimento arquivstico, no ocidente, e emitimos algumas consideraes finais.
2 POR UMA EPISTEMOLOGIA DA ARQUIVOLOGIA
Em sentido restrito, epistemologia, ou teoria do conhecimento, remete a uma longa
tradio filosfica que aborda a questo da possibilidade do conhecimento como um problema
nascido de um pressuposto filosfico especfico, no mbito de determinada corrente - o
idealismo. O problema cujo tratamento tema especfico do conhecimento a realidade das
coisas ou, em geral, do mundo externo (ABBAGNANO, 1998, p. 183). Contudo, no mbito
das investigaes propriamente filosficas, o debate epistemolgico se voltou nos sculos XIX
e XX para a discusso sobre o conhecimento cientfico, sua forma e validade. A Enciclopdia
Luso-Brasileira de Filosofia (1990, vol.2 p. 116) destaca que o termo epistemologia seja
utilizado para significar teoria do conhecimento empregado, hoje, preferencialmente, para
designar o estudo crtico das cincias naturais e matemtica. Observa, tambm, que o objeto
da epistemologia (ou da reflexo epistemolgica) a forma do conhecimento, no o seu
contedo. Em aplicao mais generosa e ampla do conceito de epistemologia, Ferrater Mora
(2001, tomo II, p. 852, grifo nosso), entende que:
Durante algum tempo, tendia-se a usar gnosologia preferencialmente a
epistemologia. Depois, e em vista de que o termo gnosologia era
empregado muito frequentemente por tendncias filosficas de orientao
escolstica, tendeu-se a us-lo no sentido geral da teoria do conhecimento,
sem definir de que tipo de conhecimento se tratava, e a introduzir
epistemologia para teoria do conhecimento cientfico, ou para elucidarproblemas relativos ao conhecimento cujos principais exemplos eram
7/28/2019 A evoluo.pdf
3/10
ARTIGOS
RICI: R.Ibero-amer. Ci. Inf., ISSN 1983-5213, Braslia,v. 5, n. 2, p. 19-28, jul./dez. 2012.
21
extrados das cincias. Progressivamente, e em parte por influncia daliteratura filosfica anglo-sax, utilizou-se epistemologia empraticamente em todos os casos.
O sculo XX foi, particularmente, fecundo em reflexes, discusses e avanos em
epistemologia. Algumas formulaes decisivas para o pensamento contemporneo e o
desenvolvimento das cincias esto fundadas nos debates epistemolgicos registrados no
sculo anteriormente citado. O debate sobre as bases do conhecimento retomado com
renovado vigor, por muitos filsofos, insistindo na base factual do conhecimento cientfico
como pura materialidade. Enquanto outros afirmavam que fatos e dados no passam de
representaes arbitrrias de cientistas e pensadores. Encontramos aqui, em meados do
sculo XX, as formulaes de Karl Popper, afirmando a importncia de se considerar a
possibilidade de refutao de uma hiptese como critrio de qualidade cientfica de uma
futura tese; da dinmica e organizao social do saber cientfico em uma articulao designada
por Thomas Kuhn como paradigma e negao radical do mtodo em cincia, protagonizada
por Paul Feyerabend, para lembrar apenas alguns dos autores e debates marcantes. O
importante que o legado epistemolgico do sculo XX resultou em uma profunda reflexo de
todas as reas do conhecimento sobre a legitimidade de sua racionalidade, conhecimentos,
mtodos e, mesmo, verdades.
Numa apreciao sumria das vrias epistemologias contemporneas,
legtimo afirmar que, de um modo geral, elas convergem em alguns pontos:
a) reconhecimento mais amplo e aprofundado da iniciativa do sujeito na
construo da cincia; b) discernimento mais cuidadoso das diferentes
naturezas dos vrios elementos de qualquer sistematizao cientfica
(metdicos, simblicos, sistemticos, ontolgicos, etc.); c) mais clara
conscincia da peculiaridade do conhecimento cientfico em relao ao
conhecimento filosfico; d) maior exigncia crtica e esforo mais lcido
para uma cincia inteiramente cientfica (Enciclopdia Luso-Brasileira de
Filosofia, volume 2, p. 122-123).
Compreender como o conhecimento de uma rea do saber se estrutura, se organiza e
se transforma condio crucial para o seu aperfeioamento. A evoluo do pensamento
arquivstico deixa de ser aleatrio e casustico exatamente porque passou a ser objeto de sua
prpria reflexo e autocrtica, resultado de debates e discusses epistemolgicas.
