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Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013
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A FORMAÇÃO CONTINUADA CONTRIBUINDO PARA A
IMPLANTAÇÃO DA POLITICA EDUCACIONAL NA REDE
MUNICIPAL DE IRATI- PARANÁ
BULATY, Andréia (UEPG) 1
TOZETTO, Susana Soares (Orientadora/UEPG) 2
Partimos do premissa da necessidade de estudar a formação de professores como
sendo essencial a toda mudança que essa pode oferecer a escola, aos alunos e a
sociedade. O processo de formação permanente dos docentes, inclui não só a formação
continuada mas também a inicial. No conjunto ambas contribuem para a formação da
identidade do professor e dessa maneira com a qualidade de sua prática pedagógica e o
ensino.
Assim, o conhecimento se torna fundamental ao docente, pois é por meio do
mesmo que é possível realizar uma prática educativa consciente, crítica e
transformadora. Os saberes docentes envolvidos nesse processo se tornam plurais,
porque dizem respeito a diversidade social e não só a escola. São construídos no contato
entre os sujeitos, e partilhados entre os mesmos. Enfim, os saberes estão relacionados
com a pessoa, sua identidade e sua formação, pois advém de experiências do professor
e de seu processo de formação.
Os saberes se alteram quando em contato com a formação continuada e a
experiência. Da mesma maneira quando da implantação de uma política, que em
conjunto com a formação continuada trabalham rumo a aprendizagem e estudo da
prática pedagógica. Situação que possibilita a análise da categoria formação continuada
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Estadual de Ponta Grossa e membro do Grupo de Estudos sobre o Trabalho Docente (GEPTRADO), contato: [email protected] 2 Doutora em Educação Escolar, professora adjunta da Universidade Estadual de Ponta Grossa, Departamento de Educação, do Programa de Pós-Graduação em Educação (Mestrado/Doutorado) e líder do Grupo de Estudo sobre o Trabalho Docente (GEPTRADO), contato: [email protected]
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como auxiliadora da implantação da proposta na rede municipal de Irati- Paraná em
2009, discutindo a relevância da mesma.
Esse estudo surge da pesquisa realizado com os pedagogos do quadro da
secretaria que estavam presentes na construção e implantação da proposta do referido
município. O presente estudo se desenvolveu numa abordagem qualitativa, que
procurou fazer a análise do contexto, partindo da reflexão da formação continuada. Os
dados foram coletados por meio do questionário com todos os 5 pedagogos da equipe
pedagógica da secretaria municipal de Irati-Pr, com perguntas fechadas e abertas na
intenção de coletar informações sobre o perfil profissional e o seu posicionamento
frente a proposta implantada em 2009, já que faziam parte da comissão organizadora da
mesma.
Quanto a análise dos dados apoiamo-nos em Bardin (2011) com a realização da
categorização, desenvolvida a partir da análise de conteúdo.
Formação continuada enquanto momento de conhecimento
A formação continuada desenvolvida através de cursos nos encaminham a
pensar em seu fundamentos, suas concepções, buscando sair do contexto de cursos de
reciclagem, nos quais são apresentados modelos prontos e fechados de prática, rumo a
construção de estudos e debates sobre a educação.
Acreditamos que a formação adquire um caráter nem só prático e nem só
teórico, já que permite realizar-se uma práxis educativa. Na tentativa de efetivar a
formação continuada que considera o professor como um sujeito histórico, social,
político e cultural, é essencial que se dê num movimento dialético de construção e
reconstrução da cultura e do conhecimento. Assim, formar docentes, implica, no
mínimo, uma discussão consistente sobre o conhecimento (MORAES; TORRIGLIA,
2003)
Quando a formação continuada disponibiliza a apresentação de uma política
educacional, contribui para a alteração da prática pedagógica ou não. Porque os
professores podem se tornar resistentes a mudança e gerar conflitos mantendo as
mesmas estruturas, só alterando o discurso, caindo na dicotomia entre a teoria e a
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prática. Assim, concordamos com Imbernón (2011) que a política pode contribuir com o
ato educativo, desde que a estrutura do curso de formação possibilite a análise do
global, não limitando-se as carências do real. Nesse sentido a formação continuada
coopera para que a complementação da formação inicial e a prática se articulem
colocando em revisão os conhecimentos dos professores.
