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8/13/2019 A Expansao Da Dinamica Identitria na Representao de Si
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA
Luciano de Sampaio Soares
A EXPANSAO DA DINAMICA IDENTITARIA NA REPRESENTACAODE SI
CURITIBA2013
8/13/2019 A Expansao Da Dinamica Identitria na Representao de Si
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Luciano de Sampaio Soares
A EXPANSAO DA DINAMICA IDENTITARIA NA REPRESENTACAODE SI
Artigo apresentado a Profa. Dra. Kati Eliana
Caetano como parte da avaliacao da disciplina
de Estetica da Comunicacao no curso de
Mestrado do Programa de Pos-Graduacao
em Comunicacao e Linguagens, na linha
de Processos Mediaticos e Praticas
Comunicacionais.
CURITIBA2013
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RESUMO
Tomando por base os conceitos de arquetipos desenvolvidos por C. G. Jung
em algumas de suas obras como O Homem e Seus Smbolos (2008) e OsArqu etipos e o Inconsciente Coletivo(2012) pretende-se, neste trabalho, explorar
mais detalhadamente a dinamica identitaria que Eric Landowski (2003) utiliza comoreferencia de estilos de vida, aplicando tais movimentos o dandi, o esnobe, ocamaleao e o urso a representacao de si (GOFFMAN, 1959).
Palavras-chave: identidade. representacao de si. arquetipos.
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Representacao de Si
Para o sociologo canadense Erving Goffman, sempre que alguem inicia uma
interacao direcionada ou nao com outras pessoas, os envolvidos irao representar
papeis, exibindo ou escondendo caractersticas de si, na tentativa de corresponderas
expectativas proprias e dos outros em relacao a interacao (GOFFMAN, 1959). Essa
representac ao de sipor meio do desempenho teatralizado (chamado por Goffman de
performance) e um jogo informacional derivado de um ciclo potencialmente infinito
de ocultacao, descoberta, falsa revelacao e redescoberta1 (ibid., p. 8) em relacao a
expectativas dos envolvidos em cada situacao sobre o que seria apropriado para o
cenario, ou para a forma como se deseja ser percebido durante a interacao.
Como o proprio Goffman (ibid.) descreve, essa representacao envolve, por
parte dos indivduos, uma falsidade intencional ainda que nao necessariamente
consciente pelo uso tanto da mentira2 na verbalizacao quanto do fingimento3 na
linguagem nao verbal. Tal falsidade, entretanto, nao e necessariamente um resultado
de ma fe ou de ma ndole do indivduo, e sim uma tentativa de se apresentar aos
seus pares de acordo com sua crenca sobre aquilo que se espera dele em cada
situacao interacional, influenciando desta forma as inferencias tomados pelos outros
participantes acerca da propriedade de sua presenca em tal situacao.
[.. . ] quando o indivduo esta na presenca imediata de outros,
sua atividade tera uma caracterstica promissoria. Os outros
tenderaoo a acreditar que devem aceitar o indivduo com base em
fe, oferecendo-lhe uma resposta justa enquanto ele estiver em suapresenca em troca de algo cujo valor real nao sera estabelecido ate
que ele se ausente (ibid., p. 23).4
Assim, todo o desempenho teatralizado do indivduo em questao sera
escrutinado a posteriori pelo grupo de interagentes, que so entao avaliarao se as
1No original: a potentially infinite cycle of concealment, discovery, false revelation and rediscovery.2No original: deceit3No original: feigning4
No original: [. . . ]when the individual is in the immediate presence of others, his activity will have apromissory character. The others are likely to find that they must accept the individual on faith, offeringhim a just return while he is presente before them in exchange for something whose true value will notbe established until after he has left their presence
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inferencias obtidas durante o processo interacional correspondem de fato ao que
acreditam terem observado durante a representacao. O valor do desempenho sera
julgado para determinar se o indivduo representante se mostrou capaz de pertenceraquele grupo, de forma a ser avaliado enquanto um igual ou um diferente (ibid.), e
dessa forma ser considerado ou como mais uma instancia de determinada identidade
ou como um Outro, diferente e portanto nao compatvel com aquele grupo especfico.