A instituio arquivstica e suas formas de se organizar so decisivas para a produo
do conhecimento em arquivologia e, mesmo, sua renovao e transformao. Fonseca
identifica nas instituies arquivsticas a emergncia de novos espaos de produo do
7/28/2019 A evoluo.pdf
4/10
ARTIGOS
RICI: R.Ibero-amer. Ci. Inf., ISSN 1983-5213, Braslia,v. 5, n. 2, p. 19-28, jul./dez. 2012.
22
conhecimento e de uma nova pauta de reflexes sobre a redefinio dos objetos prioritrios
da arquivologia no Brasil, isto por que:
(...) historicamente, a produo do conhecimento arquivstico tem-se
estabelecido em relao privilegiada com as instituies arquivsticas e com
a sua misso institucional de gerenciar grandes massas documentais
oriundas da administrao pblica (FONSECA, 2005, p. 12).
As instituies arquivsticas so, de fato, o locus prioritrio para reflexo sobre a
construo do conhecimento em arquivologia, contribuindo, portanto, para os avanos
epistemolgicos da rea. As diferentes formas como se organiza e dispe a trplice dimenso
do objeto da arquivologia (arquivos documentos de arquivo informao) so essenciais
para que novas formas de conhecer se elaborem e se revelem aptas para compor estratgias
inditas na produo do conhecimento arquivstico (HEREDIA HERRERA, 1991, p.32).
Duranti (1993, p.9, traduo nossa) afirma que:
[...] os primeiros elementos da doutrina arquivstica (archival doctrine)
podem ser encontrados no ltimo volume da obra monumental de Dom
Jean Mabillon sobre diplomtica, publicado em 1681.
Contudo, o marco inaugural daquilo que se poderia caracterizar como um
conhecimento orgnico estruturado em arquivologia a publicao, em 1898, do Manual da
Associao dos Arquivistas Holandeses, que segundo Fonseca assim reconhecido por
diversos autores (Lodolini, 1990; Heredia Herrera, 1993; Silva et al., 1999; Thomassen, 1999 e
Schellenberg, 2002). O Manual considera elementos essenciais para a configurao da rea,
tanto do ponto de vista de suas bases tericas e conceituais quanto das conjunturas histricas
e geogrficas de seu estabelecimento. Porm, no h meno, da inteno de codificao de
um campo de conhecimento. Na realidade, as 100 normas que compem o Manual decorrem
da primeira, dedicada a definir o que um arquivo (FONSECA, 2008, p. 6-8).
Thomassen observa que a arquivologia enquanto rea de conhecimento, ou cincia,
no era um tema prioritrio entre os autores desta poca, denominada por ele de
arquivologia clssica (FONSECA, 2008, p. 9).
A insero da arquivologia na episteme da Modernidade, especialmente na chamada
esfera poltica, intensifica a relao entre a crescente necessidade de racionalidade na
gesto do Estado e a construo de um saber arquivstico (FONSECA, 2008, p.8). Inclusive,
Jardim destaca o Estado como campo informacional e as especificidades dos arquivos, tanto
como conjuntos documentais produzidos pelo aparelho burocrtico, quanto como instituies
7/28/2019 A evoluo.pdf
5/10
ARTIGOS
RICI: R.Ibero-amer. Ci. Inf., ISSN 1983-5213, Braslia,v. 5, n. 2, p. 19-28, jul./dez. 2012.
23
inseridas neste mesmo aparelho. A dicotomia que se apresenta entre prtica (esfera poltica)
e teoria (saber arquivstico) marca, profundamente, a constituio de um saber
arquivstico construdo ao longo do sculo XX. Esclarece, ainda, a decorrente importncia das
instituies arquivsticas e a subordinao da disciplina em relao ao seu objeto, ou seja, uma
dada certeza de que se a ideia de arquivo estiver clara, estar clara a ideia de arquivologia
(JARDIM, 1998 apudFONSECA, 2008, p. 8).
Nesta perspectiva, Villaverde (2006, p. 33, traduo nossa) afirma que:
[...] a teoria necessita da prtica para ser real e a prtica necessita da teoria
para continuar sendo inovadora. A prtica, portanto, consistiria no
questionamento sistemtico da teoria, e, por sua vez, no questionamento
sistemtico da prtica estaria a essncia da teoria.
