171
UFSJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI Programa de Pós-Graduação em Geografia Bruno Henrique dos Santos A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DE SÃO JOÃO DEL- REI/MG E O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO DO CAMPO DAS VERTENTES. SÃO JOÃO DEL-REI – MG 2017

A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

UFSJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

Programa de Pós-Graduação em Geografia

Bruno Henrique dos Santos

A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DE SÃO JOÃO DEL-

REI/MG E O PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO DO

CAMPO DAS VERTENTES.

SÃO JOÃO DEL-REI – MG

2017

Page 2: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

BRUNO HENRIQUE DOS SANTOS

A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DE SÃO JOÃO DEL-REI/MG E O

PROCESSO DE REGIONALIZAÇÃO DO CAMPO DAS

VERTENTES.

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Geografia,

Universidade Federal de São João del-

Rei, como parte dos requisitos

necessários para obtenção do título de

Mestre.

SÃO JOÃO DEL-REI – MG

Page 3: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião
Page 4: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião
Page 5: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

À Luciana minha companheira de toda vida,

pela sua (in) compreensão em todos os

momentos dessa travessia, e aos meus

amados filhos Ana, Miguel e Alice.

Page 6: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

AGRADECIMENTOS

Este trabalho é fruto de muito esforço e dedicação e não teria concluído sem o

apoio de pessoas de extrema importância em minha vida pessoal e

profissional.

Em especial quero agradecer a algumas pessoas que estiveram ligadas mais

diretamente a essa etapa de minha vida. A Luciana minha companheira de

travessia de toda vida, aos nossos filhos Ana Eliza, Miguel e Alice, pelo amor,

pela (in) compressão, pelo incentivo e coragem para ir até o fim.

À minha mãe Aparecida e ao meu pai Geraldo porque sem eles esse sonho

não seria possível.

À minha irmã Narayana, minha sobrinha Taynara, minhas tias Conceição,

Imaculada e Dolores, pela presença em minha vida, pelas palavras

encorajadoras e de entusiasmo, a todas o meu muito obrigado!

À Professora Lígia, pela orientação, paciência, compreensão e confiança

depositada em mim, desde a graduação. Obrigado Lígia.

Aos professores Márcio e Flamarion, por terem sido meus professores e

arguidores no exame de qualificação, que muito colaboram para o

desenvolvimento final desse trabalho. Por extensão, agradeço aos professores

Ivair e Tatiane que (in) diretamente colaboraram para o desenvolvimento dessa

pesquisa.

À professora Beatriz Ribeiro Soares, por me dar a honra de sua ilustre

presença em minha banca.

Agradeço aos amigos Filipe (Lamin) e Letícia com quem dividi momentos de

tensão e muitos momentos de alegria durante o mestrado. Obrigado pela

amizade de quem compartilha o mesmo sonho que vocês.

Aos companheiros de antes, durante e depois da pós-graduação e de travessia

geográfica e canelagem: João Pedro, Jefferson (Moita), Chicão, Dayane

(Dada), Isaías, Denise, Ítalo, Krishina, Gabriel Dias, Marina, Otavio (Punk),

Kamila (Dottinha), Rodrigo (Marquin), Arlon, Pedro, Raquel, Fernandinha, Léo

Page 7: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

Tiradentes, Luciana, Bia, João (Carioca), Jadna, Titi, Patrícia, Cassi e,

especialmente, ao Luciano amigo de todas as horas, que muito colaborou com

a “co-orientação”. Obrigado companheiros!

Aos amigos Gabriel, Jackson, Alexandre (Xandele), Ageu, Guilherme, Ronan,

André (Salmera) e Adriano (Fubá) cuja vida republicana, a disciplina acadêmica

e a postura política-lúdica para fora da universidade tornaram mais fácil e

proveitosa a travessia.

Aos amigos da Caverna: Philippe (PH), Klênio (Tormund), Thales (Salsinha),

Samuel, Pedro (Gatinho), Kelvin (02), e Andrezão pela hospitalidade

cavernística. Valeu demais camaradas!

À Silmara e a Érika pela amizade fraterna de longa data.

À Maria Luíza, a Monica (PPGeog-UFSJ), a Wania (DEGEO-UFSJ), o Welber,

o Denis e o Thiago (Melão) pela grande contribuição na reta final do trabalho.

A todos os professores e colegas do PPGeog-UFSJ.

Enfim, obrigado a todos que direta ou indiretamente contribuíram para que

esse trabalho fosse realizado.

Page 8: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

ROTEIRO DAS MINAS São João Del Rei

A fachada do Carmo

A igreja branca de São Francisco

Os morros

O córrego do Lenheiro

Ide a São João Del Rei

De trem

Como os paulistas foram

A pé de ferro

(Oswald de Andrade)

Page 9: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

RESUMO Este trabalho pretende explicar como se deu a produção socioespacial de São João del-Rei através da periodização histórico-espacial da sua expansão urbana, além de dimensionar a importância da microrregião de São João del-Rei, na mesorregião do Campo das Vertentes. Por meio de uma pesquisa Geográfico-Histórica acerca da temática, o objetivo é identificar os agentes sociais que comandam o processo de expansão urbana de São João del-Rei através da periodização do território pela sucessão dos meios geográficos, de subperíodos econômicos e da materialidade das técnicas, acrescentando uma nova perspectiva de informações sobre o tema. A pesquisa contribui para a compreensão da expansão urbana de São João del-Rei e sua inserção na (re) organização produtiva do capital e na divisão social e territorial do trabalho, sua inclusão no contexto das cidades médias, e a influência dos modais viários na (re) produção do seu espaço urbano. Além de dimensionar a importância da microrregião de São João del-Rei na mesorregião do Campo das Vertentes através da análise do seu processo histórico de regionalização, da sua atual conjuntura organizacional e, principalmente, das interações espaciais entre as cidades que compõe a microrregião. Os pressupostos da análise teórica e metodológica têm como viés a análise Geográfico-Histórica e a formação socioespacial de São João del-Rei, que estão fundamentadas na produção capitalista do espaço pela prática dos seus agentes sociais. Metodologicamente, utiliza-se o critério de periodização de continuidades e grandes rupturas, considerando os períodos densos e os hiatos temporais. Palavras-chave: formação socioespacial, espaço urbano, regionalização, materialidade das técnicas

Page 10: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

ABSTRACT This work intends to explain how the socio-spatial production of São João del-Rei occurred through the historical-spatial periodization of its urban expansion, as well as to determine the importance of the micro-region of São João del-Rei, in the meso-region of Campo das Vertentes. Through a Geographical-Historical research about the theme, the objective is to identify the social agents that control the urban expansion process of São João del-Rei through the periodization of the territory by the succession of the geographical environments, economic subperiods and the materiality of the Techniques, adding a new perspective of information on the subject. The research contributes to the urban expansion understanding of São João del-Rei and its insertion in the productive (re)organization of capital and the social and territorial division of labor, its inclusion in the context of average cities, and the influence of transportation modals in the (re)production of its urban space. Besides scaling out the importance of the micro-region of São João del-Rei in the meso-region of Campo das Vertentes through the analysis of its historical process of regionalization, its current organizational conjecture and, especially, the spatial interactions between the cities that make up the microregion. The assumptions of the theoretical and methodological analysis have as their bias the Geographical-Historical analysis and the socio-spatial formation of São João del-Rei, which is based on the capitalist production of space by the practice of its social agents. Methodologically, the criterion of periodization of continuities and large ruptures is used, considering dense periods and time gaps. Keywords: socio-spatial formation, urban space, regionalization, materiality of techniques

Page 11: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Setores x PIB de São João del-Rei 104

Page 12: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Organograma da Periodização Geográfica – Histórica para São João del-Rei 29

Figura 2- Ponte Nova da Intendência em 1798, atualmente conhecida como Ponte da Cadeia. 42

Figura 3- Estrada de ferro cortando a Avenida Leite de Castro no Bairro das Fábricas na primeira metade do séc. XX 58

Figura 4- Estrada de ferro na Avenida Leite de Castro no Bairro das Fábricas na segunda metade do séc. XX/ Atual Avenida Leite de Castro. 59

Figura 5- Fábricas de tecidos nos bairros Matosinhos e Fábricas na década de 1930. 61

Figura 6- Vias de acesso de São João del-Rei. 149 Figura 7- Mapa viário da microrregião de São João del-Rei 151

Page 13: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

LISTA DE MAPAS

Mapa 1- Localização do município de São João del-Rei 26 Mapa 2- Localização do Porto Real da Passagem (Caminho Velho: Rota

entre São Paulo e Minas Gerais) 31 Mapa 3- Comarcas de Minas Gerais em 1713. 32 Mapa 4- Localização dos primeiros núcleos de urbanização de São João del

Rei Séc. XVIII. 33 Mapa 5- Comarcas de Minas Gerais em 1821 39 Mapa 6- Vilas e Arraias de Minas Gerais no Século XVIII. 40 Mapa 7- Planta urbana de São João del-Rei no século XVIII 43 Mapa 8- Expansão da malha urbana de São João del-Rei 54 Mapa 9- Configuração atual dos bairros do Matosinhos e das Fábricas. 57 Mapa 10- São João del-Rei na Mesorregião do Campo das Vertentes 63 Mapa 11- Localização de São João del-Rei 83 Mapa 12- População total dos termos das vilas mineiras no início do século

1808. 97 Mapa 13- Cidades mineiras com população urbana superior população rural

(1940-2010) 101 Mapa 14- Municípios-destaque em Minas Gerais em 1940 segundo a relação

entre o setor primário e secundário do Produto Interno Bruto 102 Mapa 15- Municípios-destaque em Minas Gerais em 2010 segundo a relação

entre o setor primário e secundário do Produto Interno Bruto 103 Mapa 16- Região de influência de São João del-Rei 108 Mapa 17- Capitania de Minas Gerais no século XVIII 122 Mapa 18- Vilas de Minas Gerais nos Séculos XVIII e XIX 124 Mapa 19- Divisão Regional de Minas Gerais XIX. 127 Mapa 20- Proposta de regionalização e níveis de desenvolvimento econômico

das regiões de Minas Gerais no século XIX. 128 Mapa 21- Mesorregiões de Minas Gerais segundo o IBGE 132 Mapa 22- Microrregiões de Minas Gerais segundo o IBGE. 133 Mapa 23- Macrorregiões de planejamento de Minas Gerais 134 Mapa 24- Mesorregião do campo das vertentes e suas microrregiões 137 Mapa 25- Microrregião de São João del-Rei 139 Mapa 26- Mapa da Comarca do Rio das Mortes 140 Mapa 27- Área de Influência de São João del-Rei 143 Mapa 28- Localização dos Campi da UFSJ 147

Page 14: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

LISTA DE QUADROS Quadro 1- Temporalidade dos modais e sua influência na formação

socioespacial de São João del-Rei 65 Quadro 2- Esquema da rede urbana e regiões de influência em Minas Gerais

na década de 1960 77 Quadro 3- Hierarquia Urbana de Minas Gerais – Década 1950 78 Quadro 4- Hierarquia Urbana de Minas Gerais - Década 1960 78 Quadro 5- Classificação das Cidades Médias - 1982 111 Quadro 6- Classificação das Cidades Médias - 1999 112 Quadro 7- Classificação das cidades médias - 2006 113 Quadro 8- Redes urbanas em Minas Gerais – Zonas de Influência de Belo

Horizonte 114

Page 15: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- População das Comarcas de Minas Gerais durante os séc. XVIII e XIX. 49

Tabela 2- Classificação dos Centros Urbanos de Minas Gerais 91 Tabela 3- População Urbana/Rural do Brasil 95 Tabela 4- População urbana e Rural de São João del-Rei e do Brasil 96 Tabela 5- População das Comarcas de Minas Gerais durante os Séc. XVIII e

XIX. 99 Tabela 6- População dos municípios da região de influência de São João del-

Rei (REGIC/IBGE) 109 Tabela 7- Estabelecimentos de Saúde de São João del-Rei. 144 Tabela 8- Linhas intermunicipais de ônibus entre os municípios da

microrregião de São João del-Rei, que tem a sede como origem ou destino. 150

Tabela 9- Linhas intermunicipais de ônibus entre municípios fora da microrregião de São João del-Rei, que tem a sede como origem ou destino. 150

Page 16: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

LISTA DE SIGLAS EFOM – Estrada de Ferro Oeste de Minas

FJP – Fundação João Pinheiro

GEIA – Grupo Executivo da Indústria Automobilística

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia

JK – Juscelino Kubitschek

REGIC – Região de Influência das Cidades

SEPLAG/MG – Secretaria Estadual de Planejamento e Gestão de Minas

Gerais.

S.J.D.R – São João del-Rei

UFSJ – Universidade Federal de São João del-Rei

Page 17: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

SUMÁRIO INTRODUÇÃO.................................................................................................. 15

PARTE I............................................................................................................ 24

1. A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DE SÃO JOÃO DEL-REI: GÊNESE E EXPANSÃO URBANA...................................................................................... 24 1.1. A Gênese da Formação Socioespacial de São João del-Rei..................... 25 1.2. Do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar à Cidade de São João del-

Rei........................................................................................................ ............. 30 1.3. A Comarca do Rio das Mortes e a Vila de São João del-Rei...................... 38 1.4. A Consolidação da Cidade de São João del-Rei........................................ 45 1.5. A Estrada de Ferro Oeste de Minas e a Industrialização São-Joanense 52 1.6. A Complexificação do Espaço Urbano São-Joanense Mediante a Atividade

Industrial do século XX...................................................................................... 60 2. OS MODAIS DE TRANSPORTE E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS EM SÃO JOÃO DEL-REI.................................................. 64 2.1. A Expansão Ferroviária e a Mecanização do Território.............................. 66 2.2.O Período Técnico–Científico: A Transição do Ferroviarismo para o

Rodoviarismo..................................................................................................... 70 2.3. A Influência do Modal Rodoviário na Formação Socioespacial de São João

del-Rei no século XX......................................................................................... 75 2.3.1. A (re) organização espacial de São João del-Rei pela reestruturação

rodoviária........................................................................................................... 81

3. SÃO JOÃO DEL-REI NO CONTEXTO DAS CIDADES MÉDIAS E SUA INSERÇÃO NA REDE URBANA MINEIRA...................................................... 87 3.1. Breve conceituação das cidades médias no contexto de Minas Gerais.... 89 3.2. São João del-Rei a Cidade Média do Campo das Vertentes...................... 94 3.2.1. A Inserção de São João del-Rei na Rede Urbana Mineira.................... 105

Page 18: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

PARTE II.................................................................................................... ..... 115

4. REGIONALIZAÇÃO: UMA ANÁLISE DA MICRORREGIÃO DE SÃO JOÃO DEL-REI.......................................................................................................... 115 4.1. Região e Regionalização: Formação Regional......................................... 116 4.2. O Processo Histórico de Formação Regional de Minas Gerais................ 120 4.2.1. As Comarcas de Minas Gerais.............................................................. 121 4.2.2. As Regiões Econômicas de Minas Gerais no século XIX..................... 125 4.2.3. As Regiões de Planejamento do Século XX......................................... 129 4.3. Uma Análise (Micro) Regional de São João del-Rei................................ 135 4.3.1. A Mesorregião do Campo das Vertentes.............................................. 136 4.3.2. A Microrregião de São João del-Rei...................................................... 138 4.3.3. A Importância de São João del-Rei como Centro Microrregional......... 142

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................ 153

REFERÊNCIAS............................................................................................... 157

Page 19: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

15

INTRODUÇÃO

Esta investigação tem como objetivo explicar como se deu a formação

socioespacial de São João del-Rei/MG através da periodização histórico-

espacial da sua expansão urbana, no decorrer dos mais de trezentos anos de

formação territorial do município, dimensionando sua importância no contexto

regional, tendo como referência a microrregião de São João del-Rei e a

mesorregião do Campo das Vertentes.

Adotamos a categoria de análise formação socioespacial proposta por

SANTOS (1977) derivada da teoria da Formação Econômica e Social de Marx1.

Santos, acrescenta a essa teoria a dimensão espacial, que até então, não

havia sido considerada nas formulações marxistas, levando assim, a uma

interpretação dualista das relações homem-natureza.

O autor se apropria da discussão de modo de produção e de formação

social para inserir o espaço como instância fundamental da realidade e daí

pensar a formação socioespacial. Sendo que:

a distinção entre modo de produção e formação social aparece como necessidade metodológica. O modo de produção seria o “gênero” cujas formações sociais seriam as “espécies”; o modo de produção seria apenas uma possibilidade de realização e somente a formação econômica e social seria a possibilidade realizada. (SANTOS, 1977, p.85).

Para Moreira (1982) o espaço geográfico é parte fundamental do

processo de produção social e mecanismo de controle da sociedade, assim o

espaço geográfico tem uma natureza social. Segundo o autor:

1A perspectiva que adotamos o conceito formação econômico–social trata das condições de produção não as restringindo às relações econômicas, e segundo Platkóvski e Titarenko (1958) “é um dos conceitos fundamentais da ciência marxista-leninista da sociedade. Uma formação econômico-social é um modo de produção historicamente definido que encarna a unidade entre as forças produtivas e as relações de produção em conjunto com as concepções políticas, jurídicas, religiosas, artísticas e filosóficas e as instituições da sociedade que correspondem a essas relações”.

Page 20: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

16

o espaço geográfico é compreendido como parte fundamental em uma Formação Econômico - Social de dois processos articulados que lhe são vitais, o da produção social e o do controle de suas instituições e relações de classes, o espaço é uma entidade rica em tratamento cientifico (MOREIRA, 1982, p.4).

Brandão (2007) destaca que a partir dos anos 1970, a investigação

inspirada em Marx, acerca da produção e reprodução social do espaço e do

ambiente construído colocou a ênfase na relação entre Estado e capital em sua

intervenção sobre o espaço.

Assim o processo formador do espaço geográfico é o mesmo da

Formação Econômico Social, pois

a noção de formação econômica e social é indissociável do concreto representado por uma sociedade historicamente determinada. Defini-la é produzir uma definição sintética da natureza exata da diversidade e da natureza específica das relações econômicas e sociais que caracterizam uma sociedade numa época determinada (SANTOS, 1977, p. 86).

Santos (1977) propõe que a Geografia utilize da categoria formação

econômica e social para analisar as formas produzidas no espaço utilizando-se

das três categorias que a formam: modo de produção, formação social e

espaço, nomeando essa teoria e método como formação socioespacial.

Desse modo, através da formação socioespacial de São João del-Rei

procuramos construir um discurso sobre os mais de trezentos anos da sua

história urbana explicitando conflitos, tensões e articulações entre sujeitos

sociais participantes do processo de produção da cidade.

Esse período corresponde ao recorte temporal escolhido para o

desenvolvimento do trabalho. Para interpretar os espaços do passado é

fundamental definir quais conceitos e variáveis serão adequados à análise do

tempo estudado, assim recupera-se o quadro referencial maior daquele

lugar/tempo, ou seja, o seu enquadramento espaço-temporal (ABREU, 1998, p.

94).

Page 21: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

17

Em alguns momentos do trabalho não apresentamos uma linearidade

temporal em relação aos acontecimentos do passado (econômicos, sociais,

políticos), pois para Moreira (2009) o espaço geográfico é:

Produto histórico, o espaço confunde-se com o tempo. O espaço é o tempo histórico. Não o tempo-data. A noção kantiana de tempo como lugar da história e de espaço como lugar da geografia, promovendo a separação entre tempo e espaço e entre história e geografia, só fez dar origem àquilo que Michel Foucault chamou de “espaço congelado”. O tempo histórico não é o tempo de relógio (tempo data, tempo-sideral) e o espaço geográfico não é o espaço das coordenadas geográficas. Embora a história embuta-se no calendário e o espaço geográfico embuta-se na rede de coordenadas (latitude e longitude), tempo e espaço são coordenadas da história. São as propriedades dessa matéria chamada conteúdo histórico (2009, p. 41).

Nesse contexto é importante frisar que o tema de pesquisa acerca da

formação socioespacial de São João del-Rei, no viés da expansão urbana, é

um tema geográfico, porém o seu recorte temporal encontra-se no passado e é

analisado na perspectiva da Geografia Histórica, na qual a geografia não pode

ignorar a dimensão temporal do espaço urbano.

Se a Geografia deseja interpretar o espaço humano como o fato histórico que ele é, somente a história da sociedade mundial, aliada à da sociedade local, pode servir como fundamento à compreensão da realidade espacial e permitir a sua transformação a serviço do homem. Pois a História não se escreve fora do espaço e não há sociedade a-espacial. O espaço, ele mesmo, é social (Santos, 1977, p.81).

Não podemos ignorar a dimensão temporal do espaço urbano. Santos

(1996) ressalta que em cada lugar o tempo atual defronta com o tempo

passado, que se cristaliza em formas e provoca a empiricização do tempo.

A cidade como espaço historicamente construído cria e organiza novas formas e funções, assim como a cristalização de formas antigas, assumindo novas funções. As rugosidades, isto é, as formas pretéritas inseridas em um novo contexto socioespacial, nos mostram a materialização do passado como marca histórica de contemplação do que existiu (BARROS e FERREIRA, 2009, p. 4).

Page 22: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

18

Os autores reiteram que “não podemos estudar, qualquer porção do

espaço urbano separado do seu significado, das suas atividades, das suas

funções e, da sua evolução histórica, pois será impossível de compreender sua

concretização” (BARROS e FERREIRA, 2009, p.11).

O espaço geográfico possui um caráter histórico e, por isso, é capaz de

contar a história e as características da ação humana sobre sua (re)

organização, funcionamento e produção.

Em relação ao recorte espacial, destacamos que Santos (1977) ao

propor a categoria formação socioespacial para a análise geográfica não

definiu um recorte espacial específico da sua incidência. Desse modo

destacamos a importância do município de São João del-Rei em uma escala

local e regional, para ressaltar sua relevância microrregional e mesorregional.

A problemática da pesquisa consiste em uma análise Geográfica

Histórica, para o melhor entendimento das formas atuais do espaço urbano

acerca da temática. Através da periodização do território de São João del-Rei

pela materialidade das técnicas em diferentes subperíodos econômicos

pretendeu-se identificar os agentes sociais que comandam a expansão urbana

da cidade e os processos de fragmentação, de segregação e de periferização

socioespacial, além da sua inserção na reorganização produtiva do capital e da

divisão social e territorial do trabalho.

A dissertação oferece contribuições para a compreensão da formação

socioespacial de São João del-Rei e sua inserção na (re) organização

produtiva do capital e da divisão social e territorial do trabalho, e seus objetivos

específicos se referem aos problemas sugeridos pelo tema no decorrer do seu

estudo de caso como:

Compreender os processos de produção capitalista do espaço de

urbanização e analisar os impactos sociais relacionados a esses

processos;

Explicar a expansão e a reestruturação urbana de São João del-Rei

através da materialidade das técnicas em diferentes períodos históricos

ligados a subperíodos econômicos;

Page 23: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

19

Investigar qual o papel de São João del-Rei na rede regional; Explicar

sua inclusão no contexto das cidades médias, e a influência dos modais de

transportes na sua formação socioespacial;

Desenvolver uma interpretação do processo de regionalização da

Microrregião de São João del-Rei através das interações espaciais entre a

sede e os municípios da microrregião e da mesorregião do Campo das

Vertentes.

O trabalho de investigação tem como método a formação socioespacial

e está fundamentada na abordagem quali-quantitativa do tipo descritiva

interpretativa.

Segundo Santos (1982) qualquer estudo fundamentado na categoria de

formação socioespacial deve iniciar tratando a gênese desta formação e

definindo o processo histórico responsável por sua forma atual, ou seja, a

materialidade concreta expressa no espaço.

Essa perspectiva promove a aproximação entre a história e a geografia,

ao mesmo tempo em que favorece a consideração da dimensão histórica na

geografia e da dimensão geográfica ao longo da história.

Desse modo, apresentamos em seu desenvolvimento uma abordagem

geográfica histórica, que, como parte da Geografia Humana instrui nossa

perspectiva de estudo para explicar as geografias passadas, pois seu objetivo

é estudar o presente que existiu em algum momento do que hoje é passado

(SILVA, 2016).

Assim na análise do espaço pretérito seguimos certas regras

metodológicas

Dentre as regras fundamentais que permitem que estudemos o passado, citaremos aqui apenas três. A primeira é a que preconiza que se as categorias de análise da geografia são universais 2, as variáveis que as operacionalizam não o são; daí precisamos estarmos sempre atentos à adequação destas últimas para o entendimento do passado. Variáveis não

2 De acordo com Abreu (2000) a partir de uma crítica à posição dos geógrafos clássicos, que definiram a geografia como a "ciência do presente", ele defende que é possível, sim, fazer geografias do passado, bastando para isso que saibam os trabalhar bem as categorias de análise geográfica (território e lugar) que são atemporais e, portanto, universais.

Page 24: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

20

trafegam impunemente no túnel do tempo, só as categorias de análise podem fazê-lo. A segunda regra, por sua vez, indica que só se pode entender o ‘presente de então’ se pudermos contextualizá-lo. Embora informado pelo presente, o passado não é o presente. Daí, para compreendê-lo, há que se investir muito em pesquisa indireta, via leitura do que já foi produzido sobre o tempo que se decidiu estudar, e também em pesquisa direta, realizada nas mais diversas ‘instituições de memória’ (...) Finalmente, há também que levar em conta que as geografias do passado trabalham, não com o passado propriamente dito, mas com os fragmentos que ele deixou. Por isso, é preciso sempre desconfiar dos vestígios que encontramos, pois os documentos não são neutros, isto é, incorporam estruturas de poder (...). Por outro lado, há também que tentar dar conta do que não deixou vestígios, mas que sabemos que ocorreu ou que deve ter ocorrido (ABREU, 2000, p. 18).

Os pressupostos da análise teórica e metodológica estão

fundamentados na formação socioespacial e, na produção capitalista do

espaço pela ação das práticas dos seus agentes sociais.

Metodologicamente, utiliza-se o critério de periodização de

continuidades e grandes rupturas, considerando os períodos densos e os

hiatos temporais (VASCONCELOS, 2009), na compressão da formação

socioespacial de São João del-Rei.

Para o entendimento da articulação entre os modais viários e as cidades

médias que permitem a compreensão da formação da rede urbana são-

joanense e sua relevância regional, a abordagem teórica procede do Centro de

Desenvolvimento e Planejamento da Universidade Federal de Minas Gerais

(CEDEPLAR) e do grupo de pesquisa Redes de Cidades Médias (RECIME).

As principais referências bibliográficas e conteúdos revisados e

utilizados na realização da pesquisa fundamentam-se nas temáticas: formação

socioespacial (SANTOS, 1977, 1985, 1994, 2008; MOREIRA, 1982; CORRÊA,

2004; SPOSITO, 2011), geografia histórica (ABREU, 1996, 1998, 2000;

BARROS e FERREIRA, 2009; SILVA, 2008, 2012), periodização geográfico-

histórica (SANTOS, 2000, 2008; SANTOS e SILVEIRA, 2003; Vasconcelos,

2009), processos históricos e formação de São João del-Rei (GRAÇA FILHO,

2002; MALDOS, 2000; SAINT-HILAIRE, 1974; GAIO SOBRINHO, 1996, 1997;

GUIMARÃES, 1996), modais viários (NATAL, 1991; LOPES, 2015; CAMPOS,

Page 25: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

21

2005; LELOUP, 1970; SANTOS, 1993, 2008; SANTOS e SILVEIRA, 2003),

Cidades Médias (AMORIM FILHO 1984, 2007; AMORIM FILHO e ABREU,

1999; AMORIM FILHO e SERRA, 2001; SANTOS, 1978, 1993; SOARES, 1998,

2007; SPOSITO, 2007, 2009), Região e Regionalização (CUNHA, 2002; DINIZ

e BATELLA, 2005; GODOY, 1996; PAULA, 2006; SARAIVA, 2008; BEZZI,

2004)

Para a obtenção e tabulação dos dados estatísticos (censitário,

geográficos, históricos e socioeconômicos) realizou-se pesquisa direta no

Banco de Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, da Fundação

João Pinheiro – FJP, da Universidade Federal de São João del-Rei – UFSJ e

da Prefeitura Municipal de São João del-Rei. As fontes cartográficas (material

cartográfico), iconográficas (fotografias) e arquitetônicas (projetos urbanos e

arquitetônicos de São João del-Rei) pesquisamos, principalmente, na Biblioteca

Municipal Baptista Caetano d’Almeida, no Laboratório de Conservação e

Pesquisa Documental da UFSJ (LABDOC-UFSJ), no Instituto do Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) - São João del-Rei, no Acervo de Obras

e Administração da Prefeitura Municipal e em acervos particulares.

A dissertação está estruturada em duas partes, que apresentam uma

continuidade de informações e análises sobre a formação socioespacial de São

João del-Rei e sua importância regional. A primeira seção está dividida em três

capítulos, onde abordamos a gênese de sua formação socioespacial, a

influência dos modais viários e a inserção das técnicas na produção do seu

espaço urbano e regional, e por fim a inserção de São João del-Rei no contexto

das cidades médias.

Na segunda parte do trabalho – em decorrência das transformações

urbanas ocorridas em São João del-Rei pelo seu processo de formação

socioespacial e a constituição da rede urbana mineira decorrente da articulação

entre os modais viários e a emergências das cidades médias – abordamos

importância de São João del-Rei como sede microrregional através da

articulação entre a Geografia e a História para compreender os processos

históricos de regionalização da microrregião.

Page 26: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

22

No primeiro capítulo apresentamos o processo histórico da formação

socioespacial da cidade de São João del-Rei, o aporte teórico tem como

embasamento: Santos (1977, 2008), Carlos (2009, 2011), e Sposito (2011),

que contribuem para o entendimento das dinâmicas urbanas acerca do

conceito socioespacial; Graça Filho (2002), Maldos (2000), Saint-Hilaire (1974)

e Vasconcelos (2011) para compreensão dos processos históricos de formação

do município. Desse modo, explicamos o contínuo processo de urbanização

são-joanense, através da periodização histórica da sua expansão.

No segundo capítulo analisamos como a implantação dos modais viários

– em nossa pesquisa destacamos o ferroviário – e a evolução das técnicas, a

partir do último quarto do século XIX, contribuíram para a constituição de um

sistema integrado de transportes.

Esses sistemas de engenharia atenderam as demandas internas e

externas da economia agroexportadora são-joanense, promovendo a (re)

organização espacial da cidade, através da circulação de pessoas e

mercadorias, porém a partir da década de 1950 quando o modal rodoviário

suplanta o ferroviário, São João del-Rei perde gradativamente sua importância

regional.

No terceiro capítulo, após uma breve discussão sobre a conceituação

das cidades médias destacamos, principalmente, sua influência histórica na

rede urbana da mesorregião do Campo das Vertentes e na sua microrregião,

da qual São João del-Rei é sede, realçando sua importância como eixo

articulador de fluxos e fixos, exercendo uma influência econômica, política,

estrutural e social na escala meso e microrregional.

Na segunda seção do trabalho, em decorrência da sua formação

socioespacial e das transformações que ocorreram no espaço urbano de São

João del-Rei, tratamos do processo de regionalização de sua microrregião e

sua importância nas transformações espaciais em escala regional, onde as

relações de mercado intra-regionais fomentam uma rede de relações espaciais

decorrentes de circuitos espaciais produtivos e círculos de cooperação

sobrepostos na região que se entrelaçam e se dinamizam pelo/no território em

escala regional e local.

Page 27: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

23

Para esse fim, analisamos o processo histórico de regionalização do

Estado de Minas Gerais, que na sua formação socioespacial estabeleceu redes

de relações espaciais decorrentes do desenvolvimento socioeconômico

desigual do estado, que se complementava através da implantação de

infraestrutura viária para dinamizar o território mineiro em escala regional,

refletindo a importância de São João del-Rei na sua região de influência.

Nas Considerações Finais avaliamos as atividades desenvolvidas

apontando os principais pontos pesquisados, as respostas encontradas e as

principais indagações feitas no decorrer da pesquisa.

Page 28: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

24

PARTE I

1. A FORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DE SÃO JOÃO DEL-REI: GÊNESE E EXPANSÃO URBANA

No decorrer dos mais de trezentos anos de história de São João del-Rei,

o modo de ocupação do espaço e o seu uso na formação da cidade sempre

estiveram ligados aos interesses das administrações locais e das classes

dominantes. O modo de ocupação do espaço que constitui a cidade está ligado

à necessidade da ação produtiva de cada período econômico, como bem

explicita Carlos: (2009, p. 45):

O uso do solo ligado a momentos particulares do processo de produção das relações capitalistas é o modo de ocupação de determinado lugar na cidade. O ser humano necessita, para viver, ocupar um determinado lugar no espaço. Só que o ato em si não é meramente ocupar uma parcela do espaço; tal ato envolve o de produzir o lugar. Essa necessidade advém do fato de se ter que suprir as condições materiais de existência do ser humano na produção dos meios de vida. Isso varia com o desenvolvimento das forças produtivas, que traz implícita a (re) produção do espaço (CARLOS, 2009, p.45).

O estoque de materialidades históricas de São João del-Rei herdado do

período colonial não impediu o engajamento de suas elites, ligadas à circulação

de ideias e às intervenções urbanísticas ao projeto modernizador do século XIX

e às reformas urbanísticas viabilizadoras do futuro, ou seja, das condições para

que a acumulação do capital possa se realizar.

Aliadas à lógica da especulação do espaço essas intervenções tem o

seu contraponto perverso na injustiça social, na irresponsabilidade com a coisa

pública, na falta qualidade de vida dos cidadãos, na confusão urbana e, na

depredação da cidade.

A pouca vivência democrática durante os ciclos políticos conservadores

e liberais pelos qual São João del-Rei passou, dificultaram na construção de

representações da cidade nas representações da população em seu modo de

vivê-la cotidianamente.

Page 29: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

25

Nesse contexto, explicamos como sucedeu a expansão urbana de São

João del-Rei através dos seguintes processos: a periodização do território pela

sucessão dos meios geográficos, de subperíodos econômicos e da

materialidade das técnicas; a expansão da mancha territorial urbana que

envolve a fragmentação, a segregação e a periferização socioespacial; sua

inserção na reorganização produtiva do capital e seu papel da divisão social e

territorial do trabalho.

1.1. A Gênese da Formação Socioespacial de São João del-Rei.

O município de São João del-Rei está localizado na mesorregião do

Campo das Vertentes, no centro-sul do estado de Minas Gerais (mapa 1) e

está distante a 181 km de Belo Horizonte, 347 km da cidade do Rio de Janeiro

e 428 km da cidade de São Paulo.

Page 30: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

26

Mapa 1 - Localização do município de São João del-Rei. Fonte: Base Cartográfica IBGE 2007. Elaboração Cartográfica: Tiago Gonçalves dos Santos e Bruno Henrique dos Santos (2017).

A história de ocupação inicial da região do atual município de São João

del-Rei está diretamente ligada ao a exploração aurífera do final do século XVII

e inicio do século XVIII, quando o primeiro povoado estabeleceu-se às margens

do Rio das Mortes e estendeu-se pelas margens do Córrego do Lenheiro com a

descoberta de ouro na Serra do Lenheiro.

