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Pedro Karp Vasquez A Fotografia no Império I r I . 1? anos R. Je,animo CoIho, 215 - Ceniro 88010-030 Fiorianopolis Sc (45) 3028.5744 U. Hail C.F.H. )iJF$C): (48) 3233.4086 www. iv, noel' V roe .com. 0 LL [email protected] Jorge Zahar Editor Rio de Janeiro

A fotografia no Império

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Pedro Karp Vasquez

A Fotografia no Império

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I.1? anos

R. Je,animo CoIho, 215 - Ceniro88010-030FiorianopolisSc

(45) 3028.5744U. Hail C.F.H. )iJF$C): (48) 3233.4086www. iv, noel' V roe .com. 0LL [email protected]

Jorge Zahar EditorRio de Janeiro

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Copyright © 2002, Pedro Karp Vasquez

Copyright © 2002 desca ediçao:Jorge Zahar Editor Lrda.rua Mexico 31 sobreloja

20031-144 Rio de Janeiro, RJtel.: (21) 2240-0226/ fax: (21) 2262-5123

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Todos os direiros reservados.A rcproduçao nao-autorizada desta publicaçao,

no todo ott cm parte, constitui vio!açãOde direitos autorais. (Lei 9.610198)

Capa: S' rgio CampanteIlustraçao da caN: A familia imperial rut Tijuca, RJ, em 1887.

Forografia de Alberto Henschel.Coleçao Dom Joan de Orleans e BragançaVinheta da coleçao: ilustr:ao de Debrer

Composiçao eletrônica: TopTextos Ediçoes Gráficas Lrda.lmpressäo: Cromosete Grafica c Editora

CIP-Brasil. Catalogaçao-na-fonteSindicato Naciona! dos Edirores de Livros, Ri.

Vasquez, Pedro, 1954-V463fA fotografia no lmpCrio / Pedro Karp Vasquez. -

Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2002(Descobrindo o Brasil)

Inclui bibliografiaISBN 85-7110-649-5

1. Fotografia - Brasil - Historia. 2. Brasil - Historia- Irnpário, 1840-1889. 1. TItuIo. II. SCrie.

COD 770.98102-0579 CDU 77(81)

Sumário

Inrroduçao 7A fotografia no Império 8

As primeiras exposiçôes de fotografia 10As primeiras visöes urbanas 12

Imagens do trabalho 210 espelho de Narciso 24

A foto-pintura 30

Fotografia e hisrória 32

A difusão popular da fotografIa 40A coleçao do imperador 41

A fotografia nas provincias:panorama visto da Cone 42

Glossdrio 54Cronologia 60

ReferPncias efontes 63

Sugestóes de leitura 66

Sobre o autor 69

Ilustraçoes (entre p.36-37)

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Introdução

o impulso que me motiva a escrever a respeito dahistória da fotografia não é fruto do anseio de compro-vação de uma tese determinada, nem tampouco o deobter reconhecimento académico, mas simplesmenteo de compartithar corn o major ndmero possivel depessoas meu irrestrito entusiasmo pela obra dos fotó-grafos oitocentistas que atuaram em nosso pals, comos quais tenho convivido intensamente nos óltimosvinte anos. Alguns já se tornaram intimos, como RevertHenrique Kiumb, Victor Frond, Joaquim Insley Pa-checo, George Leuzinger, Marc Ferrez e Juan Gutier-rez. Aoutros dedico admiraçao distante poMm profun-da, como Camillo Vedani, Augusto Stahl, Benjamin R.Mulock, Rodolpho Lindemann, Albert Richard Dierzee Jorge Henrique Papf. A todos encaro corn oassombrado deslumbramento pela qualidade do traba-Iho que conseguirarn realizar aqui no Brasil, tao distan-te dos grandes centros fotograficos do hernisfério none,superando diuiculdades técnicas e as limitaçoes ineren-tes a nossa sociedade escravocrata para produzir obras

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irretocáveis. E esse alumbrarnento que pretendo parti-Ihar corn o leitor amigo, num misto de convite eaperitivo Para incursöes mais aprofundadas no ricouniverso da fotografia brasileira do perIodo imperialda prirneira década repubticana - quando a influênciado Irnpério ainda se fazia sentir de forma determinanteern eventos de repercussão nacional corno a Revolta daArmada e a Carnpanha de Canudos, ambos objeto dedocumentaçao fotografica pioneira.

A fotografia no Império

Pátria da luz, rnorada do sol, o Brasil conheceu muitocedo a invenção de Daguerre, poucos mesa depois doan(incio oficial de sua invenção, feito em Paris a 19 deagosto de 1839. Corn efeito, já a 17 de janeiro de 1840o abade frances Louis Cornpte, capelao da fragataL'Orientale, tirou os prirneiros daguerreótipos em ter-ritório brasileiro. Foram trés vistas da região central dacidade do Rio de Janeiro, focalizando o Paço Imperial;o chafariz de Mestre Valentirn; e o antigo Mercado daCandelária, projetado pelo arquiteto Grandjean deMontigny, rnembro da Missao Artlstica Francesa.

Sensivel ao prodlgio do novo rneio de expressãoapesar de sua pouca idade (fizera 14 anos no dia 2 dedezembro do ano anterior), urn rapazola carioca tor-nou-se o primeiro brasileiro a adquirir e utiiiizar urn

A FOTOc3RAFIA NO IMPERPO

equiparnenro de DAGUERREOTIPIK, ern marco daquelemesmo ano de 1840: Pedro de Alcântara Joao CarlosLeopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de PaulaLeocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragançae Habsburgo. Em virtude do absorvente oficio deimperador, dom Pedro II não teve a oportunidade dese dedicar intensahiente a prática da fotografia, o quenao o impediu, contudo, de se tornar a figura centralda fotografia brasileira oitocentista, muito em virtudeda constituição da primeira grande coleçao de fotogra-La do pals, que doou a Biblioteca Nacional quando deseu banimento do Brasil. A irnediata e perfeita percep-ção da importância do papel que a fotografla viria adesempenhar em todos os setores da Vida humana fezcorn que dorn Pedro 11 rivalizasse corn a soberanainglesa, rainha Vitoria, no concedirnento de honrariasaos praticantes da nova técnica. Urn exemplo: já a 8 dernarço de 1851 atribuiu a dupla de daguerreotipistasBuvelot & Prat o titulo de Photographos da CasaImperial.

A faseinaugural da fotografia na Cone se prolongoude 1840 ate o inIcio da década de 1860, quando aconsolidaçao do uso do negativo de COLODIO CJMTDO edas cópias sobre PAPEL ALBUMINADO relegararn ac, se-gundo piano os primeiros processos, que geravarn ape-

As palavuas destacadas conscam do glossário, ao final do volume.

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nas imagens dnicas, como a daguerreotipia, a AMBRO-

TIPIA e a FERROTIPIA. Muitos dos primeiros fotografosforam itinerantes que permaneceram pouco tempo nacidade antes de seguir pan outras freguesias, outroseram estrangeiros ou forasteiros que fizeram da Corteum novo lar, mas todos merecem set louvados pelopapel crucial que desempenharam na Iixaçao da foto-grafia no território brasileiro. Na impossibilidade denomeá-los todos, cumpre destacar entre os mais repre-sentativos: Francisco Napoleao Bautz; Buvelot & Prat;Lewis & Chaise; Biranyi & Kornis; Manuel Banchieri;Cayrol; Carneiro & Smith; Justiniano Jose' de Barros;Diogo Luiz Cipriano; Morange; Henri-D&46 Dome-re; Serafim Duarte dos Santos; Gaspar Guimaraes. Semesquecer aquela que foi a primeira mulher a adminis-trar sozinha urn ateliê fotográfico na cidade: Henrique-ta Harms, que em 1851 recebia seus clientes a rua dosLatoeiros 83. 0 centro da cidade, alias, concentrava amaioria dos estüdios fotograficos, num perimetro quepodia set percorrido sem problemas de uma s6 per-nada.

As primeiras exposiçöes de fotografia

Pr6diga em acoiher todas as novidades fotograficas, aCorte brasileira assistiu a uma das primeiras participa-çöes femininas nessa nova arte em todo mundo, quan-

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do a sra. Hippolyte Lavenue exiblu daguerreótipos naExposiçao Geral de Belas-Artes da Academia Imperial,em 1842. A partir dessa data, a fotografia sempreencontrou urn espaço privilegiado Para sua difusão nasexposiçöes anuais da Academia e nas importantes Ex-posiçôes Nacionais do periodo imperial, promovidasem 1861, 1866, f873 e 1875.

Naquela época ainda não era costume a realizaçaoindependente de mostras de fotografia, de forma queas exposiçOes supracitadas constitulam oportunidadesexcepcionais de sensibilizaçao do grande pdblico Parao fenômeno fotográfico. Fora da cidade do Rio deJaneiro, as oportunidades de exibiçao cram ainda maisraras, restritas as poucas exposiçbes provinciais realiza-das em Minas Gerais (1861), Pernambuco (1861, 1866e 1872), Parana' (1866), Bahia (1872 e 1875), RioGrande do Sul (1875 e 1881) e São Paulo (1885). 0que significa dizer que a cidade do Rio de Janeirooferecia, por intermédio das Exposiçoes Gerais de Be-las-Artes da Academia Imperialrealizadas entre1840 e 1884 a Onica instância regular de consagra-ção para a fotografia. De rnodo que näo causa estra-nheza o fato de que a fotografia tivesse presença desta-cada em várias dessas exposiçöes. Brilharam nessasocasiOes, além da ja citada sra. Hippolyce Lavenue,Louis Abraham Buvelot, Joaquim Insley Pacheco, JoséFerreira Guirnaraes, Manuel Banchieri, Revert Henri-que Klumb, Augusto Stahl, Eduardo Isidoro Van Ny-

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vet, Carneiro & Gaspar, Antonio Araüjo de SouzaLobo, Henschel & Benque, Modesto Ribeiro, e MarcFerrez, entre outros talentosos pioneiros.

As primeiras visöes urbanas

Existia em meados do século XJX uma caréncia de vistasdo Brasil, pals ate então muito pouco representado, jáque durante o periodo colonial os portugueses tinbarnproibido terminantemente que dde se pintassem pai-sagens, para evitar o atiçarnento da cobiça dos invasoreseuropeus. Ironicamente, o primeiro grande pintor pai-sagista do pals foi justamente urn "invasbr", o holandésFrans Post, que pintou o Nordeste durante a ocupaçãode Maurlcio de Nassau no século xvii. Alguns viajantespintaram ou desenhararn o pals em diferentes mornen-tos, levando para seus respectivos paises a fruto de seuslitbores, de forma que somente depois da transferênciada Farnilia Real portuguesa para o Brasil, em 1808, e,sobretudo, após a vinda da Missao Artistica Francesade 1816, a pintura de paisagem passou a set incentiva-da, ensinada e praticada corn regularidade. Sucedeu noentanto que a Academia Real de Belas-Artes, fundadapelo principe-regente dam Joao vi e rebatizada Acade-mia Imperial de Belas-Artes depois da Proclarnaçao daIndependencia, era dorninada pelo classicismo. Assim,enquanto seits colegas europeus abandonavarn a clau-

sura do ateliê para pintar ao at livre, sob a inspiraçãoIibertária que iria conhecer seu ápice corn o movimentoimpressionista, as membros da Missao ArtIstica prefe-riam permanecer no ambiente claustrofobico das salasde aula impregnadas pelo odor da terebintina, ao invésde deixar que seus coraçöes e talentos se expandissemsob a influência benefica do cheiro de maresia daspaisagens cariocas. Nao tardou para que urn artistamais ldcido e independente, o a!emão Georg Grimm,questionasse tal tradiçao descabida, rompendo corn aAcademia em 1884 e atraindo consigopara a praiade Boa Viagem, em Niterói aqueles que seriam osrenovadores da pinrura de paisagem no Brasil: Domin-go Garcia y Vázquez, Hipólito Boaventura Caron,Giambattista Castagneto, Joaquim José de Franca Ju-nior, Thomas Georg Driendel, Francisco Joaquim Ga-mes Ribeiro e Antonio Parreiras.