Villaverde (2006, p. 34, traduo nossa) enfatiza, ainda:
A questo que se apresenta de forma imediata : desde quando podemos
afirmar que este panorama corresponde na realidade ao contexto da
arquivologia? O que o mesmo que: em que momento os arquivos
comeam a desenvolver esta investigao em sua atividade diria e,
consequentemente, se convertem no entorno natural da produo do
conhecimento cientfico?
A literatura evidencia que no h um consenso em torno do momento exato em que
se possa fixar este ponto de partida. Alguns autores identificam a gnese da arquivologia como
disciplina na Baixa Idade Mdia, uma poca que se caracterizou pelo renascimento das cidades
(burgos) e pela expanso do comrcio (VILLAVERDE, 2006, p. 34). No obstante, a maioria dos
autores situam as origens da arquivologia entre os sculos XVI e XVII. Sem dvidas, existe o
reconhecimento da origem longnqua da arquivologia, que segundo Silva et al. (1999, p.45)
data:
[...] desde que a escrita comeou a estar ao servio da sociedade humana.
Poder-se- definir como um fenmeno espontneo. E no por acaso que o
nosso conhecimento sobre a existncia de arquivos remonta, precisamente,
s antigas civilizaes do Mdio Oriente, em locais referenciados como
bero da escrita.
Mas, s podemos consider-la, com a devida propriedade, uma disciplina cientfica, no
sculo XIX, a partir das circunstncias polticas e sociais derivadas da Revoluo Francesa. A
noo de Estado Nao e o positivismo histrico terminam por perfilar no mesmo perodo a
essncia da nova disciplina que surgir como um saber de Estado. A partir deste momento, a
7/28/2019 A evoluo.pdf
6/10
ARTIGOS
RICI: R.Ibero-amer. Ci. Inf., ISSN 1983-5213, Braslia,v. 5, n. 2, p. 19-28, jul./dez. 2012.
24
arquivologia tender a percorrer uma longa trajetria at o ltimo decnio do sculo XX, para
que possa se desenvolver como disciplina autnoma (VILLAVERDE, 2006, p. 33-34).
3 ABORDAGENS CRONOLGICAS PARA O ESTUDO DA HISTRIA DOS ARQUIVOS DOCONHECIMENTO EM ARQUIVOLOGIA
Couture, Martineau e Ducharme (1999, p. 55) apontam diversos autores, a exemplo de
Gagnon-Arguin (1990); Gracy (1994); Muoz (1994); Pederson (1994) e Craig (1996) que
propem um amplo espectro de campos de pesquisa na rea de arquivologia. Entre os campos
estabelecidos destacamos aquele consagrado histria dos arquivos e da arquivologia
(COUTURE; MARTINEAU; DUCHARME, 1999, p. 57-58). Este campo rene pesquisas relativas
histria das instituies arquivsticas e do desenvolvimento dos princpios e fundamentos daarquivologia. Neste sentido, Marques (2011, p. 28) sublinha que o estudo dos arquivos antigos,
como instituies, torna-se indispensvel para o entendimento da expanso do prprio
pensamento arquivstico.
A literatura arquivstica sublinha diversas abordagens cronolgicas para balizar o
estudo da histria dos arquivos e/ou instituies arquivsticas1. Contudo, possvel observar o
incremento de produo acadmico-cientfica sobre a temtica na dcada de 1990 do sculo
XX, registrando o interesse pelo conhecimento das origens e circunstncias que determinaram
a evoluo dos arquivos (VIVAS MORENO, 2004, p.77). No entanto, sabe-se que poucos
estudos, at o momento, tem se dedicado a resgatar a histria dos arquivos e as suas
caractersticas mais notrias, que determinam o uso e a representao social dos mesmos,
capazes de evidenciar a experincia das instituies arquivsticas.
Nesta perspectiva, Vivas Moreno (2004, p.80) aponta uma srie de descries de
perodos histricos que caracterizam fases da evoluo dos arquivos e da arquivologia.
