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A execução das medidas socio educativas de internação

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1. APRESENTAOO Conselho Nacional de Justia (CNJ), no mbito de suas competncias, orienta a poltica judiciria nacional por intermdio de seus atos normativos e por meio do wrecentes, cabe destacar o Programa Justia ao Jovem, que tem por escopo elaborar diagnsticos sobre o cumprimento das medidas socioeducativas de internao de jovens em conflito com a lei, a fim de garantir aos adolescentes sob custdia do Estado os direitos abrigados no Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA) e no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE). O Departamento de Monitoramento e Fiscalizao do Sistema Carcerrio (DMF/CNJ)1, unidade coordenadora do programa, desenvolveu amplo trabalho de campo, visando mapear o funcionamento dos estabelecimentos de internao e das varas da infncia e juventude com atribuio de fiscalizao destas unidades, em todos os estados e no Distrito Federal. Para tanto, foi formada uma equipe composta por juzes com experincia na execuo de medidas socioeducativas, servidores de cartrios judiciais e por tcnicos do Judicirio da rea de assistncia social, psicologia e pedagogia, que percorreu as unidades de internao (de 19/7/2010 a 28/10/2011), a fim de traar panorama da situao dos adolescentes internados em conflito com a lei, mais especificamente no que tange aos aspectos da estrutura fsica das unidades de internao, o atendimento prestado ao adolescente internado e forma de tramitao dos processos de execuo de medida socioeducativa. Para complementar o trabalho, sobretudo em sua rea de atuao, o Departamento de Pesquisas Judicirias (DPJ/CNJ), que desenvolve pesquisas destinadas ao conhecimento da funo jurisdicional brasileira e realiza anlises e diagnsticos dos diversos segmentos do Poder Judicirio2, tambm j havia realizado recentemente pesquisa sobre a situao das Varas de Infncia e Juventude(VIJ). Unidos em parceira, o DPJ e DMF produziram este estudo, a fim de que fossem analisados os dados sobre a situao das medidas socioeducativas de internao, tomando-se por base as informaes colhidas em campo. De fato, a principal finalidade desse documento aportar subsdios atuao do CNJ na adoo de polticas orientadoras para o sistema de garantias de direitos dos jovens em conflito com a lei. As recomendaes, naturalmente, tambm podem subsidiar a atuao de outros rgos ou instituies que tenham sob sua responsabilidade a execuo da medida socioeducativa.

1 A Lei n. 12.106, de 2 de dezembro de 2009 criou o Departamento de Monitoramento e Fiscalizao do Sistema Carcerrio e do Sistema de Execuo de Medidas Socioeducativas (DMF). 2 A Lei n. 11.364, publicada em 27 de outubro de 2006, criou o Departamento de Pesquisas Judicirias (DPJ).

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIA

Presidente Ministro Cezar Peluso Corregedoria Nacional de Justia Ministra Eliana Calmon Alves Conselheiros Ministro Carlos Alberto Reis de Paula Jos Roberto Neves Amorim Fernando da Costa Tourinho Neto Ney Jos de Freitas Jos Guilherme Vasi Werner Silvio Ferreira da Rocha Jos Lcio Munhoz Wellington Cabral Saraiva Gilberto Valente Martins Jefferson Lus Kravchychyn Jorge Hlio Chaves de Oliveira Marcelo Rossi Nobre Bruno Dantas Nascimento Secretrio-Geral Fernando Marcondes

Departamento de Pesquisas Judicirias Diretora Executiva Leda Marlene Bandeira Diretora de Projetos Fernanda Paixo Araujo Pinto Diretor Tcnico Ronaldo Assuno Sousa do Lago Pesquisadores Ana Paula Antunes Martins Ganem Amiden Neto Santiago Falluh Varella Estatsticos Gabriela Moreira Igor Stemler Monique Brant Apoio Pesquisa Carlos Alberto de Araujo Soares Jnior Mrcio Antnio Ribeiro Pedro Amorim Ricardo Marques Thas Nascimento Silva Secretrias Josane Ribeiro Patrcia de Almeida Priscilla Gianini Estagirias Camila Leal Jaqueline Souza

Departamento de Fiscalizao e Monitoramento do Sistema Carcerrio Juiz Coordenador Luciano Losekann Juzes Auxiliares Daniel Issler Reinaldo Cintra Mrcio Fraga Servidores Aderruan Rodrigues Tavares Aline Ribeiro de Mendona Brenton Vieira Crispim Glauber Barbosa Lopes Joo Carlos Murta Pereira Renato Ferreira Gonalves Silvia Knopf Fraga Secretrias / Mensageiro / Recepcionista Danielle Trindade Torres Francstoro das Neves Coelho Jos Aleir Batista Magalhes Filho Joseane Soares da Costa Juliana Cirqueira Del Sarto Luciana Farias de Arajo Lima Abdon EXPEDIENTE Arte e Design

Divanir JuniorArte Capa

Leandro Luna

SUMRIO1. APRESENTAO ........................................................................................................................................................................................ 3 2. INTRODUO............................................................................................................................................................................................... 7 3. PERFIL DOS ADOLESCENTES .................................................................................................................................................. 9 3.1 Idade ........................................................................................................................................................................................................................................ 9 3.2 Ato infracional..........................................................................................................................................................................................................10 3.3 Escolaridade ................................................................................................................................................................................................................15 3.4 Famlia ................................................................................................................................................................................................................................18 3.5 Relao com entorpecentes ......................................................................................................................................................................19 4. PERFIL PROCESSUAL ........................................................................................................................................................................ 21 4.1 Faixa etria ....................................................................................................................................................................................................................21 4.2 Evaso..................................................................................................................................................................................................................................22 4.2.1 Evaso por faixa etria .............................................................................................................................................................25 4.3 Tipo de internao...............................................................................................................................................................................................26 4.4 Tipo de ato infracional ...................................................................................................................................................................................27 4.5 Registro de reincidncia nos processos .....................................................................................................................................28 4.6 Tipo de internao por sentena........................................................................................................................................................29 4.7 Reavaliao da medida judicial............................................................................................................................................................30 4.8 Plano Individual de Atendimento (PIA) ..................................................................................................................................30 4.8.1 Prazo de homologao do PIA ..........................................................................................................................................31 4.8.2 Condies da homologao do PIA ............................................................................................................................32 4.9 Direitos Processuais ...........................................................................................................................................................................................33 5. ESTRUTURA DOS ESTABELECIMENTOS................................................................................................................ 35 5.1 Populao .......................................................................................................................................................................................................................35 5.2 Recursos humanos ..............................................................................................................................................................................................38 5.3 Estrutura fsica das unidades..................................................................................................................................................................39 6. ORDENAMENTO DOS ESTABELECIMENTOS SOCIOEDUCATIVOS ................................... 41 6.1 Regio Norte ...............................................................................................................................................................................................................41 6.1.1 Varas com competncia exclusiva..................................................................................................................................44 6.1.2 reas de influncia ...........................................................................................................................................................................46 6.1.3 Vazios institucionais .......................................................................................................................................................................47 6.1.4 Descentralizao do sistema.................................................................................................................................................49 6.1.5 Consideraes sobre a estrutura socioeducacional..................................................................................55 6.2 Regio Nordeste......................................................................................................................................................................................................56 6.2.1 Varas com competncia exclusiva..................................................................................................................................60 6.2.2 reas de influncia ...........................................................................................................................................................................62 6.2.3 Vazios institucionais .......................................................................................................................................................................64 6.2.4 Descentralizao do sistema.................................................................................................................................................67 6.2.5 Consideraes sobre a estrutura socioeducativa .........................................................................................81 6.3 Regio Centro-Oeste ........................................................................................................................................................................................82 6.3.1 Varas com competncia exclusiva..................................................................................................................................86 6.3.2 reas de influncia ...........................................................................................................................................................................88 6.3.3 Vazios institucionais .......................................................................................................................................................................90 6.3.4 Descentralizao do sistema.................................................................................................................................................92 6.3.5 Consideraes sobre a estrutura socioeducativa .........................................................................................98 6.4 Regio Sudeste ..........................................................................................................................................................................................................98 6.4.1 Varas com competncia exclusiva.............................................................................................................................. 101 6.4.2 reas de influncia ....................................................................................................................................................................... 103 6.4.3 Vazios institucionais ................................................................................................................................................................... 104 6.4.4 Descentralizao do sistema............................................................................................................................................. 106 6.5 Regio Sul ................................................................................................................................................................................................................... 114 6.5.1 Varas com competncia exclusiva.............................................................................................................................. 117 6.5.2 reas de influncia ....................................................................................................................................................................... 118 6.5.3 Vazios institucionais ................................................................................................................................................................... 119 6.5.4 Descentralizao do sistema ......................................................................................................................................... 121 7. INTEGRIDADE FSICA DOS ADOLESCENTES ..............................................................................................127 7.1 Situaes limites ................................................................................................................................................................................................. 127 7.2 Segurana dos estabelecimentos .................................................................................................................................................... 129 8. REINSERO SOCIAL ...................................................................................................................................................................133 8.1 Aspectos pedaggicos.................................................................................................................................................................................. 133 8.2 Preservao dos vnculos familiares .......................................................................................................................................... 135 8.3 Acompanhamento ao egresso............................................................................................................................................................ 136 9. CONSIDERAES FINAIS........................................................................................................................................................139 10. REFERNCIAS ......................................................................................................................................................................................143