Os cursos de formação continuada não precisam necessariamente ocorrer a partir
de cursos ofertados pelas secretárias de educação no caso dos municípios. Concordamos
com Romanowski (2007) que a formação continuada pode e necessita ocorrer em
diferentes contextos, com discussões do micro e do macro, englobando desde práticas a
epistemologias do conhecimento. Assim eles podem ocorrer em cursos, seminários,
projetos, palestras, entre outros. Em espaços formais e não formais, ou seja, em cursos
estruturados, planejados, com programas sistematizados, ou em espaços da sala de aula,
na escola, enfim, em momentos em que ocorre a ação docente.
A formação continuada precisa ter como preocupação o ensino como um todo,
ou seja, o trabalho docente, a escola, o aluno, enfim a comunidade escolar. Para tanto,
os programas de formação precisam incluir saberes científicos, didáticos, saber fazer
pedagógico, relacional, críticos e da gestão, abrangendo a prática dos professores e seus
problemas (ROMANOWSKI, 2007). Nessa perspectiva de discussão, Imbernón (2011)
defende que é preciso abandonar o conceito obsoleto de formação como mera
atualização científica, psicopedagógica e didática, e assumir um conceito de formação
que consiste em descobrir, revisar, fundamentar, argumentar, construir a teoria,
organizar. Conceito predominante que compreende a formação tanto individual como
coletiva capaz de gerar a transformação humana.
Assim, buscamos uma formação que atenda as necessidades do mercado de
trabalho, que tende a enxergar a educação como meio de produtividade e
competitividade, ou seja, uma mercadoria que posso vender. Ou quero uma formação
que leve o docente ao desenvolvimento humano, fundada na humanização do homem, e
assim passo a compreender a educação como pontua Charlot (2005) que ocorre por
meio de três ações dialéticas: humanização, socialização e singularização.
Se tem muita divergência entre os objetivos dos cursos de formação continuada,
pois alguns tem como foco oferecer modelos de atividades, já outros priorizam estudos
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de temas voltados a políticas, leituras que contribuem com a prática educativa, que
possibilitam a formação consistente de teoricamente.
Dessa forma, Imbernón (2009) introduz a discussão sobre a formação
continuada, sob duas perspectivas: atitudinal e emocional. A primeira diz respeito à
necessidade de levar em consideração o desenvolvimento da atitude, entendido como
sentimento de predisposição, que é conseguido e organizado por meio da experiência de
ser professor. Enquanto o emocional se ampara em motivações intrínsecas.
Questões que tem implicação na prática docente, ou seja, se o mesmo se
encontra imerso em meio ao desmotivo e passivo as mudanças educativas e ideológicas,
cabe a formação continuada oferecer uma injeção de animo. Como oferecer? Por meio
de cursos que não sejam trabalhados com modelos de materiais prontos a aplicação em
sala de aula, mas com cursos que possibilitem ao professor a interação entre os pares,
contando suas aflições, seus conflitos e buscando em conjunto soluções que o levem a
melhor conduzir as situações. Assim, a formação continuada de professor que considera
o desenvolvimento da atitude leva em ponderação os processos cognitivos, afetivos, de
conduta que auxiliam no desenvolvimento pessoal do professor, contribuem para que o
mesmo vá além de resolver meros problemas da situação.
A formação continuada precisa deixar de ser vista como uma forma de modelar e
modelos de atividades. Quando deixar de ser pensada como momento de busca de
solução a problemas imediatos pode-se acontecer a mudança. Isto é, quando for
realizada em instantes de contato com conhecimentos científicos, de discussão e debate
que envolve não só o micro ambiente de sua disciplina ou da escola em que leciona,
atingindo a discussão do macro, possibilitando ao professor ter contato com a sociedade
como um todo, contribuindo com a leitura de mundo.
