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A evolução recente das “taxas fora de bolsa” .
O Código dos Valores Mobiliários (1999)*.
1. A ―taxa fora de bolsa‖ no Código dos Valores Mobiliários – “taxa sobre operações
de transmissão de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado e
realizadas fora de mercado regulamentado”.
1.1. A Lei de Autorização Legislativa – Lei n.º 106/99, de 26 de Julho.
1.2. O art. 211.º do Código dos Valores Mobiliários e o art. 408.º do Código do Mercado
de Valores Mobiliários.
1.3. A regulamentação da Portaria do Ministro das Finanças (Anteprojecto).
1.4. Apreciação sobre a articulação entre a Lei de Autorização Legislativa, o Código dos
Valores Mobiliários e a Portaria do Ministro das Finanças (Anteprojecto)
2. A evolução da ―taxa fora de bolsa‖: do Decreto-Lei n.º 8/74, de 14 de Janeiro, ao
Código do MVM (1991).
3. Contributos para a análise da natureza jurídico-tributária da taxa prevista no art. 211.º
do Código dos VM.
1. A “taxa fora de bolsa” no Código dos Valores Mobiliários (Código dos VM) –
“taxa sobre operações de transmissão de valores mobiliários admitidos à negociação em
mercado regulamentado e realizadas fora de mercado regulamentado”.
O art. 211.º do Código dos VM estabelece que
“pelas operações de transmissão, a qualquer título, de valores mobiliários admitidos à
negociação em mercado regulamentado e realizadas fora de mercado regulamentado é
devida à CMVM1 uma taxa a fixar por portaria do Ministro das Finanças” (n.º 1),
* À data em que foi escrito o presente artigo ainda se encontrava em vigor o Código do Mercado de Valores
Mobiliários (Código do MVM), aprovado pelo Decreto-Lei n.º 142-A/91, de 10 de Abril. Contudo, tendo em conta que o
processo da sua publicação implicará a divulgação ao público em momento, concerteza, ulterior à entrada em vigor do
novo Código dos Valores Mobiliários, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 486/99, de 13 de Novembro, 1 de Março de 2000,
as referências às normas do Código de 1991 são feitas no pretérito, assumindo-se a sua revogação, com vista a facilitar a
leitura, adequando o texto ao momento da sua divulgação.
A exposição realizada no ponto «2. A evolução da ―taxa fora de bolsa‖ do Decreto-Lei n.º 8/74, de 14 de Janeiro, ao
Código do MVM (1991)», consiste num extracto, com algumas reformulações necessárias à integração no presente
artigo, de um capítulo da dissertação apresentada em Outubro de 1994, no âmbito do Curso de Mestrado (1991-1994) na
área das Ciências Jurídico-Empresariais da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, sob o tema ―Dos contratos
de bolsa. A compra e venda de valores cotados no código do mercado de valores mobiliários‖ e cuja prova de defesa
pública ocorreu em 6 de Fevereiro de 1998. A saber, o Capítulo 9.5. “Os Problemas Relativos à Aplicação das «Taxas de
Corretagem» e das «Taxas de Operações de Bolsa e Fora de Bolsa» no Direito Português” (págs. 127-163 da edição
policopiada).
2
podendo a portaria “isentar certas operações do pagamento da taxa” (n.º 3) 2.
O legislador fixou nas alíneas a) e b) do n.º 2 do art. 211.º as finalidades que presidem à
fixação da taxa sobre a transmissão, a qualquer título, de valores mobiliários admitidos à
negociação em mercado regulamento, quando realizadas fora desse mercado:
a) a remuneração dos serviços prestados pela CMVM em relação aos valores
mobiliários em causa;
b) a criação de condições que assegurem a neutralidade da negociação dos valores
mobiliários nesse mercado ou fora dele.
Quanto à sua cobrança, prescreve o n.º 4 que as taxas “são cobradas pelos notários e
pelos intermediários financeiros que intervierem na operação, ficando estes responsáveis
pela entrega à CMVM, independentemente de terem ou não procedido à sua cobrança”.
1.1. A Lei de Autorização Legislativa – Lei n.º 106/99, de 26 de Julho.
A aprovação pelo Código dos Valores Mobiliários de uma ―taxa sobre operações de
transmissão de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado
realizadas fora de mercado regulamentado‖ foi realizada ao abrigo da autorização
legislativa conferida ao Governo pela Lei n.º 106/99, de 26 de Julho, para efeitos, supõe-se,
naturalmente, de legitimar a inclusão no Código dos VM (a aprovar por decreto-lei) de
matérias de reserva de competência legislativa da Assembleia da República.
Resulta dos termos da alínea e) do art. 1.º da Lei n.º 106/99, de 26 de Julho, que foi
concedida ao Governo “autorização legislativa para, no âmbito dos mercados de valores
mobiliários e de outros instrumentos financeiros”, “estabelecer o regime das taxas
devidas pela realização de operações sobre valores mobiliários ou outros instrumentos
financeiros e pelos serviços de supervisão”.
Na fixação do sentido e extensão da autorização legislativa, relativamente às ―taxas
devidas nos mercados de valores mobiliários e outros instrumentos financeiros‖, o n.º 1 do
art. 13.º da citada lei explicitou a autorização ao Governo no sentido de este estabelecer:
“a) taxas a cobrar pela CMVM, que incidam sobre as operações relativas a valores
mobiliários e outros instrumentos financeiros admitidos à negociação em mercados
regulamentados que seja realizadas fora desses mercados;
b) taxas, a cobrar pela CMVM pelos serviços de supervisão por esta prestados aos
investidores, às entidades emitentes, aos intermediários financeiros, às entidades gestoras
de mercados e de sistemas de liquidação ou a quaisquer outras entidades”.
1 A Comissão do Mercado de valores Mobiliários é uma pessoa colectiva de direito público dotada de autonomia
administrativa e financeira e de património próprio, como estabelece o art. 1.º do respectivo Estatuto, aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 473/99, de 8 de Novembro. É mantida a qualificação que, aquando da sua criação, lhe foi atribuída –
cfr. o art. 9.º do Código do MVM.
2 Cfr. o art. 200.º do Código dos VM que estabelece o que são mercados regulamentados, resultando da sua articulação
com o disposto no art. 213.º que os mercados de bolsa são mercados regulamentados.
3
De acordo com o disposto no n.º 2 do mesmo artigo 13.º, “as taxas referidas nas
alíneas a) e b) do n.º 1 devem ser estabelecidas por forma a criar condições que
assegurem:
a) a neutralidade da negociação, em mercado regulamentado ou fora dele, dos
valores mobiliários e outros instrumentos financeiros admitidos à negociação no primeiro;
b) a compensação pelos serviços de supervisão quer genericamente considerados quer
em concreto.”
1.2. O art. 211.º do Código dos Valores Mobiliários e o art. 408.º do Código do
Mercado de Valores Mobiliários.
São claras as semelhanças da taxa prevista no art. 211.º do Código dos VM com a
denominada ―taxa sobre operações fora de bolsa‖ prevista no revogado Código do MVM no
art. 408.º, podendo afirmar-se que se trata da manutenção desta com redução da base de
incidência. Ambas abrangem operações de transmissão de valores mobiliários, qualquer que
seja o título por que se dê essa transmissão.
Ao nível das diferenças de percepção imediata, resulta dos pressupostos da incidência
fixados nas duas normas que: a taxa prevista no Código dos VM incide apenas sobre certas
transmissões de valores mobiliários, a saber, as que tenham por objecto valores mobiliários
admitidos à negociação em mercado regulamentado, quando realizadas fora de mercado
regulamentado; no Código do MVM os pressupostos da incidência da taxa eram indiferentes
ao facto de os valores mobiliários se encontrarem ou não admitidos à negociação em bolsa,
ainda que tais factos não fossem irrelevantes para efeitos do montante da taxa aplicável,
sendo superior a taxa devida nas transmissões sobre valores admitidos à negociação em bolsa
realizadas fora de bolsa, comparativamente com a taxa das operações sobre valores não
admitidos à negociação em bolsa3.
Por outro lado, no Código do MVM, os pressupostos da aplicação da taxa incluíam a
referência a transmissões ―realizadas com a intervenção, seja para que efeito [fosse], de
intermediário financeiro ou de notário‖, ficando a cargo destes a sua cobrança; no Código
dos VM não se encontra essa alusão nos pressupostos da sujeição à taxa, fazendo apenas
impender a obrigação de cobrança das taxas os notários e os intermediários financeiros que
intervierem na operação. Não obstante, porque parece resultar como necessária a verificação
do requisito da sua intervenção para ficarem obrigados à cobrança da taxa, a ser assim, tal
traduzirá a manutenção do mesmo regime que vigorava anteriormente: incidência da taxa
(apenas) no caso de intervenção de notário ou intermediário financeiro.
Esse não foi o sentido fixado pela Portaria do Ministro das Finanças (Anteprojecto),
emitida em regulamentação de tais normas, como se verá mais à frente.
Ao nível das diferenças, resulta, ainda, que são objecto da tributação ―quaisquer
transmissões‖, assim se verifiquem os requisitos já enunciados, sendo que o Código do
MVM precisava que se abrangiam as transmissões fora de bolsa, ―a título gratuito ou
3 Cfr. a Portaria n.º 904/95, de 18 de Junho (revogada com a entrada em vigor do Código dos VM), com a redacção
dada pela Portaria n.º 927/99, de 31 de Agosto, que fixou as taxas fora de bolsa, com efeitos a partir de 1 de
Setembro de 1999, em 1,5‰ para as operações sobre valores admitidos à negociação em bolsa, e 0,25‰ para as
operações sobre valores não admitidos à negociação em bolsa.
4
oneroso‖, enquanto o Código dos VM se refere apenas a transmissões ―a qualquer título‖.
Sem prejuízo de análise mais cuidada, tratar-se-á de uma fórmula simplificadora que
mantém, no mínimo, a abrangência da redacção anterior4.
É, ainda, de realçar que as taxas sobre operações fora de bolsa previstas no art. 408.º do
Código do MVM eram devidas em montantes ―não inferiores aos estabelecidos para as taxas
de bolsa, enquanto que na redacção do art. 211.º do Código dos VM não se encontra
qualquer limitação quantitativa indexada a valores de referência, mas, tão-só uma limitação
decorrente das finalidades da sua consagração, das quais parece resultar que, assim sejam
capazes de prosseguir as finalidades da sua criação, o valor das taxas, a fixar
regulamentarmente, poderá ser inferior ao das taxas aplicáveis às operações realizadas nos
mercados regulamentados.
