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ALEXANDRE MAGNO DE MELO FARIA A EXPANSÃO DA COTONICULTURA EM MATO GROSSO NA DÉCADA DE 1990: UM CASO PARADIGMÁTICO DE DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO Belém - Pará 2003

A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

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ALEXANDRE MAGNO DE MELO FARIA

A EXPANSÃO DA COTONICULTURA EM MATO GROSSO NA DÉCADA DE 1990: UM

CASO PARADIGMÁTICO DE DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO

Belém - Pará 2003

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO

MESTRADO INTERNACIONAL EM PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO

A EXPANSÃO DA COTONICULTURA EM MATO GROSSO NA DÉCADA DE 1990:

UM CASO PARADIGMÁTICO DE DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO

Dissertação apresentada ao Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará como requisito para obtenção do título de "Mestre" em Planejamento do Desenvolvimento.

Discente: Alexandre Magno de Melo Faria

Orientador: Prof. Dr. Índio Campos

Belém - Pará 2003

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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO

MESTRADO INTERNACIONAL EM PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO

FOLHA DE APROVAÇÃO

A EXPANSÃO DA COTONICULTURA EM MATO GROSSO NA DÉCADA DE 1990:

UM CASO PARADIGMÁTICO DE DESENVOLVIMENTO ENDÓGENO

Discente: Alexandre Magno de Melo Faria

Orientador: Prof. Dr. Índio Campos

Banca Examinadora:

________________________________________________________

Prof. Dr. Índio Campos - NAEA-UFPA (Orientador)

________________________________________________________

Prof. Dr. Francisco de Assis Costa - NAEA-UFPA (Examinador Interno)

________________________________________________________

Prof. Dr. Mário M. Amin - UNAMA (Examinador Externo) Data da Defesa: 13 / Fevereiro / 2003 Resultado: Aprovado

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DEDICATÓRIA

Dedico esta obra a:

Meus pais, Lúcio Nunes de Faria e Julia Maria de Melo Faria;

A Julio César de Melo Faria e Nájisla Souza Bucair;

A Cláudia Puerari Faria;

À memória do inesquecível Marco Antônio de Melo Faria.

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AGRADECIM ENTOS

A Dissertação de Mestrado não é um trabalho isolado de uma única pessoa. Consome

horas de trabalho exaustivo que são devidamente socializadas com colegas, amigos próximos

e familiares. Muitas vezes, uma conversa despretensiosa lança novas luzes e geram

interessantes insights, que estavam ali, na sua frente, mas que não estavam aparecendo em sua

análise. Por isto, tenho a obrigação de agradecer a muitas pessoas pela conclusão desta obra.

Claro, algumas contribuíram de forma direta, outras indiretamente. Porém, todas tem o seu

valor e merecem a minha gratidão pela conquista de tão nobre título acadêmico.

Especialmente, agradeço às seguintes pessoas:

- professores Francisco de Assis Costa, Tereza Ximenes Ponte, Fábio Carlos da Silva, Lígia

Terezinha Lopes Simonian, Rosa Acevedo Marin, David Carvalho e Índio Campos, que

durante as disciplinas, me transmitiram um elemento capaz de transformar vidas - o

conhecimento;

- aos funcionários do NAEA, em especial, à secretária do PLADES, Tereza.de Jesus Brito

de Moraes;

- ao meu orientador professor Índio Campos;

- aos irmãos e meus credores da xerox, Adilson e Afonso;

- ao professor Benedito Dias Pereira, que sem o seu incentivo e orientação, jamais teria

realizado o concurso da ANPEC;

- aos amigos Naeanos Aldo Fernandes Souza, Dilamar Dallemole, Sandro Luís Bedin,

Beatriz Ribeiro, Josiane Semblano e Gilson Costa;

- ao nobre amigo boliviano José Antônio Rada Pérez, o "bolita", que me transmitiu

experiência internacional;

- a Vera Tânia, que sempre me recebeu com muito carinho em sua pensão na Cidade Velha;

- aos meus pais e meu irmão Julio Cesar, que me ajudaram a concretizar um sonho;

- a Cláudia Puerari Faria, pela sua paciência, amor e motivação; e

- principalmente, a Marco Antônio de Melo Faria, que mesmo sem estar fisicamente entre

nós, foi o principal protagonista desta minha história. Muito obrigado meu irmão.

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EPÍGRAFE

"Uma jornada de milhares de quilômetros deve começar com um único passo." (Lao-tzu)

"Duas estradas divergiram na floresta e eu tomei a menos percorrida e isso que foi

importante." (Robert Frost)

"Nada no mundo pode tomar o lugar da persistência." (Calvin Coolidge)

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RESUMO

O processo singular da retomada da produção cotonícola no Brasil durante a segunda metade da década de 1990 se deu em uma nova configuração técnica e espacial. Mais de setenta por cento da produção brasileira de fibras têxteis de algodão herbáceo passaram a ser produzidas na região Centro-Oeste e, mais da metade da produção passou a ser realizada em uma única unidade federativa desta região, o estado de Mato Grosso. O objetivo deste trabalho, portanto, foi identificar as variáveis que agiram sobre o espaço mato-grossense e determinaram a concentração da produção cotonícola naquele estado. Assim, foram utilizadas categorias de análise oriundas da Teoria do Desenvolvimento Endógeno para explicar as possíveis fontes das vantagens competitivas do algodão mato-grossense e a convergência da produção em um espaço delimitado. Os resultados apontam para a geração de tecnologia local no ano de 1990, a partir da cooperação entre a iniciativa privada e instituições de P&D, como o primeiro elemento no elo de desenvolvimento do complexo produtivo do algodão. Outras variáveis também foram de fundamental importância, como o aprendizado dinâmico sobre a atividade por parte dos agentes produtivos locais, a difusão dos conhecimentos técnicos por todo o espaço regional, a criação de incentivos fiscais por parte do Governo Regional e a cooperação entre os agentes privados na busca da eficiência coletiva. Desta forma, a ação da iniciativa privada, do Governo Regional e das instituições de P&D formataram um arranjo produtivo do algodão pautado em ações endógenas, que garantiram uma acumulação de capital elevada e, consequentemente, a convergência produtiva do algodão em Mato Grosso. Contudo, a cotonicultura em Mato Grosso se apresenta como uma atividade altamente instável, em função da competição internacional e do surgimento de problemas técnicos de produção. A manutenção desta cultura naquele estado depende da ação dos três agentes supracitados, principalmente no que se refere à busca de inovações tecnológicas, no fornecimento de infra-estrutura, na abertura de novos mercados e na cooperação entre os agentes. Palavras-chave: Cotonicultura; Centro-Oeste; Mato Grosso; Desenvolvimento Endógeno.

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ABSTRACT

The singular process of the restart of cotton production in Brazil during the second half 1990s decade happened inside a new technical and spatial configuration. More than seventy percent of the Brazilian production of textile fibres of herbaceous cotton passed to be produced at the Center-West region and, more of half the production passed to be accomplished in an only unit federative from this region, Mato Grosso state. The goal of this work, therefore, was identify the variable which acted over the Mato Grosso´s space and determined the concentration of the cotton production in that state. Thereby, were utilised analysis categories from Endogenous Development Theory toward to explain the possible sources of the competitive advantages of the Mato Grosso´s cotton and the convergence of the production in a delimited space. The results indicate for the generation of local technology in the year of 1990, start from the co-operation between the private enterprise and R&D institutions, as the first element in the link of development of the cotton productive complex. Other variables also were fundamental importance, as the dynamic learning about the activity by local productive agents, the diffusion of the technical information by whole regional space, the creation of fiscal incentives by Regional Government and the co-operation between private agents on the rummage of collective efficiency. Thus the procedure of private enterprise, Regional Government and R&D institutions originated a cotton productive arrangement connected in endogenous movement, that guaranteed a raised capital accumulation and, consequently, convergence of the cotton production inside Mato Grosso. However, the cotton production in Mato Grosso if presents as an activity highly unstable, in function of the international competition and emerging of technical problems of production. The maintenance of this cultivation in that state depends on the action among three agents cited, mainly researches of technological innovations, supply of infrastructure, opening of new markets and co-operation between the agents. Key Words: Cotton Production; Center-West; Mato Grosso; Endogenous Development.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................................13

CAPÍTULO 1

A PRODUÇÃO DE ALGODÃO NO MUNDO E NO BRASIL

1.1 Características da Produção de Algodão no mundo............................................................16

1.2 O Complexo Produtivo do Algodão no Brasil....................................................................20

1.3 Características Edafoclimáticas do Cerrado Brasileiro e a Expansão da Cotonicultura.....28

1.4 As Condições de Comercialização do Algodão Produzido no Centro-Oeste.....................33

1.5 Rediscutindo a Expansão Cotonícola em Mato Grosso......................................................35

CAPÍTULO 2

UM NOVO PARADIGMA PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL

2.1 O Planejamento do Desenvolvimento no Brasil.................................................................38

2.2 A Teoria do Desenvolvimento Endógeno...........................................................................43

2.2.1 O Novo Papel do Estado Federado............................................................................50

2.2.2 Investimentos em Infra-estrutura e Formação de Complexos Produtivos.................52

2.2.3 Valorização dos Novos Fatores de Produção.............................................................54

2.2.3.1 A Criação de Inovações e a Difusão do Conhecimento....................................56

2.2.3.2 A Organização Flexível da Produção................................................................60

2.2.3.3 As Economias de Aglomeração........................................................................62

2.2.3.4 A Densidade do Tecido Institucional................................................................64

2.3 O Efeito H do Desenvolvimento Endógeno........................................................................66

CAPÍTULO 3

ABRINDO O FARDO DE ALGODÃO

3.1 O Ponto de Start Endógeno.................................................................................................69

3.2 O Incentivo Fiscal do Governo do Estado e a Viabilidade Econômica..............................72

3.3 A Geração e a Difusão de Tecnologia Endógenas..............................................................80

3.4 A Organização Institucional dos Cotonicultores................................................................86

3.5 As Cinco Variáveis Endógenas Determinantes na Concentração da Cotonicultura

e o Efeito H........................................................................................................................90

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CAPÍTULO 4

AÇÕES DE AGENTES ENDÓGENOS E OS DESAFIOS FUTUROS DA

COTONICULTURA EM MATO GROSSO

4.1 A Ação Conjunta do Governo, da Iniciativa Privada e das Instituições de Pesquisa.........93

4.2 As Ações do Governo do Estado de Mato Grosso e da Iniciativa Privada.........................94

4.2.1 A Ação de Marketing Regional...............................................................................105

4.3 As Ações das Instituições de P&D e o Risco Ambiental..................................................110

4.4 Principais Desafios à Cotonicultura de Mato Grosso......................................................119

CONCLUSÃO........................................................................................................................126

ANEXO I

Os Dez Principais Municípios Produtores de Algodão no Estado Mato Grosso....................130

ANEXO II

Logística de Transportes de Integração Sul-Americano.........................................................131

BIBLIOGRAFIA....................................................................................................................132

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Produção Mundial de Fibras Têxteis e Respectivas Percentagens de Participação Total - Anos Selecionados.................................................................................................................... 18

Tabela 2. Produção Mundial de Algodão em Pluma (Dez Principais Países) - 1992 a

2001........................................................................................................................................... 19 Tabela 3. Produtividade Mundial de Algodão em Pluma (Principais Países) - 1992 a

2001........................................................................................................................................... 20 Tabela 4. Importações Brasileiras de Máquinas Têxteis - 1989 a 2000.................................................... 23 Tabela 5. Idade Média dos Equipamentos Têxteis no Brasil – 1990/1996/1997...................................... 23 Tabela 6. Evolução do Suprimento de Algodão em Pluma no Brasil - 1980 a 2001................................ 24 Tabela 7. Balança Comercial Têxtil do Brasil - 1990 a 2001.................................................................. 27 Tabela 8. Produção de Algodão Herbáceo nos Principais Estados Brasileiros - 1991 a

2001........................................................................................................................................... 28 Tabela 9. Custo de Produção de Algodão - Safra 1999/2000................................................................... 32 Tabela 10. Qualidade da fibra de algodão produzido nos estado de São Paulo, Paraná e Mato Grosso -

Safra 2000.................................................................................................................................. 36 Tabela 11. Custo Operacional Total (COT) por Arroba de Algodão Produzida nos Estados de Goiás,

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul - Safra 2000...................................................................... 74 Tabela 12. Receita Bruta (RB) por Arroba de Algodão Produzida nos Estados de Goiás, Mato Grosso

e Mato Grosso do Sul - Safra 2000........................................................................................... 75 Tabela 13. Margem Bruta (MB) por Arroba de Algodão Produzida nos Estados de Goiás, Mato Grosso

e Mato Grosso do Sul - Safra 2000........................................................................................... 75 Tabela 14. Margem Bruta (MB) por Arroba de Algodão Produzida nos Estados de Goiás, Mato Grosso

e Mato Grosso do Sul, considerando a incidência de ICMS - Safra 2000........................................................................................................................................... 78

Tabela 15. Lavouras Cadastradas no PROALMAT - 1998 a 2001............................................................. 78 Tabela 16. Impacto do PROALMAT nos Lucros dos Cotonicultores - Safra 2000.................................. 79 Tabela 17. Produção de Algodão, Preços Médios e Valor da Produção da Cotonicultura de Mato

Grosso - 1994 a 2000................................................................................................................. 79 Tabela 18. Ações de Difusão e Transferência de Tecnologia Cotonícola em Mato Grosso - Dias de

Campo - 1995 a 2002................................................................................................................ 81 Tabela 19. Ações de Difusão e Transferência de Tecnologia Cotonícola em Mato Grosso - Reuniões

Técnicas - 1995 a 2001............................................................................................................. 82 Tabela 20. Ações de Difusão e Transferência de Tecnologia Cotonícola em Mato Grosso - Palestras

Técnicas - 1995 a 2001.............................................................................................................. 82 Tabela 21. Ações de Difusão e Transferência de Tecnologia Cotonícola em Mato Grosso - Outras

Formas de Difusão de Informação - 1995 a 2001..................................................................... 83

Page 12: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

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Tabela 22. Classificação da Fibra de Algodão de Alta Qualidade Produzida em Mato Grosso - 1997 a 2001........................................................................................................................................... 85

Tabela 23. Volume Exportado e Receita de Exportação de Algodão de Mato Grosso 1998 a

2001........................................................................................................................................... 85 Tabela 24. Fornecimento de Infra-estrutura de Energia Elétrica Para o Setor Produtivo Investimentos

Públicos e Privados - 1998 a 2002............................................................................................ 96 Tabela 25. N.° de Consumidores de Energia por Atividade no Estado de Mato Grosso 1995 a

2001........................................................................................................................................... 97 Tabela 26. Unidades de Beneficiamento de Algodão Herbáceo em Mato Grosso..................................... 97 Tabela 27. Estimativa do Custo de Transporte Multimodal Verificado na Região Centro-

Oeste.......................................................................................................................................... 98 Tabela 28. Fornecimento de Infra-estrutura de Transportes para o Setor Produtivo Investimentos

Públicos e Privados - 1998 a 2002............................................................................................ 101 Tabela 29. Expansão do Conjunto Agrícola de Mato Grosso - Área Cultivada (ha) 1996 a

2000........................................................................................................................................... 102 Tabela 30. Situação Fiscal de Mato Grosso em % da Receita Corrente Líquida (RCL) - 1995 a

2000........................................................................................................................................... 103 Tabela 31. Ações de Marketing Institucional - Programa "Mato Grosso: É Hora de Investir" - 1999 a

2000........................................................................................................................................... 106 Tabela 32. Performance das Exportações de Mato Grosso (em US$) - 1997 a 2001................................. 107 Tabela 33. Investimentos Privados Em Realização em Mato Grosso (em R$) - 2001 a 2003................... 108 Tabela 34. Ações de Marketing Institucional da Cotonicultura Realizadas pela AMPA e Governo do

Estado de Mato Grosso - 2001 a 2002...................................................................................... 110 Tabela 35. Recursos Oriundos do PROALMAT e Depositados no FACUAL para Investimentos em

P&D - 1998 a 2001.................................................................................................................... 111 Tabela 36. Recursos do FACUAL Investidos - 1998 a 2001...................................................................... 112 Tabela 37. Variedades de Plantas Utilizadas por Cotonicultores de Mato Grosso..................................... 113 Tabela 38. Elevação dos Gastos com Agrotóxicos na Cotonicultura de Mato Grosso............................... 113 Tabela 39. Geração de Novas Cultivares pelas Instituições de P&D de Mato Grosso............................... 115 Tabela 40. Programas de Incentivo à Cultura do Algodão em Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul

e Bahia....................................................................................................................................... 121

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Índice Pluviométrico em Mato Grosso e Ciclo Produtivo do Algodão......................................... 31

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13

INTRODUÇÃO

Diversos estudos tem discutido amplamente a crise da cotonicultura brasileira no

início da década de 1990 e a sua posterior reestruturação produtiva e espacial a partir de 1998.

Uma das grandes questões refere-se à repulsão da cultura cotonícola das regiões produtoras

tradicionais, que incluem diversos estados nordestinos, além de São Paulo e Paraná, e a

atração do cultivo desta cultura para a sua mais nova fronteira, a região de Cerrado no

Planalto Central Brasileiro. O argumento desta reestruturação espacial reside principalmente

na busca de se elevar as economias de escala, reduzir os custos unitários e melhorar a

qualidade das fibras têxteis, com base na utilização de um pacote tecnológico de difícil

aplicação nas regiões tradicionais.

Muitas variáveis agiram sobrepostas para que a cotonicultura pudesse ingressar em um

novo ciclo de crescimento. Mudanças ocorridas nas políticas agrícola, fiscal e cambial, de

cunho macroeconômico adotadas pelo Governo Federal, engendraram um ambiente propício

para a alocação de recursos na produção cotonícola em todas as unidades federativas do

Brasil. Porém, o deslocamento da produção para a região Centro-Oeste foi estimulado

também, além das políticas públicas, por fatores técnicos de produção, que garantiram

vantagens competitivas do algodão produzido na nova fronteira se comparado ao algodão

produzido nas regiões tradicionais.

Na safra de 2001, aproximadamente 71% da produção nacional estava localizada nos

três estados de Centro-Oeste - Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. As condições

naturais de clima, solo e relevo somadas à concentração fundiária podem explicar, a priori,

porque deste efeito-substituição entre as antigas regiões produtoras e a região central do

Brasil. Contudo, ainda pouco se tem discutido o porquê do estado de Mato Grosso concentrar

mais de 50% da safra nacional de algodão herbáceo. Alguns pesquisadores sugerem que o

sucesso da concentração cotonícola em solo mato-grossense estaria relacionado a incentivos

de ordem puramente fiscal. O programa de redução de ICMS (Imposto Sobre Circulação de

Mercadorias e Serviços) criado pelo Governo do Estado de Mato Grosso seria o único fator

explicativo da convergência da produção de algodão naquele estado.

A hipótese de que somente incentivos fiscais poderiam fomentar a afluência de uma

produção específica em um espaço delimitado é demasiado simplista e se apóia nas clássicas

abordagens de crescimento regional do tipo causa-efeito. Visando fugir destes modelos

explicativos geralmente baseados na econometria - com relações bem comportadas e

parâmetros ex ante definidos, modelos que comumente são utilizados pela ortodoxia

Page 15: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

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econômica -, buscou-se neste trabalho utilizar um referencial histórico, não determinista e

holístico para analisar o processo de desenvolvimento dos diversos espaços econômicos, num

processo dinâmico, baseado em fontes internas e externas e em ações complexas dos agentes

envolvidos.

Este referencial teórico surgiu a partir das constatações de que os modelos

neoclássicos tradicionais não logravam êxito em elucidar as assimetrias de crescimento e

desenvolvimento econômico entre os diversos espaços do globo. A metodologia

fundamentada em axiomas e relações rígidas entre as variáveis impossibilitava uma

explicação fidedigna dos fenômenos. Assim, neste trabalho se faz uso da Teoria do

Desenvolvimento Endógeno que, apesar de não possuir a elegância formal dos modelos

neoclássicos, procura encontrar as relações verídicas dos fatos socialmente construídos na

explicação do desenvolvimento regional. Aqui, a ação de grupos endógenos ganha papel de

destaque na determinação das políticas públicas e da formação dos arranjos produtivos

regionais. São, a rigor, os agentes locais que definem quais serão as suas trajetórias produtivas

e sociais.

A partir do exposto, a análise das variáveis que agiram de forma direta sobre a

concentração da produção cotonícola em Mato Grosso expressa o objetivo geral deste

trabalho. Os objetivos específicos são representados pelo estudo das posições da iniciativa

privada, do Governo do Estado e das instituições de P&D no processo de convergência da

produção cotonícola em Mato Grosso durante a década de 1990.

A metodologia utilizada para responder aos objetivos se dividiram em pesquisa direta

e indireta. A pesquisa indireta incluiu a consulta a diversas publicações de pesquisadores

brasileiros e instituições de pesquisa sediadas em Mato Grosso, tais como Fundação MT

(Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso), IPA-PARECIS (Instituto de

Pesquisa Agroambiental do Parecis), Fundação Rio Verde (Fundação de Apoio a Pesquisa e

Desenvolvimento Integrado Rio Verde), FUNDAPER (Fundação de Apoio a Pesquisa e

Extensão Rural), Fundação Centro-Oeste (Fundação Centro-Oeste de Pesquisa) e EMBRAPA

(Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

Além destas, publicações de instituições de representação empresarial como a AMPA

(Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão) também foram utilizadas. Relatórios

de instituições públicas também foram alvo de pesquisa indireta, principalmente da SAAF-

MT (Secretaria de Estado de Agricultura e Assuntos Fundiários de Mato Grosso), SICM-MT

(Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Mineração de Mato Grosso) e SEPLAN-MT

(Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral de Mato Grosso). Por fim, foi

Page 16: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

15

consultado o acervo da biblioteca pública do FACUAL (Fundo de Apoio a Cultura do

Algodão), um organismo de fomento à pesquisa e desenvolvimento da cotonicultura mato-

grossense.

A pesquisa direta foi realizada em cinco instituições de Mato Grosso que se

apresentaram como estratégicas na coleta de informações relevantes: i) EMBRAPA;

ii) Fundação MT; iii) SAAF-MT; iv) AMPA; e v) FACUAL. A EMBRAPA e a Fundação MT

disponibilizaram dados relativos ao histórico do desenvolvimento tecnológico da

cotonicultura em Mato Grosso durante a década de 1990. A SAAF-MT disponibilizou as

informações relativas ao incentivo fiscal e ao papel de indutor do crescimento adotado pelo

Governo do Estado. Na AMPA, pôde-se captar as formas de organização e cooperação em

prol da eficiência coletiva dos cotonicultores. Mas, foi no FACUAL que foram coletadas as

principais informações acerca do fenômeno. Por ser administrado por agentes públicos e

privados e ser o seu objetivo financiar projetos de pesquisa tecnológica, foi nesta instituição

que pôde-se perceber um ambiente propício à formação de um arranjo produtivo regional,

baseado na cooperação institucional pública e privada em busca de soluções conjuntas.

O trabalho foi divido em quatro capítulos. O capítulo 1 versa sobre a produção de

algodão no mundo e no Brasil, bem como discute a crise do setor durante a década de 1990 e

os fatores atualmente aceitos da migração da cotonicultura para a região de Cerrado no Brasil.

O capítulo 2 procura demonstrar a falência do modelo de desenvolvimento do "topo para a

base". Neste capítulo a Teoria do Desenvolvimento Endógeno será amplamente discutida,

apresentando um novo paradigma para o desenvolvimento regional, pautado agora em um

movimento de "baixo para cima", onde os agentes locais passam a decidir quais serão os

arranjos produtivos e as estratégias para superar os desafios da competição global.

O capítulo 3 destaca os principais fatos que permitiram a gênese, a expansão e a

concentração da cotonicultura brasileira em Mato Grosso, evidenciando o papel relevante da

geração de tecnologia local, do acúmulo e difusão do conhecimento técnico no espaço

regional, o papel do Governo Regional como indutor do desenvolvimento e também a

cooperação entre os cotonicultores em busca da eficiência coletiva. No capítulo 4 procura-se

debater sobre a instabilidade desta atividade produtiva e a atitude dos grupos endógenos em

manter suas posições relativas de mercado. Imersa na globalização produtiva, somente as

políticas públicas não poderão proteger a cotonicultura regional da competição internacional.

Nesta nova ordem mundial, somente inversões em tecnologia e a elevação da cooperação

entre as instituições poderão manter as vantagens competitivas do algodão mato-grossense em

um futuro próximo.

Page 17: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

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CAPÍTULO 1

A PRODUÇÃO DE ALGODÃO NO MUNDO E NO BRASIL

1.1 Características da Produção de Algodão no Mundo

O algodoeiro é uma planta da família das malváceas, do gênero Gossipium. O homem

se utiliza de dois produtos principais derivados desta planta, a semente e a fibra. A semente

representa aproximadamente 64% e a fibra 36% do peso total do capulho. A fibra se apresenta

como o principal produto econômico, cabendo à semente um interesse secundário. A fibra

derivada do algodão pode ser empregada em confecção de fios, tecidos, algodão hidrófilo,

feltro, cobertores, estofamentos, celulose, películas fotográficas e chapas para radiografias

entre outros. Da semente utiliza-se o óleo para alimentação humana e sabão e o bagaço para

alimentação de animais ruminantes [(CARVALHO, 1996); (RICHETTI & MELO FILHO,

2001)].

Dentre as fibras vegetais, a do algodão é a mais cultivada e utilizada pelo homem. Para

Carvalho (CARVALHO, 1996), a razão de sua importância reside em algumas notáveis

características de sua fibra: i) por ser celulose na sua forma quase pura, suporta aquecimento a

altas temperaturas, o que não ocorre com as fibras sintéticas; ii) é resistente aos esforços de

lavagem manual e mecânica; iii) é 25% mais resistente quando está molhada do que quando

seca; iv) tem particularidade de agasalhar e aquecer o corpo humano no inverno; e v) é fresca

no verão, sendo apropriada para o uso em climas quentes. Ainda segundo Barbosa

(BARBOSA et al., 1997), a fibra de algodão apresenta múltiplas e variadas aplicações,

proporcionando aos tecidos características dificilmente imitáveis pelos fios sintéticos, como

maciez, leveza, absorvência e frescor.

Devido à sua pouca exigência em solo e clima, o algodoeiro pode ser produzido em

praticamente todos os continentes do mundo. Historicamente, a utilização do algodão pelo

homem é conhecida desde a antigüidade. Fragmentos de tecidos feitos com a fibra do algodão

foram encontrados na Índia e no Norte do Peru, sendo que as idades dos fragmentos foram

estimadas em 4000 a.C. e 2500 a.C. respectivamente. Já no ano 1500 a.C. na Índia, o cultivo

do algodão já estava organizado especificamente para a fabricação de tecidos [(CARVALHO,

1996); (ABA, 2001)].

Page 18: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

17

As principais hipóteses indicam que a origem da utilização da fibra do algodoeiro pelo

homem se deu na Índia, de onde se expandiu para Paquistão, Tailândia, China, Irã, Síria,

Turquia e Grécia. Nos séculos IX e X, os árabes disseminaram o cultivo do algodão pelas

regiões mediterrâneas. Dentre as principais regiões produtoras, a Sicília e a Espanha se

destacavam. A Espanha utilizou largamente velas fabricadas de algodão em seus navios,

quando do período das navegações e descobertas durante os séculos XV e XVI

(CARVALHO, 1996).

Na América, as hipóteses atuais indicam que as regiões que abrangem México,

Guatemala e Peru foram os pioneiros na utilização desta fibra natural. Sua utilização se

expandiu para as atuais regiões de El Salvador, Nicarágua, Colômbia, Brasil e Argentina. Os

povos Incas e Maias do Peru, os Astecas do México e as diversas tribos indígenas do Brasil

cultivavam o algodoeiro, fiavam sua fibra, teciam roupas, mantas, tapeçarias, bordados e

cordas, antes mesmo da chegada dos europeus à América (CARVALHO, 1996).

Porém, o grande impulso da cotonicultura a nível mundial se deu a partir da invenção

da máquina de fiar por Arkwright e do tear mecânico por Cartwright, na segunda metade do

século XVIII - na Inglaterra - bem como do descaroçador mecânico por Eli Whitney em 1793,

nos EUA. Esta ruptura tecnológica criou a possibilidade de utilização mais efetiva do algodão

pela nascente indústria têxtil. Gerou também uma competição entre a fibra de algodão e a lã,

visto que até aquele momento, a lã representava a principal fonte de fibras naturais na Europa.

Desde então, o consumo de algodão cresceu no mercado internacional e os Estados Unidos da

América se tornaram os maiores produtores e fornecedores desta fibra durante os séculos

XVIII e XIX [(CARVALHO, 1996); (ABA, 2001)].

Ainda durante o século XIX, o algodão já havia se tornado a principal fibra utilizada

pelo homem. No início do século XX, a participação do algodão já havia chegado a 85% e a

lã reduzida a 15% do total de fibras utilizadas pela indústria têxtil global. Contudo, no

decorrer deste último século, surge uma importante concorrente para a fibra de algodão, a

fibra química derivada do petróleo. A partir de 1940 as fibras químicas passam a ocupar

gradativamente o espaço do algodão. Como pode ser visto na Tabela 1, as fibras de origem

química representavam apenas 0,2% da produção total em 1920, saltando para 46% em 1990

e alcançando 56% em 1998. A participação do algodão, por sua vez, recuou de 85% em 1920

para 49% em 1990 e 40% em 1998. Em 1998, a lã representava apenas 4% do consumo total

de fibras pelo setor industrial1 [(FREIRE et. al., 1997); (ABA, 2001)]. 1 No caso específico do Brasil, as fibras de algodão representam entre 75 e 80% do total de consumo da indústria têxtil [(ROLIM, 1997); (RICHETTI & MELO FILHO, 2001)].

Page 19: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

18

Tabela 1. Produção Mundial de Fibras Têxteis e Respectivas Percentagens de Participação Total Anos Selecionados (em milhões de toneladas)

Ano Lã % Algodão % Químicas %

1920 0,8 14,8 4,6 85 0,015 0,2

1940 1,1 12 6,9 76 1,1 12

1950 1,1 12 6,6 70 1,7 18

1960 1,5 10 10,3 68 3,3 22

1970 1,6 7 11,8 55 8,1 38

1980 1,6 5 14,0 48 13,7 47

1990 2,0 5 18,7 49 17,7 46

1998 2,0 4 20,2 40 28,5 56

FONTE: Fundação MT/ Textile Organon, citado em Freire et al., 1997.

Apesar da perda de importância relativa da fibra do algodão utilizada pelas indústrias

têxteis e da estabilização da produção durante a década de 1990 em um intervalo entre 17 e

20 milhões toneladas, os países que possuem uma indústria têxtil competitiva - China, Estados

Unidos e Índia - mantêm, estrategicamente grandes produções de algodão, garantindo a oferta

de matéria-prima relativamente desatreladas do comércio internacional (BESEN et. al., 1997).

Em adição, pode-se mencionar ainda que as culturas agrícolas das fibras naturais possuem a

característica de serem geridas de forma sustentável, garantindo-se como recursos naturais

renováveis. As fibras sintéticas, por serem derivadas do petróleo, constituem recursos naturais

finitos. Na Tabela 2 pode-se visualizar os dez principais produtores e a produção agregada

mundial de algodão.

Pode-se perceber que China, EUA, Índia e Paquistão são os grandes produtores

mundiais, com uma larga vantagem sobre Uzbequistão, Turquia, Brasil, Austrália e todos os

demais produtores. Contudo, a análise da Tabela 2 torna-se mais interessante se conjugada

com a Tabela 3, que apresenta a produtividade dos principais países produtores de algodão.

Nota-se que países como Israel, Espanha e México, que sequer figuram entre os dez maiores

produtores, mantêm elevados níveis de produtividade, muito acima da média mundial, com

destaque para Israel. Outro fato interessante é a expressiva elevação da produtividade

brasileira, que se apresentava abaixo da média mundial no período 1992-98, mas que a partir

de 1999 se eleva substancialmente acima da média, alcançando a 6.ª (sexta) melhor

produtividade mundial no ano de 2001. Não se observa em nenhum outro país tamanha

elevação de produtividade em um período tão curto de tempo.

Page 20: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

19

Tabela 2. Produção Mundial de Algodão em Pluma* (Dez Principais Países) - 1992 a 2001 (em ton.) 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

China 5.672 4.510 3.739 4.342 4.768 4.203 4.602 4.501 3.829 4.420

EUA 3.835 3.531 3.513 4.281 3.897 4.124 4.092 3.030 3.694 3.742

Índia 2.053 2.380 2.095 2.355 2.885 3.024 2.686 2.805 2.652 2.384

Paquistão 2.180 1.539 1.367 1.478 1.801 1.594 1.561 1.480 1.700 1.750

Uzbequistão 1.443 1.306 1.358 1.248 1.254 1.062 1.139 1.000 1.128 963

Turquia 561 574 602 628 851 784 383 871 791 880

Brasil 667 420 484 537 410 306 412 521 700 861

Austrália 502 373 329 335 429 613 689 726 741 704

Grécia 207 243 316 389 443 301 348 390 428 425

Síria 189 230 212 205 213 270 345 335 306 362

Outros 3.473 2.833 2.848 2.983 3.406 3.332 3.787 3.048 2.900 2.760

Total 20.712 17.939 16.863 18.781 20.357 19.613 20.044 18.707 18.869 19.251

FONTE: ICAC, 2001a. *Observação: o algodão em pluma representa aproximadamente 36% do peso total da produção de algodão, sendo que os 64% restantes representam o peso das sementes.

Ademais, dos quatro principais países produtores, somente a China mantêm níveis de

produtividade muito acima da média mundial. Tanto EUA, quanto Uzbequistão e Paquistão

estão estacionados em um nível de produtividade pouco acima da média. O grande destaque

negativo fica por conta da Índia, mesmo com a terceira maior produção mundial, este país

mantêm uma produtividade muito abaixo da média global.

Se se considera que a produtividade agrícola está relacionada com a qualidade do solo

e com o nível tecnológico utilizado na atividade produtiva, Síria, Austrália, Turquia, China,

Brasil e Grécia - dentre os dez maiores produtores - são os países que estão conseguindo êxito

em combinar terra e tecnologia, alcançando níveis de produtividade bastante acima da média.

Contudo, EUA, Uzbequistão e Paquistão não estão conseguindo uma boa combinação de terra

e tecnologia que lhes garanta uma produtividade em níveis elevados. A Índia, por sua vez,

apresenta um quadro de baixa eficiência na combinação dos insumos de produção,

provavelmente produzindo com baixa utilização de tecnologia.

Visualizando as Tabelas 2 e 3, percebe-se que a produção mundial de algodão cresceu

em 0,54 milhão de toneladas no triênio 1999-2001, bem como a produtividade se elevou de

568 kg./ha. para 611 Kg/ha., no mesmo triênio. Este movimento parece incompatível com a

queda dos preços registrada durante a segunda metade dos anos 1990. O Índice Cotlook A2

2 Índice internacional que se refere ao preço do algodão em pluma posto no Norte da Europa, CIF. É calculado por uma média das cinco menores cotações entre uma seleção de algodões de 15 procedências diferentes, do tipo Middling 1-3/32" (FERREIRA FILHO, 2001).

Page 21: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

20

atingiu a média de 80 centavos de dólar por libra-peso no período 1993-973, caindo para 53

centavos por libra na safra 1999/2000, recuperando-se na safra 2000/2001 para 57 centavos

por libra e recuando novamente para 50 centavos de dólar por libra em 2001/2002. A previsão

de preços para a safra 2002/2003 é de uma média de 51 centavos por libra. Quatro fatores

parecem estar promovendo os aumentos na produção mundial, apesar da tendência de queda

dos preços: i) geração e incorporação de novas tecnologias, elevando a produtividade; ii)

fortalecimento do dólar norte-americano em relação às moedas de outros países; iii)

desenvolvimento de uma nova superfície dedicada ao cultivo de algodão; e iv) políticas de

incentivo adotadas por governos (BECERRA, 2001).

Tabela 3. Produtividade Mundial de Algodão em Pluma (Principais Países) - 1992 a 2001 (em kg/ha.) 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Israel 1.720 1.667 1.723 1.476 1.779 1.810 1.845 1.701 1.618 1.658

Síria 1.086 1.150 1.087 1.079 1.044 1.233 1.377 1.558 1.259 1.414

Austrália 1.781 1.424 1.317 1.603 1.411 1.580 1.611 1.316 1.684 1.407

Turquia 938 900 1.061 1.080 1.148 1.055 1.165 1.153 1.100 1.319

China 867 660 750 785 879 890 1.016 1.059 1.028 1.096

Brasil 338 329 391 437 430 465 470 750 850 1.049

Espanha 1.058 927 1.001 1.169 1.056 1.165 1.078 1.034 1.222 1.039

Grécia 890 729 888 1.016 997 704 890 958 995 1.037

México 713 697 719 638 667 954 1.042 924 893 1.008

Egito 815 1.012 1.119 841 810 894 948 693 858 926

EUA 731 783 679 794 602 792 762 702 680 708

Uzbequistão 839 783 810 816 837 714 768 647 752 668

Paquistão 769 543 487 557 601 506 528 489 583 601

Índia 267 316 286 300 318 330 304 302 310 293

Mundial 598 555 554 584 568 575 594 568 593 611

FONTE: ICAC, 2001a.

1.2 O Complexo Produtivo do Algodão no Brasil

A agricultura brasileira experimentou durante a década de 1990 diversas

transformações estruturais, em função direta de um mosaico de variáveis que agiram

sobrepostas, tanto favorável quanto desfavoravelmente. Para Homem de Melo (HOMEM DE

3 A média de preços do período 1975-2000 foi de 72 centavos de dólar por libra (BECERRA, 2001).

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21

MELO, 1999), as elevadas taxas de juros reais4, seguidas pela forte valorização da taxa de

câmbio real5, as excessivas reduções das tarifas de importação de produtos agrícolas6 -

sobretudo em relação a algodão e leite -, a importação financiada de produtos agrícolas e as

baixas taxas de crescimento da demanda interna agiram negativamente sobre a alocação de

recursos na agricultura brasileira. Além destas, Suzuki Junior (SUZUKI JUNIOR, 2000)

menciona como variável negativa à expansão da agricultura no Brasil a redução dos recursos

para financiamento agrícola do Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR), que declinaram

de R$32,4 bilhões/ano na década de 1980 para R$12,6 bilhões/ano no período 1990-98.

Porém, um outro grupo de variáveis agiram de forma positiva sobre a agricultura, como a

melhoria das cotações internacionais de produtos agrícolas, as reduções dos preços reais de

insumos agrícolas, o aumento expressivo do índice de produtividade da terra e as

modificações de políticas econômica e agrícola.

Dentro do contexto maior da agricultura brasileira, está inserida o Complexo

Produtivo do Algodão7, que, seguindo a trajetória descrita anteriormente, tem passado durante

a década de 1990 por profundas transformações de ordem tecnológica, gerencial e logística.

Tal fato se deve pelo reconhecimento da defasagem tecnológica da indústria têxtil - o

principal vetor de crescimento do Complexo Produtivo do Algodão -, considerado um dos

parques industriais mais atrasados do mundo. Esta inferioridade tecnológica ficou latente

durante a década de 1980, quando as empresas têxteis brasileiras conseguiam competir, no

máximo, com seus vizinhos sul-americanos. Visando mudar este panorama e melhorar a

competitividade da indústria têxtil, o Governo Federal, ao final da década de 1980, tomou

uma série de medidas na busca da modernização das máquinas daquele setor, por reconhecer

4 A taxa de juro real (r) é a diferença entre a taxa de juro nominal (i) e a inflação (π), sendo dada por: r = i - π (GÓES, 2000). 5 A política cambial adotada por um país pode determinar diretamente o resultado de suas transações correntes com o exterior. Denomina-se regime cambial o processo pelo qual é determinada a taxa de câmbio de um país. A taxa de câmbio nominal pode ser conceituada como sendo o preço em moeda nacional de uma unidade monetária estrangeira tomada como referência. Já a taxa de câmbio real incorpora o deflator de preços, ou seja, considera a variação de preços entre os países [(DORNBUSCH & FISCHER, 1991); (ALMEIDA & BACHA, 1999); (BLANCHARD, 1999)]. Contudo, mais importante do que uma simples relação de preços é a produtividade e a capacidade de concorrência, que estão intimamente ligados a fatores institucionais, tais como sistema tributário, tecnologia, mão-de-obra, infra-estrutura, entre outros (SILVA, 2001). 6 O processo de reforma tarifária no Brasil se iniciou em 1988, depois de trinta anos de vigência da Lei de Tarifas de 1957. A política de abertura comercial do Governo Federal definiu uma trajetória decrescente para as taxas sobre produtos importados, trajetória esta que se intensificou muito a partir de 1990. A política de fechamento comercial, apesar de garantir a sobrevivência das empresas nacionais, não criou incentivos à modernização do parque produtivo, da elevação da produtividade e da difusão do progresso técnico. Além da superação do atraso tecnológico, a abertura da economia brasileira visava também o controle de uma inflação crônica observada desde a década de 1970 [(BAER, 1996); (BAUMANN et al., 1998); (SILVA, 2001)]. 7 Compreende a cotonicultura, indústria beneficiadora, fiadora, têxtil, vestuário, calçados e artefatos de pano.