A partir do reconhecimento de igualdades e diferencas entre o desempenho do
indivduo e o julgamento/expectativa dos interagentes, a aceitacao ou nao da atuacao
do indivduo em relacao a expectativa do grupo de interagentes passa tambem a
fazer parte da composicao identitaria dos participantes, posicao esta corroborada pela
relacao descrita por Eric Landowski (2002, p.4)
[...] o que da formaa minha propria identidade naoe so a maneira pela
qual, reflexivamente, eu me defino (ou tento me definir) em relacao a
imagem que outrem me envia de mim mesmo; e tambem a maneira
pela qual, transitivamente, objetivo aalteridade do outroatribuindo um
conteudo especfico a diferenca que me separa dele. [grifo do autor]
De forma semelhante, pode-se dizer que So e possvel estabelecer relacoes
de identidade a partir de um jogo formal entre o igual e o diferente (MARTINO, 2010,
p. 36), jogo este que nada mais e do que uma instancia de desempenho teatralizado
e que pretende justamente aproximar ou afastar o indivduo do grupo de interagentes.
Um melhor entendimento destes movimentos e oferecido por Landowski em
Presencas do Outro: ensaios de sociossemi otica, quando o pesquisador frances se
propoe a construir um modelo de carater geral que permita situar umas em relacao
as outras diferentes formas de articulacao possveis da relacao entre o Nos e seu
Outro (LANDOWSKI, 2002, p. 4). Tal modelo e baseado no conceito de Sr. Todo
Mundo, que representa a perfeita adesao as praticas e codigos de um determinado
grupo, e que se define por nao se sobressair em relacao aos interagentes envolvidos,
gracas a suanormalidade. OSr. Todo Mundofoi inicialmente proposto em referencia
aos costumes franceses, em especial parisienses, mas mesmo em sua definicao ja
deixa margem para a expansao conceitual para outros cenarios de interacao:
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[. . . ]o que aqui chamados dehomme du mondee um indivduo que
se caracteriza essencialmente por seu senso de adequac ao: sabe
oferecer a todo instante as marcas de uma perfeita adesaoas normas
do grupo ao qual pertence. Melhor: nesse quadro, ele manifesta
tal a-vontade que quase poderamos nos perguntar se, mais do quecurvar-se aos usos, naoe ele, na realidade, que os inventa e que da o
tom fornecendo, por seus comportamentos, suas boas maneiras, seu
constante a-proposito no discurso e no porte, a ilustracao em carne e
osso (ou oexemplumimaginario) daquilo que os ideais, ou pelo menos
osstandardseticos e esteticos do grupo considerado podem oferecer
de melhor [grifos do autor] (LANDOWSKI, 2002, p. 37).
O Parametro Arquetpico
Este Sr. Todo Mundopode ser considerado para os franceses como um
todo, e para os parienses em especial como a reuniao de tudo aquilo que se
espera para que um indivduo, durante a interacao, possa ser considerado umigual, ou
seja, como o parametro pelo qual um indivduo sera comparado ao interagir com um
Outro parisiense. E a partir deste Sr. Todo Mundoque alguem se torna consideravel
em termos de interacao, quando esta envolver nativos da capital francesa. Mas o
modelo de representac ao de siproposto por Goffman nao se limita espacialmente aCidade Luz, e portanto deve-se supor que a forma-base Sr. Todo Mundopode receber
tambem outros conteudos praticas e codigos diferentes daqueles mencionados
por Landowski.
Assim, um mesmo indivduo que, ao ter seu desempenho teatralizado
comparado com o parametro do Sr. Todo Mundo frances, passa a ser percebido
como umigual, necessitaria alterar os codigos e praticas pelos quais se representaria
ao tentar se colocar na mesma posicao em uma cidade brasileira, como o proprio
Landowski defende, todo meio produz efetivamente seu proprio tipo ideal de homem
realizado (2002, p. 39).
Naturalmente, a formacao desta referencia basica para o desempenho
teatralizado dos indivduos nao e exclusiva de uma ou outra cidade, uma vez que
qualquer agrupamento de pessoas tera umSr. Todo Mundoproprio, definido a partir
de suas proprias expectativas do que e certo. Isso e valido para uma famlia, para a
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torcida em um jogo de futebol e para qualquer outra instancia de interacao da qual uma
pessoa possa participar, e para cada uma dessas ocasioes, o conteudo que preenche
esseSr. Todo Mundo e diferente do encontrado em outras situac
oes.
Por esta razao, propoe-se aqui a utilizacao de um outro conceito mais amplo,
em substituicao ao Sr. Todo Mundo, extrado da teoria de Carl Gustav Jung o
arqu etipo os arquetipos sao formas tpicas do comportamento que, ao se tornarem
conscientes, assumem o aspecto de representacoes (JUNG, 2000, para. 435)5. E
importante salientar que:
O arquetipo e um elemento vazio e formal em si, nada mais sendo
do que umafacultas praeformandi, uma possibilidade dadaa priori da
forma da sua representacao. O que e herdado nao sao as ideias,
mas as formas, as quais sob esse aspecto particular correspondem
aos instintos igualmente determinados por sua forma [grifo do
autor] (JUNG, 2012, para. 155)
Dessa forma, o arquetipo nao possui conteudo inicial em sua forma, levando
entao a relacao Sr. Todo Mundo arquetipo a considerar o termo cunhado por
Landowski como uma representacao de um arquetipo (forma) de indivduo bem
sucedido e bem integrado ao seu ambiente, cujo conteudo praticas e codigos
e delimitado cultural e geograficamente, dentro de uma situacao bastante especfica
da vida urbana parisiense, ja que ha tantos arquetipos quantas situacoes tpicas da
vida (2012, para. 99).