Nas últimas décadas do século XVIII a economia de Minas Gerais entrou

em crise, devido o declínio da produção aurífera. Entretanto desde o início de

sua ocupação, São João del-Rei assumiu um papel de destaque como produtor

Page 31: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

27

agrícola, voltado, inicialmente, para o abastecimento interno e, posteriormente,

para o regional, que rapidamente consolidou-se como o mais importante

entreposto comercial de Minas Gerais durante o século XIX. Nesse contexto

histórico, como ressaltam Guimarães Filho e Leal (2008), os produtos agrícolas

são-joanenses “valiam mais que o próprio ouro”.

Pereira (2009, p.30) reitera que São João del-Rei “diferente de outras

cidades que entraram em estagnação com a decadência aurífera, desenvolveu-

se e diversificou sua base econômica, tornando-se a mais rica cidade mineira

na primeira metade do séc. XIX”.

No final do século XIX, a construção da Estrada de Ferro Oeste de

Minas – EFOM (1878-1881), e a chegada dos imigrantes italianos, a partir de

(1886), que inicialmente dedicaram-se às atividades agrícolas, aceleraram o

“progresso” industrial do município. Em meados do século XX a chegada dos

sírios no município impulsionou o desenvolvimento do comércio.

São João del-Rei no decorrer do século XX perdeu, gradativamente, sua

importância política e econômica no estado devido o surgimento de novos

centros como a capital Belo Horizonte e Juiz de Fora, mas manteve sua

relevância e influência no contexto regional.

Atualmente, com a consolidação da Universidade Federal de São João

del-Rei – UFSJ, o município tem sua economia voltada principalmente para

prestação de serviços relacionados ao comércio e turismo.

Nesse contexto, a abordagem da formação socioespacial do município

fundamentada na técnica e na geografia-histórica, visa compreender os

principais aspectos relacionados à complexificação do espaço urbano são-

joanense nos seus trezentos anos de história. Segundo Harvey, a “compressão

espacial-temporal” está associada às:

(...) práticas materiais de reprodução social; e, na medida em que estas podem variar geográfica e historicamente, verifica-se que o tempo social e o espaço social são construídos diferentemente. Em suma, cada modo distinto de produção ou formação social incorpora um agregado particular de práticas e conceitos do tempo e do espaço (2003, p. 189)

Page 32: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

28

Santos e Silveira (2003), apresentam a formação socioespacial atual

com base na realidade da globalização, partindo do pressuposto que toda

“ação pressupõe uma técnica”. Os autores afirmam que o “meio geográfico não

pode ser desvinculado da noção de técnica”.

A formação socioespacial corresponde a diferentes períodos técnicos

que, por sua vez correspondem a diferentes períodos da expansão urbana que,

consideramos como etapas históricas da produção capitalista do espaço. As

diferentes funções urbanas, os processos de valorização fundiária e a

ampliação das dimensões segregacionistas são resultantes das relações

contraditórias que acompanham a (re) organização e (re) funcionalização do

espaço urbano de São João del-Rei. Para Santos (2008, p. 54) é “por

intermédio das técnicas que o homem, no trabalho, realiza essa união entre

espaço e tempo”.

Essa periodização geográfico-histórica está representada na figura 1, e

dividida em cinco faixas temporais distintas e dotadas de incrementos técnicos

que integram o espaço e o tempo.

Page 33: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

29

Figura 1 - Organograma da Periodização Geográfica – Histórica para São João del-Rei. Fonte: Elaborado pelo autor.

De acordo com Santos (2008, p.19) “a ideia de período e de

periodização constitui um avanço na busca desta união espaço-tempo”, que

são indissociáveis, e encontra na técnica, uma saída para elaboração de uma

periodização geográfica. Portanto,

as características da sociedade e do espaço geográfico, em um dado momento de sua evolução, estão em relação com um determinado estado das técnicas. Desse modo, o conhecimento dos sistemas técnicos sucessivos é essencial para o entendimento das diversas formas históricas de estruturação, funcionamento e articulação dos territórios, desde os albores da história até a época atual. Cada período é

Page 34: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

30

portador de um sentido, partilhado pelo espaço e pela sociedade, representativo da forma como a historia realiza as promessas da técnica (SANTOS, 2008, p. 171).

Desse modo para Santos (1985), sociedade e espaço são elementos

indissociáveis, portanto, para estudar o espaço há necessidade de analisar a

sociedade, pois é ela que dita à compreensão dos efeitos dos processos

(tempo e mudança) e especifica as noções de forma, função, estrutura, ou seja,

dos elementos fundamentais para a compreensão do espaço.

Assim, a complexificação do espaço urbano, como os modos de

ocupação do espaço e usos do solo que constituem São João del-Rei ligam-se

à necessidade da ação produtiva de cada subperíodo econômico associado à

expansão territorial urbana, mecanismo pelo qual o capitalismo consegue

escapar de suas próprias contradições criando outras, conforme os interesses

dos agentes produtores do espaço urbano.

1.2. Do Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar à Cidade de São João del-Rei.

Para compressão da formação socioespacial de São João del-Rei, não

podemos deixar de analisar o seu processo inicial de ocupação que compõe

sua gênese. O período que compreende a criação do Arraial de Nossa Senhora

do Pilar à elevação da cidade de São João del-Rei, está inserido nas faixas

temporais que subsidiam nossa proposta de periodização geográfico–histórica.

A ocupação de São João del-Rei remete aos fins do século XVII quando

o primeiro povoado estabeleceu-se às margens do Rio das Mortes e se

estendeu pelas margens do Córrego do Lenheiro, com a descoberta de ouro na

Serra do Lenheiro. O Rio das Mortes era o caminho utilizado por aqueles que,

vindos de São Paulo ou da costa fluminense, se dirigiam às lavras de Ouro

Preto ou do Rio das Velhas.

A consolidação da ocupação no encontro do Caminho Velho (rota entre

São Paulo e Minas Gerais) com o Rio das Mortes conhecido como Porto Real

Page 35: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

31

da Passagem 3 (mapa 2) se dá a partir de 1702, com a descoberta de veios de

ouro na região, fato esse que contribuiu para a atração e fixação de

mineradores liderados por Tomé Portes del-Rei.

Mapa 2 - Localização do Porto Real da Passagem (Caminho Velho: Rota entre São Paulo e Minas Gerais). Fonte: Barreiros (1976, p. 24).

A ocupação da região do atual município de São João del-Rei efetivou

com a criação da Capitania de São Paulo e de Minas do Ouro pela Coroa

Portuguesa, devido à sua fragilidade no controle da região das recém-

3Nos primeiros anos de exploração aurífera, a Região do Rio das Mortes tornou-se, pela sua localização, passagem forçada para aqueles que, transpondo a Serra da Mantiqueira e atravessando o Rio Grande, se dirigiam de Taubaté (em São Paulo) ou do Porto de Parati (na costa fluminense) para as lavras do Ouro Preto ou do rio das Velhas. Esse percurso, o único utilizado durante muito tempo pelos exploradores, foi o fator inicial do estabelecimento dos primeiros povoados na área, anos antes que se revelasse a ocorrência, também, ali, de ricos depósitos auríferos. No lugar denominado Porto Real (logradouro conhecido ainda hoje pelo mesmo nome), onde Tome Portes del-Rei exercia o direito de cobrança da passagem do Rio das Mortes, surgiria o núcleo primitivo de povoamento, compreendido entre as atuais cidades de Tiradentes e São João del-Rei, e que se tornaria a principal estalagem do chamado Caminho Velho. (FJP 40)

Page 36: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

32

descobertas minas de ouro, principalmente após a Guerra dos

Emboabas (1707-1709).

A Coroa Portuguesa transferiu para as colônias a sua organização

político-territorial baseada nos “concelhos” 4, denominados oficialmente como

cidades, vilas, arraiais, etc. sem diferenças significativas entre essas

designações.

Desse modo, com o surgimento da nova Capitania, simultaneamente

eram fundadas várias vilas e arraiais, com destaque para Vila Rica (atual Ouro

Preto), Vila de São João del-Rey (atual São João del-Rei) e Vila de Nossa

Senhora de Sabará (atual Sabará), que posteriormente foram elevadas à

categoria de Comarcas (mapa 3).

Mapa 3 - Comarcas de Minas Gerais em 1713. Fonte: Castro e Caldeira (2014, p. 87).

4 Os concelhos eram administrados por câmaras e foram, mais tarde, chamados também de municípios.

Page 37: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

33

São João del-Rei se forma através da aglutinação de dois pequenos

núcleos de mineração, que surgiram simultaneamente em torno do vale do

Córrego do Lenheiro, sendo o Senhor dos Montes e o Alto das Mercês na

margem esquerda do córrego e o Morro da Forca na margem direita (mapa 4).

Nesse contexto, o processo de ocupação de São João del-Rei

intensifica-se com a exploração aurífera e, consequentemente é criado o

Arraial Novo de Nossa Senhora do Pilar ou do Rio das Mortes 5.

Mapa 4 - Localização dos primeiros núcleos de urbanização de São João del-Rei Séc. XVIII. As áreas destacadas representam os locais onde se instalaram os primeiros assentamentos que deram inicio a urbanização da cidade. Fonte: Elaborado por Tiago Gonçalves dos Santos e Bruno Henrique dos Santos (2017).

5 Os arraiais eram povoações de menor graduação que as vilas, localizando-se nos distritos. A elevação de uma vila à categoria de cidade conferia-lhe apenas qualificação honorífica.

Page 38: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

34

Segundo a descrição oferecida por Maldos (2000) o arraial era dividido

por um rio, com caminhos diferentes para as entradas e as saídas da

localidade e com encostas, em seu entorno. São João del-Rei desde o início de

sua ocupação territorial foi condicionada por características topográficas,

hídricas e acessos sempre próximos dos caminhos secundários, do Córrego do

Lenheiro e dos pontos de água para abastecimento. Nas últimas décadas do

século XVIII, a ocupação cresceu em direção aos subúrbios e caminhos de

entrada e saída da futura cidade de São João del-Rei.

Essa ocupação de outrora reflete a visivelmente a atual desigualdade

territorial são-joanense, que segundo Maldos porque:

O espaço é delimitado politicamente por aquele que o administra. Quanto maior a necessidade de controle, maior a presença do poder público. As grandes cidades no Brasil esqueceram esta regra simples e objetiva e hoje pagam um preço caro demais, sendo que nem o poder das polícias pode penetrar. Nestes espaços impera a lei da sobrevivência, e onde o poder público falha em termos de planejamento, impera o caos. Se o urbanismo não se faz presente, seja por orientação, seja por imposição, predomina a lei do mais forte. Nisso o poder econômico leva vantagens sobre os direitos legais, pois o espaço passa a ser delimitado segundo interesses individuais. Argan (1998) contrapõe a questão do "espaço" ao elemento "ambiente", dizendo que este "pode ser condicionado, mas não estruturado ou projetado". Dessa forma, temos a vila e futura cidade de São João del-Rei passando por momentos de organização e (por quê não?) de planejamento, para momentos quando a ocupação se faz na omissão do poder público. Áreas de risco, áreas de preservação, áreas envoltórias, áreas naturais foram entregues sem planejamento e organização para atender a objetivos pessoais. A cidade deixa de ter seus condicionantes, que em última instância a modernizam, para gerar ambientes de ocupação desorganizada (2000, p.4).

Desse modo, a complexificação do espaço urbano são-joanense esteve

sempre ligada aos interesses do poder público/privado local.

Corrêa define o espaço urbano em termos gerais como:

o conjunto de diferentes usos da terra justapostos entre si. Tais usos definem áreas, como: o centro da cidade, local de concentração de atividades comerciais, de serviço e de gestão; áreas industriais e áreas residenciais, distintas em termos de

Page 39: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

35

forma e conteúdo social; áreas de lazer; e, entre outras, aquelas de reserva para futura expansão. (...) Este conjunto de usos da terra é a organização espacial da cidade ou simplesmente o espaço urbano fragmentado, que por sua vez além de fragmentado é articulado, reflexo e condicionante social, um conjunto de símbolos e campo de lutas. É assim a própria sociedade em uma de suas dimensões, aquela mais aparente, materializada nas formas espaciais (2004, p.7-9).

O espaço urbano, para Corrêa (2004) é produzido por agentes sociais

concretos, que produzem e (re) produzem a cidade a partir da dinâmica de

acumulação do capital, fundada nas necessidades de reprodução das relações

de produção que geram os conflitos de classe. Os proprietários dos meios de

produção (principalmente os grandes industriais), os proprietários fundiários, os

promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais excluídos, constituem os

“agentes modeladores do espaço”.

Vasconcelos (2011, p. 91), após breve exame da literatura prefere o uso

do termo “agente” afirmando que para avançar nos estudos dos agentes

sociais na geografia é preciso “examinar as diversas possibilidades das ações

dos agentes sociais no espaço urbano, tendo em vista as diferentes estratégias

e práticas espaciais seguindo interesses convergentes ou contraditórios.”

Concordando com a proposta de Vasconcelos, citamos Lefebvre para

reforçar que “o espaço não é apenas organizado e instituído. Ele também é

modelado, apropriado por este ou aquele grupo, segundo suas exigências, sua

ética e sua estética, ou seja, sua ideologia” (2008, p. 82).

Portanto, conforme Vasconcelos no período colonial, os agentes

modeladores das cidades foram a Igreja; as ordens leigas; o Estado; os

agentes econômicos; a população e os movimentos sociais.

No caso do clero secular pode ser destacada a divisão da cidade através da criação de paróquias com suas igrejas matrizes. Quanto ao clero regular, tanto a implantação estratégica dos conventos como a propriedade de casas e terrenos foram fundamentais. As ordens leigas também tiveram importante papel na questão fundiária e imobiliária. O estado teve o papel de planejamento, implantação de sistemas defensivos e controle normativo da cidade e de sua população, além dos principais prédios administrativos. Os agentes econômicos tiveram impactos diretos e indiretos através de

Page 40: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

36

seus investimentos urbanos. Finalmente, a população através da sua ação cotidiana e vernacular vão produzindo a cidade e, os movimentos sociais, com suas rupturas (que vão desde os quilombos, rebeliões, revoltas até as implantações irregulares) que causarão as transformações na mesma (VASCONCELOS, 2011, p. 91).

A posse da exploração das terras e os meios de produção eram de

responsabilidade do Governador e Capitão Geral da Capitania de São Paulo e

Minas6, assim o espaço urbano se organizava em torno das instituições

eclesiásticas, civis7, burocráticas e militares que organizavam e controlavam as

atividades de exploração do ouro, além da vida cotidiana do arraial. A maior

parte da população constituía o grupo social dos excluídos que, efetivamente,

produziram e modelaram o espaço segregado do centro da cidade capitalista

que começava a se consolidar.

De acordo com Carlos (2009) a cidade (nesse caso o arraial) é o

trabalho objetivo, materializado, que aparece através da relação entre o

“construído” (edificações, ruas, etc.) e o “não construído” (o natural) de um

lado, e do outro, o movimento de deslocamento de homens e mercadoria, que

por sua vez, levam à divisão social do trabalho e à divisão da sociedade em

classes, e os protagonistas, os donos dos meios de produção os grupos sociais

dos excluídos, a mão-de-obra que (re) produz o espaço urbano.

O arraial manteve essa configuração até o início do século XVIII, quando

foi elevado à categoria de Vila de São João del-Rei8 no ano de 1713, cujo

termo originou-se do território de Vila Rica e, em 1714, apresentava

coincidência de limites com a, então, criada Comarca do Rio das Mortes,

também chamada pelo nome de sua sede:

6 Dom Brás Balthazar da Silveira era o Governador e Capitão Geral da Capitania de São Paulo e Minas, e em 15/04/1714 através de um bando ordenava: “todas as pessoas que assistem no arraial novo se mudem para a parte que destinou para a fundação da vila, dentro de um ano, com cominação de que as que não obedecerem serão castigadas ao arbítrio de S. Exa.”. Em: Dicionário histórico – geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte, SATERB, 1971. p.458-61. Citação: p.460 7 As instituições civis eram representadas por câmara, judicatura e intendência real do ouro, durante o período colonial (GAIO Sobrinho, 1996, p. 8). 8 Quando o Arraial Novo foi elevado à categoria de vila e recebeu a nova denominação de São João del-Rei, a 08 de dezembro de 1713, foi-lhe delimitado um ponto referencial, que passaria a funcionar como núcleo mais importante e de maior concentração urbana.

Page 41: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

37

(...) o ribeiro das Congonhas junto do qual há hum sítio chamado caza branca servirá de divisão entre as comarcas de Villa Rica e de S. João de ElRey, devendo tocar a villa Rica tudo que se comprehendeathéella vindo do ditto ribeiro para as minas Geraes, e do mesmo pertencerá a comarca de S. João de ElRey tudo o que vayathé a Villa do mesmo nome (...) (CARVALHO, TheophiloFeu de. Comarcas e termos: creações, suppreções, restaurações, encorporações e desmenbramentos de comarcas e termos, em Minas Gerais (1709-1915). Bello Horizonte: Imprensa Official, 1922).

Na condição de vila e sede da Comarca do Rio das Mortes, São João

del-Rei centralizou as atividades comerciais e econômicas da região, além de

atrair e concentrar investimentos. É importante compreender o processo de

formação da vila de São João del-Rei já que:

(...) este processo de formação é um instrumento fundamental para poder intervir nos espaços urbanos na atualidade. Sem um conhecimento prévio do que foi a cidade, de sua importância regional e do processo de interligação com as áreas de demanda e produção, podem-se cometer erros que despersonalizem a cidade, transformando-a numa pálida imagem do que ela já foi um dia (MALDOS, 2000, p.1).

Santos (1977) chama atenção para a diferenciação entre o modo de

produção e a formação social entendendo que o modo de produção se

constituiria no “gênero” ou a possibilidade de realização, enquanto as

formações sociais seriam as “espécies”, constituídas a partir da realidade e da

materialidade das formações, que não são iguais em todos os lugares.

Portanto, não é somente o modo de produção que define a formação

socioespacial, mas sim a sua realização concreta, ou seja, as formas e

estruturas sociais, políticas, econômicas e culturais identificáveis em

determinado período temporal diante da definição dos eventos particular

presentes em sua formação.

Page 42: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

38

1.3. A Comarca do Rio das Mortes e a Vila de São João del-Rei.

Durante todo o século XVIII existiam somente quatro Comarcas9 na

Capitania de Minas Gerais10: Vila Rica, Rio das Velhas, Serro Frio e Rio das

Mortes. Cada uma delas com enormes e imprecisas extensões territoriais para

administrar. Poucas eram as vilas que contavam com o aparato administrativo

e militar necessário à disseminação e manutenção da ordem: os senados das

câmaras, as cadeias, as estruturas judiciárias e a tropa paga.

A Comarca do Rio das Mortes foi criada em 1714, junto com as de Vila

Rica e do Rio das Velhas, seguidas pela do Serro Frio, em 1720. Durante o

século XVIII permaneceram somente as quatro. A Comarca de Paracatu só foi

estabelecida em 1815 (mapa 5).

9 As Comarcas eram grandes circunscrições, que abrigavam as cidades, vilas, concelhos, termos, etc., que correspondiam à jurisdição dos ouvidores, responsáveis pela tutela da gestão financeira dos camaristas e da justiça administrada pelos juízes ordinários. Até 1832 administração judiciária nas províncias estava estruturada em comarcas, termos e distritos de paz, mas o Código do Processo Criminal reiterou essa divisão: Em primeiro nível, as províncias estavam divididas em comarcas. A abrangência da comarca estava sob a competência de um juiz de direito, cuja sede era denominada de cabeça de comarca. Em segundo nível, a divisão das comarcas em termos de vilas e de cidades. Em cada termo deveria haver um conselho de jurados, um juiz municipal, um promotor público, um escrivão das execuções e oficiais de justiça. Por fim, a divisão dos termos em distritos de paz, delimitados pelas câmaras municipais. Nos distritos deveria ser instituído um juiz de paz, um escrivão, inspetores de quarteirão e oficiais de justiça. BRASIL. Lei de 29 de novembro de 1832. Colleção das leis do Imperio do Brazil de 1832. Actos do Poder Legislativo. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1874, p. 187. Disponível em: http://www2.camara.gov.br/atividade-legislativa acessado em 22/06/2016. 10 Sobre o topônimo Minas Gerais Moraes (2005) observa: “que se forjou no processo inicial de colonização de seu território, já em fins do século XVII, “as minas”, nome que designava as áreas dos descobertos, tomava sentido de lugar pelo que se pode depreender de expressões de uso comum presentes em vários documentos coevos, sobretudo provisões e cartas de sesmarias, indicando, contudo, não mais que pontos isolados num vasto sertão. “Assistente nas minas”, “caminho para as minas” eram expressões comuns, incorporando também referências aos primeiros habitantes de seu território: as “minas dos Cataguás”. Considerando que as primeiras áreas de mineração se concentravam ao longo da Serra do Espinhaço, o complemento “gerais” surgiu para expressar o sentido geográfico de continuidade daqueles núcleos urbanos nascidos junto às lavras existentes no complexo da serra do Espinhaço.

Page 43: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

39

Mapa 5 - Comarcas de Minas Gerais em 1821. Fonte: Arquivos Históricos. Mapa: Comarcas 1821. disponível em: http://www.documenta.ufsj.edu.br/modules/news1/images/MAPA_1-.jpg. Acessado em 13/06/2016.

Os limites da Comarca do Rio das Mortes não eram muito claros durante

o século XVIII e se estendia pelo centro-sul, a sudoeste da capitania,

compreendendo os termos de Jacuí, Baependi, Campanha da Princesa,

Barbacena, Queluz, Nossa Senhora de Oliveira, São José do Rio das Mortes e

São Bento do Tamanduá (mapa 6).

Page 44: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

40

Mapa 6 - Vilas e Arraias de Minas Gerais no Século XVIII. Fonte: Fonseca (2012, p. 84)

A ocupação urbana da Vila de São João del-Rei11 que durante o século

XVIII avançou gradualmente pelas margens do Córrego do Lenheiro, a partir do

11Nas colônias, a denominação termo de vila foi utilizada em detrimento da de município, visto que não se convinha empregar essa última em terras não emancipadas. No caso do Brasil no período imperial, ambas as denominações foram utilizadas indistintamente. Termo de vila correspondia a uma circunscrição em âmbito do poder civil. A administração da justiça (crime, cível, administração de bens dos órfãos) e a fiscalidade foram estruturadas nas circunscrições judiciárias e administrativas: comarcas, termos de vilas e distritos de paz. O território de jurisdição da comarca era divido em termos, que, por sua vez, era divido em distritos – menor demarcação territorial (Na esfera da administração eclesiástica, os termos eram compostos por uma ou mais freguesias (paróquias) – circunscrição com igreja paroquial, presidida por um pároco e vinculada a um bispado). Havia também o julgado, que era outro tipo de circunscrição judiciária com autonomia judiciária parcial e sem autonomia administrativa, subordinada a uma câmara. A vila era a sede do termo e povoação principal. A designação vila era utilizada também como sinônimo de termo, abrangendo duas conotações. Ou seja, referindo-se à povoação principal e também ao seu termo, o território de jurisdição dos oficiais camarários Sobre essas designações, cf. BLUTEAU, Raphael. Vocabulário português e latino. Coimbra: Colégio das Artes da Companhia de Jesus, 1711; MORAES E SILVA, Antonio. Diccionario da língua portugueza. t.2, Lisboa: Typographia Lacérdina, 1813. BRASIL. Instituto Geográfico Cartográfico. Definição de áreas. Disponível em: http://www.seade.gov.br/produtos/500anos.

Page 45: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

41

século XIX intensificou-se com a escolha da vila como cabeça da Comarca do

Rio das Mortes.

Na condição de cabeça de Comarca dos Rios das Mortes, a vila de São

João del-Rei, rapidamente sofre um processo de integração entre os seus dois

núcleos urbanos localizados no vale do Córrego do Lenheiro: o Senhor dos

Montes e o Alto das Mercês na margem esquerda do córrego e o Morro da

Forca na margem direita. Essa integração dos núcleos possibilitou a

interligação da estrutura de poder da vila.

Na margem esquerda do córrego de onde provinha a produção aurífera

estavam localizados o Senado da Câmara e a Cadeia, que precisavam

comunicar diretamente com a Casa da Intendência, localizada na margem

direita do córrego, para que o ouro fosse despachado para a Coroa

Portuguesa. A interligação era necessária para facilitar o deslocamento dos

funcionários da Coroa (guardas, inspetores, contratadores, juízes, ouvidores

etc.), comerciante se moradores locais.

Deste modo, o crescimento econômico da vila implicou no aumento da

demanda por infraestrutura para atender as necessidades da produção

aurífera. Essa pendência é suprida pela ascensão de uma aristocracia

burocrática local, representada pelo Senado da Câmara, que estava

encarregada pela Coroa de realizar as obras de melhoramento urbano da vila,

para dinamizar o fluxo de mercadorias e pessoas.

Por conseguinte, é construída a Ponte Nova da Intendência (atual Ponte

da Cadeia, figura 2) e em seguida a Ponte do Rosário sobre o Córrego do

Lenheiro interligando os dois lados da vila (mapa 7).

Page 46: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

42

Figura 2 - Ponte Nova da Intendência em 1798, atualmente conhecida como Ponte da Cadeia. Fonte: Acervo Antonio Giarola.

Page 47: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

43

Mapa 7 - Planta urbana de São João del-Rei no século XVIII Fonte: Guimarães (1996, p. 40-41)

Page 48: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

44

Desse modo, as técnicas se revelam na formação socioespacial são-

joanense, através da ocupação do solo e pelos investimentos em

infraestruturas (estradas, pontes, canais, chafarizes).

Sendo assim,

a técnica entra aqui como um traço de união, historicamente e epistemologicamente. As técnicas, de um lado, dão-nos a possibilidade de empiricização do tempo e, de outro lado, a possibilidade de uma qualificação precisa da materialidade sobre a qual as sociedades humanas trabalham. Então, essa empiricização pode ser a base de uma sistematização, solidária com as características de cada época. (SANTOS, 2008, p. 54)

Portanto, o progresso instituído pela atividade aurífera e os primeiros

excedentes produzidos pela atividade agropastoril – que se desenvolve

simultaneamente a mineração – produz transformações no espaço urbano são-

joanense através da criação de objetos técnicos e sistemas de engenharia

(Pontes da Intendência e do Rosário) que organizam e articulam o espaço

urbano.

De acordo com Santos (2008) são precisamente as técnicas que

distinguem as épocas, pois cada época tem suas próprias formas de fazer: “Os

sistemas técnicos envolvem formas de produzir energia, bens e serviços,

formas de relacionar os homens entre eles, formas de informação, formas de

discurso e interlocução” (SANTOS, 2008, p. 177).

A implantação dessas estruturas técnicas atende a demanda de

comunicação e de circulação entre ambos os lados da vila, fazendo crescer a

importância dos fluxos resultantes das ações que se instalam nos fixos (como

as Pontes da Intendência e do Rosário) e que permitem através do

adensamento das técnicas, as mudanças no espaço urbano são-joanense.

Entretanto, verificam-se tipos diferentes de ocupação entre os dois

núcleos urbanos são-joanense: na margem esquerda, o avanço urbano

realizou-se sob a forma irregular e sinuosa das ruas que acompanhavam o

avanço sobre a Serra do Lenheiro. Já na margem direita, localizada no fundo

do vale do córrego a ocupação foi mais regular e organizada, nessa região

Page 49: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

45

foram construídas a Casa da Intendência, a Santa Casa de Misericórdia e o

Pelourinho.

Essa diferenciação de ocupação permitiu, em um primeiro momento, a

criação de ruas que serpenteavam morro acima ou que se quebravam numa

tortuosidade, sendo posteriormente substituídas por passagens mais largas,

onde as vias tinham seus eixos principais orientados para os prédios públicos,

o que melhorava a distribuição dos fluxos de moradores e viajantes, reflexo dos

interesses sociais, políticos e econômicos da época.

Deste modo, o adensamento das técnicas homogeneizava os fluxos de

deslocamentos de pessoas e informações, mas não homogeneizava o espaço

urbano.

Assim, a vila organizava–se espacialmente de acordo com suas

necessidades, como analisa Carlos (2009):

A cidade representa trabalho materializado; ao mesmo tempo em que representa uma determinada forma do processo de produção e reprodução de um sistema específico, portanto, a cidade também é uma forma de apropriação do espaço urbano produzido (CARLOS, 2009, p. 27)

Dessa forma, temos a vila e a futura cidade de São João del-Rei

passando por momentos de (re) organização e planejamento para atender as

necessidades das elites dominantes (aristocracia locais e nacionais, igreja,

proprietários rurais e de escravos, militares, comerciantes) que detém os meios

de produção e o monopólio do solo.

1.4. A Consolidação da Cidade de São João del-Rei.

A produção aurífera em Minas Gerais possibilitou o surgimento de vários

núcleos urbanos como Vila Rica (atual Ouro Preto), Mariana, Sabará e São

João del-Rei, a partir do século XVIII, que constituiu a sociedade urbana

mineira. Diferente da sociedade rural açucareira que se estabeleceu no

nordeste brasileiro durante o século XVII, na qual se destacava o domínio do

senhor de engenho.

Page 50: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

46

O apogeu da mineração proporcionou o nascimento de uma sociedade

urbana, marcada pela divisão social do trabalho, composta por comerciantes,

profissionais liberais, funcionários da Coroa, homens livres e uma grande

massa de escravos, que trouxeram mudanças estruturais não só para Minas

Gerais, mas também para o Brasil, como a transferência da Capital para o Rio

de Janeiro, em 1763.

Desse modo, a exploração do ouro em Minas Gerais promoveu, em uma

escala regional, a conformação de uma “rede urbana colonial” 12, que

inicialmente, crescia ao redor das áreas mineradoras e expandia-se através

das inter-relações mercantis entre povoações, arraiais, vilas e Coroa,

para a consolidação desta rede urbana, o papel das relações mercantis (internas e externas) foram fundamentais na articulação entre regiões distantes, na abertura e expansão de caminhos para a integração de mercados especializados, para ampliação de fronteiras, para o fortalecimento da unidade territorial interna, a despeito das características diversas das regiões, formando uma estrutura hierárquica dinâmica, com impacto sobre toda a América Portuguesa, deslocando o eixo político-econômico para o Centro-Sul ao inserir Minas no mundo (RAPOSO, 2006, p. 32).

O século XIX foi marcado pela reestruturação econômica de Minas

Gerais em decorrência do declínio da mineração causado pela insuficiência das

jazidas. Nesse contexto, destacamos a ineficiência da Coroa em administrar as

vilas mineradoras ao burocratizar a administração das minas, para atender os

interesses do fisco e não introduzir nenhum melhoramento técnico na

mineração para dar continuidade à extração de minerais,

(...) outro obstáculo impediu os mineradores do séc. XVIII de as explorarem: a sua técnica deficiente. Enquanto se tratou de depósitos superficiais de aluvião, não foi difícil extrair o metal. Mas quando foi preciso aprofundar a pesquisa, entranhar-se no solo, a capacidade dos mineradores fracassou; tanto por falta de recursos como de conhecimentos técnicos. (...) Quanto às deficiências técnicas, é preciso lançar a culpa principal sobre a

12Segundo Roberto Lobato Corrêa a rede urbana se configura como “um reflexo, na realidade dos efeitos acumulados de diferentes agentes sociais, sobretudo as grandes corporações multifuncionais e multilocalizadas que, efetivamente, introduzem, tanto na cidade como no campo atividades que geram diferenciações entre os centros urbanos” (2005, p.27).

Page 51: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

47

administração pública, que manteve a colônia num isolamento completo; e não tendo organizado aqui nenhum sistema eficiente de educação, por mais rudimentar que fosse, tornou inacessível aos colonos qualquer conhecimento técnico relativo às suas atividades (PRADO JUNIOR, 1976, p. 41).

Em decorrência da queda gradativa da produção aurífera a partir da

segunda metade século XVIII, a região mineradora, principalmente Ouro Preto,

passou por uma delicada crise econômica, conforme destaca Prado Junior,

Chega-se em fins do séc. XVIII a um momento em que já se tinham esgotado praticamente todos os depósitos auríferos superficiais em toda a vasta área em que ocorreram. A mineração sofre então seu colapso final. Nada se acumulara na fase mais próspera para fazer frente à eventualidade. Os recursos necessários para restaurar a mineração, reorganizá-la sobre novas bases que a situação impunha, tinham-se volatizado, através do oneroso sistema fiscal vigente, no fausto da corte portuguesa e na sua dispendiosa e ineficiente administração; as migalhas que sobravam desta orgia financeira também se foram na dissipação imprevidente dos mineradores e na compra de escravos importados da África. A ignorância, a rotina, a incapacidade de organização nesta sociedade caótica que se instalara nas minas, e cuja constituição não fora condicionada por outro critério que dar quintos a um rei esbanjador e à sua corte de parasites, e no resto satisfazer o apetite imoderado de aventureiros, davam-se as mãos para completar o desastre. (1976, p. 41-42)

No século XVIII, o ouro mineiro atendeu aos objetivos da colonização e

alimentou as metrópoles européias. A tese mais disseminada sobre as

consequências da decadência da mineração na região central de Minas Gerais

foi a de Celso Furtado (1920-2004) 13. Sua interpretação é que esta acabou

produzindo escravos “semi-ociosos”, e possibilitou o desenvolvimento da

economia cafeeira no Vale do Paraíba e o Oeste paulista.

Entretanto a produção de gêneros alimentícios que se realizava na

região centro-sul de Minas Gerais, sobretudo em São João del-Rei, teria a

função de assegurar a subsistência de um grande contingente de pessoas que

viviam da mineração direta ou indiretamente, sem gerar excedentes

13 FURTADO, C. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005. 32ª Ed.

Page 52: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

48

significativos. No entanto, tem se firmado a ideia que a economia mineira, a

partir da segunda metade do século XVIII, entrou em um processo de

modificação de sua principal atividade (mineração) e não em decadência:

A queda da extração aurífera não acarretou contração econômica, como afirmava a visão tradicional, mas sim uma transição da atividade nuclear, anterior, a mineração, para um diversificado complexo de produção de alimentos, atividades artesanais, ainda mineração e um vigoroso comércio. Enquanto ocorria o auge da mineração, na primeira metade dos setecentos, emergiam as bases das futuras estruturas sociais e econômicas de Minas. A produção de carnes, derivados da cana-de-açúcar e do leite, milho entre outros alimentos cresceu a partir das necessidades de abastecimento, oferecendo importantes oportunidades comerciais (ANDRADE, 2010, p.5).

A atividade mineradora não desapareceu, a população não emigrou,

nem os principais núcleos urbanos se tornaram cidades-fantasmas, cidades

velhas, ou cidades mortas como compreendeu Monteiro Lobato (1882-1948) 14.

A tese de que a atividade econômica se modificou leva a outra linha de

interpretação que pesquisas e estudos historiográficos ratificam: a formação de

um mercado interno que permitiu a acumulação no espaço colonial interno

gerando uma elite econômica local de origem portuguesa, proprietária de terras

e escravos, exercendo atividades comerciais, agropecuárias e de mineração,

com valores baseados em uma hierarquia social excludente.

Desse modo, a reestruturação econômica de Minas Gerais a partir o final

do século XVIII, implicou em um processo de (re) ordenamento produtivo no

qual passa a englobar novas áreas como, por exemplo, as futuras regiões da

Zona da Mata Mineira e o Sul de Minas compreendidas na Comarca do Rio das

Mortes, onde já se desenvolvia atividades agropastoris para o abastecimento

do mercado interno simultâneo a mineração.