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22

que a adoção de novas tecnologias seriam fundamentais para a sobrevivência do Complexo

Produtivo do Algodão [(FREIRE et. al., 1997); (FERREIRA FILHO, 2001)] .

Desta forma, o governo brasileiro reduziu a alíquota de impostos sobre a importação

de máquinas para estimular a adoção de uma nova tecnologia têxtil, o que gerou uma

expansão das importações de máquinas pelas indústrias brasileiras [(GORINI & MARTINS,

1998), (Tabela 4)]. Na Tabela 5 pode-se perceber os resultados diretos da redução de

impostos sobre a importação de maquinário, onde a idade média dos equipamentos se reduziu,

principalmente nos primeiros elos do complexo, o beneficiamento da pluma e a sua posterior

fiação.

Como o governo esperava um crescimento substancial da produção de vestuários e

calçados e as novas máquinas exigiam como matéria-prima um algodão de qualidade superior

ao produzido no Brasil8, o imposto sobre importação de algodão em pluma foi reduzido de

55% em 1988 para 10% em 1989 e 0% de 1990 em diante. Tal medida visava garantir um

farto abastecimento de algodão de qualidade e a preços competitivos para uma renovada e

pujante indústria beneficiadora de fibras naturais [(ROLIM, 1997); (BACCARIN, 2001)].

Entretanto, somada à redução das tarifas de importação sobre o algodão em pluma,

pelo menos três variáveis agiram direta e simultaneamente sobre o Complexo Produtivo do

Algodão: i) fortes subsídios praticados pelo Governo dos Estados Unidos da América (EUA)

sobre o algodão, alterando os mecanismos de formação de preços daquele país, garantindo a

competitividade do algodão norte-americano no mercado internacional; ii) a entrada no Brasil,

a partir de 1990, de grandes trading companies - principalmente norte-americanas e européias

- financiando as indústrias têxteis brasileiras na aquisição de algodão em pluma no mercado

internacional, com taxas de juros inferiores às praticadas internamente, aliado a longos prazos

de pagamento (270 a 360 dias); e iii) a sobre valorização cambial da moeda brasileira frente

ao dólar norte-americano a partir de 1988 [(GONÇALVES, 1997); (ALMEIDA & BACHA,

1999)].

8 Um dos pontos mais críticos para garantir a qualidade do algodão refere-se ao ato da colheita. Nas pequenas e médias propriedades na Região Meridional, que nasceram após a crise de 1929, se observava a colheita no sistema de "panha maçã a maçã", realizada exclusivamente pela mão-de-obra familiar, que garantia uma alta qualidade à fibra do algodão. Contudo, as modificações ocorridas no agro brasileiro, principalmente após a década de 1960, com a forte urbanização, a concentração fundiária e o desmantelamento das colônias agrícolas, a colheita do algodão passou a depender da contratação sazonal dos bóias-frias. Nesta nova realidade, com mão-de-obra mais escassa e de custo cada vez mais elevado, o sistema de "panha maçã a maçã" foi substituído pelo sistema de "rapa", em que a produtividade por trabalhador cresce, porém a qualidade da fibra do algodão torna-se muito inferior ao antigo sistema de colheita. Na década de 1980, o sistema de "rapa" estava amplamente disseminado na cotonicultura brasileira, onde a fibra produzida era de qualidade inferior (GONÇALVES, 1997).

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23

Tabela 4. Importações Brasileiras de Máquinas Têxteis - 1989-2000 (em US$1.000,00) Máquinas 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998

Máq. Para extrudar, estirar, cortar materiais têxteis sintéticos ou artificiais

2.748 24.869 16.092 27.141 20.576 25.369 27.428 46.239 32.669 15.916

Máquinas para fiação 58.251 80.606 55.748 34.080 43.140 80.369 109.227 95.954 125.991 83.937

Teares para tecidos 43.920 55.313 30.519 33.911 30.729 79.785 99.623 51.515 72.504 47.513

Teares para fabricar malhas 43.060 69.111 61.250 34.230 56.005 99.520 152.874 76.886 93.445 86.189

Máquinas e equip. auxiliares 67.384 78.593 68.343 50.407 63.981 157.374 85.926 66.946 60.217 56.685

Máquinas para fab. de feltro 2.560 5.236 4.684 2.734 4.225 11.546 24.371 9.255 3.218 20.192

Máquinas de lavar roupas 1.912 234 278 893 1.182 4.285 11.314 22.748 23.665 11.574

Máquinas para lavar, limpar, espremer, passar, tingir, etc. 11.236 13.256 22.242 24.282 36.560 50.832 77.453 55.265 77.191 72.131

Máquinas de costura 38.660 49.822 83.299 42.913 80.955 101.914 150.391 92.885 98.126 73.682

Total 269.731 377.040 342.455 250.591 337.353 611.021 738.606 517.694 587.027 467.879

FONTE: SECEX - MDIC, elaborada por ABIT, 2002a.

Tabela 5. Idade Média dos Equipamentos Têxteis no Brasil – 1990/1996/1997 Segmentos/anos 1990 1996 1997 Beneficiamento 12,11 4,50 5,07 Fiação 12,43 7,94 8,23 Tecelagem 12,77 11,63 10,98 Malharia 11,20 10,52 11,03

Fonte: ABIT/Sinditêxtil, citado em Massuda, 2002.

Desta forma, a facilidade de importação de algodão em pluma a preços inferiores aos

produzidos no Brasil - em função das quatro variáveis mencionadas -, a estratégia de

acumulação de capital pelas indústrias têxteis engendrou a elevação das importações de

algodão a partir de 1989. Além do preço, a qualidade superior do algodão importado,

condizente com o padrão internacional relativo a tipo, comprimento, finura, resistência e

uniformidade das fibras, levou as indústrias do complexo produtivo a preferir adquirir o

algodão no mercado internacional [(BARBOSA et al., 1997); (ROLIM, 1997)]. A crescente

evolução das importações de algodão em pluma pode ser vista na Tabela 6. Segue-se neste

movimento que o Brasil se transformaria durante a década de 1990 de grande país exportador

a maior importador mundial de algodão em pluma [(GONÇALVES, 1997); (ICAC, 2001b)].

O reflexo deste fenômeno foi imediatamente sentido pelos cotonicultores brasileiros,

obrigados a reduzir a área plantada e conseqüentemente a produção total de algodão dada a

redução da demanda pelo algodão nacional. Nota-se que a produção de algodão após atingir o

pico em 1985, reduz-se nos anos seguintes. Em 1993 a produção foi aproximadamente 50%

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24

menor do que em 1988. As importações cresceram e alcançaram seu pico em 1993 [(ROLIM,

1997); (BACCARIN, 2001)].

Tabela 6. Evolução do Suprimento de Algodão em Pluma no Brasil - 1980-2001 (em 1000 toneladas)

Safra Produção Importação Exportação Consumo

1980 577,0 0,0 9,0 572,0

1981 594,4 2,0 30,8 561,0

1982 680,5 0,0 56,5 580,6

1983 586,3 2,4 180,2 556,7

1984 674,5 7,8 32,3 555,2

1985 968,8 20,5 86,6 631,4

1986 793,4 67,4 36,6 736,6

1987 633,4 30,0 174,0 774,7

1988 863,6 81,0 35,0 838,0

1989 709,3 132,1 160,0 810,0

1990 665,7 86,0 110,5 730,0

1991 717,0 105,9 124,3 700,0

1992 667,1 167,8 33,8 748,0

1993 420,2 508,5 8,3 829,5

1994 483,1 330,0 8,0 850,0

1995 594,1 320,0 13,0 900,0

1996 410,1 472,0 1,6 829,1

1997 305,7 438,5 0,3 798,7

1998 411,0 334,4 3,1 782,9

1999 520,1 280,3 3,9 849,5

2000 700,3 300,0 30,0 910,0

2001 861,8 190,0 120,0 930,0

FONTE: CONAB, 2002.

A partir de julho de 1994, com a implantação do Plano Real, se verificou uma tímida

recuperação da cotonicultura. Apesar do câmbio valorizado da moeda nacional em relação às

moedas estrangeiras, fato que poderia estimular importações mais baratas, as compras no

exterior de algodão em pluma em 1994 e 1995 decrescem em relação a 1993. A produção

interna inicialmente se recupera no biênio 1994/95 em função do boom inicial gerado pelo

Plano Real. Porém, com o principio de recessão da economia a partir de 1996, a produção de

algodão sofreu uma considerável queda no biênio 1996/97, sendo que as importações

voltaram a se elevar neste último período (RICHETTI & MELO FILHO, 2001).

O momento era extremamente complexo para a cotonicultura brasileira. A produção

de algodão estava desorganizada, as importações cresciam e o saldo da Balança Comercial do

setor têxtil se apresentou deficitário em mais de US$1 bilhão no período 1996-97. O

Page 26: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

25

reconhecimento de que a cotonicultura no Brasil não estava acompanhando o movimento de

expansão registrado nos demais países produtores sugeria que as forças de mercado não

estavam afetando a produção interna. Assim, as políticas públicas estariam por trás do fraco

desempenho do setor verificado a partir de 1993, bem como das políticas públicas dependia a

expansão futura da cotonicultura (IEL et al., 2000).

O Governo Federal tomou algumas medidas para garantir ao setor sua sobrevivência,

pois admitiu-se que a manutenção de uma cotonicultura forte, dinâmica e inovadora

representaria uma importante estratégia para garantir competitividade da indústria têxtil em

um mercado globalizado, reduzindo - como China, EUA e Índia - a dependência da

importação de insumos básicos (FREIRE et al., 1997). Assim, a partir de 1998 há um

importante ponto de inflexão na cotonicultura brasileira, onde a produção total volta a se

elevar. O impulso à elevação da produção interna e a redução das importações de algodão

podem estar diretamente relacionados a algumas mudanças ocorridas nas políticas públicas no

biênio 1996-97:

i) Promulgação da Lei Complementar n.º 87, de 13/09/1996, conhecida como Lei Kandir, que

isentou do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) os produtos primários e

semi-elaborados com destino à exportação. Em média, os produtos agrícolas brasileiros

alcançaram uma desvalorização fiscal em torno de 10%, ganhando competitividade no

mercado internacional (KUME & PIANI, 1997);

ii) Promulgação da Lei n.º 9.456/97, a chamada Lei de Proteção de Cultivares, que integrou o

Brasil ao grupo de países da União Internacional para a Proteção de Obtenções Cultivares

(UPOV). O objetivo principal da UPOV é fomentar o desenvolvimento continuado de novas

variedades para os agricultores. Antes desta lei, a quase totalidade dos investimentos em

melhoramento genético do algodoeiro era praticada por instituições estatais (IAC, Iapar,

Epamig, Embrapa, UFV, UFCE). Após a lei, várias empresas privadas nacionais e

internacionais passaram a desenvolver ou adaptar cultivares próprias ou linhagens

promissoras no Centro-Oeste brasileiro. Desta forma, esta lei potencializou as empresas

estrangeiras a trazerem para o Brasil seus programas de pesquisa em genética e melhoramento

do algodão [(CARRARO, 2001); (FREIRE & FARIAS, 2001)];

iii) Edição da Medida Provisória n.º 1.569 de 25/03/1997, que, sem proibir as importações a

prazo, determinou o pagamento à vista das aquisições externas com prazos inferiores a 360

dias, prazo então predominante nas importações de algodão no Brasil. Esta Medida Provisória

visava reduzir o financiamento externo das importações, dentre os quais, o algodão em pluma.

O resultado imediato desta MP foi a queda das importações financiadas pelas trading

Page 27: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

26

companies já a partir de 1998. A importância desta medida residia no elevado nível de

financiamentos externos, pois no ano de 1995, 83% do algodão importado foi financiado pelas

trading companies [(BESEN et al. 1997); (GONÇALVES, 1997); (REZENDE et al., 1997);

(REZENDE & NONNENBERG, 1998); (MELO FILHO et al., 2001)];

iv) Alteração das alíquotas de importação de algodão em pluma, que permaneceram ao nível

de 0% no período 1989-1994, sendo alteradas para 1% em 1995, 3% no biênio 1996-97, 6%

em 1998, 8% no biênio 1999-2000 e retornando para 6% em 2001 (IEL et al., 2000); e

v) Incentivos à expansão da cotonicultura por parte de Governos Estaduais. Alguns estados

criaram programas específicos para a produção cotonícola, com redução de impostos e

incentivo ao desenvolvimento tecnológico. Em Mato Grosso foi instituído o Programa de

Incentivo à Cultura do Algodão de Mato Grosso - PROALMAT. Em Goiás, foi instituído o

Programa de Incentivo ao Produtor de Algodão - PROALGO. Em Mato Grosso do Sul, foi

criado o Programa de Desenvolvimento da Produção Agropecuária - PDAGRO [(MATO

GROSSO, 1997); (GOIÁS, 1999); (MATO GROSSO DO SUL, 1999); (IEL et al., 2000);

(SUZUKI JUNIOR, 2001)].

Além disso, a desvalorização cambial ocorrida em março de 1999 - tornando as

importações relativamente mais caras - veio a reforçar a expansão da produção interna para

cobrir a redução das importações de algodão em pluma, que no período de 1998-2001 se

retraíram em 144,4 mil toneladas. Além disso, a desvalorização cambial facilitou as

exportações de produtos das indústrias de vestuário, calçados e artefatos de pano, que

passaram a demandar um volume maior de algodão em pluma.

Claro está que das seis variáveis mencionadas que agiram de forma positiva sobre a

cotonicultura, cinco delas - Lei Kandir, Lei de Proteção de Cultivares, MP n.º 1.569, elevação

das tarifas de importação e desvalorização cambial - geraram impactos iguais em todas as

unidades da federação brasileira, sendo portanto, de caráter macroeconômico. Nenhuma

unidade da federação recebeu destas variáveis um incentivo consideravelmente maior do que

as demais unidades federativas. Elas, em conjunto, podem explicar a retomada do crescimento

da produção agregada de algodão no Brasil. Contudo, provavelmente tem menor poder de

explicação em fenômenos localizados em alguma unidade federativa específica. Fenômenos

específicos devem estar relacionados a outras variáveis, como recursos naturais ou incentivos

de Governos Regionais e Locais.

Assim, refletindo o efeito das variáveis mencionadas, a partir de 1998 a produção

interna de algodão se eleva e no ano de 1999 o consumo interno de algodão alcança os níveis

do início do Plano Real. No ano de 2001 a produção interna alcança o nível de 1988 e ocorre

Page 28: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

27

o maior consumo de algodão em pluma registrado no Brasil. As exportações foram as maiores

desde 1991. Porém, a principal demanda de algodão se deu pelas indústrias nacionais a

jusante da cotonicultura, dado a maior facilidade para exportação de produtos industriais com

base em fibras naturais (AQUINO, 2001).

A elevação da produção interna de algodão representou uma redução da dependência

do mercado externo, com uma importante queda das importações, amortecendo possíveis

oscilações do mercado internacional em relação a preço e oferta de matéria-prima de

qualidade. Além disso, reconduziu o Brasil ao grupo dos países exportadores de algodão

(ICAC, 2001b).

Este novo quadro da cotonicultura brasileira garantiu às indústrias têxteis um

fornecimento de algodão em pluma a preços competitivos e de qualidade internacional. Esta

configuração, aliada a desvalorização da moeda nacional em relação às moedas estrangeiras e

a modernização do parque produtivo têxtil iniciada na década de 1990 criaram um ambiente

de competitividade, onde os produtos industriais brasileiros passaram a ser consumidos no

mercado internacional. Dada esta situação, as exportações de produtos têxteis se elevaram e as

importações de produtos primários foram reduzidas ao final de década de 1990, gerando uma

queda no déficit da Balança Comercial do Setor Têxtil do Brasil entre 1998 e 2000 e um

resultado positivo já no ano de 2001, após seis anos consecutivos de déficit comercial (vide

Tabelas 6 e 7).

Tabela 7. Balança Comercial Têxtil do Brasil - 1990-2001 (em US$ 1.000.000) Ano Exportação Importação Saldo

1990 1.248 463 785

1991 1.382 569 813

1992 1.491 535 956

1993 1.382 1.175 207

1994 1.403 1.323 80

1995 1.441 2.286 (845)

1996 1.292 2.310 (1.018)

1997 1.267 2.416 (1.149)

1998 1.113 1.923 (810)

1999 1.010 1.443 (433)

2000 1.222 1.606 (384)

2001 1.306 1.233 73

FONTE: SECEX - MDIC, elaborada por ABIT, 2002b.

Page 29: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

28

Esta recuperação da cotonicultura brasileira, se olhada de forma mais crítica, apresenta

uma dinâmica diferente da ocorrida no passado. Em primeiro lugar, verifica-se uma elevação

substancial da produtividade a partir de 1998, alcançando níveis internacionais - o que pode

estar ligado à utilização de novas tecnologias e formas de gestão - (Tabela 3). O segundo

aspecto se deve à nova configuração espacial. Analisando-se a Tabela 8, percebe-se uma forte

tendência de concentração da produção de algodão no Centro-Oeste. Interessante notar que

regiões outrora líderes na produção de algodão, como os estados de São Paulo, Paraná e o

Nordeste perdem importância relativa.

Segundo Suzuki Júnior (SUZUKI JUNIOR, 2001), os prováveis motivos que

induziram o deslocamento da cotonicultura em direção ao Centro-Oeste estão relacionados às

condições climáticas, topográficas e fundiárias extremamente favoráveis no Cerrado

Brasileiro.

Tabela 8. Produção de Algodão Herbáceo nos Principais Estados Brasileiros - 1991-2001 (toneladas) Estados 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

MT 73.458 67.862 85.641 91.828 87.458 73.553 78.376 283.812 566.802 908.854 1.250.277

GO 83.650 83.710 94.560 101.368 157.031 173.307 189.744 260.062 278.363 254.476 264.444

MS 90.561 85.119 64.735 77.409 105.791 87.952 56.027 93.229 114.521 127.839 162.778

BA 137.033 103.860 102.359 128.329 76.090 51.740 82.445 41.532 50.085 132.679 155.833

PR 1.024.111 972.804 448.081 422.541 529.977 287.061 113.000 175.490 107.000 124.469 146.389

SP 438.700 397.625 225.000 254.700 311.400 181.200 155.430 217.000 156.585 148.230 145.556

MG 107.000 78.416 70.446 78.398 49.924 55.369 91.863 122.255 81.531 99.743 83.888

CE 35.522 29.414 4.771 62.068 30.531 8.202 15.697 8.594 38.757 65.754 74.167

Outros 51.088 44.267 31.771 134.173 93.324 33.629 38.689 29.957 83.386 145.058 73.335

Total 2.041.123 1.863.077 1.127.364 1.350.814 1.441.526 952.013 821.271 1.231.931 1.477.030 2.007.102 2.356.667

FONTE: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2002.

1.3 Características Edafoclimáticas do Cerrado Brasileiro e a Expansão da

Cotonicultura

O Cerrado Brasileiro - que apresenta uma vegetação semelhante à savana - ocupa uma

área de 2 milhões de quilômetros quadrados na região central do Brasil, abrangendo

principalmente os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal.

Contudo, o Cerrado avança até os estados do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Ceará,

Pernambuco, Pará, Amazonas, Tocantins, Amapá, Rondônia, além do Paraguai [(WALTER,

1986); (RIZZINI, 1997)].

Page 30: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

29

A topografia do Centro-Oeste é variável, porém predominam áreas com relevo plano

ou suavemente ondulado (PRADO, 1996). Especialmente nos chapadões, o ambiente se

apresenta extremamente plano (SÁNCHEZ, 1992). Tal configuração garante a utilização

intensiva de máquinas e implementos na agricultura, de forma muito mais eficiente do que na

região Meridional do Brasil (SECOM, 1999).

Os solos do Cerrado são, em geral, profundos e bem drenados, resultantes da

decomposição de granitos e arenitos do Planalto Central Brasileiro [(WALTER, 1986); (DIAS

et al., 1996)]. Em grande parte, os solos são caracterizados como Latossolos Vermelhos a

Amarelos, submetidos a profundo intemperismo, porém são ácidos e muito pobres em bases

trocáveis, principalmente fósforo, potássio, zinco e boro [(GOODLAND & FERRI, 1979);

(WALTER, 1986)]. Contudo, a capa freática - localizada entre 15 e 18 metros de

profundidade - garante uma constante umidade do solo, que sofre ressecamento de no máximo

2 metros em épocas de forte estiagem (RIZZINI, 1997). Assim, apesar dos solos apresentarem

estoques relativamente baixos de nutrientes, eles possuem uma oferta adequada de umidade

para o crescimento das plantas durante 7-10 meses do ano. Ao longo do Planalto Central, a

maioria dos solos apresentam características muito semelhantes ao exposto (GOODLAND &

FERRI, 1979).

O clima característico do Centro-Oeste é o Tropical (Köppen AW, mas Cwa na região

Sul). A precipitação anual média varia de 1.100 a 1.600 milímetros (MIRANDA et al., 1996).

A distribuição unimodal das chuvas ocorre por uma alternância de maio-outubro com oferta

pluvial extremamente baixa, com 10% do volume total, e uma concentração substancial das

chuvas no período novembro-abril, com 90% do volume total de chuvas [(WALTER, 1986);

(SÁNCHEZ, 1992); (MIRANDA et al., 1996); (RIZZINI, 1997)]. Como o substrato é muito

permeável, grande parte desta água é drenada pelo solo (RIZZINI, 1997).

As temperaturas médias são da ordem de 23-26°C, contudo em regiões de depressão,

podem ocorrer médias ligeiramente superiores a 26°C. As temperaturas máximas ocorrem no

período outubro-março e as temperaturas mínimas no período abril-setembro. Em geral, nos

meses de maio e junho a região apresenta céu limpo. A nebulosidade aumenta

progressivamente, alcançando condições máximas de novembro a fevereiro. Pode-se dizer

que há uma certa regularidade no comportamento climático da região (SÁNCHEZ, 1992).

A radiação solar, fonte de energia utilizada em processos vitais como a fotossíntese, é

sempre superior a 300 cal.cm-2.dia-1 no Centro-Oeste, alcançando valores máximos no final da

primavera e principio do verão (dezembro-janeiro), e caindo ligeiramente no inverno. A

interação do regime de umidade do solo com o processo de captação de energia determina que

Page 31: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

30

os solos possuem condições ecológicas para trabalhar eficientemente e produzir uma alta

quantidade de biomassa durante o período úmido (SÁNCHEZ, 1992).

A estrutura fundiária do Centro-Oeste se apresenta fortemente concentrada, onde os

estratos de área acima de 100 hectares ocupam mais de 90% da área total (PEREIRA, 1995).

Esse fenômeno reflete o processo de ocupação produtiva da região Centro-Oeste iniciada na

década de 1930, especialmente em Goiás e no atual Mato Grosso do Sul, com base em

grandes projetos de colonização. Entre as décadas de 1940 e 1950, o processo de ocupação se

consolidou efetivamente. Contudo, a partir da década de 1960 o ritmo de ocupação se

acelerou, com base na política de expansão da fronteira agrícola, através de programas

governamentais baseados, em sua maioria, em grandes projetos de desenvolvimento regional

(BRASIL, 1997a). Porém, a forte concentração fundiária resultante da política de colonização

garante aos empresário rurais do Centro-Oeste produzirem em uma escala muito superior aos

seus congêneres da região Sul-Sudeste do Brasil.

Considerando as condições edafoclimáticas descritas do Cerrado Brasileiro, este

bioma se apresenta como um excelente locus natural para o cultivo do algodoeiro. São várias

as vantagens em relação à região Sul-Sudeste. Primeiro, a topografia plana e a concentração

fundiária garantem ampla mecanização de todas a fases do processo produtivo, desde o

preparo do solo até a colheita, reduzindo a dependência da mão-de-obra9 [(BELTRÃO &

SOUZA, 2001); (VIEIRA et al., 2001)]. Segundo, apesar dos solos do Cerrado serem pobres

em matéria orgânica, eles reagem de forma satisfatória à correção por adubos e fertilizantes.

Além disso, o solo se mantém úmido no período novembro-maio, em função da concentração

de chuvas neste período. Em função de suas características, o algodoeiro necessita de elevado

consumo de água para a produção de fitomassa em suas fases iniciais de cultivo, coincidindo

com o regime hídrico do Centro-Oeste, pois nesta região o plantio se concentra no período

dezembro-janeiro (BELTRÃO & SOUZA, 2001). Terceiro, no período da colheita, torna-se

necessária a redução da umidade do ar, porque a umidade excessiva pode comprometer a

qualidade da fibra. A colheita no Centro-Oeste ocorre nos meses de junho, julho e agosto,

época em que chuva torna-se muito escassa na região. Esse fenômeno favorece amplamente a

região de Cerrado, pois garante as qualidades intrínsecas do algodão herbáceo10 (VIEIRA et

9 Este fato não é observado na região Sul-Sudeste, devido a menor concentração fundiária e a topografia muito irregular. A dependência da mão-de-obra para colher o algodão gera dois problemas: i) se forem contratados muitos trabalhadores no sistema de "panha maçã a maçã" o custo de produção se eleva geometricamente; ou ii) se forem contratados poucos trabalhadores no sistema de "rapa", a qualidade do algodão cai vertiginosamente (GONÇALVES, 1997). 10 Na região Sul-Sudeste, as precipitações são mais distribuídas, ocorrendo chuvas e geadas na época de colheita, comprometendo a qualidade do produto final (VIEIRA et al., 2001).

Page 32: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

31

al., 2001). Na Figura 1, pode-se claramente perceber como as condições climáticas são

vantagens naturais do Centro-Oeste que garantem uma superioridade do algodão produzido

naquela região.

Figura 1 - Índice Pluviométrico (em milímetros) em Mato Grosso e Ciclo Produtivo do Algodão. Fonte: AMPA, 2002.

Desta forma, as condições edafoclimáticas e fundiárias expostas fomentaram uma

ampla vantagem absoluta do algodão produzido na região Centro-Oeste em relação ao

produzido na região Sul-Sudeste do Brasil (MELO FILHO et al., 2001). O reflexo da

combinação de melhores recursos naturais e utilização de tecnologia é observado nos custos

de produção de algodão no Centro-Oeste, comparáveis com o nível de custo vigente nos

principais países produtores11. Os custos de produção de algodão podem ser visualizados na

Tabela 9 a seguir.

Neste ponto, considera-se importante caracterizar o que se entende por vantagem

absoluta de custo, pois este é o principal vetor da expansão cotonícola no Cerrado brasileiro.

Para as firmas decidirem o que, quanto e como produzir, elas se orientam pela dinâmica do

mercado, observando as tendências de consumo e das demais firmas concorrentes. Uma vez

determinado o produto e a técnica de produção, a firma estabelecerá o quantum de mercadoria

a ser produzida. Se os fatores de produção forem limitados, o empresário envidará esforços

para produzir o máximo possível dado os fatores fixos. Por outro lado, se a produção for

estabelecida em um nível fixo, o empresário buscará utilizar o mínimo possível de fatores,

racionalizando sua função custo (GARÓFALO & CARVALHO, 1995).

11 A título de exemplo, o custo da colheita no sistema de "rapa" nas safras 1995/96 e 1996/97 no Brasil foi de R$ 1,89 por arroba, enquanto que o custo da colheita mecanizada foi de R$ 0,87 por arroba. Além de garantir uma maior competitividade de custo, a colheita mecanizada - amplamente utilizado no Centro-Oeste - possibilita o manejo de grandes áreas em um curto espaço de tempo e obtendo um produto final de melhor qualidade (FREIRE et al., 2001a).

0

50

100

150

200

250

300

350

D ez Jan Fev M ar A br M a io Jun Jul A go S et O ut N ov

P lantio P lantio e desenvolvim ento

D esenvo lvim ento e f loresc im ento

F lo rescim ento

A bertura das m açãs

Colhe ita

Page 33: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

32

Tabela 9. Custo de Produção de Algodão em Pluma* - Safra 1999/2000

País/Região

Custo Total

US$/hectare

(1)

Produtividade

@/hectare

(2)

Custo Total

US$/@

(1/2)

Israel 3.161,00 108 29,26

EUA** 1.185,38 45 26,34

China 1.245,00 68 24,90

Turquia 1.805,00 73 24,72

Síria 1.930,00 84 22,97

Austrália 2.295,00 112 20,49

Goiás 1.581,05 66 23,95

Mato G. do Sul 1.483,93 67 22,14

Mato Grosso 1.984,55 98 20,25

FONTE: elaborada pelo autor, com base nos trabalhos de: Chaudhry (1999), IEL et al. (2000), Beltrão et al. (2001), Beltrão & Souza (2001), Chaudhry (2001) e Fundação MT (2001). *descontado o peso das sementes. **sem considerar os subsídios governamentais.

Pode-se, com o auxílio de Simonsen, conceituar o custo de produção concernente a

determinada quantidade de um produto qualquer: (...) como o total das despesas incorridas na combinação mais econômica dos fatores através do qual se pode obter a quantidade estipulada do produto (SIMONSEN, 1968: 48).

Essas despesas são genericamente classificadas como custos fixos e variáveis. Os

primeiros correspondem à parcela dos custos totais de produção que independe da quantidade

produzida pela empresa; constituem, em outras palavras, os dispêndios com os fatores de

produção fixos. Quanto aos custos variáveis, representam a parcela dos custos totais de

produção que oscila com o volume da mesma: à medida que a produção se elevar, os custos

variáveis igualmente sofrerão acréscimos. Os custos variáveis dizem, então, respeito aos

dispêndios com os fatores de produção variáveis. Por outro lado, tendo em vista que no longo

prazo todos os fatores de produção são utilizados no processo produtivo serão variáveis,

infere-se que os custos fixos de produção, neste período, se igualarão a zero, isto é, no longo

prazo subsistirão apenas os custos variáveis [(PINDICK & RUBINFELD, 1994);

(ALBUQUERQUE, 1986)].

Claro está que as firmas que melhor alocarem seus fatores de produção - tendo em

vista a redução do custo por unidade produzida - poderão usufruir de vantagens absolutas de

custo em um mercado competitivo. Segundo Sandroni, o conceito de Vantagem Absoluta

pode ser entendida como:

Page 34: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

33

Condição em que determinado produto ou serviço pode ser oferecido com preços de custo inferiores aos dos concorrentes. Em geral, essa situação é criada pela especialização, mas no caso de produtos agrícolas, a condição climática favorável é fundamental (SANDRONI, 1996:436).

Para Possas (1987: p. 95), as vantagens absolutas de custo podem ser atribuídas a:

i) controle de métodos de produção (com ou sem patentes); ii) acesso a insumos mais baratos;

iii) qualificação do trabalho; iv) capacidade empresarial; v) vantagens monetárias - em preços

favorecidos ou crédito mais barato e/ou acessível; e vi) outros. Porém, as vantagens absolutas

de custo geralmente sofrem de certa instabilidade, pois podem ser eliminadas por imitação ou

novas técnicas das empresas concorrentes. Assim, em função apenas do tempo necessário ao

aprendizado pelas firmas concorrentes, as vantagens absolutas de custo de um empresa podem

ser extintas (POSSAS, 1987).

Desta forma, as vantagens absolutas de custo observadas no Centro-Oeste,

relacionadas às condições edafoclimáticas e fundiárias extremamente favoráveis, podem ser

superadas pela adoção de novas tecnologias ou pela imitação por outras regiões que detenham

características naturais semelhantes ao Centro-Oeste. Além disso, como os principais centros

consumidores de algodão estão localizados a uma considerável distância do Centro-Oeste, os

custos de transporte podem anular as vantagens absolutas se espaços localizados em menores

distâncias dos centros consumidores se tornarem competitivos, podendo reduzir ou até mesmo

retirar a região Centro-Oeste do mercado cotonícola.

1.4 As Condições de Comercialização do Algodão Produzido no Centro-Oeste

Na região Centro-Oeste ainda não se verifica um pólo têxtil capaz de consumir todo o

algodão produzido naquele espaço. Os quatro principais pólos têxteis do Brasil estão

localizados nos estados de São Paulo (nas cidades de Americana, Nova Odessa, Santa Bárbara

d'Oeste e Sumaré), Ceará (Fortaleza), Minas Gerais (em um polígono que se estende do norte

ao sul do estado, com destaque para Belo Horizonte, Contagem e Divinópolis) e Santa

Catarina (no Médio Vale do Itajaí, com destaque para Blumenau e Brusque). Somente a

indústria de São Paulo demanda 30% do total de consumo de algodão no Brasil. O Ceará

consome 18%, Minas Gerais 14% e Santa Catarina 11,5%. Os quatro juntos, consomem

aproximadamente 73,5% do total no Brasil. Assim, o algodão produzido na região Centro-

Oeste precisa ser transportado para as indústrias nacionais localizadas nos quatro principais

pólos têxteis ou ser exportado para fora do país. [(GONÇALVES, 1997); (IEL et al., 2000);

(LINS, 2001)].

Page 35: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

34

O transporte é indispensável à maioria dos atos de comércio, representando o

deslocamento de mercadorias que se permutam. Constitui-se em um fato econômico de

grande relevância, podendo ser estratégico para a competitividade de uma nação, região ou

unidade produtiva. Os meios de transporte são classificados em: terrestres - que compreende

rodovias e ferrovias -, marítimos, fluviais, lacustres e aéreos. Em geral, os meios de transporte

marítimo, fluvial e lacustre são os que apresentam o menor custo unitário de deslocamento,

seguido pelo modal ferroviário, rodoviário e aéreo (GASTALDI, 1990).

O Brasil ainda utiliza amplamente o transporte rodoviário, sendo este modal o

principal meio de deslocamento interno de cargas e passageiros. A região Centro-Oeste

reproduz esta situação, onde os demais meios de transporte ainda são pouco expressivos

dentro da logística multimodal (IEL et al., 2000)

Para escoar sua produção, o estado de Goiás conta com duas rodovias principais. A

BR-153 liga Goiânia e o Sul de Goiás com Minas Gerais e São Paulo. A partir de São Paulo, a

BR-101 liga o Sudeste a Santa Catarina. A BR-020 liga o Distrito Federal ao Nordeste,

alcançando o Ceará. Partindo de Goiânia, as distância rodoviárias são: a Belo Horizonte 828

km., a Americana 803 km., a Blumenau 1.384 km. e a Fortaleza 2.252 km. (BRASIL, 1997a).

O estado de Mato Grosso do Sul conta com duas rodovias, duas ferrovias e uma

hidrovia para escoar sua produção. A BR-263/167 interliga Campo Grande a São Paulo. A

BR-262 se comunica com diversas rodovias, que dão acesso a São Paulo, Minas Gerais e

Goiás. A distância rodoviária de Campo Grande aos principais estados consumidores de

algodão são: 909 km. a Americana, 1.266 km. a Belo Horizonte, 1.148 km. a Blumenau e

3.108 km. a Fortaleza. As duas ferrovias existentes interligam Mato Grosso do Sul ao estado

de São Paulo. São elas: Ferroeste, que se estende de Bauru - SP até Corumbá - MS, no sentido

leste-oeste e a Ferronorte, que se estende de Aparecida do Taboado - MS até Santa Fé do Sul -

SP, no sentido noroeste-sudeste. A Hidrovia do Rio Paraguai interliga os portos de Corumbá -

MS com Nueva Palmira no Uruguai.(BRASIL, 1997a).

O estado de Mato Grosso conta com duas rodovias, uma ferrovia e uma hidrovia para

escoar sua produção aos centros consumidores. A BR-364 liga Mato Grosso a Goiás, de onde

pode-se acessar outras rodovias, se o destino for Minas Gerais, Ceará ou São Paulo. Pela BR-

163 pode-se acessar Campo Grande - MS, de onde partem as BR´s 263 e 167, que dão acesso

a São Paulo e Santa Catarina. As distâncias rodoviárias, partindo de Cuiabá são: 1.482 km. a

Americana, 1.622 km. a Belo Horizonte, 1.872 km. a Blumenau e 3.193 km. a Fortaleza. Um

ramal da Ferronorte interliga Aparecida do em Taboado - MS a Alto Taquari - MT desde o

ano de 1999, que permite acessar a malha ferroviária do estado de São Paulo. A Hidrovia do

Page 36: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

35

Paraguai está praticamente sem utilização, devido aos movimentos ambientalistas contrários à

utilização do Pantanal como rota de transporte fluvial [(BRASIL, 1997a); (COSTA et al.,

2001); (MELO FILHO et al., 2001)].

Considerando que o principal meio de transporte de algodão herbáceo no Brasil é

realizado por meio do modal rodoviário, o estado de Goiás se apresenta como o mais

favorecido, dado a sua maior proximidade com São Paulo, Minas Gerais e Ceará. O estado de

Mato Grosso do Sul, apesar de estar localizado a uma maior distância dos centros

consumidores, conta com duas ferrovias interligadas a São Paulo, o maior centro demandante.

Porém Mato Grosso, além de estar localizado a uma distância considerável de seus principais

consumidores, e até mesmo dos portos marítimos, não contava em 1997 - o momento

histórico da concentração da produção cotonícola no Centro-Oeste - com hidrovias e ferrovias

para rebaixar seus custos de transporte. Além disso, mesmo com a construção de infra-

estrutura logística para o escoamento da produção de Mato Grosso, a ligação deste estado com

o eixo dinâmico da economia brasileira necessariamente passa pelos estados de Goiás e Mato

Grosso do Sul, que, a priori, sempre apresentarão maior proximidade ao centro econômico

brasileiro e, portanto, menores custos de transporte que Mato Grosso.

5.1 Rediscutindo a Expansão Cotonícola em Mato Grosso

Como já apresentado, a partir de 1998 a produção brasileira de algodão se eleva

consideravelmente. Na Tabela 8 pode-se verificar que é exatamente neste ano que a produção

de Mato Grosso se expande de forma vigorosa. A produção que nos anos anteriores jamais

havia passado de 100 mil toneladas, alcança 283 mil em 1998 e 1,25 milhão em 2001. Claro

está que a produção foi estimulada em todos os estados da federação, em função direta da

desvalorização cambial, da Lei Kandir, da MP n.º 1.569, da Lei de Proteção de Cultivares e da

elevação das tarifas de importação de algodão em meados da década de 1990. O reflexo da

alteração nas políticas públicas geraram, em conjunto, um efeito-substituição entre o algodão

importado e o nacional, interrompendo uma situação de déficit da produção nacional em

relação ao consumo interno de fibra têxtil.

Porém, no estado de Mato Grosso o fenômeno de expansão da cotonicultura se

apresentou de forma mais acentuada e abrupta. O que se torna intrigante em tal dinâmica é

que, a grosso modo, seria de se esperar que em Mato Grosso do Sul e em Goiás a produção de

algodão fosse superior a Mato Grosso, em função de maior proximidade com o eixo dinâmico

Page 37: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

36

da economia brasileira, mesmo porque em 1997 ainda não se observava um modal de

transporte ferroviário ou hidroviário interligando Mato Grosso ao Sudeste que representasse

redução substancial de custo. Considera-se, desta forma, que Mato Grosso apresentava

desvantagens de custo de transporte em relação à Goiás e Mato Grosso do Sul pela sua

posição geográfica natural.

Outro fator que merece atenção diz respeito tanto à produtividade da cotonicultura em

Mato Grosso quanto ao seu padrão de qualidade da fibra produzida (FREIRE & FARIAS,

2001). Enquanto a produtividade média nacional em 2001 foi de 164 @/ha (peso bruto, sem

descontar o peso das sementes), em Mato Grosso a produtividade média foi de 220 @/ha. Em

relação à qualidade da fibra, na safra do ano 2000, 27,0% da produção no estado de São Paulo

foi classificada como pior do que o tipo 612. No Paraná, 93,3% da safra foi classificada como

tipo 6 para pior. Em Mato Grosso, na mesma safra, 89% do total do algodão em pluma

produzido foi classificado como do tipo 6 para melhor, sendo que apenas 18,07% se

encontrava acima do tipo 6 (Tabela 10) . Estas duas evidências - maior produtividade e

melhor qualidade da fibra - geram um forte indício que a produção cotonícola em Mato

Grosso pode ser gerida de forma diferente das demais unidades federativas do Brasil

[(BARBOSA & NOGUEIRA JUNIOR, 2000); (AQUINO, 2001); (FERREIRA FILHO, 2001)].