Para o exercício docente é preciso se ter uma formação especifica, que leve em
consideração os conhecimentos da docência, da experiência, que é construído pelo
próprio sujeito ao longo da carreira, sendo os mesmos intransferíveis aos outros,
igualmente a identidade do mesmo. Assim, a concepção de formação continuada de
acordo com Gatti e Barreto (2009) precisa prevalecer a idéia de formação continuada
concebida como processo crítico-reflexivo do saber docente. Necessita priorizar aspectos
político emancipatório e o papel ativo do professor em sala de aula. Por esse motivo a formação
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precisa ser consistente teoricamente para não ficar o docente atrelado ao saber fazer, desprovido
da relação teoria e prática. Dessa maneira, acreditamos que a formação adquire um caráter nem só prático e
nem só teórico, já que permite ao docente estar envolvido no movimento dialético da
educação, que pode conduzir o homem a criador e transformador, e não mais ficar
meramente sujeito submisso e alienado.
Questões que uma formação balizada de conhecimentos e saberes, nos quais se
tem o domínio não só da teoria mas a relação com a prática pode auxiliar na construção
de uma formação consistentemente, no qual não se tenha um esvaziamento teórico e
nem um discurso totalmente teórico, mas o equilíbrio de ambos.
A busca pela formação continuada no município de Irati-Pr.
A palavra Irati é de origem Tupi (ira = mel e ty = rio, portanto rio ou região de
mel). O município teve grande crescimento populacional nos últimos anos e conta com
aproximadamente 54. 151 habitantes, localizada no interior do Estado do Paraná, a 150
Km da capital do estado, Curitiba.
Ao buscar conhecer a situação da Educação no Município de Irati/ Pr, temos
informações de acordo com a Revista Viva Irati (2012) de que a secretaria municipal
conta com 30 escolas do nível primário, ou seja, que atende crianças do 1º ao 5º ano. 20
encontram-se localizadas na área urbana e 10 no interior. Em relação ao número de
docentes a rede apresenta 473 e 5.447 alunos matriculados e frequentando às escolas .
A escolha para pesquisar esse município em questão, surge do interesse de
compreender como o mesmo vem realizando a implantação da política criada a partir de
suas necessidades locais.Assim, para a escrita desse artigo focamos na reflexão da
contribuição da formação continuada para essa implantação.
O município é referência à micro região, por ter em seu território um campus
universitário da Universidade Estadual do Centro Oeste, que se responsabiliza em
grande escala pela formação dos profissionais da educação.
O estudo tem base na abordagem qualitativo-descritivo, realizada com o auxilio
do questionário que conteve perguntas fechadas e abertas, com todas as cinco
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pedagogas do quadro da equipe pedagogia da Secretaria Municipal de Educação de
Irati-Paraná em 2012.
A decisão por um estudo qualitativo-descritivo se deu mediante a preocupação
na descrição e estudo reflexivo do tema. Assim usamos das palavras de Richardson
(1999) para compreender que ao utilizar a metodologia qualitativa, buscamos descrever
a complexidade do problema investigado, e possibilitar a análise da interação de
variáveis, que buscam compreender e classificar os processos vivenciados pelos grupos
sociais. Gerando certo nível de profundidade e entendimento das particularidades.
Partindo dessa definição, nos preocupamos em estabelecer critérios para a coleta de
informações sobre o tema investigado.
Buscamos por meio do questionário obter conhecimento dos apontamentos sobre
a realidade investigada. Os questionários cumprem duas funções essenciais: “[...]
descrever as características e medir determinadas variáveis de um grupo social.”
(RICHARDSON, 1999, p.189). O questionário semi-estruturado com perguntas abertas
e fechadas possibilitou o entendimento da opinião dos sujeitos, ao responder perguntas
breves e longas. A finalidade é expressar seu posicionamento frente a elas. Por isso
optou-se pelo mesmo, na tentativa de conhecer o que descreve o grupo e seu
posicionamento frente a proposta implantada pela rede municipal de Irati-Pr.