14 A obra literária “Cidades Mortas” de Monteiro Lobato é um conjunto de contos que questionam as cidadezinhas estagnadas do Vale do Paraíba. Publicado em 1919, a obra retrata a vida das pessoas e seus relacionamentos nas pequenas cidades do Vale do Paraíba, no que chamou de “ambiente marasmático”. As palavras e Lobato descrevem o ambiente vivido pelo autor no seu cotidiano: uma dinâmica econômica que migra de uma região para outra e a desertificação que provoca no processo. Essa condição resulta nos traços característicos das cidades as quais recebem a designação emblemática de “mortas” por perderem o vigor da vida urbana. (ELIZEU e VICTAL, 2011, p. 2)

Page 53: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

49

Assim, contrariando o cenário de estagnação econômica que afligiu a

região mineradora, a Comarca do Rio das Mortes manteve durante todo o

século XIX um significativo crescimento populacional (tabela 1) e uma

vitalidade econômica devido às atividades agrícolas voltadas inicialmente para

o abastecimento da comarca.

Tabela 1 – População das Comarcas de Minas Gerais durante os séc. XVIII e XIX.

COMARCA POPULAÇÃO

1776 [1] % 1776 [2] % 1808 % c.1820 % 1835 %

Vila Rica

78.618 24,59 78.618 23,00 72.286 16,69 71.796 13,02 84.376 12,14

Sabará 99.576 31,14 99.576 29,13 135.920 31,39 142.840 25,91 189.785 27,32

Serro Frio

58.794 18,39 80.894 23,66 69.974 16,16 99.919 18,12 106.112 15,27

Rio das Mortes

82.781 25,89 82.781 24,21 154.869 35,76 236.819 42,95 314.495 45,27

Total 319.769 100,0 341.869 100,0 433.049 100,0 551.374 100,0 694.768 100,0

Fonte: Laboratório de Conservação e Pesquisa Documental da Universidade Federal de São João del-Rei.

Como podemos ver na tabela acima há uma dispersão populacional na

Comarca de Vila Rica, centro administrativo da província mineira, com o

declínio da mineração a partir da segunda metade do século XVIII. No entanto,

a população da Comarca do Rio das Mortes absorveu os excedentes

populacionais das comarcas em declínio e continuou crescendo

progressivamente mesmo após a estagnação da atividade mineradora, e no

inicio do século XIX concentrava uma população demais de 150.000

habitantes, sendo a comarca mais populosa de Minas Gerais.

Segundo Graça Filho (2002, p.39) “isso mostra a capacidade econômica

da região policultora voltada para o mercado interno local e interprovincial”.

Neste contexto, destaca-se a inquestionável importância do município de São

João del-Rei como cabeça da Comarca do Rio das Mortes, elevado à categoria

de cidade em 1838, que através do desenvolvimento de atividades

agropecuárias, administrativas e comerciais, realizadas simultaneamente a

mineração, diversificou sua base econômica, o que favoreceu seu continuo

Page 54: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

50

desenvolvimento urbano e econômico, além de incrementar a divisão social do

trabalho na cidade.

Como afirma Graça Filho:

a mineração em São João del-Rei foi uma contingência, já que seu povoamento tivera inicio com as fazendas de cultura e criação, estabelecidas as margens do Rio das Mortes, famoso pelo episódio da “Guerra dos Emboabas”. Até o descobrimento do ouro de aluvião neste rio, por Tomé Portes del Rei, fora uma região agrícola pastoril. Passada a época mineradora, São João del-Rei retornaria as atividades primarias de sua economia (2002, p.36).

E Saint-Hilaire descreve bem o prospero momento econômico vivido por

São João del-Rei nas primeiras décadas do século XIX ao se firmar como

principal entreposto agroexportador de Minas Gerais:

Há atualmente poucas jazidas em exploração nos arredores de S. João del Rei e a casa de fundição do ouro é principalmente alimentada, diz Martins, por S. José e Vila de Campanha. Depois que o Brasil se tornou independente e os habitantes de S. João renunciaram, ao menos em parte, à mineração, esta vila tornou-se o centro de considerável comércio, que tende a aumentar com o tempo. Os comerciantes, muitos dos quais bem ricos, compram no Rio de Janeiro todos os objetos que podem ser consumidos no interior; os vendeiros das pequenas vilas da comarca de Rio das Mortes e das comarcas mais distantes têm certeza de encontrar numa mesma casa em S. João, quase todos os artigos de que necessitam; enquanto que, se fossem ao Rio de Janeiro perderiam muito tempo, fariam despesas consideráveis e, menos conhecidos, não gozariam do mesmo crédito. As mercadorias que a vila de S. João em particular envia à capital em troca das da Europa, são o ouro, couros, toucinho, algodão em rama, queijos, açúcar, tecidos grosseiros de algodão e alguns outros artigos (SAINT-HILAIRE, 1974. p.111).

Deste modo a cidade firmava-se como importante entreposto comercial

direcionando sua produção e comercialização de gêneros agropastoris na

província de Minas Gerais e em varias regiões do país, pois era ponto de

passagem para os viajantes que se deslocavam de São Paulo para Vila Rica

(Ouro Preto) e do Rio de Janeiro para as minas do Oeste no caminho novo

(Goiás e Cuiabá).

Page 55: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

51

São João del-Rei beneficiou-se da sua localização geográfica

privilegiada e estratégica no entroncamento dos principais centros

consumidores e das principais vias de escoamento

(...) em soberbo vale da Bacia do Rio das Mortes, por onde os acidentes do terreno, desde as margens do Rio Grande até a Mantiqueira nas proximidades da Borda, como assinalaram natural estrada entre grande parte de São Paulo e vasta região do Sudoeste de Minas até o Rio de Janeiro, alcançando o “caminho novo” (VIEGAS, Augusto. Noticias de São João del-Rei. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1942).

O desenvolvimento do comércio agroexportador de São João del-Rei,

principalmente, para o Rio de Janeiro favoreceu toda a região porque

incentivou a construção de uma rede viária que facilitou o escoamento dos

produtos da região em melhores condições e menor prazo, diminuindo os

prejuízos com as perdas.

São João del-Rei ao se tornar o principal entreposto comercial de

abastecimento da província de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, implicou

diretamente na formação socioespacial da cidade, que rapidamente se

transformou no principal núcleo urbano de Minas Gerais na passagem do

século XVIII para o XIX.

Nesse momento os agentes sociais que conduzem a complexificação do

espaço urbano são-joanense para a promoção de propósitos privados é a elite

dominante, representada pelos comerciantes e os produtores agrícolas, com

apoio do poder público que modelava o espaço urbano conforme suas

necessidades:

(...), pois com a elevação de cidade vigora em um primeiro momento a obras de melhoramento como a reforma de ruas, pontes, criação de novos chafarizes e edificações públicas, já que as elites consideravam que a cidade estava mal aparelhada para receber a nova dinâmica atividade comercial que a caracterizou nesse período. (CAMPOS, 2005, p.100-103 e 117).

Portanto o crescimento urbano de São João del-Rei, resultante do seu

desenvolvimento econômico e demográfico proporcionado pelas atividades

Page 56: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

52

comerciais e agropastoris, aumentou a demanda do uso do solo para criação

de um conjunto de infraestruturas necessárias para a melhoria das condições

de vida da população, ainda que direcionadas prioritariamente para a elite

local.

A implantação da infraestrutura necessária acarreta na expansão da

área urbana e o adensamento das áreas já urbanizadas da cidade, que já

possuía cerca de 1.600 casas, distribuídas em 24 ruas e 10 praças. No entanto

São João del-Rei necessitava de serviços sociais como saúde, educação,

saneamento básico, sistema viário de comunicação e transporte, para atender

a população.

Desse modo, no fim do século XIX e meados do século XX são

construídas escolas, agência bancária, hospital, teatros, biblioteca pública,

criado jornais, além da instalação do transporte ferroviário, dos serviços de

telegrafo, de iluminação publica, de abastecimento domestico d’água, de rede

de esgoto, e do Comando Superior da Guarda Nacional.

A implantação desse conjunto de infraestrutura permitiu maior fluidez

material (mercadorias e pessoas) e imaterial (informações, conhecimento e

capitais) o que redefiniu a reestruturação socioespacial de São João del-Rei.

No final do século XIX, o capital acumulado pelos comerciantes e a

criação da Companhia Estrada de Ferro Oeste de Minas (EFOM) em 1881,

cujo destino era o Rio de Janeiro, possibilitaram a industrialização da cidade

com a fundação da Companhia Industrial Sanjoanense, no setor têxtil, e da Cia.

Agrícola Industrial Oeste de Minas no ano de 1891, que tinha como “interesse

promover nos municípios de São João del-Rei, Tiradentes, Lavras, Bom

Sucesso e Oliveira, a cultura da uva, mandioca, anileira, fabricar vinho, álcool,

vinagre, cera e cerâmica” (Graça Filho, 2002, p. 47).

1.5. A Estrada de Ferro Oeste de Minas e a Industrialização São-

Joanense.

Apesar do grande desenvolvimento comercial, econômico e,

principalmente, urbano que São João del-Rei apresentava no século XIX, a

Page 57: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

53

cidade não possuía planejamento urbano, conservando os primitivos caminhos

que deram origem à antiga vila de São João del-Rei.

As construções no centro da cidade eram aglomeradas, as ruas não

possuíam calçadas, além de serem mal conservadas, eram próximas aos

edifícios públicos, porém no centro concentravam-se os principais armazéns de

abastecimento e dos serviços burocráticos essenciais para a circulação da

economia.

Na medida em que São João del-Rei ampliava sua malha urbana, era

difícil definir o que seria urbano e rural, haja vista sua expansão em direção ao

campo, principalmente rumo ao Arraial do Matozinhos e a Várzea do Marçal. O

desenvolvimento da malha urbana era desigual e fragmentado com restrições

de possibilidades de uso e ocupação do espaço para a maioria da população

são-joanense, devido à forte influência das elites locais na complexificação do

espaço urbano da cidade.

São João del-Rei vivenciava um constante processo de urbanização

desde o século XVIII (mapa 8) e com o incremento das técnicas, houve

expansão da sua malha urbana para além das margens do Córrego do

Lenheiro, que se encontravam densamente urbanizadas e interligadas pelas

pontes do Rosário e da Cadeia.

Com o advento da ferrovia acelerou-se a mecanização do espaço

urbano de São João del-Rei. Essa expansão ocorreu através dos trilhos que

aproximam progressivamente o centro da cidade ao Arraial do Matosinhos e

aos núcleos de imigração na Colônia do Marçal.

Page 58: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

54

Mapa 8 - Expansão da malha urbana de São João del-Rei. Fonte: Fundação João Pinheiro (1982). Elaborado por Tiago Gonçalves dos Santos e Bruno Henrique dos Santos (2017).

A inauguração da EFOM em 1878 introduziu um novo período técnico,

compreendido dentro das faixas temporais da nossa periodização geográfico-

Page 59: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

55

histórica, que influenciou diretamente na formação socioespacial de São João

del-Rei, pois com a ferrovia,

(...) tudo chegava mais rápido e muitas mudanças se operavam como: a valorização das terras próximas, o escoamento ágil da produção, o dinamismo no comércio, o surgimento de roupas próprias para a viagem nos guarda-roupas e a facilidade de transportes e de transportar-se. Também houve a chegada de numerosos operários na região, gerando um aumento demográfico pelo menos temporário, que acaba modificando o comportamento social e cultural no seio das famílias locais (RESENDE, 2003, p.27).

A ferrovia proporcionou uma revolução nos transportes e no progresso

da cidade, intensificando a importação de produtos procedentes de outras

localidades, mais baratos do que os comercializados no comércio local. Em

consequência o comércio de abastecimento de São João del-Rei “começa a

atravessar uma fase delicada caracterizada pela facilidade de importação de

produtos, que cresce juntamente com o progresso vivenciado na cidade nos

transportes” (RESENDE, 2003, p. 25).

Portanto, o crescimento da cidade no final do século XIX é influenciado

diretamente pela linha férrea; no entorno dela, a população passa a se

organizar e se estruturar, uma vez que para o seu:

(...) funcionamento era exigido um contingente enorme de mão-de-obra na operação e nas oficinas inauguradas em 1882, estes trabalhadores passaram a habitar o mais próximo possível do local de trabalho. Além disso, casas comerciais dos mais variados tipos se instalaram nas proximidades da estação, hotéis e casas comerciais de todo tipo. (CAMPOS, 2005, p.31).

Assim, São João del-Rei apresentava significativa melhorias com a chegada da ferrovia:

No decurso dos dous ultimos annos em nossa cidade mais de cem prédios; abriram-se diversos hoteis (...); fundaram-se duas companhias industriaes e um banco (...); estabeleceram-se mais tres relojoarias (...); mais trez (sic) alfaiatarias; diversas officinas de sapateiros; tres institutos de educação (...); organizaram-se diversas associações, sendo duas de beneficencia; finalmente abriu-se mais uma rua aprasivel, a das Mangueiras*. Por outra parte, apezar do augmento das

Page 60: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

56

construcções, não se ncontram predios desoccupados; os alugueis das casas têm subido de preço, há emprego e serviço para quntos procuraram trabbalho e não obstante o alto preço de todos os generos, tem desapparecido em grande parte a mendicidade, que nos sabbados infestava as ruas da cidade.15

Em consequência do fluxo de mercadorias iniciou-se o desenvolvimento

industrial da cidade com a instalação de diversas fábricas, nos segmentos:

têxteis; cerâmico; indústria de bebidas (cervejarias); laticínios; produtos de

couro e pequenas metalurgias. O florescimento do processo industrial na cidade é marcado pela

inserção de novas tecnologias no meio produtivo que provocam uma nova

divisão do trabalho dando início a um novo período técnico, em que há o

deslocamento do eixo produtivo da região central para o Arraial do Matozinho,

até então zona rural da cidade.

Com a instalação da estação ferroviária Chagas Dória em 1908, o antigo

arraial passou a ser servido por cinco trens diários para São João del-Rei,

deste modo o Arraial do Matozinhos rapidamente foi ocupado pela malha

urbana e começou a concentrar a maioria das moradias dos operários das

grandes indústrias têxteis que se localizavam distantes do centro (mapa 9).

15 A Pátria Mineira. Ed. 139, 11/02/1892 - Periódico localizado no Escritório Técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – São João del-Rei, MG.

Page 61: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

57

Mapa 9 - Configuração atual dos bairros do Matosinhos e das Fábricas. Fonte: Elaborado por Tiago Gonçalves dos Santos e Bruno Henrique dos Santos (2017)

As aglomerações dos operários das indústrias têxteis formaram várias

vilas operárias que, posteriormente, deram origem ao atual Bairro das Fábricas

(figura 3 e 4), que também era margeado pela linha férrea e que passou a

receber indústrias, se apresentando dessa forma como um novo espaço para a

expansão urbana de São João del-Rei, devido ao seu afastamento do centro

da cidade.

Page 62: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

58

Figura 3 - Estrada de ferro cortando a Avenida Leite de Castro no Bairro das Fábricas na primeira metade do séc. XX. Fonte: Acervo Antonio Giarola.

Page 63: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

59

Figura 4 - Estrada de ferro cortando a Avenida Leite de Castro no Bairro das Fábricas na segunda metade do séc. XX/ Atual Avenida Leite de Castro. Fonte: Acervo Antonio Giarola.

A expansão da cidade e o inicio da atividade industrial no final do século

XIX e início do XX, foram diretamente influenciadas pela linha férrea e ao longo

dela a população passou a se organizar, dando inicio a uma nova política de

ordenação do espaço urbano, marcada pela segregação socioespacial.

Sua materialização em termos habitacionais revelou apenas um

processo de estruturação de classes para São João del-Rei na sua inserção na

produção capitalista do espaço. O resultado foi a periferização dos mais pobres

e a reserva das áreas centrais aos mais ricos.

Page 64: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

60

1.6. A Complexificação do Espaço Urbano São-Joanense Mediante a Atividade Industrial do século XX. Para Graça Filho (2002), as características das atividades econômicas

mineiras que teriam participado indiretamente da economia exportadora

realimentaram o aparecimento de outras zonas produtoras na província de

Minas Gerais e constituem uma clara demonstração de como a elite mercantil

do município estava envolvida em uma rede de relações sociais, guiadas pelas

atividades comerciais, que produzia e reproduzia prestígio e poder. O problema

do abastecimento interno de Minas no século XVIII, em razão do seu

isolamento produziu uma rede comercial. Dimensão socioespacial da

sociedade, a rede urbana é ao mesmo tempo condição e expressão da divisão

territorial do trabalho.

Este passado colonial permitiu a São João del-Rei, através de sua

atividade econômica, articular-se territorialmente a uma rede urbana que

apenas se configurava desenvolvendo uma ampla rede comercial com relações

indiretas com a exportação, que favoreceu o aparecimento de outras zonas

produtoras. Desse modo, fortaleceu a formação de um mercado interno e,

sobretudo, criou condições para que uma elite local – proprietária de terras e

escravos e poderosa comercialmente – surgisse e, cujo capital excedente

ajudou a financiar a industrialização, no final do século XIX.

Gradativamente, uma sociedade urbano-industrial começou a se

consolidar em São João del-Rei, e empregou novas tecnologias e novos modos

de produzir, que resultaram em modificações nas noções de tempo e

implicaram em novos hábitos de trabalho e, consequentemente, em uma nova

divisão do trabalho, o que explica a localização espacial das indústrias são-

joanenses.

Assim as indústrias têxteis, em especial a Companhia Industrial São

Joanense (1891), Fábrica Brasil Fiação e Tecelagem (1911), Fábrica de

Tecidos Matosinhos S/A (1930), Tecelagem Dom Bosco Ltda. (1937) e a

Fiação e Tecelagem São João (1947) se instalaram nas áreas com melhores

condições para o seu funcionamento, à margem da linha férrea, ou em áreas

Page 65: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

61

próximas, como Matosinhos e o Bairro Fábricas (Figura 5), onde foram

construídas residências para abrigar a mão de obra.

Figura 5 - Fábricas de tecidos nos bairros Matosinhos e Fábricas na década de 1930. FONTE: Acervo Antonio Giarola.

As vilas operárias produzidas nas primeiras duas décadas do século XX

ofereciam moradia de baixo custo, ao mesmo tempo, que mantinham seus

funcionários sob o controle disciplinar e próximos do local de trabalho, iniciando

um processo de expansão urbana que articulou formas e processos que

determinaram outras dinâmicas de estruturação do espaço com a contribuição

do poder público nas intervenções viárias e, outras necessárias para a sua

realização.

Durante o governo Vargas (1930-1945) a moradia popular assumiu o

caráter de política pública, sem contrariar os interesses do mercado. O ideário

da casa própria como bem patrimonial, manutenção dos laços familiares e,

estabilidade social, foi para o Estado um instrumento de poder e organização

social e mão de obra barata para o setor de construção.

No decorrer do século XX, São João del-Rei apresentou um significativo

desenvolvimento urbano e econômico nos bairros margeados pela estrada de

ferro, que foram essenciais principalmente para o bairro do Matosinhos, para a

descentralização e para o crescimento urbano da cidade. Além disso, esses

bairros são atualmente as principais vias de acesso que ligam São João del-

Rei às principais cidades da Região Sudeste.

Page 66: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

62

No bairro de Matosinhos, temos a BR-265, que leva às cidades de São

Paulo e Rio de Janeiro; e a BR-383, na Colônia do Marçal, que liga o município

a Belo Horizonte. Hoje em dia esses bairros são apontados com potencialidade

para o desenvolvimento de centralidades no futuro, já que as áreas centrais

mais antigas da cidade estão saturadas.

A implantação da infraestrutura de transportes, no final do século XIX, foi

fundamental para o desenvolvimento da atividade industrial do município, pois

promoveu importante reorganização do espaço urbano são-joanense; com

destaque, inicialmente, para a implantação da ferrovia e posteriormente da

rodovia, que dinamizaram o fluxo de pessoas e mercadorias.

Entendemos, conforme Sposito (2011 p. 133) que o transporte é

“condição técnica” que tornam os tecidos urbanos mais descontínuos,

esgarçados, no entanto, as causas das alterações da morfologia urbana estão

na produção capitalista do espaço urbano. Estes espaços descontínuos

salienta Sposito:

(...) coloca em xeque uma perspectiva bastante frequente em nossas elaborações, tanto no que respeita às abordagens relativas à urbanização, quanto à cidade. Trata-se da ideia da cidade como unidade, elemento que conforma, por sua vez, a ideia de rede urbana ou sistema urbano como conjunto de cidades em si. (op. cit., p. 133)

Atualmente, a dinâmica econômica do município de São João del-Rei

está no setor de serviços e sua importante função produtiva na rede urbana da

sua microrregião e da mesorregião do Campo das Vertentes (mapa 10), o que

aumenta a intensidade das interações da cidade com outros espaços.

Page 67: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

63

Mapa 10 - São João del-Rei na Mesorregião do Campo das Vertentes Fonte: Base Cartográfica IBGE 2007. Elaboração Cartográfica: Tiago Gonçalves dos Santos e Bruno Henrique dos Santos (2017)

Assim, não é mais possível ver a cidade atual como uma unidade, como

visto na periodização que realizamos através pela sucessão dos meios

geográficos, de subperíodos econômicos e da materialidade das técnicas.

Sposito (op.cit., p. 135), “assinala que a cidade tem que ser avaliada como um

espaço aberto, do ponto de vista concreto e abstrato”.

Page 68: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

64

2. OS MODAIS DE TRANSPORTE E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIOESPACIAIS EM SÃO JOÃO DEL-REI.

Como exposto no capítulo anterior, à formação socioespacial de São

João del-Rei aconteceu desde o período colonial brasileiro com a descoberta

do ouro no inicio do século XVIII, a consolidação das atividades comerciais e

agropastoris, do século XIX, que transformaram a cidade em um importante

centro comercial abastecedor de outras regiões do estado e do país. Já no

século XX, destacamos a industrialização como um dos fatores de

complexificação do espaço urbano.

Cada período supracitado imprimiu sua marca na formação

socioespacial são-joanense e, no transcorrer dos tempos, os modais estiveram

presentes nesse processo. Seja a pé ou a cavalo como os bandeirantes

paulistas, no inicio do século XVIII, que desbravaram a futura Minas Gerais a

procura de índios e metais preciosos; até os dias atuais em que São João del-

Rei é cortado por três importantes rodovias: as BR-265, BR-494 e BR-383, que

dão acesso as BR-040 e BR-381, que ligam São João del-Rei as principais

metrópoles do país como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

A implantação dos modais viários e a evolução das técnicas, que faz

com que o espaço passe a ser formado por vários e distintos objetos técnicos,

contribuíram para a constituição de um sistema de transporte que atendeu as

demandas socioeconômicas e políticas de São João del-Rei e que colaboram

com sua formação socioespacial, através da circulação de pessoas e

mercadorias.

Os modais influenciaram na ascensão e na redução da importância

econômica e política de São João del-Rei em Minas Gerais, e deram o suporte

necessário para os subperíodos produtivos em cada temporalidade16. Eles

estão periodizados no quadro 1, e se relacionam com a periodização proposta

no capitulo anterior. Além disso, redefinem a (re) estruturação urbana de São

16 A temporalidade se destaca – quando consideramos – principalmente, a evolução da técnica, promovendo transformações espaciais que reconfiguram espaços com antigas estruturas dando-lhes novas funções (SANTOS, 2008).

Page 69: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

65

João del-Rei, expressando novos sinais de complexidade na divisão territorial

do trabalho, que influenciariam diretamente na formação socioespacial de São

João del-Rei.

Quadro 1 – Temporalidade dos modais e sua influência na formação socioespacial de São João del-Rei.

Século XVIII – XIX (1713-1880)

XIX – XX (1880-1940)

XX (Após 1940)

Processo Formas;

Funções e Estruturas

Ascensão e Decadência da mineração/ Entreposto

Comercial E.F.O.M./ Processo de industrialização

Modal rodoviário/Ascensão dos novos centros

regionais e redução da importância regional

de SJDR;

Exploração de ouro e desenvolvimento das atividades agrícolas para abastecimento interno; Afirmação como principal entreposto comercial de Minas Gerais; Integração regional e nacional (comunicação direta com a Capital nacional); Implantação de estruturas técnicas (pontes e estradas) para escoar a produção;

Sociedade Industrial/ Indústria têxtil; Imigração Italiana;

Redução da área de influência de SJDR; substituição da matriz de transporte ferroviário pelo rodoviário;

Modais Tropas de mulas, veículos

de tração animal, transporte ferroviário

(surgimento das ferrovias)

Predomínio do transporte ferroviário; Uso de automóvel e

implantação das primeiras rodovias

Predomínio do transporte rodoviário

(rodovias BR- 381interligando MG-SP

e BR-040 interligado MG-RJ)

Fonte: Elaborado pelo autor.

Assim, as técnicas são datadas e incluem tempo, qualitativamente e

quantitativamente. As técnicas são uma medida de tempo: o tempo do

processo direto de trabalho, o tempo da circulação, o tempo da divisão

territorial do trabalho e o tempo da cooperação (SANTOS, 2008, p. 54).

Portanto, o meio geográfico não pode ser desvinculado da noção de

técnica, pois a cada inovação técnica no modo de produzir modifica as relações

de trabalho e a sua divisão também, o que implica em uma reorganização

territorial do espaço geográfico e das suas funções.

Page 70: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

66

Assim, as antigas cidades, de caráter fechado e autônomo, deram lugar

a uma cidade que se comunicava intensamente com o mundo exterior.

Na visão geográfica de Silveira (1999, p. 22), “a modernidade é o

resultado de um processo pelo qual um território incorpora dados centrais do

período vigente que importam em transformações nos objetos, nas ações,

enfim, no modo de produção”. Portanto, o território a cada período técnico

caracteriza um arranjo espacial, cuja dinâmica funciona de modo a criar as

ligações necessárias entre os espaços, conforme as necessidades, sob o

capital, de integrar o território ao mercado.

2.1. A Expansão Ferroviária e a Mecanização do Território.

O final do século XVIII e, sobretudo, do século XIX é para Santos (1993)

o momento em que o território se mecanizou, despontando a criação do meio

técnico que substituiu o meio natural. Esse período foi marcado por grandes

evoluções técnicas e científicas, pelo processo de desenvolvimento e

consolidação do capital sob a égide da mecanização intensa do território e,

consequentemente, pela progressiva substituição do meio natural pelo meio

técnico.

Santos em A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção

define a técnica de maneira sucinta como sendo: “(...) um conjunto de meios

instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza sua vida, produz, e ao

mesmo tempo, cria espaço” (2008, p. 29).

Ele propõe cinco períodos para o desenvolvimento da sociedade

capitalista: Período do comércio em grande escala (a partir dos fins do século

XV até mais ou menos 1620); O período manufatureiro (1620 – 1750); O

período da revolução industrial (1750 – 1870); O período industrial (1870 –

1945); O período tecnológico (após a Segunda Guerra Mundial).

A partir dessa periodização cada passagem é marcada pelo início da

inovação e da difusão de novas técnicas, que ele denomina de “sistemas de

modernização”. Cada período guarda suas características peculiares que os

diferencia um dos outros, o "meio técnico" se constitui através do “uso das

Page 71: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

67

máquinas, já que estas, unidas ao solo, dão uma nova dimensão à respectiva

geografia” (SANTOS, 2008, p. 234).

Desse modo, o meio técnico é indissociável das grandes concentrações

humanas e das infraestruturas de circulação construídas pelas sociedades, que

consequentemente aceleram o processo de urbanização ocasionado pela

industrialização capitalista responsável pela evolução das técnicas:

as características da sociedade e do espaço geográfico, em um dado momento de sua evolução, estão em relação com um determinado estado das técnicas. Desse modo, o conhecimento dos sistemas técnicos sucessivos é essencial para o entendimento das diversas formas históricas de estruturação, funcionamento e articulação dos territórios, desde os albores da história até a época atual (SANTOS, 2002, p. 171).

Portanto, a máquina é um recorte teórico derivado do entendimento de

que seu surgimento alterou significativamente as relações entre sociedade e

natureza o que proporciona – com a territorialização em formas de estradas de

ferro, rodovias, fábricas etc. – uma nova configuração geográfica no mundo.

Nesse contexto, o Brasil do século XIX passava por um período de

modernização, os excedentes de capitais gerados pela exportação de café

financiavam os investimentos em infraestrutura e no mercado financeiro. Nesse

período, foram introduzidas no país melhorias significativas nos sistemas de

transporte e de comunicação constituindo um “conjunto de fixos e fluxos”.

Inicia-se o período técnico que necessita do espaço mecanizado

marcado pela invenção e ao uso das máquinas (SANTOS, 2008, p.158). Com

destaque para a ferrovia e o telégrafo (elementos fixos) que possibilitaram a

“aceleração” do fluxo de pessoas e de bens materiais e imateriais, como

informação, relatórios e cotações de preços, dando inicio a um novo “uso do

tempo e do espaço” 17 (SANTOS, 2008, p. 186). Segundo Santos o espaço é

um conjunto de fixos e fluxos:

17 Cada nova técnica não apenas conduz a uma nova percepção do tempo. Ela também obriga a um novo uso do tempo, a uma obediência cada vez mais estrita ao relógio, a um rigor de comportamento adaptado ao novo ritmo. (Natureza do Espaço: SANTOS, 2008, p. 186)

Page 72: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

68

os elementos fixos, fixados em cada lugar, permitem ações que modificam o próprio lugar, fluxos novos ou renovados que recriam condições ambientais e as condições sociais, e redefinem cada lugar. Os fluxos são um resultado direto ou indireto das ações e atravessam ou se instalam nos fixos, modificando a sua significação e o seu valor, ao mesmo tempo em que, também, se modificam (2008, p. 61-62).

Assim, os elementos fixos são estradas, pontes, construções, barragens

e etc., os fluxos são os movimentos que são condicionados pelas ações. Há

uma interação entre os fixos e os fluxos construindo e reconstruindo o espaço.

Seguindo a perspectiva miltoniana, os investimentos em infraestrutura

no século XIX foram canalizados majoritariamente para o transporte ferroviário.

Deste modo, os trens modificaram decisivamente o sistema de distribuição da

produção e da população e, a paisagem rural cortada por trilhos de ferro foi

sendo lentamente substituída por pequenos núcleos urbanos que, no decorrer

dos anos, constituíram cidades.

A ferrovia tornou o transporte de carga menos oneroso e infinitamente

mais rápido, encurtando distâncias e aumentando o conforto para os viajantes.

Junto às ferrovias, vieram também as linhas telegráficas que, por sua vez,

possibilitaram, desde o século XIX, as comunicações até mesmo com a Europa

através de cabos submarinos.

Desse modo, as ferrovias tornaram-se um elemento importante na

definição das regiões que seriam favorecidas e que passariam a ser mais

competitivas nacional e internacionalmente. Esse processo de valorização e

desvalorização das regiões, que tem os sistemas de transporte como principal

condicionador, pode ser o início do que se convencionou chamar de “guerra

dos lugares” (SANTOS, 2008, p. 268-269). Para que as regiões se tornem

competitivas frente às demais, elas necessitam de mais fluidez, de mais trocas

e, com o aumento dessas trocas, a fluidez é ainda mais necessária.

Essas melhorias no sistema de transporte impactaram diretamente o

desenvolvimento urbano de São João del-Rei. Segundo Lima (2003), a

implantação da ferrovia, custeada exclusivamente com capital nacional, tinha

como objetivo contribuir para o desenvolvimento socioeconômico da região

identificada nos textos da época como sertão. Conforme os periódicos da

Page 73: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

69

época a construção da Ferrovia Oeste de Minas representa progresso e

ingresso na modernidade:

Secundando os bons desejos do Governo Provincial na consecução do melhoramento de que se trata, cada um cidadão na razão de suas forças deve prestar sincero e devoto apoio a este grande cometimento, do qual depende o progresso, a vida desta Cidade e circunvizinhos municípios.18 (...) alquebrando os grilhões do atraso e da decadência, veio arrancar o marco estéril da inércia, substituindo pela baliza fecunda do progresso.19

A intenção era a melhoria do transporte terrestre para estimular o

crescimento da produção e do comércio locais, através de um fluxo migratório

para o Oeste de Minas, levando o crescimento populacional e,

consequentemente, aumento da demanda pela ferrovia.

Em consequência do desenvolvimento comercial que a implantação da

ferrovia proporcionou a São João del-Rei, várias melhorias foram introduzidas

como a criação de indústrias e a modernização dos transportes e dos serviços

urbanos.

Esse período foi marcado pelo crescimento da cidade, pelo aumento da

população e, consequente aumento das rendas públicas e privadas, que

exigiriam e possibilitariam, entre outras medidas, a melhoria do abastecimento

de água, a canalização dos esgotos e a criação do transporte urbano.

Segundo Maldos (1997), a Câmara Municipal de São João del-Rei

lançou, no final do século XIX, uma série de resoluções e um Código de

Posturas, que contratavam serviços de esgoto, energia elétrica, além de

estabelecer critérios de intervenção na cidade. Esse código determinava, por

exemplo, como deveria ser a abertura de novas ruas, já que no final do século

XIX e início do século XX, os automóveis faziam parte da paisagem da cidade,

18 O Arauto de Minas, 18 de novembro de 1877 – Periódico localizado no Escritório Técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – São João del-Rei, MG 19 Tribuna do Povo, 18 de setembro de 1881 – Periódico localizado no Escritório Técnico do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) – São João del-Rei, MG

Page 74: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

70

que contava também com serviço de transporte público realizado por um

ônibus que circulava por toda a cidade.

A introdução do automóvel e a implantação de um serviço público de

transporte em São João del-Rei influenciaram diretamente o traçado de suas

ruas e avenidas que tiveram que se adaptar nova realidade, uma vez que, as

ruas herdadas do século XIX ainda possuíam uma estrutura e um traçado que

não permitiram, inicialmente, a plena circulação dos automóveis.

A implantação da infraestrutura de transportes no final do século XIX foi

fundamental para o desenvolvimento da atividade industrial do município

promovendo importante reorganização do espaço urbano. Com destaque,

inicialmente, para a implantação da ferrovia e, posteriormente, da rodovia que

dinamizaram o fluxo de pessoas e mercadorias.

2.2. O Período Técnico–Científico: A Transição do Ferroviarismo para o Rodoviarismo.

O declínio da mineração a partir da segunda metade século XVIII, fez

com que Minas Gerais direcionasse sua economia para o mercado interno

através da produção de gêneros agropastoris. Porém, a questão do transporte

para o escoamento da produção tornou-se grande entrave para a circulação

interna de mercadorias.

A implantação e modernização das ferrovias otimizaram a exportação de

bens primários como o café, que a partir da terceira década do século XIX

assumiu uma posição cada vez mais relevante na economia mineira.

Impulsionado pela grande demanda mundial do produto, a Zona da Mata se

converteu na principal área exportadora de Minas Gerais, tendo Juiz de Fora

como polo e, principal cidade de Minas Gerais, transformando-se no principal

entreposto comercial e centro armazenador de café.

Segundo Paula (2006), à medida que a economia cafeeira cresceu em

produção e comercialização, seus efeitos multiplicadores, tais como

modernização dos transportes (rodovia e ferrovia), expansão do capital

Page 75: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

71

mercantil e urbanização constituíram fatores importantes para a sua própria

reprodução.

Portanto, o sistema de transportes brasileiro começou a se estruturar a

partir das ferrovias com base na economia agrário-exportadora e em regiões

produtoras e consumidoras, parcialmente ligadas entre si. Entretanto, a

mecanização de parte da produção e da circulação, vista como pressupostos

potenciais para uma imediata integração nacional, não conseguiram romper

com os “arquipélagos regionais” 20. Configurou-se uma integração limitada, do

espaço e do mercado, no qual apenas participava uma parcela do território

nacional.