Tabela 10.Qualidade da fibra de algodão produzido nos estado de São Paulo, Paraná e Mato Grosso

Safra 2000 (em percentuais) Classificação/Estado São Paulo Paraná Mato Grosso

Abaixo de 6 (alta qualidade) 29,2 6,69 17,24

Tipo 6 (padrão internacional) 43,8 33,94 64,69

Acima de 6 (baixa qualidade) 27,0 59,37 18,07

FONTE: BM&F, 2000 apud FERREIRA FILHO, 2001.

Assim, considerando o recente panorama da produção de algodão no Brasil,

principalmente as variáveis descritas que agiram diretamente sobre este complexo durante a

década de 1990, o problema principal desta pesquisa será identificar e explanar as principais

variáveis que determinaram a concentração da cotonicultura brasileira no estado de Mato

Grosso no período pós-1998, bem como determinar os fatores que geraram sua excelente

produtividade e qualidade da fibra de algodão herbáceo.

Como resposta preliminar ao problema ora discutido, apresenta-se a hipótese de que

ações de agentes econômicos endógenos a Mato Grosso configuraram um ambiente

12 O algodão em caroço é classificado por tipos, em uma escala que tem por base o tipo 6 padrão e que varia de meio em meio tipo. Assim, um algodão do tipo 5,5 é um produto de melhor qualidade do que o tipo 6 padrão. Da mesma forma, um algodão do tipo 6,5 é um algodão de pior qualidade (FERREIRA FILHO, 2001).

Page 38: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

37

institucional propício à formação de um arranjo produtivo regional capaz de desenvolver a

produção de algodão em condições de competir no mercado internacional. Dentre estes

agentes, pode-se identificar a iniciativa privada, o Governo Estadual e as instituições de P&D.

A iniciativa privada buscando alternativas culturais para rotação com a cultura da soja,

se associou com instituições de P&D em busca de um novo paradigma tecnológico na

cotonicultura. Após alcançado uma ruptura tecnológica, as instituições de P&D tiveram papel

estratégico na difusão do conhecimento e das inovações por todo o espaço produtivo mato-

grossense. A difusão do conhecimento acerca do manejo correto da cotonicultura no Cerrado

propiciou a geração de elevados níveis de produtividade e qualidade da fibra têxtil produzida

em Mato Grosso.

Por outro lado, o Governo do Estado de Mato Grosso, visando a diversificação da base

produtiva de sua unidade federativa e se aproveitando de uma conjuntura nacional favorável,

se utilizou de uma política de redução de impostos para a cotonicultura a partir de 1997,

garantindo uma acumulação de capital elevada para os cotonicultores para potencializar a

expansão da cultura do algodão herbáceo em Mato Grosso.

Há um conjugação dos objetivos destes três agentes endógenos àquele estado. A

iniciativa privada focando suas ações em direção à acumulação de capital, arrastou consigo a

elevação da produção e da renda regional e gerou recursos para o incremento dos programas

de pesquisa agrícola. O resultado é a formação de um ambiente institucional próspero à

cotonicultura, onde os problemas são discutidos e resolvidos pelos três agentes supracitados,

pois a manutenção daquela cultura é de interesse de todos os agentes. Esta estrutura de criação

e crescimento da cotonicultura de Mato Grosso se deu de forma endógena, selecionada e

decidida pelos agentes regionais, em um novo paradigma de desenvolvimento de "baixo para

cima", onde o Governo Central passa a ter papel apenas marginal no processo.

Não se pretende afirmar que outros fatores condicionantes como a Lei Kandir, a

abertura comercial, a desvalorização cambial, a Medida provisória 1.569, a Lei de Proteção de

Cultivares e a elevação das tarifas de importação de algodão não tenham influenciado a

reestruturação da cotonicultura no Brasil. Estas variáveis, em conjunto, possuem uma

provável relação de causa-efeito sobre a retomada da produção a nível nacional a partir de

1998. Outras variáveis podem explicar porque a região Centro-Oeste se tornou a maior

produtora nacional, como características de clima, solo, topografia e estrutura fundiária

regionais. Contudo, mesmo todos estes fatores conjugados não conseguem explicar porque

Mato Grosso produz algodão em quantidade e qualidade muito superior aos seus estados

vizinhos: Goiás e Mato Grosso do Sul.

Page 39: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

38

CAPITULO 2

UM NOVO PARADIGMA PARA O DESENVOLVIMENTO REGIONAL

2.1 O Planejamento do Desenvolvimento no Brasil

Desde a colonização até 1930, o Estado no Brasil tinha um caráter não intervencionista

na economia. O governo preocupava-se em obter receita por meio de tarifas e, em raras

ocasiões, por motivos protecionistas. Nas áreas de indústria e infra-estrutura, o governo

intervinha apenas como concessor da atividade e garantidor das taxas de retorno para

empresas estrangeiras. Neste período, desta forma, o estado brasileiro pode ser caracterizado

como um estado patrimonialista liberal clássico, devido à sua pequena participação na

economia e na ordem social do país. Mesmo com a ruptura do Império e a proclamação da

República em 1889, onde o poder político tornou-se mais descentralizado, o perfil das ações

do Estado não mudou significativamente [(BAER, 1996); (PIMENTA, 1998)].

A origem do planejamento formal estatal no Brasil ocorreu na década de 1930, no

âmbito do Governo Federal. Considerando o planejamento em seu sentido lato como o modo

de regulação da economia a partir de instituições governamentais, houve uma tentativa de sua

implantação pela primeira vez em 1934, no primeiro governo Vargas (1930-45). Nesta fase, o

Estado passa por uma transformação profunda, surgindo como um Estado Intervencionista,

que passa a induzir o crescimento econômico. É neste período que surgem também as

primeiras características do Estado brasileiro como Estado do Bem Estar, com a criação de

novas áreas de atuação, novas políticas e novos órgãos, tais como o Ministério do Trabalho,

Indústria e Comércio e o Ministério da Educação e Saúde Pública [(TEIXEIRA, 1998);

(PIMENTA, 1998), (MOISÉS, 1999)].

A ampla presença do Estado na economia brasileira foi encarada como necessária para

se atingir um rápido desenvolvimento econômico por meio da industrialização com vistas à

substituição de importações (ISI) entre as décadas de 1930 e 1960. Durante este período, o

setor de empresas estatais - predominando nos serviços públicos, indústria pesada, exportação

de recursos naturais e no setor financeiro - complementou os serviços privados nacionais e

multinacionais. Esta divisão de trabalho entre os setores tornava-se gradativamente

institucionalizada e ficou conhecida como modelo "tripé" da estrutura do modelo de

desenvolvimento brasileiro [(BRUM, 1993); (BAER, 1996)].

Page 40: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

39

Porém, somente a partir do governo Juscelino (1956-61) é que se pode dizer que foi

adotado o planejamento do desenvolvimento no Brasil, de forma intencional e sistematizada.

Pela primeira vez é elaborado um programa de desenvolvimento setorial - indústria de base,

energia, transportes, alimentação e educação - de modo sistematizado, com objetivos

definidos e baseados em estudos realizados por missões técnicas13. O Programa de Metas do

governo JK foi, especialmente no campo econômico, executado até o fim, onde a maioria dos

objetivos foi alcançada (TEIXEIRA, 1998).

Em 1964, o regime democrático brasileiro sofre um novo golpe, onde os militares

centralizam o poder suspendendo os direitos civis e as eleições diretas para Presidente da

República. Foram 21 anos de hegemonia política militar, com ideais desenvolvimentistas,

período em que o Estado brasileiro assume uma postura extremamente intervencionista, com

o objetivo de alavancar o desenvolvimento capitalista no país. Foram elaborados nove planos,

para criar um ambiente politicamente estável em uma economia de mercado moderna e

integrada ao conjunto do sistema capitalista. Os principais planos foram o Plano de Ação

Econômica do Governo (PAEG - 1964), o primeiro Plano Nacional de Desenvolvimento

(I PND - 1972-74), e o segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND - 1975-79)

[(TEIXEIRA, 1998); (PIMENTA, 1998)].

O PAEG tinha o objetivo construir as bases para o "modelo brasileiro de

desenvolvimento", via reforma fiscal, monetária, financeira, de capitais, cambial e salarial. O

I PND visava consolidar um modelo de desenvolvimento econômico de mercado, que deveria

criar uma economia moderna e competitiva. O II PND afirmava a necessidade da presença

ativa do Estado para implementar ações visando cobrir a fronteira entre o subdesenvolvimento

e o desenvolvimento. O II PND representou mais uma etapa no processo de substituição de

importações, através dos investimentos orientados principalmente para os setores de bens de

capital, de eletrônica pesada e de insumos básicos14 (BRUM, 1993).

O apogeu da estratégia do desenvolvimento brasileiro durante a década de 1970

coincidiu com seu ponto de inflexão na economia mundial. A crise financeira, os choques do

petróleo e a elevação das taxas de juros internacionais forçaram a reestruturação das

economias centrais. O padrão de financiamento do milagre brasileiro esgotou-se ao final da

década de 1970 devido às fragilidades concentradas na debilidade fiscal de um Estado

13 TAUBE (1942), Missão Cooke (1943), ABBINK (1948), Comissão Mista Brasil-EUA (1951) e Comissão BNDE-CEPAL (TEIXEIRA, 1998). 14 Uma discussão interessante sobre a dificuldade de se criar uma economia capitalista industrial moderna e competitiva a partir do "nada", com forte atuação de capitais estatais, ver Brüseke (1993).

Page 41: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

40

gigantesco e dependente de fluxos monetários internacionais [(TAVARES & FIORI, 1993);

(BAER, 1996); (MOISÉS, 1999)].

A grande crise da América Latina e do Brasil na década de 1980 foi a maior de toda a

sua história. Foi antes de tudo uma crise do Estado e não uma crise do mercado, como a

grande depressão da década de 1930. Caracterizou-se como uma crise fiscal, uma crise do

modo de intervenção e uma crise da forma burocrática de administrar o Estado. Foi, portanto,

uma crise estrutural do paradigma de desenvolvimento anterior [(SOUZA, 1991); (PEREIRA,

1998)].

O Fundo Monetário Internacional (FMI), declarou, em 1982, que aquela instituição

mantinha uma visão otimista em relação à superação da crise econômica internacional e seu

impacto favorável na resolução do problema da dívida pública através da redinamização do

comércio e a conseqüente elevação dos preços das commodities dos países em

desenvolvimento e também a redução das taxas de juros internacionais. Combinação esta que,

somada à correta aplicação do tradicional programa de estabilização do próprio FMI, poderia

dar conta do financiamento dos desequilíbrios das contas correntes dos países endividados.

Contudo, como se sabe, a continuação daquele padrão de financiamento do desenvolvimento

não ocorreu (TAVARES & FIORI, 1993).

Dada a não superação da crise, iniciou-se a nível mundial um processo de

questionamento sobre o papel do planejamento estatal - em meio a uma crescente onda

neoliberal - com vistas a encontrar uma nova proposta de gerir o desenvolvimento das nações

(MOISÉS, 1999). As novas proposições assumiram a forma de uma análise claramente

policy-oriented nos documentos do Banco Mundial, e, sobretudo na segunda metade da

década de 1980, passa a discutir a necessidade de acompanhar as políticas de estabilização,

com reformas estruturais enfocadas na: i) desregulamentação dos mercados; ii) na

privatização do setor público; e iii) na redução do Estado. Este conjunto de políticas e

reformas recebeu o nome de Consenso de Washington [(TAVARES & FIORI, 1993);

(PEREIRA, 1998)].

As medidas orientadas pelo Banco Mundial indicavam o caráter indispensável da

estabilização e do ajuste fiscal como condições prévias a todas as demais reformas

liberalizantes já então preconizadas pela comunidade financeira15. A reorientação do papel do

Estado na economia reduziu e quase eliminou a capacidade de exercer políticas de

15 Pode-se perceber a adoção das policy-oriented do Banco Mundial pelo Governo Federal do Brasil durante a década de 1990 ao verificar as Premissas de Planejamento do Ministério do Planejamento e Orçamento do Brasil (BRASIL, 1997b).

Page 42: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

41

desenvolvimento econômico e social por parte do setor público, dada a preocupação com o

curto prazo, vinculada à elevação da capacidade de pagamento da dívida interna e externa

quanto a sucessivas experiências de estabilização. A quase eliminação do planejamento do

desenvolvimento por parte do Governo Federal impossibilitou a continuação da política de

redução das desigualdades entre os espaços desenvolvidos e os economicamente atrasados do

Brasil [(TAVARES & FIORI, 1993); (GUIMARÃES NETO, 1997)].

O que se percebe é que, enquanto o Governo Federal motivou a transferência de

capitais das regiões mais desenvolvidas para as mais atrasadas - via incentivos fiscais,

financeiros ou investimento direto - houve uma redistribuição da produção e da renda para as

regiões periféricas brasileiras16. Notadamente no período 1975-85, a política de

desconcentração econômica foi relativamente eficiente, apesar da crise fiscal no início da

década de 1980. Quando da reorientação de políticas estruturais para as de cunho conjunturais

- ao final da década de 1980 - ocorreu um ponto de inflexão no período de 1985-95, onde a

produção relativa de cada região se manteve estável, ocasionando o fim do processo de

desconcentração econômica [(CANO, 1985); (CANO, 1997); (GUIMARÃES NETO, 1997);

(CARVALHO, 1999)]. Ademais, há suposições de que durante a década de 1990 estaria

ocorrendo um movimento de reconcentração econômica em direção a São Paulo, porém ainda

não totalmente comprovado (PRADO, 1999).

Todavia, para evitar uma possível reconcentração das atividades industriais,

agroindustriais, comerciais e financeiras em um conhecido polígono dinâmico no eixo Sul-

Sudeste (CAMPOLINA DINIZ, 1994), em função de fortes fatores locacionais já existentes e

da atração exercida pelo Mercosul, havia a necessidade de se criar um movimento de

resistência por parte das regiões menos desenvolvidas do Brasil [(AMARAL FILHO, 1996);

(ARAÚJO, 1999)].

A progressiva fragilização da capacidade de regulação das relações federativas e a

ausência do planejamento do governo central na coordenação de políticas de desenvolvimento

regional enseja a competitividade não somente no mercado, mas também entre os Estados e os

Municípios federados. Surge, neste contexto um novo papel dos governos estaduais como

elemento importante na definição das vocações de sua região. Investimentos em infra-

estrutura, transportes, energia e telecomunicações, além do avanço tecnológico permitem que

16 Para exemplificar tal afirmação, o trabalho de Monteiro Neto e Gomes (1999) ilustra que entre as décadas de 1960 e 1980, a participação do Governo na economia da região Centro-Oeste ultrapassou 50% do PIB regional, com papel fundamental na elevação da renda per capita daquela região, com forte transferência de recursos da regiões Sul-Sudeste.

Page 43: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

42

sejam criados vocações e potencializados fatores naturais favoráveis em regiões escolhidas

[(RODRIGUES, 1998); (ARAÚJO, 1999)].

As reformas de cunho liberal que marcaram as décadas de 1980 e 1990 no âmbito do

governo federal reduziram a importância das questões regionais e, portanto, rejeitaram um

papel mais ativo do governo central em conduzir políticas de desenvolvimento regional

[(PRADO, 1999); (COSTA et al., 2002)]. Assim, nos últimos anos, o Brasil têm assistido ao

nascimento de formas alternativas de incentivo ao desenvolvimento regional, praticadas em

nível estadual e municipal com recursos próprios, utilizando principalmente políticas de

renúncia fiscal e fornecimento de infra-estrutura. Este é o caso de Estados como Minas

Gerais, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Paraná,

Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo e as Prefeituras

de Porto Alegre e Salvador [(BRITO & BONELLI, 1997); (RODRIGUES, 1998); (FARAH,

1999); (LIMA et. al., 2000)]. A iniciativa destes governos regionais e locais se pautam tão

somente na busca deliberada da aceleração do crescimento econômico e na redução das

desigualdades regionais existentes.

Contudo, altera-se o modo de intervenção estatal, onde o estado federado - sem

grandes recursos para aplicar - abandona a lógica anterior do governo produtor, onde os

agentes eram tecnoburocracias públicas, sediadas nas empresas estatais e que arrastavam

consigo setores privados complementares. O que se percebe agora são estados federados que

atuam de modo complementar aos investimentos privados, induzindo tais investimentos com

redução da carga tributária (PRADO, 1999).

Na busca de se entender este novo fenômeno, onde os governos subnacionais passam a

desempenhar uma posição estratégica no desenvolvimento regional, conjuntamente com

novas propostas de organização produtiva, onde variáveis como geração e difusão de

tecnologia e cooperação institucional passam a constituir elementos centrais do planejamento

regional, utilizar-se-á um referencial teórico conhecido como Desenvolvimento Endógeno,

discutido por Amaral Filho [(AMARAL FILHO, 1995); (AMARAL FILHO, 1996)] e por

Vázquez-Barquero [(VÁZQUEZ-BARQUERO, 2000); (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002)].

Estes autores procuram identificar e discutir padrões de comportamento de agentes que

possam conferir a determinados espaços vantagens competitivas, permitindo a inserção da

região na competição global e o seu crescimento econômico sustentado e equilibrado.

Diversos outros autores que discutem as novas formas de organização produtiva, que

complementam a discussão do desenvolvimento endógeno serão também abordados.

Page 44: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

43

Entretanto, antes de iniciar a discussão do desenvolvimento endógeno, torna-se

oportuna a introdução da clássica abordagem de Michael Porter sobre as vantagens

competitivas, porque a teoria endogenista do desenvolvimento procura lançar luzes sobre a

problemática das desigualdades regionais e os melhores instrumentos políticos para sua

correção. O objetivo final é alcançar uma melhor posição relativa da região no mercado, via

criação ou incremento de vantagens competitivas regionais em relação a custo baixo de

produção ou produto superior em qualidade.

Como o termo vantagens competitivas será amplamente citado neste trabalho, e ele

possui caráter estratégico para o entendimento do desenvolvimento regional contemporâneo, a

sua definição com o apoio de Michael Porter torna-se fundamental. Nas suas palavras: "A longo prazo, as empresas obtêm êxito em relação aos seus competidores se dispuserem de vantagem competitiva sustentável. Há dois tipos básicos de vantagem competitiva: menor custo e diferenciação. O menor custo é a capacidade de uma empresa projetar, produzir e comercializar um produto comparável com mais eficiência do que seus competidores. A preço dos ou próximo dos competidores, os custos menores traduzem-se em rendimentos superiores. [...]. A diferenciação é a capacidade de proporcionar ao comprador um valor excepcional e superior, em termos de qualidade de produto, características especiais ou serviços de assistência. [...]. A diferenciação permite a uma firma obter um preço melhor, que leva a uma lucratividade superior, desde que os custos sejam comparáveis aos concorrentes. [...]. A vantagem competitiva de qualquer dos dois tipos se traduz em produtividade superior à dos concorrentes. A empresa de baixos custos produz determinada mercadoria usando menos insumos do que os competidores. A firma diferenciada obtém rendimentos superiores por unidade, dos concorrentes. [...]. A vantagem competitiva está diretamente ligada ao sustentáculo da renda nacional" (PORTER, 1993, p. 48)

Estas vantagens competitivas são criadas e mantidas através de um processo altamente

localizado. Segundo Porter, diferenças existentes nas estruturas econômicas, valores, culturas,

instituições e histórias nacionais contribuem profundamente para o sucesso competitivo

(PORTER, 1993).

O que deve ficar claro na exposição teórica é que todos os esforços das instituições

públicas e privadas visando o desenvolvimento regional não podem prescindir da construção e

manutenção de vantagens competitivas regionais, pois somente elas podem garantir a

sustentabilidade dos arranjos produtivos em um mercado altamente competitivo e globalizado.

2.2 A Teoria do Desenvolvimento Endógeno

O desenvolvimento endógeno tem suas origens na década de 1970, quando as

propostas de desenvolvimento da base para o topo emergiram com maior notoriedade. A

partir deste momento, a corrente endogenista evoluiu com a colaboração de novos enfoques

ao problema do crescimento desequilibrado (SOUZA FILHO, 2002). Durante a década de

Page 45: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

44

1980 observou-se a convergência entre duas linhas de pesquisa. Uma delas, de caráter teórico,

emergiu dentro da discussão das ações públicas no desenvolvimento das regiões atrasadas. A

outra, de caráter empírico, partia da interpretação dos determinantes do desenvolvimento

industrial dos países do Sul da Europa (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002). Na década de 1990,

a noção de desenvolvimento endógeno passou a permear as abordagens do desenvolvimento

regional, com a sua criação das novas teorias do crescimento econômico, que floresceram

durante o final da década de 1980, como respostas às tradicionais teorias neoclássicas,

inconsistentes em explicar as assimetrias de crescimento entre regiões e nações que

dispunham dos clássicos fatores de produção [(SOUZA FILHO, 2002); (VÁZQUEZ-

BARQUERO, 2000)].

Na década de 1950, Robert Solow [(SOLOW, 1956); (SOLOW,1957)] e Swan

(SWAN, 1956) propõem uma função de produção como o elemento central do modelo de

crescimento econômico, onde o volume de produção (Y) estaria em função direta e

basicamente de dois fatores, capital (K) e trabalho (L): Y= f (K,L). Esta função de produção

seria válida tanto para a firma quanto para o conjunto da economia, ou seja, ela mantinha

tanto um caráter microeconômico quanto macroeconômico. O aumento da renda per capita e

da produtividade estariam relacionados ao progresso técnico, que neste modelo ocorreria de

forma exógena, além do aumento da relação capital/trabalho (VÁZQUEZ-BARQUERO,

2000). Além disso, estaria implícito no modelo a questão dos rendimentos decrescentes que

conduziriam ao estado estacionário, em virtude de dois movimentos inexoráveis neste

modelo: i) a convergência tecnológica entre as nações [(SOLOW, 1956); (SOLOW, 1957);

(BARRO & SALA-i-MARTIN, 1995).

Porém, ao final da década de 1980, a partir do trabalho seminal de Paul Romer, os

economistas neoclássicos finalmente aceitaram a hipótese dos rendimentos crescentes e da

mudança técnica endógena como determinante fundamental do crescimento econômico.

Outros fatores, que eram considerados exógenos pela ortodoxia na determinação do

crescimento passaram a ser encarados como endógenos, o que levou variáveis como capital

humano, conhecimento, informação, pesquisa e desenvolvimento, difusão de inovações e

outras a dividirem com os tradicionais capital e trabalho a composição da função de produção

agregada. Além disso, passaram a admitir que o crescimento poderia ocorrer em condições de

concorrência imperfeita. [(ROMER, 1986); (ROMER, 1994); (AMARAL FILHO, 1996);

(HIGACHI et al., 1999)].

O trabalho de Robert Lucas também seguiu a lógica de Paul Romer, onde os

investimentos tanto em capital humano - tornando a força de trabalho qualificada - quanto em

Page 46: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

45

capital físico geram efeitos spillovers que melhoram o nível da tecnologia pela difusão das

habilidades técnicas. Seguindo as formulações de Paul Romer e Robert Lucas, observou-se

durante a década de 1990 um renascimento das discussões sobre o crescimento econômico de

longo prazo, onde a evolução tecnológica e as externalidades geradas pelos efeitos spillovers

estavam no centro da análise [(ROMER, 1987); (LUCAS, 1988); (ROMER, 1990);

(GROSSMAN & HELPMAN, 1994); (ROMER, 1994); (AGHION & HOWITT, 1998)].

O resultado desta nova teoria do crescimento proposta dentro da própria ortodoxia é

uma resposta a pelo menos dois grandes movimentos: i) a forte pressão exercida pelos dados

empíricos relacionados à assimetria do desenvolvimento das nações e a incapacidade da teoria

neoclássica em explicar tais diferenças; e ii) renascimento de pensamentos, idéias e

preocupações antigas, já discutidas por clássicos e neoclássicos e também pelos heterodoxos -

neo-marxistas, neo-schumpeterianos, regulacionistas, evolucionistas e institucionalistas

(AMARAL FILHO, 1996) - no intuito de incluir novos elementos explicativos da realidade.

Assim, fatores antes considerados exógenos pela ortodoxia foram conduzidos para dentro do

modelo e que permitiram que as novas abordagens passassem a ser denominadas de Teoria do

Crescimento Endógeno.

Para forjar um conceito mais amplo e agregado, que incluísse também a questão

espacial, Amaral Filho procura aproximar a abordagem regional amplamente discutida por

Perroux (PERROUX, 1955) sobre pólos de crescimento e Hirschmann (HIRSCHMAN,1958),

sobre firmas que produzem concatenações para frente e para trás, à macroeconomia do

crescimento endógeno, para definir o que se entende por Desenvolvimento Regional

Endógeno. Assim, segundo o próprio Amaral Filho:

"Do ponto de vista espacial ou regional, o conceito de desenvolvimento endógeno pode ser entendido como um processo interno de ampliação contínua da capacidade de geração de valor sobre a produção, bem como da capacidade de absorção da região, cujo desdobramento é a retenção do excedente econômico gerado na economia local e/ou a atração de excedentes provenientes de outras regiões. Esse processo tem como resultado a ampliação do emprego, do produto e da renda do local ou da região, em um modelo de desenvolvimento regional definido. Entretanto, o aspecto novo do processo, que traz à luz um novo paradigma de desenvolvimento regional endógeno, está no fato de que a definição do referido modelo de desenvolvimento passa a ser estruturada a partir dos próprios atores locais, e não mais pelo planejamento centralizado" (AMARAL FILHO, 1996, p. 37-38).

Antonio Vázquez-Barquero também define desenvolvimento endógeno, onde a

sociedade local passa a compor o núcleo estratégico do desenvolvimento regional:

"A capacidade da sociedade liderar e conduzir o seu próprio desenvolvimento regional, condicionando-o à mobilização dos fatores produtivos disponíveis em sua área e ao seu potencial endógeno, traduz a forma de desenvolvimento denominado endógeno. Pode-se identificar duas dimensões no desenvolvimento regional endógeno. A primeira econômica, na qual a sociedade empresarial local utiliza sua capacidade para organizar, da forma mais producente possível, os fatores produtivos da

Page 47: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

46

região. A segunda, sociocultural, onde os valores e as instituições locais servem de base para o desenvolvimento da região" (VÁZQUEZ-BARQUERO, 1988 apud SOUZA FILHO, 2002).

Em um trabalho mais recente, Vázquez-Barquero discute o desenvolvimento endógeno como um processo ligado à acumulação de capital e ao progresso tecnológico:

"La teoría del desarollo endógeno considera que la acumulación de capital y el progreso tecnológico son, sin duda, factores claves en el crecimiento económico. Pero, además, identifica una senda de desarrollo autosostenido de carácter endógeno, al argumentar que los factores que con-tribuyen al proceso de acumulación de capital, generan economías, externas e internas, de escala, reducen los costos generales y los costos de transacción y favorecen las economías de diversidad. La teoría del desarrollo endógeno reconoce, por lo tanto, la existencia de rendimientos crecientes de los factores acumulables y el papel de los actores económicos, privados y públicos, en las decisiones de inversión y localización" (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2000, p. 53).

Antes de tudo, o conceito amplo de desenvolvimento endógeno deve ser entendido

como um processo de mudança, fortalecimento e qualificação das estruturas internas de um

espaço específico. O objetivo maior é criar um ambiente atrativo ao capital, para consolidar

um desenvolvimento originalmente local e permitir a atração de novas atividades econômicas

numa perspectiva de economia globalizada. Porém, esta estratégia deve gerar, na região em

foco, fatores locacionais econômicos capazes de criar um polo de crescimento, com variados

efeitos multiplicadores que se propagam de maneira cumulativa e transformem a região em

um aglutinador de fatores e novas atividades econômicas.

A abordagem heterodoxa do desenvolvimento endógeno, como apresentado nas

definição de Amaral Filho e Vázquez-Barquero, inclui elementos que aceitam a dinamização

da análise - em contrapartida aos modelos de análise estática e estática-comparativa de cunho

ortodoxo -, bem como procuram abordar os fenômenos regionais de forma mais holística e

complexa, utilizando um referencial histórico, não determinístico e evolucionista dos arranjos

produtivos regionais. Para ambos autores, o que se coloca é um novo paradigma de

desenvolvimento regional, em função de diversas pressões do sistema produtivo, como a

falência do planejamento centralizado, a elevação da competição internacional via

globalização, o desmonte do modelo de financiamento público e a aceleração da geração de

novas tecnologias. Assim, em um sistema econômico em mutação constante, a permanência

de uma região integrada ao sistema produtivo global impõem novas abordagens e ações tanto

do poder público quanto da iniciativa privada regionais.

As discussões de Amaral Filho e Vázquez-Barquero sobre estas novas atitudes dos

agentes regionais foram dividas em três seções, criando uma estrutura analítica que contempla

as ações isoladas ou em conjunto dos agentes produtivos regionais e locais, a saber: i) novo

papel do estado federado; ii) investimento em infra-estrutura e formação de complexos

produtivos; e iii) valorização dos novos fatores de produção.

Page 48: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

47

As abordagens são complementares, onde Amaral Filho propõe uma reestruturação da

ação estatal regional como uma nova estratégica do desenvolvimento; propõe também a

elevação dos investimentos em infra-estrutura como gerador de externalidades positivas17 e a

valorização de "novos" fatores de produção - capital humano, P&D. Por outro lado, Vázquez-

Barquero se concentra principalmente no terceiro ponto, apresentando a inclusão de novas

variáveis para o desenvolvimento regional dentro da estrutura da teoria do crescimento

endógeno, onde a geração de tecnologia ganha um papel central, mas também reconhece a

importância do tecido institucional regional, a organização flexível da produção e os ganhos

advindos da geração de economias de aglomeração. Apesar de Vázquez-Barquero não discutir

a questão da reestruturação estatal e da elevação dos investimentos em infra-estrutura e

Amaral Filho não se aprofundar nas relações institucionais regionais, ambas abordagens se

completam e abordam a questão mais importante, que foi negligenciada por décadas pela

ortodoxia: a inclusão da geração e difusão da tecnologia endógena à região, bem como a

decisão da formação dos arranjos produtivos de forma espontânea, calcada nas decisões dos

agentes locais.

Neste novo caso paradigmático do desenvolvimento, os atores locais jogam papel

central na definição, execução e controle da política de desenvolvimento regional, em um

movimento de baixo para cima. Em formas mais avançadas, os agentes locais se organizam

em redes que servem como instrumento para a geração do conhecimento, a aprendizagem da

dinâmica do arranjo produtivo, a melhoria das relações inter institucionais, o acordo de

iniciativas coletivas e a execução das ações que integram a estratégia de desenvolvimento

regional (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

Neste ponto uma breve discussão sobre as convergências e divergências entre

crescimento e desenvolvimento endógeno torna-se fundamental para o entendimento das

categorias de análise que serão utilizadas neste trabalho. A Teoria do Crescimento Endógeno

compartilha algumas características com a Teoria do Desenvolvimento Endógeno. Primeiro,

ambas mantêm a visão de que os espaços e as regiões reúnem recursos materiais e imateriais

que permitem decidir os seus próprios caminhos do desenvolvimento, evitando a

convergência necessária imposta pelas abordagens do tipo Solow-Swan. Esta característica

abre amplos espaços para as políticas regionais, além da participação criativa das sociedades

regionais. (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

17 Externalidade é o efeito secundário gerado em uma atividade produtiva qualquer; pode ser positiva, quando desejada ou negativa, quando não intencionada (HUMPHREY & SCHIMITZ, 1996, p. 1861).

Page 49: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

48

Segundo, concordam que o crescimento econômico é resultado direto da elevação da

produtividade dos fatores, induzida pelas inovações endógenas. Terceiro, as assimétricas taxas

de crescimento entre as regiões são explicadas pelas diferenças existentes não apenas na

relação capital/trabalho, mas também nos níveis de educação, capacidade de geração de P&D

e atuação da administração pública. Quarto, a difusão do conhecimento tecnológico -

spillovers effects - pelo sistema produtivo gera economias de externas que potencializam os

rendimentos crescentes (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

Contudo, há claros traços diferenciais entre as duas matrizes teóricas. A Teoria do

Desenvolvimento Endógeno discute variadas questões que proporcionam diversas respostas às

indagações não respondidas pelos modelos de crescimento endógeno. São pelo menos cinco

visões excludentes entre as duas abordagens. Primeiro, o desenvolvimento endógeno discute o

crescimento econômico como resultado do acaso e da incerteza, dentro da linha do

pensamento evolutivo, onde as mutações do mercado e as decisões dos agentes condicionam o

processo de desenvolvimento. Já os modelos neoclássicos de crescimento endógeno são

modelos de equilíbrio móvel, onde os agentes isolados tomam suas decisões em um contexto

de concorrência (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

Um segundo ponto de afastamento reside na discussão do papel do espaço. No modelo

de crescimento endógeno, o espaço tem característica apenas funcional, não interagindo com

o processo produtivo. O desenvolvimento endógeno, mesmo com limitações, procura inserir o

espaço como variável ativa, explorando o caráter espacial das economias externas. Procura

relacionar a geografia aos processos tecnológicos e organizacionais, afirmando que a região se

desenvolve, em última instância, em função da trajetória tecnológica e produtiva adotada no

espaço em questão. A especificidade dos recursos, conhecimentos técnicos acumulados, a

qualidade e a densidade das instituições e as formas de organização da produção tornam o

território uma variável ativa no desenvolvimento regional (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

A organização produtiva regional e, portanto, os processos de acumulação de capital

são outro ponto de discordância. Indo em direção oposta às interpretações que propõem uma

economia administrada por grandes organizações, onde o crescimento da produtividade

somente ocorre em entornos estáveis, o desenvolvimento endógeno salienta que as novas

formas de organização flexível - redes de empresas, arranjos locais e novos sistemas de

organização das grandes empresas - constituem formas mais interessantes para o crescimento

e a mudança estrutural. A explicação para esta flexibilidade reside na maior facilidade para a

geração e aplicação de novas tecnologias, em função do menor capital físico empregado e que

Page 50: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

49

pode ser remunerado em um lapso menor de tempo e também pela maior competição imposta

pela globalização (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

Uma quarta diferença pode ser mencionada. Os modelos de crescimento endógeno não

discutem os resultados advindos da ligação do arranjo produtivo com a sociedade local. Por

outro lado, a teoria do desenvolvimento endógeno considera que existe uma forte simbiose

entre a economia e a sociedade, onde os arranjos produtivos estão estreitamente vinculados às

instituições e à sociedade local. As flexibilizações do mercado de trabalho e a difusão do

conhecimento são expressões nítidas deste imbricamento entre o setor produtivo e o seu

entorno institucional (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

Por fim, são ambíguas as definições de inovação entre as teorias. A teoria do

crescimento endógeno ainda mantém um ponto de vista linear e hierarquizado dos processos

inovativos. Para estes teóricos, o processo inovativo segue uma trajetória pré-determinada,

desde o descobrimento científico até a inovação há uma clara divisão do trabalho entre as

organizações e as instituições ligadas aos processos de geração de P&D. Contudo, o

desenvolvimento endógeno não aceita a visão linear e hierarquizada, pois acredita-se que há

uma flexibilização da participação de todos os agentes envolvidos no processo produtivo. Há,

na verdade, um complexo sistema interativo entre empresas, mercado e instituições de P&D,

onde o aprendizado dinâmico é uma variável chave na geração de inovações. Além disso, as

inovações não se apresentam de forma linear no tempo e no espaço, onde as rupturas

tecnológicas podem ocorrer de forma assimétrica (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

Desta forma, o desenvolvimento endógeno mantém uma visão mais holística e

complexa sobre os mecanismos que geram os processo de acumulação de capital, elevação da

produtividade e competitividade regional do que a teoria do crescimento endógeno. Para o

desenvolvimento endógeno, a dinâmica econômica de um espaço regional é constituído por

processos aleatórios e incertos, condicionados pelas decisões dos agentes regionais e pelos

mecanismos determinantes do desenvolvimento regional endógeno. Acredita-se, portanto, que

o referencial teórico do desenvolvimento endógeno poderá oferecer um entendimento mais

detalhado dos processos regionais e locais de desenvolvimento do que a teoria do crescimento

endógeno.

Page 51: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

50

2.2.1 O Novo Papel do Estado Federado

Como já discutido, após um período de forte intervenção estatal, com vistas a expandir

o produto e tornar a economia brasileira competitiva no cenário internacional, o

endividamento público aliado à quase eliminação das fontes de financiamento colocaram o

Governo Central do Brasil e também os estados federados em uma profunda crise fiscal e

financeira durante a década de 1980 e início da década de 1990. A capacidade de

investimento do Estado se reduziu drasticamente ante à inexistência de uma poupança

pública. O resultado foi uma perda na capacidade de planejamento de longo prazo, bem como

o esvaziamento das políticas industrial e regional.

Para romper com esta situação e ingressar em uma nova fase de crescimento

duradouro e sustentado, é indispensável a reforma do Estado, em todos os níveis, com a

reformulação do seu papel e um ajuste fiscal estrutural. Os estados regionais devem adotar um

novo padrão de gestão da máquina pública, aumentando o grau de eficiência, eficácia e

efetividade na utilização dos recursos, para que sejam condizentes com o aumento da

autonomia decisória obtida pelos estados federados com a descentralização fiscal e financeira

criada pela Constituição do Brasil, promulgada em 1988. Esta é uma das premissas básicas do

desenvolvimento endógeno, onde o estado federado é autônomo e independente, tanto do

ponto de vista da escolha de seus arranjos produtivos locais quanto da origem e aplicação dos

recursos [(AMARAL FILHO, 1995); (AMARAL FILHO, 1996)].

Para que possa se tornar elemento estratégico no desenvolvimento de suas regiões, os

estados federados devem buscar alguns resultados-chave que possibilitem maior dinamização

de suas ações:

a) geração de poupança pública local e recuperação da capacidade de investimento: os estado

federados devem envidar esforços para construir um novo modo de financiamento para o

setor público e a acumulação de capital, a partir de uma nova racionalidade fiscal, onde o

investimento não pode continuar sendo autônomo em relação à poupança, como

determinava o receituário keynesiano. Esta é uma novidade que tem o objetivo de evitar o

endividamento público sem a contrapartida da receita fiscal. Após alcançado o equilíbrio

econômico e financeiro, o Estado deverá utilizar a poupança pública a fim de criar ou

recuperar a infra-estrutura, a despeito das externalidades positivas advindas deste tipo de

investimento, gerando efeitos multiplicadores sobre o emprego, produto, renda e

investimentos privados (AMARAL FILHO, 1996);

Page 52: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

51

b) modernização do aparelho estatal: o paradigma da gestão pública deve ser alterado, onde o

Estado deve ser estruturado para se consolidar para ser um instrumento de mediação em

direção ao encontro das alternativas para o desenvolvimento, com base em três ações:

i) recuperação do sistema de informações e planejamento regional; ii) melhoria da relação

entre o Estado, a iniciativa privada e a sociedade local, visando facilitar a efetivação

interlocução entre estes agentes e a eficiência do mercado; e iii) melhoria da capacidade

de gerência dos recursos humanos, materiais e financeiros do domínio do setor público

local (AMARAL FILHO, 1995);

c) criação e promoção de incentivos: o desenvolvimento regional e local dependem da ação

do governo, contudo com um novo papel, agora de ordem muito mais qualitativo, que é o

de liderar e facilitar os processos de mudança, de criar, apoiar e fortalecer organizações

engajadas na promoção do crescimento econômico e social; e de liderar, coordenar,

facilitar e implementar programas de desenvolvimento regional. Contudo, a experiência

internacional revela que a criação de novos arranjos produtivos com pouca

representatividade em um determinado local ou região não tem propiciado resultados

muito eficazes e que, portanto, o apoio e suporte aos já existentes, tem se constituído na

melhor política de desenvolvimento regional [(AMARAL FILHO, 1995); (GALVÃO,

2001)].

Nesta abordagem, Sérgio Prado (PRADO, 1999), afirma que a concessão de incentivos

fiscais por parte dos estados federados tem resultado positivo sobre o produto, a renda e o

emprego, ao menos na economia e na sociedade local específica contemplada com os

incentivos. Além disso, dependendo da evolução dos projetos envolvidos, o governo estadual

pode se encontrar em uma posição relativa melhor do que se eles não tivessem existido, ainda

que o custo fiscal para o país como um todo seja muito alto. Portanto, programas de redução

de impostos podem alcançar resultados positivos localmente, em detrimento de outras regiões.

Por outro lado, há um generalizado consenso de que as políticas de incentivo fiscais do

passado - recentemente chamadas de guerra fiscal no Brasil -, não estão mais em sintonia com

as modernas estratégias de desenvolvimento regional. Os governos de todo o mundo estão

reconhecendo que, ao invés do tradicional enfoque dos subsídios e redução de impostos, a

melhor política regional é criar um ambiente favorável nas regiões, para que estas possam

enfrentar os desafios da competitividade e dos constantes avanços na esfera tecnológica

(GALVÃO, 1998).

Em um novo quadro institucional e produtivo, as formas de intervenção e promoção

das políticas públicas alteram-se, onde o controle, o planejamento, a regulação, e a

Page 53: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

52

intervenção do Estado, existentes no passado, são substituídos pelo monitoramento,

orientação, desregulamentação, nova regulação, promoção de ações interativas, enfim,

atividades distintas das existentes no padrão produtivo anterior (CARIO et al., 2001).