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2. INTRODUOAs medidas socioeducativas so disciplinadas pela Constituio Federal de 1988, pelo Estatuto da Criana e do Adolescente (Lei 8.069/1990) e pela recente lei que instituiu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Lei 12.594/2012). O ordenamento jurdico brasileiro estabelece que o tratamento estatal aos adolescentes em conflito com a lei deve ser orientado pela doutrina da proteo integral, que entende as crianas e os adolescentes como sujeitos de direitos e as reconhece como pessoas em estado peculiar de desenvolvimento. O princpio da prioridade absoluta, ao considerar dever da famlia, do Estado e da sociedade o cumprimento dos direitos fundamentais das crianas e dos adolescentes, imputa a responsabilidade da proteo aos entes federativos e a agentes pblicos. Portanto, a efetividade das medidas socioeducativas depende da articulao entre os sistemas estatais, a quem compete a garantia dos direitos relacionados dignidade humana, como educao, sade, segurana e o devido processo legal. A execuo das medidas socioeducativas deve observar os princpios dispensados aos adolescentes em geral, garantindo que o perodo de cumprimento da restrio de liberdade no viole os direitos fundamentais e sociais previstos pela legislao. A desaprovao social da conduta praticada pelo adolescente com idade entre 12 e 18 anos no possui carter eminentemente punitivo, mas busca responsabiliz-lo pelas consequncias lesivas do ato infracional, tendo como objetivo primordial sua ressocializao e a reparao do ato, quando possvel. Para tanto, no momento da aplicao da medida restritiva de liberdade, o Estado deve garantir oportunidades reais de educao, profissionalizao e apoio psicossocial. Assim, com o intuito de analisar a execuo das medidas socioeducativas, o Conselho Nacional de Justia realizou investigao social com a inteno de traar panorama da situao dos adolescentes em conflito com a lei no Brasil, buscando conhecer o perfil social destes, dos processos de execuo de medida em tramitao e as condies de atendimento deles nas estruturas de internao. Este trabalho, sem precedentes no mbito da pesquisa emprica sobre o sistema de Justia Infantojuvenil, pela sua abrangncia geogrfica e institucional, expressa a importncia das atividades desempenhadas pelo Conselho Nacional de Justia de contribuir para a efetividade de direitos e garantias de crianas e adolescentes socialmente vulnerveis no Brasil. A partir da realizao de diagnsticos sobre a execuo das medidas socioeducativas, pode-se desenvolver polticas bem orientadas de melhoramento do sistema de Justia. A pesquisa foi realizada por uma equipe multidisciplinar que visitou, de julho de 2010 a outubro de 2011, os 320 estabelecimentos de internao existentes no Brasil, a fim de analisar as condies de internao a que os 17.502 adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de restrio de liberdade esto sujeitos. Os dados relativos aos estabelecimentos foram registrados por meio de preenchimento de questionrios de mltipla escolha. Durante estas visitas, a equipe entrevistou 1.898 adolescentes internos, utilizando questionrio especfico como instrumento de pesquisa. Alm disso, servidores de cartrios judiciais coletaram dados de 14.613 processos judiciais de execuo de medidas socioeducativas de restrio de liberdade em tramitao nos 26 estados da Federao e no Distrito Federal.

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A Execuo das Medidas Socioeducativas de Internao Programa Justia ao Jovem

Deve-se observar que, no tocante pesquisa realizada com os adolescentes internados, o critrio amostral no considerou a representatividade por Estado. Muito embora o montante de jovens entrevistados seja equivalente a cerca de 10% do total de adolescentes internos no Brasil, no podem ser feitas inferncias por Estado a partir das informaes coletadas. Ademais, quanto anlise dos processos, preciso sopesar a sub-representao de alguns estados na pesquisa, porque nos estados do Amazonas, do Esprito Santo, Maranho, Paran e Sergipe foram analisados menos de 50% dos processos em relao ao total de internos existentes em cada uma destas unidades federativas. Estas questes motivaram a escolha metodolgica de analisar os estados por regio. A conjuno de dados coletados originou este relatrio que pretende: i) analisar o perfil dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internao, considerando idade, escolaridade, relao familiar, ato infracional e relao com entorpecentes, com base nas entrevistas respondidas por amostra de cerca de 10% dos adolescentes internos brasileiros, o que totalizou 1.898 respondentes; ii) examinar a tramitao dos processos que envolvem a execuo das medidas socioeducativas a partir da anlise dos 14.613 daqueles compulsados; iii) avaliar o ordenamento territorial dos estabelecimentos, considerando a distribuio das unidades pelos critrios demogrfico, social, econmico e geogrfico; e iv) conhecer as 320 instituies de internao brasileiras por meio da anlise dos 320 questionrios que forneceram informaes sobre sua estrutura fsica e humana, bem como sobre as condies de atendimento aos jovens infratores. Este panorama de execuo das medidas socioeducativas est organizado em seis captulos. Em observncia aos objetivos apresentados, o primeiro captulo tratar do perfil dos adolescentes; o segundo, do perfil processual; o terceiro, da estrutura dos estabelecimentos; o quarto, do ordenamento dos estabelecimentos socioeducativos; o quinto, da integridade fsica dos internos; e o ltimo, dos programas de reinsero social. O trabalho que ora se apresenta contribui para o fortalecimento das polticas estatais de proteo a crianas e adolescentes e para a melhoria da qualidade do sistema nacional de medidas socioeducativas, em observncia aos princpios da condio peculiar de desenvolvimento dos adolescentes e do respeito aos direitos humanos.

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3. PERFIL DOS ADOLESCENTES3.1 Idade Neste estudo, foram entrevistados 1.898 adolescentes em cumprimento de medida de privao de liberdade em todas as regies do pas. Neste tpico, o estudo compreende a anlise dos dados do perfil dos adolescentes entrevistados3. A idade mdia do total de adolescentes entrevistados de 16,7 anos. Considerando-se o perodo mximo de internao, verifica-se que boa parte dos jovens infratores alcana a maioridade civil e penal durante o cumprimento da medida. Grfico 1 Mdia de idade dos adolescentes em cumprimento de medida de internao por regio40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 1% 1% Centro-Oeste 12 anos 17 anos 13 anos 18 anos 5% 9% 24% 17% 12% 2% 1% 1% 1% 5% Nordeste 14 anos 19 anos 15 anos 20 anos 16 anos 21 anos 9% 30% 22% 31% 19% 14% 8% 4% 0% 1% Norte 6% 4% 19% 13% 6% 0% 0% 37%

40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0%

31% 22% 11% 0% 3% 5%Sudeste 12 anos 17 anos 13 anos 18 anos

32% 21% 24% 18% 9% 1% 2% 0% 0% 4%Sul 14 anos 19 anos 15 anos 20 anos 16 anos 21 anos

31% 21% 11% 3% 0% 0% 3% 5%Brasil

20%

5%

9%

7% 2% 0%

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ 3 Os dados apresentados nesta seo no representam estatisticamente a totalidade dos adolescentes brasileiros. Muito embora tenham sido entrevistados cerca de 10% do total de adolescentes internados no Brasil, a amostra no foi estratificada por Estado. Deste modo, as informaes do perfil dos adolescentes deste captulo representam to somente os 1.898 adolescentes entrevistados.

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O Grfico 2 mostra a faixa etria do adolescente no perodo em que cometeu o primeiro ato infracional por regio e no Brasil. A maioria dos adolescentes cometeu o primeiro ato infracional entre 15 e 17 anos (47,5%). A Regio Nordeste foi a nica que apresentou maioria absoluta de jovens de 15 a 17 anos. Nas demais regies, assim como na distribuio geral do pas, apesar de a maior parte dos adolescentes pertencer faixa etria de 15 a 17 anos, o percentual de adolescentes que cometeram seu primeiro ato infracional entre 12 e 14 anos tambm elevado. Alm disso, vale ressaltar que em 9% dos casos, o primeiro ato infracional ocorreu ainda na infncia, entre os sete e os onze anos de idade. Grfico 2 Faixa etria das crianas ou adolescentes quando do primeiro ato infracional por regio100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 7,9% Centro-Oeste 7 a 11 anos 9,7% Nordeste 12 a 14 anos 10,9% Norte 8,3% Sudeste 15 a 17 anos 10,3% Sul Sem Resposta Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ 9,0% Brasil 40,2% 35,5% 43,5% 45,0% 43,2% 42,6% 48,8% 54,0% 44,2% 46,2% 44,9% 47,5% 3,1% 0,9% 1,4% 0,5% 1,7% 0,9%

3.2 Ato infracional Considera-se ato infracional toda conduta praticada por criana ou adolescente definida como crime ou contraveno pelo Cdigo Penal brasileiro. No grfico seguinte verifica-se que atos infracionais correspondentes a crimes contra o patrimnio (roubo, furto, entre outros) foram os mais praticados pelos respondentes. O roubo obteve os mais altos percentuais, representando de 26% (Regio Sul) a 40% (Regio Sudeste) dos delitos praticados. O crime de homicdio apresentou-se bastante expressivo em todas as regies do pas, com exceo da Sudeste, onde este delito corresponde a 7% do total. Nas regies Sul, Centro-Oeste, Nordeste e Norte, o percentual varia de 20% a 28%. O trfico de drogas se destaca nas regies Sudeste e Sul, sendo o segundo ato infracional mais praticado, tendo obtido representao de 32% e 24%, respectivamente. Estupro, furto, leso corporal e roubo seguido de morte apresentam-se em menores propores. Importa ressaltar, no obstante, que um nico adolescente pode estar cumprindo medida de internao por mais de um motivo.

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Grfico 3 Motivo da atual internao por regio40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 0% 9% 7% 9% 2% 21% 19% 20% 11% 3% NordesteRoubo Furto Outros Estupro Leso corporal

37% 31% 28% 19% 8% 9% 17% 7% 31%

3% 3%

4%

4%

1%

Centro-OesteHomicdio Tr co de drogas Roubo seguido de morte

Norte

45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0%

40% 32% 26% 20% 7% 1%Sudeste Homicdio Tr co de drogas Roubo seguido de morte Roubo Furto Outros

36% 24% 19% 13% 1% 5%Sul Estupro Leso corporal

24% 15% 7% 1%Brasil

7% 0% 2%

12% 2% 6%

1%

3%

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao DPJ/CNJ

Quanto ao aspecto da reincidncia entre os adolescentes entrevistados em cumprimento de medida de internao, 43,3% j haviam sido internados ao menos uma outra vez. Deste modo, percebe-se que o ndice de reincidncia significativo. Nas regies Nordeste e Centro-Oeste, 54% e 45,7% dos jovens, respectivamente, so reincidentes; nas demais regies o ndice de reincidncia entre os entrevistados varia entre 38,4% e 44,9%.