Para se discutir os dados levantados, recorremos a análise de conteúdo, por meio
da realização de categorias. Compreendemos que é a análise do visível e invisível
presente nas mensagens, isto é, “[...] um conjunto de técnicas de análise das
comunicações” (BARDIN, 2011, p.31). O saber que é produzido pela análise tem
ligação com a natureza psicológica, social, econômica, política e histórica do sujeito que
responde ao questionário, assim como o contexto educacional ao qual o mesmo
pertence, fazendo surgir uma inferência de conhecimentos. (BARDIN, 2011;
RICHARDSON, 1999).
Ao analisar as respostas elencamos categorias, por meio da semelhança, e dos
conceitos significativos que os investigados oferecem ao pesquisador. Diante disso, fica
claro que a análise de conteúdo, não se realiza na forma de uma leitura normal, linear,
mas em uma leitura com variedade inferida, em movimentos (BARDIN, 2011;
RICHARDSON, 1999).
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Desse modo, o questionário com os pedagogos da equipe pedagógica da
Secretaria Municipal de Educação de Irati-Pr, permitiu a coleta de informações quanto à
caracterização dos investigados e a percepção do grupo em relação à política por eles
criada e implantada. Considera-se relevante que, a percepção dos profissionais sobre a
proposta curricular da rede, focou a análise no contexto das contribuições e das
fragilidades da mesma, aparecendo a formação continuada como contribuição para a
docência.
Os sujeitos que compõem essa pesquisa são todos os pedagogos da equipe
pedagógica da rede municipal de Irati-Pr, que estavam no cargo até 2012. Os quais aqui
chamaremos de P-1; P-2; P-3; P-4 e P-5. Devido a princípios éticos, não será revelado
em hipótese alguma suas identidades. A escolha pelos numerais ocorreu de maneira
aleatória.
A caracterização do grupo, em relação à formação acadêmica, observou-se uma
diversidade de cursos de Pós- Graduação Lacto Sensu, tais como: Orientação e
supervisão em gestão escolar (P-1); Ensino e formação de recursos humanos para a
educação Básica (P-2); Gestão supervisão e orientação educacional e Psicopedagogia
clínica e institucional (P-3); Pedagogia escolar: orientação e supervisão (P-5) e o (P-4)
não especificou qual a área da pós-graduação, só informou que é graduado em Educação
Física. As demais profissionais possuem graduação em Pedagogia.
Os 5 pedagogos investigados, são todas do sexo feminino, e apresentam idades
variantes: duas se encontram na faixa etária de 31 a 35 anos, duas entre 41 a 45 anos e
uma entre os 46 e 50 anos. Ainda foi levantado que três já estão aproximadamente de 9
a 12 anos e dois de 5 a 8 anos trabalhando na secretária municipal de educação do
municipio. Dos cinco sujeitos, três já tinham experiência e contato com a educação,
devido a trabalhar em escolas municipais e duas não atuavam na área da educação.
Todas são atualmente concursadas e efetivam a jornada de trabalho da seguinte forma:
três fazem 40 horas na secretária e duas que atendem 20 horas na secretária e 20 no
estado ou escola privada.
Quando questionamento sobre a contribuição da proposta curricular para a
prática pedagógica levantou-se a formação continuada como espaço da construção da
identidade e dos saberes. O questionário realizado com os pedagogos da equipe
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pedagógica no ano de 2012 aponta para o esclarecimento de que se tem na formação
continuada a contribuição para a efetivação da proposta. A mesma passa a ser vista
como a
[...] busca constante de pesquisa e construção do conhecimento (P-2) [...] necessidades de novas leituras para melhorar o trabalho (P-3); [...] busca de novas leituras para novos horizontes (P-5).