Apesar de a produçao de paisagens ter começado ase implementar já na primeira rnetade do século XIX,tinba contra si dois obstaculos de monta: o alto custodas pipturas e o caráter ainda incipiente da produçaode estampas e gravuras, de modo que a fotograflaencontrou al urn terreno praticamente vago, sobretudoquando se iniciou a ligaçao regular por navios a vaporcorn, a Europa, na década de 1860, aurnentando ademanda por esse tipo de irnagens por parte dos visi-tantes estrangeiros. Nesse momento se consolidavatambCm o processo de cópias sobre papel albuminado

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A FOTOGRAFIA NO IMPERIO

(realizadas primeiro a partir de negativos de co!ódioórnido preparados pelo prOprio fotografo e depois apartir das PLACAS SECAS já industrializadas), de modoque se tornou mais fácil o oferecimento aos visitantesde outros paIses ou de outras provincias de vistasavulsas e álbuns contendo a imagem e sernelhança dasprincipais construçôes e logradouros da Corte, assirncomo de suas muitas belezas naturais.

Durante as décadas de 1840 e 1850, a produçaofotografIca carioca concentrou-se, por razOes escrita-mente comerciais, em torno do retrato, ate que, nasegunda metade dos anos 50, dois fotografos corneça-ram a docurnentar a cidade de forma sistemática: oalernao Revert Henrique Kiumb e o frances VictorFrond.

Kiumb foi a pioneiro da FOTOGRAFIA ESTEREOSCO-

PICA no Brasil, efetuando uma arnpla docurnentaçaocorn esse sistema entre as anos de 1855 e 1862, focali-zando - em mais de 300 vistas - as principaismonurnentos e logradouros pOblicos da Cpoca, e sendoo prirneiro a se aventurar pelo Alto da Boa Vista e aFloresta da Tijuca. Em seu trabalho sobre a cidademerece destaque urn conjunto de quase 50 vistas doPasseio Páblico, pois mostram esse que foi o primeirojardirn publico brasileiro corn seu desenho original de1783, obra dogênio de Mestre Valentirn (Valentim daFonseca e Silva), antes que fosse alterado pelo paisagistafrances Auguste Marie Glaziou ern 1862. Dono de

invulgar talento, Kiumb foi a fotOgrafo predileto dairnperatriz Thereza Christina e professor de fotografiada princesa Isabel, sendo agraciado corn o titulo dePhotographo da Casa Imperial a 24 de agosto de 1861.Foi tambern - corno se vera mais adiante - urn dosprecursores do uso da fotografia no campo editorial.

Victor Frond: sediado a rua da Assernb!éia 34/36,fotografou a cidade a partir de 1858, fazendo dela urndos temas centrais de seu Brazil pino resco, o prirneirolivro de fotografia realizado na America Latina, editadoem 1861. Frond fotografou aspectos diversos da zonaportuária; vistas do mosteiro de São Bento; Outeiro daGloria; Mercado da Cidade (que fIcava na base doouteiro e foi demolido sern jamais ter sido utilizadocorno mercado); dos Arcos da Carioca; Santa Casa deMisericOrdia (ainda a beira-mar); rnorro do Castelo;Quinta da Boa Vista (residência do imperador); Largodo Paço (sede do governo imperial); e Pao de Açácar.Dam Pedro ii apoiou a publicaçao desse livro de Iota-grafias que, apesar de concebido por urn particular,ambicionava a efetivaçao de "urn projeto paisagisticode grande fôlego, acalentando a desejo de documentara terra brasileira ate as rnais longinquos confins dasmais recônditas provmncias". E possivel que a impera-dor tenha facilitado a impressão do texto desta obra naIrnprensa Oficial (o album de lirograulas foi impressoem Paris, na prestigiosa Imprirnerie Lemercier), berncoma tenha facilitado a acesso do fotografo a fazenda

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do governo no interior fluminense. Se não esses, certa-mente algum tipo de apoio concreto o imperadorconcedeu, pois, akm de agradecer seu apoio a iniciati-va, Frond fez questão de incluir no livro, a guisa dehomenagern, retratos de dorn Pedro ii, da imperatrizThereza Christina e da princesa Isabel.

Depois de Kiumb e de Frond, fotografou a sede daCorte o alemao Auguste, Stahl que, vindo do Recife -onde já se destacara em virtude de seu talento Impar-, instalou-se na cidade do Rio de Janeiro a 4 defevereiro de 1862, em associação corn GermanoWahnschaffe, pintor responsavel pela rea!ização dasFOTO-PINTURAS de seu estabelecimento, situado ado Ouvidor 117. Apesar de sobreviver como retratista,Stahl tinha no paisagismo sua vocação major, conformeja comprovara corn o Memorandum pittoresco de Per-nambuco, que ofertara a dom Pedro ii quando da visitado soberano ao Recife em 1859. Augusto Stahl foi urndos mais criativos fotografos paisagistas do periodoimperial, pois não se curvava as regras classicas decornposição imposras pela tradiçao instaurada corn apintura, procurando representar o mundo corn umanova visão, essencialmente fotografIca. Ainda na pro-vincia de Pernambuco, Stahl documentou a construçaodaquela que foi a segunda ferrovia bras ileira, ligandoas cidades do Recife e do Cabo; enveredou pelos man-guezais e pelas fazendas do interior, scm descuidar noentanto de registrar as belezas arquitetônicas e urbanis-

ticas da cidade do Recife, enfeitada pelas muitas pontessobre o Capibaribe. Chegando ao Rio de Janeiro,continuou a dar livre curso ao seu talento, esquadri-nhando o horizonte urbano novo aos seus olhos cornigual avidez e refazendo os carninhos ja delineados porKlurnb e por Frond, porérn corn mais expressividade.Isso porque KJuib usou sobretudo o processo este-reoscópico, que, apesar da vantagem de apresentarirnagens tridirnensionais, o fazia em pequeno forrnato(7,2 x 7cm), enquanto as parcas 19 vistas que Frondtirou da cidade perdiam o sabot de sua origern fotogra-fica em virtude da transcrição para a litografia. Stahldeixou imagens mernoráveis tanto do centro da cidadequanto das regiôes de Botafogo, Jardirn Botânico eCaturnbi, complementando o trabalho de Kiumb aofotografar o Passeio Póblico irnediatarnente apás areforma realizada por Glaziou, que transforrnou obucolico jardim para se viver de Mestre Valentim numcartesiano jardim para se ver de modelo frances.

Igualrnente digno de destaque é o italiano CamilloVedani que viveu no Rio entre meados dos anos 1850e rneados dos anos 60. Obrigado a se dividir entre asaulas de desenho e de italiano para sobreviver, Vedanirealizou urn restrito porérn esplêndido conjunto devistas da cidade. Particularmente bem realizado foi opanorama que descortinou da fortaleza de São José na11km das Cobras ponto de vista preferencial inaugu-rado por Klumb e utilizado por todos os demais fotó-

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grafos oitocentistas , mostrando todo o centro dacidade, corn destaque Para a irnponente igreja da Can-delária, corn sua cüpula ainda ern construção. Todavia,sua obra-prima inquestionavel foi urna vista do Largodo Paço tornado do ângulo oposro ao que seus colegascosturnavarn utilizar, rnostrando a praça a partir da ruaDireita, corn a fachada lateral do Paço Imperial redu-zida a rnero elernento auxiliar da composição. Nessaónica irnagern ele soube demonstrar todo scu talento,afiado em anos de prática do desenho, elaborando urnacornposição irretocável, na qual as linhas diagonais dascanaleras ernbutidas no calçamento dialogarn admira-velrnente corn aquelas forrnadas pelo prédio do Paço epor outros elernentos secundários do enquadrarnenro

urna fotografia que e urna verdadeira aula de pers-pectiva e cornposição.

0 suIço George Leuzinger, foi quern sistematizou avenda de paisagens fotograficas na cidade. Alérn defotografo, ele era proprietário da Casa Leuzinger (mis-to de papelaria, grafica, oficina de encadernaçao eponto de vendas de gravuras, forografias e equiparnen-to fotografico), situada a rua do Ouvidor 36 e, maistarde, a rua Sete de Setembro 35/37. Por volta de 1865,Leuzinger editou urn catálogo listando 337 vistas dife-rentes, quase todas dedicadas a cidade, rnas incluindotarnbérn panoramas das regiOes serranas de Petropolis,TèresópoJis e Friburgo. Antecessoras dos cartôes-pos-rais e das revistas ilustradas corn fotografias, essas ima-

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gens eram vendidas ern formatos diversos, das grandespanorârnicas as pequenas CARTESDE VISITE, permitindoque urn n6rnero consideravel de visitantes as adquiris-sern. Por sinai, uma série dessas imagens foi premiadacorn a rnedalba de prata na Exposiçao Internacional deParis ern 1867, conquistando a primeira distinçao dogênero obtida pdo Brasil no cenário internacional.Nessa rnesrna ocasião, Leuzinger expos pela primeiravez fora do pals imagens do Amazonas - focalizandoos Indios e seus costumes, bern corno a fauna e a florada região -, que ele havia encornendado ao alernaoAlbert Frisch ern 1865 e as quais distribula em seuestabelecimento. Essa cornbinaçao dc fotografias deIndios, de anirnais e da flora da mata virgern corn acosrnopolita sede da Corte certarnente contribuiu paraa criação do rnito do Brasil como urn irnpério de feiçoeseuropéias valenternente erguido em plena selva tro-pical.

Tendo iniciado a carreira corno aprendiz na CasaLeuzinger, o carioca Marc Ferrez possuiu estüdios a ruaSão José 96 e, posteriormente, 88. Autor de urna obraprodigiosa, seja pela qualidade técnica, pelo valor esté-tico, pelo volume ou pela abrangência geografIca, Fer-rez fotografou absolutamente todos os aspectos paisa-gIsticos, urbanisticos e humanos do Rio de Janeiro.Alérn disso, registrou todas as ernbarcaçoes que viriarna tomar parte na Revolta da Armada, em virtude de suacondiçao de Onico profissiorial a rnerecer o titulo de

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Photographo da Marinha Imperial. Incansavel, Ferrezfoi a fotógrafo que mais circulou pelo Brasil durante aséculo xix, não só descorrjnando novas horizontesgeograficos, coma desbravando também novos camposde atuaçao pan a fotografia. Na provIncia de MinasGerais, dc documentou em profundidade os trabaihosde rnineração que haviam sido abordados pela primeiravez em 1868 pelo alemao Augusto Riedel. Benefician-do-se de inovaçöes técnicas como as placas secas degelatino-brornureto de prata e o flash de magnésio -que die parece ter sido o primeiro a utilizar no Brasil-, tornou-se o primeiro profissional a fotografar ostrabaihos de siderurgia na usina de Boa Esperança, berncorno de extração aurifera no interior de mina fechada.Na cidade do Recife, Ferrez realizou vistas antologicasdesse porte singular entre todos os demais brasileiros,bern como fotografias dos imponentes navios de daisou trés mastros ali atracados e detalhes dos recifes, sobas ordens dos cientistas da expediçao Charles FrederickHartt, para subsidiar as trabalbos da Comissao Geoló-gica do Jrnpério, em 1875. Chegou ate Belém, fotogra-fando na passagern a Praia de Cabedelo, na provInciada Paraiba, e a porto de Fortaleza, antes de registrar osaquosos panoramas de Belém as docas do Reduto,a ousadia da torre d'água (major construçao local,erguendo sua esguia porém poderosa estrutura metali-ca 53 metros acirna do solo) - e a recém-conclu(doTeatro da Paz, cuja beleza neoclassica foi devida ao

talento de Jose' Tibdrcio Pereira Magalhaes. Andoutambém pelas provincias de Sao Paulo, onde fotogra-fou o porto de Santos, e do Parana, onde acornpanhoua conclusão da construção da estrada-de-ferro Parana-guá-Curitiba cm 1879, registrançlo seu vertiginosoviaduto, quc airida hoje causa forte impressão pelaousadia de sua cbncepção.

0 6ltimo grande paisagista do periodo imperialfoi o espanhol Juan Gutierrez. Penültimo contem-plado corn o titulo de Photographo da Casa Impe-rial, a 3 de agosto de 1889, dc instalou sua Corn-panhia Photographica Brazileira a rua GonçalvesDias 40 - ao lado do terreno no qual se ergueriamais tarde a Confeitaria Colombo, que se tornariatao prezada pelos artistas e intelectuais -, produ-zindo em menos de urna década ampla docurnen-tação paisagistica de qualidade indiscutivel. Seu le-gado mais importante foi a documentaçao da Re-Volta da Armada, que sera' abordada adiante.