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Grfico 4 Percentual de reincidncia dos adolescentes por regio100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Centro-Oeste Nordeste 1 internao Norte Reincidente Sudeste Sem Resposta Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ Sul Brasil

0,8% 45,7%

0,6%

0,0% 38,4%

0,3% 39,7%

0,0% 44,9%

0,3% 43,3%

54,0%

53,5%

61,6% 45,5%

60,0%

55,1%

56,4%

Ao observar com mais detalhamento a reincidncia, buscou-se analisar os tipos de atos infracionais cometidos em ambas as situaes (na primeira internao e na internao atual), com o objetivo de identificar possveis recorrncias. Os Grficos 5 e 6 apresentam a motivao da aplicao da medida socioeducativa, considerando apenas os adolescentes reincidentes. Percebe-se que, mesmo em diferentes propores, o roubo continua sendo o ato infracional mais cometido, tanto na primeira internao quanto na reiterao da prtica infracional. Este dado pode ser verificado em todas as regies brasileiras, com exceo da Regio Sul, onde, embora a motivao da primeira internao tambm seja o roubo, a atual medida refere-se, majoritariamente, ao cometimento do ato infracional de trfico de drogas. Alm da recorrncia dos atos infracionais contra o patrimnio cometidos pelos reincidentes, constata-se que a ocorrncia de homicdio na reiterao da prtica infracional foi aproximadamente trs vezes superior primeira internao, aumentando de 3% para 10% dos casos em mbito nacional.

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Grfico 5 Ato infracional cometido na primeira internao dos adolescentes reincidentes por regio50% 40% 30% 20% 10% 0%

43%

47% 42%

24%

21% 6% 0% 1% 11%

21% 14% 3% 1% 4% 0% 6%

25% 17% 6% 0%

9% 2% 0%Centro-Oeste Homicdio Tr co de drogas Roubo seguido de morte

2%

Nordeste Roubo Furto Outros Estupro Leso corporal

Norte

45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0%

38% 30% 19% 10% 2% 0%Sudeste Homicdio Tr co de drogas Roubo seguido de morte

40% 34% 26% 19% 19% 22% 20% 13% 3% 0%Sul Roubo Furto Outros Estupro Leso corporal

0% 0%

1%

0%

3%

0%Brasil

1%

0%

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

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Grfico 6 Ato infracional da atual internao dos reincidentes por regio60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

49% 36% 19% 9% 0% 3% 2% 17% 0% 19% 1% 6% 8% 4% 3% 19% 4% 6%Norte Estupro Roubo seguido de morte Tr co de drogas Outros

16%

13%

17% 0% 0% 0%

Centro-Oeste Homicdio Furto Roubo Leso corporal

Nordeste

35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0%

31% 24% 19% 15% 5% 6% 0% 0%Sudeste Homicdio Tr co de drogas Roubo seguido de morte Roubo Furto Outros

27%

28%

15% 7% 1% 0%Sul Estupro Leso corporal

14% 10% 6% 0%Total

12% 1%

6% 1%

4%

2%

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

Analisando-se a prtica reincidente, percebe-se que os atos infracionais cometidos aps a primeira internao apresentam maior gravidade, ou seja, na internao atual h maior ocorrncia de atos infracionais resultantes na morte da vtima. O Grfico 7 compara os atos infracionais cometidos por adolescentes infratores reincidentes em diferentes internaes. Em verde (terceira coluna) est destacado o percentual de jovens que cometeram crimes com resultado morte apenas na primeira internao que, consequentemente, esto internados atualmente por outro motivo que no o homicdio ou o roubo seguido de morte, o que corresponde a apenas 1% do total de reincidentes. Em vermelho, observa-se a taxa de jovens que cometeram atos infracionais com resultado morte apenas como causa da atual internao, pois haviam cometido outros atos infracionais menos graves anteriormente. Estes adolescentes correspondem a 11% do total dos reincidentes. Os adolescentes que cometeram atos infracionais com resultado morte em ambas as internaes totalizam 2% do total de reincidentes entrevistados.

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Grfico 7 Gravidade dos atos infracionais cometidos por adolescentes reincidentes por regio (comparativo entre a primeira internao e a atual)100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

93% 81% 74% 79% 74%

24% 13% 0% 2% 5% 2%Nordeste

23% 17% 4% 0%Norte

1%

5%

1%

2%

1%Sul

Centro-Oeste

Sudeste

Ambos com resultado morte Resultado morte apenas na 1 internaoFonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

Resultado morte apenas na internao atual Ambos sem resultado morte

3.3 Escolaridade De acordo com o Estatuto da Criana e do Adolescente, as entidades que desenvolvem programas de internao tm o dever de promover a escolarizao e a profissionalizao do adolescente privado de liberdade. A despeito disso, o percentual dos adolescentes entrevistados no alfabetizados atingiu o ndice de 8%. Observa-se que este ndice nacional comporta uma disparidade entre as regies, considerando que no Nordeste 20% dos adolescentes entrevistados declararam-se analfabetos, enquanto no Sul e no Centro-Oeste, 1%. Tais regies destacam-se por apresentar ndice de 98% de adolescentes infratores alfabetizados. No contexto nacional, entre todos os adolescentes analfabetos, 44% destes encontram-se na Regio Nordeste.

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Grfico 8 Alfabetizao dos adolescentes entrevistados por regio100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Centro-Oeste Nordeste Sim Norte No Sudeste Sem Resposta Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ Sul Brasil

1%

1%

0% 20%

0% 14%

1% 6%

1%

1%

1% 8%

98% 80%

86%

93%

98%

91%

Em mdia, os adolescentes que declararam ter parado de estudar entre 8 e 16 anos interromperam seus estudos aos 14 anos, muito embora 26% no tenham respondido a essa pergunta. Em relao s regies, as nicas abaixo da mdia nacional foram a Norte e a Nordeste, como mostra a tabela a seguir: Tabela 1 Mdia da idade em que o adolescente interrompeu os estudos por regioRegio Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste Sul Total Idade Mdia 14,2 13,7 13,7 14 14,3 14Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

Questionados sobre a vida escolar anterior internao, 57% dos jovens declararam que no frequentavam a escola antes de ingressar na unidade. Quanto escolaridade, a ltima srie cursada por 86% dos adolescentes entrevistados estava englobada no ensino fundamental, ou seja, este percentual de adolescentes no concluiu a formao bsica. Deve-se ressaltar que h uma percentagem maior de adolescentes cuja ltima srie cursada foi a quinta e a sexta srie do ensino fundamental, como mostram os dados a seguir:

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Grfico 9 ltima srie escolar cursada pelo adolescente infrator por regio35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0%

24% 18% 9% 7% 4% 1%Centro-Oeste 2 srie 7 srie 3 srie 8 srie Nordeste 4 srie Ensino mdio 5 srie Sem Resposta Norte 6 srie

18% 11% 12% 8% 15%

19% 16% 10% 10% 6% 5% 16% 9% 9%

17% 17% 9% 9% 4% 9%

8%

40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0%

34%

20%

18% 17% 14% 10% 1% 3% 3%

21% 12%

21%

18% 13% 14% 11% 3%

8% 2% 3%Sudeste 2 srie 7 srie 3 srie 8 srie

9%

10% 0%

10% 4% 5%

Sul 4 srie Ensino mdio 5 srie Sem Resposta

Brasil 6 srie

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

Questionados sobre a periodicidade da frequncia escola, 72% declararam frequent-la diariamente. Dos dados apurados pode-se constatar grande dficit do Estado na aplicao de medidas socioeducativas e na aplicao de programas voltados educao desses jovens. As regies Norte e Nordeste obtiveram ndices de adolescentes que no frequentam a escola diariamente superiores a 50%, ao passo que na Regio Sudeste, 10% dos internos declararam no frequentar a escola todos os dias.

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Grfico 10 Frequncia diria escola dos adolescentes por regio100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Centro-Oeste Nordeste Sim Norte No Sudeste Sem Resposta Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ Sul Brasil

3,9% 24,4%

1,4%

0,7%

0,5% 10,0%

0,9% 38,5%

0,9% 26,8%

57,4%

58,7%

89,5% 71,7% 41,2% 40,6% 60,7% 72,2%

3.4 Famlia A respeito das relaes familiares, obteve-se, por meio das entrevistas, que 14% dos jovens tm filhos. A respeito da criao, 43% foram criados apenas pela me, 4% pelo pai sem a presena da me, 38% foram criados por ambos e 17% pelos avs. Deve-se observar que um mesmo adolescente pode ter sido criado por mais de um ente familiar, como pelos pais e avs simultaneamente4. Grfico 11 Responsveis pela criao do adolescente em conflito com a lei em mbito nacional45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Pai e Me Me

43% 38%

12% 4%Pai Avs maternos

5%Avs paternos

4%Outros familiares

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ 4 A possibilidade de o adolescente ter sido criado por mais de um ente familiar explica o fato de o total das porcentagens somar mais de 100%.

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3.5 Relao com entorpecentes Nesta pesquisa averiguou-se que o uso de substncias psicoativas de uso comum entre os adolescentes infratores. Dos jovens entrevistados, aproximadamente 75% faziam uso de drogas ilcitas, sendo este percentual mais expressivo na Regio Centro-Oeste (80,3%). Grfico 12 Uso de drogas por adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas por regio100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Centro-Oeste Nordeste Sim Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ Norte No Sudeste Sem Resposta Sul Brasil

6,3% 13,4%

1,1% 27,6%

0,0% 33,3%

0,5% 22,1%

0,0% 30,3%

0,9% 24,3%

80,3%

71,3%

66,7%

77,5%

69,7%

74,8%

Dentre as substncias utilizadas pelos adolescentes que declararam ser usurios de drogas, a maconha foi a mais citada, seguida da cocana, com exceo da Regio Nordeste, em que o crack foi a segunda substncia mais utilizada. A alta incidncia de uso de psicoativos pode, desta forma, estar relacionada ocorrncia dos atos infracionais.