De acordo com Santos,

o Brasil foi, durante muitos séculos, um grande arquipélago, formado por subespaços que evoluíam segundo lógicas próprias, ditadas em grande parte por suas relações com o mundo exterior. (...) com ausência de comunicações fáceis entre as metrópoles, estas apenas comandavam uma fração do território, sua chamada zona de influência (...). (SANTOS, 1993. p. 26/83).

Porém, a crise mundial de 1929 gerou grande pressão sobre a indústria

nacional, que até então era importadora de bens e exigiu do Estado a sua

remodelação ao direcionar a economia para o mercado interno. Assim, o

processo de substituição de importações se fez necessário, e abriu a

possibilidade de integração do mercado interno nacional.

Para Santos (1993), após a Segunda Guerra Mundial a integração do

território brasileiro se torna viável, quando as estradas de ferro, até então,

desconectadas na maior parte do país são interligadas pelas estradas de

rodagem, o que aumenta e acelera os contatos entre diversas regiões país.

Entretanto, a modernização dos transportes, principalmente o modal

ferroviário, que foi constituído segundo a lógica primário-exportadora, não

atendeu as necessidades da economia de integração do mercado interno em

bases capitalista se a infraestrutura de transporte ferroviário se mostrou

20 “Uma topologia marcada por desconexões decorre, sobretudo, de uma vida circunscrita às regiões, embora orientada para satisfazer a necessidades de matérias-primas além dos mares” (SANTOS; SILVEIRA, 2003, p. 38).

Page 76: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

72

incompatível. Desse modo, o transporte rodoviário torna-se o modal

responsável para articular o mercado interno brasileiro.

Conforme Lopes e Godoy,

o sistema ferroviário brasileiro, apresentou sinais de decadência desde o início do século XX, mas é com o início da Segunda Guerra Mundial que esse setor sofreu seu maior golpe. Pois, devido à inexistência de um parque industrial ferroviarista, o desenvolvimento das ferrovias dependia da importação de seus componentes. Com isso, deflagrada a guerra, tem-se um desgaste mais acelerado de toda a malha, por causa da carência de materiais. Junto a esse fator, a mudança no direcionamento da economia brasileira para o mercado interno, principalmente a partir de 1930, estimulou o uso mais recorrente da estrutura rodoviária para o comércio interregional, devido à baixa capacidade de adequação das ferrovias brasileiras a esse novo padrão de desenvolvimento. Além disso, o risco de bombardeio da costa reduziu a navegação costeira, acentuando ainda mais a necessidade de transporte terrestre na direção norte-sul. No pós-guerra, para as ferrovias restava-lhes especializar-se e dedicar-se ao transporte de massa nos grandes centros urbanos (NATAL, 1991). Outro fator importante de se destacar é que a importação de veículos, no imediato pós-guerra, passou a ter peso equivalente à de trigo e produtos derivados do petróleo (dois itens largamente importados pelo Brasil). Logo, causou um aumento da pressão sobre as reservas cambiais do país, e, consequentemente, qualquer crise cambial implicaria no envelhecimento da frota. Tendo esse aspecto em conta, superar as restrições à importação através da implantação e internalização da indústria petrolífera e automobilística no país tornou-se primordial. Resolver esses entraves significava permitir o avanço do rodoviarismo-automobilismo e aliviar o problema da restrição de divisas para importar (2016 p. 581-582).

Com as transformações implementadas ao longo do primeiro governo de

Getúlio Vargas, durante o final da década de 1930 e início da de 1940, a

política estatal voltou-se para a industrialização21 baseada na substituição de

21O termo industrialização não pode ser tomado, aqui, em seu sentido estrito, isto é, como criação de atividades industriais nos lugares, mas em sua mais ampla significação, como processo social complexo, que tanto inclui a formação de um mercado nacional, quanto os esforços de equipamento do território para torná-lo integrado, como a expansão do consumo em formas diversas, o que impulsiona a vida de relações (leia-se terceirização) e ativa o próprio

Page 77: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

73

importações por produtos nacionais. O incremento de um modelo de

desenvolvimento industrial articulado priorizou a produção interna de

automóveis, navios e maquinários ligados à indústria pesada que dependente

de capitais elevados e de tecnologia avançada, o que levou o governo a adotar

novas políticas para o setor de transportes.

Com a instalação da indústria automobilística e a implantação do novo

padrão estatal de desenvolvimento urbano-industrial, os modais de transportes

deveriam estimular a integração territorial nacional e intermodal. As estradas de

rodagem complementariam a malha férrea, no entanto, essa prática contribuiu

para acirrar a competição principalmente entre rodovias e ferrovias, em vez de

estimular a integração intermodal. Consequentemente, as ferrovias foram

gradativamente substituídas pela construção de rodovias.

Os investimentos no modal ferroviário eram basicamente de

reequipamento e estavam quase que exclusivamente a cargo do setor público,

devido sua estatização quase completa ao longo da década de 1950, sendo

que esses fatores acarretaram restrições de financiamento maior. Ao contrário,

o modal rodoviário permitia uma articulação de interesses entre o setor privado

e o público.

Ela articulava os interesses das montadoras e de outras frações do capital forâneo e de várias frações do capital nacional, sob a égide do Estado que, do ponto de vista produtivo, ‘entrava’ com suas companhias siderúrgicas, petrolífera, etc. (...) O investimento bruto em transportes, como percentual do PIB, reforça o que foi apontado, a saber: no período 1950-54, o modal ferroviário foi contemplado com 0,82, ao passo que o rodoviário com 1,25; já no período 1957-1959, o primeiro foi contemplado com 1,04 e o segundo com 1,74. Isto significa dizer que a participação percentual dos investimentos brutos no modal rodoviário no PIB (portanto, antes da implantação da indústria automobilística), no período 1950-54, já ultrapassava o modal ferroviário, participação essa que prosseguiu se elevando no período seguinte. (NATAL, 1991, p. 154).

processo de urbanização. Essa nova base econômica ultrapassa o nível regional, para situar-se na escala do País; (SANTOS, 1993.p.27)

Page 78: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

74

Essas políticas se efetivaram com o governo Juscelino Kubitschek

(1955-1960) com a atração das indústrias automobilísticas estrangeiras, e

criação do Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) 22, em 1956.

Estas ações fortaleceram outra tendência do setor de transportes: a do

desmonte das ferrovias. A política rodoviário-automobilística foi acompanhada

de uma progressiva desativação de ramais e de estradas de ferro.

Durante o governo de Juscelino Kubitschek – JK (1956-1961), o Plano

de Metas iniciou o processo de modernização do transporte ferroviário e de

erradicação dos ramais ferroviários antieconômicos e priorizou os

investimentos na infraestrutura rodoviária em nome do desenvolvimentismo.

As políticas de modernização dos transportes idealizada por JK foram

consolidadas durante a ditadura civil-militar (1964-1984), em que as chamadas

ferrovias estratégicas foram construídas para transporte de grãos e de

minérios. Em contraponto se extinguiram mais de 10 mil quilômetros de trilhos,

principalmente no interior do Brasil, de ramais considerados antieconômicos,

pois sua principal finalidade era transportar passageiros23.

Além disso, o Plano de Metas teve papel preponderante na

institucionalização do novo padrão de transportes brasileiro:

Este fato pode ser entendido a partir da solidariedade que aí se estabelece e que conforma o padrão nacional de transporte de então: aquele expresso no binômio Estado/indústria automobilística. Destaque-se que a indústria automobilística está sendo ‘definida’ como o conjunto de empresas e de atividades econômicas organizadas no entorno das montadoras automobilísticas. Explicando: a indústria automobilística constitui o núcleo dinâmico, em seus efeitos para frente e para trás, posto que se relaciona com fábricas de vidro, pneus, borracha, tintas, etc., bem como, via estado, com a indústria de base (siderúrgica, petróleo, etc.), construção civil, eletroeletrônica (sinalização, etc.), etc. Além disso, a relação do

22 O Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA) criado em 1956 tinha como atribuição de elaborar e executar os planos automobilísticos nacionais de caminhões, tratores e carros. Seu principal objetivo era atrair os investidores estrangeiros e coordenar a divisão de tarefas entre o empresariado local ligado ao setor de autopeças e o setor multinacional das montadoras. 23 O Decreto Presidencial n° 58.341, de 03 de maio de 1966, assinado pelo então presidente Castelo Branco dispunha da supressão de trechos ferroviários antieconômicos. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1960-1969/decreto-58341-3-maio-1966-398851-publicacaooriginal-1-pe.html - Acessado em 21/01/2017.

Page 79: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

75

Estado com a indústria automobilística alcança o plano fiscal, posto que a incidência de impostos, em particular, sobre as montadoras, não é desprezível” (NATAL,1991, p. 131-132).

Segundo Santos (1993) esse momento se define como período técnico-

científico, em que:

(...) uma nova materialidade superpõe novos sistemas de engenharia aos já existentes, oferecendo as condições técnicas gerais que iriam viabilizar o processo de substituição de importações para o qual todo um arsenal financeiro, fiscal, monetário, serviria como base das novas relações sociais (incluído o consumo aumentado) que iriam permitir mais uma decolagem (SANTOS, 1993. p.36).

2.3. A Influência do Modal Rodoviário na Formação Socioespacial de

São João del-Rei no século XX.

Nas palavras de Santos e Silveira (2003), o transporte rodoviário veio

interligar as regiões brasileiras através de estradas de rodagem, com o objetivo

de fazer a integração das atividades econômicas e comerciais, em prol de

interesses nacionais e internacionais.

A melhoria na infraestrutura de transportes exigia a pavimentação de

rodovias (federais, estaduais e municipais) e a criação de eixos rodoviários

responsáveis pelos fluxos comerciais da produção industrial e agrícola,

principalmente na região concentrada. Segundo Santos,

a região concentrada abrange, grosso modo, os estados do Sul (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul) além de São Paulo e Rio de Janeiro e parcelas consideráveis do Mato Grosso do Sul, Goiás e Espírito Santo. Trata-se de uma área contínua onde uma divisão do trabalho mais intensa que no resto do País garante a presença conjunta das variáveis mais modernas — uma modernização generalizada — ao passo que no resto do País a modernização é seletiva, mesmo naquelas manchas ou pontos cada vez mais extensos e numerosos, onde estão presentes grandes capitais, tecnologias de ponta e modelos elaborados de organização. (...) A região concentrada coincide com a área contínua de manifestação do meio técnico-científico. (1993, p. 39/40)

Page 80: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

76

No contexto da formação socioespacial era imprescindível a implantação

de um sistema viário que interligasse as sub-regiões mineiras privilegiando sua

especialização produtiva com uma indústria de bens intermediários em torno da

nova capital Belo Horizonte, para alavancar o desenvolvimento econômico e a

integração estadual, já que o estado era um grande celeiro responsável pelo

abastecimento de gêneros primários para São Paulo e Rio de Janeiro.

Em virtude do processo de industrialização e de urbanização que

ocorreu em São Paulo e no Rio de Janeiro, após a Segunda Guerra Mundial,

em decorrência da aceleração da substituição de importações, houve um

aumento na demanda por alimentos, o que permitiu que as principais sub-

regiões de Minas Gerais elevassem suas exportações para esses mercados.

Nesse contexto, as principais regiões mineiras, Triângulo Mineiro, Sul de

Minas e Zona da Mata, apresentavam mais ligações externas do que com Belo

Horizonte que começava a consolidar-se como novo centro geográfico, político

e econômico do estado. Essas regiões por sua vez, passariam sofrer influência

do eixo Rio Janeiro/São Paulo desde a década de 1960 (quadro 2).

Page 81: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

77

Quadro 2 – Esquema da rede urbana e regiões de influência em Minas Gerais na década de 1960.

Metrópoles Grandes Centros Regionais Centros regionais Centros Intermediários

Belo Horizonte Sete Lagoas, Curvelo,

Coronel Fabriciano, Ponte Nova, Lavras

Conselheiro Lafaiete

Divinópolis Formiga Patos de Minas Patrocínio, Montes

Claros

Rio de Janeiro Juiz de Fora Leopoldina, Ubá

Barbacena São João del-Rei Muriaé Carangola,

Manhuaçu,

Manhumirim Governador Valadares Teófilo Otoni

Caratinga

São Paulo Pouso Alegre, Itajubá Varginha Alfenas, São Lourenço

Campinas Poços de Caldas

Ribeirão Preto S. Sebastião Paraíso, Passos

Uberaba Araxá

Uberlândia Araguari Ituiutaba

Fonte: Leloup, 1970.

A modernização sem precedentes da rede rodoviária, a partir da década

de 1960 contribuiu expressivamente para que Minas Gerais ampliasse sua rede

urbana, com destaque para a capital Belo Horizonte que se consolidou como

metrópole regional ampliando sua zona de influência em direção ao Sudeste,

Norte e Centro-Oeste do Estado, incluindo São João del-Rei que até então era

influenciada pela cidade do Rio de Janeiro.

Em decorrência da substituição do modal ferroviário pelo rodoviário a

importância econômica de São João del-Rei foi sendo reduzida e, as cidades

de Belo Horizonte e Juiz de Fora se consolidaram como os grandes centros

mineiros de atração de investimentos de capital, de infraestrutura e de

Page 82: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

78

circulação de pessoas, que se firmaram como principais centros de influência

na rede urbana mineira a partir da década de 1960 conforme os quadros 3 e 4,

referentes a classificação de Leloup (1970).

Quadro 3 – Hierarquia Urbana de Minas Gerais – Década 1950.

1. Capitais Regionais Belo Horizonte e Juiz de Fora

2. Grandes Centros Regionais Uberlândia e Uberaba

3. Centros Regionais Montes Claros, Teófilo Otoni, Governador Valadares, Araguari, Caratinga, Ponte Nova, Barbacena, São João del-Rei, Itajubá e Poços de Caldas

4. Centros Intermediários Ituiutaba, Patos, Diamantina, Araxá, Passos, Formiga, Lavras, Ubá, Leopoldina, Muriaé, Manhuaçu, Varginha, Três Corações e Pouso Alegre

5. Centros Industriais Pirapora, Curvelo, Sete Lagoas, Divinópolis, Nova Lima, Ouro Preto, Conselheiro Lafaiete, Santos Dumont, Cataguases, Além Paraíba

6. As demais cidades são Centros Locais

Fonte: Leloup, 1970.

Quadro 4 – Hierarquia Urbana de Minas Gerais - Década 1960.

1. Metrópole Regional Belo Horizonte

2. Grandes Centros Regionais Juiz de Fora, Governador Valadares, Uberlândia e Uberaba

3. Centros Regionais Montes Claros, Teófilo Otoni, Araguari, Patos de Minas, Ituiutaba, Ponte Nova, Barbacena, Poços de Caldas e Varginha

4. Centros Regionais Industriais Divinópolis, Barbacena e Itajubá.

5. Centros Intermediários de Serviços

Diamantina, Araxá, São Sebastião do Paraíso, Passos, Guaxupé, Alfenas, Pouso Alegre, Formiga, Lavras, Oliveira, São Lourenço, Ubá, Muriaé, Carangola, Manhuaçu e Caratinga

6. Centros Intermediários Industriais

Curvelo, Sete Lagoas, Coronel Fabriciano, Conselheiro Lafaiete, São João del-Rei e Leopoldina.

7. Pequenas Cidades Industriais

Nanuque, Itabira, João Monlevade, Caeté, Nova Lima, Pará de Minas, Betim, Itabirito, Ouro Preto, Santos Dumont, São João Nepomuceno, Além Paraíba, Cataguases e Itaúna

8. As demais cidades são Centros Locais

Fonte: Leloup, 1970.

Desse modo, São João del-Rei sentiu os reflexos da expansão das

rodovias, que absorveram quase todo trafego de passageiros e de transporte

Page 83: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

79

de cargas leves e médias, ficando a estrada de ferro praticamente limitada ao

transporte de cargas pesadas, como o minério de ferro localizado na região

central do estado.

Além disso, o fato de Minas Gerais ter-se constituído como o principal

centro de abastecimento dos maiores mercados consumidores nacionais como

São Paulo e Rio de Janeiro, e a intervenção Estatal que criou setores

institucionais modernos como a Companhia Energética de Minas Gerais -

CEMIG e o Departamento Estadual de Rodagem – DER/MG24 proporcionaram

o desenvolvimento industrial do estado a partir do final da década de 1960.

No período 1970/77, Minas gerais absorveu 25% dos investimentos industriais do país, para uma participação de apenas 7% da produção industrial, fazendo com que o crescimento industrial passasse de 6,9% ao ano na década de 1960 para 16,5% no período 1970/77 (DINIZ, 1981 it cit Lopes 2015, p.238).

Deste modo o desenvolvimento industrial mineiro deu-se pelo processo

de desconcentração industrial de São Paulo, pelas isenções fiscais e outras

facilidades dadas pelo governo mineiro, que influenciaram diretamente a

abertura de rodovias (BR-040 e BR-381) que ligam Belo Horizonte ao Rio de

Janeiro e a São Paulo.

Se nas décadas anteriores Minas Gerais lutava para superar o isolamento geográfico, tanto entre suas próprias regiões, quanto entre essas regiões e os demais estados brasileiros, em 1965 a situação era diferente. Minas Gerais já possuía 5.013

24O lançamento do Plano de Recuperação Econômica (1947) e do Binômio Energia e Transporte (1951) deram grande impulso à primeira fase do rodoviarismo mineiro. O Binômio Energia e Transporte propuseram a construção de 2.000 km de novas estradas e a pavimentação de 500 km. Durante o governo de JK, em Minas Gerais, coube, ao DERMG, parcela considerável dos investimentos previstos em rodovias. Foi durante esse período que o Departamento foi desvinculado da Secretaria de Viação e Obras Públicas, passando a subordina-se diretamente à chefia de governo. Ao contrário da meta inicial, foram construídos 3.725 km de estradas entre 1951 e 1955, mas a meta de 500 km de pavimentação ficou a quem do esperado. Em um segundo momento, no período de 1956 e 1963, o Governo Estadual da continuidade ao exitoso Binômio Energia e Transporte e, com relação ao Governo Federal, o Plano de Metas transformando o território mineiro em um importante centro articulador da malha federal, fazendo com que as principais rodovias cortassem o território em algum ponto. Desse modo, no final de 1963, Minas Gerais passa a ser o estado com a maior extensão de vias federais (LOPES, 2015).

Page 84: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

80

km de estradas federais, dos quais 3.449 km pavimentados, a maior extensão pavimentada do Brasil. Três estradas respondiam pela quase totalidade dessa extensão: Rio-Bahia, a Rio-Belo Horizonte-Brasília e a Rodovia Fernão Dias (São Paulo-Belo Horizonte). Ou seja, Minas estava ligada, por estradas de ótima qualidade, aos dois principais polos regionais do Brasil e a Brasília. Internamente, a extensão total da rede rodoviária do estado passou de 31.980 km, em 1936, para 131.243 km em 1965. “A rede estadual [mineira] alcançou 14.159 km, dos quais 1.915 km pavimentados [em 1965]” (HENRIQUES, 2009; p. 43)

Portanto a construção das rodovias beneficiou enormemente a capital

mineira, e a partir da construção de Brasília25na década de 1950, há um novo

ciclo de interiorização da infraestrutura ligando o Sudeste ao Centro-Oeste, no

qual beneficia o desenvolvimento do Triângulo Mineiro, onde Belo Horizonte

torna passagem obrigatória para quem vai do Rio de Janeiro para a capital

nacional.

Nessas condições Belo Horizonte transformou-se em um dos principais

centros de integração da rede rodoviária nacional, através das rodovias

federais BR-381 (Fernão Dias) e a BR-040 (Rodovia Juscelino Kubitschek), que

ligam a capital a São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília.

Desse modo, São João del-Rei no decorrer das décadas de 1970 e

1980, tem sua área de influência reduzida na hierarquização da rede urbana

mineira devido à mudança do modal ferroviário para rodoviário que beneficiou

as cidades com melhor localização em relação à estrutura de transporte.

Destarte, Belo Horizonte consolidou-se como a única metrópole regional

do estado, a Zona da Mata e do Triangulo Mineiro tornaram-se duas das

regiões mais dinâmicas do estado com a ascensão de Juiz de Fora e

Uberlândia como centros regionais alterando o sentido do fluxo populacional e

25A respeito da construção de Brasília, são interessantes as observações de Tavares (2000): No final dos anos 60, assiste-se à mudança da capital federal para Brasília, no Planalto Central. Para compensar as perdas que adviriam da mudança da capital, a União manteve no Rio de Janeiro as sedes das grandes empresas estatais, universidades e instituições de pesquisa, assim como órgãos como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico. A prática de sustentação da economia fluminense, diga-se de passagem, não era nova. Desde a década de 1940, o Governo procurou localizar ali empreendimentos de grande porte, com o intuito de equilibrar a distribuição de recursos no espaço econômico mais desenvolvido do país, isto é, o triângulo São Paulo-Rio de Janeiro-Belo Horizonte (TAVARES, 2000, p. 94).

Page 85: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

81

comercial do estado, criando novos centros urbanos a oeste e ao sul de Minas

Gerais, o que levou São João del-Rei a uma posição secundaria na rede

urbana mineira.

2.3.1. A (re) organização espacial de São João del-Rei pela reestruturação

rodoviária.

A implantação e a consolidação do sistema rodoviário como principal

modal do viário do Brasil, no decorrer do século XX, se deu, principalmente,

pela necessidade de expansão econômica de São Paulo e Rio de Janeiro,

influenciando diretamente Minas Gerais, que substituiu seu modal de base

ferroviário pelo rodoviário.

Desse modo, o governo mineiro construiu diversas rodovias estaduais

que ligam as cidades mineiras às principais rodovias federais que cortam o

estado. Porém, essa conexão entre rodovias estaduais/federais não

promoveram a total integração econômica regional do estado, o que fortaleceu

a área de influência de centros externos.

As regiões mais dinâmicas do estado (com exceção da Região Central)

estreitaram suas conexões com regiões externas em relação a Belo Horizonte,

como por exemplo: Triângulo Mineiro e o Sul de Minas com São Paulo e a

Zona da Mata Mineira com Rio de Janeiro.

São João del-Rei, por sua vez passou a ser influenciado por Belo

Horizonte que se consolidou como novo centro industrial da Região Sudeste,

beneficiada pela desconcentração industrial de São Paulo e Rio de Janeiro. Na

capital mineira, a melhoria nos serviços de infraestrutura urbana e absorção de

capitais e mão-de-obra especializada para o setor industrial, acarretaram no

desenvolvimento de novos mercados sub-regionais de produtos de bens de

consumo.

A redução gradativa da importância econômica de São João del-Rei

afetou sua área de influência no estado e a cidade assumiu um novo papel na

posição secundária da rede urbana mineira, devido aos seguintes fatores: o

desligamento de antigos núcleos dependentes como Pouso Alegre, Baependi,

Page 86: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

82

Lavras e Barroso; a perda de sua posição privilegiada frente aos principais

fluxos comerciais e as restrições ao seu desenvolvimento industrial. Essas

novas dinâmicas limitaram a atuação econômica do município em uma escala

microrregional a partir da década de 1960 (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO,

1982, p.58).

Porém com a pavimentação da BR-265, principalmente no trecho

Lavras/São João del-Rei, que permitiu a conexão da BR-381 com a BR-040

possibilitou a articulação entre a Zona da Mata com o Sul e o Oeste de Minas,

São João del-Rei assumiu um importante papel como centro microrregional.

Pois através da BR-265, o município se conectou com centros de importância

regional, da Zona da Mata e do Sul de Minas, tais Varginha e Lavras na BR-

381; Juiz de Fora e Barbacena na BR-040.

Esses centros desempenham um importante papel na rede urbana

minera e são influenciados pelo eixo Rio de Janeiro – São Paulo. E se por um

lado São João del-Rei teve sua importância econômica reduzida no estado

devido à implantação do modal rodoviário e das Rodovias BR-381 e BR-040;

por outro lado o município assumiu uma posição de destaque de caráter

microrregional por sua condição de eixo rodoviário dos sistemas intra e inter-

regional, através da BR-265.

São João del-Rei encontra-se inserido no centro de um grande triângulo

formado pelas BR-381 a oeste, BR-040 a leste, e BR-116 ao sul, e fica sob a

influência dos três grandes centros de polarização nacional. Já que, este

triângulo tem como vértices Belo Horizonte ao norte, São Paulo a oeste e Rio

de Janeiro a leste, maiores regiões metropolitanas do Brasil (mapa 11).

Page 87: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

83

Mapa 11- Localização de São João del-Rei. FONTE: IBGE e DNIT; Adaptação: Fundação João Pinheiro (1981); Elaborado por Elaborado por Tiago Gonçalves dos Santos e Bruno Henrique dos Santos (2017).

Page 88: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

84

Além disso, do ponto de vista macro da circulação urbana, São João del-

Rei também apresenta, além da BR-265, mais duas importantes rodovias de

acesso que a margeiam, a BR-494 e a BR-383, que permite que o município se

articule com os municípios que compõe a Mesorregião do Campo das

Vertentes.

A articulação dessas três rodovias favoreceu o processo de

transformação no espaço microrregional de São João del-Rei, promoveu a

intensificação das redes de relações espaciais decorrentes das cadeias

produtivas que se entrelaçam e se dinamizam no território, sobretudo na escala

microrregional.

O modal rodoviário assume um papel importante na formação

socioespacial de São João del-Rei após a década de 1960 ao promover varias

transformações na expansão urbana da cidade. Com a pavimentação da BR-

265 há um aumento nos fluxos intermunicipais e interestaduais, que

influenciando a dinâmica econômica da cidade que,

(...) a partir da década de 1960, São João del-Rei passou a apresentar uma base industrial bastante diversificada, apoiada, basicamente, em quatro ramos principais - tecidos, mineração e siderurgia, madeira e móveis, objetos de prata e estanho. Nesse contexto, a indústria têxtil, pelo seu caráter pioneiro e tradicional na cidade, exerce um papel de maior importância, ao nível econômico, gerando maior volume de capital, absorvendo maior quantidade de mão-de-obra e exercendo, por tudo isso, maiores efeitos sobre o núcleo urbano. (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 1982, p.60).

Mesmo não apresentando a competitividade e importância de outrora, o

setor industrial continuou sendo a base econômica de São João del-Rei

durante as décadas de 1970 e 1980. Nesse contexto, houve um efêmero

progresso devido às instalações das obras da Ferrovia do Aço26 no município,

26 A Ferrovia se destinaria basicamente ao transporte de minério de ferro precedente do Quadrilátero Ferrífero em Minas, servindo ainda como via de abasteci mento de matéria-prima para as usinas de Volta Redonda (Cia Siderúrgica Nacional) e Companhia Siderúrgica Paulista COSIPA. Esta ferrovia contribuiria para o descongestionamento da linha Rio-Belo Horizonte. Embora o seu objetivo principal fosse o transporte de minério, suas projetadas condições

Page 89: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

85

que a principio, contribuíram de maneira significativa para a intensificação das

suas atividades econômicas, movimentando os setores de comércio local e

prestação de serviços, pois

(...) aumentou do fluxo migratório decorrente da maior oferta de empregos; instalação do fluxo de cargas, com uma maior movimentação de matérias-primas e produtos finais; aumento do fluxo da população empregada no núcleo e consequente pressão sobre o sistema de transportes urbanos; ativação do movimento comercial; aumento do valor dos bens imóveis, dentre outros. (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 1982, p.61)

Os desvios de material, desperdício de verbas públicas e as denuncias

de corrupção envolvendo os governos militares, aliado ao mau planejamento

de seu uso foram decisivos para o quase abandono da ferrovia, que não

beneficiou a economia do município, ela passou a ser utilizado,

majoritariamente, como corredor de exportação de minérios atendendo ao

modelo exportador de interesse dos países do núcleo central.

Hoje em dia, o modal viário que antes representava a modernidade,

constitui–se como um problema crônico no município. Os problemas de

mobilidade urbana se generalizam com o aumento do trafego de automóveis,

ônibus e motocicletas, que circulam numa malha de ruas e avenidas que se

concentram no vale, entre a Serra do Lenheiro e a de São José.

Nas últimas décadas, o crescimento do município não foi acompanhado

de melhoria proporcional da infraestrutura urbana, principalmente a de

transportes. O incremento substancial do volume de trafego aliado a uma série

de deficiências, tais como: baixa capacidade do sistema viário, insuficiente

sinalização de trafego e interseções inadequadas comprometem a segurança,

a fluidez do trafego, o transporte coletivo e apontam o trânsito urbano como um

dos principais problemas a serem enfrentados pelas administrações

municipais.

técnicas seriam notáveis; dispondo de eletrificação numa extensão total de 834 km com bitola larga (l,60m) rampa máxima de 1% e raios de curva de 900 metros, condições que possibilitariam velocidade de 120 km horários caso fosse utilizada para o transporte de passageiros. Esta ferrovia deveria cortar a Microrregião no sentido norte-sul e seu projeto prevê a existência de um trecho ligando Belo Horizonte a Itutinga, de onde partiria um ramal para Volta Redonda no Estado do Rio de Janeiro. (FJP, 1982, p.220)

Page 90: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

86

Os acessos às principais rodovias BR-383 e BR-265 são feitos pelo

centro da cidade. O projeto da implantação do novo anel rodoviário ligando as

duas rodovias partindo da Colônia do Marçal e passando por Santa Cruz de

Minas até a BR-265 prevê uma infraestrutura cujos impactos ambientais,

sociais e econômicos já são objeto de grandes polêmicas. Desse modo, a

mobilidade urbana, tem se configurado com um dos principiais problema da (re)

organização do espaço urbano de São João del-Rei, restringindo a efetivação

do direito da população à cidade em seus mais variados aspectos.

Page 91: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

87

3. SÃO JOÃO DEL-REI NO CONTEXTO DAS CIDADES MÉDIAS E SUA INSERÇÃO NA REDE URBANA MINEIRA. Retomando a discussão do capítulo anterior, a implantação dos sistemas

de transportes contribuiu para significativas mudanças na rede urbana mineira

nos últimos séculos, favorecendo o surgimento de novos centros urbanos

através da intensificação das relações, principalmente comas grandes

metrópoles: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte que polarizam as

principais regiões de planejamento do estado como, por exemplo, a Zona da

Mata, o Triângulo Mineiro, o Sul de Minas e o Campo das Vertentes.

De acordo com Santos (1996), a implantação de um sistema de

transporte rodoviário na década de 1950 favoreceu o desenvolvimento de

centros urbanos intermediários (cidades médias) que, a partir da centralidade

regional proporcionada pelas rodovias e dos investimentos produtivos,

passaram a receber também importante incremento populacional, sendo

dotadas, a partir de então, de uma série de equipamentos de abrangência

regional.

No caso mineiro, a interação desses centros através da modernização

dos sistemas de transporte e do adensamento das técnicas aumentou a

circulação de pessoas, produtos, serviços e capitais, em todas as regiões do

estado, influenciando a dinâmica econômica e socioespacial de Minas Gerais.

Porém a distribuição destes fixos e fluxos aconteceu de forma desigual pelo

tempo e espaço.

Nesse contexto destacamos o importante papel que as cidades médias

começam a desempenhar na configuração da rede urbana mineira no decorrer

do século XX, pois segundo Andrade:

a emergência das cidades médias coincidiu com o avanço nos sistemas de transportes e de comunicações, que permitiu um novo posicionamento em relação às redes urbanas regional, estadual, nacional, e em certos casos até internacional, por meio da estruturação de novas interações espaciais e na consolidação das já existentes. (2015, p.67)

Page 92: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

88

As cidades médias são fruto do processo de reestruturação da rede

urbana brasileira que se iniciou no Brasil a partir da década de 1970. As

relações hierárquicas antes instituídas apenas pelo comando de cidades

maiores sobre as menores tornam-se mais fluidas com as novas divisões

regionais e internacionais do trabalho com consequências distintas em cada

lugar e, exigindo respostas diferenciadas no que diz respeito às rearticulações

que se processaram na escala interurbana.

Uma das características que marcaram esse fenômeno urbano no Brasil

refere-se ao “aumento do número de cidades locais e sua força, assim como

dos centros regionais, ao passo que as metrópoles regionais tendem a crescer

relativamente mais que as próprias metrópoles do sudeste” (SANTOS, 1993,

p.134), na medida em que “estaria havendo um fenômeno de

desmetropolização, definida como a repartição, com outros grandes núcleos,

de novos contingentes de população urbana” (SANTOS 1993, p. 91).

Para Silveira e Santos as cidades médias,

(...) comandam o essencial dos aspectos técnicos da produção regional, deixando o essencial dos aspectos políticos para aglomerações maiores, no país ou no estrangeiro, em virtude do papel dessas metrópoles na condição direta ou indireta do chamado mercado global. (2003, p. 283)

Assim, a formação de redes urbanas hierarquizadas que foram

estruturadas segundo alguns princípios de circulação orientados, sobretudo,

pelas possibilidades técnicas dos sistemas de transporte que se organizaram

para o florescimento do capitalismo desde meados do século XIX. As cidades

médias se definiam, em grande parte, pela posição geográfica que ocupavam,

mas também pela relevância político-administrativa que desempenhavam

(SPOSITO et. al, 2007, p. 36).

As cidades médias alcançaram esse status em decorrência do processo

de desmetropolização, o que permitiu através das funções e usos que se

estruturaram nestes espaços possuir os mesmos tipos de serviços de cidades

metropolitanas, mas conservam um contingente populacional menor.

Page 93: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

89

Além disso, através da adoção de políticas públicas de ordenamento

territorial, o governo federal incentivou a criação de novos polos de

desenvolvimento em regiões periféricas, com a finalidade de frear a migração

rumo às metrópoles e incentivar o desenvolvimento de cidades de porte médio.

As cidades médias assumiram grande importância dentro do processo

de reestruturação urbana brasileira como polarizadoras e organizadoras de

bens e serviços que antes se encontravam restritos às grandes metrópoles ou

vinculados aos capitais estaduais.

Nesse contexto se insere São João del-Rei, localizada a 180 km de Belo

Horizonte e ligada através da BR-265 a duas importantes rodovias brasileiras

(BR-040/ MG-RJ e a BR-381/ MG/SP) e polariza municípios do seu entorno

imediato, o que atrai populações dos municípios vizinhos e externos a sua área

de influência em busca de serviços e produtos

3.1. Breve conceituação das cidades médias no contexto de Minas

Gerais.

A classificação das cidades médias tem sido estudada em escala

mundial, desde as décadas de 1950 e 1960, sendo a França o país pioneiro na

preocupação com a importância do grupo das cidades de porte médio, no

estudo de seu valor no equilíbrio e no funcionamento das redes urbanas

nacionais e, sobretudo, regionais.

No Brasil, os estudos remetem a pesquisadores, órgãos governamentais

e planejadores urbanos, o que leva a definições variáveis. Do ponto de vista do

nível hierárquico das cidades:

Ao se adjetivar o substantivo cidade com a palavra “média” e/ou “pequena” faz-se menção ao tamanho da cidade que, por sua vez, conduz ao estudo das redes e hierarquias urbanas. Cidade pequena se contraporia à cidade grande. E cidade média seria aquela que está entre uma e outra, ou seja, teria uma dimensão intermediária. Ao se pretender averiguar o tamanho seja da malha urbana, seja do contingente populacional, necessita-se fazer uma medição, uma aferição do tamanho da cidade e/ou do contingente populacional. (MAIA, 2010, p.18).