Considerando um ambiente de debilidade fiscal dos Estados federados do Brasil e o

baixo nível de confiança no setor público, por parte dos agentes privados, o equilíbrio

orçamentário, a modernização do Estado, a abertura de canais de comunicação e o incentivo à

produção regional são ações que não beneficiam apenas a retomada da autonomia da decisão

do poder público local, mas passam a constituir uma importante vantagem comparativa para a

economia estadual ao visar à fixação e a atração de novos investimentos (AMARAL FILHO,

1996).

A rigor, o desenvolvimento endógeno passa obrigatoriamente por um papel ativo dos

governos regionais, porém com outro enfoque, agora como estado indutor do

desenvolvimento. Os governos devem se ajustar a um novo paradigma, onde a iniciativa

privada seleciona os arranjos produtivos e cabe ao estado esforços conjuntos com diversos

agentes para garantir a competitividade de tais sistemas produtivos em um ambiente de

elevada competição global.

2.2.2 Investimentos em Infra-estrutura e Formação de Complexos Produtivos

O forte declínio do investimento público e privado durante a década de 1980 na

América Latina e no Brasil - a chamada década perdida pela CEPAL - elevou os custos de

produção pelo desgaste da infra-estrutura pesada - energia, transporte, telecomunicações, etc.

-. A retomada do crescimento econômico sustentado para a economia brasileira e suas regiões

não pode prescindir de maciços investimentos em infra-estrutura pesada, onde o Estado ainda

representa o principal agente sinalizador de tais inversões. Contudo, o capital privado

nacional e internacional também tem plenas condições de participar deste processo

(AMARAL FILHO,1995).

A criação de externalidades positivas para o capital privado - redução dos custos de

transação, de produção e de transporte, acesso a mercados, rápida difusão da informação - são

alguns dos resultados diretos advindos da elevação dos investimentos em infra-estrutura física

(AMARAL FILHO, 1996). Além disso, a criação de sistemas articulados de infra-estrutura

econômica ainda mantêm papel estratégico na manutenção de condições sistêmicas de

competitividade regional nos mercados interno e externo (CARVALHO, 1998).

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53

Contudo, apenas a criação e melhoria da infra-estrutura física não garante a uma

determinada região um processo dinâmico de endogenização do excedente econômico local, a

atração do excedente de outras regiões e o crescimento econômico sustentado. Dentro da

estratégia do crescimento da região, deve-se evitar a formação de enclaves ou a aglomeração

de indústrias sem coerência interna nas suas interconexões. O ideal seria instalar na região em

foco, projetos econômicos capazes de criar um pólo de crescimento, com efeitos

multiplicadores que se propagam de maneira cumulativa e transformam a região em um

aglutinador de fatores e de novas atividades econômicas (AMARAL FILHO, 1996). Tais

projetos deveriam criar aglomerações de empresas como Complexos Produtivos, que segundo

Joseph Ramos, devem ter as seguintes características: "Se entiende comúnmente por Complejo Productivo una concentración sectorial y/o geográfica de empresas que desempeñan en las mismas actividades o en actividades estrechamente relacionadas, com importantes y cumulativas economías externas, de aglomeración y de especialización (por la presencia de productores, proveedores y mano de obra especializados y de servicios anexos específicos al sector) y com la posibilidad de llevar a cabo una acción conjunta en búsqueda de eficiencia colectiva" (RAMOS, 1998, p. 108).

Segundo Garofoli (1992, apud AMARAL FILHO, 1995), dentre os modelos de

desenvolvimento endógeno, os casos mais interessantes são aqueles que apresentam pequenas

empresas circunscritas a um território delimitado. Trata-se de sistemas que produzem

verdadeiras intensificações localizadas de economias externas, que determinam fortes

aglomerações de empresas fabricando o mesmo produto ou gravitando em torno de uma

produção típica.

Uma importante característica desses espaços produtivos é o fato de que as firmas

neles localizados se organizam em redes e desenvolvem sistemas complexos de integração -

cooperação, solidariedade, coesão e valorização do esforço coletivo. Tais aglomerações de

empresas, setorialmente especializadas e espacialmente concentradas, criam grandes efeitos

linkages para frente e para trás, baseados no intercâmbio de insumos, produtos, informações e

mão-de-obra, e operando numa atmosfera cultural e social baseada na cooperação e

colaboração entre os agentes econômicos e não econômicos da região, formando o Complexo

de Produção já descrito [(HUMPHREY, 1995); (GALVÃO, 2001)].

Desta forma, a melhoria da infra-estrutura deve ser acompanhada de uma política de

formação de cadeias produtivas interligadas ou complexos de produção, onde os projetos

possam aproveitar as vantagens competitivas da região, que podem ser: i) a disponibilidade de

recursos naturais específicos; ii) a existência de atividades típicas; iii) alguma atividade

econômica já criada pelo planejamento regional; ou iv) uma cadeia produtiva que já esteja se

estruturando endogenamente (AMARAL FILHO, 1996).

Page 55: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

54

Tanto o investimento em infra-estrutura quanto a formação de complexos produtivos

regionais podem, ao mesmo tempo, manter a reprodução ampliada do arranjo produtivo local

e provocar um processo endógeno de contaminação dinâmica sobre os diversos agentes dentro

da região - concorrentes, parceiros, fornecedores, governo regional e local, instituições de

pesquisa, etc.. O sucesso desta forma de desenvolver a região depende diretamente da ação

conjunta entre o governo regional e a iniciativa privada para alcançarem a criação e a

manutenção dos fatores locacionais competitivos e o crescimento econômico sustentado.

Quanto mais fortes e convergentes forem as ações do governo e da iniciativa privada na busca

das vantagens competitivas regionais, maiores serão as oportunidades de desenvolvimento

regional [(AMARAL FILHO, 1995); (AMARAL FILHO, 1996)].

Ademais, a aglomeração e a interconexão das atividades em um espaço delimitado

deve ser acompanhado da formação de um arranjo produtivo em que muitas empresas desse

sistema se coloquem como líderes em seus setores, tanto em nível nacional quanto

internacional, pois as empresas competem nos mercados juntamente com seu entorno

produtivo e institucional de que fazem parte, ou seja, a competitividade da empresa líder

engloba ou contém a competitividade de todo o entorno produtivo e institucional de que está

inserida [(AMARAL FILHO, 1996); (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002)].

Portanto, pode-se dizer que a competição passa a existir entre as regiões e não apenas

entre empresas, onde os espaços que alcançarem elevada integração horizontal e conquistarem

competitividade sistêmica poderão sustentar um crescimento econômico de longo prazo que

poderão alterar substancialmente as estruturas internas da região, podendo promover o

desenvolvimento econômico e social.

2.2.3 Valorização dos Novos Fatores de Produção

A história econômica mundial pós-1945 demonstrou a fragilidade e a incapacidade de

sustentação do crescimento econômico e da competitividade dos modelos de desenvolvimento

que continuaram se baseando apenas nos fatores de produção tradicionais - capital e trabalho.

Esta dificuldade ficou ainda mais latente com o avanço do processo de globalização

produtiva, onde os diversos e assimétricos sistemas produtivos passaram a competir em um

mesmo espaço econômico e nas mesmas condições de concorrência [(AMARAL FILHO,

1996) (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002)]. Além disso, a simples estratégia de

desenvolvimento regional baseada na concentração geográfica não leva, necessariamente, e

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55

apenas em função do mercado, ao crescimento e desenvolvimento de um determinado espaço

(GALVÃO, 2001). Levando em consideração estes pressupostos, Verschoore Filho sustenta

que qualquer estratégia política de desenvolvimento regional não pode se ater somente em

ações de cunho ortodoxo, como linhas de crédito, incentivos fiscais ou de investimento em

Formação Bruta de Capital Fixo (VERSCHOORE FILHO, 2001).

Torna-se necessário ativar, incorporar e valorizar outros fatores de produção para

permitir o crescimento econômico no curto e longo prazos, elevando a produtividade e a

competitividade da região. Estes novos fatores estão diretamente relacionados ao capital

humano, pesquisa e desenvolvimento, conhecimento e informação e às instituições. Conforme

Michael Porter, ao contrário dos fatores tradicionais, geradores de vantagens comparativas

estáticas, os novos fatores são responsáveis pela criação e desenvolvimento de vantagens

competitivas dinâmicas de uma região, ou seja, vantagens que incorporam características de

permanente mutação em direção à manutenção da competitividade de longo prazo (PORTER,

1993).

Segundo Vázquez-Barquero, o desenvolvimento econômico se produz como

conseqüência da utilização do potencial e do excedente gerado localmente e a atração de

recursos externos, assim como a incorporação das economias externas nos processos

produtivos. Para neutralizar as tendências do estado estacionário, torna-se necessário ativar os

fatores determinantes dos processos de acumulação de capital, que para ele, são basicamente

quatro: i) criação e difusão de inovações dentro do arranjo produtivo local; ii) organização

flexível da produção; iii) geração de economias de aglomeração; e iv) desenvolvimento das

instituições regionais e locais (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

Tanto Amaral Filho quanto Vázquez-Barquero colocam como elemento central no

processo de desenvolvimento endógeno a criação, acúmulo e difusão do conhecimento dentro

do arranjo produtivo, acionando o núcleo criador da sociedade e da economia regional,

fazendo com que o espaço experimente inovações e saltos em suas bases. Como complemento

à dinâmica inovativa, ambos autores reconhecem a importância do fortalecimento das

instituições públicas e privadas locais, criando e fortalecendo os canais de informação, que

reduzirão os riscos e as incertezas, elevando a capacidade de cooperação entre os agentes e

flexibilizando a adoção de novos paradigmas de desenvolvimento [(AMARAL FILHO,

1995); (AMARAL FILHO, 1996); (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002)].

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56

2.2.3.1 A Criação de Inovações e a Difusão do Conhecimento

A base de sustentação da atividade inovativa é o capital humano, que se apresenta

como o único fator de produção inteligente dentro de qualquer função de produção. Todo o

arranjo produtivo se dinamiza quando coloca o capital humano e a sua capacidade de criar e

recriar como o fator estratégico na conquista e manutenção da competitividade (AMARAL

FILHO, 1996). Um importante trabalho de inclusão do capital humano na função de produção

foi realizado por Robert Lucas, com rebatimentos positivos sobre a produtividade e o

crescimento econômico (LUCAS, 1988).

Dentro da concepção schumpeteriana, o desenvolvimento econômico do sistema

capitalista - e qualquer fração dos seus espaços - está estritamente relacionado às novas

combinações ou inovações tecnológicas, oriundas do movimento temporal das forças

produtivas sociais que geram mudanças estruturais no sistema. Neste sentido, a produção de

novos produtos ou dos mesmos produtos pautados em novos processos técnicos significa

combinar de forma diferente os meios de produção. Como os elementos impulsionadores da

mudança estão inseridos no seio do próprio sistema, o processo de desenvolvimento na ótica

de Schumpeter é essencialmente endógeno (SCHUMPETER, 1997). Seguindo esta mesma

lógica, Vázquez-Barquero explicita que o desenvolvimento econômico e a dinâmica produtiva

dependem da introdução e difusão de inovações e do conhecimento, elementos que

impulsionam a transformação e a renovação do arranjo produtivo, já que, em última análise, a

acumulação de capital é resultado direto da acumulação do conhecimento e da detenção de

tecnologia (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

Com o advento da globalização, os mercados tem se tornado cada vez mais

competitivos, onde a inovação constitui um dos mecanismos estratégicos de um Complexo

Produtivo para manter ou ampliar sua presença no mercado e aumentar a rentabilidade sobre

seus investimentos (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2000). A possibilidade de uma empresa ou

Complexo Produtivo de desfrutar posições temporárias monopolistas ou oligopolistas

representam um poderoso incentivo à atividade inovativa, em função dos lucros de monopólio

que possam ser apropriados antes da imitação da tecnologia pelos concorrentes [(NELSON &

WINTER, 1982); (ROMER, 1990); (GROSSMAN & HELPMAN, 1994); (ROMER, 1994);

(AGHION & HOWITT, 1998)].

Contudo, a atividade inovativa comporta um procedimento de busca e não de escolha,

sobre um conjunto de possibilidades, cujas características e cujos resultados no mercado

Page 58: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

57

seriam conhecidos ex ante. Não se pode saber, antecipadamente, se uma tecnologia a ser

adotada ou desenvolvida encontrará, automaticamente, uma resposta positiva no mercado.

Desta forma, a inovação é realizada sob condições de incerteza. Por mais que se conheçam os

atributos tecnológicos e econômicos de uma inovação, suas inter-relações não são totalmente

dedutíveis, especialmente no que diz respeito às implicações que os atributos técnicos podem

ter para a dimensão econômica da atividade (NELSON & WINTER, 1982).

Considera-se, portanto, que o processo inovativo somente pode ser completado após

uma instância seletiva que, grosso modo, pode ser identificada como o mercado para onde a

inovação é dirigida. Assim, uma condição necessária para o sucesso de uma inovação é a sua

aceitação ex post pelos usuários (NELSON & WINTER, 1982). A seleção de uma trajetória

pelo mercado pode configurar em um novo paradigma tecnológico, que pode ser definido

"como um modelo e um padrão de solução para problemas tecnológicos específicos, baseado

em determinados princípios, que serão derivados das ciências naturais e em determinadas

tecnologias materiais" (DOSI, 1984, p. 14). Ou seja, o paradigma tecnológico representa a

visão predominante para se formular e encaminhar soluções a determinados conjuntos de

problemas. Ainda segundo Dosi, quanto mais uma trajetória tecnológica se estabelece, mais

os mecanismos de geração de inovações e de avanços tecnológicos se tornam endógenos ao

arranjo produtivo.

Mas, para se alcançar o êxito de uma trajetória diversas etapas devem ser superadas.

Isto ocorre porque a tecnologia não é um bem de uso comum. Ela possui um vetor de

aprendizagem e investigação muito significativo. Assim, há um processo que se deve cumprir

para que se produza tecnologia. Neste protocolo, a dimensão econômica das inovações

técnicas possuem três características básicas fundamentais: i) a oportunidade; ii) a

apropiabilidade; e iii) a cumulatividade (CIMOLI & DOSI, 1992).

A oportunidade pode ser vista como as possibilidades de um paradigma seguir uma

trajetória específica onde alguns paradigmas possuem grandes trajetórias - como o motor a

combustão - e outros possuem trajetórias muito limitadas. A oportunidade representa, a rigor,

a possibilidade de incorporação de inovações relevantes e rentáveis para o capital (CIMOLI &

DOSI, 1992).

A apropriabilidade, por seu turno, pode ser entendida como a capacidade do agente

inovador de se apropriar dos conhecimentos e retornos que o paradigma produz. A base é o

fator tempo, onde as curvas de apropriabilidade podem ser curtas ou longas. Quanto mais

curta, mais fácil será a imitação do conhecimento por outras firmas, o que facilita a dispersão

pelo mercado e a não formação de monopólios (CIMOLI & DOSI, 1992).

Page 59: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

58

A cumulatividade está muito relacionada com a apropriabilidade. O progresso técnico

tem uma natureza acumulativa. O constante acréscimo de conhecimento gera a possibilidade

da trajetória de um novo paradigma. A acumulatividade incorpora tanto o conhecimento

formal quanto o tácito. O conhecimento formal é transmissível pela linguagem escrita,

codificada, sendo fácil sua aquisição ou imitação. Já o conhecimento tácito é a idiossincrasia

do trabalho, sendo adquirido na execução específica da atividade, pela experiência

profissional. Sua apropriação é difícil, pois não está à venda no mercado (CIMOLI & DOSI,

1992).

Uma fonte relevante de criação e difusão do conhecimento advém de atividades

rotineiras que tomam forma em diferentes processos de aprendizagem interna e interativa

entre empresas e instituições. A experiência própria nos processos de produção - learning by

doing -; a utilização do produto - learning by using -; a busca de solução técnica nas unidades

de P&D - learning by searching -; a exclusão de processos que falharam - learning by

failing -; a interação com fornecedores de máquinas, equipamentos, insumos, consultores,

universidades, etc. - learning by interacting -; e outros, constituem processos para o

desenvolvimento do conhecimento e, por conseqüência, parâmetros para a inovação. Estes

processos de aprendizagem resultam na acumulação do conhecimento, que, por sua vez,

sustentam os avanços científicos, técnicos e organizacionais que traduzirão em inovações

modificadoras do ambiente econômico. Para o aprendizado exercer esta função, é essencial ter

capacidade para adquirir novos conhecimentos - learning to learn -, pois somente a

capacidade de aprender e de transformar torna o aprendizado fator competitivo em um

ambiente cada vez mais mutante (PASSOS, 1999).

As empresas investem em tecnologia para usufruírem de posições de monopólio

temporário com o objetivo de elevar a acumulação de capital, mas suas ações e rotinas estão

condicionadas pelo contexto institucional em que realizam sua atividade produtiva. O êxito de

sua estratégia depende, além de suas habilidades em desenvolver novos processos ou

produtos, da atitude dos competidores, das relações de cooperação ou luta com seu entorno

institucional e, principalmente, com o ambiente propício ou limitador dos processos

inovativos (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

A introdução e difusão das inovações e do conhecimento geram uma elevação do

estoque de conhecimentos tecnológicos em um espaço econômico, que produzem economias

externas no espaço compreendido pelo Complexo Produtivo, beneficiando todos os segmentos

do setor e reforçando as vantagens competitivas dinâmicas, principalmente quando as

Page 60: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

59

inovações são resultado coletivo da cooperação entre os diversos agentes envolvidos

(VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

Neste sentido, as condições locais ou regionais passam a ter importância fundamental

como mecanismo de estímulo às atividades produtivas e inovativas, no que concerne a

aspectos como a proximidade entre os agentes, a existência de linkages forwards e

backwards, o clima de maior confiança entre os agentes e a capacidade de cooperação.

Quando se constata ações socialmente construídas que refletem em um ambiente regional

propício à geração de inovações e conhecimento, pode-se dizer que neste ambiente está

florescendo e se desenvolvendo um Sistema Local de Inovações (VARGAS & CAMPOS,

2002). O Sistema Local de Inovações é uma variação do conceito de Sistemas Nacionais de

Inovação18. Os sistemas locais se referem a um ambiente delimitado por espaços específicos

do território de uma nação e caracterizado por uma maior proximidade e homogeneidade dos

agentes, podendo por isso proporcionar maior intensidade nas interações, devido à existência

de aspectos como a origem histórico-cultural e o objetivo comum dos agentes

(CASSIOLATO & SZAPIRO, 2002).

A construção de sistemas inovativos locais passam a ser estratégicos para uma

determinada região manter ou ampliar suas vantagens competitivas ante à aceleração da

competição internacional, pois eles podem configurar a criação de trajetórias tecnológicas de

sucesso de forma endógena. Diversos autores tem destacado a importância do conhecimento e

do aprendizado como as alternativas promissoras para as empresas e regiões atingirem um

nível superior de desenvolvimento econômico. Michael Porter sustenta que, em função de

uma maior dispersão dos fatores clássicos de produção devido à globalização, a construção de

vantagens competitivas dos países e regiões passa a ser determinada pelo conhecimento

diferenciado, habilitações e ritmo de inovações que estão materializados em pessoal

habilitado e rotinas de organização (PORTER, 1993).

Lundvall e Borrás, por seu turno, afirmam com veemência que: "(...) a habilidade para aprender é crucial para o sucesso econômico de indivíduos, empresas, regiões e economias nacionais. O aprender refere-se a construir competências novas e estabelecer habilidades novas e não somente ter o acesso à informação" (LUNDVALL & BORRÁS, 1998, p. 35).

A rigor, a detenção das tecnologias da informação são insuficientes na economia

contemporânea para garantir vantagens competitivas. Torna-se necessário construir

18 O Sistema Nacional de Inovações é constituído por elementos e relacionamentos que interagem na produção, difusão e uso do novo conhecimento economicamente útil, e um sistema nacional abrange elementos e relacionamentos, localizados dentro ou enraizados dentro das fronteiras de um Estado Nação (LUNDVALL, 1992, p. 2).

Page 61: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

60

tecnologias do conhecimento, ou seja, gerar conhecimento próprio para permitir o monopólio

temporário pela diferenciação de custo ou produto. As tecnologias da informação são

importantes para difundir o conhecimento, contudo, as inovações e o conhecimento devem,

cada vez mais, serem produtos endógenos aos arranjos produtivos regionais para que estes

suportem as pressões e os desafios da competição global. As tecnologias da informação

podem sintonizar um Complexo Produtivo com o paradigma tecnológico dominante. Um

sistema inovativo local pode gerar e ditar qual será o paradigma tecnológico reinante e, com

isso, permitir ao menos temporariamente, uma diferenciação de produto e uma acumulação de

capital superior.

Desta forma, somente com a formação de um Sistema Local de Inovações baseado na

cooperação dos agentes locais e a difusão do conhecimento gerado por todo o Complexo

Produtivo é que poderá ocorrer um desenvolvimento originalmente endógeno de uma região,

transformando as estruturas internas de um espaço econômico e elevando o nível de bem estar

da população local.

2.2.3.2 A Organização Flexível da Produção

As últimas décadas tem apresentado variações na dinâmica econômica, onde ao invés

da concentração industrial em alguns locais, observado durante a chamada fase fordista-

taylorista do sistema de produção verticalizada, uma grande e crescente parcela da produção

está se realizando em vários locais e em grande número de firmas, de tamanhos menores, que

produzem bens para serem vendidos em múltiplos mercados. Novos padrões de

competitividade estão sendo definidos pelo que tem sido chamado de capitalismo coletivo,

capitalismo de alianças ou capitalismo organizado [(TAUILE, 1994); (GALVÃO, 2001)].

O desenvolvimento de redes explícitas entre empresas, como são os sistemas

produtivos locais, são alianças com o objetivo de realizar projetos específicos, que afetam os

processos de produção, os produtos ou a estrutura do mercado, que melhoram a

competitividade das empresas e resulta em rendimentos crescentes, dentro do arranjo

produtivo local. A evidência é que o elemento chave que responde por esse plus em termos de

eficiência econômica pode ser buscado nas formas de cooperação entre os agentes

econômicos em diversos níveis de organização social de produção [(TAUILE, 1994);

(VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002)].

Page 62: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

61

O ambiente em que as firmas médias e pequenas operam é de grande competitividade

e envolve uma enorme gama de incertezas e dificuldades, tais como problemas de gestão,

insuficiência de crédito, elevadas inversões em marketing e comercialização, menor

capacidade de obtenção de informações sobre novas tecnologias e comportamento da

demanda entre diversos outros problemas. Assim, estas firmas necessitam desenvolver

estratégias de sobrevivência, que estão diretamente relacionadas à inovação e incorporação de

tecnologia, novas formas de gestão e abertura de mercados. Desta forma, elas passam a

desenvolver fortes relações de complementaridade, interdependência, cooperação e troca de

informações, gerando firmas flexíveis em redes - networks (GALVÃO, 2001).

Em uma analogia com a física, os agentes econômicos estão sendo cada vez mais

capazes de direcionar suas forças em direção a um mesmo quadrante e, com isso, obtendo

vetores resultantes maiores do que os obtidos em regimes de acumulação capitalista

anteriores. Nos padrões conflitivos das relações econômicas, os agentes podem ser entendidos

como forças opostas de vetores existentes em hemisférios diferentes, que reduzem o efeito

total de acumulação de capital pela concorrência entre os vetores - agentes econômicos. No

capitalismo de alianças, os vetores se unem e alcançam um somatório agregado maior do que

se competissem isoladamente (TAUILE, 1994).

A materialização de uma eficiência coletiva, decorrente das externalidades geradas

pela ação conjunta, garante uma maior competitividade das empresas, em comparação com

firmas que atuam isoladamente (TAUILE, 1994). A ação conjunta, além disso, conduz o

sistema local a criar processos de treinamento de mão-de-obra que propiciam a acumulação e

a disseminação de conhecimento e know-how. Também acarreta uma redução dos custos de

transação, pela maior facilidade de comunicação entre os agentes. Gera sinergias coletivas,

que contribuem para a aceleração das taxas de inovação e introdução de novos processos e

novas tecnologias. Por fim, obtém também economias externas de escala na produção

[(VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002); (GALVÃO, 2001)].

Em recente trabalho sobre os determinantes da competitividade regional, Cário e

outros argumentam que a organização da produção em forma de redes de empresas pode

desenvolver um interessante binário de especialização e complementaridade entre as

atividades econômicas de um determinado arranjo produtivo. Segundo os autores, dentro do

sistema capitalista de produção, nenhuma empresa de forma individual tem condições de

operar um conjunto de atividades sem enfrentar as contingências de um ambiente econômico

cada vez mais mutante, sem reduzir o seu grau de autonomia decisória. Assim, a presença de

um forte movimento de especialização produtiva e um elevado grau de complementaridade

Page 63: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

62

entre os integrantes de uma rede de empresas regionais pode criar e desenvolver condições

para ações estratégicas coerentes e competentes em direção à conquista de vantagens

competitivas no mercado globalizado (CÁRIO et al., 2001).

Em outro trabalho, Humphrey e Schimitz concluem que a configuração flexível de

redes de empresas podem gerar uma forte simbiose entre as firmas e a comunidade local, pela

cooperação competitiva entre as firmas. O resultado pode ser a criação de externalidades

positivas, advindas de ações coletivas - promoção conjunta de P&D, marketing, novos canais

de comercialização, obtenção de crédito, entre outros (HUMPHREY & SCHIMITZ, 1996).

Em resumo, as novas formas de organização propiciam que as empresas realizem

economias externas que garantem performances mais eficientes do arranjo produtivo regional,

que pressupõem ambientes cooperativos intra e inter firmas, rompendo radicalmente com os

padrões anteriores de relações conflitivas típicas do capitalismo moderno [(TAUILE, 1994);

(VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002)].

2.2.3.3 As Economias de Aglomeração

Diversas empresas e Complexos Produtivos inteiros de sucesso internacional

freqüentemente se localizam em uma única cidade ou região dentro de um país. Os casos de

concentração geográfica da produção são inúmeros, tanto nos países desenvolvidos quanto

nos países em desenvolvimento (PORTER, 1993).

Contudo, somente economias de especialização não garantem o sucesso dos

Complexos Produtivos e o dinamismo dos novos espaços econômicos. Torna-se indispensável

um conjunto de iniciativas - tanto pelo lado das empresas, quanto pelo lado dos Governos -

para a garantia do desenvolvimento constante de novas vantagens competitivas nessas áreas,

através de investimento em diferenciação de produtos, de programas de marketing, da

formação e qualificação de mão-de-obra e da criação de novos canais ou redes de

comercialização, de atividades de pesquisa e desenvolvimento (P&D), além dos tradicionais

investimentos em infra-estrutura física e social (GALVÃO, 2001).

A advertência de Olímpio Galvão é pertinente. Se a concentração geográfica de

empresas de um Complexo Produtivo conseguir gerar repostas positivas aos desafios da

globalização, vinculando os processos de ajuste produtivo e organizativo à utilização de

recursos próprios, à difusão das inovações e ao fortalecimento das relações externas e

Page 64: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

63

internas, pode-se criar possibilidades reais de redução dos custos totais pelas economias de

aglomeração construídas [(VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002); (GALVÃO, 2001)].

Michael Porter afirma que a concentração geográfica de empresas do mesmo setor

produtivo aumenta o fluxo de informações e a proximidade eleva a velocidade de

disseminação destas informações dentro do setor. A proximidade leva também ao

conhecimento precoce dos desequilíbrios, necessidades ou limitações dentro do Complexo

Produtivo, permitindo uma maior rapidez nas respostas aos problemas e desafios. Os

processos de inovação tecnológica, agrupamento, intercâmbio e cooperação também

funcionam melhor quando as empresas do mesmo setor estão geograficamente concentradas.

Os resultados mais freqüentes da especialização produtiva de uma região são observados na

redução dos custos de comunicação, de transporte e transação, além de novas formas de

organizacionais de abertura de mercados nacionais e internacionais, ou seja, a concentração

espacial de um setor pode criar externalidades positivas pela geração de economias de

aglomeração, que tem impacto direto sobre as vantagens competitivas regionais e nacionais

(PORTER, 1993).

Uma das mais importantes relações que a proximidade geográfica pode gerar são os

efeitos spillovers, que em última análise, representam a difusão da tecnologia e do

conhecimento pelo arranjo produtivo. Esta dispersão de habilidades técnicas permitem a

geração de externalidades que elevam a produtividade e condicionam o crescimento

econômico regional [(ROMER, 1986); (ROMER, 1987); (GROSSMAN & HOWITT, 1994)].

Galvão e Cocco, em outra discussão, afirmam que a inclusão do espaço na análise

econômica gera profundas e importantes implicações, pois quando o território da produção

abandona a fábrica - um ponto isolado no sistema - e passa a se referenciar e se aglomerar em

espaços delimitados, como em uma cidade, o espaço produtivo assume um caráter coletivo e

público. O resultado pode ser a criação de um tecido sócio-territorial que favoreça a

construção de uma rede material e cognitiva capaz de internalizar as inovações tecnológicas

nos processos locais de aprendizagem (GALVÃO & COCCO, 1999).

Para Vázquez-Barquero, as cidades são o espaço ideal para o desenvolvimento

endógeno, pois são nelas que se concentram as decisões de investimento e localização

industrial, comercial e de serviços. Nas cidades torna-se mais fácil a geração de

externalidades positivas que permitem a aparição dos rendimentos crescentes, pois o espaço

urbano é formado por redes em que as relações dos agentes permitem a rápida difusão do

conhecimento, a potencialização dos processos de inovação e o aprendizado pelas empresas.

Page 65: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

64

A rigor, são nas cidades que se pode verificar a criação de economias de aglomeração pela

redução dos custos de produção (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

Em resumo, os espaços urbanos representam o locus preferencial para o

desenvolvimento de novos espaços produtivos e de serviços, devido às suas potencialidades e

a capacidade de gerar externalidades positivas. A crescente competição gerada pela

globalização comercial e financeira induz às cidades a responder estrategicamente através de

iniciativas locais que propiciem o desenvolvimento endógeno [(VÁZQUEZ-BARQUERO,

2000); (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002)].

Contudo, a concentração geográfica encerra alguns riscos no longo prazo,

especialmente se a maioria dos produtores, fornecedores e compradores do Complexo

Produtivo não participarem do comércio internacional, o que dificulta a assimilação de

mudanças estruturais, inovações tecnológicas e estratégias de ganhos competitivos. Dentro do

paradigma atual, em que a globalização parece se colocar como um movimento inexorável, a

inserção no mercado internacional torna-se uma necessidade real para todas as regiões

produtivas (PORTER, 1993).

2.2.3.4 A Densidade do Tecido Institucional

A criação de formas alternativas de desenvolvimento econômico, se pautando nas

instituições locais e na criação de redes públicas e privadas de relacionamento, permite às

regiões decidir sobre os diversos processos que afetam e determinam a acumulação de capital

e, portanto, alcançar e manter no longo prazo suas vantagens competitivas, que favoreçam o

desenvolvimento econômico regional (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

A clássica abordagem das instituições no processo de desenvolvimento econômico

realizada por Williamson logrou um modelo analítico capaz de incorporar variáveis que

geralmente permaneciam à margem da análise econômica, tais como as raízes institucionais e

culturais de uma região. Por ambiente institucional, Williamson afirma tratar-se de um

conjunto de regras básicas sociais e culturais que definem características comportamentais

individuais e coletivas, além dos sistemas legais de solução de disputas e as políticas

macroeconômicas, tarifárias, tributárias, comerciais e setoriais adotadas pelo governo,

parceiros e concorrentes, que estabelecem as bases para a produção, troca e a distribuição

(WILLIAMSON, 1985).

Page 66: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

65

Cada espaço encontra formas específicas de organização de suas instituições, que

poderão facilitar ou dificultar o desenvolvimento econômico, pois os agentes tomam suas

decisões imersos neste entorno organizativo e institucional e, portanto, não seguem os

pressupostos teóricos dos modelos econômicos (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002).

O aumento da competição nos mercados implica que a competitividade das empresas

depende cada vez mais do entorno institucional de que faz parte. As estratégias individuais

dos agentes que atuam de forma isolada estão sujeitas à perda de eficácia, enquanto geradoras

de competitividade, dado o nível de interdependência e a influência do ambiente em constante

mutação, tanto do ponto de vista tecnológico quanto padrões de concorrência e organização

institucional. Por isso, as regiões que contarem com um sistema de instituições capazes de

gerar relações de cooperação entre os agentes públicos e privados e que fortalecerem seu

sistema de inovação e aprendizagem serão capazes de competir no mercado interno e externo

[(VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002); (CÁRIO et al.,2001)].

Também para Galvão, as regiões necessitam desenvolver instituições ágeis e

inovativas, com o intuito de criar e manter os fundamentos exigidos pelos ambientes em

mutação, tornando-se capazes de mobilizar os agentes produtivos, o governo regional e local,

as instituições de aprendizagem e a comunidade, para juntos buscarem o objetivo principal:

crescimento econômico sustentado e a melhoria do bem estar da população local (GALVÃO,

2001). Em complemento, Amaral Filho reforça o papel das instituições públicas e privadas na

abertura e flexibilidade aos novos paradigmas do desenvolvimento pela sociedade e economia

regionais, de maneira que as inovações se tornem rotina dentro do sistema. Além disso, as

instituições devem apoiar a manutenção do equilíbrio entre cooperação e concorrência entre

os agentes do sistema (AMARAL FILHO, 1996).

Assim, o desenvolvimento econômico se torna dinâmico em espaços que mantêm um

sistema institucional evoluído e complexo. Por isto, quando as empresas estão interligadas em

territórios constituídos por densas redes de relações entre empresas, governos regionais e

locais, instituições de P&D, associações de empresários, sindicatos, etc., elas podem utilizar

mais eficientemente os recursos disponíveis e melhorar sua competitividade sistêmica

(VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002). Quanto mais forte e atuante forem as instituições públicas

e privadas regionais, ou seja, quanto mais denso for o tecido institucional, melhores serão os

resultados em suprir as falhas de mercado, tais como sistema de informações, sistema de

inovações e difusão de tecnologia, padrão de financiamento, ações cooperativas, capacitação

de mão-de-obra, infra-estrutura de transportes, fornecimento de insumos, etc. (CÁRIO et al.,

2001).

Page 67: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

66

As regiões que desenvolverem e fortalecerem seu sistema institucional podem criar

um ambiente favorável à atração de investimentos privados e elevar sua capacidade de

aceitação de inovações em sua base econômica, que propiciem um maior grau de coesão

interna e integração regional (GALVÃO, 2001). Portanto, o fortalecimento das instituições e a

melhoria das relações inter institucionais poderão forjar um denso tecido institucional, capaz

de reduzir os custos de produção e transação, aumentar a confiança entre os agentes, estimular

a capacidade empresarial e inovativa, fortalecer as redes de cooperação entre agentes e

difundir os mecanismos de aprendizagem, em função direta da redução das falhas de mercado.

Em resumo, o tecido institucional pode condicionar os processos de acumulação de capital e,

consequentemente, o desenvolvimento econômico regional (VÁZQUEZ-BARQUERO,

2002).

2.3 O Efeito H19 do Desenvolvimento Endógeno

A crescente abertura e integração dos mercados internacionais, via globalização

produtiva, tem ocasionado uma reestruturação produtiva, em diversos níveis e setores,

causada pela elevação da competição intercapitalista. As decisões de investimento e

localização em um modelo de economia aberta abre espaço para as iniciativa locais, onde o

desenvolvimento endógeno pode representar uma alternativa viável para entender a nova

dinâmica produtiva e também para definir as respostas das instituições locais aos desafios

impostos pela crescente competição internacional (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2000).

Em direção oposta aos modelos neoclássicos, a teoria do desenvolvimento endógeno

sustenta que cada fator de produção e todo o seu conjunto de fatores que geram a acumulação

de capital criam um entorno sistêmico, onde os processos de transformação e geração de

economias externas tomam forma. Também argumenta que a uma política de

desenvolvimento local permite alcançar respostas eficientes aos desafios da globalização

[(AMARAL FILHO, 1996); (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002)].

O crescimento e desenvolvimento de economias regionais podem ser fruto de alguns

fenômenos sociais complexos: i) geração e difusão do conhecimento local, que geram

diferenciação de produtos, redução de custos unitários e melhoria das economias de escala;

19 O Efeito H foi cunhado por António Vázquez-Barquero quando estava proferindo uma palestra na cidade de Hanói. Inicialmente o termo foi denominado por "Efeito Hanói". Em seus trabalhos mais recentes, passou a denominar Efeito H ou Fator H à interação entre algumas variáveis que atuam sobre o crescimento econômico regional e os seus efeitos sobre o desenvolvimento das cidades e regiões (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2003).

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67

ii) flexibilização de arranjos produtivos, onde as redes e alianças empresariais favorecem as

economias internas e externas e permitem uma melhoria relativa da competitividade regional;

iii) economias de aglomeração, que facilitam a atividade inovativa, a difusão do

conhecimento, a cooperação e a redução dos riscos e incertezas; e iv) criação e fortalecimento

das redes de instituições complexas e densas, que permitem a elevação da confiança entre os

agentes locais e a conseqüente redução de custos de transação (VÁZQUEZ-BARQUERO,

2000); (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002)]

Quando todos os fatores acima agirem sobrepostos - potencializados com uma nova

abordagem estatal regional, com a elevação dos investimentos em infra-estrutura pesada e a

formação de complexos de produção -, abre-se amplas possibilidades de geração de sinergias

entre os agentes e o fortalecimento do efeito de cada um dos fatores sobre a acumulação de

capital. A atuação combinada de todos os fatores que propiciam a elevação da acumulação de

capital em uma região específica recebe a denominação de Efeito H. A região que fomentar a

criação de um Efeito H poderá obter maiores possibilidades de êxito em seu processo de

crescimento econômico e desenvolvimento regional sustentado (VÁZQUEZ-BARQUERO,

2000).

Nas próprias palavras de António Vázquez-Barquero: "[...] a difusão das inovações e do conhecimento, a organização flexível da produção, o desenvolvimento urbano e o desenvolvimento das instituições geram mecanismos que tornam mais eficiente o funcionamento do sistema produtivo. Cada um desses elementos converte-se em um fator de eficiência no processo de acumulação de capital, já que favorece, de uma forma ou de outra, as economias de escala, as economias externas e as economias em termos dos custos de transação, o que provoca um aumento da produtividade e propicia o surgimento de rendimentos crescentes. As cidades ou regiões serão, provavelmente, melhor sucedidas em seus processos de crescimento e mudança estrutural quando todos os fatores atuarem de forma conjunta, criando sinergias mútuas e reforçando os efeitos sobre a acumulação de capital. pode-se dizer, nessas condições, que os fatores de acumulação formam um sistema, aqui denominado de fator de eficiência H, que permite aumentar o efeito de cada um dos fatores determinantes do processo de acumulação, dando lugar a um efeito ampliado H. é possível, assim, falar da existência de rendimentos crescentes quando atua o fator H e se produz o efeito H" (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2002, p. 30).

A organização produtiva na região deve estar estrutura para garantir que a geração e a

difusão de inovações sigam um fluxo contínuo e duradouro entre as empresas. Se a confiança

entre os agentes for baixa, o nível de cooperação pode limitar a difusão de inovações de

processos ou produtos, elevando a competição entre os agentes locais. Por outro lado, a

organização flexível da produção em um ambiente cooperativo e de fácil inter relacionamento

institucional pode impulsionar as inovações e a difusão do conhecimento. Todos os fatores

que determinam o Efeito H em um arranjo produtivo regional jogam um papel tanto

dinamizador quanto limitador dos processos de desenvolvimento em função direta do próprio

Efeito H. Ou seja, a existência de um fator não garante a dinamização do Efeito H, em função

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68

das limitações dos outros fatores. Assim, quanto mais uma região desenvolver os novos

fatores de produção, tanto maior será a dinamização do Efeito H e, portanto, maior será a

acumulação de capital (VÁZQUEZ-BARQUERO, 2000).

Esta nova configuração econômica visando o desenvolvimento regional deve criar

condições diferenciadas para o investimento local e a atração de capitais de outras regiões,

gerando um fluxo positivo de recursos para a região. Isto somente será possível se o local em

foco conseguir fomentar um ambiente propício para o desenvolvimento capitalista, seja

reduzindo custos de produção e se tornando competitivo em um mercado globalizado, seja

atuando em nichos de mercado específicos.

O que realmente interessa é que não basta a concentração espacial com especialização

produtiva se os agentes econômicos não conquistarem competitividade no mercado via preços

ou produtos diferenciados. Assim, os capitais somente serão atraídos a uma região específica

se a nova ambiência econômica - fruto da nova interação entre iniciativa privada, Governos,

instituições de pesquisa, sociedade civil, etc. - lhes garantir uma lucratividade superior a

outras regiões alternativas. A rigor, o Efeito H deve ser criado e potencializado para permitir a

mudança da posição competitiva da região em um mercado globalizado, gerando expectativas

de alterações na estrutura econômica e social no longo prazo.