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Grfico 13 Tipo de droga utilizada por adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas por regio100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Crack 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Crack

90%

84% 66% 45%

38% 24% 13% 2%Centro-Oeste Cocana Maconha

26%

33% 21% 12% 8% 1%Nordeste Inalantes Medicamentos

38% 27% 16% 11% 0%Norte LSD Outros

3%

94%

87%

89%

51%

44% 23% 3%Sul Maconha Inalantes Medicamentos

43% 21% 1% 3% 10% 9% 3% 2%Brasil LSD Outros

16%

9% 1%Sudeste Cocana

18% 3%

19%

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

O perfil dos adolescentes aqui descortinado revelou uma srie de questes que perpassam o problema do adolescente em conflito com a lei: famlias desestruturadas, defasagem escolar e relao estreita com substncias psicoativas. A partir do melhor conhecimento do perfil dos adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas torna-se especialmente oportuna a definio de estratgias compatveis com as necessidades dos jovens em situao de risco no Brasil.

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4. PERFIL PROCESSUALEsta seo objetiva apresentar os resultados obtidos a partir das informaes constantes dos 14.613 processos de execuo de medida socioeducativa pesquisados. Importa registrar que um mesmo processo pode se referir a mais de um ato infracional. Os aspectos estudados no perfil processual compreendem as seguintes informaes dos adolescentes: faixa etria, histrico de evases, tipos de internao, tipos de ato infracional, reincidncia, tipos de internao por sentena, reavaliao da medida judicial, Plano Individual de Atendimento (PIA) e acesso aos direitos processuais. 4.1 Faixa etria O Grfico 14 apresenta a distribuio percentual por faixa etria dos adolescentes em conflito com a lei a que se referem os 14.613 processos analisados5. Corroborando os dados obtidos nas entrevistas com os internos, percebe-se que a maior parte dos adolescentes se concentra na faixa entre 15 e 17 anos (67%), seguida da faixa de 18 a 20 anos em que se encontram 24% do total dos jovens. A porcentagem de adolescentes entre 12 e 14 anos (6%) a menor, considerando ser a primeira faixa etria na qual os adolescentes podem responder por ato infracional. Os jovens maiores de 20 anos, internados por atos infracionais cometidos antes da maioridade, correspondem a 0,4% do total de internos constantes nos processos analisados. Os dados referentes faixa etria no foram obtidos em 3% do total de processos analisados. Grfico 14 Distribuio por faixa etria dos adolescentes nos processos analisadosAcima de 20 anos 0% Sem Resposta 3%

12 a 14 anos 6%

18 a 20 anos 24%

15 a 17 anos 67%Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ 5 Embora a varivel faixa etria j tenha sido apresentada anteriormente, os dados aqui expostos foram extrados de outra fonte de pesquisa. Enquanto os dados do captulo trs, referentes ao perfil dos adolescentes, foram extrados das 1.898 entrevistas realizadas com jovens internos, os dados apresentados neste captulo quatro dizem respeito anlise dos 14.613 processos consultados nas varas judiciais.

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Ao observar-se a faixa etria dos adolescentes a que se referem os processos analisados em cada uma das regies poltico-administrativas do pas (grfico 15), percebe-se que em todas as regies predomina a faixa etria de 15 a 17 anos, sendo esta mais representativa no Norte (71%) e menos no Sul (62%), sendo que nesta ltima regio a faixa entre 18 e 20 apresenta-se em maior percentual (31%). Um dado importante nesta anlise o alto ndice de adolescentes na primeira faixa etria (12 a 14 anos) entre os internos do Nordeste (10%), quando comparado com as regies que apresentam o menor percentual de adolescentes cumprindo medida socioeducativa de internao nesta faixa etria, Centro-Oeste e Norte (4%). Grfico 15 Distribuio por faixa etria nas regies geogrficas100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

2% 2% 29%

2% 0% 21%

2% 0% 22%

4% 0% 22%

1% 1% 31%

3% 0% 24%

66% 63%

71%

68%

62%

67%

4%Centro-Oeste 12 a 14 anos

10%Nordeste 15 a 17 anos

4%Norte 18 a 20 anos

6%Sudeste

5%Sul Acima de 20 anos

6%Total Sem Resposta

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

Estes dados sinalizam a necessidade de adoo de polticas especficas de internao em unidades com maior nmero de adolescentes ou de adultos, considerando a ateno s necessidades de educao e formao profissional para o consequente xito da reinsero social. O cumprimento de elementos bsicos previstos no Estatuto da Criana e do Adolescente como a separao dos adolescentes por critrios de idade, compleio fsica e gravidade da infrao tambm so ferramentas importantes para garantir a segurana e o bom funcionamento do sistema. 4.2 Evaso O Grfico 16 apresenta a porcentagem de adolescentes internos com histrico de evaso, em cada uma das regies geogrficas. Os dados processuais demonstram que 89% dos internos no possuem histrico de evases. A Regio de onde provm o maior nmero de internos com histrico de evases a Centro-Oeste, em que 16% dos processos analisados registram este dado. A Regio com menor ndice a Sudeste, com apenas 3%.

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Grfico 16 Histrico de evaso por adolescente registrado nos processos por regio100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

8%

3%

6%

5%

3%

5%

76%

92%

82%

83% 92%

89%

16%Centro-Oeste

5%Nordeste Sim

12%Norte No

3%Sudeste Sem Resposta

14%Sul

6%Total

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

Importante traar uma viso acerca do problema das evases em cada uma das unidades da Federao, como apresentado pelo Grfico 16. Este grfico mostra que, embora a anlise regional no aponte nmeros consideravelmente altos em nenhuma das regies, h estados que apresentam maiores ndices de evaso. O Rio Grande do Norte apresentou um percentual altssimo de histrico de evases nos processos analisados, j que 48% dos internos deste Estado j evadiram do sistema ao menos uma vez. Outras unidades da Federao que possuem um percentual considervel de evases so Santa Catarina (31%), Roraima (29%), Distrito Federal (25%) e Sergipe (25%). Em contraponto, os estados de Alagoas, Amap, Bahia, Cear, Esprito Santo, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Piau e So Paulo aparecem com mais de 90% dos jovens em conflito com a lei sem histrico de evaso. Destacam-se Cear e Paraba como os estados com menor histrico de evaso, em que 97% dos processos no h registro de evaso.

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Grfico 17 Histrico de evaso dos adolescentes registrado nos processos por regioMato Grosso do Sul Centro -Oeste Mato Grosso Gois Distrito Federal Sergipe Rio Grande do Norte Piau Pernambuco Nordeste Paraba Maranho Cear Bahia Alagoas Tocantins Roraima Rondnia Norte Par Amazonas Amap Acre So Paulo Sudeste Rio de Janeiro Minas Gerais Esprito Santo Santa Catarina Sul Rio Grande do Sul Paran

8% 2% 5% 25% 25% 48% 3% 4% 2% 15% 2% 3% 7% 10% 29% 12% 16% 0% 8% 9% 2% 2% 8% 9% 31% 13% 9%0% 20% No 40%

91% 88% 61% 73% 75% 44% 91% 92% 97% 82% 97% 95% 93% 87% 64% 86% 65% 100% 92% 89% 96% 54% 84% 90% 61% 85% 89%60% 80%

1% 10% 34% 1% 0% 8% 6% 4% 1% 3% 1% 2% 0% 3% 7% 1% 20% 0% 0% 2% 2% 43% 8% 1% 8% 2% 2%100%

Sim

Sem Resposta

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

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4.2.1 Evaso por faixa etria Aps a anlise geral do histrico de evases, passa-se a observar esta varivel considerando a faixa etria dos adolescentes internos. O Grfico 18 apresenta o percentual de histrico de evases por faixa etria em escala nacional. Grfico 18 Histrico de evaso dos adolescentes registrado nos processos por faixa etria em mbito nacional100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%12 a 14 anos

94% 92% 86%

53% 42% 39%

59%

11% 1% 5%Sim15 a 17 anos

2%No18 a 20 anos Acima de 20 anos

5%

3%

2%

5%

Sem RespostaSem Resposta

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

O grfico anterior demonstra que entre os internos acima de 20 anos, 42% possuem histrico de evases, sendo este percentual bem mais alto que nas demais faixas etrias. Por outro lado, apenas 1% dos jovens entre 12 e 14 anos possui histrico de evases, sendo esta a faixa de idade que possui menor percentual de internos que evadiram ao menos uma vez do sistema. Conclui-se, portanto, que quanto mais alta a faixa etria, maior o percentual de histrico de evases. Deve-se, no entanto, ponderar que quanto maior a idade do jovem, maior a possibilidade de ter cumprido outras medidas socioeducativas de internao durante sua vida. Apesar disso, h um salto percentual entre as faixas etrias de 18 a 20 anos e acima de 20 anos, em que 11% e 42% possuem histrico de evases, respectivamente. Deste modo, em regies com expressiva quantidade de adolescentes internos maiores de 18 anos, requer-se a adoo de medidas mais adequadas de segurana dos estabelecimentos, alm de uma proposta pedaggica consolidada que possibilite ao adolescente ser inserido no mercado de trabalho para, enfim, entrar no processo de reinsero social. Nota-se que a Regio Centro-Oeste, que possui o maior percentual de internos com histrico de evases (Grfico 16), tambm a que possui, conforme demonstra o Grfico 15, o menor percentual de adolescentes internos entre a faixa etria de 12 a 14