Page 94: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

90

Alguns centros de pesquisas levam em consideração o critério

demográfico como definidor para classificar uma cidade média, porém esse

critério varia de país para país.

Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, a cidade média é aquela que possui população entre 100.000 e 500.000 habitantes. Conforme a Organização das Nações Unidas - ONU, as cidades médias são aquelas com aglomerações entre 100.000 e 1.000.000 de habitantes. Já a União dos Arquitetos Internacionais UIA - delimita como cidades médias aquelas que possuem entre 20.000 a 2.000.000 de habitantes. Andrade e Serra (2001) também trabalham com essa mesma definição de cidade média apresentada pelo IBGE. Enquanto que Amorim Filho e Bueno e Abreu (1982) estabeleceram um tamanho mínimo de 10 mil na sede do município. (FRANÇA, 2007, p. 51-52).

Deste modo, o critério demográfico tem sido o mais utilizado para

classificar as cidades médias. Porém no caso de Minas Gerais utilizar apenas o

critério demográfico para determinar uma cidade média é insuficiente devido

seu complexo processo de formação socioespacial, marcado pelo seu

pioneirismo que constituiu uma rede urbana em virtude da atividade mineradora

e atravessou períodos de (re) estruturação urbana e econômica do território

mineiro, que produziu desigualdades na formação urbana das cidades

mineiras.

Dentre os processos que produziram as diferenças internas existentes

em Minas Gerais destacamos: a expansão de relações capitalistas de

produção no campo, inicialmente com a cultura cafeeira e, posteriormente, por

meio da diversificação produtiva e da especialização produtiva de commodities

agroexportadoras como café, soja e cana-de-açúcar e a implantação de

unidades industriais e de sistemas de transportes mais eficientes nas áreas de

maior dinamismo econômico do território estadual.

Minas Gerais possui grande número de municípios com pequena

população e sua dimensão geográfica possibilita uma expressiva diversidade

interna quanto à distribuição da população. Ao adotar como critério o tamanho

da faixa populacional para análise, o estado apresenta um número reduzido de

Page 95: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

91

municípios concentrando grande parcela da população de um lado, e do outro

centenas de pequenos municípios abrigando um contingente bem pequeno de

habitantes.

O critério populacional é impróprio para classificar as cidades mineiras

como médias. Atualmente Minas Gerais possui 853 municípios sendo que,

821possuem população inferior a 100.000 habitantes e apenas 28 têm

população superior a 100.000 habitantes. Segundo o IBGE, as cidades médias

seriam aquelas destacadas na tabela 2.

Tabela 2 - Classificação dos Centros Urbanos de Minas Gerais.

CLASSES DE TAMANHO DOS CENTROS URBANOS

DE MINAS GERAIS

CENTROS URBANOS -

2014

POPULAÇÃO

Nº % Nº %

de 1 a 50.000 habitantes 785 92,03% 8.741.583 41,89%

de 50.001 a 100.000 habitantes. 36 4,22% 2.689.874 12,89% de 100.001 a 500.000 habitantes 28 3,28% 5.068.675 24,28% de 500.001 a 2.000.000 habitantes 3 0,35% 1.866.412 8,94%

Mais de 2.000.000 hab. 1 0,12% 2.502.557 12,00% Total 853 100% 20.869.101 100%

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 2014.

Porém, vários municípios mineiros com menos de 100.000 habitantes

exerce atração em uma determinada região de influência por apresentarem

certo dinamismo e polarizam cidades menores do seu entorno, devido às

disparidades regionais de Minas Gerais. São João del-Rei, por exemplo, possui

85 mil habitantes e sua área de influência tem ampliado consideravelmente por

causa da sua importância como centro prestador de serviços para além da sua

microrregião.

Soares (2007, p.465) destaca a importância de se diferenciar uma

cidade de porte médio, que considera somente o quantitativo demográfico e as

cidades médias, intermédias ou regionais, que priorizam relações mais

complexas, uma vez que “[...] nem toda cidade de porte médio possui as

qualidades que podem fazer dela uma cidade funcionalmente média” (AMORIM

FILHO; RIGOTTI, 2002).

Page 96: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

92

Portanto, o critério demográfico adotado pelo IBGE não é relevante no

caso de São João del-Rei, uma vez que, uma cidade média não deve ser

caracterizada somente pelo seu tamanho populacional, mas também pelo

papel que desempenha na rede urbana, sua funcionalidade urbana (indústrias,

comércio e serviços), a relação com a região onde está situada, a

complexidade dos equipamentos urbanos e a infraestrutura que dispõe.

Santos (1982, p.69-70) afirma que, “aceitar um número mínimo, como o

fizeram diversos países e também as Nações Unidas, para caracterizar

diferentes tipos de cidades no mundo inteiro, é incorrer no perigo de uma

generalização perigosa”.

Sposito (2006) propõe que no Brasil as “cidades de porte médio” sejam

definidas como aquelas que têm entre 50 mil e 500 mil habitantes, entretanto, a

população de uma cidade, como critério preponderante e isolado, não

apresenta, consistência na definição do papel da mesma e as funções que ela

desempenha na rede urbana na intermediação regional (HENRIQUE, 2010,

p.46).

O tamanho populacional é um parâmetro importante porque define, em

princípio, o mercado para a emergência de funções com diferentes graus de

complexidade, mas não é suficiente para definir uma hierarquia funcional e a

qualidade de vida nelas existente.

Atualmente as cidades médias brasileiras distinguem-se pelos índices de

crescimento populacional e são responsáveis pelo processo de

desconcentração da população brasileira, além de manter um equilíbrio

interurbano a partir da redução do fluxo migratório em direção às grandes

cidades.

Milton Santos (1978) propôs o conceito de Cidade Regional que seriam

caracterizadas pelo consumo que amplia o processo de urbanização e a

importância dos centros urbanos em termos de população e economia, divisão

do trabalho entre as cidades vizinhas.

O autor define a cidade média considerando que, no ápice da hierarquia

urbana brasileira temos a grande cidade de porte metropolitano e, na base, a

Page 97: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

93

cidade local ou pequena, aquela de influência estritamente local e, em posição

intermediária, a cidade média (SANTOS 1993).

Já para Soares, as cidades médias são caracterizadas

por altas taxas de crescimento populacional e econômico; por sua geração de empregos, que absorvem números expressivos de força de trabalho; por apresentarem altos índices de qualidade de vida; por sua especialização econômica, particularmente no que diz respeito à diversificação e concentração de atividades comerciais e de serviços; pela existência de redes de transportes, comunicação e informação moderna; enfim, as mesmas são difusoras de inovações e desenvolvimento para as cidades sob sua área de influência (1998, p.56).

Para Amorim Filho (1984, p.9), as cidades médias devem manter

“interações constantes e duradouras com seu espaço regional e com as

aglomerações urbanas de hierarquia superior”, além de oferecer também um

amplo leque de serviços à sua área de polarização, o que é função da cidade

média. Manter interações espaciais é característica definidora das cidades

médias. Estas interações se tornam possíveis devido aos modernos sistemas

de engenharia de transportes e de telecomunicações, já que a fase das

cidades médias coincide, com o período de expansão do meio técnico-

científico-informacional (SANTOS 2008), cuja manifestação é dada pela

complexa configuração territorial e a crescente fluidez do território.

A este respeito, Santos (1993) afirma que as “cidades médias são

crescentemente lócus do trabalho intelectual, o lugar onde se obtém

informações necessárias à atividade econômica”. Por conseguinte,

(...) as cidade médias são as que reclamam cada vez mais por trabalho qualificado, enquanto as maiores cidades, as metrópoles, por sua própria composição orgânica do espaço poderão continuar a acolher populações pobres e despreparadas (SANTOS, 1993, p.120).

Assim, as cidades médias apresentam uma complexa divisão social e

territorial do trabalho expressas numa igualmente complexa rede urbana e, por

isso, tais cidades não podem ser tomadas como um objeto em si, mas como

expressões particulares, diretamente vinculadas aos processos de formação e

Page 98: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

94

evolução urbana. Portanto, é necessário considerar as estruturas dimensionais,

funcionais e espaciais existentes nelas e, também, as relações transversais

que são estabelecidas, que poderão determinar a sua posição na rede urbana

regional e no sistema urbano brasileiro.

.

3.2. São João del-Rei a Cidade Média do Campo das Vertentes.

O processo histórico da urbanização brasileira intensificou-seno final do

século XIX afirmou-se após a Segunda Guerra Mundial. As mudanças

ocorridas nos espaços rural/urbano a partir do avanço do capitalismo no

campo, representado pela modernização da agricultura em consonância com a

industrialização no espaço urbano, resultaram em um acelerado processo de

urbanização.

Acerca da urbanização Moraes aponta que:

O usual sentido do termo “urbanização”, embora expresse um fenômeno antigo, está estreitamente associado à industrialização em razão dos impactos decorrentes das revoluções industriais, o que tem condicionado seu emprego na análise de questões mais contemporâneas. Associa-se urbanização à transferência de pessoas do meio rural para o meio urbano, o que implica na idéia de concentração de muitas pessoas em um espaço restrito, a cidade, cujo percentual de aumento populacional seria superior em relação à população rural. Em termos econômicos, tal processo implicaria na substituição das atividades primárias (agropecuária) por atividades secundárias (indústrias) e terciárias (serviços), cujo desenvolvimento estaria relacionado tanto a demandas e consumos tipicamente urbanos quanto às economias de aglomeração. (2005, p.1)

A partir da década de 1950 em decorrência do êxodo rural e da

integração nacional através dos modais viários, há um desenvolvimento

significativo do espaço urbano brasileiro e do número de pessoas vivendo em

cidades. Os moradores do campo mudam para a cidade em busca de melhores

condições de vida, surgindo então uma ligação direta entre emprego e a

cidade.

Assim, a cidade, por sua vez, é

Page 99: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

95

(...) o lugar onde se concentra a força de trabalho e os meios necessários à produção em larga escala, a industrial, e, portanto, é o lugar da gestão, das decisões que orientam o desenvolvimento do próprio modo de produção, comandando a divisão territorial do trabalho e articula a ligação entre as cidades da rede urbana e entre as cidades e o campo. (CARLOS, 2003, p. 64).

Esse processo está intimamente ligado ao expressivo crescimento da

população urbana no país entre 1950 e 1980, ocasionado pelo

desenvolvimento de novos centros urbanos, que inverteu a distribuição

populacional entre áreas rurais e urbanas. O Brasil se transformou em um país

predominantemente urbano a partir da década de 1970 (tabela 3), com a

maioria da população residindo nas cidades, enquanto o índice da população

residente no campo diminuísse no decorrer das décadas posteriores.

Tabela 3 – População Urbana/Rural do Brasil.

ANO POPULAÇÃO URBANA/RURAL DO BRASIL URBANA RURAL TOTAL

1950 18.775.779 33.008.546 51.784.325 1960 31.958.408 38.652.886 70.584.277 1970 52.084.984 41.054.043 93.139.037 1980 80.443.928 38.568.777 119.002.706 1991 110.985.376 35.840.098 146.825.475 1996 123.082.167 33.997.406 157.079.573 2000 137.697.439 31.847.004 169.544.443 2010 160.925.792 29.830.007 190.755.799

FONTE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010.

Entretanto, São João del-Rei apresentava uma população predominante

urbana desde o final do século XIX, diferentemente do panorama brasileiro que

começou a mudar a partir da década de 1970 (tabela 4).

Page 100: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

96

Tabela 4 - População urbana e Rural de São João del-Rei e do Brasil.

ANO ***SÃO JOÃO DEL- REI **BRASIL URBANA RURAL TOTAL URBANA RURAL TOTAL

1877*** 8.110 2.701 10.811 1950 29.606 21.015 50.621 18.775.779 33.008.546 51.784.325 1960 39.229 19.061 58.290 31.958.408 38.652.886 70.584.277 1970 47.138 8.092 55.230 52.084.984 41.054.043 93.139.037 1980 56.325 8.328 64.693 80.443.928 38.568.777 119.002.706 1991 66.700 6.047 72.747 110.985.376 35.840.098 146.825.475 1996 69.241 5.940 75.181 123.082.167 33.997.406 157.079.573 2000 73.785 4.831 78.616 137.697.439 31.847.004 169.544.443 2010 79.857 4.612 84.469 160.925.792 29.830.007 190.755.799

Fonte: ** Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2010. *** Anuário Estatístico UFSJ/DCECO, 2014.

O predomínio da população urbana em São João del-Rei no final do

século XIX pode ser justificado pelo equilíbrio dos setores econômicos do

município durante seu processo histórico de desenvolvimento, já que o setor

primário era estimulado pela demanda gerada pela industrialização e

urbanização, a indústria tinha maior peso na economia local e o setor terciário

possuía certo grau de dinamismo, embora seu desenvolvimento estivesse

vinculado ao setor industrial.

Desse modo, o aumento da população urbana brasileira está

relacionado ao processo de industrialização e a constituição de um mercado

nacional que expandiu o consumo impulsionando as relações e ativando a

urbanização. Consequentemente envolveu todo o país acelerando a

urbanização das médias e, principalmente das grandes cidades, que são as

primeiras a receber estas indústrias constituindo grandes aglomerados

metropolitanos.

Entretanto, bem antes da consolidação da urbanização brasileira a partir

da década de 1950, a região mineradora de Minas Gerais vivenciou um

processo embrionário de urbanização durante o século XVIII. Diversas vilas

surgiram devido à concentração de pessoas vinculadas a atividades

mineradoras, que consequentemente deram origem a varias cidades (mapa

12), que hoje são conhecidas como as cidades históricas por terem em sua

arquitetura traços da época de sua construção.

Page 101: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

97

Mapa 12- População total dos termos das vilas mineiras no início do século 1808. Fonte: Fonseca, (2012, p. 102) Segundo Matos,

(...) perto da metade do século XVIII, Minas contava com a maior população e o maior número de assentamentos densos da Colônia. As atuais Ouro Preto, Mariana, Sabará, Serro, Diamantina, São João del-Rei, Tiradentes, Caeté, Pitangui abrigavam sobrados, palácios, igrejas e chafarizes, obras de arte, mas também cadeias e câmaras, vendas, albergues, prostíbulos e casebres. Violência e conflitos de toda ordem, marcas típicas de qualquer cidade dinâmica da época, somavam-se ao fato de que a mobilidade social era alta. Havia um número expressivo de brancos e mulatos livres e forros ao lado da “incessante” expansão da compra de escravos. “A mestiçagem, a variedade étnica e os interesses da Coroa tanto motivavam disputas e ressentimentos quanto propiciava a

Page 102: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

98

multiplicação de meios de sobrevivência, atividades e ofícios inauditos” (MATOS, 2011, p. 47).

Esse processo de urbanização constituiu uma “rede urbana colonial”,

através da Coroa que incentivava a criação de vilas para a instalação dos

Senados de Câmara para um maior controle do território e da produção

aurífera, ainda mais após a Guerra dos Emboabas, assim a povoação de Minas

Gerais, (...) se revela muito mais complexa e dinâmica na imbricada dialética entre urbano e sertão, na qual ganham importância outros núcleos, pela sua localização estratégica; outras atividades produtivas que não a mineração; os espaços produzidos na subversão da ordem vigente – os dos motins, dos quilombos, do contrabando – e, até, as práticas de gestão das questões cotidianas, que não podiam aguardar a intervenção de uma administração ou justiça muitas vezes geograficamente distante. E, nesse sentido, no complexo mundo colonial, onde ora as ações do Estado, da Igreja e de particulares confluíam em interesses comuns, ora se opunham em acirrados conflitos, seria reducionismo relacionar o fenômeno da urbanização em Minas apenas o papel de alguns pólos mais destacados. Exige, ao contrário, considerar uma série de articulações expressas na organização dos espaços macro e microrregionais e nas relações de dependência, hierarquia, função e especialização de seus assentamentos humanos e que conformam um sistema integrado de maior amplitude que é a rede urbana (MORAES, 2005, p.38)

Essas articulações foram importantes para desenvolvimento urbano dos

arraiais e vilas mineiras, e para a consolidação das rotas comerciais, que se

constituíam em decorrência da mineração, na configuração da sua rede urbana

e no desenvolvimento de Minas Gerais após o declínio da atividade

mineradora.

Desse modo, aponta Moraes,

(...) se o influxo da atividade mineradora implicou numa tendência à ruralização, ela não viria a comprometer o vigor da rede urbana constituída até então e em franca expansão (...). A historiografia mais contemporânea, sobre tudo a partir de pesquisas empíricas com fontes primárias se quantificação de da dos, tem apontado que tal crise não chegou a representar o declínio das atividades econômicas da Capitania de Minas

Page 103: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

99

Gerais, mas estimulou transformações nessas atividades, que se voltaram cada vez mais para o desenvolvimento da produção interna (2005, p.108-166)

Nesse contexto se insere São João del-Rei, que no final do século XVIII

se consolidou como o principal centro de abastecimento de gêneros

agropastoril da Capitania de Minas Gerais, provocando o deslocamento do eixo

econômico da capitania para a região da Comarca do Rio das Mortes, a qual

São João del-Rei era sede.

Segundo Graça Filho (2002, p.36) a Comarca do Rio das Mortes “era a

mais vistosa, e mais abundante de toda a Capitania em produção de grão,

hortaliças e frutos ordinários do país, de forma que além da própria

sustentação, provê toda capitania de queijo, gado, etc.”

Com o declínio econômico da mineração, São João del-Rei e os termos

que faziam parte da Comarca do Rio das Mortes absorveram a mão-de-obra

escrava excedente das áreas mineradoras, principalmente da Comarca de Vila

Rica que declinara demograficamente com a estagnação da atividade

mineradora. Por outro lado a Comarca do Rio das Mortes apresentou o maior

crescimento demográfico da capitania, abrigando no início do século XIX mais

de 40% da população de toda Capitania (Tabela 5).

Tabela 5 - População das Comarcas de Minas Gerais durante os Séc. XVIII e XIX.

COMARCA POPULAÇÃO 1776 % 1808 % c.1820 %

Vila Rica 78.618 23,00 72.286 16,69 71.796 13,02 Sabará 99.576 29,13 135.920 31,39 142.840 25,91

Serro Frio 80.894 23,66 69.974 16,16 99.919 18,12

Rio das Mortes 82.781 24,21 154.869 35,76 236.819 42,95

Total 341.869 100,0 433.049 100,0 551.374 100,0 Fonte: Laboratório de Conservação e Pesquisa Documental da Universidade Federal de São João del-Rei (LABDOC – UFSJ).

São João del-Rei firmou-se como principal cidade e entreposto comercial

de Minas Gerais no decorrer do século XIX, e demonstrando considerável

crescimento populacional e um modo de vida diferenciado em relação ao

campo, onde podemos verificar uma divisão do trabalho, na qual a cidade

Page 104: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

100

funciona como centro político-administrativo que organizava e dominava o

campo que, por outro lado, cumpria um papel importante como fornecedor dos

produtos que eram consumidos no município e região, e o excedente

comercializado com outras cidades fora da região.

Como destaca Graça Filho (2002), a solidez da atividade comercial e

agropecuária garantiu à cidade a possibilidade de superar as dificuldades

econômicas decorrentes do declínio do ciclo do ouro. São João del-Rei, sede

da Comarca do Rio das Mortes, firmou-se ao longo do século XIX como um

importante polo de influência política e econômica de Minas Gerais.

Tal dinamismo foi fomentado pela sua posição de centro administrativo,

comercial atacadista e financeiro. Dada a proximidade com o Rio de Janeiro,

São João del-Rei desempenhou um importante papel como entreposto

comercial, especializado na apropriação do excedente de gêneros alimentícios

e têxteis produzidos na região circunvizinha e escoados para a capital federal.

São João del-Rei vivenciou um significativo processo de industrialização

que se prolongou até a passagem da década de 1950 à de 1960, e se

assentava em “setores tradicionais”, ligados às atividades de fiação, produção

de têxteis, móveis, bebidas, calçados, artefatos de couro, laticínios, sabão etc.

(GAIO SOBRINHO, 1997).

O desenvolvimento industrial de São João del-Rei nas primeiras

décadas do século XX refletiu a importância do município na rede urbana

mineira na década de 1940 (mapa 13), consolidada por uma sociedade

urbana/industrial encabeçada pela burguesia industrial emergente e

acompanhada pelo operariado têxtil e ferroviário, e, também por uma classe

média urbana escolarizada (PEREIRA, 2009).

Page 105: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

101

Mapa 13 - Cidades com população urbana superior população rural (1940-2010). Fonte: Costa (2015, p. 166).

No entanto, a nova política de ordenação do espaço urbano são-

joanense decorre em função dessa sociedade urbana/industrial, onde a

segregação espacial e sua materialização em termos habitacionais revelando

um processo de estruturação de classes para a cidade em seu processo de

inserção na produção capitalista do espaço. Os resultados futuros seriam a

periferização dos mais pobres e reserva das áreas centrais e pericentrais aos

mais ricos.

São João del-Rei consolidava uma estrutura demográfica urbana

diferentemente da maioria dos municípios brasileiros que tinha uma população

predominantemente rural.

Page 106: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

102

Segundo Pereira (2009), em 1940 a cidade era o como quinto maior

centro industrial do Estado27, em consequência do desenvolvimento industrial

são-joanense. E o fato de São João del-Rei ser um dos principais centros

industriais de Minas Gerais, evidencia a primazia do setor industrial sobre o

agropecuário (mapa 14 e 15).

Mapa 14 - Municípios-destaque em Minas Gerais em 1940 segundo a relação entre o setor primário e secundário do Produto Interno Bruto Fonte: Costa (2015, p. 179)

27São João del-Rei apresentava uma produção anual de Cr$ 60.000.000,00, atrás apenas de Belo Horizonte Cr$ 147.000.000,00, Sabará Cr$ 131.000.000,00, Nova Lima Cr$ 110.000.000,00 e Juiz de Fora Cr$ 106.000.000,00. (PEREIRA, 2009, p.37)

Page 107: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

103

Mapa 15 - Municípios-destaque em Minas Gerais em 2010 segundo a relação entre o setor primário e secundário do Produto Interno Bruto Fonte: Costa (2015, p. 179)

Porém, na segunda metade do século XX, com a ascensão de novos

centros urbanos regionais e industriais (principalmente Belo Horizonte, Juiz de

Fora e Uberlândia), e a substituição da matriz de transporte ferroviário pelo

rodoviário, a partir do Governo de JK, São João del-Rei reduz gradativamente

seu papel de destaque na rede urbana mineira.

No entanto, São João del-Rei segundo Pereira (2009), a partir da

década de 1940 começa a se especializar no setor de prestação de serviços,

principalmente, nos setores de saúde e educação. Esta ação se deu com a

abertura de diversos estabelecimentos de ensino – Instituto Padre Machado

(1940), Colégio São João (1940), Grupo Escolar Maria Teresa (ampliado em

Page 108: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

104

1946), Instituto de Filosofia e Pedagogia da Faculdade Dom Bosco (1948), um

dos núcleos que viria a constituir a UFSJ – e de saúde – ampliação da Santa

Casa de Misericórdia (1943), criação do Asilo São Francisco, do Hospital das

Mercês (1943) e do Centro Regional de Saúde (1952).

Assim, paulatinamente, o setor terciário começa a se sobrepor ao setor

secundário, e nas últimas décadas do século XX o setor industrial deixa de ser

o principal empregador, enquanto que os setores de comércio e serviços

apresentam uma expansão sustentável.

A economia do município atualmente concentra-se na prestação de

serviços, a indústria tem uma participação secundária e menos expressiva,

seguida pela agropecuária (gráfico 1). Esse processo é potencializado em

2002, com a implantação da Universidade Federal de São João del-Rei (COTA;

DIÓRIO, 2012).

Gráfico 1 – Setores x PIB de São João del-Rei.

Fonte: Banco de dados Regic 2007 (IBGE, 2008).

R$ 28.597.827,00

R$ 145.191.756,00

R$ 512.365.630,00

SÃO JOÃO DEL-REI/MGPIB TOTAL: 600.106.145,00 (2008)

AGRO- PECUÁRIO INDUSTRIAL SERVIÇOS

Page 109: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

105

3.2.1. A Inserção de São João del-Rei na Rede Urbana Mineira. A configuração da rede urbana mineira historicamente esteve vinculada

aos acontecimentos econômicos e políticos na escala estadual e nacional.

Nesse contexto São João del-Rei apresenta uma série de singularidades em

relação à sua posição na rede urbana mineira no decorrer da sua formação

socioespacial, passando de centro polarizador de área de influência para

centro polarizado.

Para Leite e Soares (2003) o estudo de uma rede urbana deve

contemplar uma determinada região e as cidades ali localizadas; o papel

econômico que poderá ter sido influenciado pelo processo histórico; como

essas cidades estão inseridas neste espaço e o papel que as mesmas

desempenham. Nesse contexto, incorpora-se ao estudo de rede urbana, a

hierarquia das cidades.

Já para França e Almeida (2015) a análise referente às redes urbanas

explica,

[...] a relação de interdependência entre diversos tipos de cidades, as funções que as mesmas desempenham, configurando as redes urbanas tanto em escalas globais como nacionais ou regionais. Assim, uma rede urbana, quando constituída, reflete a expansão e oferta de produtos, serviços e bens além de a forma de ocupação e apropriação dos espaços intra e inter-urbanos. (2015, p.234)

Um dos principais elementos de análise das cidades médias refere-se à

centralidade que ela exerce na rede urbana em que está inserida. Assim, como

outras cidades, São João del-Rei faz parte de uma rede urbana, que configura

polos estratégicos do espaço regional de acumulação contendo em suas

formas e conteúdos as contradições inerentes aos diferentes estágios da

acumulação capitalista.

Brandão (2007) destaca que a polarização implica em hierarquias, e é

determinada pela “natureza desigual e combinada do processo de

desenvolvimento” (2007, p.81). Assim o desenvolvimento das forças produtivas

gera polaridades, ‘campos de forças’ desigualmente distribuídos no espaço,

Page 110: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

106

centralidades, estruturas de dominação fundadas na assimetria e na

irreversibilidade.

O autor reforça que o capitalismo (re) desenha “novas geografias”

produzindo novas escalas, novos pontos nodais, rearranjando as forças da

polarização, da heterogeneidade e da dominação regionais,

muda o padrão de articulação da diversidade regional. Mudam os núcleos dinâmicos de comando que exercem diferentes espécies de atratividade e dominação e geram estratégicos pontos, eixos e nós de maior ou menor potencia reprodutiva e capacidade de apropriação. [...] as relações entre as regiões dominantes e as regiões subordinadas tem-se transformado rapidamente, na medida em que o sistema capitalista aperfeiçoou uma série de instrumentos técnicos organizacionais, etc. que lhe permitiu avançar em sua seletividade geográfica (BRANDÃO, 2007, p. 82).

Desse modo, São João del-Rei tem um importante papel como polo

microrregional e centro regional na mesorregião do Campo das Vertentes, por

ser um dos principais eixos articulador de fluxos e fixos, exercendo uma

influência hierárquica nas relações socioeconômicas com as diversas cidades

que compõe a micro e a mesorregião que o município está inserido.

Sposito (2007, p.7) reforça “a importância de uma cidade média tem

relação direta com a área de influência, ou seja, a área a partir da qual alguém

está disposto a se deslocar até uma cidade média para nela ter acesso ao

consumo de bens e serviços”.

Hoje são muitos os estudos e as instituições que se preocuparam com a

(re) estruturação das redes de urbanas e a importância do papel que as

cidades médias desempenham na sua (re) organização e no desenvolvimento

socioeconômico municipal, regional e nacional. Os pesquisadores de cidades

médias adotam vários critérios para a sua análise, tais como: tamanho

populacional, grau de urbanização, características funcionais, centralidade,

qualidade de vida urbana, relevância regional, posição estratégica e

desempenho econômico.

Page 111: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

107

Dentre os mais importantes destacamos o Projeto Regiões de Influência

das Cidades – REGIC (2007), publicado pelo IBGE em 2008, que classificam

as cidades em cinco grandes níveis de hierarquia:

(1) METRÓPOLES – são os 12 principais centros urbanos do país, que se caracterizam por seu grande porte e por fortes relacionamentos entre si, além de, em geral, possuírem extensa área de influência direta. Esse nível foi dividido em três subníveis, segundo a extensão territorial e a intensidade destas relações: 1.a – Grande metrópole nacional – São Paulo; 1.b Metrópole nacional – Rio de Janeiro e Brasília; e 1.c - Metrópole – Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Curitiba, Goiânia e Porto Alegre. (2) CAPITAL REGIONAL – integram este nível 70 centros que, como as metrópoles, também se relacionam com o estrato superior da rede urbana. (3) CENTRO SUB-REGIONAL – integram este nível 169 centros com atividades de gestão menos complexas, dominantemente entre os níveis 4 e 5 da gestão territorial; têm área de atuação mais reduzida, e seus relacionamentos com centros externos à sua própria rede dão-se, em geral, apenas com as três metrópoles nacionais. (4) CENTRO DE ZONA – nível formado por 556 cidades de menor porte e com atuação restrita à sua área imediata; exercem funções de gestão elementares. (5) CENTRO LOCAL – as demais 4.473 cidades cuja centralidade e atuação não extrapolam os limites do seu município, servindo apenas aos seus habitantes, têm população predominantemente inferior a 10 mil habitantes (mediana de 8.133 habitantes). (REGIC 2007)

As cidades são classificadas por nível de centralidade em quesitos

como: gestão federal; gestão empresarial; comércios e serviços; instituições

financeiras; ensino superior; saúde; internet; redes de televisão aberta e

conexões aéreas. São João del-Rei é classificado como um centro sub-regional

B28, que possui uma área de influência reduzida, e seus relacionamentos com

centros externos à sua própria rede dão-se, em geral, com Belo Horizonte, São

28 De acordo com o IBGE (2008), os centros sub-regionais integram 169 centros com atividades de gestão menos complexas, dominantemente entre os níveis 4 e 5 da gestão territorial; têm área de atuação mais reduzida, e seus relacionamentos com centros externos à sua própria rede dão-se, em geral, apenas com as três metrópoles nacionais. Com presença mais adensada nas áreas de maior ocupação do Nordeste e do Centro-Sul e mais esparsa nos espaços menos povoados das regiões Norte e Centro-Oeste, estão também subdivididos em dois grupos: Centro sub-regional A – constituído por 85 cidades, com medianas de 95 mil habitantes e 112 relacionamentos, e Centro sub-regional B – constituído por 79 cidades, com medianas de 71 mil habitantes e 71 relacionamentos.

Page 112: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

108

Paulo e Rio de Janeiro, que segundo o REGIC são considerados metrópole,

grande metrópole nacional e metrópole nacional, respectivamente.

Conforme o REGIC, São João del-Rei está na área de influência de Belo

Horizonte e integra a rede urbana da capital mineira. Sua área de influência

(mapa 16), definida pelo IBGE (2008), envolve um total de 13 municípios,

concentrando aproximadamente 200 mil habitantes (tabela 6), conforme divisão

político-administrativa de 2007: São Vicente de Minas, Nazareno, Conceição da

Barra de Minas, Madre de Deus de Minas, Piedade do Rio Grande, Prados,

Coronel Xavier Chaves, Ritápolis, São Tiago, Tiradentes, Resende Costa,

Lagoa Dourada e Santa Cruz de Minas (LOBO e OLIVEIRA, 2011).

Mapa 16 – Região de influência de São João del-Rei.

As numerações dos municípios são: Santa Cruz de Minas (1), Tiradentes (2), Prados (3), Coronel Xavier Chaves (4), Lagoa Dourada (5), Resende Costa (6), Ritápolis (7), São Tiago (8), Conceição da Barra de Minas (9), Nazareno (10), São Vicente de Minas (11), Madre de Deus de Minas (12) e Piedade do Rio Grande (13).

Fonte: Adaptado do IBGE 2008. Elaboração Cartográfica: Lobo e OLIVEIRA (2011, p. 158).

Page 113: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

109

Tabela 6 – População dos municípios da região de influência de São João del-Rei (REGIC/IBGE).

MUNICÍPIO 1996 2000 2011 Conceição da Barra de Minas 4.030 4.021 3.949

Coronel Xavier Chaves 3.156 3.185 3.310 Lagoa Dourada 10.862 11.486 12.316

Madre de Deus de Minas 4.316 4.734 4.918 Nazareno 7.194 7.240 8.009

Piedade do Rio Grande 4.950 5.063 4.682 Prados 7.520 7.703 8.444

Resende Costa 9.783 10.336 10.958 Ritápolis 5.625 5.423 4.887

Santa Cruz de Minas xxx 7.042 7.929 São Tiago 9.777 10.245 10.561

São Vicente de Minas 5.770 6.163 7.042 Tiradentes 11.695 5.759 7.054

População dos municípios da Região de Influência de São João del-Rei

84.678 88.400 94.059

São João del-Rei 75.181 78.616 84.919 TOTAL 156.703 163.831 178.978

FONTE: Censos Demográficos 2000 e 2011 e Contagem Populacional de 1996 (IBGE).

O REGIC hierarquizou os centros urbanos e as suas regiões de

influência, fornecendo uma visão regional por meio de fluxos diversos,

articulados por sua rede urbana. Porém, assim como o IBGE estabelece que

para uma cidade seja considerada média ela deve ter em torno de 100.000

habitantes, utilizando o limiar demográfico mínimo para hierarquizar as cidades

quanto ao seu nível na rede urbana, que comandam a direção dos fluxos

materiais e imateriais que moldam o espaço geográfico e determinam as

vinculações e o arranjo regional.

Porém, utilizaremos a classificação proposta por Amorim Filho e Abreu

(1982), que desenvolveram um estudo sobre a Hierarquia das Cidades Médias

em Minas Gerais. A partir de 25 variáveis, definiu-se 4 níveis para as cidades

médias mineiras: Grandes Centros Emergentes (Nível 1), Cidades Médias de

Nível Superior (Nível 2), Cidades Médias Propriamente Dita (Nível 3) e Centros

Urbanos Emergentes (Nível 4). Nessa classificação São João del-Rei é

considerada uma cidade propriamente dita.

Nesse trabalho, Amorim Filho (1982) não inclui por razões teóricas a

cidade de Belo Horizonte e sua região metropolitana, por modificarem o

ambiente em que as cidades médias se desenvolvem; e as pequenas cidades,

Page 114: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

110

a maioria das sedes municipais em Minas, e que não têm como preencher os

requisitos necessários à implantação de parques tecnológicos.

Os estudos de Amorim Filho acerca do tema condizem com a realidade

mineira e levam em consideração as funções características das cidades

médias que podem ser exercidas por cidades com número inferior de

habitantes, considerando-se a posição geográfica e as condições

socioeconômicas da região em que se situam as referidas cidades (AMORIM

FILHO; TAITSON BUENO; ABREU, 1982). E explica a classificação de São

João del-Rei como uma cidade média propriamente dita desde a primeira

classificação em 1982

(...) as cidades incluídas no grupo das médias (propriamente ditas) são caracterizadas por certos aspectos bem peculiares. De um lado, tendo em vista seu nível atual de desenvolvimento econômico, sua posição geográfica sempre nos eixos ou entroncamentos principais das vias de comunicação, essas cidades mantêm relações importantes com centros maiores (...). De outro lado, essas cidades médias continuam a manter relações intensas, constantes e diretas com as cidades menores e com o espaço microrregional a elas ligado. É essa função de ligação entre o espaço rural e as pequenas cidades microrregionais, de uma parte, e os centros urbanos mais importantes, de outra, que constitui a própria essência dessa noção de cidade média, tão bem identificada nesse grupo de cidades [...] (AMORIM FILHO; TAITSON BUENO; ABREU, 1982, p. 43).