Entretanto, a forma e a composição do desenvolvimento endógeno deve variar de

região para região e depende das estruturas sócio-econômicas e culturais, institucionais e

políticas prevalecentes nos respectivos espaços. Contudo, os projetos devem estar ligados,

principalmente, a algum tipo de vocação da região, como a disponibilidade de recursos

naturais específicos, a existência de atividades endógenas típicas ou alguma atividade

econômica com vantagens competitivas já existentes ou criadas pelo planejamento regional.

Pode-se ter, assim, uma nova configuração sócio-produtiva, na qual interagem de

modo particular as esferas pública e privada, implicando possibilidades originais de

intervenção dos poderes públicos locais e novas formas organizacionais do setor privado na

mobilização produtiva do tecido sócio-territorial e na criação de uma ambiência propícia ao

desenvolvimento econômico e social (GALVÃO & COCCO, 1999).

Por fim, o que torna interessante a abordagem do desenvolvimento endógeno é a sua

discussão holística e complexa, que permite a cada sociedade decidir a sua vocação e a sua

ocupação econômica, retirando dos fatores de produção tradicionais a determinação do nível

de bem estar da população e colocando no centro da discussão a capacidade inovadora e a

cooperação dos agentes como uma trajetória possível da melhoria dos índices econômicos e

sociais de um povo.

Page 70: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

69

CAPÍTULO 3

ABRINDO O FARDO DE ALGODÃO

"São necessários anos para se fazer sucesso da noite para o dia." (Eddie Cantor)

3.1 O Ponto de Start Endógeno

Até recentemente, a região Centro-Oeste e em especial o estado de Mato Grosso,

jamais tiveram participação substancial na produção brasileira de algodão. Contudo, o ano de

1989 configura um marco fundamental para a produção cotonícola na região, quando o

empresário Olacyr de Moraes, principal acionista do Grupo Itamarati Norte S.A, que havia se

estabelecido no município de Campo Novo do Parecis - região Norte de Mato Grosso -,

buscava uma alternativa para a rotação de cultura com a soja20.

Dessa forma, o Grupo Itamarati selecionou o algodão como uma potencial cultura

rotativa com a soja. Porém, não existia no mercado brasileiro uma variedade adaptada à

mecanização e às condições adafoclimáticas do Cerrado brasileiro. Assim, a Itamarati Norte

S.A celebrou um convênio com o Centro Nacional de Pesquisas do Algodão (CNPA) da

EMBRAPA, para buscar, em um esforço conjunto, uma cultivar adaptada ao clima do Centro-

Oeste e passível de mecanização. Como o algodoeiro é uma planta cultivada em regiões

edafoclimáticas muito diversas, a viabilidade tecnológica de criar uma cultivar adaptada ao

clima de Cerrado era elevada. Foram importadas diversas espécies de plantas de países com

clima similar ao Centro-Oeste brasileiro. Entre os grandes produtores mundiais de algodão,

foram identificados cinco países com as características procuradas: Austrália, Turquia, Egito,

Síria e EUA. Após diversos ensaios de seleção massal, envolvendo as plantas importadas de

regiões de clima quente, os pesquisadores do convênio alcançaram êxito em 1990, ao gerarem

uma nova cultivar, formada pela mistura de 13 plantas selecionadas na cultivar norte-

americana Delta Pine Acala 90 [(FARIAS et al., 1999); (ABA, 2001)]. Claro está que os

pesquisadores brasileiros se apropriaram do conhecimento tecnológico já embutido nas

diversas cultivares importadas que haviam passado por processos de melhoramento genético

em seus países de origem.

Page 71: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

70

A nova cultivar recebeu o nome de CNPA-ITA 90. Suas características agronômicas e

morfológicas atendiam satisfatoriamente as necessidades do sistema de cultivo pretendido

pela Itamarati: i) porte ereto; ii) arquitetura tipo "pinheiro"; iii) maçãs pequenas; iv) boa

aderência de fibra; v) alta porcentagem de fibra no descaroçamento; vi) alta produtividade de

fibra por hectare; e vii) boa tolerância a ramulose21. Essas características permitiram a total

mecanização do processo produtivo do algodão e o seu plantio em extensas áreas de Mato

Grosso (AGUIAR, 2001). A CNPA-ITA 90 foi o resultado de uma oportunidade técnica de

produção do algodoeiro no Cerrado, somada com o acúmulo de conhecimento tecnológico dos

pesquisadores da EMBRAPA e da Itamarati Norte, bem como da apropriação destes

pesquisadores do resultados do melhoramento genético de diversas plantas que foram

importadas pelo convênio de pesquisa.

O sucesso alcançado pelo convênio CNPA-ITA representou uma ruptura tecnológica.

O paradigma da cultura do algodão no Brasil migrou da agricultura familiar para a agricultura

empresarial, se deslocando do Nordeste, Sul e Sudeste para o Centro-Oeste e o Norte do

Brasil. Pode-se dizer, com clareza, que os resultados do avanço tecnológico registrados no

início da década de 1990 foram determinantes na expansão exponencial da cotonicultura que

ocorreria apenas oito anos após. Tal constitui o start point da cultura no Cerrado, gerado

principalmente por esforços da iniciativa privada local.

A partir de 1991, além do Grupo Itamarati, outros grandes empresários rurais

apostaram na cultura do algodão como rotação com a cultura da soja em Mato Grosso.

Empresário rurais locais como André Maggi, Mário Patriota Fiori, Inácio Mamana Neto e

Beijamim Zandonadi passaram a cultivar algodão em extensas áreas da região de Itiquira, no

Sudeste mato-grossense (ABA, 2001).

Porém, a suscetibilidade da CNPA-ITA 90 à virose "doença azul"22 foi o grande

desafio a ser superado. A falta de informações técnicas sobre o controle da doença, além da

falta de informações sobre o manejo correto impediram o sucesso da cotonicultura do início

da década de 1990 em Mato Grosso. Entre 1990 e 1995, a produtividade média se apresentou

muito baixa, próximo de 60 arrobas por hectare. Perdas consideráveis da lavoura e prejuízos

20 A EMBRAPA recomendava aos agricultores a rotação de culturas para minimizar problemas fitossanitários da soja, como o cancro da haste e o nematóide de cisto, onde haveria benefícios para as espécies vegetais em rotação. O principal resultado seria a elevação da produtividade (SANTOS, 1998). 21 O vírus do ramulose (colletotrichum gossypii var cephalosporioides) causa lesões necróticas no algodoeiro, provocando a queda da folha e a queima do ápice. A produtividade e a qualidade da fibra ficam severamente comprometidas. A fonte principal de infecção primária ocorre por meio das sementes (CIA & MEHTA, 2001). 22 Também conhecida como mosaico das nervuras forma Ribeirão Bonito, este vírus causa encurtamento dos internódios e conseqüente diminuição do porte normal das plantas. O vetor desta virose é o pulgão (aphis gossypii). O controle exige o uso de variedades resistentes e aplicação de inseticidas (CIA & MEHTA, 2001).

Page 72: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

71

financeiros marcaram este período inicial (AGUIAR, 2001). O manejo utilizado seguia a

metodologia do tipo learning by failing, em que os produtores "pioneiros" buscavam in loco

alcançar o manejo correto da nova cultura, abandonando as práticas que falhavam e

selecionando aquelas que geravam resultados positivos. Uma rápida observação da oscilante

produção mato-grossense no período comprova os acertos e erros no manejo, onde a linha

tendencial da cotonicultura ora se apresentava positiva ora negativa.

No ano de 1993, os produtores rurais da região Sudeste de Mato Grosso criaram a

Fundação MT (Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso), com o objetivo

de elevar e difundir os conhecimentos técnicos da agricultura e da pecuária no estado. A

cultura do algodão recebeu atenção especial, pois apesar da existência de uma cultivar

adaptada ao Cerrado, o estoque de informações sobre o manejo correto da lavoura

impossibilitava seu desenvolvimento. Utilizando como base de dados as experiências dos

chamados "pioneiros" do algodão, a Fundação MT celebrou convênio com o CNPA da

EMBRAPA, com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), o Instituto Agronômico do

Paraná (IAPAR), o Grupo Alpargatas Santista Têxtil e com os cotonicultores mato-grossenses

para criar o "Projeto de Desenvolvimento da Cultura do Algodão no Cerrado", com o objetivo

de realizar estudos sobre a viabilidade da cotonicultura no Cerrado, principalmente em relação

ao manejo da cultivar CNPA-ITA 9023 (FUNDAÇÃO MT, 1998).

A partir deste momento, o aprendizado dinâmico com a cultura do algodão em Mato

Grosso incorporou o conhecimento advindo do learning by failing ocorrido anteriormente e

passou a ser caracterizado como learning by searching, onde instituições de P&D seguiam

roteiros metodológicos baseados em métodos científicos já amplamente difundidos.

Apesar das diversas dificuldades e problemas enfrentados na cultura cotonícola de

Mato Grosso, o período compreendido entre 1990 e 1996 representou um importante

momento de acumulação de conhecimentos por parte dos agricultores pela simples execução

da atividade - o chamado learning by doing. Ademais, as informações resultaram em dados

reais para as instituições de pesquisa participantes do convênio firmado com a Fundação MT.

Estas buscaram encontrar o melhor manejo da cultura na região, catalogando a combinação

de insumos que poderia propiciar os melhores resultados relativos a época de plantio,

correção do solo, utilização de adubos e fertilizantes, manejo integrado de pragas (MIP),

colheita e destruição dos restos culturais (soqueira).

23 Cada cotonicultor associado da Fundação MT doava US$17,00 por hectare plantado para os programas de pesquisa encontrarem alternativas de controle da "doença azul" (JORNAL DIÁRIO DE CUIABÁ, 2001).

Page 73: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

72

Já no ano de 1996, pode-se perceber o resultado do convênio entre a Fundação MT,

CNPA, IAC, IAPAR, Alpargatas e cotonicultores com a publicação do Boletim de Pesquisa

do Algodão n.º 1, onde a Fundação MT reuniu informações acerca do manejo da cotonicultura

em regiões de Cerrado (FUNDAÇÃO MT, 1996). Neste documento os produtores rurais

poderiam conhecer como controlar a "doença azul" e obter informações técnicas sobre todas

as fases do cultivo. Há, neste momento, uma clara difusão do conhecimento acumulado com o

manejo do algodão para todos os cotonicultores de Mato Grosso. Esta foi uma importante

medida para a elevação da produção de algodão naquele estado, apesar das condições

macroeconômicas adversas entre 1989 e 1997 para a cotonicultura brasileira, como visto

anteriormente.

A partir de 1996 a produção de algodão em Mato Grosso já apresentava condições

técnicas satisfatórias para se desenvolver. Entretanto, economicamente, ainda não se

constituía uma alternativa viável. Uma trajetória tecnológica e, portanto, um novo paradigma

tecnológico, se sobressai apenas quando enfrenta com sucesso os mecanismos econômicos de

seleção.

3.2 O Incentivo Fiscal do Governo do Estado e a Viabilidade Econômica

No biênio 1996-97, o Governo Federal buscou alternativas para recuperar toda a

agricultura nacional. Quatro principais medidas iriam impactar diretamente a cotonicultura:

i) promulgação da Lei Kandir; ii) promulgação da Lei de Proteção de Cultivares; iii) edição da

MP n.º 1569; e iv) elevação das alíquotas de importação de algodão em pluma. Essas medidas

dificultaram a manutenção do nível de importação de algodão, que em 1998 foram reduzidas

em 100 mil toneladas. Abriu-se a oportunidade de crescimento da produção interna para

lastrear a queda das importações.

A conjuntura favorável e a oportunidade de abastecer o mercado interno geraram

expectativas de alocação de recursos na cotonicultura brasileira. Todas as unidades

federativas que detinham recursos naturais e tecnologia poderiam desenvolver suas regiões

cotonícolas. Ademais, as regiões tradicionais - Nordeste, Sul e Sudeste - possuíam ampla

experiência no cultivo do algodão, uma vantagem considerável em se tratando de uma cultura

que requer habilidade e controle de todas as fases produtivas.

Destarte, na região Nordeste do Brasil, não havia possibilidade de forte expansão da

cultura em função da não erradicação do Bicudo do Algodoeiro (anthonomus grandis). Esse

Page 74: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

73

inseto foi constatado pela primeira vez na região em 1983, em Campina Grande - PB.

Problemas de perda de produtividade, elevação dos gastos com inseticidas, questões

ambientais relativas a contaminação do solo e da água pelos inseticidas, surtos de pragas

secundárias e resistência das pragas aos inseticidas foram atribuídos diretamente à expansão

do Bicudo em toda a região nordestina [(DEGRANDE, 2000); (URBAN et al., 1995b)].

Apesar de sua enorme acumulação de conhecimento sobre a cultura e de sediar o Centro

Nacional de Pesquisa de Algodão (CNPA-EMBRAPA), o Nordeste não apresentou, naquele

momento histórico, condições de competir no mercado cotonícola nacional.

Nas regiões Sul e Sudeste, três estados se encontravam com potencial de elevarem sua

produção de algodão, São Paulo, Paraná e Minas Gerais. No início da década de 1990, os três

estados juntos produziam cerca de 75% do algodão brasileiro. Seu histórico recente os

credenciava para suprir a demanda interna. Contudo, já se verificava na região a existência do

Bicudo do Algodoeiro, que embora em menores proporções do que a ocorrida no Nordeste,

também gerava perdas de produtividade e qualidade do algodão. Além da praga do Bicudo,

três outros fatores dificultaram uma expansão mais vigorosa da produção na região. Em

primeiro lugar, uma grande fração do terreno da região é acidentado, impedindo ou reduzindo

o uso da mecanização no preparo do solo, do plantio, do manejo de pragas e da colheita

(URBAN et al., 1995a). Em segundo lugar, na região Sul-Sudeste os estabelecimentos entre

10 e 30 hectares predominam na cultura do algodão, indicando uma forte participação das

agricultura familiar. Em terceiro lugar, as precipitações pluviométricas na região são

distribuídas durante todos os meses do ano, principalmente no Paraná e em São Paulo, onde

chuvas e geadas são comuns no período da colheita (URBAN et al., 1995a).

A dificuldade de mecanização em função da topografia irregular e da pequena

dimensão das propriedades na região Sul-Sudeste impossibilitou a redução dos custos de mão-

de-obra, principalmente na colheita da pluma. O algodão colhido sob chuva possui padrão de

qualidade inferior ao colhido e acondicionado em dias secos. Esses três elementos conjugados

com a não erradicação da praga do Bicudo criaram expectativas negativas à expansão

vigorosa da cotonicultura nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

Por outro lado, a região Centro-Oeste apresentava vantagens se comparada às

tradicionais regiões cotonícolas: primeiro, pela ausência do Bicudo do Algodoeiro, devido à

recente introdução da cultura na região; segundo, pelo desenvolvimento de uma cultivar

adaptada ao clima do Cerrado e com características de plantio-colheita mecanizada; terceiro,

pela existência de extensas áreas planas, permitindo a total mecanização do processo

produtivo; quarto, pela concentração fundiária do Centro-Oeste, com a possibilidade de

Page 75: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

74

elevação da escala de produção aliada à mecanização; quinto, pela regularidade climática do

Cerrado, com duas estações bem definidas, permitindo uma maior homogeneidade, maturação

e garantia de qualidades intrínsecas da fibra a nível internacional [(URBAN et al., 1995a);

(URBAN et al., 1995b)]; sexto, pela disponibilidade, a partir de 1996, de informações

técnicas sobre o manejo correto da cultivar CNPA-ITA 90 no Cerrado em quatro instituições

de pesquisa, IAC, IAPAR, CNPA-EMBRAPA e Fundação MT.

Assim, em função das variáveis apresentadas, a região Centro-Oeste representava a

melhor opção técnica para a retomada da produção de algodão dentro das fronteiras nacionais,

representando um pólo de atração.

Em função da proximidade com os centros consumidores e dos portos de exportação,

os estados de Mato Grosso do Sul e Goiás tenderiam naturalmente a desenvolver a

cotonicultura. Apesar da elevação mais vigorosa da produção nestes dois estados a partir de

1998 - com Goiás tornando-se o segundo maior produtor e Mato Grosso do Sul o terceiro

maior produtor nacional - Mato Grosso tornou-se o principal produtor brasileiro.

Uma das variáveis-chave a se analisar neste fenômeno é o Custo Operacional Total

(COT) que os empresários incorrem no processo produtivo. Como já dito, tecnicamente a

produção de algodão já poderia ter se elevado no ano de 1996 no Centro-Oeste. Contudo,

apenas em 1998 se concretizou a elevação da produção na região.

Os custos de produção dos estados produtores do Centro-Oeste podem ser visualizados

na Tabela 11. Percebe-se facilmente que em Goiás o custo de produção por arroba de algodão

se apresentou mais elevado. Em Mato Grosso o custo por hectare foi o mais alto, contudo o

COT por arroba de algodão mato-grossense permaneceu abaixo dos demais, em função direta

da excelente produtividade por hectare produzido. Mato Grosso do Sul apresentou o menor

COT por hectare, porém com uma produtividade muito mais baixa que em Mato Grosso,

sendo que o seu COT por arroba se manteve entre os extremos da região.

Tabela 11 - Custo Operacional Total (COT) por Arroba de Algodão Produzida nos Estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul - Safra 2000.

Unidade Federativa Custo em R$/ha. Arrobas/ha. Custo/@

Goiás 1.581,05 175,4 R$ 9,01

Mato Grosso do Sul 1.483,93 175,9 R$ 8,44

Mato Grosso 1.984,55 259,4 R$ 7,65

Fonte: Melo Filho & Lemes, 2000; Fundação MT, 2001. Obs. COT sem incidência de ICMS.

Page 76: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

75

Uma primeira conclusão indicaria uma vantagem competitiva de custo por parte do

algodão mato-grossense. Porém, não se pode analisar a dinâmica capitalista apenas pelo seu

custo, mas principalmente pela capacidade de acumulação de capital, que também está ligada

aos preços médios de venda, que resultam na Receita Bruta (RB). Segundo dados do IBGE, os

preços médios recebidos pelos produtores do Centro-Oeste podem ser visualizados na Tabela

12. Por incorrer em custo de transporte superiores, o algodão mato-grossense recebe um

deságio em relação aos outros dois estados produtores, onde o preço recebido pelos

produtores de Mato Grosso são menores para compensar o deslocamento do algodão do

centro produtor para o centro consumidor.

Tabela 12 - Receita Bruta (RB) por Arroba de Algodão Produzida nos Estados de Goiás, Mato Grosso

e Mato Grosso do Sul - Safra 2000. Unidade Federativa Receita em R$/ha. Arrobas/ha. Receita/@

Goiás 1.817,96 175,4 R$ 10,36

Mato Grosso do Sul 1.772,71 175,9 R$ 10,08

Mato Grosso 2.353,99 259,4 R$ 9,07

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2002.

A melhor RB por arroba foi alcançada pelos produtores goianos, R$10,36. Como dito,

a RB dos produtores mato-grossenses foram as menores, R$9,07. Mais uma vez os produtores

sul-matogrossenses permaneceram entre os extremos, R$10,08. Com base no COT e na RB

dos três estados, pode-se calcular a Receita Líquida (RL) e a Margem Bruta (MB). A RL

indica a acumulação de capital em termos absolutos. A MB demonstra a capacidade de

acumulação em termos relativos.

Tabela 13 - Margem Bruta (MB) por Arroba de Algodão Produzida nos Estados de Goiás, Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul - Safra 2000.

Unidade Federativa Receita Líquida/@ (RB-COT)

Em R$

Margem Bruta (RL/COT)

Em %

Mato Grosso do Sul 1,64 19,43

Mato Grosso 1,42 18,56

Goiás 1,35 14,98

Fonte: Estimada pelo autor com dados das Tabelas 11 e 12

Tanto a RL quanto a MB dos produtores goianos foram as menores observadas na

região Centro-Oeste. A RL em Mato Grosso do Sul alcançou R$1,64 por arroba de algodão

contra R$1,42 em Mato Grosso (Tabela 13). A MB aferida pelos produtores sul-

matogrossenses representou 19,43% de lucratividade, enquanto em Mato Grosso o índice foi

de 18,56%. Em Goiás, o índice foi de 14,98%.

Page 77: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

76

Algumas conclusões iniciais podem ser discutidas. Apesar dos fatores objetivos que

credenciam toda a região Centro-Oeste a produzir algodão em melhores condições que as

demais regiões, há assimetrias dentro da própria área de expansão cotonícola. No estado de

Goiás, a cotonicultura encontrou dois grandes problemas que a impediram de expandir de

forma mais rápida - apesar da produção goiana ter crescido durante toda a década de 1990 em

uma trajetória linear e Goiás ser o 2.° maior produtor nacional. Primeiro, um forte ataque da

virose "doença azul" na safra de 1998, causada pela proliferação do vetor da doença, o pulgão.

Tanto a doença quanto o vetor não foram devidamente erradicados, permanecendo extensas

áreas contaminadas até a safra de 2000. Segundo, porque o controle da doença requer

elevados gastos com herbicidas, elevando os custos de produção. É exatamente neste ponto

que os produtores goianos apresentam desvantagens em relação aos outros dois estados do

Centro-Oeste (ALVES NETTO, 2000). Assim, a vantagem em receber um preço maior por

arroba de algodão é anulada pelos elevados custos de produção, onde a capacidade de

acumulação de capital em Goiás é inferior a Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Nestas condições, apesar de haver uma clara oportunidade de mercado; o estado de

Goiás possuir uma boa infra-estrutura de transportes; e estar próximo aos centros

consumidores, o custo de produção elevado e a incapacidade dos produtores de erradicarem

uma doença que causa grandes perdas de qualidade do produto final, reduziram drasticamente

o potencial de elevação da produção naquele estado, perdendo uma ótima oportunidade de

crescimento do PIB regional.

Vislumbrando a real oportunidade de mercado e considerando a lógica maior do

sistema capitalista, as duas regiões que apresentavam as melhores condições objetivas de

acumulação de capital eram o estado de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Na região mato-

grossense havia uma vantagem absoluta de custo em relação aos eu estado vizinho do Sul.

Contudo, a observação do cálculo da Margem Bruta que iria determinar o principal locus de

expansão da atividade. E a região sul-matogrossense, que além de estar melhor integrada com

o eixo dinâmico da economia brasileira, apresentava uma maior capacidade de acumulação na

atividade cotonícola em relação a Mato Grosso.

Porém, Mato Grosso do Sul não conseguiu efetivar tais vantagens relativas e sua

cotonicultura se expandiu a taxas módicas se comparadas às observadas em Mato Grosso.

Este último estado sim, superando desvantagens de cunho estrutural - logística de transportes

e expectativa de lucros inferiores -, alcançou a maior elevação da produção de algodão

herbáceo do Brasil e em apenas quatro anos (1998-2001) consolidou sua posição de maior

Page 78: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

77

produtor nacional. Como Mato Grosso conseguiu se diferenciar em meio a diversas

assimetrias? Aqui reside o busílis da argumentação.

Já se observava em Mato Grosso desde o início da década de 1990 a busca de um

desenvolvimento da cultura por parte de agentes locais. A ruptura tecnológica foi alcançada e

apesar de grandes dificuldades técnicas e econômicas, houve um período de aprendizagem e

geração de inovações no processo de produção por parte dos produtores mato-grossenses e de

instituições de P&D entre 1990 e 1996. A criação da Fundação MT em 1994 e o convênio de

pesquisa agronômica entre diversas instituições de P&D e empresariais garantiram um suporte

técnico para a expansão da cotonicultura baseada no conhecimento científico.

Contudo, resolvidos os problemas de ordem técnica, a atividade produtiva deveria se

apresentar viável do ponto de vista econômico. Como observado, o estado de Mato Grosso do

Sul apresentava importantes vantagens que naturalmente atrairiam a produção cotonícola para

a região. Seria, então, necessário criar vantagens em Mato Grosso para que ele se tornasse o

principal pólo atrator.

Com a clara intenção de atrair a produção de algodão para dentro de suas fronteiras, o

Governo do Estado de Mato Grosso editou a lei n.° 6.883, de 02 de junho de 1997, instituindo

o Programa de Incentivo à Cultura do Algodão de Mato Grosso (PROALMAT), que entre

outras medidas, reduziu a incidência do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

(ICMS) em até 75% ad valorem. O principal objetivo era garantir uma Margem Bruta

elevada, superando o potencial de acumulação de capital de outras regiões. Este instrumento

de política pública se baseou na elevação e garantia da lucratividade para os cotonicultores no

curto prazo, gerando excedentes líquidos para o fortalecimento econômico da classe produtiva

e abrindo amplas possibilidades de investimento em novas tecnologias.

Uma ressalva deve ser feita. O cálculo do COT realizado na Tabela 11 não incluía o

ICMS. Ele referia-se ao custo de produção "da porteira para dentro da fazenda". Contudo,

quando a comercialização da pluma se concretiza, o produtor deve recolher ao Estado o

ICMS, o que pode alterar significativamente o rol dos custos totais. De acordo com os dados

da Tabela 14, considerando os três estados do Centro-Oeste, o ICMS incidente para

comercialização era de 12% ad valorem em Goiás e Mato Grosso do Sul, e em Mato Grosso

de 17% ad valorem. Com a redução do imposto, a alíquota tributária incidente recuou para

4,75% ad valorem em Mato Grosso. Nesta nova situação, os incentivos fiscais em Mato

Grosso garantiram uma Margem Bruta quase três vezes superior à cotonicultura sul-

matogrossense. A lucratividade média em Mato Grosso, que era negativa em 1,30% antes do

PROALMAT, passou a ser de 12,95%, relativamente alta se comparada aos índices de 4,45%

Page 79: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

78

de Mato Grosso do Sul e de 1,07% de Goiás. O PROALMAT elevou consideravelmente a

capacidade de acumulação dos cotonicultores mato-grossenses.

Com a expectativa positiva em relação à captação de lucros elevados, houve uma forte

adesão ao programa de incentivo do Governo Estadual. Logo em seu primeiro ano de

vigência, o PROALMAT contou com cinqüenta propriedades cadastradas, com média de

437,72 hectares cada unidade. Na Tabela 15 percebe-se uma forte elevação do n.° de lavouras

nos anos de 1999 e 2000 e também uma importante queda em 2001. A área plantada foi

expandida no biênio 1999-2000 e recuou no ano subsequente. Contudo, mais importante

observar é a tendência de aumento das áreas médias no triênio, que em 2001 foi de 675,00

hectares, sendo 237,28 hectares maior do que em 1998. Esta é uma clara indicação que a

cotonicultura passa a operar em uma crescente economia de escala, visando redução de custos

por arroba de algodão produzida.

Tabela 14 - Margem Bruta (MB) por Arroba de Algodão Produzida nos Estados de Goiás, Mato

Grosso e Mato Grosso do Sul, considerando a incidência de ICMS - Safra 2000.

Unidade Federativa COT

Em R$

RB

Em R$

ICMS*

Em R$

COT+ICMS

Em R$

RL**

Em R$

MB

Em %

Mato Grosso (I) 7,65 9,07 0,38 8,03 1,04 12,95

Mato Grosso do Sul 8,44 10,08 1,21 9,65 0,43 4,45

Goiás 9,01 10,36 1,24 10,25 0,11 1,07

Mato Grosso (II) 7,65 9,07 1,54 9,19 (0,12) (1,30)

Fonte: Elaborada pelo autor com dados das Tabelas 11 e 12. * O ICMS incide em 12% ad valorem sobre a Receita Bruta (RB) em Goiás e Mato Grosso do Sul. Em Mato Grosso, a alíquota antes do PROALMAT era de 17% ad valorem, passando a ser de 4,25% ad valorem, em média, a partir de 1998. ** RL=RB-(COT+ICMS) Obs. Mato Grosso (I) = produção com incentivos fiscais Mato Grosso (II) = produção sem incentivos fiscais

Tabela 15. Lavouras Cadastradas no PROALMAT (1998-2001) Ano N.° de Lavouras Área Plantada (ha.) Área Média (ha.)

1998 50 21.885,85 437,72

1999 369 183.109,63 496,23

2000 730 409.703,82 561,24

2001 400 270.000,00 675,00

Fonte: Pesquisa direta na Secretaria de Estado de Agricultura e Assuntos Fundiários de Mato Grosso (SAAF-MT)

Com base na Tabela 16, pode-se mensurar o impacto do PROALMAT nos lucros dos

cotonicultores mato-grossenses. A partir do cálculo da Receita Líquida (RL) - que

corresponde à Receita Bruta (RB) subtraído o Custo Operacional Total (COT) mais os

Page 80: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

79

impostos (ICMS) -, pode-se verificar o lucro por hectare multiplicando RL pela produtividade

média de arrobas por hectare. Se já se conhece o lucro por hectare (RL), basta multiplicar este

valor pela área média do ano correspondente. O resultado final será o lucro médio por unidade

produtiva.

Tabela 16. Impacto do PROALMAT nos Lucros dos Cotonicultores - Safra 2000

Produção em MT COT+ICMS/@

Em R$

RB/@

Em R$

RL/@

Em R$ @/hectare

Área Média

Em ha.

Lucro Médio*

Em R$

Sem Incentivos 9,19 9,07 (0,12) 259,4 561,24 (17.470,28)

Com Incentivos 8,03 9,07 1,04 259,4 561,24 151.409,08

Fonte: Elaborada pelo autor com dados das Tabelas 14 e 15. * (Lucro Médio = RL/@ x @/hectare x Área Média) Não é de se estranhar tamanha elevação da produção cotonícola mato-grossense a

partir de 1998. O lucro de uma lavoura média, que seria negativo em aproximadamente 17,5

mil reais no ano de 2000, se elevou a 151,4 mil reais com o incentivo fiscal do Governo

Estadual. Do ponto de vista econômico, a partir da criação da política de incentivo em 1997, a

cotonicultura tornou-se uma excelente alternativa para a geração e captação de lucros

privados em Mato Grosso.

O resultado mais visível foi a elevação de forma exponencial a partir de 1998 tanto da

produção de algodão em caroço quanto do Valor Total da Produção (VTP) da cotonicultura

mato-grossense. Como já apresentado, a produção se elevou de 78 mil toneladas em 1997

para 1,25 milhão de toneladas em 2001. A expansão do VTP pode ser vista na Tabela 17,

passando de apenas 39,7 milhões de reais em 1997 para 606,7 milhões de reais em 2000, uma

elevação de 1.428% em três anos.

Tabela 17. Produção de Algodão, Preços Médios e Valor da Produção da Cotonicultura de Mato Grosso (1994-2000)

Anos 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Produção (t.) 91.828 87.458 73.553 78.376 271.038 630.406 1.002.836

Preço em R$/@ 5,38 5,37 5,55 7,60 7,80 9,03 9,07

Valor da Produção

(R$1.000,00) 32.955 31.331 27.210 39.713 140.901 379.478 606.770

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2002.

Não se pretende afirmar que a cotonicultura se expandiu em Mato Grosso apenas em

função dos incentivos fiscais. Os agentes privados vinham buscando alternativas tecnológicas

para tornar a cultura viável do ponto de vista da acumulação de capital. Contudo, o Governo

Page 81: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

80

regional vislumbrou uma excelente oportunidade para acelerar o processo. O Governo

Estadual não criou a oportunidade de demanda de mercado, muito menos se envolveu em

questões técnicas de produção e não participou da ruptura tecnológica alcançada pelos agentes

locais. Naturalmente a cotonicultura estava se expandindo na região e provavelmente

alcançaria uma relativa participação no agro mato-grossense, como observado na expansão

linear da cultura em Goiás e Mato Grosso do Sul. O incentivo fiscal do Governo Estadual

apenas acelerou o processo que já estava em marcha. Houve, na verdade, uma potencialização

do que já estava sendo buscado pela iniciativa privada desde 1989.

Pode se perceber uma clara inversão no modo de planejar do Governo Regional. Ao

contrário do planejamento de "cima para baixo", onde a tecnoburocracia define quais setores

ou atividades-chave devam ser incentivadas, normalmente via observação de uma Matriz

Insumo-Produto Neoclássica, o planejamento regional seguiu o caminho de "baixo para

cima". O mercado e os agentes locais definiram as suas vocações produtivas, cabendo ao

Governo potencializar o processo em curso. Conforme Galvão, quando os incentivos

governamentais se orientam para as atividades identificadas com o ambiente local, há um

efeito mais duradouro sobre a capacidade de geração de emprego, crescimento econômico e

geração de linkages sobre outras atividades econômicas locais e regionais (GALVÃO, 2001).

Esta posição do Governo de Mato Grosso está em conformidade com as novas

premissas do crescimento e desenvolvimento econômico regionais, onde o novo papel do

estado federado tem sido a não participação direta na evolução da renda regional, mas a

indução do seu crescimento com ações sinérgicas para com os agentes produtivos. Não é mais

seu papel decidir as vocações de sua região, mas sim colaborar para que as vocações

alcancem resultados positivos em um ambiente globalizado e competitivo.

3.3 A Geração e a Difusão de Tecnologia Endógenas

Superadas as dificuldades de equilíbrio econômico para a cultura, uma expansão

vigorosa e efetiva dependeria da difusão dos conhecimentos científicos acumulados sobre o

manejo do algodão em regiões de Cerrado. Como os incentivos do PROALMAT somente

seriam atribuídos ao algodão que apresentasse características intrínsecas de qualidade

internacional, a simples elevação da produção não garantiria aos produtores o benefício da

redução dos impostos. Seria necessário, portanto, que todos os agentes produtivos tivessem

acesso ao conhecimento e às informações do melhor manejo cultural para alcançarem um

Page 82: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

81

produto de alta qualidade. Além disso, em uma visão de longo prazo, a busca da eficiência

técnica e econômica para a produção mato-grossense poderia representar vantagens

competitivas dinâmicas relacionadas a preços e diferenciação do produto. Assim, um amplo

programa de difusão de P&D foi posto em prática a partir de 1998, com o objetivo tácito de

treinar os produtores rurais para alcançarem a excelência do manejo do algodão na região,

principalmente em relação à cultivar CNPA-ITA 90.

Tabela 18 - Ações de Difusão e Transferência de Tecnologia Cotonícola em Mato Grosso -

Dias de Campo (1995-2002) Ano N.° de Eventos Instituições Envolvidas Público

1995 01 Fundação MT & EMBRAPA 100

1996 03 Fundação MT & EMBRAPA 400

1997 06 Fundação MT & EMBRAPA 605

1998 06 Fundação MT & EMBRAPA 1.020

1999 03 Fundação MT & EMBRAPA 2.981

2000 08 Fundação MT & EMBRAPA 1.050

2001 08 Fundação MT & EMBRAPA 1.015

2001 08 EMBRAPA, FETAGRI, EMPAER, FUNDAPER, IPA-PARECIS,

SEBRAE, FACUAL e Secretarias Municipais de Agricultura 2.169

2002 02 EMBRAPA, Fundação CO e Sementes Balu 414

2002 04 EMBRAPA, FETAGRI, EMPAER, FUNDAPER, FACUAL e Secretarias

Municipais de Agricultura 172

Fonte: FUNDAÇÃO MT, 2001 e pesquisa direta na FUNDAPER.

As ações de difusão de tecnologia para a cotonicultura não foram criadas pelo

PROALMAT. Essas já ocorriam desde o convênio entre Fundação MT & EMBRAPA. O que

se buscou foi o aumento do número de pessoas treinadas para que o conhecimento sobre o

cultura se difundisse por toda a região. A metodologia utilizada abrangia três tipos de ações: i)

Dias de Campo; ii) Reuniões Técnicas; e iii) Palestras Técnicas.

Há uma importante elevação, a partir de 1997, das ações de difusão de P&D e do

número de participantes em treinamento, o que comprova a dispersão da informação por todo

o setor produtivo (vide Tabelas 18, 19, 20 e 21). Até o ano de 1998, apenas a EMBRAPA e a

Fundação MT realizaram os eventos. A partir de 1999, a FETAGRI (Federação dos

Trabalhadores na Agricultura de Mato Grosso), a EMPAER (Empresa Mato-grossense de

Pesquisa e Extensão Rural), e diversas Secretarias Municipais de Agricultura passaram a se

engajar no processo de transferência de conhecimento e tecnologia para os produtores rurais.

Em 2001, também ingressaram no esforço de capacitação tecnológica a FUNDAPER

(Fundação de Apoio a Pesquisa e Extensão Rural), o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio a

Page 83: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

82

Pequena e Média Empresa), o FACUAL (Fundo de Apoio a Cultura do Algodão), o IPA-

PARECIS (Instituto de Pesquisa Agroambiental do Parecis) e a Fundação Rio Verde

(Fundação de Apoio a Pesquisa e Desenvolvimento Integrado Rio Verde) . Em 2002 a

Fundação Centro-Oeste (Fundação Centro-Oeste de Pesquisa) também passa a integrar o

circuito de difusão de P&D, fortalecendo ainda mais a rede institucional envolvida com o

esforço de capacitação tecnológica e organizacional dos produtores de algodão em Mato

Grosso.

Tabela 19 - Ações de Difusão e Transferência de Tecnologia Cotonícola em Mato Grosso - Reuniões

Técnicas (1995-2001) Ano N.° de Eventos Instituições Envolvidas Público

1995 01 Fundação MT & EMBRAPA 100

1996 01 Fundação MT & EMBRAPA 200

1997 01 Fundação MT & EMBRAPA 605

1998 03 Fundação MT & EMBRAPA 2.010

1999 03 Fundação MT & EMBRAPA 1.020

2000 03 Fundação MT & EMBRAPA 612

2001 03 Fundação MT & EMBRAPA 610

2001 03 Fundação MT, FETAGRI, EMPAER e Secretarias Municipais de

Agricultura 151

Fonte: FUNDAÇÃO MT, 2001.

Tabela 20 - Ações de Difusão e Transferência de Tecnologia Cotonícola em Mato Grosso - Palestras

Técnicas (1995-2001) Ano N.° de Eventos Instituições Envolvidas Público

1995 04 Fundação MT & EMBRAPA 100

1996 12 Fundação MT & EMBRAPA 400

1997 24 Fundação MT & EMBRAPA 605

1998 24 Fundação MT & EMBRAPA 850

1999 12 Fundação MT & EMBRAPA 1.020

2000 32 Fundação MT & EMBRAPA 1.050

2001 32 Fundação MT & EMBRAPA 1.005

Fonte: FUNDAÇÃO MT, 2001.

Pode-se perceber que o biênio 1998-99 representou um importante marco, dado a

elevada participação do setor produtivo nos eventos de difusão de P&D sobre o manejo

correto da cultivar CNPA-ITA 90 no Cerrado mato-grossense. Interessante notar a estratégica

participação das instituições de P&D, que além de gerarem conhecimento especializado para a

região, transferiram as técnicas produtivas para os agentes que estão diretamente engajados na

produção. Além disso, das seis instituições de P&D que desenvolvem projetos de pesquisa

Page 84: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

83

cotonícola em Mato Grosso, apenas e EMBRAPA não foi criada por agentes locais. Tanto a

Fundação MT quanto o IPA-PARECIS, a Fundação Rio Verde e a Fundação Centro-Oeste

foram criadas pelos produtores rurais sediados no estado. A FUNDAPER foi criada pelos

funcionários públicos ligados a EMPAER, um empresa pública mato-grossense.

Tabela 21 - Ações de Difusão e Transferência de Tecnologia Cotonícola em Mato Grosso - Outras Formas de Difusão de Informação (1995-2001)

Ano Ação Instituições Envolvidas Público

1998 I Congresso Brasileiro de

Algodão

FACUAL, Fundação MT, EMBRAPA e Governo do

Estado de Mato Grosso 650

1998 Tecnocampo 98 Fundação MT & EMBRAPA 6.300

1998 Curso de Doenças do

Algodoeiro Fundação MT & EMBRAPA 510

1999 II Congresso Brasileiro de

Algodão

FACUAL, Fundação MT, EMBRAPA, EMPAER,

FUNDAPER e Governo do Estado de Mato Grosso 1.200

1999 Seminário sobre Percevejo

Castanho Fundação MT & EMBRAPA 200

1999 Seminário sobre Mercados

Futuros do Algodão Fundação MT & EMBRAPA 210

2000

III Congresso Brasileiro de

Algodão e VI Congresso

Internacional de Algodão

FACUAL, Fundação MT, EMBRAPA, EMPAER,

FUNDAPER e Governo do Estado de Mato Grosso 2.150

Fonte: FUNDAÇÃO MT, 2001.

Estas constatações comprovam uma forte ligação institucional entre a produção e a

geração de conhecimento, permitindo a criação de externalidades positivas advindas da

proximidade e da confiança entre os agentes, conferindo um grau elevado de

comprometimento entre as instituições, onde a cooperação, troca de informações e a

aprendizagem coletiva reforça os laços institucionais e promove o fortalecimento do tecido

institucional local.