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anos (a que menos evadiu, conforme Grfico 18) e maior nmero de internos acima de 20 anos (faixa que mais evadiu, conforme Grfico 18), bem como um percentual alto de jovens na faixa de 18 a 20 anos (segunda faixa etria que mais evadiu). Essa caracterstica etria dos internos da regio Centro-Oeste pode explicar a razo de sua alta taxa de porcentagem de histrico de evases. Corroborando a anlise anterior, observa-se que a Regio Nordeste, com o segundo menor histrico de internos que j evadiram alguma vez do sistema (Grfico 16), possui o percentual mais alto de internos na faixa etria de 12 a 14 anos e o mais baixo das classes de 18 a 20 anos e acima de 20 anos, conjuntamente (Grfico 15). Portanto, tambm pode ser um dos fatores para explicar a menor taxa de histrico de evases. 4.3 Tipo de internao Neste tpico, analisar-se- o tipo de internao, que pode ser a) definitiva, ou seja, aquela decorrente de deciso judicial transitada em julgado; b) provisria, que mantm o adolescente internado por 45 dias prorrogveis por igual perodo enquanto o processo aguarda julgamento ou c) sano, que a internao decorrente do descumprimento reiterado de outra medida socioeducativa aplicada. O grfico 19 apresenta o percentual de cada tipo de internao por regio: Grfico 19 Tipo de internao dos adolescentes registrado nos processos por regio100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Centro-Oeste Nordeste De nitiva Norte Provisria Sudeste Sano Sul Sem Resposta Total

3%

2%

1% 7% 33%

1% 5% 27%

21%

4% 3% 13%

1% 3% 19%

3% 4% 20%

74% 59%

67%

79%

76%

73%

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

Em todas as grandes regies, a maior parte dos adolescentes cumpre medida socioeducativa de internao definitiva, representando 73% dos casos. No entanto, observa-se que as instituies do Nordeste e do Norte comportam os maiores percentuais de adolescentes internos provisoriamente, com 33% e 27% dos casos, respectivamente. No Sudeste, encontra-se o maior percentual de internaes definitivas (79%) e o menor de internaes provisrias (13%).

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A internao-sano tambm percentualmente maior no Nordeste, correspondendo a 7% dos processos. Este dado pode evidenciar indcios de problemas na aplicao das medidas socioeducativas no privativas de liberdade nesta regio. 4.4 Tipo de ato infracional O grfico 20 apresenta a distribuio geogrfica dos tipos de atos infracionais cometidos pelos adolescentes a que se referem os processos analisados. Ressalta-se que num mesmo processo podem constar mais de um ato infracional. Grfico 20 Tipos de ato infracional cometidos pelos adolescentes registrados nos processos por regio60%

55% 52%

54%

52%

50%

51%

52%

40%

40% 35% 29% 24% 19% 12% 8% 1% 2%Nordeste

30%

28% 21% 18% 9% 2% 5% 5% 9% 1%Sudeste Contra Dignidade Sexual

26%

20%

10%

3%

2%Sul

6% 1%Total Txico Outro

5%

0%

Centro-Oeste Contra a Pessoa

Norte

Contra o Patrimnio

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

Os atos infracionais mais comumente cometidos pelos internos so contra o patrimnio, correspondendo a 52% da mdia nacional. Percebe-se que a distribuio regional de infraes contra o patrimnio relativamente constante, variando de 51% no Sul a 55% no Centro-Oeste. O segundo tipo de ato infracional mais comum, em mbito nacional, refere-se a txico (26%). Porm, ao contrrio da categoria contra o patrimnio, este tipo de infrao no possui distribuio equilibrada no territrio nacional. A propsito, na anlise regional verifica-se que txico somente o segundo mais comum na Regio Sudeste (35 %). Ressalta-se que os atos infracionais por txico possuem um percentual alto nas regies Sul (21%) e Nordeste (19%), sendo de menor impacto no total de atos infracionais Centro-Oeste (12%) e Norte, onde apenas 5% das infraes correspondem a este tipo.

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A seguir, aparecem nacionalmente como mais comuns os atos infracionais contra a pessoa, representando 18% do total. Apesar de ser o terceiro gnero mais comum nacionalmente, as infraes contra a pessoa representam o segundo tipo de ato infracional mais comum em todas as regies, com exceo da Regio Sudeste (9%). Ressalva-se que os atos infracionais desta categoria atingiram 40% na Regio Norte. As infraes contra a dignidade sexual possuem um nmero percentualmente baixo tanto nacionalmente (1%), quanto para cada uma das regies, variando de 1% (Centro-Oeste e Sudeste) a 2% (demais regies). Outros tipos de atos infracionais foram responsveis por 5% do total dos identificados nos processos analisados, variando regionalmente de 3% no Sudeste a 9% no Nordeste. 4.5 Registro de reincidncia nos processos Analisa-se, neste item, se h registro de reincidncia dos adolescentes em conflito com a lei a que se referem os autos. H registros em 54% dos processos analisados no territrio nacional. O grfico 21 apresenta estes dados em mbito regional. Grfico 21 Registro regional de reincidncia nos autos100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Centro-Oeste Nordeste Norte Sim No Sudeste Sem Resposta Sul Brasil

14% 11%

7%

8%

13%

6% 19%

11%

42% 58%

31%

35%

75% 50% 35% 56%

75% 54%

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

O maior percentual de processos com registro de reincidncia se encontra nas regies Centro-Oeste e Sul, ambas com 75%, e o menor percentual foi verificado na Regio Nordeste, 35%. As regies Sudeste e Norte apresentam indicadores prximos mdia nacional.

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4.6 Tipo de internao por sentena A realizao de atividades externas no decorrer da jornada pedaggica diria da instituio uma forma que o estabelecimento socioeducativo tem de oferecer aos adolescentes o desenvolvimento e a interiorizao do processo de reinsero social. O convvio com outros socioeducadores e adolescentes, bem como outras pessoas que so parte da sociedade institucional (coordenadores de oficinas profissionalizantes, professores, religiosos, entre outros) o primeiro passo que o adolescente em conflito com a lei pode dar para se sentir inserido dentro de uma sociedade da qual ele far parte durante o perodo de cumprimento da medida socioeducativa. O Grfico 22 apresenta o percentual regional de internaes com e sem atividades externas. H um considervel percentual de internaes com atividades externas em mbito nacional (69%), porm, h uma grande variao regional nestes nmeros. Enquanto na Regio Sudeste h expressivos 85% do total de internaes constantes nos processos analisados com atividades externas, no Centro-Oeste, este percentual de apenas 31% e no Sul, de 39%. Alis, percebe-se que o consideravelmente alto percentual nacional de internaes com atividades externas deve-se aos nmeros do Sudeste, regio onde se encontra a maior parte dos processos analisados, uma vez que, embora maiores que nas regies Sul e Centro-Oeste, os percentuais de atividades externas do Norte e Nordeste tambm so menores que a mdia nacional (56% e 59%, respectivamente). Uma observao interessante a ser feita o fato de o nmero de evases no Sudeste (3%) ser o menor entre todas as regies poltico-administrativas brasileiras, sendo, justamente, esta regio a com o maior ndice de internaes com atividades externas. Por outro lado, Centro-Oeste e Sul so, respectivamente, a primeira e a segunda regio com maior percentual de evaso (16 e 14%, respectivamente), sendo tambm, as regies com o menor e o segundo menor ndice de presena de atividades externas nas internaes. Logo, percebe-se que a atividade externa, ao contrrio do que pode supor o senso comum, um fator que inibe a evaso. Outro fator que pode influir nas evases a faixa etria. Grfico 22 Percentual de atividades com e sem atividades externas por regio100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

2%

10% 31%

4%

1% 13%

1%

3% 27%

39% 59%

67%

85% 59% 31%Centro-Oeste Nordeste Norte Sudeste

56% 39%

69%

Sul Sem Resposta

Brasil

Internao COM Atividades Externas

Internao SEM Atividades Externas

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: CNJ/DPJ

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4.7 Reavaliao da medida judicial O Grfico 23 apresenta o percentual de reavaliao das medidas judiciais dos internos a que se referem os processos que foram analisados. Observou-se que em 47% dos processos analisados no houve reavaliao da medida judicial, chegando este ndice a 62% no Centro-Oeste e 33% no Nordeste. Em somente 8% dos casos a reavaliao feita em audincia (ante 21% em gabinete), sendo a Regio Sul a que apresenta o maior percentual de reavaliaes em audincia (32%), e a Regio Centro-Oeste a que apresenta o menor percentual, com apenas 1%. Ressalta-se que o ndice de ausncia de respostas neste quesito foi de 25% em mbito nacional. Grfico 23 Reavaliao das medidas judiciais nas regies100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

26% 40%

18% 35%

20%

25%

35% 53% 62% 33% 42% 12% 47%

17% 12%Centro-Oeste

25% 4%

32%

21% 8%

8%Nordeste Sim, em audincia

6%Norte Sim, em gabinete

Sudeste No

Sul Sem Resposta

Brasil

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: CNJ/DPJ

4.8 Plano Individual de Atendimento (PIA) O processo socioeducativo formado por alguns instrumentos essenciais que se completam, sendo que as corretas utilizao e aplicao dessas ferramentas auxiliam a ressocializao do adolescente em conflito com a lei. O Plano Individual de Atendimento (PIA) mencionado no SINASE como um instrumento pedaggico fundamental para garantir a imparcialidade no processo socioeducativo, sendo que o crescimento institucional do adolescente ligado diretamente s conquistas das metas estabelecidas pelo PIA. Com o passar do tempo, o jovem pode apresentar avanos (fase intermediria) at chegar ao nvel de conscientizao do seu processo socioeducativo (fase conclusiva).