Imagens do trabalho

Marc Ferrez foi urn dos raros fotografos oitocentistas ase afastarvolunrariarnente do retrato como fonte básicade renda, preferindo efetuar serviços de docurnentaçaode grande envergadura ao ar livre, mais próximo dorema de sua predikçao: a paisagem. Esse gosto pelo

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trabaiho de campo levou-o a preduzir, em momentosdistintos, dois importantes conjuntos de imagens sobreo trabalho: primeiro sobre o labor escravo e, mais tarde,sobre os trabalhadores livres. Ainda que tenha sidoprecedido por Victor Frond, em torno de 1.858, noregistro do trabalbo escravo, Marc Ferrez, que abordouo tema ja na dcada de 1880, o fez de forma bern maisinteressante. Isso porque, eriquanto as imagens deFrond eram forçosamente posadas e estáticas (em virtude de ele operar ento corn o lento e complicadoprocesso de colódio ómido), as de Ferrez (beneficiadopela agilidade proporcionada pelas placas secas indus-trializadas) são cheias de Vida e dinamismo. Se nospianos gerais de Frond vemos os escravos se preparandopara ir para a roça ou durante a pausa do almoço, nasfotografias de Ferrez os vemos em plena labuta, espa-ihando café nos terreiros, carregando os pesados cestosde vime as costas ou coihendo o café - da mesmaforma que surpreendemos urn garimpeiro em plenoato de batear num riacho, inteiramente alheio a pre-sença do fotografo.

Christiano Junior reaiizou, em torno de 1865, umasérie de retratos de escravos tirados em est6dio, mos-trando os chamados "negros de ganho" sirnuiando asdiversas ocupaçôes que costumavam desempenhar nasruas da cidade do Rio de Janeiro: vendedores de frutas,verduras, flores, peixes, leite ou cadeiras, barbeiros,cesteiros, carregadores etc. Christiano Junior tambérn

A FOTOORAFIA NO IMPERIO

tirou algumas fotograuias de escravos em exterior, assimcomo retrains, destinados a ilustrar as diversas naçôesafricanas das quais seus modelos eram oriundos: mina,nagô, cabinda, congo, mongolo, criola, oluman. Algu-mas dessas fotografias, mostrando muiheres e crianças

menos maltratadas do que os homens e enfeitadascorn seus belos irajes tIpicos -, chegam a ter certadignidade e beleza. Em contrapartida, os retratos mas-cuiinos de busto são impregnados de profunda tristeza,enquanto naqueles que simulam atividades de trabaihoé posslvei se perceber correntes nos pés dos desafor-tunados modelos, encarados por Christiano Juniormais corno mercadoria do que corno seres humanos.Corrobora essa irnpressão o andncio por ele publicadonoAlmanakLaemmertdo anode 1866, divulgando seuestabelecimento situado a rua da Quitanda 45 e no-tificando ao "respeitável ptlbiico" possuir "variada co-leçao de costumes e tipos de pretos, coisa muito própriapara quem se retira para a Europa". Prova de que suaunica preocupaçao era apenas explorar o exotismobrasileiro em sua pior faceta: a de pals escravocrata.Muitos outros fotografos também cometeram o mes-mo pecado, produzindo retrains de escravos para ex-portaçao, como Augusto Stahl, Rodoipho Lindemann,Alberto Henschel e Marc Ferrez, mas Christiano Jü-nior foi aquele que o fez de forma mais sistemática edesapiedada. Parecia coiecionar seus 11tipos de negroscorn o mesmo alheamento em relaço ao destino de

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PEDRO KARP VASQUEZA FOTOGRAFIA NO IMPERIO

seus retratados corn o quai urn entornologista vai espe-tando, urn após outro, insetos nas vitrines de suacoleçao.

0 espelho de Narciso

Ao anunciar ao mundo, em 1839, a invenção da da-guerreotipia, em esforço conjunto das acadernias deArtes e de Ciências da Franca, o fisico e politicoFrançois Arago ressaltou o valor da nova técnica comoauxiliar da ciência ao citar corno exernplo o papelfacilitador que ela poderia ter na reproduçao dos hie-r6glifos eg(pcios, corn urn so homern efetuando cornrnaior fidelidade a tarefa que demandaria 20 anos detrabaiho de "legiöes de desenhistas". Nobre, ainda quesubalterna, funçao, que a fotografia não deixou deexercer mas que foi suplantada - e como! - per outrabern mais prosaica e nao aventada na rnesrna ocasiãopor Arago: a de reproduçao do rosto hurnano.

Vale a pena evocar aqui a forma corno o MagasinPit-i-a resque fez eco, nesse mesmo ano de 1839, a noticiada invençao da daguerreotipia:

Assirn nenhuma dávida, nenhurna ambiguidade. Urnapessoa que ignore totairnente o desenho pode, cornauxIlio do DaguerreOtipo, obter em alguns rninutosimagens perfeitas e duráveis de todos os objetos e de

todas as vistas que ihe agradarn. Basta posicionar oapareiho diante de urna paisagern, diante de urn mo-nurnento, diante de urna estátua, ou, dentro do pr6-prio quarto, diante das curiosidades e dos quadros que0 ornamentarn, e, ern poucos instantes, conseguirperfeita reproduçao. Tera assirn urn desenho que podeset enquadrad, protegido corn urn vidro e penduradona parede corno urna estarnpa que ele teria executadolentarnente, pacienternente, e corn grande custo. Cadaurn de nOs pode, corn essa admirável invenção, cercar-se de todas as lernbranças que Ihe são caras; ter urnareproduçao Gel de sua casa paterna, dos lugares ondeviveu, ou que adrnirou no decurso de suas viagens.

•Norar aqui que o cronista nao-identificado sequerconsiderou a hipOtese de utilizaçao da daguerreotipiapara a realizaçao de retrains...

E célebre urn texto de Charles Baudelaire no qual opoeta, sempre pronto a espicaçar seus conternporâneosrnais conforrnistas, vituperou contra a fritilidade dasociedade que se precipitava sobre o espelho de metaldo daguerreonpo corno urn urilco Narciso . Mas averdade é que esse seu raivoso ranger de dentes nãoirnpediu a ascensão do retrato ac, pinaculo dos génerosfotograficos, come, tema preferencial da prirneira clien-tela abonada capaz de pagar o alto preço de urn daguer-reátipo. 0 retrato perrnitiu a expansão inicial da Low-grafia e, depois da difusao dos processos populates

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PEDRO KARP VASQUEZ

sobre papel, como a carte de visite e a CARTE CABINET,possibilitou a consolidaçao definitiva da fotografiacomo atividade profissional.

Assjm sucedeu em todo o mundo, inclusive noBrasil, onde, obviarnente, a sede da Cone, a cidade doRio de Janeiro, perrnaneceu durante todo o perlodoimperial como o principal centro fotografico, atraindoexpressivo nümero de profissionais estrangeiros e bra-sileiros, visassem eles aqui atuar apenas de passagem oufincar definitivas raizes comerciais no fértil solo cario-ca. Scm dóvida alguma o mais fértil do Brasil, já que,alérn da clientela fixa local, também se beneficiava dofluxo constante de visitantes de outras provincias quevinham tratar de seus negOcios na Corte. Nao podemosribs esquecer no entanto da deleteria sonibra da escra-vidao, a obscurecer sempre o panorama do perIodoimperial, que, além das terriveis irnp]icaçôes do pontode vista humano, também representava urn fator res-tritivo a plena expansâo da fotografia. Isso porque,vendo a coisa sob o prisma puramente econômico, aenorme populaçao escrava não tinha condiçoes deacesso a fotografia, então muito onerosa.

Francisco Napoleao Bautz, pintor alemao presenteno Rio de Janeiro desde 1839, tornou-se urn dosprimeiros fotdgrafos residentes da cidade, em 1846.Bautz publicou anáncios nas ediçoes de 15 de janeiroe 4 de abril doJorna/do Commercio, quando comuni-cou estar apto a corn qualquer tempo [urar] o retrato

A FOTOGRAFIA NO IMPERIO

em menos de urn minuto". Esse longo TEMPO DLExl'oslcAo transformava os primeiros estádios de foto-grafia numa espécie de cârnara de tortura, visto quecram dotados de curiosos acessórios de aparncia sinis-trarnente hospitalar, como a for9uilha destinada amanter imével a cabeça do retratado, para que seu rostonão saIsse trernido no retrato. Isso e a preocupação emnão piscar conferiam aos primeiros retratados urnaexpressão ora de excessiva solenidade, ora de espantoou desatino. De tal forma que, ao examinarmos retra-ins fotograficos dos primárdios, as vezes temos a im-pressão de vermos diante de nós a prápria pessoa, emsua substância mais Intima, circunstância que fez, potexemplo, corn que os indios brasileiros encarassem aforografia corn total reserva, por acreditarem, comoexplicou o naturalista Louis Agassiz, que "um retrainabsorve alguma coisa da vitalidade do indivIduo nelerepresentado e que está em perigo de morte sóbitaquem se deixa retratar".

Entre eles vamos encontrar Guilherme Telfer, queem 1850 se instala no sobrado da rua do Ouvidor126 (e se transfere no ano seguinte para a rua dosOurives 34), anunciando-se como professor de fo-tografia. Foi, sem ddvida alguma, urn dos precut-sores do ensino da fotografia no Brasil, mas ja haviasido precedido por Bautz, que divulgara ensinardaguerreotipia em propaganda publicada no Alma-nak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de

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PWRO KARP VASQUEZ A FOTOGRAFIA NO IMPERIO

Janeiro em 1848. 0 certo é que esses dois magnâ-nimos pioneiros, dispostos a compartilhar os segre-dos de uma disciplina técnica e artIstica tao mes-merizante quanto sedurora Para o ptIbiico oitocen-tisra, em muito contribufram Para consotidar a im-portância do pioneirismo da cidade do Rio de Ja-neiro nos diferenres campos da atividade forogra-fica.

Antes deles, aqui estivera a norte-americano Augus-tus Morand, vindo de Nova York em 1842. Foi oprimeiro a fmncar praça no indefectIvel Hotel Pharowc- situado em local privilegiado, defronte ao PaçoImperial - onde, em aniincio publicado nas ediçoesde 23,25 e 27 de dezembro daquele ano no Jornal doCommercio, comunicou que atendia aos interessadosentre oito da rnanhã e trés da tarde. A presença deMorand na cidade do Rio de Janeiro demonstrava queo Brasil era capaz de atrair então não só aventureiros,como também a fina nata da fotografia internacional.Lie e seu sácio, conhecido apenas peio vago sobrenomede Smith, chegaram a set recebidos por dom Pedro IIem sua residéncia, no Paiacio de São Cristóvao (hojemais conhecido como Quinta da Boa Vista), ondefizeram inclusive tomadas da propriedade, presentea-das pelo imperador ao Principe Adalberto da Prussia,quando de sua passagem pelo Brasil no mesmo ano.Igualmente certo é o fato de que, antes de deixarem oBrasil, Morand e Smith transferiram o porno - já que

nao se tratava efetivarnente de um estiidio na verdadei-ra acepção da pa!avra - Para J.D. Davis, muito pro-vavelmente compatriota deles, conforme anunciado naediçao de 3 de maio de 1843 doJorna/do Commercio.

0 daguerreotipo, como ja dito, era extremamentecaro; o norte-americano Charles DeForest Frericks,que percorreu o pals de none a sul durante a década de1840, chegou a cobrar dos estancieiros da provincia doRio Grande do Sul ricos em tetras e bens, mas asvezes desprovidos de moeda sonante - urn cavalo porcada retrato que executava corn esse processo. Feliz-mente, a frances Disdéri teve, em 1854, a idéia de criarurn processo de retratos de pequeno forrnato sobrepapel albuminado, denominado carte de visite, perrni-tindo o progressivo baratearnento do custo dos retratose pondo assirn a forografla ao alcance de um ndmerocada vez rnaior de interessados. 0 preço dos retratosfoi caindo de tal forma Clue em 1874 a oflcina deChristiano Junior e Pacheco podia oferecer uma ddziade retratos no formato carte de visite por apenas 5$000,ao passo que B. Lopes, beneficiario de urn curiososistema de associaçöes que o fazia anunciar trés ende-reços distintos nurna ónica ediçao do Laemmert, che-gava a prestar o rnesmo serviço pot apenas 3$000. Parase ter uma medida de comparação, basra lembrar quenos tempos de Fredricks urn dnico daguerreotipo cus-tava de 5$000 a 8$000.

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A FOTOGRAFIA NO IMPERIO

A foto-pintura

o português Joaquim Insley Pacheco e o melhorplo daqueles artistas egressos da pintura que acabaranise tornando requisitados retratistas fotograficos. JS citeio alemao Francisco Napoleao Bautz, o primeiro aestabelecer essa ponte no Brasil, e poderia evocar tam-bern outro importante compatriota seu, Karl ErnestPapf, que atuou tanto corno fotógrafo quanto cornopintor para a Phorographia Allema de Alberto Hens-chel, a partir da década de 1860, antes de se estabelecerpor conta propria - em parceria corn seu fliho, JorgeHenrique Papf— em Petropolis, em 1880. Mas, apesarda breve passagem carioca dos Papf, quern meihorpersonificou o duplo talento de pintor e fotografo nacidade do Rio de Janeiro Imperial foi sem dóvidaalguma Insley Pacheco, por Sinai, urn dos poucos fo-tografos portugueses que alcançaram celebridade noBrasil.