Essa forma endógena de gerar P&D garante uma importante ferramenta para a

cotonicultura mato-grossense, na medida que o conhecimento acumulado não está fora do

processo produtivo, mas ao contrário, participa ativamente na resolução dos problemas

enfrentados pelos produtores. A tecnologia gerada é adaptada às características locais. As

pequenas diferenças de clima e solo entre as regiões de Mato Grosso geram pequenas

alterações no manejo da cultura. Contudo, a descoberta da necessidade de alterações, mesmo

que ínfimas no manejo, garantem elevadas produtividades em todo o estado, além da alta

qualidade da fibra. Assim, na cotonicultura mato-grossense não há a simples aceitação de

Page 85: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

84

pacotes tecnológicos gerados em outras regiões. Há a efetiva geração e adaptação do

conhecimento às características microrregionais.

E são os próprios produtores locais que garantem os recursos físicos e financeiros para

a efetiva consolidação dos programas de pesquisa na região. Trazendo para dentro do arranjo

produtivo a geração de P&D, os cotonicultores invertem o paradigma anterior de geração de

tecnologia agrícola no Brasil, baseada em instituições públicas como EMBRAPA, IAC e

IAPAR. Neste caso específico, a iniciativa privada se tornou proativa, reconhecendo a

importância de se manter próximo à fronteira tecnológica e assumiu a responsabilidade de

garantir a eficiência na busca de novas tecnologias. Para se manter competitivo em um

mercado globalizado, o investimento em P&D obrigatoriamente passa a ser endógeno em

qualquer atividade econômica e os cotonicultores de Mato Grosso estão buscando esta

trajetória.

Assim, a produção de conhecimento endógeno e a difusão do conhecimento para os

agentes produtivos locais garantiram efetivamente uma constante melhoria do manejo do

algodão em todo o estado. Esta melhoria pode ser aferida pela elevação do padrão de

qualidade da fibra. A fibra do tipo 6 padrão, que possui qualidades intrínsecas de nível

internacional, se elevou de pouco mais de 20 mil toneladas em 1997 para 342 mil toneladas

em 2001. Nesta última safra, mais de 73% da produção cotonícola mato-grossense foi

classificada como do tipo 6 padrão para melhor, confirmando o excelente resultado da difusão

de tecnologia.

Esta elevação do padrão de qualidade pode ser o resultado direto das externalidades

positivas advindas da cooperação entre as instituições de P&D e os produtores rurais, além da

difusão do conhecimento por todo o arranjo produtivo, que tem garantido o "saber fazer" aos

agentes locais. Esta situação permite alcançar resultados de excelência, que garante

diferenciação do produto em um mercado competitivo.

A junção das vantagens absolutas de custo de produção (Tabela 11, p. 71) com a

qualidade intrínseca superior da fibra mato-grossense (Tabela 22, p. 82) geraram duas

importantes vantagens competitivas para a produção cotonícola daquele estado: i) vantagens

competitivas de custo; e ii) vantagens competitivas de diferenciação do produto. As vantagens

competitivas do algodão mato-grossense garantiram o suprimento de oferta para a indústria

nacional nas mesmas condições de qualidade e preço do algodão que foi importado no

período entre 1989 e 1997. Contudo, além do efeito-substituição, onde o algodão brasileiro

deslocou o algodão importado do mercado nacional, a competitividade do algodão mato-

Page 86: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

85

grossense pode ser melhor percebida com a crescente inserção do algodão brasileiro no

mercado internacional a partir de 1999.

Em um ambiente globalizado, onde diversas nações competem simultaneamente na

garantia e na abertura de mercados, e onde a principal nação exportadora de algodão - os EUA

- se utilizam amplamente da política de subsídios, a elevação das exportações pode indicar

melhor eficiência técnica (qualidade), econômica (custo), ou ambas. É interessante perceber

que, do total exportado pelo Brasil no triênio 1999-2001 - 154 mil toneladas -, o algodão

produzido em Mato Grosso representou 52%, ou seja, 79,5 mil toneladas. Desta forma, o

algodão mato-grossense está conseguindo abrir os mercados internacionais para a produção

cotonícola brasileira, reconduzindo o Brasil ao grupo de países exportadores.

Tabela 22. Classificação da Fibra de Algodão de Alta Qualidade Produzida em Mato Grosso

(1997-2001) - em toneladas Ano Produção (toneladas) 1997 20.687,79 1998 83.319,15 1999 168.605,87 2000 201.906,88 2001 341.799,00

Fonte: INDEA, 2001.

Tabela 23. Volume Exportado e Receita de Exportação de Algodão de Mato Grosso (1998-2001)

1996 1997 1998 1999 2000 2001

Volume Exportado (mil ton.) 0 0 0 2,0 13,1 64,4

Receita de Exportação (US$) 0 0 0 2.477.598,00 15.212.270,00 65.688.794,00

Fonte: SECEX - MDIC, 2002; Batista, 2002.

A inserção do algodão mato-grossense no mercado internacional não pode ser vista

como o simples resultado da redução de impostos via Lei Kandir e das desvalorização

cambial ocorrida em janeiro de 1999. Há, na verdade, a construção de vantagens competitivas

de custo e de diferenciação de produto, que estão ligadas a diversos fatores, tais como a

inovação tecnológica no início da década de 1990 - a nova cultivar CNPA-ITA 90. O acúmulo

do conhecimento e a aprendizagem tanto na execução da atividade, tanto quanto pelas falhas e

pela pesquisa científica - gerando competências na produção. O incentivo fiscal ora discutido

- PROALMAT -, que permitiu uma vantagem absoluta de custo aos agentes produtivos. E a

difusão da informação por todo o sistema, reduzindo os custos de produção, elevando a

qualidade do produto e alterando a função de produção, que passou a contar com a variável

"conhecimento". Ademais, as externalidades advindas destes processos agiram de forma

Page 87: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

86

sinérgica com a organização institucional dos cotonicultores, formando um arranjo produtivo

com variados linkages forwards e backwards, onde se formou um ambiente propício ao

desenvolvimento endógeno da cotonicultura.

3.4 A Organização Institucional dos Cotonicultores

Até aqui discutiu-se o ambiente técnico e econômico prevalecentes na expansão da

cotonicultura em Mato Grosso na década de 1990. No entanto, há uma organização

institucional dos produtores de algodão que tem se apresentado como importante fator de

aglutinação da classe em ações para a elevação da eficiência coletiva, com a tendência da

formação de uma rede flexível de firmas - networks. Atualmente existem quatro instituições de representação empresarial em Mato Grosso.

Na região Sudeste do estado - que produz 50% do algodão - a UNICOTTON (Cooperativa

dos Produtores de Algodão do Sudeste de Mato Grosso Ltda.) congrega os cotonicultores

daquela região desde 1998. Na região Norte do estado - que produz 40% do algodão - a

CIAPAR (Companhia Agrícola do Parecis), criada em 1989 e o Condomínio Marechal

Rondon, criado em 1991, garantem a representação institucional dos cotonicultores da região

Setentrional de Mato Grosso. E, por fim, a AMPA (Associação Mato-grossense dos

Produtores de Algodão) é a instituição empresarial maior, que reúne as três representações

microrregionais dos cotonicultores, com atuação desde 1996.

Apenas a criação de associações e cooperativas não garante a superação dos

problemas. Mas, no caso específico dos produtores de algodão de Mato Grosso, se percebe

um esforço para a melhoria das condições técnicas e econômicas de todos os produtores

associados.

Como a fibra do algodão tem características de commodity, o algodão regional deve

apresentar uma certa homogeneidade, condizente com o nível de qualidade internacional.

Neste sentido, todos os agentes devem estar engajados em alcançar a excelência na qualidade

a custos compatíveis, pois se uma fração da produção apresentar baixos níveis de qualidade,

toda a safra da região poderá ser penalizada pelo mercado internacional. A produção deixa de

pertencer ao agente "a" ou "b". Passa a ser vista como a produção de "Mato Grosso". Assim,

há um elevado grau de interdependência e complementaridade entre os produtores regionais,

criando um novo paradigma para o setor produtivo, onde a ação coletiva pode se configurar

como uma estratégia muito mais eficiente do que a concorrência entre os agentes locais.

Page 88: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

87

Em Mato Grosso, há um grupo de cotonicultores que produzem algodão em um padrão

similar ao encontrado nos países mais avançadas tecnologicamente. Contudo, sua produção é

incapaz de abastecer todo o mercado consumidor, tanto a nível nacional quanto internacional.

De certo modo, há uma interdependência entre esses produtores e aqueles que se encontram

mais distantes do padrão tecnológico mais avançado, pois os mercados demandam grandes

quantidades e as regiões especializadas devem garantir um farto abastecimento do produto

desejado. Assim, surge uma forma embrionária de capitalismo coletivo, onde a troca de

informações e a cooperação são ações derivadas do elevado grau de interdependência e

complementaridade entre os agentes. Este novo paradigma produtivo permite a geração de

externalidades positivas, que podem ser vistas no elevado graus de qualidade do algodão

observado na safra de 2001.

Para confirmar a criação de uma nova organização produtiva, baseada muito mais na

cooperação do que na competição entre os agentes, pode-se listar as principais ações das

instituições empresariais cotonícolas que tem sido observadas em Mato Grosso: i) rápida

difusão entre os associados das inovações técnicas sobre o manejo da cotonicultura no

Cerrado; ii) conscientização dos associados na importância de se manter programas de

geração de P&D; iii) classificação e certificação da fibra do algodão mato-grossense;

iv) incentivo à comercialização da safra via contratos futuros para minimizar oscilações de

mercado; v) representação e defesa dos interesses dos produtores associados junto aos

organismos públicos e privados, nacionais e internacionais, que se relacionam com a

cotonicultura; e vi) marketing institucional do algodão mato-grossense, visando abertura de

mercados nacionais e internacionais (AMPA, 2002).

A difusão entre os associados das inovações técnicas sobre o manejo da cotonicultura

no Cerrado visa garantir o acesso aos novos processos de produção e as características do

produto que o mercado deseja. Como a disputa por fatias de mercado implica no confronto

entre tecnologias, manter-se na fronteira tecnológica ou próximo dela tornou-se uma condição

sine qua non para os cotonicultores de Mato Grosso. Além disso, a dispersão da inovação e do

conhecimento por todo o Complexo Produtivo tem por objetivo o sucesso de todo o conjunto

regional e não de agentes individuais.

Um outro importante movimento que se verifica é o forte entrelaçamento entre as

instituições de representação empresarial e as instituições de P&D locais. Claro está que

ambas as instituições nasceram da ação dos empresários rurais locais. Assim, as tomadas de

decisão que ocorrem em ambas as instituições partem de um mesmo núcleo decisor.

Interessante notar que os cotonicultores criaram seu próprio programa de P&D, estruturados a

Page 89: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

88

resolverem os problemas de sustentabilidade econômica e ambiental da cultura de algodão em

Mato Grosso. Desta forma, como o financiamento dos programas de pesquisa são realizados

pelos cotonicultores, os recursos somente serão investidos se existirem problemas reais que

ameacem a cultura do algodão no estado.

Dos cinco organismo de P&D criados em Mato Grosso, quatro foram ações diretas dos

empresários. Na região Sudeste do estado, a UNICOTTON mantém ligações diretas com a

Fundação MT e a Fundação Centro-Oeste. Há convênios de cooperação tecnológica e

financeira entre estas instituições. Seguindo a mesma lógica a Fundação Rio Verde e o IPA-

PARECIS, as duas instituições de P&D da região Norte, mantêm seus programas de pesquisa

atrelados aos interesses do Condomínio Marechal Rondon e do CIAPAR. Há uma clara

simbiose neste processo, onde as instituições empresarias mantêm efetivos fluxos financeiros

para as instituições de P&D e esperam destas fluxos efetivos de conhecimento especializado

sobre a cotonicultura, visando a elevação da produtividade, melhoria da qualidade da fibra e

redução de custos.

A classificação e a certificação da fibra do algodão para todos os produtores

associados, via métodos modernos de alta tecnologia - o método HVI24 -, garantem um selo de

qualidade regionalizado, o chamado "Mato Grosso Cotton Quality", que tem aceitação no

mercado internacional. Até o ano de 1998, a classificação da fibra era realizada visualmente

por um técnico especializado. Contudo, este método raramente refletia as reais características

da fibra do algodão, pois se baseava apenas nas características extrínsecas. A introdução, a

partir de 1999, do método HVI, capaz de classificar as características intrínsecas, garantiu a

classificação da fibra com um método internacional , aceito pelos mais exigentes mercados. O

resultado concreto desta ação coletiva foi a crescente credibilidade, tanto pelo produto final,

quanto pela metodologia de classificação utilizada em Mato Grosso, permitindo a abertura de

mercados externos.

Uma quarta ação coletiva observada em Mato Grosso é o incentivo, por parte das

instituições de representação empresarial, da comercialização de uma fração da safra antes da

colheita, reduzindo os elevados riscos envolvidos com a cultura do algodão. O convênio

realizado entre a AMPA e a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) de São Paulo tem

24 HVI (High Volume Instrument) é um equipamento de alta tecnologia que foi desenvolvido pela indústria têxtil dos EUA para eliminar os atritos entre as beneficiadoras e os produtores, pois a classificação da fibra era realizada por método visual e subjetivo. O HVI faz uma análise minuciosa das qualidades intrínsecas da fibra, possibilitando uma classificação detalhada do material, principalmente micronaire, comprimento, resistência, uniformidade, fibras curtas e fiabilidade. Duas grandes vantagens diretas do uso do HVI podem ser mencionadas: i) avaliação objetiva da qualidade da fibra; e ii) certificação da fibra em métodos aceitos pelo mercado internacional [(FERREIRA FILHO, 2001); (FMT, 2001)].

Page 90: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

89

permitido, entre outras coisas, uma maior estabilidade de preços aos produtores com a

formalização de contratos futuros, garantindo novas formas de comercialização das safra e

redução da oscilação da receita bruta recebida pelos produtores.

Esta organização flexível da produção também ocorre em função das imperfeições no

mercado. Pleiteando a eliminação dos subsídios norte-americanos e europeus sobre o algodão,

com vistas a tornar a competição internacional baseada na eficiência técnica e econômica, o

conjunto dos cotonicultores de Mato Grosso impetrou uma ação junto à Organização Mundial

do Comércio (OMC), condenando a ajuda governamental daquelas países, solicitando a total

eliminação do subsídio agrícola e cobrando compensações financeiras. É claro que, para

agentes produtivos isolados, esta ação seria muito improvável. A luta pela defesa dos

interesses da classe, neste caso, foi possível graças à organização institucional existente.

Por fim, após alcançarem um relativo grau de organização e competitividade, os

agentes elevaram a produção de fibra para atenderem a demanda do mercado nacional. Uma

vez suprida tal demanda, os agentes produtivos passaram a visualizar a oportunidade de obter

cotas no mercado externo. Mais uma vez, a ação coletiva foi fundamental, ante os elevados

investimentos para abertura de mercados. A principal instituição empresarial, a AMPA,

formulou um amplo programa de marketing institucional, que se fundamenta principalmente

em três pontos: i) elevado padrão de qualidade de fibra, atestada pelo método HVI; ii) preços

competitivos; e iii) elevada magnitude as safra. As ações de marketing tem alcançado

resultados positivos, com a já apresentada elevação dos níveis exportação.

Em última instância, o que a AMPA, UNICOTTON, CIAPAR e Condomínio

Marechal Rondon visam com a ações discutidas é a credibilidade do mercado consumidor

para com o seu produto, credibilidade esta baseada na qualidade, oferta adequada, entrega no

prazo contratado e preço competitivo do algodão. Mas a credibilidade visada não é para o

agentes isolados, mas para todos os agentes produtivos de uma região específica, Mato

Grosso. O que esta ação institucional pretende, portanto, é diferenciar o seu produto de outras

regiões cotonícolas. Desta forma, relações de complementaridade, cooperação,

interdependência e troca de informações são elementos fundamentais para que o algodão de

Mato Grosso mantenha e amplie suas cotas de participação no mercado, via manutenção das

vantagens competitivas.

Page 91: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

90

3.5 As Cinco Variáveis Endógenas Determinantes na Concentração da Cotonicultura em

Mato Grosso e o Efeito H

Muito se tem discutido sobre os elementos condicionantes que impulsionaram o

algodão para uma nova fronteira agrícola. Desde a praga do bicudo no Nordeste, passando

pelo relevo e clima irregular na região Sul-Sudeste, chegando até a pequena extensão das

áreas cultivadas tanto no Nordeste como no Sul. As dificuldades de elevação da escala de

produção e de adoção de equipamentos poupadores de mão-de-obra também foram fatores de

exclusão das regiões tradicionais na expansão cotonícola recente. Na "nova cotonicultura" no

Cerrado o clima é estável, a topografia é plana e a concentração fundiária garante importantes

economias de escala.

Pouco tem se falado da concentração da produção em uma única unidade federativa. O

Cerrado - com seu clima, solo e topografia - se estende do Centro-Oeste até as regiões Norte,

Nordeste e Sudeste. Assim, o que este trabalho procura apresentar não são respostas

superficiais, não se embasa nas variáveis naturais - o bioma Cerrado -, mas nos fatos

socialmente construídos. Acredita-se que as ações de grupos sociais endógenos localizados

em Mato Grosso é que permitiram a conhecida concentração da produção cotonícola .

O start point se deu em 1989 com uma ação isolada de um grupo empresarial local

conjuntamente com a EMBRAPA, gerando uma inovação tecnológica ao estilo

schumpeteriano. A ruptura tecnológica incorporada na cultivar CNPA-ITA 90 representou

uma inovação tanto do processo produtivo quanto uma inovação no produto final. Em um

segundo momento, o acúmulo de conhecimento e o aprendizado dinâmico sobre o manejo da

cultivar CNPA-ITA 90 - learning by doing e learning by failing - que ocorreu em Mato

Grosso entre 1990 e 1996 foi de uma importância estratégica, devido a seleção das melhores

técnicas e ações referentes ao manejo do algodão no Cerrado, conferindo ganhos em

produtividade e qualidade pelo conhecimento da trajetória mais eficiente.

A criação endógena de programas de pesquisa, a partir de 1994, com recursos físicos

e financeiros locais, permitiu a melhoria constante do manejo e da evolução técnica da cultura

adaptada não somente às mesorregiões, mas a cada microrregião de Mato Grosso. Esta

adaptação microrregional permitiu um manejo de excelência em todas as regiões cotonícolas

do estado, onde a produtividade alcançou níveis internacionais aliado à qualidade superior da

fibra.

A criação do estímulo fiscal em 1997, também uma ação endógena, permitiu a rápida

evolução e a estruturação da cultura em quatro anos, pois como visto, a acumulação de capital

Page 92: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

91

que era negativa se tornou positiva e a um nível elevado, atraindo capitais produtivos. A

redução dos impostos seguiu duas direções: i) rebaixou os custos de produção e garantiu as

vantagens competitivas de custo para Mato Grosso; ii) como corolário da primeira, garantiu

lucros elevados para os cotonicultores mato-grossenses. Esta política de indução do

crescimento econômico por parte do Governo Regional potencializou o movimento de

formação do arranjo produtivo do algodão em poucos anos, fenômeno que poderia levar um

lapso de tempo muito maior para se concretizar, caso não existisse um esforço governamental.

Por fim, a organização institucional em redes de produtores garantiu uma estabilidade

da produção, sinalizando aos mercados consumidores o comprometimento do efetivo

abastecimento do produto final, com qualidade e preços competitivos, oriundos dos

programas de pesquisa e do incentivo fiscal. A cooperação entre os agentes permitiu também,

o florescimento de externalidades positivas na região, o que veio a minimizar possíveis efeitos

deletérios da competição acirrada entre produtores especializados concentrados

espacialmente.

Resumidamente, as cinco variáveis que indicam a concentração da produção

cotonícola em Mato Grosso podem ser: i) geração de inovação endógena; ii) acumulação de

conhecimento formal e tácito, ou seja, aprendizado dinâmico; iii) incentivos fiscais;

iv) difusão de tecnologia e informação; e v) organização institucional dos produtores.

Deve-se advertir que a ação destas variáveis não ocorreu de forma estanque e seguindo

uma seqüência lógica. A dinâmica ocorrida não pode ser separada a não ser por necessidade

didática. A geração de P&D não pode ser vista como um único momento - a criação da

CNPA-ITA 90 -, pois as instituições de P&D continuaram trabalhando na seleção das

melhores técnicas de manejo e em novas cultivares resistentes a pragas e doenças. Inclusive,

os investimentos em P&D são agora mais efetivos do que no início do processo de expansão.

Ter abordado por último a questão da ação institucional, não quer dizer que foi a

derradeira ação empreendida, pois esta se remete ao início dos anos 1990, embora tenha se

fortalecido a partir de 1998, com a renúncia fiscal, que garantiu a elevação de recursos

financeiros em poder dos cotonicultores. A organização institucional garantiu a criação de

novos programas de P&D e o fortalecimento dos antigos programas. A geração de

conhecimento científico pelas instituições de P&D permitiu a elevação da produção e o

fortalecimento da organização institucional. A renúncia fiscal possibilitou a geração de lucros

elevados, que refletiu diretamente em uma maior ação institucional e o acréscimo dos

recursos para os programas de P&D. Com uma organização institucional mais efetiva, as

atividades de difusão da tecnologia e do conhecimento por todo o arranjo produtivo foram

Page 93: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

92

incrementadas. A maior produção cotonícola elevou o PIB regional e, portanto, a base de

tributação direta e indireta, fortalecendo as finanças públicas e gerando expectativas de

manutenção dos programas de renúncia fiscal. Enfim, as variáveis agiram e continuam a agir

de forma dinâmica e entrelaçadas, o que pode configurar o Efeito H na cotonicultura de Mato

Grosso, onde uma variável age sobre outras que remetem sua ação à primeira, fortalecendo

todo o arranjo. A rigor, se verifica um ambiente institucional propício à expansão da

cotonicultura alicerçada nas ações da iniciativa privada, do Governo e das instituições de

P&D. O Efeito H parece ser visível pela elevação da acumulação capitalista calcada em

diversas ações dos agentes locais, permitindo um ambiente favorável à captação dos

excedentes gerados localmente e a atração dos excedentes de outras regiões.

Page 94: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

93

CAPÍTULO 4

AÇÕES DE AGENTES ENDÓGENOS E OS DESAFIOS FUTUROS DA

COTONICULTURA EM MATO GROSSO

"Os países em desenvolvimento têm duas opções: a ciência ou a miséria." (Bernardo Houssay)

4.1 A Ação Conjunta do Governo, da Iniciativa Privada e das Instituições de Pesquisa

Para evitar um possível deslocamento da cotonicultura de Mato Grosso para outras

regiões - o que já ocorreu das regiões tradicionais para o Centro-Oeste brasileiro -, tem se

verificado ações conjuntas de agentes endógenos para garantir a permanência da cultura

naquela unidade federativa. Para os cotonicultores, um possível deslocamento representaria a

eliminação de um excelente locus de investimento produtivo e acumulação de capital. Para as

instituições de P&D, o resultado provável seria a redução ou total ruptura dos fluxos de

recursos para os programas de pesquisa. Para o Governo do Estado, o deslocamento reduziria

a renda local, elevaria o desemprego no campo e na cidade e a receita tributária indireta

sofreria um considerável impacto negativo.

Todos os agentes tem buscado a resolução de problemas, muitas vezes com acordos

explícitos de cooperação em busca dos objetivos, que em última instância, são comuns. Para

induzir a instalação de indústrias e atrair novos investimentos produtivos, a iniciativa privada

e o Governo Regional criaram métodos de divulgação da marca "Mato Grosso" no país e no

exterior. A abertura de novos mercados consumidores contou com a participação das

instituições empresarias e com o Governo do Estado. As tentativas de encontrar uma nova

trajetória tecnológica para a cotonicultura conta com os programas de pesquisa das

instituições de P&D e do esforço dos produtores rurais para manter a cotonicultura mato-

grossense na fronteira tecnológica. Há, com certeza, a formação de um tecido institucional

forte, capaz de elevar a confiança entre os agentes e permitir a busca conjunta da superação

dos desafios impostos pelo mercado.

Page 95: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

94

4.2 As Ações do Governo do Estado de Mato Grosso e da Iniciativa Privada

O Governo do Estado de Mato Grosso, que encerrou seu mandato em 31/dez/2002,

teve como seu governador o Sr. Dante Martins de Oliveira. Este Governo gerenciou a

administração pública durante dois mandatos (oito anos), 1995-98 e 1999-2002. Durante este

período, o Governo buscou incentivar diversas cadeias produtivas que já estivessem se

estruturando no estado, fornecendo infra-estrutura e redução de impostos. Contudo, os

incentivos à produção não foram as ações prioritárias do primeiro mandato. Isto porque a

situação fiscal e orçamentária do Estado de Mato Grosso no início de 1995 era extremamente

delicada, pois o quadro era de déficit fiscal crônico, com receita incapaz de suportar as

despesas correntes da Administração Direta e dos outros poderes. A isso se somava a situação

deficitária de diversas empresas públicas estaduais25, cujas dívidas se encontravam em fase de

cobrança judicial (ALBANO, 2001). Este quadro de calamidade impossibilitava uma maior

atitude do Governo em relação ao desenvolvimento regional. Na perspectiva do

desenvolvimento endógeno, o Governo de Mato Grosso deveria adotar uma nova postura em

relação ao financiamento dos gastos, à administração dos recursos e os incentivos à produção.

Para reverter a situação desfavorável, a adoção de medidas emergenciais tornou-se

necessária ao novo Governo. A primeira decisão para o ajuste das contas públicas foi o

desligamento de aproximadamente dez mil funcionários que haviam sido contratados em

administrações anteriores sem concurso público. A segunda ação foi a liquidação de quatro

empresas públicas deficitárias: BEMAT S/A, CODEMAT, COHAB-MT e CASEMAT. O

terceiro passo foi a municipalização da SANEMAT S/A, onde sem deixar de atender a

população, o Estado transferiu às prefeituras a gerência do sistema de distribuição de água.

Somente com estas decisões, o Governo do Estado foi capaz de negociar dívidas de curto

prazo da ordem de R$680 milhões e parcelar esta dívida para pagamento em trinta anos

[(ALBANO, 2001); (SICM, 2002)].

Para Válter Albano (ALBANO, 2001), naquele momento de total descontrole fiscal26,

liberar o Estado do pesado ônus de manter empresas deficitárias já poderia ser considerado

um grande avanço. Porém, o Governo também deveria ter o importante papel de articulador

25 As principais eram: BEMAT S/A (Banco do Estado de Mato Grosso S/A); CODEMAT (Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso); COHAB - MT (Companhia de Habitação de Mato Grosso); CASEMAT (Companhia de Armazenagem e Silos de Mato Grosso); SANEMAT S/A ( Companhia de Saneamento de Mato Grosso S/A); e CEMAT S/A (Centrais Elétricas Mato-grossenses S/A) (ALBANO, 2001). 26 No ano fiscal de 1994, para cada R$100 arrecadado, o Estado gastou R$158 para a manutenção da máquina pública e pagamento das dívidas, um situação de insolvência fiscal no longo prazo (ALBANO, 2001).

Page 96: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

95

do processo de desenvolvimento, criando condições legais, estruturais e instrumentais para a

implantação de projetos de criação de emprego e renda, o que, consequentemente, poderia

aumentar o Produto Interno Bruto do Estado e a receita tributária do Governo Estadual,

reduzindo o déficit público. Ou seja, não bastaria apenas cortar custos e enxugar a máquina

pública, mas a economia regional deveria crescer para a receita fiscal também acompanhar

esta dinâmica.

Alguns passos haviam sido dados rumo à modernização do Estado e ao equilíbrio

fiscal. Entretanto, um dos históricos entraves para o crescimento da economia mato-grossense

se encontrava na geração e transmissão de energia elétrica. Mato Grosso sempre foi um

importador líquido de energia e qualquer elevação do consumo ou oscilação de carga no

fornecimento implicava em constantes interrupções de fornecimento. Havia, portanto, uma

grave deficiência na oferta de um insumo estratégico para o crescimento industrial.

A débil situação econômica e financeira da CEMAT S/A impossibilitava a alocação de

recursos para projetos de geração e transmissão de energia de qualidade e sem interrupções.

Para o Governo do Estado, repassar a CEMAT S/A para a iniciativa privada resolveria dois

grandes problemas: i) redução da dívida pública; e ii) novos investimento no setor elétrico.

Assim, em 1997, a empresa foi privatizada e o Governo recebeu o valor líquido de R$176

milhões pela venda da empresa.

Desta forma, a privatização da companhia energética representou muito mais do que o

simples ingresso de recursos e a dissolução das dívidas. Significou, a rigor, a perspectiva

concreta de solução para a crise energética, mediante o compromisso assumido pelo Grupo

Rede S/A - o vencedor do leilão - de realizar novos investimentos e atrair a atenção de

investidores externos (ALBANO, 2001).

No período pós-1998 observou-se um importante movimento do investimento privado

em Mato Grosso, onde o Grupo Rede concentrou seus esforços na melhoria da distribuição

aos consumidores, modernizando linhas de transmissão e construindo subestações de energia.

Outrossim, avaliando uma nova situação - em que o setor privado passou a determinar o

processo de expansão do setor energético - demais grupos se envolveram na construção de

termelétricas e hidrelétricas para a geração de energia, com o objetivo de vendê-la ao Grupo

Rede, a despeito do enorme déficit energético ainda verificado em Mato Grosso. Na Tabela

24, pode-se verificar os recentes investimentos realizados ou em realização no setor elétrico

de Mato Grosso, do Grupo Rede S/A, de um grupo norte-americano, Enron Corporation, e de

diversos consórcios nacionais, que passaram a se constituir em Produtores Independentes de

Energia (PIE).

Page 97: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

96

Tabela 24. Fornecimento de Infra-estrutura de Energia Elétrica Para o Setor Produtivo - Investimentos Públicos e Privados - 1998-2002

Agente Responsável Valor Investido Natureza do Capital

Obras Realizadas ou em Realização

Grupo Rede Cemat S/A R$ 200 milhões Privado Expansão e modernização do sistema de

transmissão e distribuição de energia elétrica

Enron Corporation US$ 570 milhões Privado

1. Construção da Usina Termelétrica Cuiabá I, com capacidade de geração de 480 Mw de energia

elétrica

2. Construção de 630 quilômetros de gasoduto interligando San José na Bolívia a Cuiabá no Mato

Grosso

3. Construção da Usina Cuiabá II, com capacidade de geração de 480 Mw de energia elétrica

Consórcio APM: Eletronorte S/A & Furnas S/A R$ 430 milhões Público e Privado

Construção da Usina Hidroelétrica de Manso, com capacidade de geração de 210 Mw de energia

elétrica

Consórcio Itiquira: Triunfo Agropecuária S.A &

Inepar Energia S.A. R$ 263 milhões Privado

1. Construção da Usina Hidroelétrica de Itiquira I, com capacidade de geração de 156 Mw de energia

elétrica

2. Construção da Usina Hidroelétrica de Itiquira II, com capacidade de geração de 95 Mw de energia

elétrica

Consórcio Guaporé: Miner. Santa Elina S.A & Caiuá

Serviços de Eletricidade S.A

R$ 126 milhões Privado

Construção da Usina Hidroelétrica de Guaporé, com capacidade de geração de 120 Mw de energia

elétrica

Consórcio Jauru: Cinco Estrelas Agropecuária e Participações Ltda. & Queiroz

Galvão Energética S.A

R$ 147 milhões Privado Construção da Usina Hidroelétrica de Jauru, com

capacidade de geração de 110 Mw de energia elétrica

Consórcio Ponte de Pedra: Inepar Energia S.A; Servix

Engenharia S.A; Cigla S.A & Constran S.A

R$ 190 milhões Privado Construção da Usina Hidroelétrica de Ponte de

Pedra, com capacidade de geração de 176 Mw de energia elétrica

Fonte: ANEEL, 2002.

A partir de 1999, com o funcionamento da primeira turbina da Termelétrica Cuiabá I -

da Enron Corporation - e com os investimentos realizados na transmissão e distribuição, o

fornecimento de energia elétrica por parte do Grupo Rede passou a ser mais confiável, sem

interrupções e com baixa oscilação. Além disso, o volume considerável de investimentos que

estão sendo implantados no setor energético de Mato Grosso garantem expectativas positivas

quanto à oferta e distribuição de energia, ao menos em um futuro próximo. Grosso modo,

pode-se dizer que a partir de 1999, o insumo energia não mais representava um ponto de

estrangulamento para a economia mato-grossense. Verifica-se na Tabela 25, o crescimento do

número de unidades consumidoras entre 1999 e 2001 (16,04%) acima da média do período

1996-98 (9,96%), em todos os setores, ratificando a argumentação acima.

Page 98: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

97

Tabela 25. N.° de Consumidores de Energia por Atividade no Estado de Mato Grosso (1995-2001)

1996 1997 1998 1999 2000 2001 Residencial 395.245 417.794 432.858 449.654 479.346 512.593 Comercial 46.441 49.115 49.894 51.357 56.011 60.683 Industrial 5.549 5.781 5.601 5.936 6.887 8.336 Rural 16.771 19.938 21.855 25.614 29.000 36.396 Outros 5.651 5.799 6.265 6.604 7.257 7.680 Total 469.657 498.427 516.473 539.165 578.501 625.688 Fonte: Pesquisa direta no Grupo REDE-CEMAT S/A.

O maior crescimento de unidades consumidoras no período 1999-2001 foi verificado

no setor Rural (42%), seguido pelo setor Industrial (40%), expansão muito acima da média

global de 16%. Os outros setores cresceram a taxas muito próximas do crescimento médio,

setor Comercial (18%), Outros (16%) e setor Residencial (14%).

Uma primeira conclusão, ainda a ser totalmente confirmada, poderia indicar uma

maior utilização de máquinas e equipamentos no setor primário, elevando a capacidade

técnica e apontando para uma possível utilização de tecnologia, que sem o fornecimento de

energia elétrica seria improvável. Ademais, o fornecimento de energia elétrica estaria

corroborando para se fortalecer ainda mais o fenômeno já observado desde a década de 1970

em Mato Grosso da "industrialização da agricultura", fato constatado e analisado por diversos

autores (PEREIRA, 1995).

O crescimento industrial verificado na expansão de 40% do número de unidades

consumidoras estaria diretamente ligado ao crescimento agropecuário, onde a transformação

industrial dos produtos agrícolas e a agregação de valor desses produtos passaram a ser

crescentemente feitos dentro das fronteiras de Mato Grosso. Para ilustrar esta situação, pode-

se apresentar a expansão do número de beneficiadoras de algodão que se instalaram em Mato

Grosso no período entre 1997 e 2001, estritamente relacionada com a expansão da produção

agrícola da fibra do algodoeiro (Tabela 26).

Tabela 26. Unidades de Beneficiamento de Algodão Herbáceo em Mato Grosso Ano 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Unidades de Beneficiamento 16 31 60 106 154 170

Capacidade Instalada (ton.) 35.600 71.800 146.800 275.600 431.200 528.000

FONTE: Fundação MT/ABINAL citado no Anuário Brasileiro do Algodão, 2002.

Um outro importante ponto de estrangulamento da economia mato-grossense estava

localizado nos transportes. A integração de Mato Grosso com os demais estados brasileiros e

Page 99: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

98

desses com outros continentes via redes logísticas, preferencialmente consolidando eixos de

integração multimodal, foi definido pelo Governo em conjunto com a iniciativa privada como

uma variável estratégica na busca da competitividade regional (Revista RDM, 2001). Em

parceria com a iniciativa privada e com o Governo Federal, a meta do Governo do Estado era

implementar pelo menos cinco Corredores de Exportação, visando a queda dos custos de

logística (Anexo II, pág. 131).

Segundo recente pesquisa do Governo do Estado de Goiás, o custo do frete dos

transportes hidroviário, ferroviário e rodoviário a partir do Centro-Oeste e com destino aos

portos brasileiros foi estimado (Tabela 27). O transporte por rodovias, como esperado, se

apresentou como o mais elevado, seguido pelo ferroviário. O frete hidroviário representou a

melhor alternativa para o escoamento da produção do Centro-Oeste.

Tabela 27. Estimativa do Custo de Transporte Multimodal Verificado na Região Centro-Oeste

Modal Custo/tonelada/quilômetro

Frete Hidroviário US$0,008

Frete Ferroviário US$0,022

Frete Rodoviário US$0,038

Fonte: Governo do Estado de Goiás, 2001, citado em MERCOESTE, 2002.

Em Mato Grosso, o transporte rodoviário representa 80% da movimentação total de

cargas agrícola e industriais (MERCOESTE, 2002). Como verificado, este é o modal logístico

de menor competitividade. Para reduzir a dependência deste modal ou mesmo utilizá-lo de

forma mais racional, duas alternativas são possíveis: i) utilizar a menor rota rodoviária entre o

centro produtor e o centro consumidor (ou porto de exportação); e ii) investir em outros

modais. No primeiro caso, já há um projeto de ligação rodoviária entre Cuiabá e San Matias

na Bolívia, via BR-070. A conclusão desta obra irá permitir a exportação de produtos para a

Ásia com menor custo, haja vista a utilização dos portos de Ilo e Matarani no Peru e de Arica

e Iquique no Chile, passando pelas cidades bolivianas de Santa Cruz, Cochabamba e La Paz.

Dos mil quilômetros de rodovia, faltam 520 quilômetros por asfaltar em solo boliviano. A

redução do custo, neste caso, não será no transporte rodoviário, mas no hidroviário (Oceano

Pacífico), evitando os portos de Santos e Paranaguá, no Oceano Atlântico. Já se pode perceber

uma expectativa positiva por parte da iniciativa privada de Mato Grosso, que espera a

conclusão desta obra nos próximos anos. Este rota de exportação é chamada de Eixo Pacífico

pelo Governo mato-grossense [(COSTA et al., 2001); (Revista RDM, 2001); (MERCOESTE,

2002)].

Page 100: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

99

Em relação à redução da dependência do modal rodoviário, percebe-se um esforço

para escoar a produção pelos modais ferroviário e hidroviário, logicamente em função dos

baixos custos em relação ao transporte rodoviário. Já no ano de 2001, das 14 milhões de

toneladas de produtos agrícolas produzidos em Mato Grosso, 4,6 milhões foram transportadas

por hidrovia (1,1 milhão) e ferrovia (3,5 milhões), o que representa 33% da movimentação

total de cargas agrícolas (Revista RDM, 2002).

Um importante alternativa desta diversificação na logística se corporifica no Eixo

Oeste-Norte, que é composto pelos modais rodoviário e hidroviário. As mercadorias seguem

de Cuiabá a Porto Velho pela rodovia BR-364, onde são embarcadas e transportadas pelo rio

Madeira até o porto de Itacoatiara, no estado do Amazonas, onde está instalado um terminal

graneleiro privado. A partir deste ponto, as mercadorias seguem em navios oceânicos com

destino ao mercado internacional (RDM, 2001). Estima-se que o escoamento por este eixo

economiza US$23,50 por tonelada transportada (LÍCIO & CORBUCCI, 1996).

O Eixo Leste-Norte interliga Mato Grosso à Ferrovia Norte-Sul e posteriormente ao

Porto de Itaqui. É formado pelos modais rodoviário, hidroviário e ferroviário. Os produtos

seguem pela rodovia BR-158 e BR-212 até São Félix do Araguaia - MT, de onde são

embarcadas e transportadas pelos rios Das Mortes, Araguaia e Tocantins. Em Marabá, os

produtos são transferidos para os vagões da Ferrovia Norte-Sul e são levados até São Luís, no

Maranhão (RDM, 2001). Atualmente, a redução dos custos neste eixo são de US$16,00 por

tonelada (LÍCIO & CORBUCCI, 1996).

O Eixo Sul I é formado pelos modais rodovia-ferrovia. Os produtos com destino à

exportação ou às regiões Sul e Sudeste do Brasil são transportados por rodovia até o Terminal

Ferroviário de Alto Taquari, na divisa entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Deste

terminal, os produtos seguem pela Ferronorte até o estado de São Paulo e o Porto de Santos

(Revista RDM,2001). A redução nos custos de transporte chegam a US$20,00 por tonelada

neste eixo, considerando o trecho entre Inocência - MS e Santos - SP (COSTA et al., 2001).

O Eixo Sul II é formado por rodovias e hidrovias. As mercadorias são transportadas

por rodovia até o Porto de Cáceres - MT, onde são embarcadas e seguem pelo rio Paraguai,

com duas possibilidades: i) serem levadas até os Portos de Santos e Paranaguá pelo Rio

Paraná; ou ii) serem levadas até o Porto de Nueva Palmira, no Uruguai (Revista RDM, 2001).