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O Grfico 24 traz o percentual de aplicao do PIA nos processos analisados. Ao se analisar este grfico percebe-se que em somente 5% dos processos se tem informao acerca da aplicao do PIA para os adolescentes a que se referem os processos analisados, sendo que em 77% dos processos se tem certeza de que no h tal plano. O PIA mais utilizado na Regio Sul, em que sua aplicao consta nos 33% dos processos analisados. Nas demais regies o ndice mais alto de apenas 4%, identificado na Regio Norte. No Sudeste e no Centro-Oeste de 3%, e no Nordeste de somente 0,5%. Portanto, verifica-se, que, na prtica, o PIA no aplicado aos processos de internao dos adolescentes em conflito com a lei, em desacordo ao que prev o SINASE. Grfico 24 Aplicao do PIA nos processos analisados nas regies100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0%

7% 35%

18%

13%

14%

18%

54% 90% 65% 33% 3%Centro-Oeste Nordeste Sim

79%

84%

77%

4%Norte No

3%Sudeste Sem Resposta Sul

5%Brasil

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: CNJ/DPJ

4.8.1 Prazo de homologao do PIA Considerando-se agora somente os processos em que h a existncia do PIA verificou-se o prazo para a sua homologao judicial nos processos. O Grfico 25 apresenta estas informaes. Percebe-se que, nacionalmente, em 59% dos casos, a homologao ocorreu em um ms. Na Regio Sul, este percentual foi de 78%. Ressalta-se o alto ndice da ausncia de homologao na Regio Norte (81%).

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A Execuo das Medidas Socioeducativas de Internao Programa Justia ao Jovem

Grfico 25 Prazo de homologao do PIA nas regies100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 8% Centro-Oeste 1 ms 2 meses 17% Nordeste 4% 11% Norte No h homologao judicial Sudeste Outros Sul Brasil Sem Resposta 54% 4% 78% 59% 26% 5% 4% 18% 5% 3% 18% 8% 3% 27% 4%

8% 83% 81% 43%

30%

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: CNJ/DPJ

4.8.2 Condies da homologao do PIA Considerando somente os processos em que h PIA e homologao deste, verificam-se, no Grfico 26, as condies desta homologao. Em 47% dos processos analisados, foi respondido, em mbito nacional, que a homologao se d em audincia, porm, ressalta-se que houve ausncia de resposta em 29% dos processos. Na Regio Sul, com 36% de processos sem respostas, 52% responderam haver homologao em audincia. Na Regio Norte, 100% das homologaes se do em audincia e na Nordeste, 97%. Na Regio Sudeste no houve respostas quanto ocorrncia de homologao em audincia.

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Grfico 26 Homologao do PIA em audincia por regio100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Centro-Oeste 0% Nordeste Norte SimFonte: DMF/CNJ - Elaborao: CNJ/DPJ

3%

0%

6% 36% 29%

12% 97% 100% 94%

25%

52%

47%

Sudeste No Sem Resposta

Sul

Brasil

4.9 Direitos Processuais Neste tpico verifica-se a ocorrncia de intimao e o questionamento sobre o desejo de recorrer ao adolescente e defesa nos processos referentes internao definitiva, conforme o Grfico 27. Em 66% dos autos analisados no consta esta informao, ou seja, no se registra nos autos a formalizao ou no de um ato que um direito fundamental do adolescente e cuja no realizao pode caracterizar cerceamento do direito de defesa. No Sudeste, esta informao no consta em 79% dos autos. O Centro-Oeste apresenta o menor percentual de ausncia da informao nos autos (19%). No Nordeste, no Norte e no Sul a ausncia destas informaes nos autos de, respectivamente, 63, 48 e 47%.

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Grfico 27 Existncia de intimao e de questionamento sobre o desejo de recorrer ao adolescente e defesa nas regies100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Centro-Oeste 9% 8% Nordeste Sim No 16% Norte 60% 27% 4% 16% Sudeste Sul 41% 19% 3% 63% 48% 79% 7% 47% 66% 18% 19% 9% 2% 5% 7%

6% 21% Total Sem Respostas

No consta esta informao nos autos

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: CNJ/DPJ

Ainda, de acordo com o Grfico 27, em 21% dos processos analisados no pas h a intimao e o questionamento sobre o desejo de recorrer, sendo o maior percentual identificado no Centro-Oeste (60%). O Sul tambm possui percentual significativo (41%). A Regio Nordeste apresenta percentual baixo de existncia de intimao (8%). Por outro lado, a Regio Norte apresenta alto percentual de processos em que se verifica a ausncia de intimao e o questionamento (27%).

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5. ESTRUTURA DOS ESTABELECIMENTOSNeste captulo, apresentar-se-o dados relativos estrutura das unidades de internao de adolescentes em conflito com a lei. 5.1 Populao Conforme levantamento realizado pelo Programa Justia ao Jovem vinculado ao Departamento de Monitoramento e Fiscalizao do Sistema Carcerrio do Conselho Nacional de Justia, o Brasil possua, entre julho de 2010 e outubro de 2011, 17.502 internos, distribudos pelos 320 estabelecimentos de execuo de medida socioeducativa existentes no pas. Grfico 28 Nmero de estabelecimentos por unidade da federaoCentro-Oeste Gois Mato Grosso do Sul Mato Grosso Distrito Federal Pernambuco Cear Piau Nordeste Rio Grande do Norte Paraba Alagoas Maranho Bahia Sergipe Rondnia Par Acre Norte Amazonas Tocantins Amap Roraima So Paulo Sudeste Minas Gerais Esprito Santo Rio de Janeiro Santa Catarina Sul Paran Rio Grande do Sul 0 13 20 40 60 80 100 120 5 19 18 12 19 1 112 4 4 3 7 7 6 6 6 5 4 3 3 15 11 4 13 5 8 7

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

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Ao analisar a distribuio das instituies pelos estados brasileiros, observa-se relevante disparidade em termos quantitativos no pas, visto que alguns estados possuem nmero muito superior de instituies de internao do que outros. Estes dados indicam a necessidade de se ampliar o sistema e rever os critrios de criao de novas estruturas, porque a demanda no corresponde ao nmero de estruturas. Grfico 29 Mdia de adolescentes por estabelecimento e por unidade da FederaoBrasil Centro -Oeste Distrito Federal Mato Grosso Mato Grosso do Sul Gois Bahia Cear Pernambuco Nordeste Sergipe Paraba Alagoas Rio Grande do Norte Piau Maranho Acre Par Amap Norte Tocantins Roraima Amazonas Rondnia Rio de Janeiro Sudeste So Paulo Minas Gerais Esprito Santo Rio Grande do Sul Sul Paran Santa Catarina 0 20 18 40 60 80 100 120 140 160 55 50 60 55 68 10 125 18 16 15 25 20 18 18 32 28 35 34 31 101 114 29 29 126 52 55 163

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

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Enquanto So Paulo (112), Santa Catarina (19) e Paran (18) so os estados com maior nmero absoluto de estabelecimentos, os estados com maior concentrao de adolescentes por estabelecimento so Distrito Federal (com mdia de 163 adolescentes por estabelecimento), Bahia (126) e Rio de Janeiro (125). Quando analisada a sobrecarga do sistema, percebe-se que, na totalidade dos estabelecimentos brasileiros, no restam vagas, considerando-se que a taxa de ocupao das unidades de 102%. Os estados federativos com maior sobrecarga esto todos no Nordeste, considerando que o Cear tem taxa de ocupao de 221%, Pernambuco 178% e Bahia 160%. Ainda no Nordeste os estados de Sergipe (108%), Paraba (104%) e Alagoas (103%) possuem superlotao em suas unidades. Neste quesito, Distrito Federal (129%) e o Mato Grosso do Sul (103%) merecem destaque no Centro-Oeste; enquanto no Sudeste, Minas Gerais possui 101% de ocupao. Por fim, na Regio Sul, Paran (111%) e Rio Grande do Sul (108%) apresentam ocupao superior capacidade. Grfico 30 Percentual de adolescentes internos em relao capacidade total por unidade da federaoBrasil Distrito Federal Mato Grosso do Sul Mato Grosso Gois Cear Pernambuco Bahia Sergipe Paraba Alagoas Rio Grande do Norte Piau Maranho Par Acre Amap Tocantins Rondnia Amazonas Roraima Minas Gerais Rio de Janeiro So Paulo Esprito Santo Paran Rio Grande do Sul Santa Catarina 0%Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

102% 129% 103% 99% 60% 221% 178% 160% 108% 104% 103% 88% 70% 65% 90% 86% 72% 61% 43% 37% 20% 101% 100% 99% 69% 111% 108% 91% 100% 200% 300%

Sul

Sudeste

Norte

Nordeste

Centro-Oeste

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5.2 Recursos humanos Acerca da disponibilidade de tcnicos das diferentes reas de atuao em cada uma das unidades por Estado, tem-se que 91% dos estabelecimentos disponibilizam algum tipo de atendimento individual aos infratores prestados por profissionais especializados. No entanto, a disponibilidade destes profissionais varia consideravelmente nas diferentes regies do Brasil. Observa-se que os psiclogos e os assistentes sociais so os profissionais mais comumente disponveis nas unidades de internao em todas as regies, estando presentes em 92% e 90% dos estabelecimentos, respectivamente. Por outro lado, advogados e mdicos esto presentes em apenas 32% e 34% das unidades, nesta ordem. Observa-se, deste modo, que os direitos bsicos sade e defesa processual dificilmente esto sendo observados, considerando a carncia da prestao destes servios nos estabelecimentos. A indisponibilidade destes profissionais mostrou-se mais expressiva nos estados das regies Sul e Norte. Grfico 31 Percentual de estabelecimentos quanto disponibilidade de recursos humanos das unidades de internao por regio100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Centro -Oeste Advogado Enfermeiro 120% 100% 80% 60% 41% 40% 20% 0% SudesteAdvogado Enfermeiro