Segundo este autor, a periodizao recorrente e comum foi proposta por Robert-Henri Bautier,
descrita a seguir: Idade Antiga2; Idade Mdia3; Idade Moderna4 e Idade Contempornea5. A
primeira noo de arquivo parte de uma concepo eminentemente patrimonial e
1Registra-se que a histria dos arquivos e das instituies arquivsticas usualmente tratada, de forma geral, nos
manuais da rea. Porm, Rastas (1992) lembra que existe uma recomendao do 3rd International Symposium onArchival Training sobre a necessidade e o interesse para que os professores e pesquisadores enfatizassem o estudo
da Histria dos Arquivos, no mbito nacional e internacional.2
Este perodo conhecido como a poca dos arquivos de Palcios.3
Neste perodo, os arquivos so considerados tesouros documentais. Vale sublinhar o papel desempenhado pela
Igreja na guarda de documentos em Catedrais e Mosteiros.4
Segundo Jean Favier (1991), a noo de propriedade dos arquivos substituda pela de Arquivos Pblicos
depositrios dos documentos do Estado. Consequentemente, esta poca passa a ser conhecida como a dosArquivos de Estado (REIS, 2006, p. 5).5
Os arquivos so considerados como laboratrios da histria (CRUZ MUNDET, 1994, p.26).
7/28/2019 A evoluo.pdf
7/10
ARTIGOS
RICI: R.Ibero-amer. Ci. Inf., ISSN 1983-5213, Braslia,v. 5, n. 2, p. 19-28, jul./dez. 2012.
25
administrativa. Mais tarde, durante o sculo XVI e XVII surgem os arquivos de Estado,
motivando o surgimento dos princpios tcnicos arquivsticos. Neste perodo, os arquivos so
concebidos como parte inerente s formas de poder institudas. Por fim, os arquivos deixam de
ser considerados como um arsenal jurdico-poltico vinculado a uma estrutura de poder e
passam a ser percebidos enquanto laboratrios de investigaes histricas. Ressalta-se que os
arquivos acumularam estas competncias ao longo da sua histria, ou seja, atualmente as
diferentes noes encontram-se articuladas na presente concepo de arquivo.
Outra periodizao significativa foi proposta por Mendo Carmona, Cruz Mundet e
Romero Tallafigo. Na concepo destes autores, pode-se identificar 4 fases: Arquivstica
Emprica; Arquivstica como Doutrina Jurdica; Arquivstica como Disciplina Historiogrfica e
Arquivstica Atual. De forma independente dos demais, Jos Ramn Cruz Mundet (1994, p.26-
54) reconhece como necessrio acrescer mais 2 perodos: Pr-Arquivstico (Antiguidade; Idade
Media e Antigo Regime) e o Perodo de Desenvolvimento Arquivstico.
Soma-se, ainda, a cronologia difundida no minucioso resgate histrico elaborado pelos
arquivistas portugueses Armando Malheiro da Silva, Fernanda Ribeiro, Jlio Ramos e Manuel
Lus Real (SILVA et al., 1999). Identificam 4 prticas: Civilizaes Pr-Clssicas; Grega e
Romana; Medieval e Moderna; Contempornea e a arquivstica como disciplina.
Conforme registrado, anteriormente, por Silva et al. (1999, p.45), a histria dos
arquivos inicia-se no Oriente, no entanto, nos pases ocidentais que evoluem os usos
administrativos que esto na origem dos nossos comportamentos e conceitos
contemporneos (GAGNON-ARGUIN, 1998, p. 30).
4EVOLUO DO CONCEITO DE ARQUIVO E DO CONHECIMENTO EM ARQUIVOLOGIA
O conceito central na rea de arquivologia o de arquivo, o que justifica uma
definio mais aprofundada. Importante observar que os dicionrios de terminologia
arquivstica identificam diferentes sentidos para o entendimento do termo arquivo.
No mbito deste texto, o significado do termo arquivo deve ser compreendido como:
a instituio (...) que tem por finalidade a custdia, o processamento tcnico, a conservao e
o acesso a documentos (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.27). Vale observar que, alm do
referido termo, os dicionrios de terminologia arquivstica destacam como sinnimo Arquivo
Pblico. Este, entendido como entidade coletiva pblica, independentemente de seu mbito
de ao e do sistema de governo do pas (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p.35). Ambos os termos
tendem a destacar especialmente os arquivos permanentes.
7/28/2019 A evoluo.pdf
8/10
ARTIGOS
RICI: R.Ibero-amer. Ci. Inf., ISSN 1983-5213, Braslia,v. 5, n. 2, p. 19-28, jul./dez. 2012.