Cabe tambem ressaltar que nao existe uma lista propriamente dita de
arquetipos justamente pela variedade de possibilidades para a expressao dessas
representacoes. Por mais que Jung trabalhe frequentemente em sua obra com alguns
arquetipos como a Grande M ae, o Velho S abio, o Selfe outros, ele mesmo adverte
quee [. . . ] inutil decorar uma lista de arquetipos. (JUNG, 2012, para. 62)
Dinamica Identitaria Expandida
Alem de propor o Sr. Todo Mundo, que doravante sera substitudo neste
5Tradicionalmente, citacoes da obra de Jung sao referenciadas a partir da numeracao dos paragrafoscomo substituicaoa paginacao, facilitando a busca pela passagem especfica citada.
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trabalho pelo conceito do arquetipo junguiano, Landowski apresenta um esquema
de dinamica identitaria zoosociosemiotica baseada em estilos de vida, que assume
o arquetipo como ponto central de/para onde os indivduos se movimentam a partir
de opcoes estrategicas em relacao ao conteudo que preenche este centro em cada
cenario interacional (LANDOWSKI, 2002, p. 37-38).
Essa movimentacao dos indivduos em relacao ao arquetipo apresenta quatro
trajetorias distintas possveis, definidas pela direcao do transito e pela forma de
conjuncao/disjuncao do indivduo em termos do conteudo arquetpico da interacao.
Assim sao definidos6 entao:
Esnobe : busca se integrar ao conteudo arquetpico, a partir de um momento externo
ao centro, na tentativa de identificacao total. Ainda que pretenda a conjuncao,
nao consegue perder completamente o conteudo arquetpico de sua posicao
anterior;
Dandi : pretende se disjuntar do centro, pervertendo o conteudo arquetpico atual em
busca de outras praticas e codigos, efetivamente se desligando da conjuntura
interacional existente no cenario em questao;
Camaleao : movimento de dissimulacao do conteudo arquetpico original do indivduo,
que se adapta temporariamente ao centro de referencia de determinado cenario
de interacao sem com isso se desligar dos codigos e praticas de origem; e
Urso : cuja opcao de disjuncao em relacao ao parametro central e completa,
removendo-se em termos identitarios da interacao com o arquetipo original
da situacao de interacao.
O esquema grafico representado na FIGURA 1, baseado no diagrama
apresentado por Landowski, oferece uma visualizacao facilitada das direcoes e pontos
de origem das trajetorias de dinamica identitaria (estilos de vida.
6Estas definicoes dosestilos de vidautilizam a mesma nomenclatura proposta por Landowski (2002,p. 38), porem ja levam em consideracao a substituicao doSr. Todo Mundopelo conceito de arquetipo
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FIGURA 1: Diagrama de dinamica identitaria (LANDOWSKI, 2002, p. 39)
As trajetorias descritas assim evidenciam mais uma caracterstica importante
da dinamica identitaria durante a interacao: a percepcao, por parte do indivduo, de
uma estratificacao social na qual ele, dependendo da estrategia adotada, tenta se
elevar ou se complementar:
[. . . ] as manobras do esnobe e do dandi tem como objetivo comum
uma vontade de ascensao que pessupoe a visao de um espaco
social organizado como uma superposic ao de nveis desigualmente
valorizados, ao passo que os comportamentos do camaleao e do urso
implicam antes a justaposic aonum mesmo plano [. . . ][grifos do autor]
(LANDOWSKI, 2002, p.39)
Estas estrategias, entao, podem ser consideradas como opcoes que o
indivduo faz ao realizar a representac ao de si, uma vez que seu desempenho
teatralizado os codigos e praticas que ira apresentar aos interagentes pode
revelar as tendencias de conjuncao/disjuncao do indivduo em relacaoaquele cenario
especfico.