91%

90% 90% 73% 75% 63% 57% 48% 43% 48% 35% 53% 44% 29% 18% 15% 43% 28% 80% 80% 65%

70%

35%

35%

Nordeste Assistente Social Pro ssional Ed. Fsica Psiclogo Pedagogo

Norte Mdico Diretor

98% 99% 79% 67% 65% 57% 37% 29% 88% 85% 63% 61%

90% 92% 69% 51% 52% 32% 34% 61%

29% 15%

24%

SulAssistente Social Pro ssional Ed. Fsica Psiclogo Pedagogo

BrasilMdico Diretor

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

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5.3 Estrutura fsica das unidades Quando observadas as estruturas fsicas das unidades, constatou-se que parte delas no possui em sua arquitetura espaos destinados realizao de atividades consideradas obrigatrias para a concretizao dos direitos fundamentais assegurados pela legislao, tais como a sade, a educao e o lazer. Grfico 32 Percentual de estabelecimentos quanto estrutura fsica das unidades em mbito nacionalrea de banho de sol Sala de aula Espao para prtica desportiva Refeitrio Sala de Atendimento Psicolgico Espao para O cinas Enfermaria Sala para atividades grupais Sala de informtica Biblioteca rea Destinada visita familiar Gabinete Odontolgico Sala de Entrevista com Advogado Sala de recursos audivisuais Local Espec co para Assist. Religiosa rea Destinada a Visita ntima 0% 3% 20% 40% 60% 80% 100% 18% 43% 37% 31% 51% 48% 79% 76% 75% 68% 62% 58% 91% 87% 87%

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

No aspecto relacionado sade, percebe-se que 32% das estruturas no possuem enfermaria e 57% no dispem de gabinete odontolgico. Alm disso, 22% dos estabelecimentos no possuem refeitrio, ou seja, nestas unidades, os alimentos so consumidos em outros espaos sem destinao para esse fim. Quanto ao aspecto educacional, 49% das unidades no possuem biblioteca, 69% no dispem de sala com recursos audiovisuais e 42% no possuem sala de informtica. Destaca-se o baixo percentual de instituies com rea destinada a visita ntima, considerando que a nova Lei do SINASE ensejar reformulaes nas estruturas, visto que este direito acaba de ser assegurado aos adolescentes casados ou em unio estvel.

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6. ORDENAMENTO DOS ESTABELECIMENTOS SOCIOEDUCATIVOSEste captulo apresenta a atual estrutura do sistema socioeducativo e projees, em mbito regional, de um possvel novo cenrio que se utiliza de critrios sociais, econmicos, demogrficos e geogrficos. Com tais critrios busca-se a promoo da descentralizao e expanso de estabelecimentos socioeducativos destinados a internao para o interior dos estados. 6.1 Regio Norte Para atender aos adolescentes em conflito com a lei que cumprem as diferentes modalidades de internao, a Regio Norte atualmente dispe de 45 unidades (Grfico 33) distribudas em 25 municpios6, sendo que apenas seis localidades contam com mais de um estabelecimento especfico para essa finalidade. Embora as unidades estejam situadas em 12 das 20 mesorregies existentes, so detectados vrios vazios institucionais, sem nenhuma estrutura para atender aos adolescentes que cumprem internao. Ao observar o mapeamento realizado na regio (mapa um), pode-se inferir a m distribuio geogrfica das unidades existentes, com exceo dos estados do Acre e Rondnia, e casos mais graves, especialmente nos estados do Amazonas e Par. Grfico 33 Quantitativo e percentual de estabelecimentos por estadoTocantins 4 9% Acre 7 16%

Roraima 1 2%

Amap 3 7%

Rondnia 15 33%

Amazonas 4 9%

Par 11 24%

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

Apenas cinco estabelecimentos (11,1% do total) esto com a capacidade acima da planejada7. Nesse aspecto, o Estado do Acre pode ser considerado o mais problemtico, j que quatro entre os sete centros de internao esto com sobrecarga no6 A Regio Norte possui 450 municpios. Proporcionalmente existe uma unidade de internao para dez municpios. 7 Considerando apenas os adolescentes cumprindo medida de internao. Ao considerar o total de jovens lotados nas unidades, independente da MSE que esto cumprindo, a sobrecarga aumentar significativamente.

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sistema8. Entretanto, o Estado do Acre possui ordenamento adequado dos estabelecimentos de acordo com os critrios socioeconmicos, geogrficos e demogrficos. Cinco unidades esto localizadas na mesorregio do Vale do Acre, mais industrializada e populosa, enquanto os outros dois estabelecimentos esto situados no Vale do Juru, menos povoado e mais distante da capital. A sobrecarga encontrada no Acre pode ser explicada de forma pontual: o Estado no destina, em nenhum estabelecimento, as vagas das unidades de internao definitiva para esse pblico especfico. Praticamente todas as unidades atendem adolescentes em situao provisria, sano e at mesmo casos de adolescentes cumprindo outra modalidade de Medida Socioeducativa (MSE), como, por exemplo, semiliberdade. A situao mais crtica nesse cenrio foi encontrada no Centro Socioeducativo Acre (CSE), uma unidade destinada ao adolescente em MSE de internao com capacidade para 36 internos, sendo que, atualmente, a unidade responsvel por 37 jovens cumprindo MSE de semiliberdade e apenas sete adolescentes cumprindo medida de internao. A distribuio da natureza dos estabelecimentos existentes na regio classifica as unidades masculinas de internao como responsveis por 64%, das unidades (Grfico 34). A necessidade de aprimorar o atendimento ao pblico feminino na regio est expressa no grfico seguinte. Existem somente cinco unidades femininas de internao e nenhuma unidade feminina de internao provisria em toda a parte setentrional do pas9. Tal situao demonstra que nem todos os estados possuem estrutura adequada para o atendimento exclusivo s adolescentes em conflito com a lei. Grfico 34 Pblico-alvo dos estabelecimentosUnidade Mista de Internao Provisria 4 9% Unidade Feminina de Internao 5 11%

Unidade Mista de Internao 2 5% Unidade Masculina Provisria 5 11%

Unidade Masculina de Internao 29 64%

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ 8 Outra unidade com superlotao est localizada no Municpio de Marab, no Estado do Par. 9 Apenas o Centro Socioeducativo Mocinha Magalhes, localizado no Municpio de Rio Branco/AC, apresentou indicadores de superlotao.

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Para efeito comparativo, a Regio Norte possui 21 municpios providos de varas com competncia exclusiva (Tabela 3), que, em regra, no obedecem proporo recomendada pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente (Conanda), de uma vara com competncia exclusiva em municpios de mdio e grande porte10. Entre essas discordncias de instalao de vara com competncia exclusiva em relao populao, todos os estados da regio apresentam problemas. Com cinco municpios considerados de grande porte que no contam com Vara da Infncia e da Juventude, o Estado do Par apresenta a situao mais crtica, a se considerar os aspectos socioeconmicos, geogrficos e demogrficos. De acordo com a Tabela 2, um em cada dez municpios da regio conta com um estabelecimento de MSE de internao. Os estados do Acre e Rondnia apresentam os melhores indicadores. Vale destacar que Rondnia a unidade da federao da Regio Norte com o maior nmero de estabelecimentos e, juntamente com o Estado do Acre, apresenta a melhor distribuio geogrfica das unidades de internao. O ndice constatado no Estado do Amap satisfatrio devido ao reduzido nmero de municpios (16). Amazonas, Par e Roraima apresentam indicadores semelhantes, mas com realidades bem diferentes que sero apresentadas no decorrer do estudo. Por fim, o Estado do Tocantins expe a necessidade de novos estabelecimentos com o preocupante indicador de uma unidade para aproximadamente cada 35 municpios. Tabela 2 Mdias de municpios e capacidade total por estabelecimento e Unidades da Federao.Unidades da Quantidade de Mdia de municpios Federao estabelecimentos por estabelecimento Acre 7 3,1 Amap 3 5,3 Amazonas 4 15,5 Par 11 13,9 Rondnia 15 3,4 Roraima 1 15,0 Tocantins 4 34,7 Total 45 10,0Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

Capacidade Total 261 85 162 305 336 81 118 1.348

Mdia da capacidade total por estabelecimento 37,2 28,3 40,5 27,7 22,4 81,0 29,5 29,9

Atualmente, a parte setentrional do Brasil possui capacidade para 1.348 adolescentes nos estabelecimentos socioeducativos de internao, o que resulta em uma mdia de praticamente 30 vagas por unidade. O Estado de Rondnia, que dispe de 22,4 vagas por estabelecimento, conta com a estrutura mais descentralizada da regio. O baixo ndice se justifica pela pequena capacidade populacional dos 15 centros socioeducativos, j que todos os estabelecimentos do Estado possuem carga de lotao para at 40 adolescentes.

10 O Poder Judicirio, o Ministrio Pblico, as Defensorias Pblicas e a Segurana Pblica devero ser instados no sentido de exclusividade, especializao e regionalizao dos seus rgos e de suas aes, garantindo a criao, implementao e fortalecimento de: I) Varas da Infncia e da Juventude especficas, em todas as comarcas que correspondam a municpios de grande e mdio porte ou outra proporcionalidade por nmero de habitantes, dotando-as de infraestrutura e prevendo para elas regime de planto. Resoluo n. 113/2006, artigo 9, captulo IV ( Da Defesa dos Direitos Humanos, com redao atualizada pela Resoluo n. 117/06 do prprio Conanda).