Para a classificação de 1982 (quadro 5), foram selecionadas 102

cidades e selecionadas 25 variáveis referindo-se aos seguintes parâmetros:

crescimento da população urbana; migrações; distribuição setorial da

população ativa; arrecadação municipal; equipamentos e relações dos setores

comerciais e de serviços; equipamentos e relações do setor industrial;

infraestrutura de comunicação em geral; posição da cidade considerada na

rede urbana regional (AMORIM FILHO; RIGOTTI; CAMPOS, 2007).

Page 115: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

111

Quadro 5 - Classificação das Cidades Médias – 1982.

CIDADES MÉDIAS DE MINAS GERAIS, 1982

Nível 1 Grandes Centros Regionais: Juiz de Fora

Nível 2 Cidades Médias de Nível Superior: Uberlândia, Uberaba, Barbacena, Varginha, Poços de Caldas, Itajubá, Pouso Alegre, Governador Valadares, Sete Lagoas, Montes Claros, Divinópolis, São Lourenço e Caxambu.

Nível 3

Cidades Médias Propriamente Ditas: Teófilo Otoni, Patos de Minas, ltuiutaba, Caratinga, Araguari, Passos, São João del-Rei, Formiga, Curvelo, Diamantina, Ubá, Araxá, Machado, Viçosa, Carangola, Itabira, Ponte Nova, Lavras, Alfenas, São Sebastião do Paraíso, Oliveira, Conselheiro Lafaiete, Três Corações, ltaúna, Leopoldina, Ouro Preto, Ouro Fino, Santa Rita do Sapucaí, Guaxupé, João Monlevade, Além Paraíba, Coronel Fabriciano, Pará de Minas, Cataguases, Ipatinga, Congonhas, Santos Dumont, Visconde do Rio Branco, Boa Esperança, Muriaé, São João Nepomuceno, Campo Belo, Nanuque.

Nível 4

Centros Emergentes: Patrocínio, Bom Despacho, Pirapora, Timóteo, Frutal, Tupaciguara, Manhuaçu, Sacramento, Manhumirim, Três Pontas, Arcos, Dores do Indaiá, São Gonçalo do Sapucaí, Itabirito, Nova Era, Bambuí, Janaúba, Monte Carmelo, Carmo do Paranaíba, Pium-í, Abaeté, Ibiá, Lagoa da Prata, Mantena, Corinto, Pedra Azul, São Gotardo, Santa Bárbara, Itapecerica, Resplendor, Raul Soares, Paracatu, Unaí, João Pinheiro, Itambacuri, Aimorés, Carlos Chagas, Januária, Bocaiúva, Conselheiro Pena, Araçuaí, Almenara, Salinas, Jequitinhonha, Mariana.

Fonte: Organizado por Amorim Filho, Bueno e Abreu (1982).

Para a classificação de 1999 (quadro 6), foram adotados todos os

critérios utilizados na ultima classificação e acrescido entre as variáveis as

iniciativas de algumas cidades médias no campo das tecnologias de ponta e a

qualidade de vida urbana, inclusive o IDH.

Page 116: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

112

Quadro 6 - Classificação das Cidades Médias – 1999.

CIDADES MÉDIAS DE MINAS GERAIS, 1999 Nível 1

Grandes Centros Regionais: Juiz de Fora, Uberlândia

Nível 2 Cidades Médias de Nível Superior: Alfenas, Araguari, Barbacena, Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga (aglomeração), Itajubá, Ituiutaba, Lavras, Montes Claros, Passos, Patos de Minas, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Sete Lagoas, Uberaba, Varginha

Nível 3

Cidades Médias Propriamente Ditas: Araxá, Caratinga, Cataguases, Conselheiro Lafaiete, Curvelo, Formiga, Frutal, Guaxupé, Itabira, Itaúna, João Monlevade, Leopoldina, Muriaé, Ouro Preto, Paracatu, Pará de Minas, Patrocínio, Santa Rita do Sapucaí, São João del-Rei, São Lourenço, São Sebastião do Paraíso, Três Corações, Teófilo Otoni, Ubá, Viçosa

Nível 4

Centros Emergentes: Abaeté, Aimorés, Além Paraíba, Almenara, Andradas, Araçuaí, Arcos, Bambuí, Barão de Cocais, Boa Esperança, Bocaiúva, Bom Despacho, Campo Belo, Carangola, Carlos Chagas, Carmo do Paranaíba, Caxambu, Congonhas, Conselheiro Pena, Corinto, Diamantina, Dores do Indaiá, Ibiá, Itabirito, Itambacuri, Itapecerica, Janaúba, Iturama, Januária, Jequitinhonha, João Pinheiro, Lagoa da Prata, Machado, Manhuaçu, Manhumirim, Mantena, Mariana, Monte Carmelo, Nanuque, Nova Era, Nova Serrana, Oliveira, Ouro Branco, Ouro Fino, Pedra Azul, Pirapora, Pium-í, Raul Soares, Resplendor, Sacramento, Salinas, Santa Bárbara, Santos Dumont, São Gonçalo do Sapucaí, São Gotardo, Três Pontas, Tupaciguara, Unaí, Visconde do Rio Branco

Fonte: Amorim Filho e Abreu (1999).

Para a classificação de 2006 (quadro 7), houve uma mudança no liminar

demográfico inferior das cidades em relação a 1982, passando de 10.000

habitantes urbanos na sede municipal em 1982, para 14.000, em 2006. Para

Amorim Filho, Rigotti e Campos (2005, p.15) após constatação em campo de

algumas cidades, com esse limiar demográfico já começam, em certas regiões,

a desenvolver, pelo menos parcialmente, equipamentos e funções próprios de

cidades médias.

Page 117: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

113

Quadro 7 – Classificação das cidades médias – 2006.

CIDADES MÉDIAS DE MINAS GERAIS, 2006 Nível 1

Grandes Centros Regionais: Juiz de Fora, Uberlândia

Nível 2

Cidades Médias de Nível Superior: Araguari, Araxá, Barbacena, Conselheiro Lafaiete, Divinópolis, Governador Valadares, Ipatinga, Itabira, Montes Claros, Muriaé, Passos, Patos de Minas, Poços de Caldas, Pouso Alegre, Sete Lagoas, Teófilo Otoni, Uberaba, Varginha.

Nível 3

Cidades Médias Propriamente Ditas: Alfenas, Caratinga, Cataguases, Coronel Fabriciano, Curvelo, Formiga, Itajubá, Itaúna, Ituiutaba, João Monlevade, Lavras, Manhuaçu, Mariana, Ouro Preto, Pará de Minas, Paracatu, Patrocínio, Ponte Nova, São João del-Rei, São Sebastião do Paraíso, Timóteo, Três Corações, Ubá, Unaí, Viçosa.

Nível 4

Centros Emergentes: Abaeté, Além Paraíba, Almenara, Andradas, Araçuaí, Arcos, Bambuí, Barão de Cocais, Barroso, Belo Oriente, Boa Esperança, Bocaiúva, Bom Despacho, Brasília de Minas, Buritizeiro, Cambuí, Campo Belo, Campos Gerais, Capelinha, Carangola, Carmo do Paranaíba, Caxambu, Cláudio, Congonhas, Corinto, Coromandel, Diamantina, Elói Mendes, Espinosa, Frutal, Guanhães, Guaranésia, Guaxupé, Ibiá, Itabirito, Itamarandiba, Itaobim, Iturama, Janaúba, Januária, Jequitinhonha, João Pinheiro, Lagoa da Prata, Leopoldina, Luz, Machado, Manhumirim, Mantena, Monte Carmelo, Monte Santo de Minas, Nanuque, Nepomuceno, Nova Era, Nova Serrana, Oliveira, Ouro Branco, Ouro Fino, Paraguaçu, Paraopeba, Pedra Azul, Perdões, Pirapora, Pitangui, Pium-í, Pompeu, Porteirinha, Prata, Sacramento, Salinas, Santa Bárbara, Santa Rita do Sapucaí, Santana do Paraíso, Santo Antônio do Monte, Santos Dumont, São Francisco, São Gonçalo do Sapucaí, São Gotardo, São João Nepomuceno, São Lourenço, Taiobeiras, Três Marias, Três Pontas, Tupaciguara, Várzea da Palma, Vazante, Visconde do Rio Branco.

Fonte: Organizado por Amorim Filho, Rigotti e Campos (2005).

As hierarquizações propostas para as cidades médias mineiras

demonstram a importância do papel dessas cidades dentro da rede urbana

mineira, já que elas se consolidam como subsistemas urbanos regionais entre

a saturada região metropolitana e a metrópole Belo Horizonte e uma profusão

de pequenos centros urbanos subequipados e espalhados pela vasta extensão

do Estado.

Nessa classificação São João del-Rei é considerada uma cidade média

propriamente dita de terceiro nível, ou seja, refere-se às cidades espalhadas

em várias regiões de Minas Gerais, principalmente naquelas onde as redes

urbanas estão mais hierarquizadas e são mais eficientes e equilibradas. Elas

se destacam pelo papel funcional que desempenham no seu contexto regional,

fazendo a indispensável conexão entre os níveis urbanos de hierarquia

superiores e as pequenas cidades.

Page 118: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

114

Isso corrobora para que São João del-Rei se destaque dentro da rede

urbana mineira (quadro 8) como um centro regional em um nível hierárquico

pela sua importância de caráter regional dentro da microrregião de São João

del-Rei, com aproximadamente 200 mil habitantes, e na mesorregião do

Campo das Vertentes, constituído de pequenas cidades com

complementaridade funcional, que dividem funções polarizadas e se articulam

com alguma contiguidade ao longo de eixos viários formando um conjunto de

cidades articuladas.

Sua região de influência está equilibrada pelas cidades de Barbacena e

Lavras, que juntamente com São João del-Rei são as três cidades centrais da

mesorregião do Campo das Vertentes, e apresentam níveis hierárquicos e

tamanhos demográficos similares.

Quadro 8 – Redes urbanas em Minas Gerais – Zonas de Influência de Belo Horizonte. Centro de

Macrorregião

Centros de Regiões

Centros de Microrregiões (N.° de municípios subordinados)

Belo Horizonte

Belo Horizonte

Belo Horizonte (44), Campo Belo (6), Conselheiro

Lafaiete (19), Curvelo (12), Diamantina (13), Itabira (7),

Guanhães (Centro de Apoio, 13), João Monlevade (10), Lavras (11), Manhuaçu (19), Oliveira (7), Pará de

Minas (8), Patos de Minas (13), Ponte Nova (15), Sete Lagoas (16), Vale do Aço (12), Viçosa (11)

Barbacena Barbacena (18), São João del-Rei (13)

Divinópolis

Abaeté (Centro de Apoio, 6), Divinópolis (22), Formiga

(14)

Governador

Valadares

Aimorés (Centro de Apoio, também subordinado por

Colatina - ES, 2), Caratinga (5), Governador Valadares

(32)

Montes Claros

Janaúba (Centro de Apoio, 8), Montes Claros (26),

Pirapora (9)

Teófilo Otoni

Almenara (Centro de Apoio, 12), Araçuaí, (Centro de

Apoio, 6), Capelinha (Centro de Apoio, 10), Nanuque(3), Pedra Azul (Centro de Apoio, também

subordinado por Vitória da Conquista, 6), Teófilo Otoni

(22)

Fonte: Fundação João Pinheiro (1988).

Page 119: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

115

PARTE II 4. REGIONALIZAÇÃO: UMA ANÁLISE DA MICRORREGIÃO DE SÃO

JOÃO DEL-REI.

O município de São João del-Rei possui apenas 89.832 habitantes

(IBGE, 2016), no entanto, apresenta qualitativamente características de

cidades médias. Na perspectiva de uma leitura funcionalista, São João del-Rei

transformou-se em centro polarizador. Suas atividades se refuncionalizaram

promovendo outras redes para articular o território. Ainda nesta perspectiva,

São João del-Rei também é considerado centro sub-regional, conforme

abordamos no capitulo anteriores.

Em decorrência do seu processo histórico de formação socioespacial

São João del-Rei consolidou como uma das cidades polo da mesorregião o

Campo das Vertentes e sede da sua microrregião, constituindo uma identidade

regional no decorrer da sua história. Esta polarização, reafirmamos, produz a

hierarquização porque o processo de desenvolvimento capitalista se realiza de

forma desigual e combinada, em razão dos processos de modernização, os

quais por sua vez disfuncionalizam o território transformando o meio geográfico

pela adição de novos sistemas técnicos.

Esse processo efetuou-se através das interações espaciais que

promovem as redes de relações espaciais decorrente do contexto

socioeconômico que se entrelaçam e se dinamizam no território da região

supracitada, sobretudo, em escala regional e local no decorrer dos seus

trezentos anos de história.

No desenvolvimento deste capítulo abordamos as diferentes

perspectivas de análise da região e dos processos de regionalização, que nos

auxiliou a compreender como o processo de formação socioespacial de São

João del-Rei está relacionado com as dinâmicas regionais no território mineiro.

Na compreensão da formação regional da mesorregião do Campo das

Vertentes e da importância da constituição do município de São João del-Rei

como sede microrregional e centro urbano capaz de catalisar as forças

Page 120: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

116

econômicas, compondo um importante vetor atuante no desenvolvimento da

região utilizamos as diferentes regionalizações propostas para o Estado de

Minas Gerais por diversos autores como Wirth (1982), Saraiva (2008) e Godoy

(1996) e, por instituições como a Fundação João Pinheiro/Secretaria Estadual

de Planejamento e o IBGE.

4.1. Região e Regionalização: Formação Regional

Santos (1997, p. 45), afirma que “estudar uma região significa penetrar

num mar de relações, formas, funções, organizações, estruturas, etc. com seus

mais distintos níveis de contradição”.

Deste modo, apresentamos um breve debate conceitual que ocorre no

interior da geografia sobre a “Região”, na perspectiva dos diferentes enfoques

teóricos que sustentam o pensamento geográfico e, sobretudo, aquele que

entende a utilização do espaço regional como exercício de resistência e poder

em um mundo globalizado, pretensamente homogêneo e, que visa eliminar as

diferenças regionais.

Segundo Santos (1996, 196-197) "nenhum subespaço do planeta pode

escapar ao processo conjunto de globalização e fragmentação, isto é,

individualização e regionalização", portanto, é a partir da universalidade do

fenômeno da regionalização que se compreende as realidades regionais.

Na história do pensamento geográfico as discussões sobre o conceito de

região estiveram atreladas ao campo da Ciência Geográfica, desde região

natural e geográfica de denotação determinista e possibilista que constituíram

os paradigmas da Geografia Tradicional, passando pela Nova Geografia de

caráter quantitativo e estatístico, até a Geografia Crítica de inspiração marxista.

O Determinismo e o Possibilismo geográficos, do final do século XIX e

primeira metade do século XX, constituem os paradigmas da Geografia

Tradicional e estão voltados para a análise das relações Homem x Natureza.

Ratzel, precursor do determinismo geográfico, atribuía às desigualdades

regionais às condições geográficas, considerando o homem produto do meio:

Page 121: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

117

(...) para Ratzel, no estudo das relações homem-meio, explicar-se-iam as diferenciações culturais e econômicas ao longo da superfície da terra. Tal como os outros organismos vivos necessitavam se adaptar ao meio para poder sobreviver, também o homem necessitaria adaptar o seu modo de vida ao ambiente em que vivia (BEZZI, 2004, p.51).

Por outro lado, em reação ao determinismo surge na França o

possibilismo proposto por Vidal de La Blache. Segundo Corrêa, (1995, p. 27), o

possibilismo “é sem dúvida, uma região humana vista na forma de geografia

regional que se torna seu próprio objeto. A região considerada é concebida

como sendo, por excelência, a região geográfica”. A natureza era fornecedora

de possibilidades para que o homem a modificasse, um agente ativo que, ao

tomar conhecimento do ambiente físico que o cerca, é capaz de modificá-lo.

A Escola Francesa de Geografia exerceu grande influência no Brasil,

durante as décadas de 1930/40, através da presença pesquisadores e

professores franceses que aqui vieram estruturar a base universitária da

Geografia Brasileira, iniciando a fase das “monografias regionais brasileiras”

(BEZZI, 2004, p. 79).

A importância da participação da escola francesa na construção da

geografia brasileira está registrada na primeira divisão territorial do Brasil feita

pelo Conselho Nacional de Geografia em 1941. Através de proposições

possibilistas se estabeleceu a primeira divisão territorial do país para fins

práticos.

Porém, segundo Bezzi (2004, p. 104) “um conhecimento científico é o

resultado, em um determinado momento do tempo, da relação entre o estágio

de desenvolvimento teórico sobre o objeto e o grau de conhecimento sobre

esse objeto”. E nesse contexto a Geografia Tradicional não consegue mais

responder aos novos questionamentos teórico-metodológicos que se

colocavam para a região e exigiam a sua reformulação.

Com as mudanças paradigmáticas da segunda metade do século XX e

sob a dinâmica de uma nova fase de expansão capitalista, nova divisão social

e territorial do trabalho que constrói novas formas espaciais (rodovias,

ferrovias, cidades) alterando o arranjo espacial criado pelo homem, surge a

“Nova Geografia”, cujo objeto passa a ser a organização espacial.

Page 122: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

118

A Nova Geografia, também conhecida como Geografia Teorética ou

Geografia Quantitativa propõe um novo conceito de região a partir da aplicação

de modelos matemáticos, pautados na economia neoclássica. Voltada para

uma abordagem locacional, fundamentada no positivismo lógico, a Geografia

Teorética adquire um “status” científico disponibilizando ferramentas

amplamente utilizadas no planejamento regional. A região se apresenta na

perspectiva de duas abordagens fundamentais: região homogênea, formal ou

uniforme e região funcional, polarizada ou nodal.

A região homogênea é

“aquela cuja identidade sempre se relacionará com características físicas, econômicas, sociais, políticas, culturais, entre outras, em uma determinada área. Entretanto, para sua delimitação, era necessário que essa uniformidade seja contígua no espaço” (BEZZI, 2004, p. 136-137).

Um exemplo desse tipo de região consiste na divisão regional do Brasil

em Microrregiões Homogêneas, elaboradas pelo IBGE em 1968, e que foram

substituídas na década de 1990

Já a região funcional ou polarizada29,

necessita, essencialmente, de um polo (nó) que preside a teia de relações que dá substancia à região. Nessa perspectiva, a estruturação do espaço não é vista sob o caráter da uniformidade espacial, mas pelas múltiplas relações que circulam e dão forma a um espaço que é internamente diferenciado (BEZZI, 2004, p. 137).

Como exemplo da aplicabilidade de tal noção, destaca-se a divisão do

Brasil em Regiões Funcionais Urbanas, elaborada pelo IBGE em 1972. A partir

desta concepção foi desenvolvida a teoria dos “polos de desenvolvimento”,

largamente utilizada por diferentes esferas de governo, nos seus Planos de

Ação.

Brandão destaca que:

29 Bitoun (2013) destaca as Regiões polarizadas como regiões fundamentadas nas áreas de influência das atividades terciárias e secundárias situadas nas cidades que geram fluxos centrípetos e centrífugos e a partir destas, compõem uma rede urbana de polos hierarquizados.

Page 123: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

119

Analisar o alcance e a esfera de influência do pólo, detectar as interdependências das atividades e as decisões dos agentes econômicos, mapear a atuação de um arranjo de forças central, dos núcleos de mais alto nível e a repercussão em seus complementos periféricos, que são tributários, são tarefas-chave para estruturar o campo temático dos estudos regionais e urbanos (2007, p. 81).

As transformações ocorridas nas décadas de 1970/80, principalmente o

conflito ideológico entre EUA (capitalista) e URSS (socialista), geraram um

processo de críticas radicais que contribuíram para o florescimento da reflexão

marxista no Ocidente. Nesse contexto, o conceito de região toma novas

dimensões e geógrafos e não-geógrafos consideraram a necessidade de

repensá-lo sob a articulação dos modos de produção, das relações entre

classes sociais e da acumulação capitalista, dando a Geografia um caráter

mais social.

Geógrafos como David Harvey, por exemplo, criticavam duramente a

metodologia acrítica da Nova Geografia com seus modelos estatísticos sob o

paradigma da lógica positivista que não explicava as transformações

socioespaciais que estavam acontecendo no mundo. Assim, era necessário

buscar caminhos alternativos para explicar as contradições regionais

produzidas pelo capitalismo, portanto,

[...] as razões da ruptura com a Nova Geografia devem-se à concepção de que a Geografia deveria ser uma ciência preocupada com os problemas sociais e, por isso, deveria aprofundar as relações sociedade x natureza, tendo como objeto a realidade social (BEZZI, 2004, p. 179).

Nesse contexto surge a Geografia Crítica voltada para a análise dos

modos de produção e das formações socioeconômicas como base para a

explicação ou estruturação das distintas formações socioeconômicas espaciais

que devem ser analisadas e compreendidas para o melhor entendimento das

regiões (BEZZI, 2004, p. 180).

Page 124: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

120

Com fundamento no materialismo histórico-dialético, surgem várias

formulações conceituais referentes à região, que, de forma geral, enfatizam as

dimensões sociais, econômicas e políticas.

A construção do conceito de região tem um caráter polissêmico,

permitindo uma complexa rede de sentidos que são apropriados a diferentes

significados, em diversas áreas do conhecimento ou em diversas situações da

existência humana. O conceito de região adotado na construção deste capítulo

está voltado para a articulação entre a Geografia e a História com o objetivo de

estabelecer relações entre as diferentes regionalizações propostas por

instituições federais e estaduais para o espaço mineiro e, para mensurar a

importância da microrregião de São João del-Rei no estado.

4.2. O Processo Histórico de Formação Regional de Minas Gerais.

O Estado de Minas Gerais localiza-se na região sudeste do Brasil,

possui uma área de 588.344 km2, sendo o estado com o maior número de

municípios do país, somando 853. Devido à tamanha diversidade e a extensão

territorial o estado apresenta um desenvolvimento regional socioeconômico

heterogêneo, onde as diferenças entre as regiões mais desenvolvidas e menos

desenvolvidas são muito acentuadas, no que diz respeito à renda, acesso à

educação, saneamento básico, entre outros serviços.

Desse modo, as diferentes regionalizações formuladas para o Estado de

Minas Gerais foram estabelecidas para fins de planejamento e de ação das

instituições públicas federais e estaduais para diminuir as disparidades

socioeconômicas presentes na configuração do espaço mineiro e promover a

integração estadual, levando em consideração a formação histórica do espaço

econômico e social mineiro, no decorrer dos mais de trezentos anos de sua

história.

Essas regiões foram delimitadas por instituições provinciais, estaduais e

federais embasadas em um conjunto de políticas públicas elaboradas para

enfrentar problemas públicos, tais como as desigualdades econômicas, a oferta

de serviços públicos básicos para as populações, criação de oportunidade de

Page 125: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

121

emprego e renda, por intermédio da concessão de incentivos financeiros a

empresas privadas.

Atualmente as regionalizações adotadas por Minas Gerais são

produzidas pelo IBGE que trabalha com as regiões Fisiográficas, Funcionais,

Microrregiões e Mesorregiões; e pela Fundação João Pinheiro, que adota as

Regiões para Fins de Planejamento, regiões de Planejamento e

Administrativas.

4.2.1. As Comarcas de Minas Gerais.

O processo de formação e de regionalização do atual Estado de Minas

Gerais está historicamente vinculado às primeiras expedições de caça e

escravização de índios, e busca de metais preciosos no final do século XVII.

A descoberta e a exploração de metais preciosos possibilitaram a rápida

ocupação do estado nas primeiras décadas do século XVIII. Devido à

fragilidade no controle da região das minas de ouro, a Coroa Portuguesa criou

a Capitania de São Paulo e Minas do Ouro em 1709. Porém a autonomia

administrativa de Minas Gerais veio em 1720, com a diluição da Capitania de

São Paulo e Minas do Ouro e a criação da Capitania de São Paulo e a

Capitania de Minas Gerais pela Coroa Portuguesa, para um maior controle a

exploração de ouro no território das Minas.

Os limites da capitania de Minas Gerais eram pouco precisos, sendo que

confrontava ao sul com a capitania do Rio Grande, a leste com a do Rio de

Janeiro e do Espírito Santo, ao norte com a de Pernambuco e da Bahia e a

oeste com a de Goiás, apresentando uma ocupação praticamente concentrada

ao longo dos caminhos que levavam às minas de Ouro Preto e do Rio das

Velhas (mapa 17).

Page 126: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

122

Mapa 17 - Capitania de Minas Gerais no século XVIII. Fonte: Cunha (2002, p. 140).

A criação da nova capitania contribuiu para que várias vilas e arraiais

fossem criados, com destaque para Vila Rica (atual Ouro Preto), Vila de São

João del-Rey (atual São João del-Rei) e Vila de Nossa Senhora de Sabará

(atual Sabará), que posteriormente foram elevadas à categoria de cabeça de

Comarca de Vila Rica, do Rio das Mortes e do Rio das Velhas

respectivamente, que desencadeou o processo de urbanização de Minas

Gerais.

Page 127: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

123

As comarcas30 podem ser consideradas como a primeira divisão

territorial de Minas Gerais, pois eram regiões político-administrativas

organizadas e controladas pelas forças estatais, civis e eclesiásticas que

visava garantir a segurança das regiões mineradoras, pois:

já na primeira metade do século XVIII, Minas Gerais fazia parte de uma imensa e complexa realidade: o Império português, cujas partes interdependiam e se articulavam pelo comércio e pela política fiscal de D. João V – cujo reinado compreendeu o período de 1706 a 1750 –, voltada para o mercantilismo e a política exterior, era, também, uma extensão política da Santa Sé (CARVALHO. 2015, p.154).

A capitania de Minas Gerais tinha Vila Rica como capital e apresentava

várias vilas que se constituíam uma “rede urbana” e pilares da estrutura

colonial portuguesa no decorrer do século XVIII. As primeiras vilas criadas em

Minas Gerais formavam o núcleo urbano e minerador localizado na região

central da capitania, já as vilas criadas após a segunda metade do século XVIII

estavam distantes do núcleo minerador e sua economia era essencialmente

agrária e pastoril voltada para o abastecimento interno (mapa 18).

30 Cada comarca tinha sua divisão territorial específica, cujos limites marcavam a competência de um Juízo. Os cargos acumulados pelo Ouvidor da comarca nos dão a dimensão da complexidade que foi o Estado imperial português nas Minas Gerais setecentistas. O Magistrado que regia a comarca era nomeado pela Coroa portuguesa, tinha que ser natural de Portugal ou das Ilhas e formado em Cânones ou Leis pela Universidade de Coimbra. O magistrado regente da comarca assumia a obrigação por cinco anos, respondia pelo cargo de Ouvidor da Comarca e também por todos os outros serviços da magistratura, acumulando os cargos de Provedor de Defuntos e Ausentes, Corregedor da Comarca, Juiz dos Feitos da Coroa, Chanceler da Fazenda, Chanceler do Reino e Comandante da Intendência. (Cf. Códice Costa Matoso, Coleção Mineiriana, Documento 96, apud SOUZA, 2011).

Page 128: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

124

Mapa 18 - Vilas de Minas Gerais nos Séculos XVIII e XIX. Fonte: Floriano Peixoto de Paula. Vilas de Minas Gerais no Período Colonial. In RBEP, n. 19, julho de 1965, Belo Horizonte. Citado por Paula (1988: 59). Elaborado por Rodarte (1999, p. 15).

A Coroa Portuguesa inicialmente propôs dividir o território mineiro em

duas partes: “Minas da Nascente do Rio das Velhas” (Carmo e Ouro Preto) e

“Minas do Poente do Rio das Velhas” (Sabará e Caeté), com a finalidade de

regionalizar e facilitar a administração da Capitania. Porém, prevaleceu a

antiga divisão territorial e jurídica por comarcas.

Minas Gerais apresentou durante toda a metade do século XVIII vários

núcleos urbanos distribuídos por áreas desiguais em suas características

naturais, porém articulados e centralizados em torno da região mineradora,

onde localizava a maior parte da população da capitania.

Entretanto, no século XIX essa dinâmica muda em virtude da

estagnação da mineração e com o deslocamento do eixo econômico da

Page 129: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

125

capitania para a região da Comarca do Rio das Mortes em razão da fertilidade

de suas terras e de um mercado urbano em expansão resultante das atividades

agropastoril. Consequentemente as áreas como a Zona da Mata e o Sul de

Minas foram incorporadas ao espaço econômico e político da capitania.

4.2.2. As Regiões Econômicas de Minas Gerais no século XIX.

Minas Gerais manteve seus limites inalterados até os primeiros anos do

século XIX, mas com a criação da Comarca de Paracatu e a incorporação do

hoje denominado Triângulo Mineiro e demais territórios entre os rios, Grande e

Paranaíba, que constituiu os contornos característicos do seu mapa atual.

Com a independência do Brasil em 1822 teve o inicio ao período imperial

e aconteceram mudanças significativas na recém-criada Província de Minas

Gerais, que incorporou importantes faixas de terra ao seu território

correspondendo aos limites atuais do estado.

O período imperial é marcado pela expansão e inserções regionais na

estrutura do território mineiro, que proporcionou a (re) divisão das comarcas e a

criação de novas vilas, implicando em sucessivas divisões dos territórios

municipais. Esse processo ocorreu, principalmente, após o deslocamento do

eixo econômico para parte sul da capitania na região da Comarca do Rio das

Mortes e pelo início do período imperial.

A província de Minas Gerais, na segunda metade do século XIX

encontrava- se dividida em 47 comarcas, as comarcas em 83 municípios, e

estes em 426 freguesias com 574 distritos31, esboçando uma articulação entre

os municípios através da formação de uma rede urbana com suas relações

econômicas inter-regionais marcadas pelas especificidades de produção de

cada região:

Cada região [de Minas Gerais] tinha importantes setores voltados para a exportação: a extração de diamantes sustentava o Serro [Norte]; a produção de ouro ainda era significativa para as economias regionais em Ouro Preto e Rio

31 Dados segundo o Tratado de Geografia Descritiva Especial da Província de Minas Gerais – 1878.

Page 130: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

126

das Velhas [Centro]; a exportação de tabaco era decisiva em Rio Verde e Baependy [Sul]; as atividades agropastoris estavam bastante concentradas no sul; a indústria têxtil era encontrada em quase toda a província. Não obstante, cada uma dessas regiões também tinha setores que comercializavam uma quantidade desconhecida de produtos dentro de Minas Gerais. O café [Mata] era um setor cada vez mais importante na economia de exportação da província (especialmente depois de 1850), mas os níveis absolutos dos impostos da coletoria indicam padrões de desenvolvimento econômico semelhantes nos distritos do sudeste, sul e centro (...). (BERGAD, 2004, p. 105–106apud SARAIVA 2008, p. 59)

Autores como Wirth (1982), Saraiva (2008), Cunha (2002), Godoy

(1996), em seus estudos socioeconômicos sobre Minas Gerais durante o

século XIX, propõe modelos de regionalização para província mineira

diferentes do modelo jurídico de comarca utilizado durante o período colonial.

Esses autores levavam em consideração o processo histórico de ocupação, de

povoamento, de urbanização, de estrutura econômica e de construções

políticas do território mineiro.

Wirth (1982) divide o Estado de Minas em sete grandes regiões

econômicas – Norte, Sul, Leste, Oeste, Central, Mata e Triângulo –, tendo em

vista as discussões políticas para Minas Gerais no início do governo

republicano, distribuição produtiva e os processos de colonização, e

povoamento que ocorreram ao longo dos séculos XVIII e XIX. O autor propõe

que Minas Gerais formava um grande mosaico dotado de várias regiões sem

articulação econômica, mas interligadas por uma unidade político-

administrativa.

Saraiva (2008) classifica as regiões em três grupos (mapa 19): regiões

de identidades “estáveis”, “em formação” e “incompletas”. As regiões de

identidades “estáveis” eram Centro, Sul e Norte. As regiões “em formação”

correspondiam ao Triângulo e a Mata, que consolidariam suas identidades ao

longo da segunda metade do século XIX, com a expansão do povoamento em

virtude da pecuária e da cafeicultura. Por fim, as regiões de formação

“incompletas”, que eram Leste e Oeste, cujas formações iriam ocorrer com a

expansão demográfica da região central em direção à região Oeste e da região

Norte, em direção a Leste (CHAVES 2012, p.07).

Page 131: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

127

Mapa 19 – Divisão Regional de Minas Gerais XIX.

Obs. A divisão regional é proposta por SARAIVA, com três agrupamentos. Regiões “estáveis” (V – Centro, I – Sul e VII – Norte), regiões “em formação” (III – Triângulo e II – Mata), regiões de formação “incompletas” (VI – Leste e IV – Oeste).

Fonte: Acervo do APM. PP 009 (01); SARAIVA. O Império nas Minas Gerais, p. 85. Citado por Chaves (2012, p. 7).

Já Godoy32 (1996) elaborou sua regionalização (mapa 20) através da

análise dos estudos de um grupo de nove viajantes estrangeiros que

32O modelo original desta regionalização foi proposto por Marcelo Godoy em 1990 [Marcelo Magalhães GODOY, Vida econômica minera na perspectiva de viajantes estrangeiros, Belo Horizonte, FaFiCH/UFMG, 1990 (monografia de bacharelado em História)], a partir de uma reconstituição dos itinerários e da espacialização das informações presente nos relatos de viagem de Charles James Fox Bunbury, Alcide D’Orbigny, Georg Wilhelm Freireyss, George Gardner, John Luccock, John Mawe, Johann Emanuel Pohl, Auguste de Saint-Hilaire, além de Johann Baptist von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius. Deste trabalho se demarcou um total de dezesseis unidades espaciais, tendo seus limites conformados com base em um mapa da Província de Minas Gerais, de autoria de Charles Hastings, publicado em 1882. Uma versão adaptada desta regionalização foi apresentada alguns anos mais tarde, em 1996. [Marcelo Magalhães GODOY, Intrépidos Viajantes e a Construção do Espaço: uma proposta de regionalização para as Minas Gerais do século XIX, Belo Horizonte, CEDEPLAR/FaCE/UFMG, 1996 (Texto para Discussão n.º 109) e Clotilde Andrade PAIVA, População e Economia nas

Page 132: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

128

percorreram o território mineiro durante o século XIX e realizaram análises

sobre os aspectos naturais e os conjuntos das relações comerciais e de

produção da província. O autor apresenta uma importante leitura espacial da

realidade econômica mineira durante o período ao retratar a diversidade

econômica mineira e, como a divisão das dezoito unidades sub-regionais

provocava diferenciações significativas, as quais são segmentadas a partir do

seu nível de desenvolvimento.

Mapa 20 – Proposta de regionalização e níveis de desenvolvimento econômico das regiões de Minas Gerais no século XIX. Fonte: GODOY (1996).