Sem a pretensão de esgotar a comparação, deve realçar-se o facto de o Código dos VM
ter consagrado no n.º 4 do art. 211.º um regime de igualdade em matéria de responsabilidade
pela cobrança da taxa, aplicando-se igualmente aos intermediários financeiros e aos notários,
responsabilizando-os pela sua entrega à CMVM, independentemente de terem ou não
procedido à sua cobrança. É assim ultrapassada a discriminação que resultava do n.º 4 do art.
408.º do Código do MVM que apenas responsabilizava os intermediários financeiros pelo
pontual pagamento à CMVM das taxas relativas às operações em que interviessem,
independentemente de haverem ou não procedido à sua oportuna cobrança. Contudo, tal
igualização apenas cumprirá os desígnios que o legislador terá visado se a actividade de
supervisão abranger com igual intensidade a actividade de ambas as categorias subjectivas
intervenientes nas operações sujeitas a tributação.
Por último, a receita da liquidação das taxas é atribuída, em ambos os instrumentos
legislativos, à CMVM. No âmbito do Código do MVM, tal resultava da alínea b) do n.º 1 do
art. 40.º e do n.º 2 do art. 408.º. Com a entrada em vigência do Código dos VM, tal solução
está agora consagrada no (novo) Estatuto da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários,
aprovado pelo Decreto-Lei n.º 473/99, de 8 de Novembro, na alínea b) do n.º 1 do seu art.
26.º (Receitas) - e que entrará em vigor aquando daquele Código – 1 de Março de 20005.
Diferentemente da previsão do Código do MVM, o Código dos VM não consagra
qualquer regime de partilha mútua de receitas, seja das taxas de bolsa (de titularidade das
associações de bolsa), seja da receita das taxas fora de bolsa (de titularidade da CMVM),
entre as entidades gestoras dos mercados e a CMVM6. Não o prevê o Código dos VM do
4 Neste sentido, cfr. o n.º 1 do art. 3.º (Operações fora de mercados regulamentados) da Portaria do Ministro das
Finanças (Anteprojecto), analisada, infra, no ponto1.3., nos termos do qual a taxa é aplicável às operações
“realizadas fora de mercado regulamentado, ainda que a título gratuito”.
5 Cfr. o art. 3.º do Decreto-Lei n.º 473/99, de 8 de Novembro, e o art. 2.º do Decreto-Lei n.º 486/99, de 13 de
Novembro.
6 Efectivamente, decorria do n.º 2 do art. 408.º do Código do MVM o poder de ―o Ministro das Finanças estabelecer,
mediante portaria, sob proposta da Comissão e com audiência prévia das associações das bolsas, ou a solicitação
fundamentada destas e com o parecer da CMVM, que uma percentagem, que fixará, do produto das mesmas taxas, ou a
totalidade ou parte das taxas respeitantes a operações fora de bolsa sobre determinados valores mobiliários,
nomeadamente sobre valores cotados, se destine às associações de bolsa, distribuindo-se entre elas nos termos que
igualmente definirá‖.
5
modo directo que até aqui existia. Mas prevê-o parcialmente a Portaria do Ministro das
Finanças (Anteprojecto) que vem regulamentar as ―taxas de supervisão‖.
1.3. A regulamentação da Portaria do Ministro das Finanças (Anteprojecto).
Ao abrigo do artigo 211.º do Código dos VM e o n.º 2 do artigo 26.º do Estatuto da
Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 473/90, de 8
de Novembro, foi aprovada a Portaria n.º (xx/2000) pelo Ministro das Finanças, com vista
a regulamentar as normas, supra, citadas, tem por título ―Taxas de supervisão”.
De modo sintético, ao nível da incidência subjectiva das taxas aí previstas encontram-
se taxas incidentes sobre:
i) as entidades gestoras de mercados de bolsa/dívida pública/outros mercados
regulamentados (arts. 1.º e 2.º);
ii) as entidades gestoras de mercado não regulamentados (art. 3.º, n.º 2);
iii) as entidades gestoras de sistemas centralizados de valores mobiliários e de
liquidação (art. 5.º);
iv) as partes de operações realizadas fora de mercado regulamentado (art. 3.º);
As taxas incidem, consoante os casos, sobre o valor das operações, sobre o número de
instrumentos negociados ou sobre as comissões cobradas, a saber:
• sobre as operações de bolsa, recai a taxa a pagar pelas entidades gestoras do mercado
de bolsa incide “sobre cada operação de compra e sobre cada operação de venda, tanto
em sessões normais, como em sessões especiais”, dependendo dos instrumentos objecto da
operação, sendo a taxa mínima no valor de 0,0075‰, aplicável a operações sobre
obrigações do Tesouro de médio e longo prazo, e a máxima, de 0,0375‰, aplicável às
No reverso desta solução, o art. 407.º do mesmo Código, previa a ―taxa de realização de operações de bolsa‖,
reconhecendo-a, no seu n.º 3, como receita da bolsa (em rigor, da(s) associação(ões) de bolsa), sem prejuízo de o
Ministro das Finanças poder determinar, mediante portaria, que do produto da sua cobrança as associações de bolsa
pagassem à CMVM uma percentagem a fixar, sob proposta da Comissão e com audiência prévia dos conselhos de
administração das associações referidas.
O Ministro das Finanças veio a exercer tais prerrogativas, através da Portaria nº 1001/91, de 2 de Outubro, que foi
revogada pela Portaria nº 905/95, de 18 de Julho (com a redacção dada pela Portaria n.º 1020/98, de 9 de Dezembro).
Assinale-se que esta “repartição” configurou, ostensivamente, uma solução de duvidosa legalidade dada a natureza
jurídica das prestações, a qualidade das entidades titulares das prestações e o instrumento legislativo pelo qual se
concretizava.
Efectivamente, esta solução consagrada no Código e regulamentada nos termos referidos, sempre poderia ser apontada
como inconstitucional, assim, se qualifique como um imposto exigido sem fundamento em lei formal esta «transferência»
de receitas próprias de uma pessoa de direito privado (as associações de bolsa) para uma pessoa colectiva de direito
público, sem que se vislumbre uma qualquer contrapartida directa. Ora, não se encontrava na Lei n.º 44/90, de 11 de
Agosto, pela qual a Assembleia da República conferiu ao Governo autorização para legislar sobre matérias penais e
fiscais (a incluir no Código do MVM), nem em qualquer outra lei em sentido formal, tal autorização legislativa.
6
operações sobre acções. Por cada contrato de futuro ou opções negociado em bolsa é
devida uma taxa de 1 cêntimo. – cfr. art. 1.º da Portaria (Anteprojecto);
Por esta via, mantém a referida partilha de receitas entre entidades gestoras de bolsas
e a CMVM, só que apenas num sentido: é receita da CMVM uma parte das receitas
daquelas entidades pela realização de operações de bolsa (e outros mercados
regulamentados). De resto, no preâmbulo da Portaria, é assumida uma “redução [da]
participação da CMVM nas taxas de realização de operações de bolsa que de 35% passa
a ser de 25% se confrontadas as taxas de supervisão que agora se fixam com as taxas de
realização de operações em vigor”;
• sobre as operações realizadas em mercado regulamentado de dívida pública. “por
cada membro do Mercado Especial de Dívida Pública, a respectiva entidade gestora paga
uma taxa mensal de € 500”, não havendo lugar ao pagamento à CMVM de quaisquer
outras taxas pela realização de operações nesse mercado; não é devida qualquer taxa à
CMVM pelas operações realizadas no Mercado Especial de Operações por Grosso;
• sobre as operações “realizadas fora de mercado regulamentado, ainda que a título
gratuito”, sobre valores mobiliários admitidos nesse mercado, ―é devida pelo adquirente e
pelo alienante uma taxa sobre cada operação de aquisição e sobre cada operação de
alienação”, variando, conforme os instrumentos objecto da operação, entre uma a taxa de
0,06‰, aplicável a operações sobre obrigações do Tesouro de médio e longo prazo, e de
1,2‰, aplicável às operações sobre direitos destacados, warrants e acções – cfr. art. 3.º.
Não está prevista qualquer taxa que, de algum modo, acautele a neutralidade de
negociação de instrumentos derivados negociados em bolsa fora de bolsa ou, mesmo, de
instrumentos que tenham aqueles por referência, ainda que não tenham exactamente as
mesmas características (especificações).
• sobre as entidades gestoras de sistemas centralizados de valores mobiliários e de
sistemas de liquidação incide “uma taxa de 15% sobre as comissões por elas cobradas
nessa qualidade” – cfr. art. 5.º;
Estão excluídas da incidência das ―taxas de supervisão‖ as operações de reporte e de
empréstimo geridos por entidade gestora de mercado ou de sistema de liquidação – cfr. art.
6.º.
A liquidação e o pagamento das taxas será realizado, nuns casos, pelas próprias
entidades gestoras de mercados e de sistemas centralizados, noutros casos, pelos
intermediários financeiros ou pelo notário e, noutros ainda, pelas partes, quando na
operação não haja intervenção de intermediário financeiro ou notário, tudo, conforme a
estatuição dos números 1 a 4 do artigo 4.º e do artigo 5.º.
Como se pode constatar, o n.º 4 do artigo 4.º da Portaria, vem ultrapassar as dúvidas
interpretativas acima enunciadas quanto ao âmbito da incidência da taxa, fixada no n.º 1
do art. 211.º do Código dos VM, resultantes do confronto desta norma com o art. 408.º do
Código do MVM. Como referido, este último, incluía na fixação do pressuposto da ―taxa
fora de bolsa‖ a necessidade de se verificar a “intervenção, seja para que feito[fosse], de
7
intermediário financeiro ou notário”, diferentemente da previsão do n.º 1 do artigo 211.º
do Código dos VM, o qual apenas alude ao notário e ao intermediário financeiro para
efeitos da cobrança da taxa.
O auxílio interpretativo dado pelo citado artigo 4.º - norma relativa à liquidação da
taxa-, vai no sentido de que a nova taxa incide sobre quaisquer operações, haja ou não
intervenção de notário ou de intermediário financeiro. Tal solução afigura-se, contudo,
excessiva.