Segundo consta, Insley Pacheco aprendeu daguer-reotipia com o próprio introdutor desse processo noCeara, o irlandes Frederick Walter, atuando em seguidacomo daguerreotipista itineranre nessa e noutras pro-vincias nordestinas, antes de partir para os EstadosUnidos corn o objetivo de aprofundar seus conheci-memos. Em Nova York, foi aluno de Mathew Brady,que mais tarde se tornaria urn dos grandes nornes dafotografia mundia] ao reunir uma equipe de fotografos

para documentar metodicarnente a Guerra de Seces-SãO, naquele que foi certarnente o mais ambiciosoprojeto do género da fotografla oitocentista. No esta-belecimento de Brady - principal estódio de retratosnova-iorquino e urn centro formador de novos profis-sionais -, Insley Pacheco conheceu dois exilados po-lIticos hángaros, Biranyi e Kornis, que tambérn la'estudavam antes de virem para o Brasil, onde se radi-caram in cidade do Rio de Janeiro. Joaquim InsleyPacheco voltou para a Cone em 1854, depois de umarápida passagem peio Nordeste no ano anterior, insta-lando seu estüdio a rua do Ouvidor 102, então a artériamais chique da cidade, conquistando rapida celebrida-de e permanecendo em atividade ate o fIrn do perfodoimperial como urn dos mais requisitados retratistas,procurado sobretudo por suas foto-pinturas, especiali-dade na qual se destacou em virtude de sua mestria cornos pincéis. Esse cruzarnento de pintura e fotograflaapresentava urna dupla vantagern: a de dispensar aslongas e repetidas sessôes de pose da pintura e, aomesmo tempo, resolver urn dos problemas básicos dafotografia de então: a fa!ta de cor.

Como fotógrafo, Joaquim Insley Pacheco foi basi-camente urn retratista, não sendo conhecidos exernpiosde paisagens de sua autoria. Como pintor, preferia apaisagern, que pintava diretamente d'apres nature, re-servando o awcI!io precioso da fotografia apenas paraseus traba!hos cornerciais de retratos em foto-pintura.

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PEDRO KARP VASQUEZ I A FOTOGRAPA NO IMPERIO

Ele foi o segundo profIssional a set agraciado por dornPedro II corn o titulo de Photographo da Can Imperial,a 22 de dezembro de 1855, tendo perrnissão para usarmais tarde a menção "Pacheco & Filho, Photograpl-iosda Casa Imperial". Durante sua longa e produtivacarreira, Insley Pacheco acornpanhou a constante evo-luçao técnica da fotografia, empregando os mais diver-sos processos e sisternas (ou formatos) de apresentaçãode fotografias disponiveis durante o seculo xix, desdeos daguerre6tipos inaugurais aos ambrotipos e ferr6ti-

05 que os sucederarn, vivendo a febre das canes tievisite e das cartes cabinet dos tempos do colodio tirnido,chegando a trabalbar corn as placas secas, e sendo urndos mais irnportantes praticantes no Brasil da PLATINO-

TIPIA, processo considerado "inalterdvei". Segundo urncronista seu contemporâneo, Mello Morais Filho, Ins-ley Pacheco teria sido inclusive o introdutor desseprocesso no Brasil.

Fotografia e história

Fotografar e sempre fazer historia, seja a de nossaspequeninas vidas, ou a das naçöes e dos grandes ho-mens. Mas, ern alguns rnomentos o fot6grafo tern maisnitida e precisa a certeza de estar "fazendo historiá" cornseu trabaiho, usando seu engenbo e arte para docurnen-tar as mais formidáveis realizaçôes de seus conternpo-

râneos ou as avassaladoras tragedias que se abatemsobre des.

Revert Henrique Kiumb estava consciente de fazerhistória quando foi contratado para registrar, a 23 dejuiho de 1861, a inauguração da estrada Uniao eIndüstria, ligando a cidade serrana flurninense de Pe-trópolis a cidade thineira de Juiz de Fora. Totairnenteprojetada por engenheiros brasileiros e construlda porurn ernpresário igualrnente brasileiro, Mariano Procó-pio Ferreira Lage, essa via era sIrnbolo não s6 doprogresso técnico e comercial (permiria o escoarnentoda produçao cafeeira das regiöes por cia atravessadas epossibilitava a primeira ligaçao segura e efetiva corn ointerior do pals) como tambem do social, ja que emsua construção não foram e&ipregados escravos, so-mente trabaihadores livres, principalmente alernaes e,subsidiariamente, portugueses. Primeira estrada maca-damizada do pals, tinha excepcional qualidade, agra-dando are mesmo ao exigente naturalista forte-amen-cano (nascido suIço) Louis Agassiz, que afirrnou set aUniao e Indóstria "uma boa estrada de rodagem quenao se infenioriza a qualquer outra do mundo".

Kiumb percebeu de imediato a importância que essarodovia vinia a ter nao só para o desenvolvimentoeconôrnico das duas provincias como tarnbérn Para aintegração naciona!, ao deflagrar urn processo de pene-tração do interior, tao importante para urn Impérioque, apesar de grandioso, era então quase que exciusi-

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vamente costeiro. Assirn, dc se empenhou em percor-rer durante anos os 144 quiiôn-ietros de extensão daestrada, corn seu pesado e incôrnodo equiparnento decoiódio árnido. Aventura quc deve ter exigido dele airnprovisação de urn carroçao-laboratOrio, ja que, con-forme o norne indica, as chapas desse processo preci-sam set preparadas rnornentos antes da tornada dafotografia. Ou seja: o fotógrafo precisa fazer, pessoal-rnente e urn de cada vez, seus frageis negativos de vidro,expondo a chapa antes que cia seque; caso contrário, aexposição ficará cornprornetida. Corn isso, entre o diacm que teve a idéia de fazer urn !ivro a respeito daestrada c o dia em que este efetivarnente foi para agráfica, transcorrerarn 11 anos de drduo trabaiho.Como o práprio K1ui4b relatou: "A idéia primeira e de1861, ern 1863 traballici nela, em 1864, 1865 e 1866continuci o trabalho, ern 1867 e 1868 acabei as vistas,ern 1870 tratei da publicaçao corn urn editor e enfIrnem 1872 vejo-a realizada!" 0 resultado de tanto sacri-ficio: Doze horas em eliligencia - urn iivrinho singelono formato porérn grandioso em seu aspecto pioneiroe arnbicioso em sua vontade de colocar a fotografia aserviço da história.

Nesse hvro impar e original, Revert HenriqueKlurnb inciuiu, alérn de fotografias de todas as estaçôesde troca de rnulas existentes no percurso, vistas pito-rescas tornadas no caminho, assim corno panoramasdas cidades de Petropolis ejuiz de Fora, destacando na

A FOTOGRAFIA NO IMPERIO

primeira o Paiacio Imperial e na segunda o palacete doconstrutor da estrada, o atual Muscu Mariano Proc6-pio Ferreira Lage. Assirn como ocorreu em Brazil Pit-

toresco, de Victor Frond, as fotografIas foram reprodu-zidas corn a intermediaçao do processo da iitografiaexistindo no entanto alguns áIbun s contendo todasessas fotografias oiginais (em aiguns casos ate rnesrnooutras, diferentes), montados pelo pr6prio Klurnb.Trata-se inquestionaveirnente de urn trabaiho de rncs-tre, de forma quc, ainda quc Kiumb houvesse feitoapenas isso - o que não foi o caso, pois sua obra e taoexcepcional quanto vasta -, ele já mereceria figurarem posição de destaque como urn dos rnaiores nomesda fotografia brasileira aitocentista. Dorn Pedro II, ursocorn olho de hnce para a boa fotografia, bern o perce-beu, conferindo-Ihe o titulo de Photographo da CasaImperial antes da proeza, a 24 de agosto de 1861.

Estranharnente, a Guerra contra o Paraguai, quese proiongou por quase cinco anos, não legou gran-des irnagens para a historia. Proporcionou, graçasao fluxo constante de combarentes, urn aurnentode clientela para os fot6grafos da provIncia do RioGrande do Sul, mas gerou do lado brasileiro apenasexemplos bastante tirnidos de fotografia de guerra.Urn autor de destaque nesse carnpo foi Carlos Cesar,autor de urn pequeno album corn urna coieçao de19 irnagens no formato carte de visite que ele ofertouem 1868 ac, Visconde de Rio Branco. Intitulado

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1. Retrato de cerca de 1875 atribuiclo a dam Pedro II, grande entusiasta eincentivador cia fotografia no Brasil.

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Recordaçoes da Guerra do Paraguay, reüne retratosde so1dado e ofIciais (Como o coronel Dias daMotta, secretário de Caxias, em Tuyu-Quê), e, so-bretudo, registros dos efeitos dos combates sobreas prédios pâblicos, corno a igreja de Hurnaitádevastada pelo bornbardeio. E pouco, rnuito pouco,para urn conflito que ceifou rnais de 50 mil vidas

causou a completa destruiçao de urn pals inteiro.Mais ha de existir em algurn arquivo secreto doExército, esperando par set descoberto... Suspeitaque adquire ares de certeza, quando lembrarnos queexistiu do lado uruguaio - pals então corn produ-ção fotográfica bern mais rnodesta do que a nossa- urn fotógrafo ousado corno Esteban Garcia, au-tot de ampla documentaçao, vendida em series dedez irnagens sob o tItulo de La guerra ilustrada. Em1866, Garcia não titubeou ern retratar o coronelCalLega motto, ou un montón de cadaveres para-guayos, exibindo corn toda crueza a face tenebrosae nao-retocada dessa guerra abjeta.

Na vertente oposta, o Rio de Janeiro assistiu aprirneira utilizaçao da fotografia como instrumentode contra propaganda poiltica, usada para denunciaro descaso das autoridades do Império em relaçaoao flagelo provocado pela prirneira das grandes secasna região do Ceara, entre as anos de 1877 e 1878.A vigorosa dernmncia foi efetuada na ediçao de 20de juiho de 1878 do hebdomadario 0 Besouro inau-

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2. 0 cadaver dc Antonio Conseiheiro, lider da revoita de Canudos, foiexurnado para ser fotografaclo por Hávio dc Barros, como prova de suarnorte. Euchdes cia Cunha recjsroci U processo Clii OS Sertoes.

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3. Urn raro registro do IaboratOrio de urn estüdio fotográfico - no caso,o de Felipe Augusto Fidanza, em Belérn, por volta de 1900. Fotografia deCarlos Dauer.

4. A camera de da9uerreotipia (A) exigia o uso de tripe e era dotada de urnrudirnentar sisterna de focagern. A estereoscépica (B) produzia irnagens que,vistas no visor adequado (c), davam a perfeita ideia de tridiniensionalidade.

Se 6. 0 tempo de pose de domPedro II para esse daguerreotipo,

de cerea de 1858, deve ter sido de30 a 50 segundos. Para imobilizar

os retratados e facilitar o foco,usavarn-se apareihos corno o desta

reproduçào (dir.), de inquietanteaparëncia hospitalar.

E possivel vermos as ferros queapOiam a cabeça do irnperador

- fazendo crer que a imagemtenha servido de rnodelo a

alguma gravura, medaiha oumoeda, pois seria inadmissivel

retratâ-lo dessa forma.

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7. Dorn Pedro II em traje de canipanha durante a Guerra do Paragual,conflito que foi urn dos responsáveis pelo fim do Imp6io. Fotografiade Luiz Terragno, Rio Grande do Sul, 1865.

8. Uma imagem prutocolar, mostrando apenas Os nianos materials, do interiorcia Igreja cia Humaitá apOs bataiha cia Guerra do Paraguai, bastante adecivadaao seti destinatário: a futuro visconde rio Rio Branco. Futografia dc Carlos César.

9. Rio de Janeiro vista a partir cia fortaieza da liha das Cobras, em foto deGeorge Leuzinger, 1867. Esse anguin foi inaligurado par Kiumb em meadosda dEcada ne 1850 e copiado Pot tonios os fotOgrafos oitocentistas.