Dos cinco corredores multimodais de exportação, o Eixo Pacífico, o Eixo Leste-Norte

e o Eixo Sul II são os menos utilizados. O primeiro, em função de um longo trecho rodoviário

sem asfaltamento. O segundo, porque a hidrovia não está totalmente liberada à navegação,

pois os rios passam em áreas restritas, como reservas indígenas. O terceiro, em função de

Page 101: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

100

movimentos ambientalistas contra a utilização do Pantanal Mato-grossense como rota de

transporte.

O Eixo Oeste-Norte está atraindo maior atenção e passou a ser mais utilizado, por já

contar com infra-estrutura física desde o início da década de 1990 e representar a maior

redução no custo de operação. Contudo, é o Eixo Sul I que representa o maior potencial de

escoamento e a expectativa positiva de redução de custos. O terminal ferroviário está

localizado na principal região agrícola do estado e a ferrovia está interligada ao Porto de

Santos. No seu primeiro ano de operação - em 2000 -, a Ferronorte transportou 1,4 milhão de

toneladas de carga. Em 2001, foram transportadas 3,5 milhões de toneladas. Em 2002, a

previsão é de 5,0 milhões de toneladas (Revista RDM, 2002). O Eixo Sul I pode constituir em

um elemento importante nas vantagens competitivas da região.

A iniciativa privada - Grupo André Maggi - vem tentando criar o Eixo Centro-Norte.

Esse eixo é composto pela rodovia BR-163 e pela hidrovia Tapajós-Amazonas. Contudo, a

sua implementação depende do asfaltamento de mil quilômetros da BR-163 entre Cuiabá e

Santarém. A iniciativa privada já construiu a infra-estrutura necessária no Porto de Itaituba. O

esforço conjunto com o Estado poderá criar uma nova rota de exportação se o asfaltamento da

BR-163 for concluído (Revista RDM, 2001).

Os recentes investimentos em transporte tanto pelo Governo do Estado quanto pela

iniciativa privada no estado de Mato Grosso, que foram realizados a partir de 1998, tem um

objetivo muito transparente: reduzir os custos de transporte do centro produtor até os centros

consumidores para elevar as vantagens competitivas regionais. O Estado se concentrou na

melhoria das estradas vicinais - substituindo pontes de madeira em precárias condições de uso

por pontes de concreto e asfaltando 1.050 quilômetros de rodovias estaduais - que dão acesso

aos troncos principais de escoamento. A iniciativa privada, por sua vez, investiu na retirada

das mercadorias do estado até os portos de exportação, construindo uma ferrovia interligando

o Sudeste de Mato Grosso ao estado de São Paulo e ao Porto de Santos e melhorando a infra-

estrutura dos portos fluviais localizados nos estados de Mato Grosso e Pará (Tabela 28).

O Governo do Estado de Mato Grosso tem papel relevante no recente processo de

criação de infra-estrutura para o setor produtivo. As dificuldades de financiamento do

Governo o levaram a fazer parcerias com a iniciativa privada e induzir o investimento em

Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Esta atitude do Governo está totalmente conjugada

com a sua busca do equilíbrio fiscal. Para arrecadar mais, seria necessário elevar a carga

tributária ou contar com o crescimento do PIB estadual. Como o Governo não contava com

Page 102: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

101

poupança pública para investir e a carga tributária já se apresentava extremamente elevada, o

crescimento econômico seria a alternativa viável.

Tabela 28. Fornecimento de Infra-estrutura de Transportes para o Setor Produtivo Investimentos Públicos e Privados - 1998-2002

Característica Agente Responsável Valor Investido Capital Obras

Transporte Rodoviário

Governo do Estado de MT R$ 98 milhões Público Restauração e pavimentação de 1.050 quilômetros de asfalto

em rodovias estaduais

Transporte Rodoviário

Governo do Estado de MT US$ 55 milhões Público Construção de 52 pontes de concreto substituindo pontes de

madeira

Transporte Ferroviário Ferronorte S/A R$1,5 bilhão Privado

1. Construção e implantação de 411 quilômetros de trilhos interligando Aparecida do Taboado-MS a Alto Taquari-MT

2. Construção de 02 Terminais de carga

3. Aquisição de locomotivas e vagões

Transporte Hidroviário

Governo do Estado de MT e

Iniciativa Privada ... Público e

Privado Abertura e inicio da operação de dois eixos hidroviários:

I. Paraguai-Paraná; e II. Mortes-Araguaia-Tocantins.

Transporte Multimodal

Rodovia-Hidrovia

Grupo André Maggi ... Privado Utilização da Rodovia BR-163 até o porto de Itaituba-PA, de

onde segue via Hidrovia Tapajós-Amazonas

Fonte: SICM, 2002; Revista RDM, 2002.

Assim, percebe-se claramente que a partir da segunda metade da década de 1990 que

há um ambiente institucional propício ao desenvolvimento endógeno em Mato Grosso, onde o

Governo Estadual e a iniciativa privada buscam conjuntamente alternativas para o

crescimento econômico, melhorando e ampliando a infra-estrutura física, principalmente a

oferta de energia elétrica e a abertura de rotas alternativas de escoamento da produção. Além

disso, a redução da carga tributária e o incentivo ao desenvolvimento tecnológico são

estratégias previstas na teoria do desenvolvimento endógeno como elementos

impulsionadores do crescimento econômico regional.

Neste complexo movimento, não só a cotonicultura encontrou ambiente favorável para

o seu desenvolvimento, mas toda a economia regional foi estimulada. Dados do IBGE

ilustram bem esta situação. Entre 1995 e 1999, o estado de Mato Grosso foi a unidade

federativa que mais cresceu do ponto de vista puramente econômico. Enquanto o PIB do

Brasil cresceu 11,4%, a economia mato-grossense cresceu 22,6% no mesmo período. Os anos

de 1998 e 1999 representaram o ápice deste crescimento, sendo que em 1998 a economia

mato-grossense cresceu 7,4% e em 1999, 8,7%. O PIB corrente atingiu o montante de

R$11,58 bilhões em 1999, onde a participação no Produto Nacional passou de 1,08% em 1998

para 1,20% em 1999 [(SEPLAN et al., 2002); (SICM, 2002)].

Page 103: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

102

Uma importante ressalva deve ser feita neste ponto. A vigorosa expansão do PIB

agrícola de Mato Grosso não foi resultado apenas do crescimento da cotonicultura. Todo o

conjunto agrícola apresentou crescimento durante a segunda metade da década de 1990. A

sojicultura foi o grande vetor da expansão, influenciada principalmente em função da Lei

Kandir, da elevação dos preços internacionais, da demanda internacional - leia-se União

Européia e EUA - crescente da soja em grão e das condições de produção em grande escala

em Mato Grosso (PEREIRA & FARIA, 2001). Na Tabela 29, nota-se que a sojicultura

ocupava 60% da área cultivada em Mato Grosso em 1996 e em 2000 se manteve com a

mesma participação relativa. Em apenas quatro anos, 1,5 milhão de hectares de Mato Grosso

foram incorporados à atividade produtiva agrícola e, destes, 950 mil se destinaram à produção

de soja. A taxa de incorporação de novas áreas neste período foi de 11,96% ao ano, refletindo

a importante participação da sojicultura naquela região, que cresceu em média 12,4% ao ano

entre 1996 e 2000.

Tabela 29. Expansão do Conjunto Agrícola de Mato Grosso - Área Cultivada (ha) (1996-2000)

Atividades/Produção 1996 1997 1998 1999 2000

1. Lavoura Temporária 3.191.104 3.407.458 3.753.672 4.259.560 4.715.558

1.1 Soja 1.956.148 2.192.514 2.643.389 2.635.010 2.906.448

1.2 Arroz 429.086 355.231 364.148 726.682 698.518

1.3 Milho 542.636 573.276 410.934 440.612 541.792

1.4 Algodão 55.075 42.259 106.483 200.182 257.762

1.5 Cana-de-açúcar 118.506 133.950 136.462 147.873 135.029

1.6 Sorgo 38.626 55.544 37.875 46.838 103.845

1.7 Feijão 30.619 28.572 25.214 30.164 28.326

1.8 Mandioca 17.915 18.421 23.977 21.424 27.317

1.9 Outras 2.493 7.691 5.190 10.775 16.521

2. Lavoura Permanente 63.346 95.842 77.143 91.480 95.999

2.1 Café 11.986 17.062 22.151 32.671 35.323

2.2 Banana 22.272 56.247 30.148 29.387 26.323

2.3 Borracha 24.154 17.123 19.563 23.470 26.198

2.4 Outras 4.934 5.410 5.281 5.952 8.155

Total Geral (1+2) 3.254.450 3.503.300 3.830.815 4.351.040 4.811.524

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal, 2002.

Porém, outras culturas também foram protagonistas desse crescimento econômico. A

média anual de crescimento da produção de algodão (+92,00), café (+48,67), sorgo (+42,21),

arroz (+15,69) e mandioca (+13,12) se apresentaram acima da média do conjunto agrícola

(+11,96). Apesar de algumas importantes culturas regionais como cana-de-açúcar, milho,

feijão, banana e borracha apresentarem crescimento negativo ou inexpressivo no período, não

se percebe, analisando a Tabela 29, que haja um movimento de substituição de culturas

Page 104: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

103

tradicionais por novas culturas, dado que a agricultura mato-grossense demonstra uma

trajetória positiva na incorporação de novas áreas.

O que fica claro é a elevação da participação relativa de novas culturas como o

algodão, o sorgo e o café, além de retomada da produção de arroz, beneficiado pelo programa

de incentivos PROARROZ27, em contrapartida à redução relativa - e não absoluta - da

produção tradicional de milho, feijão, cana-de-açúcar, banana e borracha.. Assim, a expansão

da cotonicultura não se deu de forma isolada do movimento maior do conjunto agrícola mato-

grossense e, a priori, não se percebe um efeito-substituição entre a cotonicultura e outra

cultura agrícola em Mato Grosso.

Este crescimento da agricultura e da economia de Mato Grosso como um todo

logicamente refletiu na arrecadação tributária do Governo. Os esforços de modernização e

redução do custo de operação do Estado, aliado a um aumento da receita fiscal redundaram

em uma melhora do Resultado Operacional das contas públicas de Mato Grosso. No triênio

1997-99, houve uma substancial queda do déficit público estadual. Em 2000, o Governo do

Estado de Mato Grosso alcançou o equilíbrio fiscal, igualando a Receita Corrente Líquida

(RCL) com as Despesas e o pagamento das Dívidas (Tabela 30). Com o equilíbrio financeiro

em curso, a partir de 1999 o Governo do Estado criou diversos programas de incentivo às

Cadeias Produtivas do estado, seguindo a lógica do PROALMAT [(ALBANO, 2001); (SICM,

2002)].

Tabela 30. Situação Fiscal de Mato Grosso em % da Receita Corrente Líquida (RCL) - (1995-2000)

Custeio 1995 1996 1997 1998 1999 2000

1. RCL 100 100 100 100 100 100

2. Despesas 126 91 83 98 90 81

2.1 Pessoal 82 69 57 59 52 54

2.2 Custeio 44 22 26 39 38 27

3. Resultado Primário (26) 9 17 02 10 19

4. Dívida 29 49 25 22 21 19

5. Resultado Operacional (55) (40) (08) (20) (11) 00

Fonte: SEFAZ- MT (Secretaria de Estado da Fazenda de Mato Grosso), citado em Albano, 2001.

As Cadeias Produtivas incentivadas foram aquelas que já estavam instaladas em Mato

Grosso, ao menos o seu elo principal, e que apresentavam possibilidades de ganhos em

competitividade. Foram criados sete programas: i) PROMADEIRA (Programa de

Desenvolvimento do Agronegócio da Madeira), em 1999; ii) PROCOURO (Programa de

Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Couro), em 1999; iii) PROCAFÉ (Programa de

Page 105: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

104

Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Café), em 2000; iv) PROARROZ (Programa de

Incentivo a Cultura do Arroz), em 2000; v) PROINFORMÁTICA (Programa de Incentivo a

Informática), em 2000; vi) PROMINERAÇÃO (Programa de Incentivo a Mineração), em

2000; e vii) PROLEITE (Programa de Incentivo a Produção de Leite), em 2001 (SICM,

2002).

Todos os programas envolvem renúncia fiscal, obrigatoriedade de organização

institucional da classe produtiva, investimento em P&D de parcela da renúncia fiscal para a

efetiva melhoria da qualidade e também inclui o manejo correto que garanta sustentabilidade

ambiental (SICM, 2002).

A rigor, o Governo de Mato Grosso concentrou suas ações em três importantes

elementos para atrair investimentos que permitissem o crescimento econômico regional:

i) oferecer infra-estrutura básica para o setor produtivo (energia e transportes); ii) criar

programas de incentivo, principalmente redução de impostos; e iii) alcançar e manter o

equilíbrio fiscal, que gera expectativas de manutenção dos programas de redução de impostos

e permita a geração de poupança pública.

Percebe-se claramente um novo enfoque do Governo de Mato Grosso para o

desenvolvimento regional, onde aliam-se as estratégias clássicas de oferta de infra-estrutura e

redução de impostos com novas abordagens, como a obrigatoriedade de investimento em

P&D pelo setor incentivado, o equilíbrio fiscal em contrapartida ao modelo de financiamento

keynesiano, a parceria com o setor produtivo para a resolução de problemas e o repasse da

definição dos arranjos produtivos à iniciativa privada. Pode-se afirmar, assim, que as ações do

Governo de Mato Grosso vão de encontro à premissas básicas do desenvolvimento endógeno,

onde o Estado deixa de ser o protagonista principal do desenvolvimento e passa a dividir suas

responsabilidades com a sociedade local.

Com a forte expansão da economia regional na segunda metade da década de 1990 -

principalmente no setor primário -, o próximo passo seria desencadear o processo de

industrialização da produção, na perspectiva de transformar Mato Grosso no maior pólo

agroindustrial do país. Para isso, o Governo deveria demonstrar ao setor produtivo as suas

potencialidades naturais, a infra-estrutura construída, o equilíbrio financeiro do Estado, os

programas de incentivo e a credibilidade perante a iniciativa privada [(ALBANO, 2001);

(Revista RDM, 2002)].

27 Programa de Incentivo à Cultura do Arroz de Mato Grosso.

Page 106: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

105

4.2.1 A Ação de Marketing Regional

Dois amplos programas de marketing institucional foram criados para difundir a marca

"Mato Grosso". Um deles, conhecido como "Mato Grosso: É Hora de Investir", foi uma

ambiciosa ferramenta utilizada pelo Governo do Estado em parceria com onze grupos

empresariais, três instituições de representação classista e uma instituição pública de fomento.

Este programa buscou mostrar as potencialidades da região, com dois claros objetivos:

i) atrair investimentos produtivos, principalmente agroindústrias ligadas às Cadeias

Produtivas mato-grossenses; e ii) elevar as exportações de todas as commodities ou produtos

agroindustriais já produzidos no estado.

A metodologia se baseou na exibição de um vídeo que apresentava os ecossistemas

existentes em Mato Grosso, a produção agropecuária, as potencialidades de expansão das

atividades relacionadas ao agro, os avanços alcançados no fornecimento de infra-estrutura, os

programas de incentivo fiscal e tecnológico e os resultados obtidos pelo Governo na conquista

do equilíbrio fiscal. Em seguida, o próprio governador do estado expunha as vantagens e

expectativas positivas de se investir em Mato Grosso, enfocando principalmente o equilíbrio

fiscal, fato que garantiria a efetividade dos programas de renúncia fiscal e a lucratividade

elevada das empresas. O forte argumento de que as regras de redução de impostos não seriam

quebradas em função da estabilidade financeira do Estado eram endossadas com depoimentos

de todos os representantes das instituições empresariais em parceria com o Executivo

Estadual, que reafirmavam a disposição do Governo em cumprir os contratos (RDM, 2002).

Estrategicamente, a exposição envolvia a presença do Poder Executivo, como o

criador das condições básicas para a acumulação de capital, porém com algumas atribuições

novas: manter as finanças públicas sobre controle, garantir os contratos de redução de

impostos, incentivar a geração de tecnologia local, cooperar na abertura de novos mercados e

atrair novos investimentos para o desenvolvimento sistêmico da economia regional, além das

clássicas atribuições de fornecer infra-estrutura física e redução de impostos.

A iniciativa privada, por sua vez, referendava a exposição dos agentes estatais, dando

credibilidade ao processo de desenvolvimento em Mato Grosso, criando expectativas

positivas para o investimento de capitais agroindustriais externos à região. Diversos setores

estavam envolvidos: o setor energético28, de transporte29, agroindustrial30, agropecuário31,

28 Quatro grupos empresariais participaram dos eventos de marketing: Rede-Cemat, Enron Corporation, Eletronorte S/A e Furnas S/A. 29 Ferronorte S/A.

Page 107: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

106

comercial32 e de serviços33. Esta colaboração entre estes agentes demonstra a criação de um

tecido institucional, onde as instituições buscam a cooperação para o objetivo comum: o

desenvolvimento regional.

A participação de três entidades de representação classista34 foram importantes para

demonstrar a capacidade de aglutinação e a cooperação entre o setor produtivo, tanto do setor

primário quanto dos setores secundário e terciário. Por fim, estrategicamente, a Sudam

(Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia) apresentava as linhas de crédito

disponíveis para investimentos na região, devido Mato Grosso pertencer à Amazônia Legal.

Fechava-se o ciclo para atração do investimento produtivo: potencialidades naturais,

incentivos fiscais, oportunidade de lucros econômicos elevados e crédito bancário.

Tabela 31. Ações de Marketing Institucional - Programa "Mato Grosso: É Hora de Investir" (1999-2000)

Cidade/País Data N.° de Empresários Participantes

Instituições Privadas de Mato Grosso que Participaram em Parceria com o Governo do Estado nas Ações de Marketing

São Paulo (Brasil) Set/99 450

Rio de Janeiro

(Brasil) Mar/00 250 ELETRONORTE S/A FURNAS S/A

Rosário (Argentina) Mar/00 150 GRUPO REDE-CEMAT S/A

ENRON DO BRASIL S/A Ribeirão Preto

(Brasil) Mai/00 150 SADIA OESTE S/A CARROLL'S FOOD S/A

São Paulo (Brasil) Ago/00 120 FERRONORTE S/A

GRUPO ANDRÉ MAGGI S/A São Paulo (Brasil) Set/00 400 GRUPO ATACADÃO S/A

MAKRO SUPERMERCADOS S/A Belo Horizonte

(Brasil) Set/00 200 AGROINVEST S/A FAMATO

Chicago (EUA) Out/00 200 FECOMÉRCIO

FIEMT Miami (EUA) Nov/00 100 SUDAM

Hannover

(Alemanha) Nov/00 150

Fonte: SICM - MT, 2001, citado na Revista RDM, 2002.

Entre 1999 e 2001, foram realizados dez eventos de marketing institucional, onde a

parceria entre o Governo e a iniciativa privada difundiram a marca "Mato Grosso" para 2.170

empresários brasileiros, argentinos, norte-americanos e alemães (Tabela 31). No Brasil, os

esforços se concentraram na principal região econômica, sendo quatro ações de marketing no

estado de São Paulo, uma no Rio de Janeiro e uma em Minas Gerais. No exterior, uma ação

foi realizada na Argentina, duas nos EUA e uma na Alemanha.

30 Sadia Oeste S/A e Carroll's Food S/A. 31 A maior empresa do setor agropecuário de Mato Grosso: Grupo André Maggi S/A 32 Grupo Atacadão S/A e Makro Supermercados S/A 33 Agroinvest S/A, consultoria de agronegócios. 34 Famato (Federação da Agricultura de Mato Grosso), Fiemt (Federação das Indústrias de Mato Grosso) e Fecomércio (Federação do Comércio de Mato Grosso).

Page 108: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

107

Os resultados verificados foram expressivos, sendo que os dois grandes objetivos da

ação de marketing, atrair investimentos e impulsionar as exportações foram alcançados. Nas

Tabelas 32 e 33, pode-se perceber a elevação tanto das exportações entre 1999 e 2001 quanto

o impressionante crescimento dos investimentos privados em Mato Grosso.

Nota-se que o complexo soja responde por mais de 80% do total das exportações, mas

outros produtos como madeiras, carnes, algodão, couro, açúcar, alimentos e sementes

passaram a compor a pauta de exportações. Há uma clara abertura de mercado, onde os bens

produzidos em Mato Grosso passam a se inserir no mercado internacional. Diversos fatores

podem estar correlacionados com esta elevação das exportações, como: desvalorização

cambial, redução de impostos, ganhos em competitividade sistêmica, redução de custos de

transporte, utilização de tecnologia, marketing institucional entre outros. Seria extremamente

difícil isolar o efeito de cada variável neste processo, contudo a divulgação dos produtos no

exterior tem a capacidade de apresentar aos consumidores todos os avanços obtidos na

competitividade regional, tanto do ponto de vista do preço quanto da qualidade do produto. O

elemento fundamental do marketing é a informação sobre a formação institucional da região,

reduzindo as falhas de mercado e permitindo uma melhor visualização por parte dos

compradores sobre os produtos ofertados.

Tabela 32. Performance das Exportações de Mato Grosso (em US$)

Produtos 1997 1998 1999 2000 2001 Soja 789.188.079 503.537.547 552.832.567 852.045.256 1.130.027.168 Madeira 37.270.316 28.790.405 58.035.324 77.652.813 84.423.737 Carnes 44.848.586 90.614.746 92.248.766 63.527.958 76.458.134 Algodão 0 0 2.477.598 15.212.270 65.688.794 Couro 1.607.903 7.908.739 14.185.044 10.411.687 9.564.286 Minerais 48.062.415 6.176.470 5.699.114 6.207.934 5.441.375 Açúcar 1.627.129 4.222.193 9.809.997 3.630.011 17.503.991 Alimentos 0 0 0 0 5.973.666 Bebidas 0 0 0 483.481 336.413 Sementes 0 0 0 413.482 8.438 Cimento 917.604 854.240 635.901 377.616 131.609 Outros 1.013.781 7.509.862 5.170.907 3.390.997 200.389 Total 924.535.813 649.614.202 741.095.218 1.033.353.505 1.395.758.000 Fonte: SECEX - MDIC - Sistema ALICE, 2002.

É fácil de se perceber que a pauta de exportações mato-grossenses está intimamente

ligada ao complexo agroindustrial, onde alimentos e bebidas representam a base da economia

regional. E é justamente nestas atividades ligadas à agropecuária que se verifica o principal

movimento de investimentos privados em Mato Grosso após as ações de marketing

institucional.

Page 109: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

108

Tabela 33. Investimentos Privados Em Realização em Mato Grosso (2001-2003)

Atividade Valor (em R$1.000,00) %

Geração e Transmissão de Energia 3.603.795 30,05

Agroindústrias 2.560.648 21,35

Extração e Transformação de Minerais 1.407.400 11,74

Agropecuária 1.382.970 11,54

Transportes 880.821 7,34

Complexo Produtivo do Algodão ( inclui beneficiamento, fiação

e tecelagem da fibra e extração do óleo de algodão) 834.370 6,95

Telefonia 635.760 5,30

Comércio e Serviços 429.888 3,58

Indústria de Transformação 256.735 2,15

Total dos Investimentos 11.992.387 100,00

Fonte: SICM, 2002.

Considerando que o PIB de Mato Grosso - a preços constantes de 1999 - foi estimado

em R$11,58 bilhões, os investimentos programados no período 2001-2003 de magnitude igual

a R$11,9 bilhões35 representam uma massa de capitais produtivos capaz de gerar efeitos

dinâmicos por toda economia estadual. Particularmente, os investimentos privados em

energia, transportes e telecomunicações representam aproximadamente R$5,1 bilhões,

permitindo uma melhoria do fornecimento de infra-estrutura que poderá agir diretamente nas

vantagens competitivas regionais. Além disso, serão implantados plantas agroindustriais

diretamente relacionadas ao beneficiamento local de soja, milho, algodão, cana-de-açúcar,

arroz, carnes de bovinos, eqüinos, suínos, aves e peixes, madeira, mandioca, leite, dendê e

café.

Apenas para beneficiar a fibra do algodão produzido em Mato Grosso, estão sendo

implantados projetos de R$834 milhões na construção de mais uma unidade de

beneficiamento da fibra, duas novas unidades fiação e vestuário e uma de fabricação do óleo

de algodão, que pode representar uma alternativa de agregar maior valor à produção primária

da fibra.

Se se considera que a elevação dos investimentos privados está relacionada com o

novo papel do governo regional e pautada também na definição dos arranjos produtivos pelos

agentes locais, a nova ambiência alcançada por uma política endógena de crescimento

35 Os investimentos privados registrados na SICM em julho de 1999 eram de R$4,7 bilhões. Após o programa de marketing institucional, os investimentos registrados se elevaram a R$11,9 bilhões (AVALONE JR., 2002).

Page 110: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

109

econômico pode gerar, em um futuro próximo, alterações na estrutura econômica e social e

promover o desenvolvimento humano na região. A ação conjunta dos agentes locais tem

demonstrado a capacidade de formação de um tecido institucional forte, capaz de romper os

grilhões do paradigma de desenvolvimento de "cima para baixo", inaugurando uma forma

especial de desenvolvimento regional, onde os agentes locais passam a conquistar um grau de

liberdade importante quando se projeta Complexos Produtivos coerentes com a vocação

regional e local.

Um outro programa de marketing foi criado para difundir especificamente o

Complexo Produtivo do Algodão, baseado na marca "Mato Grosso Cotton Quality". O

programa foi realizado em parceria entre a AMPA e o Governo do Estado de Mato Grosso,

com recursos financeiros provenientes do FACUAL36. Com a iminente auto-suficiência

brasileira na produção de algodão, os cotonicultores consideraram necessário a criação de

novas alternativas de mercado para escoar os possíveis excedentes produzidos. Lastreada em

suas vantagens competitivas de preço e qualidade, as ações de marketing institucional visaram

demonstrar a capacidade dos produtores mato-grossenses em oferecer um produto

diferenciado e de custo acessível aos mais exigentes mercados externos (AMPA, 2002).

Foram realizados seis eventos, sendo dois no Brasil e quatro no exterior (Tabela 34). A

estratégia se baseou na apresentação da magnitude da safra mato-grossense, na qualidade

intrínseca da fibra, nos custos de produção por arroba, no esforço do governo regional na

redução dos custos e na criação de programas de geração e capacitação tecnológica para a

cotonicultura. O principal objetivo foi criar uma relação de confiança para com o mercado

externo, reduzindo as incertezas em relação a qualidade do produto e a efetiva capacidade de

abastecimento do mercado pelo cumprimento dos prazos contratuais (AMPA, 2002).

A apresentação formal da nova fronteira cotonícola aos mercados internacionais,

estruturada em uma classe produtiva organizada institucionalmente, contando com diversas

programas de pesquisa buscando a excelência da produção e respaldada no apoio irrestrito do

Governo regional representou uma importante estratégia de redução dos riscos pela

disseminação da informação. Buscou-se, a rigor, apagar a imagem negativa dos produtores de

algodão do Brasil no exterior, imagem esta ocasionada pela anulação de diversos contratos de

vendas externas no final de década de 1970 (NIERI, 1998).

36 Fundo de Apoio a Cultura do Algodão, que administra 15% do valor total da renúncia fiscal do PROALMAT.

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110

Tabela 34. Ações de Marketing Institucional da Cotonicultura Realizadas pela AMPA e

Governo do Estado de Mato Grosso (2001-2002) Ano Cidade e País Nome do Evento Resultados Esperados

2001 Campo Grande - Brasil III Congresso Brasileiro do Algodão

1. Abertura de mercado e elevação das exportações 2001 Victória Falls - Zimbabwe 60.ª Reunião da ICAC

2001 Budapeste - Hungria Encontro Anual da ITMF

2001 Liverpool - Inglaterra Jantar Anual da Liverpool Cotton Association (LCA)

2. Manutenção da cotonicultura em Mato Grosso no longo prazo 2002 Rondonópolis - Brasil Agrishow Cerrados

2002 Bremen - Alemanha 26.ª Cotton Conference

Fonte: AMPA, 2002.

Para a AMPA, os resultados obtidos na crescente exportação de algodão mato-

grossense a partir de 1998 (Tabela 32) demonstram claramente que o investimento de recursos

em qualidade, promoção e marketing setorial torna-se altamente compensador e de um retorno

econômico extremamente considerável, representando um caminho promissor para

investimentos coletivos. Além disso, foram criadas expectativas positivas tanto pelo lado dos

compradores internacionais quanto pelos produtores mato-grossenses em relação ao

fornecimento da fibra no futuro próximo. Os compradores internacionais esperam um produto

de alta qualidade a custos competitivos e o efetivo cumprimento dos contratos. Os produtores

esperam a realização dos contratos e elevação das exportações (AMPA, 2002).

Ademais, analisando o método de exposição do projeto "Mato Grosso Cotton Quality",

percebe-se o fortalecimento de um sistema institucional capaz de condicionar os processos de

acumulação de capital, onde o Governo regional e a iniciativa privada criam estratégias de

manutenção e fortalecimento dos arranjos produtivos regionais. Claro está que ações de

cooperação institucional não devem se dar apenas ad hoc, mas serem efetivas na dinâmica

temporal para que as estruturas internas da região possam ser alteradas e o espaço em questão

alcance um nível superior de desenvolvimento econômico e social.

4.3 As Ações das Instituições de P&D e o Risco Ambiental

A criação da Fundação MT em 1994 permitiu encontrar o melhor manejo da

cotonicultura e a sua codificação para todos os produtores mato-grossenses. Mas foi a partir

da criação do PROALMAT que se criaram as condições institucionais e financeiras para os

programas de pesquisa na cotonicultura. Juntamente com a renúncia fiscal da ordem de 75%

Page 112: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

111

do ICMS sobre o algodão, o Governo do Estado criou um fundo de fomento, o FACUAL -

onde os produtores devem depositar 15% da renúncia fiscal recebida - para incentivar

programas de geração de P&D cotonícolas. O FACUAL foi criado pela Lei Estadual n.° 6883

e pelo Decreto n.° 1589, em 08/07/1997, e é administrado por um Conselho Gestor, composto

pelas seguintes instituições (MATO GROSSO, 1997):

i) SAAF/MT - Secretaria de Estado de Agricultura e Assuntos Fundiários de Mato Grosso;

ii) DFA/MT - Delegacia Federal de Agricultura em Mato Grosso;

iii) AMPA - Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão;

iv) ABINAL - Associação Mato-grossense dos Beneficiados e Industriais de Algodão; e

v) FETAGRI/MT - Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Mato Grosso.

O FACUAL foi criado para alcançar cinco principais objetivos37: i) recuperação e

expansão da cotonicultura no estado de Mato Grosso, dentro de padrões tecnológicos e

ambientais de produtividade e qualidade; ii) estímulo a novos investimentos no setor

agrotêxtil do estado; iii) fomentar pesquisas de variedades mais produtivas e resistentes a

pragas e doenças; iv) treinamento de mão-de-obra; e v) promoção do algodão de Mato Grosso.

A partir de 1998 verifica-se uma importante elevação dos recursos para financiamento

dos programas de pesquisa relacionados à cotonicultura. Entre 1998 e 2001 foram arrecadados

aproximadamente R$ 14,0 milhões e investidos R$ 13,7 milhões. Apenas no ano de 2001, os

recursos oriundos do PROALMAT já se elevaram R$ 6,3 milhões para o FACUAL investir

em P&D (Tabela 35).

Tabela 35. Recursos do PROALMAT Depositados no FACUAL para Investimentos em P&D

(1998/2001) Ano Depósito no FACUAL pelos Cotonicultores

Em R$

1998 841.237,23 1999 2.162.833,11 2000 4.742.587,20 2001 6.293.686,83 Total 14.040.344,37

Fonte: Pesquisa direta no FACUAL

Os recursos foram investidos em quatro grandes programas: i) pesquisa e difusão de

tecnologia; ii) defesa sanitária, vegetal e ambiental; iii) promoção e marketing; e

iv) agricultura familiar. Como se percebe na Tabela 36, 41,3% dos recursos foram aplicados

em programas de melhoramento genético e manejo, com claros objetivos de redução de

37 Maiores detalhes, consultar o texto do Governo de Mato Grosso (MATO GROSSO, 1997).

Page 113: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

112

custos, elevação da produtividade e melhoramento da fibra. A defesa vegetal e o Manejo

Integrado de Pragas (MIP) receberam juntos 30% dos recursos, com vistas e encontrar o

manejo das pragas e doenças que não comprometa a produtividade e a qualidade da cultura. A

agricultura familiar recebeu 15,25% dos recursos (R$ 2,1 milhões), configurando certa

preocupação com um segmento social que geralmente fica excluído das políticas públicas. Os

investimentos na agricultura familiar estão objetivando a criação de nichos de mercado para o

"algodão orgânico" e o "algodão colorido", produtos com baixa produtividade por área, mas

com preços superiores ao algodão convencional.

Tabela 36. Recursos do FACUAL Investidos (1998-2001)

Rubrica de Investimento 1998 (11 projetos)

1999 (12 projetos)

2000 (31 projetos)

2001 (32 projetos) Total %

Melhoramento (Genético e Manejo) 1.323.111,97 2.111.000,75 1.910.867,42 342.309,77 5.687.289,91 41,30

Defesa Vegetal 51.500,00 227.952,02 566.699,94 1.434.262,60 2.280.414,56 16,56 Agricultura Familiar 141.324,00 728.235,85 694.890,70 535.207,05 2.099.657,60 15,25 Manejo Integrado de Pragas (MIP) 79.100,00 96.269,67 358.469,10 1.316.449,90 1.850.288,67 13,44

Difusão de Tecnologia 0,00 0,00 149.438,31 732.648,96 882.087,27 6,41 Marketing 300,00 31.142,50 321.300,00 299.527,00 652.269,50 4,74 Outros 0,00 9.600,00 128.425,21 134.677,50 272.702,71 1,98 Agricultura Orgânica 0,00 10.410,50 15.562,50 0,00 25.973,00 0,19 Descarte de Embalagens 12.600,00 8.400,00 0,00 0,00 21.000,00 0,15 Total 1.607.935,97 3.223.011,29 4.145.653,18 4.795.082,78 13.771.683,22 100,00 Fonte: Pesquisa direta no FACUAL.

Os problemas relacionados ao manejo correto da cotonicultura - o principal entrave no

período 1990-96 - já foram amplamente superados, tanto pelo convênio entre a Fundação MT

e a EMBRAPA antes do FACUAL quanto pelos recentes investimentos. Época de plantio,

correção dos micronutrientes do solo, adubação, calagem e período de colheita são fases da

cultura que o conhecimento científico conseguiu catalogar, formalizar e difundir por todas as

regiões cotonícolas de Mato Grosso. O grande problema que se apresenta agora é a contínua

utilização de apenas uma cultivar, a CNPA-ITA 90, que a cada ano se torna mais suscetível ao

ataque tanto de doenças vegetais38 quanto pragas animais39. No safra de 2000, 78,5% da área

plantada foi feita apenas com a CNPA-ITA 90, configurando ao mesmo tempo o paradigma

tecnológico da cotonicultura em Mato Grosso e também amplas possibilidades de ataque de

inimigos naturais (Tabela 37).

38 Existem mais de 250 agentes causadores de doença no algodoeiro, sendo fungos, vírus, micoplasmas, nematóides e bactérias (FMT, 2001, Boletim 4). 39 As pragas, por sua vez, são da ordem de 15: Pulgão, Tripes, Curuquerê, Lagarta das Maçãs, Lagarta Militar, Percevejo Rajado, Lagarta Rosada, Bicudo do Algodoeiro, Ácaro Branco, Ácaro Rajado, Percevejo da Raiz, Percevejo Manchador, Percevejo Migrante, Mosca Branca e Vaquinha (FMT, 2001)

Page 114: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

113

Para que consiga controlar os vetores e as próprias doenças e pragas, os cotonicultores

de Mato Grosso estão elevando a utilização de inseticidas em suas lavouras. O número de

patógenos capazes de causar prejuízos à fibra do algodão requer um controle rigoroso de

todas as fases o cultivo e uma constante aplicação de agrotóxicos.

Tabela 37. Variedades de Plantas Utilizadas por Cotonicultores de Mato Grosso - safra 2000

Variedades Área Plantada Percentual

CNPA-ITA 90 319.288,55 78,49 Delta Opal 60.567,36 14,89

Coodetec-404 13.949,04 3,43 FMT Saturno® 2.146,70 0,53

Outras 10.852,86 2,66

Total 406.804,51 100,00

Fonte: Pesquisa direta no FACUAL.

A aplicação de herbicidas, inseticidas e formicidas para o controle de pragas e doenças

representava, na safra de 1996, 28,5% do total dos custos de produção. Com o uso contínuo

da cultivar ITA 90, verificou-se uma importante elevação da incidência de agentes patógenos

na cotonicultura. A cada safra a população de pragas vem crescendo e doenças inexistentes na

região passaram a atacar as plantações de algodoeiro. Mesmo algumas doenças em que a

CNPA-ITA 90 era resistente passaram a atacar esta cultivar e causar prejuízos pela queda da

produtividade e qualidade da fibra. O resultado visível desta situação se apresenta na

quantidade de agrotóxicos utilizados na safra de 2001, onde os agentes químicos

representaram 38,0% do total dos custos (Tabela 38). Para que consiga manter os elevados

níveis de produtividade e qualidade de fibra, os produtores não tem outra alternativa se não

combater os vetores causadores de prejuízos com agentes químicos.

Tabela 38. Elevação dos Gastos com Agrotóxicos na Cotonicultura de Mato Grosso (Safras 1996 e 2001)

1996 2001 Discriminação R$/ha % do Total R$/ha % do Total Herbicidas, Inseticidas e Formicidas 371,88 28,50 908,47 38,00 Custo Total 1.305,28 100,00 2.391,36 100,00 Fonte: FAMATO, 1997; Melo Filho & Richetti, 2001.

Esta situação, se não revertida rapidamente, poderá inviabilizar, do ponto de vista

econômico, a produção de algodão em Mato Grosso, pois, segundo Rafiq Chaudry

(CHAUDRY, 2001) do ICAC, não são as baixas produtividades - e Mato Grosso possui uma

produtividade duas vezes superior à média mundial -, mas os elevados custos de produção que

tem retirado muitos países do círculo produtivo do algodão. Este fato pode ocorrer em solo

mato-grossense, a despeito de seus custos crescentes para o controle de pragas e doenças. Em

Page 115: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

114

apenas cinco safras, a produtividade por hectare cresceu de forma rápida, porém os custos tem

crescido em uma velocidade ainda maior, representando em algumas regiões 40% do custo

total de produção, com 23 aplicações de agrotóxicos (ABA, 2002).

Se do ponto de vista puramente econômico a elevação do uso de agrotóxicos é

preocupante, do ponto de vista ambiental é alarmante. Recente pesquisa detectou a presença

de herbicidas em águas subterrâneas na cidade de Primavera do Leste, localizada na principal

região cotonícola de Mato Grosso. O uso intensivo de pesticidas podem contaminar diferentes

compartimentos do ambiente devido à sua distribuição através da água e da atmosfera. Há

uma preocupação local se o solo, as águas superficiais, subterrâneas, de sub-superfície,

pluviais e de sub-bacias já estejam severamente contaminadas em função direta do uso

crescente de herbicidas, inseticidas e formicidas pelos cotonicultores (DORES, 2001).

Um outro estudo realizado pelo IPA-PARECIS, na região de Campo Novo dos

Parecis, concluiu que a utilização de grandes áreas para fins agrícola tem provocado

desequilíbrios ecológicos que, somados aos pacotes tecnológicos da agricultura moderna,

levaram à erosão, poluição e degradação dos solos, à redução drástica da biodiversidade

regional e à poluição das fontes de água, com enormes prejuízos para a saúde humana e

animal daquela região (IPA-PARECIS, 2002)

Como 60% da produção de algodão está localizada em regiões da Bacia Platina

(regiões Sudeste e Sudoeste de Mato Grosso) e 40% em regiões da Bacia Amazônica (região

Setentrional), estes dois grandes biomas podem estar recebendo agentes químicos pela ação

antrópica na produção de algodão, comprometendo a sustentabilidade ambiental de espaços

localizados a enormes distâncias dos focos de contaminação.

Percebe-se em Mato Grosso a preocupação das instituições de pesquisa, do Governo e

das associações de produtores em relação à contaminação ambiental. Não somente pelo

impacto sobre o meio ambiente e os homens, mas principalmente pelas possíveis sanções do

mercado internacional em mover ações anti-dumping ambiental, o que representaria o

fechamento do comércio de algodão no exterior. Após alcançar um importante espaço no

mercado europeu e asiático, o uso crescente de agrotóxicos e a poluição do solo e dos rios

pode comprometer a estratégia capitalista de permanecer em um mercado competitivo. Assim,

os programas de pesquisa passam a ter um papel preponderante na busca por novas variedades

resistentes a doenças, o que reduziria a utilização dos agrotóxicos, dentro do padrão

convencional de produção. Outra agenda de pesquisa está voltada para a agricultura orgânica,

ou seja, utilizar a natureza como aliada, eliminando a utilização de agentes químicos, a

chamada agricultura alternativa.