Nesse sentido, a formação continuada contribui com o professor na realização da
prática pedagógica almejando que o mesmo possa realizar a práxis. A formação
continuada que oportuniza o docente ao estudo, a busca por mudança no contexto da
aula, visa sobrepor a ação-atividade ou técnica, em que o mesmo fica limitado a resolver
problemas imediatistas da prática. Nesse sentido Imbernón (2011, p.63) coloca que é
preciso:
[...] dotar o futuro professor ou professora de uma bagagem sólida nos âmbitos cientifico, cultural, contextual, psicopedagógico e pessoal, deve capacitá-lo a assumir a tarefa educativa em toda sua complexidade, atuando reflexivamente com flexibilidade e o rigor necessário, isto é, apoiando suas ações em uma fundamentação válida para evitar cair no paradoxo de ensinar a não ensinar, ou em uma falta de responsabilidade social e política que implica todo ato educativo em uma visão funcionalista, mecânica, rotineira, técnica, burocrática e não reflexiva da profissão [...].
Assim, observa-se que é preciso que a formação continuada rompa com a ação-
atividade, em busca da valorização do estudo e reflexão. O professor não pode ficar
fechado a resolver problemas, ou simplesmente ter uma visão da necessidade de o como
fazer. É importante ocorrer a ruptura dessa concepção que foca só no saber fazer, rumo
a entender o porque fazer, consciente de seus atos.
É preciso romper com a formação continuada tida como treinamento. Pois
quando a formação começa a ser tratada como genérica nos cursos, se tem estabelecido
o conteúdo e o desenvolvimento das atividades pelo ministrante, que supostamente
deverão auxiliar o docente na prática. Mas não se abre a oportunidade de estudos
ligados a formação de conhecimento amplo. Assim, o treinamento se é norteado por
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comportamentos e técnicas que são reproduzidas em sala com vistas a solucionar
problemas enfrentados pelos professores (IMBERNÓN, 2009).
Com a formação enquanto treinamento podemos compreender uma
racionalidade positivista, ao passo que desenvolve ação técnicas e generalizadas.
Respostas que nem sempre acabam por atender a necessidade do contexto da sala de
aula, nem do aluno e do professor.
Quando se tem a formação sobre a concepção de indagação, de estudo
compartilhado entre os pares, teremos uma provável mudança. Assim o professorado
acaba por assumir-se como protagonista, que planeja e executa sua formação de modo
que o leva a construir conhecimento significativo a prática educativa. Começando pela
tomada de consciência de que formação continuada é mais que apenas a extensão da
formação inicial e menos ainda que seja um treinamento em busca de técnicas de aula,
conteúdos, que pretendem solucionar problemas específicos.
Concordamos com Imbernón (2009) que ao falar em formação só se considera a
mudança da pessoa, ou seja, seus conhecimentos, seus hábitos, a atuação, tornando
desse modo o professor cada vez mais limitado a informação e só isso. Esquece-se que
cada professor tem concepção acerca da educação, do ensino, do currículo, da política,
tem valores e atitudes. Sendo preciso estabelecer uma relação entre os pares da
educação, criando um elo que possibilite uma formação capaz de gerar aprofundamento
de valores, que auxiliem na construção de novos conceitos, que reafirmem ou busquem
formar novas concepções. Ou como defende Imbernón (2009, p.106) “[...] A formação
move-se sempre entre a dialética de aprender e desaprender”.
Quando a formação é vista como leitura de mundo, busca de conhecimento, de
novas leituras, de pesquisa como indicado pelos pedagogos da equipe pedagógica de
Irati-Pr, se torna uma formação para além do treinamento. É o abandono do conceito
obsoleto, a caminho de uma nova concepção que prioriza a constante construção de
saberes e conhecimentos que contribuem com a prática. Que levam o professor a ter
uma base mais consistente de conhecimentos, advindos dos estudos. Mas para que isso
ocorra é necessário que o professor inicialmente tenha a necessidade de querer mudar.
Essa mudança, como pontua Imbernón (2009) e Hargreves (2002) é um processo
longo, flexível e que precisa ser levado em consideração o querer docente. Ou como
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pontua Charlot (2005) o desejo é um propulsor de aprender e por consequência do
mudar. Assim, mudar depende do sujeito, sua concepção e motivação. Até pode ser
desenvolvida uma mudança imposta por uma política ou reforma, mas é ilusória, pois o
docente acaba por realizar uma ação técnica e não transformadora da realidade, por
meio da práxis.