O n.º 4 do art. 211.º do Código dos VM, ao estabelecer sobre os notários e os
intermediários financeiros “que intervierem na operação” a obrigação de cobrança da
taxa, permite sustentar que a solução ao nível da incidência da taxa é a mesma da prevista
no revogado art. 408.º: apenas quando haja intervenção de intermediário financeiro ou
notário. Efectivamente, o Código dos VM, estabelece que a liquidação e cobrança da taxa é
obrigação dos notários e dos intermediários financeiros que intervierem na operação, nunca
se referindo às próprias partes da operação como o faz o n.º 4 do art. 4.º. Se o legislador o
tivesse querido, haveria de o referir como a propósito de outras soluções tributárias, v.g. ao
nível (meramente) da realização de obrigações acessórias de comunicação (cfr. art. a alínea
a) do art. 128.º do Código do IRS.
De resto, esta solução de autoliquidação configura uma solução de marcada
singularidade em termos de regras tributárias, uma vez que dispensa a existência de
quaisquer qualidades especiais das partes que permitam o controlo da liquidação da taxa,
mais fazendo recair sobre estas um encargo administrativo, por si só, perturbador da
realização de transacções.
Tudo, sem prejuízo de, na prática, a realização de operações sobre valores admitidos à
negociação em bolsa vir a coincidir com operações em que se verificará a intervenção de
um intermediário financeiro.
1.4. Apreciação sobre a articulação entre a Lei de Autorização Legislativa, o
Código dos Valores Mobiliários e a Portaria do Ministro das Finanças (Anteprojecto).
É certo que no corpo do n.º 2 do citado artigo 13.º da Lei n.º 106/99, de 26 de Julho,
não se inclui na parte final o termo ―respectivamente‖. Não obstante, de uma leitura em
singelo das alíneas a) e b), dos números 1 e 2, será legítimo que, em face de uma tentativa
de proceder à sua articulação, se vislumbre uma ligação, respectivamente, entre as taxas
incidentes sobre operações relativas a valores mobiliários, referida na alínea a) do n.º 1, e a
finalidade de neutralidade fixada na alínea a) do n.º 2, e as taxas a cobrar pelos serviços de
supervisão, referidas na alínea b) do n.º 1, e a finalidade de compensação (remuneratória)
fixada na alínea b) do n.º 2.
Contudo, foi diverso o sentido com que foi utilizada tal autorização legislativa,
conforme se retira do citado artigo 211.º do Código dos Valores Mobiliários e mais se
confirma da leitura do terceiro parágrafo do ponto n.º 14 do preâmbulo ao Decreto-Lei n.º
486/99, de 13 de Novembro, que aprovou o mesmo Código, ao identificar os limites das
taxas a cobrar por operações realizadas fora de mercado regulamentado, e segundo o qual:
“clarific[ou]-se o regime das taxas a cobrar por operações realizadas fora de mercado
regulamentado, passando agora a incidir apenas sobre as operações que tenham por
8
objecto valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado e que
tenham sido realizadas fora desse mercado (artigo 211º). A habilitação regulamentar
atribuída ao Ministro das Finanças está balizada por dois limites: a taxa deve respeitar
um princípio de neutralidade entre a negociação em mercado regulamentado e fora de
mercado regulamentado; o seu pagamento deve ter correspondência em serviços de
supervisão prestados pela CMVM.”
Parece claro o propósito do legislador de delimitar o exercício regulamentar em
matéria de fixação da referida taxa, vinculando-o às finalidades declaradas para a sua
consagração: a realização (prossecução) da neutralidade entre a negociação em mercado
regulamentado e fora de mercado regulamentado ao nível dos custos de transacção
(naturalmente, dos que não possam ser fixados livremente pelos agentes do mercado) e a
remuneração dos serviços de supervisão prestados pela CMVM, estes, de acordo com o
teor da autorização legislativa, ―quer genericamente considerados quer em concreto‖.
Assim, ao contrário do que parecia decorrer da citada norma da lei de autorização
legislativa, o novo Código não veio criar dois tipos de taxas, uma incidente sobre
operações realizadas fora de mercado regulamentado e outra de compensação dos serviços
de supervisão realizados pela CMVM. Veio consagrar apenas uma taxa: taxa sobre
operações de transmissão de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado
regulamentado e realizadas fora de mercado regulamentado, a qual cumprirá, também, uma
função de financiamento da actividade de supervisão da CMVM7.
Contudo, e como exposto, foi diverso o sentido plasmado na Portaria aprovada pelo
Ministro das Finanças (Anteprojecto), a qual, retomando a filosofia da Lei de autorização
legislativa, vem regulamentar a ―taxa sobre operações de transmissão de valores
mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado realizadas fora de mercado
regulamentado‖, e regulamentar (ou criar?) verdadeiras taxas de supervisão, reduzindo
toda a regulamentação no título da portaria a ―taxas de supervisão‖, invocando quer o
artigo 211.º do Código dos VM, quer o n.º 2 do artigo 26.º do Estatuto da CMVM.
Ora, da articulação de tudo o que ficou anteriormente enunciado, afigura-se-ia que a
utilização da referida autorização legislativa se teria concretizado pela consagração da
―taxa sobre operações de transmissão de valores mobiliários admitidos à negociação em
mercado regulamentado realizadas fora de mercado regulamentado‖, nem parecendo
apontar em sentido diverso, numa primeira análise, a própria previsão do Estatuto da
CMVM, em especial o art. 26.º (invocado para efeitos de aprovação da portaria em
análise).
Efectivamente, a contribuição directa do art. 26.º do Estatuto da CMVM para a
questão em análise traduz-se na previsão expressa de constituírem receitas da CMVM, ―as
taxas devidas pelas transmissão de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado
regulamentado e realizadas fora de mercado regulamentado‖ (cfr. al. b) do n.º 1 do art.
26.º). Não faz qualquer referência directa a ―taxas de supervisão‖.
7 Em abono desta interpretação pode invocar-se ainda a al. b) do n.º 1 do art. 26.º do Estatuto da CMVM, aprovado
pelo Decreto-Lei n.º 473/99, de 8 de Novembro, que estabelece que constituem receita da CMVM “as taxas devidas pela
transmissão de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado e realizadas fora de mercado
regulamentado”, não sendo incluída, no mesmo artigo, nenhuma previsão directa relativa a “taxas de supervisão”, não se
apresentando com abrangência bastante para o efeito o teor de qualquer das demais alíneas deste artigo, não deixando tais
alíneas, por essa mesma razão, de suscitar a dúvida sobre o tipo de prestações que aí se pretende abranger.
9
Não obstante, e dada a previsão, também como receita da CMVM, nas alíneas a) e c)
do n.º 1 do citado art. 26.º, respectivamente, de “taxas devidas pelas entidades gestoras de
mercados, de sistemas de liquidação e de sistemas centralizados de valores mobiliários” e
de “taxas devidas por operações sobre valores mobiliários, realizadas em mercados
registados ou por entidades gestoras de fundos de investimento”, vem a Portaria
regulamentar todas as taxas acima enunciadas.
É, pois, verdade que nesse art. 26.º se prevêem taxas incidentes sobre ―entidades
gestoras‖. Mas, concomitantemente, também parece ser verdade que essas taxas não são
objecto de qualquer previsão no Código dos VM, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 486/99, de
13 de Novembro, diploma que utilizou a autorização legislativa contida na Lei n.º 106/99,
não existindo, por sua vez, qualquer menção de tal utilização no Decreto-Lei n.º 473/99, de
8 de Novembro, que aprovou o Estatuto da CMVM.
À luz da análise das finalidades enunciadas é que se há-de realizar a reflexão sobre a
natureza jurídico-tributária destas prestações, em especial da ―taxa sobre operações de
transmissão de valores mobiliários admitidos à negociação em mercado regulamentado
realizadas fora de mercado regulamentado‖, tendo em conta que, historicamente, já a razão
da ―neutralidade‖ terá estado na génese da criação da figura das ―taxas fora de bolsa‖
previstas no Código do MVM, suscitando estas, desde sempre, questões legítimas sobre a
sua natureza jurídico-tributária de imposto, e por isso, ainda na vigência da legislação ora
revogada, legítimas dúvidas sobre a legalidade da sua criação.
2. A evolução da “taxa fora de bolsa”: do Decreto-Lei n.º 8/74, de 14 de Janeiro,
ao Código do MVM (1991).
2.1. Os Problemas Relativos à Aplicação das «Taxas de Corretagem» e das
«Taxas de Operações de Bolsa e Fora de Bolsa» no Direito Português.
Além das taxas de corretagem fixadas a favor dos corretores, o Decreto-Lei n.º 8/74,
de 14 de Janeiro, previa no artigo 87.º a cobrança de «taxas de operações» nas operações
realizadas nas sessões de bolsa, ou, como resultou de alteração da redacção primitiva de tal
disposição, «por todas as operações de bolsa», constituindo receita da bolsa8, sendo estas
entidades, até ao Código do MVM, institutos públicos.
No seguimento deste diploma, e em resultado de uma evolução que, a seguir, será
referida, surgiram as designadas «taxas sobre operações fora de bolsa», aplicáveis a
quaisquer transacções de valores mobiliários, em que tivesse havido intervenção de
corretor, notário ou instituição de crédito.
8 O Regulamento da Bolsa, de 1901, estabelecia taxas de admissão à cotação (artigo 29.º) e de realização de operações
a prazo que constituíam receita da bolsa (cfr. artigo 61.º e 65.º).
10
Estas taxas vêm a ser mantidas pelos artigos 407.º (Taxa de realização de operações
de bolsa) e 408.º (Taxa sobre operações fora de bolsa) do Código do MVM. As primeiras
como contrapartida da «realização de transacções de bolsa», sendo devida uma «taxa de
compra e de venda», cuja fixação cabia à CMVM. As segundas, incidiam sobre «todas as
transmissões fora de bolsa, a título gratuito ou oneroso, de quaisquer valores mobiliários,
realizadas com a intervenção, seja para que efeito for, de intermediário financeiro ou de
notário», sendo devidas como taxas não inferiores às estabelecidas para as operações de
bolsa, e cujo montante, valor sobre que incidiam e processo de liquidação e cobrança
cabiam ao Ministro das Finanças (mediante portaria), sob proposta da CMVM.