Porem, e importante lembrar que este diagrama ou mesmo as trajetorias
definidas por Landowski aborda apenas um cenario de interacao, generico
certamente, isolado de outras situacoes que podem ocorrer concomitantemente a
interacao analisada, como por exemplo o caso de um estudante que, em sala
de aula, interage com seus colegas de classe em uma situacao e, ao mesmo tempo,
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tambem se apresenta ao professor. Nao e o caso, neste trabalho, de esmiucar
essa relacao em termos de trajetorias e opcoes realizadas por tal estudante, mas a
mencao ilustra uma das muitas situac
oes possveis de interac
oes diferentes em que as
escolhas narepresentac ao de sipara um dos grupos podem ocasionar interpretacoes
diferentes daquelas que o indivduo proporia a um segundo grupo de interagentes
caso os cenarios fossem dissociados.
Outro ponto a ser destacado e a fluidez sequencial da dinamica identitaria,
uma vez que cada cenario interacional mesmo quando considerado individualmente,
sem situacoes de interacao concomitantes pressupoe uma entrada do indivduo em
um meio, onde se inicia a representac ao de si e uma sada deste meio, quando os
outros participantes passam entao avaliar o desempenho teatralizado apresentado
em termos de aceitacao ou negacao do pertencimento daquele indivduo (Goffman,
1959). Assim, cada entrada pressupoe uma sada de outro cenario, assim como cada
sada, por consequencia, pressupoe a entrada em uma nova situacao de interacao.
[...] os pontos de chegada sao ao mesmo tempo outros pontos de
partida possveis para algum outro viajante ou, por que nao, para
o mesmo. O esnobe, tendo alcancado seus objetivos, talvez se
transforme em dandi com a esperanca de subir ainda mais alto
ou talvez, ao contrario, redescobrindo as virtudes da autenticidade,
retome o caminho de seu modesto (mas fraterno) ambiente de partida;
do mesmo modo, nada indica que o camaleao, cansado de mudar
de libre em funcao dos habitos ou dos modos locais, nao decida um
dia transformar-se em urso ou, ao contrario, retornar para seu outro
mundo, aquele do qual tinha sado. (LANDOWSKI, 2002, p. 40-41)
Landowski, como visto na citacao anterior, mantem sua visao apontada para
um unico cenario, encarando cada movimento em relacao a chegada e ao abandono
daquela situacao interacional especfica. Ao expandir esse raciocnio, e possvel
entender que, no caso de sequencias temporais de interacao, o indivduo avalia em
cada cenario de interacao em relacao ao conteudo arquetpico que reconhece na
posicao central do diagrama da dinamica identitaria qual estrategia/trajetoria lhe e
mais apropriada, independente do conteudo aplicado a mesma posicao pelos outros
presentes para entao determinar suarepresentac ao de sinas diferentes instancias de
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interacao.
Tomando como exemplo a sada do ambiente de trabalho para o intervalo
de almoco, um indivduo onvoro que a convite de um colega faz sua refeicao
em um restaurante vegetariano, interpretara as condicoes do estabelecimento e das
pessoas a sua volta a partir de sua propria experiencia, e tendera a agir da forma que
acredita ser apropriada, ainda que nao restrinja sua alimentacao em outras ocasioes.
O comportamento exibido pelo indivduo no restaurante seraa posteriori julgado pelo
colega que fez o convite, e por outros clientes do restaurante, como apropriado ou nao
e, ainda que o indivduo nao siga tal dieta, podera ser aceito ou nao naquele ambiente.
E possvel que, ainda no exemplo anterior, o indivduo assuma oestilo de vida
do esnobe e tente se comportar da forma que acredita ser correta para um vegetariano
em tal ambiente na busca de se integrar ao meio ou, na trajetoria do camaleao, adapte
suas praticas temporariamente aquelas encontradas no restaurante, sem negar sua
condicao de nao-vegetariano. Por outro lado, pode mesmo assumir o papel do urso
e mencionar o consumo de carne diversas vezes no decorrer da refeicao, negando
efetivamente o conteudo da referencia central do cenario. O dandi, em tal cenario,
provavelmente se apresentaria como vegano, crudvoro ou como partcipe de outra
dieta ainda mais restritiva que a vegetariana. Entretanto, vale ressaltar que mesmo
antes, e tambem depois, do intervalo de almoco, o indivduo tende a manter sua
trajetoria identitaria associada ao ambiente de trabalho.