Os pedagogos da rede de Irati-Pr ainda pontuam as limitações e fragilidades que
a formação continuada encontra após a implantação da proposta curricular no
município.
[...] mais formação para o entendimento da proposta curricular para os professores porque há uma grande parte que não entendeu. (P-1); [...] falta de interesse em buscar leitura (P-2); [...] os professores que atuam na disciplina de ed. Física não são formados na área e necessitam de maior embasamento e orientações (P-4).
Como toda mudança, a política educacional também gera alguns impasses.
Dentre eles podemos mencionar o não entendimento da política e assim, propicia a
dificuldade em se inserir no contexto da formação continuada, que se supera quando a
mesma for trabalhada com a questões que surgem do contexto da necessidade do
professor.
Realmente quando se tem uma falta de interesse por parte de alguns docentes em
realizar leituras, estudos que contribuem com a construção do conhecimento dos
mesmos sobre a política implantada acabando por interferir na prática do mesmo, ou
limitando a realizar esta como técnica, com ações-atividades voltadas a atender
problemas emergenciais da ação docente.
O não entendimento da proposta aliado a falta de interesse na formação
continuada é um dado preocupante, pois que nos encaminha a pensar sobre como a
proposta curricular foi implantada nesse município por meio da formação continuada.
Será que ela atendeu a todos os fundamentos da política educacional, fazendo com que
o professor tivesse o conhecimento sobre a mesma.
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Assim, a formação não envolve somente o professor em si, mas todo o contexto
social e suas interferências na vida do mesmo. Imbernón (2009, capa final) apresenta
que:
O contexto político e social é um elemento imprescindível na formação e chega a condicionar sua natureza. A formação não pode ser desvinculada do conceito de formação docente, da situação trabalhista e da carreira docente, das instituições educacionais, do ensino, da análise do atual alunado e da infância e adolescência nas diversas etapas em uma escolarização total da população. Deve ser, portanto, necessariamente unida ao contexto do trabalho. Este livro desenvolve um conceito de nova formação permanente do professorado, baseado num clima de colaboração, numa organização escolar minimamente estável, capaz de apoiar a formação, e na aceitação da diversidade entre os professores, uma diversidade que exige uma contextualização. Destina-se a estudantes, professores e formadores do professorado, e a todos [...]
Formação compreendida como movimento entre as instâncias da escola, da
comunidade escolar, do professorado e da sociedade, envolvendo o todo. Esse
movimento acontece na colaboração entre os pares, propondo assim uma posição critica
e não doméstica, ou seja, que a prática docente seja estudada sobre pressupostos
ideológicos e que envolvam tomadas de atitudes.
Quando a formação continuada se limita a pensar a prática só como uma ação-
atividade/técnica, restringe a formação a transmissão de modelos de atividades. Assim,
alguns docentes ficam condicionados a realizar a prática seguindo esses modelos e
acaba por gerar uma resistência em mudança no planejamento, como apontaram os
investigados
[...] resistência de alguns professores em trabalhar com a proposta devido a necessidade de leituras e registro frequentes (P-3); [...] resistência de uma pequena parte dos professores em trabalhar com a proposta, pois estão habituados a um trabalho fragmentado (P-5).
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Questões que ocorrem devido a se ter uma formação continuada que oferece um
conhecimento fragmentado do todo. A formação que foca em modelos de práticas com
vistas a solucionar problemas imediatos. São modelos que não apresentam significado
ao professor, já que não surgiu de sua prática, mas adveio de experiências de terceiros.
Quando focado na formação continuada que visa estudos, encontros com a
intencionalidade de discussão e partilhamento de conhecimentos, se tem uma mudança
gradativamente da prática. Mas que para ocorrer a mudança é preciso antes de tudo o
professore ter o desejo, a mobilização, a oportunidade e as condições para efetivarem a
transformação.