Page 116: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

115

Importantes resultados já foram alcançados pelas instituições de P&D, apoiados na

elevação dos recursos do FACUAL. As duas grandes agendas de pesquisa já apresentam

resultados favoráveis em relação ao quadro atual. No principal programa de pesquisa40,

destinado a encontrar novas variedades com resistência múltipla a doenças, pelos menos cinco

novas plantas com potencial de expansão já foram criadas.

Na Tabela 39, pode-se verificar que a cultivar CNPA-ITA 90 já está suscetível e

fracamente tolerante às principais doenças, sendo necessária a utilização crescente de

agrotóxicos para o seu cultivo. Contudo, a partir de 1997 algumas novas plantas são

desenvolvidas pelos programas de pesquisa locais, principalmente em função da elevação dos

recursos provenientes do FACUAL. A cultivar FMT SATURNO® da Fundação MT e a

cultivar BRS ANTARES do convênio entre Itamarati Norte, Fundação MT e EMBRAPA são

as duas plantas que estão gerando expectativas positivas em relação à sua utilização nas

grandes unidades de produção, pois elas são adaptadas à mecanização. Ambas as plantas são

bastante resistentes às principais doenças, e assim, demandam menores níveis de pesticidas

em seu cultivo. Além disso, apresentam elevados níveis de produtividade se comparados à

CNPA-ITA 90.

Tabela 39. Geração de Novas Cultivares pelas Instituições de P&D de Mato Grosso

Variedade Instituição Criadora

Produtividade

(@/ha)

Doenças

Ramulose Virose Bacteriose Alternaria Stenfilium

CNPA-ITA 90 * (1) Itamarati Norte &

EMBRAPA 200 T S T S S

CNPA-ITA 97 (1) Itamarati Norte &

EMBRAPA 180 R R T S S

FMT Saturno® (1) FMT 300 R R S T T

BRS ANTARES (1) Itamarati Norte,

FMT & EMBRAPA 215 R R R T R

BRS FACUAL (2) FMT & EMBRAPA 205 R R R R R

FMT FETAGRI (2) FMT 240 R R T R R

Fonte: FMT, 1998; FMT, 1999; e FMT, 2001. R= resistente; T= medianamente tolerante; S= suscetível à doença. * A CNPA-ITA 90 representa o paradigma tecnológico da cotonicultura de Mato Grosso e é chamada de "testemunha" pelos agrônomos, pois é o padrão de comparação com as novas cultivares. (1) agricultura empresarial mecanizada; (2) agricultura familiar tradicional

Um experimento foi realizado em seis propriedades de cooperados da Fundação MT,

na safra de 1999, utilizando as cultivares BRS ANTARES e CNPA-ITA 90. Como a BRS 40 Que, a rigor, se encontra dentro da chamada agricultura convencional.

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116

ANTARES é resistente a diversas doenças, foram utilizados 7,7 litros de defensivos químicos

a menos por hectare, em relação à CNPA-ITA 90, para o controle dos patógenos do algodão.

Na análise de custos, houve uma queda de R$240,00 por hectare, o que reduz os custos de

controle fitossanitário em 38,4%. Os custos totais foram14% menores no cultivo da BRS

ANTARES em relação à CNPA-ITA 90. Estima-se que a utilização da BRS ANTARES em

80.000 hectares da safra de algodão em Mato Grosso representará uma economia de R$19

milhões para os produtores, além de evitar que 616.000 litros de inseticidas sejam utilizados

na cotonicultura e venham a poluir ainda mais o Cerrado Brasileiro. Desta forma, a cultivar

BRS ANTARES pode representar uma redução dos custos de produção e manter as vantagens

competitivas do algodão mato-grossense, inclusive reduzindo o impacto da cultura sobre o

meio ambiente (FREIRE et al., 2001b).

Assim, em função de haver pelo menos duas opções técnicas viáveis de superação da

CNPA-ITA 90, o fundo gestor FACUAL reduziu drasticamente os recursos para pesquisa de

melhoramento genético de R$1,9 milhão em 2000 para apenas R$342 mil em 2001,

considerando que as plantas BRS ANTARES e FMT SATURNO® estão aptas a substituírem

a "velha" CNPA-ITA 90 (Tabela 36). Estrategicamente, o FACUAL dobrou os recursos

destinados ao marketing das novas cultivares, com o objetivo de facilitar a aceitação das

novas plantas junto aos produtores e, assim, ingressar em uma nova trajetória tecnológica da

cotonicultura.

As cultivares BRS FACUAL e FMT FETAGRI são duas oportunidades técnicas

excelentes tanto do ponto de vista da produtividade por hectare quanto da resistência a

doenças, o que resulta em queda do uso de agrotóxicos e consequentemente, baixa

contaminação ambiental. Contudo, as duas plantas possuem características para o cultivo pela

agricultura familiar, pois não são adaptadas à mecanização. Assim, elas não representam uma

nova trajetória tecnológica para a grande agricultura empresarial de Mato Grosso, apesar de

abrirem uma enorme trajetória para a agricultura do tipo familiar.

Por outro lado, a agricultura orgânica ou alternativa tem uma proposta bastante

diferenciada da agricultura convencional no tocante à resolução dos impactos dos agrotóxicos.

A fertilização do solo no manejo orgânico provém da adubação verde com leguminosas,

esterco de curral, de compostos de origem animal e micronutrientes permitidos para aumentar

os níveis de matéria orgânica e fixação de nutrientes (IPA-PARECIS, 2002).

O controle de pragas e doenças é feito através de práticas de estimulo ao controle

biológico com predadores e parasitas. Consta basicamente de monitoramento, pulverizações

com produtos vegetais, uso de técnicas de confusão, como armadilhas de feromônios, além do

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117

uso de organismos vivos, como fungos e insetos benéficos. As práticas variam conforme a

pressão de insetos e ácaros, que depende da localização da área, das condições climáticas, da

incidência das pragas na safra anterior e das culturas e habitat próximos. Já o controle de

ervas invasoras é feito através de um plano de rotação de culturas, ou ainda por meios

manuais e mecânicos. A produtividade por hectare é menor no cultivo orgânico - pelo maior

espaçamento necessário entre as plantas -, mas a produtividade por planta é mais elevada

(KLONSKY et al., 1995 apud SOUZA, 2000).

O rendimento por planta e por hectare variam muito a cada safra, conforme a

regularidade na distribuição de chuvas, presença de matéria orgânica no solo e adoção de

técnicas preconizadas pelos agricultores (SOUZA, 2000). Este é um importante entrave ao

desenvolvimento da agricultura orgânica, pois a perda da regularidade na relação insumo-

produto eleva a incerteza e, consequentemente, os riscos com a cultura. Na verdade se

abandona as práticas da industrialização da agricultura e passa a depender, em maior grau, dos

fenômenos da natureza. Esta forma de gerir a agricultura traz consigo uma instabilidade muito

maior, onde há uma dificuldade em se celebrar contratos futuros dos produtos agrícolas pela

incerteza em relação ao porvir.

Mesmo apresentando barreiras ao seu desenvolvimento, o IPA-PARECIS, em parceria

com o FACUAL, desenvolveu um projeto alternativo para a cultura do algodão em Mato

Grosso, com manejo diferenciado e menor dependência de produtos químicos, procurando

definir um novo modelo de produção. O experimento foi realizado na safra 2001, na fazenda

do Grupo Itamarati Norte S/A, no município de Campo Novo do Parecis. O algodoeiro foi

cultivado em dois lotes de 10 hectares, sendo um deles no manejo convencional e o outro no

manejo alternativo. As cultivares utilizadas foram: BRS FACUAL, FMT SATURNO®,

CNPA-ITA 97 e IPA 2001 (IPA-PARECIS, 2002).

No manejo convencional, todas as aplicações de agrotóxicos foram feitas conforme a

recomendação do MIP (Manejo Integrado de Pragas) utilizada na área comercial. No manejo

alternativo, o controle de pragas foi realizado com produtos de fácil fabricação na

propriedade, que exercem ação de repelência e que favorecem a proliferação de inimigos

naturais. No manejo alternativo, as principais pragas se fizeram presentes em quase todos os

levantamentos, porém dentro da margem de controle recomendada. A presença dos principais

inimigos naturais também foi observada em todas as fases do cultivo, fato este que eliminou

três pragas na fase final do cultivo: cigarrinha, pulgão e curuquerê. Por outro lado, no manejo

convencional o curuquerê e a lagarta da maçã estavam presentes em todas as avaliações,

provavelmente porque a população de inimigos naturais observada foi muito menor do que no

Page 119: A Expansão da Cotonicultura em Mato Grosso_Dissertação Final_Alexandre Faria

118

manejo alternativo. Assim, todas as pragas foram controladas nos dois tipos de manejo,

contudo o modo alternativo não agrediu os inimigos naturais, que ajudaram a controlar as

pragas do algodoeiro. O manejo do tipo convencional controlou todas as pragas, mas também

reduziu consideravelmente diversos insetos que convivem em simbiose com o algodoeiro

(IPA-PARECIS, 2002).

No tocante às qualidades intrínsecas da fibra produzida, o algodão oriundo do manejo

convencional alcançou todos os requisitos aceitáveis pela indústria têxtil. Já a fibra produzida

no manejo alternativo não se enquadrou nos índices aceitáveis em três quesitos: micronaire,

resistência e reflectância. Há aqui uma clara dificuldade de aceitação pelo mercado por um

produto de qualidade inferior.

A produtividade média no manejo convencional foi de 202 arrobas por hectare, contra

168 arrobas por hectare no manejo alternativo. Ademais, o custo de produção por hectare foi

mais elevado no modo convencional: R$1.795,18, contra R$1.346,49 no modo alternativo. A

partir destas informações, pode-se calcular o custo por arroba nos dois tipos de manejo:

R$8,88 no convencional e R$8,01 no alternativo. A grande diferença entre os custos se deu

nos tratos culturais fitossanitários, em que o manejo alternativo reduziu em aproximadamente

57% os custos em agrotóxicos, pela substituição de produtos químicos industrias por produtos

naturais fabricados no próprio meio rural (IPA-PARECIS, 2002).

Pode-se, a partir destas informações, chegar a algumas conclusões sobre o manejo

alternativo: i) é possível conviver com as pragas aplicando-se apenas produtos seletivos

fabricados na propriedade rural com biofertilizantes, caldas e extratos vegetais, reduzindo o

impacto ambiental sobre os inimigos naturais e reduzindo a contaminação do solo e da águas

subterrâneas; ii) a produtividade por hectare se reduz em aproximadamente 17%, mas o custo

por arroba recua em 10%, pela diminuição do uso de herbicidas, fungicidas e inseticidas; e

iii) a qualidade intrínseca da fibra fica comprometida, o que requer novos estudos para

encontrar alternativas de elevação da qualidade da fibra dentro do manejo alternativo.

Como não são as baixas produtividades, mas os elevados custos de produção que tem

inviabilizado o cultivo do algodoeiro em diversas regiões, o manejo alternativo apresenta

condições de elevar as vantagens competitivas de custo do algodão mato-grossense pela

redução do uso de agrotóxicos. Além disso, pode-se aliar a queda do custo com uma gestão

ambiental e social responsável, pela redução da contaminação do solo, das águas e da

exposição dos trabalhadores aos produtos químicos (IPA-PARECIS, 2002). Contudo, dois

entraves ainda devem ser resolvidos: i) a melhoria da qualidade da fibra; e ii) a estabilidade da

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119

relação insumo-produto para que a cotonicultura orgânica possa gerar acumulação de capital e

manter o estímulo à produção.

Há um claro ponto de inflexão na cotonicultura mato-grossense. O paradigma

representado pela ruptura tecnológica da cultivar CNPA-ITA 90 está se esgotando tanto do

ponto de vista técnico, econômico quanto ambiental. Torna-se necessário empregar as novas

cultivares com resistência múltipla a doenças e pragas, o que reduziria drasticamente a

utilização dos agrotóxicos ou mesmo ingressar na agricultura alternativa, eliminando quase

que totalmente a contaminação ambiental. Contudo, ainda não se verificou a prevalência de

uma nova trajetória tecnológica corporificada em uma destas novas cultivares ou na

agricultura orgânica, o que compromete severamente a sustentabilidade da cotonicultura em

Mato Grosso em um futuro não muito distante. Porém, verifica-se por parte dos agentes locais

uma prevalência em relação à pesquisa de melhoramento genético, pois mais de 41% dos

recursos do FACUAL foram investidos nesta rubrica. Por outro lado, apenas 0,2% das

inversões foram feitas na agricultura orgânica. O risco de se investir em apenas uma trajetória

tecnológica pode comprometer seriamente os investimentos privados no setor cotonícola de

Mato Grosso.

4.4 Principais Desafios à Cotonicultura de Mato Grosso

Já foi amplamente discutido neste trabalho os processos históricos de formação de um

arranjo produtivo diferenciado que conjugaram na concentração da cotonicultura em Mato

Grosso. O papel da renúncia fiscal foi estratégico para garantia da lucratividade da produção

cotonícola no curto prazo. Porém, a manutenção de longo prazo de programas de redução de

impostos carregam consigo riscos e expectativas. Em uma conjuntura favorável em termos de

equilíbrio fiscal - e este é o caso de Mato Grosso -, não se percebe forças contrárias aos

programas de redução da carga tributária em setores específicos. Mas, se as receitas tributárias

sofrerem um viés de baixa ou os custos de operação do Estado se elevarem, gerando

novamente déficit público, o Governo poderá rever as regras e suspender os programas de

renúncia fiscal para fazer face aos seus compromissos orçamentários. Além disso, mudanças

de cunho político-ideológico na direção do Governo podem representar um risco real às

políticas de incentivo fiscal.

Desta forma, os incentivos fiscais podem ser considerados vantagens competitivas

espúrias, distorcendo os custos de oportunidade no curto prazo, onde a incerteza e o risco

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120

efetivamente estão presentes, garantindo competitividade para os sistemas produtivos locais

em um espaço de tempo indeterminado (HADDAD, 1998)41. A indeterminação quanto à

manutenção dos programas de renúncia podem desestimular novos investimentos na

cotonicultura e nos diversos setores interligados, impedindo ganhos em competitividade

sistêmica. Apesar disto, a permanência ou não do programa de redução do ICMS sobre a

cotonicultura é uma variável de relativo grau de controle, pois independe de agentes

exógenos.

A questão relacionada ao crescente uso de agrotóxicos e do custo de produção pode

ser equacionada com a utilização das novas variedades resistentes a pragas e doenças ou a

transição para o manejo orgânico. O certo é que um novo paradigma deverá ser posto em

prática se os agentes locais decidirem manter a cotonicultura em Mato Grosso.

Tanto o programa de renúncia fiscal quanto os programas de P&D são ações

tipicamente endógenas a Mato Grosso, onde ambas variáveis, que já foram estratégicas para

atrair a cultura para dentro do estado, também podem ser consideradas variáveis-chave na

permanência da atividade na região. Há, com certeza, um relativo grau de controle sobre elas,

na medida que uma nova trajetória tecnológica ou um novo programa de auxílio fiscal podem

gerar efeitos positivos sobre a atividade produtiva.

Mas a cotonicultura mato-grossense está inserida em um contexto maior da

globalização produtiva, onde um mosaico de variáveis atuam conjuntamente e onde os

agentes locais não tem o menor grau de controle sobre elas. Este, a rigor, é o grande busílis

para a manutenção da cotonicultura em Mato Grosso. Há, pelo menos, nove grandes

movimentos a nível nacional e internacional que podem afetar a produção de algodão em

Mato Grosso e que serão aqui brevemente abordados.

Após o sucesso alcançado pelo PROALMAT em elevar o investimento, a produção e o

PIB da cotonicultura, outras três unidades federadas com potencial natural de expandir a

cultura nos mesmos moldes técnicos de Mato Grosso copiaram o programa de incentivo.

Conforme afirma Mário Possas (POSSAS, 1987), as vantagens absolutas de custo podem ser

derrubadas a partir da imitação dos concorrentes. As vantagens alcançadas pelos produtores

mato-grossenses podem ser sensivelmente reduzidas em relação aos cotonicultores sediados

41 As vantagens competitivas espúrias são aquelas que não se sustentam no longo prazo por estarem fundamentadas apenas em: i) incentivos fiscais e financeiros recorrentes, que podem desaparecer a partir das exigências de um programa de estabilização econômica; ii) no uso predatório dos recursos naturais do ecossistema, que podem se restringir ou por limitações físicas ou por legislação ambiental; iii) na sobre exploração da força de trabalho, que pode encontrar resistências políticas ou legais com o avanço da democratização; ou iv) na informalidade e na clandestinidade de suas operações, que podem chocar-se com a modernização e eficácia dos sistemas tributários e previdenciários (HADDAD, 1998).

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121

em Mato Grosso do Sul, Goiás e Bahia, estados que promoveram a cópia do programa de

renúncia fiscal e capacitação tecnológica.

Ademais, estes três estados estão localizados muito mais próximos dos centros

consumidores e dos portos de exportação, o que garante custos logísticos menores. Na Tabela

40 pode-se perceber que os incentivos criados nos três estados supracitados seguem a mesma

receita de Mato Grosso, com a criação de um fundo financiador de tecnologia que passa a ser

auto financiado pela produção de algodão, tornando endógeno ao arranjo produtivo a efetiva

geração de tecnologia. Além disso, os programas contam com redução de até 75% de ICMS

ad valorem. O resultado destas ações pode ser de uma simples redução da participação

relativa de Mato Grosso na produção brasileira de algodão a um deslocamento que

desorganize totalmente o complexo produtivo do algodão no espaço mato-grossense.

Tabela 40. Programas de Incentivo à Cultura do Algodão em Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul e Bahia

Características/Estados Mato Grosso Goiás Mato Grosso do Sul Bahia

Programa PROALMAT (a) PROALGO (b) PDAGRO (c) PROALBA (d)

Regulamentação Lei n.° 6.883, De 02/06/1997

Lei n.° 13.506, De 09/09/1999

Decreto n.° 9.716, de 01/12/1999

Lei n.° 7.932, de 19/09/2001

Incentivo Fiscal Redução de até 75% do ICMS

Redução de até 75% do ICMS

Redução de até 75% Do ICMS

Redução de até 50% do ICMS

Fundo de Geração de Tecnologia FACUAL (e) FIALGO (f) PLUMA (g) FUNDEAGRO (h)

Origem dos Recursos do Fundo

Constituído com 15% do valor concedido pela renúncia fiscal

Constituído com 15% do valor concedido pela renúncia fiscal

Constituído com 15% do valor concedido pela renúncia fiscal

Constituído com 10% do valor concedido pela renúncia fiscal

Fonte: Elaborada pelo autor com base nos seguintes textos: Mato Grosso, 1997; Goiás, 1999; Mato Grosso do Sul, 1999; e Bahia, 2001. (a) Programa de Incentivo à Cultura do Algodão de Mato Grosso (b) Programa de Incentivo ao Produtor de Algodão de Goiás (c) Programa de Desenvolvimento da Produção Agropecuária de Mato Grosso do Sul (d) Programa de Incentivo à Cultura de Algodão da Bahia (e) Fundo de Apoio à Cultura do Algodão (f) Fundo de Incentivo à Cultura do Algodão (g) Fundo de Desenvolvimento da Cultura do Algodão (h) Fundo de Desenvolvimento do Agronegócio do Algodão Um segundo elemento de preocupação é o relativo abastecimento do mercado interno,

que passou a ser suprido pelo algodão nacional no período pós-1997. O algodão importado foi

deslocado para fora da curva de demanda e a produção nacional ocupou o seu lugar em um

movimento de extraordinária recuperação. Contudo, uma vez atendido o mercado interno, a

expansão da cotonicultura depende da demanda pelo mercado internacional. E este é um

terceiro ponto de interrogação dentro do setor, pois nas duas últimas décadas a elasticidade da

demanda pela fibra do algodão tem permanecido muito baixa, em torno de 1% ao ano, o que

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122

sugere dificuldades de elevação constante da produção, pela clara situação de insuficiência de

mercado consumidor [(BECERRA, 2001); (MURARO, 2001)].

Como complicador a esta baixa expansão da demanda, a safra mundial de algodão tem

crescido a uma taxa de 2% ao ano durante os últimos quinze anos, gerando estoques mundiais

de atualmente oito milhões de toneladas, um número que não sugere risco de

desabastecimento (MURARO, 2001). Como corolário desta equação, a não expansão dos

preços devido a abundante oferta pode comprometer a manutenção da produção cotonícola

em diversas regiões - inclusive Mato Grosso - em um momento de forte elevação dos custos

de produção.

A baixa elasticidade da demanda da fibra está diretamente relacionada com a

concorrência das fibras sintéticas, pois estas - principalmente o poliéster - tem sido ofertadas a

preços competitivos ao algodão. Não obstante, a taxa de crescimento do consumo das fibras

sintéticas está próximo de 6,1% ao ano, contra apenas 1% da fibra de algodão. Para a ICAC, o

maior desafio a ser enfrentado pelos cotonicultores é a concorrência direta das fibras

sintéticas, que já representam 56% e as fibras de algodão apenas 40% do consumo global de

fibras pela indústria têxtil [(AMPA, 2002); (RUCKRIEM, 2001)].

Nesta interessante dinâmica em que está envolvida a cotonicultura mato-grossense, há

pelo menos ainda dois pontos de grande importância a serem mencionados. O primeiro é a

questão dos subsídios à produção e o segundo é a questão das variedades transgênicas.

Há um grande consenso por parte dos governos membros da ICAC de que os subsídios

governamentais e as barreiras comerciais de alguns países contribuem de forma direta sobre a

volatilidade dos preços e impactam adversamente o nível de produção de algodão em alguns

países (AMPA, 2002). A nação que mais se vale destas práticas são os EUA. O Regulamento

Rural dos EUA quase tornou o custo de produção irrelevante naquele país, pois quando no

mês de abril de 2002 a cotação internacional da fibra de algodão na Bolsa de Nova Iorque

estava em US$0,34 por libra-peso, os produtores recebiam do governo norte-americano

US$0,63 por libra-peso.

Mesmo com um custo de produção acima da média dos preços internacionais e um

nível de produtividade pouco acima da média global - o que retrata a baixa eficiência do

arranjo produtivo cotonícola daquela país - o resultado desta política de subsídios garantem

que 20% da produção mundial sejam realizadas dentro das fronteiras dos EUA. Além disso, o

algodão norte-americano representa 35% do algodão comercializado internacionalmente,

sendo este país o líder no comércio externo neste segmento. As práticas de subsídio norte-

americano agem de forma negativa sobre a produção de muitos países - como Argentina e

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Paraguai - que se tornariam competitivos no mercado globalizado caso não houvesse a

utilização de subsídios [(RUCKRIEM, 2001); (NASSIF, 2002)]. Caso não sejam revistas as

práticas protecionistas para o algodão norte-americano, a produção cotonícola do Brasil e de

Mato Grosso poderá ter dificuldades de competir no mercado externo e, consequentemente,

expandir sua produção no curto prazo.

Durante a 60.ª Reunião Plenária do ICAC em 2001, em Zimbabwe, aquele comitê fez

notar que o uso de variedades geneticamente modificadas42 de algodão pelos cotonicultores

está crescendo rapidamente em todo o mundo43, porque o seu emprego diminui drasticamente

a necessidade do uso de inseticidas no processo de produção (AMPA, 2002).

A biotecnologia é uma ferramenta importante para a agricultura, na medida em que,

com a intensificação da competição global, há a possibilidade de oferecer ao mercado o

produto especificado e desejado pelos consumidores. Além disso, a biotecnologia permite

incorporar maior competitividade aos produtos pela diminuição dos custos de produção,

calcada em: i) tolerância a herbicidas; ii) resistência a pragas e doenças; iii) tolerância a

condições adversas, tais como metais tóxicos do solo, calor, frio e estresses abióticos e

iv) maior eficiência na absorção de fósforo. Assim, a chamada "revolução genética" caminha

no sentido oposto à "revolução verde", pela menor dependência da utilização de insumos

(PORTUGAL, 2000).

A redução de agrotóxicos na agricultura tem rebatimentos diretos sobre o custo de

produção e a capacidade de competir em um mercado de baixa elasticidade da demanda como

a cotonicultura - que requer busca de eficiência a todo momento. Como já mencionado, não

são as baixas produtividades, mas os custos crescentes que tem inviabilizado a produção em

diversas regiões do globo. Assim, qualquer ação que retire insumos da pauta de produção e

que não comprometa o produto final é vista como estratégica na busca de ganhos

competitivos. Em um plano maior, há também a redução da contaminação ambiental na

utilização destas novas variedades de cultivares. Recentes estudos utilizando um algodão

42 A engenharia genética tem a sua gênese nos Estados Unidos da América, no início da década de 1970. Contudo, as primeiras plantas transgênicas obtidas por engenharia genética somente começaram a ser liberadas no campo em meados da década de 1980. Mas apenas no início da década de 1990 é que as plantas transgênicas passaram a ser efetivamente comercializadas, como o tomate de maturação lenta da CALGENE e a soja resistente ao herbicida "Round-Up" da MONSANTO (PORTUGAL, 2000). A engenharia genética se utiliza da técnica do DNA recombinante, que permite que um gene de uma espécie seja isolado e inserido em outra espécie, sem a necessidade de compatibilidade sexual. Uma vez inserido, a descendência conterá cópia do novo gene e poderá ser reproduzida na maneira convencional. Nas culturas transgênicas que atualmente estão sendo comercializadas, foram incorporadas características da primeira geração (input traits), que conferem vantagens agronômicas, ou seja, aquelas dirigidas para a solução de estresses ambientais. As novas plantas são conhecidas como organismos geneticamente modificados (OGM) (ZANETTINI, 2002). 43 Nos EUA, 61% da safra de algodão no ano 2000 foi composta com plantas geneticamente modificadas (HARLANDER, 2002). Outros cinco países também já adotaram o uso destas plantas no cultivo do algodão: Argentina, Austrália, China, México e África do Sul. A área plantada com algodão transgênico correspondeu a 12% do total de área plantada com algodão no mundo em 2001 (CHAUDHRY, 2002).

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geneticamente modificado resistente a lagartas, o algodão BT (de Bacillus Turigiensis),

alcançaram até 20% de redução dos custos totais de produção pela diminuição do uso de

inseticidas. Este tipo de planta abre amplas possibilidades de geração de competitividade para

as regiões que a utilizarem, gerando assimetrias entre estes países e aqueles que ainda não

detém ou não aceitam o uso de organismos geneticamente modificados (ABA, 2002).

A Lei de Biossegurança de 1995, aprovada no Congresso Nacional, não proibiu a

pesquisa e a utilização das OGM (Organismos Geneticamente Modificados) no Brasil.

Contudo, o cultivo comercial de plantas transgênicas está proibido no Brasil por decisão

judicial desde agosto de 2000. Esta proibição impossibilita a inclusão do Brasil ao círculo

produtivo da biotecnologia, que em um futuro próximo poderá comprometer a produtividade

da cotonicultura brasileira (e do conjunto agrícola) frente aos seus principais concorrentes,

reduzindo a competitividade do agro brasileiro. A EMBRAPA encara a biotecnologia como

um importante instrumento para uma agricultura competitiva e sustentável, se transformando

na base da segurança alimentar e da competitividade das exportações (PORTUGAL, 2000).

Com base nos últimos dois capítulos, pode-se afirmar que a cotonicultura de Mato

Grosso possui características de elevada instabilidade. Fatores estruturais dos campos técnico

e econômico podem comprometer a produção cotonícola mato-grossense e reorganizá-la em

outros espaços econômicos. Diversas ações de grupos endógenos tem buscado alternativas

tecnológicas e institucionais para a manutenção deste arranjo produtivo em Mato Grosso.

Expectativas positivas da abertura de novos mercados, a possibilidade de uma nova

trajetória tecnológica, a manutenção de baixas alíquotas tributárias e a melhoria da infra-

estrutura convivem com expectativas negativas da difusão dos incentivos fiscais por diversos

estados brasileiros, a baixa elasticidade da demanda, a depressão dos preços devido aos

elevados estoques mundiais, a concorrência das fibras sintéticas, os subsídios norte-

americanos, a proibição da utilização de variedades transgênicas e a poluição ambiental.

Porém, os agentes endógenos de Mato Grosso já demonstraram capacidade de

superação de desafios durante a década de 1990, criando inovações tecnológicas e buscando

alternativas institucionais para a construção de diferenciais que sustentaram a convergência da

produção cotonícola àquele estado. Desta forma, os diversos desafios que agora se afloram

representam mais um momento de seleção pelo mercado. As regiões que detém uma maior

criatividade na busca de soluções às pressões do sistema poderão alcançar sucesso em se

manter no mercado globalizado. Se as ações estruturadas dos produtores rurais, do Governo

Regional e das instituições de P&D obterem sucesso de diferenciação do seu produto ou

mesmo redução dos custos de produção, o arranjo produtivo do algodão de Mato Grosso

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125

certamente manterá sua posição relativa tanto a nível nacional quanto no mercado externo. O

foco principal dos objetivos deve ser a elevação da produtividade dos fatores via

diferenciação do produto ou do custo, que permita a atração de excedentes, ou seja,

acumulação de capital.

O jogo das expectativas pode refletir o jogo do mercado, que em alguns anos definirá

se o arranjo produtivo regional de Mato Grosso é forte o suficiente para encontrar alternativas

de sobrevivência e manter suas vantagens competitivas ou se a sua estrutura interna ainda é

incipiente e fraca ao ponto de ser expurgada do mercado cotonícola mundial. O certo é que

somente uma forte política de inovações aliada a uma atuação institucional poderão manter a

posição relativa de Mato Grosso, criando e recriando vantagens competitivas regionais,

elevando a produtividade e gerando rendimentos crescentes dentro do arranjo produtivo

regional do algodão.

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126

CONCLUSÃO

O período compreendido entre o fim da década de 1980 e a primeira metade da década

de 1990 marcaram um período de crise tanto da cotonicultura quanto do modelo de

desenvolvimento regional no Brasil. O Governo Federal focava suas ações cada vez mais em

problemas macroeconômicos de curto prazo, reduzindo sensivelmente as políticas estruturais

de crescimento econômico regional. Assim, a cotonicultura foi abandonada, como diversos

outros setores, à sua própria sorte, sem uma política clara de sustentabilidade econômica. O

resultado foi uma elevação da concorrência internacional que dizimou a produção de enorme

parcela dos pequenos cotonicultores das regiões produtoras tradicionais - São Paulo, Paraná e

o Nordeste.

Mesmo imerso nesta grave crise, a iniciativa privada sediada em Mato Grosso e a

EMBRAPA encontraram, no ano de 1990, uma alternativa tecnológica incorporada em uma

nova planta (CNPA-ITA 90) totalmente adaptada à região de Cerrado, passível de

mecanização e com elevada produtividade de pluma de algodão por hectare plantado. Porém,

a falência do modelo de desenvolvimento brasileiro, incapaz de estimular a produção

cotonícola regional, aliada a uma conjuntura econômica nacional desfavorável e também a

ausência de um manejo correto da cultura no Cerrado de Mato Grosso fizeram com que a

cultura do algodão permanecesse apenas em um movimento marginal naquele estado entre

1990 e 1997. Destes três problemas, pelo menos um deles foi resolvido entre 1994 e 1997,

com a ação de instituições de P&D. Em um esforço que envolveu diversas instituições

públicas e privadas, o manejo correto de todas as fases da cultura foi catalogado - learning by

searching - e o controle de pragas e doenças foi definido, pautado no aprendizado dinâmico -

learning by failing e learning by doing -, dos primeiros produtores de algodão daquele estado.

Alterações nas políticas públicas adotadas em 1996-97 pelo Governo Federal

estabeleceram uma conjuntura favorável à retomada da produção de algodão em todo o Brasil.

Como as instituições de P&D já haviam resolvido os problemas de ordem técnica no manejo

de Cerrado, Mato Grosso estava preparado para desenvolver naturalmente esta cultura em seu

espaço geográfico. O incentivo fiscal criado pelo Governo do Estado de Mato Grosso em

1997 veio garantir uma elevação substancial da lucratividade, capaz de potencializar o

processo de elevação da área plantada com algodão.

Como corolário da geração de tecnologia, seguiu-se um amplo programa de difusão do

conhecimento técnico pelo espaço mato-grossense, onde instituições públicas e privadas como

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EMBRAPA, Itamarati Norte, Fundação MT, Fundação Centro-Oeste, FUNDAPER, Fundação

Rio Verde e IPA-Parecis foram fundamentais no processo de capacitação tecnológica dos

agentes produtivos. Formou-se assim, um ambiente favorável ao desenvolvimento da

cotonicultura em Mato Grosso, fundamentado em ações de grupos endógenos. A iniciativa

privada, vislumbrando uma excelente alternativa de investimento e acumulação de capital,

selecionou a atividade produtiva. O Governo do Estado, se valendo de uma nova política de

desenvolvimento, reduziu os impostos e criou um fundo de fomento à geração de tecnologia.

E as instituições de P&D, gerando alternativas em tecnologias de processo e produto, bem

como difundindo o conhecimento técnico por todo o espaço, elevando assim a capacitação

tecnológica dos agentes.

A ação destes grupos gerou um arranjo produtivo regional capaz de garantir vantagens

competitivas, onde a produção de algodão cresceu de forma exponencial no período entre

1998 e 2001, concentrando mais de 50% da produção brasileira em solo mato-grossense.

Pode-se afirmar, assim, que em Mato Grosso há uma tendência de manifestação de um

fenômeno que tem sido chamado de desenvolvimento regional endógeno, acontecimento em

que os agentes regionais - governo, iniciativa privada, sociedade civil, instituições de P&D,

entre outros - passam a determinar as suas metas e objetivos comuns. Ademais, o

aparecimento de vantagens competitivas do algodão mato-grossense indicam a manifestação

do Efeito H do desenvolvimento endógeno, que se traduz em geração de sinergias entre os

participantes do arranjo produtivo, elevando a acumulação de capital, que implica em

crescimento da renda regional, da arrecadação tributária estatal, dos recursos para geração de

P&D e recursos para organização institucional. Além disso, cada um destes fatores agindo

sobre os demais, reforça o movimento de ganhos competitivos regionais, o que produz uma

interessante atmosfera em direção ao desenvolvimento regional.

Este caso paradigmático de desenvolvimento endógeno encerra algumas

peculiaridades. Uma delas é a forma de geração de P&D, que não está diretamente

dependente de recursos públicos. Há uma clara inversão na forma de se produzir tecnologia

cotonícola em Mato Grosso. As instituições privadas estão financiando os programas de P&D

com recursos próprios, visando a elevação da produtividade e qualidade do produto final, que,

a rigor, pode-se chamar de manutenção/elevação das vantagens competitivas. O interessante

neste processo é que a busca de novas tecnologias em um ambiente competitivo tornou-se

endógeno ao arranjo produtivo, interagindo com ele, criando e recriando formas de alcançar

posições de monopólio temporário.

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128

Uma outra peculiaridade é a importante alteração no planejamento do Governo

Estadual. Este agente não planejou nem decidiu que a cotonicultura seria desenvolvida em

Mato Grosso. A iniciativa privada já estava naturalmente imersa no arranjo produtivo. O

Governo Regional apenas induziu e potencializou o fenômeno que já estava se consolidando

endogenamente. A oportunidade de um mercado consumidor interno, a existência de uma

trajetória tecnológica, a difusão do conhecimento e a organização institucional da classe

produtiva apenas foi potencializada com o incentivo fiscal, que em conjunto, resultaram na

expansão e consolidação da cotonicultura em Mato Grosso.

Uma terceira peculiaridade neste processo de concentração da produção cotonícola em

Mato Grosso refere-se à capacidade de cooperação entre os agentes locais. Desde a busca de

uma nova cultivar em um convênio entre instituições privadas e públicas, passando pela

colaboração conjunta dos cotonicultores para encontrar uma manejo correto da cultura,

chegando aos novos canais de comunicação que unem o Governo, os produtores e as

instituições de P&D. Esta ajuda mútua entre os agentes tem sido de fundamental importância

na explicação deste fenômeno. Problemas de ordem técnica, econômica, marketing e infra-

estrutura são constantemente debatidos, com o objetivo de manter os atuais níveis de

produção naquele estado e ampliar a produção no futuro. Todos ao agentes tem claros

interesses em sustentar a posição relativa de Mato Grosso no cenário cotonícola nacional. A

formação de um tecido institucional forte pode garantir vantagens comparativas de Mato

Grosso na resolução de entraves ao desenvolvimento da cultura.

Contudo, há um claro momento de estrangulamento, onde diversas variáveis estão

agindo negativamente sobre a cotonicultura mato-grossense. Pode-se mencionar pelo menos

doze grandes problemas: i) mercado nacional suprido; ii) baixa elasticidade da demanda a

nível global; iii) alta elasticidade da oferta a nível global; iv) aumento dos estoques mundiais;

v) preços em queda em função dos estoques elevados; vi) subsídios do governo dos EUA;

vii) elevação dos custos de produção pelo uso crescente de agrotóxicos; viii) cópia do

programa de incentivo à cotonicultura pelos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Bahia;

ix) indeterminação da continuidade do programa de renúncia fiscal; x) concorrência das fibras

sintéticas; xi) proibição do uso de variedades transgênicas; e xii) a poluição ambiental.

Destes doze grandes problemas, nove deles são exógenos e os agentes locais tem

pouca ou nenhuma influência em resolvê-los. Mas em três deles há possibilidades de reversão.

Os agentes devem trabalhar para que os incentivos fiscais se tornem efetivos ao ponto de

garantir vantagens competitivas de custo do algodão mato-grossense, pois, considerando a sua

posição geográfica, os custos atuais de transporte inviabilizariam a continuidade desta

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produção. Assim, a redução da carga tributária garante uma lucratividade superior mesmo em

desvantagens de logística. A eliminação do incentivo fiscal pode comprometer seriamente a

produção cotonícola de Mato Grosso. A resolução da questão da elevação dos custos de

produção em função da crescente utilização de agrotóxicos passa obrigatoriamente pelas

instituições de P&D locais. Novas cultivares ou novas formas de manejo devem ser buscadas

e selecionadas para garantir a queda dos custos unitários de produção e também reduzir a

contaminação ambiental já verificada em algumas regiões de Mato Grosso. Neste ponto há

perspectivas positivas de se ingressar em uma nova trajetória tecnológica nos próximos anos,

tanto na agricultura tradicional quanto na alternativa, o que permitiria uma sustentação, ao

menos temporária, da cotonicultura naquele estado.

Este quadro desafiador que se apresenta para a manutenção desta cultura em Mato

Grosso se assemelha ao próprio desenvolvimento histórico da cotonicultura naquele espaço. A

ação da iniciativa privada, do Governo regional e das instituições de P&D configuraram a

formação de um arranjo produtivo regional superando adversidades de ordem técnica e

econômica durante a década de 1990. Para a sua permanência no futuro, somente a atitude

conjunta destes três agentes poderá garantir a sua efetiva sustentabilidade econômica e

ambiental, assegurando a queda dos custos, a elevação da qualidade, o crescimento industrial

regional e a inserção no mercado internacional. Estas medidas poderão evitar um

deslocamento da cultura para outras regiões produtoras, mantendo o nível de renda regional e

a possibilidade de desenvolvimento econômico e social de Mato Grosso.

Enfim, este caso paradigmático de desenvolvimento endógeno pode ser observado

como uma alternativa para o desenvolvimento dos diversos espaços econômicos, na medida

que a vocação produtiva regional é assegurada, evitando ações "por cima do mercado", onde

novos fatores são colocados estrategicamente no centro da análise, como a geração, acúmulo e

difusão do conhecimento e a cooperação dos agentes em busca da eficiência coletiva. Nesta

perspectiva, o desenvolvimento endógeno passa a compor o rol de ferramentas para a

investigação de alternativas ao desenvolvimento dos espaços e subespaços nacionais.

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130

BIBLIOGRAFIA

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ANEXO I

Os Dez Principais Municípios Produtores de Algodão no Estado Mato Grosso - Safra 2000

Municípios Produção (ton.) % 1 - Campo Verde 147.642 14,72 2 - Sapezal 108.740 10,84 3 - Novo São Joaquim 104.068 10,38 4 - Itiquira 71.187 7,10 5 - Primavera do Leste 64.273 6,41 6 - Rondonópolis 60.891 6,07 7 - Pedra Preta 60.635 6,05 8 - Campo Novo do Parecis 44.863 4,47 9 - Sorriso 44.357 4,42 10 - Lucas do Rio Verde 39.075 3,90 Outros 257.105 25,64 Total 1.002.836 100,00

Fonte: IBGE - Produção Agrícola Municipal (2002)

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ANEXO II

Logística de Transportes de Integração Sul-Americano