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12. Esta fotografia da Praça das Diligëncias combina a visäo clâssica e umenfoque moderno, expresso no enquadramento nao-frontal e na presençada árvore, posicionada por Kiumb exatamente na junção das duas facesdo prdio. Petropolis, c.1866.

i n Pát:o e greja do Cokgo dos Jesuitas, São Pafflo,1862. A huagetuintegra o album cm que Militao Augusto de Azevedo faz a primeiratentativa naciunal de reçjistro fotográfico da evolução urbana.

11. Multidão diante do Paço Imperial antes da assinatura da Lei Aurea,13 de maiu de 1988, Fotografia de Luis Ferreira.

13. Os soldados se empenhamem simular as condiçoes de

uso do holofote da fortalezade São João, mas qual sua

utilidade em plena Iuz do sal?O rapaz de binócula espreitaurn inimiga inexistente, pois

esta imagem de Gutierrez datade 13 de marco de 1894,

quando a Revolta da Armadajá havia sido debelada.

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14. !ndios urnauás as margensdo rio Japura, provincia doAmazonas, c.1865.Considerado o primeiro afotografar os indios, a flora ea fauna da região arnazônica,Albert Frisch fol sem düvidaurn dos responsáveis pelamitica da selva brasileira.

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15. Cacique Cumbo de Ucaiale, c.1875.Tirado em urn est&idio improvisado,este retrato foi realizado por Marc

Ferrez rnuito provavelmente quandodc percorreu o interior do Brasil na

quandade de fotOgrafo da ComissaoGeologica do Irnpério, chefiada

pelo naturalista norte-americanoCharles Frederick Flartt.

Cotejando-se estas duas imagens,percebe-se que Ferrez - a serviço deurn cientista - usa uma abordagem

mais antropologica", oposta a visäornais romàntica e idealizada de Frisch,-

obediente apenas a prOpria inspiraçäo.

16. 17 e 18. Frentes e versode cortes de visite.

A histOria do Brasil escravocrataê siritetizada nestas imagens, que

confrontam a pals descalço dosescravos (notar as correntes nos

pés do cliente do barbeiro) e o pals"embotinado" dos homens livres.Os escravos foram reduzidos por

Christiano J(jnior a rnerascuriosidades exáticas, em imagens

vendidas sobretudo a viajantesestrangeiros. 0 menininho branco

fotografado par Carlos Hoenenmimetiza o ideal europeu de

"civilizaçao": as roupas, 0 cenárioabastado do estUdio e o Iivro, entäo

simbolo inegável de status.

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Joao da Lriapada, Minas Uerais, 1868. 1-otografia de Augusto Riedel.

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20. Primeira locomotiva da estrada de ferro Recife-Cabo, 1858. AugustoStahl retrata nesta irnagern o meihor periodo do Segundo Reinado.

21.. Escravas socando café no pilào, Rio de Janeiro, 1858.Forçosamente estéticas e posadas, as fotografias de Victor Frondconstituem, no entanto, o prirneiro registro fotográfico do trabaihocscravo no Brasil, testernunhando urn deseju pela verdade que fazdelas precursoras de urn enfoque antropoldgico.

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A FOTOORAFIA NO IMPERJO

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22. Antiga sede da colônia aIem em Porto do Caxociro (atual Cachoeirodo Itapemirim), c.1875. Fotografia de Albert Richard Dietze.Esses colones aIemes sño auténticos representantes do grande fluxo deimigraçäo europèia ocorrido no Brasil a partir de meados do século XIX,em substituiçao a mao-de-obra escrava.

gurando assim a fotografia engajada na denánciadas injustiças sociais no pals. Para sensibilizar aindamais aqueles leitores que não acreditavarn na gra-vidade da seca, os editores fizeram acompanhar asfotografias de J.A. Corrêa por versos dilacerantes elacrirnosos, capazes de partir o corção mais empe-dernido, tais cornifo: "Tenho fome! Tanta fomel Queja não posso erguer!f Miséria, que me consorne,/Faze que eu possa rnorrer!"

Juan Gutierrez foi urn espanhol que aproveitou asfacilidades concedidas peto novo governo republicanoPara se naturalizar brasileiro. Amigo de diversos mili-tates, dc foi o autor de urn imporrante registro histó-rico: o da Revolta daArmada, opondo o vice-airniranteCustodio José de Melo, ex-ministro da Marinha, aopresidente Floriano Peixoto. Apesar de algurnas irna-gens de soldados simulando posição de tiro, Gutierreznão fotografou o conflito propriamente dito e sirn opalco no qual este ocorreu: os diferentes fortes (SaoJoao, Morro do Castelo, Gragoatá etc.) e fortalezas(Lage, Santa Cruz, Vi!legaignon etc.); as diferentesbarricadas e fortificaçoes provisárias erguidas na PraçaXV e em outros pontos costeiros da cidade, bern comooutras insta!açóes da Marinha durarnente castigadaspelo bombardeio dos revoltosos, como a Escola Nava!,ou das forças !eais a Floriano, corno a Ponta da Arma-ção, em Niteroi. Essas fotografias tern urna qua!idadetécnica e estética indiscutIvel, sendo contudo mais

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PEDRO KARP VASOLJ[Z

A FOTOGRAFIA NO IMPERIO

"cenográficas" do que propriamente "de guerra". JuanGutierrez acabou falecendo no mais célebre conflitointerno brasileiro, a Campanha de Canudos, ondeatuou por breve lapso de tempo, na condiçao de militarvoluntário.

E pouco provável que Gutierrez tenha realizadofotografias dessa guerra. Quem realmente registrou afase final da campanha de Canudos foi o fotógrafoexpedicionario Flávio de Barros, que presenciou ape-nas o ültimo rnês da refrega. No dia seguinte ao óltimocombate, os militates desenterraram o corpo do beatoAntonio Conseiheiro (iiascido AntOnio Vicente Men-des Maciel) para que Flávio de Barros pudesse fotogra-fA-lo e, dessa forma, comprovar que havia realmentefalecido aquele que para seus seguidores era santo e parao governo republicano, demOnio. Pouco tempo depois,a capital federal pOde contemplar 25 das 68 fotograflasque Barros tjrou em Canudos, numa projecçao elec-trica" realizada a rua Gonçalves Dias 46, na qua] porurn conto de réis era possivel ver "o liel retrato dofanático CONSELHEIRO, fotografado por ordem do ge-neral Arthur Oscar, a prisão do comandante das forçasfanaticas nas serras do carnbaio e o bravo 282 deinfantaria em cerrado logo de flizilaria contra os mimi-gos, 400 jagunços prisioneiros". As atraçôes eramanuncjadas como: "Curiosidade! Assombro!! Horror!!!Miséria!!!! Tudo representado ac, vivo e em tarnanhonatural oferecidas gratuitamente as crianças. Por

ironia do destino, essa projeção foi realizada a poucospassos do estabelecirnento do finado Gutierrez, situadologo all, no námero 40, vizinho a Confeitaria Co-lombo.

As projeçöes de imagens Incas corneçaram muitocedo na Corte, com as lanternasmaicas, que projeta-yarn pinturas espe'cialmente executadas para esse Amsobre écrans montados provisoriarnente em teatros, ounas chamadas "galerias ópticas". No final do ano de1841, urn cosmorama fbi montado a rua do Teatro paraexibir "lindIssimas vistas do cortejo de Napo!eao emponto grande", assirn como "vistas e flagrantes daEuropa". Dois anos mais tarde, oJornaldo Commercioanunciava "uma galeria 6ptica instalada pot dma daPraça do Comrnercio", oferecendo por "500 rs [réisj aentrada corn direito a uma cadeira" para o espetáculoque mostrava vistas exclusivas do rio 'ilmisa, na Ingla-terra; da GrutaAzul, em Capri, na ltália; e uma batalhade Napoleao.

Contudo, o acontecitnento historico mais impor-tante fotografado durante o século XIX foi a assinaturada Lei Aurea, pois esse pode set considerado o verda-deiro ato inaugural do Brasil enquanto nação, ja queurn pals escravocrata dificilmente pode reivindicar otItulo de "comunidade humana", base do conceito denação. Esse acontecimento demasiado diferido foi do-cumentado por Luis Ferreira, ate então modesto eobscuro prof'issional, que registrou a multidão reunida

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PEDRO KARP VASOLJEZ I A FOTOGRAFIA NO IMPERIO

diante do Paço Imperial Para aclarnar a Princesa Isabelnaquele 13 de rnaio de 1888. Quarto dias mais tarde,ele fotografou multidao ainda major durante a missacampal comeinorativa, celebrada na Praça Dorn Pe-dro I (atual Campo de São Cristóvao). Consciente daimportância do momento histórico nesta repre-sentado, alguém se preocupou em registrar mais tarde,a lapis, na margern da fotografia, a hora exata do culto,ali identificado corno inesse militaire: 10 horas.

A difus5o popular da fotografia

No final do perlodo, graças a simplilIcaçao das técnicase dos equipamentos fdtograficos, em particular com adifusão mais ampla da fotografia estereoscópica, a ico-nograIla fotograuica do Rio de Janeiro foi grandementeincrementada. Urn dos mais importantes artifices detal incremento foi o conde de Agrolongo, José Francis-co Corréa, português radicado na cidade fluminensede Niteroi, proprietário da Fábrica de Furnos Veado,que a partir da década de 1890 começou a distribuirfotograflas estereoscópicas como brindes Para os clien-tes de seus produtos. Nos rnaços de cigarro vinharnpequenos pares de irnagens, que deviam set acumula-das Para posterior troca por outras de formato normal(6,5 x 7cm, sobre suporte de 8,1 x 15,1cm). Paraganhar todo o conj unto, que inclula uma rica coleçao

de 50 fotografias estereoscópicas de grande forrnato eurn lindo estereoscápio niquelado", era preciso dar emtroca 500 das pequeninas fotografias estereoscópicasdistribuldas nos "deliciosos cigarros Sernila de Havana,Certamen, Diplornatas e Hygienicos, rnarca Veado".Ao passo que o portador de 300 irnâens podia optarpelo visor estereost6pico sew as fotografias, ou pelacoleçao de fotografias sern o visor. A rnaioria dessasimagens focalizava a paisagern do Rio de Janeiro e deNiteroi, rnas existiarn tambérn alegorias picantes corntItulos sugestivos corno A toilette dz manha, Luta deamor, Dois amantes e As travessuras tie Pierrette, deautoria do próprio conde, experiente fotografo e urndos raros pioneiros do nu fotografico no Brasil.

A coleçao do imperador

Corn a Proclamaçao da Republica - curiosa e signifi-cativarnente instituida exato urn século após o adventoda Revoluçao Francesa -, dorn Pedro II foi banido dopals. Partiu Para sempre do seu estimado Brasil a 17 denovernbro de 1889, a bordo do vapor Alagoas, condu-zido Para o exilio europeu, no qual viria a falecer a 5de dezembro de 1891. Perfeitamente cônscio do inte-resse que a perrnanência de sua biblioteca e de suascoleçoes poderia ter Para o futuro desenvolvimento dopals, o irnperador doou todo seu acervo pessoal a nação

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brasileira, que, desde a Independéncia, em 1822, pas-sara de exIguos trés mi!hoes de habitantes a 143 mi-!hoes, graças sobretudo a irnigração fomentada a partirda decada de 1870. Esse vasto e precioso patrimônio,constituldo ao longo de mais de meio século de labo-riosas e incansáveis pesquisas e contatos, foi distribuldoentão entre a Biblioteca Naciona!, o Instituto Históricoe Geográfico Brasileiro (do qua! o Imperador erabro atuante) e o Museu Nacional, pie ocupou suaamiga residéncia na Quinn da Boa Vista. A BibliotecaNacional coube sua formidavej coleçao de fotografias,reunindo mais de 20 mil imagens realizadas por gran-des rnestres nacionais e estrangeiros.

Essa coleçao resume, meihor do pie jarnais poderiafazer este humi!de escriba, a historia da forograflasbrasi!eira oitocentista. Uma historia admiravelmenteescrita em imagens pelo próprio imperador Pedro II, aprimeiro brasi!eiro a perceber, ainda infante, que aadvento da fotografla era a marco inaugural de umanova fase na história da hurnanidade.