Minas Gerais do século XIX, São Paulo, FFLCH/USP, 1996 (Tese de Doutorado em História)]. Esta regionalização adaptada guiou-se pela superposição das riquíssimas informações demográficas oferecidas pelas listas nominativas 1831-2, em pesquisa coordenada por Clotilde Paiva, à regionalização original, permitindo redefinir/retificar os recortes antes traçados de modo a preservar a maior integridade possível das unidades municipais da década de 1830, assim como caracterizar mais a contendo algumas especificidades regionais antes não destacadas, como no caso de duas grandes áreas com um relativo vazio populacional (Extremo Noroeste e Sertão do Rio Doce). SARAIVA (2002)

Page 133: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

129

A compreensão desses processos de regionalização e reconfigurações

das fronteiras regionais mineiras durante o século XIX corrobora com a

compreensão do grau de articulação entre os municípios na atual rede urbana

de Minas Gerais, tendo em vista o desenvolvimento ou a estagnação dos polos

regionais ao longo do tempo.

Como por exemplo, a afirmação da Região Central, detentora de 45,46%

do PIB mineiro, como principal polo de atração do Estado, e pelo

desenvolvimento significativo do Sul e da Zona da Mata mineira, que coincidem

com o processo historicamente construído de desenvolvimento da rede urbana

dessas regiões.

Por outro lado, municípios como Ouro Preto e Mariana sofreram uma

redução demográfica expressiva e perderam importância na rede urbana

mineira no final do século XIX, principalmente após a transferência da capital

para do estado para Belo Horizonte.

4.2.3. As Regiões de Planejamento do Século XX.

O processo de regionalização para Minas Gerais durante o século XX foi

estabelecido inicialmente pela a Secretaria Estadual de Planejamento e o

IBGE, que ao longo do século (re) definiram a configuração regional do estado.

A regionalização do estado por essas instituições têm como objetivo possibilitar

o melhor entendimento da complexa inter-relação dos elementos demográficos,

econômicos, sociais e políticos, que estão distribuídos de forma irregular no

território mineiro.

Nos últimos anos as teorias sobre desenvolvimento regional vêm sendo

modificadas, na busca de novas estratégias de desenvolvimento regional e

local. Nessa perspectiva, uma característica dessas novas teorias é o

reconhecimento da influência dos agentes locais sobre a economia local, em

detrimento do desenvolvimento centralizado ou por forças unicamente de

mercado.

Assim, para minimizar o desenvolvimento heterogêneo mineiro, as

divisões atuais adotadas pelo Estado de Minas Gerais são as produzidas pelo

Page 134: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

130

IBGE e pela Fundação João Pinheiro (FJP) que é vinculada à Secretaria de

Estado de Planejamento e Gestão do Governo de Minas Gerais (SEPLAG/MG).

O IBGE adotou desde 1941 quatro divisões regionais diferentes para o

Brasil: a divisão do Estado em Zonas Fisiográficas de 1941, em Microrregiões

Homogêneas de 1969, em Regiões Funcionais Urbanas de 1972, e por fim a

divisão usada atualmente de Meso e Microrregiões Geográficas de 1990.

A divisão do Estado em Zonas Fisiográficas tinha como objetivo:

1 – a de que havia uma consciência de diferenciações regionais no país, já suficientemente importantes para que fossem feitos estudos dos problemas brasileiros, por região e para que se divulgassem estatísticas, segundo estas mesmas unidades regionais; 2 – a de que uma Divisão Regional deveria ser estável e permanente, pois como seu uso visava, sobretudo, os serviços de estatística, tal divisão permitiria a comparabilidade dos dados estatísticos em diferentes épocas; 3 – a de que devendo ser estável, o melhor critério a adotar seria o das regiões naturais, cuja evolução não sofre alterações bruscas, fornecendo base conveniente para comparação no tempo; 4 – e a de que, como o sistema em que se apoiaram as Divisões Regionais daquela época era o baseado no princípio da divisão, ela deveria partir de um todo – o Brasil – subdividindo-o, sucessivamente, em unidades menores que iam desde as Grandes Regiões (unidades maiores) até as Zonas Fisiográficas (unidade menores), essas definidas por características sócio econômicas, porém circunscritas à área da unidade imediatamente superior, definida pelas condições naturais. (GALVÃO e FAISSOL, 1969, p. 181 apud DINIZ e BATELLA, 2005, p.64)

Já as microrregiões homogêneas levavam em consideração as

características geoeconômicas, identificando os espaços homogêneos e

polarizados, fluxos e relações espaciais de produção e consumo, que

retratavam, de forma espacial, o desenvolvimento socioeconômico do país

(DINIZ e BATELLA, 2005, p.66).

As Regiões Funcionais Urbanas tinham como objetivos:

(...) servir como subsídio a uma política de descentralização mais eficaz; servir como um modelo para políticas de desenvolvimento local, regional e nacional; orientar a racionalização no suprimento dos serviços de infraestrutura urbana através da distribuição espacial mais adequada; definir

Page 135: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

131

uma hierarquia de divisões territoriais e de cidades (IBGE 1972, p. 9, apud DINIZ e BATELLA, 2005, p. 67).

A partir da década de 1990, a divisão utilizada pelo IBGE e pelos órgãos

de planejamento do Estado de Minas Gerais para definir as regiões mineiras

são as Mesorregiões seguidas das Microrregiões.

A Mesorregião segundo o IBGE (1990, p. 8) é,

(...) uma área individualizada, em uma Unidade da Federação, que apresenta formas de organização do espaço geográfico definidas pelas seguintes dimensões: o processo social, como determinante, o quadro natural, como condicionante e, a rede de comunicação e de lugares, como elemento da articulação espacial. Essas três dimensões possibilitam que o espaço delimitado como mesorregião tenha uma identidade regional. Esta identidade é uma realidade construída ao longo do tempo pela sociedade que aí se formou.

Por sua vez as Microrregiões são “partes das mesorregiões que

apresentam especificidades, quanto à organização do Espaço. Essas

especificidades não significam uniformidade de atributos nem conferem auto-

suficiência a Microrregião” (IBGE, 1990, p. 8). A divisão em Microrregiões

geográficas associou critérios de homogeneidade a critérios de

interdependência, como a vida de relações a nível local, produção, distribuição,

troca e consumo, na repartição do espaço nacional.

O Estado de Minas Gerais está dividido em 12 Mesorregiões geográficas

(mapa 21) e 66 Microrregiões geográficas (mapa 22).

Page 136: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

132

Mapa 21 - Mesorregiões de Minas Gerais segundo o IBGE Fonte: Governo Estadual de Minas Gerais. Disponivél em: http://www.mgweb.mg.gov.br/governomg/portal/c/governomg/conheca-minas/geografia/5669-localizacao-geografica/69547-mesorregioes-e-microrregioes-ibge/5146/5044. Acessado em 10 de julho de 2016.

Page 137: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

133

Mapa 22 - Microrregiões de Minas Gerais segundo o IBGE. Fonte: Governo Estadual de Minas Gerais. Disponivél em: http://www.mgweb.mg.gov.br/governomg/portal/c/governomg/conheca-minas/geografia/5669-localizacao-geografica/69547-mesorregioes-e-microrregioes-ibge/5146/5044. Acessado em 10 de julho de 2016.

Além da divisão por Mesorregiões e Microrregiões geográficas proposta

pelo IBGE, o Governo de Minas Gerais através de estudos regionais para

congregar municípios ligados por características socioeconômicas, elaborados

pela FJP em parceria com a Secretaria Estadual de Planejamento e Gestão

(SEPLAG/MG), estabelece oficialmente as Macrorregiões Mineiras (mapa 23)

que estão divididas em Regiões de Planejamento.

Page 138: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

134

Mapa 23 - Macrorregiões de planejamento de Minas Gerais Fonte: Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Disponível em: http://www.almg.gov.br/consulte/info_sobre_minas/index.html?sltMuni=&aba=js_tabMacrorregioes. Acessado em 10 de julho de 2016

Segundo DINIZ e BATELLA (2005, p. 72):

Essa divisão baseou-se em dois trabalhos anteriores - “Divisão do Brasil em Mesorregiões e Microrregiões Geográficas”, do IBGE (1990) e “Estrutura Espacial do Estado de Minas Gerais”, da própria FJP (1988) - e teve como objetivos: ordenar as diferentes demandas oriundas dos órgãos e das comunidades e racionalizar suas ações, visando atingir maior grau de eficiência na alocação dos recursos disponíveis.

Sendo assim, as mesorregiões geográficas do IBGE e às regiões de

planejamento da FJP são utilizadas pelo governo mineiro para a elaboração e

Page 139: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

135

execução de políticas públicas estaduais.

É importante conhecer os procedimentos adotados na elaboração da

divisão regional de Minas Gerais, para pensar em uma regionalização que

amenize as desigualdades históricas regionais do estado, que se desenvolveu

de maneira distinta e que persiste até os dias atuais. Ressaltamos que os

projetos oficiais de divisão regional adotado para regionalização do território

mineiro são desenvolvidos verticalmente, sendo o poder público responsável

pelo surgimento de diversas e distintas regionalizações.

4.3. Uma Análise (Micro) Regional de São João del-Rei.

O processo de regionalização da atual Microrregião de São João del-

Rei, no decorrer dos últimos trezentos anos foi marcado por profundas

mudanças, ora subdividindo ou (re) produzindo novos espaços, influenciados

pelas especificidades (de importância econômica), principalmente, de São João

del-Rei que tem se constituído como polo de atração de cidades contíguas a si.

Assim a constituição de São João del-Rei como cidade média33 e a

dinâmica econômica está assentada na prestação de serviços, que tem uma

importante função produtiva na rede urbana da sua microrregião e na

mesorregião do Campos das Vertentes, o que faz aumentar a intensidade das

interações da cidade com seu espaço regional e com outros aglomerações

urbanas externa a sua rede. Desse modo São João del-Rei passou a cumprir,

(...) funções regionais diferenciadas, em razão de fatores de proximidade, vias de transporte e da presença de equipamentos públicos de maior demanda e complexidade, tais como hospitais de referência, universidades e instituições burocráticas do Estado. Desta forma, as áreas de influência destas cidades polarizam diferentes áreas, tanto no que concernem as cidades pequenas e aos espaços rurais com significativa população rural, corroborando para novas e complexas interações, além de exercerem mecanismos de reorganização espacial e social no estado (PEREIRA; HESPANHOL, 2015, p. 53).

33Essas cidades são classificadas com cidades médias conforme o nível hierárquico das cidades médias de Minas Gerais proposto por Amorim Filho; Rigotti e Campos (2007).

Page 140: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

136

Nesse contexto, realizaremos uma análise sobre a atual conjuntura

organizacional da microrregião de São João del-Rei e sua importância na

mesorregião do Campo das Vertentes, as interações espaciais entre São João

del-Rei e as cidades envolvidas, através das quais se articulam em escala

regional. Para tal, levamos em consideração as mesorregiões geográficas do

IBGE e as regiões de planejamento da FJP, pois através das informações

estatísticas levantadas por essas instituições são elaboradas políticas públicas

e socioeconômicas que norteiam o desenvolvimento das (sub) regiões

mineiras.

4.3.1. A Mesorregião do Campo das Vertentes.

Segundo Corrêa (1995) a divisão em mesorregiões é um exemplo

evidente de regionalização fisiográfica, caracterizada por elementos de ordem

humana. O que justifica o processo de criação da mesorregião do Campo das

Vertentes, por fazer parte da Serra da Mantiqueira, surgindo como um

descampado do município de Barbacena.

A mesorregião do Campo das Vertentes está dividida em três

microrregiões, Barbacena, São João del-Rei e Lavras (mapa 25). Segundo

dados do IBGE publicados entre 2006 a 2011, a mesorregião tem 36

municípios ao todo distribuídos nas três microrregiões. A mesorregião possui

12.563,667 km2 de extensão territorial. Sua população é de aproximadamente

546.000 habitantes, gerando uma densidade demográfica de 43,46 hab./Km². A

região tem como mesorregiões limítrofes à região Metropolitana de Belo

Horizonte, Oeste de Minas, Sul de Minas e Zona da Mata, sendo considerado

um ponto estratégico no estado.

Page 141: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

137

Municípios por Microrregiões

Microrregião de Lavras Carrancas (28) Ijaci (33 Ingaí (31)

Itumirim (32) Itutinga (29) Lavras (34)

Luminárias (30) Nepomuceno (36) Ribeirão Vermelho (35)

Microrregião de Barbacena Alfredo Vasconcelos (8) Antônio Carlos (10) Barbacena (9)

Barroso (16) Capela Nova (4) Caranaíba (5)

Carandaí (6) Desterro do Melo (2) Ibertióga (11)

Ressaquinha (7) Santa Bárbara do Tugúrio

(1) Senhora dos Remédios (3)

Microrregião de São João Del Rei Conceição da Barra de

Minas (26) Coronel Xavier Chaves (21) Dores do Campo (17)

Lagoa Dourada (22) Madre de Deus de Minas (14) Nazareno (27)

Piedade do Rio Grande (13) Prados (19) Resende Costa (23)

Ritapólis (24) Santa Cruz de Minas (20) Santana do Garambéu (12)

São João Del Rei (15) São Tiago (25) Tiradentes (18)

Mapa 24 – Mesorregião do campo das vertentes e suas microrregiões FONTE: Brasil Channel (1999). Disponível em http://www.brasilchannel.com.br/municipios/index.asp?nome=Minas+Gerais&regiao=Vertentes . Acessado em 27/07/2016

A mesorregião do Campo das Vertentes está estrategicamente situada

no meio do grande triângulo formado por Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São

Paulo. Este posicionamento gera, ao mesmo tempo, efeitos positivos e

negativos sobre a Microrregião de São João del-Rei. As Microrregiões de

Barbacena e Lavras se relacionam, por sua proximidade aos principais centros

consumidores do país. Contudo, esta mesma proximidade pode ser

Page 142: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

138

considerada negativa na medida em que através da concorrência, estes

centros nacionais drenam recursos financeiros e humanos tornando inviáveis

empreendimentos locais e regionais.

4.3.2. A Microrregião de São João del-Rei.

A microrregião de São João del-Rei (mapa 25) é uma das 66

Microrregiões geográficas de Minas Gerais, e é composta por 15 municípios:

Conceição da Barra De Minas, Coronel Xavier Chaves, Dores de Campos,

Lagoa Dourada, Madre de Deus de Minas, Nazareno, Piedade do Rio Grande,

Prados, Resende Costa, Ritápolis, Santa Cruz De Minas, Santana do

Garambéu, São João del-Rei (município sede), São Tiago, Tiradentes. Nestes

quinze municípios residem aproximadamente 190.000 pessoas, de acordo com

os dados disponibilizados pelo IBGE (2014).

Page 143: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

139

Mapa 25 - Microrregião de São João del-Rei Fonte: Prefeitura Municipal de São João del-Rei (2015). Disponível em: http://saojoaodelrei.mg.gov.br/adm/gestor/Salvar_arquivo.php?INT_ARQ=4090. Acessado 05 de novembro de 2016.

O processo de regionalização da atual microrregião foi marcado por

profundas mudanças, ora subdividindo ou criando novos espaços,

influenciados na maioria das vezes pelas especificidades (de importância

econômica) de determinado local. A microrregião foi palco do nascimento da

Inconfidência Mineira, de conflitos como a Guerra dos Emboabas e de toda

uma efervescência, cultural, econômica e social que se deu em razão destes

fatos históricos e que influencia até hoje, o modus vivendi microrregional.

A formação inicial da microrregião está ligada a criação da Comarca do

Rio das Mortes (mapa 26), que era constituída territorialmente pela atual

Microrregião de São João del-Rei, juntamente com outras microrregiões como

Page 144: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

140

a de Lavras e de Barbacena, que futuramente formaria a mesorregião do

Campo das Vertentes.

Mapa 26 - Mapa da Comarca do Rio das Mortes FONTE: Arquivos Históricos Documental da UFSJ. Mapa: Comarcas 1891. disponível em: http://www.documenta.ufsj.edu.br/modules/news1/images/MAPA_1-.jpg

A Comarca do Rio das Mortes possuía uma importante posição

estratégica tendo em vista a formação de um triângulo formado pelas vilas de

São João, Barbacena e Campanha – posteriormente substituída pela cidade de

Lavras. Favorecido por um arranjo geográfico privilegiado no entroncamento

das principais vias de escoamento de Minas Gerais, a região se constituíam

como importante entreposto comercial que á configurou como um relevante

corredor produtivo em direção ao sul, sendo este reforçado pela integração das

regiões central e sul, com objetivos políticos e econômicos que visavam

garantir a produção e o abastecimento da Corte.

Essa integração possibilitou que a comarca do Rio das Mortes,

principalmente a Vila de São João del-Rei, não sofresse os efeitos da

estagnação econômica decorrente da crise mineradora do século XVIII. Apesar

do declínio da atividade aurífera, a região desenvolveu paralelamente a

Page 145: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

141

mineração a atividade agropastoril, que inicialmente estava voltada para

atender o abastecimento local, mas gradualmente direcionou-se para o

provimento do mercado regional com a comercialização dos excedentes.

Aos poucos a região de São João del-Rei foi ampliou sua área de

atuação e no inicio do século XIX se consolidou como o mais importante centro

de abastecimento da Corte, fortemente influenciado pela transferência da

Coroa Portuguesa para o Brasil e pela criação da Província de Minas Gerais.

São João del-Rei, consequentemente constitui-se como importante

centro comercial de Minas Gerais em meados do século XIX, já que era sede

do poder político da Comarca do Rio das Mortes e principal polo comercial

atacadista regional, que movimentava todo o comercio de exportação do

centro-sul mineiro, que

(...) tinha sede na praça comercial de São João del-Rei,que, juntamente com Barbacena, constituíam os dois polos do comercio atacadista, servindo de verdadeiros entrepostos regionais. Situados na entrada das Gerais, centralizavam o fluxo das mercadorias de diferentes regiões, ate mesmo de Goiás e Mato Grosso. São João drenava a maior parte das exportações de subsistência mineira, ao passo que Barbacena concentrava principalmente as exportações de algodão. (LENHARO, 1979, p. 88-90apud FJP, 1982, p. 49)

De tal modo, a produção e a comercialização dos fluxos materiais já nos

permite pensar a cidade de São João del-Rei, como centro regional no Campo

das Vertentes, seja pela capacidade de mobilização de novas forças produtivas

e pelo seu desenvolvimento territorializado. É possível identificar as realidades

produtivas e comerciais heterogêneas da mesorregião do Campo das

Vertentes, já que

Em função desse comércio, destaque econômico crescente no município passou a merecer a atividade agropecuária, bastante favorecida pela existência de grandes extensões de glebas de campos, cortadas por inúmeros cursos d'água. Assim é que atingiu grande importância a criação de gado vacum e suíno, bem como a produção de carnes salgadas, toucinhos, queijos, couros, entre outros. Da mesma forma, a região produzia e fornecia aos seus mercados consumidores os produtos tradicionais de subsistência, como arroz, feijão, milho, bata ta e mandioca, além do algodão e do fumo, produtos que tiveram nessa época algum peso para exportação e beneficiamento

Page 146: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

142

local. A atividade manufatureira representou opção econômica importante para São João del-Rei. Razões tais como seu afastamento do litoral e os altos preços dos produtos importados, entre outros motivos, incentivaram o surgimento de diversas pequenas unidades cuja produção de tecidos, colchas, artefatos em couro, entre outros, atendia principalmente ao consumo dos habitantes das redondezas. (FJP, 1982, p. 49-50)

Assim, temos no século XIX a emergência dos circuitos espaciais de

produção que modelarão a organização territorial da região. Os circuitos

espaciais implicam na articulação das diversas frações do espaço e na a

hierarquia dos lugares em escala regional. Na concepção de Santos e Silveira

(2003) um circuito espacial de produção compreende o movimento de trocas e

fluxos de bens e serviços entre lugares especializados pela segmentação

territorial das etapas do trabalho em áreas necessariamente contíguas.

Na passagem do século XIX para o XX, a implantação da Estrada de

Ferro Oeste de Minas colaborou significativamente com crescimento

econômico e demográfico de São João del-Rei, introduzindo várias indústrias e,

também sedes de organismos institucionais de relevante expressão,

contribuindo para sua afirmação como polo microrregional.

Atualmente, a dinâmica econômica do município de São João del-Rei

exerce uma centralidade no setor de serviços e importante função produtiva na

rede urbana da sua microrregião e da mesorregião dos Campos das Vertentes,

o que faz aumentar a intensidade das interações da cidade com outros

espaços.

Cota e Diório (2014) confirmam sua importância como centro prestador

de serviços, atividades e equipamentos para a região, com destaque àqueles

relacionados à educação/cursos. Ou seja, a consolidação da UFSJ é um fator

que contribuiu para reforçar as relações de São João del-Rei com municípios

de seu entorno.

4.3.3. A Importância de São João del-Rei como Centro Microrregional.

Após a discussão sobre sua formação socioespacial e a atual conjuntura

organizacional da microrregião de São João del-Rei, vamos analisar a

Page 147: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

143

interação entre as cidades que compõem a microrregião juntamente com o

município de São João del-Rei, que está estabelecendo uma nova dinâmica

econômica na microrregião a partir do fornecimento de serviços públicos e

privados diferenciados.

O setor de serviços são-joanense apresenta uma grande diversidade de

produtos ofertados que atendem, além do próprio município, toda a

microrregião e cidades externas a sua microrregião aumentando sua rede de

influência (figura 32).

Mapa 27 – Área de Influência de São João del-Rei Fonte: Cota e Diório (2014)

Dentre os principais serviços que o município apresenta destacam-se a

rede bancária e financeira (estatal e privado); o atendimento médico através de

planos de saúde privados e clínicas particulares com certo grau de

especialização; escolas privadas em todos os níveis de ensino; presença das

principais redes varejistas de bens de consumo duráveis e não duráveis, oferta

de serviços de lazer (bibliotecas públicas, museus, teatro/salas de espetáculo,

Page 148: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

144

centros culturais, cinemas, estádio/ginásio poliesportivo, Shopping Center),

retransmissores e escritórios regionais de grupos de comunicação regionais.

Em relação aos serviços públicos a cidade é a sede de representação de

vários órgãos como o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), a

Superintendência Regional de Ensino (SRE) e Gerência Regional de Saúde

(GRS); além de escritórios da companhia distribuição de energia elétrica e

representações de outras secretarias e autarquias do executivo estadual.

Referente ao serviço de saúde São João del-Rei dispõe de 68

estabelecimentos credenciados ao Sistema Único de Saúde – SUS, oferecendo

156 leitos, o que resulta num quadro de 1,8 leitos SUS por mil habitantes. Na

microrregião de São João del-Rei, a taxa média é de 1,68 leitos por mil. No

estado, a média é de 1,6 leitos a cada 1000 habitantes.

Considerando toda a rede de saúde, prestando ou não serviço ao SUS,

São João del-Rei dispõe de 198 estabelecimentos (tabela 7), oferecendo 233

leitos, o que resulta numa média de 2,7 leitos a cada 1000 habitantes, número

superior à média regional, de 2,25, e à média estadual (2,2).

Tabela 7 – Estabelecimentos de Saúde de São João del-Rei.

TIPO DE ESTABELECIMENTO TOTAL Central de Regulação de Serviços de Saúde 1 Centro de Atenção Hemoterápica e ou Hematológica 1 Centro de Atenção Psicossocial 2 Centro de Saúde/Unidade Básica de Saúde 20 Clinica Especializada/Ambulatório Especializado 34 Consultório Isolado 111 Farmácia Médica Excepcional e Programa Farmácia Popular 2 Hospital Geral 2 Policlínica 2 Posto de Saúde 1 Secretária de Saúde 1 Unidade Mista – Atendimento 24h; atenção básica, intern/urg 1 Unidade de Serviço de Apoio de Diagnose e Terapia 19 Unidade Móvel Terrestre 1 Total 198

Fonte: Prefeitura Municipal de São João del-Rei (2015). Disponível em: http://saojoaodelrei.mg.gov.br/adm/gestor/Salvar_arquivo.php?INT_ARQ=4090. Acessado 05 de novembro de 2016.

Page 149: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

145

Entretanto o serviço de educação contribui significativamente para a

atração de pessoas e fluxos para a cidade, dada a importância do município na

rede urbana mineira. No município há a oferta do ensino superior pelas

seguintes instituições: Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ),

Instituto de Ensino Superior Presidente Tancredo Neves (IPTAN),

o Campus São João del-Rei do Instituto Federal do Sudeste de Minas (IFET –

Sudeste), a Universidade Paulista (UNIP) e a Universidade Aberta do Brasil,

do Centro Universitário Internacional UNINTER.

A UFSJ é a principal instituição de nível superior do município, com mais

de 13.000 alunos matriculados em seus 48 cursos de graduação em todas as

grandes áreas de conhecimento, a saber: Letras, Artes e Cultura, Ciências

Humanas e Educação, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias, Ciências da

Saúde, Ciências Biológicas, Ciências Agrárias e Ciências Exatas e da Terra.

Além disso, a instituição possui 24 programas de Pós-Graduação em Stricto

Sensu atendendo mais de 500 alunos nas diversas áreas do saber.

Nesse contexto a UFSJ tem um impacto significativo em Minas Gerais,

principalmente, na mesorregião Campo das Vertentes que é composta pelas

microrregiões de São João del-Rei, Barbacena e Lavras, reunindo 36

municípios totalizando uma população de 553.465 habitantes segundo o IBGE

(2010). Além disso, a área de influência da universidade também abrange a

mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte, mais precisamente a

microrregião de Conselheiro Lafaiete, que reúne 12 municípios e possui uma

população de 250.322 habitantes.

Quando se instala uma universidade em determinada região, a

instituição ganha contornos pela incorporação do contexto local (econômico,

político, cultural e histórico). Neste movimento, as Instituições assumem

importância singular na dinâmica dos processos de desenvolvimento

relacionados a questões específicas dos diferentes espaços regionais

(FIALHO; MIDLEJ, 2003).

Segundo as autoras,

A Universidade tende a ocupar uma posição fundamental nessa dinâmica, empreendendo processos que o levam a

Page 150: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

146

ocupar lugar estratégico no desenvolvimento socioeconômico, dada às suas características como instituição com multiplicidade de funções, o que lhe exige adequação a dinâmicas sociais específicas, criando sentimento recíproco de pertença, no processo endógeno de influências. Nesse sentido, a região de influência contribui sobremaneira para a sustentação das ações da universidade, à qual cabe a função precípua de articulação entre o saber científico e a realidade, no mais amplo aspecto da sobrevivência da espécie humana (idem, p.9)

A estrutura administrativa da UFSJ é composta por seis campi e um

centro cultural, dos quais três estão localizados em São João del-Rei (Campus

Santo Antônio, o Campus Dom Bosco e o Campus Tancredo de Almeida

Neves), além do Centro Cultural da UFSJ. Os outros três campi fora de sede

estão localizados nas cidades de Ouro Branco, Sete Lagoas e Divinópolis.

Desse modo a instituição tem um impacto significativo em Minas Gerais, pois

atua nas mesorregiões Campo das Vertentes, Metropolitana de Belo Horizonte

(microrregiões Alto Paraopeba e Sete Lagoas) e Oeste de Minas (mapa 28),

estando localizada em um eixo de desenvolvimento no Estado de Minas Gerais

que congrega:

[...] empresas automobilísticas (Fiat, em Betim; Iveco em Sete Lagoas e Mercedes Benz, em Juiz de Fora) e seus fornecedores, empresas siderúrgicas (uma unidade da Vallourec Mannesman, em Belo Horizonte; Vallourec & Sumitomo no município de Jeceaba; Gerdau, nos municípios de Ouro Branco e Divinópolis; empresas de ferro-liga e ferro-gusa nos municípios de Divinópolis, Itaúna, Sete Lagoas, Barbacena e São João del-Rei, empresas de extração de minério de ferro (Vale, MMX, Cia. Siderúrgica Nacional – CSN, no quadrilátero ferrífero); montadoras de equipamentos ferroviários (General Eletric, em Contagem, e Caterpillar, em Sete Lagoas, montam locomotivas diesel-elétricas, e a USIMEC, em Congonhas, monta vagões); e empresas cimenteiras (nos municípios de Pedro Leopoldo, Vespasiano,Carandaí, Ijaci e Barroso), além de outras empresas dos mais variados portes, todas atuando em um raio máximo de 200 quilômetros de distância de São João del-Rei (PDI, 2014, p. 26).

Page 151: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

147

Mapa 28 - Localização dos Campi da UFSJ. Fonte: PDI UFSJ (2014). Elaboração Cartográfica: Tiago Gonçalves dos Santos e Bruno Henrique dos Santos (2017).

A oferta destes serviços em uma escala (micro) regional possibilita que

São João del-Rei se torne suscetível a expansão das técnicas, que são

caracterizadas pela implantação de novos objetos técnicos devido à nova

dinâmica econômica do município, atraindo para si populações externa a sua

Page 152: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

148

área de influência em busca de serviços e produtos ressaltando sua

importância regional na sua microrregião e no contexto urbano de Minas

Gerais.

Outro fator que contribui para as interações das cidades da microrregião

de São João del-Rei é o papel que a rede de transportes desempenha. É

através do conhecimento sobre o fluxo de circulação de pessoas sobre a malha

viária da microrregião é possível perceber o direcionamento e a intensidade

dos movimentos (independente da intenção de deslocamento).

A posição geográfica de São João del-Rei lhe permite uma convergência

de fluxos rodoviários que podem ter na cidade o seu ponto de origem e o de

destino final, uma vez que o município possui saídas de ônibus para quase

todas as cidades que compõem sua microrregião (exceto Santana do

Garambéu), além das principais capitais brasileiras (Belo Horizonte, Rio de

Janeiro, São Paulo e Brasília) e, para importantes centros urbanos mineiros

(Juiz de Fora, Uberlândia e Divinópolis).

São João del-Rei é margeado por três importantes rodovias de acesso a

BR 265, BR 494 e BR 383 (figura 10) que dão acesso as cidades que compõe

a microrregião e, também, às BR 040 e 381 rumo à Belo Horizonte, Rio de

Janeiro e São Paulo. A configuração das rodovias do entorno da cidade

favorecem o tráfego de passagem pelo centro da cidade constituindo um

entroncamento de vias de circulação e nó de tráfego, envolvendo pessoas,

capitais, informações, mercadorias e serviços.

Page 153: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

149

Figura 6 - Vias de acesso de São João del-Rei. Fonte: Elaborado pelo autor. Ilustração sobreposta do GOOGLE MAPS.

Para dimensionar a intensidade das relações estabelecidas entre os

municípios da microrregião com a sede analisamos a circulação dos fluxos

sobre a malha rodoviária da microrregião através da intensidade dos

deslocamentos pelas linhas intermunicipais de ônibus que podem ter em São

João del-Rei o seu ponto de origem e o de destino final conforme as tabelas 7

e 8.

Page 154: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

150

Tabela 8 – Linhas intermunicipais de ônibus entre os municípios da microrregião de São João del-Rei, que tem a sede como origem ou destino.

Origem Destino Nº

linhas diária

Origem Destino Nº

linhas diárias

S.J.D.R. Conceição da Barra de Minas 05 Conceição da Barra

de Minas S.J.D.R. 05

S.J.D.R. Coronel Xavier Chaves 08 Coronel Xavier

Chaves S.J.D.R. 08 S.J.D.R. Dores de Campos 02 Dores de Campos S.J.D.R. 02 S.J.D.R. Lagoa Dourada 13 Lagoa Dourada S.J.D.R. 13 S.J.D.R. Madre de Deus de

Minas 02 Madre de Deus de Minas S.J.D.R. 02

S.J.D.R. Nazareno 07 Nazareno S.J.D.R. 06 S.J.D.R. Piedade do Rio

Grande 03 Piedade do Rio Grande S.J.D.R. 03

S.J.D.R. Prados 05 Prados S.J.D.R. 05 S.J.D.R. Resende Costa 09 Resende Costa S.J.D.R. 09 S.J.D.R. Ritápolis 11 Ritápolis S.J.D.R. 10 S.J.D.R. Santa Cruz de Minas 72 Santa Cruz de

Minas S.J.D.R. 70

S.J.D.R. Santana do Garambéu - Santana do

Garambéu S.J.D.R. - S.J.D.R. São Tiago 05 São Tiago S.J.D.R. 05 S.J.D.R. Tiradentes 34 Tiradentes S.J.D.R. 37

Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados fornecidos pelas empresas de ônibus Tabela 9 – Linhas intermunicipais de ônibus entre municípios fora da microrregião de

São João del-Rei, que tem a sede como origem ou destino.

Origem Destino Nº

linhas diária

Origem Destino Nº

linhas diárias

S.J.D.R. São Paulo (SP) 06 São Paulo (SP) S.J.D.R. 06 S.J.D.R. Rio de Janeiro (RJ) 03 Rio de Janeiro (RJ) S.J.D.R. 03 S.J.D.R. Belo Horizonte (MG) 08 Belo Horizonte (MG) S.J.D.R. 08 S.J.D.R. Brasília (DF) 01 Brasília (DF) S.J.D.R. 01 S.J.D.R. Campinas (SP) 02 Campinas (SP) S.J.D.R. 02 S.J.D.R. Uberlândia (MG) 01 Uberlândia (MG) S.J.D.R. 01 S.J.D.R. Juiz de Fora (MG) 13 Juiz de Fora (MG) S.J.D.R. 11 S.J.D.R. Divinópolis (MG) 03 Divinópolis (MG) S.J.D.R. 03 S.J.D.R. Lavras (MG) 09 Lavras (MG) S.J.D.R. 09 S.J.D.R. Barbacena (MG) 14 Barbacena (MG) S.J.D.R. 13

Fonte: Elaborada pelo autor com base nos dados fornecidos pelas empresas de ônibus

Observarmos que a relação entre São João del-Rei e os municípios que

compõe sua microrregião (tabela 8), exceto Santana do Garambéu possuem

uma linha de ônibus ligando-o à sede microrregional, já os outros 14 municípios

da microrregião possuem pelo menos duas linhas diárias de ônibus que os

ligam a São João del-Rei.

Page 155: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

151

Através do número de linhas diárias de ônibus, notamos que o índice de

relação de pessoas dos municípios polarizados por São João del-Rei ocorre

com intensidade diferenciada, sendo que algumas cidades como Santa Cruz de

Minas, por exemplo, apresenta o maior número linhas de ônibus ao longo do

dia. Isto pode ser explicado pela conurbação das duas cidades, tendo como

limite territorial uma ponte (sobre o Rio das Mortes). Já no caso de Tiradentes,

a causa desta intensidade de fluxo refere-se às questões econômicas e sociais

que interligam os municípios, pois mesmo tendo sua economia baseada no

turismo a população de Tiradentes é atraída pelos serviços e produtos que São

João del-Rei oferece.

A inter-relação de pessoas de Santa Cruz de Minas e Tiradentes com

São João del-Rei acontecem com maior intensidade em relação aos demais

municípios da microrregião. Tal fato pode ser explicado por meio de fatores

como a distância em relação a São João del-Rei, maior autonomia destas ou

uma dependência com outras cidades (figura 7).

Figura 7 - Mapa viário da microrregião de São João del-Rei Fonte: Departamento de Estrada e Rodagem de Minas Gerais

Traçando um paralelo com os fluxos destinados as cidades de

Barbacena e Lavras (tabela 8), que são polos microrregionais da mesorregião

do Campo das Vertentes, juntamente com São João del-Rei, observamos que:

Page 156: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

152

essas cidades, ao lado de Juiz de Fora, apresentam o maior número de linhas

diárias de ônibus fora da microrregião de São João del-Rei para o município

sede.

