A Formação Da República

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  • 8/18/2019 A Formação Da República

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     A Formação da Repúb lica

    O período compreendido entre a proclamação da República em 1889 e a Revolução de 1930, foitradicionalmente denominado de República Velha.Nos últimos anos, o termo vem gradualmente sendo substituído por Primeira República, porém, asinterpretações sobre o período não sofreram alterações significativas.

    Os Novos Atores 

    Nas últimas décadas do século XIX o regime monárquico viveu um processo constante de crise, refletindo osurgimento de novos interesses no país, associados a elite cafeeira, aos militares, às camadas urbanas eaos imigrantes, que representavam a nova força de trabalho.O movimento que eliminou a monarquia no país foi comandado pelo exército, associado à elite agrária,particularmente os cafeicultores do oeste paulista. Estes últimos, há duas décadas haviam organizado umpartido político, o PRP - Partido Republicano Paulista - que não apenas defendia o ideal republicano, mastambém a fim da escravidão e o federalismo que garantiria a autonomia estadual. Foi desta maneira que aelite cafeeira procurou conquistar o apoio dos setores urbanos, de diferentes classes e das elites regionais.

     Apesar de dividido em facções, os republicanos históricos, chamados evolucionistas, eram predominantes edefendiam mudanças graduais, sem a participação popular no movimento, procurando marginaliza-la não

    só da ação, mas principalmente da construção do novo modelo político. Eram admitidos pelosmonarquistas, pois defendiam o respeito a ordem pública, muitos eram cafeeicultores e alguns aindapossuiam escravos; julgavam que chegariam ao poder disputando as eleiçoes com os partidos tradicionais

    e percebiam a enorme importância que tinha o governo comoinstrumento de ação econômica. Seu principal líder era QuintinoBocaíuva.Os militares por sua vez haviam angariado grande prestígio apósa Guerra contra o Paraguai, momento a partir do qual o exércitopassou a se estruturar, destacando a importância das escolasmilitares, que foram responsáveis pela formação ideológica damaioria dos soldados, das grandes cidades, a partir da ideologiapositivista, base para a participação política cada vez mais ativados militares.

    Dentro do exército brasileiro destacou-se Benjamim Constant,professor da Escola Militar, acusava o ministério imperial de faltade patriotismo, por ter punido militares que se recusavam a

    capturar negros foragidos e criticavam pela imprensa os desmandos de políticoscorruptos.O positivismo é uma ideologia que desenvolveu-se na França e ganhou o mundoocidental, tornando-se predominante já no final do século XIX. O nome vem daobra de Augusto Comte, "Filosofia Positiva", quando o autor faz uma análise sobreo desenvolvimento de seu país ao longo do século, atribuído à indústria e a eliteindustrial, grupo esclarecido e capacitado, que, se foi o responsável pelo progressoeconômico, deveria ser o responsável pelo controle do Estado. Para Comte,

    caberia a elite governar, enquanto caberia ao povo trabalhar. Trabalhar sem reivindicar, sem se organizar esem protestar, pois "só o trabalho em ordem é que pode determinar o Progresso", nascendo daí o lema de

    sua filosofia, que os militares escreveram na bandeira brasileira, após o golpe de 15 de novembro.Existe uma tendência de se considerar que "os militares" proclamaram a República, ou que, sem osmilitares, não haveria república.Primeiro é importante lembrar que havia nas camadas urbanas uma forte disposição a favor do movimentorepublicano; segundo, já vimos que havia um forte partido político, representando a nova elite agrária,disposta a chegar ao poder, mesmo de forma moderada; terceiro, é necessário lembrar que, apesar deexistir o "espírito de corpo" entre os militares e que a ideologia positivista era cada vez mais forte dentro doexército, este encontrava-se dividido e existiam as disputas internas ao mesmo.Os militares, de uma forma geral, rechaçavam os políticos civis, porém perceberam que era necessária umaaliança com os evolucionistas, pois garantiriam dessa maneira o fim da monarquia, mas a manutenção da"ordem".

    Monarquista convicto, Deodoro enfrentava problemas políticos com parte do ministério imperial e tambémdentro do exército. Participou do movimento republicano a partir da crença de que D. Pedro II já nãogovernava e que o ministério comandado por Ouro Preto pretendia fortalecer a Guarda Nacional, eenfraquecer o exército.

    Benjamin Constant 

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    No dia 11 de novembro civis e militares organizaram o levante, cuja idéia encontrou a oposição de FlorianoPeixoto.O governo provisório criado após o golpe, foi comandado pelo Marechal Deodoro da Fonseca

     A ESPADA  

    República da Espada foi a denominação dada ao período que compreende desde 15 de novembro até ofinal do governo do Marechal Floriano Peixoto, em 1894. Durante este período, dois militares governaram opaís; daí a origem do nome: espada.No entanto, apesar de Deodoro e Floriano serem homens do exército e possuírem o "espírito de corpo" domilitar, não podemos dizer que tivemos no Brasil dois governos militares, mesmo considerando a tendênciacentralizadora dos mesmos.