A fotografia nas provincias:panorama visto da Corte

Um dos prob!emas basicos a impedir o pleno desen-volvimento da fotografia no Império brasileiro era aconcentração das atividades nas grandes cidades que

A FOTOGRAFIA NO IMPERIO

podiam set interligadas pot mar. Assim, além da Corte,cam seus 274.972 habitantes (segundo o censo de1877), a fatografla so veio a conhecer urn crescimentoexpressivo nas cidades do Recife, de Salvador e deBelem. Duas cidades da provincia de Sao Paulo, aprOpria capita! e Campinas, erarn 'dos raros centrosfotograflcos interibranos, numa êpoca em que a inexis-téncia das ferrovias tornava as incursôes ao interior dopals muito lentas e onerosas, obrigando o fotografo aa!ugar diversas bestas de carga Para conduzir seu pesadoe fragil equiparnento, e a gastar uma ou duas semanasPara it de uma localidade a outra em busca de umaclientela cam frequência bastante reduzida. Circuns-tância esta que forçava aos fotografos itinerantes apraticarem preços consideravelmente rnaiores no inte-rior - levando por exemplo Ernesto Felix de Castro acobrar 12$000 pela dázia de canes de visite no interiorde Sao Paulo, num momenta em que a maioria dosfotOgrafos insta!ados na cidade do Rio de Janeiro soil-citava somente 5$000 pelo rnesmo serviço.

Sao Paulo viu atuarem na década de 1850 fotOgrafoscorno Manoel José Bastos, que la' chegou em 1852, eInácio Mariano da Cunha Toledo, hi instalado em1856. Foram seguidos em 1862 por aquele que viria aset o grande destaque local, Militao Augusta de Aze-vedo, que nos 25 anos seguintes fotografou quase 13mil pessoas. Em 1887, Mi!itao encerrou sua carreiracorn a publicaçao do inovador Album comparativo cia

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cidaa'e tie São Paulo: 1862-1887, mostrando a evoluçaourbana sofrida nesse decurso de tempo pot aquela queera urna cidadezinha de casas baixas e urnas poucasdezenas de ruas quando dc iniciara sua carreira. 0contraponto mais impressionante dessa obra sendo airnagem do austero Colégio dos JesuItas (erguido nolocal no qual a cidade foi fundada em 1554), corn suaesparrana arc1uitetura colonial, contrastando corn oaspecto do mesrno edifIcio desfigurado pelos sucessivos"afrancesamentos" que sofreu ao longo do tempo emque concentrou toda a estrutura administrativa daprovincia de Sao Paulo.

Uma das razôes da existência de urn ndcleo fotográ-fico na cidade de São Paulo apesar de sua poucadensidade populacional e do fatô de só ter sido inter-ligada por via ferroviaria corn a Cone cm 1867 foi aexistência, desde 1828, da Escola de Direito, sediadano convento de São Francisco, pois essa era uma dasduas ünicas escolas superiores existentes no Brasil. Aoutra, criada pela mesma lei de 11 de agosto de 1826,localizava-se na provIncia de Pernambuco, tendo fun-cionado primeiro ern Olinda e depois 110 Recife - oque constituiu tarnbém urn dos fatores do desenvolvi-mento da forografia nessa ditirna cidade.

Outros bons fotógrafos da cidade de Sao Pauloforam Francisco Teodoro Passig, instalado no Largo deSao Francisco 4, e, sobretudo, Carlos F-Ioenen, queinaugurou sua Photographia Allernã na cidade em

1875, obrigando portanto Alberto Henschel (que ha-via fundado estddios corn essa denominação no Recife,em Salvador e no Rio de Janeiro) a empregar 0 nomede Photographia Imperial quando se instalou ern SãoPaulo em 1882. 0 rnais importante fotógrafo do firndo periodo oitocentista foi Gui!heirne Gaens!y que,vindo de Salvador ê instalado a rua Quinze de Novem-bro 28, registrou o corneço da opu!ência local graças ariqueza dos chamados baroes do cafe

Salvador teve o prirneiro contato corn a fotograuiaern 1844, quando urn desconhecido, rnuito provavel-.rnente urn frances - posto que se apresentava corno"urn artista de Paris" - pub!icou anóncio na edição de6 de julbo do Correio Mercantil oferecendo seus servi-ços corno daguerreotipista. Mais tarde, Para La se trans-feriu Francisco Napoleão Bauta, que tanta importânciarivera nos prirnordios da fotografia na sede da Corte,seguido depois pe!o talentoso Camillo Vedani. Outrosnomes de destaque nas prirneiras decadas foram JoãoFrancisco Pereira Regis, João Goston e Antonio daSilva Lopes Cardoso, que obteve o tirulo de Photogra-pho da Casa Irnperia! a 30 de novembro de 1864. Entre1858 e 1861, traba!hou em Salvador o inglés BenjaminR. Mulock, autor de importante documentação sobrea construção da estrada de ferro Bahia and S. FranciscoRailway, num excelente album de 46 imagens queincluf a tambCm vistas de localidades do interior e daprópria capital. Ern Salvador, ele registrou o novo cais

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em 1860, mostrando toda a magnificéncia do conjuntode seis quarteiröes com prédios de cinco andares (cons-truidos na segunda metade do século xviii), sernvida alguma o mais imponente conjunto de predios detodo o Brasil Imperial. Toda a pujança urbanistica earquitetônica da cidade foi por dc fotografada, desdea rua Nova do Comércio (também dotada de altosprédios), na Cidade Baixa, a igreja do Rosario, noLargo do Pelourinho.

Nas décadas de 1870 e 1880, quem dominou afotografia em Salvador foi Guilherme Gaensly, fllho deurn comerciante suiço trazido pelo pai para a cidadeaos três anos de idade. Gaensly se associou ao alemaoRodoipho Lindemann, corn quem esquadrinhou acidade e todas as suas cercanias, produzindo uma sig-nificativa coleçao de vistas que os próprios autores nãohesitavarn em qualificar como a meihor au disponIvel.Registraram, entre outros pontos, a região do Porto daBarra, do forte Santa Maria e do farol de Santo Antônioda Barra, tao irnportante Para a história do Brash, postoque ali desembarcaram não s6 Tome de Souza (primei-ro governador-geral do Brasil), cm 1549, como tarn-bém os invasores holandeses, em 1624. Estranhamen-te, nern Gaensly nem Lindemann ganharam o titulode Photographo da Casa Imperial, enquanto a áltirnahonraria desse género foi concedida a um fotógrafo detalento bastante inferior ao de ambos, Ina'cio Mendo,que a recebeu a 6 de agosto de 1889.

Recife foi um dos rnais importantes centros fotográ-ficos oitocentistas. Consta que já em 1842 por IApassou urn daguerreotipista cujo norne a história naoregistrou, seguido em 1845 por J . Evans e, ao fim dadécada, por J.E Waltz. Mas é o ja citado Stahl, que la'aportou em 31 dedezembro de 1853, quem viria a setornar o principal autor local. Em 1855, Joao FerreiraVillela instalou-se a rua do Cabuga 18. Autor de ótimasvistas, feito Photographo da Casa Imperial a 18 desetembro de 1860, Villela foi pintor e pesquisador deprocessos fotograficos, o que findou por afastá-lo dafotografia, preterida pela produçao de quimicos para afotografla e de tintas para a escrita. Depois dde seinstalou.no Recife, em 1867, o alernao Alberto Hen-schel corn sua Photographia Allerna, na qual trabaiha-ram, sucessivamente, Karl Ernest Papf, Carlos Gutzlaffe MaurIcio Lamberg. Em 1881 chegou Alfredo Ducas-ble, que se destacou na Exposiçao Universal de Parisem 1889. Frances, Ducasbie era sediado a rua Barao daVitoria 65, uma das principais artérias da cidade, nondmero 12 da qua] tarnbCm instalou seu estabeleci-rnento outro irnportante compatriota seu: FranciscoLabadie. Finalmente, outro autor que muito contribipara a reputação fotografica de Recife durante a décadade 1890 foi Francisco du Bocage, autor de vasta e bemexecutada documentaçao sobre as obras de remodela-ção da cidade.

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Belem também conheceu çedo a fotografia, graçasao daguerreotipista norte-americano Charles DeforestFredricks, que ali se instalou em 1844, vindo da Vene-zuela. Durante os nove anos seguintes, ele atuariatambérn nas cidades de São Luis, Recife, Salvador e Riode Janeiro, além de diversas localidades da provInciado Rio Grande do Sul, antes de seguir rumo ao Uruguaie a Argentina. Depois de retornar aos Estados Unidosem 1853 e de obter sucesso como retratista em NovaYork, Fredricks desempenhou também papel destaca-do em outro pals latino-americano: Cuba, em cujacapital, Havana, manteve durante certo tempo urnestódio. 0 rnais importante fotografo da Belem oito-centista foi Felipe Augusto Fidanza, tamhm pintor,que iniciou suas atividades em 1867 e manteve-se ativoate os primeiros anos da Republica. Seu estddio deretratos do Largo das Maces foi o melhor da cidade,que ele soube esquadrinhar em detaihe, fotografandoo Palacio do Governo, o Liceu Paranaense, as Docasdo Reduto, e a igreja Santa Maria da Graça (a Se deBelem), corn sua austera e elegante fachada desenhadapor Antonio José Landi. Também digno de menção emBelem foi Jose' Tomas Sabino, que obteve o ambicio-nado titulo de Photographo da Casa Imperial a 13 deagosto cIt 1873 e participou da Exposiçao da Filadélfia,nos Estados Unidos, em 1876, e da Exposiçao Univer-sal de Paris de 1889.

Manaus foi visitada antes do auge do Ciclo daBorracha, quando era uma localidade ainda muitomodesta, pelo alemão Albert Frisch, que realizou pertode uma centena de fotografias na região AmazOnica em1865. 0 material era vendido aos visitantes da Corteno Rio de Janeiro, como já foi dito, pela Casa Leuzin-get, que inscreveu algumas dessas imagens com sucessona Exposição Universal de Paris em 1867. Fidanza,apesar de instalado em Belem do Path, também atuouintermitentemente na cidade, colaborando inclusivecom George Huebner, que distribula suas vistas e quefoi realmente o grande responsavel pelo desenvolvi-mento da fotografia local em fins do século XIX.

Ouro Preto, capital da provIncia de Minas Geraisantes denominada Villa Rica, teve pouca atividadefotografica. Existem registros de que o casal HippolyteLavenue Id atuou ern 1845, mas parece ter sido somen-teem 1856 que outro fotógrafo, do qua] pouco se sabe,resolveu tentar sua sorte naqueles ermos. Chamava-seM.E Abreu e abriu, em 1856, urn estüdio a rua Direita34. Todavia, o mais interessante e abrangente registrodessa provincia foi aquele efetuado pelo alemão Augus-to Riedel, que acompanhou o genro do imperador, oduque de Saxe, em seu périplo pelas provIncias deMinas Gerais, Bahia, Alagoas e Sergipe em 1868.Riedel, que possuira um estOdio na cidade de São Paulono inicio da década de 1860, consignou o fruto desse

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esforço num belo album de ftografias originais inti-tulado Viagein Cu S.S. A.A. reaes duque de Saxe e seuaugusto irmdo Luiz Philippe ao interior do Brazil. Entre1875 e 1881, outro alemao tambérn atuou em OuroPreto, dernonstrando grande sensibilidade estética ac,fotografar essa e outras localidades mineiras, cornoMariana e Sahara'. Dde a historia registrou apenas onome: Guilherrne Liebenau.

Vitória, Cachoeiro do Itapernirim, Piürna, SantaLeopoldina e outras vilas e localidades da provIncia doEspirito Santo tiveram em Albert Richard Dietze ocronista privilegiado da colonizaçao de seus cornpatrio-tas, os alernaes, durante a década tie 1870. Lurandocontra o isolamento e as dificuidades uinanceiras, Diet-ze chegou a acalentar o projeto de ediçao de urn hvro(contendo 24 fotografias) destinado a fornentar a irni-gração para o Brasil de outros interessados em arriscara sortie na plantaçao de café naquela provincia. Buscan-do a adesao de dona Thereza Christina ao seu projeto,enviou a imperatriz urn jogo de 53 fotograuIas, acorn-panhadas de um esboço de sua obra, a 30 de junho de1877, não conseguindo no entanto lograr seu intento.

Joinville, na provIncia de Santa Catarina, outro focode colonizaçao alerna, foi fotografada em seus prirn6r-dios (1866), por urn autor desta nacionalidade, JohannOtto Louis Niemeyer. Apesar de ter feiro pelo menosurna fotografia antológicamostrando a rarefeita

popu!ação daquela então denorninada Colônia DonaFrancisca aglomerada na rua do Principe -, Niemeyernão parece ter se dedicado profissionalrnente a foto-grafia, jI que não existem registros ulteriores de suaatuação.