Porém é importante ressaltar que o principal eixo de integração entre as

três cidades é a rodovia BR-265, o que reforça a ideia da interdependência

entre as três microrregiões, que com suas especificidades, se diferenciam em

diversos fatores, como produção industrial, prestação de serviços, produção

agrícola, além das questões socioculturais. No entanto, estão conectadas pelas

suas necessidades e a curta distância entre os polos.

A partir das observações e análises das dinâmicas da microrregião

estudada, nota-se que as cidades que compõe a microrregião de São João del-

Rei têm uma significativa inter-relação, salientada pelo fluxo de pessoas por

causa do número de linhas de ônibus para a cidade sede, que, entretanto,

ocorrem com menor ou maior intensidade dependendo do município envolvido.

Outro fator que mostra esta relação de dependência é o fato de São João del-

Rei, disponibiliza para população da microrregião, e externo a ela, muitos

recursos não presentes em suas cidades, como instituições de ensino superior,

hospitais, diversos pontos de atendimento de órgãos públicos, agências

bancarias, estrutura comercial composta por hipermercados e as principais

lojas de varejos do país, além de diversos outros fatores que servem como

atrativos para as outras cidades como lazer e turismo.

Page 157: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

153

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Coloniais ou imperiais, as cidades funcionaram no Brasil, como mera

fonte para a exportação de mercadorias, razão do significativo atraso de sua

industrialização e desenvolvimento urbano. Sua importância reduzia-se a

fornecer produtos naturais para o mercado externo. As construções, no início,

eram isoladas e as fortificações representavam a maior preocupação. É com a

República e a produção manufatureiro-industrial para atender as demandas

das elites que, as cidades ganham relevância. O aumento da população,

decorrente da necessidade de mão de obra e outro conjunto de

acontecimentos: como a abolição da escravatura e a Lei de Terras levam ao

êxodo rural em direção às cidades. As melhorias realizadas no território urbano

promovidas pelo governo não poupou os mais pobres da exclusão e da

cidadania nascente.

Modernizado, o espaço urbano permitiu o aparecimento e consolidação

do capital imobiliário. As reformas urbanísticas, segundo Maricato (1995),

expulsaram a “massa sobrante” (negros, pedintes, pessoas sem documentos,

desempregados de modo geral) dos locais urbanos mais centrais ou mais

valorizados pelo mercado em transformação. “[...] Mais do que a cidade

colonial ou imperial, a cidade sob a República, expulsa e segrega”

(MARICATO, 1995, p.18)

Além dos limites da descrição buscamos relacionar a expansão urbana

da cidade de São João del-Rei com o processo de desenvolvimento da

formação socioespacial, articulando padrão e processo, forma e função,

espaço e tempo, que envolvem diferentes escalas. Ao compreender a história

de consolidação da dinâmica urbana da cidade aprendemos que “em cada

tempo há geografias a serem descobertas”.

Ao desenvolver este trabalho a partir da investigação geográfica

histórica acerca da formação socioespacial através das periodizações e do

estabelecimento de recortes temporais sobre as transformações no espaço

urbano de São João del-Rei, procuramos reunir o máximo de informações

possíveis sobre cada tema exposto nessa pesquisa.

Page 158: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

154

Por meio da relação de unidade espaço-temporal, apresentamos nossa

periodização histórico-espacial da expansão urbana de São João del-Rei,

através da materialidade das técnicas no território e sua sucessão dos meios

geográficos e subperíodos econômicos, reconhecendo que a (re) organização

espacial do município foi resultado do equilíbrio entre os fatores de dispersão e

de concentração em um dado momento na história do espaço.

Ao longo da dissertação foram trilhados alguns caminhos na busca para

atingir nossos objetivos. O primeiro passo foi através da literatura, utilizada na

revisão bibliográfica, apresentando referências pertinentes a cada tema

estudado nos capítulo que compõe a pesquisa, mostrando como são vistos

pelos diversos autores e quais elementos estão ligados à sua interpretação.

No capítulo 1, por meio da periodização geográfico–histórica

destacamos à formação socioespacial de São João del-Rei, que desde seu

passado colonial através da sua atividade econômica articulou-se

territorialmente a uma rede urbana que apenas se configurava desenvolvendo

uma ampla rede comercial com relações indiretas com a exportação; favoreceu

o aparecimento de outras zonas produtoras; fortaleceu a formação de um

mercado interno e, sobretudo, criou condições para que uma elite local

proprietária de terras e escravos, poderosa comercialmente surgisse e, cujo

capital excedente ajudou a financiar a industrialização, no final do século XIX.

O centro histórico de São João del-Rei guarda até hoje as formas em

que a cidade foi concebida, representada, como o registro de práticas sociais

cotidianas que marcaram a racionalização do seu espaço. Neste espaço

construído, lugar onde a vida acontecia integrada à economia, à política, à

cultura, às normas e regulamentações institucionais havia uma centralidade,

uma unidade, a partir da qual as diferenciações espaciais da cidade tornavam-

se desigualdades com a constituição de uma divisão social e territorial do

trabalho intra e interurbana, nos séculos seguintes.

Já no capítulo 2, ressaltamos a importância do sistema de transporte na

redefinição e (re) estruturação urbana de São João del-Rei, que em sua

temporalidade foram periodizados para dimensionar relevância dos modais nas

divisões territoriais do trabalho, bem como a complexificação do espaço

Page 159: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

155

urbano, que influenciariam diretamente a formação socioespacial de São João

del-Rei.

Nesse aspecto destacamos a implantação da Estrada de Ferro Oeste de

Minas que foi a mais importante estrada incorporada à Rede Mineira de Viação,

sede de oficinas e entroncamentos. Extinta em 1980, permanece

simbolicamente como parte da narrativa de um “devir civilizado” e, também, de

um passado saudosista. Não só o tempo da máquina passa a programar a vida

cotidiana, mas ao território e a produção. A aceleração do tempo significa

aceleração da produção e modernizar significa encurtar distâncias, nas

palavras de Harvey (2003) “comprimir o espaço-tempo”.

No capítulo 3 debatemos a pertinência de considerar São João del-Rei

como cidade média levando em consideração seu passado histórico. No

decorrer da pesquisa sobre a sua formação socioespacial, vimos que o

município sempre foi um centro regional na mesorregião do Campo das

Vertentes e sede da sua microrregião desde a época colonial, o que fomentou

a construção de uma identidade regional no decorrer da sua história.

A respeito da discussão e da dificuldade de conceituação das cidades

médias, em meio à diversidade dos procedimentos metodológicos para definir o

conceito, optamos pela definição de Amorim Filho, Rigotti e Campos (2007),

coerentes com a realidade mineira.

Nessa perspectiva, as cidades médias (propriamente ditas) têm um

considerável nível de desenvolvimento econômico e se relaciona com os

centros maiores, no mesmo tempo em que, mantém relações intensas com

municípios menores e com seu espaço microrregional (AMORIM FILHO;

BUENO; ABREU, 1982). Constatamos que São João del-Rei se afirma como

sede microrregional e como polo da mesorregião do Campo das Vertentes

dinamizando o território em escala regional e local.

Por fim no capítulo 4, após uma breve discussão conceitual do termo

“Região” sob diferentes enfoques teóricos e sobre a utilização do espaço

regional como exercício de poder, analisamos a importância de São João del-

Rei na atual conjuntura organizacional da sua microrregião e, na mesorregião

do Campo das Vertentes, através das interações espaciais.

Page 160: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

156

A partir das analises foi possível apontar a significativa inter-relação que

os municípios da microrregião possuem com a sede microrregional através do

fluxo de pessoas que procuram São João del-Rei pela diversidade de oferta de

serviços e produtos que a cidade oferece, promovendo através das interações

espaciais uma rede de relações com as cidades da sua microrregião e as

externas a sua área de influência.

Sobretudo, a presente investigação nos levou a considerar a

necessidade de retomar o planejamento na sua perspectiva inclusiva

valorizando as propostas de uma “sociedade regional” para compensar

territorialmente áreas excluídas pelo mercado para superar, assim os

localismos corporativos que se configuram em função das desigualdades

territoriais.

Compreendo que o conceito de formação socioespacial constitui um

instrumento a ser utilizado na Geografia. Embora suas limitações resultem da

própria complexidade da totalidade socioespacial são estas que apresentam as

possibilidades de enriquecer a Geografia Regional combinada à Geografia

Histórica.

Por fim, esta investigação aponta que no processo de acumulação

flexível do capital promovida pela globalização, a refuncionalização regional

baseada na divisão internacional do trabalho que é importante considerar em

novas investigações as transformações do território ocasionadas pelas redes;

outras formas de cooperação entre os municípios e, que se opõem à lógica das

redes.

Page 161: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

157

REFERÊNCIAS.

ABREU, João Francisco de.; AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno.; RIGOTTI, José Irineu Rangel; TORRES, Manuel Emilio de Lima. Tipologia de Regiões. Em: BARRETO, Tadeu; CHAVES, Marilena; CUNHA, Marco Antônio R. da; PRADO, Gislaine Ângela. (Org.). Minas Gerais do Século XXI - Reinterpretando o espaço. 1ed. Belo Horizonte -MG.: BDMG. 2002.v. II, p. 253-282.

ABREU, Mauricio de Almeida. Sobre a memória das cidades. Revista da Faculdade de Letras, Geografia I série, vol. XIV, 1998, Universidade do Porto, Portugal. Disponível em http://ler.letras.up.pt/uploads/ ficheiros/1609.pdf. Acesso em 24 jan. 2017.

ALMEIDA, Candido Mendes de. Atlas do Imperio do Brazilcomprehendendo as respectivas divisões administrativas, ecclesiasticas, eleitoraes e judiciárias. Rio de Janeiro: Lithographia do Instituto Philomathico, 1868. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/179473. Acesso em: 25/07/2016.

AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno. A Pluralidade da Geografia e as Abordagens Humanísticas/Culturais. PUC: MG, 2007.

AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno. A rede urbana da Bacia do Mucuri. Revista Geografia e Ensino, v. 3, n. 1, p. 26-36. Belo Horizonte, 1990.

AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno. Evolução e perspectivas do papel das cidades médias no planejamento urbano e regional, 1984.

AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno. Origens, evolução e perspectivas dos estudos sobre cidades médias. In: SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão (Org.). Cidades Médias. São Paulo: Expressão Popular, 2007. p.69-87.

AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno; BUENO, Maria Elizabeth Taitson; ABREU, João Francisco de. Cidades de porte médio e programa de ações sócio-educativo-culturais para as populações carentes do meio urbano de Minas Gerais. Boletim de Geografia Teorética, Rio Claro, v. 12, n. 23/24, p. 33-46, 1982.

AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno; RIGOTTI, José Irineu Rangel; CAMPOS, Jarvis. Os níveis hierárquicos das cidades médias de Minas Gerais. Revista. RA´E GA, Curitiba, Editora UFPR, n. 13, p. 7-18, 2007.

AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno e SERRA, Rodrigo Valente.: Evolução e perspectivas do papel das cidades médias no planejamento urbano e regional. In: ANDRADE, Thompson Andrade. e SERRA, Rodrigo Valente. (org.) – Cidades médias brasileiras. Rio de Janeiro, IPEA, 2001, 393 p. (1-34).

ANDRADE, Alexandre Carvalho de. As cidades médias e suas inserções nos espaços regionais: O contexto do Sul de Minas. Revista Territorium Terram, v. 3, n. 5, 2015. p.64-79, jan/jun.

Page 162: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

158

ANDRADE, Leandro Braga. A formação econômica de Minas Gerais e a perspectiva regional: encontros e desencontros da historiografia sobre os séculos XVIII e XIX. Revista Caminhos da História. Rio de Janeiro: Vassouras, 2010, v6, n.1.

ARRUDA, Maria aparecida;AMORIM FILHO, Oswaldo Bueno. Os Sistemas Urbanos. Em: BARRETO, Tadeu; CHAVES, Marilena; CUNHA, Marco Antônio R. da; PRADO, Gislaine Ângela. (Org.). Minas Gerais do Século XXI - Reinterpretando o espaço. 1ed. Belo Horizonte - MG.: BDMG. 2002.v. II, p. 189-248.

BARREIROS, Eduardo Canabrava. As Vilas del-Rei e a Cidade de Tiradentes. Rio de Janeiro, José Olympio, 1976, 128p

BARROS, Paulo Cezar de; FERREIRA, Fernando da Costa. A Importância do Estudo da Geografia Histórica para a Compreensão do Espaço Urbano. Revista geo-paisagem (on line) Ano 8, nº 15, 2009. Disponível em http://www.feth.ggf.br/geohist%C3%B3ria.htm. Acessado: 01/08/2016

BERMAN, Marshall. Tudo que e solido desmancha no ar: a aventura da modernidade. SP: Companhia das letras, 1997.

BEZZI. Meri Lourdes. Região: uma (re) visão historiográfica, da gênese aos novos paradigmas. Santa Maria/RS: Ed. UFSM, 2004.

BITOUN, Jan. Regionalizações, tipologias e desenvolvimento territorial: um debate sobre o papel da geografia. In: Anais do XIV ENCONTRO DE GEOGRÁFOS DA AMÉRICA LATINA, 13., 2013, Peru. Anais... Lima/Peru: 2013. CD-ROM.

BRASIL. Lei Complementar Nº 14, de 8 de Junho de 1973. Estabelece as regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, Curitiba, Belém e Fortaleza. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília, DF. Disponível emhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp14.htm. Acessado em 25/07/2016.

CALDEIRA, Altino Barbosa; CASTRO, José Flavio Morais. Transformações no espaço urbano de São João del-Rei/MG sob a perspectiva da geografia cultural e da paisagem. In: VI Congresso Iberoamericano de Estudios Territoriales y Ambientales, 2014, São Paulo/SP. Anais do VI Congresso Iberoamericano de Estudios Territoriales y Ambientales. São Paulo/SP: USP, 2014, p. 83-107.

CAMPOS, Bruno Nascimento. Marcas de uma Ferrovia: a Estrada de Ferro Oeste de Minas em São João Del - Rei (1877-1915). São João Del Rei – UFSJ, 2005. (Monografia de Bacharelado).

Page 163: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

159

CAMPOS, Maria Augusta do Amaral. A Marcha da Civilização: as Vilas Oitocentistas de São João del-Rei e São José do Rio das Mortes – 1810-1844. Belo Horizonte: UFMG, 1998. (Dissertação de Mestrado).

CARLOS, Ana Fani Alessandri. A Cidade. Contexto: São Paulo, 2009.

CARLOS, Ana Fani Alessandri. Espaço Urbano – Novos Ensaios sobre a Cidade. Contexto: São Paulo, 2004.

CARLOS, Ana Fani Alessandri; SOUZA, Marcelo Lopes de; SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. A Produção do Espaço Urbano. São Paulo: Contexto, 2011.

CARVALHO, Luiz Fernando. O Empreendedor da Microrregião de São João del-Rei. Revista Vertentes, nº 4, p. 68-78, FUNREI, jul/dez 1994.

CARVALHO, Marília de Fátima Dutra de Ávila. Comarca do Rio das Mortes em Minas Gerais: expansão urbana, nos séculos XVIII e XIX.Tese (Doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Arquitetura. Belo Horizonte, 2015, Pag. 298.

CARVALHO, TheophiloFeu de. Comarcas e termos: creações, suppreções, restaurações, encorporações e desmenbramentos de comarcas e termos, em Minas Gerais (1709-1915). Bello Horizonte: Imprensa Official, 1922. p. 26-27.

CHAVES, Edneila. Criação de vilas em Minas Gerais no início do regime monárquico: elementos norteadores gerais. XV Seminário sobre Economia Mineira. Diamantina, 2012.

CORRÊA, Roberto Lobato. Estudos sobre a rede urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.

CORRÊA, Roberto Lobato. O Espaço Urbano. São Paulo: Editora Ática, 2004, Pag. 94.

CORRÊA, Roberto Lobato. Rede Urbana. Ática: São Paulo, 1995.

CORRÊA, Roberto Lobato. Região e organização espacial. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1995. 93 p. (Série Princípios).

COSTA, Alfredo. Estruturas Territoriais Dinâmicas e Mudanças Modernizadoras ao longo de 70 anos em Minas Gerais (1940-2010). Revista da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia (Anpege). p.151-183, V.11, n.15, jan-jun. 2015.

COTA, Daniela Abritta.; DIÓRIO, Ana Carolina Dias. (2012). Crescimento urbano na “pequena-média” São João Del Rei, MG: notas preliminares de uma pesquisa. Anais do XII Seminário Internacional RedIberoamericana de Investigadores sobre Globalización y Territorio (RII). Belo Horizonte/MG, 2012.

Page 164: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

160

COTA, Daniela Abritta.; DIÓRIO, Ana Carolina Dias. (2014). O papel de São João del-rei na rede urbana brasileira. Anais do XIII Seminário Internacional RedIberoamericana de Investigadores sobre Globalización y Territorio (RII). Salvador/BA, 2014.

CUNHA, Alexandre Mendes. “A diferenciação dos espaços: um esboço de regionalização para o território mineiro no século XVIII e algumas considerações sobre o redesenho dos espaços econômicos na virada do século”. Anais do X Seminário sobre a economia mineira, Belo Horizonte, CEDEPLAR/UFMG, 2002.

CUNHA, Alexandre Mendes. Vila Rica - São João del Rey: as voltas da cultura e os caminhos do urbano entre o século XVIII e o XIX. Niterói, ICHS/UFF, 2002 (Dissertação de mestrado em História).

DINIZ, Alexandre Magno Alves; BATELLA, Wagner Barbosa. O Estado de Minas Gerais e suas regiões: um resgate histórico das principais propostas oficiais de regionalização. Revista Sociedade & Natureza, Uberlândia, v. 17, n. 33, p. 59-77, Dez. 2005.

DULCI, Otávio Soares. Política e recuperação econômica em Minas Gerais. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1999.

ELIZEU, Kamilla; VICTAL, Jane. As cidades mortas do Vale do Paraíba. In: XVI Encontro de Iniciação Científica e I Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, 2011, Campinas/SP. Anais do XVI Encontro de Iniciação Científica e I Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação. Campinas/SP: PUC, 2011. P. 1-5.

FARIA, Gleyce Alves.; GUIMARÃES, Eduardo Nunes. Integração E Desenvolvimento Regional: Uma Proposta De Regionalização De Minas Gerais. Anais do XII Seminário sobre a Economia Mineira. Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. Ano. 2006.p.24.

FLÔRES, Ralf José Castanheira. São João del-Rei: tensões e conflitos na articulação entre o passado e o progresso. Dissertação (Mestrado). Universidade de São Paulo. Escola de Engenharia de São Carlos. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, 2007.

FONSECA, Claudia Damasceno. Urbs e civitas: A Formação dos espaços e territórios urbanos nas Minas setecentistas. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Sér. v.20. n.1. p. 77-108 jan.- jun. 2012.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, Belo Horizonte. Assessoria Técnica da Presidência. Circuito do Ouro - Campos das Vertentes: diretrizes para o desenvolvimento da estrutura urbana de São João del-Rei. Belo Horizonte, 1982. 2v. ilust.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Estrutura Espacial do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1988.

Page 165: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

161

GAIO SOBRINHO, Antônio. História do Comércio em São João Del Rei. Sindicato do Comércio Varejista: de São João Del Rei, 1997.

GAIO SOBRINHO, Antônio. Sanjoanidades - um passeio histórico e turístico por São João del-Rei. São João del-Rei: Guia Turístico. A Voz do Lenheiro, 1996.

GODOY, Marcelo de Magalhães e BARBOSA, Lidiany Silva. Uma outra modernização: transportes em uma província não-exportadora – Minas Gerais, 1850 – 1870. (texto para discussão), Belo Horizonte: UFMG/Cedpelar, 2007

GODOY, Marcelo Magalhães. Intrépidos viajantes e a construção do espaço – Uma proposta de regionalização para as Minas Gerais do século XIX. Texto para discussão nº. 109, Belo Horizonte: CEDEPLAR / UFMG, 1996.

GRAÇA FILHO, Afonso de Alencastro. A Princesa do Oeste e o Mito da Decadência de Minas Gerais São João Del Rei (1831-1888). Annablume: São Paulo, 2002.

GUIMARÃES, Geraldo. São João del-Rei: Século XVIII: História Sumaria. São João del-Rei. Edição do Autor, 1996. 147p.

HAESBAERT, Rogério. Territórios Alternativos. Contexto: São Paulo, 2006.

HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. Annablume: São Paulo, 2005.

HARVEY, David. Condição Pós-Moderna: Uma Pesquisa Sobre as Origens da Mudança Cultural. São Paulo: Edições Loyola, 2003.

HARVEY, David. Espaços de Esperança. São Paulo: Loyola. 2004.

HENRIQUE, Wendel. Diferenças e Repetições na Produção do Espaço Urbano de Cidades Pequenas e Médias. In: LOPES, Diva Maria Ferlin; HENRIQUE, Wendel. Cidades médias e pequenas: teorias, conceitos e estudos de caso. Salvador: SEI. 2010, p. 45-58.

HENRIQUES, Pedro dos Santos Ferreira. A modernização rodoviária em Minas Gerais: um estudo dos transportes no quadro do processo de integração do mercado interno nacional entre as décadas de 1930 e 1960. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Monografia de Bacharelado, 2009.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Demográfico Brasileiro de 2010. Rio de Janeiro, 2010

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Divisão do Brasil em Mesorregiões e Microrregiões Geográficas. IBGE, Rio de Janeiro, 1990.

Page 166: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

162

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Estimativas populacionais para os municípios brasileiros em 2014. Brasília, IBGE (2011).

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Indicadores sociais municipais. Brasília, IBGE (2011).

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Regiões de influência das cidades 2007. Rio de Janeiro, 2008.

LEFEBVRE, Henri. A cidade do Capital. DP&A: Rio de Janeiro, 1999.

LEFEBVRE, Henri.The production of space. Oxford, UK: Blackwell, 1994. 454p.

LELOUP, Yves. Les villes du Minas Gerais. Paris, I.H.E.A.L., 1970, 301 p. (Thèse de Doctorat).

LENHARO, Alcir. As tropas da moderação; o abastecimento da conte na formação política do Brasil – 1808 – 1842. São Paulo, Símbolo 1979.

LIBBY, Douglas Cole. Transformação e Trabalho em uma economia escravista: Minas Gerais no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1988.

LIMA, Pablo Luiz de Oliveira. A máquina, tração do progresso. Memórias da ferrovia no Oeste de Minas: entre o sertão e a civilização 1880 – 1930. (Dissertação de mestrado) – FAFICH, UFMG, Belo Horizonte, 2003.

LIMA, Sérgio José Fagundes de Souza. Arquitetura são-joanense do século XVIII ao XX. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São João del-Rei, São João del-Rei: Gráfica da APAE, v. 8, 1995.

LOBO, Carlos Fernando Ferreira. ; OLIVEIRA, Jadna Tessia. Dinâmica migratória na Região de Influência de São João del-Rei: os fluxos e a organização do espaço regional. Revista Paranaense de Desenvolvimento, v. 1, p. 149-165, 2011.

LOPES, Miguel Victor Tavares. Estado, transportes e desenvolvimento regional: a “era rodoviária” em Minas Gerais, 1940-1980. Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional Faculdade de Ciências Econômicas – UFMG. Belo Horizonte, 2015, pag. 277. (Dissertação de Mestrado).

LOPES, Miguel Victor Tavares; GODOY, Marcelo Magalhães. Estado, transportes e desenvolvimento regional – A “era rodoviária” em Minas Gerais, 1940 – 1980. Anais do XVII Seminário Sobre a Economia Mineira da CEDEPLAR/UFMG, 2016, Diamantina/MG: UFMG, 2016 p. 579-604.

MAIA. Doralice Sátyro. Cidades Médias e Pequenas do Nordeste: Conferência de Abertura in: Cidades médias e pequenas: teorias, conceitos e

Page 167: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

163

estudos de caso. Diva Maria Ferlin Lopes, Wendel Henrique (organizadores). Salvador: SEI, 2010. 250 p.

MALDOS, Roberto (2000). A Formação Urbana da Cidade de São João del-Rei. 2000. Disponível em http://saojoaodelreitransparente.com.br/works/view/605. Acesso em: 27/06/2016.

MARICATO, Ermínia. Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana. Petrópolis: Vozes, 2001.

MARICATO, Ermínia. Metrópole na Periferia do Capitalismo: Ilegalidade, Desigualdade e Violência; São Paulo, 1995 Disponível em: http://www.usp.br/fau/depprojeto/labhab/biblioteca/textos/maricato_metrperif.pdf- Acessado 28/01/2017.

MATOS, Ralfo Edmundo da Silva. A discussão do anti-urbanismo no Brasil colonial. Geografias (UFMG), v. 7, n. 2, p. 40-55, 2011.

MORAES, Fernanda Borges de. Ateia colonial: aspectos da origem e estruturação territorial do Estado de Minas Gerais. In: VII Seminário de História da Cidade e do Urbanismo, 2002, Salvador/BA. Anais do VII Seminário de História da Cidade e do Urbanismo. Salvador/BA: UFBA, 2002. P. 1-14

MORAES, Fernanda Borges. A rede urbana da Minas Coloniais: na urdidura do tempo e do espaço. São Paulo, FFLCH/USP, 2005 (Tese de doutorado).

MORAES, Fernanda Borges de. Urdiduras da rede urbana das Minas Gerais setecentistas. In: XI Encontro da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano Regional - ANPUR, 2005, Salvador/BA. Anais do XI Encontro da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano Regional – ANPUR. Salvador/BA: UFBA, 2005. P. 1-21.

MOREIRA, Ruy. O que é Geografia? 2° ed. São Paulo: Brasiliense, 2009. Disponível em: https://dakirlarara.files.wordpress.com/2011/08/o-que-c3a9-geografia-moreira-ruy.pdf. Acessado em 20/01/2017.

NATAL, Jorge Luiz Alves. Transporte, ocupação do espaço e desenvolvimento capitalista no Brasil: história e perspectivas. Campinas: Instituto de Economia da Unicamp, Tese de Doutorado, 1991.

PAIVA, Clotilde Andrade. População e Economia nas Minas Gerais do século XIX. São Paulo, FFLCH/USP, 1996 (Tese de Doutorado em História).

PAIVA, Clotilde Andrade e GODOY, Marcelo Magalhães. Território de Contrastes Economia e Sociedade das Minas Gerais do Século XIX. In: X Seminário sobre a Economia Mineira. Diamantina, CEDEPLAR / UFMG, 2002.

Page 168: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

164

PAULA, Dilma Andrade de. Ferrovias e rodovias: o dualismo na política de transportes no Brasil. In: MENDONÇA, Sonia R. (Org.). Estado e historiografia no Brasil. Niterói-RJ: UFF/FAPERJ, 2006, p. 209-230.

PAULA, Dilma Andrade de. Fim de Linha: a extinção de ramais da Estrada de Ferro Leopoldina. Niterói - Universidade Federal Fluminense, 2000. 356 p. (Tese Doutoramento em História).

PAULA, Ricardo Zimbrão Affonso de. Região e regionalização: um estudo da formação regional da Zona da Mata de Minas Gerais. Revista de História Econômica e Economia Regional Aplicada – HEERA. Juiz de Fora, UFJF, número I, 2006.

PEREIRA, Claudinei da Silva; HESPANHOL Antonio Nivaldo. Região e regionalizações no estado de Minas Gerais e suas vinculações com as políticas públicas. Revista Formação, n.22, volume 1, 2015, p. 42-70.

PEREIRA, Honório Nicholls. Permanências e transformações nas cidades monumento: teatro social e jogos de poder (São João Del Rei: 1937-1967). Salvador, 2009. Dissertação (Mestrado). Programa de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia.

PLATKÓVSKI, V.; TITARENKO, S. Que é Formação Econômico-Social. Tradução Fernando A. S. Araújo. Revista Mensal de Cultura Política, n. 58, jun. 1954. Disponível em: <https://www.marxists.org/portugues/tematica/rev_prob/58/formacao.htm#topp>Acesso em: 28 de março de 2017.

PRADO JUNIOR, Caio. História Econômica do Brasil. São Paulo: Editora Brasiliense, 1976. 26ª Edição.

RAPOSO, Ana Eliza de Rezende. As minas colônias forjadas: uma perspectiva para o seu planejamento urbano. São João del-Rei/MG, UFSJ, 2006. (Monografia de Especialização).

RESENDE, Ana Paula Mendonça. A Organização Social dos Trabalhadores Fabris em São João del-Rei: O caso da Companhia Industrial São-Joanense - 1891/1935. Belo Horizonte, FAFICH/ UFMG, 2003. (Dissertação de Mestrado).

RIBEIRO, Rúbia Soraya Lelis. As Fotografias de André Bello (1879-1941): Imagens da Modernidade em São João del-Rei. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais. 2006.

RODARTE, Mario Marcos Sampaio. O Caso das Minas que não se Esgotaram: A pertinácia do antigo núcleo central minerador na expansão da malha urbana da minas gerais oitocentista. Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional Faculdade de Ciências Econômicas-UFMG. Belo Horizonte, 1999, pag. 179. (Dissertação de Mestrado).

Page 169: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

165

SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem pelo Distrito dos Diamantes e litoral do Brasil. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia, São Paulo, 1974.

SANTOS, Bruno Henrique dos; AGUIAR, Lígia Maria Brochado de. A expansão do território urbano e São João del-Rei/MG: a criação/destruição de geografias da esperança. Revista OKARA: Geografia em debate, João Pessoa/PB, UFP. v. 10, n. 1, p. 59-77. 2016.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo: HUCITEC, 2008.

SANTOS, Milton. A Urbanização Brasileira. São Paulo: Hucitec, 1993.

SANTOS, Milton. Espaço e Método. São Paulo: Nobel, 1985.

SANTOS, Milton. Espaço e sociedade. Petrópolis: Vozes, 1982.

SANTOS, Milton. Metamorfose do Espaço Habitado. Hucitec: São Paulo, 1994.

SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. Edusp: São Paulo, 2007.

SANTOS, Milton. Pobreza urbana. São Paulo: Hucitec, 1978.

SANTOS, Milton. Sociedade e Espaço: A formação Social como Teoria e como Método. Boletim Paulista de Geografia: São Paulo, N.54, 1977.

SANTOS, Milton. Técnica, Espaço Tempo Globalização e meio técnico – cientifico – informacional. Hucitec: São Paulo 2000.

SANTOS, Milton; RIBEIRO, Ana Clara Torres. Oconceito de região concentrada. Universidade Federal do Rio de Janeiro, IPPUR e Departamento de Geografia, 1979 (mimeo).

SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: Record, 2003.

SARAIVA, Luís Fernando. O Império nas Minas Gerais: café e poder na zona da mata mineira, 1853-1893. Tese (Doutorado em História) - Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2008.

SERPA, Angelo. Lugar e Centralidade em um Contexto Metropolitano. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri; SOUZA, Marcelo Lopes de; SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. A Produção do Espaço Urbano. São Paulo: Contexto, 2011.p.97 – 108.

SILVA, Marcelo Werner da. A formação de territórios ferroviários no Oeste Paulista, 1868-1892. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2008, p. 311.

Page 170: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

166

SILVA, Marcelo Werner da. A Geografia e o Estudo do Passado: Conceitos, Periodizações e Articulações Espaço-Temporais. Revista Terra Brasilis (Nova Série): N.01, Ano 2012. P.01-14.

SILVEIRA, Maria Laura. Um país, uma região. Fim do século e modernidade na Argentina. Presidente Prudente/SP, vol.1, n.6. 1999, p.65-74.

SOARES, Beatriz Ribeiro. Considerações sobre a produção de Geografia urbana em Minas Gerais. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri (Org.) Os caminhos da reflexão sobre cidades e urbano. São Paulo: Edusp, 1994. p. 145-155.

SOARES, Beatriz Ribeiro. Pequenas e médias cidades: um estudo sobre as relações socioespaciais nas áreas de cerrado em Minas Gerais. In: SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Cidades médias: espaços em transição. São Paulo: Expressão Popular, 2007. p.461-494.

SOARES, Beatriz Ribeiro. Repensando as cidades médias brasileiras no contexto da globalização. Palestra Proferida Junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia, São Paulo, UNESP/ Presidente Prudente, 1998.

SOUZA, Maria Eliza de Campos. Ouvidores de comarcas nas Minas Gerais: origens do grupo, remuneração dos serviços da magistratura e as possibilidades de mobilidade e ascensão social. Anais do XXVI Simpósio Nacional de História da ANPUH. São Paulo: ANPUH, jul., 2011.

SPOSATI, Adalgiza. Cidade em Pedaços. São Paulo: Editora Brasiliense, 2001.

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. A produção do espaço urbano: escalas, diferenças e desigualdades socioespaciais. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri; SOUZA, Marcelo Lopes de; SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. (Org.). A Produção do Espaço Urbano.São Paulo: Contexto, 2011. 234p. p.123-145.

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Loteamentos fechados em cidades médias paulistas. In: SPOSITO, Eliseu Savério; SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão; SOBARZO, Oscar. (Org.). Cidades médias: produção do espaço urbano e regional. São Paulo: Expressão Popular, 2006. 376p. p. 175-196.

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. O estudo das cidades médias brasileiras: uma proposta metodológica. In: SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão (Org.). Cidades Médias: espaço em transição. São Paulo: Expressão Popular. 2007.

SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. Para pensar as pequenas e médias cidades brasileiras. Belém: FASE/ ICSA/UFPA, 2009. v. 1.

Page 171: A FORMAÇÃO SOCIOESPA CIAL DE SÃO JOÃO DEL - … · 2017-05-19 · A fachada do Carmo A igreja branca de São Francisco Os morros ... microrregião de São João del-Rei na mesorregião

167

TAVARES, Denis Pereira. Leituras de São João del-Rei/MG: experiências espaço/temporaisda modernidade. Revista Espacialidades. UFMG, 2011, v. 4, n. 3.

TAVARES, HermesMagalhães. Reestruturação econômica e as novas funções dos espaços metropolitanos. Clacso, 2000.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI,Anuário Estatístico de São João del-Rei. São João del-Rei: UFSJ, 2014.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI, Anuário Estatístico de São João del-Rei. São João del-Rei: UFSJ, 2013.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI, Anuário Estatístico de São João del-Rei. São João del-Rei: UFSJ, 2012.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI, Anuário Estatístico de São João del-Rei. São João del-Rei: UFSJ, 2011.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI, Anuário Estatístico de São João del-Rei.. São João del-Rei: UFSJ, 2010.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI, Plano de Desenvolvimento Institucional 2014-2018 – PDI. São João del-Rei, 2014

VASCONCELOS, Pedro de Almeida. Questões metodológicas na geografia urbana histórica. In. Geo textos. Bahia, vol5, n 2, dez, 2009.p. 147-157.

VASCONCELOS, Pedro de Almeida. A utilização dos agentes sociais nos estudos de geografia urbana: avanço ou recuo? In: CARLOS, Ana Fani Alessandri; SOUZA, Marcelo Lopes de; SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. A Produção do Espaço Urbano. São Paulo: Contexto, 2011. p. 75-96.

VASCONCELOS, Santiago Andrade. Região, globalização e meio técnico-científico-informacional: modernizações, horizontalidades e verticalidades na Região do Seridó paraibano e potiguar na transição do século XX ao XXI. Recife, Universidade Federal de Pernambuco, CFCH. 2012 (Tese Doutorado)

VIEGAS, Augusto. Noticias de São João del-Rei. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1942.

WIRTH, John D. O fiel da balança: Minas Gerais na federação brasileira 1889 – 1937. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982, p. 39-42.