2.1.1. Do Decreto-Lei n.º 8/74 ao Código do MVM.
O Decreto-Lei 8/74, de 14 de Janeiro, revogando o Decreto de 10 de Outubro de 1901,
estatuía que por todas as operações de bolsa realizadas com intervenção de corretor seriam
devidas taxas a fixar em portaria do Ministro das Finanças [artigo 87.º (Taxas de
operações)]9, constituindo receitas próprias das bolsas, conforme a alínea b) do n.º 1 do
artigo 22.º. Consagrava, também, o direito dos corretores às corretagens previstas nas
tabelas (a fixar nos termos estabelecidos para as taxas de operações), pela prestação dos
serviços «do seu cargo» [artigo 88.º (Corretagem)], sendo que, nos casos omissos, as
corretagens seriam provisoriamente arbitradas pela comissão directiva da bolsa (n.º 2)10.
As «taxas de operações» haviam de ser cobradas, não só pelas operações realizadas
nas sessões normais e nas especiais, antes, em quaisquer operações de bolsa realizadas
(necessariamente) com intervenção de corretor, permitindo, legitimamente, questionar
sobre a abrangência de operações que não se efectuassem na bolsa11. Contudo, como se
verá mais à frente, a prática corrente, fruto de uma desenfreada sucessão normativa nesta
matéria, conduziu a soluções algo diversas.
Em regulamentação do prescrito no artigo 88.º do Decreto-Lei n.º 8/74, de 14 de
Janeiro, sucederam-se várias portarias do Ministro das Finanças, visando estabelecer as
9 Tal redacção do artigo 87.º resultou de alteração introduzida pelo Decreto-Lei n.º 696/75, de 12 de Dezembro, pelo
qual parece ter sido alargado o âmbito de aplicação das taxas de operações uma vez que na sua redacção primitiva
resultavam devidas taxas de operações «pelas operações realizadas em bolsa, tanto nas sessões normais como nas sessões
especiais(…)». A nova redacção resultou, aparentemente, mais abrangente do que a primitiva. A concretização da
extensão de uma e de outra das redacções implica necessariamente com o conceito de «operações de bolsa».
10 A comissão directiva era um órgão de administração das bolsas de valores durante a vigência do Decreto-Lei n.º
8/74, mantendo-se, ainda, em funções, transitoriamente, após a entrada em vigor do Código do MVM - cfr. artigo 9.º e ss.
do Decreto-Lei n.º 8/74 e artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 142-A/91, de 10 de Abril.
11 Face a esta interpretação, reafirmada em desenvolvimentos legislativos e regulamentares ulteriores que reiteraram e
alargaram a aplicabilidade de taxas de operações (por corretores e, mesmo, por notários e instituições de crédito) a
operações não realizadas nas bolsas, parece resultar natural a interrogação quanto à natureza jurídica desta prestação
exigida independentemente de a realização das operações ter lugar na bolsa ou fora da bolsa. Se, quanto à sua cobrança
pelo corretor, como «oficial público», tal exigibilidade poderia tentar justificar-se, dada a ligação orgânica deste à
instituição bolsista. No sentido da qualificação do «agenti di cambio» como organo da instituição que é a bolsa, veja-se,
MARIO ROTONDI, Studi di diritto commerciale e di diritto generale delle obbligazioni, Padova, Cedam, 1961, p. 413.
Já quanto à sua exigibilidade por outros agentes parece assumir claramente a natureza de um imposto dada a
inexistência de qualquer contraprestação face ao pagamento da «taxa», como se desenvolverá mais à frente.
11
taxas de corretagem a que os corretores tinham direito: Portaria n.º 265/74, de 10 de Abril,
Portaria n.º 383/76, de 25 de Junho, Portaria n.º 200/79, de 27 de Abril, Portaria n.º 6/86,
de 6 de Janeiro e a Portaria n.º 782/86, de 31 de Dezembro12.
A fórmula utilizada para o estabelecimento das «taxas de corretagem», em
regulamentação do supracitado artigo 88.º, resultou igual nas portarias de 1974, 1976 e de
1979: «Pela prestação dos serviços a seu cargo, os corretores das bolsas de valores
cobrarão as seguintes taxas, calculadas sobre o montante das operações que
efectuem(…)».
Os maiores problemas relativos às taxas de corretagem e às taxas de operações foram
suscitados pela Portaria n.º 430/77, de 16 de Julho, emitida em regulamentação do
Decreto-Lei n.º 150/77, de 13 de Abril (Registo ou depósito de acções), e pela Portaria n.º
448/81, de 2 de Junho. A publicação de tais diplomas legais originou uma «revolução» no
regime de taxas de corretagem e de operações aplicáveis até então, com repercussão nas
Portarias n.ºs 6/86, de 6 de Janeiro, e 782/86, de 31 de Dezembro.
Com efeito, pelo Decreto-Lei n.º 150/77, de 13 de Abril, foi estabelecido um regime
de registo ou de depósito de acções representativas do capital social de sociedades
anónimas ou em comandita por acções, com sede em Portugal, quer ao portador, quer
nominativas, definitivamente tituladas ou representadas por cautelas, oferecendo aos
titulares desses valores duas soluções à escolha: o registo destas na sede da sociedade
emitente ou o seu depósito numa instituição de crédito. A mudança de uma para outra
opção era totalmente livre, assim fossem observadas as formalidades prescritas para tal.
Nos termos deste regime de registo ou depósito estabelecido para as acções, a
transmissão destas passou, necessariamente, a ter intervenção do corretor (artigo 22.º)
(como já era exigido) quando se realizasse em bolsa; do notário (artigo 26.º), nas
transmissão fora de bolsa de acções registadas; e de instituição de crédito (artigo 27.º) nas
transmissões fora de bolsa de acções depositadas.
No capítulo VII (Disposições complementares) do citado decreto-lei, era estabelecido,
no artigo 32.º, que seriam fixadas «por portaria dos Ministros da Justiça e das Finanças as
taxas ou comissões devidas pela prática de actos referidos no presente diploma e respectiva
forma de pagamento».
Consequentemente, a Portaria n.º 430/77, de 16 de Julho, conforme o seu preâmbulo,
«tornando-se necessário dar cumprimento ao disposto no artigo 32.º do Decreto-Lei n.º
150/77, de 13 de Abril(…)» estabeleceu «as taxas e comissões devidas pela prática dos
actos referidos no citado Decreto-Lei e a forma do respectivo pagamento(…)».
Nos termos desta Portaria (cfr. os n.ºs 3.º a 5.º), seriam devidas nas transmissões de
acções entre vivos, a título gratuito ou oneroso, a taxa de realização de operações de bolsa
12 Da primeira para a segunda, apenas foram aumentadas as permilagens aplicáveis sobre o montante das operações,
destas duas para a terceira, foi alterada a fórmula do mínimo de corretagem a cobrar. Aquelas estabeleciam que a
corretagem não seria, em qualquer caso, inferior a 5 escudos. A última estabelecia que à taxa calculada acresceria sempre
uma taxa fixa de 25 escudos.
Estas Portarias diferenciaram as permilagens a aplicar, atendendo ao tipo de valores mobiliários objecto da operação.
Operaram a diferenciação entre fundos públicos nacionais e títulos equiparados, fundos públicos estrangeiros e títulos
equiparados e quaisquer obrigações e, ainda, quaisquer acções ou outros valores mobiliários. Respectivamente, foram
fixadas as permilagens de 1,5‰, 2,5‰ e 3,5‰, pela Portaria n.º 265/74, de 10 de Abril, e 3‰, 4‰ e 5‰, pela Portaria
n.º 383/76, de 25 de Junho (taxas mantidas pela Portaria n.º 200/79, de 27 de Abril).
12
e a taxa de corretagem, a que se referiam os artigos 87.º e 88.º do Decreto-Lei n.º 8/74, de
14 de Janeiro, nos casos em que tivesse havido intervenção de corretor; quando nas
mesmas transmissões houvesse intervenção de notário, seriam devidas importâncias iguais
às duas taxas atrás referidas, constituindo, aquela relativa às operações, receita própria da
Bolsa de Valores de Lisboa, e, aquela igual à taxa de corretagem, receita do Cofre dos
Notários, Conservadores e Funcionários de Justiça; quando essas transmissões tivessem
por objecto valores depositados13 seriam cobrados iguais montantes: uma importância
igual à taxa de realização de operações de bolsa, a que se refere o referido artigo 87.º, a
qual constituía receita própria da Bolsa de Valores de Lisboa e uma comissão igual à taxa
de corretagem fixada nos termos estabelecidos no artigo 88.º do mesmo diploma, a qual
constituía receita da instituição de crédito depositária, que não poderia cobrar qualquer
outra importância, excluída a de portes do correio.
Do exposto, pela transmissão de acções, quaisquer que fossem, a título gratuito ou
oneroso, e por força do registo ou depósito obrigatórios, resultou a necessidade de
intervenção de um notário, de uma instituição de crédito ou de um corretor (tendo a
intervenção deste último carácter indispensável no caso de a transmissão se realizar na
bolsa). O pagamento dos serviços prestados por tais sujeitos corresponderia às
importâncias do valor das corretagens e das taxas de operações, quer a transmissão se
operasse na bolsa ou fora dela. Em qualquer das hipóteses haveria um mesmo custo.
A Portaria n.º 430/77, de 16 de Julho, chamava a aplicação dos artigos 87.º e 88.º do
Decreto-Lei n.º 8/74, de 14 de Janeiro, para as transmissões em que houvesse intervenção
do corretor como, de resto, parece que resultaria da própria letra e âmbito dessas
disposições legais; também, chamava essas mesmas disposições legais para efeitos de
fixação da taxa de operações (!) e das remunerações (taxa) a cobrar pelo notário pela
intervenção em tais transmissões e para tabelar a comissão máxima a cobrar pela
instituições de crédito depositárias, mencionando expressamente que estas não poderão
«cobrar qualquer outra importância, excluída a de portes do correio».
Pode afirmar-se que o legislador se preocupou com a necessidade de uniformização
dos custos que necessariamente se originariam pela intervenção dos vários sujeitos acima
referidos, nivelando as suas receitas pela prestação a cobrar pelo corretor, acautelando os
interesses dos accionistas que, para transmitirem os seus títulos, se viam forçados a
recorrer a uma das entidades referidas.