Porto Alegre, apesar de isolado nos confmns rneridio-nais do pals, acabdu se transforrnando nurn polo foto-grafico em virtude da guerra contra o Paraguai, já queos soldados, ternendo a irninéncia da morte, se faziarnfotografar, para enviar as suas respectivas farnilias umalembrança capaz de arenuar a dor da perda. Beneficia-ram-se de tal circunstância, entre outros, 'Tbrnás King(agraciado coin tItulo de Photographo da Casa Im-perial a 18 de rnaio de 1866) e, sobretudo, o italianoLuizTerragno, sediado na cidade desde 1853. Terragnoretratou inclusive dorn Pedro 11 quando de sua visita deinspeção ao palco desse barbaro conulito que nepre-sentou, juntarnente corn a escravidao, uma das duasprincipais causas do firn do prOpnio lmpério. Terragnoparticipou da Exposiçao Nacional de 1866, na cidadedo Rio de Janeiro, conquistando na ocasião a rnedalhade prata do evento, apOs o que passou a ter o direito detambérn ostentar a rnenção Photographo da Casa Im-perial no verso dos cartoes-suponte de suas fotografias.Foi tarnbém urn pesquisador da qulmica fotografica,tendo desenvolvido urn produto fixador a base dernandioca ao qual atnibulu o pitonesco nome de sulfo-mandiocato de ferro.

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Em 1881, urn importante evenro local mobilizou osfot6grafos de Porto Alegre: a Exposiçao ProvincialBrasileira-Alemã, da qua] participaram, alem de Ter-ragno, Eduardo Borowsky, Santiago da Costa, JoaoKing, A. Steckel e Augusto Amoretty, este ditimoganhador da medaiha de ouro da mostra. Trés anosmais rarde, esse mesmo Amoretry documenrou a cons-rruçao da estrada de ferro ligando Rio Grande a Bagé.Entreranro, mais importantes do que ele foram osirrnãos Ferrari e Virgilio Calegari, todos iralianos. 0patriarca dos Ferrari, Rafael, fixou-se em Porto Alegreem torno de 1871, permanecendo em atividade conti-nua na rua do Riachuelo are 1885 quando, debilitadopor doença, passou o comando do esrabelecirnenro aosseus fuihos, Carlos e Jacinto. Estes transferirarn o esrtidio para a rua Duque de Caxias 473, conhecendo entãoconsiderável sucesso comercial, sobretudo graças a prá-rica da foro-pintura, que rebatizaram corn o nome maischamativo e irnponenre de Processo Rembrandt.Consta que VirgIlio Calegari se insralou em PortoAlegre em 1885, rivalizando corn seus cornparriotas napreferéncia do páblico local duranre as duas dltimasdécadas do século XIX. Foi excetente paisagisra, rendoescrutinado a cidade de fib a pavio, mas rambémapelava para os retratos em foto-pinrura para sobrevi-ver, no que era auxiliado pelo pinror Vicenzo Cervásio.Culrivando modos aristocráticos, Calegari acabou serransformando na figura central da forografia de Porto

Alegre, alardeando corn indisfarçado orgulho nosanáncjos de seu esrabelecimenro o fato de ter sido feitoCavaleiro pelo rei Emanuel II da ItIlia.

Segundo pals do continente americano a conhecera daguerreoripia - logo após os Estados Unidos -,Brasil, assim como este iSltimo, parce ter sido predes-tinado ac, papel Ue civilizaçao do olhar, de párria daimagem, como comprova o forrnichuvel legado dessespioneiros da fotografia. Esses mestres oirocentisras,autores de obras de grande valor e duradouro fasclnio,foram nossos alfaberizadores em rnatéria de imagemtécnica, permitindo que no século seguinre nao só aforografia como rambém o cinema e, principalmente,a relevisão do Brasil atingissem urn incontesrável nIvelde exceléncia.

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Glossário

Ambrotipia: Processo que empregava negativos de vidrode colddio ámido, subexpostos e montados sobre fun-do negro para produzir o efeito visual de positivos.Concebido pelo próprio inventor do processo de coló-dio ómido, o inglés Frederick Scott Archer (1813-1857) em 1851, em parceria com Peter W Fry, foi maistarde aperfeiçoado por James Ambrose Cutting (1814-1867). Constituindo uma opçio mais barata Para odaguerreotipo, o ambrótipo era apresentado nos mes-mos estojos luxuosos, tendo sido muito empregadoPara retratos entre 1850 e 1860.

Carte cabinet: Formato de apresentação de fotografias.obre papel que surgiu na Inglaterra em 1866, comouma evoluçao do formato carte c/c visite, tendo portan-to o mesmo tipo de apresentação, mas num tamanhomaior, razão pela qual era dito de cabinet, de gabinete.Muiro utilizado ate fins do século XIX, esse formatoapresentava fotografias de cerca de 9,5 x 14cm morita-das sobre cartôes-suporte rIgidos de cerca de 11 x16,5cm.

Carte de visite: Formato de apresentação de fotografiasinvenrado em 1854 pelo frances Andre' Adolphe-Bu-

gene DisdCri (1819-1889) e assim denorninado emvirtude de seu tamanho reduzido, pois apresenravauma fotografla de cerca de 9,5 x 6cm montada sobreurn cartão rigido de cerca de 10 6,5cm. A grande yogada carte tie visite ocorreu na dCcada de 1860, quandotornou-se um modismo em escal'a mundial, sendoproduzido aos milhoes em todo o mundo, inclusiveaqui no Brasil. 0 declmnio da carte tie visite teve inIcioa partir da década de 1870, quando começou a setsuplantada pela carte cabinet, mas esse formato conti-nuou a set empregado por muitos fotógrafos ate o fimdo século XIX.

Colódio Omido: Foi inventado em 1848 pelo inglésFrederick Scott Archer (1813-1857), mas difundidosomente a partir de 1851. Empregava o colódio (corn-posto por panes iguais de éter e álcool numa so!uçaode nitrato de celu!ose) como substancia ligante parafazer aderir o nitrato de prata fotossensIvel a chapa devidro que constitula a base do negativo. A exposiçãodevia ser realizada com o negativo ainda ómido -donde a denominaçao e a revelaçao devia ser efe-tuada logo após a tomada da fotografia.

Daguerreotipia: Imagern produzida pelo processo p0-

sitivo criado pelo frances Louis-Jacques-Mande' Da-guerre (1787-1851). No daguerreotipo, a imagem eraformada sabre urna fina carnada de prata polida, apli-cada sobre uma placa de cobre e serisibilizada em vapor

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de iodo. Era apresentado em luxuosos estojos decora-dos (inicialmente de madeira revestida de couro e,posteriormente, de baquelira) com passe-partout demetal dourado em torno da imagem e a outra faceinterna dorada de eleganre forro de veludo. Divulgadoem 1839, esse processo teve, na Europa, utilizaçaopraricamente restrita a decada de 1 840 e meados dadécada de 1850. Aqui no Brasil, continuou sendoempregado ate o inIcio da década de 1870, enquantonos Estados Unidos - onde a daguerreotipia conhe-ceu popularidade major ate do que em seu pals deorigem - continuou sendo bastante popular are adcfcada de 1890.

Ferrotipia: Imagem produzidapelo processo de co!ódiotimido sobre uma fina plaqueta de ferro esmaltada comlaca prera ou marrom. Foi inventada pelo norte-ame-ricano Hamilton Smith, como uma derivaçao do pro-cesso de colodio ómido, em 1856. Smith baseou-se naspesquisas do frances Adolphe Alexandre Martin (1824-1896), que desde 1852 ja desenvolvera um sistema deproduçao de copias amph4'ositives, termo que foi an-glicizado pot Talbot para amphitypes, razão pela qual,no inicio, o ferrótipo também era conhecido por essadenominaçao na Europa.

Fotografia estereoscópiea: Foi desenvolvida pelo inglésSir David Brewster (1781-1868) e comercializada apartir de 1851. Consistia em pares de fotograflas de

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uma mesma cena que, vistas simultaneamente numvisor binocular apropriado, produziam a ilusão datridimensionalidade. Esse efeito era obtido porque asfotografias eram tiradas ao mesmo tempo com umacâmara de objetivas gémeas, cujos centros ópticos eramseparados entre si por cera de 6,3cm a disranciamedia que separaos olhos humanos.

Foto-pintura: Processo inventado por Disdéri em tornode 1863, a photo-peinture era obtida a partir de umabase fotografica em baixo contraste - que tanro podiaser uma tela quanto uma cópia sobre papel - sobre aqual o pintor aplicava as tintas de sua preferência,gerairnente guache para o papel e oleo para as telas. Essatécnica apresentava a vantagem de dispensar a exigén-cia de grande talento do pintor para o difIcil gênero doretrato reduzindo seu papel na major parre dos casosao de um mero colorista -, ao mesmo tempo em queliberava o cliente das fastidiosas sessöes depose exigidaspela pintura tradicional. Já em 1866 encontramos osprimeiros praticantes desse processo no Brasil, deno-minado nos paises de lingua inglesa de photography oncanvas.

Papel albuminado: Foi invenrado pelo francCs Louis-Désiré Blanquart-Evrard (1802-1872) em 1850, sendoassim denominado porque empregava o albumen (ex-traido da clara dos ovos de galinha) como camadaadesiva rransparenre destinada a fazer aderirem os sais

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de prata fotossensiveis a base de papel. Foi o papel maispopular para a execução de cópias fotograficas aterneados da década de 1890, quando foi definitivamen-te desbancado pelos papéis de prata gelatina.

Placas secas: Foram inventadas cm 1871 pelo inglêsRichard Maddox (1816-1902) recebendo essa deno-minação para diferencia-las dos negativos de colódioämido precedentemente utilizados. As placas secas,empregando a gelatina de origem animal como ele-mento ligante, cram de manuseio muito mais facil, poiscram emulsionadas industrialmente, dispensandoqualquer manipulaçao préviaà tomada da foto potpane do fotógrafo, e apresentando ainda a vantagemde serem mais sensIveis do que os negativos de colódioámido. Tais caracteristicas provocaram uma grandeprocura por essas placas a partir da década de 1880 econstitufram um dos fatores facilitadores da majordifusao da fotografia e da rea1izaço de registros low-gráficos do movimento, com as fotografias então cha-madas de instantáneos, sendo ainda urn dos elemenrospropiciadores do surgimento da fotograula amadora.

Platinotipia: Processo de produçao de positivos sobrepapel, criado em 1873 pelo inglês William Willis(1841-1923), empregando como material fotossensI-vel sais de ferro e platina precipitada, produzindo dessaforma uma imagem indissoidvel da fibra do papel edotada de rica gradaçao tonal. Foi, sern düvida alguma,

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o processo mais estavel empregado durante o s&uloxix. Produzido industrialmente entre 1873 e 1937, opapel de platina foi gradativamente abandonado pelosfotografos a partir da década de 1920, cm virtude doconsideravel aumento que incidiu sobre o preço daplatina.

Tempo de exposiçâo: Lapso de tempo durante o qual oLime é impressionado pelos raios luminosos. Sua du-ração e determinada por urn mecanismo denominadoobturador, enquanto a intensidade dos feixes lumino-sos é controlada peE abertura do diafragma. 0 tempocorreto de exposição ê obtido pela combinaçao adequa-da ernie a velocidade de obturaçao e a abertura dodiafragma, de modo a conceder a un1 fUme a exataquantidade de exposição a luz de que ele necessita pararegistrar de forma fidedigna o tema focalizado.

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Cronologia

183919 ago E anunciada em Paris a invenção da daguer-

reotipia.

184017jan 0 frances Louis Compre introduzadaguer-

reotipia no Brasil, via cidade do Rio de Janeiro.1842 Primeira participação da daguerreotipia na Expo-sição Geral de Belas-Artes da Academia Imperial, graçasI pioneira da fotografia feminina no Brasil, a sra. Hippo-Iyte Lavenue.1851

8 mar Dom Pedro LI concede pela primeira vezhonrarias a fotografos, ac, outorgar o tituio de Photogra-phos da Casa Imperial a dupla de daguerreotipistas Bu-velot & Prat, do Rio de Janeiro.1855/1862 0 alemão Revert Henrique Kiumb se tornao pioneiro da fotografia estereoscópica no Brash, assimcomo o primeiro autor a realizar urna ampla docurnenta-ção (com mais de 300 vistas) de uma cidade brasileira: oRio de Janeiro.1858 0 alemão Augusto Stahl realiza o album de foto-grafias originais em papel albuminado Memorandum pit-toresco de Pernambuco.

1861 0 frances Victor Frond se torna o pioneiro daediçao de livros de forografia na America Latina ao lancar,na cidade do Rio de Janeiro, seu Brazil pit-to resco.1865 0 suIço George Leuzinger sistematiza a venda devistas fotograficas do Brasil ac, comercializar em sua CasaLeuzinger, no Rio de Janeiro, irnagens de diversos fotó-grabs. Entre estes, figura o alernão Albert Frisch, oprimeiro a fotografar os indios na região anuzônica.1868 0 alemao Augusto Riedel realiza o album de low-grafias originais em papel albuminado Viagem deS.S.A.A.reaes duque de Saxe e sets augusto irmdo Luiz Philippe aointerior do Brazil, corn imagens das provincias de MinasGerais, Alagoas, Sergipe e Bahia.