26
Atualmente, a utilizao da expresso instituio arquivstica tem sido recorrente em
trabalhos acadmico-cientficos. Trata-se de um modelo contemporneo de Arquivo Pblico,
cuja misso abrange, inclusive, a gesto dos documentos correntes e intermedirios. Neste
sentido, Jardim (2011, p.1583) define instituies arquivsticas pblicas como aquelas
organizaes cuja atividade-fim a gesto, recolhimento, preservao e acesso de
documentos produzidos por uma dada esfera governamental (ex.: Arquivo Nacional, os
Arquivos Estaduais e os Arquivos Municipais). Contudo, verificamos, ainda, a ausncia da
citada expresso nos dicionrios de terminologia da rea de Arquivologia. Contudo, vale
sublinhar que segundo FONSECA (2005, p.39):
(...) as instituies arquivsticas, como hoje as concebemos, remontam
criao, em 1789, do Arquivo Nacional da Frana, primeiramente comoArquivo da Assembleia Nacional e depois transformado, em 24 de junho de
1794, no estabelecimento central dos arquivos do Estado (...).
De acordo com a literatura da rea, e considerando as especificidades de cada pas, a
concepo pioneira francesa repercutiu amplamente na Europa e nas Amricas, estabelecendo
um modelo institucional, at meados do sculo XX (FONSECA, 2005, p. 40).
A formao dos arquivos nacionais acompanha com relativa preciso a histria dos
Estados Nacionais. A partir desta concepo, se estabelece a instituio arquivstica como
rgo responsvel pelo recolhimento, preservao e acesso dos documentos gerados pela
administrao pblica. Nesta perspectiva, consolida-se uma viso positivista da histria
(FONSECA, 2005, p. 40). Os arquivos se colocam disposio dos estudos histricos,
configurando-se como os novos laboratrios da histria (FAVIER, 1991, p.37 apudMARQUES,
2011, p. 40).
A Segunda Guerra Mundial acentuou a movimentao do volume de documentos, em
razo de ordem poltica, ideolgica, militar, e mesmo, de Estado (SILVA et al., 1999, p. 131).
Nos primeiros anos do ps II Guerra, o campo arquivstico redefinido, transformando o perfil
das instituies arquivsticas (JARDIM; FONSECA, 1998). Os arquivos passam a integrar o
quadro dos saberes de Estado. Esta abordagem se constituir em um referencial para o
reconhecimento das fronteiras da disciplina e de suas possibilidades interdisciplinares
(FONSECA, 2005, p.48).
Fonseca (2008, p. 9) sublinha que duas vises emergem, na atualidade (final do
sculo XX e sculo XXI), como predominantes nas reflexes sobre o campo do conhecimento
em arquivologia: aquela que identifica o momento atual como de uma mudana de paradigma,
e a outra que reconhece como o momento de insero em uma nova episteme - a da ps-
7/28/2019 A evoluo.pdf
9/10
ARTIGOS
RICI: R.Ibero-amer. Ci. Inf., ISSN 1983-5213, Braslia,v. 5, n. 2, p. 19-28, jul./dez. 2012.
27
modernidade. Ambas no se apresentam como excludentes. Propem mudanas importantes
na estrutura da disciplina. Inclusive, destacando o deslocamento de seu objeto de estudo - o
arquivo para a informao arquivstica. Aqui, o termo arquivo compreendido no sentido de
conjunto de documentos produzidos e acumulados por uma entidade coletiva, pblica ou
privada, [...] (ARQUIVO NACIONAL, 2005, p. 27).
5 CONSIDERAES FINAIS
Ao longo do texto, em um primeiro momento, destacamos sucintamente os
elementos essenciais ao reconhecimento epistemolgico de uma rea do conhecimento. Foi
possvel demonstrar a existncia de uma epistemologia em arquivologia. O que possibilitou
compreender a importncia e o papel da instituio arquivstica e suas formas de se organizar,
reconhecidas como decisivas para a produo do conhecimento em arquivologia e, mesmo,
sua renovao e transformao.
Em um segundo momento, apresentamos abordagens cronolgicas para o estudo da
histria dos arquivos e do conhecimento em arquivologia, destacando a viso de alguns
autores. Por outro lado, buscamos resgatar a evoluo do conceito de arquivo e do
conhecimento em arquivologia.
O estudo direcionado ao conhecimento em arquivologia torna-se um imperativo para
consolidar a autonomia da arquivologia na episteme da ps-modernidade.