Na vigência do Decreto-Lei n.º 8/74, de 14 de Janeiro, por sua vez, a Portaria 448/81,
de 2 de Junho, ao abrigo do disposto no artigo 141.º14 daquele decreto-lei, veio estabelecer
encargos a cobrar pelos notários e instituição de crédito com intervenção em transmissões
de quaisquer valores mobiliários fora das bolsas de valores. A justificação da sua
publicação encontrar-se-á na pretensão de resolver dúvidas suscitadas na aplicação do
13 A expressão utilizada no n.º 5.º da Portaria n.º 430/77, de 16 de Julho, é «valores depositados», sendo certo que se
deve aqui ler «acções depositadas», impedindo a extensão da sua aplicação a outros valores que não sejam acções, por
força de o objecto do Decreto-Lei n.º 150/77, de 13 de Abril, se circunscrever a «acções».
14 Art.º 141.º (Resolução genérica de dúvidas) do Decreto-Lei n.º 8/74, de 14 de Janeiro, estabelecia: «Compete ao
Ministro das Finanças resolver, por despacho genérico, as dúvidas que se suscitarem na aplicação do presente diploma».
13
Decreto-Lei n.º 8/74, de 14 de Janeiro, função cometida ao Ministro das Finanças pelo
artigo 141.º desse mesmo diploma.
Reconhecida a existência das taxas de realização de operações e da taxa de corretagem
dos supracitados artigos 87.º e 88.º do Decreto-Lei n.º 8/74, devidas nas operações de bolsa
realizadas com intervenção de corretor e face à regulamentação do Decreto-Lei n.º 150/77,
de 13 de Abril, por força do qual se fixaram taxas e comissões pela prática dos actos
relativos à transmissão de acções registadas ou depositadas, foi expressa, no preâmbulo à
regulamentação constante de tal Portaria, uma preocupação relativa à negociação de outros
valores mobiliários diferentes de acções, com intervenção de um sujeito que não um
corretor (partindo do princípio que, havendo intervenção de corretor, este deveria cobrar as
taxas dos artigos 87.º e 88.º do Decreto-Lei n.º 8/74).
A preocupação manifestada apoiava-se na ideia de que: «as taxas e comissões
estabelecidas representam, como é da sua natureza, a remuneração de serviços prestados
e que a isenção para as transmissões entre vivos realizadas fora da Bolsa de títulos que
não sejam acções, significa, para os que dessa isenção venham a beneficiar, a prestação
de um serviço gratuito, o que não se justifica nas actuais condições de mercado», ao que
acrescia a necessidade de «uniformização de encargos das operações, sejam quais forem
os títulos nelas envolvidos e sejam as transacções efectuadas na Bolsa ou fora dela».
Com tal propósito ficaram estabelecidas importâncias a cobrar pelas transmissões fora
de bolsa, a título gratuito ou oneroso, de quaisquer valores mobiliários, em que houvesse
intervenção de notário ou de instituição de crédito, neste último caso, tendo por objecto
valores junto de si depositados ou não. O notário, à semelhança do regime estabelecido na
Portaria n.º 430/77, deveria cobrar uma importância calculada pela aplicação da taxa de
realização de operações mais elevada, a que se referia o artigo 87.º do Decreto-Lei n.º 8/74,
constituindo tal importância receita da bolsa, e uma taxa igual à taxa de corretagem fixada
nos termos do artigo 88.º do mesmo diploma, constituindo receita do Cofre dos Notários,
Conservadores e funcionários de justiça (cfr n.º 1.º da portaria em análise). As instituições
de crédito, e em termos análogos ao referidos no primeiro caso, deveriam cobrar iguais
importâncias, a título de taxa de realização de operações e de comissão, constituindo,
aquela, receita da bolsa, a última, receita da instituição de crédito depositária, que não
poder[iam] cobrar qualquer outra importância, excluída a de portes de correio.
Saliente-se que, face à redacção da Portaria n.º 430/77 e à redacção primitiva dos n.ºs
1.º e 2.º da Portaria 448/81, nestas situações haveria lugar ao pagamento de uma
importância igual à taxa de operações do artigo 87.º do Decreto-Lei n.º 8/7415.
Deste modo, perante a intervenção de notário ou de instituição de crédito nas
transmissões entre vivos de quaisquer valores mobiliários, seria aplicável o disposto na
Portaria n.º 448/91, com prejuízo do que resultava aplicável por força da Portaria n.º
15 Da redacção primitiva das alíneas a) dos n.ºs 1.º e 2.º Portaria n.º 448/81, relativas à cobrança, respectivamente, pelo
notário ou pela instituição de crédito, de uma importância calculada por referência à taxa de realização de operações,
resultava «uma importância igual à taxa de realização de operações, a que se refere o artigo 87.º do Decreto-Lei n.º
8/74(…)». Com a alteração introduzida pela Portaria n.º 143/87, de 2 de Março, passou a ser devida «uma importância
calculada pela aplicação da taxa de realização de operações mais elevada(…)» a que se refere o citado artigo 87.º.
14
430/77, de 16 de Julho16, traduzindo-se a diferença, essencialmente, na importância que
constitui receita da bolsa (nos termos das alíneas a) dos n.ºs 1.º e 2.º da Portaria de 1981),
uma vez que já não é igual àquela cobrada pelo corretor (nos termos do artigo 88.º do
Decreto-Lei n.º 8/74) mas, antes, a taxa de realização de operações mais elevada a que se
refere a norma do Decreto-Lei n.º 8/74 (dada a existência de diferentes taxas, consoante os
valores mobiliários objecto da operação).
A prática corrente, traduziu-se na aplicação pelos corretores, aquando da sua
intervenção nas transmissões de valores mobiliários fora da bolsa, da taxa de realização de
operações mais elevada (à semelhança dos notários e das instituições de crédito), não
distinguindo os tipos de valores objecto da operação17.
Diversamente, através da interpretação que se afigura como mais correcta, verificar-
se-ia uma discriminação a favor da intervenção do corretor na transmissão de valores
mobiliários, uma vez que intervindo em tais transmissões deveria cobrar as taxas de
operações previstas no artigo 87.º do Decreto-Lei n.º 8/7418.
16 Pode questionar-se tal derrogação no que se refere à intervenção de notários e instituições de crédito nas
transmissões de acções, uma vez que a Portaria n.º 448/81 foi aprovada ao abrigo do artigo 141.º do Decreto-Lei n.º 8/74
e não em regulamentação do Decreto-Lei n.º 150/77, de 13 de Abril.
17 A partir do estabelecido na Portaria n.º 430/77, de 16 de Julho e da Portaria n.º 448/81, de 2 de Junho, gerou-se uma
interpretação, acolhida pela prática bolsista, segundo a qual, mesmo os corretores, relativamente às operações não
realizadas nas bolsas, deveriam aplicar as taxas de operações resultantes da Portaria n.º 448/81, isto é, a taxa mais elevada
fixada para efeitos de taxa de operações (conforme a alteração introduzida a esta portaria pela Portaria n.º 143/87, de 2 de
Março, e na sequência da publicação da Portaria n.º 781/86, de 31 de Dezembro). A Portaria n.º 781/86, de 31 de
Dezembro, revogou a Portaria n.º 264/74, de 10 de Abril, que até então regulamentava o artigo 87.º do Decreto-Lei n.º
8/74, e que fixava a taxa de realização de operações de bolsa em 0,5‰, a ser paga por cada operação de compra ou de
venda que se efectuasse. Por força da Portaria n.º 781/86, foram estabelecidas taxas de realização de operações de fundos
públicos e títulos negociáveis de dívida (grosso modo), no montante de 0,25‰ e para as operações sobre quaisquer
acções ou outros valores mobiliários, foi fixada (mantida) a taxa de 0,5‰. Mais, esta portaria, erroneamente, «recuperou»
a redacção do artigo 87.º do Decreto-Lei n.º 8/74, revogada pelo Decreto-Lei n.º 696/75, de 12 de Dezembro, segundo a
qual «pelas operações realizadas em bolsa, tanto em sessões normais como nas sessões especiais, serão devidas taxas a
fixar em portaria do Ministro das Finanças», quando a redacção então vigente (disposição legal que a Portaria visava
regulamentar, face à sua expressa evocação), por força do referido Decreto-Lei n.º 696/75, estabelecia que «por todas as
operações de bolsa realizadas com intervenção de corretor serão devidas taxas a fixar em portaria do Ministro das
Finanças».
É certo que esta «reposição ilegítima» da redacção anterior do artigo 87.º do Decreto-Lei n.º 8/74, pela via
regulamentar, assentará na dita interpretação que incluía os corretores no âmbito da aplicabilidade do regime da Portaria
n.º 448/81. Com ou sem tal repristinação, mantém-se o problema da inconstitucionalidade apontada à exigência de taxas
de operações relativamente a operações que não se executaram nas sessões de bolsa, não obstante se verificar a
intervenção do corretor. De inquestionável legalidade será a da liquidação de taxa de operações de bolsa no âmbito de
operações realizadas em sessões normais ou especiais da bolsa, enquadrando-se esta, perfeitamente, na teoria das taxas.
Face ao exposto, reafirma-se a importância de que se reveste o conceito de operações de bolsa. Por via deste conceito,
parece poder-se abranger uma realidade mais vasta que as operações de compra ou de venda efectuadas em sessões
normais ou sessões especiais de bolsa.
18 A favor desta interpretação, destaca-se o artigo 38.º do Regulamento Interno da Bolsa de Valores do Porto, aprovado
pela Portaria n.º 1063/80, de 12 de Dezembro, que estabelecia: «1. As transacções efectuadas pelos corretores nos
respectivos escritórios e que não resultem do cumprimento de ordens de bolsa deverão ser comunicadas à comissão
15
Reconhecem-se como legítimas as preocupações manifestadas pelo legislador,
contudo, terão resultado de uma articulação algo distorcida do conjunto de diplomas
arrolados, precedentes à Portaria n.º 448/81, e, mesmo, de algumas imperfeições mais ou
menos graves que desse conjunto resultavam.
No seguimento desta evolução legislativa, a Portaria n.º 6/86, de 6 de Janeiro, veio
actualizar as taxas de corretagem, ao abrigo do artigo 88.º do Decreto-Lei n.º 8/74, de 14
de Janeiro, revogando a Portaria n.º 200/79, de 27 de Abril, até então vigente.