Os professores não alteram e não devem alterar suas práticas apenas porque uma diretriz lhes é apresentada, e eles se sentem forçados a cumpri-las. Eles não podem evocar novas práticas a partir de nada ou transpô-las de imediato do livro didático para a sala de aula. Os profissionais necessitam de chances para experimentar a observação, a modelagem, o treinamento, a instrução individual, a prática e o feedback, a fim de desenvolver novas habilidades e de torná-las uma parte integrante de suas rotinas de sala de aula. (HARGRAVES, 2002, p.114).
Mudar é um processo demorado, difícil, que não acontece de hoje para amanhã,
ainda mais quando vem carregada de uma política de planejamento em volto do
currículo e da relação teoria/prática movida pela necessidade do conhecimento e saberes
que conduzem a interdiciplinaridade. É preciso ter se envolvido nesse processo de
mudança o desejo e a motivação do professor em quere mudar sua prática, além do
curso de formação continuada vir ao encontro de propostas de estudo que contribuam
para o entendimento da política e da construção da formação humana.
As reformas naturalmente sucedem umas as outras, devido a incapacidade do ser
humano criar sistemas flexíveis que possibilitem a auto renovação. Assim, quanto mais
profunda for à mudança proposta pela reforma, fica visível o fracasso do sistema
anterior. Nesse meio de mudança, as reformas educativas acabam por deixar exposto
alunos e professores que ficam envoltos em um contexto de espera e incerteza. Todas as
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reformas levam a debate a formação do professor, seja a inicial ou a permanente, já que
são elementos constituintes da mudança, pois por meio delas que ocorre a mudança na
prática docente que são os executores das mesmas (IMBERNÓN, 2009).
Quando falamos em reforma, rapidamente somos direcionados a mudar a prática
pedagógica, ou seja, a metodologia, a comunicação, a avaliação, que estão ligados ao
contexto da sala de aula e o planejamento da mesma. Só é possível mudar quando for
trabalhada na formação inicial para os professores iniciantes, futuros candidatos a
cargos na educação e aos professores mais experientes que se encontram na escola por
meio da formação continuada e permanente.
Possíveis considerações
Ao compreender que a formação continuada ou permanente é um momento que
contribui com a formação do professor, suas concepções e construção de saberes,
chegamos a entender a mesma como fundamental na construção da pratica do professor,
ao passo que possibilita o mesmo entrar em contato com os outros e partilhar
conhecimentos e saberes.
Concordamos dessa maneira com as palavras de Imbernón (2009, p.111) quando
defende que “[...] a formação sempre deve ser desequilíbrio, desaprendizagem, mudança
de concepções e de práticas educativas [...]”, pois é ela que permite ao professor ter uma
aprendizagem de dupla mão. Ou seja, no momento em que ensina também aprende com
a prática, e a formação continuada sinaliza o momento da desconstrução de concepções
estabelecidas, sentido a novas construções.
Findamos por dizer que os docentes embora ainda tenham resistências a
mudança, vêem a necessidade da formação continuada, buscando além dos cursos
oferecidos pela secretaria, leituras que possam contribuir com suas preocupações e
anseios.
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REFERÊNCIAS
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 70. Ed. São Paulo, 2011. CHARLOT, Bernard. Relação com o saber, formação dos professores e globalização: questões para a educação hoje. Porto Alegre: Artemed, 2005. GATTI, Bernadete; BARRETO, E. (Coord). Professores do Brasil: impasses e Desafios. Brasília: UNESCO, 2009. HARGREAVES, Andy. Aprendendo a mudar: o ensino para além dos conteúdos e da padronização. Porto Alegre: ArtMed, 2002. IMBERNON. Franscisco. Formação Docente e Profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. 7.ed. São Paulo, Cortez, 2009. __________. Formação docente e profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. São Paulo: Cortez, 2011.
IRATI. Revista Viva Irati. Prefeitura Municipal de Irati. Junho, 2012.
MORAES, Maria; TORRIGLIA, Patrícia. Sentidos de ser docente e da construção do conhecimento. In: MORAES, Maria (org) Iluminismo às avessas. RJ: DP&A, 2003.
RICHARDSON, Roberto J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.
ROMANOWSKI, Joana . Formação e profissionalização docente. Curitiba: Ibpex, 2007.