Referncias
ABBAGNANO, Nicola. Dicionrio de Filosofia. Traduo Alfredo Bosi. 2 edio. So Paulo:Martins Fontes, 1998.
ARQUIVO NACIONAL (BRASIL). Dicionrio brasileiro de terminologia arquivstica. Rio deJaneiro: Arquivo Nacional, 2005.
COUTURE, Carol; MARTINEAU, Jocelyne; DUCHARME, Daniel. A formao e a pesquisa emarquivstica no mundo contemporneo. Traduo Lus Carlos Lopes. Braslia: FINATEC, 1999.
CRUZ MUNDET, Jos Ramn. Manual de archivstica. Madrid: Fundacin Germn Snchez:Madrid, 1994.
DURANTI, Luciana. The archival body of knowlwdge: archival theory, method and practice, and
graduate and continuing education. Journal of education for library and information science,v. 34, n. 1, p. 8-34, winter, 1993.
ENCICLOPEDIA LUSO-BRASILEIRA DE FILOSOFIA. Volume 2. Lisboa: Verbo, 1990.
7/28/2019 A evoluo.pdf
10/10
ARTIGOS
RICI: R.Ibero-amer. Ci. Inf., ISSN 1983-5213, Braslia,v. 5, n. 2, p. 19-28, jul./dez. 2012.
28
FAVIER, Jean. Les Archives. 5 dition corrig. Paris: Les Presses Universitaires, 1991. (Que sais-je?, n805.)
FERRATER MORA, Jos. Dicionrio de Filosofia. Tomo II (E-J). So Paulo: Edies Loyola, 2001.
FONSECA, Maria Odila Kahl. As estruturas de produo de conhecimento arquivstico: quadrosem movimento. Arquivo & Administrao, Rio de Janeiro, v.7, n.1, p. 05-20, jan./jun. 2008.
________. Arquivologia e cincia da informao. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2005.
GAGNON-ARGUIN, Louise. Os arquivos, os arquivistas e a arquivstica. Consideraes
histricas. In: COUTURE, Carol; ROUSSEAU, Jean-Yves. Os fundamentos da disciplinaarquivstica. Traduo Magda Bigotte de Figueiredo. Reviso cientfica Pedro Penteado. Lisboa:Dom Quixote, 1998.
HEREDIA HERRERA, Antonia. Archivstica General. Teora y prctica. 5 edicin actualizada y
aumentada. Sevilha: Servicio de Publicaciones de la Diputacion de Sevila, 1991.
JARDIM, Jos Maria. A Construo de uma Poltica Nacional de Arquivos: os Arquivos Estaduais
Brasileiros na ordem democrtica (1988-2011). In: Anais XII ENANCIB Encontro Nacional dePesquisa em Cincia da Informao. Braslia, Distrito Federal, de 23 a 26 de outubro de 2011.
________ ; FONSECA, Maria Odila. Arquivos. In: Formas e expresses do conhecimento. BeloHorizonte: Escola de Biblioteconomia, 1998.
MARQUES, Angelica Alves da Cunha. Interlocues entre a Arquivologia nacional e ainternacional no delineamento da disciplina no Brasil. Braslia: FCI/UnB, 2011. (Tese deDoutorado). Orientadora: Prof. Dr. Georgete Medleg Rodrigues.
RASTAS, Pirkko. Manual and textbooks of archives administration and records management :a RAMP study. Paris: Unesco, 1992 (PGI-92/WS/11).
REIS, Lus. O arquivo e arquivstica evoluo histrica. Biblios: Revista de Bibliotecologa yCiencias de la Informacin, ao/vol. 7, n. 24, abr./jun. 2006.
SILVA, Armando Malheiro da et al. Arquivstica Teoria e Prtica de uma Cincia daInformao. Porto: Edies Afrontamento, 1999.
VILLAVERDE, Maria Luisa Conde. La investigacin em los archivos. Evolucin de su contexto y
contenido. Ciencia pensamento y cultura, v.CLXXXII, n. 717, enero/febrero 2006, p. 33-37.
VIVAS MORENO, Agustin. El tempo de la archivstica: um estdio de sus espacios de
racionalidade histrica. Ci. Inf., Braslia, v.33, n.3, p. 76-96, set./dez. 2004.
Submetido em: 12/2012
Aceito para publicao em: 01/2013