Na Portaria n.º 6/86, de 6 de Janeiro, foram estabelecidas novas taxas de corretagem,
tomando o legislador em consideração a publicação das portarias n.ºs 430/77, de 16 de
Julho19, e 448/81, de 2 de Junho, assumindo-as como tendo vindo «fixar as normas
directiva no dia seguinte àquele em que se realizaram, utilizando, para o efeito, impressos de modelo a aprovar. 2. Sobre
as operações referidas no número anterior incidirão os mesmos encargos que correspondam a operações efectuadas
directamente na bolsa». Acrescente-se que tal Portaria, datada de 1980 (isto é, apesar de ser anterior à Portaria n.º 448/81,
à Portaria n.º 143/87- que alterou a redacção a esta última- e anterior à Portaria n.º 781/86), só foi expressamente
revogada pelo artigo 24.º do Decreto-Lei n.º 142-A/91, de 10 de Abril, retirando força à interpretação pela qual o dito
artigo 38.º teria sido revogado, ao menos tacitamente, pela Portaria n.º 448/81. Contra tal interpretação pode aduzir-se,
ainda, o facto de a Portaria n.º 448/81, bem como a n.º 781/86, se referirem a dois tipos de intervenientes perfeitamente
identificados: os notários e as instituições depositárias, expressamente assumidas como as «instituições de crédito».
Esta discriminação a favor da intervenção dos corretores nas operações realizadas fora da bolsa não se verifica quando
se parte da perspectiva da interpretação atrás rejeitada, pela qual aos corretores também seria aplicável o regime prescrito
na Portaria n.º 448/81. Nesta perspectiva verifica-se, antes, uma discriminação a favor das operações realizadas nas
«sessões da bolsa».
A este propósito, veja-se RICARDO CRUZ/ÁLVARO NASCIMENTO, O Mercado de Balcão e a Estrutura dos Mercados
Secundários de Valores Mobiliários em Portugal, Associação Portuguesa para o Desenvolvimento do Mercado de
Capitais, 1993, p. 4.42 e ss.
19 Aquando da publicação da Portaria n.º 6/86, de 6 de Janeiro, o Decreto-Lei n.º 150/77, de 13 de Abril, relativo ao
registo e depósito de acções, ao abrigo do qual a Portaria n.º 430/77, de 16 de Julho, havia sido publicada, tinha já sido
revogado em 1982 com a aprovação de um novo regime de registo ou de depósito de acções pelo Decreto-Lei n.º 408/82,
de 29 de Setembro (que se manteve em vigor após a aprovação do Código das Sociedades Comerciais em 1986, tendo
sido revogado com a aprovação do Código do VM, conforme previsão da alínea b) do n.º 1 do art. 15.º do Decreto-Lei
n.º 486/99, 13 de Novembro).
Coloca-se assim, a questão de saber se não se deveria considerar, desde a entrada em vigor deste Decreto-Lei n.º
408/82, revogada a Portaria n.º 430/77, de 16 de Julho, que visava fixar as taxas ou comissões devidas pela prática dos
actos referidos no Decreto-Lei n.º 150/77. Acrescente-se que, de forma análoga à disposição complementar do Decreto-
Lei n.º 150/77 - artigo 32.º -, ao abrigo da qual foi emitida a portaria do mesmo ano, o Decreto-Lei n.º 408/82, de 29 de
Setembro, contém uma disposição complementar - artigo 30.º - que estabelecia: «Serão fixadas por portaria do Ministro
de Estado e das Finanças e do Plano as taxas ou comissões devidas pela prática dos actos referidos no presente diploma e
respectiva forma de pagamento». Contudo, do regime consagrado neste novo diploma, não resulta a obrigatoriedade de
registo ou depósito de todas as acções.
Apesar de não ter sido estabelecido qualquer regime transitório no Decreto-Lei n.º 408/82, quanto a estas taxas e
comissões, até à publicação da referida portaria (o que ainda não aconteceu), terá resultado a revogação da Portaria n.º
430/77, com a revogação do decreto-lei que esta visava regulamentar.
Conforme foi atrás equacionado, se dúvidas persistissem quanto à revogação ou, pelo menos, esvaziamento de
conteúdo, da Portaria n.º 430/77, pela aprovação da Portaria n.º 448/81, ficariam resolvidas. Resolvida tal interrogação, o
16
relativas a taxas e comissões devidas pela transmissão de valores mobiliários realizados
fora de bolsa» e considerando, também, «que a ausência da oferta em bolsa de valores
mobiliários nela transaccionáveis conduz a que esta funcione como um mercado
aparentemente enfraquecido, onde os preços e as cotações estabelecidos e os valores
negociados não traduzem a sua real influência no mercado, na medida em que aquelas
também são determinantes do preço das operações fora de bolsa, o que apesar de tudo não
deixa de contribuir para a permanência das distorções e para eventual não confiança do
público investidor».
As taxas de corretagem aí estabelecidas, para lá de diferenciarem o tipo de valores
mobiliários transaccionados, à semelhança das portarias precedentes, destacam-se pela
inclusão de dois elementos novos: a diferenciação de taxas de corretagem a aplicar a
transacções executadas em sessão nas bolsas de valores e transacções de valores
mobiliários não executadas em sessão nas bolsas de valores, distinguindo, neste último
caso, se o seu objecto eram valores admitidos ou não à cotação; relativamente às
transacções executadas em sessão nas bolsas foram estabelecidos diferentes escalões,
correspondendo a estes diferentes taxas (regressividade de taxas atendendo aos montantes
transaccionados)20.
Desta (nova) tabela de taxas ressalta uma maior oneração das transacções de valores
mobiliários não executadas em sessão nas bolsas de valores sobre valores admitidos à
cotação, para as quais foi estabelecida uma única taxa por tipo de valor mobiliário, sendo
essa taxa mais elevada que a taxa máxima aplicável para as transacções executadas em
sessão nas bolsas.
A Portaria n.º 6/86 foi revogada com a publicação, a 31 de Dezembro do mesmo ano
da Portaria n.º 782/86, tendo esta diminuído as permilagens aplicáveis nas transacções de
fundos públicos nacionais e títulos de dívida executadas em sessão nas bolsas de valores,
consagrando, ainda, relativamente a tais transmissões uma novidade: taxa livre
relativamente a transacções superiores a 50 000 contos21.
problema renasce face à falta de regulamentação do Decreto-Lei n.º 408/82, por falta de publicação da portaria aí
prevista.
Quanto ao regime de registo e depósito de acções estabelecido no Decreto-Lei n.º 408/82, de 29 de Setembro, veja-se
MENEZES CORDEIRO, Da transmissão em bolsa de acções depositadas, in Banca, Bolsa e Crédito - Estudos de Direito
comercial e de Direito da economia, I vol., Livraria Almedina, Coimbra, 1990, p. 158-161.
20 Na Portaria n. 6/86, de 6 de Janeiro, e, ulteriormente, na Portaria n. 782/86, de 31 de Dezembro (a que será feita
referência), foram estabelecidos escalões relativos aos montantes objecto da transmissão. Assim, da Portaria n.º 6/86,
constam três escalões: até 5000 contos; acima de 5000 contos até 20 000 contos; acima de 20 000 contos. As taxas
correspondentes a tais escalões eram regressivas.
Da Portaria n.º 781/86, de 31 de Dezembro, constam quatro escalões: até 5000 contos, inclusive; acima de 5000 contos
até 20 000 contos; Livre acima de 50 000 contos.
21 Saliente-se que do confronto destas portarias com as supracitadas, resulta que a fórmula usada para estabelecimento
das taxas de corretagem foi sempre idêntica: «Pela prestação dos (de) serviços a seu cargo, os corretores das bolsas de
valores cobrarão as seguintes taxas, calculadas sobre o montante das operações que efectuem: (…)». Destaca-se o facto
de ter passado a ser feita referência, nas Portarias n.ºs 6/86 e 782/86, ao cálculo das taxas sobre o montante das operações
que efectuem, «em relação a cada valor mobiliário». Tal acrescento não se afigura justificado, uma vez que a
diferenciação «em relação a cada valor mobiliário» já decorria das portarias revogadas. A única novidade assinalável, no
que concerne às portarias emitidas em 1986, foi o facto (supra referido) de ter sido estabelecida uma diferenciação de
taxas de corretagem para as transacções executadas em sessões nas bolsas de valores, relativamente às transacções não
17
2.1.2. Apreciação.
Do exposto, das normas legais respeitantes às «taxas de corretagem», quer as
constantes do Decreto de 10 de Outubro de 1901, quer as constantes do Decreto-Lei n.º
8/74, de 14 de Janeiro, resultava que os corretores tinham o direito à corretagem, a cobrar
obrigatoriamente.
Quanto ao esclarecimento trazido pela Portaria 448/81, de 2 de Junho, várias reflexões
se suscitam de imediato.
Reconhecem-se as preocupações manifestadas nos considerandos preambulares, por
expressarem nobres princípios de desenvolvimento do mercado, afigura-se excessiva,
contudo, a referência a «prestações de serviço gratuito» por parte de notários e instituições
de crédito intervenientes na transmissão de valores mobiliários diferentes de acções. Daqui
resultou o estabelecimento de uma cobrança, pretensamente obrigatória22 pelos notários e
instituições de crédito de dois tipos de importâncias: uma, remuneratória do serviço, outra,
receita da bolsa.
Não se vislumbra a justificação e/ou legitimidade para que, por via regulamentar, se
tenha vindo impor às instituições de crédito a obrigatoriedade de cobrança da importância
com carácter de comissão. Mais, tal solução visava o igual tratamento, em termos de
custos, entre as acções e os demais valores mobiliários, esquecendo que a intervenção dos
notários e instituições de crédito passou a ser condição necessária para a transmissão de
acções fora das bolsas, dado o regime de registo e depósito estabelecido pelo Decreto-Lei
n.º 150/77, de 13 de Abril.
A Portaria n.º 430/77, de 16 de Julho, foi emitida em regulamentação daquele Decreto-
Lei e, no que às instituições de crédito concerne, visava a fixação de montantes máximos a
cobrar por estas instituições, evitando, assim, eventuais constrangimentos à transmissão de
acções pela via dos custos de transmissão.