Identidade, e Persona
A decisao por assumir um ou outro estilo de vida e portanto da definicao do
desempenho teatralizado a ser exibido em cada cenario de interacaoe dependente
de caractersticas do proprio indivduo, que quando consideradas em conjunto podem
ser definidas como suaidentidade. Apesar de Stuart Hall defender que a identidade
e definida historicamente, e nao biologicamente (2006, p. 13) considera-se aqui
que tal afirmacao nao cobre a totalidade de aspectos determinantes na questao da
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representac ao de si, uma vez que particularidades do indivduo sao tao cruciais na sua
dinamica identitaria quanto caractersticas culturais. Nao e o caso, aqui, de descartar
a identidade cultural, mas sim de torna-la parte integrante do indivduo, em conjunto
com sua personalidade inata, aquele conjunto caractersticas do ser humano que nao
e determinado exclusivamente pela sua historia e por sua cultura.
[ . . . ]h aum fator apriorstico em todas as atividades humanas, que e
a estrutura inata da psique, pre-consciente e inconsciente. A psique
pre-consciente, como por exemplo a do recem-nascido, nao e de
modo algum um nada vazio, ao qual, sob circusntancias favoraveis,
tudo pode ser ensinado. Pelo contrario, ela e determinada para
cada indivduo, que so nos parece um nada escuro, porque nao apodemos ver diretamente. No entanto, assim que ocorrem as primeiras
manifestacoes visveis da vida psquica, so um cego nao veria o carater
individual dessas manifestacoes, istoe, a personalidade singular. [grifo
do autor] (JUNG, 2012, para. 151)
Portanto, se arepresentac ao de sie a expressao de um jogo que o indivduo
pratica na sua interacao com os outros, e que tal jogo apresenta possibilidades
estrategicas diversas, cuja opcao por uma em detrimento das outras e relacionado
a identidade ou ao amalgama da personalidade inata com a identidade cultural
do indivduo, pode-se entao relacionar essa representacaoapersona, a mascara que
para Jung e o sistema de adaptacao ou estilo de nossa relacao com o mundo [. . . ] e
o que nao se e realmente, mas sim aquilo que os outros e a propria pessoa acham
que se e (2012, para. 221).
Uma vez que a [. . . ] identidade se configura como uma estrutura dinamica,
relacionando-se dialeticamente com o cotidiano no sentido paradoxal de mante-la em
plena transformacao. (MARTINO, 2010, p. 37), e possvel inferir que as diversas
instancias de interacao encontradas pelo indivduo influenciem de forma decisiva
nessa transformacao, ao confronta-lo com diferentes conteudos arquetpicos de
referencia sobre os quais ele assume o estilo de vida que lhe parece mais apropriado.
Isso ocasiona um processo constante de retroalimentacao da identidade, em que
suas proprias caractersticas psicologicas e culturais oferecerem linhas-guia de
atuacao que, por sua vez, poderao sofrer alteracoes de acordo com o julgamento
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aplicado a personapor parte do indivduo em si e tambem pela sua percepcao da
recepcao de seu desempenho teatralizado por parte dos demais participantes do
cenario interacional.
Conclusao
Com a intencao de expandir a interpretacao da representac ao de si
(GOFFMAN, 1959), este artigo tentou aproximar a teoria do sociologo canadense
com conceitos como a din amica identit aria (LANDOWSKI, 2002) e os arqu etipos
psicologicos (JUNG, 2012) buscando principalmente a apresentacao de uma analise
das posturas do indivduo durante o curso de uma interacao, mas tambem a
articulacao de uma ferramenta teorica que contemplasse tanto aspectos sociais
envolvidos nos cenarios interacionais quanto caractersticas inatas do indivduo que
se apresenta nestas situacoes.
Acredita-se que esta ferramenta aqui proposta permitira uma abordagem
mais holstica do indivduo enquanto interagente, ao oferecer um panorama mais
amplo da persona por ele assumida em diferentes cenarios interacionais, alem de
contemplar indiretamente questoes como o processo de individuacao e a formacao
da personalidade por meio da retroalimentacao da identidade a partir da avaliacao
do desempenho teatralizado pelo proprio indivduo e pelos outros participantes da
situacao de interacao.
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REFERENCIAS
GOFFMAN, Erving.The Presentation of Self in Everyday Life. New York: AnchorBooks, 1959
HALL, Stuart.A Identidade Cultural na Pos-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A,2006.
JUNG, Carl Gustav. Os Arquetipos e o Inconsciente Coletivo. Obra Completa. v.9/1. ed. 9. Petropolis, RJ: Vozes, 2012
JUNG, Carl Gustav. A Natureza da Psique. Obra Completa. v.8/2. ed. 5. Petropolis,RJ: Vozes, 2000
LANDOWSKI, Eric.Presencas do Outro: ensaios de sociosssemiotica. Sao Paulo:Perspectiva, 2002.
MARTINO, Lus Mauro Sa.Comunicacao e Identidade: quem voce pensa que e?.Sao Paulo: Paulus, 2010