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O nmero reduzido de vagas nos estabelecimentos de Rondnia teoricamente favorece a melhor prestao dos servios oferecidos pelas equipes multidisciplinares. Os estados do Par, Amap e Tocantins apresentam ndices equivalentes mdia regional de vagas por estabelecimento. O Estado do Acre, mesmo com indicador um pouco acima da mdia regional, apresenta ndice satisfatrio11 para o favorecimento de atendimento institucional adequado. Roraima um caso parte, pois abriga apenas um estabelecimento, o maior da Regio Norte, que dispe de 81 vagas para o pblico masculino e feminino. A estrutura operacional consegue atender atual demanda, entretanto a unidade recebe adolescentes em conflito com a lei de toda a malha geogrfica estadual. A utilizao de apenas uma unidade no Estado, mesmo atendendo demanda populacional, no favorece pontos importantes do processo socioeducativo, principalmente pela dificuldade de manter os necessrios vnculos familiares. Outros fatores que agravam a centralizao do sistema esto relacionados s dimenses geogrficas da malha estadual e demais entraves como as dificuldades de interlocuo dos municpios que recebem adolescentes em conflitos com a lei de diferentes localidades do Estado. 6.1.1 Varas com competncia exclusiva A especializao de varas de infncia e juventude um importante indicador da relevncia que se d ao princpio da prioridade absoluta insculpido no art. 227 da Constituio Federal e no art. 4 do Estatuto da Criana e do Adolescente. Ela proporciona maior facilidade e eficincia para a organizao dos servios prestados aos jurisdicionados, assim como potencializa a articulao e a integrao operacional com as demais instituies que atuam no atendimento dos direitos da criana e do adolescente, como previsto no art. 88 do ECA. Quando observado o nmero de varas com competncia exclusiva para crianas e adolescentes (Tabela 3), o total regional consideravelmente inferior ao quantitativo de estabelecimentos de internao. O Estado do Par conta com a maior quantidade de varas exclusivas na Regio Norte. O Amazonas dispe de varas especializadas apenas em Manaus, sendo que a considerar apenas o critrio populacional para a instalao de vara com competncia exclusiva, o Municpio de Parintins deveria receber essa estrutura que, alm de descentralizar a presena do Poder Judicirio, auxiliaria na melhor distribuio processual dos adolescentes em conflito com a lei. Cenrio semelhante encontrado no Estado de Rondnia, em que apenas a capital Porto Velho disponibiliza vara com competncia exclusiva. A cidade de Ji-Paran, distante cerca de 370 quilmetros da capital, assim como Parintins/AM, oferece para a populao apenas varas com competncia cumulativa. Do mesmo modo, o Estado do Amap dispe de varas especializadas somente na capital. O Municpio de Santana apresenta indicadores populacionais favorveis criao de uma VIJ. Entretanto, por estar localizado na regio metropolitana de Macap, a criao de uma vara especializada em Santana no seria um fator favorvel interiorizao da prestao jurisdicional.

11 Pelo menos 21 profissionais multidisciplinares so necessrios para formar uma equipe mnima para atender a uma demanda de at 40 adolescentes.

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Tabela 3 Varas com competncia exclusiva por Unidade da FederaoQuantidade de Mdia de Quantidade de Quantidade de municpios Unidades da municpios com Varas municpios por Vara municpios com com mais de cem mil Federao de competncia de competncia mais de cem habitantes sem Varas com exclusiva exclusiva mil habitantes competncia exclusiva Acre 1 22,0 1 0 Amap 1 16,0 2 1 Amazonas 1 62,0 2 1 Par 13 9,0 10 5 Rondnia 1 52,0 2 1 Roraima 1 15,0 1 0 Tocantins 3 46,3 2 0 Total 21 21,4 20 8Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

O ordenamento das varas especializadas expe a centralizao atual do sistema. Cinco estados da regio contam com apenas um municpio com uma vara com competncia especializada. O Estado do Tocantins, com trs municpios providos dessa estrutura, apresenta o cenrio mais animador em relao a esses estados. Porm, o grande nmero de municpios encontrado no Estado, coloca Tocantins com o indicador de uma vara especializada para cada 46 municpios, bem acima da mdia regional. O Estado do Par rene a melhor estrutura judiciria regional. Entretanto, esse indicador poderia ser mais expressivo, considerando que cinco municpios com populao superior a cem mil habitantes no possuem VIJ.12 A estrutura da esfera judicial paraense se torna mais crtica quando se observa a localizao dos Municpios de Santarm, Marab e Parauapebas na malha geogrfica estadual. Mesmo dispondo de mais da metade dos municpios da regio que contam com varas de competncia exclusiva, o Estado ainda no conseguiu, de modo efetivo, expandir para o interior a instituio desse tipo de atendimento. No Par, sete dos 13 municpios que contam com varas especializadas esto localizados em uma rea de 89.964,383 km, que corresponde apenas a 7,05% da malha geogrfica estadual. Ao aprofundar a anlise, visualiza-se dentro dessa restrita rea estadual coberta pelo Poder Judicirio, uma espcie de corredor semicontnuo formado por dez municpios, onde esto localizadas as sete varas especializadas (mapa trs).

12 Os municpios com mais de cem mil habitantes que no dispem de VIJ com competncia exclusiva so: Santarm, Marab, Castanhal, Bragana e Marituba. Os Municpios de Barcarena (99.859 hab.), Altamira (99.075 hab.), Paragominas (97.819 hab.), Itaituba (97.493 hab.) e Tucuru (97.128 hab.) em breve sero considerados municpios de grande porte.

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6.1.2 reas de influncia Mapa 1 Distribuio geogrfica dos estabelecimentos de internao

Municpios com estabelecimentos socioeducativos e sua rea de abrangncia

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

De acordo com o primeiro mapa, as localidades que possuem unidades de internao exercem forte influncia estadual e por vezes regional13, mas a falta de ordenamento dos estabelecimentos provoca dois fatores que comprometem a qualidade do atendimento: a centralizao do sistema socioeducativos e os grandes vazios institucionais. Por ser uma regio com considerveis complicadores de ligao viria entre os municpios, a atual distribuio dos estabelecimentos socioeducativos deve receber ajustes para entrar em conformidade com as caractersticas da regio. Toda a extenso da poro norte do pas conta com apenas 21 localidades que contam com varas de competncia exclusiva para atender crianas e adolescentes, uma quantidade significativamente abaixo do ideal. Se fosse considerado apenas o critrio populacional para instalao de varas com competncia exclusiva, pelo menos mais oito localidades da regio deveriam receber a referida estrutura. Porm, utilizar apenas critrios demogrficos em um pas com tantas diversidades como o Brasil, no pode ser considerada a melhor forma de13 Segundo os critrios populacionais do Censo 2010.

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tratar o problema. Vrios municpios na Regio Norte com contingente populacional inferior a cem mil habitantes exercem forte influncia social, econmica e demogrfica. Esses critrios so analisados para verificar a rea de influncia dos municpios que, devido ao tamanho territorial das localidades da Regio Norte aliado ao nmero reduzido de municpios, terminam por influenciar uma rea geogrfica maior quando comparada aos municpios localizados nas demais regies poltico-administrativas do pas, que so formadas por mais municpios em reduzida malha geogrfica14. Portanto, a criao de novas estruturas de atendimento populao infantojuvenil no tocante s varas exclusivas e unidades de internao deve observar critrios outros que no apenas o populacional, conforme ir sugerir a seo seguinte. 6.1.3 Vazios institucionais Mapa 2 Projeo da rea de influncia das localidades que apresentam requisitos para a criao de um estabelecimento socioeducativo

Municpios com estabelecimentos socioeducativos e sua rea de abrangncia Proposta de criao de novos estabelecimentos socioeducativos e futura rea de abrangncia

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

14 Ver Relatrio de Pesquisa Justia Infantojuvenil: situao atual e critrios de aprimoramento, desenvolvida pelo DPJ em parceria com o Ipea.

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Panorama Nacional

A Execuo das Medidas Socioeducativas de Internao Programa Justia ao Jovem

Um extenso territrio com poucas unidades de internao em sua maioria concentradas nas capitais estaduais15 uma caracterstica que favorece a formao de grandes vazios institucionais na Regio Norte. Somadas as reas das oito mesorregies descobertas pelo sistema socioeducativo em questo, chega-se a 2.000.883,684 km, rea correspondente a mais da metade do territrio regional e cerca de 23,50% da malha geogrfica nacional. A populao residente nessa rea gira em torno de 3.700.000 habitantes (Censo 2010). Se considerarmos apenas a extenso territorial, o Estado do Amazonas o mais necessitado de novas unidades, pois cerca de 1.214.500,00 km no contam com nenhum tipo de estrutura. Em termos populacionais, as mesorregies sem estabelecimentos do Estado do Par somam cerca de 2.730.000 habitantes em uma rea aproximada de 603.003,000 km, o que resulta em uma densidade demogrfica de 4,5 hab./km, maior do que a densidade regional. Tabela 4 Ordenamento dos estabelecimentos na malha geogrfica regional por unidade da Federao.Unidades da Nmero de Federao municpios Acre Amap Amazonas Par Rondnia Roraima Tocantins Total 22 16 62 144 52 15 139 450 Municpios no limtrofes com localidades que possuem unidade de internao 3 10 53 115 5 7 121 314 Percentual de municpios no limtrofes 14% 63% 85% 80% 10% 47% 87% 70% Nmero de unidades de internao 7 3 4 11 15 1 4 45

Fonte: DMF/CNJ - Elaborao: DPJ/CNJ

A centralizao regional do sistema socioeducativo voltado para a MSE de internao est expressa de forma irrefutvel no primeiro mapa. A terceira tabela serve para corroborar a realidade j verificada, pois se constata que 69,7% dos municpios no so limtrofes com localidades que contam com estabelecimentos de internao de qualquer natureza. Esse vazio institucional indica, com exceo dos estados do Acre e Rondnia, que boa parte do atendimento do sistema socioeducativo est comprometida. Embora no tenha o pior ndice, o Estado do Amazonas apresenta o quadro mais preocupante: a extenso territorial do Estado, aliada ao fato de apenas um municpio abrigar todas as unidades de internao e varas com competncia exclusiva, comprometem significativamente o atendimento nesse Estado. O Estado do Par, que, assim como o Amazonas, possui extensa rea, tambm se encontra em situao problemtica. No entanto, a existncia de unidades de internao em cidades de forte influncia regional como Santarm e Marab auxiliam o descongestionamento do sistema. O Estado do Tocantins apresenta o indicador mais expressivo da regio, com uma quantidade razovel de municpios em uma menor malha geogrfica. Porm, as poucas unidades de internao existentes esto em pontos estratgicos, localizadas em municpios relevantes ou limtrofes a esses. Muitos municpios do Estado do Tocantins so grandes territorialmente, mas pouco15 Vinte e oito entre quarenta e cinco unidades de internao esto localizadas nas regies metropolitanas das capitais estaduais.

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populosos com densidade demogrfica raramente superior a 3,0 hab./km. Alm disso, tais municpios esto includos dentro da rea de influncia das trs localidades mais importantes do Estado: Palmas, Araguana16 e Gurupi. Os estados de Rondnia e Acre apresentam, simultaneamente, os menores ndices de c