Nestes termos, a Portaria n.º 448/81 subverteu a natureza dessas comissões máximas,
ao pretender estabelecer comissões obrigatórias ainda que com clara contradição de repetir
a redacção contida na Portaria n.º 430/77: «uma comissão igual à taxa de corretagem
fixada nos termos estabelecidos no artigo 88.º do Decreto-Lei n.º 8/74, a qual constituirá
receita da instituição de crédito depositária, que não poderá cobrar qualquer outra
importância, excluída a de portes de correio». A pretendida uniformização de custos
passaria, quando muito, pelo estabelecimento de máximos cobráveis pela sua intervenção
na transmissão23.
executadas em sessões das bolsas de valores (aí se distinguindo as transacções sobre valores admitidos ou não à cotação)
e o escalonamento das taxas.
22 Obrigatoriedade que na prática foi assumida.
23 Não convém esquecer o facto de o Decreto-Lei n.º 408/82, de 29 de Setembro, ter revogado o Decreto-Lei n.º
150/77, de 13 de Abril, pondo termo ao regime de registo ou depósito obrigatório, passando o regime de registo ou
depósito a ser apenas obrigatório, como regra, para as acções nominativas.
18
Com a aprovação do Código do MVM manteve-se o regime então vigente no que
respeita às taxas de realização de operações, por força da aplicação do regime transitório
estabelecido no artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 142-A/91, de 10 de Abril, pois, quer o artigo
407.º, quer o artigo 408.º, previam a necessidade de fixação de valores para essas taxas,
pela CMVM, para as primeiras, pelo Ministro das Finanças24, sob proposta da CMVM,
nas segundas.
Não tendo sido, de imediato, aprovados quaisquer novos valores para as taxas de
operações, mantiveram-se em vigor, transitoriamente, as taxas de operações de bolsa
estabelecidas na Portaria n.º 781/86, de 31 de Dezembro, até à publicação da Portaria n.º
174/91, de 6 de Junho, que por sua vez foi revogada pelo Regulamento da CMVM n.º 92/3
(Taxas de realização de operações de bolsa), onde se encontram estabelecidas as taxas de
operações de bolsa vigentes para o mercado a contado25.
Quanto às «taxas sobre operações fora de bolsa», em cumprimento do resultante do
regime transitório do artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 142-A/91, de 10 de Abril, em
articulação com o disposto no artigo 408.º, mantiveram-se em vigor aquelas taxas já
aplicadas na vigência do Decreto-Lei n.º 8/74, constantes da Portaria n.º 448/81, de 2 de
Junho26.
Se a entrada em vigor do Código do MVM, e a sua articulação com o regime
transitório referido, não levantaram quaisquer problemas novos, mantiveram-se, contudo,
os problemas relativos à natureza e legalidade dessas taxas. Como já foi suscitado, a
propósito da exposição da sucessão de diplomas aprovados após o início de vigência do
Decreto-Lei n.º 8/74, de 14 de Janeiro, muitos deles, em sua regulamentação, outros, a ele
ligados pelas razões indicadas, em especial, no que se refere às «taxas sobre operações fora
de bolsa», é justificada uma análise da sua natureza jurídica.
Na vigência do Código do MVM a «taxa de realização de operações de bolsa», foi
estabelecida pelo Regulamento da CMVM n.º 92/3, não suscitando especiais problemas,
para lá da questão terminológica da manutenção da designação de «taxa», uma vez que o
sujeito activo, credor dessa prestação, não eram quaisquer entes públicos, mas, antes,
associações de direito privado sem fins lucrativos. Efectivamente, como prescreve o n.º 2
do artigo 407.º essas taxas «constituem receita da bolsa em que a transacção se efectua».
No que se refere à obrigatoriedade de cobrança, pelos notários e instituições de crédito
intervenientes na transmissão de quaisquer valores mobiliários, de uma importância por
24 No que se refere às «taxas de realização de operações fora de bolsa», não se retira do n.º 1 do artigo 408.º a
competência da CMVM para a sua fixação, como é pressuposto no artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 142-A/91, antes, do
Ministro das Finanças que, mediante portaria, sob proposta da CMVM, fixará o montante das taxas (não inferiores às
estabelecidas no artigo 407.º), o valor sobre que incidem e o respectivo processo de liquidação e cobrança.
25 Quer a Portaria n.º 174/91, de 6 de Junho, quer o Regulamento da CMVM, utilizam aquela fórmula a que já foi feita
referência, retirada da redacção primitiva do artigo 87.º do Decreto-Lei n.º 8/74, segundo a qual as taxas de operações
sobre as operações realizadas em sessões normais e sessões especiais de bolsa, não obstante a epígrafe do artigo 407.º se
referir à taxa de realização de operações de bolsa, sendo este conceito mais abrangente do que as meras sessões de bolsa,
como já foi referido e melhor se verá à frente.
26 Neste sentido, o aviso da CMVM, publicado nos Boletins de Cotações das Bolsas de Valores do Porto e de Lisboa,
ambos do dia 16 de Julho de 1991, segundo o qual «enquanto não forem fixadas novas taxas de realização de operações
fora de bolsa, são aplicáveis as taxas vigentes à data da publicação do Código do Mercado de Valores Mobiliários,
conforme dispõe o artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 142-A/91, de 10 de Abril».
19
referência às taxas de realização de operações, consagrada, inicialmente pela Portaria n.º
430/77, de 16 de Julho, agravada pela Portaria n.º 448/81, de 2 de Junho, justificando-se,
nesta última com a necessidade que as transmissões não realizadas na bolsa ou, pelo
menos, através da bolsa (aqui se incluindo a intervenção do corretor)27 fossem igualmente
oneradas, pode dizer-se que a portaria de 1981 veio reiterar ou, mesmo, agravar, a questão
da legalidade da exigência de tais prestações gerada pela Portaria n.º 430/77, de 16 de
Julho, face à inexistência ou não visibilidade de uma qualquer contraprestação pelo
pagamento dessa «taxa».
A manutenção, pelo artigo 408.º do Código do MVM, da denominada «taxa sobre
operações fora de bolsa», actualizou a necessidade de reflexão sobre a natureza jurídica
dessa prestação.
Atente-se que o produto da cobrança de tais «taxas», ao abrigo da Portaria n.º 448/81,
de 2 de Junho, constituía receita da bolsa. Diferentemente, por força do estabelecido no
artigo 408.º do Código do MVM tais taxas constituem receita da CMVM28.
Se algumas respostas às soluções vigentes se encontram na exposição até aqui
realizada da evolução legislativa nesta matéria, outras exigem que se busquem nas
soluções de direito comparado elementos interpretativos ou justificativos das «taxas sobre
operações fora de bolsa», elementos que se encontram muito visivelmente no direito
francês e italiano.
Em França existe, há mais de um século, um imposto do selo (droit de timbre) que
incide sobre as transmissões de valores mobiliários.
No artigo 978 do Code Général des Impôts (CGI)29 encontra-se estabelecido que
todas as operações de bolsa tendo por objecto a compra ou a venda, a contado ou a termo,
de valores de qualquer natureza, dá lugar à redacção de uma nota de registo (bordereau)
sujeito a imposto do selo (droit du timbre)30. Trata-se de um «imposto de bolsa» («impôt
27 Efectivamente, pode retirar-se do preâmbulo da Portaria n.º 448/81 que o objecto da preocupação do legislador
foram as transmissões realizadas fora das sessões da bolsa em que interviessem notários ou instituições de crédito, pois
nessas nada era cobrado, pressupondo claramente que quando fosse um corretor a intervir nessa operação realizada fora
de bolsa, este cobraria necessariamente as importâncias referidas nos artigos 87.º e 88.º do Decreto-Lei n.º 8/74, como já
foi referido. Assim, no preâmbulo é afirmado: «No que se refere à transmissão entre vivos dos restantes valores
mobiliários realizada fora da bolsa, nomeadamente em que não haja intervenção do corretor, o legislador não veio definir
explicitamente as taxas e comissões devidas pela transmissão daqueles valores, o que tem originado diversas opiniões».
O legislador não veio definir essas taxas e comissões, nem tinha de vir, uma vez que a sua fixação na Portaria n.º 430/77,
relativamente às acções, tinha um fito regulamentar próprio, resultante do Decreto-Lei n.º 150/77.
28 O n.º 2 do artigo 408.º previa que fosse estabelecido que uma percentagem do produto das taxas sobre operações
fora de bolsa, ou a totalidade ou parte das taxas respeitantes a operações fora de bolsa sobre determinados valores
mobiliários, nomeadamente sobre valores cotados, se destine às associações de bolsa. Tal veio a acontecer por via da
Portaria n.º 1001/91, de 2 de Outubro, que estabeleceu essa percentagem em 65%, para o ano de 1991, e 75%, a partir de
1 de Janeiro de 1992, cabendo, do montante daí resultante, 60% à Associação da Bolsa de Valores de Lisboa e 40% à
Associação da Bolsa de Valores do Porto.
29 Aprovado pelo Decreto n.º 50.478, de 6 de Abril de 1950.
30 Cfr. o artigo 980 bis do Code Général des Impôts que prevê a não sujeição a este imposto do selo das operações de
compra e de venda sobre obrigações cotadas, que não sejam convertíveis em acções ou associados aos resultados da
sociedade emitente; estão isentas, também, as operações de contrapartida realizadas pelos intermediários registadas como
20
de bourse» ou «impôt sur les opérations de bourse»), exigível nas transacções sobre
valores mobiliários cotados ou não, desde que efectuados por intermédio de profissionais
habilitados a receber ordens de compra e venda de valores mobiliários. Tal imposto foi
criado pela Lei de 28 de Abril de 189331.
Segundo GUILMARD, uma vez que a venda seja feita entre particulares, a venda não
reveste qualquer carácter comercial. Contrariamente, toda a operação directa (venda
directa), quando feita por um ou por sujeitos do imposto, torna-se tributável, sujeita ao
imposto de bolsa. Tal distinção baseada na qualidade das partes contratantes é explicada
pela impossibilidade legal de obrigar simples particulares a tornarem-se preceptores
responsáveis do imposto32.