0 brasileiro Carlos César realiza o album de foto-grafias originais em papel albuminado, no formato cartede visite Recordaçoes da Guerra do Paraguay.1872 Klumb publica o livro Doze horns em diligéncia.Guia do viajante etc Petropolis aJuiz de Fora, o primeirointeiramente produzido no Brasil, na cidade do Rio deJaneiro.1875 0 carioca Marc Ferrez participa como fotógrafo daComissão Geoldgica do Império, chefiada por CharlesFrederick Hartt, tornando-se na ocasião o primeiro aretratar os fndios botocudos na Bahia.1878 J.A. Corrêa torna-se o precursor da fotografIa en-gajada no Brasil, ac, publicar na revista 0 Besouro, no Riode Janeiro, retratos denunciando a condiçao de indigen-cia a que estava reduzida a populaçao do Ceara emconseqUência da sec-a.

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1887 0 carioca Militão Augusto de Azevedo realiza oalbum de fotografias originais em papel albuminado Al-bum comparativo cia cit/ale tie São Paulo, 1862-1887,mostrando a evoluçao urbana da capital paulisra no de-curso dos 25 anos em que ali atuou como fotograforetratista.1897

out Flávio de Barros registra a fase final da Cam-panha de Canudos, na Bahia, rerrarando inclusive ocadaver do beato Antonio Conselheiro.

1891S dez Dom Pedro H mont no exilio, em Paris, e

sua coleçao particular de forografias - por ele doadapovo brasileiro quando de sell banimento do pals - eincorporada ao acervo da Biblioieca Nacional sob o drnlode Coleçao Dona Thereza Christina Maria.1893/1894 0 espanhol (ja então naturalizado brasileiro)Juan Gutierrez documenta a Revolta da Armada no Riode Janeiro.

Referéncias e fontes

o levantamento Hos endereços dos fotOgrafos foi efe-tuado nas obras dos historiadores Gilberto Ferrez, Bo-ris Kossoy, Maria Inez Turazzi, Lygia Segala, e numapesquisa inédira no Almamak Laemmert realizada pelaprofessora Ana Maria Mauad e gentilmente franquea-da ao autor.

Pig. 22: Sobre a fotografia de Christiano junior, verEscravos brasileiros do século xix na fotografia de Chris-tiano Jr., organizado por Paulo Cesar de Azevedo &Mauricio Lissovsky (Sao Paulo: Ex-Libris, 1988).

Pig. 24: A respeito do daguerreótipo, François Aragodeclarou: "Para copiar os rnilhoes e rnilhoes de hieró-glifos que cobrem, mesmo no interior, os grandesmonumentos de Tébas, de Ménfis, de Carnac, etc.,seriam necessários 20 anos e legioes de desenhisras.Corn o daguerre6tipo, urn so hornern poderia levar aborn termo essa imensa tarefa." (In NEWHALL, Beau-mont (org.). An Historical efrDescriptiveAccount oftheVarious Processes of the Daguerreotype 6 the Diorama byDaguerre. Nova York: Winter House, 1971, p.20 dofacsimile do original frances reproduzido ao final dovolume.)

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0 texto do Magasin Pittoresque nao tern indicaçaode autoria e fbi extraldo da página 374 da ediçao anualde 1839.

Pig. 27: 0 cornentário de Agassiz sobre rericência dosIndios ern se deixarern retratar consta na página 171 deViagem ao Brasil, 1865-1866, de Louis Agassiz &Elizabeth Cary (Sic, Paulo/Belo Horizonte: Edusp/Ita-tiaia, 1975). Sua observaçao a respeito da estrada Uniaoe Indtistria (pig. 33) fbi extraida da página 58 damesma obra.

Pig. 34: As citaçöes de Klumb foram extraidas dareediçao de seu livro Doze horas em duligeneia - Guiado viajante de Petropolis aJuiz tie Fora, inclulda no IivroCidade tie Petro'polis. Reediçao tie quatro obras raras(Museu Imperial, 1957).

Pág. 36: Alérn da prápria revista 0 Besouro, foi fontepara os comentários sobre J.A. Corrêa e o uso dafotografia como rneio de denuncia social o texto Irna-gens da seca de 1877-78 no Ceara: Uma contribuiçaopara o conhecimento das origens do fotojornalismo naimprensa brasileira", de Joaquirn Marçal Ferreira eRosângela Logatto (Anais da Biblioteca Nacional, 1994,vol.114, p.71).

Pig. 38: 0 antincio a respeito da projeção das fotos deCanudos foi publicado a 2.2.1898 no jornal cariocaGazeta tie NotIcias e reproduzido em Canudos. Imagens

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da Guerra, de Cicero Antonio E de Airneida (Rio deJaneiro: Museu da Republica & Lacerda Editores,1997, p.26).

Pig. 39: As referéncias ao cosmorarna constarn de 0Rio amigo nos anüncios de jornais, de Delso Renault(Rio de Janeiro: F.rancisco Alves, 1984, p.221).

Pig. 40: As referencias as estereoscopias da Fabrica deFurnos Veado foram extraldas do verso das própriasvistas distribuldas pela empresa na época.

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SugestOes de leitura

ACHUTTI, Luiz Eduardo Robinson (org.). Ensaiossobreo fotografico. Porto Alegre: Unidade Editorial daPrefeitura de Porto Alegre, 1998.

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. Fotografia bra-sileira e estrangeira no seculo XIX. A coleçdo do Impe-rador. Rio de Janeiro: Bjblioteca Nacional & Cen-tro Cultural Banco do Brasil, 1997.

FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil. Rio dejaneiro:separata da Revista do Pai-rimônio Historico e Artis-ticoNacional, no 10, 1953.

______• A fotografla no Brasil. 1840-1900. Rio deJaneiro: Fundaçao Nacional de Arte & FundaçaoNacional Pro'-MemOria, 1985.

• Bahia. Veihasfotograjias - 1858-1900. Riode Janeiro: Livraria Kosmos Editora, 1988.

_______• Veihas fotograflas pernambucanas - 1851-1890. Rio de Janeiro: Campo Visual, 1988.

_______ & Weston NAEF. Pioneer Photographers ofBrazil - 1840-1920. Nova York: The Center forInter-American Relations, 1976.

FREYRE, Gilberto, Fernando PONCEDELEON & PedroVASQUEZ. 0 retrato brasileiro. Fotograflas da coleçao

Francisco Rodrigues 1840-1920. Rio de Janeiro:Fundaçao Nacional de Arte & Fundaçao JoaquimNabuco, 1983.

KARP VASQUEZ, Pedro. Dom Pedro lie afotografla noBrasil. Rio de Janeiro: Editora index, 1985.

Fotografospioneiros no Rio dejaneiro. Rio deJaneiro: DaziKao, 1994.

________ Mestres dafotografla no Brasil. Cole çdo GilbertoFerrez. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco doBrasil, 1995.

Fotografos alemaes no Brasil do século XIX. SãoPaulo: Metalivros, 2000.

KOSSOY, Boris. Origens e expansao da fotografla noBrasil. SéculoxJx. Rio de Janeiro: Fundaçao Nacio-nat deArte, 1981.

& Maria Luiza TUCCI CARNEIRO. 0 olhareuropeu. 0 negro na iconografla brasileira do séculoXIX Sao Paulo: Edusp, 1994.

MARCONDES DE MOURA

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Carlos Eugénio (org.). Re-tratos quase inocentes. São Paulo: Nobel, 1983.

MAUAD, Ana Maria. Imagem eauto-imagem do SegundoReinado, in ALENCASTRO, Luiz Felipe de (org.).Historia dz vida privada no Brasil Imperio: a torte ea modernidade nacional. São Paulo: CompanhiadasLetras, 1998.

MOREIRA LEITE, Miriam. Retratos defarnilia. São Pau-lo: Editora da Universidade de São Paulo, 1993.

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PARENTE, José macjo & Patricia MONTE-MOR. Rio deJaneiro. Ret-ratos da cidade. Rio de Janeiro: InteriorProduçoes & Banco do Brasil, 1994.

A estereoscopia no Brasil. Rio de Janeiro: Sex-taint, 1999.

SOUZA LIRA, Bertrand de. Fotografia na Paraiba. Urninventdrio dos fotografos através de retrato (1850 a1950). Joao Pessoa: Conseiho Estadual de Cultura,1997.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos na era do espetd-cub: a fotografia e as exposiçUes universais no seculoXL'C1839-1899. Rio de Janeiro: Rocco & FundaçaoNacional de Arte, 1995.

Créditos dos ilustroçOes

1. Albumen. Fotografia atribuida a ci. Pedro 11, c.1875.Coleçao Dom Joao de Orleans e Braganca.

2. Fotografia de Flávio de Barros, 1897. Acervo do Museuda Republica.

3. Fotografia de Carlos Dauer, c. 1900. ExtraIda de D. Pedroii e a fotograjia no Brash; agradecimento especial a LeilaJinkings.

5. Daguerre6tipo. Anónimo, c.1855. Acervo do MuseuHistdrico Nacional,

7. Albumen. Fotografia de Luiz Terragno, 1865. ColeçaoDam Joao de Orleans e Bragança.

8. Albdmen. Forografia de Carlos Cesar, c.1868. Acervo doMuseu Histórico Nacianal.

9. Mbtmen. Fotografia de George Leuzinger, 1867. Acervodo Museu Imperial de Petrópolis.

10. A1bmen. Fotografia de Militao Augusto de Azevedo,1862. Acero do Instituto HisrOrico e Geogrdfico Brasileiro.

11. Albumen. Fotografia de Luis Ferreira, 13.5.1888. Cole-ção Dam Joao de Orleans c Bragança.

12. Albumen. Fotografla de Revert Henrique Klumb,c.1866. Acervo do Museu Imperial de Petropolis.

13. AtbCimen. Fotografia de Juan Gutierrez, 1895. Acervoda Biblioreca Nacional.

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14. Albámen. Fotografia de Albert Frisch, c.1865. Acervodo Institut far Landerkunde, Leipzig, Alemanha.15.Aib(imen. Fotografia de Marc Ferrez, c.1874. Acervo doMuseu Imperial de Petropolis.16. Albómen. Fotograf'ia de Carlos Hoenen, c.1875. Cole-cáo Waldyr da Fontoura Cordovil Pires.17. Coleção Waldyr da Fontoura Cordovil Pires.18.AlbOmen. Fotografla de Christiano Junior, 186-. AcervoMuscu Histárico Nacional.19. Albumen. Fotografia de Augusto Riedel, 1868. Acervoda Biblioteca Nacional.20. AJbümen. Fotografia deAugusto Stahl, 1858. Acervo doInstitute, Histórico e Geografico Brasileiro.21. Litografia a partir de fotografla original de Victor Frond,1858. Acerviy da Biblioteca Nacional.22. A1b6men. Fotografia de Albert Richard Dietze, c.1875.Acervo da Biblioteca Nacional.

Sobre o autor

Pedro Karp Vasquez nasceu na cidade do Rio de Janeiroem 1954. E formado em cinema pela Universidade deSorbonne (Paris, Franca), e mestre em ciência da artepela Universidade Federal Fluminense (UFF).

autor dos livros: A La Recherche de l'Eu-dourado(Contrejour, 1976); A fotografia sem mistérios (Efece,1980); Romaria de Caninde (Instituto Nacional doFolclore, 1983); Humphrey Bogart— o anjo tie cara suja(Brasiliense, 1984); Dom Pedro lie afotograjia no Brasil(Index, 1985); Comofazerfotografia (Vozes & IBASE,1986); Fotografia: reflexos & refiexoes (L&PM, 1987);Desvios & deslizes (Brasiliana, 1987); Fotografospionei-ros no Rio tie Janeiro (Dazibao, 1990); Niteroi e afotograjia: 1858-1958 (Fundaçao Niteroiense de Arte,

1 994); Mestres dafotografia no Brasil. Coleçao GilbertoFerrez (Centro Cultural Banco do Brasil, 1995); Albumda estrada União e Jndüstria (Quadratim, 1997); Fotó-grafos alemaes no Brasil do seculo xix (Metalivros, 2000);Revert Henrique Klurnb - Urn alemdo mx Cone impe-rial brasileira (Capivara, 2001.); 01hos tie ver (CasaJorge, 2001).

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