     Apesar das contradições que marcaram esses dois primeiros governos do Brasil republicano, e de, muitospretenderem a continuidade do "poder militar", a renúncia de Deodoro e a retirada de Floriano, mostram aforça dos grandes cafeeicultores e de setores ligados a exportação. Esa força se mostrava crescente desdea proclamação da República e era percebida também entre os políticos civis: a política "industrialista" de Rui

    Barbosa, baseada no emissionismo, encontrou forte oposição das oligarquias, principalmente a paulistaDurante o governo provisório, encabeçado pelo marechal Deodoro, o país conheceu um processo de"modernização institucional", destacando-se a separação entre Estado e Igreja, sendo que muitas funçõescivis, até então controladas pela Igreja Católica, passaram para o poder público; ao mesmo tempo osdeputados elaboravam a nova constituição, que foi promulgada em fevereiro de 1891, consagrando em

    seus pontos fundamentais:

    O federalismo, que garantia autonomia aos estados para elaborar suaprópria Constituição, eleger seu governador, realizar empréstimos no exterior,

    decretar impostos e possuir suas próprias forças militares;

    O presidencialismo, o chefe da federação seria o Presidente da República, com poderes para intervir nosestados quando houvesse um tendência separatista, invasão estrangeira ou conflitos entre os estados;

    O regime representativo, o Presidente da República e os governadores estaduais, assim como todos osmembros do Poder Legislativo, em todos os níveis, seriam eleitos diretamente pelo povo, excluídos osanalfabetos, as mulheres, os soldados, e os menores de idade.

     A Crise Política

    Promulgada a Constitiuição, Deodoro foi eleito pelo Congresso Nacional numa votação marcada porameaças de intervenção militar. No entanto, neste episódio percebe-se que o próprio exército não era umaforça coesa, pois o Marechal Floriano concorreu a Vice presidente apoiando o candidato das oligarquias,Prudente de Moraes. Apesar da derrota de Prudente, o marechal Floriano foi eleito vice presidente. (PelaConstituição de 1891 a eleição para presidente e vice eram separadas e podiam ser eleitos candidatos dechapas diferentes). Durante o governo Deodoro a crise política agravou-se e foi marcada de um lado pelo

    autoritarismo e pelo centralismo de Deodoro, e por outro, pela oposição exercida pelos grandes fazendeirosatravés do Congresso Nacional, apoiados por parte do exército. Em novembro de 1891 Deodoro decretou ofechamento do Congresso Nacional, dois pretextos foram utilizados, a aprovação da Lei deResponsabilidade do presidente da República, que poderia sofrer impeachement e ser afastado do cargo,em certos casos e a greve da Central do Brasil; porém, sem apoio social, e sofrendo forte oposição daMarinha, não conseguiu manter o poder, renunciando no dia 23 do mesmo mês.

    O governo de Floriano Peixoto foi marcado pelo apoio do Congresso Nacional ao presidente, que, apesarde centralizador e autoritário, governou para fazer valer a Constituição recem promulgada e consolidar aRepública.Do ponto de vista econômico herdou a inflação provocada pelo encilhamento e executou timidamentemedidas protecionistas em relação à indústria, assim como a facilitação ao crédito, com a preocupação decontrolar a especulação. Do ponto de vista político, reprimiu as principais revoltas que ocorreram no país e

    foram apresentadas como subversivas ou monarquistas: a Revolta da Armada e a Revolução Federalista noRio Grande do Sul.O fato de ser encarado como responsável por consolidar a República não significa que seu governo tenhasido marcado pela estabilidade. Ao contrário, várias manifestações contrárias ao governo ocorreram. No

    Marechal Deodoro 

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    início de seu governo, o Marechal Floriano enfrentou oposição dentro do próprio exército, marcada pelomanifesto dos 13 generais, que contestava a legitimidade de seu governo, ao mesmo tempo, enfrentava osproblemas derivados dos estados, onde as oligarquias locais disputavam o poder e uma fatia dos benefícioseconômicos que pudessem ser retirados do governo federal. A principal rebelião regional ocorreu no Rio Grande do Sul, onde a luta pelo poder colocou frente a frenteos pica-paus, "repúblicanos históricos" liderados por Júlio de Castilhos, e os maragatos, liderados pelomonarquista Silveira Martins, do Partido Federalista Brasileiro.Os maragatos eram defensores de uma reforma constitucional, adotando-se o parlamentarismo e opunham-se ao governo de caráter ditatorial de Júlio de Castilhos.Floriano pendeu para o lado dos pica-paus, apesar de Castilhos ter apoiado o golpe de Deodoro em 1891.Floriano precisava do apoio da bancada gaúcha no Congresso Nacional.

    Custódio de Melo

    Em setembro de 1893 começou a Segunda Revolta da Armada, com o Almirante Custódio de Melo tentando

    reeditar o movimento que culminou com a renúncia de Deodoro. Apoiado no exército e no Congresso

    Nacional que votou o "estado de sítio", o presidente executou forte repressão aos revoltosos, que se

    retiraram para o sul e instalaram um governo em Desterro, capital de Santa Catarina; em outubro as forças

    da marinha se unem aos federalistas do Rio Grande do Sul e no início do ano seguinte dominam Curitiba. A repressão do governo caracterizou-se pela extrema violência, e tanto os marinheiros como os federalistas

    gaúchos foram derrotados, ampliando o prestígio e poder de Floriano. Mesmo tentado a permanecer no

    poder, Floriano percebeu que não teria o apoio da elite cafeeira de São Paulo e que não conseguiria

    enfrentar a elite econômica do país. Com a posse de Prudente de Moraes terminava a "República da

    Espada".