Em Itália, tradicionalmente, os contratos de bolsa gozavam de liberdade de forma, não
requerendo a forma escrita para a sua validade. Contudo, existe um documento que cumpre
finalidade também em matéria de imposto do selo que é rodeado de todas as atenções dada
a sua vital importância em sede das operações de bolsa: o «foglietto bollato». Trata-se de
um documento utilizado, essencialmente, por razões fiscais, através do qual o Estado se
assegura da liquidação do imposto que incide sobre estas operações (sobre os contratti di
tais junto da société de bourse; as operações de investimento em reporte; as operações sobre valores mobiliários inscritos
na cotação oficial de uma bolsa regional, na cotação do segundo mercado ou constantes do «relevé quotidien» dos valores
não admitidos à cotação oficial duma dessas bolsas; as ofertas públicas de venda e as operações relacionadas com a
introdução de valores na cotação oficial ou no segundo mercado, entre outras situações - cfr. Mémento Pratique Francis
Lefébvre - Fiscal, 1993.
Recentemente, demarcam-se algumas interpretações segundo as quais apenas as operações sobre valores admitidos à
cotação oficial e ao segundo mercado (monopólio das sociétés de bourse) estariam sujeitas ao imposto.
Pelo artigo 9 da Lei de 31 de Dezembro de 1993 foi estabelecida uma isenção a favor das operações de compra ou de
venda de valores de qualquer natureza efectuadas por uma pessoa física ou colectiva domiciliada ou estabelecida fora de
França - cfr. Impôt sur les opérations de bourse, BQ n.ºs 538 (Juin, 1993) e 549 (Juin, 1994), respectivamente, p. 95 e 89.
31 Na redacção do artigo 28 de Lei de 1893: «Toda a operação de bolsa tendo por objecto a compra ou venda, a
contado ou a termo, de valores mobiliários dá lugar à redacção de uma nota de registo (bordereau) sujeito a direito de
selo (droit de timbre)…». Cfr. E. GUILMARD, De la vente directe des valeurs de bourse sans intermédiaire (Traité à
l´usage des Banquiers, des Agents de change et des Coulissiers), Paris, Guillaumin et Cie, Éditeurs du Journal des
Économistes, 1904, p. 31.
Este autor refere-se a um imposto especial que onera as operações de bolsa. Este imposto nasce da necessidade de criar
novas receitas para o Tesouro, centrando a sua incidência, não sobre a execução das ordens, mas sobre a sua recepção,
estabelecendo-a relativamente àqueles que fizessem comércio de recolha de ordens de compra e de venda, abrangendo,
assim, os «agents de change», os «coulissiers» e os bancos - cit., p. 66. A venda directa de títulos por parte, maxime, dos
bancos (da sua carteira própria), dada a importância que assumiram tais operações, veio, também, a ser abrangida quando
uma das partes fosse sujeito do imposto (receptor de ordens), isto é, mantinham-se excluídos da sujeição as situações em
que as partes fossem dois particulares. GUILMARD afirma que, nos casos em que a venda directa é sujeita ao imposto, não
implica a sua qualificação como operação de bolsa, pois a venda directa diferencia-se completamente da negociação em
bolsa, sendo qualificada como operação de bolsa por via de uma ficção fiscal (cit., p. 71 e 229).
32 Cit., p. 229. Contrariamente, todos os intermediários de bolsa que realizem a actividade de recolha de ordens de
compra e de venda de valores de bolsa devem registar-se para efeitos de se tornarem sujeitos de tal imposto.
GUILMARD, alerta para o facto de se dever excepcionar os notários que se intrometem acidentalmente, quer entre as
partes, quer entre os intermediários financeiros, não devendo ser sujeito do imposto - cit., p. 230.
21
borsa), a «tassa di borsa»33 34. Este documento é obrigatoriamente utilizado em todas as
operações de bolsa35. O montante das taxas deste imposto varia, dependendo da qualidade
dos intervenientes na operação36, e do tipo de operações. São mais elevadas para os
contratos a termo do que para os contratos a contado. São mais elevadas nos contratos
entre particulares, relativamente às aplicáveis a contratos concluídos directamente entre
bancos e privados ou com a intervenção de «agenti di cambio» (ou «società di
intermediazione mobiliare») ou banco inscrito num registo especial (ao abrigo do R.D.L.
de 20 de Dezembro de 1932, n. 1607), sendo as mais baixas aplicáveis nos contratos
concluídos entre os «agenti di cambio» (ou «società di intermediazione mobiliare»)37.
33 Cfr. o conceito fiscal de «contratos de bolsa» consagrado na lei italiana, na qual o artigo 1. do R.D.L. n. 3278 de
1923 (precisando o artigo 34 da Lei n.º 272 de 28-III-1913), na denominação dos contratos de bolsa, inclui os contratos
estipulados em bolsa ou fora de bolsa, tanto a contado, quanto a termo, firme, a prémio ou de reporte e qualquer outro
contrato conforme aos usos comerciais, cujo objecto sejam títulos de crédito do Estado, da Província, das Comunidades e
dos entes morais, as acções e obrigações das sociedades, incluindo os títulos dos institutos de crédito fundiário e, em
geral, quaisquer outros títulos de natureza análoga, nacionais ou estrangeiros, cotados em bolsa ou não.
Não obstante a utilização do termo «tassa» a sua natureza fiscal é plenamente assumida, não sendo tal fenómeno, de
todo, estranho em sede tributária, verificando-se frequentemente tal imprecisão terminológica (bem como a situação
inversa).
A «tassa di borsa» é considerado um «tributo especial». O montante é fixado numa quantidade por cada mil liras ou
fracção do valor efectivo e as alíquotas variam segundo o tipo do contrato (a contado, a termo, reporte) e da qualidade
dos contraentes (privados, bancos, agenti di cambio) (in, Dizionario dei termini economici - il Mondo, nuova edizione
aggiornata e integrata, Dizionari Rizzoli, 1992, p. 663). A sua consagração resulta do R. D. de 30 de Dezembro de 1923,
n. 3278, tendo sofrido algumas alterações recentes, no sentido de abranger as transmissões de quotas sociais, pelo D.L. de
30 de Dezembro de 1991, n. 417. A este propósito, veja-se, Profili fiscali della cessione di quote sociali, Scuola di
notariato di Bologna, Il fisco, n.º 32/94, p. 7537-7544.
Conforme afirma COLTRO CAMPI, a taxa sobre os contratos de bolsa é sub-rogatória ou substitutiva do imposto do selo e
de registo - cfr. Lineamenti di diritto di borsa e rassegna di giurisprudenza, Seconda Edizione Aggiornata, Milano, A.
Dott. A Giuffrè Editore, 1985, p. 126. Neste sentido, cfr., também, Profili fiscali…, cit., p. 7542; AUGUSTO FANTOZZI,
Diritto tributario, UTET, [1991], p. 722-726.
34 Como refere a doutrina a utilização imprecisa do termo taxa para designar impostos é corrente, nomeadamente entre
nós, comos são exemplo as extintas taxa militar e as vigentes taxa de radiodifusão (impostos denominados taxas) e o,
anteriormente designado, imposto de justiça, agora, taxa de justiça – cfr. A. BRAZ TEIXEIRA, Princípios de direito fiscal,
vol. I, 3.ª edição, Almedina, Coimbra, 1985, p. 45.
35 Cfr. na lei italiana, o artigo 51 da Lei n. 272 de 20 de Março de 1913, e artigo 19 do R. D. n. 3278 de 30 de
Dezembro de 1923.
36 Sendo discriminado dentro de cada uma dessas classes de intervenientes o tipo de valores objecto da operação:
acções, quotas e participações em sociedade de qualquer tipo; valores em moeda; títulos do Estado, obrigações.
37 Nos contratos concluídos directamente entre privados, por cada fracção de 100 000 liras, aplica-se, lato sensu: aos
contratos sobre acções, 140; sobre moeda, 100; sobre obrigações, 16. Naqueles em que há intervenção de «agenti di
cambio» ou banco inscrito no dito registo: contratos sobre acções, 50; sobre moeda, 90; sobre obrigações, 9. Nos
contratos realizados entre os «agenti di cambio»: sobre acções, 12; sobre moeda, 40; sobre obrigações, 9.
Cfr. GIORGIO DELLI/PATRIZIA PASSERINI — Tassa sui contratti di borsa - aspetti applicativi, Il fisco, n.º 41/93; A. LANDO,
Le operazioni di borsa: contrattazioni a contanti e a termine ferme, in «Disciplina giuridica delle operazioni di borsa»
22
A falta do «foglietto bollato» impede qualquer acção em juízo relativa à operação de
bolsa, por falta de comprovação da satisfação da «taxa» devida.
Em Espanha, pelo n.º 1 do artigo 108 da Ley del Mercado de Valores, foi consagrado
que «a transmissão de valores, admitidos ou não à negociação num mercado secundário
oficial, estará isenta do Imposto sobre as Transmissões Patrimoniais e Actos Jurídicos
Documentados e do Imposto sobre o Valor Acrescentado»38.
Em Portugal, à data da aprovação do Código do MVM, o tratamento fiscal das
transmissões de valores mobiliários era muito confuso, a saber: na Tabela Geral do
Imposto do Selo39, o artigo 120-A, até então, com a epígrafe de «Operações bancárias»,
depois, de «Operações Financeiras»40, referia a sujeição a imposto do selo à taxa de 9‰
sobre o montante da venda de títulos. Por sua vez o artigo 408.º do Código do MVM (e
antes dele os diplomas já mencionados) faziam incidir «a taxa sobre operações fora de
bolsa» sobre «todas as transmissões fora de bolsa, a título gratuito ou oneroso, de
quaisquer valores mobiliários realizadas com a intervenção, seja para que efeito for, de
intermediário financeiro ou notário».
Apesar do seu carácter pretérito, justificam, ambas as disposições, alguma reflexão de
natureza jurídico-tributária, com base no historial realizado sobre as «taxas sobre
operações fora de bolsa» e na evolução legislativa e interpretativa do imposto do selo então
previsto no artigo 120-A da respectiva Tabela Geral.
Afigura-se que a análise da questão tributária relativa à transmissão de valores
mobiliários não pode deixar de abarcar estas duas figuras tributárias, como, a seguir,
resumidamente, se tentará demonstrar.
Muito preciosas são as reflexões realizadas por XAVIER DE BASTO41, no que se refere
ao imposto do selo do artigo 120-A da Tabela Geral, e por A. LOBO XAVIER42, quanto às
«taxas sobre opera